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As grandes navegações Oque foi? As grandes navegações foram um conjunto de viagens marítimas que expandiram os limites do mundo conhecido até então. Mares nunca antes navegados, terras, povos, flora e fauna começaram a ser descobertas pelos europeus. E muitas crenças passadas de geração a geração, foram conferidas, confirmadas, ou desmentidas. Eram crenças de que os oceanos eram povoados por animais gigantescos ou que em outros lugares habitavam seres estranhos e perigosos. Ou que a terra poderia acabar a qualquer momento no meio do oceano, o que faria os navios caírem no nada. A expressão "Grandes Navegações" é usada para se referir às várias expedições marítimas organizadas nos séculos 15 e 16, principalmente porPortugal e Espanha . Elas ajudaram a marcar a passagem da Idade Média para a Idade Moderna, resultaram na descoberta de um novo continente a ser explorado pelos europeus, a América, e num grande impulso para o aumento do comércio da Europa com a Ásia e a África. Por que? Resumido: Os motivos O motivo poderoso que fez alguns europeus desafiar o desconhecido, enfrentando medo, foi a necessidade de encontrar um novo caminho para se chegar às regiões produtoras de especiarias, de sedas, de porcelana, de ouro, enfim, da riqueza. Outros fatores favoreceram a concretização desse objetivo: • Comerciantes e reis aliados já estavam se organizando para isso com capitais e estruturando o comércio internacional; • A tecnologia necessária foi obtida com a divulgação de invenções chinesas, como a pólvora (que dava mais segurança para enfrentar o mundo desconhecido), a bússola, e o papel. A

As grandes navegações

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As grandes navegações

Oque foi?

As grandes navegações foram um conjunto de viagens marítimas que expandiram os limites do mundo conhecido até então. Mares nunca antes navegados, terras, povos, flora e fauna começaram a ser descobertas pelos europeus. E muitas crenças passadas de geração a geração, foram conferidas, confirmadas, ou desmentidas. Eram crenças de que os oceanos eram povoados por animais gigantescos ou que em outros lugares habitavam seres estranhos e perigosos. Ou que a terra poderia acabar a qualquer momento no meio do oceano, o que faria os navios caírem no nada.

A expressão "Grandes Navegações" é usada para se referir às várias expedições marítimas organizadas nos séculos 15 e 16, principalmente porPortugal e Espanha. Elas ajudaram a marcar a passagem da Idade Média para a Idade Moderna, resultaram na descoberta de um novo continente a ser explorado pelos europeus, a América, e num grande impulso para o aumento do comércio da Europa com a Ásia e a África.

Por que?

Resumido:

Os motivos O motivo poderoso que fez alguns europeus desafiar o desconhecido, enfrentando medo, foi a necessidade de encontrar um novo caminho para se chegar às regiões produtoras de especiarias, de sedas, de porcelana, de ouro, enfim, da riqueza.

Outros fatores favoreceram a concretização desse objetivo:

• Comerciantes e reis aliados já estavam se organizando para isso com capitais e estruturando o comércio internacional;

• A tecnologia necessária foi obtida com a divulgação de invenções chinesas, como a pólvora (que dava mais segurança para enfrentar o mundo desconhecido), a bússola, e o papel. A invenção da imprensa por Gutenberg popularizou os conhecimentos antes restritos aos conventos. E, finalmente, a construção de caravelas, que impulsionadas pelo vento dispensavam uma quantidade enorme de mão-de-obra para remar o barco como se fazia nas galeras nos mares da antiguidade, e era mais própria para enfrentar as imensas distâncias nos oceanos;

• Histórias como a de Marcopolo e Prestes João aguçavam a imaginação e o espírito de aventura;

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• Até a Igreja Católica envolveu-se nessas viagens, interessada em garantir a catequese dos infiéis e pagãos, que substituiriam os fiéis perdidos para as Igrejas Protestantes.

Não resumido:

A crise de crescimento do século XV

No início da Idade Moderna, surgiu um descompasso na economia europeia, entre a capacidade de produção e consumo na zona rural e na zona urbana. A produção agrícola no campo estava limitada pelo regime de trabalho servil. O resultado disso era uma produtividade baixa e, consequentemente, a falta de alimentos para abastecer os núcleos urbanos. Já a produção artesanal nas cidades era alta e não encontrava consumidores na zona rural, devido ao baixo poder aquisitivo dos trabalhadores rurais e ao caráter auto-suficiente da produção feudal.

Além disso, o comércio internacional europeu, baseado na compra de produtos orientais (especiarias, objetos raros, pedras preciosas), tendia a se estagnar, pois os nobres, empobrecidos pela crise do feudalismo, cada vez compravam menos essas mercadorias. Os tesouros acumulados pela nobreza durante as Cruzadas escoavam para o Oriente, em pagamento das especiarias. O resultado disso foi a escassez de metais preciosos na Europa, o que criava mais dificuldades ainda para o desenvolvimento do comércio.

A solução para esses problemas estava na exploração de novos mercados, capazes de fornecer alimentos e metais preciosos a baixo custo e, ao mesmo tempo, aptos para consumir os produtos artesanais fabricados nas cidades europeias. Mas onde encontrar esses novos mercados?

O comércio com o Oriente estava indicando o caminho. Os mercados da Índia, da China e do Japão eram controlados pelos mercadores árabes e seus produtos chegavam à Europa ocidental através do mar Mediterrâneo, controlado por Veneza, Gênova e outras cidades italianas. O grande número de intermediários nesse longo trajeto encarecia muito as mercadorias. Mas se fosse descoberta uma nova rota marítima que ligasse a Europa diretamente aos mercados do Oriente, o preço das especiarias se reduziria e as camadas da população europeia com poder aquisitivo mais baixo poderiam vir a consumi-las.

No século XV, a burguesia europeia, apoiada por monarquias nacionais fortes e capazes de reunir grandes recursos, começou a lançar suas embarcações nos oceanos ainda desconhecidos — Atlântico, Indico e Pacífico - em busca de novos caminhos para o Oriente. Nessa aventura marítima, os governos europeus dominaram a costa da África, atingiram o Oriente e descobriram um mundo até então desconhecido: a América.

Com a descoberta de novas rotas comerciais, a burguesia europeia encontrou outros mercados fornecedores de alimentos, de metais preciosos e de especiarias a baixo custo. Isso permitiu a ampliação do mercado consumidor, pois as pessoas de poder aquisitivo mais baixo puderam adquirir as mercadorias, agora vendidas a preços menores.

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A expansão comercial e marítima dos tempos modernos foi, portanto, uma consequência da crise de crescimento da economia europeia.

Outras condições à expansão marítima europeia

A expansão marítima só foi possível graças à centralização do poder nas mãos dos reis. Um comerciante rico, uma grande cidade ou mesmo uma associação de mercadores muito ricos não tinham condições de reunir o capital necessário para esse grande empreendimento. Apenas o rei era capaz de captar recursos de toda a nação para financiar as viagens ultramarinas.

Tecnologia

Eram enormes as dificuldades que tinham de ser superadas para navegar pelos oceanos. As embarcações tinham de ser melhoradas e as técnicas de navegação precisavam ser aprimoradas. No século XV, inventou-se a caravela. A bússola e o astrolábio passaram a ser empregados como instrumentos de orientação no mar, e a cartografia passou por grandes progressos. Ao mesmo tempo, a antiga concepção sobre a forma da Terra começou a ser posta em dúvida.

Seria a Terra realmente um disco chato e plano, cujos limites eram precipícios sem fim? Uma nova hipótese sobre a forma de nosso planeta começou a surgir: o planeta teria a forma de uma esfera.

Nessa nova concepção, se alguém partisse de um ponto qualquer da Terra e navegasse sempre na mesma direção, voltaria ao ponto de partida. O desejo de desbravar os oceanos, descobrir novos mundos e fazer fortuna animava tanto os navegantes, que eles chegavam a se esquecer do medo que tinham do desconhecido. Dois Estados se destacaram na conquista dos mares: Portugal e Espanha.".

Antes de falarmos de Portugal e Espanha....

As tecnologias

Caravelas:

Introdução

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As caravelas foram embarcações, de formato alongado, típicas da época das Grandes Navegações e Descobrimentos Marítimos (séculos XV e XVI). Países como Espanha, Portugal, Holanda, Inglaterra e França possuíam grandes esquadras de caravelas. Pesavam, em média, de 100 a 400 toneladas.

As caravelas consistiam em grandes embarcações feitas de madeira. Eram capazes de transportar centenas de homens e toneladas de mercadorias. Possuíam uma ou mais velas grandes e altas de formato, geralmente, retangular. Estas velas eram presas em altos mastros.

Importância histórica

Foram muito importantes na época das Grandes Navegações para o transporte de especiarias asiáticas (pimenta, gengibre, noz moscada, açafrão, cravo, canela e seda). Nos porões das caravelas, comerciantes portugueses, genoveses e venezianos transportaram toneladas de mercadorias das Índias para a Europa, obtendo fabulosos lucros. Os espanhóis usaram as caravelas para transportar o ouro e a prata que retiraram do continente americano no século XVI.As caravelas conseguiam obter uma boa velocidade em dias de vento forte. Porém, como os sistemas de navegação da época eram precários, muitas vezes os navegadores saíam das rotas originais se perdendo pelo oceano.Foram em caravelas (Santa Maria, Pita e Nina) que o navegador genovês, navegando pela coroa espanhola, Cristóvão Colombo chegou à América em 1492. Com este mesmo tipo de embarcação, Pedro Álvares Cabral chegou ao Brasil em 1500.

Curiosidade: Entre os séculos XV e XVI, os piratas também utilizaram caravelas para saquear regiões e atacar outras caravelas. Elas eram adaptadas com canhões para ser usadas em ataques e combates.

O Astrolábio

O astrolábio é um antigo instrumento astronômico, hoje em dia obsoleto, que teve muita importância na astronomia, principalmente na astronomia náutica, quando os astros visíveis no céu constituiam o principal referencial dos primeiros grandes navegadores.

O modelo mais antigo, astrolábio planisférico, foi provavelmente inventado pelos gregos ou alexandrinos, em aproximadamente 150 a.C., e mais tarde aperfeiçoado pelos árabes.

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O astrolábio planisférico consiste basicamente de dois discos planos, geralmente feitos de cobre. Um deles representa a Terra e é marcado com as linhas de latitude, longitude, horizonte do observador e outras linhas indicando ângulos acima do horizonte. O outro disco é um mapa simples do céu, com as posições das estrelas indicadas por ponteiros curvos e com a eclíptica (linha do movimento anual aparente do Sol).

O astrolábio também era usado na agrimensura, para se conhecer, por exemplo, a altura de uma montanha a partir do cálculo do ângulo formado por sua sombra.

Observe a figura abaixo.

O astrolábio usado pelos navegadores foi desenvolvido a partir desse instrumento primitivo, divulgado na europa pelos árabes. Foi muito utilizado no séc. XV como instrumento de navegação, principalmente pelos portugueses e espanhóis durante o ciclo das grandes navegações. Era usado para medir a altura do Sol ou de uma estrela durante alguma viagem no meio do oceano, de maneira a se determinar a latitude. Era suficientemente pesado para continuar pendurado na posição vertical apesar do balanço do navio.

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Quando os cálculos astronômicos foram se tornando mais exatos e com a invenção do quadrante no séc. XVII, o astrolábio tornou-se obsoleto.

A Bússola

A bússola é composta de uma agulha magnética que sempre aponta o norte, é fundamental na orientação de viagens de qualquer tipo. Foi inventada pelos chineses e trazida à Europa pelos árabes.

A princípio colocava-se a agulha imantada a flutuar sobre óleo ou água, presa a um pedaço de palha ou cortiça: era a marinette dos franceses. Mais tarde foi aperfeiçoada: colocou-se numa caixinha uma haste de metal sobre a qual se move a agulha. Graças ao novo instrumento, os navegadores não eram obrigados a viajar de ilha em ilha ou ao longo das costas, e podiam aventurar-se pelo oceano.

Os Canhões

Os canhões eram equipamento obrigatório dos navios.

A pólvora foi inventada pelos chineses, e os europeus a conheciam através dos árabes. Os orientais a utilizavam para fabricar fogos de artifícios, os europeus deram à pólvora uma utilidade militar. A pólvora estourava dentre de um tubo de metal de bronze ou de ferro e, conseguiam assim, lançar uma bola de ferro pesada com grande velocidade e causando grande impacto. Sendo possível com um tiro de canhão, abrir buracos em muralhas, afundar navios, matar soldados em cima de cavalos.

Os arcabuzes eram pequenos canhões portáteis, levados na mão de um soldado e capaz de matar uma pessoa.

Na metade do século XIV, os canhões e arcabuzes já eram eficazes e foram um dos principais

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motivos para que os europeus começassem a impor sua vontade sobre outros povos do mundo.

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Expansão marítima portuguesa

O pioneirismo português no século 15

A descoberta do Brasil porPedro Álvares Cabral, em22 de abril de 1500, foi o resultado de uma persistente e bem sucedida política de expansão marítima colocada em prática ao longo de muitos anos pela monarquia portuguesa.

A construção das grandes embarcações e a organização de expedições marítimas que passaram a explorar os oceanos nos séculos 14 e 15 dependeram do progresso da náutica, com o desenvolvimento de instrumentos e de técnicas de navegação. Isso tudo só pôde se concretizar à medida que eram destinados expressivas somas de riquezas, as quais somente o tesouro de um Estado organizado e forte poderia suportar.

Dinastia de Avis

O pioneirismo português nas grandes navegações marítimas - que culminaram nas descobertas de novas terras, na expansão do comércio e na propagação da fé cristã - se iniciou em 1385, data da subida ao trono de dom João 1º, conhecido como Mestre de Avis. O reinado de dom João inaugurou em Portugal a dinastia de Avis. Ele obteve o apoio da nobreza e dos comerciantes do reino, setores sociais que naquele período eram mais influentes política e economicamente.

Com isso, dom João 1º pôde promover uma acentuada e progressiva centralização do poder monárquico, o que fez Portugal surgir como um Estado independente e bem armado militarmente. O país alcançou a estabilidade política e a paz interna, fatores que propiciaram o florescimento e crescimento do comércio estimulando, desse modo, as riquezas do reino. Essas condições foram fundamentais para colocar em prática a política de expansão marítima destinando recursos para as grandes navegações. 

Posição geográfica de Portugal: de cara para o Atlântico

Em sua origem, a expansão marítima portuguesa esteve associada aos interesses mercantis da burguesia do reino, ávida na busca de lucros por meio do comércio marítimo com outras regiões, sobretudo com o Oriente. 

Essa era uma forma de superar as limitações do mercado europeu, que estava em crise pela carência de mão-de-obra, pela falta de produtos agrícolas e a escassez de metais preciosos para cunhagem de moeda. Interessava a essa burguesia apoiar o poder real no empreendimento da expansão marítima, por meio das navegações oceânicas e dela extrair seus benefícios. 

Portugal também gozava de uma localização geográfica privilegiada na península ibérica. Grande parte do seu território está voltada para o oceano Atlântico. Essa posição geográfica, juntamente com as condições sociais e políticas favoráveis, permitiram ao país se projetar como potência marítima. Coube ao

infante D. Henrique - filho de D. João 1o - as iniciativas para fazer Portugal inaugurar as grandes navegações oceânicas.

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Escola de Sagres

D. Henrique era um amante das ciências e, sob sua iniciativa, foi fundada a Escola de Sagres, que reuniu diversos especialistas como cartógrafos, astrônomos e marinheiros que possuíam conhecimento do que de mais avançado se sabia na época sobre a arte de navegar. 

Foi na Escola de Sagres que foram realizados, em 1418, os primeiros estudos e projetos de viagens oceânicas. Foi nela que foram aprimoradas embarcações como a caravela e aperfeiçoados os instrumentos náuticos necessários a longas viagens, como a bússola e o astrolábio, que haviam sido inventados no Oriente.

Portugal passou a obter sucessivos êxitos no empreendimento ultramarino. O marco inicial foi a conquista de Ceuta, em 1415, localizada na costa do Marrocos. Em seguida, empreendeu esforços para chegar às Índias pelo mar, contornando a África. 

Primeiro os portugueses conquistaram as ilhas atlânticas dos arquipélagos dos Açores, Madeira e Cabo Verde (1425-1427) para em seguida explorar a costaafricana.

Em 1488, a esquadra comandada por Bartolomeu Dias conseguiu transpor o Cabo da Boa Esperança, localizado no extremo sul da África. Dez anos depois, a esquadra comandada por Vasco da Gama conseguiu ir adiante e navegar pelo oceano Índico, aportando em Calicute, extremo sul da Índia, em 20 de maio. Ambos os navegadores estavam a serviço de Portugal.

A expansão marítima espanhola

A Espanha foi o segundo país a se lançar na aventura das grandes navegações. A primeira viagem marítima financiada pelo país ocorreu em 1492, com Cristóvão Colombo, 77 anos depois de os portugueses invadirem Ceuta, no Reino de Fez (atual Marrocos), em 1415.

Vários motivos levaram a Espanha a esse "atraso" na busca de uma rota para o comércio de especiarias que não passasse pelo Mediterrâneo (controlado pelas cidades-estado de Gênova e Veneza), nem pela costa africana, conhecida pelos portugueses até o Cabo da Boa Esperança, no extremo sul do continente.

Um desses motivos foi a prioridade dada à reconquista da Península Ibérica, numa luta que se prolongou por 781 anos, a guerra mais longa de que se tem notícia. A vitória castelhana sobre o Califado de Granada, último reduto muçulmano na península, data exatamente de 1492.

Outro motivo foi a unificação tardia dos reinos cristãos de Leão, Castela, Aragão e Navarra. O passo mais importante nessa direção foi dado somente em 1469, quando o casamento de Fernando de Aragão e Isabel de Castela deu origem ao Reino Católico de Fernando e Isabel, núcleo inicial do que viria a ser a Espanha.

Cristóvão Colombo e seu projeto polêmico

Em meados do século 15, o senso comum ainda afirmava que a Terra era um disco, redondo e plano, mas os estudiosos já sabiam que nosso planeta era um globo. Por esse motivo é que

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Colombo, que mantinha contatos com alguns dos sábios da época, defendia a ideia de chegar às Índias perseguindo o pôr do sol.

Na verdade, as teorias que serviam de base para os argumentos de Colombo eram de origem árabe e judaica (esse povos eram os herdeiros diretos da cultura da Antiguidade greco-macedônica), mas em um período histórico no qual predominavam a luta contra os árabes e a perseguição da Inquisição inclusive contra os judeus, era quase impossível aos cientistas o reconhecimento público de que a Terra era um globo.

Mesmos assim, a ideia de atingir o Oriente pelo Ocidente foi arduamente defendida por Colombo. Um debate travado entre ele e os padres da Universidade de Salamanca, em 1486, custou-lhe a exposição ao ridículo, a pecha de louco e quase uma condenação à fogueira da Inquisição, braço jurídico da Igreja Católica desde o Concílio de Trento.

Depois, ainda que tivesse conseguido a adesão de algumas pessoas influentes ao seu projeto de circunavegação, foi graças à influência do banqueiro judeu Santagel que Colombo ganhou a confiança da própria rainha Isabel de Castela. Finalmente, depois que a coroa espanhola obrigou a família Pinzón, de grandes navegadores, a se unir a Colombo, a viagem foi aprovada. Alguns historiadores, aliás, acreditam que, sem os conhecimentos náuticos do Oceano Atlântico que os Pinzón tinham, Colombo não teria ido muito longe.

As caravelas Santa Maria, Pinta e Nina

Finalmente, em 3 de agosto de 1492, a bordo da caravela Santa Maria, Cristóvão Colombo partiu do porto de Palos rumo ao oeste, seguido pela Pinta e pela Nina. Setenta dias depois, a esquadra chegou à ilha de Guanahani, nas Antilhas, rebatizada como San Salvador pelo próprio "Almirante das Índias".

Colombo faria, nos doze anos seguintes, mais três viagens à América. Na segunda (1493 a 1496), atingiu as ilhas de Cuba, Jamaica, Espanhola (Haiti e República Dominicana), Borinquén (Porto Rico), Guadalupe, Dominica e Martinica. Na terceira viagem (1498 a 1500), enquanto os portugueses Vasco da Gamae Pedro Álvares Cabralchegavam, respectivamente, à Índia e ao que viria a ser a costa brasileira, Colombo desembarcava na ilha de Trinidad e na costa norte da América do Sul.

Na quarta e última viagem (1502 a 1504), Colombo navegou pela costa da América Central, ainda na esperança de encontrar uma passagem para regiões produtoras de especiarias. Morreu em 1504, acreditando ter atingido um braço da Ásia e contrapondo-se à teoria de que, na verdade, as terras descobertas eram um novo continente. Tal ideia foi defendida por Américo Vespúcio, a quem coube a glória de ver seu nome dado, pelo rei Fernando, às terras recém-descobertas.

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Ouro e prata impulsionaram colonização espanhola

Na disputa contra a nobreza - aliada do rei da Espanha - pelo governo das novas terras, o descobridor da América levou a pior. A ganância por cargos e riqueza aumentou a pressão dos nobres sobre o rei, e Colombo caiu no ostracismo.

Ouro e prata, no México e no Peru, impulsionaram a colonização espanhola desde a primeira metade do século 16. A organização da mão de obra indígena - chamada de mita no Peru e de quatequil no México - submeteu, sob a influência espanhola, grandes contingentes de nativos a jornadas desumanas nas minas. Havia também o chamado sistema de encomiendas (ou repartimiento), criado pelos espanhóis nas regiões em que não existisse um Estado indígena que já explorasse a mão de obra local ou dos povos dominados.

Não raro essas jornadas de trabalho terminavam em morte por exaustão. Ao redor dessas regiões, a agricultura e o pastoreio destinavam-se exclusivamente ao abastecimento dos polos de mineração. No mais, havia um quase vazio demográfico entre ambos.

O impacto do derrame de metais preciosos na Europa deu capacidade de importação de manufaturados à Espanha, em detrimento de seu próprio setor manufatureiro. Em toda a Europa, o significativo aumento da circulação de moedas provocou sua desvalorização e, consequentemente, um aumento generalizado nos preços.

Praticamente sem manufaturas, e com o declínio da produção das minas americanas, a Coroa espanhola viu-se em apuros em meados do século 17. A aventura e os lucros da expansão marítima alçaram o país ibérico à condição de maior potência da Europa e do mundo. Mas esse posto foi ameaçado e tomado por duas potências ascendentes, Inglaterra e Holanda, antes que a primeira metade do século chegasse ao final.

A expansão marítima inglesa, francesa e holandesa

Somente no começo do século XVI, a Inglaterra iniciou sua expansão marítima. A Guerra dos Cem Anos e a Guerra das Duas Rosas haviam atrasado o seu desenvolvimento marítimo. Mas,com a participação da burguesia, aliada ao governo dos Tudor,navegadores italianos a serviço da Inglaterra, como Sebastião e João Caboto, exploraram as regiões do Labrador e Terra Nova,no Canadá; e Walter Raleigh, explorou a região da Nova Inglaterra (costa nordeste dos Estados Unidos). Lembrando que a Inglaterra muito se utilizou de corsários para atacar navios de outros países, para apropriação de carga.Por seu lado, os reis franceses eram os que mais contestavam as decisões papais que beneficiavam apenas os países ibéricos. Ironicamente, Francisco I exigia ver o testamento de Adão

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que dividia o mundo apenas entre Espanha e Portugal. O navegador italiano Giovanni Verrazano, em 1524, chegou ao sul do Canadá, explorou o rio Hudson e a baía onde mais tarde seria fundada Nova York; Jacques Cartier, em 1534, explorou o rio São

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Lourenço, o mesmo tendo feito Samuel Champlain, que fundou Quebec (1609); La Salle, em 1682, navegou pela região do Mississipi, reivindicando sua posse pela França, com o nome de Luisiana.

A Holanda iniciou sua expansão apenas em meados do século XVI, após as “Províncias Unidas da Holanda” se libertarem do domínio espanhol. O navegante inglês Hudson, a seu serviço,explorou o rio que leva o seu nome. Mas, na verdade, a principal ação da Holanda foi a criação de companhias mercantis privilegiadas. Essas companhias estabeleceram feitorias no Oriente e fundaram colônias na América do Norte (Nova York). Organizaram ataques ao Brasil, que redundaram no “domínio holandês”do litoral nordestino.

Tratado de Tordesilhas

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Página principal do Tratado de Tordesilhas

No auge das grandes navegações, osportugueses concluíram, com razão, que a partilha estipulada pela bula intercoetera papal não os beneficiavam, pois apenas algumas ilhas ficariam sob seu domínio. Por esse motivoPortugal exigiu um novo acordo, que foi concretizado pelo tratado de Tordesilhas, assinado em 7 de junho de 1494. Com ele, ampliava-se a distância de 100 para 370 léguas a partir das ilhas de Cabo Verde.

O Tratado de Tordesilhas assegurou a Portugal o domínio das terras descobertas a oeste do Atlântico. D. Manuel organizou uma das maiores expedições que o reino já havia preparado, composta por uma esquadra formada por dez naus e duas caravelas e cerca de 1.500 homens, sob o comando de Pedro Álvares Cabral, nobre de tradicional família portuguesa.

Terra à vista

A versão mais difundida afirma que o objetivo da esquadra de Cabral era assegurar o domínio português nas regiões asiáticas estabelecendo uma feitoria em Calicute. A esquadra partiu de Lisboa em 8 de março de 1500, e Cabral percorreu uma rota a oeste afastando-se da costa africana.

E assim ele teria acontecido o descobrimento do Brasil.

As conseqüências da expansão marítima Como podemos perceber, o mundo sofreu algumas transformações após as grandes navegações. A partir daí, destacam-se algumas conseqüências da expansão européia. Vejamos algumas delas:

- Após ter patrocinado o movimento expansionista, o Estado Absolutista passou a desfrutar dos seus lucros. Lembrando que ele foi consolidado.

- Com o aumento do afluxo de metais preciosos provenientes da América houve a chamada revolução dos preços.

- Houve uma transferência do eixo econômico europeu do Mediterrâneo para o Atlântico – Indico, havendo assim um crescimento dos países ibéricos e um declínio das cidades mercantis italianas.

- Ocorreu a adoção da política econômica mercantilista, que se baseava tanto no protecionismo do Estado como no regime de monopólios.

- Uma das conseqüências também foi que a burguesia mercantil nos países atlânticos, conseguiu se desenvolver.

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