Upload
doandang
View
214
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
UNIOESTE – UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DOPARANÁ PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇAO MESTRADO EM GEOGRAFIA
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS CAMPUS DE FRANCISCO BELTRÃO
AS ESTRATÉGIAS DE EXISTÊNCIA CAMPONESA ENTRE OS AVICULTORES VINCULADOS À COPAGRIL
IRMA STORTI
FRANCISCO BELTRÃO 2010
IRMA STORTI
AS ESTRATÉGIAS DE EXISTÊNCIA CAMPONESA ENTRE OS AVICULTORES VINCULADOS À COPAGRIL
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação – Mestrado em Geografia, área de concentração: Produção do Espaço e Meio Ambiente do Centro de Ciências Humanas da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, como requisito para a obtenção do título de Mestre em Geografia.
Orientador: Prof. Dr. João Edmilson Fabrini.
Francisco Beltrão 2010
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) (Biblioteca da UNIOESTE – Campus de Marechal Cândido Rondon – PR, Brasil)
Storti, Irma S886e As estratégias de existência camponesa e ntre os
avicultores vinculados à COPAGRIL. / Irma Storti. – Francisco Beltrão, 2010.
97 p. Orientador : Prof. Dr. João Edmilson Fab rini Dissertação (Mestrado) – Universidade Es tadual do
Oeste do Paraná, Campus de Francisco Beltrão, 2010 1.Campesinato.2.Camponeses.3. Avicultura . 4.
Território. 5. Cooperativa. 6. Estratégia. I. Universidade Estadual do Oeste do Paraná. II. Títul o.
CDD 21.ed. 330 334.68
CIP-NBR 12899
Ficha catalográfica elaborado por Helena Soterio Bejio CRB-9ª/965
AGRADECIMENTOS
Primeiro a Deus, por ter me apresentado a vida e a possibilidade de aventurar em
novas descobertas. Para isso, colocou em meu caminho pessoas que tornaram minha
caminhada de pesquisa iluminada;
Minha família pelo apoio na caminhada. Incentivando-me, principalmente, nos
momentos de angústia e dificuldades;
Ao Prof. Dr. João Edmilson Fabrini por ter me apresentado o universo da
pesquisa. Sua orientação, dedicação e compreensão foram fundamentais para a
realização desse trabalho. Minha gratidão e carinho;
Aos meus amigos José e Joel pelas caronas até as propriedades dos camponeses
na realização da pesquisa de campo. Com muita disposição, não mediram esforços para
me ajudar na localização das propriedades pesquisadas;
Aos avicultores que gentilmente me receberam no momento da realização de
trabalho de campo;
Ao setor avícola da Copagril pelo fornecimento de dados;
Aos colegas do grupo de pesquisa GEOLUTAS, pelos bons momentos
compartilhados;
À Prof. Dra. Yonissa Wadi, pelas diversas sugestões que me apresentou no
decorrer da pesquisa. Meu muito obrigado;
Ao Prof. Dr. Marcelo Dornelhes Carvalhal pelos apontamentos relevantes para a
pesquisa;
Ao Prof. Dr. Marcos Aurélio Saquet pelas sugestões apresentadas no período da
qualificação;
À Prof. Dra. Márcia Yukari Mizusaki pelas importantes contribuições no
momento da qualificação.
À Andréia, secretária do mestrado, pelo atendimento eficiente;
A dona Maria, por ter tornado minha estadia em Francisco Beltrão mais
agradável. Valeu pela acolhida sempre gentil e preocupada.
Enfim, agradeço a todos os que contribuíram de formar direta ou indireta para a
realização dessa pesquisa.
RESUMO
Esta pesquisa trata das estratégias de existência camponesa na avicultura
vinculada a Copagril (Cooperativa Agroindustrial Copagril). A Copagril, atua em vários
municípios da região Oeste do Paraná, dos quais se destacam Marechal Cândido
Rondon e Toledo. Se por um lado, verifica-se a expansão das relações capitalistas com a
avicultura, por outro, esta atividade constitui-se numa estratégia de reprodução
camponesa.
A pesquisa está dividida em três capítulos.
O primeiro capítulo, “Avicultura, cooperativismo e campesinato”, aborda o
surgimento do cooperativismo, as contradições nas cooperativas brasileiras e a relação
entre cooperativas agrícolas e camponeses. Neste capítulo ainda são destacadas três
propostas de cooperativas no Brasil: a proposta da UNICAFES de cooperativismo
solidário; a do MST, colocada em prática nos assentamentos de reforma agrária e das
cooperativas vinculadas a OCEPAR (Organização das Cooperativas do Paraná), que
atuam como empresas privadas.
No segundo capítulo foi tratado sobre a trajetória da COPAGRIL desde sua
fundação em 1970 até os dias atuais. Tratou-se também da expansão da cooperativa com
a atividade avícola e sua estreita relação com a subordinação dos camponeses. A
cooperativa foi considerada um “agente” do capital no campo.
O terceiro capítulo “A existência camponesa e avicultura” trata sobre as relações
não-capitalistas na avicultura moderna, tais como mão-de-obra familiar, produção de
subsistência, trabalho familiar, relações de parentesco, dívida moral, costumes, dentre
outras.
Palavras-Chaves: camponeses, avicultura, território, cooperativa, estratégia.
ABSTRACT
This research deals with the strategies of peasant existence in the poultry linked
to Copagril (Agro Industrial Cooperative-Copagril). The Copagril operates in several
municipalities in western Paraná of which focus Marechal Cândido Rondon and Toledo.
On the one hand there is the expansion of capitalist relations with the poultry, on the
other; this activity constitutes a peasant reproduction strategy.
The research is divided into three chapters.
The first chapter, "Aviculture, cooperatives and peasants", addresses the
emergence of cooperatives, the contradictions in Brazilian cooperatives, and the
relationship between agricultural cooperatives and farmers. This chapter has outlined
three proposals are cooperative in Brazil: a proposal Unicafes of cooperative solidarity,
the MST, put into practice in land reform settlements and cooperatives linked to Ocepar
(Cooperative Organization of Paraná), which act as companies private.
In the second chapter was treated on the trajectory of Copagril since its founding
in 1970 until the present day. He was treated also the expansion of Copagril with avian
activity and its close relationship between the subordination of the peasants. The
cooperative was considered an "agent" of capital in the field.
The third chapter "The existence and poultry farmer" is about the non-capitalist
relations in modern poultry farming, such as labor, family labor, subsistence production,
family labor, family relationships, moral debt, customs, among others.
Keywords: peasants, aviculture, territory, cooperative, strategy.
SUMÁRIO
Introdução......................................................................................................................... 9 I- COOPERATIVISMO, CAMPESINATO E AVICULTURA ............................... 14 1.1 O surgimento do cooperativismo.............................................................................. 14 1.2 As diferentes propostas de cooperativas................................................................... 23 13 Relação entre cooperativismo, avicultura e agricultura camponesa.......................... 25 1.4 A renda da terra na avicultura................................................................................... 33 II- A COPAGRIL E OS CAMPONESES AVICULTORES .................................... 39 2.1 A trajetória de existência da COPAGRIL ................................................................ 39 III - A EXISTÊNCIA CAMPONESA E AVICULTURA ......................................... 66 3.1 Campesinato, avicultura e território ......................................................................... 66 Considerações Finais ...................................................................................................... 90 Referências Bibliográficas.............................................................................................. 93
9
Introdução
A avicultura moderna faz parte da geografia do Oeste do Paraná desde a década
de 1970 quando foram instalados os primeiros aviários na região. Embora já estivesse
presente, a expansão da avicultura intensificou-se por meio dos investimentos feitos
pelas cooperativas agrícolas. Esse foi o caso da Copagril (Cooperativa Agroindustrial
Copagril) que a partir, de 2005, instalou um frigorífico de aves de corte no município de
Marechal Cândido Rondon.
O estímulo da Copagril à avicultura fez-se em vários municípios da região Oeste
paranaense, dentre os quais se destacam os municípios de Marechal Cândido Rondon e
Toledo, tomados como referência neste estudo sobre a avicultura. No mapa a seguir
(mapa 01) é possível verificar a localização da área de estudo, ou seja, os municípios de
M. C. Rondon e Toledo.
A escolha de Marechal Cândido Rondon justifica-se porque nesse município
(sede da cooperativa) encontra-se o maior número de aviários e avicultores da
10
COPAGRIL. O município de Toledo, embora tenha um número menor de avicultores,
também é importante em vista da opção de muitos avicultores em abandonar a produção
de aves para a Sadia e a associação à Copagril.
A avicultura é uma atividade econômica, realizada em pequenas propriedades
destes municípios e está basicamente voltada para o comércio da produção. Mas, os
avicultores também desenvolvem, na sua pequena propriedade, um conjunto de
atividades não-mercadológicas, o que indica a reprodução de relações não-capitalistas
na avícola moderna. Dessa forma contraditória, a avicultura é uma atividade tipicamente
capitalista, voltada para mercados globais que serve de relações não-capitalistas para se
expandir, semelhante à “produção capitalista de relações não-capitalistas”, como
destacado por Martins (2004) ao estudar o “cativeiro da terra”.
A produção capitalista de relações não-capitalistas de produção expressa não apenas uma forma de reprodução ampliada do capital, mas também a reprodução ampliada das contradições do capitalismo, o movimento contraditório não só de subordinação de relações pré-capitalistas, mas também, de criação de relações antagônicas e subordinadas não capitalistas. (MARTINS, 2004, p.21).
Assim, a atividade avícola apropria-se de “elementos” da produção camponesa
(não-capitalista) para se expandir. Dentre estes elementos da produção, destacam-se a
mão-de-obra familiar, ajuda mútua, produção de subsistência em hortas, troca de
favores, dívida moral, solidariedade e costumes.
A mão-de-obra familiar é um dos elementos da produção camponesa que não foi
destruída pela avicultura moderna. O trabalho familiar é importante para a pequena
propriedade, pois esse trabalho não-capitalista, ao mesmo tempo em que serve à
COPAGRIL, contribui para manter os camponeses na terra.
A ajuda mútua também se configura como uma relação não-capitalista presente
nas propriedades dos camponeses avicultores. É por meio da ajuda mútua que os
avicultores mantêm “viva” as suas características camponesas, pois mesmo em uma
atividade moderna como é o caso da avicultura, a ajuda mútua está presente.
A horta, parte da produção de subsistência, também é uma produção não-
capitalista que merece destaque nas propriedades dedicadas à atividade avícola. É por
meio da horta que os camponeses garantem a produção de verduras, temperos,
tubérculos e legumes para complementar a alimentação da família camponesa. A
produção de alimentos para subsistência na unidade camponesa possui alta relevância
para a manutenção das famílias na terra, não sendo, portanto, um acessório residual.
11
Na atividade avícola há também a troca de favores, geralmente entre
camponeses vizinhos. Ressalta-se que a dívida de favores não é paga em dinheiro como
ocorre na típica produção capitalista. O pagamento é feito em produtos e trabalho como
se fosse uma dívida moral. Além da troca de favores, há, também, espírito solidário
entre os camponeses vizinhos e a ajuda num momento de “precisão”. Esta ajuda
solidária não é remunerada financeiramente e, muitas vezes, o pagamento é apenas um
“muito obrigado”.
Outro “elemento” da produção camponesa são os costumes, tanto aqueles
ligados à produção, como os relacionados ao lazer, festas, e outros. Dentre alguns
costumes, encontrados na avicultura camponesa, são a plantação de flores no quintal da
casa, a observação das fases da lua para cultivo de verdura, cuidado com os animais e
até mesmo, em alguns casos, o benzimento da casa de moradia.
Os costumes fazem parte de relações não-capitalistas presentes na avicultura.
Como o costume serve essencialmente ao camponês e não ao capital, pode-se afirmar
que os costumes se configuram como resistência camponesa.
Assim, neste estudo sobre os camponeses avicultores serão tratadas destas
relações de produção não-capitalista na pequena propriedade, pois, contraditoriamente,
elas constituem-se numa estratégia de existência dos camponeses e do capital.
A perspectiva teórica, que guia essa pesquisa, é a que leva em consideração que
o “desenvolvimento capitalista se faz movido pelas suas contradições. Ele e, portanto,
contraditório e desigual. Isso significa que para seu desenvolvimento ser possível, ele
tem que desenvolver aqueles aspectos contraditórios a si mesmo”. (OLIVEIRA, 1986,
p.18).
A propriedade camponesa, nesse estudo, é considerada como sinônimo de
território camponês, pois os camponeses ao investirem na atividade avícola continuam
detentores da pequena propriedade. É na base territorial camponesa que se manifestam
as relações não-capitalistas, típicas do universo camponês.
Para levantar informações de natureza empírica, foi elaborado um questionário
composto por 40 questões (anexo 1). O questionário foi aplicado a 23 avicultores, sendo
15 do município de Marechal Cândido Rondon e 8 do município de Toledo, de um
universo de 109 avicultores vinculados à COPAGRIL nestes dois municípios. Outras
informações empíricas foram obtidas por meio de depoimentos, coletados dos
camponeses avicultores e dados obtidos no setor avícola da COPAGRIL.
A pesquisa está divida em três capítulos:
12
O primeiro capítulo, “Cooperativismo, avicultura e campesinato” aborda o
surgimento do cooperativismo, as contradições das cooperativas brasileiras e a relação
entre cooperativas agrícolas e camponeses. Neste capítulo, ainda foram destacadas três
propostas de cooperativas no Brasil. A proposta da UNICAFES, que é voltada para o
cooperativismo solidário; a do MST, colocada em prática nos assentamentos de reforma
agrária e também as cooperativas vinculadas à OCB (organização das cooperativas do
Brasil) que se comportam como empresas privadas. Neste capítulo também trabalhou-se
sobre a monopolização do território pela capital na avicultura.
No segundo capítulo, tratou-se da colonização do Oeste paranaense,
cooperativismo e a trajetória de existência da COPAGRIL, sendo abordada a história da
cooperativa desde sua fundação no ano de 1970 até os dias atuais. Foi verificado que a
COPAGRIL está passando por um amplo crescimento com atividade avícola e que há
uma estreita relação com a subordinação dos camponeses. A cooperativa foi
considerada um “agente” do capital no campo.
Por fim, no terceiro capítulo, “A existência camponesa e avicultura” tratar-se-á
sobre as relações não-capitalistas na avicultura moderna, tais como mão-de-obra
familiar, produção de subsistência, trabalho familiar, relações de parentesco, dívida
moral, costumes, dentre outras. A existência de relações não-capitalistas em uma
atividade moderna, como é o caso da avicultura, demonstra as diferentes estratégias de
reprodução camponesa adotada pelos avicultores. Neste capítulo será evidenciado
também que os avicultores estão subordinados ao capital, mas nem por isso perde as
características estruturais da produção camponesa.
I- COOPERATIVISMO, CAMPESINATO E AVICULTURA
1.1 O surgimento do cooperativismo
A avicultura moderna, praticada na pequena propriedade, foi estimulada,
principalmente, pelas cooperativas agrícolas. No Oeste paranaense, destaca-se a
COPAGRIL (Cooperativa Agroindustrial Copagril) que tem importante participação na
expansão da avicultura nesta região. Embora as cooperativas não sejam exclusivas, é
necessário referir-se a elas para compreender o processo de expansão da produção
avícola nas pequenas propriedades.
A proposta de organização de cooperativas surgiu num passado distante com os
socialistas utópicos que acreditavam na transformação da sociedade, através do
cooperativismo. Os socialistas utópicos visualizavam a transformação da sociedade por
meio do cooperativismo. Acreditavam que o cooperativismo era uma proposta para a
superação do modo de produção capitalista.
Segundo Rech (2000) no decorrer do século XIX, a proposta cooperativista
tomou dois caminhos diferenciados: o primeiro caminho, representado por Robert
Owen, que defendia que as cooperativas constituíam-se num instrumento para a
construção do socialismo. O segundo caminho, representado por Charles Gide, apontava
para a necessidade de substituição do sistema capitalista por uma república
cooperativista. Gide propunha, por exemplo, que todos os setores da economia
deveriam ser organizados em cooperativas.
A primeira cooperativa surgiu em Rochadale, interior da Inglaterra, no século
XIX, quando 28 tecelões organizaram-se contra a exploração do capitalismo industrial.
Os “pioneiros de Rochadale” como ficaram conhecidos, edificaram sua proposta, a
partir de uma série de princípios cooperativistas. Os princípios cooperativistas são os
seguintes:
1) Livre Acesso e Adesão Voluntária: as cooperativas são organizações
voluntárias para pessoas dispostas a utilizar os seus serviços e aceitar as
responsabilidades inerentes a sua condição de associado;
15
2) Controle, Organização e Gestão democrática: a iniciativa mais concreta desse
princípio é que cada associado tem um único voto, seja qual for sua posição ou número
de quotas-parte.
3) Participação Econômica de Seus Associados: os associados contribuem de
maneira equitativa e controlam de maneira democrática o capital da cooperativa. Uma
parte desse capital é propriedade comum da cooperativa;
4) Autonomia e Independência: as cooperativas devem e podem constituir com
liberdade sem ter que se submeter ao Estado ou outras instituições que arvoram o direito
de impor sua representação.
5) Educação, Capacitação e Informação: a cooperativa deve obrigatoriamente
destinar parte de seu excedente para a educação, assistência técnica e social de seus
associados e de suas famílias;
6) Cooperação Entre as Cooperativas: a cooperativa busca a integração com
outras cooperativas visando ao fortalecimento do movimento e procurando se firmar
para intervir da melhor forma na transformação da sociedade;
7) Compromisso Com a Comunidade: a cooperativa deve ter uma relação muito
próxima com a comunidade em que se encontra.
Costa (2007), entende que os princípios de Rochadale caíram em desuso, pois
ocorreu um desvirtuamento do espírito cooperativista. As cooperativas na maioria, das
vezes “comportam-se” como empresas privadas, embora tivesses sido proposta como
solução para os problemas de desigualdades sociais, criadas por estas empresas privadas
da sociedade capitalista.
A cooperativa, dentro do sistema capitalista, necessita fortalecer-se enquanto
empresa, entrando em contradição na sua própria essência, ou seja, ao invés da
cooperativa melhorar as condições de vida de seus associados, os investimentos,
realizados, são em função do crescimento econômico da cooperativa.
No capitalismo, existem diferentes classificações para caracterizar as
cooperativas. Segundo Rech (2000), existem as mais variadas classificações e tipos de
cooperativas. Tradicionalmente, as cooperativas são classificadas de acordo com a sua
natureza, funções e nível de organização. Quanto à natureza: identificam-se as
cooperativas de acordo com as atividades que desenvolvem em relação aos seus sócios.
Podem distinguir-se três grandes grupos:
• Cooperativas de distribuição ou serviços: são as que colocam à disposição de
seus sócios bens e serviços de acordo com suas necessidades dentro das melhores
16
condições de qualidade e empresa. São exemplares as cooperativas de crédito, consumo,
e outras.
•Cooperativas de colocação de produção: são as que se dedicam à venda da
produção de seus sócios dentro das melhores condições de preço, como as
agropecuárias, por exemplo.
•Cooperativas de trabalho: são as que agrupam sócios com uma mesma profissão
e que organizam e vendem em comum o seu trabalho, buscando fontes de ocupações
estáveis e mais compensadoras. Como exemplo há as cooperativas de médicos, taxistas,
metalúrgicos, entre outras.
As cooperativas também podem ser classificadas de acordo com a variedade de
funções. Neste caso, existem três tipos:
• Cooperativas Unifuncionais: dedicam-se a uma só função como as de crédito,
habitação, e outras.
• Cooperativas Multifuncionais: são as que se dedicam a várias funções, como as
cooperativas mistas que podem tanto se dedicar à venda da produção ou fornecer
insumos ou sementes para os seus associados.
• Cooperativas integrais: trata-se de cooperativas que procuram responder as
necessidades sociais e econômicas de seus associados. São conhecidas como
cooperativas utópicas e são raros os exemplos desse cooperativismo nos países
capitalistas.
Outra classificação das cooperativas é quanto ao nível de organização. Neste
sentido, as cooperativas seriam organizadas em:
• Cooperativas Singulares: constituídas por pessoas físicas ou jurídicas.
• Cooperativas centrais ou federações de cooperativas: constituídas de pelo
menos três cooperativas singulares;
• Confederação de cooperativas: constituída por três centrais ou federações de
cooperativas.
Os tipos mais conhecidos de cooperativas são as seguintes:
•Cooperativas de crédito: tem como objetivo realizar empréstimo aos seus
sócios, visando suprir dificuldades em obter financiamento.
• Cooperativas de consumo: organizam a distribuição de produtos ou serviços
aos seus sócios, buscando melhores condições e melhores preços.
17
• Cooperativas agrárias ou agropecuárias: são as mais comuns, no Brasil, tendo
por objetivo organizar as atividades econômicas de seus sócios, (produtores rurais)
orientando-os e colocando à disposição deles uma série de serviços.
No decorrer da história, as cooperativas foram incorporando-se ao capitalismo e
tornaram-se um instrumento a serviço mais do capital do que dos explorados e
oprimidos. Loureiro (1981), por exemplo, entende que “a cooperativa na realidade tem
se definido cada vez mais como um eficiente instrumento a serviço do capital de seus
mecanismos de dominação.” (Loureiro, 1981, p.7).
Portanto, a história encarregou-se de demonstrar que não se realizou a proposta
de socialização cooperativista dos socialistas utópicos como queriam Robert Owen e
outros ideólogos do movimento cooperativista. Schneider (1981) afirma que a dialética
entre o movimento cooperativista e a força propulsora do capitalismo fez com que o
movimento cooperativista aderisse à própria dinâmica da expansão do capital, atuando
como elemento de complementação à economia de mercado.
No sistema capitalista, a cooperativa tem que operar numa dinâmica, dominada
pelo mundo da mercadoria. É por isso que ela não passa de uma empresa que paga
preços maiores ou menores aos produtos dos associados de acordo com as regras do
mercado, inclusive estimulando e comercializando aqueles produtos que geram maiores
rendas para as cooperativas. É comum as cooperativas estimular os cultivos tradicionais
da agricultura de negócios (agronegócio) entre os camponeses como silvicultura
(eucalipto), soja, dentre outros.
As empresas utilizam-se dos princípios do cooperativismo para estimular os
associados a produzir, acreditar que realmente fazem parte de uma cooperativa.
Entretanto, dificilmente os associados têm importante participação e, geralmente,
tornam-se clientes dos serviços oferecidos pela empresa “disfarçada” de cooperativa.
Outro aspecto a ser considerado com relação às cooperativas é a democracia que
deve imperar na mesma. O caráter democrático da cooperativa está em proporcionar aos
associados igual oportunidade de se inserir no mercado, de manifestar-se no processo de
gerência dos negócios.
Mas, embora haja o discurso de “gestão democrática” no cooperativismo,
geralmente, o poder de decisão é exercido por um grupo de diretores que, muitas vezes,
pautam-se, a partir de critérios que não beneficiam os associados, principalmente,
aqueles com menores posses.
18
A cooperativa é uma empresa que agrega grandes e pequenos produtores, o que
acaba proporcionando uma desigualdade social e econômica no interior da mesma,
conforme destacado por Rios (1987).
Reunir em um mesmo barco, por exemplo, grandes e pequenos produtores com suas especificidades econômicas e culturais é criar uma falsa consciência. Falsa consciência esta, que por sua vez, se cultivada com êxito leva a acomodação de interesses, a sua barganha, não propriamente a cooperação, e divergentes, resultando o atendimento de uns em detrimento dos outros. (RIOS, 1987, p.12).
A presença de pequenos e grandes produtores em uma cooperativa não leva à
cooperação. Na maioria das vezes, há privilégios para um pequeno número de
associados, embora para a cooperativa todos sejam iguais. O cooperativismo
“importado” da Europa esconde os conflitos de classes, na sociedade capitalista,
conforme destacado Rios (1987).
O cooperativismo “decalcado”, copiado do figurino europeu, não é exatamente sua cópia, como toda imitação é uma caricatura (...). Trata-se de mera transposição econômica de normas adotada por uma única cooperativa de consumo inglesa (...). Por que não de produção, por exemplo? É fácil compreender que uma cooperativa de consumo não infere com a propriedade privada da terra, com a organização do trabalho, com a oposição entre patrões e empregados, etc. Isto indica que as elites latino-americanas ao importarem na década de 30 e 40 deste século, modelos de cooperativas, fizeram uma seleção bem conveniente para seus interesses. (RIOS, 1987, p.40).
O cooperativismo idealizado pelos socialistas utópicos levou em conta a luta de
classes no modo de produção capitalista. Como a sociedade está dividida em classes,
dificilmente, o cooperativismo alteraria a estrutura desigual da sociedade porque a
prática cooperativista acabou servindo ao capitalismo.
O funcionamento das cooperativas também proporciona o desenvolvimento
desigual das diversas categorias que compõem o seu quadro social. Dessa maneira, o
processo de desigualdade socioeconômica, observado na sociedade, reflete-se nas
organizações cooperativistas, demonstrando o modelo de desenvolvimento desigual do
capitalismo. (Vilela, 1998, p.12.)
Na organização de uma cooperativa, as contradições do capitalismo ficam
evidentes, pois o cooperativismo que teria como objetivo principal melhorar as
condições de vida dos seus associados, por meio da eliminação dos intermediários,
acaba reproduzindo em seu interior a reprodução ampliada do capital.
A articulação de várias categorias de produtores no interior da cooperativa
favorece os produtores capitalistas. No entanto, isso não implica na destruição de outras
19
categorias de produtores que se configuram como “peça” essencial à reprodução da
cooperativa e também dos próprios produtores capitalistas. (Fleury, 1983, p.144).
Mesmo que a cooperativa, em seu interior, reproduza a desigualdade
socioeconômica, ela não expropria seus associados, pois é mais útil para ela a
subordinação do que a expropriação dos produtores, como afirma Loureiro (1981).
À cooperativa não interessa um produtor falido, mas um produtor em ação, gerando mercadorias agrícolas, comprando insumos, realizando financiamentos. Só assim ela terá garantida sua fonte de acumulação. Como a cooperativa não tem nada a perder (pois não assume os riscos do processo de produção, nem de comercialização), mas ao contrário, tem tudo a ganhar com a continuação do ciclo produtivo do cooperado, ela deve não necessariamente estimula-lo a produzir, mas a nível cada vez mais elevado de produtividade. (LOUREIRO, 1981, p.153).
De um lado, a agricultura é a fonte de acumulação para a cooperativa. De outro,
o associado pode visualizar na cooperativa uma forma de se inserir na dinâmica
capitalista, e assim, atingir objetivos individuais, como é o caso de uma renda bimestral
na atividade avícola.
Martins (1982), ao abordar a relação entre cooperativismo e produção, ressalta
que o capitalismo está presente para apropriar-se dos ganhos que foram motivados pela
cooperação no trabalho, seja ele agrícola ou industrial.
Onde a produção foi drasticamente ampliada através da cooperação no trabalho, agrícola ou industrial, o capitalismo já está presente para se apropriar de ganhos que deveriam ser sociais porque fruto do trabalho social; onde a produção permanece em bases artesanais e tecnicamente modestas, a cooperação tolerada se restringe à circulação das mercadorias produzidas e não à produção e ao trabalho. (MARTINS, 1982, p.57)
Verifica-se em Martins (1982), que quando o cooperativismo é praticado onde já
está avançado o processo de produção tanto agrícola, quanto industrial, o capitalismo
apropria-se dos ganhos. É dessa forma, que a cooperativa ligada ao processo de
produção torna-se objeto do capital.
Entretanto, a cooperação tem mais chances de desenvolver-se onde a produção é
artesanal e a cooperação restringe-se apenas à circulação de mercadorias. Porque
quando o cooperativismo atua na organização da produção e na circulação de
mercadorias, acaba expandindo a dinâmica capitalista. (Martins, 1982, p.57).
Os estudiosos do cooperativismo como Fleury (1983), e Araújo (1984), por
exemplo, geralmente colocam que a prática cooperativista não é praticada nas
cooperativas. É como se a cooperação fosse uma qualidade universal do ser humano e
apenas precisaria ser aplicada nas instituições chamadas cooperativas, ou seja, uma
20
instituição capaz de resolver os problemas ligados à produção, desde os pequenos até os
grandes proprietários.
Conforme Santos (1978), a cooperativa, embora seja de propriedade dos seus
associados, estruturalmente ela aparece como uma instituição do modo de produção
capitalista que segue as determinações da reprodução ampliada do capital.
Assim, mesmo que a cooperativa funcione juridicamente como propriedade dos associados, estruturalmente ela aparece como instituição do modo de produção capitalista, como instituição que segue as determinações da reprodução ampliada do capital. Configurando-se a cooperativa como um componente de reprodução ampliada do capital, nela vão se constituir as tensões sociais inerentes à dinâmica do modo de produção capitalista. (SANTOS, 1978, p.120).
Baggio (1983), acrescenta que a estratégia mercadológica é que estabelece as
formas, locais, tempo e recurso para a atuação das cooperativas, seja no mercado
nacional ou internacional. Integradas à economia de mercado, as cooperativas atuam no
sentido de incorporar-se a esse tipo de economia. Sua interferência ocorre
principalmente por meio da eliminação dos intermediários, minimização de custos,
benefícios aos associados, e outros.
A propriedade dos meios de produção e a presença regular de excedentes
comercializáveis constituem pré-requisitos indispensáveis para efetiva participação em
uma cooperativa agrícola. É por isso, que as cooperativas agrícolas não atendem aos
interesses da categoria dos trabalhadores assalariados rurais, que não possuem a posse
da terra. (Schneider, 1981, p.29).
O desenvolvimento desigual e contraditório do capitalismo é a palavra chave
para verificar o funcionamento das cooperativas agrícolas. Geralmente elas começaram
pequenas, mas para competir com as demais empresas “optam” pelo crescimento e
incorporação de tecnologias, perdendo, assim, a proposta inicial de cooperativismo.
O associado busca na cooperativa a eficácia de sua atividade econômica, ou seja,
ele está buscando transformações na sociedade por meio do cooperativismo, conforme
destaca Pinho (1982).
Como associado-empresário-usuário racional, o cooperado renuncia a uma parte de sua autonomia e de seu poder para se unir cooperativamente a outros empresários, submetendo-se aos princípios de igualdade e da gestão democrática, bem como a formação de um patrimônio ou acervo de utilidade coletiva, mas impartilhável entre os associados. [...] Esse enfoque da cooperativa como organizatória eficaz na promoção do desenvolvimento socioeconômico passa a se tornar significativo, sobretudo nos últimos anos. Então, paralelamente ao cooperativismo de inspiração rochdalena,
21
desenvolve-se um “cooperativismo sem Rochadale” na acepção doutrinária, que utiliza à cooperativa é como técnica empresarial. (PINHO, 1982, p.66).
É possível observar em Pinho (1982), o caráter contraditório das cooperativas,
pois ao mesmo tempo em que elas estão inspiradas nos princípios dos pioneiros de
Rochadale, elas transformam-se em “cooperativas sem Rochadale,” em que há um
desvirtuamento do que seria o cooperativismo.
No Brasil, o movimento cooperativista agrícola surgiu nas primeiras décadas do
século XX, com a iniciativa de pequenos produtores que se reuniram para a
comercialização comum de seus produtos, buscando eliminar os intermediários,
objetivando, assim, aumentar suas rendas.
No ano de 1932, foi promulgado um decreto lei sobre a constituição e
funcionamento das cooperativas, facilitando sua fundação e isentando-as de uma série
de impostos. A partir dessa data, o Estado passou a regulamentar a formação e
funcionamento das cooperativas. (Fleury, 1983, p.39).
O Estado utilizou-se do cooperativismo para interferir na agricultura. Foi dessa
forma que “as cooperativas se transformaram em órgãos de repasses das políticas de
fomento às atividades agropecuárias, ao mesmo tempo em que desenvolvem certas
atividades que teoricamente fariam parte das funções de acumulação do Estado
Capitalista.” (Benneti, 1982, p.74).
Em 1971, foi criada a lei cooperativista de número 5.761/71. Segundo essa lei,
só pode ser considerada “cooperativa” aquela que for reconhecida e registrada na OCB
(Organização das Cooperativas do Brasil). A OCB foi criada em 1969, no IV congresso
brasileiro de cooperativismo. A entidade veio substituir as associações cooperativas,
existentes até então.
A Constituição Federal, de 1988, definiu uma nova política para as cooperativas,
sendo vedada à interferência estatal em seu funcionamento. Mas, segundo Rech (2000,
p.12), “a legislação brasileira que regula a vida das cooperativas é de procedência
conservadora e tem nítida influencia neofascista sendo que a lei, ao invés de incentivar
as cooperativas, vem no sentido de limitar a experiência”.
Fabrini (2003), entende que a legislação sobre cooperativas, no Brasil, é
resistente à utilização dos meios de produção de forma coletiva, pois foi fundamentada
num arcabouço que se fundamenta na propriedade privada das riquezas e meios de
produção. As cooperativas acabaram tornando-se representantes do poder econômico,
22
predominando a idéia de que o mercado resolve os problemas da sociedade,
contribuindo ainda mais para o denominado “cooperativismo empresarial”.
O cooperativismo, que se instalou no Brasil, evidencia a subordinação do campo
ao setor urbano-industrial, pois a cooperativa, a partir da, década de 1960, assumiu junto
ao Estado o papel de agente da modernização agrícola. Isso fica evidente também, por
exemplo, com a expansão da avicultura moderna, no caso aquela estimulada pela
COPAGRIL, objeto principal deste estudo.
A modernização da agricultura brasileira, segundo Silva (1996) está ligada há
três fatores básicos:
• Agropecuária moderna baseada em commodities e ligada às agroindústrias;
•Conjunto de atividades não-agrícolas relacionadas ao lazer e prestação de
serviços;
• Conjunto de novas atividades agropecuárias localizadas em nichos especiais de
mercado.
Segundo Brum (1998), o processo de modernização não é integral, pois
apresenta variações nas diferentes regiões do país, dentre as quais destacam-se as
regiões Sul e Sudeste. Recentemente, a modernização avançou para o Centro Oeste do
Brasil. Uma das principais consequências da modernização agrícola foi o êxodo rural,
pois devido à mecanização, passou a demandar pouca mão-de-obra nas atividades
agrícolas.
Na década de 1990, a modernização da agricultura continuou avançando,
simplificando e eliminando tarefas agropecuárias. De certa forma, ocorreu um
“desmonte” das tarefas produtivas, no interior do estabelecimento, liberando pessoas
para atividades agrícolas e não-agrícolas dentro ou fora dos limites da propriedade.
(Silva, 1996, p.12.).
A modernização da agricultura também está relacionada ao surgimento de
cooperativas agrícolas, conforme destaca Frantz (1983).
Tendo em vista que estas cooperativas nascem no contexto da modernização, é evidente que elas são mais adequadas aqueles produtores que estiverem melhor enquadrado neste modelo. Estes produtores são aqueles que cultivando em grande escala, conseguem assegurar-se de um lucro médio razoável ao longo dos anos. Alguns conseguiram chegar a esse patamar. No entanto outros apesar de terem se modernizado, não conseguiram transformar-se em empresários rurais, menos por ineficiência em mais por que não há lugar para todos, simplesmente a terra é um recurso limitado. Diante disso a luta principal é a de através da produção garantir a manutenção de suas condições de trabalho e se possível para os filhos. Em outros termos significa reproduzir enquanto colono. (FRANTZ, 1983, p.12).
23
Assim, a modernização contribuiu para a consolidação do cooperativismo
empresarial no Brasil.
1.2 As diferentes propostas de cooperativas
Nem todas as cooperativas agrícolas comportam-se como empresas, como
tratado anteriormente. Este é o caso das cooperativas que lutam pela economia solidária
e também as cooperativas de reforma agrária do MST (Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra), que lutam por melhores condições de vida dos assentados e
pressupõem transformações estruturais na sociedade.
No Brasil, um exemplo de cooperativa que luta pela economia solidária é a
proposta da UNICAFES (União Nacional das Cooperativas de Agricultura Familiar e
Economia Solidária). A UNICAFES é uma organização nacional de cooperativas da
agricultura familiar e economia solidária está apoiada em cinco entidades regionais:
UNICAFES Norte, UNICAFES Sul, UNICAFES Centro Oeste, UNICAFES Sudeste e
UNICAFES Nordeste. O quadro social da UNICAFES é formado por cooperativas de
crédito, produção, trabalho, comercialização e da infraestrutura da agricultura familiar e
economia solidária, legalmente constituída.
Os princípios cooperativistas da entidade são os seguintes:
1) Participação democrática (ativa e efetiva das pessoas) e solidária;
2) Promoção e gestão social e auto-gestão das cooperativas;
3) Prioridade e participação ativa de jovens e mulheres (novas relações sociais);
4) Integração em rede (estruturas horizontais através das cooperativas);
5) Organização com base nas pessoas (não no patrimônio) de modo a
democratizar o acesso à terra, à propriedade e aos direitos sociais básicos;
6) O desenvolvimento, entendido como uma articulação das dinâmicas locais,
favorecendo potencialidades e espaços de forma ambientalmente equilibrada.
7) Divulgação dos princípios e práticas cooperativistas.
Uma das lutas da UNICAFES é contra a lei 5.764 de 1971 (ainda em vigor) que
exige que as cooperativas sejam vinculadas a OCB (Organização das Cooperativas
Brasileiras), ou entidade ligada ao patronato rural e ao agronegócio. A lei cooperativista
5.764, fruto da realidade social, da década de 1960, não contempla em seus
fundamentos a atual diversidade do cooperativismo.
24
No que se refere ao campo de conhecimento, a UNICAFES propõe o seguinte:
a) Produção de tecnologias apropriadas às necessidades da agricultura familiar,
novas orientações para os organismos estatais;
b) Construção de uma política pública de formação de cooperativas;
c) Construção de políticas e logísticas de mercado, a fim de atender as
necessidades de abastecimento do mercado interno e ampliação de espaços para a
participação da agricultura familiar no mercado externo.
A UNICAFES é também uma proposta de cooperativismo, baseada na
solidariedade e na força da família no campo para que a cooperativa realmente possa
servir aos associados. As cooperativas solidárias vão à contramão do “cooperativismo
empresarial”, pois lutam por um novo cooperativismo que melhore as condições de vida
dos agricultores e não desenvolva somente a força produtiva como ocorre no
cooperativismo empresarial.
Outra proposta de cooperativismo é a formulada pelo MST. Segundo Brenneisen
(2000), o cooperativismo no MST, organizou-se, a partir do Plano Nacional do MST
para o período de 1989-1993. Mas, foi a partir, de 1990, que se apresentou uma
estrutura especifica para atender as novas demandas dos assentamentos rurais.
Conforme Fabrini (2003), as propostas de cooperativas, nos assentamentos,
estão no contexto da luta em que os trabalhadores estão inseridos. A cooperação, no
assentamento, é resultado da luta e do vínculo desses trabalhadores ao MST. No
cooperativismo do MST, a trajetória de resistência desses sujeitos faz com que ao
organizarem as cooperativas, nos assentamentos, não percam os seus valores e conteúdo
político e ideológico da organização.
O SCA (Sistema Cooperativista dos Assentados) constitui-se numa estrutura
com objetivos específicos em relação aos assentamentos. Segundo Brenneisen (2000),
os princípios cooperativistas do MST são os seguintes: gestão democrática envolvendo
direitos e deveres dos associados, participação de todos na gestão cooperativa,
neutralidade religiosa, racial e partidária. Propõe-se a ser uma ferramenta na luta da
classe trabalhadora contra o capitalismo, distribuir sobras, direção coletiva, organização
da base social a partir dos núcleos, massificar a cooperação entre os assentados.
Nos assentamentos do MST, desenvolveram-se, inicialmente, dois tipos de
cooperativas: as cooperativas de Comercialização e Prestação de Serviços (CPS) e as
Cooperativas de Produção Agropecuária. (CPA). Brenneisen (2000), destaca que as
CPS possuem uma estrutura regulamentada por lei. Nessas cooperativas, a posse da
25
terra permanece individual. O público preferencial de uma CPS são os agricultores
assentados em lotes familiares. Porém os pequenos agricultores também podem
associar-se desde que se encontrem organizados em no máximo dez famílias. Com
relação à CPA, a posse da terra e os meios de produção são coletivos e o principal
objetivo é atingir a plena coletivização de terras, gestão, trabalho , meios de produção e
avançar na agroindustrializaçao.
As duas propostas de cooperativismo apresentadas anteriormente, demonstram
que no modo de produção capitalista é possível transformar o cooperativismo em
economia solidária, como é o caso da UNICAFES, ou em instrumento de luta de seus
associados como é o caso das cooperativas de reforma agrária do MST.
1.3 Relação entre cooperativismo, avicultura e agricultura camponesa
As cooperativas, sobretudo aquelas de caráter empresarial, destacam-se na
implantação da avicultura moderna em todo o Brasil. No país, a avicultura moderna
começou a desenvolver-se a partir, dos anos de 1960, nos estados do Sudeste,
principalmente em São Paulo. Somente a partir, dos anos de 1970, que a avicultura
deslocou-se para a região Sul. A comercialização de frangos em escala industrial foi
impulsionada pela facilidade de créditos para investimentos a longo prazo, tecnologias
importadas referentes à genética, abate e processamento de aves.
Segundo Belato (1985), a produção avícola é um dos segmentos da produção
agropecuária em que o capital e a expansão da produção ocorreram de forma mais
rápida e completa. Segundo o autor, a avicultura é uma atividade semelhante a um
processo industrial, devido, principalmente, às mudanças genéticas pelas quais passam
as aves.
A moderna produção industrial de frangos expandiu-se, aceleradamente, após o
pós-guerra nos Estados Unidos, Europa, Israel e Japão. Em todos esses países, foram
produzidas raças com qualidades genéticas similares. (Sorj, 1982, p.15). .
Conforme dados da UBA (União Brasileira de Avicultura), atualmente, o Brasil
é líder na exportação de frangos. Uma das principais metas da avicultura nacional é
trabalhar a imagem da carne brasileira no continente europeu para efetuar negociações
com órgãos reguladores do comércio.
A avicultura de corte utiliza-se das mais avançadas técnicas de engenharia
genética aplicada à produção industrial de carnes. É o frango o animal que melhor se
26
adaptou à produção maciça de carnes por meio do controle genético, confinamento e
regulamentação alimentar. Dessa forma, reduzem-se os determinantes naturais do ciclo
de reprodução biológica animal. As aves de corte e as aves poedeiras são geradas a
partir de linhagens puras, controladas a partir de bancos genéticos. Tanto o frango de
corte, quanto as galinhas poedeiras são produtos de cruzamento de suas avós, de
linhagem pura, e que são apenas consumidas na terceira geração, quando atingem os
níveis ideais de produtividade. (Sorj, 1982, p.15).
A avicultura de corte, no início, foi desenvolvida em São Paulo de maneira
autônoma e não contratual, sendo que os granjeiros adquiriam os insumos no mercado,
engordavam as aves e vendiam para o frigorífico abatê-las. A agricultura contratual
estabelecida entre produtor rural e indústria, é mais utilizada na região Sul e surgiu em
Santa Catarina, na década de 1970.
A “parceria”, estabelecida entre produtor rural e indústria desenvolveu-se com
facilidade na região Sul do país devido à tradição de criação de pequenos animais pelos
colonos descendentes italianos e alemães em pequenas propriedades. Isso proporcionou
a introdução de uma forma de produção contratual entre produtores agrícolas e em
empresas frigoríficas.
A maioria das empresas produtoras de frango de corte possui suas próprias
fábricas de ração para os pintainhos alojados. Entretanto, as empresas ainda dependem
da disponibilidade de grãos, produzidos pelos agricultores e também de medicamentos
de crescimento que geralmente são importados.
Segundo Oliveira (1981), o setor avícola está frente a uma verdadeira
transformação, pois de um lado estão as multinacionais, buscando a integração e, de
outro, os pequenos e médios avicultores que se juntando em cooperativas (com
abatedouros próprios) tentam fugir da submissão.
O cooperativismo empresarial também está presente na avicultura, considerada
uma das atividades mais modernas do campo brasileiro. A associação em cooperativas
permite aos camponeses o investimento na atividade avícola e também uma maior
inserção no mundo da mercadoria.
A avicultura é uma atividade praticada comercialmente com forte participação
do capital industrial. É por meio da monopolização que o capital subjuga, de um lado,
pequenos produtores, e de outro consumidores com preços monopolizados. (Oliveira,
1981 p.12)
27
Martins (1991), ao tratar das atividades realizadas na agricultura contratual,
destacou que, embora ela não exproprie o lavrador, domina o produto do trabalho desses
lavradores.
Nestes casos embora as grandes empresas não expropriem diretamente o lavrador elas subjugam o produto do seu trabalho. Tem siso assim com grandes empresas de industrialização de leite, uva, carne, fumo, tomate, ervilhas, laranjas, frutas em geral. Na verdade os lavradores passam a trabalhar para as empresas nos chamados sistemas integrados, embora conservando a propriedade nominal da terra. Só que, nesse caso, a parcela principal dos ganhos fica com os capitalistas. É comum os consumidores desses produtos nas cidades queixarem-se do preço exorbitante, que tem que pagar por eles, preços que crescem continuamente. Essa queixa está em contradição com as queixas dos lavradores de que recebem cada vez menos por aquilo que produzem. É o que podem constatar facilmente comparando a elevação dos preços dos insumos que necessitam de suas tarefas, como o adubo, a semente, o inseticida, etc. Na verdade, estamos diante de uma clara transferência de renda da pequena agricultura para o capital. (MARTINS, 1991, p.51).
Os produtores, que desenvolvem atividades no chamado sistema de integração,
recebem cada vez menos pela atividade que desempenham, enquanto os consumidores
pagam preços elevados pelos produtos. Nessa contradição, fica evidente a sujeição da
renda da terra da agricultura para o capital.
Martins (1991), destaca que mesmo o produtor cooperativado, também acaba
trabalhando para o grande capitalista. Isso ocorre pelo fato dos preços dos gêneros
alimentícios, no Brasil, serem definidos de cima para baixo, através de tabelas de preços
mínimos e também regulados pelo mercado. Os pequenos produtores tentam por meio
das cooperativas, atuar nessa estreita faixa de alternativas, retendo para si o que antes
seria destinado aos intermediários.
Por meio da associação em cooperativas, pequenos produtores conseguem
investir em uma atividade moderna, a avicultura. O maior interesse dos pequenos
produtores na atividade avícola é a garantia de renda fixa, geralmente a cada dois meses,
para que eles não fiquem dependentes das lavouras temporárias que demandam maior
tempo para colheita.
As cooperativas, que investem na avicultura estão buscando a sua expansão para
obtenção de ganhos para a empresa e não ganhos sociais. Martins (1991), afirma o
seguinte sobre as cooperativas:
Um esquema cooperativista que não esteja baseado em ganhos sociais, mas que se volte unicamente para assegurar maiores rendimentos individuais para lavradores, isolados, sem afetar o seu modo de produzir, sem introduzir o cooperativismo na própria produção em geral, mantendo-se como
28
empreendimento grupal e isolado, na verdade redunda em benefício e reforço do próprio capitalismo. (MARTINS, 1991, p.63).
Sorj (1985), destaca que, no Sul do Brasil, devido às características de pequena
produção, a avicultura beneficiou-se de mudanças ocorridas na orientação da política
creditícia, cujo objetivo era facilitar o acesso aos pequenos produtores, em condições de
modernização. Como a avicultura é uma atividade que também serve à expansão do
capital, é fácil compreender o cooperativismo empresarial nesta atividade.
Quanto ao cooperativismo, não é difícil entender seu comportamento estritamente empresarial, visto que, no caso da avicultura industrial, trata-se de um setor altamente empresarial e altamente seletivo no tocante ao seu quadro de associados. Praticamente não existem nem poderiam existir diferenças substanciais entre as cooperativas vinculadas a avicultura industrial as empresas integradoras, pelo menos em relação à mediação de interesses, comportamentos próprios pelas contrapressões de segmentos de produtores. (SORJ, 1985, p.100).
O cooperativismo é uma das estratégias do capital para subordinar a produção
camponesa por meio de uma atividade como a avicultura. Para o camponês, a atividade
avícola é uma alternativa de renda e inserção no mundo da mercadoria.
Segundo Santos (1979), o camponês é subordinado ao capital por meio da
subordinação ao trabalho. Assim, não são muito diferentes as relações, estabelecidas
entre o camponês e as cooperativas, daquelas que o camponês estabelece com as
indústrias. Em ambas as situações os camponeses estão sofrendo a exploração do sobre-
trabalho e submetendo-se às exigências do capital.
Para Moura (1986), é possível entender o camponês de diferentes maneiras, mas
de modo geral, pode-se afirmar que ele é um cultivador de pequenas extensões de terra
que se utiliza do trabalho familiar.
Camponês é um produtor que se define por oposição ao não produtor, não importando se planta a terra ou se pesca no mar, conceituação essa defendida por antropólogos. Situando a questão da subordinação na extração da renda em trabalho, renda em produto e renda em dinheiro, tal conceito aparece em Marx. (MOURA, 1986, p.12).
A presença de camponeses, no Brasil, já foi diagnosticada no Nordeste na figura
do morador e do proprietário de sitio junto às áreas produtoras de cana-de-açúcar no
século XVI. Esses camponeses constituíram o “germe” do campesinato nordestino.
(Andrade, 1995, p.69).
Oliveira (1986), destaca que, no Brasil, o processo de desenvolvimento do modo
capitalista de produção, no que diz respeito à agricultura, instituiu a apropriação
camponesa da terra, como consequência evidente da crise do trabalho escravo.
29
Conforme Fabrini (2003), relacionado aos camponeses foram feitas várias
interpretações, desde um obstáculo para o desenvolvimento da sociedade, passando pela
barbárie, até as profecias de seu desaparecimento devido à expansão das relações
capitalistas, sendo recentemente interpretado como um agricultor familiar.
A substituição do conceito de camponês por agricultor familiar é defendida por
vários autores, dentre os quais se destacam Abramovay (1998) e Hespanhol (2000). Na
concepção desses autores, as unidades produtivas familiares não podem ser
consideradas camponesas, principalmente por conta da incorporação dessas unidades ao
mercado capitalista.
Sobre a caracterização dos camponeses destaca-se a abordagem de Santos
(1979). O referido autor procura compreender os camponeses por meio da subordinação
do trabalho capital ao estudar “colonos do vinho” (1979). Para ele, os elementos
estruturantes da produção camponesa:
* A mão de obra familiar: pode-se afirmar que a força de trabalho familiar
caracteriza os camponeses como sendo uma classe que detém os meios de produção e,
ao mesmo tempo os membros da família camponesa configuram o camponês como
sendo um trabalhador coletivo.
* As práticas de ajuda mútua: os camponeses realizam certas práticas de ajuda
mútua, que fogem ao ritmo de acumulação ampliada do capital, como no caso do
mutirão que ocorre nos casos de doenças ou catástrofe em que os camponeses se reúnem
em torno de um mesmo objetivo.
* O trabalho assessório do camponês: ocorre quando o camponês transforma-se
periodicamente em um trabalhador assalariado, recebendo por sua jornada de trabalho.
O trabalho acessório não extingue a característica da unidade camponesa, pois os
camponeses: “não aceitam ser trabalhadores expropriados e sujeitos a um proprietário,
mas admitem o trabalho assessório que não implica a perda de sua condição
camponesa” (Santos, 1978, p.37). Assim, o trabalho assessório funciona como uma
renda complementar.
* A força de trabalho assalariada: o trabalho assalariado ocorre quando os
membros da família não são suficientes para a colheita, como é o caso da colheita da
uva.
* A socialização do camponês: é marcada pelo núcleo familiar e pela unidade
produtiva. É por meio dessa dualidade que o indivíduo se converte em membro da
sociedade, por meio da socialização primária. A socialização secundária é marcada
30
pelos papeis e conhecimentos que os camponeses adquirem por meio da divisão social
do trabalho.
* A propriedade da terra: o fato dos camponeses serem possuidores dos meios de
produção, é fundamental para a manutenção da unidade produtiva camponesa. É certo
que o camponês detém a propriedade privada da terra, mas trata-se de terra de trabalho,
que não se utiliza do trabalho alheio para acumular capital.
* A propriedade dos meios de produção: Além da terra, os camponeses
geralmente, são proprietários de outros meios de produção, como os maquinários, por
exemplo.
* A jornada de trabalho: a jornada de trabalho do camponês varia de acordo com
a época do ano. A extração do sobretrabalho camponês nas atividades como viticultura e
avicultura, ocorre, por exemplo, quando “o capital personificado na burguesia industrial,
determina uma ampliação do trabalho excedente do camponês e realiza a expropriação
do sobretrabalho criado no processo de trabalho camponês”. (Santos, 1979. p. 61).
* A reprodução simples da produção camponesa: a reprodução simples
configura-se quando o camponês repõe a cada ciclo produtivo os meios de produção e a
força de trabalho necessárias a simples repetição da produção.
Os elementos descritos anteriormente destacam as características do
campesinato. A ausência de um desses elementos não descaracteriza o camponês.
Outras características também podem ser acrescentadas como as lutas e as resistências
nos movimentos sociais, por exemplo.
Mas existem outras abordagens sobre os camponeses, como aquela formulada
por Martins (1981), em que o autor afirma que o camponês é subordinado ao capital por
meio da renda da terra. Esta subordinação é verificada entre os avicultores, sobretudo
aqueles vinculados a COPAGRIL, “objeto” principal deste estudo.
Conforme Paulino (2006), os camponeses controlam, ao mesmo tempo a força
de trabalho e os meios de produção. Assim, os camponeses vendem o produto no qual
está contido o trabalho da família, o que os difere dos assalariados que vendem apenas a
força de trabalho. O fato dos camponeses possuírem o controle de uma determinada
porção do espaço, que se constitui na propriedade privada da terra que é ao mesmo
tempo local de morada e de trabalho, os diferencia dos operários que estão alienados ao
modo de produção capitalista.
Segundo Martins (2002), diferentemente do operário em que o trabalho é
diretamente dependente do capital, o trabalho do camponês é um trabalho independente,
31
mesmo que seja uma independência relativa, pois o camponês não vende sua força de
trabalho e, sim, o fruto do seu trabalho. Isso ocorre porque ele ainda dispõe dos
instrumentos de trabalho e meios de produção, dos quais a terra é o mais importante.
Martins (2002), afirma ainda:
O agricultor familiar, que, ainda que modernizado, é o nosso característico camponês, é dono dos meios de produção, é um produtor autônomo. Sua relação com o capital não se dá por meio da exploração direta de seu trabalho pelo capitalista. A exploração de seu trabalho aparece ocultada na extração da renda fundiária, aparece sob a forma de pagamento da renda da terra. (MARTINS, 2002, p.91).
Por mais que a avicultura cause mudanças na propriedade, o camponês não pode
ser considerado um operário, mesmo que disfarçado, pois por trás de toda a
modernização de um aviário está um pequeno proprietário que continua plantando
produtos para a subsistência, utilizando-se da mão-de-obra familiar e ajuda mútua entre
os vizinhos. Esta é a evidência de que a expansão do capitalismo não é uniforme, ou
seja, não destrói completamente os elementos estruturantes da produção camponesa.
Outra característica que difere o camponês do operário é o tempo da produção e
trabalho. O tempo do operário é comandado pelo tempo do capital, ditado pelo patrão
capitalista, sendo que o operário sempre executa a mesma rotina de sua jornada diária
de trabalho. O tempo do camponês, é parcialmente, e ditado pelo tempo do capital na
atividade avícola, pois como ele trabalha para si, essa condição lhe permite que realize
a organização interna da propriedade de maneira que facilite o trabalho.
Moura (1986), entende que tanto o operário quanto o camponês conformam-se
com as regras impostas pelo sistema, pois ao lutarem para manter a sua condição
assumem uma postura de conformismo ao capitalismo.
O camponês quer a propriedade de sua terra ao mesmo tempo que a contesta e a contorna, seja reafirmando seu direito de posse, seja plantando pacificamente em terras devolutas ou até mesmo invadindo áreas privadamente apropriadas, em nome de ser livre e continuar produzindo enquanto camponês. O operário inevitavelmente limitado pelo contrato de trabalho, transcende suas amarras, lutando por melhores salários, pela participação no lucro da empresa, pelo bem estar social podendo recorrer a greve e à ocupação das fábricas também em nome do direito de ser livre e continuar operário. (MOURA, 1986, p.40).
O fato de camponeses manterem a sua condição no modo de produção
capitalista, não significa, necessariamente, conformismo, mas evidencia as contradições
do próprio capitalismo. Enquanto o operário luta por melhores condições de trabalho no
capitalismo, o camponês luta para se manter proprietário da terra.
32
A produção de autoconsumo pode ser considerada como uma forma de
resistência funcional ao capital, pois é uma produção que serve ao camponês, embora
contraditoriamente também sirva ao capital. Isso não significa que os operários também
não tenham a produção de autoconsumo na sociedade, sendo uma relação não
capitalista. Entretanto, muitas vezes, por falta de espaço na cidade, essa produção
refere-se apenas ao plantio de poucos alimentos. Para o operário, essa produção não é
exatamente uma resistência ao capitalismo, mas pode ser entendida como parte da
preservação de raízes camponesas, considerando que muitos operários têm sua origem
no campo.
O operário vende a força de trabalho em troca de um salário que garanta as
condições básicas para garantir a sua reprodução enquanto trabalhador para o capital. O
camponês vende o fruto do seu trabalho em troca de uma determinada renda derivada
dos produtos produzidos na propriedade. O trabalho do camponês garante que ele
permaneça enquanto proprietário dos meios de produção, trabalhando para si e sua
família. Segundo Martins (2002, p.74): “no operário o que se manifesta é o individuo, o
fragmento a que ele foi reduzido pela contratualidade das relações sociais, no camponês
manifesta-se a pessoa, o ser inteiro ainda que mediado pela coisificação da
mercadoria.”.
O operário pode escolher para qual empresa vai vender a sua força de trabalho e
consequentemente, sofrer a exploração no modo de produção capitalista. O camponês
pode escolher com qual empresa vai comercializar os produtos, escolhendo, assim, a
empresa a qual vai subordinar sua renda.
Mesmo que o camponês sofra a exploração pelo capital, ela realiza-se de modo
diferenciado daquela que submete o operário.
Mesmo que submetido a mecanismos de exploração por parte do capital, é exploração inteiramente diversa da exploração que sofre o operário. Não é uma exploração cotidiana, presente em cada momento do processo do trabalho. É exploração que se torna evidente na consumação da venda dos produtos e do trabalho e na contrapartida daquilo cuja compra essa venda possibilita. (MARTINS, 2002, p.82).
Na família operária, geralmente os integrantes trabalham em lugares distintos.
Mesmo quando trabalham numa mesma fábrica, por exemplo, trata-se de uma trabalho
individualizado, embora os operários realizem a produção de forma coletiva para chegar
a um determinado produto. Os integrantes da família camponesa, geralmente trabalham
na unidade produtiva e desempenham funções diferentes com o objetivo de manter-se
33
na terra de trabalho. Mesmo quando um membro da família camponesa trabalha fora da
unidade produtiva, é com o objetivo de reforçar a unidade camponesa. Portanto, não é
individualizado, mas familiar.
Segundo Martins (2002), a consciência do operário expressa a consciência do
individuo pelo contrato de trabalho e pelas relações de interesse de sua classe. A
consciência do camponês expressa à consciência da pessoa, ou seja, é uma consciência
afetiva de pertencimento a um sujeito coletivo real, um corpo natural de que se faz parte
desde o nascimento.
1.4 A renda da terra na avicultura
Analisar a subordinação da agricultura camponesa e concomitantemente a
reprodução de relações não-capitalistas no campo, significa compreender como ocorre à
relação entre agricultura e indústria. A agricultura está sujeita à indústria,
principalmente por meio da apropriação da renda da terra e, não somente, pelo trabalho
dos agricultores. As indústrias subordinam o trabalho e a renda da terra, gerada na
agricultura, neste caso, a avicultura.
Segundo Martins (1981), a tendência do capital é dominar todos os ramos e
setores da produção. Ele só não o faz se aparecer um obstáculo que o impeça de
dominar livremente. A terra é esse obstáculo. Sem a licença do proprietário da terra, o
capital não poderá subordinar a agricultura. Dessa forma, o capital transforma a terra em
mercadoria. A exploração capitalista da terra depende de um pagamento ao seu
proprietário que é a renda da terra.
A renda da terra, também denominada renda territorial ou renda fundiária é lucro
extraordinário e complementar que ocorre tanto no campo, como na cidade. Portanto,
ela é produto do trabalho excedente, ou seja, é fração da mais-valia. Para Marx (1974), a
renda da terra é um excedente do lucro.
Toda renda fundiária é mais-valia, produto do trabalho excedente. Na forma menos desenvolvida, é diretamente produto excedente, a renda natural. Mas no modo capitalista de produção, a renda fundiária é sempre sobra acima do lucro, acima da fração da mais-valia (trabalho excedente). Por isso, erra-se quando então se procura explicar a renda fundiária, aí componente particular e especifico da mais-valia recorrendo simplesmente às condições gerais da mais-valia e do lucro. (MARX, 1974, p.728).
A avicultura moderna comandada pelas cooperativas é uma atividade,
desenvolvida no campo, que permite a subordinação da agricultura camponesa, e,
34
consequentemente, da renda da terra. É através da apropriação da renda da terra dos
camponeses que a COPAGRIL, por exemplo, se fortalece enquanto empresa no
processo contraditório de reprodução do capitalismo.
Conforme Oliveira (1986), no capitalismo, a terra transformada em mercadoria
tem um preço, porém não tem valor, porque a terra é um recurso natural finito que não
pode ser criado pelo trabalho humano.
A propriedade capitalista da terra é renda capitalizada, é direito de se apoderar de uma renda, que é uma fração da mais-valia social, e, portanto, pagamento subtraído da sociedade em geral. Isso ocorre devido ao fato de que uma classe detém a propriedade privada da terra e só permite a sua utilização como meio de produção (arrendada ou não), através da cobrança de um tributo: a renda capitalista da terra. (OLIVEIRA, 1986, p.79).
A propriedade privada da terra dos camponeses é terra de trabalho, pois eles a
utilizam como meio de garantir a sobrevivência de sua família. Não é terra utilizada
para exploração do trabalho alheio, nem é utilizada para garantir lucro.
Martins (2002),afirma que a terra é a base física da produção agrícola. É um
instrumento não capitalista de produção, pois ela própria não é produto do trabalho,
como ocorre com outros meios de produção. A terra representa, portanto, uma
irracionalidade, quando é preciso pagar por ela. Mas, não sendo capital, ela é operada
como se fosse capital.
Mizusaki (2003), afirma que a renda da terra na avicultura deve ser observada,
respeitando suas especificidades, pois o avicultor, ao estabelecer um contrato de
parceria com a empresa e realizar um financiamento no banco, fica altamente
dependente. Trata-se de uma dependência da unidade produtiva ao capital industrial e
financeiro. É, sobretudo, por meio do financiamento que as empresas (indústrias e
bancos, principalmente) conseguem obter parte da renda da terra dos camponeses.
A apropriação da renda da terra na avicultura pelas empresas capitalistas, no
caso as cooperativas, ocorre sem expropriar os camponeses. A renda da terra é o
“elemento” que torna possível entender a acumulação capitalista na avicultura. Para
atingir tal objetivo acumulativo, é firmado um contrato denominado, parceria entre o
camponês, a indústria e o capital financeiro. Como nesse contrato, o capital necessita
“dominar” a terra do camponês, ocorrendo à subordinação da agricultura camponesa por
meio do domínio da unidade produtiva. A este domínio sem expropriação Oliveira
(1995) denomina de “monopólio do território”.
35
É, principalmente, por meio da renda da terra que é possível a subordinação da
agricultura camponesa, pois é através dela que o capital apropria-se dos ganhos que
deveriam ser dos camponeses:
Sem qualquer alteração aparente na sua condição, mantendo-se proprietário formal da terra, mantendo o trabalho organizado com base na família, o lavrador entrega ao banco anualmente os juros dos empréstimos que faz, tendo como garantia não só os instrumentos garantidos com os empréstimos, mas a terra. Por esse meio, o banco extrai do lavrador a renda da terra, sem ser o proprietário dela. O lavrador passa imperceptivelmente da condição de proprietário real a de proprietário nominal, passando ao banco a renda da terra que nominalmente é sua. (MARTINS, 1981, p.176).
Martins (1981), explica que, a partir do momento em que o camponês se vincula
ao capital, mas preserva a propriedade da terra, nela trabalhando sem o recurso do
trabalho assalariado, há a sujeição da renda da terra ao capital.
É no processo de expansão do capitalismo no campo que se verifica a
subordinação da agricultura camponesa por meio da renda da terra e contraditoriamente
a permanência do trabalho familiar não capitalista que não é destruído pelo capital; ao
contrário, é utilizado para a reprodução ampliada do capital.
Para Martins (1981), quando o capital não pode tornar-se proprietário real da
terra ele assegura o direito de extrair a renda. É o que explica a dependência do
camponês com relação ao crédito bancário e ás empresas.
Como a sua terra é terra de trabalho, não é terra utilizada como instrumento de força de trabalho alheia, não é terra de uso capitalista, o que precisa extrair da renda da terra não é regulado pelo preço médio do capital, mas regulado pela necessidade de reposição de trabalho familiar, de reprodução da agricultura do tipo camponês. Por isso a riqueza que cria realiza-se em mãos estranhas a sua, como renda que flui disfarçadamente para os lucros bancários como alimentos de custo reduzido que barateia a reprodução da força de trabalho industrial incrementa a taxa de lucro das grandes empresas urbanas. (Martins.)
Martins (1981) ainda comenta que a propriedade da terra é uma relação social
dentro do capitalismo que envolve trocas, contradições, articulações e transformações.
As relações não capitalistas como a mão-de-obra familiar, ajuda mútua e produção de
subsistência indicam o desenvolvimento contraditório do capital, ou seja, e expansão do
capitalismo além de redefinir antigas relações, subordinando-as à sua produção,
engendra relações não-capitalistas.
Oliveira (1986), afirma que no desenvolvimento da agricultura camponesa no
modo de produção capitalista de produção, ocorre à sujeição do campesinato ao capital,
processo que não necessita expulsar o trabalhador da terra. É por isso que não há uma
36
sujeição formal e real do trabalho ao capital, pois a agricultura não tem as
especificidades de uma indústria. Assim, o que ocorre na atividade avícola é a sujeição
da renda da terra ao capital, sendo ela o elemento básico de expansão do capital no
campo.
Além da lógica capitalista não demandar por completo a expropriação dos
camponeses, na avicultura ocorre o processo denominado de “monopolização do
território” pelo capital, pois a produção ocorre por meio de relações não-capitalistas, em
que os camponeses possuem os meios de produção, dos quais o mais importante é a
terra.
Moura (1986), entende que a lógica capitalista não expropria o camponês, pois
no capitalismo ele desempenha um contraditório papel que mostra sua resistência em
desaparecer e também é resultado do próprio capitalismo que não o extingue.
Se diferentemente dos meios de produção, a terra não é reprodutível, porque então o camponês permanece nela sem que a lógica capitalista demande sua completa expropriação? Essa questão não se explica quando se diz que o campesinato passa a se articular com o sistema econômico mais forte. Ocorre que o camponês desempenha um contraditório papel, que de um lado expressa sua resistência em desaparecer, e de outro, é resultado do próprio capitalismo que não o extingue. Este não só extrai sobretrabalho dos operários como também o capta onde é possível. Entre essas possibilidades encontra-se o trabalho camponês. É nesse contexto de dramáticas tensões que o camponês vive no meio rural contemporâneo. (MOURA, 1986, p.19).
A renda da terra na atividade avícola, não pode ser analisada somente a partir do
aviário. É por meio do conjunto de atividades, realizadas na pequena propriedade, que é
possível compreender como o capital apropria-se da renda da terra dos camponeses
avicultores. O avicultor através de sua família produz renda que é transformada em
mercadoria e depois em dinheiro, sendo apropriado pelo capital. É dessa forma, que o
capital industrial monopoliza o território, apropriando-se da renda da terra por seus
mecanismos de sujeição, sem precisar imobilizar capital na propriedade privada da
terra. (Mizusaki, 2003, p.30)
Embora a avicultura esteja inserida num contexto macroeconômico de produção
em escala e cadeias produtivas, vinculadas ao complexo agroindustrial, este processo
realiza-se desigual e contraditoriamente. A avicultura não deve ser interpretada somente
a partir da macroeconomia a que está inserida, mas também na perspectiva territorial e
local em das quais os avicultores participam. A dimensão territorial revela a natureza
desigual e contraditória da expansão das relações capitalistas. Esta característica
territorial da produção avícola camponesa será destacada no capítulo III.
37
É desta forma, que contraditoriamente, a associação em cooperativas acaba
tornando-se uma estratégia de sobrevivência no capitalismo, como é o caso dos
camponeses que investiram na atividade avícola vinculada a COPAGRIL (Cooperativa
Agroindustrial Copagril). A avicultura é uma estratégia do capital, mas como também
garante alguma autonomia e independência relativa aos avicultores, configurando-se
como uma estratégia camponesa. O capital materializado nas cooperativas, neste caso, a
COPAGRIL, não domina por completo a propriedade camponesa.
Sobre a COPAGRIL e a relação com os camponeses avicultores, será tratado no
próximo capítulo (capítulo II).
39
II-A COPAGRIL E OS CAMPONESES AVICULTORES
2.1 A trajetória de existência da COPAGRIL
A expansão da avicultura em Marechal Cândido Rondon e Toledo está
relacionada à Cooperativa Agroindustrial Copagril (COPAGRIL) e à existência da
pequena propriedade. As pequenas propriedades formaram uma base para o surgimento
do cooperativismo e avicultura moderna nesses municípios.
Por meio da atividade avícola, a COPAGRIL contribui para inserir os pequenos
agricultores cada vez mais no mundo da mercadoria. Mas, embora hegemônicas na
avicultura, as relações mercadológicas não são exclusivas, pois esta atividade possui
traços essências de produção não-capitalista.
A existência da pequena propriedade, em Marechal Cândido Rondon e Toledo,
está relacionada ao processo de colonização e ocupação da região Oeste do Paraná. A
ocupação foi “dirigida” pela empresa Industrial Madeireira e Colonizadora Rio Paraná
S/A – MARIPÁ, de Porto Alegre/RS, que, na década de 1950, vendia pequenas glebas
de terra a colonos do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, principalmente.
Segundo Niederauer (1992), o latifúndio Fazenda Britânia, era mata virgem,
cruzada por duas picadas de ervateiros e um porto desativado. Esta área delimitada na
figura a seguir (figura 01), corresponde a aproximadamente 274 mil hectares, sendo
hoje ocupada pelos municípios de Toledo, Marechal Cândido Rondon, Entre Rios do
Oeste, Pato Bragado, Mercedes, Quatro Pontes, Nova Santa Rosa e parte de Palotina.
Conforme Schneider (2000), a MARIPÁ deu preferência aos agricultores
sulinos, pois atrair este tipo de “colono”, com experiência de produzir na pequena
propriedade e dedicado ao plantio de diversas culturas, garantiria o sucesso do
empreendimento colonizador. Segundo Gregory (2002), a preferência da MARIPÁ por
agricultores oriundos da Região Sul do Brasil, revela a discriminação e o preconceito da
empresa colonizadora com diferentes etnias.
40
Figura 01: Fazenda Britânia (1950)
Fonte: Niederauer (1992)
A colonização da empresa MARIPÁ estava baseada em um plano de ação,
elaborado pelos próprios dirigentes, que apresentava as seguintes características.
A escolha do elemento humano a ser atraído, a instalação da pequena propriedade, o cultivo da policultura e industrialização, sendo estes os pontos considerados primordiais a colonização uma vez que o traçado de tais planos esboçavam os passos necessários a serem seguidos diante do “inóspito” e desconhecido meio. (SCHNEIDER, 2000, p.98).
Schneider (2000), destaca que foi, a partir da ação colonizadora que os
dirigentes da MARIPÁ procuravam reger os diversos aspectos da população migrante, o
que significa a preservação de um espaço social, centrado na ordem e na ética do
trabalho.
A tarefa colonizadora principal constituiu-se na divisão do grande imóvel
(Fazenda Britânia) em glebas de 25 a 50 hectares que eram comercializadas com
colonos-migrantes, provenientes de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A MARIPÁ
também tinha como compromisso na colonização criar uma infraestrutura viária e
comercial, que permitisse a ocupação da região em que atuava.
A tarefa consistia, pois em dividir todo esse latifúndio em pequenas glebas, isto é, colônias de uns 25 hectares. Cada grupo de colônias tinha que estar provido de um povoado como mínimo, casa comercial, igreja, escola, assistência médica. (NIEDERAUER, 1992, p.35).
41
Schneider (2000), afirma que a atuação da MARIPÁ não se limitou apenas ao
processo de circunscrição do espaço regional Oeste do Paraná. A empresa procurou
estabelecer uma referência fundadora do espaço territorial que abrangia seu programa
de colonização. Assim, a MARIPÁ, primeiramente, implantou a idéia de vazio
demográfico; e a seguir, com a implementação da estrutura fundiária procurou difundir
a imagem de um projeto convincente de reforma agrária.
Segundo Gregory (2002), além da comercialização de terras, a MARIPÁ
também comercializava a madeira extraída da própria empresa. Para isso, a MARIPÁ
construiu um porto de embarque de madeiras, em Foz do Iguaçu, a fim de escoar
madeiras adquiridas na área da colonização como também de outras regiões tais como
Corbélia, Guaraniaçu, Canta-Galo, Laranjeiras do Sul e Guarapuava.
Conforme Gregory (2002) ainda, as atividades empresariais da MARIPÁ
necessitavam ir além da venda de madeiras. Sob a alegação de tornar suas terras em
celeiros no Paraná, foram criados núcleos populacionais e implementada a organização
sistemática de colonização.
A mercantilização da terra constituía-se na atividade econômica imediata mais
promissora do empreendimento, em função da impossibilidade de manter o ritmo do
corte de árvores dos primeiros anos de atividades da empresa. (Gregory, 2002, p.136).
Segundo Muller (1986), a MARIPÁ deu preferência aos colonos que tivessem
algum capital e capacidade técnica para investir em negócios comerciais e industriais.
É altamente significativo o fato de colonizadores trazerem seus próprios capitais para Toledo [...]. Capitais fixos devem ser fornecidos pela agência para estradas principais ferramentas e criação de gado, mas capitais adicionais para a construção de casas, limpeza da terra, construção de escolas, de hospitais e de estradas secundárias, geralmente estão em falta. Consequentemente os pioneiros devem fornecer todo ou parte do capital para tais tipos de necessidades, e os colonos com seus próprios capitais podem reduzir enormemente o tempo gasto nos primeiros estágios de pioneirismo. As agências de colonização não permitem acreditar que fornecendo capital fixo, o sucesso surgirá automaticamente. Elas devem pelo menos fornecer parte do capital do trabalho também, ou escolher os colonizadores que têm esse capital ou que podem obter empréstimos, como aconteceu com alguns dos colonos de Toledo. (MULLER, 1986, p.132).
A agricultura que surgiu do processo de colonização em pequenas propriedades
permitiu o surgimento, na década de 1960, dos primeiros movimentos a favor do
cooperativismo na região Oeste do Paraná. Gerke (1992), comenta que, a princípio, as
cooperativas não agradaram os militares, devido ao fato de ser uma associação de
pessoas em busca de um mesmo objetivo e por isso não receberam grande estímulo.
42
Gerke (1992), afirma ainda que, na década de 1970 foram criadas legislações
que deveriam regulamentar esse sistema associativo em cooperativas. Foi criada uma
legislação sobre as cooperativas pela qual o governo tenha certo controle sobre elas. As
cooperativas, a partir de então, passaram a auxiliar a modernização da agricultura, como
destacado no capítulo I.
No Oeste do Paraná, na década de 1960, os extencionistas da ACARPA
(Associação de Crédito Assistência Rural do Paraná) transmitiram conhecimentos da
doutrina cooperativista aos agricultores e jovens. O movimento cooperativista tomou
novo impulso, em 1969, devido à crise enfrentada pelos suinocultores, provocada pela
aquisição de insumos e comercialização de produção. Em outubro de 1969, foram
promovidos pelo sindicato rural patronal em parceria com a ACARPA um conjunto de
cursos de suinocultura nos distritos de Mercedes, Margarida, Porto Mendes e em M. C.
Rondon. Discutiu-se sobre a necessidade da criação de uma cooperativa.
Segundo Saatkamp (1984), foi encaminhado ao governo do Estado do Paraná
um documento, contendo duas mil assinaturas de agricultores que relatavam as
dificuldades que estavam enfrentando. Para isso, no dia 04 de setembro de 1969, foi
realizado o 1º Encontro de líderes rurais de Marechal Cândido Rondon promovidos pela
ACARPA, Sindicato Rural Patronal e Prefeitura Municipal.
A localização da futura da cooperativa provocou o desentendimento entre os
agricultores, pois alguns queriam que fosse no distrito de Vila Nova em Toledo. Outros
defendiam a ideia de que deveria localizar-se em Marechal Cândido Rondon, ocorrendo,
assim, uma divisão entre os agricultores. Para resolver essa questão, foi realizada uma
reunião no dia 06 de agosto de 1970, com 90 produtores; reunião que não permitiu
entendimento entre os dois grupos. Os produtores que defendiam a localização da
cooperativa em Vila Nova (60 agricultores) retiraram-se da reunião e juntamente com os
produtores de Toledo fundaram, em 08 de agosto de 1970 a cooperativa de Vila Nova,
denominada COOPAGRO (Cooperativa Agropecuária Mista do Oeste Ltda).
Em 26 de julho de 1970, uma comissão, organizada para constituir a cooperativa
de Marechal Cândido Rondon, iniciou a subscrição do capital, adquirindo a 1º chácara
no prolongamento da Avenida Maripá. Foi solicitado o auxílio da CIBRAZEM
(Companhia Brasileira de Armazéns) para a instalação de um armazém inflável na sede
da Cooperativa de Marechal Cândido Rondon.
No dia 09 de agosto de 1970, uma assembleia geral de constituição, convocada
pela comissão organizadora, fundou a COPAGRIL (Cooperativa Agrícola Mista
43
Rondon Ltda.). Participaram dessa reunião 29 produtores. Uma parte dos fundadores era
formada por agricultores que trabalhavam diretamente na lavoura, e a outra era
composta por empresários do comércio e indústria ou profissionais liberais que tinham a
agricultura como negócio auxiliar. Este grupo de empresários teve importante atuação
na fundação da COPAGRIL.
Os primeiros movimentos a favor do cooperativismo, no município de Marechal
Cândido Rondon, não partiram necessariamente de agricultores, mas de empresários,
profissionais da educação, assistência rural, profissionais liberais. A COPAGRIL com
sede no município de Marechal Cândido Rondon-PR, foi criada, no início, para resolver
a crise ocorrida na suinocultura.
A COPAGRIL, baseada nas práticas do cooperativismo, promoveu o
desenvolvimento do capitalismo no Oeste do Paraná. Assim, é necessário detalhar a
história da cooperativa, juntamente com os acontecimentos que promoveram a expansão
do capital e a inserção dos camponeses no mundo da mercadoria.
Na década de 1970, a COPAGRIL começou a expandir suas atividades em seis
municípios: Marechal Cândido Rondon, Mercedes, Guaira, Entre Rios do Oeste, Santa
Helena e São José das Palmeiras, conforme se verifica no mapa a seguir (mapa 02).
Mapa 02: Atuação da COPAGRIL/1970 - Oeste do Paraná
44
No município de Marechal Cândido Rondon (sede da cooperativa), a
COPAGRIL funcionava, inicialmente, em prédio alugado em armazém inflável
instalado, provisoriamente pela Central Brasileira de Armazéns (CIBRAZEM). No
primeiro ano de atividades a COPAGRIL contava com 352 associados e 5 funcionários.
A COPAGRIL, na década de 1970, também construiu uma fábrica de rações,
para atender a demanda de ração para a atividade de suinocultura. A foto a seguir, (foto
01) mostra a unidade industrial de rações da COPAGRIL em funcionamento até os dias
atuais.
Foto 01: Unidade Industrial de Rações.
Fonte: http: www.copagril.com.br
Em 1972, a COPAGRIL construiu o primeiro armazém graneleiro e o primeiro
armazém sementeiro. Em 1973, foi construído um entreposto no município de Guaíra, e
outro no município de Entre Rios do Oeste, em 1974. No ano de 1978, destaca-se a
construção dos postos de recebimento de Mercedes, Margarida (distrito de Mal. Cdo.
Rondon) e de São José das Palmeiras.
A primeira gestão da COPAGRIL teve como preocupação a criação de
condições físicas e infraestruturais para a cooperativa como a aquisição de terrenos para
as instalações de entrepostos em distritos e municípios vizinhos. Já, no segundo ano de
existência, a COPAGRIL conseguiu dois mil associados.
45
Na década de 1980 foram criadas as seguintes infraestrutura: criação da
subsidiária TRANSCOPAGRIL (Transportes Rodoviários Ltda.); implantação do centro
de processamento de dados e indústrias gráficas; instalação do supermercado no
município de Entre Rios do Oeste; construção do posto de recebimento e loja de
fornecimentos de insumos na localidade de São Roque e Porto Mendes/Mal. C. Rondon;
construção da unidade de beneficiamento de algodão da unidade de M. C. Rondon.
Na década de 1980, também foi inaugurado um supermercado no município de
Marechal Cândido Rondon. A figura a seguir, (foto 02) mostra a vista externa do
supermercado COPAGRIL.
Foto 02: Supermercado COPAGRIL. M.C.Rondon Fonte: http: www.copagrilcom.br
Além da construção do supermercado COPAGRIL, foram construídos, em 1982,
o posto de recebimento e loja de insumos no distrito de São Roque e Porto Mendes. A
Copagril, no ano de 1984, construiu também uma Loja de comércio de insumos em
Mundo Novo, Japorã e Sete Quedas em Mato Grosso do Sul.
O mapa a seguir (mapa 03) mostra a área de atuação da COPAGRIL no Estado
de Mato Grosso do Sul.
46
Mapa 03: Área de atuação da COPAGRIL em Mato Grosso do Sul (1984)
Na década de1990, foram concluídas as edificações do depósito de algodão em
Guaíra, e posto de recebimento no distrito de Oliveira Castro no ano de 1992. Foi
vendido o supermercado de Bela Vista/Guaíra, em 1994, e um imóvel rural, em
Guarapuava, no ano de 1994, quando foi iniciado o processo de saneamento financeiro,
através de antecipação de quotas partes em 1995.
O período de 1997 a 1999, foi marcado pela manutenção das estruturas da
cooperativa em boas condições de funcionamento, com a aplicação de recursos para dar
a seu quadro de associados as condições para que continuasse na propriedade
produzindo.
Em 2000, a COPAGRIL elaborou o projeto “Repensando a COPAGRIL”, que
teve como objetivo revitalizar o desenvolvimento da empresa. No ano de 2001, aprovou
o novo estatuto em que foi extinto o cargo de diretor-secretário, passando a empresa a
ser administrada pelo diretor-presidente e pelo diretor vice-presidente. Ainda em 2001,
inaugurou a loja de vendas de insumos em Quatro Pontes e Mal. Cdo. Rondon e efetuou
também a venda da frota de caminhões da TRANSCOPAGRIL.
Entre as principais atividades desenvolvidas pela COPAGRIL, em 2002, está à
venda dos supermercados de Guairá e Margarida/Mal. Cdo. Rondon, reinauguração da
loja agropecuária de Mercedes e inicio das atividades de instalação do frigorífico de
aves.
No ano de 2003, a COPAGRIL inaugurou a unidade de recebimento de
Eldorado no Estado de Mato Grosso do Sul. Reestruturou os núcleos cooperativos,
47
passando de 33 para 16 núcleos, adquiriu áreas de terras para instalação da unidade de
recebimento de cereais em Itaquiraí e Iguatemi-MS. A cooperativa também adquiriu
uma área de terra em São Roque e Margarida (Mal. Cdo. Rondon), para
reflorestamento.
As principais atividades desenvolvidas pela COPAGRIL no ano de 2004 foram
as seguintes: implantação do sistema de cargos e salários, aquisição de terrenos para a
construção da fábrica de rações em Entre Rios do Oeste, aquisição de comercial Stein
também de Entre Rios do Oeste para armazenamento de milho para a fábrica de rações,
inicio da publicação mensal da revista COPAGRIL, constituição da equipe de futsal e
constituição do coral.
No ano de 2005, a COPAGRIL inaugurou a unidade industrial de aves. Para a
construção do frigorífico de aves foram utilizados R$ 50 milhões de reais de
financiamento alocados no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social) e BRDE (Banco Regional de Desenvolvimento Econômico), além de recursos
próprios. Na figura a seguir (foto 03) verifica-se a unidade industrial de aves.
Foto 03: Unidade Industrial de Aves Fonte: http: www.copagril.com.br
Após a construção da unidade industrial de aves, a COPAGRIL também
construiu uma fábrica de rações para frango. A fábrica está localizada no município de
Entre Rios do Oeste. A foto a seguir (foto 04) mostra a fábrica de rações.
48
Foto 04: Fábrica de rações. Entre Rios do Oeste Fonte: http: www.copagril.com.br
Esta fábrica é especializada em rações para frangos de corte e conta com uma
área de 45.000m². Ela representa um dos investimentos da cooperativa em inovações
tecnológicas. A produção de ração serve para alimentação dos frangos dos aviários.
A produção de frango da COPAGRIL é industrializada pela unidade de aves e a
carne é destinada ao abastecimento do mercado brasileiro e também exportada para
diversos países asiáticos e, principalmente, os países que integram a União Europeia.
A capacidade de abate da unidade é de 160 mil aves por dia. O quadro a seguir,
mostra a evolução das atividades da unidade industrial de aves.
Quadro 01: Evolução das atividades da UIA (Unidade industrial de aves)
2005 2006 Evolução Quadro de empregados 945 pessoas 1.150 pessoas 21,69% Abate diário 85.000 frangos 90.000 frangos 5,88% Aves Abatidas 7, 6 milhões 15,3 milhões 101, 32% Total produzido 16.000 toneladas 34.255 toneladas 114,09% Total exportado 1.300 toneladas 7.800 toneladas 500,00%
Até dezembro Até novembro Fonte: Revista Copagril, 2006.
O gráfico a seguir (gráfico 01) mostra a evolução da comercialização do
mercado interno e externo no período de 2005 a 2009.
49
Gráfico 01: Comercialização Mercado Interno e Externo
Fonte: Comercialização U.I. A/ http:www.copagril.com.br
Observa-se no gráfico 01, que a maior parte da produção de frangos da
COPAGRIL no inicio em 2005, era destinada ao mercado interno. A partir, do ano de
2006, houve um aumento do volume das exportações. O gráfico a seguir (gráfico 02)
mostra o faturamento da cooperativa, resultado do comércio internacional em 2007.
Gráfico 02: Faturamento Mercado Externo (2007)
Fonte: http: www.copagril.com.br
Observa-se no gráfico 02, que a avicultura está ligada ao mercado mundial,
sendo que 51,07% do faturamento da COPAGRIL com o mercado externo é resultante
do comércio com o continente europeu.
50
O quadro a seguir (quadro 02) mostra os principais destinos da comercialização
de exportação de frangos da Copagril.
Quadro 02: Exportação de frangos (2009)
DESTINO % VENDAS POR DESTINO Japão 42,93%
Europa 25,03% Hong Kong 23,82%
Oriente Médio 4,74% Outros 3,48%
Fonte: Comercialização U.I. A, 2009.
Com a implantação da avicultura, a COPAGRIL, antes denominada Cooperativa
Agrícola Mista Rondon, passou a ser Cooperativa Agroindustrial COPAGRIL. Silva
(1996), explica que o “complexo agroindustrial” é a unidade entre agricultura e
indústria. Nesta unificação, a indústria passa a comandar praticamente todo o processo
produtivo. A terra vai perdendo sua importância central como fator de produção e a
renda que ela proporciona deixa de se constituir na principal forma de acumulação de
capital na agricultura (agroindústria).
Müller (1989), entende que o complexo agroindustrial (CAI) é uma unidade de
vários processos socioeconômicos como beneficiamento, produção agrícola,
transformação, entre outras.
Em síntese, o CAI é uma unidade de análise do processo socioeconômico que envolve a geração de produtos agrícolas, o beneficiamento e sua transformação, a produção de bens industriais para a agricultura, os serviços financeiros, técnicos e comerciais correspondentes, e os grupos sociais (MÜLLER, 1989, p.46).
Nesta perspectiva, a avicultura constitui-se numa atividade agroindustrial.
Entretanto, há outras interpretações desta produção que não a consideram como
atividade agroindustrial, como é a de Oliveira (2003).
O fato do modo industrial de produzir, avançar suas bases na agricultura não significa que a terra transforme-se automaticamente em capital (...) Trata-se de uma relação entre terra e capital, agricultura e indústria, na qual a presença de produtos de origem industrial aumenta, e com eles a presença de produtos agropecuários. É preciso deixar claro que não estamos diante de um processo produtivo em que automatizou totalmente o processo exclusivamente industrial. Um aviário não pode ser construído em qualquer lugar, independentemente como aconteceu com a atividade industrial. Portanto, estamos diante de uma atividade agropecuária que incorporou o modo industrial de produzir e por isso adquire características novas e imprime interpretações igualmente novas. (OLIVEIRA, 2003 apud Mizusaki, 2003, p.347).
51
Verifica-se em Oliveira (2003), que a avicultura incorporou o modo industrial de
produzir, mas nem por isso um aviário transforma o campo em uma extensão da
indústria. Assim, a avicultura merece novas interpretações e o Complexo Agroindustrial
não é a única forma possível de compreender a expansão do capitalismo no campo.
Embora denominada agroindustrial, a COPAGRIL não é uma agroindústria. A
avicultura não transforma a terra em capital, pois a terra é um recurso natural finito, não
é produto do trabalho. A atividade avícola é uma atividade agrária, embora apresente
características industriais. Portanto, a atividade avícola não transforma o campo em
indústria.
Segundo Martins (1981), mesmo que o camponês trabalhe com a avicultura que
é uma atividade voltada para o mercado interno e externo, a produção do capital não é
capitalista, ou seja, não é produto de relações capitalistas de produção. Só a reprodução
é capitalista.
A COPAGRIL é uma empresa que dentro do capitalismo necessita crescer para
enfrentar a concorrência do mercado. A cooperativa e os camponeses possuem
interesses opostos: enquanto a cooperativa se pauta na produção capitalista ampliada, os
camponeses visualizam o atendimento ás suas necessidades com a avicultura e a
manutenção na sua terra de trabalho.
A construção da unidade industrial de aves proporcionou a intensificação do
capitalismo no campo. Mas, isso não é sinônimo de que as relações não-capitalistas
foram eliminadas, pois o capitalismo para dar continuidade (expansão) ao processo de
acumulação ampliada, utiliza-se, contraditória e desigualmente, dessas relações não-
capitalistas.
A avicultura estimulada pela COPAGRIL não recorre apenas a relações não-
capitalistas. Também utiliza-se de estratégias capitalistas, como estimular uma
competitividade entre os avicultores, para que eles entrem em “disputa” entre si e,
consequentemente, produzam mais, gerando maiores rendas para a cooperativa.Uma
das formas encontradas pela cooperativa de estimular a competitividade entre os
avicultores foi a publicação mensal da revista COPAGRIL.
A revista COPAGRIL pode ser considerada uma das estratégias utilizadas pela
cooperativa para que ocorra a sua expansão. O quadro a seguir (quadro 03) mostra o
custo de implantação dos aviários e também a receita líquida anual que a atividade
proporciona.
52
Quadro 03: Custo de implantação de aviários
Fonte: Copagril. 2005.
No quadro apresentado anteriormente (quadros 03), é possível verificar que, por
exemplo, um aviário de 130m x14 permite uma receita liquida anual de
aproximadamente R$ 30.293,73, em uma área de 6,01 alqueires.
A dominação da pequena propriedade pela empresas capitalistas dedicadas à
avicultura ocorre por meio do financiamento que o avicultor faz no banco. Entre os
avicultores entrevistados, foram encontrados camponeses que possuem financiamento
de cinco anos e outros de oito. A diferença entre fazer o financiamento de 5 ou 8 anos
explica-se pelo fato de que os avicultores que tem financiamento de 5 anos foram os
que investiram no aviário quando a Copagril começou a atuar na avicultura. Devido a
reivindicações, o prazo passou para oito anos de financiamento. O valor do
financiamento é de R$ 150.000,00 e cada parcela corresponde a R$ 23.000,00. O
pagamento das parcelas é feito ao SICREDI (Sistema. de Crédito Cooperativo) e Banco
do Brasil, semestralmente. O gráfico a seguir (gráfico o3), mostra o tempo de duração
do financiamento feito avicultores da COPAGRIL.
Tamanho Custo Total do aviário Custo em Alqueire Receita Líquida/ano
130m x14m R$186.457,74 6,01 R$ 30.923,73
100m x 14m R$ 156.603,64 5,05 R$ 22.917,78
75m x 14m Automático R$ 116.392,46 3,75 R$ 16.971,85
75m x 14m manual R$ 105.875,74 3,41 R$ 17.236,40
50m x 14m automático R$ 90.724,67 2,93 R$ 11.414, 43
50M x 14m manual R$ 69.442,62 2,24 R$ 11.786, 46.
53
52%48% 5 anos
8 anos
Gráfico 03: Financiamento para construção de aviários da COPAGRIL
Fonte: pesquisa de campo, novembro de 2008.
Ao serem questionados se o investimento na avicultura justifica o alto valor do
financiamento, os avicultores destacaram que mesmo que o financiamento seja de oito
anos, esse tempo não é suficiente para quitar o aviário, pois há necessidade de aquisição
de novos equipamentos.
Não, você não paga o aviário tudo em oito anos, não terminou de pagar e ainda tem que fazer reforma novos equipamentos, mudanças no aviário, por isso precisa ter outras atividades na propriedade. (H.E, novembro de 2008).
O depoimento deixa claro que o financiamento é usado para manter o avicultor
sempre “amarrado” à cooperativa e ao capital industrial e financeiro. Como a estrutura
do aviário exige mudanças tecnológicas, com o decorrer do tempo, dificilmente o
avicultor ficará livre da subordinação ao sistema financeiro.
A COPAGRIL atua na avicultura em 09 municípios do Oeste do Paraná.
Conforme dados obtidos da cooperativa em abril de 2009, no município de Marechal
Cândido Rondon há 93 produtores e 112 aviários; Quatro Pontes, 8 produtores e 11
aviários; Mercedes, 23 produtores e 29 aviários; Entre Rios do Oeste, 13 produtores e
15 aviários; Pato Bragado, 22 produtores e 34 aviários; Santa Helena, 30 produtores e
38 aviários; Toledo 16 produtores e 26 aviários; São José das Palmeiras, 3 produtores e
5 aviários e Nova Santa Rosa, 7 produtores e 9 aviários
O mapa a seguir (mapa 04), mostra a área de atuação da Copagril no Oeste do
Paraná.
54
Mapa 04: Área de atuação da COPAGRIL na avicultura
O aumento da renda para os avicultores depende da construção de um maior
número de aviários. O gráfico a seguir (gráfico 4) mostra a quantidade de aviários para
cada avicultor vinculados à Copagril.
66%
30%
4%
1 aviário
2 aviário
3 aviário
Gráfico 04: Quantidade de aviário por avicultor (%)
Fonte: pesquisa de campo, novembro de 2008.
55
Observa-se no gráfico 04, que a maioria 66% tem apenas um aviário; 30%
possuem dois aviários e apenas 4% dos avicultores dispõem de três granjas na
propriedade. Verificou-se que os avicultores pretendem ampliar a sua produção,
principalmente os que possuem apenas um aviário. Mas, ainda não investiram na
construção de mais aviários porque preferem priorizar o pagamento das parcelas do
financiamento do primeiro aviário, aliás, pagamento das parcelas do empréstimo feito
no banco SICREDI e Banco do Brasil para a construção do aviário.
A avicultura, implantada pela COPAGRIL, acabou criando uma espécie de
competitividade entre os agricultores do município. Esse fato foi observado na pesquisa
de campo em que os agricultores demonstraram interesse em saber quais os próximos
agricultores a ser entrevistado, inclusive sabiam se eles estavam produzindo “bem” ou
“mal”, principalmente por meio das edições da Revista COPAGRIL.
Uma das formas de difundir a competitividade são dois prêmios oferecidos pela
COPAGRIL: o primeiro de “melhor produtor” do ano e outro de “qualidade total” no
qual a propriedade é avaliada. Além disso, o nome dos melhores avicultores do mês é
divulgado na Revista COPAGRIL. Dentre os avicultores entrevistados 78% deles não
lêem à revista COPAGRIL. Mas 95%, dos avicultores consultam o quadro com o
ranking dos melhores produtores do mês. (anexo II).
O prêmio “qualidade total” da COPAGRIL faz parte do PQT (“Programa
Qualidade Total da COPAGRIL”). Foi implantado, em 2004, com base no programa 5S
(Senso de Organização, Ordenação, Limpeza, Padronização e Autodisciplina).
A competitividade é uma das estratégias de dominação da empresas avícolas,
conforme destaca Tedesco (1994)
A prática produtiva integrada expressa-se numa dinâmica oscilante: em momentos há ganhos; em outros há perdas. Os prêmios, as festas, os descontos, os desligamentos, as punições os lotes destaques fazem parte de um todo complexo (“campo de forças”, diria Bourdieu) que abre, fecha, define espaços, atrela, incorpora, socializa, regulariza e insere simbolicamente o organismo individual ao coletivo. Esse complexo de regras, criados por mecanismos institucionalizados, contém em si o principio de sua legitimação, pois, pela suposição da objetividade e impessoalidade bloqueiam e dispensam a promoção de relações sociais transparentes. A empresa tenta de todas as formas estabelecer ordens, consistências para as práticas. (TEDESCO, 1994, p.123).
A competitividade é utilizada pela empresas para que os camponeses concorram
entre si, e assim, sejam maiores produtores para as cooperativas. Mas, os camponeses
56
também buscam as empresas as quais serão subordinados, assim “escolhendo” a
empresa que melhor atenda as suas necessidades.
Na pesquisa de campo foi verificado a “fuga” de camponeses da Sadia para a
COPAGRIL, sendo que 65% dos avicultores entrevistados antes de se associarem a
COPAGRIL eram integrados da Sadia.
Os motivos alegados para se associarem à COPAGRIL foram o enfrentamento
de problemas com a Sadia tais como a distância da empresa (no caso dos avicultores de
Marechal Cândido Rondon), e também demora no atendimento quando era preciso
deslocar-se até a sede da empresa. Os comentários dos avicultores, a seguir, destacam os
principais motivos pelos quais os camponeses deixaram a Sadia.
Eu fui vinte anos integrados da Sadia, mas nos últimos lotes tava dando muito problema e prejuízo, aí quando soube que a Copagril ia começar com frangos eu sai da SADIA e me associei na Copagril, por causa da integração dos frangos. (D.L, novembro de 2008). Eu era integrado da Sadia, mais aí qualquer problema eu tinha que ir pra Toledo, lá “eles” nunca atendiam a gente, e demorava muito pra trazer os lotes e a ração, e os frangos se não cuida, o lote dá muito prejuízo.... Faz 03 anos que sou integrado da Copagril, é melhor a cooperativa é mais perto. (P.B, novembro de 2008)
Conforme se verifica nos comentários dos camponeses, uma das vantagens da
COPAGRIL é o atendimento, pois consideram importante o contato pessoal existente na
relação do avicultor com a cooperativa.
Mas, embora tenha destacado a importância deste contato pessoal, existente no
caso da cooperativa, o associado da COPAGRIL, muitas vezes, trata a cooperativa
como qualquer empresa. Geralmente, o associado acaba transformando-se em um
cliente dos serviços da cooperativa e assumindo uma postura passiva diante da mesma.
Por isso, a pequena participação dos avicultores nas assembléias, conforme destaca o
gráfico 05.
57
4%
96%
Sim
Não
Gráfico 05: Participação dos avicultores nas assembléias da COPAGRIL
Fonte: pesquisa de campo, novembro de 2008.
Observando o gráfico 05 ainda, é possível verificar que apenas 4% dos
associados entrevistados participam das assembléias da cooperativa. Os 96% dos
avicultores que não participam das assembléias destacaram os seguintes motivos: a falta
de tempo, não há necessidade, e ainda o fato de na assembleia o poder estar centralizado
nas mãos de alguns associados e diretoria, como deixa evidente o comentário do
avicultor a seguir:
“No discurso, todo mundo é dono da cooperativa. Mas na verdade não é assim não. Eu não vou mais à assembleia... ideia a gente até da, uma vez sugeri que precisava de mais técnico, to esperando até hoje” (E.L, novembro de 2008).
Não há interesse pela participação, pelas discussões, até porque elas não são
muito abertas aos camponeses. Seu interesse é mais pragmático e está vinculado aos
rendimentos, ganhos, e outras.. No cooperativismo empresarial, o associado, muitas
vezes, acaba assumindo uma posição passiva diante da cooperativa. Os camponeses
visualizam sua associação na cooperativa como uma obrigação para fazer investimento
na avicultura.
A associação à COPAGRIL é um requisito necessário para instalação de aviário
e investimento na atividade avícola. Esta associação é feita como uma obrigação e não
uma adesão em que o filiado possui compreensão de cooperativismo. O gráfico a seguir,
(gráfico 06) mostra o período de associação à cooperativa dos avicultores entrevistados.
58
8% 10%17%
65%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
1970-1980 1980-1990 1990-2000 2000-2008
Gráfico 06: Período de associação à cooperativa dos avicultores entrevistados Fonte: pesquisa de campo, novembro de 2008.
Conforme o gráfico anterior (gráfico 06), é possível observar também que dentre
os avicultores entrevistados, 65% associaram-se na cooperativa no período de 2000 a
2008. Foi neste período, que a COPAGRIL inaugurou a unidade industrial de aves.
Logo, esse número maior de associados está ligado à atividade avícola.
Outra questão observada na pesquisa de campo é a visão que os avicultores têm
da COPAGRIL sendo que 35% acreditam que ser associado da cooperativa é melhor do
que ter vínculo com outras empresas da região. Dos 65% que se associaram no ano de
2005, o fizeram por causa da avicultura.
Na pesquisa de campo, uma informação que chamou a atenção foi o tamanho
das propriedades onde estão instalados os aviários, pois as empresas utilizam o tamanho
da propriedade como critério de seleção dos avicultores.
O quadro a seguir (quadro 04), mostra o tamanho das propriedades dos
avicultores.
Quadro 4: Tamanho da propriedade dos avicultores Avicultores Hectares 43% 06-10 30% 10-20 19 20-30 8% 30-40
Fonte: pesquisa de campo, novembro de 2008.
59
De acordo com o quadro 05, a maioria dos aviários está constituída em
propriedades de até 10 hectares. A COPAGRIL não estabelece como critério a
dimensão da propriedade e aceita em seu quadro, pequenos proprietários de terra.
Enquanto isso, a cooperativa C. Vale e a empresa Sadia, por exemplo, têm como critério
para a integração avícola, a área da propriedade dos camponeses.
Os avicultores associaram-se à COPAGRIL porque outras empresas não
aceitaram filiação de proprietários com poucos hectares da terra. Procuraram a
COPAGRIL porque na atividade avícola, a cooperativa não utiliza como critério a área
de terra dos avicultores. Este é o caso do avicultor A. B.
Bem antes de me integrar na Copagril, eu fui ver em outras empresas como a Sadia e a C. Vale, mas eu só tenho seis hectares, então “eles” não quiseram... como eu não tenho dinheiro para comprar mais terra, fui na Copagril e a cooperativa aceitou faz três anos que sou associado da Copagril. (A.B, novembro de 2008).
Os camponeses avicultores não são associados somente a uma cooperativa. Este
é o caso do avicultor C. B do município de Toledo.
Eu sou associado da Coamo, pra Coamo eu entrego o milho e a soja, os frangos eu tenho com a Copagril. Integrei nos frangos com a Copagril, porque meu irmão integrou primeiro e como deu certo, resolvi que o frango ia ser com a Copagril (C.B, novembro de 2008).
A COPAGRIL solicita aos avicultores que priorizem a comercialização de todos
os produtos da propriedade com a cooperativa. Mas, os avicultores não têm atendido
esta solicitação, conforme verificou-se no depoimento a seguir:
A minha integração com a Copagril é o frango. Os outros produtos eu tenho direito de pesquisar em outras empresas. Primeiro vou ver o preço do milho e da soja, se o preço não tiver bom, entrego para a Copagril. (G.O, novembro de 2008).
Verifica-se no depoimento certa insatisfação com a postura da COPAGRIL em
solicitar de seus associados a comercialização de todos os produtos da propriedade com
a cooperativa.
O fato dos camponeses serem proprietários de terra não os transforma em
pequenos capitalistas, pois somente a condição de propriedade privada de terra não é
suficiente para que eles ascendam à condição de capitalistas, conforme destacado por
Moura (1986).
A noção de que o camponês traria imbuída a ideia de propriedade privada é às vezes usada como evidência de que estaria interessado na acumulação de bens para ascender à condição de capitalista, finalmente alcançada por
60
alguns. É preciso recordar que, do mesmo modo que o camponês quer ser proprietário de terra onde mora, o operário também quer ser proprietário da casa onde reside. Isso não quer dizer que pensem como capitalistas, ou o que é ainda mais difícil que almejem tornarem-se capitalistas. (MOURA, 1986, p.41).
A COPAGRIL subordina a agricultura camponesa, sobretudo, por meio do
vínculo com a indústria, nesse caso especifico, por meio da unidade industrial de aves.
A subordinação dos avicultores é verificada, sobretudo por meio do contrato de parceria
avícola (anexo II) firmado entre a cooperativa e o avicultor.
A cooperativa entende que a avicultura é uma forma de diversificar a
propriedade e com isso proporcionar uma nova possibilidade de renda para o agricultor.
No entanto, ao mesmo tempo em que “diversifica”, coloca uma série de proibições.
Nesse sentido, é interessante destacar a cláusula nona do contrato de parceria avícola
que impede a criação de aves domésticas com galinhas caipiras, patos, pombos, entre
outras.
“O CRIADOR não pode criar na propriedade onde está construído o aviário, aves silvestres ou domésticas de qualquer natureza, especialmente galinha caipira, ganso, pato, marreco, codorna, pombo, avestruz, pavão, peru, entre outros”. (Contrato de parceria avícola).
Se por um lado a COPAGRIL elimina características dos camponeses como a
proibição de criação de aves domésticas, não o faz por completo, pois, de outro, há
muitas práticas camponesas que são reproduzidas, como serão destacadas no capítulo
III.
Segundo Paulino (2006, p.121), “tomar a integração a partir de uma
contraposição simplista, pautada no pressuposto de que, se a mesma é vantajosa para a
empresa, obrigatoriamente os integrados só têm a perder, é um equívoco”. Sendo assim,
a avicultura foi uma das formas, encontradas pelos camponeses de se reproduzirem
enquanto camponeses proprietários.
Há autores que defendem que os camponeses não aceitam passivamente as
regras impostas pelas empresas capitalistas e cooperativas. Segundo Tedesco (2001,
p.143), “o fato de ser uma relação baseada em dívidas, investimentos e seleções não
significa que o integrado aceite passivamente a situação, ele se contrapõe, mesmo no
seu pequeno universo organizativo”.
A avicultura, embora seja uma atividade agrária, apresenta características
industriais. Mas a produção de frangos não pode ser considerada como se o capital
tivesse instalado uma fábrica no campo. O camponês, por meio da avicultura, agora
61
necessita seguir datas, prazos e cronogramas para que a atividade seja realizada com
eficiência. Assim, o avicultor possui uma ficha de controle, em que coloca os dados
referentes à mortalidade e peso dos frangos. A foto a seguir (foto 05), mostra a ficha de
controle de produção de frangos dos avicultores.
Foto 05: Ficha de controle de aviário da COPAGRIL
Autora, novembro de 2008.
A avicultura também é evidência do meio técnico-científico-informacional no
campo. Com relação à ciência, técnica e informação, Santos (1997), destaca o seguinte:
O meio técnico-científico-informacional é a nova cara do espaço e do tempo. É aí que se instalam as atividades hegemônicas, aquelas que têm relações mais longínquas e participam do comércio internacional, fazendo com que determinados lugares se tornem mundiais. (SANTOS, 1997, p.45).
Segundo Santos (2000), a agricultura, em função do mercado global a que está
inserida, é uma atividade, dominada pelos meios técnico-científico-informacionais, e
por isso segue uma determinação de datas, cronogramas, formas de fazer. É uma
produção inteiramente programada.
[...] O campo permite uma subordinação maior ao capital do que a cidade, que ao contrário, se opõe a difusão mais rápida e fácil do processo
62
globalitário. [...]. A empresa científica estabelece cadências extremamente inflexíveis ao trabalho agrícola. No campo moderno, hoje, ou você obedece ou não pode continuar. (SANTOS, 2000, p.55).
Ao tratar das relações estabelecidas entre a cooperativa e os camponeses é
preciso atentar para as mudanças, ocorridas nas pequenas propriedades. As mudanças,
ligadas ao meio técnico-científico, ocorrem de maneira desigual e contraditória.
Uma das mudanças mais significativas relacionadas ao aviário é a “perda da
liberdade” das pessoas, pois a avicultura altera o cotidiano da família porque sempre
deve ter alguém na propriedade para cuidar do aviário. Apesar da avicultura não ser
uma atividade que exige muito esforço físico e o aviário ser semi-climatizado, o
agricultor sempre tem que ficar atento a qualquer alteração brusca na temperatura, e
regular no painel de controle, que é um equipamento que marca a temperatura interna
do aviário.
Além da preocupação com a temperatura, há um cuidado com a queda da
energia elétrica, porque sua falta pode comprometer o funcionamento dos
equipamentos, causando a mortalidade dos frangos. Por isso, o ritmo de produção do
aviário exerce uma pressão sobre o avicultor, inclusive psicológica.
A foto a seguir (foto 06), mostra o equipamento que marca a temperatura interna
do aviário.
Foto 06: Equipamento moderno para controlar a temperatura do aviário
Autora, novembro de 2008.
63
É possível apreender, a partir da foto 06, que a atividade avícola é regulada pelo
tempo do capital, em que o avicultor precisa seguir horário e cronogramas para que a
produção de frangos seja rentável. Assim, os camponeses, na maioria das vezes,
precisam levantar de madrugada para observar o aviário. A preocupação com o controle
do tempo, temperatura e alimentação das aves faz da avicultura uma atividade
semelhante à produção industrial. A foto a seguir (foto 07), mostra a vista interna do
aviário.
Foto 07: Vista interna do aviário
Autora, novembro de 2008.
A regulação do tempo da produção camponesa segue a ordem capitalista
industrial deixa evidente a subordinação do trabalho camponês ao capital. A princípio,
poder-se-ia afirmar que a avicultura é “totalmente” capitalista, pois é uma atividade que
subordina a produção camponesa (trabalho e renda da terra) ao capital. É possível
afirmar que na avicultura “não é o tempo da primeira natureza quem dita o ritmo do
trabalho, mas o do frango reproduzido conforme o ritmo imposto pela tecnologia.”
(Misuzaki, 2003,).
Na avicultura, também surge novas figuras que são os técnicos, no caso os
veterinários da COPAGRIL Os camponeses somente recebem assistência técnica na
atividade avícola. Embora os técnicos representem o saber da ciência, em substituição
ao saber dos camponeses, nos dois municípios pesquisados verificou-se que a relação
entre camponês e técnico é estritamente profissional.
64
Segundo Tedesco (1994), para os camponeses integrados, a função do técnico
vai além das inovações tecnológicas porque a lógica do capital é o lucro. Para
materializar-se o capital precisa institucionalizar-se ao máximo o poder de controle
sobre o processo de trabalho.
O saber técnico expresso pelo agente da empresa sobrepõe-se ao empírico. É o simbólico cultural que expressa uma dimensão que se fundamenta em matérias formadas, repartidas, dotadas de uma segmentaridade rígida, conceituada como qualificada, que vai além da simples objetividade empírica. Dentro desse modelo, o especialista (o técnico envolto no saber científico) é quem fornece os meios “racionais” de agir. O técnico cria relações de difícil rompimento. É um ser em ato que liga, umbilicalmente, e que fortalece uma relação entre capital e trabalho. (TEDESCO, 1994, p.123-124).
Para os avicultores, o técnico é mais um fiscal de suas atividades do que,
necessariamente, alguém que orienta a produção, respeitando seu tempo e
conhecimentos acumulados secularmente, até porque o tempo do capital é diferente do
tempo do camponês. Embora exista dependência da assistência técnica da COPAGRIL,
muitas vezes, quando a assistência técnica demora a chegar e há casos de problemas no
aviário, recorrem a ajuda de vizinhos que também tem aviário na propriedade.
Os avicultores, vinculados à COPAGRIL não estão mobilizados em sindicatos
ou associações; nem ao mesmo tentam lutar pelo cooperativismo dentro da cooperativa.
A preocupação dos avicultores está, sobretudo, em continuar trabalhando no campo, e a
inserção maior na dinâmica capitalista por meio da avicultura foi uma das formas
encontradas pelos camponeses para permanecerem na terra de trabalho.
Sobre as estratégias de existência camponesa será tratado no próximo capítulo
(III).
66
III - A EXISTÊNCIA CAMPONESA E AVICULTURA
3.1 Campesinato, avicultura e território
A atividade avícola realiza-se desigual e contrariamente porque no seu interior
se reproduzem relações não-capitalistas, como a mão-de-obra familiar e a produção de
subsistência.
Por meio da pesquisa de campo foi possível adentrar no universo do camponês e
analisar as relações, estabelecidas dentro e fora da propriedade; as relações que os
camponeses estabelecem entre si e também com o meio externo. O trabalho permitiu
observar, ainda, as especificidades da produção camponesa, a reprodução de relações
não capitalistas e avaliar as estratégias de existência camponesa dos avicultores,
vinculados à COPAGRIL..
Assim, a pesquisa permitiu observar situações distintas e semelhantes em cada
propriedade, nos municípios pesquisados, pois embora os camponeses sejam
proprietários de terra e trabalhem com a avicultura, cada propriedade tem suas próprias
especificidades.
A figura a seguir (figura 02), mostra a localização aproximada das propriedades,
pesquisadas no município de Marechal Cândido Rondon, e a figura posterior (figura
03), mostra a localização aproximada das propriedades do município de Toledo.
67
Figura 02: Localização aproximada das propriedades pesquisadas do município de Marechal Cândido Rondon
68
Figura 03: Localização aproximada das propriedades pesquisadas do município de Toledo
A pesquisa de campo também permitiu verificar a subordinação da agricultura
camponesa e a dominação capitalista na produção avícola. Entretanto, há a produção de
subsistência, por exemplo, em que são os camponeses que controlam o tempo da
produção desta atividade. A produção de subsistência na atividade avícola não é um
resquício do passado e revela a dimensão não-capitalista da pequena propriedade. Esta
produção de subsistência é essencial para a garantia da existência camponesa,
contribuindo para que eles permaneçam na terra.
69
Para Garcia Jr (1983), a subsistência é muito mais do que apenas subsistir.
Subsistência, para o autor, é tudo aquilo que é socialmente necessário para a reprodução
tanto física, quanto social, do trabalhador e de sua família.
Subsistência, aqui tenta voltar à acepção clássica, sobretudo em Marx e Ricardo, isto é, aquilo que é socialmente necessário para a reprodução física e social do trabalhador e de sua família. Subsistência não é, portanto, um dado um mínimo abaixo do qual a existência física não seria possível, mas uma categoria social que permite estabelecer padrões e normas de reprodução que são socialmente aceitáveis. (GARCIA JUNIOR, 1983, p.16).
No campo camponês, muitas atividades estão voltadas para a subsistência da
família, inclusive a avicultura, embora essa seja a atividade que mais serve ao comércio
e à acumulação de capital da cooperativa. A maior parte da produção de subsistência é
composta pela produção que é voltada para o autoconsumo alimentar.
A horta é parte da produção de subsistência, encontrada na propriedade
camponesa que não foi destruída pela avicultura moderna. Na horta, destaca-se o cultivo
de verduras, temperos e legumes. O quadro a seguir (quadro 05), mostra os principais
produtos cultivados na horta dos camponeses avicultores.
Quadro 05: Cultivo de temperos, verduras e legumes pelos camponeses avicultores Produto Avicultores Beterraba 96% Alface 96% Abobrinha 96% Chicória 96% Rúcula 96% Repolho 96% Cebolinha 96% Alho 96% Salsinha 96% Cebola 96% Quiabo 96% Couve 65% Sálvia 17%
Fonte: pesquisa de campo, novembro de 2008.
A produção de subsistência torna os camponeses avicultores menos dependentes
do mercado. O comentário da camponesa a seguir, demonstra a relevância dessa
produção para sua existência.
“Aprendi com os meus pais, se o colono quer ficar na roça, o segredo é plantar para consumo, pois assim não precisa comprar quase nada de alimentos no mercado, porque tem de tudo na propriedade”. (M.S, novembro de 2008).
70
É possível verificar que a camponesa atribui importante papel aos produtos
cultivados para autoconsumo. É essa produção que garante parte dos alimentos sem
necessidade de adquirir no mercado.
Existe também na propriedade camponesa a troca de produtos da horta. Nessas
relações de troca, o capital não está presente e os camponeses, ao trocarem produtos,
não estão norteados por interesses mercadológicos e de acumulação. Mas, ao mesmo
tempo em que o capital não está presente nestas trocas entre camponeses, eles podem
destinar o dinheiro que seria para comprar alimentos à produção avícola.
A foto 08 mostra o cultivo de couve, encontrada na horta dos camponeses.
Foto 08: Cultivo de couve Autora, novembro de 2008.
Além do cultivo de verduras, há também o cultivo de ervas, utilizadas no
consumo familiar e que, geralmente estão, a cargo das mulheres camponesas. O quadro
a seguir (quadro 06), mostra as ervas que são cultivadas na pequena propriedade.
Quadro 06: Cultivo de ervas pelos camponeses para autoconsumo Produto Avicultores Erva Cidreira 83% Hortelã 43% Alecrim 30% Manjericão 26% Anador 26% Alfavaca 21% Alfazema 21%
71
Sálvia 17% Cânfora 8% Ginsen 8% Losna 8% Pulmonária 8% Manjerona 5% Tomilho 4% Pronto Alivio 4%
Fonte: pesquisa de campo, novembro de 2008.
Os chás são usados quase que diariamente, principalmente como refresco ou
para tratar alguns problemas de saúde dos membros da família. Os mais utilizados são
aqueles destinados às dores de cabeça. A produção de chás é uma produção, voltada
para o consumo familiar que não tem como objetivo obtenção de renda.
Parte da alimentação dos avicultores é composta por frutas, também considerada
parte da produção de subsistência. As frutas são consumidas in natura ou como suco,
além de ser utilizadas também para bolos e tortas. O quadro 07 indica as frutas que são
produzidas pelos camponeses para o autoconsumo.
Quadro 07: Produção de frutas para autoconsumo Produto Avicultores Bergamota 96% Pêssego 86% Laranja 86% Tomate 85% Banana 78% Manga 65% Jabuticaba 60% Ameixa 56% Pitanga 52% Limão 52% Uva 43% Moranguinho 21% Cereja 21% Ameixinha 18% Lima 8% Figo 8%
Fonte: pesquisa de campo, novembro de 2008.
A foto a seguir (foto 09), mostra também o cultivo de uva em uma propriedade
camponesa.
72
Foto 09: Uva para autoconsumo
Autora, novembro de 2008.
A uva é consumida in natura ou na forma de suco, sendo a produção, voltada
basicamente, para o consumo familiar.
Além dos chás, verduras e frutas na propriedade camponesa, como garantia de
alimento, há também a carne, ou seja, animais que são criados para servir de alimento
pela família camponesa. Os avicultores citaram os seguintes animais: gado bovino,
ovelhas, bezerro e suínos. A foto a seguir (foto 10), mostra a criação de suínos
destinados ao consumo familiar.
73
Foto 10: Criação de suínos Autora, novembro de 2008.
Diferentemente das granjas modernas de aves, esta produção de suínos não é em
escala e controlada pelo tempo industrial do acúmulo capitalista. É uma produção
artesanal no interior da produção moderna avícola.
A produção de leite também é importante entre os avicultores, vinculados à
COPAGRIL, pois praticamente 100% criam animais com objetivo de produzir leite. Do
total de produtores de leite, cerca de 34% destinam uma parte da produção (99%) para o
comércio. A outra parte dos avicultores que produzem leite (66%), o faz quase que
exclusivamente para atender as necessidades de consumo da família, pois uma pequena
parte dos avicultores (10%), produz queijo e outros derivados que eventualmente são
comercializados. É possível observar a criação de vacas para a produção de leite na foto
a seguir (foto 11).
74
Foto 11: Criação de vacas para produção de leite Autora, novembro de 2008.
A produção de subsistência adquire certa “funcionalidade”, pois serve ao capital,
que se utiliza de relações não-capitalistas para a sua reprodução ampliada. Mas essa
mesma produção serve para o camponês permanecer na terra. Aí verifica-se o caráter
contraditório da expansão do capital no campo. É essa contradição, combinada da
produção de subsistência que caracteriza o contraditório e desigual “desenvolvimento”
do capital.
Garcia Junior (1983), afirma que os cultivos sejam eles “cultivos comerciais” ou
“cultivos de subsistência”, estão voltados para a reprodução da família. Assim, a
produção para o mercado, pode ser considerada como fazendo parte da produção de
subsistência, pois ela é destinada ao atendimento das necessidades dos camponeses. A
produção destinada ao autoconsumo pode ser considerada como uma das mais
importantes estratégias de reprodução camponesa.
Ambos os cultivos tanto o de subsistência, quanto os comerciais fornecem o necessário ao consumo familiar. Os cultivos de subsistência podem fornecê-lo diretamente ou passando por sua realização valor. Os “cultivos comerciais” fornecem a renda monetária necessária para que se adquira bens necessários de que não se é produtor. Cobrem, portanto, ou podem cobrir, esferas diferentes de consumo familiar socialmente necessário. O lugar que ocupa a categoria “mercado” num caso e no outro é diferente, seu significado, varia, mas em ambos os casos há uma só lógica: possibilita o atendimento necessário ao consumo doméstico e a reprodução das condições sociais de produção. (GARCIA JUNIOR, 1983, P.16).
75
A presença e manutenção da produção para autoconsumo significam que a
avicultura de corte não elimina por completo outras atividades não-capitalistas
desenvolvidas na unidade produtiva, o que garante, em parte, a autonomia camponesa.
Autonomia é garantida, em grande parte, por causa do trabalho da mulher.
Existe importante relação entre a produção de subsistência e gênero no campo,
ou seja, há uma divisão sexual do trabalho bem acentuada na propriedade camponesa,
diferentemente da divisão do trabalho na produção industrial. Inclusive, no momento de
aplicação do questionário, as questões referentes ao autoconsumo foram respondidas
pela mulher e a parte referente ao aviário coube ao homem responder.
A mulher possui relevante papel na produção de subsistência o que contribui
para a permanência da família no campo.
65%
22%
13%
Mulher
Homem/Mulher/Crianças
Homem
Gráfico 07: Divisão do trabalho na produção de hortaliças
Fonte: pesquisa de campo, novembro de 2008.
Conforme o gráfico 07, é possível constatar que a maior parte das mulheres,
65% , trabalha sozinha na horta. Já em 22%, tanto o homen quanto a mulher e crianças
trabalham na horta. Em apenas 13%, o homem é exclusivamente responsável pela horta.
São as condições de trabalho no campo que motivam a divisão sexual do
trabalho entre homens e mulheres. Não se trata de uma escolha e sim do próprio modo
de como a unidade familiar está organizada que fazem com que os camponeses se
adaptem ao novo ritmo da atividade avícola. Isso implica uma maior dedicação da
mulher ao trabalho na produção de hortaliças e do homem ao trabalho no aviário.
76
Entretanto, quando é preciso, as mulheres e as crianças também trabalham na atividade
avícola.
Relacionada à produção de subsistência, também está a produção de alimentos
feitos em casa, embora os camponeses também adquiram certos produtos no mercado,
conforme exemplificado no quadro a seguir (quadro 08).
Quadro 08: Alimentos produzidos e comprados
Alimentos Produzidos (%) Comprados (%)
Carne Suína 100 0
Frango 100 0
Leite 100 0
Pão 97 3
Abobrinha 96 4
Alface 96 4
Alho 96 4
Bergamota 96 4
Beterraba 96 4
Cebola 96 4
Chicória 96 4
Quiabo 96 4
Repolho 96 4
Rúcula 96 4
Salsinha 96 4
Mandioca 95 5
Carne Bovina 91 9
Banha 86 14
Erva Cidreira 86 14
Pêssego 86 14
Queijo 86 14
Laranja 86 14
Banana 78 22
Nata 73 27
Couve-Manteiga 65 35
Manga 65 35
Jabuticaba 60 40
Manteiga 60 40
Pitanga 52 48
Limão 52 48
77
Alecrim 43 57
Anador 26 74
Manjericão 26 74
Uva 26 74
Alfavaca 21 79
Alfazema 21 79
Moranguinho 21 79
Ameixinha 18 82
Sálvia 17 83
Cânfora 13 92
Cereja 8 92
Ginsen 8 92
Lima 8 92
Losna 8 92
Pulmonária 8 92
Manjerona 5 95
Feijão 4 96
Figo 4 96
Pronto Alívio 4 96
Tomiho 4 96
Feijão 4 96
Ovo 0 100
Café 0 100
Sal 0 100
Farinha de Trigo 0 100
Vinagre 0 100
Açúcar 0 100
Arroz 0 100
Macarrão 0 100
Fonte: pesquisa de campo, novembro de 2008.
Observa-se, no quadro 08, que grande parte da alimentação dos camponeses é
produzida por eles mesmos na sua pequena propriedade. No caso dos alimentos,
comprados no supermercado, verifica-se que são os produtos que dificilmente os
camponeses teriam na propriedade, com exceção de ovos e feijão. Os ovos, os
camponeses passaram a comprar após o investimento no aviário, devido à proibição da
criação de galinhas poedeiras caipiras.
78
Segundo Esterci (1984), a produção camponesa é destinada sempre a suprir as
necessidades do grupo doméstico. Mesmo os produtos que são destinados ao mercado,
têm como objetivo o atendimento da necessidade de consumo do grupo. Nesse sentido,
“distingue-se, pois, dos objetivos de lucro e acumulação capitalista, é como se o produto
do trabalho passasse pelo mercado apenas para transformar-se nos bens necessários e
não produzidos pelo grupo” (Esterci, 1984, p.37).
Mas, a produção de subsistência não é somente composta pela alimentação da
família camponesa. Outros produtos, não alimentares, também são considerados de
subsistência como a lenha, por exemplo, indicando outro componente da produção
camponesa não-capitalista.
A foto 12 mostra a lenha, utilizada para fins diversos na pequena propriedade,
mas principalmente para o aquecimento dos aviários que não é feito somente com
equipamentos modernos adquiridos da COPAGRIL.
Foto 12: Lenha utilizada no aquecedor do aviário Autora, novembro de 2008.
A lenha, utilizada pelos avicultores, é produzida em 96% das propriedades
pesquisadas, e destina-se à climatização (aquecimento) do aviário, principalmente no
período do inverno. Assim, verifica-se aqui também que o capital faz uso de relações
não-capitalistas. Mas faz isso desigual e contraditoriamente, pois a produção para o
79
consumo, como a lenha, por exemplo, acaba servindo para o desenvolvimento e
expansão das relações capitalistas.
Os motivos para investirem na atividade avícola, segundo os avicultores são a
obtenção de renda e de lucro da propriedade capitalista. O quadro a seguir (quadro 09),
mostra os principais motivos citados pelos avicultores entrevistados para investir na
atividade avícola.
Quadro 09: Principais motivos para investimento na avicultura
Fonte: pesquisa de campo, novembro de 2008.
A renda, citada por 96% dos entrevistados, foi um dos principais motivos para o
investimento na atividade avícola. Isso ocorreu. devido à incerteza gerada na produção de
soja e milho, sendo que a avicultura garante renda fixa a cada 60 dias.
O avicultor recebe sua renda a cada 60 dias e a mesma varia de acordo com o
peso que o frango conseguiu atingir durante o período de 47 dias. As despesas são
basicamente as seguintes: gás, energia elétrica, e “carregamento.”. O lote de frangos é
entregue para a cooperativa a cada 47 dias, considerando-se mais 13 dias de intervalo
até o recebimento do próximo lote de pintainhos.
Em 4% das propriedades. Pesquisadas. o investimento na avicultura foi
considerado para obtenção de lucro. Isso ocorre porque o avicultor entrevistado nunca
havia trabalhado na terra e recebeu a propriedade de herança dos pais e sempre tratou a
terra como um negócio, semelhante ao que destacou Martins (1981) ao tratar de terra de
negócio.
Este proprietário que não trabalha na propriedade. desenvolve a atividade
avícola contratando uma família no regime de parceria. Verificou-se esta condição em
uma única propriedade dentre as 23 visitadas, que, aliás, não possui racionalidade
camponesa, como ficou evidente no depoimento do avicultor.
Foi preciso investir em mais um aviário, porque só um aviário não dá lucro, pois acaba ficando tudo com o “peão” e com dois (aviário) é mais tranqüilo, sobra mais para mim e pro peão. O “peão” e a família dele têm de tudo na minha propriedade, casa, luz, água, e podem cultivar a roça e animais para sustento da família dele. (I.A, novembro de 2008).
Motivos
Avicultores
Renda 96%
Lucro da propriedade capitalista
4%
80
Enquanto que para o proprietário citado a avicultura significa a possibilidade de
lucro, para os outros proprietários é a forma encontrada pelos camponeses avicultores
de manterem-se na terra de trabalho, e assim, garantir a sobrevivência de sua família.
A partir destas informações, é possível verificar que dentre os avicultores, nem
todos são camponeses. Assim, a avicultura também é utilizada por pequenos capitalistas
que a utilizam não como um meio de garantir o atendimento de suas necessidades e sim
como uma forma de garantir lucros. Essa característica deixa evidente que nem todos os
avicultores são camponeses, mas possuem uma pequena participação na produção de
aves.
Outra evidência de relação não-capitalista, além daquelas já destacadas
anteriormente, é a mão-de-obra familiar encontrada nas propriedades avícolas. A mão-
de-obra familiar é uma relação que a avicultura moderna não destruiu. Pelo contrário, a
atividade avícola moderna necessita da mão-de-obra familiar.
O gráfico a seguir (gráfico 08), indica a mão-de-obra dedicada à avicultura na
propriedade camponesa.
96%
4%
Mão-de-obra Familiar
Parceria
Gráfico 08: Mão-de-obra utilizada na propriedade camponesa/avícola
Fonte: pesquisa de campo, novembro de 2008.
Conforme o gráfico anterior (gráfico 08), verifica-se que a mão-de-obra utilizada
por 96% das propriedades, dedicadas à avicultura é familiar. Nos 4% restantes não é o
proprietário com sua família que trabalha na granja de aves, mas um parceiro (o peão,
conforme denominação do proprietário), que também realiza as tarefas com a família.
81
Segundo Moura (1986), é o trabalho familiar que caracteriza o vínculo social do
camponês com a terra. Nuclear ou extensa, a família camponesa envolve-se nas diversas
tarefas produtivas tendo como objetivo a reprodução física e social deste grupo de
pessoas.
Brandão (1994), destaca que a família constitui a unidade social do trabalho e da
exploração da propriedade. Os camponeses buscam a reprodução do seu modo de vida,
sobretudo, para atender as necessidades de sua família.
Aliado ao trabalho familiar, está o casamento entre os camponeses, fundamental
para o entendimento da atividade avícola. O casamento, segundo Shanin (2008), é
realizado, muitas vezes, entre camponeses não somente pelo sentimento romântico. Para
o camponês, o casamento é também entre terra e força de trabalho. Assim, verifica-se
que o casamento está ligado à atividade avícola para que seja possível a manutenção da
unidade camponesa.
Se pegarmos a unidade familiar como unidade fundamental de análise, a importância da mulher é absoluta. Sem ela, a unidade não pode sobreviver. Como também não pode sobreviver sem um homem por muito tempo. Porque há uma divisão de trabalho bastante rígida entre homens e mulheres no campo que necessita da combinação dos dois. A combinação não é uma escolha, é simplesmente uma necessidade. Com essa necessidade total, o status das mulheres e o status dos homens são definidos essencialmente dessa maneira. (SHANIN, 2008, p.45).
Sobre o casamento camponês, ainda, é ilustrativa a compreensão de Moura
(1986), quando ressalta que “essa ideia de casamento contrasta com a que o camponês
possui; este deixa claro que não pode ficar sem mulher para cozinhar, cuidar da casa,
ajudá-lo no trabalho da roça, criar-lhe os filhos” (Moura, 1986, p.26).
O trabalho organizado com base na família é uma característica do camponês
que não foi eliminado com a avicultura. A avicultura, atividade que subordina o
camponês ao modo de produção capitalista, não fez dele um assalariado, nem mesmo
“assalariado disfarçado” como entendem alguns autores como Silva (1996), por
exemplo. Assim, o trabalho na avicultura segue uma lógica camponesa, o que garante a
eles certa autonomia também na atividade avícola, conforme destacado por Sorj et al
(1982).
A desapropriação do conhecimento tradicional e a imposição do ritmo de trabalho não implicam que o trabalhador avícola não possua certas características e conhecimentos que lhe são próprios. O trabalho rural avícola exige do trabalhador certas características na sua capacidade de manuseio de aves, que são adquiridas pela experiência nesse campo. No trabalho avícola, a experiência adquirida permite ao produtor rural embora
82
este não controle, e até desconheça as especificações técnicas introduzir de forma intuitiva pequenas modificações na utilização de insumos. Trata-se, porém, de limites muito estreitos de autonomia. (SORJ, et al, 1982, p.62)
Outra característica não-capitalista verificada na produção avícola é a existência
de um “contrato moral” estabelecido entre os avicultores vizinhos. Este contrato moral é
diferente do típico contrato capitalista que “reveste de igualdade aquilo que é desigual
na origem: o fato de uns são proprietários do capital e outros o são apenas na sua força
de trabalho”. (Moura, 1986, p.40).
Entre os camponeses, pesquisados, foram encontradas relações “contratuais” que
são estabelecidas por meio de uma dívida moral. Não há apenas o contrato formal da
modernidade entre a COPAGRIL e os avicultores. As relações estabelecidas entre os
camponeses tais como ajuda mútua, trocas de produtos da horta, solidariedade,
configura a existência camponesa dos avicultores vinculados a COPAGRIL.
A existência dos camponeses avicultores não é marcada por manifestações e
reivindicações na cooperativa, nem por formação de associação ou sindicato. Mas,
existe solidariedade e ajuda mútua entre as famílias. Essas relações não-capitalistas
configuram-se como estratégias camponesas porque é por meio dessas relações que os
camponeses não ficam totalmente subordinados ao capital.
Os avicultores vizinhos são solidários uns com os outros, sendo essa uma
característica que se manteve após a construção do aviário. Um exemplo é quando
necessitam de ajuda para limpar o aviário após a entrega do lote de frangos. Neste caso,
chamam o vizinho para ajudar. Essa ajuda entre vizinhos é feita a cada 60 dias.
Esta não é uma relação, baseada na compra da força de trabalho, como ocorre
tipicamente na produção capitalista. Neste caso, o pagamento é o convite para o almoço,
ou um simples “muito obrigado”, na certeza de que vão estar sempre se ajudando. Mas
o “muito obrigado” tem o sentido também de que quando precisar limpar seu aviário
novamente, será atendido, como se fosse uma dívida moral.
Outro exemplo de ajuda mútua e solidariedade entre os avicultores é a tarefa da
“pega do frango” Em 58% das propriedades, pesquisadas, foram encontrados
camponeses que buscam a ajuda de vizinhos para realizar a “pega do frango”1, e o
pagamento é feito na maioria das vezes, em produtos ou trabalho.
Existe uma equipe que realiza esta “pega do frango”, contratada pela
COPAGRIL. A equipe é paga pelos camponeses, geralmente no valor de R$ 500,00 por
1 “Pega do frango” é como os avicultores chamam a retirada dos frangos do aviário para levar para o abatedouro.
83
lote de frangos. Entretanto, o trabalho da equipe não é suficiente, considerando que cada
aviário possui até 23 mil frangos. O pagamento não é feito em produtos, é feito com a
troca de dias de serviço entre os avicultores.
A ajuda mútua não é feita somente entre camponeses vizinhos, mas também
entre camponeses parentes. No município de Toledo, foram verificadas importantes
relações de parentesco entre os membros da família dos avicultores. Essas relações
estão diretamente associadas às relações de produção. O trecho de uma das entrevistas
evidencia essa questão.
Por que o senhor decidiu investir na avicultura? Olha, não é que eu decidi investir na avicultura, acontece que eu tive um problema e precisei fazer um transplante de córnea, aí vendi os maquinários, pois não posso mais trabalhar com colheitadeira. Mas e quando precisa colher a soja e o milho, como o senhor faz? Meu irmão vem aqui e faz a colheita com os maquinários dele. O Senhor pagou o seu irmão em dinheiro? Não, a gente divide a produção. (C.B, novembro de 2008).
Brandão (1994), destaca que na propriedade camponesa há duas ordens de
organização interdependentes: a “ordem familiar” e a “ordem do grupo corporado” de
produção. A “ordem familiar” está relacionada ao trabalho dos membros da própria
família e a “ordem do grupo corporado” é quando o trabalho é realizado por parentes de
fora da unidade camponesa de produção. Esta “ordem corporada” foi encontrada em
30% dos avicultores da COPAGRIL..
O quadro a seguir (quadro 10), detalha as relações de parentesco que estão
relacionadas à “ordem familiar” e “ordem de grupo corporado” na unidade de produção
camponesa.
Quadro 10: Relações de Parentesco e de Produção.
Camponês Ordem Familiar Ordem de Grupo Corporado 1 Marido/esposa
2 filhos 1 parente (irmão) que trabalha na colheita do milho e da soja na propriedade.
2 Marido/esposa 2 filhos
1 filho que mora em outra propriedade ajuda na “pega do frango”.
3 Marido/esposa 2 filhos
1 filho (adulto) do casal trabalha no aviário do pai
4 Marido/esposa 2 filhos
Marido ajuda na propriedade do irmão. na “pega do frango”
5 Marido/esposa 2 filhos
Propriedade em que moram dois irmãos ( 2 famílias).
6 Marido/esposa 2 filhos
Marido ajuda na propriedade do pai.
7 Marido/esposa 2 filhos
Irmão da esposa ajuda na “pega do frango”
Fonte: pesquisa de campo, novembro de 2008.
84
As práticas de ajuda mútua entre os camponeses descritos no quadro 10 ainda
revelam uma necessidade de força de trabalho que o camponês não pode suprir apenas
com o trabalho de sua família. É assim que são estabelecidas as práticas de ajuda mútua
entre camponeses parentes ou camponeses.
Os camponeses, ao associarem as relações de parentesco com às de produção,
estão atendendo as necessidades de sua família. O vínculo de parentesco presente na
avicultura, indica a existência de relações não exclusivamente econômicas na produção
avícola moderna. Mas estas relações não-econômicas (parentesco) serve à produção
avícola e à acumulação capitalista. Este é outro indicativo de que as relações capitalistas
presentes na avicultura não eliminam ou destróem elementos da produção camponesa
como o parentesco.
O costume também é parte da produção não-capitalista da pequena propriedade,
sendo indicativo de práticas camponesas que se mantêm ao longo do tempo, mesmo
com o avanço da modernidade, representada pelos aviários da COPAGRIL
Para Thompson (1998), no século XVIII, o costume constituía a retórica da
legitimação de quase todo uso, prática ou direito reclamado. Longe de exibir a
permanência, sugerida pela palavra “tradição”, o costume era um campo para a
mudança e a disputa, uma arena na quais interesses opostos apresentavam
reivindicações conflitantes.
Dessa forma, o costume representa a necessidade de preservar uma ação coletiva
dentro de um determinado domínio. No caso da avicultura, esse domínio é representado
pela propriedade privada da terra.
Os costumes realizam algo, não são formulações abstratas nem a busca de significados embora possam transmitir um significado. Os costumes estão devidamente associados e arraigados às realidades materiais e sociais e do trabalho, embora não derivem dessas realidades nem a expressem. Os costumes podem fornecer o contexto em que as pessoas talvez façam o que seria mais difícil de fazer de modo direto [...], eles podem preservar a necessidade da ação coletiva, do ajuste coletivo de interesses, da expressão coletiva de sentimentos e emoções dentro do terreno e domínio dos que deles co-participam, servindo com uma fronteira para excluir os forasteiros. (SIDER1985 apud THOMPSON1998).
Os costumes, segundo Thompson (1998), estão diretamente ligadas às realidades
materiais e sociais do trabalho. Na atividade avícola, o costume não está somente ligado
ao trabalho, mas a toda unidade produtiva, ou seja, o costume é uma prática, como a
produção de chás e o plantio de flores.
85
O costume na avicultura pode ser caracterizado como práticas que os
camponeses mantêm na propriedade, que não são motivadas por uma economia de
mercado, mas emergem como resistência, como apreendido de Thompson (1998).
Segundo o autor, ainda “há uma economia de mercado, mas há também uma economia
inovadora baseada no costume” (THOMPSON, 1998, p.21).
Aparentemente, os camponeses avicultores não dão destaque às relações não-
capitalistas, pois estão muito ligados ao aviário, devido à estrutura moderna que o
empreendimento representa. Era como se a horta, por exemplo, desempenhasse papel
secundário diante do que o aviário representava em termos de se integrar cada vez mais
no mercado.
No entanto, era na conversa informal em que o universo do camponês aparecia,
que o camponês destacava a horta, a família, os produtos que são trocados
eventualmente. No questionário formal o aviário representava papel de “status”, era
como se as outras relações não-capitalistas não fizessem parte da mesma propriedade.
Embora por meio da atividade avícola ocorra a “monopolização do território”
também é preciso tratar do território camponês, pois os camponeses avicultores
continuam proprietários de terra, mesmo que ocorra a expansão do capitalismo no
campo, por meio do investimento em aviários.
Os aviários, empreendimentos capitalistas da COPAGRIL provocam
transformações ao mesmo tem que utilizam-se das relações não-capitalistas, encontradas
no território camponês. É por meio do investimento na avicultura que a COPAGRIL
condiciona o processo de subordinação da agricultura camponesa à cooperativa.
Segundo Oliveira (1992), são as relações sociais de produção e o processo
contínuo e contraditório de desenvolvimento das forças produtivas que garante a
configuração do território. Assim, o território pode ser construído, destruído,
transformado no processo de desenvolvimento do capital.
Outra abordagem sobre o território é realizada por Saquet (2004). O autor
enfatiza que o território é produzido por relações políticas, culturais e econômicas em
que ocorre controle do espaço geográfico.
Um território é produzido, por relações políticas, culturais e econômicas, nas quais as relações de poder inerente as relações sociais estão presentes num jogo continuo de dominação e submissão, de controle do espaço geográfico. O território é apropriado e construído socialmente, fruto do processo de territorialização, do enraizamento; é resultado do processo de apropriação de domínio de um espaço, cotidianamente, inscrevendo-se num campo de poder, de relações socioespaciais. (SAQUET, 2004, p.218).
86
O território, para Saquet (2004), está relacionado a um campo de poder;
apropriação de um espaço e domínio de relações socioespaciais. Além das relações
políticas econômicas e culturais, Saquet (2004), também considera que a natureza está
presente no território.
A abordagem sobre o território formulada por Santos (2006, p.15), afirma que “é
o uso do território e não o território em si mesmo, que faz dele objeto de análise social”
Assim, o território pode ser formado por lugares contíguos e lugares em rede. São os
mesmos lugares que formam os espaços em rede e também o espaço banal.
Partindo da ideia de que o território configura-se como espaço que pode ser
transformado, destruído, reconstruído e apropriado por um determinado grupo social, é
possível afirmar que a propriedade privada da terra dos camponeses deve ser entendida
como um território.
Na atividade avícola, há a disputa pela renda da terra entre a COPAGRIL e os
camponeses, em que a cooperativa por meio de mecanismo de subordinação busca
extrair parte da renda dos camponeses. Os camponeses, por meio de suas estratégias de
existência tentam “fugir” da submissão. A relação estabelecida ente os avicultores e a
COPAGRIL pode ser denominada ao que Raffestin (1993), chamou de jogos de soma
não nula.
[...] O trunfo raramente é único. Trata-se quase sempre de um trunfo complexo [...] semelhantes a jogos de soma nula, no sentido de que uns perdem outros ganham. Na realidade os jogos de soma não nula são bem mais freqüentes. Em outros termos, em situações de soma não nula os trunfos são repartidos. Na verdade, as relações, são na maioria das vezes semelhantes a jogos de soma não nula. (RAFFESTIN, 1993, p.59).
É preciso romper com o entendimento de que há uma expansão avassaladora do
capital, dominando todos os elementos da produção camponesa, transformando os
camponeses em verdadeiros operários rurais da COPAGRIL. Assim, é por meio da
contradição da disputa da renda da terra (disputa territorial) que é possível compreender
a relação estabelecida entre cooperativa e camponeses.
Os camponeses vencem a disputa territorial, parcialmente, por meio da
avicultura que garante seu objetivo que é permanecer na terra de trabalho. Nesse
processo de desenvolvimento desigual, permanecem camponeses. Mas, a COPAGRIL
também vence em parte a disputa territorial, pois extrai a renda da terra dos camponeses
sem necessidade de expropriá-los, tendo, assim, garantida sua fonte de acumulação.
87
A disputa derivada do território camponês deve ser entendida por meio de uma
perspectiva contraditória, pois a renda da terra assume diferentes funções conforme o
ator que representa a Copagril ou os camponeses. O conflito territorial entre a
cooperativa e os camponeses não é um conflito declarado, é um conflito que está oculto
na “parceria” estabelecida entre ambos.
Os camponeses detêm o trunfo do território. Por isso, a Copagril cria
mecanismos para extrair a renda da terra dos camponeses. Mas, embora a renda e o
trabalho dos avicultores sejam apropriados pelo capital, o camponês, na sua
propriedade, desenvolve atividades que fogem do controle da cooperativa para garantir
certa autonomia no seu território, como destacadas anteriormente.
O território é um trunfo particular, recurso e entrave, continente e conteúdo, tudo ao mesmo tempo. O território é o espaço político por excelência, o campo de ação dos trunfos. Quanto à energia e à informação, elas estão em condições de tornar complementares as duas faces da medida de todas as coisas. Portanto, desempenham um papel preponderante, que não pode nem deve ser subestimado. (RAFFESTIN, 1993, p.60).
A categoria de produtores avícolas não pode ser compreendida a partir de uma
visão burguesa de que existe apenas um movimento unilateral do capital industrial,
dominando e transformando as relações de trabalho e produção no campo. Os
avicultores possuem uma relativa autonomia, cuja lógica não é pautada pela lógica do
mercado, mesmo que ele não esteja alheio a ela. (Mizusaki, 2003.)
Segundo Almeida (1996), a autonomia camponesa é uma espécie de
reivindicação-aspiração que é construída no plano especifico da produção. Essa
autonomia garante um espaço na sociedade industrial e na agricultura moderna. Porém,
um espaço limitado. É nesse espaço limitado que os agricultores buscam manter
estratégias para manter a autonomia camponesa.
Os agricultores propõem estratégias que se concretizam às vezes de maneira ambígua, pois tendem tanto a se opor ao modelo agrícola dominante como também nele a se integrar. Em todo o caso, o que parece evidente é que eles se esforçam para atingir uma coerência no processo moderno de produção e reabilitar a pequena exploração enquanto um lugar/espaço de coerência social. (ALMEIDA, 1996, p.221).
A autonomia camponesa dos avicultores é entendida quando se analisa o
conjunto de atividades, desenvolvidas na pequena propriedade e não apenas a atividade
avícola. A autonomia está presente na produção para autoconsumo, na ajuda mútua, na
troca de favores entre os camponeses.
88
As relações camponesas são marcadas por certa autonomia e controle do processo produtivo, diferentemente do que ocorre na produção em escala do agronegócio, por exemplo. Embora subordinados, os camponeses não estão alienados como os operários assalariados no processo formal e real de subordinação. A alienação que atinge os trabalhadores expropriados não atinge o camponês, pois este é conhecedor do processo de produção. (FABRINI, 2008, p.260).
Entretanto, a autonomia dos camponeses na avicultura está comprometida, pois
o aviário faz com que eles fiquem subordinados ao ritmo da indústria, pelo menos na
produção de frango. Mas, embora ocorra a subordinação da propriedade camponesa por
meio da indústria, o camponês ainda controla relativamente o seu território.
Em qualquer circunstância, o território encerra a materialidade que constitui o fundamento mais imediato do sustento econômico e de identificação cultural de um grupo, descontadas trocas com o exterior. O espaço social, delimitado e apropriado politicamente enquanto território de um grupo é suporte material da existência e, mais ou menos fortemente catalisador cultural simbólico-e, nessa qualidade, indispensável fator de autonomia. (SOUZA, 2003, p.108)
As relações não-capitalistas que ocorrem na unidade produtiva fazem parte do
território camponês. É possível afirmar que a propriedade privada familiar da terra é
indicativo do território camponês.
É espaço apropriado, espaço feito coisa própria, enfim o território é instituído por sujeito e grupos sociais que se afirma por meio dele. Assim, há, sempre, território e territorialidade, ou seja, processos sociais de territorialização. Num mesmo território há, sempre, múltiplas territorialidades. (PORTO-GONCALVES, 2006, p.5)
Segundo Fernandes (2008), há uma disputa territorial entre capital e
campesinato. As propriedades camponesas e capitalistas são distintas formas de
propriedade privada que disputam o território. As propriedades camponesas e as
capitalistas são propriedades distintas que produzem relações sociais diferentes.
Fernandes (2008), ainda destaca que o território é uma totalidade. Todas as
unidades territoriais formam totalidades por conterem em si todas as dimensões do
desenvolvimento. Assim, não há apenas o território do espaço de governança.
O território camponês é alvo de disputas por diferentes empresas pela renda da
terra. A base territorial camponesa é compreendida por meio de uma análise interna do
espaço e do território camponês.
A emergência da abordagem territorial do desenvolvimento rural pressupõe que o nível de tratamento adequado de tratamento analítico e conceitual dos problemas concretos deva ser o espaço de ação em que transcorrem as relações sociais, econômicas, políticas e institucionais. Esse espaço é construído a partir da ação entre os indivíduos e o ambiente ou contexto
89
objetivo em que estão inseridos. Mas não se trata apenas do entendimento teórico e abstrato, pois esta perspectiva também propõe que as soluções e respostas normativas aos problemas existentes nesses espaços encontram-se nele mesmo. (SCHNEIDER, 2004, p.99).
Por meio da atividade avícola o capital monopoliza o território. No entanto, esse
processo não elimina os elementos estruturantes da produção camponesa e também o
modo de vida camponês. Assim, os camponeses avicultores detêm o território ao serem
proprietários dos meios de produção, portanto detentores do domínio de uma
determinada porção do espaço.
É essencial compreender bem que o espaço é anterior ao território. O território se forma a partir do espaço, é resultado de uma ação conduzida por um ator sintagmático (ator que realiza um programa) em qualquer nível. Ao se apropriar de um espaço, concreta ou abstratamente (por exemplo, pela representação), o ator “territorializa” o espaço. [...]. O território nessa perspectiva, é um espaço onde se projetou um trabalho, seja energia e informação, e que, por conseqüência, revela relações marcadas pelo poder. O espaço é a “prisão original”, o território é a prisão que os homens constroem para si. (RAFFESTIN, 1993, p.144).
O capitalismo abre a possibilidade dos camponeses continuarem detentores do
trunfo do território por meio da inserção cada vez maior ao mercado. É possível afirmar
que o mercado também garante a existência camponesa, mesmo que seja uma existência
subordinada.
A existência camponesa dos avicultores, vinculados à COPAGRIL é marcada
pela inserção cada vez maior ao capitalismo. Os camponeses visualizam na inserção ao
mercado a possibilidade de permanecer na terra de trabalho. É desta forma, que o
investimento na avicultura e a permanência de relações camponesas podem ser
considerados como uma luta para que os avicultores continuem detentores da
propriedade camponesa.
90
Considerações Finais
A avicultura é uma atividade desenvolvida no campo que evidencia as
contradições do capitalismo. Por meio da pesquisa sobre as estratégias de existência dos
camponeses, de Marechal Cândido Rondon e Toledo foi possível chegar a um conjunto
de verificações sobre o processo contraditório da realização e desenvolvimento da
atividade avícola moderna estimulada pela COPAGRIL. Neste processo contraditório
destaca-se a recriação das relações camponesas.
Tratou-se do cooperativismo empresarial, ou seja, aquele que serve às dinâmicas
da economia capitalista, nesse caso específico a COPAGRIL. Sob o rótulo de
cooperativa, esta racionalidade empresarial vem expandindo no campo, sobretudo no
Oeste do Paraná, com a COPAGRIL. Mas não existe somente este tipo de
cooperativismo empresarial, pois surgiram no processo de lutas outras propostas
cooperativistas como aquela feita pela UNICAFES entre os agricultores familiares e do
MST para assentamentos de reforma agrária.
No decorrer de sua história, a COPAGRIL seguiu os rumos da economia
capitalista, conforme as regras de competitividade e de sobrevivência no mercado. A
COPAGRIL, por meio da construção da unidade industrial de aves, em 2005, conseguiu
subordinar a agricultura camponesa por meio da indústria, através da monopolização do
território e da sujeição da renda da terra camponesa ao capital.
A relação entre a cooperativa e os camponeses avicultores reflete interesses
opostos. Enquanto a COPAGRIL busca, por meio da avicultura, o crescimento e a
incorporação de novas tecnologias para a acumulação capitalista, os camponeses
visualizam na atividade avícola a possibilidade de permanecerem na terra de trabalho e
garantir a sua existência.
Embora haja a recriação das relações camponesas, é notável a ausência de um
pensamento contestador por parte das famílias, pois aceitam, de forma passiva, as regras
impostas pela cooperativa. Este é um dos fatores que permite compreender a
subordinação da agricultura camponesa à COPAGRIL.
91
Observou-se que as estratégias de existência camponesa dos avicultores,
vinculados à Copagril não estão caracterizadas por um movimento de luta social que vai
contra a ordem do capitalismo. As estratégias camponesas manifestam a disputa
territorial na qual os camponeses estão envolvidos, pois ocorre uma disputa pela renda
da terra entre Copagril e camponeses.
A subordinação dos avicultores, vinculados à COPAGRIL, não é total e os
camponeses possuem certo grau de autonomia na unidade produtiva. O fato dos
camponeses ainda serem donos dos meios de produção e detentores do território,
permite verificar que a COPAGRIL por meio da indústria, não elimina as características
camponesas.
Embora a COPAGRIL se utilize das relações não-capitalistas para a sua
expansão, até mesmo porque existe uma produção capitalista de relações não
capitalistas num movimento contínuo, permite reconhecer o desenvolvimento do
capitalismo como sendo desigual, contraditório e combinado. Este processo desigual
não transforma os camponeses em operários especializados, empresários rurais ou
trabalhadores para o capital.
Estudar as mudanças e permanências que ocorrem, na pequena propriedade após
a instalação de um aviário, requer um olhar atento não somente para a atividade avícola,
mas para toda a unidade produtiva. As mudanças ocorridas nas pequenas propriedades
evidenciam o processo de “monopolização do território” pelo capital, processo que é
possível por meio da sujeição da renda da terra ao capital.
Entre as principais mudanças, ocorridas nas pequenas propriedades, destacam-se
a perda da liberdade camponesa, pois há sempre a necessidade da presença de uma
pessoa da família na propriedade, inovações tecnológicas, assistência técnica (saber
técnico), a competitividade, a subordinação por meio do contrato de parceira, a
subordinação aos bancos (financiamento). Estas são algumas das marcas deixadas, ou
seja, geografadas pela COPAGRIL por meio da atividade avícola.
Mas não é apenas de mudanças que a avicultura “sobrevive”. Os elementos
estruturantes da produção camponesa permanecem, tais como mão-de-obra familiar,
produção de subsistência, troca de produtos da horta, troca de favores, dívida moral,
entre outros. Estes elementos evidenciaram o quanto às relações não-capitalistas estão
fortemente presentes na unidade camponesa. A unidade produtiva constitui-se como
sendo a base territorial em que as relações não-capitalistas erguem-se como estratégias
de existência camponesa.
92
A partir de uma perspectiva contraditória é possível afirmar que a avicultura é
uma estratégia camponesa. É possível apreender ainda que atividade avícola constitui-se
numa alternativa a mais para os camponeses permanecerem na terra de trabalho.
Mas a avicultura também constitui-se como estratégia do capital, pois a
COPAGRIL a utiliza para acumular capital. Por isso, a avicultura expressa as
contradições do desenvolvimento desigual do modo capitalista de produção,
principalmente na reprodução das relações camponesas.
93
Referências Bibliográficas
ANDRADE, Manuel Correa. A questão do território no Brasil. São Paulo-Recife,
IPESP/HUCITEC, 1995.
ABRAMOVAY, Ricardo. Paradigmas do capitalismo agrário em questão. 2 ed.
Campinas. Hucitec, 1998.
ALMEIDA, Jalcione. A busca de autonomia na agricultura. Estratégias, Limites e
Possibilidades. Cadernos de Sociologia. Porto Alegre. v.6. p.221-229,1994.
ARAUJO, Silvia Maria Pereira. Eles. A cooperativa: um estudo da ideologia da
participação. Curitiba. Projeto, 1984.
BAGGIO, Adelar Francisco. (org). Elementos de cooperativismo e administração
rural. Ijuí FIDENE, 1983.
BELATO, Dinarte. Camponeses Integrados. Campinas, 1985. 443p. Dissertação
(Mestrado em História Econômica). Universidade Estadual de Campinas.
BENNETI, Maria. Domingues. Origem e formação do cooperativismo empresarial
no Rio Grande do Sul: uma análise do desenvolvimento da CONTRIJUI, COTRISA E
FECOTRIGO-1957/198O. Porto Alegre: FEE, 1982.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Parentes e parceiros. In: ALMEIDA, Maria Suely
Kofes (et al). Colcha de retalhos. Estudos sobre a família no Brasil. Brasiliense. São
Paulo, 1982.
BRENNEISEN, Eliane. Cardoso. Relações de poder, dominação e resistência: a
organização social e da produção em assentamentos rurais na região Centro-Oeste
do Paraná. São Paulo, 2000. Tese de Doutorado em Ciências Sociais. PUC-SP.
BRUM, Argemiro Jacob. Modernização da agricultura trigo e soja. Petrópolis:
Vozes, 1984.
CANDIDO, Antonio. Os parceiros do rio bonito. 7 ed. São Paulo: Duas Cidades,
1987.
94
COSTA, Luciano de Souza. O cooperativismo: uma breve reflexão teórica. Ciências
Sociais em Perspectiva, 2007, p 55-64.
ESTERCI Neide. Roças Comunitárias: Projetos de Transformação e formas de
luta. In: ESTERCI, Neide. (Org) Cooperativismo e Coletivização no campo. Questões
sobre a prática da Igreja popular no Brasil. Rio de Janeiro, 1984.
FABRINI, João. Edmilson. A resistência camponesa nos assentamentos de Sem-
Terra . Cascavel: UNIOESTE, 2003.
__________ Movimentos sociais no campo e outras resistências camponesas. In:
PAULINO, Eliane Tomisasi. FABRINI, João Edmilson. (org). Campesinato e territórios
em disputa. Expressão Popular, 2008.239-271
FERNANDES, Bernardo Mançano. Entrando nos territórios do território . In:
PAULINO, Eliane Tomiasi. FABRINI, João Edmilson. (org). Campesinato e territórios
em disputa. Expressão Popular, 2008. 273-299
FLEURY, Maria Tereza Leme. Cooperativas agrícolas e capitalismo no Brasil. São
Paulo: Global, 1983.
FRANTZ, Telmo. Potencialidades e cooperativismo no Oeste do Paraná.
In:BAGGIO, Francisco Adelar (org). Elementos de cooperativismo e administração
rural. Ijuí: FIDENE, 1983. p.09-15.
GARCIA JR, Afrânio Raul. Terra de trabalho: trabalho familiar de pequenos
produtores. 1975. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.
GERKE, Arno Alexandre. Copagril: uma análise do cooperativismo no Oeste do
Paraná. Curitiba. 1992. 402p. Dissertação (Mestrado em História Econômica) –
Faculdade de História. UFPR - Universidade Federal do Paraná, 1992.
GONÇALVES, Carlos Walter Porto. De saberes e territórios-diversidade e
emancipação a partir da experiência latino-americana. Niterói: 2006.
GREGORY, Valdir. Os eurobrasileiros e o espaço colonial. Migrações no Oeste do
Paraná. (1940-70). Cascavel: UNIOESTE, 2003.
HESPANHOL, R. A. de Medeiros. Produção Familiar: perspectivas de análise e
inserção na microrregião geográfica de Presidente Prudente. 2000. 264f. Tese
(Doutorado em Geografia) - UNESP/Campus de Rio Claro, 2000.
LINHA DO TEMPO (COPAGRIL). Disponível em <http: www.copagril.com.br>
Acesso em 12 dez 2009
LOUREIRO, Maria. Rita. Cooperativismo e reprodução camponesa. In:LOUREIRO,
Maria Rita. (org). Cooperativas Agrícolas e capitalismo no Brasil. 1981. p.133-155.
95
MARTINS, José de Souza. Os camponeses e a política no Brasil. As lutas sociais no
campo e seu lugar no processo político. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1981.
_________. Expropriação e Violência – a questão política no campo. 2.ed. São Paulo:
Hucitec. . Revista e ampliada. 1982.
________ O cativeiro da terra. 8. ed. São Paulo: HUCITEC, 2004.
________ A sociedade vista do abismo: Novos estudos sobre exclusão, pobreza e
classes sociais.. Petrópolis: Vozes, 2002.
MARX, Karl. A mercadoria. In: Contribuição para a crítica da economia política. 3 ed.
Lisboa: Estampa, p.27-67 1974.
MIZUSAKI, Márcia.Yukari. Monopolização do território e reestruturação
produtiva na avicultura em Mato Grosso do Sul. São Paulo. 432p. Tese (Doutorado
em Geografia) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Universidade de
São Paulo, São Paulo, 2003.
MÜLLER, Geraldo. Complexo Agroindustrial e modernização agrária. São Paulo:
Hucitec, 1989.
MULLER, K D. Colonização pioneira no sul do Brasil. O caso de Toledo. Revista
Brasileira de geografia, Rio de Janeiro. V43, n.1. p.83-133.jan/mar.1986.
MOURA, Margarida. Maria. Camponeses. São Paulo: Ática, 1986.
NIEDERAUER, O. H. Toledo no Paraná: a história de um latifúndio improdutivo, sua
reforma agrária, sua colonização, seu progresso. Toledo: Grafo-set, 1992.
OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino. A agricultura camponesa no Brasil. São Paulo:
Contexto, 1991.
______. Modo capitalista de produção e agricultura. São Paulo: Ática, 1986.
______. Agricultura e indústria no Brasil. In: Boletim Paulista de Geografia. São
Paulo. AGB, nº. 58.p.05-64. set/1981.
______ O que é Renda da terra absoluta, renda da terra de monopólio, renda da
terra pré-capitalista, preço da terra. In: Revista Orientação. São Paulo: Instituto de
Geografia/dg/USP, 1986. nº7.
PAULINO, Tomiasi Eliane.Por uma geografia dos camponeses. São Paulo: UNESP,
2006.
PINHO, Diva. Benevides. O pensamento cooperativo e o cooperativismo brasileiro .
18 ed. São Paulo: CNPq, 1982.
RAFFESTIN, Claude. Por uma geografia do poder. Tradução de Maria Cecília
França. São Paulo: Ática, 1993.
96
RECH, Daniel. Cooperativas: uma alternativa de organização popular. Rio de Janeiro,
DP&A, 2000.
RELATÓRIO DA COPAGRIL. Disponível em: < http://www.copagril.com.br> Acesso
22 out. 2008.
RIOS, Gilvane. Sá. Leitão. O que é cooperativismo. São Paulo: brasiliense, 1987.
SAATKAMP, Venilda. Desafios Lutas e Conquistas. História de Marechal Cândido
Rondon. Cascavel: Assoeste, 1984.
SAQUET, Marcos Aurélio. O Território: Diferentes interpretações na literatura
italiana. IN: RIBAS, A. SPOSITO E. SAQUET, M. Território e desenvolvimento:
Diferentes abordagens. Universidade Estadual do Oeste do Paraná. (Campus de
Francisco Beltrão, 2004. p.121-145)
SANTOS, Milton. Território e Sociedade. Entrevista com Milton Santos. 2 ed.
Fundação Perseu Abramo, 2000.
________ O retorno do território . In: SANTOS, Milton, Souza, Maria Adélia de,
Silveira, Laura Maria. Território, Globalização e Fragmentação. 5 ed. Hucitec, 2006.
SANTOS, José Vicente Tavares dos. Colonos do Vinho. Estudo sobre a subordinação
do trabalho camponês ao capital. São Paulo. Hucitec, 1978.
SCHANIN, Teodor. Lições camponesas. In: (org) PAULINO, T. E.; FABRINI, E. J.
Campesinato e territórios em disputa. Expressão popular, 2008.
SCHNEIDER, I. C. Contribuição para o estudo de um projeto de colonização no
Oeste do Paraná: Fundamentos Socioculturais. In. LOPES, A. Marcos (org.). Espaços
da memória: Fronteiras. EDUNIOESTE, Cascavel, 2000, p.95-109.
________ Os senhores da terra. Produção de consensos na fronteira (OESTE DO
PARANÁ, 1946-1960). Aos quatro ventos: Curitiba, 2002.
SCHNEIDER, Sergio. A abordagem territorial do desenvolvimento rural e suas
articulações externas. Sociologias, Porto Alegre. v 6. n11. p.88-125. jan/jun, 2004.
SCHNEIDER, J. E. O cooperativismo agrícola na dinâmica do desenvolvimento
periférico dependente. In (org) LOUREIRO, Maria Rita. Cooperativas Agrícolas e
capitalismo no Brasil. São Paulo, 1981, p.11-40.
SILVA, José. Graziano da. A nova dinâmica da agricultura brasileira. 2 ed.
Campinas, São Paulo: Unicamp, 1996.
SORJ, Bernardo; POMPERMAYER, M.J.CORRADINI, O. L. Camponeses e
Agroindústria: Transformação social e representação política na avicultura brasileira.
Rio de Janeiro: Zahar editores, 1982.
97
_______. Estado e classes sociais na agricultura brasileira. Rio de Janeiro.
Guanabara, 1986.
STORTI, Irma. Mudanças e permanências na produção camponesa com a
instalação de aviários em Marechal Cândido Rondon. 2006. 47f. (Monografia
Licenciatura em Geografia). UNIOESTE – Universidade Estadual do Oeste do
Paraná/Campus de Marechal Cândido Rondon, 2006.
SOUZA, Marcelo. Lopes. . O território: sobre o espaço e poder, autonomia e
desenvolvimento. In: CASTRO, Iná e de. GOMES, Paulo C.; CORRÊA, Roberto.
Geografia: Conceitos e temas. 5 ed. Rio de Janeiro. Bertrand Brasil, 2003. p.77-116.
TEDESCO, João. Carlos. O produtor familiar e a agroindústria. Cadernos de
Sociologia, Porto Alegre, v. 6. p.112-131, 1994.
THOMPSON, Edward. Costumes em Comum: estudos sobre a cultura popular
tradicional. São Paulo: Companhia das letras, 1998.
UNICAFES. Disponível em: http://www.unicafes.org.br > Acesso 23 mar 2009.
VILELA, N J. Fatores desfavoráveis ao desenvolvimento do cooperativismo no
Brasil. In: Seminário Agropecuário do Acre, II. Rio Branco, 1998, ANAIS EMBRAPA
Ministério da Agricultura - UEPAE. Rio Branco. 1998, p.301-310.
WANDERLEY, Maria de Nazaré. B. Raízes históricas do campesinato brasileiro. In:
TEDESCO, J.C. (org) Agricultura familiar: realidades e perspectivas. 3 ed.Passo
Fundo:UPF, 2001,p.22
Questionário para os avicultores Localização da Propriedade______________________________________ Município___________________________________________________ Característica da propriedade: Área_________________________ É o proprietário?____________________ Como e Quando adquiriu___________________________________________ Idade do avicultor: 1) Quais produtos cultivados na horta: Chás Temperos Verduras Outros a) Quem trabalha na horta? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ b) Os produtos da horta são comercializados? ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ c) Fazem uso medicinal dos chás? Conversam com os vizinhos sobre os chás? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________
______________________________________________________________________
d) Quais as frutas existentes na propriedade? FRUTAS e) Com as frutas são produzidos bolos, doces, tortas para consumo familiar? (ou para a venda?) ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ f) Quais alimentos que são necessários comprar na cidade? E os que não precisam Alimentos comprados na cidade Alimentos que não é necessária a
compra
g) Cultiva flores na propriedade? Quais? Quem planta? (não para o comércio, mas para embelezamento). ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ h)Quais os animais que são destinados a consumo familiar? Quantos animais possuem? Com que são alimentados? Animais Quantidade São alimentados
com: i) Há produtos cultivados com base nas fases da lua? Quais? _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________- ______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ j) Tem alguma técnica de cultivo que é utilizada na propriedade que aprendeu com pais avós, etc.?
________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
L) Em momentos de dificuldades na lavoura a quem recorre (ajuda de parentes, amigos, familiares, vizinhos) ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ m) Acredita em benzi mento ( já mandou benzer a roça, o aviário) ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ n) Qual a mão-de-obra utilizada na propriedade (familiar, parceria, assalariada)? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Questões ligadas à integração (cooperativa/avicultura) 1) Quando se associou a Copagril? Ano? Por quê?
________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
2) Quais idéias ou propostas você expôs na cooperativa? Foram bem aceitas? ______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
3) Tem o hábito de ler as revistas Copagril? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 4) Houve o Programa Informativo Copagril? Por quê? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________5) Há quanto tempo é avicultor? N° de aviários na propriedade____________ Há a pretensão de ampliar o número de aviários? Por que? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 6) Por que decidiu investir na avicultura? O que achou do contrato de integração? ______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 7) Ser integrado da Copagril é melhor do que ser somente cooperado? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 8) Está satisfeito com a integração (renda, preços, assistência técnica, atendimento, Copagril) Por quê?
__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 9) O que é feito com a cama do aviário? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________10) Possui financiamento para pagar? Qual o valor? Duração? Banco? Financiou somente o aviário? ______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________________________________________________________________ 11) O investimento na avicultura justifica o risco de perder a terra, caso não consiga pagar o financiamento? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 12) Qual o tempo de trabalho dedicado à avicultura? Quem trabalha no aviário? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 13) Como você se sente trabalhando com aviários atualmente? _______________________________________________________________________________________________________________________________________
14) Foram necessárias inovações tecnológicas no aviário desde a sua instalação? A copagril prestou assistência? Quais as soluções encontradas pelo senhor (a) ? E na lavoura de que forma enfrenta os problemas? ______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 15) A produção de frangos exige muito cuidados? Já passou por dificuldades ou imprevistos? ______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 16) Qual a renda (valor bruto) obtida com a produção de frangos? Mensal? Anual? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 17) Qual a renda (valor liquido) obtida com a produção de frangos? Mensal? Anual? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 18) Qual o custo de produção (despesas com a produção de frangos)? Frete______________________ Energia____________________ Botijão____________________ Pintainhos__________________ Mão-de-obra________________ Vacinas____________________- Ração________________________ Lenha_______________________ Equipamentos________________ Outros______________________ 19) Por que a opção de ser integrado da Copagril? _____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
20) Quantas pessoas moram na propriedade? E trabalham? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 21) O que é feito com a renda obtida com a produção de frangos? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 22) Quais os produtos além dos frangos que são comercializados com a Copagril? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 23) O aviário é a principal fonte de renda da propriedade? (Em caso negativo, qual a principal atividade da propriedade)? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 24) Possui outras fontes de renda: ( ) Aposentadoria ( ) Ajuda dos Filhos ( ) Atividades desenvolvidas na cidade Outras___________________________________ 25) Possui Computador? Internet? Acessa o site da Copagril? _____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________