8
AS TIPOLOGIAS ESPORTIVAS DO SANTUÁRIO DE OLÍMPIA NOS PERÍODOS CLÁSSICO E HELENÍSTICO GREGO Cristina Cruz Ogliari, Estudante, PUCRS Fabiano Basso dos Santos, Estudante, UFRGS Isana dos Santos Lima Miranda , Estudante, PUCRS Luís Henrique Rolim, Mestre, PUCRS Maria Beatriz Medeiros Kother, Doutora, PUCRS Nelson Schneider Todt, Doutor, PUCRS Ricardo José Vicari Keller, Estudante, PUCRS Thiago Francisco Linares de Araujo, Estudante, PUCRS, CNPq Trabalho desenvolvido em parceria entre as Faculdades de Arquitetura e Urbanismo (PUCRS), Educação Física e Ciências do Desporto (PUCRS) e a Escola de Educação Física (UFRGS). Área Temática: Olimpismo e Estudos Olímpicos APRESENTANDO O TEMA Ao estudar a arquitetura do Santuário de Olímpia nos períodos definidos por Finley (1988) como Clássico (séculos V-IV a.C.) e Helenístico (séculos III–II a.C.), percebe-se que, em grande parte da bibliografia existente, a influência religiosa se destaca como característica principal na estruturação deste santuário. Um exemplo disto é a utilização de elementos típicos da linguagem arquitetônica dos templos (tipologia 1 religiosa) em construções destinadas às atividades esportivas, sem que haja, portanto, uma relação explícita entre a forma e a função das construções esportivas. Entretanto, poderíamos explicar estas construções somente a partir da religião? Não haveria aspectos funcionais como, por exemplo, orientação solar, a proximidade de rios de água doce, a topografia, entre outros, para a definição dessas tipologias arquitetônicas? Estas inquietações ganham força a partir da descrição de Vitruvius (2007, p. 300): Não deverá haver maior cuidado por parte do arquiteto que não seja o terem os edifícios corretos planejamentos de acordo com proporções reportadas a uma determinada parte. Uma vez constituído o sistema de medidas e explanadas por cálculos as modulações, haverá então lugar para que sua boa realização leve em conta a natureza do lugar, seja no que diz respeito ao uso, seja no que diz respeito ao aspecto exterior, procedendo a ajustamentos através de alterações, diminuindo ou acrescentando proporcionalmente, de modo a transparecer que o edifício foi planejado devidamente, e nada foi deixado ao acaso, no que concerne ao resultado final. Pode-se considerar que estas tipologias tenham sofrido influências provindas das mais variadas fontes, devido a essa possibilidade, levanta-se o seguinte problema: Quais os aspectos que podem ter influenciado na configuração das Tipologias Esportivas do Santuário de Olímpia nos períodos Clássico e Helenístico? 1 Classificação ou estudo sistemático de tipos de acordo com características estruturais (CHING, 2006, p. 79).

AS TIPOLOGIAS ESPORTIVAS DO SANTUÁRIO DE OLÍMPIA … · Ao estudar a arquitetura do Santuário de Olímpia nos períodos ... para a definição dessas tipologias ... grega viveu

Embed Size (px)

Citation preview

AS TIPOLOGIAS ESPORTIVAS DO SANTUÁRIO DE OLÍMPIA NOS PERÍODOS CLÁSSICO E HELENÍSTICO GREGO

Cristina Cruz Ogliari, Estudante, PUCRS Fabiano Basso dos Santos, Estudante, UFRGS

Isana dos Santos Lima Miranda , Estudante, PUCRS Luís Henrique Rolim, Mestre, PUCRS

Maria Beatriz Medeiros Kother, Doutora, PUCRS Nelson Schneider Todt, Doutor, PUCRS

Ricardo José Vicari Keller, Estudante, PUCRS Thiago Francisco Linares de Araujo, Estudante, PUCRS, CNPq

Trabalho desenvolvido em parceria entre as Faculdades de Arquitetura e Urbanismo (PUCRS), Educação Física e Ciências do Desporto (PUCRS) e a Escola de Educação Física (UFRGS).

Área Temática: Olimpismo e Estudos Olímpicos APRESENTANDO O TEMA

Ao estudar a arquitetura do Santuário de Olímpia nos períodos definidos por Finley (1988) como Clássico (séculos V-IV a.C.) e Helenístico (séculos III–II a.C.), percebe-se que, em grande parte da bibliografia existente, a influência religiosa se destaca como característica principal na estruturação deste santuário.

Um exemplo disto é a utilização de elementos típicos da linguagem arquitetônica dos templos (tipologia1 religiosa) em construções destinadas às atividades esportivas, sem que haja, portanto, uma relação explícita entre a forma e a função das construções esportivas. Entretanto, poderíamos explicar estas construções somente a partir da religião? Não haveria aspectos funcionais como, por exemplo, orientação solar, a proximidade de rios de água doce, a topografia, entre outros, para a definição dessas tipologias arquitetônicas? Estas inquietações ganham força a partir da descrição de Vitruvius (2007, p. 300):

Não deverá haver maior cuidado por parte do arquiteto que não seja o terem os edifícios corretos planejamentos de acordo com proporções reportadas a uma determinada parte. Uma vez constituído o sistema de medidas e explanadas por cálculos as modulações, haverá então lugar para que sua boa realização leve em conta a natureza do lugar, seja no que diz respeito ao uso, seja no que diz respeito ao aspecto exterior, procedendo a ajustamentos através de alterações, diminuindo ou acrescentando proporcionalmente, de modo a transparecer que o edifício foi planejado devidamente, e nada foi deixado ao acaso, no que concerne ao resultado final.

Pode-se considerar que estas tipologias tenham sofrido influências provindas das mais

variadas fontes, devido a essa possibilidade, levanta-se o seguinte problema: Quais os aspectos que podem ter influenciado na configuração das Tipologias Esportivas do Santuário de Olímpia nos períodos Clássico e Helenístico?

1 Classificação ou estudo sistemático de tipos de acordo com características estruturais (CHING, 2006, p. 79).

Para responder ao problema e as demais questões levantadas, é preciso primeiramente, contextualizar a história deste Santuário.

O primeiro grande evento histórico em Olímpia foi a escolha do local do Santuário. De acordo com evidências de escavações recentes, isto provavelmente aconteceu antes de 1.000 a.C. quando os primeiros sinais de atividade religiosa foram identificados em Olímpia a partir de oferendas de cerâmica utilizados em cultos religiosos.

Ainda hoje não se conseguiu determinar com precisão o começo de um de seus principais eventos: os Jogos Olímpicos. Comumente a literatura refere que os primeiros registros encontrados sobre esta celebração datam de 776 a.C. Entretanto, achados arqueológicos atestam a existência de algumas atividades atléticas antes mesmo de 700 a.C. (VALAVANIS, 2004; informação verbal2).

Seu auge ocorreu no período clássico, época que corresponde ao apogeu das cidades-estado independentes e, de modo geral, das mais altas realizações culturais de toda a história grega, inclusive no campo da arquitetura.

Os Jogos Olímpicos da antiguidade foram, dentre todos os festivais, o de maior destaque, pela sua duração (aproximadamente 12 séculos), congregação de atividades e reunião de helenos das principais polis3 gregas.

A partir deste contexto, o objetivo deste estudo foi identificar aspectos funcionais que caracterizaram as Tipologias Esportivas do Santuário de Olímpia nos períodos Clássico (séculos V-IV a.C.) e Helenístico (séculos III-II a.C.).

Figura 1 – Planta baixa do Santuário de Olímpia. Modificado pelos autores a partir do original (DURÁNTEZ, 1975). Observe-se que na figura não há identificação do Hippodrommo, pois não há evidências físicas da localização exata do mesmo. O Gymnasium não aparece completo, já que o mesmo encontra-se apenas parcialmente descoberto.

2 Informação fornecida pelo arqueólogo Christian Wacker em oficina realizada na PUCRS em mai. 2008. 3 Compreende um território e a comunidade de cidadãos que vivem nesse território e que gravitam ao redor de um centro habitacional principal (BENDALA, 1991).

O recorte temporal deste estudo encontra justificativa no fato de que nestes períodos o Santuário de Olímpia alcançou seu esplendor e teve a delimitação de áreas específicas para as atividades esportivas4 e religiosas.

Outra razão para esta escolha está relacionada à construção de duas das Tipologias Esportivas5 do Santuário durante o período Helenístico (ver figuras 1 e 2).

Figura 2 – Vista aérea do Santuário de Olímpia. Image© 2008 DigitalGlobe Esta é uma pesquisa indireta de método bibliográfico. Através desse método pretende-

se realizar um estudo histórico e conseqüente análise de conteúdo (BARDIN, 2000) das fontes primárias e secundárias.

O método bibliográfico, segundo Alves (2006), é desenvolvido exclusivamente com fontes já elaboradas, ou seja, a partir da leitura das chamadas fontes de ‘papel’. As fontes primárias se baseiam em obras de autores como: Pausanias, Vitruvius e Wacker. Já as secundárias serão: Bendala, Ching, Finley, Valavanis, Gombrich e Pedley.

As etapas propostas para o desenvolvimento desta pesquisa bibliográfica foram: levantamento bibliográfico, localização e compilação dos materiais úteis; seleção e fichamento do material; classificação, análise, interpretação e crítica das informações coletadas.

Os pressupostos teóricos deste estudo baseiam-se na ‘Nova História Cultural’. (CHARTIER, 2000; BURKE, 2005; PESAVENTO, 2004).

4 A retirada do Stadium para fora dos limites da Altis (350 a.C.) caracterizou um novo desenvolvimento na história religiosa, bem como atlética. (SWADDLING, 1999). 5 Segundo Swaddling (1999) o Gymnasium e a Palaestra foram construídos durante o século II a.C.

Nestes estudos as questões mais comuns remetem à: como as elaborações mentais, produtos da cultura, se articulavam com o mundo social, a realidade da vida cotidiana? Como era possível estabelecer correspondências entre todos esses níveis e também objetos de estudo? Como era possível descobrir os sentidos e significados que os homens atribuíam a si próprios e às coisas? Até onde iam os limites da História, se precisassem diálogos com outros campos de conhecimento ou outras ciências? (PESAVENTO, 2004, p. 32).

Torna-se claro que este é um processo complexo, pois o historiador vai tentar a leitura dos códigos de um outro tempo, que podem se mostrar, por vezes, incompreensíveis para ele, dados os filtros que o passado interpõe. É dentro desta perspectiva teórica, portanto, que foi guiado o curso desta pesquisa.

CONTEXTUALIZANDO HISTÓRICAMENTE A ARQUITETURA GREGA

Bendala (1991) refere que no Período Geométrico (século X-VII a.C.) a população grega viveu dividida em pequenos e pobres agrupamentos. Nesse período estas populações começaram a se reagrupar e, apesar de continuarem pobres, foram construindo núcleos de maior importância com algumas características mais apropriadas para uma cidade.

Foi o amadurecimento cultural e o progresso econômico do século V a.C. (início do período clássico) que ajudaram a concretizar o sentido correto da palavra polis.

Segundo este mesmo autor, foi na primeira metade do século V a.C. que, apesar do medo das invasões persas, a civilização grega ressaltou seus valores baseados em suas instituições, de toda sua cultura, inclusive (se não principalmente) de sua produção artística.

Assim como toda a cultura da Grécia, a arquitetura também alcançou seu auge nos séculos V e IV a.C. Foi através da organização e criação das novas polis que os artistas gregos desenvolveram uma arquitetura monumental, até hoje, sem precedentes.

Bendala (1991) ainda refere que a preocupação principal dos artistas gregos era com valores escultóricos, estéticos e não com os espaços internos, nem, até mesmo, com os valores externos. Eles construíam prédios para serem admirados apenas pela sua beleza e não pela funcionalidade ou estruturação.

Esta idéia determina claramente um dos elementos que também caracterizou as diferentes tipologias do Santuário em Olímpia.

Não se fazendo valer dos estritos critérios de avaliação de alguns escritores, é importante lembrar do legado que a arquitetura grega deixou. A começar pelas ordens clássicas que, em um mesmo espaço temporal, poderiam variar de acordo com o grau de detalhamento e esbeltez desejado na edificação. Estes foram elementos característicos de templos e outras tipologias, até chegarmos às questões urbanísticas, algumas desenvolvidas por Hipodamo de Mileto6, que foram concebidas desde o ponto de vista da funcionalidade.

O que podemos afirmar sobre as ordens clássicas é que são elementos fundamentais na arquitetura grega. Cada um dos cinco estilos da arquitetura clássica é caracterizado de acordo com o tipo, a disposição das colunas e os entablamentos adotados: dórica, coríntia, jônica, toscana e compósita. (CHING, 2006).

Segundo Howarth (1995, p. 58) são essas ordens que distinguem mais claramente os diversos estilos da arquitetura grega.

Quanto às tipologias, percebe-se um foco estruturado na composição dos templos, detectando-se uma ausência de estudos e análises mais objetivas voltados para as demais edificações.

6 Foi o primeiro arquiteto grego (500 a.C.) a conceber um planejamento urbano (conceituou o chamado traçado hipodâmico - a malha viária xadrez).

Justamente nas edificações gregas, é que se tem a percepção clara da utilização da arte e arquitetura em busca de uma relação que almejava a perfeição compositiva. A busca dessa ‘perfeição’ se encaminhava através da estreita relação da criatividade artística com regras matemáticas.

Essa relação ainda remetia a outras características de tipologias, como refere Howarth (1995): uma ilusória sensação de simplicidade e, ainda, simetria e proporções além de uma incrível monumentalidade.

Apesar de estas características serem freqüentemente encontradas nas tipologias gregas a partir dos templos clássicos, como já referido anteriormente, um novo caráter na preocupação dos arquitetos gregos é identificado ao enobrecerem suas cidades, projetando edifícios coerentes com suas funções (como já mencionado a partir da referência de Hipodamo de Mileto).

Desde estas nuances apresentam-se a seguir as principais Tipologias Esportivas do Santuário de Olímpia, destacando quatro espaços de especial interesse: o Stadium, o Gymnasium, o Hippodromo e a Palaestra. DESCREVENDO AS TIPOLOGIAS ESPORTIVAS DO SANTUÁRIO DE OLÍMPIA

Ao longo das 287 edições registradas, durante um período de quase 12 séculos, enquanto louvavam os deuses, os gregos sofisticaram suas técnicas atléticas e aprimoraram a infra-estrutura do Santuário de Olímpia onde ocorriam as disputas. Estas modificações aconteciam em nome da excelência, identificada como Arete, que para Platão e Aristóteles usaram este conceito para caracterizar a unidade suprema de todas as excelências, a arete em sua plenitude (JAEGER, 2001).

Segundo Yalouris (2004) as provas atléticas inicialmente eram desenvolvidas num

espaço único denominado Stadium, exceto as provas eqüestres realizadas no Hippodromo. Como já referido, a partir da natural evolução das festividades, houve o incremento de dias, competições e espaços constituídos para as práticas atléticas.

Descrevem-se a seguir as quatro Tipologias Esportivas identificadas no Santuário de Olímpia:

STADIUM - ficava posicionado em direção ao templo de Zeus. Era uma área planificada de aproximadamente 192m. O acesso de atletas e juízes era realizado por um túnel com 32m. de comprimento, edificado na porção oeste que conectava esta área a Altis7.

Quando os jogos tornaram-se uma instituição e passaram a ser realizados sistematicamente na presença de espectadores, surgiu a necessidade de situar a área de competição próxima as colinas ou às encostas naturais, sobre as quais os árbitros de competição (agonothétai8) e o público podiam acompanhar a sua realização (YALOURIS, 2004, p. 176).

O espaço da pista era demarcado lateralmente através de um canal de irrigação que disponibilizava água aos espectadores e também era utilizado para o nivelamento da área.

Identificando a largada e a chegada dos competidores havia, segundo Yalouris (2004, p. 175):

7 Para Valavanis (2004) o termo Altis se refere à delimitação da área mais sagrada no Santuário de Olímpia. 8 Juízes, também chamados de Hellanodikes.

[...] Uma fileira de placas de pedra longas e estreitas com dois sulcos paralelos contínuos na sua extensão (cuja distância entre ambos é de aproximadamente 0,18m.), sobre os quais os atletas posicionavam seus pés na linha de partida [...].

Estas linhas de partida (balbídes) tinham posições para 20 corredores. As duas únicas edificações no estádio eram a Tribuna dos Hellanodikes ao sul da pista e o Altar de Démeter ao norte.

HIPPODROMO – até o momento não existem registros físicos desta Tipologia

Esportiva, mas a localização aproximada é ao leste da Altis e ao sul do Stadium (PAUSANIAS, s/d apud VALAVANIS, 2004). O comprimento desta arena era de 5 Stadium (cerca de 900m.) e uma largura de 64m.

Era um espaço simples: plano, amplo e aberto, onde pode ter havido uma arquibancada de madeira construída para juízes e convidados especiais. Em geral aterros artificiais eram utilizados para os demais espectadores.

Dois pilares foram erguidos no percurso para demarcar as voltas. Identificavam também início e fim das provas. O sistema de largada (hippaphesis) era bastante complexo e avançado para a época, pois era mecânico. (VALAVANIS, 2004).

Para Swaddling (1999), não há dúvidas de que havia uma espécie de barreira contornando o perímetro da pista, com a função de proteger a multidão de eventuais acidentes com os cavalos e quadrigas9.

GYMNASIUM – percebe-se uma conexão desta tipologia com a função atlética: o

comprimento do complexo remete a distância percorrida no Stadium (192m.). A evidência desta conexão está relacionada ao fato de que marcações similares àquelas de largada e chegada existentes no Stadium foram encontradas sob a colunata do Gymnasium. (SWADDLING, 1999).

Era um espaço coberto utilizado, possivelmente, para treinamento (não existem evidências da realização de competições nos períodos estudados). Possui um espaço em forma de uma estoa10 que se voltava às principais trocas sociais fora do período de competições.

PALAESTRA - era utilizada como centro de treinamento para as competições de luta.

Segundo Valavanis (2004), o treinamento dos competidores era realizado no pátio, enquanto os 19 quartos ao redor serviriam como suporte à prática esportiva.

É um prédio de planta quadrada (66,35 x 66,75m.) com um grande peristilo11 interno no qual, em seu entorno, havia estoas e quartos. Vitruvius (2007) refere que o peristilo era planejado e voltado em direção sul para evitar que a água chegasse à parte interior em caso de intempéries.

Também na Palaestra, encontrava-se na porção norte um segundo pavimento com a função de alojamento para alguns atletas que lá estivessem.

Vitruvius (2007, p. 281) descreve que:

[...] Do lado direito, o espaço para exercícios com sacos de areia, seguido da conistra12 e entre esta e o ângulo do pórtico, o banho frio, a que os gregos chamavam de loutron. [...] Todavia, no exterior, dispõe-se três pórticos, um para os que saem do peristilo, e os outros dois, à direita e à esquerda, com pistas.

9 Carros com quatro cavalos. 10 “Pórtico da Grécia antiga, normalmente à parte e de extensão considerável, utilizado como passeio ou local de encontro em torno de locais públicos”. (CHING, 2006, p. 260). 11 “Colunata em torno de uma edificação ou pátio”. (CHING, 2006, p. 260). 12 “Lugar onde os atletas, depois de se untarem com óleo, se esfregavam com pó ou areia [...].” (VITRUVIUS 2007, p. 281).

CONSIDERAÇÕES FINAIS A história da arquitetura, de modo geral, descreve as Tipologias Esportivas do

Santuário de Olímpia baseada em aspectos religiosos, pois esses aspectos fundamentam todas as ações gregas do período clássico e helenístico.

A escolha da temática templária, na composição das tipologias pode estar conectada de certa forma a descrição do viajante Vitruvius (2007, p. 170) que destaca:

[...] Se nos transmitiram regras para todas as construções elas destinavam-se, sobretudo ao templo dos deuses, porque as qualidades e os defeitos dessas obras permanecem eternos13.

Entretanto, verifica-se que necessidades funcionais se refletem diretamente na

constituição de boa parte das Tipologias Esportivas do complexo. Evidentemente, não é possível negar a fortíssima influência religiosa, e até mesmo estética, na configuração das edificações destinadas ao esporte. Um exemplo disso é a transposição da tipologia dos templos para as Tipologias Esportivas, no que diz respeito à aparência externa.

Ao observar o Santuário de Olímpia é possível discernir claramente duas áreas de grande porte. A primeira área, chamada Altis, caracterizava-se por possuir prédios monumentais, adornados pelas ordens clássicas com temas de heróis mitológicos, concebidas em honra aos deuses e evidenciando seu caráter religioso. A segunda área é um complexo com diferentes edificações destinadas, entre outras atividades, às atividades atléticas.

Sob esta perspectiva, reforça-se ainda mais a evidência de que as edificações pertencentes a cada setor respeitassem igualmente a sua vocação, sendo algumas conduzidas unicamente pela necessidade religiosa, enquanto outras eram conduzidas também pelas necessidades funcionais.

Isso ficou identificado, por exemplo, no Stadium através do sistema de irrigação artificial utilizado para a terraplanagem da área das competições, com função também de abastecimento dos espectadores; assim como na configuração espacial deste, através de aterros realizados para configurar uma arquibancada; No Hippodrommo, onde se identifica um sofisticado sistema de largada para as corridas; No Gymnasium, onde a sua configuração longitudinal está diretamente conectada a distância da principal prova de corrida realizada (192m.). Na Palaestra, onde o comprimento da estoa gerada pelo peristilo interno era diretamente relacionado ao comprimento de um Stadium.

Dessa forma, a partir deste estudo é possível identificar uma constituição mais funcional das tipologias de acordo com as características das atividades atléticas pertencentes aos Jogos Olímpicos da antiguidade. Outra consideração conseqüente desta pesquisa é a percepção da relação do projeto com os Estudos Olímpicos. Este estudo provoca um olhar multidisciplinar para os Jogos da antiguidade inter-relacionando conceitos arquitetônicos, aspectos históricos e eventos esportivos que fizeram parte da vida daquele Santuário e do mundo heleno em geral.

13 “A idéia transmitida por Vitruvius expressa bem o que significa para os antigos os templos e sua arquitetura. Esta, com ordens próprias influenciou e determinou os demais comportamentos construtivos através dos tempos”. (VITRUVIUS, 2007, p. 170).

REFERÊNCIAS ARQUEOLOGIA DO ESPORTE. São Paulo: Folha de São Paulo, 2004. BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2000. 225 p. BENDALA, Manuel. Saber ver a Arte Grega. São Paulo: Livraria Martins Fontes Editora Ltda, 77 p. BURKE, P. O que é história cultural? Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005. 192 p. BUXTON, Richard. Religião e Mito. In: CARTLEDGE, Paul (Org.). História Ilustrada da Grécia Antiga. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002. 539 p. CHARTIER, R. A história cultural: entre práticas e representações. Lisboa: DIFEL; Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000. 248 p. CHING, Francis D. K. Dicionário Visual de Arquitetura. São Paulo: Livraria Martins Fontes Editora LTDA, 2006. 319 p. DURÁNTEZ, Conrado. Olympia y los juegos olímpicos antiguos. San Blas, España: Comité Olímpico Español, 1975. 2 v. v. 2. 500 p. FINLEY, Moses. Os gregos antigos. Lisboa: Edições 70, 1988. 180 p. GOMBRICH, E.H. História da Arte. Brasil: Círculo do Livro S.A, 1972. 506p. HOWARTH, Eva. Breve História da Arte: Grécia Clássica. Lisboa: Editora Presença, 1995. 123 p. JAEGER, Werner. Paidéia: a formação do homem grego. São Paulo: Martins Fontes, 1995. 1413 p. MARILLIER, Bernard. Jogos Olímpicos. Portugal: HUGIN, 2000. 122 p. PEDLEY, J.G. Greek art & Archaeology. Laurence King, 2002. 3ª edição. 400 p. PESAVENTO, S. J. História & História Cultural. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2004. 132 p. SWADDLING, Judith. The Ancient Olympic Games. Austin: University of Texas Press, 1999. 112p. VALAVANIS, P. Games and Sanctuaries in Ancient Greece. Getty's Publication, 2004. 447 p. VITRUVIO. Tratado de Arquitetura. São Paulo: Martins fontes, 2007. 556 p. YALOURIS, Nicolaus. Os Jogos Olímpicos na Grécia Antiga. Odysseus, 2004. 1ª edição. 333 p.