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Arquitetura Sustentável: Psicologia Comportamental e recursos projetuais
Julho/2018
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 9, Edição nº 15 Vol. 01 julho/2018
Arquitetura Sustentável: Psicologia Comportamental e recursos
projetuais
Núbia Potrich Chagas – [email protected]
Design de Interiores: Ambientação e Produção de Espaço
Instituto de Pós-Graduação - IPOG
Vitória, ES, 01 de março de 2017
Resumo
As atividades do cotidiano, quando não planejadas, podem afetar a vida pessoal dos usuários
no presente ou no futuro, a partir do momento que aumentam o consumo de recursos naturais
não renováveis e deixam de prover um ambiente interno saudável. A arquitetura e seus
recursos projetuais surgem como planejamento para uma construção autossuficiente que
apresenta equilíbrio e proporciona uma melhor qualidade de vida para os usuários. O
profissional tem total responsabilidade diante das edificações, e devem se preocupar com a
saúde pública. Estudos mostram que locais saudáveis previnem doenças a curto e longo
prazo, como asma, irritação nos ouvidos e nariz e agravamento de alergias conforme Keller e
Burke (2010). Ao buscar uma melhor qualidade de vida para si, o homem passa a se
preocupar mais com questões afetas a toda coletividade, na medida em que, a partir de
decisões acerca do que é melhor para a sua vida, e dos atos dai decorrentes, cria e fomenta
um maior senso de responsabilidade social (CANEPA, 2007). Vale ressaltar que o uso dos
recursos oferecidos pela própria natureza, se bem utilizados pelos profissionais da área,
fazem com que a construção torne-se satisfatória tanto para o ocupante quanto para o meio
ambiente. Por isso, o tema proposto para o artigo busca alternativas que visam a
proporcionar o bem-estar aos ocupantes. Assim, os profissionais devem estar cada vez mais
aptos a desenvolver construções sustentáveis, para levar para dentro das edificações a
harmonia desejada pelos clientes, tornando os usuários mais conscientes e mantendo uma
relação mais próxima com a natureza.
Palavras-chave: Psicologia comportamental. Bem estar. Qualidade de vida.
Sustentabilidade. Meio ambiente.
1. Introdução
Além da responsabilidade com a edificação, os profissionais devem se preocupar com a saúde
ambiental também, através de um projeto responsável e com boas especificações. A
importância da relação pessoa-ambiente exsurge a partir do momento que se verifica que a
maioria do tempo de vida das pessoas acontece em ambientes internos, os quais devem
transmitir qualidade de vida para os usuários:
Projetamos para pessoas que têm necessidades psicofisiológicas, anseios e formas de
expressão culturais; construímos intervindo no ambiente natural, composto dos mais
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variados elementos climáticos, topográficos e geográficos; utilizamos materiais que
têm propriedades e características físicas e químicas; articulamos formas por meio
da aplicação de tecnologias a sistemas construtivos e estruturais; interferimos nos
eventos sociais concretizando relações públicas e privadas, delimitando territórios,
favorecendo ou dificultando a acessibilidade etc (RIO; DUARTE; RHEINGANTZ,
2002, p. 76).
O projeto não tem que abranger apenas a estética, ele é um produto muito mais amplo, pois
está em contato diretamente com as pessoas e suas vivências. Todas as necessidades do
ocupante estão refletidas em sua residência. Quando ela for bem projetada, consequentemente
trará bem estar para quem a habita.
Com todos esses cuidados, pode-se enxergar que uma construção sustentável não é fácil de
ser realizada, pois ela consegue abranger vários aspectos e muitos deles alteram o bem estar
de seus ocupantes. Nem todos os usuários terão as mesmas sensações, pois variarão de acordo
com material escolhido, organismo de cada um e o tempo de exposição.
Um exemplo disso é o despreparo na hora da especificação dos materiais, que podem
provocar a inalação de produtos químicos de um acabamento interno, pelo contato direto com
os equipamentos de limpeza, irritações, sintomas de asmas e resfriados. Logo a seleção
criteriosa na escolha dos materiais deve levar em consideração a durabilidade dos mesmos e
as exigências de limpeza e manutenção (KEELER; BURKE, 2010).
Portanto, o viver e pensar sustentável vem a partir das boas ações para com a natureza e o
bem-estar, como confirma Venâncio (2010, p.43): “Os recursos disponíveis na natureza,
quando aproveitados de forma inteligente em uma construção, trazem conforto térmico e
consequentemente ajudam na sensação de felicidade dos seus ocupantes.” O ideal seria que a
Arquitetura, em todos os seus projetos, fosse sustentável, sem precisar diferenciar-se da
arquitetura convencional.
2. Psicologia ambiental
O estudo da psicologia ecológica foi inserido em diversas faculdades de Arquitetura com o
objetivo de explicar os acontecimentos da vida relacionados com o ambiente natural, o qual,
por seu turno, está diretamente relacionado aos espaços em que os ocupantes estão locados.
Logo, o arquiteto ao projetar deve levar em consideração a relação indivíduo e ambiente, isto
é, a importância e a influência dos ambientes no desenvolvimento humano (RIO; DUARTE;
RHEINGANTZ, 2002).
Um arquiteto, ao projetar, preocupa-se com a funcionalidade dos ambientes, aliando a estética
e a beleza. Tal profissional busca construir espaços para o convívio, trazendo bem estar para
os ocupantes. A psicologia visa a completar o estudo (figura 01), mostrando o que os
ambientes transmitem aos ocupantes. Pode-se verificar que uma área está ligada a outra, como
explica Bernardes; Cecconello; Martin (2013, p.1):
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Tais estudos integrados podem ser usados em benefício de um ambiente pautado em
conceitos arquitetônicos, que levam em conta as necessidades e demais aspectos do
ser humano, visto que o indivíduo usuário é o centro do ambiente, e assim deve ser
um dos focos do programa, enquanto necessidades e níveis de satisfação a serem
atendidas.
Com isso, percebe-se que ambientes bem projetados fazem diferença no viver das pessoas,
através do conforto e da acessibilidade, podendo alterar o humor e até mesmo a percepção do
indivíduo. Arquitetos que aliam Arquitetura e Psicologia oferecem um projeto mais completo,
com resultados mais significativos, através de ambientes que atendam as necessidades de
tarefa e tragam conforto psicológico para os ocupantes.
Figura 01 – Formas de intervenção em Psicologia Ambiental
Fonte: Bernardes; Cecconello; Martin (2013, p.1)
Muitos pesquisadores acreditam que a psicologia ambiental veio para explicar a forma
arquitetônica de certas obras, mostrando porque certos ambientes obtêm mais sucesso que
outros. Então, é preciso estar atento à função do espaço e o que este desempenha na vida dos
indivíduos (MELO, 1991). Outra questão, também vista pelo autor, está relacionada à seleção
de acabamentos, na qual o profissional deve conhecer as preferências para atender as
necessidades do cliente.
2.1 Consciência ambiental
Uma boa educação gera uma melhor consciência ambiental (figura 02). Assim como a
educação de uma criança, em que a cada dia é proposta uma nova palavra (MELO, 1991), no
caso da sustentabilidade e sua relação com a natureza, o raciocínio é semelhante. A cada dia
procura-se uma nova forma de aproveitar esse bem gratuito, sempre buscando a melhor
maneira de utilizá-lo.
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Figura 02 – Conciência ambiental Fonte: JIMDO (2012)
Tudo que o homem projeta acaba sendo estático e reto, sem ter movimento, e a natureza vem
desafiar isso, colocando curvas através do desenho orgânico das árvores, flores e cursos
d´aguas (OKAMOTO, 2002). Atualmente, a construção civil é um dos setores que mais
consome energia e que gera entulhos. Ao utilizar dos recursos naturais de forma mais
eficiente, sem agredir o meio ambiente, o cliente estará dando a forma necessária, junto com a
estética desejada. Para esse autor (2002, p.142): “[...] o entorno exerce também importância
sobre nós. A harmonia, a suavidade ou a agressividade do meio ambiente reflete sobre nosso
sistema háptico, sobre nossa sensibilidade”.
A consciência ambiental vem desde a concepção do projeto, pois o cliente deve entender o
que sua obra poderá causar no entorno imediato, bem como se causará problemas ao espaço
natural vizinho e quais as alternativas que podem ser utilizadas, por exemplo, no transporte de
material. Todas essas etapas devem estar pré-determinadas, para que durante a obra não
ocorram complicações (KEELER; BURKE, 2010).
Quando o local é desprovido de ambientes naturais, ou seja, vegetação no entorno, o arquiteto
responsável traz a natureza para dentro das casas, a partir de terraços verdes, jardins de
inverno ou mesmo uma parede revestida de vegetação. No momento em que se utiliza esses
mecanismos, o ar dentro do ambiente estará sendo purificado e renovado, evitando doenças
respiratórias. Oferecer um ambiente interno saudável é solucionar mais de um problema
ambiental, pois o usuário contribui para o bom funcionamento do ecossistema e ajuda na
economia da água.
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Nenhum projeto sustentável vai conseguir solucionar todos os problemas naturais, mas se
cada um fizer sua parte, ajudando-se um ao outro, aumentará a renovação dos recursos e
consequentemente a qualidade de vida dos moradores.
3. Psicologia comportamental
Para alcançar a qualidade de vida esperada pelos ocupantes, além de oferecer ambientes
atrativos, com acabamentos adequados e espaços agradáveis, o arquiteto deve proporcionar
locais que tragam conforto e não comprometam o comportamento dos mesmos. Nesse
sentido, para Okamoto (2002, p. 8): “O espaço deveria favorecer o comportamento
harmonioso do homem, mais do que apenas atender às suas necessidades básicas como
repousar, trabalhar, reproduzir-se, divertir-se e relaxar [...]”.
O espaço onde as pessoas vivem está, a cada dia, tornando-se objeto de segundo plano, como
uma caixa fechada a ser manuseada quando necessária e deixada de lado quando não for mais
útil. Porém, deveria estar presente na vida do usuário como algo que faz bem, proporcionando
benefícios de saúde, local onde se reúne a família e momento de lazer. Os clientes, quando
contratam os profissionais, estão em busca de fugir do cotidiano turbelento, dos altos índices
de ruído e do estresse da rua. Nesse caso o arquiteto busca solucionar isso, trazendo inovações
que atendem esse desejo.
O comportamento dos ocupantes está relacionado ao que eles sentem. A partir do momento
que ele ocupa um espaço prazeroso sua conduta é de transmitir o bem também, realizar suas
atividades com mais disposição, permanecer no local por um tempo mais longo, o que antes
talvez ele nem quisesse estar ali.
A arquitetura vai além do abrigo das necessidades e atividades e, no meu entender,
seria um meio de favorecer e desenvolver o equilíbrio, a harmonia e a evolução
espiritual do homem, atendendo às suas aspirações, acalentando seus sonhos,
instigando as emoções de se sentir vivo, desenvolvendo nele um sentido afetivo em
relação ao locus e ao topos (OKAMOTO, 2002, p.15).
O ser humano sempre busca o melhor para sua vida. A arquitetura escolhida por ele, também,
pode trazer isso (figura 03 e 04), através de atividades e métodos bem planejados. Uma
pessoa não precisa ter uma boa situação financeira para se sentir bem, basta estar em um lugar
que traga bem estar.
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Figura 03 – Arquitetura de interior sustentável
Fonte: FORTIN (2012)
Figura 04 – Conforto e bem estar aos usuários
Fonte: VERTVCS (2017)
No sentido da percepção espacial dentro do ambiente, o profissional contratado para idealizar
o projeto do usuário deve estar atento à movimentação dentro dos espaços. Observar o espaço
mínimo entre objetos ou o uso dos equipamentos para realização das atividades é importante
para uma arquitetura sustentável. Se caso algum instrumento não esteja bem colocado, o
espaço não vai ser tão confortável, pois pode restringir a movimentação do usuário
(OKAMOTO, 2002).
É necessário ter uma boa disposição no ambiente, para que o movimento no entorno dos
equipamentos torne-se algo prazeroso e traga harmonia. Caso não seja bem colocado, o
mobiliário escolhido acaba tornando-se estressante, ao contrário do seu verdadeiro propósito,
de proporcionar bem estar os moradores depois de um dia cheio de preocupações e problemas
cotidianos. Okamoto (2002, p.161) ao analisar essa situação, afirma que:
Percorrer um espaço com tranquilidade e de forma automática e inconsciente para a
ser um ato agradável, o que não acontece ao se atravessar uma sala cheia de objetos
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colocados irregularmente, exigindo atenção, contorções do corpo para desviar-se,
dando a sensação de desconforto e irritação.
Concordando com isso, para a autora do trabalho toda atenção é necessária na hora de fazer
um layout, desde suas dimensões até as formas escolhidas. Tudo deve ser pensado de acordo
com o cliente, não basta a beleza e o uso de tendências, se não traz qualidade a vida dos
ocupantes. Um ambiente bem pensado se tornará um ambiente saudável.
4. Recursos Projetuais
No sentido da percepção é preciso estar atento aos condicionantes arquitetônicos
proporcionados pela obra. Ao projetar um ambiente precisa-se estar atento às variáveis que
podem interferir no mesmo, como iluminação, temperatura, ventilação, vegetação e matérias
de construções mais sustentáveis.
4.1 Temperatura
Em relação à temperatura, Okamoto (2002, p. 137) recomenda que “o controle da temperatura
é essencial para nossa sobrevivência. O excesso de frio ou de calor prejudica o funcionamento
do corpo [...]”. Quanto maior a atividade física, maior será o calor gerado por metabolismo. É
importante o arquiteto saber a função de sua arquitetura de forma a prever o nível de atividade
realizado no seu interior, tirando assim algumas conclusões sobre a sensação de conforto
térmico das pessoas. A figura 05 mostra os valores de metabolismo para algumas atividades.
Figura 05 – Atividades físicas e respectivo metabolismo
Fonte: Lamberts; Dutra; Pereira (2004, p.42)
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Segundo Lamberts (2004), a ventilação resolverá os problemas de desconforto por calor em
até 61% das horas do ano. Os mesmos cuidados devem ser tomados com a aplicação das duas
principais estratégias indicadas - ventilação e massa com aquecimento solar – evitando-se a
diminuição de eficiência da segunda como o emprego de isolamento térmico nas aberturas
para os períodos frios.
4.2 Ventilação
Uma edificação bem ventilada tem como vantagem a redução de gastos energéticos com o
condicionamento de temperatura e umidade. A ventilação natural pode ser utilizada para o
controle térmico dispensando o uso de aparelhos que consome muita energia como, por
exemplo, o ar condicionado. Segundo o sítio eletrônico Ecologic (acesso em janeiro de 2017),
com a troca de ar dentro das edificações, os ventos levam consigo microorganismos
prejudiciais à saúde humana, odores indesejados e gases tóxicos, deixando o ambiente fresco
e arejado, melhorando a qualidade do ar.
A melhor forma de promover a circulação do ar no interior de uma edificação é adotar o
sistema de ventilação cruzada, principalmente em locais quentes e úmidos. De acordo com
Ecologic (acesso em janeiro de 2017) a ventilação cruzada através de um ambiente é
caracterizada pelo escoamento de ar entre aberturas localizadas em paredes opostas ou
adjacentes desse ambiente, desde que sua localização produza um escoamento de ar que
cruze diagonalmente os ambientes. Esse sistema pode ser feito tanto de forma horizontal
quanto vertical, conforme as figuras 06 e 07 abaixo:
Figuras 06 – Ventilação cruzada horizontal
Fonte: Ecologic (acesso em janeiro de 2017)
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Figuras 07 – Ventilação cruzada vertical
Fonte: Ecologic (acesso em janeiro de 2017)
4.3 Ruídos
Um ambiente sustentável também é um ambiente sem ruídos ou sem barulhos que
prejudiquem a audição do ocupante e o desconcentre em atividades de estudo e/ou trabalho.
Utilizando-se de mecanismos que diminuam esses impactos, doenças relacionadas ao ruído
também podem ser evitadas (figura 07), como a surdez. Algumas recomendações para que
isso não ocorra são:
• Separar espacialmente atividades barulhentas das silenciosas
• Definir horários diferenciados para atividades barulhentas e silenciosas
• Manter a fonte ruidosa o mais distante possível dos indivíduos
• Utilizar materiais absorventes de ruído no teto e no piso
• Rebaixar o teto com material acústico
• Utilizar barreiras acústicas entre a fonte e o receptor
• Utilizar materiais orgânicos (madeira, borracha, plástico, etc.) como barreiras
acústicas [...] (BITENCOURT, 2011, p. 74).
Quando são utilizados esses métodos no projeto, o bom funcionamento da casa torna-se
agradável aos ouvidos do morador, o qual vai se sentir relaxado e confortável, em relação ao
conforto acústico. Porém, é preciso que essas estratégias sejam mantidas após a finalização de
obra, isto é, que os moradores tenham consciência de que os recursos de projeto podem mudar
o cotidiano, prevenindo algumas doenças.
Os ruídos podem vir da área externa da residência, da rua e da própria casa. Logo, é preciso
verificar todas essas fontes para propor o melhor método para redução dos ruídos. Ou seja, o
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conforto acústico depende igualmente das condições locais, da implantação do
empreendimento no terreno e das características do edifício. A caracterização dos ruídos se dá
a partir de análises e medições acústicas, segundo Santos (2009). Com esse resultado, o
profissional pode propor ideias para a redução do nível de ruídos nos ambientes. Atualmente,
existem normas que fixam as condições necessárias de aceitabilidade de ruídos em diferentes
áreas, como a NBR 10151 (ABNT, 2000).
A zona de conforto segundo a NBR 10152 (ABNT, 1987) para áreas residenciais varia de 35
a 45 decibéis nos dormitórios, e de 40 a 50 decibéis nos ambientes de estar. Para que essa
zona também funcione é preciso que o período de exposição nesses ambientes seja respeitado,
pois para cada nível existe um tempo proporcional de permanência. Com a norma em vigor, o
setor passa por uma conscientização e acaba implantando as diretrizes. Os ocupantes têm
acesso a ela e ficam mais exigentes (figura 08).
Figura 08 – Efeitos do ruído no corpo humano Fonte: Santos (2009)
Os sistemas utilizados devem ser atraentes aos olhos do consumidor, já que a construção
tornar-se-á um diferencial no quesito acústico. Cada projeto deve ser elaborado em função da
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qualidade acústica requerida, buscando, ao mesmo tempo, satisfazer às necessidades estéticas,
decorativas e funcionais de arquitetura.
4.4 Iluminação
Há ainda a questão da iluminação. Um ambiente bem iluminado é aquele que vai atender às
necessidades de tarefa a ser executada sem problemas ao indivíduo. Porém, o arquiteto deve
estar atento, também, para, ao solucionar um problema, não gerar outro, conforme Melo
(1991). Como exemplo, o projeto que preveja a colocação de janelas grandes em ambientes
que recebam sol em um determinado horário tornará necessária a instalação de cortina e ar
condicionado para redução do calor. Obter uma boa iluminação deve conciliar a iluminação
natural e a artificial, que deve completar a primeira. Diante disso, Bitencourt (2011, p. 86)
explica que:
A iluminação natural hoje é uma das ferramentas que podemos contar para compor à
Arquitetura Sustentável de forma a fazer com que o edifício se integre ao ambiente e
que desta faça parte de um contexto maior, objetivando minimizar o impacto
humano e o ambiental. Portanto, projetar prédios que visem melhor qualidade de
vida aos seus usuários e ao entorno, deve ser o objetivo de todos que interagem
nessa área.
A NBR 5413 (ABNT, 1992) estabelece o nível de iluminância correspondente ao local
escolhido para análise. No caso das áreas residenciais há vários parâmetros que precisam ser
analisados, como o peso, que analisa as características da tarefa e do observador. Depois
disso, o profissional deve considerar os três níveis indicados para cada ambiente, medido em
lux (quadro 01).
Quadro 01 – Níveis de iluminância
Fonte: NBR 5413 (ABNT,1992)
4.5 Vegetação
A concepção do projeto arquitetônico, junto com o paisagístico, deve proporcionar bem estar
aos moradores (figura 09). A vegetação ao redor da residência não solucionará todos os
problemas, é preciso também uni-la com a própria arquitetura proposta, de modo que tais
recursos, bem utilizados, trarão benefícios. Basta conhecê-los a fundo e saber combiná-los.
A cobertura verde é uma saída para trazer conforto térmico à moradia de forma a utilizar os
recursos que a natureza oferece. A vegetação atua como massa térmica que regula a
temperatura interna. Possui um efeito duplo, no verão, evita o aquecimento do telhado,
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enquanto no inverno protege do frio, pois, durante o dia, acumula calor. Além disso, regula a
fauna existente nas proximidades da construção. A existência da massa arbórea de
caducifólias nas proximidades traz grandes benefícios para países quentes, como o Brasil,
pois proporciona sombra no verão e deixa passar o sol no inverno.
Outro elemento muito utilizado é o jardim vertical, ou simplesmente, muro vegetal, o qual é
considerado uma parte estética da construção, mas que acaba sendo funcional. Ele serve como
isolante térmico e acústico, além de purificar o ar. O sistema funciona através de um suporte
estrutural, que é alimentado por um sistema de irrigação automático. As plantas nascem
através desse suporte, que, por não precisar de terra, não gera umidade nas paredes.
Figura 09 – Vegetação ao redor da residência.
Fonte: hortodaspalmeiras (2011)
4.3 Cor
Deve-se preocupar também com as cores utilizadas nos ambientes. Por exemplo, um ambiente
muito claro e com muita iluminação pode causar refletâncias, e, consequentemente, fadiga
nos olhos (figura10). Além da interferência que cada cor pode transmitir para o individuo,
cada pessoa apresenta sua própria reação diante das cores (BITENCOURT, 2011). De acordo
com o mesmo autor, a cor luz ou a cor pigmento podem influenciar diretamente no viver
saudável, no ânimo e no sentimento que ela pode transmitir. A forma e cor determinam a
percepção do entorno físico através dos olhos, e nos dão uma mais clara e vivida impressão
do espaço do que os sensos tátil, auditivo e olfativo (figura 11).
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Figura 10 – Refletância
Fonte: GREEN COATINGS (2013)
Figura 11 – Percepção do espaço cromático
Fonte: Bitencourt (2011, p.1)
6. Conclusão
Construir a partir dos conceitos da sustentabilidade não é tão simples como muitos imaginam,
como a simples instalação de uma janela para ventilar ou para permitir a entrada de natural.
Projetar algo sustentável é primeiramente ser sustentável, querer ser e posteriormente
continuar sendo, para que os sistemas adotados continuem funcionando. Ou seja, a
sustentabilidade vai muito além dos recursos naturais, não que estes sejam de baixa
importância, pelo contrário, fazem toda a diferença e contribuem em boa parte do projeto,
mas não são os únicos recursos.
Com base na pesquisa realizada, verificou-se que a arquitetura não convencional passou a ser
algo novo no mercado, que a cada dia vem se tornando uma tendência mundial, e que muitos
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acreditam que seja a escolha primordial dos clientes ao procurar os profissionais. O povo
brasileiro ainda tem muito que aprender, pois muitos não sabem, mas o clima do país pode
proporcionar grandes diretrizes projetuais.
O modo como os ocupantes se interrelacionam com seus ambientes, também faz parte das
características desse tipo de construção. O que o indivíduo sente e transmite, tudo é parte da
psicologia ambiental. Um ambiente bem resolvido passa a ser um ambiente habitável e que
trará bem estar para quem estiver nele.
Por isso, Arquitetos que aliam Arquitetura e Psicologia oferecerão um projeto mais completo,
com resultados mais significativos, através de ambientes que atendam às necessidades de
tarefa e tragam conforto psicológico para os ocupantes.
Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10151 - Acústica –
Avaliação do ruído em áreas habitadas, visando o conforto da comunidade – Procedimento.
Rio de Janeiro, 2000.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10152 – Níveis de ruído
para conforto acústico. Rio de Janeiro, 1987.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5413 – Iluminância de
Interiores. Rio de Janeiro, 1992.
BERNARDES, M; CECCONELLO, W. W; MARTINS, M. S. Psicologia ambiental
aplicada à arquitetura. Internacionalização do estudante no ensino superior. Rio Grande do
Sul, 2013.
BITENCOURT, F. Ergonomia e Conforto Humano. Uma visão de arquitetura,
engenharia e design de interiores. 1ª Edição. Editora Rio Books, 2011.
CANEPA, Carla. Cidades Sustentáveis: o município como lócus da sustentabilidade. São
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<www.ecologicconstrucoes.com.br/ventilacao-cruzada-e-correto-posicionamento-do-norte>.
Acesso em 25 set 2015.
KEELER, M; BURKE, B. Fundamentos de Projetos de Edificações Sustentáveis. Cidade:
Bookman, 2010.
LAMBERTS, R.; GHISI. E.; PEREIRA, C. D.; BATISTA, L. O. Casa Eficiente: uso
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MELO, R. G. C. Psicologia Ambiental. Uma nova abordagem da Psicologia. 1991. 19f.
Dissertação – Programa de Graduação em Psicologia, UPS. São Paulo, 1991.
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