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A relação entre professor e aluno: teoria e pratica
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RELAÇÃO ENTRE PROFESSOR E ALUNO: A DIDÁTICA EM TEORIA E NA PRÁTICA
Anna Alice Nunes¹ e Vanessa Gonçalves¹
RESUMO
O presente artigo tem como finalidade descrever a concepção de didática e observar
como a própria está sendo praticada na sala de aula pelos professores, procura-se
observar o resultado do planejamento e da execução de atividades para alcance do
desenvolvimento dos alunos, associando o progresso com as relações professsor-aluno e
o processo de ensino-aprendizagem.
Palavras-chave: Didática, relação, prática, professor, aluno.
ABSTRACT
This article aims to describe the concept of didactic and watch how it’s being practiced
in the classroom by teachers, the article notes and watch the result of the planning and
execution of activities to achieve the development of students, linking the student’s
progress to the teacher-student relationship and teaching-learning process.
Key - words: Didactic, relationship, practice, teacher, students.
1. Introdução
A intenção das autoras é de esclarecer nesse artigo conceitos de didática
de acordo com autores estudados e com a visão de professores do ensino
fundamental selecionados para entrevista. Iremos trabalhar a forma como a
didática é abordada na teoria e posteriormente, na prática. Para isso,
consideramos que os autores podem seguir teorias distintas e levaremos em
conta que a trajetória dos professores, assim como o tempo de prática docente e
o modo de dar aula é diferente para cada profissional.
¹ Anna Alice de Sousa Nunes e Vanessa Batista Gonçalves são graduandas em Letras Português pela
Universidade de Brasília – UnB.
2. Desenvolvimento
Ao elaborar a pesquisa para ser feito o artigo, criamos um questionário – que
será respondido pelos professores selecionados – baseado nas teorias que nos foram
apresentadas durante o semestre letivo. Durante a produção, o que mais nos intrigou foi
como entenderíamos a didática, para saber analisar a resposta dada pelos educadores e o
conceito de didática informado por eles, pois só assim chegaríamos ao processo de
ensino-aprendizagem de cada docente e na relação professor-aluno criada pelos
próprios.
O levantamento foi feito com três docentes do ensino fundamental/médio (todos
trabalham com fundamental, dois com ensino médio) e que também já passaram por
várias áreas de atuação da pedagogia. Vale destacar que as áreas de atuação não
interferem na nossa pesquisa, visto que o que estamos buscando é a concepção de
didática dentro do contexto de sala de aula, independente de qual ele seja. Outro ponto
para ser ressaltado é a diversidade de tempo de prática entre os entrevistados, dois
possuem mais de dez anos de experiência na área de educação e um é iniciante,
possuindo apenas quatro anos de sala de aula. Todos estão em exercício até os dias
atuais.
Como citado anteriormente, elaboramos uma pesquisa com questionário
qualitativo. As perguntas possuem uma sequência: o que é a didática, como é a visão da
relação professor-aluno, como são feitos os planejamentos de aula e como eles refletem
no processo de ensino-aprendizagem.
Concepção de Didática
Como estudamos o conceito de Didática? Comenius, ao publicar a Didática
Magna, nos mostra que ela é a “arte de ensinar tudo a todos”. Entretanto, podemos
mesmo afirmar que existe uma didática que pode ser utilizada para todos os contextos?
Para respondermos a esse questionamento devemos observar o cotidiano dos
professores e as suas respostas a respeito do assunto.
Para um determinado professor que atua na educação há quatro anos, didática é
“uma ferramenta que permite ao professor oferecer um melhor ensino”. Nas palavras do
docente encontramos aquilo que Veiga (2003) nos diz em seu texto Didática: uma
retrospectiva histórica “a didática é compreendida como um conjunto de regras que
visam assegurar aos professores as orientações necessárias ao trabalho docente”. Nesse
sentido a didática aparece como sendo algo que norteia o professor no aperfeiçoamento
de sua prática, tornando-o mais seguro para dar aula.
Outra professora, na área há 12 anos nos apresenta a sua concepção de didática
como sendo “... A arte e a técnica de ensinar. A parte da pedagogia que se ocupa dos
métodos e técnicas destinadas à prática”. A essa ideia de didática podemos relacionar os
dois pensamentos já abordados anteriormente pelos autores supracitados. Com as
respostas podemos verificar que para os professores escolhidos a didática está
relacionada diretamente com a prática profissional.
Uma terceira professora com quase 20 anos de experiência relaciona a didática
como parte fundamental da formação do futuro professor, visto que ela é algo que se
inicia na licenciatura com a disciplina e os estágios obrigatórios e em seguida
acompanha o professor até o findar de sua carreira.
A autora Toniazzo (2000) mostra em seu artigo os conceitos de didática prática e teórica:
Didática teórica é aquela desenvolvida nos programas da disciplina, segundo pressupostos científicos que visam à ação educativa, mas distanciada desta. São pressupostos abstratos que se acumulam sobre o processo de ensino, na busca de torná - los mais eficientes. Didática prática é aquela vivenciada pelos professores nas escolas a partir do trabalho prático em sala de aula, dentro da organização escolar, em relação com as exigências sociais. Esta não tem por compromisso comprovar os elementos teóricos estudados em livros ou experimentados em laboratórios, mas tem em vista o aluno, seus interesses e necessidades práticas. (PURA, 1989 apud TONIAZZO, 2000).
Com os conceitos apresentados e feitas as devidas observações a respeito das
respostas obtidas evidenciamos que as particularidades da didática formam sua essência
que é orientar e conduzir a prática profissional docente. Dessa forma podemos
relacionar os conceitos de didática teórica e prática. O futuro professor concebe a teoria
para depois ver como atuará na prática.
Relação professor- aluno
“Na relação pedagógica, o que se aprende não é tanto o que se ensina (o
conteúdo), mas o tipo de vínculo educador-educando que se dá na relação....
O educando modifica suas atitudes (aprende) porque estabelece um vínculo
com o educador – e com o saber, como veremos; o caráter desse vínculo
condiciona o caráter da aprendizagem. ” (GARCIA, 1989, p. 346)
Para a didática teórica, a relação professor-aluno é de suma importância no
processo de ensino, uma vez que tem como principal o objetivo a transmissão do saber
sistematizado. Essa relação pode assumir diferentes significados dependendo da
corrente teórica.
Quando se trata da teoria direcionada para a Escola Tradicional, tem-se um
ensino voltado para o autoritarismo, uma vez que o professor passa o conteúdo como
verdade absoluta e o aluno apenas absorve esse conhecimento. Já na Escola Nova, há
uma relação mais democrática, pois, o aluno tem atuação ativa no processo de ensino e
o professor atua como um orientador que atende as diferenças de cada um. E por último,
há a Escola Tecnológica, no qual tanto o professor quanto o aluno desempenham o
mesmo papel, onde a educação é vertical e autoritária.
Na concepção de Paulo Freire, a relação professor-aluno deve ter um vínculo
libertador e ele critica a “educação bancária”. Esse autor defende uma interação baseada
no diálogo e que ambos devem ser sujeitos ativos do saber. Ainda segundo Freire:
“O bom professor é o que consegue, enquanto fala, trazer o aluno até a
intimidade do movimento do seu pensamento. Sua aula é assim um desafio e
não uma cantiga de ninar. Seus alunos cansam, não dormem. Cansam porque
acompanham as idas e vindas de seu pensamento, surpreendem suas pausas,
suas dúvidas, suas incertezas”. (1996, p.96)
Ao estudar a didática prática, percebe-se que é utilizado um método diferente
daquele aprendido como o certo. Nos discursos dos professores é encontrado sempre
uma fala pautada na teoria, porém na prática ocorre o autoritarismo, mesmo havendo
uma resistência em assumi-la.
Na prática, cabe ao professor dar o espaço para criar e desenvolver seu trabalho
de acordo com a necessidade de cada aluno e dessa forma criar a relação de forma
pessoal.
Didática e ensino- aprendizagem
A História da didática muito tem contribuído na utilização de práticas para o
ensino e aprendizagem. É preciso que as experiências pessoais e a comunicação na sala
de aula estejam presentes no trabalho cotidiano do professor. Essas situações de
interação entre professor e aluno pode ser um suporte fundamental na aquisição de uma
aprendizagem de qualidade. Segundo Toniazzo, a interatividade é um fator no
desenvolvimento de uma prática com excelência que possibilita ao estudante a aquisição
de conhecimentos em três dimensões: controle, envolvimento e síntese, no processo de
aprendizagem.
O processo de ensino faz ligação entre dois momentos importantes: a
transmissão e assimilação ativa tanto de conhecimentos quanto de habilidades. Dessa
forma, o professor é responsável por ensinar de modo que se tenha organização didática
dos conteúdos que venha a promover condições assimiláveis de aprendizagem. Nesse
sentido, planejamento de ensino é o processo de decisão sobre atuação concreta dos
professores, no cotidiano de seu trabalho pedagógico, envolvendo as ações e situações,
em constantes interações entre professor e alunos e entre os próprios alunos.
(PADILHA. 2001. p33)
Ainda segundo o autor, essa interação é que promove a situação de ensino-
aprendizagem. Ela é denominada de “aprendizagem organizada” por ter uma finalidade
especifica onde as atividades são organizadas intencionalmente, com planejamento e de
forma sistemática. Porém há por outro lado a “aprendizagem casual” definida como
uma forma espontânea que surge naturalmente da interação entre pessoas com o meio;
isto é ressaltado pelo fato de que a observação, experiência e acontecimentos do
cotidiano proporcionam também aprendizagem e que isto deve ser observado pelo
professor de forma que se possa utilizar didaticamente.
O que faz um professor didático?
Para J. F. Brown “o professor é, indiscutivelmente, o fator mais decisivo em
qualquer plano de educação”. O que de fato acontece é que a qualidade da educação está
relacionada com uma serie de responsabilidades que levam um professor a ser didático,
que Rafael Grisi define como um professor “ claro, acessível e simples”.
Outros fatores como induzir o aluno a refletir, ser objetivo, motivar os alunos e
ser comprometido com a aprendizagem dos alunos são importantes para tornar-se um
professor didático. Professores com essas características e ter consciência de que precisa
estar sempre aprendendo, torna o ensino mais eficaz. Além disso, o professor deve
sempre ser um aluno. Cabe ao professor não somente saber o conteúdo, mas também
saber transmitir esse conhecimento aos seus alunos.
Os desafios encontrados pela didática atualmente
Atualmente podemos citar dois fatores que são grandes desafios para todo o
sistema de ensino que são, a legislação educacional brasileira e a política neoliberal.
Sabe-se que estes fatores sofrem influências políticas, que as conduzem mediante seus
interesses. “Há um reducionismo técnico da didática orientada pelos documentos legais
que norteiam a formação de professores” (VEIGA, 2010, p.46-47).
A legislação educacional é influenciada diretamente pela visão neoliberal, que
busca formar o professor através de uma pedagogia por competências e ligada a
avaliação de resultados, ou seja, um professor pragmático. Não há uma preocupação
com a formação crítica e contextualizada, sendo assim, a didática e toda a formação do
futuro professor fica desvinculada do contexto social, gerando a formação de caráter
técnico, onde o professor é um mero executor de leis impostas pelo sistema e que não é
nem capaz de enxergar a ideologia que o cerca, muito menos criticá-la buscando
transformações. Tem-se assim, o professor pragmatista, que concebe a didática como
um conjunto de informações técnicas.
Outro ponto muito importante que a didática possui como desafio atualmente é à
busca da qualidade e democratização do ensino. Se o professor opta por ser um
profissional crítico, suas atitudes deveram ser críticas, justas e reflexivas, não somente
em palavras, mas em ações concretas. Caso escolha ser um profissional neutro, seguirá a
ideologias impostas, cobrará apenas resultados á partir de técnicas de ensino, sem
considerar a realidade em que os alunos vivem e aprendem. Percebe-se que a busca
atualmente é por uma formação do professor que possua uma didática condizente com o
momento e a realidade de nossos dias e que irá atuar futuramente.
Conclusão
Como vimos à didática esta ligada diretamente com todo o contexto existente
dentro de uma instituição de ensino, valendo ressaltar que ela interferi
significativamente no processo de ensino- aprendizagem dos principais agentes desse
processo. A didática em si como foi dito anteriormente serve como uma ferramenta, um
artefato, método, dentre outros significados e tem como papel principal agir como um
catalisador do processo que aluno e professor estão inseridos. Esse papel de catalisador
só é possível quando o professor está disposto a usa- la como forma de modificação da
realidade do ensino, onde este deve levar em conta o seu aluno como um ser único e
dotado de várias habilidades dentre às quais pode ser destacada a capacidade de também
intervir no ensino. Vimos também que a maior parte das entrevistadas estabelece um
laço de confiança com a didática e utilizando- a como um suporte para o melhoramento
da sua profissão. Assim como pode também ser visto que a didática é só mais uma
ferramenta utilizada para auxiliar na pesquisa.
Quando foi levantado o tema do artigo e como seria realizada a pesquisa, nossa
maior preocupação era saber o que esses professores compreendiam como didática e
como essa estava sendo utilizada para a melhoria da educação, ao decorrer da
elaboração do questionário surgiram outras questões de suma importância no campo da
educação. Analisar essas questões que apareceram na formulação, só fez ver o quão
complexa é o entendimento da didática dentro da sala de aula, mas é essa complexidade
que a torna fascinante, revelando assim a sua importância em todo o processo de ensinar
e aprender.
O que de mais chamou atenção ao elaborar o artigo foi o ultimo assunto
abordado, a questão de ser professor, só foi possível chegar a conclusão do que é ser
professor depois de analisar todos os levantamentos de como a didática interfere na vida
desse profissional.
Para fechar, inserimos algumas frases de quem desconhecemos a autoria, mas
que servem para refletir no que é ser professor ou no que gostaríamos que fosse:
“Ser Professor é consumir horas e horas pensando em cada detalhe daquela aula
que, mesmo ocorrendo todos os dias, a cada dia é única e original”;
“Ser Professor é importar-se com o outro numa dimensão de quem cultiva uma
planta muito rara que necessita de atenção, amor e cuidado”.
“Ser Professor é ter a capacidade de sair de cena, sem sair do espetáculo”
Temos plena consciência que para aproveitar todo o que a didática nos oferece,
há que se conceber primeiramente o conceito de escola, pois como estudantes e futuros
profissionais da educação, precisamos de uma reforma profunda de nós mesmos.
Mudamos o mundo, quando mudamos primeiramente a nós.
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TONIAZZO