1
As Vertentes Intelectualista e Voluntarista na Ética Cristã Medieval Vitor Vieira Vasconcelos Bacharel em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais UFMG Belo Horizonte, Minas Gerais, 2004 Segundo a vertente Intelectualista da filosofia cristã medieval, Deus não é absolutamente livre, em sentido estrito, para fazer o que bem entender, pois deve obedecer a sua própria razão. Consequentemente, Deus não criará a moralidade arbitrariamente, mas segundo a sua própria lógica. Deus irá querer sempre o Bem, e não o Mal e, por isso, se encontra limitado por sua própria natureza de bondade e inteligência absoluta. Ainda segundo esta corrente de pensamento, as leis divinas, naturais e até as humanas seriam expressões dessa vontade e racionalidade divinas. A razão humana, por ter sido criada por Deus e ser dotada de razão, estaria apta para se lançar à interpretação dessas leis e desígnios divinos. Em outras palavras, há uma comensurabilidade entre a razão divina e a razão humana. Já os voluntaristas partem do princípio de que a vontade de Deus é tão superior a nós que é impossível que a entendamos. As leis divinas vêm decretadas pelo Criador e sempre nos serão um mistério. Embora também acredite que Deus seja bom, o voluntarista defende que não temos como estender nossos critérios de bem e mal ao criador. O Bem, enfim, é a vontade de Deus, e não o que nos parece bom por nossa racionalidade: dizer que a natureza de Deus é boa é uma questão de fé e não de raciocínio. Com efeito, a prece em louvor a Deus, como reconhecimento de fé, é uma atitude cristã bastante consoante com o Voluntarismo. Os partidários dessa corrente de pensamento se limitarão a obedecer às leis reveladas pelo livro sagrado e pela instituição religiosa.

As Vertentes Intelectualista e Voluntarista na Ética Cristã Medieval

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Segundo a vertente Intelectualista da filosofia cristã medieval, Deus não é absolutamente livre, em sentido estrito, para fazer o que bem entender, pois deve obedecer a sua própria razão. Consequentemente, Deus não criará a moralidade arbitrariamente, mas segundo a sua própria lógica. Deus irá querer sempre o Bem, e não o Mal e, por isso, se encontra limitado por sua própria natureza de bondade e inteligência absoluta. Já os voluntaristas partem do princípio de que a vontade de Deus é tão superior a nós que é impossível que a entendamos. As leis divinas vêm decretadas pelo Criador e sempre nos serão um mistério. Embora também acredite que Deus seja bom, o voluntarista defende que não temos como estender nossos critérios de bem e mal ao criador. O Bem, enfim, é a vontade de Deus, e não o que nos parece bom por nossa racionalidade: dizer que a natureza de Deus é boa é uma questão de fé e não de raciocínio. Com efeito, a prece em louvor a Deus, como reconhecimento de fé, é uma atitude cristã bastante consoante com o Voluntarismo. Os partidários dessa corrente de pensamento se limitarão a obedecer às leis reveladas pelo livro sagrado e pela instituição religiosa.

Citation preview

Page 1: As Vertentes Intelectualista e Voluntarista na Ética Cristã Medieval

As Vertentes Intelectualista e Voluntarista na

Ética Cristã Medieval

Vitor Vieira Vasconcelos

Bacharel em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG

Belo Horizonte, Minas Gerais, 2004

Segundo a vertente Intelectualista da filosofia cristã medieval, Deus não

é absolutamente livre, em sentido estrito, para fazer o que bem entender, pois

deve obedecer a sua própria razão. Consequentemente, Deus não criará a

moralidade arbitrariamente, mas segundo a sua própria lógica. Deus irá querer

sempre o Bem, e não o Mal e, por isso, se encontra limitado por sua própria

natureza de bondade e inteligência absoluta.

Ainda segundo esta corrente de pensamento, as leis divinas, naturais e

até as humanas seriam expressões dessa vontade e racionalidade divinas. A

razão humana, por ter sido criada por Deus e ser dotada de razão, estaria apta

para se lançar à interpretação dessas leis e desígnios divinos. Em outras

palavras, há uma comensurabilidade entre a razão divina e a razão humana.

Já os voluntaristas partem do princípio de que a vontade de Deus é tão

superior a nós que é impossível que a entendamos. As leis divinas vêm

decretadas pelo Criador e sempre nos serão um mistério. Embora também

acredite que Deus seja bom, o voluntarista defende que não temos como

estender nossos critérios de bem e mal ao criador. O Bem, enfim, é a vontade

de Deus, e não o que nos parece bom por nossa racionalidade: dizer que a

natureza de Deus é boa é uma questão de fé e não de raciocínio. Com efeito, a

prece em louvor a Deus, como reconhecimento de fé, é uma atitude cristã

bastante consoante com o Voluntarismo. Os partidários dessa corrente de

pensamento se limitarão a obedecer às leis reveladas pelo livro sagrado e pela

instituição religiosa.