Artigos e Fatos - Henrique Mendonça

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    Copyright 2011 by Henrique Mendona

    Editora Kelps

    Rua 19 n 100 St. Marechal RondonCEP 74.560-460 Goinia GO

    Fone: (62) 3211-1616Fax: (62) 3211-1075

    E-mail: [email protected]: www.kelps.com.br

    Comisso Tcnica

    Carlos Augusto Tavares

    Diagramao

    Ruyran Loyola CarvalhoProjeto editorial

    DIREITOS RESERVADOS

    proibida a reproduo total ou parcial da obra, de qualquer orma ou por qualquermeio, sem a autorizao prvia e por escrito dos autores. A violao dos Direitos Autorais(Lei n 9610/98) crime estabelecido pelo artigo 184 do Cdigo Penal.

    Impresso no BrasilPrinted in Brazil

    Presita en Brazilo

    2011

    M495a Mendona, Henrique.Artigos & Fatos / Henrique Mendona.

    Goinia : Kelps, 2011.

    192 p. (Coleo Anaplis em Let ras, Fatos e Imagens)

    ISBN: 978-85-63331-95-3

    1. Literatura brasileira - jornalismo. I. Ttulo. II. Srie

    295-2011 CDU: 821.134.3(81) -94

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao CIPBIBLIOTECA MUNICIPAL MARIETTA TELLES MACHADO

    Apresentao

    A edio da coletnea Anpolis em Letras, Fatos e

    Imagens uma iniciativa que resgata obras fundamentaispara a compreenso e o acesso cultura anapolina. Poemas,crnicas, peas teatrais, pesquisas histricas, numa variedadeto grande de propostas literrias que no seu conjunto so deuma riqueza incomensurvel. Mas cada uma das obras guardaem si toda a expresso do contexto em que foram produzidas,os dilemas, o estgio de desenvolvimento das ideias e estilosliterrios de autores em diferentes perodos.

    A possibilidade de tornar todas essas ideias disponveis comunidade , sem dvida, uma ao que contribui para aformao intelectual de toda a populao. A literatura, seja elade fico ou cientfica, tem essa propriedade de remontar nossahistria, remeter-nos a valores e crenas, sonhos e conceitosque formam uma mentalidade. A valorizao de escritoresanapolinos, representativos de nosso cenrio literrio, vistacomo de grande importncia para a construo da cidadania.

    Ao ler esta obra, saiba que ela compe um projetoque intenciona dar projeo ao trabalho de autores que sedestacam dentre vrios outros que se dedicam a expressar seuspensamentos por meio das letras. Este trabalho foi merecedor

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    Algumas Palavras

    O escritor e jornalista Henrique Mendona vem, hbastante tempo, dedicando-se ao resgate da histria de Anpolis,com nfase na cultura local. Militando na imprensa, vem sededicando temtica cultural: lcidos artigos, em estilo claro econciso, agradvel e informativo.

    Henrique Mendona lembra-me como este vivo Estado deGois foi feito base da cooperao entre progressistas goianose trabalhadores e intelectuais vindos de fora - de Minas, de SoPaulo, do Sul, do Nordeste e mesmo do exterior. Povo idealistaque, contribuindo com a modernizao de Gois, veio igualmentea ter importante participao na construo de Braslia.

    Vivendo de seu trabalho como jornalista e redatorprofissional, Henrique Mendona tem se revelado ao longo de

    muitos anos um exemplar e desprendido idealista, expressando,atravs de sua militncia intelectual, um genuno amor pelacidade e pelo Estado que o acolheram. Disso temos significativademonstrao na presente coletnea de seus escritos.

    Neste oportuno Artigos & Fatos, ele trata magistralmentede livros e autores nacionais e estrangeiros, destacando nomesgoianos. Tambm se refere a fatos e identifica episdios fundamentaispara o conhecimento da histria anapolina, goiana e nacional.

    desta publicao e representa o que h de significativo naliteratura anapolina.

    Augusto Csar AlmeidaSecretrio Municipal de Cultura

    Anpolis - 2011

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    Nascido que sou em Minas, mas tendo forte ligao comAnpolis - onde, menino, freqentei os Cines Santana e Imperial,e vendi nas ruas a Folha de Goyaz, sinto-me muito grato aobrilhante escritor por este trabalho, em que, com mestria, registraa contribuio anapolina em mbito cultural e histrico.

    Anpolis pode orgulhar-se de ter intelectuais comoHenrique Mendona. Vale a pena ler cada tpico desta coletnea.

    Miter dos Santos Fonseca - Braslia, 2011.

    Sumrio

    Algumas Palavras ........................................................................................7Lrios do Vale completa um sculo ........................................................13

    Jarbas de Oliveira, poeta e comunicador .................................................17Sombras de Reis Barbudos.......................................................................19Margens do Atlntico ...............................................................................21

    A Volta ao mundo em 80 dias...................................................................23

    Jnio Quadros escritor .............................................................................25Eram os deuses astronautas? ....................................................................27Brinco-de-rainha.......................................................................................29Pela histria de Gois ...............................................................................31Priso: crepsculo de uma era .................................................................33Horizonte Perdido ....................................................................................35

    Americanidade em Iracema ......................................................................37O cordel s de luz ....................................................................................39

    Alguns versos ............................................................................................41Parabns, Dona Lol! ...............................................................................43O Livro dos Espritos ................................................................................45O pomar ...................................................................................................47Centenrio de Carlos Marighela ..............................................................49Crepsculo ...............................................................................................55O sistema Braille ......................................................................................57

    Vinicius tem som e poesia ........................................................................59Coelho Neto - testemunha da Abolio ...................................................61Os cavalinhos de J. J . Veiga ......................................................................63Confsso de Amor por Anpolis..............................................................65

    Anpolis Centenria .................................................................................67A Cinqentenria .....................................................................................69100 anos de esperanto no Brasil ..............................................................71O literato Joo Luiz de Oliveira ................................................................73

    Juscelino Polonial e a histria ..................................................................75

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    No palco da vida.......................................................................................77Coelho Vaz & a cultura .............................................................................79Encontro com homens notveis ..............................................................81O vo in verso ..........................................................................................832001, Odissia espacial ............................................................................85Minha vida de casada ...............................................................................87

    A imprensa amordaada ...........................................................................89Os ciclos na natureza ...............................................................................91Crepsculo dos deuses ............................................................................93Porque tinha que ser - II ..........................................................................95

    Auto-ajuda em Iron Junqueira .................................................................97O polgrafo Mrio Ribeiro Martins ...........................................................99Huberto Rohden e a flosofa univrsica ...............................................101Um assassino econmico .......................................................................103Dossi Werneck Sodr ............................................................................105Barbarela, beija-or................................................................................107O abolicionista do imprio ....................................................................109Gerundismo, praga que enfeia a lngua .................................................111

    Alencar e as minas de prata ....................................................................113Consumatum West .................................................................................115Clcio Dutra, irmo camarada ...............................................................117O sucinto Eno Theodoro Wanke ............................................................119Memorial do Araguaia ............................................................................121O mundo de Carmo Bernardes ..............................................................123

    Johnny Alf, pai da Bossa-Nova .........................................................................125De favas e favelas ....................................................................................127

    Sal e arte .................................................................................................129Capitalismo para principiantes ..............................................................131

    A criptopotica de PNB ..........................................................................133O Processo Maurizius .............................................................................135Tratado da incompetncia ......................................................................137Os melhores esto na poltica? ...............................................................139

    A madona de cedro ................................................................................141ndio a bordo .........................................................................................143

    O Grego Kazantzakis .............................................................................145Divas de Floradas na Serra .....................................................................147Patrimnio histrico...............................................................................149O X da questo ....................................................................................151Profanao do verbo ..............................................................................153

    A Indstria do Holocausto .....................................................................155Mdias e mudanas ................................................................................157O pior presidente ...................................................................................159Mistrio da sobrevivncia .......................................................................161Bernardo Sayo ......................................................................................163Gustavo Barroso na cultura brasileira ....................................................165

    Das presidentes e dos presidentes ................................................. 167De Santana de Parnaba a Santana das Antas .........................................169Brasil perde o maior editor que j teve .................................................177

    Anpolis produzir avio polons..........................................................179Anpolis tem um banco a menos ...........................................................183Contribuio para o urbanismo de Anpolis .........................................185O Mundo Sem Ns .................................................................................187Gois, Terra da Promisso ......................................................................189

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    Lrios do Vale completa um sculo

    Aobra Lrios do Vale, de Arlindo Costa(Piracanjuba - GO, 1881 Anpolis - GO, 1928),

    completa, neste ano, um sculo de existncia. Foi na cidademineira de Uberaba, onde Arlindo viveu desde adolescente atpouco depois de haver se casado, com Julieta Nince, que olivro veio luz, em 1907.

    Preocupada com a educao do jovem Arlindo, suame, Maria Elisa, a primeira professora do povoado ainda napoca da vila, no teve outro caminho seno enviar o garotoquela cidade mineira, pois na Vila de SantAnna das Antasno existia curso para dar seqncia ao ensino fundamental.

    Ali, foi marcante a vida de Arlindo como professor,

    diretor de escola e jornalista, tendo deixado trabalhos nolendrio jornal Lavoura e Comrcio, como tambm na Gazetade Uberaba e no Brasil Central.

    Embora publicado fora daqui, Lrios do Valeimortalizaria a verve de Arlindo Costa entre os vates antesinos.Trata-se duma coletnea de versos graciosos, muitos denatureza familiar, outros dedicados sua Julieta; h diversos

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    deles com enfoque filosfico dedicados a amigos, e outrosque exaltam a terra natal cantando suas belezas e falando dasaudade que levou, como, por exemplo, Cano Goiana:

    Como so belas as plagas / da minha terra formosa! /Que lindas so as palmeiras! / Que relva to perfumosa! // Hmuitas flores bonitas / pelas campinas gigantes / H tantos,tantos, h vastos / buritizais sussurrantes. // De tarde, beirada estrada, / nos arvoredos de pouso, / as seriemas entoam/ um triste canto saudoso. // Ao p das fontes chorosas, /

    os ledos pssaros pretos, / em musical harmonia / do seusalegres concertos.

    Em 1913, Arlindo Costa retornou terra onde residiraem menino com a me, o padrasto e os irmos. Encontroua vila j emancipada, com o nome de Annapolis (sic), epreparando-se para crescer. Tornou-se influente personagemlocal, atuando na poltica e na vida cultural do pequeninoncleo urbano.

    O polgrafo Mrio Ribeiro Martins escreve, em seulivro Letras Anapolinas (Anpolis, 1984), que: ArlindoCosta, considerado o primeiro poeta anapolino, foi tambm

    jornalista, advogado e poltico. Trama poltica o levou morteem 4 de janeiro de 1928, por envenenamento, consoante vozcorrente.

    Ayde Jayme, sobrinha em primeiro grau de Arlindo,tambm escreve isso em seu livro Anpolis, sua vida, seupovo (Grfica do Senado, Braslia, 1981). Entretanto, outrosobrinho em primeiro grau, Humberto Crispim Borges, autorde Histria de Anpolis (Goinia, 1975), nega essa versoe disse, numa entrevista a ns concedida, que a morte do tio

    deveu-se a causas naturais, provavelmente mal cardaco, e queo boato de envenenamento se deu pela crendice da populaoda poca, pois, envolto com a poltica, Arlindo Costa granjearamuitos adversrios inimigos.

    Jornal Contexto, Anpolis, julho de 2007.

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    Jarbas de Oliveira, poeta e comunicador

    Neste passado 24 de outubro, o poeta, escritor edramaturgo Jarbas de Oliveira completou 94 anos

    de existncia (Rio de Janeiro, 24 de outubro de 1913).Jarbas, cujo nome civil Artemdoro Alves de Oliveira,

    mudou-se para Anpolis em 1957, depois de passar porinmeras cidades fluminenses e mineiras, sempre dividindoo tempo entre a imprensa escrita e a radiofnica, e o teatro.Como poeta, por onde andou foi deixando um rastro lrico,constando que foi tambm diretor e professor da Escola deComrcio de Ub, em Minas. Mais tarde se aposentaria pelofisco goiano.

    Em Anpolis, Jarbas vinculou-se desde logo aos jornais

    de maior circulao. Sua vinda coincide com a poca dospreparativos da comemorao do Cinqentenrio da cidadenaquele ano, cujo evento ele cobriu como reprter.

    Tambm sua passagem pelo mundo do teatro local(ento muito mais atuante do que hoje) foi marcante. Escreveuna revista e foi correspondente da SBAT (Sociedade Brasileirade Autores Teatrais).

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    Dos livros que publicou, podemos citar: Devaneios,Inquietao, Versos, Trovas (poesia); Relembranas(crnicas e reminiscncias); Maria, O Pintor e Reflexes deuma Professora (teatro). A potica de Jarbas leve e familiar.

    A potica de Jarbas leve e familiar. De fcil apreenso,alguns de seus trabalhos chegam a ter mltiplos nveis designificao, a despeito da simplicidade com que foramescritos. Com freqncia, seus versos no usam rima, emborapreservem a mtrica de forma escorreita e o ritmo flua feito

    leite, que um dos pilares da poesia.Jarbas foi o primeiro presidente da ULA (Unio LiterriaAnapolina), da qual foi um dos fundadores. formado emdireito e aposentado da Fazenda Estadual.

    Contexto, outubro de 2007.

    PS.: Jarbas viria a falecer em 2010.

    Sombras de Reis Barbudos

    Sombras de Reis Barbudos, de Jos J. Veiga (JosJacinto Pereira Veiga: Corumb de Gois, 1915 -

    Rio de Janeiro, 1999), daquelas obras que poderiam levaroutro qualquer nome em vez deste. Lanado em 1972, pelaEditora Civilizao Brasileira, a obra concretiza em definitivoaquilo que j havia sido colocado desde Os Cavalinhos dePlatiplanto (1959), quanto forma de narrar e tecer a trama.Tecer, no no sentido de emaranhar episdios, porquanto oromance se desenrola em linha reta, sem interferncias lateraisou entrechos adjacentes, mas no sentido de colocar os fatos nahora certa e com ligao com o passado, incio da narrativa.

    J. J. Veiga criou e usou no Brasil, aquilo que foi

    sobejamente utilizado na Europa, e principalmente pelas mosde Franz Kafka, a narrao decidida e sem subterfgios. Semnecessidade de explicaes.

    Ler Jos J. Veiga obrigar-se a crer como crem aspersonagens e como afirma o narrador; sentir-se transportadono para o mundo que ele descreve, mas para a ao que sepassa naquele mundo.

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    Voltando Sombra de Reis Barbudos, escrito em plenaera Garrastazu Mdice, faz-nos crer em mltiplas intenes doautor; principalmente porque ele no se refere (e nem poderia)a fatos polticos ou conjunturas sociais da poca em que o livrofoi publicado, mas a um passado na prpria infncia.

    Versado no trabalho de traduo (Veiga foi redator etradutor da editora estadunidense Readers Digest), deve tersido intenso seu contato com autores do surrealismo ianque,

    britnico e europeu em geral, de onde ele deve ter transportado

    a temtica para o falante do portugus do Brasil.Vale a pena conhecer a obra desse goiano de Corumbde Gois, que escrevia po de queijo com chantili.

    Contexto, outubro de 2006.

    Margens do Atlntico

    Alm do fato literrio em si, sempre ocorre aparecerprodues interessantes tambm na forma da

    composio e do contedo. Em poca de globalizao, dese esperar que o contato entre escritores no se d apenas pelainternete (o e final nosso), mas de todas as formas possveisque se apresentarem.

    Em 2006, foi lanado pela Editora Zeni Leal, deCuritiba, o livro Margens do Atlntico, reunindo poetas

    brasileiros e portugueses, num esplndido elo antolgico, emque podemos sentir a maravilha da energia vrvica que hnos dois pases. Os 26 poetas e poetisas que vm enriquecera poesia luso-brasileira fazem-no de forma despretensiosa,declamando seus momentos comuns e falando familiarmente

    das contingncias alegres e tristes da vida.A goiana Maria Loussa, por exemplo, diz: Ao acordar,

    grande minha alegria / Agradeo ao Grande Deus / Por meproteger a cada dia e / Digo pra mim mesma: sorria, / Sua vida uma alforria. / ... Outros versos, do portugus Joo CarlosFerreira Almeida dizem: Afastas-te com galhardia / Perdes-te naimensido / Est morta a sinfonia / Ests s na multido / ...

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    Margens do Atlntico nome apropriado. Usandode poesia, diz na apresentao, o portugus Joaquim Evnio,que h mais de 500 milhes de anos os nossos continentesestavam juntos. Depois, segundo os cientistas da Terra,comeou, lentamente, a deriva continental... Hoje, quandoeste grande Oceano ouve dizer que separa dois povos irmos,sente as dores da injustia... e chora ondas convulsas que seespraiam nas areias das duas margens... Orgulhemo-nos, pois,da originalidade, do sincretismo e das sinergias que hoje fazem

    da cultura lusfona uma das mais ricas do mundo.

    Contexto, janeiro de 2007.

    A Volta ao mundo em 80 dias

    Jlio Verne, famoso escritor francs (Nantes, 1828 -Amians, 1905) foi um romancista genial. Tornou-se mais conhecido pelo entrecho de fundo tcnico-cientficode suas obras. Entretanto, a base tecnolgica de que se valeuapenas serviu de veculo para suas idias. Grande parte de seuslivros so novelas de poca, lugares e costumes.

    Em seu romance A Volta ao Mundo em 80 Dias, Vernecria uma histria engenhosa e verossmil, a partir da iluso,ou impercepo, dos seres humanos quanto ao fuso horrio.Viajando p, em lombo de animal e em lentas embarcaes, oaristocrtico ingls Fleas Fogg, personagem central do romance,contorna a Terra indo de Oeste para Leste, com seu relgio ficando

    adiantado sessenta minutos, a cada mudana de fuso horrio.A aventura teve incio devido a uma aposta em que Fogg

    disse que provaria ser possvel dar a volta ao mundo em apenas80 dias. Em 1872, poca imaginada, com toda a velocidadedisponvel o tempo seria de mais de quatro meses. Fogg e seusecretrio Jean Passepartout (Joo Porta-Retrato) conseguemdar a volta, em meio a muitas peripcias.

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    Na ocasio da partida de Fleas Fogg, o Banco daInglaterra havia sido roubado, e algum acha que o ladro ele, e que ele estaria fugindo. Da, Fogg seguido a cada passopelo detetive Fix, que o persegue na esperana de prend-lo naprimeira oportunidade.

    Logo que o aristocrata pisa de volta em solo britnico,na costa oeste, Fix lhe d voz de priso e o conduz ao xadrez.Mas o ladro descoberto e a histria tem um final feliz, comFogg liberto e socando a cara de Fix.

    Destino diferente e trgico teve nosso conterrneo JeanCharles de Menezes, assassinado por ingleses policiais em2005, por cuja inocncia nosso Itamarati, em atitude pfia etbia, deixou de protestar de modo veraz e convincente.

    Contexto, janeiro de 2007.

    Jnio Quadros escritor

    No dia 25 de janeiro, se estivesse vivo, o ex-presidenteda Repblica, ex-governador do estado de So

    Paulo, vereador e prefeito por duas vezes da capital paulista,o mato-grossense Jnio da Silva Quadros (Campo Grande,25/01/1917 - So Paulo, 17/02/1992) teria completado90 anos. Quando ele nasceu, ainda no havia Mato Grossodo Sul. Devido sua vida poltica conturbada e desastrada,fatos ligados sua pessoa como professor e escritor passaramdespercebidos do grande pblico, em que pese o sucessoalcanado por suas obras, entre estudantes e estudiosos.

    Em setembro de 1981, em Londres, Jnio Quadros foientrevistado pelo jornalista Jos Rodrigues ento editor deEconomia do jornal A Tribuna, de Santos - SP.

    Pergunta - voz corrente no Brasil que o senhor s possuaum terreninho em So Paulo. Mas o sr. viaja e apresenta umasituao estvel. Como se explica essa sua posio? Respostade Jnio - Bem, eu poderia remet-lo ao Imposto de Renda.L est a minha declarao, que pblica. Quem deseje,pode at obter a fotocpia, tem a minha licena ampla. Masquero contar uma coisa ao senhor. Eu ganhei uma pequena

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    fortuna escrevendo. roda de Cr$ 1 milho (um milho decruzeiros), quela poca, na gramtica. Ganhei outra pequenafortuna no dicionrio. Quer a gramtica, quer o dicionrio,esto esgotados. Vou ganhar mais ao regressar, com uma novaedio...

    Seu livro Os Dois Mundos das Trs Amricas,publicado em 1967, guardadas as devidas propores umaespcie de Os Sertes americano. Outras obras deixadaspor Jnio da Silva Quadros foram: Curso Prtico da Lngua

    Portuguesa e sua Literatura (1966), Histria do PovoBrasileiro (1967, em co-autoria com Afonso Arinos), NovoDicionrio Prtico da Lngua Portuguesa (1976) e QuinzeContos (1983).

    Contexto, janeiro de 2007.

    Eram os deuses astronautas?

    Ao contrrio do que muitos crticos afirmam, oescritor suo Erich Von Dniken (Zofingen, 14 de

    abril de 1935) em nenhuma parte do livro Eram os DeusesAstronautas? (1968) afirma alguma coisa com respeito sua teoria, segundo a qual a Terra teria sido visitada porseres extraterrestres inteligentes, no passado histrico e pr-histrico. O prprio ttulo do livro uma pergunta!

    Tal como ocorreu com a obra de fico cientfica 2001,Uma Odissia Espacial, de Artur C. Clarke, o livro de Dnikensaiu a pblico s vsperas da chegada do homem Lua, o que foi,em si, um grande momento mercadolgico. Junto s freqentesnotcias sobre o projeto da Nasa, naquele momento o livrodespertou grande interesse pelo espao exterior. No que o tema

    fosse novo, mas at ento fra tratado pelas editoras e divulgadoquase que como um assunto esotrico. A aceitao foi tanta, quepor volta de 1973 Dniken j havia vendido mais de sete milhesde exemplares em 40 lnguas, inclusive portugus. Desde ento,vrios trabalhos de pesquisa na mesma linha foram publicadospor ele.

    Parece que o livro de Dniken, abordando coisas fsicase imateriais inexplicveis, existentes na prpria Terra, como as

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    pirmides antigas, objetos arqueolgicos e as lendas dos povos,acordou numa parte dos leitores alguma coisa que sempreestivera inconscientemente emudecida. Mais recentemente,ele publicou Sim, os Deuses Eram Astronautas.

    So muitos os caminhos que conduzem forte presunoda existncia de vida inteligente no espao sideral, levando ospositivistas a se calarem diante da probabilidade quando asgalxias se anunciam em bilhes elevados a bilhes. Dniken,entretanto, escolheu o que apresenta em sua obra.

    Contexto, fevereiro de 2007.

    Brinco-de-rainha

    Brinco-de-Rainha o ttulo de recente livrolanado pelo prosador e historiador Humberto

    Crispim Borges (Anpolis, 1918), atravs da Editora Kelps. Halgumas dcadas, ele reside em Goinia.

    Com uma carreira literria edificada por um conjuntocoerente de obras, o acadmico e militar reformado HumbertoCrispim desenvolveu um estilo todo prprio de escrever,conferindo ao seu trabalho uma linguagem homognea.

    Muitos de seus contos contm elementos da ficohistrica, de vez que ele conhece a arte de criar o ficcionalutilizando-se dos fatos e contextos dessa natureza.

    Como de costume, em Brinco-de-Rainha est presenteoutra de suas grandes habilidades, que a de contador de

    causos; esta, uma arte que conta hoje com muito poucosmestres, e Humberto a exerce de forma convincente. Emborao autor tenha seu trabalho publicado ao longo de 70 anos naimprensa goiana, foi s em 1967 que ele publicou seu primeirolivro, Chico Melancolia (contos), seguindo-se da numerosapublicao, como Cacho do Tucum, O vale das Imbabas,Chico Trinta etc. Em 1972, entrou para a Academia Goianade Letras.

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    Alm da vertente ficcional, outro lado incorrigvel deCrispim o de historiador perene. Em 1975, publicou Historiade Anpolis; seguiram-se a partir de ento vrias obras queregistram a vida goiana. Sua obstinao como pesquisadorda histria de Gois e nacional levou-o a registrar dadosimportantes acerca da vida e da obra de Americano do Brasil,Moiss Santana e outros vultos.

    Chegando aos 90 anos, o amanuense HumbertoCrispim produz sua obra como sempre fez, escrevendo a lpis

    em cadernos com pauta. Aos noventa, como aos nove, gostada vida do campo, do ar livre e duma boa praia de rio ou demar. E essa sua natureza est presente em Brinco-de-Rainha.

    Contexto, fevereiro de 2007.

    Pela histria de Gois

    Tem crescido em Gois o nmero dos estudiososque analisam de forma crtica a histria local desde

    seu surgimento, no Brasil Colnia, aos dias atuais. De vez emquando tomamos conhecimento de que alguma obra veio apblico fruto do resultado de pesquisas.

    O registro histrico hoje difere muito do que foiprtica h dcadas, principalmente antes da metade do sculopassado, quando o fato era mencionado quase que como nota

    jornalstica, limitando-se a fixar que tal acontecimento haviaocorrido. A narrativa tinha como objetivo apenas ordenarcronologicamente o registro de acontecimentos.

    Se aquela prtica era apenas narrativa, deixando deanalisar o assunto em seus meandros e implicaes, no

    menos verdade que em grande parte das vezes a obra era eivadade qualificativos da parte do autor, que apenas denotavamsua predileo ou repulsa pelas personagens. Isso valia parahistoriadores e artistas.

    E em Gois, tal modalidade de publicismo histricocomeou a ser modificada um pouco a partir de AntnioAmericano do Brasil (Bonfim, atual Silvnia, 28/08/1892 -Santa Luzia, atual Luzinia, 20/04/1932).

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    Vivendo j na Repblica, Americano do Brasil buscouintensamente conhecer a vida do estado goiano e chegoua fazer interessantes revelaes acerca de nossa histria,deixando inmeros trabalhos alm da prestigiada Smula deHistria de Gois. Deixou tambm grande nmero de escritosde anlise crtica sobre poltica e histria, principalmente nos

    jornais da poca. Foi poeta e deixou livros de poesia.Como deputado federal, Americano do Brasil foi o

    autor do primeiro projeto de lei que viabilizasse a implantao

    da capital federal no Planalto Central. Seus discursosparlamentares revelam alto grau de saber jurdico e geogrfico,principalmente ao tratar de questes de limites territoriais.

    Com o ttulo de Pela Histria de Gois, vrios artigosde Americano do Brasil foram reunidos pelo pesquisadorHumberto Crispim Borges, e publicados em um livro pelaEditora da UFG, em 1980.

    Contexto, maio de 2007.

    Priso: crepsculo de uma era

    Obra de fcil leitura e compreenso para quem no da rea jurdica, mas tem interesse em saber

    um pouco como pensam os especialistas acerca da questoprisional, o pequeno livro Priso: Crepsculo de uma Era,da autoria de Csar Barros Leal, Edies Demcrito Rocha,Fortaleza, 2002.

    O autor professor na Faculdade de Direito daUniversidade Federal do Cear, membro da AcademiaBrasileira de Direito Penal e Membro do Conselho Nacionalde Poltica Prisional e Criminal.

    No livro de 150 pginas, Csar Barros dedica doiscaptulos ao menor de idade, e analisa como tratado nodireito penal desde os tempos da colnia portuguesa. No incio

    do sculo XVII, cita Barros, um cdigo de leis (OrdenaesFilipinas - 1603), dizia no Artigo 134, do Livro V: Os menoressero punidos pelos delitos que praticarem. Se o delinqentefor maior de 17 e menor de 20 anos, o prprio juiz decidirsobre a pena a ser aplicada, e se este considerar que a penamxima razovel, ele a aplicar, ainda que seja a pena demorte. Se for menor de 17 anos, ainda que o delito merea a

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    pena de morte, ela de forma nenhuma ser aplicada.Barros Leal conclui pela instituio de prestao

    alternativa de servios comunidade, no s para menores,mas tambm para maiores. Sua argumentao interessantee sensata, mas abarca apenas os casos de menor gravidade.Normalmente obras como essa no tratam, nem tem comotratar, a questo dos crimes hediondos contumazes.

    Os constituintes de 1988, ocupados em solidificar aAnistia (Golpe de 1979), acabaram deixando uma janela

    aberta para um caos proposital, ao suprimirem a PrisoPerptua, embora at exista previso de pena de morte, emcaso de guerra declarada. Esse tema tem sido tratado comotabu, pois fala-se amide sobre a pena capital, mas PrisoPerptua jamais abordado.

    Contexto, fevereiro de 2007.

    Horizonte Perdido

    Oromance Horizonte Perdido, escrito porJames Hilton (Inglaterra, 09/09/1900 - EUA,

    20/12/1954), dessas obras que condensam todo um mundode filosofia e arte.

    Hilton imagina um local no Oriente, onde reina amais formosa paz, alheia e distante de tudo o que constituinosso agitado mundo desenvolvido. Naquelas paragens, at aidade das pessoas, ou pelo menos as condies e aparnciafsica, paravam no tempo, permitindo que elas vivessem ese dedicassem a coisas mais substanciais e profundas daexistncia.

    O personagem principal, por nome Conway, exerciaum cargo diplomtico ao norte do Paquisto. Num perodo

    de agravamento das tenses polticas entre os nacionalistasdo lugar e as foras de ocupao estrangeiras, ingleses eestadunidenses so retirados s pressas.

    Conway mais um grupo de quatro pessoas deixam olugar viajando num luxuoso avio cedido por um maraj (apalavra maraj aqui tem o seu significado correto). Masquando pensavam haver deixado para trs todo o risco e

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    tenso, percebem que, na verdade estavam sendo raptados porum estranho piloto alojado na cabine da aeronave. Depois dehoras de apreenso e dvidas, o avio cai desgovernado sobrea neve que cobre as montanhas do Tibet.

    S o piloto morreu. Os passageiros, depois de algumtempo, foram encontrados por um grupo liderado por ummonge idoso, de nome Chang, que os convida a se hospedarno mosteiro lamasta de Xangri-L (em ingls, a ortografia Shangri-La). James Hilton empregou smbolos de grande

    significao: parece que L em tibetano quer dizerdesfiladeiro.E como o lendrio conterrneo Walter Scott, Hilton

    traa sua concepo de forma decidida, como um pintorimpressionista faria numa tela, deixando para o espectadora opo de ver de perto ou de longe. Tambm deixou, comoScott, ua marca de censura superficialidade ocidental.

    Contexto, maro de 2007.

    Americanidade em Iracema

    Em maio prximo, completar 142 anos a obraIracema (1865), de Jos de Alencar (Mecejana

    - CE, 1/05/1829 - Rio de Janeiro, 12/12/1877). Dosprimeiros escritores brasileiros a se ocupar em produzir belas-letras realmente brasileiras, Jos Martiniano de Alencar foio fundador do Romantismo na prosa brasileira e, dentro doRomantismo, o Indianismo.

    Iracema, a primeira vista um nome indgena, e queno romance de Alencar realmente nomeia a jovem indgenapersonagem central de sua creao, , na verdade, um anagramada palavra Amrica. Com as mesmas letras escrevemostanto uma quanto outra palavra. Concebido como alegoria dacolonizao europia no Brasil, pois que Alencar utiliza um

    vocabulrio todo voltado s terras braslicas e retrata um ndiono sul-americano, mas sudeste-americano, ele no titubeia emdesignar o Brasil por Amrica, o que, alis, era normal fazer, ato incio do sculo XX. De igual modo procedeu Castro Alves em1870, com o poema O Livro e a Amrica, pensando a palavraAmrica como a designao de um grande continente do qualo Brasil parte soberana. Tambm o venezuelano Simon Bolvare o cubano Jos Mart muito prezaram a palavra Amrica, pelo

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    que representava quanto emancipao cultural em relao aoVelho Mundo.

    Foi s a partir do grande processo emigratrio europeuiniciado pouco antes da I Grande Guerra Mundial, quea palavra Amrica teve o sentido pervertido. Porque osestadunidenses se autodenominam americans, hordas quedeixavam a Europa ou por l passavam para vir ao NovoMundo aprenderam a designar por americano s o gentlicodos Estados Unidos da Amrica do Norte, uma vez que a

    elite europia viajava mais para ir parte norte das Amricas,referindo-se ao povo de l como americano e aos demaispelo gentlico dos respectivos pases: argentino, brasileiro,chileno, mexicano etc.

    Contexto, maro de 2007.

    O cordel s de luz

    H legados literrios que impressionam, tanto pelocontedo que encerram quanto pela capacidade

    de sntese com que o autor foi ungido pela inspirao: Nanatureza nada se perde, tudo se transforma, No tive filhos,no transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa misria,Ser ou no ser, eis a questo, Nascer, morrer, renascerainda, progredir sem cessar, tal a Lei, foram frases expressasem algum momento por seus respectivos pensadores, quandoanalisavam concluso a que tinham chegado.

    Em literatura uma das leis fundamentais a sntese,e dela se serve o poeta paraibano Paulo Nunes Batista (JooPessoa, 02/08/1924), h 57 anos naturalizado anapolino.Paulo cultiva desde jovem a arte de versejar de improviso

    nos eventos a que comparece. uma habilidade que herdoudos antepassados repentistas. Ele j publicou cerca de 20livros e mais de 300 folhetos de cordel. um nome altamenterepresentativo das letras goianas e nacionais. Na dcada de1990 representou Gois num evento literrio em Portugal. nome citado pelo estudioso folclorista Cmara Cascudo.

    Em que pese sua grande expresso na chamada poesiaerudita, no cordel que podemos encontr-lo com tiradas

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    impressionantes, como si acontecer tradicionalmente comos vates nordestinos. Seu opsculo O Cordel s de Luz como esses pequenos vidros de essncia rara. Dele retiramoso poema Viver:

    Viver seguir em frente! / gua que pra - apodrece.../ Viver servir - s serve / semente que morre e cresce... /Viver fazer da vida, / a cada instante, uma Prece! // Viver aprender da Vida / a Luminosa Lio, / construir o destino/ no gesto de cada mo, / plantar paz - colher luz / no cu

    do seu corao. // Viver sentir Deus Vivo / nas Obras daNatureza, / fazer de sua existncia / aquela lmpada acesa /para abrir em toda Noite / as estrelas da Beleza!...

    Contexto, maro de 2007

    Alguns versos

    Em 2003, por ocasio de seus 20 anos de existncia, aEditora Kelps, de Goinia, republicou um pequenino

    livro de poesias, que marcou historicamente o incio da poesiaem Gois no incio do sculo XX. Lanado pela primeira vezem 1913, Alguns Versos um livreto, pequeno em tamanho,mas grande no contedo. Sua autoria vem do poeta JoaquimBonifcio (Cidade de Gois, 1883 - Silvnia-GO, 1923),cognominado o Prncipe dos Poetas Goianos, e que, segundo oescritor e historiador Jos Mendona Teles, exerceu o jornalismoe importantes cargos pblicos.

    Joaquim Bonifcio foi um dos fundadores e secretrio daprimeira Academia de Letras de Gois, em 1904, ento presidida

    pela jovem Eurdice Natal e Silva, que veio a ser a me de ColemarNatal e Silva, que em 1939 refundou a entidade em Goinia sob adenominao de Academia Goiana de Letras - AGL.

    Alm de Alguns Versos, o autor publicou: Alvorada(poesia, 1902), Origem e Descendncia de Bartolomeu Bueno daSilva (1914), Atravs dos Sculos e A Descoberta de Gois(1920). Seus restos mortais foram trasladados para a terra natal.

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    do livro Alguns Versos o poema NOITESGOYANAS, que transcrevemos em sua ortografia e formaoriginais, conforme a edio da Kelps, de 2003:

    To meigas, to claras, to bellas, to puras / Por certono ha! / So noites de trovas, de beijos, de juras / As noites dec... // A lua derrama no co azulineo / Seu manto de prata /E Deus. Das estrellas abrindo o escrinio, / No co as desata...// Em Nice, em Lisboa, na Italia famosa / Taes noites no ha.../ So noites smente da Patria formosa / Do indio goi... //

    As noites goyanas so claras so lindas, / No temem rivaes! /Goyanos! Traduzem douras infindas / As noites que amaes!...// Goyanos as sonham, da Patria saudosos, / Nas terras de l... /So noites de risos, de affectos, de gosos, / As noites de e... (sic)

    Contexto, maro de 2007.

    Parabns, Dona Lol!

    Neste 29 de maro, fez aniversrio uma das pessoasmais importantes para as letras e a cultura em

    Anpolis, dado seu grande amor pelo belo, e sentimento degrande apreo pelas pessoas em geral. Seu nome conhecidode todos os que de uma forma ou de outra se ligam s artesnesta cidade.

    A poetisa e escritora, Laurentina Murici de Medeiros(Carolina - MA, 29/03/1918), carinhosamente conhecidapelos amigos como Dona Lol, tem uma histria de muitaatividade no meio cultural anapolino, desde 1947 quandochegou com o esposo Adolfo Lopes de Medeiros, j falecido.

    Em Anpolis ela se vinculou definitivamente aopensamento e cultura. Formou-se em pedagogia pela

    Faculdade de Filosofia Bernardo Sayo e foi professora,vice-diretora e diretora em vrias instituies de ensino, dentreas quais, os colgios Americano do Brasil, Francisco Silvriode Faria, Elzira Balduno, Antesina Santana e Frei JooBatista. No setor cultural, mais precisamente, merece destaquesua participao como coordenadora, supervisora de ensinoe diretora da Escola Municipal de Artes Plsticas OsvaldoVerano, frente da qual esteve nas dcadas de 1980 e 1990.

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    Amante das belas letras, Dona Lol desde jovemcultivou o gosto pela poesia e pela prosa em forma de crnica.Possui grande nmero de trabalhos publicados em jornais erevistas de Gois e do Brasil e em vrias antologias. Publicouos livros Folhas Esparsas (1988 e 2007), Pelos Caminhosda Vida (2001) e Retalhos da Minha Vida (2008).

    Ela membro de vrias entidades, dentre elas aAcademia Feminina de Letras de Gois e o Clube Literriode Braslia, tendo recebido vrias comendas e diplomas de

    reconhecimento.Em 1999, por sua iniciativa e empenho, tiveram incio ospreparativos para fundao daquele que atualmente o grmioliterrio mais atuantes que Anpolis j conheceu e tem a honrade t-la por presidente: a ULA (Unio Literria Anapolina).Por tudo isso, Dona Lol, parabns pelas 89 flores colhidas!

    Contexto, maro de 2007.

    PS. Laurentina viria a falecer em dezembro de 2010.

    O Livro dos Espritos

    Paris - sbado, 18 de abril de 1857. A capital francesaviveu um acontecimento de grande importncia

    para o pensamento ocidental e mundial, nessa data. Opedagogo e filsofo Hippolyte Leon Denizard Rivail, sob opseudnimo Allan Kardec, lanou seu trabalho intitulado OLivro dos Espritos. O evento se deu na loja da editora DentuLibrarie, na Galerie DOrleans.

    Resultado de uma pesquisa realizada por Kardec, aobra tem caractersticas de reportagem, abordando indagaessobre o estado mental, emocional e afetivo do ser humano apartir do momento em que deixa o corpo fsico com o episdiodo falecimento, ou bito.

    O texto organizado numa seqncia de perguntas e

    respostas, estas ltimas sendo atribudas por Allan Kardeca espritos [inteligncias desencarnadas] de falecidos que semanifestaram durante seu trabalho de investigao cientfica,respondendo s perguntas que ele e seu grupo haviampreparado.

    Ao sistema e mtodo que concebeu para analisar osfenmenos observados, e seu vnculo com a religiosidade doser humano, Kardec denominou espiritismo.

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    Depois disso, seguiram-se O Livro dos Mdiuns, OEvangelho Segundo o Espiritismo, A Gnese, O Cu eo Inferno, e outros. Alguns podem ser baixados em versodigitalizada do portal .

    Hippolyte Leon Rivail nasceu na cidade de Lyon, em1804. Fez os primeiros estudos na escola de Johann HeinrichPestalozzi, em Yverdun, na Sua. Do famoso educador,Hippolyte se tornaria um dos mais destacados alunos, e umdos maiores propagandistas do mtodo de ensino.

    Adulto, Hippolyte se tornou membro da AcademiaReal de Arras. Entre 1835 e 1840, instalou, em sua prpriaresidncia, cursos gratuitos de qumica, fsica, anatomia eastronomia. Tambm deixou vrias obras didticas publicadas,sobre vrios assuntos. Faleceu em 1869.

    Contexto, abril de 2007.

    O pomar

    Uma das mais extraordinrias artes populares etradicionais em todo o mundo a habilidade

    para contar histrias e casos, e causos. Vem de priscas pocaso costume de as pessoas ficarem juntas para ouvir algumapresentar narrativas verdicas ou fictcias, prendendo aateno e causando forte impresso, quando no mexendoprofundamente no estado emocional dos ouvintes.

    Na verdade, a arte, e a cincia, do contar histrias,e tambm de cri-las, so mais que milenares, e podemos

    busc-las nos livros mais antigos de todos os povos. Todavia,as histrias nem sempre so identificadas como tal, pelofato de conjuntos inteiros delas haverem sido distorcidose transformados na Histria de determinada comunidade,

    passando a ser utilizado como elemento poltico.H, entretanto, histrias que nos chegaram tal comoforam concebidas e com o objetivo definido de beneficiar acada ser humano, em vez de aprision-lo em proveito de unspoucos lderes.

    Tanto no Oriente como no Ocidente, vamos encontraros casos mais extraordinrios; no s do ponto de vista dahistria em si, mas do fundo da construo do mesmo.

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    Os estudiosos afirmam que as histrias das antigastradies de pensamento so acessveis a vrios nveis decompreenso. Os mais elementares so captados j pelointelecto. Subindo (ou derivando) em gradao, cada nvel compreendido por uma parte do ser.

    Utilizando esse recurso dialtico, mestres do passadotransmitiram ensinamentos atravs de histrias, atinteressantes, mas cujo fim ltimo escapava da compreensomental. Um desses mestres foi o xeque Muslih-ud-din Saadi,

    nascido em 1175 d.C., na cidade persa de Shiraz.Entre seus 22 trabalhos, que deixou em forma delivros, hoje traduzidos para centenas de lnguas, por escrito eoralmente, est O Bustan, isto O Pomar. Diz Saadi deShiraz: O acar que trago no do que se pode comer, masdaquele com que os conhecedores da verdade podem se nutrircom respeito.

    Contexto, abril de 2007.

    Centenrio de Carlos Marighela

    Carlos Marighella foi um grande ensasta no campoterico-poltico. Entretanto, no ficou apenas nisso,

    que por si justificaria a admirao que muitos tm pelos seustextos, inclusive traduzidos para outros idiomas. O guerrilheirourbano da resistncia, disposto a defender com a prpria vidaa causa dos milhes de enganados, alguns at vestidos defarda para prend-lo e mat-lo, como de fato o fizeram, foi umpoeta incorrigvel, desde jovem. Seus versos falam da justia eadejam na brisa dos sonhos.

    Carlos Marighella nasceu em Salvador, Bahia, em 5 dedezembro de 1911. Era filho de imigrante italiano com umanegra descendente dos hausss, conhecidos pela combatividade

    nas sublevaes contra a escravido. Teve seis irmos.De origem humilde, ainda adolescente despertou paraas lutas sociais. Aos 18 anos iniciou curso de engenharia naEscola Politcnica da Bahia e tornou-se militante do PartidoComunista, dedicando sua vida causa dos trabalhadores,da independncia nacional e do socialismo. Conheceu apriso pela primeira vez em 1932, aps escrever um poemacontendo crticas ao interventor Juracy Magalhes. Libertado,

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    prosseguiria na militncia poltica, interrompendo os estudosuniversitrios no 3 ano, em 1932, quando se deslocou para oRio de Janeiro.

    De 1 de maio de 1936 a abril de 1945, Marighella seriavrias vezes preso. Em 1939, foi recolhido aos presdios deFernando de Noronha e Ilha Grande, onde passou seis anosdirigindo sua energia revolucionria ao trabalho de educaocultural e poltica dos companheiros de recluso.

    Anistiado em abril de 1945, com a deposio de GetlioVargas, e convocadas eleies gerais, foi eleito deputado federal

    constituinte pelo estado da Bahia. Proferiu, em menos de doisanos, cerca de duzentos discursos em defesa das aspiraesoperrias, denunciando as pssimas condies de vida do povo

    brasileiro e a crescente penetrao imperialista no pais.Com o mandato cassado pela represso que o governo

    Eurico Gaspar Dutra desencadeou contra os comunistas(aps o fim da 2 Guerra Mundial e com a criao da ONU),Marighella retorna clandestinidade em 1948, condio emque permaneceria por mais de duas dcadas, at seu martrio.

    Em So Paulo, tomaria parte ativa nas lutas popularesdo perodo, em defesa do monoplio estatal do petrleo, contrao envio de soldados brasileiros Coria e a desnacionalizaoda economia. Redige, em 1958, o ensaio Alguns aspectos darenda da terra no Brasil, o primeiro de uma srie de anlises

    que elaborou at 1969, ano em que foi assassinado.Visita a China Popular e a Unio Sovitica, e anos

    depois, conheceria Cuba. Em suas viagens pde examinarde perto as experincias revolucionrias vitoriosas daquelespaises. A partir do golpe militar de 1964, Marighella intensificao combate ditadura que se seguiu, utilizando todos os meiosde luta na tentativa de impedir a consolidao de um regimeilegal e ilegtimo, e sob o terror policial.

    Em 1966, em carta Comisso Executiva do PCB,pediu seu desligamento da mesma, explicitando a disposiode lutar revolucionariamente junto s massas, em vez de ficar espera das regras do jogo poltico e burocrtico convencional.Marighella criticava o imobilismo do partido que o ameaavade expulso por pretender participar dum congresso da OLAS -Organizao Latino-Americana de Solidariedade, em Havana.Fundou a ALN - Ao Libertadora Nacional, para, de armasem punho, enfrentar a ditadura.

    Ao longo de sua vida de intelectual, Carlos Marigheladeixou incontvel nmero de textos publicados na imprensanacional. atravs desse material que se conhece a maiorparte de suas idias. Dos livros que falam da presena deMarighella, talvez o mais conhecido seja Batismo de Sangue,de Frei Beto. J Escritos de Carlos Marighella, importantecoletnea de artigos e anlises de Carlos, publicados no Jornaldo Brasil.

    Marighela sonhou um Brasil e uma Amrica Latinafeitos para o ser humano viver dignamente. Seu sonho eraambicioso. Talvez ele sentisse vergonha de muitos ditosprogressistas de hoje, como sentiu dos camaradas que no sehabilitaram em se fazer presentes quando ele e toda a Nao,mais necessitavam.

    O endurecimento do chamado regime militar (naverdade o aparelho militar foi apenas utilizado por golpistas

    burgueses, que difundiram a denominao golpe de direita),a partir do final de 1968, culminou numa represso semprecedentes.

    Sua participao como consultor espiritual do seqestrodo embaixador estadunidense Charles Burke Elbrick, em 4

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    setembro de 1969, pouco difundida, pois Marighella veioa ser assassinado exatamente dois meses depois. Entretanto,o sucesso do Movimento Revolucionrio 8 de Outubro(MR-8) carioca na operao, se deve participao da AoLibertadora Nacional (ALN), fundada por Marighella em SoPaulo, no ano anterior, e liderada por ele.

    Marighella passa a ser apontado como inimigo pbliconmero um e transformado em alvo de uma caada semprecedente, envolvendo toda a estrutura das policias estaduais

    e das Foras Armadas.O martrio foi noticiado a 4 de novembro de 1969.Naquela noite, surpreendido numa emboscada na alamedaCasa Branca, na capital paulista, Carlos Marighella tombouvarado pelas balas de agentes da Delegacia de Ordem Polticae Social, sob a chefia do delegado Srgio Paranhos Fleury, oaougueiro do DOPS.

    deste jeito que Frei Beto narra a forma como foinoticiada em primeira mo, no estdio do Pacaembu, a mortedo militante da resistncia ao Golpe de 1964:

    Bem que Pel tentou. Mas no seria ainda dessa vez. Quandoele dominava a bola, o corao da torcida batia acelerado.Poderia ocorrer a qualquer momento. Rivelino, porm,roubou-lhe a noite e balanou a rede adversria duas vezes.

    Pel permaneceu na soma de 996 gols ao longo de suabrilhante carreira. No seria ainda dessa vez que ele marcariao milsimo gol...No intervalo do jogo, a torcida movimentava-se, agitada.O cheiro de suor misturava-se ao hlito mido do climachuvoso da noite quente... De sbito, um rudo metlico demicrofonia ressoou pelo estdio. Um ajustar de fe rros puxadospor corrente eltrica. Cessaram as batucadas, silenciaram ascornetas, murcharam as bandeiras em torno de seus mastros.O gramado vazio aprofundou o silncio curioso da multido.

    O locutor pediu ateno e deu a notcia, inusitada para umcampo de futebol: Foi morto pela policia o lder terroristaCarlos Marighella.

    H controvrsias quanto aos fundamentos de suamorte, relativamente hostilizao que ele sofreu da cpulado prprio PCB; se isso no o teria deixado totalmentevulnervel. Ele que dera a vida pela existncia do partido, teveque se socorrer entre alguns amigos historicamente estranhos causa que ele professava, isto , a alguns sacerdotes catlicos

    romanos (padres beneditinos) que comeavam a simpatizarcom as propostas ditas de esquerda.

    O soneto a seguir, como tantos outros, mostra ahabilidade do poeta Carlos Marighella na construo dosversos e no uso do vernculo. LIBERDADE:

    No ficarei to s no campo da arte, / e, nimo firme,sobranceiro e forte, / tudo farei por ti para exaltar-te, /serenamente, alheio prpria sorte. // Para que eu possa umdia contemplar-te / dominadora, em frvido transporte, / direique s bela e pura em toda parte, / por maior risco em queessa audcia importe. // Queira-te eu tanto, e de tal modo emsuma, / que no exista fora humana alguma / que esta paixoembriagadora dome. // E que eu por ti, se torturado for, /

    possa feliz, indiferente dor, / morrer sorrindo a murmurarteu nome. (So Paulo, Presdio Especial, 1939).

    Publicado inicialmente no Jornal da ULA,

    em 2003. Adaptado para esta coletnea, em 2011.

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    Crepsculo

    Omestre em belas-letras verdadeiro se denuncia peladestreza no lidar com as palavras, o que faz sempreenxugando e sintetizando os dizeres e reduzindo o pensamentoao mnimo necessrio de palavras. Em prosa, causa admiraoo texto nesse feitio e o trabalho do escritor j tem seu mritogarantido por apenas essa qualidade. Quando, porm, a artedo beletrista ultrapassa tal habilidade e chega capacidadedescritiva dos detalhes, a ento estamos na presena de ummestre da arte de escrever; por fim, se a obra tiver significadohumano universal, ento estamos falando de um imortal.

    Gois um estado feliz pela existncia de muitosescritores que exercem seu mister cultivando familiaridade

    com as letras, e vrios so portadores de tais predicados. Umnome que precisa ser mencionado na lista dos timos escritoresde nosso estado o do poeta e professor anapolinizado DlioPereira da Cruz (Rio Verde - GO, 24/11/1934). Sua obra no vasta ou numerosa; possui publicados apenas dois livrosque, porm, ao serem compulsados causam admirao peloapuramento com que trata cada pgina.

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    Em Crepsculo (Editora Kelps, Goinia, 2005),percebe-se o cuidado com que o autor tem a iniciativa deordenar o que escreveu, por natureza de cada trabalho. Assim que o livro tem por subttulo Conto, Canto, Encanto, eele mesmo explica o porqu da diviso. Tambm em seulivro anterior, Morro e Saudade... Versos (1989) os poemasmereceram diviso por natureza, e dele j conhecamos a vervedo poeta.

    Mas, no que se refere a prosa, que junto a timos

    poemas tambm encontramos em Crepsculo, causa grandeadmirao o trato que Dlio d a esta forma de creao (crEao mesmo que queremos dizer). Dlio trabalha a madeirado regionalismo, que a matria-prima com que grande partedos Grandes busca esculpir o pensamento na carpintaria daprosa, e admiravelmente bem sucedido.

    Contexto, maio de 2007.

    PS: Dlio da Cruz viria a falecer em abril de 2011.

    O sistema Braille

    H 183 anos os deficientes visuais tm acesso a umsistema de escrita e leitura bastante prtico e eficiente. A soluofoi dada pelo francs Louis Braille (1809-1852), que ficou cegoaos trs anos e aos quinze concebeu um modo de escrever quesuprisse a necessidade dos portadores de deficincia visual.

    Utilizando a habilidade ttil, que bem maisdesenvolvida nos cegos, Louis Braille elaborou o sistema quepassaria a levar seu nome. O princpio dessa escrita consistenum pequeno agrupamento de seis pontos em relevo, chamadoClula Braille. A partir desses pontos, e de acordo com suadisposio, possvel escrever tudo o que se escreve para osno deficientes, inclusive a notao musical e outros smbolos.

    O Braille chegou ao Brasil em 1850, atravs de Joslvares de Azevedo, um rapaz cego, que estudou na Frana.

    Outro fato interessante para ns brasileiros que a primeiraobra publicada em Braille foi editada com recursos doadospelo imperador D. Pedro II; trata-se de um livro didtico deleitura em portugus, lanado na Frana, em 1854. J nosculo XX, em 1965 houve um incremento para utilizao doSistema Braille em matemtica e disciplinas tcnicas, o quetornou possvel aos cegos terem acesso aos estudos cientficoscom mais facilidade.

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    A forma mais simples utilizada para se escrever emBraille com o emprego de uma prancheta, denominadareglete, e um puno. Existem tambm mquinas dedatilografar e, atualmente, a escrita atravs de computadorpessoal, que veio facilitar o processo de impresso seriada.

    Em Anpolis, a Biblioteca Municipal Zeca Batista contacom um departamento especializado em livros e literatura emBraille; seu endereo Avenida Miguel Joo, 251, prximoao Colgio Einstein*. O telefone para informaes 3902-

    1013. Outra organizao que se dedica ao assunto no Brasil a Associao de Deficientes Visuais e Amigos - Adeva, cujoportal .

    Contexto, maio de 2007.

    * Depois, a Biblioteca Zeca Batista transferiu-se

    para a sede original, na Praa Americano do Brasil.

    Vinicius tem som e poesia

    Um dos maiores poetas do Brasil, o carioca Viniciusde Moraes (19/10/1913 - 09/7/1980), nasceu

    Marcus Vinicius da Cruz de Mello Moraes, e vivendo umasegunda fase do modernismo (chegou a convier com ManoelBandeira, com Oswald e com Mrio de Andrade), escreveucentenas de poemas do mais alto nvel, como tambm compscentenas de msicas populares, para as quais transps seuconhecimento da lngua culta. Foi atravs da MPB queVinicius de Moraes se fez notvel popularmente, sem, contudo,sacrificar a qualidade em proveito de lucro monetrio.

    Fazer um poema e compor a letra de uma msicapopular so coisas parecidas. H poemas que musicados se

    transformam em letras de msica; entretanto, nem sempre umaletra, desvestida da melodia e do ritmo em que foi concebida,se faz poema. Uma cano, por bela que seja e com letra atinteressante, privada da msica que lhe serve de veculo nose constitui necessariamente em poesia no sentido estrito dapalavra, nem significa que o compositor seja poeta; pode serque sim, se for iluminado pela verve que alimenta o artista,como foi o caso de Vinicius.

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    Em msica popular, freqente a parceria entreletrista e msico, bem como o intercmbio na composioda letra, o que no normal em poesia. Vinicius de Moraes,atravs dos tempos, compartilhou sua potica com excelentescompositores, como, por exemplo, Antnio Carlos Jobim,Carlos Lira e os violonistas Baden Powell e Toquinho.

    A obra literria de Vinicius de Moraes compreende os livrosO caminho para a distncia (1933), Forma e exegese (1935),Ariana, a mulher (1936), Novos poemas (1938), Cinco

    elegias (1943), Poemas, sonetos e baladas (1946), Antologiapotica (1955), Livro dos sonetos (1957), Novos poemas II(1959), Procura-se uma rosa e Para viver um grande amor(ambos de 1962), Para uma menina com uma flor (1966, decrnicas), A arca de No (1970, poesia para crianas).

    Contexto, maio de 2007.

    Coelho Neto - testemunha da Abolio

    Os 70 anos de vida de Coelho Neto (Caxias - MA,1864 - Rio de Janeiro, 1934) coincidem com um

    agitado perodo poltico e cultural, tanto no Brasil quanto nomundo. Filho de um comerciante portugus e uma aborgine,aos seis anos de idade Henrique Maximiano Coelho Netomuda-se com a famlia para o Rio de Janeiro, que vivia oentusiasmo do Segundo Imprio.

    Dessa poca at 1885, dedica o tempo aos estudos.Cursa direito, mas abandona a faculdade e entra de corpoe alma na Campanha pela Abolio da Escravatura. Em

    jornalismo, Coelho iniciou carreira ligando-se a Jos doPatrocnio, cuja Gazeta da Tarde era uma espcie de rgo

    oficial do movimento abolicionista.A seguir, une-se a intelectuais da chamada boemialiterria, dentre eles Alusio de Azevedo, Olavo Bilac e Franciscode Paula Ney, e em 1891 d incio carreira de escritor, publicandoRapsdias, uma coletnea de contos. Dois anos depois sai seuprimeiro romance, A Capital Federal.

    Da por diante, o nome de Coelho Neto no mais deixariade freqentar as colunas dos jornais e prateleiras das livrarias

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    do pas. O apogeu de sua carreira de escritor foi atingido em1898, com a publicao de 11 volumes, destacando-se OMorto, O Romanceiro e O Paraso.

    Ativista poltico que se revelara durante a campanhaabolicionista, Coelho Neto teve seu nome eleito deputadofederal pelo Maranho em 1909, e reeleito por duaslegislaturas consecutivas. Nesse ano, tambm seu trabalhocomo dramaturgo recebe consagrao com a pea Bonanasendo encenada na inaugurao do Teatro Municipal do Rio

    de Janeiro.Coelho Neto teve o grande mrito de ser prolfero semcair em mesmice ou adotar lugares comuns, ou valer-se deformas feitas. Possua personalidade prpria. Coelho Netofoi testemunha ocular da abolio oficial da escravatura noBrasil, perlustrando a intimidade dos bastidores polticos dapoca e estudando as razes do crime secular. Saiu indene. Notiveram igual sorte os contemporneos Euclides da Cunha eAmericano do Brasil, pesquisadores da histria extra-oficialde nosso pas.

    Contexto, junho de 2007.

    Os cavalinhos de J. J. Veiga

    Se fosse descrever o conto que d nome ao seuprimeiro livro, o goiano Jos J. Veiga (Jos Jacinto

    Pereira Veiga: Corumb de Gois, 1915 - Rio de Janeiro, 1999),provavelmente diria que Os Cavalinhos de Platiplanto (1959) uma dessas historinhas que a gente conta quando quer fazercriana dormir. E, decerto, se fosse cont-la iniciaria daquele

    jeito tradicional: Quando eu era menino...J. J. Veiga usou em seus trabalhos uma forma de

    narrar que demonstra deciso, sem subterfgios e necessidadede explicaes. Ele narra os fatos que vo saindo de suaimaginao embainhados em coerncia e verossimilhana,mesmo que sejam coisas surrealistas. Comea a dizer e no

    pra para dar explicaes, que so desnecessrias, pois queseu leitor j deve ter entrado numa espcie de sala mental, ouvirtual, onde sua narrativa perfeitamente natural e, portanto,no h que causar estranheza.

    Conforme escrevemos em outra parte, ler Jos J. Veiga obrigar-se a crer como crem as personagens e como afirmao narrador; sentir-se transportado no para o mundo que eledescreve, mas para a ao que se passa naquele mundo.

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    Jos J. Veiga tem a inocncia do infante, que acreditanas coisas que os mais velhos lhe contam, e nessa beatitudeque um personagem de Sombra de Reis Barbudos chegaa dormir com a prpria tia bolinosa, na mais completaausncia de libidinosidade ou escrpulo. J em Cavalinhos dePlatiplanto, temos uma cena mais tnue, porm to natural emnarrativa quanto quela.Como redator e tradutor da editora estadunidense ReadersDigest, Jos J. Veiga deve ter tido aprecivel contato com

    autores do surrealismo ianque e britnico (ele foi locutor dardio BBC de Londres), de onde deve ter haurido a influnciaque transps para suas obras com esse gnero pouco freqenteno Brasil.

    Contexto, junho de 2007.

    Confsso de Amor por Anpolis

    Omanancial artstico e cultural de Anpolis, emtermos humanos, motivo de glria e orgulho a

    todos que amam esta cidade e se sentem por ela acolhidos deforma afetuosa. Atravs dos anos, foram muitos os anapolinosnatos ou adotivos que deixaram seu sentimento de gratidoregistrado em poesia, cantando o bem que a cidade lhes faz oufez sentir.

    Adentrando o ms em que comemoramos o centenriode emancipao poltica da querida urbe, achamos por bemassinalar alguns desses poemas que, de forma feliz, cantaramnossa cidade. O que vem a seguir tem o ttulo acima; da autoriade Paulo Nunes Batista e data de 1957, ano do cinqentenrioda cidade. O paraibano anapolinizado marca com a percia deartfice do cordel esta interessante homenagem brejeira:

    Respirei o ar de Anpolis / e me anapolinizei; / aindaque eu v pra China / desta terra anapolina / nunca meesquecerei. // Esta Anpolis tem coisas / que outras cidadesno tm... / Eu gosto da liberdade / e amo Anpolis, cidade /de todos e de ningum. // Anpolis, cidade livre / que a todosrecebe e ampara / e onde vivem em sua terra / sem ningum

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    fazer-lhe guerra / gringo, turco e pau-de-arara. // Anpolisque ora festeja / meio sculo de idade / e est cada vez maisnova / dando a mais ldima prova / de sua vitalidade... // Eesta Anpolis tem tudo: / tem at mesmo garoa / tem um frioto gostoso / que deixa um sabor saudoso / dentro da almada pessoa... // Anpolis tem uma praa / que se chama BomJesus... / que, seguindo a lei divina, / toda noite anapolina/ muitos amores produz... // Anpolis j foi Anpolis / acapital da poeira... / - Hoje, com botas de asfalto / para frente

    e para o alto / vai numa grande carreira! // Quem quer falarmal de Anpolis / no fale perto de mim... / Parece que foifeitio... / mas se foi, que que tem isso? / - Gosto dela mesmoassim. (Poema extrado do livro Histria de Anpolis, deHumberto Crispim Borges, edio de 1975).

    Contexto, junho de 2007.

    Anpolis Centenria

    No ensejo do ms em que comemoramos o jubileucentenrio de nossa cidade, estamos registrando

    alguns poemas que foram a ela dedicados. O primeiro delesest incluso no livro Anpolis Centenria em prosa e verso,que ser lanado por ocasio dos festejos do Centenrio,neste ms. O segundo foi publicado em maro de 1978,provavelmente atravs da imprensa, pois a data que temosprecede a publicao do primeiro livro de Hayde Jayme.

    SONETINHO, de Eraldo Silva Batista: Colherei emalgum jardim, cem flores, / e, a ti darei,... centenria menina!/ Por gratido, pela lio que ensinas, / Terra Amada, portantos amores. // Em cada uma destas flores, porei um

    sorriso; / Amada Me de tantos filhos amados... / recolhidosno teu seio, ou de teu ventre gerados, / pois, ser teu filho... incomensurvel regozijo! // No teu aniversrio de cem anos,/ ns, os teus filhos, te cantaremos loas, / e, de alegria e de

    beleza, construiremos planos. // E, na cantiga... a harmoniae a suavidade que ressoas, / enfim se dissiparo nossosdesenganos... / Anpolis, Me Amada, que aos teus filhosabenoas!

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    ANPOLIS, de Hayde Jayme Ferreira: Queroescrever o nome de Anpolis / com os raios de ouro do sol /e com o claro brando da lua, / que beija a minha terra / emnoites de abril. // Quero escrever o nome de Anpolis / com o

    brilho das estrelas / na profundidade azul, / e com a simetria /do Cruzeiro do Sul. // Quero escrever o nome de Antas / como sangue vermelho, / que irrigou as fibras / de seus pioneiros,/ com o verde das matas / da cor da esperana / dos filhosprimeiros. // Quero escrever a Histria / de um povo sofrido /

    com o suor da luta / pelo rinco querido. // Estou escrevendo/ o nome de Anpolis / com palmas e louros, / com sangue ecom alma, / com tudo que vibra / em meu corao!

    Contexto, julho de 2007.

    A Cinqentenria

    Anpolis viveu os primeiros momentos de seusegundo sculo com a partida de um grande e

    importante amigo da cidade, o jornalista e editor Raul Jos dosSantos (Romaria - MG, 31/03/1920 - Anpolis, 03/08/2007).As palavras a seguir mostram a dimenso de seu gosto ecarinho pela cidade.

    A idia de se imprimir uma revista para comemorar ocinqentenrio de Anpolis partiu de dois homens simples:Celso Edmar Gomes e Waldemar Epaminondas Pereira. Ointuito desses modestos anapolinos era presentear a cidade,pelos seus cinqenta anos, com uma publicao condigna,que apresentasse tudo de bom que a cidade possui. Mas, comofinanciar a obra? Falaram comigo. Gostei da idia e falei comos amigos. Todos nos ajudariam. Ficamos entusiasmados.

    Solicitamos a colaborao do comrcio e da indstria etivemos apoio. Era s tocar para frente. Entretanto, surgiua grande dvida: fazer uma revista em Anpolis? Como?Compilar a matria, angariar os anncios e imprimi-la emum centro maior, a obra no teria mrito. Deliberamos,ento, confeccion-la aqui mesmo. E ela a est! Cheia defalhas tcnicas, imperfeita, mas foi feita aqui em Anpolis.Enfrentamos todas as dificuldades e vencemos. Pode noser uma belssima obra, mas ela registrar em suas pginastudo o que a cidade tem em 1957. Queremos provar que em

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    Anpolis tambm se pode fazer uma revista. Custa muito,mas pode. Os que nos lem queiram perdoar nossas falhastcnicas. Fizemos tudo o que estava ao nosso alcance, paradeixar esta lembrana aos anapolinos de amanh.

    Com estas palavras de modstia, Raul Jos dos Santosescreveu o editorial da revista A Cinqentenria, em suaedio nica, de julho de 1957, produzida nas oficinas do

    jornal O Anpolis.O trabalho saiu timo, nada ficando a dever para

    as melhores revistas publicadas na poca. Em forma dedocumentrio, ela tornou-se um valioso registro a respeito nos do tempo em que foi publicada, mas tambm da histriade Anpolis desde os primrdios do povoado de Santana dasAntas.

    Para redigir o contedo histrico, Raul contou com aparticipao do amigo Joo Luiz de Oliveira, do qual escreveu:Sem a sua preciosa e indispensvel colaborao, no nosseria possvel preencher as finalidades desta revista. A partemais importante desta publicao, que estamos legando aospsteros, foi a ele confiada.

    Contexto, agosto de 2007.

    100 anos de esperanto no Brasil

    Oano e o ms que assistiram emancipao polticade Anpolis viram tambm o nascimento da Liga

    Brasileira de Esperanto, ocorrido no Rio de Janeiro, antigacapital do pas.

    Dez dias antes de a Vila de Santana das Antas chamar-se Anpolis, na condio de cidade, o que ocorreu em 31 de

    julho de 1907, era fundada a Liga (no dia 21), com o objetivode coordenar, em nosso pas, a atividade dos usurios da lnguainternacional surgida exatamente vinte anos antes, na Polnia.

    Assim, a comemorao anual e peridica do mundoesperantista sobre sua data magna sempre coincidir com acomemorao dos anapolinos em relao elevao polticado municpio.

    Grande parte dos principais congressos de esperanto,no mundo todo, realizada em julho, porque foi no dia 26desse ms, em 1887, que o poliglota polons Lzaro LuizZamenhof publicou sua obra bsica Lngua Internacional,uma gramtica para falantes do idioma russo, explicandoo funcionamento da lngua neutra que estava propondo.Convm mencionar que a preocupao em se criar uma

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    lngua politicamente neutra e prpria para ser utilizadainternacionalmente no foi sua, vinha j de sculos; Zamenhofapenas estudou a questo e elaborou uma de fato funcional.

    Voltando a Anpolis, h 15 anos, no ms de julho,a cidade sediou o 28 Congresso Brasileiro de Esperanto.Na oportunidade, esperantistas locais receberam quase 300visitantes de todo o pas, e inauguraram, na Praa 31 de Julho,um monumento em homenagem ao Esperanto. A obra foiconfeccionada pelo saudoso artista plstico Loures.

    Contexto, agosto de 2007.

    O literato Joo Luiz de Oliveira

    Avida traa seus rumos dos modos mais inesperadose imprevisveis que se pode imaginar. H histrias

    de pessoas que so verdadeiras epopias do esprito humano eque nos fazem pensar sobre a Inteligncia que a tudo preside etudo penetra atravs de suas leis.

    s vezes, do modo mais inesperado, algum mudade rumo no caminho que parecia certo haver de trilhar,e ganha novos destinos, para um lado ou para outro. Foi oque aconteceu com Joo Luiz de Oliveira (Anpolis - GO,30/10/1904 - 14/12/1969), nome importante da histriaanapolina. De lavrador e produtor rural ganhou as salas, ossaraus e as tribunas.

    Nascido no campo, numa fazenda por nome SapatoArcado, Joo Luiz dedicou boa parte de sua vida s lidesrurais. Segundo ficou conhecido de todos, Joo Luiz poucofreqentou a escola. Entretanto, logo se interessou pelos livros,tornando-se um dos mais destacados intelectuais de Anpolis,e mesmo do estado de Gois.

    No final da dcada de 1920, passa a ser um doslderes polticos da cidade. Com a vitria de Getlio Vargas

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    na Revoluo de 1930, e com Pedro Ludovico no governode Gois, Joo Luiz de Oliveira foi guinado intendnciamunicipal (prefeitura), ficando at 1934. Mais tarde, na dcadade 1950, voltaria ao cargo, como prefeito eleito. Foi tambmvereador.

    Joo Luiz teve importante participao na vida jornalsticaanapolina, e foi obstinado incentivador das atividades literriasna cidade. Em 16 de abril de 1931, fundou, com amigos, aprimeira entidade literria de Anpolis, chamada Grmio

    Literrio Moiss Santana. dele a sinopse histrica de Anpolispublicada na revista A Cinqentenria (1957). Deixou milharesde publicaes em jornais anapolinos e goianos.

    Sua esposa, Maria Jos Dafico de Oliveira (Dona Nen)foi professora normalista formada pelo Instituto de Cincias eLetras de Anpolis. No tiveram filhos consangneos. Joo Luizfoi tambm representante comercial de grandes marcas no estadode Gois.

    Pouco depois da chegada de Vargas ao poder, JooLuiz publicou o seguinte soneto, na edio de 6 de setembrode 1931, do jornal Voz do Sul: EXULTAO: Meu Deus,se ter orgulho for pecado, / eu, ento, sou um grande pecador,/ pois, esse sentimento hei cultivado, / carinhosamente, commuito ardor. // Orgulho-me do meu querido Estado, / ao qualdedico o mais intenso amor; / e, muitas provas tenho dado, /em exaltando sempre o seu valor. // Ufano-me de em Goister nascido, / este mundo at h pouco esquecido, / como seno fosse tambm Brasil. // Mas, com essa mudana radical, /depois da revoluo divinal, / Gois tornou-se forte e varonil.

    Contexto, agosto de 2007.

    Juscelino Polonial e a histria

    Oprofessor Juscelino Martins Polonial tem feitoum trabalho de grande importncia no registro da

    histria, no apenas de Anpolis, mas tambm de Gois, e deforma integrada ou holstica em relao do Brasil, semprelembrando, a cada passo, que os fatos e aes daqui nada maisso que parte de um grande todo. Com o olhar do mestresocilogo, Juscelino adentra pelos meandros dos registros,realizando inventrios com partilhas e responsabilizaes,advertindo que aquela ainda no a ltima palavra.

    Seu primeiro livro, Anpolis nos Tempos da Ferrovia,editado pelas Faculdades da Associao Educativa Evanglica(atual Unievanglica), resultado de sua dissertao demestrado na Universidade Federal de Gois, em 1995.

    Seguiram-se Ensaio sobre a Histria de Anpolis, em 2000, eTerra do Anhanguera, em 2001, ambas pela mesma editora.O levantamento de dados e a anlise cientfica da histria

    no so abundantes na historiografia brasileira, embora existamnomes respeitveis. Trata-se de um trabalho entre rduo eagradvel, num ambiente mental imprprio para paixes, se oque se pretende a busca de concluses verdadeiras, acerca darealidade de fatos. Nem sempre isso fcil.

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    s vezes, a relativa iseno no registro de memrias jsatisfaz, porque quem l esse tipo de registro deve ter em menteque se trata de um conjunto de fatos segundo o ngulo donarrador; porm, na anlise ampla da histria, a imparcialidade fundamental, o que no significa dizer que o estudioso nopossa ter sua predileo ideolgica. Nesse sentido, JuscelinoPolonial bem sucedido ao transitar nesse campo.

    Contexto, setembro de 2007.

    No palco da vida

    Sado da simptica e irm cidade mineira de Araguari,que guarda aprecivel relao histrica com a cidade

    de Anpolis da primeira metade do sculo XX, vem at nsum interessante romance de poca, que temos o prazer e ahonra de ler: No palco da vida.

    A autora, Jessy Carsio de Paula, foi muito feliz aoabordar um tema to importante e quase desconhecido, qualseja o da terapia das vidas passadas. E sua felicidade maior estna maneira simples e despretensiosa com que o fez, falandodireto ao interior de quem tem a ventura de ler o livro.

    Manejando as letras mais com o corao do que com ointelecto, e usando da intuio, sentido mais sublime de queo ser humano dotado, Jessy coloca no papel um entrecho

    tocante, que foge percepo do normal do cotidiano segundoaquilo que se convencionou chamar de normal.Com base em fatos reais, ocorridos no sculo retrasado,

    No palco da vida (Minas Editora. Araguari - MG, 2004) um romance baseado numa histria passada no ambiente ruraldo Brasil Central de ento; acontecimento que deixou marcasprofundas na ambincia mental das personagens que deletomaram parte.

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    Jessy de Paula promotora da cultura em sua cidade,preside atualmente a Academia de Letras e Artes de Araguarie membro atuante da Academia de Letras do TringuloMineiro; tambm escreve para jornais e revistas.

    Contexto, setembro de 2007. Coelho Vaz & a cultura

    Em meio s mltiplas atividades, o poeta, historiadore gestor cultural Geraldo Coelho Vaz (Goinia,

    24.09.1940) vem construindo, ao longo de vrios anos edcadas, uma coletnea aprecivel de versos que, se fossepara dar um nome, chamaramos de estilo cristalino; bementendido, porque guarda sugesto analgica com o cristaltranslcido. Trata-se duma potica que passeia da nostalgia aoclamor social, tendo em muitas partes, por linha tnue a unira obra, uma espcie de fio ertico tornando o conjunto numas pea coerente.

    Seu livro Coelho Vaz, Poemas Reunidos (So Paulo:Nankin Editorial, 2004), traz versos desde sua primeira obra,

    Poema da ascenso (1963), em que lemos o POEMA DOSDESENGANOS: Minha alma branda / como a gua/ serena da brisa. // to leve / como nota amorosa / emque se frisa, / uma dor lastimvel. / to pura / como olharamvel / de uma linda criatura. // Minha alma vai / pelacorrenteza atroz / em busca de um amor. / Minha alma vem /numa solido imensa / trazendo apenas dor.

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    J Goinia 69 (2002): Falo de Goinia nova /moa-menina desabrochada. / No cio, na cama, / no sof, notapete / os sessenta e nove / excitam-lhe mais cios / e cicios./ Goinia excitada, / impura, desnuda / desliza pelo chovermelho / pelas grossas rvores frondosas / no vai e vem /dos ventos, / em movimentos, / em sussurros / e gemidos.

    Em CORPO NOTURNO (1990): Te busco / nomistrio de tua gruta. / E me encontro / na oferenda / deteus beijos. E em GUAS DO PASSADO (1986): Sei que

    voc morreu. / No a vi morta, / mas sei que voc morreu. //Telefonaram-me dizendo que / voc estava morrendo. / Noacreditei, / ningum morre sem um adeus. / ...

    Falando acerca da obra de Coelho Vaz, o crtico eescritor Fernando Py refere que alguns dos poemetos dolivro chegam a ser pequeninas obras-primas de contenovocabular e expresso bem acabada.

    Contexto, setembro de 2007.

    Encontro com homens notveis

    Nosso ttulo nesta semana o de um livro diferentena forma de se apresentar e de manter o leitor

    atento ao texto. Foi escrito por George Ivanovitch Gurdjieff(Rssia, 1877 Frana, 1949). Mas quem foi esse homem?

    H relativamente poucas referncias acerca deGurdjieff, e o que se tem sobre ele foi escrito, na maior parte,por seus discpulos e ex-discpulos, de forma que sua biografia bastante restrita, pois o mister a que dedicou sua vida nuncafoi muito atrativo para a maioria das pessoas. Mesma assim,existe informaes suficientes para que se tenha razovel idiaa respeito.

    Para usarmos palavra mais conhecida, poderamoscham-lo de filsofo. Entretanto, tal definio s em partecorresponderia realidade. Ele mesmo e as vrias pessoas

    que com ele conviveram e compartilharam o trabalho,tornaram-se conhecidos da forma como se autodenominavam:buscadores.

    O que George Ivanovitch Gurdjieff e seus seguidoresbuscavam talvez se possa depreender da instituio quefundaram, inicialmente em sua terra, e depois em Paris,em 1922, cujo nome era Instituto para o DesenvolvimentoHarmonioso do Ser Humano.

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    Encontro com Homens Notveis (em portugus, pelaEditora Pensamento, 1980) uma das obras desse indivduo,que acreditava que o homem tem dentro de si enorme potencialpara vencer desafios, a comear a si mesmo, e alcanar pramosdesconhecidos da maioria.

    O livro dividido em 10 captulos, cada um relatandoo contato que o autor teve com determinada personalidade;num deles, fala sobre o prprio pai, no outro sobre o primeiroprofessor, depois sobre amigo prncipe, sobre viajantes; relata

    acontecimentos variados, frutos de sua experincia no convviocom Homens Notveis. Trata-se de uma obra que nos fazpensar para alm do comum dos portais.

    Contexto, setembro de 2007.

    O vo in verso

    OVo in verso um interessante livro dopoeta Paulo Nunes Batista (Joo Pessoa,

    02/08/1924). H 60 anos ele reside em Anpolis. Neste, comoem todos os demais (cerca de 15 livros publicados), PauloNunes no se limita a trabalhar o belo, mas realiza-o sobasperso da filosofia.

    Prefaciando o livro de Paulo, diz o poeta e crtico literrioAnderson Braga Horta que ... a Poesia, propriamente,o ar, que ele [Paulo Nunes Batista] sabe explorar em todosos quadrantes, transitando com igual desembarao peloscaminhos do cordel, em que mestre sem pobrezas e sem ranosde linguagem, e pelo das formas poticas mais requintadas,grande versejador e grande sonetista.

    Como exemplo da finesse que permeia a obra O voin verso, eis o soneto SE QUERES SER FELIZ: Se queresum modelo a ser seguido, / imita o Sol, esse astro Solitrio,/ e que ao mesmo tempo Solidrio, / todo em luz e energiarepartido. // porque o Sol existe que existido / tem a vidana Terra. O necessrio / calor, e a prpria vida em modo vrio,/ do Sol que ns temos recebido. // Nunca a ningum o Sol

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    nega seus brilhos. / Assim tambm Deus: Ama seus filhos,/ do mais perverso at a alma de escol. // A luz solar a todosilumina, / tal como a tudo faz a Luz Divina. / Se queres serfeliz, imita o Sol!...

    A Televiso Senado preparou uma entrevista com PauloNunes Batista, que ir ao ar neste sbado (06/10), s 16 e s21:30 horas, e no domingo (07/10), s 22 horas.

    Contexto, outubro de 2007.

    2001, Odissia espacial

    Segundo o romance de Arthur C. Clarke, numamisso espacial secreta dos Estados Unidos da

    Amrica do Norte, que se passaria em 2001, a nave planetriaDiscovery singra o espao buscando descobrir a origemde um instrumento em forma de monlito (pedra inteiriae de grandes propores) que seres de outras partes douniverso haviam deixado prximo Terra para observar ocomportamento dos homens.

    A Discovery praticamente uma enorme cidadeespacial concebida para uma viagem nunca dantes imaginada.E embora tripulada por competentes cientistas da nata daagncia espacial, o comando geral e a palavra final estavam

    nas mos de HAL (cada letra, respectivamente uma antesde IBM), um computador to extraordinrio que se podiacomparar a seres humanos. Esse HAL filosofava, jogavaxadrez, e em alguns momentos at deixava trair uma certadose de presuno e cime. De alta sensibilidade, podia ler aconversa dos tripulantes pelo movimento dos lbios.

    Num dado ponto da viagem, por acharem HAL muitoincompreensivo e frio nas avaliaes que fazia, tramaram

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    desativ-lo parcialmente, projeto que foi fatal para quasetodos, pois o computador eliminou um a um, inclusive trsdos astronautas que viajavam em estado de hibernao paraserem despertados oportunamente. Apenas restou Bowman.

    Depois de grande sacrifcio e muita luta; no contraalgum rob, pois HAL era a prpria estrutura pensante danave, mas contra o tempo, desativando a programao quealimentava HAL, Bowman consegue finalmente livrar-sedaquela inteligncia, que fra mais um estorvo do que mesmo

    um orientador.Arthur Clarke deve ter utilizado, no romance, elementoshauridos na regio hindustnica, onde conviveu com mestresespirituais por longos anos. Seu livro baseia-se no roteirocinematogrfico que ele e Stanley Kubrick escreveram; foilanado em lngua portuguesa em 1968.

    Contexto, outubro de 2007.

    Minha vida de casada

    Casei-me com Joo Alves Teles, conhecido porNgo Teles, no dia 15 de fevereiro de 1930, s

    cinco horas da manh, na igreja de Bela Vista de Gois. Eutinha 18 anos e ele 22. O Nego era muito apressado, quis ocasamento nessa hora dizendo que precisava abrir sua loja emHidrolndia, que nessa poca se chamava Santo Antnio dasGrimpas....

    assim que Celuta Mendona Teles (1911-1995) iniciaseu livro de memrias Minha vida de Casada (Edies GaloBranco, Rio de Janeiro, 2006), denncia pstuma narrada emritmo de resignao.

    Celuta ficara viva em 1977, aos 47 anos de casada;alm de resignao, face ao sofrimento e s turbulnciasconjugais, o amor aos filhos e a f em Deus. A narrativa, emtom de naturalidade e sem artificialismos tocante, valendopor documento que retrata um lugar do mundo e uma pocaainda sacudida pela mesma ressaca das caravelas.

    Um dia, antes do almoo, ele estava no telefoneconversando com uma mulher e eu atrs dele, escutando. Da,ele falou: - Ento, est certo, eu vou encontrar com voc l na

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    Praa Cvica. Nessa hora, eu passei um susto nele. Gritei notelefone que ele no ia, que ela no precisava esperar, que euia tambm. Ele disse: - Que susto que levei, Celuta, voc fazcada uma!... Conforme explica um dos filhos de Celuta, o escritor ehistoriador Jos Mendona Teles, o livro foi o segundo quesua me deixou. Depois de lanar Histria da Menina dePirenpolis (1991). Diz Jos: entusiasmada com o sucessofamiliar de seu livrinho, que mereceu uma segunda edio,

    minha me pediu mais cadernos e quando ela faleceu, em 11 demaio de 1995, deixou um caderno de 200 pginas