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As Teorias Psicológicas sobre o Desenvolvimento
e a Aprendizagem e a Construção do
Conhecimento na Escola
Prof. Aleksandro B. Figueiredo
As Relações entre o Conhecimento Psicológico e a Teoria e a Prática
Educativas
Para explicar os processos de mudança que ocorrem em decorrência da participação em situações educativas escolares, a Psicologia
do Ensino tem recorrido às Teorias do Desenvolvimento e da Aprendizagem.
As diversas Teorias da Aprendizagem e do Desenvolvimento não tem satisfeito as expectativas que os profissionais da educação depositam na Psicologia do Ensino como uma disciplina central da teoria e da prática educativas.
As relações entre as teorias psicológicas e a teoria e prática
educativas escolares
1A
Teoria
Psicológica
Teoria e prática
educativas
Riscos da lógica 1A
• Implica renunciar a utilizar teorias alternativas que podem ajudar a compreender determinados aspectos dos processos escolares de ensino e aprendizagem.
• Leva com frequência a “forçar” a teoria escolhida a estender suas explicações.
• Está associada a dois princípios muito discutíveis:• Hierarquia epistemológica entre o
conhecimento psicológico e a teoria e prática educativas.
• Reducionismo psicológico.
1B
Teoria
Psicológica
Teoria e prática
educativas
Teoria
Psicológica
Teoria
Psicológica
Riscos da lógica 1B
• É difícil dotar de coerência um esquema global elaborado a partir de retalhos de explicações que tem origem em teorias e enfoques muito diferentes entre si.
• Na tentativa de aplicação em situações concretas, leva com frequência a decisões e atuações desconexas ou contraditórias.
• Mantém os princípios da hierarquia epistemológica entre o conhecimento psicológico e a teoria e prática educativas e do reducionismo psicológico.
Princípios educativos do desenvolvimento e da aprendizagem inspirados ou compatíveis com as idéias construtivistas, que, tendo sua origem em diferentes enfoques e teorias, são de caráter complementar.
• Natureza e funções da educação e da educação escolar.
• Características das situações escolares do ensino e da aprendizagem.
Teoria e prática educativas
A concepção construtivista do ensino e da aprendizagem
1C
O construtivismo e a busca de um esquema integrador para a análise, o planejamento e a condução da ação educativa na escola
O núcleo essencial da dimensão teórica da psicologia do ensino está configurado por uma série de princípios explicativos do desenvolvimento e da aprendizagem humanos que:
• embora tenham origem em teorias e enfoques diferentes,
• complementam-se, por se integrarem em um esquema de conjunto orientado para analisar, compreender e explicar os processos escolares de ensino e aprendizagem.
Convergência em torno de uma idéia-força:
A importância da atividade mental construtiva das pessoas no processo de aquisição do
conhecimento.
CONSTRUTIVISMO
Para o construtivismo:
APRENDIZAGEM ESCOLAR – processo de construção do conhecimento.
ENSINO – uma ajuda a esse processo.
Na lógica 1C há um elemento novo entre o conhecimento psicológico e a teoria e prática educativas:
A natureza e as funções da educação escolar e as características próprias e específicas das situações escolares de ensino e aprendizagem.
Essa lógica corresponde à concepção construtivista, que entende a psicologia do ensino como uma disciplina-ponte de caráter aplicado, situada a meio caminho entre a psicologia e a educação.
Benefícios para a teoria e prática educativas:
1. É possível utilizar esse marco de referência como um ponto de partida para a elaboração de propostas pedagógicas relativamente globais.
2. Ao integrar em um todo coerente e articulado proposições relativas a diversos aspectos ou dimensões dos processos escolares de ensino e aprendizagem, o marco global de referência elaborado dessa maneira pode tornar-se um instrumento sumamente valioso para orientar e guiar a prática docente.
3. Proporciona um esquema organizador que pode ir sendo enriquecido progressivamente, com os resultados de pesquisas, além de permitir valorizar com mais precisão as limitações e utilidade dos resultados.
4. Ajuda a identificar problemas novos, a revisar crenças e postulados relativos à educação escolar e a estabelecer prioridades para a pesquisa educativa e psicoinstrucional.
Riscos e perigos potenciais:
• Deixar à margem, devido ao enfoque construtivista, elementos e formulações de outras teorias e enfoques dificilmente compatíveis com essa opção.
• Esquecer que a elaboração de um marco global de referência para a educação escolar inspirado no construtivismo está apenas começando e não pode ser utilizada em termos dogmáticos e excludentes.
As Fontes Teóricas da Concepção Construtivista:
Princípios Básicos e Idéias Diretrizes
A teoria genética do desenvolvimento intelectual: capacidade de aprendizagem, atividade mental construtiva e funcionamento do psiquismo humano
A teoria do desenvolvimento humano de Jean Piaget é a que originou o maior número de aplicações à educação escolar, a maioria delas utilizando a lógica 1A e, eventualmente, 1B.
Apesar disso, é possível utilizar idéias básicas da teoria genética como base explicativa na lógica 1C.
Idéias básicas da teoria genética:
1. Os esquemas de ação e os esquemas representativos mediatizam a relação do ser humano com a realidade.
A realidade só é acessível através dos esquemas (instrumentos de interpretação) que utilizamos para apreendê-la.
O que o aluno pode aprender não depende só do ensino que recebe, mas de suas formas ou estruturas de pensamento – de seu nível de competência cognitiva.
2. A importância da atividade mental construtiva no funcionamento do psiquismo humano.
Conhecemos a realidade atuando nela, modificando-a física ou simbolicamente, mediante os esquemas de ação e os esquemas representativos que aplicamos para dar-lhe sentido.
A atividade existente na base do conhecimento pode ser externa ou mental.
A atividade é sempre construtiva, pois permite:• interpretar a realidade e construir-lhe
significados;• construir novos esquemas e novas formas de
organização de esquemas, que abrem possibilidades de ação e de conhecimento.
Na perspectiva da aprendizagem escolar, esse princípio chama a atenção sobre o caráter essencialmente individual do processo de construção do conhecimento.
3. O modelo de equilibração – a dinâmica da mudança e do progresso intelectual.
O duplo jogo da assimilação e da acomodação dirige a busca permanente do equilíbrio entre a tendência dos esquemas de assimilar a realidade à qual se aplicam e a tendência contrária, de acomodar-se e modificar-se para responder às suas resistências e exigências.
EQUILIBRAÇÃO MAJORANTE – os intercâmbios entre o sujeito e o meio podem ser descritos como uma sucessão de estados de equilíbrio sempre instáveis, separados por fases mais ou menos duradouras de desequilíbrio e de busca de um novo equilíbrio – sempre em nível superior.
Limitações:
A teoria genética estudou uma classe particular de esquemas, relativos às noções básicas e constitutivas do pensamento racional (causalidade, tempo, espaço, velocidade, conservações, relações, etc.).
Entretanto, os esquemas de assimilação e interpretação utilizados em aprendizagens escolares são mais apropriadamente descritos como “conjuntos organizados de conhecimentos” relativos a conteúdos concretos.
A equilibração majorante é o “motor” do desenvolvimento e do progresso intelectual (desenvolvimento dos esquemas e estruturas operatórios).
Entretanto, ela não é produzida de maneira espontânea e natural em relação aos “conjuntos organizados de conhecimentos”.
Nesse caso, ela somente pode ser entendida a partir da influência dos agentes educativos – do ensino.
A explicação genética para o desenvolvimento a partir dos intercâmbios funcionais entre o sujeito e o meio mostra um processo basicamente individual, interno e solitário.
Entretanto, a aprendizagem escolar ocorre, por definição, num contexto comunicativo, em que os alunos constroem conhecimentos juntamente com os outros – o professor e os companheiros – e muito frequentemente graças aos outros.
As teorias do processamento humano da informação: aprendizagem e organização do conhecimento na memória
Metáfora do computador – paralelismo entre o funcionamento da mente humana e o do computador.
Natureza simbólica e representacional da mente humana.
Contribuições relacionadas à natureza simbólica e representacional da mente humana:
1. A forma de organização dessas representações na memória.
2. A natureza dos conhecimentos que as compõem.
Essas contribuições ajudam a reinterpretar e a ressignificar a relação entre competência cognitiva e capacidade de aprendizagem, da teoria genética, e a superar suas limitações em relação aos conteúdos escolares concretos.
Os esquemas de conhecimento
São estruturas simbólicas, conjuntos organizados de símbolos em que se armazenam e se conservam os conhecimentos.
Podem ser mais ou menos ricos em informações e detalhes, possuir um grau de organização e coerência interna variáveis e ser mais ou menos válidos.
Representam, em uma situação particular de ensino e aprendizagem, a competência cognitiva dos alunos para aprender os conteúdos escolares.
A complexidade e riqueza interna dos esquemas de conhecimento e a riqueza das relações entre eles estão vinculados ao nível de desenvolvimento operatório.
Apesar dos esquemas de conhecimento serem relativos a domínios específicos, existem aptidões e estratégias cognitivas gerais.
As estratégias metacognitivas apresentam um interesse especial para a educação escolar. Elas desenvolvem-se com a idade, são aprendidas mediante a experiência e podem ser ensinadas na escola.
A teoria da assimilação: a aprendizagem de conteúdos específicos e as condições para uma aprendizagem significativa.
O aluno aprende um conteúdo escolar quando é capaz de atribuir-lhe um significado – quando pode construir um esquema de conhecimento relativo a esse conteúdo.
A atividade mental construtiva do aluno consiste em revisar os esquemas de conhecimento com que se aproxima dos conteúdos novos da aprendizagem e em construir, a partir dessa revisão, novos esquemas, que incluem significados relativos aos conteúdos que são objeto de aprendizagem.
A diferença entre aprendizagem significativa e aprendizagem mecânica ou repetitiva está relacionada à existência ou não de um vínculo entre o conteúdo novo de aprendizagem e os conhecimentos prévios.
Há três fatores decisivos para promover aprendizagens tão significativas quanto possível:
1. A significação lógica do conteúdo (estrutura e coerência internas do material) e também a maneira como o professor o apresenta.
2. A significação psicológica do conteúdo (existência de esquemas relevantes e pertinentes) e também se a apresentação do professor facilita a ativação desses esquemas pelos alunos.
3. A disposição favorável para a aprendizagem significativa, que pode variar em função dos conteúdos e da capacidade de motivação do professor.
Significado e sentido na aprendizagem escolar: os componentes afetivos, motivacionais e relacionais da aprendizagem
Não existem apenas aspectos cognitivos no processo de construção do conhecimento.
Fatores afetivos, motivacionais e relacionais incidem diretamente sobre o sentido que os alunos atribuem à aprendizagem dos conteúdos escolares.
Exemplos:
• Percepção e expectativas que o aluno tem da escola, do professor e de si mesmo como aprendiz;• Expectativas diante do ensino;• Motivações, interesses e atitudes diante da aprendizagem escolar;• Autoconceito e auto-estima;• Atribuições utilizadas para explicar seu comportamento e o dos outros.
Apesar dos grandes progressos, a integração dos aspectos cognoscitivos, afetivos, motivacionais e relacionais ainda é um desafio para a pesquisa psicoeducativa e psicoinstrucional.
A teoria sociocultural do desenvolvimento e da aprendizagem: os mecanismos de influência educativa
A educação escolar tem como meta que todos os alunos construam significados compatíveis com os significados científicos e culturais.
Em situações escolares, os alunos constroem individualmente conhecimentos, porém os constroem juntamente com outros, e comumente graças aos outros.
Mecanismos de influência educativa
Chave para superar as limitações do modelo de equilibração.
Tem, no caso dos esquemas de conhecimento sobre os conteúdos escolares, função similar à equilibração majorante no caso do desenvolvimento das estruturas cognitivas estudadas pela teoria genética.
O papel dos mecanismos de influência educativa está relacionado aos conceitos de Vygotsky:
• Nível de Desenvolvimento Real;• Nível de Desenvolvimento Potencial;• Zona de Desenvolvimento Proximal.
A ZDP tem duas implicações de suma importância para a concepção construtivista:
1.Delimita o espaço interativo em que se pode encontrar – e onde se deve situar – uma influência educativa eficaz.
2.Caracteriza a influência educativa exercida no decorrer dos intercâmbios funcionais entre aluno/conteúdo/professor em termos de ajuda para o processo de construção de significados e atribuição de sentido.
Construção do conhecimento, influência educativa e ajuda psicológica
Na concepção construtivista:
APRENDIZAGEM ESCOLAR – processo de construção de significados e de atribuição de sentido, cuja responsabilidade principal corresponde ao aluno.
ENSINO – ajuda que os agentes educativos dão ao aluno para que esse processo possa realizar-se e orientar-se na direção adequada.
Duplo sentido do conceito de ajuda psicológica:
• É somente uma ajuda;
• É uma ajuda sem a qual é altamente improvável que se produza a aproximação desejada entre os significados que o aluno constrói e os significados que os conteúdos escolares representam e veiculam.
Ajuda dada pelo professor – dois mecanismos de influência educativa:
• Transferência e passagem progressivos do controle e da responsabilidade.
• Construção progressiva de sistemas de significados compartilhados.
Ajuda dada pelos companheiros:
• Organização cooperativa:• das atividades de ensino e de aprendizagem;• das relações tutoriais e de colaboração;• do conflito sociocognitivo e das controvérsias conceituais.
• Frequência e características dos comportamentos orientados para solicitar e proporcionar ajuda.
Além disso:
Meios de comunicação, pais, irmãos, amigos, etc., também são fontes possíveis de influência educativa, podendo ajudar ou dificultar a aprendizagem.
A organização e o funcionamento da instituição escolar, os valores implícitos e explícitos que presidem a atuação de seus membros, as normas que regem o comportamento, etc., podem influir de maneira significativa sobre a aprendizagem dos alunos.
Natureza e funções da educação escolar
Na concepção construtivista, a educação escolar:
• é uma prática social,
• tem uma função socializadora evidente.
Esse duplo posicionamento se justifica pela relação entre o desenvolvimento humano e o contexto social e cultural em que ele ocorre.
Pontos de vista sobre a natureza e as funções da educação escolar:
1.A educação escolar é um dos instrumentos que os grupos humanos utilizam para promover o desenvolvimento e a socialização dos membros mais jovens.
2.A educação escolar pode cumprir outras funções relacionadas com a dinâmica e com o funcionamento da sociedade. Porém, a única função que pode justificar plenamente a institucionalização, a generalização e a obrigatoriedade é a de ajudar no desenvolvimento e na socialização das crianças e dos jovens.
3.A educação escolar tenta cumprir essa função facilitando o acesso a um conjunto de saberes e de formas culturais essenciais para que os jovens membros da sociedade possam se tornar pessoas adultas e desenvolvidas, com plenitude de direitos e deveres na sociedade da qual fazem parte.
4.A aprendizagem dos saberes e das formas culturais somente pode ser fonte de desenvolvimento pessoal na medida em que potencializa, simultaneamente, o processo de construção da identidade pessoal e o processo de socialização.
5.Para poder cumprir a função de ajuda no processo de desenvolvimento e de socialização dos alunos, a educação escolar deve levar em conta a natureza intrinsecamente construtiva do psiquismo humano e apoiá-lo.
Educação escolar e construtivismo: a integração hierárquica dos princípios
A finalidade da concepção construtivista consiste em configurar um esquema de conjunto orientado para analisar, explicar e compreender a educação escolar.
Esse esquema possui uma estrutura hierárquica.
A educação escolar
• A natureza social e a função socializadora da educação escolar
• A educação escolar e os processos de socialização e de construção da identidade pessoal
• Atividade construtivista, socialização e individualização
A construção do conhecimento na escola: o triângulo interativo
• O papel mediador da atividade mental construtiva do aluno
• Os conteúdos escolares: saberes preexistentes socialmente construídos e culturalmente organizados
• O papel do professor: guiar e orientar a atividade mental construtiva dos alunos a uma assimilação significativa dos conteúdos escolares
Os processos de construção do conhecimento
• A aprendizagem significativa: natureza e condições
• Significado e sentido na aprendizagem escolar
• A aprendizagem significativa e o processo de construção, modificação e reorganziação dos esquemas de conhecimento
Os mecanismos de influência educativos
• A influência educativa do professor e o ajustamento da ajuda pedagógica
• A influência educativa dos companheiros
• Contexto institucional e influência educativa
Esta apresentação foi baseada no Módulo Didático 6 – “A construção do conhecimento na escola: para a elaboração de um marco teórico global de referência à educação escolar”, do livro: SALVADOR, César Coll et al. Psicologia do ensino. Porto Alegre: Artmed, 2000.