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Artes Plásticas, com especialização em Arte Educação. Atuo no · Apesar de o tema fazer parte dos conteúdos das Diretrizes Curriculares da Educação (2008), pouco se trabalha

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¹Graduada em Educação Artística – Artes Plásticas, com especialização em Arte Educação. Atuo no Colégio Estadual Rio Branco, na cidade de Santo Antonio da Platina. ²Doutor em História da Arte. Atua como professor na UEL – Universidade Estadual de Londrina.

DE FRENTE COM A SÉTIMA ARTE: Aprendendo a valorizar o cinema brasileiro

Autora: Adelina Sales de Azevedo¹ Orientador: Jardel Dias Cavalcanti²

RESUMO

Este trabalho tem como objetivo apresentar uma proposta de intervenção na realidade escolar, buscando no cinema uma forma de fazer com que o aluno reflita sobre os temas abordados nos filmes apresentados, seguindo uma metodologia, na qual uma sequência de etapas foram traçadas para facilitar o entendimento dos alunos, integrando ao seu cotidiano de forma ordenada, propiciando assim, a socialização e integração, visando o desenvolvimento integral do mesmo, oferecendo-lhe uma visão mais ampla de mundo e explorando a sua criatividade para o fazer cinematográfico. Os alunos atuais já nasceram com a tecnologia ao seu lado, isso faz parte do cotidiano deles. Sendo assim, a escola não pode mais se ater a métodos ultrapassados devendo olhar para a frente e ver que os tempos são outros e que o cinema em sala de aula não só traz questões importantes sobre a vida, mas oferece um instrumental para que melhor seja compreendida, discutida, como sugestões para melhorá-la. A fim de desenvolver um trabalho que integrasse as práticas cinematográficas, que favorecesse e contribuísse efetivamente para o desenvolvimento intelectual dos alunos, também pensando em mudar essa visão de que filmes em sala de aula seja mera ilustração e que o cinema brasileiro seja visto como algo sem atrativos, resolvi ensiná-los a pensar sobre as mensagens que os filmes apresentam, deixando de ser meros espectadores para se tornarem pessoas críticas sobre aquilo que lhe é apresentado. Isso me fez perceber que uma proposta bem apresentada, elaborada e desenvolvida, traz excelentes resultados. Palavras-chave: cinema brasileiro; criatividade; tecnologia.

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ABSTRACT

This paper aims to present a proposal for intervention in the school, seeking a way in movies to make the student reflect on the themes presented in the films, using a methodology in which a sequence of steps was drawn to facilitate understanding students, integrating to their daily lives in an orderly manner, thereby providing the socialization and integration, aiming at the integral development of the same, giving you a wider view of the world and exploring their creativity to do this film. The current students were born with the technology at his side, that makes them part of everyday life. Thus, the school can no longer stick to outdated methods should look forward and see that times have changed and that the film in the classroom not only brings important questions about life, but offers an instrumental that is best understood, discussed, and suggestions to improve it. In order to develop a work practice that integrates film, which would promote and contribute effectively to the intellectual development of students, also thinking about changing the view that films in the classroom is a mere illustration and that Brazilian cinema is seen as something without attractive, I decided to teach them to think about the messages that the films present, no longer mere spectators to become critical people on what is presented to him. It made me realize that a well-presented, elaborated and developed, with excellent results. Keywords: Brazilian cinema; creativity; technology. 1 INTRODUÇÃO

Este trabalho é fruto de momentos de pesquisa, estudo aprofundado,

discussões e reflexões, oportunizados pelo PDE (Programa de Desenvolvimento

Educacional) que, em parceira com a Instituição de Ensino Superior UEL

(Universidade Estadual de Londrina), me possibilitou momentos de intensa

reflexão sobre o objetivo de ensino do cinema brasileiro nas aulas de Arte, e sua

valorização na opinião dos alunos. Apesar de o tema fazer parte dos conteúdos das

Diretrizes Curriculares da Educação (2008), pouco se trabalha efetivamente com

filmes para que o aluno seja capaz de analisar, questionar, discutir, refletir, criticar

de maneira consciente os temas abordados.

O cinema, o teatro, a literatura, as artes plásticas, a dança e a música

constituem bases fundamentais e elementares para o processo de ensino-

aprendizagem. O cinema, especificamente, transmite ideias através de diálogos,

interpretação dos atores, figurinos, cenários, locações, músicas, efeitos sonoros e

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visuais, fotografia... A multiplicidade de elementos torna a ferramenta que já é lúdica,

enriquecedora para a educação.

Sabe-se que já na gestão de Vargas iniciaram-se os primeiros projetos de

cinema na escola. Naquela época, os equipamentos de cinema tinham um custo

elevado, a tecnologia estava engatinhando. Hoje, a escola dispõe de ferramentas

tecnológicas para trabalhar com eficácia o cinema em sala de aula, tornando isso

prazeroso para o aluno e trazendo temas atuais para que sejam discutidos, fazendo

com que os alunos se tornem mais críticos perante a sociedade como um todo. É

necessário que se comece a levar o cinema para a sala de aula, para que os alunos

iniciem um aprendizado educando seu olhar, sua capacidade de interpretar aquilo

que está sendo trabalhado através dos filmes, aprimorando sua cultura

cinematográfica, deixando assim, de ser uma mera ilustração de aula para se tornar

um importante e poderoso instrumento didático na sala de aula.

Os alunos de hoje, faz parte de uma geração eminentemente visual e

tecnológica, já nasceram com a tecnologia ao seu lado (computadores, televisores,

aparelhos de som, celulares e DVDs). Os avanços tecnológicos propõem para a

escola uma concepção integrado, usando todos os meios e recursos tecnológicos,

disponíveis e aplicáveis.

A idéia de introduzir o Cinema na Escola no aspecto de interdisciplinaridade,

visando preparar o aluno sobre o fazer cinematográfico, a apreciação e a

interpretação de filmes que permite aos estudantes aprimorar seu gosto estético e

seu entendimento sobre o próprio cinema. Dessa forma, fazer com que os filmes

possa tornar-se ferramentas de uso mais constante e produtivo no contexto escolar,

através de mostra de filmes e do fazer cinematográfico, integrando, informando,

educando, divertindo, gerando conhecimento e envolvendo os alunos num trabalho

coletivo e segmentado na arte-educação de forma bastante criativa.

Apesar de ser uma arte centenária e muitas vezes ao longo da história ter

sido pensado como linguagem educativa, o cinema ainda tem alguns problemas

para entrar na escola, não tem sido utilizado com a freqüência e com o enfoque

desejáveis. Não são poucos os casos relatados de professores que usam os filmes

para suprir eventuais faltas de outros professores, ou para preencher aulas que não

foram planejadas, ou, porque ouviram falar que o filme era interessante, ou ainda

por outro motivo que não seja o de gerar conhecimento para discussões sobre

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determinado assunto, enriquecendo as aulas e trazendo benefícios para os alunos e

a escola. O cinema na sala de aula pode contribuir para que deixe de ser usado

como mera ilustração de aulas e se torne um instrumento didático poderoso no

trabalho de professores.

Torna-se cada vez mais necessário questionar a prática e, ao mesmo

tempo, constantemente forçar-se a olhar as coisas de forma diferente. Nesse

sentido, tornar o cinema na sala de aula uma parte indissolúvel do processo de

ensino-aprendizagem, apresentando filmes como instrumentos passíveis de análise,

comparação, crítica e, principalmente, construção de novos conhecimentos que se

agreguem aos elementos de outras fontes. Com isso fazer com que os filmes

possam se integrar ao cotidiano dos alunos de forma ordenada, seguindo uma

orientação, uma metodologia.

O cinema, como o samba, “não se aprende no colégio”, como dizia Noel

Rosa. Mas o uso escolar do cinema pode trazer para a experiência de ver um filme,

analisá-lo, comentá-lo, trocar idéias em torno das questões por ele suscitadas. Não

se trata de “aprender cinema no colégio”, mas de aprender a pensar o mundo por

uma das experiências culturais mais fascinantes e encantadoras dentro de uma

instituição que tem muito a oferecer.

O principal objetivo desse trabalho é fazer com que os alunos valorizem o

nosso cinema, e aos poucos ver que isso já começa a acontecer, percebendo que o

cinema brasileiro também tem seu valor, com profissionais de altíssimo nível,

lugares maravilhosos para serem mostrados.

Procura-se dessa forma fazer com que os alunos de posse dessa tecnologia

que a escola dispõe, possam refletir, discutir, criar através de mostra de filmes e

chegar ao fazer cinematográfico.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

De acordo com Bernardet (2000) podemos dizer que: cinema é como um

sonho. Só quando acordamos sabemos que não é real, enquanto dura, pensamos

que é verdade. Esta impressão da realidade foi a base do cinema. É a própria vida

que vemos na tela.

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Foi a partir deste sonho que resolvi realizar esse trabalho com meus alunos

do 2º ano do Ensino Médio, fazendo-os sentir a dimensão que é o mundo do cinema,

como instrumento e objeto de conhecimento, meio de comunicação e de expressão

de sentimentos. Além de puro entretenimento, o cinema representa um fantástico

potencial de aprendizado para qualquer tipo de público, transformando a exibição de

filmes em sala de aula em um recurso lúdico e extremamente sedutor. Educar os

olhos, a capacidade de interpretar, de ler aquilo que está sendo trabalhado através

dos filmes, permite realizar trabalhos de formação de valores, reflexão, motivar

pessoas a alterar comportamentos, incitando os alunos a pensar questões sociais

profundas. “Analisar filmes ajuda professores e alunos a compreender (apreciar e,

sobretudo, respeitar) a forma como diferentes povos educam/formam as gerações

mais novas” (DUARTE, 2002, p.106).

Sabe-se que a maior parte de nossos alunos não têm o hábito de assistir a

um filme observando os detalhes, os temas abordados, discutir uma cena polêmica

e que o cinema brasileiro não os atrai. Buscamos um trabalho onde se começasse a

educar seu olhar, tendo acesso a um resumo da história do cinema internacional e

nacional, as linguagens cinematográficas, mostra de filmes (completos e trechos)

bem escolhidos, discussões e debates sobre os temas abordados, criação e

produção de um curta-metragem.

2.1 Tecnologia, educação e cinema

O acesso à informação ocorre de forma dinâmica e interativa, a rede mundial

de computadores presentes no cotidiano das pessoas tornou o conhecimento mais

acessível aos alunos, e com grande volume de informações, este fato exige que se

promova uma adaptação a esta nova realidade educacional, neste contexto surge

como alternativa o uso do cinema O mundo caminha para a era do domínio de

novas tecnologias, novas mídias surgem a cada dia, também o ensino deve sofrer

avanços, adaptar-se as novas linguagens e formas do conhecimento. A sinergia

entre cinema e educação ocorre através da leitura correta da mensagem

cinematográfica associada ao contexto educativo, sob a regência do professor, que

será o elo de ligação entre a magia do cinema e a magia do conhecimento.

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O trabalho com o filme, visto como documento cultural em si, é mais

adequado visando o desenvolvimento da linguagem estética dos alunos. Este é um

dos importantes papéis que a escola pode ter, pois, muitas vezes, será a única

chance de o aluno tomar contato com uma obra cinematográfica acompanhada de

reflexão sistemática e de comentários, visando à ampliação do seu repertório

cultural.

Os caminhos do cinema e da educação se cruzam no horizonte das

expectativas pedagógicas, enquanto a educação prepara o cidadão para o futuro, o

cinema pode auxiliar a mostrar os vários caminhos para que esta jornada termine a

contento.

O cinema é, antes de tudo, uma das experiências sociais mais fortes da

sociedade de massas, desde as primeiras décadas do século XX. Com o surgimento

da televisão, no final dos anos 40, a telinha também contribuiu para ampliar a

experiência social do audiovisual. Quando entramos em contato com o cinema

estabelecemos uma espécie de pacto de realidade com os filmes a que assistimos.

Naquelas horas em que ele é projetado, as emoções e sensações que a experiência

do cinema suscita nos espectadores criam um “efeito de realidade” muito forte.

2.2 Imagens e sons no cinema

O cinema tem a capacidade de transformar a nossa realidade. Surgiu da

busca tecnológica pela captação da imagem em movimento. Parecia natural depois

da invenção e do sucesso da fotografia como registro da realidade. Se a realidade

pode se documentada, porque não pode ser inventada.

“Os primeiros filmes exibidos na virada do século XIX para o século XX, eram projeções de encenações muito próximas do teatro, onde uma câmera fixa e parada registrava a ação dos personagens numa espécie de palco ou

cena real” (BERNARDET, 2000, p.32).

Se nos primeiros anos os produtores se contentaram em filmar com câmeras

fixas, com o aperfeiçoamento dos equipamentos e a pesquisa de vários realizadores

pioneiros percebeu-se que a câmera poderia ser mais importante em uma narrativa

se houvesse variação de enquadramentos e ângulos em uma mesma cena. E que

ela mesma, a câmera, se movimentasse.

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Entre os anos 1910 e 1920, vários diretores e escolas cinematográficas

começaram a ir além deste “teatro filmado” ao perceberem que o cinema poderia

constituir uma linguagem própria, marcada pela manipulação da imagem captada,

seja da realidade (no caso do documentário), seja da encenação (no caso da ficção).

E o que essas mudanças significaram? Basicamente elas introduziram os

principais elementos para que o cinema passasse a ser considerado arte. Mas, essa

foi uma mudança que aconteceu gradualmente e que pouco a pouco foi absorvida

pelo grande público.

Quando se criam novas tecnologias – como foi o caso da introdução do

computador na finalização dos filmes ou mesmo o surgimento das lentes com zoom

– elas são rapidamente incorporadas pela indústria cinematográfica. São usadas

como ferramentas melhores, ou mais rápidas, ou mais atuais, para se contar uma

história. Harmonizar a relação de ensino-aprendizagem, sociedade e mídia é, hoje, o

grande desafio. Vivemos em uma sociedade de ritmo acelerado, em que as imagens

e seus reflexos têm gerado efeitos positivos e negativos, uma vez que explora a

profusão o lado emocional das pessoas. Viabilizar, assim, discussões educativas

que se unam à afetividade e à razão pode possibilitar caminhos de apoio à formação

do pensamento humano e científico.

Dessa forma, se a educação precisa vivenciar novas intervenções de

aprendizagem que tragam prazer, alegria e conhecimento para o interior da escola.

Fica aqui uma pergunta que precisa ecoar. Por que não em incluirmos no PTD

(plano de trabalho docente) esse recurso de aprendizagem tão prazeroso? O uso do

vídeo em sala de aula pode ter um impacto inicial maior que um livro ou uma aula

expositiva, por permitir a associação da atividade escolar a um conceito de

entretenimento, e que, quando utilizado de forma correta, exerce função motivadora,

informativa, conceitual, investigadora, lúdica, metalinguística e atitudinal.

Quando se começou a fazer cinema, não se conseguia sincronizar uma

imagem com um som, e faziam os filmes, que hoje conhecemos como os “filmes

mudos ou cinema mudo”. Mas com o tempo o uso do som sofisticou-se, e muito,

passando a trazer elementos fundamentais para a linguagem cinematográfica.

Podemos dividir o som de um filme em dois planos básicos: os ruídos e a música.

Assim como a imagem, o som também é manipulado. E muitas vezes quer dizer algo

mais do que o óbvio. O certo é que “o cinema ama o silêncio”. Nos primeiros

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momentos do cinema sonoro, muitos filmes exageravam, colocando música e ruídos

durante toda a duração do filme. Mas logo se descobriu a importância do silêncio

como recurso de linguagem. Muitas vezes uma cena em silêncio nos desperta.

2.3 Resumo da História do cinema

Desde o seu surgimento, o cinema vem encantando todas as gerações, das

crianças aos idosos. As primeiras imagens exibidas impressionaram as pessoas que

assistiam as cenas de uma locomotiva chegando à estação, de longe e tomando

conta da tela. O público saiu correndo de tão real que parecia. De lá para cá, o

cinema passou por várias transformações acompanhando a evolução da tecnologia.

Hoje o cinema é tão bem elaborado que confunde com a realidade, trazendo para a

tela a vida.

O cinema surgiu no final do século XIX, como decorrência do avanço

cientifico e do aperfeiçoamento das técnicas de projeção de imagens empreendidas

por diversos cientistas. Entretanto, aos irmãos Lumière são creditados a invenção do

cinema (apesar de não terem sido os primeiros a inventar as técnicas para criação

de movimento de imagens). As primeiras cenas filmadas e exibidas por estes

franceses em 28 de dezembro de 1895, no Grand Café , em Paris, são considerados

o marco inicial da História cinematográfica;

(...) Nesse dia, uma imagem em especial emocionou o público: a vista de um trem chegando à estação, filmada de tal forma que a locomotiva vinha vindo de longe e enchia a tela, como se fosse projetar-se sobre a platéia. O público levou um susto, de tão real que a locomotiva parecia. (...) No cinema, fantasia ou não, a realidade se impõe com toda a força. (BERNARDET, 2.000).

As pessoas que ali estavam com certeza já tinham visto uma locomotiva

antes, não era um trem de verdade, a imagem não tinha ruídos, portanto era uma

ilusão. Essa ilusão de verdade foi provavelmente a base do grande sucesso do

cinema.

O cinema é a reprodução da realidade. O movimento cinematográfico é uma

ilusão. A imagem que vemos é sempre imóvel, a impressão de movimento nasce do

fotograma (tempo muito curto entre uma fotografia e outra). São necessários vinte e

quatro fotogramas por segundo para dar impressão de movimento, porque nosso

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olho não é muito rápido e a retina guarda a imagem anterior. Quando captamos uma

imagem a anterior ainda está no nosso olho, por isso não percebemos a interrupção

entre cada imagem.

Embora o cinema tenha chegado ao Brasil em 1.896, a situação econômica

e tecnológica do país não favoreciam o desenvolvimento de uma indústria

cinematográfica. Empresas norte-americanas dominaram o mercado interno de

distribuição. Este domínio do cinema norte-americano no mercado interno teve

conseqüências que até hoje não puderam ser revertidas: a indústria cinematográfica

nacional não dispunha de recursos para competir com a perfeição técnica dos filmes

importados, o que influenciou, no brasileiro, a percepção de que o cinema nacional

era de má qualidade. A presença maciça de filmes norte-americanos no Brasil criou

ainda, uma “cultura” cinematográfica que valoriza muito mais a técnica - no qual os

Estados Unidos se destacam - que o conteúdo e a beleza artística.

Em 1898, Afonso Segretto, imigrante italiano que filmou cenas do porto do

Rio de Janeiro, tornou-se o nosso primeiro cineasta

Nos anos 30, inicia-se a era do cinema falado. Surgem as chanchadas

(comédias musicais com populares cantores do radio e atrizes do teatro de revista).

A criação do studio de Vera Cruz, no final da década de 40, influenciados pelo

requinte das produções estrangeiras, procuravam realizar um tipo de cinema mais

sofisticado. Mesmo que tenha falido em 1954, conheceu momentos de gloria.

No inicio da década de 60 em reação ao cinema de Vera Cruz surge o

Cinema Novo, cujo maior representante era Glauber Rocha, o qual defende uma

arte revolucionaria que promovesse verdadeira transformação social e política,

rejeitando o cinema popular das chanchadas.

As décadas seguintes revelam-se a época de ouro do cinema brasileiro. Em

1974 surge a empresa estatal Embrafilme. Em 1985, como fim do regime militar e da

censura, aumenta a liberdade de expressão e indica novos caminhos para o cinema

brasileiro.

Em 1.990 a Embrafilme é extinta e a produção nacional entra em colapso,

mas é por pouco tempo, logo se restabelece e três filmes são indicados ao Oscar de

melhor filme estrangeiro. O nome dado a esse restabelecimento é Cinema da

“Retomada”. Nesse século o cinema brasileiro apresentou vários filmes que fizeram

sucesso.

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Conhecer mais sobre o cinema, sua história e sua linguagem,

estabelecendo o diálogo com o currículo e o cotidiano escolar, certamente é um

caminho muito interessante e prazeroso, que possibilita a ampliação do repertório

cultural e da formação crítico-reflexiva dos alunos.

2.4 Linguagens cinematográficas

Ver um filme pode, além de tudo, ser uma boa oportunidade de sabermos

um pouco mais sobre o cinema e, por que não, desvendar as intenções que os

realizadores tiveram ao produzir determinada obra. Uma expressão muito ouvida

“linguagem cinematográfica”, para defini-la, cito um dicionário especializado:

Ver um filme é, antes de tudo, compreendê-lo, independente do seu grau de narratividade. É, portanto, que, em certo sentido, ele “diz” alguma coisa, e foi a partir desta constatação que nasceu, na década de 20, a idéia de que, se um filme comunica um sentido, o cinema é um meio de comunicação, uma linguagem. (AUMONT e MARIE – 2003).

Isso significa que o cinema, por meio dos filmes, sempre tem algo a nos

dizer. E para que nós entendamos o que se passa na tela, ele criou sua própria

forma de expressão. Essa forma é sua linguagem, a linguagem cinematográfica.

(...) conhecer os sistemas significadores de que o cinema se utiliza para dar sentido às suas narrativas aprimora nossa competência para ver e nos permite usufruir melhor e mais prazerosamente a experiência com filmes. (DUARTE, 2002, p.38).

Conhecendo-se um pouco dos conceitos que existem por trás da construção

dessa linguagem pode nos fazer enxergar os filmes de uma maneira diferenciada,

percebendo as variações que essa linguagem pode produzir. Muitas vezes não

damos a devida atenção ao como tudo é dito: os detalhes de cenário e figurino, o

enquadramento, a iluminação, os sons, a interpretação dos atores, a movimentação

da câmera... Os recursos dessa linguagem são muitos e suas ferramentas evoluem

incessantemente.

Por outro lado, desde que os filmes saíram das grandes salas e invadiram

nossas televisões, o cinema ganhou uma superexposição e a linguagem

cinematográfica passou a fazer parte de nossa percepção. “A maior parte de nós

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aprende a ver filmes pela experiência, ou seja, vendo (na telona ou na telinha) e

conversando com os outros espectadores” (DUARTE, 2002, p.38).

Quando assistimos a um filme junto com outras pessoas, podemos ver que

detalhes diferentes chamam a atenção de cada um. Assim, conversar sobre um

filme com os alunos, é uma boa oportunidade para que fique exposta a diversidade

de pensamentos que forma uma comunidade.

Nisso, a linguagem do filme se aproxima da linguagem poética, por suas

ambiguidades, pelas várias possibilidades de interpretação. No cinema, como de

resto em todas as artes, quanto mais se conhece a sua linguagem e história, mais

as obras se tornam encantadoras e mais nos dizem sobre o passado e sobre o

presente do mundo em que vivemos.

É sempre um novo mundo, construído na e pela linguagem cinematográfica, que se abre para nós quando nos dispomos olhar filmes como fonte de conhecimento e informação. (DUARTE, 2002, p.106)

Como processo, um filme passa por algumas etapas clássicas: pré-

filmagem (argumento, roteiro, escolha dos atores, escolhas das locações e

estúdios); filmagem (encenação e registro das cenas e sequências previstas no

roteiro ou criadas pelo diretor); montagem-edição (quando o material filmado é

selecionado, organizado, recortado, emendado em novas sequências, acrescido de

efeitos sonoros e de trilha musical); lançamento (nesta fase, o filme é objeto de

marketing e promoção, inscrito em festivais, lançado pelas distribuidoras nas salas

de cinema e na forma de DVD). É importante também conhecer algumas das

principais funções na realização de um filme, para entendermos melhor alguns

artigos e críticas, entrevistas de cineastas e mesmo ler as fichas técnicas dos filmes.

Diretor: escolhe e ensaia atores, define planos, participa da montagem... Ele está

presente na supervisão de todas as etapas da produção. Roteirista: profissional que

escreve o texto para a dramaturgia (roteiro), que é a matéria-prima de um filme.

Produtor executivo: viabiliza financeiramente toda a obra, define o orçamento, as

contratações, tratando desde o financiamento até a exibição do filme. Diretor de

produção: faz com que todos os planos de realização aconteçam no prazo certo e

com os custos sob controle. Diretor de fotografia: cria a iluminação, propõe

enquadramentos e movimentos de câmera. Diretor de arte: responsável pelo visual

do filme, participando da definição de figurinos, maquiagem, lugares de filmagens,

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decoração dos ambientes, da criação dos cenários. Montador: ordena a montagem

ou edição, escolhe os melhores planos e o tempo de duração de cada um. Editor de

áudio: além de montar os diálogos, insere os ruídos pertinentes. Diretor musical:

utiliza músicas já gravadas ou cria músicas originais especialmente para o filme.

2.5 A utilização do cinema na sala de aula

O professor não precisa se tornar um crítico de cinema, mas as informações prévias do filme em questão são extremamente importantes, para que as atividades em sala de aula se tornem mais produtivas e interessantes. (NAPOLITANO, 2006).

Deve-se observar a importância de utilizar o cinema na sala de aula e de

repensar os procedimentos usados e suas implicações. Ao apresentar um filme é

preciso que o professor seja o mediador e que esteja preparado para explorá-lo de

forma didático propiciando o aprendizado.

(...) Um bom vídeo é interessantíssimo para introduzir um novo assunto, para despertar a curiosidade e a motivação para novos temas. Isto facilita o desejo de pesquisa nos alunos para aprofundar o assunto do vídeo e da matéria. (NAPOLITANO, 2006, p.34)

Seu uso como prática educativa possibilita sensibilizar os alunos a

desenvolver novas formas de compreender e ler criticamente os meios eletrônicos e

as novas tecnologias de informação. No entanto,

Não basta incorporar o filme nas atividades escolares, é preciso entendê-lo, não como mais um recurso didático-pedagógico, mas como um fundamento, o qual pode contribuir para uma nova forma de construir o conhecimento. (PRETTO, 1996).

Sendo assim, a discussão que se propõe, está direcionada para a

alfabetização de imagem. No entanto, segundo Kenski ,

(...) Somos todos da geração alfabética – a da aprendizagem por meio de texto escrito, da leitura do livro, do artigo. Somos analfabetos para leitura de imagens, dos sons. (...) nossa alfabetização é parcial e não total. (...) Sabemos ler apenas textos e não imagens, sons e movimentos. (KENSKI, 1996).

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Um aspecto interessante observado é que muitos acham que o cinema

substitui o livro, aspecto esse que precisa ser superado de forma a entender que um

não substitui o outro, mas que ambos se complementam.

Entretanto, o uso de imagens cinematográficas, nunca foi implementado

como pratica didática regular. Como bem notou Marcos Napolitano, “embora o

cinema não seja uma tecnologia nova, a escola o descobriu tardiamente”

(NAPOLITANO, 2006, p.11). É relativamente recente também, a preocupação sobre

a não utilização ou a má utilização dessa mídia como ferramenta didática.- como

notou Duarte (2002), “longe de tratar o cinema como apenas mais um recurso

didático-pedagógico, a escola precisa assimilar a idéia de que a educação e o

cinema são formas similares de socialização”; há um paralelo entre as relações

construídas entre alunos e professores e as relações construídas entre

espectadores e filmes. Nesse sentido o professor concorre com aquilo que o aluno

aprende no cinema e em outras mídias (inclusive TV e internet) – que constitui um

poderoso meio de influencia.

(...) as crianças e jovens têm acesso a inúmeras informações, imagens e explicações. (...) são seduzidas pelos apelos de consumo da sociedade contemporânea e preenchem a imaginação com ícones recriados a partir de fontes e épocas diversas. (Brasil, 1998, p.38)

Com a crescente expansão dos meios de comunicação de massa e uma

indústria cultural cada vez mais forte e onipotente, o processo de aprendizagem

torna-se, a cada dia, menos restrito ao contexto institucional ou à escola e passa a

envolver uma variedade crescente de atividades de lazer incorporados no tempo

livre dos alunos, o cinema é uma influência didática muito mais sutil que a escola, e

assim como a TV, distrai ao mesmo tempo que “educa”, no sentido amplo da

palavra.

O cinema na sala de aula constitui objetos de estudo, com os quais pode

estimular no aluno a capacidade de reflexão critica. Partindo do pressuposto que é

papel da escola desenvolver no aluno, a capacidade de refletir mais criticamente

sobre as informações veiculadas por estes meios. Como? Trazendo-o para a sala de

aula e dando-lhe a oportunidade de observar como suas mensagens são

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construídas, de extrair-lhe as informações aparentes e de estabelecer relações entre

o que constitui o saber escolar e os valores ideais e comportamentais assimilados

através dos meios de comunicação. Como explica Moram (2002):

(...) A escola precisa observar o que está acontecendo nos meios de comunicação e mostrá-la na sala de aula, discutindo-o com os alunos, ajudando-os a que percebam os aspectos positivos e negativos das abordagens sobre cada assunto. (...) os modelos de educação tradicionais não nos servem mais.

2.6 Cinema na escola e interdisciplinaridade

Como a literatura, o cinema também é capaz de nos tornar seres humanos

melhores. Reafirma-se a importância do planejamento, porque depois de exibido o

filme aos alunos, é imprescindível uma leitura também da obra, buscando sua

compreensão. Esse é o momento do debate e uma oportunidade para trabalhar os

temas educacionais contemporâneos.

Evidentemente não existe uma única leitura de uma obra de arte. Contudo, é

preciso preparar-se para conduzir a discussão sobre o filme de forma a que não

imperem análises preconceituosas, pensamentos autoritários, visões ingênuas.

Vale ressaltar, ainda, que a conclusão dos trabalhos é decisiva para

provocar mudanças significativas na formação dos alunos e que trabalhar em

conjunto com outra disciplina traz enriquecimento cultural para todos, alunos e

professores.

Os filmes podem ser abordados conforme o tema e conteúdos curriculares

das diversas disciplinas. História: figurino de épocas, diferenças culturais.

Geografia: culturas e espaços sociais, comparação de lugares distantes, vida nas

grandes cidades, problemas ambientais e de etnias no mesmo país. Biologia:

ambientes naturais (biosfera, genética ou ecossistema). Física: espaço sideral,

movimentos de corpos e objetos, desastres naturais. Língua estrangeira: treinar o

ouvido. Educação Física: movimento do corpo (dança, esporte, treinamento militar

e lutas marciais). Informática: comparação entre filmes antigos e atuais. Arte:

bibliografias de artistas, obras, técnicas e materiais utilizados. (cor, texturas, luz,

construções, monumentos, músicas, instrumentos, culturas diferentes, estilos de

dança... Temas educacionais contemporâneos: Orientação sexual (DST,

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homossexualismo, etc.). Movimentos Sociais (operários, pacifista, estudantil). Saúde

(drogas e álcool, saúde mental e neurológica). Trabalho (vida cotidiano dos

trabalhadores, revolução industrial). Meio ambiente: (desmatamentos, queimadas)

2.7 Os benefícios da utilização do filme na sala de aula

Os benefícios da utilização do filme na sala de aula são vários: introduz um

novo assunto, desperta a curiosidade, a motivação para novos temas (isso

despertará o desejo de pesquisa para aprofundamento do assunto), ajuda a mostrar

(como ilustração) o que se fala em aula, a compor cenários desconhecidos, traz

realidades distantes (épocas e lugares), experiências perigosas (simulação),

crescimento de uma planta em poucos segundos, para documentar, registrar

eventos, aulas, experimentos, entrevistas, etc. Ajudam também a desenvolver a

leitura e elaboração de textos; aprimora a capacidade narrativa e descritiva;

decodificam signos e códigos não verbais; aperfeiçoam a criatividade artística e

intelectual; desenvolvem a capacidade de critica sócio-cultural e política ideológica ,

sobretudo em torno dos tópicos mídia e industria cultural. Mais especificamente, o

aluno pode exercitar a habilidade de aprimorar seu olhar sobre uma das atividades

culturais mais importantes do mundo contemporâneo, o cinema, e,

consequentemente tornar-se um consumidor de cultura mais critica e exigente.

Por esse motivo, o enfoque deste estudo não é examinar as vantagens do

cinema na educação, ou investigar sobre as melhores maneiras (técnicas) de se

utilizar a mídia em sala de aula. Este trabalho pretende abordar o cinema como

objeto de análise, com potencial de ser o veículo direto para o ensino. Também o de

reflexão, para entender o porquê da não aceitação do cinema brasileiro na opinião

dos nossos compatriotas.

3 MATERIAIS E MÉTODOS

“Assistir a um grande filme é uma experiência única. Podemos ser

transportados ao passado ou futuro. Também sentimos fortes emoções – alegria, tristeza, admiração, indignidade, curiosidade, pavor – mas jamais

indiferença. É isso que faz a magia do cinema. (BOSCOV , 2008).

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Com essas palavras comecei a implementação do presente projeto. Optei

por trabalhar com alunos do Ensino Médio, especificamente dos 2ºs anos, por serem

adolescentes de uma fase onde poderia trabalhar com assuntos mais polêmicos que

seria bastante proveitoso.

Para que se desenvolvesse esse trabalho, primeiro seria necessário que se

fizesse uma rápida retomada na história do cinema, principalmente o brasileiro, que

é o nosso objetivo (o de mostrar a sua importância na cultura nacional e fazer com

que seja valorizado). Depois seguir com as atividades até a sua conclusão, que seria

a apresentação na escola dos curtas-metragens produzidos pelos alunos.

Nesta unidade são propostas algumas etapas com o objetivo de traçar um

percurso facilitando o entendimento da sequência para chegar ao fazer

cinematográfico. Assim sendo, traçamos as seguintes etapas para cada ação:

conhecendo para refletir; pesquisando para se informar; questões para

debater; organização e criação; o aluno em ação.

A proposta de avaliação para essa unidade é a construção de um portfólio

onde serão registradas as impressões sobre as experiências diárias.

De início apresentei o projeto que havia desenvolvido no PDE, falei sobre o

que seria o PDE, o porquê da escolha do cinema como tema, expliquei sua

importância quanto ao enriquecimento dos conteúdos que os filmes iriam trazer para

eles e de como seria as atividades desenvolvidas ao longo do processo.

Fonte: Professor PDE Fonte: Professor PDE

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Depois de explicado o que iríamos trabalhar e como trabalharíamos, fiz uma

sondagem de opinião, sobre seus gostos quanto a filmes. Fizemos na lousa um

gráfico onde colocaram suas preferências quanto a gêneros de filmes. Depois

copiaram para juntar no seu portfólio. Logo após, passei slides sobre a História do

cinema, resumidamente, destacando mais o brasileiro.

Num segundo momento, mostrei trechos de alguns filmes, nacionais e

internacionais, para que sentissem a diferença e já fizessem comparações entre

eles. Logo a seguir, lancei algumas questões para serem debatidas: O que você

acha do cinema brasileiro? As respostas foram as mais diversas. Foi uma conversa

bastante produtiva. Quais os filmes nacionais que você assistiu? Qual gostou mais?

Você recomendaria? Quando escolhe um filme, o que vê primeiro, o gênero, a

sinopse ou porque alguém recomendou? Todos queriam falar, e dar a sua opinião.

Gráfico 1: Produção da turma

Fonte: Professor PDE

Assistimos ao filme Matrix (completo) e fizemos uma comparação com a

obra de Platão (Alegoria da Caverna) que consta no nosso livro didático estadual.

Acharam bem interessante fazer esta atividade, não sabiam que o filme foi baseado

nessa obra. Segue na próxima página o texto de um aluno do 2° B.

Mostrei também alguns curtas-metragens: Song Song e a pequena gatinha

(de produção chinesa e faz parte da coletânea Crianças Invisíveis, são sete curtas

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de diferentes países), Ilha das Flores (brasileiro), Laços (brasileiro), e Eu não quero

voltar sozinho (brasileiro).

Texto 1: Produção de aluno Fonte: Professor PDE

No primeiro curta descrito, observei que assistiram com bastante interesse,

ficavam indignados com certas cenas. Ao final do filme questionei-os oralmente ,

depois pedi para que registrassem a parte que mais lhe chamaram a atenção.

Resumir em poucas palavras o filme, um aluno escreveu o resumo e destacou a

frase que fecha o filme: “Todos nós já fomos crianças, mas apenas, esquecemos

disso”. Refletindo sobre, escreveu: “Ao esquecermos que um dia fomos crianças,

esquecemos das crianças que hoje são seres sem esperança e sem futuro, que

sofrem em trabalhos forçados, tornam-se invisíveis. Cabe, a cada um de nós, mantê-

las visíveis e respeitadas”. Quais foram os temas abordados? Discutimos sobre o

tema principal do filme que era a exploração do trabalho infantil, onde eles

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escreveram um texto com este tema (na página seguinte está um deles), ilustraram

e ainda pedi para que fizessem uma pesquisa sobre os artigos 7º inciso XXXIII da

CF; 149 do CP e 60 a 69 do ECA. Puderam ver que a exploração infantil é crime e

seus transgressores devem ser punidos. Vários alunos me disseram que nunca

haviam feito uma pesquisa semelhante, que foi muito interessante.

Assistimos ao curta-metragem “Ilha das Flores”. Foram divididos e

organizados os grupos que trabalharam até o final do projeto.

Registraram a ficha técnica e a sinopse do filme. Depois que a turma

assistiu, conversamos sobre os temas abordados (miséria, desigualdade social, lixo,

poluição visual, do ar, dos rios, humano x animal, desemprego, sistema capitalista) e

iniciamos o roteiro de leitura. O grupo conversou entre si, e depois debateram com

os outros grupos, expondo seus pontos de vista, concordando ou discordando.

Depois todos teriam que fazer uma cópia para juntarem aos outros registros do

portfólio.

Roteiro de leitura:

1- A realidade expressa pelo filme é comum somente a Ilha das Flores, em Porto

Alegre?

2- Qual é o trajeto percorrido pelo tomate do Sr. Suzuki ao longo de todo o filme?

3- Qual a importância que o dinheiro tem ao longo de todo o processo do filme?

4- Por que o filme cita os judeus como exemplos de seres humanos?

5- Quais questões no enredo colocam o porco como protagonista temático?

6- O nome Ilha das Flores e a relação com a definição de ilha, de água e de flor.

7- Alimento (inadequado ao homem e adequado ao porco) (inadequado ao porco e

adequado a um determinado tipo de homem);

8- Construção de um organograma que envolva os pontos.

9- Produção de um texto que contemple os pontos.

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Texto 2 : Produção de aluno Fonte: Professor PDE

Gráfico 2: Produção de aluno Fonte: Professor PDE

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Gráfico 3 : Produção de aluno Fonte: Professor PDE

Parte do texto de um aluno: “Um filme polêmico, que retrata a realidade de

muitas pessoas. Um cenário que nos mostra claramente a desigualdade social que

sempre existiu e continuará existindo, é a mais pura realidade do que acontece em

nosso país. Um filme que mostra questões sociais, e nos remetem ao pensamento

de mudança de atitude e ao mesmo tempo, de impotência”.

Foi promovido um fórum de discussão entre os grupos para argumentar

sobre a forma que tais pontos foram colocados no filme, bem como as opiniões e

soluções para tais questões socioeconômicas. (a forma em que o tema foi abordado;

a maneira que tal questão é discutida na sociedade atual; se há diferença entre a

realidade histórica -1989 – e a atual – 2011; o conceito de igualdade entre os seres

humanos expressado no filme.

A intenção foi que todos visualizassem as problemáticas do filme como

modernas e próximas do nosso cotidiano e não como fictícias.

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Ao final das atividades empreendidas, propus uma breve discussão entre

todos da turma, bem como a produção de um texto de opinião sobre os fragmentos

finais do filme: “Os humanos se diferenciam dos outros animais pelo telencéfalo

altamente desenvolvido, pelo polegar opositor e por serem livres. Livre é o estado

daquele que tem liberdade. Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta,

que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda.” (parte do fragmento

é de Cecília Meireles).

Os textos deverão discorrer sobre:

Liberdade: sonho que ninguém explica e ninguém que não entenda;

Qual é o seu conceito de liberdade?

Como fica a liberdade para os seres humanos da Ilha das Flores?

Se a liberdade também é um fator que diferencia o homem, como podemos

definir (metaforicamente) os seres humanos da Ilha das Flores?

Os alunos pediram para exibir novamente o filme.

.

Texto 3: Produção de aluno Fonte: Professor PDE

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Após a produção dos textos, propus uma rodada de leitura.

No final do filme “Ilha das Flores”, cita o Césio, elemento químico radioativo.

Foi associado ao livro de Arte da Secretaria do Estado, página 28 e 29, onde o texto

relata o desastre da usina nuclear, na Ucrânia em 1986 e a tragédia que vitimou

dezenas de pessoas em Goiânia, no ano de 1987. Biografia de Siron Franco, autor

de algumas obras intituladas “Césio”.

A série “Césio”, além de revelar uma preocupação social do artista, leva-nos

a refletir sobre a vida. Foi produzido um texto crítico sobre a função da Arte na

Sociedade. Um dos textos que os alunos produziram está na próxima página.

Assistimos aos curtas-metragens: “Laços” e “Eu não quero voltar sozinho”,

passei a ficha técnica dos dois curtas, prêmios que ganharam. Trabalhamos

bastante sobre os temas abordados: morte e laços familiares no primeiro. No

segundo, sobre deficiência visual, amizade e homossexualidade. Segue abaixo

algumas questões e atividades que foram aplicadas:

Texto 4: Produção de aluno Fonte : Professor PDE

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O que você pensa sobre a morte?

Você já perdeu alguém a quem amava muito? Como foi?

Você acredita em vida após a morte e reencarnação? Justifique.

Já ouviu reportagens ou relatos de pessoas que teve experiência de quase

morte? O que pensa a esse respeito?

Escreva um pequeno texto sobre os Laços familiares.

Imagine um laço e represente-o através de desenho.

Foi conversado sobre a orientação sexual e a homofobia.

Você concorda de que a orientação sexual do indivíduo é ainda tema

bastante polêmico? Sim ou não e por quê?

A homossexualidade é algo novo na sociedade? Escreva o que sabe.

Pesquisa sobre os princípios de Yogyakarta. O que seria e copie os

princípios 4 e 16.

Dinâmica: Diferentes, mas todos somos seres humanos. Objetivo: todos

percebem a mesma situação de diversas maneiras, possuindo visões

diferentes de mundo. Por isso deve-se respeitar o ponto de vista do outro e

principalmente suas orientações sexuais.

Fazer um cartaz representando esta frase: “Independente da orientação

sexual, todos somos seres humanos. Devemos ser respeitados e respeitar

os outros”. (em grupo).

Escreva um texto sobre Homofobia. Fazer um painel com o título:

Educação sem homofobia.

Dinâmica: discriminação. Objetivo: não fazer distinção quanto a escolha

dos indivíduos.

A turma foi dividida em três grupos, cada grupo deveria escolher um filme e

passar para os outros grupos a sinopse, alguns trechos , dizer por que escolheram

aquele filme, qual a sua importância para o momento.

Depois que o grupo apresentou o filme escolhido, deveriam selecionar

imagens que mais gostaram e produzir um vídeo com fundo musical e mensagem

positiva para transmitir para os outros grupos. Fariam também uma fotonovela

aproveitando as imagens selecionadas. Depois cada aluno escreveu sobre a

experiência de seu grupo e dos outros dois que assistiram. Foi um trabalho difícil,

porém gratificante.

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Dando continuidade às atividades, assistimos ao filme: “Narradores de

Javé” (completo) e analisamos atentando as linguagens cinematográficas que são

muito importantes para a finalização do projeto.

Temas abordados:

Questão do progresso, da memória e da relação oralidade X escrita.

Atividades:

1- Qual a importância da tradição oral para um povo?

2- A lógica da oralidade se aplica totalmente a escrita? Justifique.

3- As narrativas dos moradores se conflitavam. Por quê?

4- Lembrar é presentificar o passado? Explique.

5-“Uma coisa é o fato acontecido, outra coisa é o fato escrito”, em que essa frase se

encaixa na história do filme?

6- Comente sobre o final do filme.

7- Faça uma correlação da animação “Vida Maria” com o filme “Narradores de Javé”.

8- Comente a seguinte frase: Quem não compreende o porquê, o como e o para que

lê, transformam-se em adultos alienados e dominados por aqueles que “sabem ler”.

(Paulo Freire)

9- Qual a relação do filme com os idosos?

10- Que solução você daria para que o progresso venha sem prejudicar a natureza e

as pessoas.

11- Cite um provérbio (ditado popular) que se enquadra neste filme ou parte dele.

Explique.

Depois de observar os detalhes e a sequência do filme assistido, participado

da resposta das perguntas acima, o grupo se organizou para escolher um tema e

criar um roteiro para o curta-metragem que seria produzido por eles. O grupo

pesquisou o que cada membro de uma produção cinematográfica faz, para posterior

distribuição das tarefas de cada um dentro do grupo e da sua produção do curta-

metragem. Feito a pesquisa, distribui-se as funções de cada um, realizou-se alguns

ensaios. Usando uma câmera fotográfica ou filmadora iniciaram-se as gravações.

Por fim editaram. Primeiro apresentaram na sala de aula para os outros grupos e

posteriormente para a escola usando o data show, no auditório da escola.

Finalmente cada aluno escreveu sobre a experiência do fazer cinematográfico.

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Texto 5: Produção de aluno Fonte:Professor PDE

Texto 6 : Produção de aluno Fonte: Professor PDE

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Texto 7 : Produção de Aluno Fonte: Professor PDE

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Quando escolhi o tema “Cinema”, para desenvolver o meu projeto PDE,

senti que ali nascia uma ideia para trabalhar em sala de aula com bastante

motivação, simplesmente, porque todos nós gostamos de filmes.

No primeiro momento a receptividade foi bastante grande, pois os alunos

adoram filmes, geralmente para “passar o tempo”, “matar aula”, “relaxar durante a

aula”, etc., mas com o desenvolvimento das atividades, viram que os filmes não era

só para fazer um relatório, um resumo, mas sim para encontrar neles algo a mais

para o seu aprendizado.

Mesmo achando que as atividades foram muitas, observei que a maioria fez

com entusiasmo, a cada atividade dada, senti que ficavam felizes em aprender mais

sobre determinado assunto, o cinema nos proporciona isso. A cada comentário que

ouvia dos alunos, nos debates, os primeiros apresentavam um tom obrigatório, sem

opinião pessoal, com o uso constante de filmes esses comentários passaram a ser

críticos, pessoais e bem construídos. O cinema provou não ser apenas um tema,

mas uma plataforma para temas. De acordo com Napolitano (2003) é possível dizer

que: trabalhar com o cinema em sala de aula é ajudar a escola a reencontrar a

cultura ao mesmo tempo cotidiana e elevada, pois o cinema é o campo no qual a

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estética, o lazer, a ideologia e os valores sociais mais amplos são sintetizados numa

mesma obra de arte.

O cinema é uma invenção maravilhosa, ao mesmo tempo muito perigosa. A

imagem tem a capacidade tanto de nos mostrar a verdade inquestionável, como de

fazer com que mentiras pareçam verdades. Então é preciso: “Ler para compreender,

compreender para entender, entender para atuar, e atuar para mudar”. Percebi que

o meu objetivo foi alcançado, trabalhar o cinema brasileiro, trazer para dentro da

sala de aula o que é nosso, claro que falta investimento nesta área, mas o que estão

aí, são bons, com assuntos interessantes para serem discutidos e trazidos para o

nosso tempo.

Foi muito prazeroso desenvolver esse trabalho com os alunos. É bastante

gratificante chegar ao final de um trabalho e sentir que valeu a pena todas as horas

pesquisando, angustiada quando algo não saía como planejado, mas respirava

fundo, erguia a cabeça e continuava para a sua conclusão, que foi a experiência do

fazer cinematográfico. Foi muito elogiado tanto pelos alunos quanto pelos colegas

de trabalho. Com este trabalho criamos o 1º festival de vídeos da escola e lançamos

um desafio aos outros professores, para que desenvolvessem trabalhos

semelhantes e participassem no final do ano, do 2º festival de propagandas, vídeo

musical e curta-metragem.

O cinema pode refletir o que podemos e o que queremos ser, o cinema pode

encantar aos sonhos, o cinema pode nos levar a lugares que jamais iríamos e que

desconhecemos a existência, através de exemplos ou do relato da história, o cinema

pode nos trazer o conhecimento. Finalmente o cinema pode nos ensinar a não

querermos o sofrimento, pode nos ensinar que o amor é forte, que a verdade pode

ser o principal caminho e que a determinação pode ser a propulsão e o principal

combustível do coração.

Com essas palavras fecho este texto com a certeza do dever cumprido. Que

os filmes trabalhados foram de excelente aproveitamento tanto para os alunos que

descobriram no cinema uma forma de aprender e refletir sobre a vida, quanto para

mim, que aprendi a observá-los melhor e descobri o quanto eles precisam de uma

orientação, de um caminho para errar menos e consequentemente serem mais

felizes, que isso é o mais importante nesta vida.

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REFERÊNCIAS

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São Paulo: Papirus, 2003.

BERNARDET, Jean-Claude , “O que é cinema”. São Paulo ; Brasiliense, 2000.

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