76
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS CAMPUS JATAÍ CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO DE GRADUAÇÃO ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010

ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

  • Upload
    others

  • View
    2

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

CAMPUS JATAÍ

CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO DE GRADUAÇÃO

ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES

Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella

JATAÍ 2010

Page 2: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

MIGUEL AURIONE

ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES

Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação apresentado para a obtenção do título de Médico Veterinário junto à Universidade Federal de Goiás,

Campus Jataí.

Orientador : Prof. Dr. Ariel Eurides Stella

UFG/ CAJ

Supervisor: Fernando de Paula Navarrette

BRASIL FOODS S.A

JATAÍ 2010

Page 3: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) GPT/BC/UFG

A927a

Aurione, Miguel Aspectos de bem-estar animal no abate de aves / Miguel Aurione. - 2010. 62 f. : il., figs., tabs.

Orientadora: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella. Monografia (Graduação) – Universidade Federal de Goiás, Campus Jataí, 2010. Bibliografia. Inclui lista de tabelas e figuras. 1. Aves - Abate - Complexo agroindustrial - Goiás (Estado) 2. Avicultura – Indústria – Consumidor – Qualidade da Carne . 3. Abate - Humanitário. I. Título. CDU: 637.512

Page 4: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

MIGUEL AURIONE

Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação defendido e aprovado em oito

de Dezembro de 2010 pela seguinte Banca Examinadora:

_______________________________________________________________

Prof. Dr. Ariel Eurides Stella – UFG/CAJ

(Presidente da Banca)

_______________________________________________________________

Profª. Drª. Cleusely Matias de Souza – UFG/CAJ

(Membro da Banca)

_______________________________________________________________

Med. Veterinária Gracielle Teles Pádua – Brasil Foods – Mineiros

(Membro da Banca)

Page 5: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

iv

AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço a Deus por sempre estar ao meu lado, em

todas as etapas de sucesso da minha vida.

Aos meus pais, Miguel Aurione Neto e Tereza Olímpia, por confiar

em minhas capacidades e apostarem em meu crescimento pessoal e

profissional, sempre apoiando pelas minhas decisões e sendo peças

fundamentais para o meu sucesso.

A minha amada Lorena Maria, que ajudo muito para o meu

crescimento pessoal, sempre estando ao meu lado durante grande parte da

minha formação acadêmica, me apoiando e incentivando, nos momentos

felizes e difíceis.

Aos funcionários do Matadouro de aves e coelhos, BRASIL FOODS

S.A – Mineiros, pela paciência e dedicação, pelos ensinamentos que todos

pouco souberam me passar durante minha permeância no estagio curricular.

Aos amigos que soube construir durante o estagio, que foram peças

fundamentais para a realização do mesmo. Ao supervisores e técnico, Julio

Cesar, Thatiane Chistine e Willian Rodrigues e aos veterinários Fernando

Navarrette e Gracielle Teles.

Aos meus amigos de infância que mesmo morando muito distante,

sempre estiveram do meu lado, Daniel Baramille, Mauricio Leite, Pablo Natal,

Taina Dal Bosco, Tales dias, etc.

Aos meus colegas de faculdades, que sempre foram mais que

colegas e amigos e sim verdadeiros irmãos que a vida me proporcionou,

estando sempre juntos nas farras semanais, sendo verdadeiros companheiros

em todos os momentos; Rômulo pereira, Fausto Carrijo, Juliano Pereira,

Alexandre Vinhal, Willian Fayad, Lucas Santos e todos da minha turma que

sempre tiveram presentes.

As minhas colegas de faculdade, que sempre foram e estiveram

presentes, vivendo inseparavelmente durante os cinco anos. Ísis Assis, Jessica

Ribeiro, Ludmilla Daminhão, Nívea Carolina, Vanessa Freitas, Flávia Freitas,

Janine Freitas.

Page 6: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

v

Agradeço de coração aos meus irmãos de republica, em que

vivemos todo o período de faculdade junto, construindo uma historia, com

inestimáveis momentos agradáveis, Willian Martins Silva e Reiller Morães Silva.

Ao meu orientador Ariel Eurides Stella, pela paciência e atenção no

acréscimo aos meus conhecimentos acadêmicos.

Ao nosso psicólogo fabinho que em todos os momentos de nossa

graduação, sempre nos acolheu de braços aberto no seu estabelecimento,

sempre servindo a “cerva” bem gelada e o pastel na hora.

A todos os professores que foram fundamentais para o meu

conhecimento acadêmico, fazendo com que aumenta-se os meus

conhecimentos da área, Cleusely Matias de Souza, Vera Fontana, Thiago

Correa, Carla Fontana, etc.

A nossa ajudante de republica, que sempre esteve nos ajudando

com os serviços domésticos, obrigado Celina.

Agradeço de coração a todas as pessoas que foram importantes ou

que participaram de minha formação acadêmica, contribuindo de alguma

forma. Há todo muito obrigado.

Page 7: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

vi

Dedico,

aos meus pais Miguel Aurione

e Tereza Olímpia que me apoiaram

e sempre me deram força para correr

atrás dos meus sonhos e nunca desistir.

não podendo faltar as pessoas importantes,

meu irmão Gabriel Almeida Aurione,

minha amada Lorena Maria e meus amigos

que sempre estiveram presentes.

Page 8: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

vii

“Chegará o dia em que os homens conhecerão o íntimo

dos animais, e neste dia, um crime contra

um animal será considerado um crime

contra a humanidade.”

(Leonardo Da Vinci)

“Durante toda a faculdade de veterinária,

você aprende a possibilitar um conforto e

bem-estar para os animais, hoje eu possibilito

um bem-estar para que eles possam morrer bem.”

(Darwem Alencar – Veterinário Sênior BRF S.A)

Page 9: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

viii

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................. 1

2. CAMPO DE ESTÁGIO .................................................................................... 4

2.1 Complexo agroindustrial BRF, Mineiros – GO .............................................. 4

2.2 Atividades desenvolvidas .............................................................................. 5

3. MERCADO DE PERU ..................................................................................... 8

4. ASPECTOS DE BEM - ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES ...................... 12

4.1 Abate humanitário ......................................................................................... 14

4.2 Legislações e protocolos de bem-estar animal ............................................ 15

4.3 Fisiologia do estresse .................................................................................... 19

4.4 Estresse animal versus qualidade da carne .................................................. 24

4.5 Parâmetros de bem-estar no abate ............................................................... 28

4.5.1 Apanha ....................................................................................................... 28

4.5.2 Transporte .................................................................................................. 30

4.5.3 Descanso pré-abate / recepção.................................................................. 33

4.5.4 Pendura ...................................................................................................... 37

4.5.5 Insensibilização .......................................................................................... 40

4.5.6 Sangria ....................................................................................................... 52

4.5.7 Abate de emergência ................................................................................. 56

4.5.8 Abate religioso ............................................................................................ 57

CONCLUSÃO ....................................................................................................... 60

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 61

Page 10: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

ix

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 Complexo Agroindustrial BRF - Mineiros – GO ................... 04

FIGURA 2 Logomarca do programa de bem-estar animal BRF ........... 14

FIGURA 3 Selo da HFAC, de controle de abate humanitários ............. 18

FIGURA 4 Logomarca da HFAC ........................................................... 18

FIGURA 5 Gráfico de respostas endócrinas ao estresse ...................... 21

FIGURA 6 Apanha de perus de maneira correta .................................. 30

FIGURA 7 Apanha de perus de maneira incorreta ............................... 30

FIGURA 8 Imprevistos com o transporte das aves: atolamento ........... 32

FIGURA 9 Galpão de espera das aves no matadouro BRASIL FOODS S/A, Mineiros – GO .............................................................. 34

FIGURA 10 Aves com morte súbita nas caixas de transporte nos galpões de espera ............................................................................ 35

FIGURA 11 Ventiladores e nebulizadores no galpão de espera da BRF – Mineiros .............................................................. 37 FIGURA 12 Sala de pendura - matadouro BRF BRASIL FOODS S/A, Mineiros – GO ..................................................................... 38

FIGURA 13 Insensibilização mecânica por dado cativo em perus ........ 42

FIGURA 14 Entrada dos perus na cuba de insensibilização. BRF – Mineiros ................................................................... 43

FIGURA 15 Demonstrativo do funcionamento de uma cuba eletrificada .44

Page 11: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

x

FIGURA 16 Insensibilização com aves pequenas, baixa resistência ..... 44

FIGURA 17 Insensibilização com aves grandes, alta resistência ........... 45

FIGURA 18 Divisão de amperagem em todas as aves na cuba ............ 47

FIGURA 19 Pré-choque na asa, na entrada da cuba, antes da ave ser insensibilizada .................................................................... 49

FIGURA 20 Demonstrativo do corte dos quatro vasos, duas artérias carótidas, duas veias jugulares ........................................... 53

FIGURA 21 Demonstrativo do corte de dois vasos, uma artérias caro- tidas,Uma veia jugular ......................................................... 54

FIGURA 22 Demonstrativo do corte das duas veias jugulares, com as artérias intactas .............................................................. 54

FIGURA 23 Símbolo da Cibal Halal Brasil, Centro Islâmico Brasileiro de abate Halal .......................................................................... 59

Page 12: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

xi

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 Correspondente da quantidade de freqüência e amperagem para frangos e perus. ............................................................. 46

Page 13: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

1. INTRODUÇÃO

O mercado consumidor de proteínas de origem animal vem

aumentando a cada ano, devido a carne de ave ser uma fonte de proteína

relativamente barata e com baixa quantidade de lipídeos. A cada dia cresce

mais o número de pessoas preocupadas com a saúde de sua família e com o

modelo de produção dos alimentos.

A tendência desta nova década e de cada vez mais, pessoas

exigirem alimentos saudáveis ou que sejam criados em padrões visando o

bem-estar animal. Com isso, as pessoas procuram preferencialmente alimentos

livres de medicamentos, produzidos dentro dos padrões de bem estar-animal,

orgânicos e/ou que respeitem padrões religiosos durante o abate.

Para conseguir conquistar o mercado consumidor, que geralmente é

externo as empresas devem se adequar às exigências de cada consumidor.

As mudanças no estilo de vida da sociedade, fez com que as

necessidades e preferências dos consumidores se modificassem, isso levou as

indústrias a se adaptarem a estas novas exigências. Maiores volumes de

frango em corte ou desossado passaram a ser requeridos, em detrimento às

aves embaladas inteiras.

Na produção houve a necessidade de selecionar geneticamente

aves com maiores rendimentos de coxa e peito e, na industrialização houve a

necessidade de minimizar defeitos causados pelo manejo pré-abate e durante

o abate, que se tornavam evidentes quando a ave era comercializada com

osso ou desossada (MENDES, 2002).

A rede de produtos alimentícios Tesco, um dos maiores mercados

atacadistas da União Européia, exige uma cota de produção de seus

fornecedores. Cotas essas que priorizam o bem-estar animal, desde a fase de

perus nas granjas até a sangria sem sofrimento e dor.

Alguns mercados com a religião predominante islâmica, exigem que

os animais sejam abatidos por ritual religioso. No abate Halal, o bem-estar das

aves não é o ponto principal, mas sim o sofrimento do animal, para garantir um

alimento puro, livre de sangue.

Page 14: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

2

Junto com as exigências dos mercados específicos, tem-se o

desafio de produzir mais a um preço menor. No entanto há também uma maior

preocupação com a biossegurança dos alimentos. Para se produzir mais, com

um preço barato e além de tudo um alimento inócuo se faz necessário cada

vez mais estudos envolvendo os animais criados intensivamente, visando

reduzir as perdas da produção, o aumento dos níveis de rentabilidade do

produto acabado, com uma qualidade impecável Deste modo, deve-se investir

em pesquisas, para descobrir e solucionar problemas encontrados no

fluxograma industrial.

Na região Centro-Oeste, a avicultura tem possibilidade de

crescimento e desenvolvimento vigoroso, visto que os produtores encontram

um cenário com ótimas condições para produzir aves de qualidade. Dentre as

vantagens temos a mão-de-obra barata e a facilidade de aquisição de grãos

como milho, soja e sorgo, que permite a produção de ração a baixo custo e

suficiente para suprir o vasto plantel regional.

Uma das maiores empresas especializados na produção de

produtos cárneos in natura e industrializados, a Brasil Foods S.A. esta presente

no sudoeste goiano, possuindo três grandes frigoríficos de abates de aves e

suínos: Rio verde, abate de suínos, frango e chester, em Jataí frango leve e em

Mineiros perus pesados.

Este trabalho demonstra a importância do abate humanitário na

produção avícola, discutindo políticas e protocolos de bem estar animal (BEA)

dos principais centros de exportação e consumidores de carne de aves, como a

União Européia (E.U), Estados Unidos da América (E.U.A) e o Brasil.

São relatados os protocolos brasileiros de bem-estar animal da

União Brasileira Avícola (UBA) de 2008, juntamente com a Associação Mundial

de Proteção aos Animais (WSPA). Legislações da Autoridade máxima da

Européia para a Segurança dos Alimentos (EFSA) de 2004, onde possuem

orientações sobre os métodos de atordoamento e sangria adequada para o

abate de animais. Os protocolos Norte Americanos da associação de bem-

estar animal dos Estados Unidos “Humane Farm Animal Care” (HFAC),

seguem os padrões dos cuidados com animais, específicos para perus de

2008.

Page 15: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

3

Evidenciando a importância do abate humanitário no Brasil, o

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e a Sociedade

Mundial de Proteção aos Animais; “ World Society for the Protection of Animals

(WSPA), criaram protocolos e executam treinamentos aos Médicos Veterinários

e agentes do serviço de Inspeção Federal (SIF) dos frigoríficos.

O objetivo deste trabalho foi relatar as atividades desenvolvidas na

indústria durante a permanência do estágio curricular, evidenciando o processo

de abate de aves, visando um produto de melhor qualidade com um

rendimento elevado, colocando em pauta uma das maiores preocupações com

a qualidade e biossegurança dos produtos, o bem estar-animal, está tornando

a principal exigência do mercado, assim políticas de bem-estar devem ser

discutidas e adotadas visando às especificações de cada grupo de

compradores.

Page 16: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

4

2. CAMPO DE ESTAGIO

2.1 Complexo Agroindustrial Brasil Foods S/A – Mineiros – GO

As empresas da BRASIL FOODS – S.A comercializam os produtos

de grandes marcas, reconhecidas nacional e internacionalmente como Perdix,

Halal, Confidencia (comércio internacional), Batavo, Perdigão, Sadia, Becel,

Doriana, Cotochés e Elege (comércio Nacional).

A unidade da BRF de Mineiros – GO é originada do projeto Guarani,

no qual se abate perus está situada na Rodovia GO 341, s/n, km 2,5 (FIGURA

1).

FIGURA 1 – Complexo Agroindustrial da BRF Mineiros – GO Fonte: Google Earth, 2010.

A unidade possui hoje cerca de 1.200 funcionários, e abate em

média 22.000 perus/dia, em dois turnos. A capacidade real da indústria e de

30.000 perus/dia em três turnos. Possui estrutura física montada, para os

equipamentos para a implantação de outra linha de abate de aves.

O estágio foi realizado no setor de abate e evisceração de perus,

com a supervisão do administrador Julio Cesar Perreira, com acompanhamento

dos médicos veterinários responsáveis pelo setor, Dr. Fernando de Paula

Navarrette – CRMV - 5137 e Drª. Gracielle Teles Pádua – CRMV - 4902. O

Page 17: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

5

mesmo foi realizado no período de 10 de agosto à 26 novembro de 2010, com

totalização de 540 horas.

A empresa possui uma estrutura considerada avançada para o setor,

com todos os programas de autocontrole implantados, e com um programa de

bem-estar animal rigoroso, proporcionando um conforto no abate das aves,

sendo bastante cobrado por parte da empresa e do mercado comprador, como

seus clientes da Tesco.

Com uma unidade de abate relativamente nova, com três anos de

funcionamento, está em grande desenvolvimento no setor de produção e

exportação de proteína de origem avícola. Atualmente com 60% da indústria

em produção, e atuando com 70% da sua capacidade implantada, tende a ter

um aumento na sua produção, aderindo à segunda linha de abate.

2.2 Atividades desenvolvidas

Durante a permanência na indústria, local de realização das

atividades de estágio curricular, foram acompanhados os procedimentos de

rotina dos Médicos Veterinários do setor de abate e evisceração, que controlam

a qualidade das carcaças e o bem-estar das aves. Foi acompanhado também a

rotina dos vários setores da unidade produtiva, Garantia Qualidade (GQ), PCP,

Apontamento, com o intuito do conhecimento de todas as etapas da cadeia

produtiva.

Foi acompanhada a criação dos perus (setor da agropecuária), com

início nos aviários de crescimento dos perus como o sistema iniciador de perus

(SIP). Neste, os pintainhos permanecem até os 28 dias, passando para o

sistema terminador de perus (STP), de onde permanecendo até a fase de

abate, com 90 dias para as fêmeas e 120 dias para os machos.

Na industria, houve acompanhamento em todos os setores, incluindo

setores administrativos e de produção como apontamento, PCP

(Processamento, controle e produção), ETE (Estação de tratamento de

esgoto), caldeira, FFG (Fábrica de farinhas e gordura), sala de abate, sala de

cortes, sala de CMS (Carne mecanicamente separada), paletização, etc.

Page 18: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

6

Durante a permanência na indústria, houve acompanhamento

constante dos Médicos Veterinários responsáveis pela linha, possibilitando uma

maior abordagem do conhecimento do processo industrial de abate de perus e

das suas áreas de atuação na indústria.

Outra atuação dos Médicos Veterinários é a responsabilidade pelo

controle da qualidade de alimentos, visando estabelecer os programas de

autocontrole, como Boas Prática de Fabricação (BPF), Análise de Perigos e

Pontos Críticos de Controle (APPCC) e Procedimento Sanitário Operacional

(PSO). Foram realizadas vistorias em todo o processo de produção, avaliando

a cadeia produtiva, verificando temperaturas, qualidade e aspectos dos

produtos, controle de sanidade e higiene, tudo visando o controle das

exigências implantadas pelo Sistema de Inspeção Federal (SIF), gerenciado

pelo MAPA.

No setor de abate e evisceração, os Médicos Veterinários, devem

fazer acompanhamento do lote para avaliação das carcaças e inspeção do

bem-estar das aves (possuem nomeação de inspetores do bem-estar animal).

Além do acompanhamento dos Médicos Veterinários da indústria,

são realizados projetos no setor de atuação do estágio, como o de rendimento

de carcaça, viabilidade do Post-Stunner e modificações de bem- estar animal

do programa da WSPA.

O projeto de rendimentos de carcaças de perus pesados, constituía

da verificação do rendimento das carcaças e dos miúdos comercializados

(fígado, moela, coração e traquéia). Com estes dados em mãos, era possível

verificar qual das raças de perus comerciais encontrava melhor rendimento na

região, assim podendo haver melhorias genéticas do plantel. A raça hoje

abatida, e da linhagem americana, BUTA (British United Turkeys American)

será substituída pela linhagen melhorada geneticamente, como Nichollas

(California, EUA) e a Britânica, Hybrid onde foram realizados testes com as

raças. Os testes de rendimento de carcaça e miúdos entre as raças e sexos,

comprovaram que a raça Nichollas possui o maior rendimento de carcaça,

acompanhado das raças Hybrid e BUTA, possuindo 79,85%, 79,65% e 79,14%

respectivamente para as fêmeas de perus. Os rendimentos dos miúdos

também acompanharam os das carcaças.

Page 19: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

7

Outra finalidade dos testes foi verificar qual faixa de peso,

apresentava um maior rendimento para o abate, constando a faixa de 7 kg à

8,5kg de peso vivo das fêmeas de BUTA a mais rentável.

O procedimento do projeto constituía da pesagem dos animais vivos

na sala de pendura, utilizando uma balança tipo Toledo, com precisão de cinco

gramas. Após a pesagem dos animais, eram lacrados com um lacre de

polietileno e uma etiqueta do mesmo material, os animais recebiam lacres

numerados para que pudessem retornar a linha da nórea, afim de prosseguir

com os testes na sala de evisceração. Na evisceração após as linhas de

inspeção, foram retirados os pacotes, contendo o fígado, coração e moela,

Neste local os miúdos eram limpos e pesados.

No PCC2 os funcionários retiram da linha as carcaças etiquetadas,

onde posteriormente eram pesadas as carcaças integras que não tiveram

alterações pelos funcionários do SIF. Assim, possibilitando uma amostragem

de cada animal com as variáveis de peso vivo, peso da carcaça, peso do

coração, peso da moela, peso do fígado e peso de traquéia. Com todos estes

parâmetros, é possível calcular a porcentagem de rendimento de cada animal,

e então analisada a porcentagem de miúdos separadamente e carcaças,

podendo verificar qual margem de peso é mais rentável.

O projeto de análise da viabilidade de um Post-stunner, possuindo

uma finalidade da implantação de um estimulador elétrico que possa ocorrer

uma estimulação elétrica na musculatura das aves após a sangria, para que a

mesma possa facilitar o esgotamento eficiente do sangue das aves, deste

modo à reduzir os índices de sangue residual presente nas veias braquiais, das

asas e na veia cava, presente internamente na musculatura do peito. A

estimulação na ave após a sangria faria com que a musculatura contraísse

facilitando e forçando o bombeamento do sangue, durante a sangria.

O projeto de BEA visava adequar a unidade industrial as

especificações do treinamento realizado em parceria do SIF com a WSPA, as

mesmas foram corrigidas e adequadas perante os regulamentos da

organização, visando o bem-estar das aves no abate.

Page 20: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

8

3. MERCADO DE PERU

Nos últimos anos, a avicultura brasileira tem apresentado um grande

crescimento, evidenciando uma importante representação na produção mundial

de proteína animal, como carne e derivado de aves. De certa forma a produção

e a criação de perus se destaca nestes últimos aumentos da produção avícola

brasileira. Assim como o frango de corte, grande parte da produção de carne

de peru é exportada. Todavia o frango de corte tem o consumo no mercado

interno bastante consolidado, o que já não ocorre com o consumo de derivados

de peru, que se apresenta bastante baixo, já que é considerado como um

alimento nobre e caro.

Tendo o Brasil pouca tradição no consumo da carne de peru, a

tecnologia de produção e abate ainda é novidade sendo abatidos

industrialmente menos de 10 anos, necessitando de melhorias para a

adaptação da espécie em nossa região (Centro-Oeste); diferente de países que

possuem a tradição e hábito no consumo da carne da ave em questão como

EUA e UE.

A tendência das pessoas nesta década é de procurar consumir

alimentos mais saudáveis e naturais, obtidos respeitando o bem-estar animal.

Isto faz com que aumenta se a procura por produtos de carne de aves,

principalmente de peru. A substituição do consumo da carne vermelha pela

carne branca das aves já está ocorrendo em vários locais do mundo.

O mercado interno brasileiro para peru inteiro é bastante limitado

uma vez que o produto compete diretamente com as aves temperadas, cujos

hábitos de consumo estão concentrados nas ocasiões festivas. O segmento de

cortes “in natura” também concorre diretamente com os cortes de frangos.

Exceção se faz aos processados, uma ótima forma para aumentar o consumo

per capita de perus no Brasil, especialmente na forma de presuntos, peitos

defumados, cozidos, mortadelas, salsichas, hambúrgueres, entre outros, aliado

ao forte apelo pela carne branca, saudável, com baixo teor de gordura, avalia

KAIBER (2004).

Hoje, o Brasil ocupa o 3° lugar no ranking de produção mundial de

carne de peru, tendo como destino grande parte da produção o mercado

Page 21: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

9

externo, já que o consumo interno é pequeno. Atualmente o consumo per

capita brasileiro de carne de peru está em tornor de 1 kg/hab./ano, no ano de

2003, o consumo era de 700 gramas/hab./ano. Mesmo com a elevação do

consumo interno, o Brasil ainda está longe de figurar entre os maiores

consumidores mundiais da ave, entretanto o país permanece atrás apenas dos

Estados Unidos e da União Européia. Estes países são também os maiores

criadores mundiais de peru, responsáveis por 91,1% da produção, enquanto

que a produção de peru no Brasil representa 6,9% da produção mundial (RAI,

2009).

De acordo com dados divulgados pelo Departamento de Agricultura

dos Estados Unidos (USDA), a produção global de carne de peru em 2010 está

prevista em 5.156 bilhões de toneladas. Estados Unidos e União Européia

serão responsáveis por cerca de 85,8% da produção mundial. Este ano, o

Brasil, que é o terceiro maior produtor de carne de peru do mundo, deve

produzir cerca de 437 milhões de toneladas. A expectativa para 2010 é que o

país eleve o número de exportações em pelo menos 12 milhões de toneladas

(RAI, 2009).

O Canadá que é o quarto maior produtor, diminuiu sua produção em

11 milhões de toneladas em 2009. Entretanto a expectativa para 2010 no país

é um aumento de pelo menos 6% (RAI, 2009).

No Brasil existem quatro cidades que estão abatendo perus

industrialmente, as quais são representadas por grandes companhias no ramo

alimentício, cidades estas bem divididas estrategicamente pelo país, como

Uberlândia- MG, Francisco Beltrão – SC, Chapecó – SC e Mineiros – GO.

O complexo agroindustrial da BRF BRASIL FOODS – S.A, localizada

em Mineiros, é um dos maiores abatedouro de perus do Brasil, tendo abatidos

em Agosto/2010, cerca de 22.000 aves/dias, totalizando 440.000 aves abatidas

no mês em questão, em cinco dias abate por semana. No mesmo mês, teve

entrada na indústria 5.700 toneladas de peso vivo (PV) da ave, gerando 4.000

toneladas de produto acabado. Grande parte desta produção na indústria é

destinada a compradores externos, sendo exportados 64% da produção, 6%

destinado ao mercado interno e 30% gerado matéria prima para produtos

industrializados em outras unidades da empresa, principalmente em Rio Verde

Page 22: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

10

– GO. Esta porcentagem de matéria prima é disponibilizada no sistema

integrado da empresa, onde outras sedes que fazem a industrialização podem

requerer o produto. Em torno de 90% da matéria prima é disponibilizada para

Rio Verde e 10% para o restante das indústrias. Grande parte destes produtos

industrializados são destinados ao mercado interno. Este mercado possui

exigências de produtos de segunda linha, não tendo procura por cortes nobres

da ave. Este mercado prefere sambiquira, moela, pescoço, asa, e produtos

industrializados em geral, como presuntos, patês e embutidos. Estes produtos

são disponibilizados, para as regiões sul, sudeste e nordeste, onde a procura

por este tipo de produto é bem maior.

Grande parte da produção da carne de peru é exportada, são três

grandes grupos de compradores licenciados: os países da lista européia , lista

especial, lista geral. Cada um dos países destas listas possuem suas

exigências e especificações para a comercialização dos produtos.

O complexo BRASIL FOODS – S/A - Mineiros, exporta hoje para os

seguintes países; Lista especial: África do Sul, Países Árabes, Ilhas Canárias,

Argentina e Chile ; Lista Européia: Suíça, Rússia e Alemanha; Lista Geral:

África geral, China, Chile etc.

Alguns destes países ou compradores possuem suas exigências

específicas sobre o produto, o que faz com que a industria se adéqüe ao

mercado comprador.

A rede atacadista Tesco, localizada na Europa, tem como

compradores a Suíça e a Rússia, possuindo exigências específicas para

produtos que se adaptem ao hábito dos consumidores. A rede possui uma cota

de exigências onde os animais abatidos devem ter minimizados ao máximos

seus níveis de estresse ou dor, priorizando um alimento que seja produzido

dentro dos padrões éticos do bem-estar animal. Suas exigências começam no

campo, possuindo aviários específicos para Tesco. Estas exigências são

acompanhadas e passando relatórios mensais para a rede. Uma vez ao ano

eles vêm auditar a indústria.

A cota Alo Free, que possuem produtos livres de medicamentos

durante a sua produção, prioriza um público exigente, que é formado por

Page 23: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

11

naturalistas, que querem um produto natural, livre de qualquer medicamento,

estimulante nutricional, entre outras. Esta cota é exportada para a suíça.

A empresa realiza o abate Halal (abate religioso), para as

exportações de produtos aos países Árabes, que possuem a religião Islâmica.

Eles acreditam que o animal oferecido como alimento, não deve conter

qualquer tipo de “toxinas” e “impurezas”, sendo assim eles retiram o sangue

dos animais por completo acreditando que as impurezas estão contidas no

sangue, e fazem orações durante o processo de sangria, segundo a religião,

para que a alma do alimento seja purificada. Uma das exigências é de que o

animal deve estar o menos sensibilizado possível, para que possa estar

consciente na hora da purificação diante de Ala.

Comparando com a cota Tesco, são dois produtos e linhas de

produção totalmente diferentes onde um visa o BEA e outra linha o sacrifício.

Page 24: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

12

4.0. ASPECTOS DE BEM - ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES

O termo bem-estar animal designa, de maneira geral, os numerosos

elementos que contribuem para a qualidade de vida dos animais. Assim, para

que possa ser definida uma condição de bem-estar, esta deve permanecer nos

parâmetros que constituem as "cinco liberdades" definidas pela Farm Animal

Welfare Council (FAWC) de 1992. Portanto, a adoção de medidas envolvendo

o bem-estar animal deve ser baseada em conhecimentos científicos e incluir o

planejamento e a capacitação das pessoas envolvidas (UBA, 2OO8).

Decorrente de uma das maiores discussões na cadeia de produção

de proteínas de origem animal, atualmente o bem-estar dos animais de é

definido desde a criação ao abate e visa seguir os aspectos das legislações de

proteção aos animais dos países compradores, que prioriza um alimento que

tenha sido produzido com total qualidade, biossegurança e BEA.

Alguns países já perceberam a importância de se criar um código de

praticas definindo os aspectos de cada passo na produção e abate de animais

priorizando o bem-estar, assim definindo uma legislação local de proteção e

ética na cadeia de produção animal.

Nos últimos anos tem se evidenciado uma demanda crescente, de

diversos países e mesmo blocos de países, por produtos de animais criados

com padrões de bem-estar. O preço que o consumidor final paga pode ser um

pouco mais alto, mas ele está mais consciente e mais exigente sobre a forma

como os animais destinados à alimentação são criados, mesmo que para isso

tenha que pagar um pouco mais (WSPA, 2009).

O Programa Nacional de Abate Humanitário da WSPA-Brasil vem ao

encontro dessa demanda, considerando também a legislação brasileira, as

diretrizes da OIE, as legislações européias e o movimento global que existe

hoje em relação ao bem-estar animal (WSPA, 2009).

O conceito de bem-estar animal foi, em seu início, estabelecido

dentro de parâmetros de natureza muito ampla e de aspectos pouco científicos,

portanto, de difícil aceitação por países produtores. Com isso criou-se

parâmetros de avaliação do bem-estar dos animais, que são analisados com

fundamentos científicos.

Page 25: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

13

As cinco liberdades são: liberdade psicológica (de não sentir medo,

ansiedade ou estresse); liberdade comportamental (de expressar seu

comportamento natural sem influencias do homem); liberdade fisiológica (de

não sentir fome ou sede); liberdades sanitárias (de não estar exposto a

doenças e injúria) e liberdades ambientais (de viver em ambientes adequado,

com conforto e sem predadores).

As “cinco liberdades” foram originalmente desenvolvidas pelo

Conselho de Bem-Estar de Animais de Produção do Reino Unido (Farm Animal

Welfare Council – FAWC) e oferecem valiosa orientação para definir o bem-

estar animal.

As visões da sociedade com relação ao bem-estar animal estão

mudando e existe uma crescente preocupação com os valores éticos que

dizem respeito produção animal. Em virtude dessas mudanças, as pessoas não

mais consomem simplesmente os produtos alimentícios mais baratos, mas

procuram por várias características qualitativas adicionais, dentre as quais está

o bem-estar (NÄÄS, 1995).

O Brasil é um grande exportador de carne de frango e peru,

entretanto o país hoje possuem poucas exigências sobre BEA no abate de

aves, a tendência é que este cenário mude, devido à demanda do comércio

exterior, principalmente daqueles países ditos desenvolvidos.

Na atualidade um do poucos países que possuem uma legislação

especifica no assunto, é a união européia, com a Autoridade Européia para a

Segurança dos Alimentos (EFSA) onde o foco são os métodos de

atordoamento e sangria dos animais de produção, visando cada espécie

especifica.

O Brasil, somente as Instrução Normativa (IN) Nº 3, de 17 de Janeiro

de 2000, que visa o Regulamento Técnico de métodos de insensibilização para

o abate humanitário de animais de açougue, Portaria 210, regulamento técnico

da inspeção tecnológica e higiênico-sanitária de carne de aves, visão o galpão

de espera cuidados no trasporte das aves ate o frigorifico.

O protocolo brasileiro de BEA, foi elaborado a partir de associações

de bem estar animal e a União Brasileira de Avicultura (UBA), criando

protocolos de procedimentos de bem-estar para frangos e perus de corte.

Page 26: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

14

As Indústrias devem realizar os procedimentos de BEA mesmo que

não exista um órgão que possa fiscalizar estas ações.

As indústrias Perdigão S/A, possuem padrões específicos para o

bem-estar animal (FIGURA 2). Inspetores e códigos de conduta de bem-estar

animal garantem um abate tranquilo para as aves, assim gerando um produto

de qualidade, conquistando compradores exigentes internacionalmente.

FIGURA 2 – Logomarca do Programa de Bem-Estar Animal BRF. Fonte: BRF S/A, 2010.

A intenção deste trabalho é analisar e unificar e avaliar os aspectos

de bem-estar animal de várias legislações mundiais, comparando as doutrinas

dos grandes mercados consumidores e produtores de carne de aves, visando

um propósito em comum, o bem-estar de aves no processo de abate.

4.1 Abate humanitário

O Abate humanitário consiste de um termo que envolve bastante

discussões, confusão de sua definição e até mesmo ironia do seu termo, visto

que muitas pessoas não consideram humanitário o ato de se abater um animal

para consumo. Instintivamente, é difícil fazer uma boa relação entre “abate”,

palavra que significa morte (realizada por sangria) e “humanitário”, que de

forma otimista nos remete ao amor à vida. Uma opção para e etiologia, poderia

ser “abate bem-estarista” (ROÇA, 2001).

Page 27: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

15

Abate humanitário, refere-se a todos os procedimentos que visam

temas relacionados à bioética, bem-estar e direito dos animal, a partir disso

pesquisadores do mundo todo estão elaborando técnicas de manejo, avaliando

reações fisiológicas e comportamentais de animais, afim de melhorar a

condição de vida e morte dos mesmos.

“Abate humanitário” é definido pela IN Nº 03, publicada em 2000

pelo MAPA, e pode ser intepretado como o conjunto de procedimentos técnicos

e científicos que garantem o bem-estar dos animais desde o embarque na

propriedade rural até a operação de sangria no matadouro-frigorífico (BRASIL,

2000).

O abate de animais deve ser realizado sem sofrimentos

desnecessários. As condições humanitárias devem prevalecer em todos os

momentos precedentes ao abate (ROÇA, 2001).

O essencial é que o abate de animais seja realizado sem

sofrimentos desnecessários e que a sangria seja eficiente. As condições

humanitárias não devem prevalecer somente no ato de abater e sim nos

momentos precedentes ao abate (GRACEY & COLLINS, 1992).

O importante é definir que no abate humanitário deve prevalecer a

moral do homem e o respeito a todos os animais, evitando os sofrimentos

inúteis. Cada país deve estabelecer regulamentos, com o objetivo de garantir

condições para a proteção humanitária à diferentes espécies de animais de

produção.

4.2 Legislações e protocolos de bem-estar animal

No Brasil infelizmente, ainda não existe nenhuma legislação

especifica na proteção para o bem-estar dos animais de produção, onde consta

no projeto de lei 215, ainda não aprovada.

O que ampara a proteção dos animais nos procedimentos pré-abate

seria, primeiramente, a normativa brasileira que trata do transporte de animais,

visando o bem-estar dos mesmos, o decreto 24.645 considera como maus

Page 28: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

16

tratos aos animais que tenha embarcado e permanecidos por mais de 12 horas

sem água e sem alimentos (BRASIL, 1934).

Posteriormente, estas normas foram complementadas pela portaria

nº 210, que é o Regulamento técnico da inspeção tecnológica e higiênico-

sanitária de carne de aves, onde uma das medidas da portaria exige a

construção de um local para espera nos abatedouros de aves, com ventilação

e se, necessária nebulização do ambiente (BRASIL, 1998).

A IN Nº 3, visa o Regulamento Técnico de Métodos de

Insensibilização para o Abate Humanitário de Animais de Açougue, assim

como o manejo destes nas instalações dos estabelecimentos aprovados para

esta finalidade (BRASIL, 2000).

Projeto de lei nº 215, institui o Código Federal de Bem-Estar Animal,

cujo objetivo é promover a redução da mortalidade decorrente de maus tratos

aos animais. No que se refere às operações pré-abate, o artigo nº 74 afirma

que no transporte, embarque e desembarque dos animais, devem ser

atendidas para as condições de bem-estar, a devida atenção com o tempo de

viagem, condições climáticas, densidade de aves por caixa, bem como o tempo

e local de espera (BRASIL, 2007).

Em julho de 2008, surge o protocolo de bem-estar para frangos e

perus, que visa o bem estar das aves destinadas ao abate. Protocolo este que

foi destinado a fornecer parâmetos de bem-estar, para indústrias e integrados.

O Protocolo de bem-estar animal na produção de frangos de corte e

perus foi elaborado para que seja utilizado como um documento norteador para

as empresas avícolas do Brasil. O trabalho foi coordenado pelo Dr. Ariel

Mendes da UBA, pela Dra. Sulivan Pereira Alves da Associação Brasileira de

exportadores de frangos e pela Dra. Ibiara C. L. Almeida Paz da Faculdade de

Medicina Veterinária e Zootecnia da UNESP (UBA, 2008).

Para sua elaboração foram consultados protocolos similares de

outros países e o documento preparado pelo Comitê Interamericano de

Sanidade Avícola (CISA). Considerou-se também a legislação brasileira

existente até então, ou seja, a IN nº3 da DSA/MAPA (UBA, 2008).

Como a União Européia é um importante importador de carne de

frango e perus do Brasil, procurou-se atender as exigências constantes da

Page 29: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

17

Diretiva 2007/43/CE do Conselho da União Européia que estabelece regras

mínimas para a proteção dos frangos de corte (UBA, 2008).

Na União Européia existe uma autoridade máxima para discutir

aspectos relacionados à qualidade e segurança dos alimentos, que cria

legislações para defesa dos animais de produção. A “European Food Safety

Authority” (EFSA) autoridade européia para a segurança alimentar, juntamente

com a sociedade protetora dos animais da União européia, produziram

protocolos de bem estar animal "Aspectos do bem-estar e métodos de

insensibilização de abate de animais” EFSA-Q-2003-093.

O Tratado de Amsterdã, em vigor desde 01 de maio de 1999,

estabeleceu novas regras de base para o abate da União Européia (UE) sobre

bem-estar animal, no "Protocolo relativo à proteção e Bem-Estar dos Animais

"(1997). Ele reconhece que os animais são seres sencientes (provido de

sentimentos e sensações) e obriga as instituições européias a levarem em

conta as exigências de bem-estar na formulação e aplicação da legislação

comunitária (EFSA, 2003).

Nos Estados Unidos da America (EUA), a Humane Farm Animal

Care (HFAC), estipula padrões de proteção e bem-estar dos animais, onde

criaram-se protocolos específicos para cada classe de animais e espécies, no

caso dos padrões que serão discutidos, refere-se especificamente para a

produção de perus de 2008.

A HFAC é apoiada pela associação de organizações de proteção

aos animais, indivíduos e fundações, como a American Society for the

Prevention Of Cruelty to Animals e a Humane Society dos EUA (HFAC, 2008).

De acordo com o mesmo autor, os padrões da HFAC foram

desenvolvidos para fornecer os únicos padrões aprovados para criação,

manejo, transporte e abate de perus, para serem usados no programa

“Certified Humane”, Esses padrões incorporam pesquisas cientificas,

recomendações de veterinários e experiências práticas na indústria agrícola

(HFAC, 2008).

Um selo de qualidade foi lançado nos EUA pela HFAC em 2004.

Onde se evidencia que alguns alimentos são produzidos de forma irracional, e

estipula-se que escolhendo alimentos que tenham um certificado de criação e

Page 30: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

18

manejo humanitário, os consumidores estariam não só demonstrando a sua

conscientização em torno do assunto, mas mandando um claro recado para a

agroindústrias em geral e dizendo que o tratamento humanitário dos animais é

prioridade na produção de alimentos.

O programa “Certified Humane” que estão ajudando a melhorar a

vida de milhares de animais de fazenda, foi desenvolvido para certificar animais

e seus derivados, após a aplicação e inspeção satisfatória, os produtos que

atenderem aos padrões da HFAC, podem utilizar o logotipo “Certified Humane -

Raises and Handled” nos produtos (Figura 3).

Os participantes do programa são inspecionados e monitorados pelo

HFAC (Figura 4). As taxas coletadas para a implantação do selo buscam cobrir

os custos das inspeções e do programa. Toda verba excedente será investida

na educação do consumidor e em pesquisas para melhorar os cuidados e o

bem-estar de animais de produção (HFAC, 2010).

FIGURA 3 - Selo da HFAC, identificando controle de Abate Humanitário. Fonte: HFAC, 2010.

FIGURA 4 – Logomarca da HFAC. Fonte: HFAC, 2010.

Page 31: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

19

Os códigos de práticas evidenciam a necessidade de se garantir ao

público, produtos elaborados dentro de padrões elevados de bem-estar animal.

Isso, tem levado algumas indústrias ou associações a elaborarem suas

próprias políticas e seus próprios códigos de prática. Exemplos de códigos de

prática da indústria que alcançaram confiabilidade são os desenvolvidos nos

Estados Unidos, pela UNITED EGG PRODUCERS (UEP) e por redes de "fast-

food" como McDonald's e Burger King, com recomendações relativas às

práticas de manejo, densidade nas gaiolas e transporte.

Os padrões de bem-estar na produção animal desenvolvidos pela

indústria que sejam baseados em princípios científicos e éticos, podem prover

boas alternativas à legislação imposta.

4.3 Fisiologia do estresse

Todos os seres vivos necessitam de exigências mínimas para sua

sobrevivência, sendo assim estão em constante manutenção de um equilíbrio

complexo, dinâmico e harmonioso, denominado homeostasia do organismo,

estando em constante resposta fisiológica reguladora. Desta maneira, toda vez

que um organismo é ameaçado (fisiologicamente ou psicologicamente) ocorre

uma série de respostas adaptativas que se contrapõem aos efeitos dos

estímulos, na tentativa de restabelecer a homeostasia. Nestas condições

dizemos que o animal está em estado de estresse (EDENS & SIEGEL, 1975).

Para EDENS & SIEGEL (1975), os pioneiros no estudo do estresse,

a terminologia estresse, descreve o mecanismo de defesa animal e o estímulo

ao estresse (estressor) como qualquer situação que induz as respostas

defensivas, ou seja, o estresse corresponde a uma interação entre o indivíduo

e o meio ambiente. O ambiente no qual a ave vive incluem várias combinações

de condições externas (temperatura, umidade, luz, etc) ou internas (doenças,

parasitas). O sucesso das aves em manter a homeostasia frente a estas

variáveis, vai depender da habilidade fisiológica da ave em responder aos

agentes estressores, bem como da intensidade dos mesmos.

Page 32: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

20

A resposta da ave frente aos agentes estressores depende da

integração de diferentes sistemas fisiológicos, principalmente o sistema

nervoso e o sistema endócrino. O sistema nervoso é o responsável pelo

contato que o animal possui, tanto com o meio externo (exteroceptiva) como

com o meio interno (interoceptiva). As informações sensitivas, exteroceptivas e

interoceptivas, fazem com que o animal tenha a sensação, ou seja, a

percepção de uma informação. Os estímulos sensoriais são na maioria das

vezes seguidas de respostas rápidas e lentas (EDENS & SIEGEL, 1975).

Para respostas rápidas aos agentes, há o envolvimento do sistema

nervoso autônomo simpático, que libera epinefrina, principalmente nos

terminais simpáticos e norepinefrína na medula da adrenal, afetando várias

funções do corpo de forma instantânea e direta (EDENS & SIEGEL, 1975).

Respostas lentas têm participação e mecanismos que envolvem

síntese e liberação de hormônios como, por exemplo, aumento ou diminuição

do metabolismo quando as aves se expõem ao frio ou calor, respectivamente

(EDENS & SIEGEL, 1975).

Resposta adaptativa hormonal frente ao estresse é desencadeada

inicialmente pela ativação do eixo hipotálamo-Hadrenal-adrenal (HHA), sendo o

estágio final desta ativação é a secreção de glicocorticóides a partir da córtex

adrenal. O estímulo interno e externo canalizados via sistema nervoso até o

hipotálamo estimulando a produção do hormônio liberador de corticotrófico

(CRH), o qual estimula a glândula pituitária (adeno-Hipófise) anterior a

aumentar a síntese de hormônio adrenocorticotrófico (ACTH). O ACTH chega

até a glândula adrenal e estimula a síntese e liberação glicocorticóides

(cortisol), pelo córtex da adrenal, que em conjunto com as catecolaminas da

medula da adrenal produzem lipólise, glicogenólise e catabolize de proteínas

(EDENS & SIEGEL, 1975).

O organismo responde a uma demanda física ou psíquica pela

liberação de ACTH da hipófise anterior, glicocorticóides pela córtex adrenal,

adrenalina a partir da medula adrenal e noradrenalina originada dos nervos

simpático como observado na Figura 5. Estes hormônios servem para adaptar

o organismo aos agentes estressores que podem induzir desde leves

Page 33: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

21

alterações psicológicas até intensas agressões físicas, afetando os sistemas

cardiovascular, imune e a produção energética (AXELROD & REISINE, 1984).

FIGURA 5 - Respostas endócrinas ao estresse. Fonte: AXELROD & REISINE (1984)

Portanto, catecolaminas e corticosteróides, mobilizam a produção e

distribuição de substratos energéticos durante o estresse, bem como induzem

alterações em varias funções do organismo que darão o suporte necessário

para restabelecer o equilíbrio (homeostase) (EDENS & SIEGEL, 1975).

JAMES et al. (1970) concluíram que o mecanismo de controle da

função adrenocortical em varias espécies, possui variações diurnas na

concentração de cortisol, detectando que os níveis a tarde, a parti das 16:00 h

seriam inferiores aos da amanhã, registrando que à noite os valores atingiam

68% dos valores matinais. Isto implicando a importância de realizar o

transporte das aves em horários de escuridão, diminuindo a carga de estresse.

O estresse em animais geralmente é considerado de dois tipos: o

estresse mental, o qual pode ser desencadeado por um meio-ambiente hostil

ou não familiar e o estresse físico ou participatório, que pode ser causado por

técnicas de contenção, impactos mecânicos ou canibalismos (STOTT, 1981).

Existem três fases evidentes no estresse:

- Fase de Alarme: esta é a fase em que os estímulos estressores

agem em respostas agudas.

Page 34: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

22

- Fase de Resistência: Se o agente estressor tornar-se crônico, o

organismo se adapta e parece normal até a resistência diminuir.

- Fase de Exaustão: O estressor é tão severo ou continuo por muito

tempo que a habilidade de resistir é reduzida. É nesta fase que o organismo

mostra os efeitos do estresse. (EDENS & SIEGEL, 1975).

Neste sentido, se em certo momento o animal não consegue manter

a homeostasia, a consequência, mesmo que rápida e eventual, será um

prejuízo ao bem estar animal.

O estresse térmico pode causar alterações na fisiologia das aves

assim os fatores ante-mortem atuam sobre as seguintes características da

carne: capacidade de retenção de água (CRA), perda por gotejamento, cor,

firmeza, maciez, sabor, suculência, capacidade de emulsificação das matérias

primas, rendimento do processo, e cor dos produtos processados (HEDRICK

et. al, 1994).

As condições climáticas são as que mais diretamente afetam as

aves, por comprometer a manutenção homeotérmica, que é uma função vital.

O desequilíbrio fisiológico causado por altas temperaturas e alta umidade

relativa do ar, no momento do abate, tem efeito direto sobre as reservas de

glicogênio muscular responsáveis pelo desenvolvimento das reações

bioquímicas post-mortem, que determinarão a qualidade da carne e suas

propriedades funcionais, ou seja, suas características possuem implicações

tecnológicas diretas e que influenciam decisivamente os aspectos econômicos

dos produtos (OLIVEIRA et al., 2006).

As aves, por serem homeotérmicas, dispõem de um centro

termorregulador localizado no hipotálamo. Esse centro é capaz de controlar a

temperatura corporal por meio de mecanismos fisiológicos e de respostas

comportamentais, mediante a produção e liberação de calor, possibilitando a

manutenção da temperatura corporal normal (MACARI et al., 1994).

Os principais mecanismos ativados para manter a homeostasia

térmica em frangos são, a radiação, a convecção e a evaporação (quase que

exclusivamente pela respiração, visto que esses animais não possuem

glândulas sudoríparas). Em temperaturas ambientais de até 21ºC, as perdas

sensíveis de calor se efetuam por meio dos processos de radiação, condução e

Page 35: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

23

convecção, já em altas temperaturas, a principal rota de dissipação do calor é a

evaporação respiratória (HILLMAN et al., 1985).

Normalmente as asas são afastadas do corpo (aumentando a área

de superfície de contato do ar com o corpo), e as penas são eriçadas para

permitir o resfriamento corporal. Internamente, a corrente sanguínea é

desviada de órgãos como fígado, rins e intestinos para a circulação periférica,

permitindo melhor troca de calor. A perda de calor não-evaporativo pode

também ocorrer com o aumento da produção de urina, se essa perda de água

for compensada pelo maior consumo de água fria (BORGES et al., 2003).

Um ambiente é considerado confortável para aves adultas quando

apresenta temperaturas de 16 a 23ºC e umidade relativa do ar (UR) de 50 a

70%, porém, quando a temperatura ambiente se eleva acima da zona de

termo-neutralidade, a ave é submetida ao estresse térmico. A temperatura

corporal e a taxa de ventilação aumentam, provocando uma redução na

pressão parcial de gás carbônico no sangue (BORGES et al., 2003).

Toda essa mudança de temperatura corporal, trocas gasosas e a

queima de glicogênio, fazem com que ocorram desordens no balanço

acidobásico durante o estresse, tornando o processo complexo, já que muitas

variáveis relevantes são alteradas simultaneamente e, em muitas instâncias,

em direções opostas, dependendo da espécie e do tipo de agente estressante

(BORGES et al., 2003). Nesse sentido, a hipertermia aguda e a alcalose

respiratória em frangos são consideradas causadoras de efeitos deletérios para

a produção eficiente de carne de frango e perus (HOWLINDER & ROSE,

1989).

O verão, devido a alta umidade sempre acompanhada de altas

temperaturas, é um desafio para a termo-regulação e o bem-estar das aves de

corte, podendo interferir negativamente na produtividade e qualidade da

criação. Isso se deve principalmente ao aumento da mortalidade, à diminuição

da ingestão de água e de alimento e, conseqüentemente, à piora na conversão

alimentar (HOWLINDER & ROSE, 1989).

Conclui-se entre que, os produtores devem estar atentos em

controlar esses fatores estressantes, para que as aves possam manter suas

Page 36: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

24

funções fisiológicas normais e consigam produzir carne com qualidade e

eficiência.

4.4 Estresse animal versus qualidade da carne

Atualmente, os animais altamente eficientes em termos de

produtividade têm demonstrado uma maior susceptibilidade a certas

enfermidades e menor resistência aos fatores estressantes.

Animais com desenvolvimento muscular acelerado podem ter

alterações na velocidade da glicólise, o que pode acarretar alterações nas

características de qualidade da carne. Grande parte dessas alterações, podem

estar relacionadas com a aceleração do metabolismo, ocorrida em razão do

aumento da exigência metabólica dos animais selecionados para a produção

de carne. A energia no tecido muscular é armazenada na forma de adenosina

trifosfato (ATP), creatina, fosfato e glicogênio, sendo esse último a maior

reserva energética do músculo (SWATLAND, 1995).

Em processos fisiológicos, com disponibilidade de oxigênio, a

degradação do glicogênio se dá por meio da glicólise aeróbica, na qual o ácido

pirúvico produzido continua com o ciclo dos ácidos tri-carboxílico, formando em

última instância CO2 e H2O e liberando energia na forma de ATP. Já em

condições de falta de oxigenação celular como o período post-mortem, a

degradação do glicogênio muscular ocorre via glicólise anaeróbica e leva à

formação de ácido láctico a partir do piruvato, reduzindo o pH muscular

(DRANSFIELD & SOSNICKI, 1999).

O pH da carne post-mortem encontra-se em torno de 7,2 que

alcança valores finais ao redor de 5,8. Essa redução é necessária para uma

correta maturação da carne no processo denominado conversão do músculo

em carne (DRANSFIELD & SOSNICKI, 1999).

A depleção das reservas de glicogênio muscular enquanto o animal

encontra-se ainda vivo faz com que não haja acúmulo de ácido láctico no

músculo post-mortem, já que não há glicogênio suficiente para ocorrer essa

transformação do piruvato. Assim sendo, o pH final da carne permanecerá

elevado, ficando bastante acima do ponto isoelétrico das principais proteínas

Page 37: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

25

musculares (actina, pH = 4,7; miosina, pH = 5,4) (DRANSFIELD & SOSNICKI,

1999).

Entretanto, aves estressadas usam rapidamente suas reservas de

glicogênio, o que pode resultar em seu esgotamento in vivo, impossibilitando a

queda do pH post-mortem. Nessas condições, a capacidade dessas proteínas

em reter água estará bastante alta a ponto da água retida no músculo ser

praticamente imobilizada, não permitindo seu extravasamento. Desse modo, a

carne permanece com o pH próximo ao seu fisiológico, o que não possibilita a

acidificação da carne. Verifica-se uma condição de carne seca, que não é

exatamente verdadeira se for levada em consideração a quantidade de água

retida pelo músculo (DRANSFIELD & SOSNICKI, 1999).

Esse tipo de carne apresenta-se mais rígida que o normal, porque as

fibras estão intumescidas, pelo preenchimento com fluidos sarcoplasmáticos, e

também é mais escura, já que devido ao pH elevado, sua superfície dispersa

menos luz do que o normal. Além disso, devido ao pH próximo do fisiológico,

esse tipo de carne constitui-se um meio propício para o crescimento de

microrganismos indesejáveis, reduzindo a vida útil do alimento. Este tipo de

produto e denominado de carne escura, firme e seca “Dark, Firm, Dry” (DFD)

(MAGANHINI, 2007).

O desenvolvimento da carne DFD também está relacionado com o

manejo pré-abate. Os exercícios físicos, o transporte, a movimentação, o jejum

prolongado acarretam o consumo das reservas de glicogênio, levando à

lentidão da glicólise com relativa diminuição da formação de ácido-lático

muscular. O pH reduz ligeiramente nas primeiras horas e depois se estabiliza,

permanecendo em geral em níveis superiores a 6,0. Em decorrência do pH

alto, ocorre essa capacidade para reter água no interior das células, como

conseqüência a superfície de corte do músculo permanece pegajosa e escura

(MAGANHINI, 2007).

Por outro lado o músculo que apresenta valores de pH menores que

5,8 em torno de 15 minutos após o abate, quando a carcaça ainda se encontra

em temperaturas próximas da fisiológica, geralmente sofre uma desnaturação

parcial das proteínas que o compõem. A dispersão de luz de um músculo é

diretamente proporcional ao grau de desnaturação protéica (ANADÓN, 2002).

Page 38: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

26

Este tipo de produto é denominado de Pale, Soft and Exsudative

(PSE) aspecto pálido, flácido e exsudativo. Na prática, é o resultado das

condições de manejo ante-mortem mal conduzidos e estressantes a que são

submetidos os animais, provocando um rigor-mortis acelerado (ANADÓN,

2002).

Durante a conversão do músculo em carne, em animais que passam

por estresse nos momentos que precedem o abate, ocorre á rápida glicólise.

Isto, imediatamente após o abate, gera pH muscular ácido, geralmente menor

que 5.8 enquanto a carcaça ainda se encontra quente, por volta dos 35ºC

dentro dos 15 mim de post-mortem. A condição de baixo pH quando a

temperatura corporal ainda está elevada provoca desnaturação protéica,

causando coloração pálida na carne. Conferindo assim, pobres características

de processamento, com redução dos rendimentos dos produtos e

conseqüentes perdas econômicas (MAGANHINI, 2007).

Além disso, o baixo pH ainda influencia a capacidade de retenção de

água da carne, uma das principais características de rendimento no

processamento do produto e de maciez. A queda do pH post-mortem altera a

composição celular e extracelular das miofibrilas, reduzindo a capacidade de

reter água nas proteínas musculares. Isso, é uma conseqüência da

desnaturação protéica, especialmente da miosina. Uma vez desnaturada, esta

proteína perde suas características físico-químicas e, consequentemente, a

eficiência de ligação com as moléculas de água torna-se bastante prejudicada.

Quanto maior a desnaturação de suas proteínas, menos luz

consegue ser transmitida por entre as fibras. Esse tipo de carne, por sua cor

pálida e principalmente por sua propriedade de não reter água como um

músculo normal, causa transtornos à industrialização (BARBUT, 2002).

Ela apresenta rendimento deficiente, quando processada, dificuldade

em manter sua própria água, baixa absorção de salmoura, perda de líquido por

gotejamento (exsudação) na embalagem, baixa capacidade de emulsificação,

pouca coesividade e perda de peso pós-cocção. Com isso, observa-se

reduzida suculência, além de menor vida útil do produto (BARBUT, 2002).

De acordo com BARBUT (2002), somente com o rápido crescimento

da produção de industrializados de carnes de aves é que surgiram problemas

Page 39: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

27

observados na textura, coesividade e suculência. Com isso, a questão das

carnes PSE e DFD ganhou importância, principalmente nas carnes de peru e

mais recentemente, com frangos. Atualmente é reconhecido que 41% da carne

de peru e 37% da carne de frango podem apresentar características PSE.

Page 40: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

28

4.5 PARAMETROS DE BEM - ESTAR NO ABATE

4.5.1 APANHA

De acordo com o protocolo de bem-estar de aves da UBA (2008), as

empresas devem ter um programa de treinamento constante sobre as

responsabilidades quanto ao bem-estar das aves para os funcionários

encarregados de realizar a apanha, transporte e manejo pré-abate das aves no

frigorífico. A equipe de apanha deve ter sempre presente um líder para fazer o

monitoramento da mesma, incluindo de fiscalizar os funcionários diretamente,

evitando que ocorram maus tratos e brutalidade no manejo. Atitudes como

estas não devem ser toleradas.

O líder deve ainda identificar as aves que apresentam problemas

sanitários, fraturas ou lesões que comprometam o bem-estar das aves, se

observados algum desses problemas nas aves, as mesmas não devem ser

transporadas. Neste caso é recomendável o sacrifício de emergência, sendo

aceitável o deslocamento cervical manualmente desde que as aves não

apresentem mais de 3 kg e que seja realizado por um funcionário treinado para

o abate emergencial. Em aves acima de 3 kg, como os perus, deve-se utilizar o

destroncador (UBA, 2008).

HFAC (2008) também possui a exigência de que seja indicado um

responsável pela supervisão, monitoramento e manutenção dos altos padrões

de bem-estar, durante a retirada das aves do alojamento até o carregamento

das aves no veículo de transporte.

Antes do transporte todas as aves devem receber água até o

momento que se inicia o carregamento. A alimentação não deve ser suspensa

por mais de 12 horas antes do abate. Nas situações em que o período de 12

horas for excedido, deve haver procedimentos que garantam o bem-estar das

aves (UBA, 2008).

A densidade das aves no transporte deve ser ajustada de acordo

com as condições climáticas, tamanho das caixas, peso das aves e espécie,

baseando-se nos princípios de que todas as aves devem ter espaço suficiente

na caixa para que possam deitar sem ocorrer amontoamento de uma ave sobre

Page 41: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

29

a outra. Os funcionários devem deslizar as caixas contendo as aves,

suavemente sobre a linha de carregamento até a plataforma do caminhão

(UBA, 2008).

Não é permitida a panha das aves pelos pés, asas e pescoço devido

às lesões e sofrimentos que possam causar, a maneira correta é mostrando

pela Figura 7. Aves com menos de 1,8 kg podem, excepcionalmente, ser

apanhadas pelos dois pés, desde que no número máximo de duas aves por

vez. Os animais devem ser apanhados com as duas mãos, pelo dorso,

segurado as asas, para evitar que possam batê-las, como mostrado na Figura

6 (UBA, 2008).

As equipes de captura devem se preocupar mais com o bem-estar

das aves, do que com a rapidez da operação. Deve haver tempo disponível

suficiente para garantir que as aves sejam tratadas com cuidado. Bem como

haver ventilação adequada para as aves que estiverem soltas até o momento

do carregamento (UBA, 2008).

Nos padrões da HFAC (2008) os carregadores devem inspecionar o

rebanho imediatamente antes do carregamento e devem separar todas as aves

inadequadas. As aves que são visivelmente inadequadas para o carregamento

não devem ser transportadas, e sim submetidas à eutanásia. Todos os

comedouros, bebedouros e outros obstáculos devem ser suspensos ou

removidos do alojamento antes do processo de captura (apanha) das aves,

para minimizar o risco de ferimentos (HFAC, 2008).

HFAC, igualmente como a UBA, afirmam que as aves devem ter

acesso à água até o momento da captura. As aves não devem ser privadas de

água por mais de 12 horas.

Page 42: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

30

FIGURA 6 – Apanha de perus de maneira correta, Fonte: BRF, 2010.

FIGURA 7 - Apanha de perus de maneira incorreta, risco de hematomas. Fonte: BRF, 2010.

4.5.2. Transporte

A UBA (2008) recomenda que os veículos de transporte devem estar

em boas condições de higiene e manutenção, e possuir proteção na parte

superior (tela, grade ou lona) da carga, afim de impedir que as aves escapem

das caixas durante o deslocamento da granja ao frigorífico. Obrigando que a

empresa possua um programa de reposição das caixas danificadas.

Page 43: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

31

Recomenda-se que em condições de temperatura elevada, as aves

sejam molhadas antes da saída do caminhão da propriedade. O motorista deve

evitar as paradas no deslocamento das aves da granja ao frigorífico (UBA,

2008).

De acordo com a HFAC (2008), os sistemas de transporte dos

animais devem ser planejados e gerenciados para garantir que não haja aflição

ou desconforto desnecessário para os perus. O transporte e o manuseio dos

perus devem ser mínimos. Os funcionários envolvidos no transporte devem ser

cuidadosamente treinados e competentes para as tarefas que se exige deles.

A UBA (2008) cita que deve haver um procedimento de emergência

(suporte) em casos de quebra do veículo de transporte das aves ou atrasos

que possam ocasionar problemas relacionados ao bem-estar das mesmas.

Para isso todos os motoristas devem ser treinados quanto aos procedimentos

de bem-estar animal para o transporte. A empresa deve conter um número de

telefone e um funcionário treinado para que possa atender emergências

relacionadas ao transporte, bem como preparar um abate de emergência para

esta carga específica, evitando que os animais esperem por muito tempo até

que sejam abatidos.

A HFAC (2008) também traz em seus protocolos, a importância de

uma equipe bem treinada e competente, responsáveis pelo transporte das

aves. A equipe deve possuir competência no mínimo para manusear as aves,

proteger as cargas, manter um ambiente térmico adequado durante a viagem,

dirigir e estacionar com segurança e saber seguir procedimentos de

emergência.

Os caminhos de acesso ao alojamento das aves devem ser

adequadamente projetados e conservados para permitir a passagem segura

dos veículos de transporte, assim evitando acidentes e contratempos que

possam estressar as aves (Figura 8) (HFAC, 2008).

Page 44: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

32

FIGURA 8 – Imprevisto com o transporte das aves para o frigorífico: atolamento. Fonte: BRF, 2010.

A HFAC (2008) recomenda investigação da mortalidade durante o

transporte, desta forma quando alta mortalidade for identificada, medidas

devem ser adotadas para evitar mais mortes, ferimentos ou sofrimentos das

aves. A mortalidade durante o transporte (de perus de uma única origem)

acima de 0,5% deve ser investigada.

HFAC (2008) determina que o tempo limite de transporte entre o

inicio do carregamento e o fim do descarregamento deve ser inferior a 10

horas. O motorista deve estar informado sobre problemas de tráfego, e assim

ter condições de planejar a viagem para minimizar a sua duração. A UBA

(2008) prioriza um transporte de no máximo 12 horas.

Considerando à redução de ruídos, HFAC alega que os níveis de

ruídos de todas as origens, devem ser minimizados durante o carregamento,

descarregamento e transporte (HFAC, 2008).

Uma das maiores preocupações devido ao bem-estar das aves no

transporte se refere à precaução com o estresse térmico. Em ocasiões de alta

temperatura ambiental, ou quanto à umidade elevada é uma ameaça às aves,

capturar, carregar e transportar gera riscos específicos de estresse pelo calor.

Nesses casos, os responsáveis devem monitorar previsões meteorológicas e

providenciar transporte das aves à noite ou durante as horas mais frescas do

dia (HFAC, 2008).

Page 45: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

33

Caso seja necessário manter as aves em veículo estacionado, o

motorista deve adotar medidas para evitar o estresse causado pelo calor ou

frio. No clima quente (superior a 25ºC ou 77ºF), uma forma eficaz de

proporcionar uma corrente de ar é manter o veiculo em movimento. O veículo

de transporte deve estar equipado com cortinas apropriadas que possam ser

abertas e fechadas por um único operador. Nos períodos de clima quente,

deve haver uma passagem central livre, sem aves ou engradados, para permitir

uma maior ventilação interna no caminhão. Os veículos devem estar equipados

com ventiladores. Em casos de climas frios, com presença de chuva, deve-se

fechar as cortinas, e manter-se sempre atento a elevação da temperatura

interna das cargas (HFAC, 2008).

De acordo com o projeto de lei Nº 215, de 2007 que Institui o Código

Federal de Bem-Estar Animal, o artigo 74, referente ao transporte de animais,

informa que no transporte, embarque e desembarque devem ser observados,

para atendimento às condições de bem-estar animal, o tempo da viagem, o

período do dia, as condições climáticas, a densidade de animais por caixa,

gaiolas, caixa de transporte, baia ou recinto, o tempo e local de espera, as

condições da estrada, e as demais disposições legais concernentes aos

animais transportados (BRASIL, 2007).

As caixas de transporte, gaiolas ou compartimentos móveis internos

dos veículos de transporte, devem ser operadas e posicionadas de modo a

promover ventilação entre os espaços vazios. Os animais que apresentarem

sinais de estresse, debilidade ou enfermidade devem ser apartados dos

demais, para tratamento condizente ou destinação prevista imediata (BRASIL,

2007).

4.5.3. Descanso pré-abate / recepção

O procedimento de espera é de grande importância para o bem-

estar animal, logo que o animal passa por longos períodos de estresse seus

níveis de glicogênio são aumentados na corrente sanguínea, juntamente com

os níveis de adrenalina e CO2, tornando o abate estressante e acarretando uma

queda na qualidade da carcaça.

Page 46: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

34

Avaliando o nível de conforto térmico durante a espera para o abate

em diferentes tipos e localizações de caminhões transportadores, SILVA et al.

(1997) concluíram que, durante o transporte, os fatores densidade por caixa e

idade das aves afetara significativamente a mortalidade. Além disso, a

localização dos caminhões na espera (ambiente controlado ou não) é

importante na redução da carga térmica e, consequentemente, no estresse dos

animais (Figura 9).

FIGURA 9 - Galpão de espera das aves no matadouro BRF BRASIL FOODS S/A, Mineiros – GO, 2010. Fonte: BRF, 2010.

Dependendo da magnitude e duração do estresse térmico, ocorrem

altos índices de prostração e mortalidade (MOURA, 2001), o que pode ser

facilmente observado durante o transporte das aves das granjas até os

abatedouros.

Quando as aves são submetidas a estresse térmico, dependendo da

magnitude e duração do estresse, verificam-se altos índices de prostração e

mortalidade. Em situações de estresse térmico, além do aumento da

temperatura retal das aves, ocorre também aumento da freqüência respiratória,

com conseqüente efeito no metabolismo, para estimular a perda evaporativa de

calor (ofegante) e para manter o equilíbrio térmico corporal (Figura 10)(SILVA

et al., 2001; MACARI et al., 2004).

Page 47: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

35

De acordo a UBA (2008), para proporcionar melhores condições de

abate das aves submetidas ao estresse no transporte, até que aguarde o

procedimento de abate, as instalações da área de descanso devem ser

cobertas e possuir ventiladores e sistemas de aspersão de água, posicionados

de forma que atinjam toda a carga. Nas áreas de descanso deve haver termo-

hidrômetro, ventiladores e nebulizadores (Figura 11).

Recomenda-se que haja um funcionário responsável por estas áreas

de descanso, para realizar o monitoramento das condições de temperatura e

umidade relativa. O tempo de descanso para as aves deve ser o mais curto

possível e que não ultrapasse 3 horas. Recomenda-se também, que a umidade

relativa (UR) do ambiente não ultrapasse 65% durante o verão (UBA, 2008).

FIGURA 10 - Aves com morte súbita nas caixas de transporte nos galpões de espera. Fonte: BRF, 2010.

Os padrões do HFAC (2008), afirma que as áreas de permanência

devem garantir que todas as aves que aguardam o procedimento de abate,

sejam protegidas de raios solares diretos e de condições climáticas

desfavoráveis; por exemplo, vento, chuva, granizo e neve. Também devem

manter acesso à ventilação adequada. A temperatura e a umidade na área de

permanência e nos engradados com as aves devem ser monitoradas e

controladas regularmente. Os animais que estiverem em processo de

sofrimento, devem ser submetidos à eutanásia humanitária imediatamente.

Page 48: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

36

Quando possível, os engradados de transporte devem ser

descarregados imediatamente após a chegada no alojamento de

processamento e colocados em uma área de permanência com controle de

ambiente. A temperatura e a iluminação na área de permanência devem ser

controladas para que as aves fiquem confortáveis e calmas (UBA, 2008).

Todas as aves devem ser abatidas assim que possível, depois da

chegada às instalações de processamento. O abate das aves deve ocorrer não

mais do que 12 horas depois que a alimentação foi retirada na granja, e no

prazo máximo de 4 horas da chega das aves à instalação. Após a chegada

destas aves ao recinto onde serão processadas, não devem ser movidas de

retorno para as granjas. Equipamentos de reserva (gerador) devem estar

disponíveis, para os casos de interrupção do fornecimento de energia (UBA,

2008).

Os padrões do HFAC (2008) determinam que os engradados fixos

devem ser examinados na chegada à instalação, para identificar aves que

possam ter sofrido estresse por causa do calor ou frio. Devem-se adotar

medidas imediatas para evitar sofrimentos e para garantir que ocorrências

semelhantes sejam evitadas. A recepção deve assegurar que os animais não

sejam acuados, excitados ou maltratados (BRASIL, 2000).

Recomenda-se, que na área de recepção das caixas contendo as

aves, haja esteiras móveis ou elevador para facilitar o descarregamento, sem

que ocorra choque das caixas (choque mecânico), causando agitação, lesões

ou estresse as aves (UBA, 2008).

Page 49: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

37

FIGURA 11 – Ventiladores e nebulização nos galpões de espera da BRF - Mineiros. Fonte: BRF, 2010.

4.5.4. Pendura

O processo de pendura necessita de uma atenção especial, já que

oferecer estresse ao animal, gerando maiores incidências de hematomas e

membros quebrados (asas e pernas). A dificuldade de colocá-las no gancho, é

maior o que faz aumentar tanto o estresse das aves.

As aves pequenas que se encontram com o peso muito inferior a

média do lote (caquéticas ou descarte) não devem ser penduradas na linha de

abate. Todas as aves que estiverem com aparência sofrida ou que necessitam

de sacrifício imediato (abate emergencial) no frigorífico, devem ser removidas

com carrinhos ou caixas identificadas (UBA, 2008).

Os animais devem ser imediatamente conduzidos ao equipamento

de insensibilização, logo após a contenção, que deverá ser feita conforme o

disposto na regulamentação de abate de cada espécie animal. Os animais não

serão colocados no recinto de insensibilização se o responsável pela sangria

não puder proceder a essa ação imediatamente após a insensibilização

(BRASIL, 2000).

A WSPA (2008) prioriza que se tenha uma equipe de pendura

capacitada a conhecer e separar as aves que estejam mortas ou doentes, afim

de garantir a qualidade do processo. As aves mortas devem ser totalmente

condenadas, aves doentes devem ser separadas para a inspeção veterinária, e

posteriormente sacrificadas.

Page 50: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

38

Quando o operador for pendurar as aves, deve agir de forma

cuidadosa, retirando-as da caixa, e colocando-as cuidadosamente nos ganchos

(Figura 12) (WSPA, 2008).

Nunca se deve pega-las pelas asas, cabeça ou penas. O operador

deve tentar tranqüilizá-las com a mão quando as aves estiverem batendo as

asas no gancho. Cerca de 90% das aves batem as asas após a pendura,

durante cerca de doze segundos. Com isso a linha de pendura até a cuba deve

ser de 12 a 60 segundos. Ocorrerá mais batida de asas se houver curvas,

desníveis e paradas na linha. A utilização do parapeito na linha de pendura

antes da cuba, ajudara a tranqüilizar as aves (WSPA, 2008).

A UBA(2008) prioriza o rodízio de pessoas, conforme preconizado

no programa de troca de função durante o turno de trabalho, sempre realizando

treinamentos e cursos, afim de conscientizar a equipe, para evitar estresse dos

animais.

FIGURA 12 – Sala de pendura. Fonte: BRF, 2010.

Recomenda-se que a disposição da linha de abate, entre a etapa da

pendura e insensibilização, seja a mais linear possível, com um mínimo de

curvas e mudanças na altura da linha. Estas curvas e desníveis da nórea com

as aves ainda vivas fazem com que aumente o seu linear de medo,

aumentando a liberação de cortisol. O ambiente deve possuir iluminação

Page 51: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

39

reduzida, utilizando iluminação de baixa freqüência, na coloração azul, isso

porque as aves não conseguem enxergar nesta freqüência, sendo um

ambiente escuro, deixando-as mais calmas. Recomenda-se capturar e

pendurar as aves soltas na plataforma de recebimento em intervalo máximo de

1 hora, evitando com que os animais possam vir a estressar-se mais ainda com

o local e os ruídos (UBA, 2008).

O sofrimento ocasionado pela pendura (compressão dos ossos

metatarsos) induz as aves a bater as asas, e há um potencial aumento no

número significativo de animais com deslocamentos e fraturas. Este bater de

asas só pode ser permitido até 12 e 20 segundos para frango e peru,

respectivamente (EFSA, 2004).

O controle de pré-choque em abatedouros de aves, é um dos

procedimentos que geram muitas discussões e auditorias a respeito do

assunto, já que a pré-insensibilização (Pré-choque) leva a um estresse antes

da insensibilização definitiva, o que gera fraturas e hematomas de asas, pré-

choque este que pode ser controlado pela bater das asas.

Os animais antes de entrarem na cuba de insensibilização

encostam a asa na água recebendo um choque, antes que a sua cabeça

mergulhe na água, desta fora a insensibilização é feita do modo correto. Assim

o animal recebe mais de uma descarga elétrica sem que ocorra a

insensibilização, sentindo dor.

O pré-choque deve ser evitado de qualquer forma, não sendo aceito

os animais passarem por dois procedimentos ou mais de insensibilização

(UBA, 2008).

Os padrões do HFAC (2008) juntamente com a UBA (2008)

priorizam o treinamento da equipe de pendura, para manusear as aves de

forma a evitar ferimentos, como ossos quebrados, deslocados e contusões. O

supervisor da área deve contar com um número suficiente de pessoas

alocadas nas linhas de pendura em todos os momentos, para garantir o

cuidado e a rapidez convenientes para o processo.

As aves devem ser penduradas, sem dor e aflição desnecessária,

usando ganchos de tamanhos e tipos adequados para cada espécie e

velocidade da linha de abate apropriada para o peso e a espécie (UBA, 2008).

Page 52: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

40

As aves devem ser penduras pelas duas pernas, em ganchos

separados, alinhados a altura entre os pés, caso isso não ocorra a nórea deve

ser paralisada para que possa ser arrumados os pés das mesmas. Com o

alinhamento errado dos pés ou aves penduradas apenas por um dos pés,

durante a insensibilização elétrica, poderá ocorrer uma má condutividade do

choque com o gancho (UBA, 2008).

Quando encontradas aves soltas, elas deverão ser imediatamente

encaminhadas à área de pendura, ou se tiverem ferimentos, devem ser

imediatamente e humanitariamente eliminadas da linha. Todos os engradados

devem ser verificados para garantir que nenhuma ave foi esquecida (HFAC,

2008).

Recomenda-se estabelecer os seguintes procedimentos e ações em

caso de parada da linha de abate: todas as aves que estiverem no

insensibilizador e também as que passaram pela insensibilização devem de

imediato, ser sangradas manualmente após a parada; Aves que não foram

insensibilizadas devem ser retiradas dos ganchos e retornar para as caixas até

o restabelecimento da operação. O tempo máximo de espera das aves

conscientes dependuradas na linha deve ser de 2 minutos para frangos e 3

minutos para perus (UBA, 2008). A HFAC (2008) indica que os perus não

devem permanecer suspensos por mais de 90 segundos antes do

atordoamento.

4.5.5. Insensibilização

A insensibilização dos animais é um dos procedimentos mais

delicados que pode interferir no bem-estar, das aves, onde geralmente ocorre

uma insensibilização em conjunto na linha de produção. Com isso deve-se

adotar parâmetro adeguados para cada lote e sexo, podendo ser prejudicial

para as aves que forem de tamanhos desuniformes no lote, já que os

atordoamento interfere de forma diferente no organismo de cada individuo.

Page 53: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

41

Atordoamento ou Insensibilização é o processo aplicado ao animal,

para proporcionar rapidamente um estado de insensibilidade, mantendo as

funções vitais até a sangria (BRASIL, 2000).

O processo de insensibilização ou atordoamento pré-abate é um

método obrigatório em grande parte do mundo, onde apenas questões

religiosas não priorizam este procedimento. Este método deve levar a ave à

inconsciência imediata, permanecendo assim até a morte.

Os métodos de insensibilização para o abate humanitário dos

animais classificam-se em de acordo com BRASIL, 2000:

• Método mecânico (percussivo penetrativo): pistola com dardo

cativo, a pistola deve ser posicionada de modo a assegurar que o dardo

penetre no córtex cerebral, através da região frontal, como demonstrado na

Figura 13.

• Método elétrico (Eletronarcose): casos de eletrodos a seco, os

eletrodos devem ser colocados de modo a permitir que a corrente elétrica

atravesse o cérebro. Os eletrodos devem ter um firme contato com a pele e,

caso necessário, devem ser adotadas medidas que garantam um bom contato

dos mesmos com a pele, tais como molhar a região (BRASIL, 2000).

• Método de exposição à atmosfera controlada: a atmosfera com

dióxido de carbono ou com mistura de dióxido de carbono e gases onde os

animais são expostos para insensibilização deve ser controlada para induzir e

manter os animais em estado de inconsciência até a sangria, sem submetê-los

a lesões e sofrimento físico.

Page 54: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

42

FIGURA 13 – Insensibilização mecânica por dardo cativo em perus. Fonte: BRF, 2010.

Os equipamentos devem possuir um dispositivo de segurança que

controle, afim de garantir a indução e a manutenção dos animais em estado de

inconsciência até a operação de sangria. Caso seja utilizado equipamento de

imersão de aves em grupo, deve ser mantida uma tensão suficiente para

produzir uma intensidade de corrente eficaz para garantir a insensibilização de

todas as aves. Medidas apropriadas devem ser tomadas a fim de assegurar

uma passagem satisfatória da corrente elétrica. Consegue-se mediante um

bom contato, molhando as patas das aves e os ganchos de suspensão (UBA,

2008).

Insensibilização elétrica: Quando se utilizam corrente elétrica para

gerar uma insensibilização as aves, isto é chamado de eletronarcose. A

eletricidade passa através do cérebro, interrompendo a atividade normal,

tornando a ave inconsciente, mantendo-as vivas (Figura 14) (WSPA, 2008).

Page 55: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

43

FIGURA 14 – Entrada dos perus na cuba de insensibilização do frigorifico BRF – Mineiros, 2010. Fonte: BRF, 2010.

O processo que regula a corrente elétrica para que ocorra a morte

da ave, é denominado eletrocussão. Neste caso a eletricidade fluí

primeiramente para a cabeça, tornando-a inconsciente, seguindo para o

coração, causando parada cardíaca e morte (WSPA, 2008).

Para que se tenha uma melhor compreensão do funcionamento do

sistema elétrico de insensibilização (Figura 15), é necessário o conhecimento

de alguns princípios elétricos. O fluxo de eletricidade é chamado de corrente,

sendo medido em amperes (A) ou miliamperes (mA) sendo utilizada a corrente

alternada de ondas tipo senoidal. A frequência da corrente é determinada pela

quantidade de vezes que a onda é repetida em 1 segundo, e é medida em

Hertz (Hz). A força de condução da corrente ou a tensão elétrica é conhecida

como voltagem, medida em volts. Tudo que dificulta o fluxo da corrente elétrica

é denominado de resistência elétrica, e medido em ohms. A resistência

depende do tamanho, peso e condição corporal da ave como mostrado nas

Figuras 16 e 17 (WSPA, 2008).

Page 56: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

44

FIGURA 15 – Demonstrativo de funcionamento de uma cuba Eletrificada. Fonte: WSPA, 2008

A quantidade de corrente, a forma de onda e a frequência,

determinam a profundidade e a duração da inconsciência das aves. Para que

se possa ter um maior fluxo de corrente, se deve aumentar a voltagem. A

voltagem no sistema pode ser ajustada para cada lote especifico, porém para

cada ave ela e fixa, dependendo da resistência de cada animal. Com isso para

que ocorra uma boa insensibilização, deve haver voltagem suficiente para

conduzir corrente acima da resistência da ave, para uma insensibilização

rápida e efetiva (WSPA, 2008).

A frequência influência na insensibilização, quanto mais baixa, maior

a insensibilização, podendo até levar à morte. Quanto maior a frequência, mais

fraca e de curta duração é a insensibilização (WSPA, 2008).

FIGURA 16 – Insensibilização, com aves pequenas e baixa resistência. Fonte: WSPA, 2010.

Page 57: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

45

FIGURA 17 – Insensibilização, com aves grandes e alta resistência. Fonte: WSPA, 2010.

Com a lei de ohms, I = V/R, utilizando a corrente mínima de 120 mA

determinada por ave (frango), sabendo a resistência da mesma, deve-se

ajustar a voltagem para a insensibilização do lote, permanecendo acima do

recomendado. Com esta variação de resistência, animais de diferentes

tamanhos no mesmo lote recebendo a mesma corrente na cuba, as aves que

possuírem maior resistência podem não ser insensibilizadas. A eficácia da

insensibilização também é influenciada pelo tempo que as aves ficam

submersos na cuba, necessitando de no mínimo 3 segundos (WSPA, 2008).

A duração da inconsciência diminui com o aumento da frequência,

com isso deve-se priorizar uma insensibilização de baixa frequência e alta

tensão. Deve-se utilizar uma frequência na cuba próxima de 50 a 60Hz, usando

correntes elétricas tipo senoidal para o atordoamento das aves. A

insensibilização em frigoríficos é extremamente estressante para o animal, com

isso deve-se haver uma manipulação o menos estressante possível,

principalmente na pendura das aves (EFSA, 2004).

HFAC (2008) indica o correto atordoamento, evitando o pré-choque

dos animais, onde devem ser tomadas medidas apropriadas para evitar que as

asas batam, e que as aves levantem a cabeça antes de chegarem à cuba para

atordoamento. Entre estas medidas podemos citar o uso de barra de peito,

cortinas, redução de ruídos, baixa intensidade de luz ou luz azul,

Page 58: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

46

acompanhamento das aves com a mão durante a pendura e evitar curvas na

linha entre a pendura e o atordoamento.

Para reduzir a prevalência do bater das asas, deve-se proporcionar

um efeito calmante sobre as aves, com isso, deve-se reduzir os ruídos e a

freqüência da intensidade da luz. O ato de bater as asas após à pendura até a

cuba de insensibilização predispõe as aves a receber choques elétricos antes

que ocorra a insensibilização pela cabeça, assim chamado de pré-choque,

ocorrido pelo contato da asa na cuba antes da insensibilização (WSPA, 2008).

O choque pré-atordoamento elétrico é extremamente doloroso e

angustiante para as aves. Devido à grande envergadura dos perus, as asas

tendem a cair na cuba antes da cabeça. Com isso deve-se evitar esse

acontecimento, adaptando a entrada da cuba para que a cabeça passe

primeiro (EFSA, 2004).

A quantidade de corrente fornecida para cada ave em um sistema de

atordoamento tipo cuba, varia de acordo com a resistência elétrica de cada ave

em sua imersão na cuba. Não podendo ser controlada sem a aplicação de

corrente constante. Isto seria um dos motivos para se ter um lote padrão, assim

tendo os animais com resistências próximas. A tensão que passa pela água

deve ser suficiente para fornecer estas correntes a todas as aves na cuba

(EFSA, 2004).

Tabela de valores 1: Correspondente da quantidade de freqüência e amperagem para frangos e perus.

_________________________________________________ Mínimo recomendado correntes RMS (mA por ave)

Freqüências (Hz) Frangos Perus .

> 200 Hz 100 250

200 ate 400 Hz 150 400

400 ate 1500 Hz 200 400 _________________________________________________ Fonte: EFSA, 2004

Os seguintes sinais indicam uma insensibilização bem-sucedida, que

pode ser observada após a saída da cuba: início imediato da crise tônica, olhos

abertos durante a convulsão tônica, apnéia durante a convulsão tônica,

movimentos bruscos das asas e pernas (aparência de tremores corporais).

Page 59: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

47

As aves não devem bater as asas durante a sangria e os reflexos

dos olhos devem estar ausentes quando estas saírem da cuba (EFSA, 2004).

A corrente de saída da cuba, sob carga deve ser igual ou maior do

que a mínima recomendado para o animal, multiplicada pelo número de aves

em imersão a qualquer momento (120 mA x 10 aves = 1,2 A) (Figura 18).

FIGURA 18 – Divisão de amperagem em todas as aves na cuba. Fonte: WSPA, 2008.

Esta regra pode ser usada para configurar o sistema elétrico.

Quando uma corrente alternada de 50 Hz é usada, a corrente necessária para

induzir a fibrilação ventricular cardíaca em 99% dos frangos é de 148 mA por

frango em imersão na cuba (GREGORY & WOTTON, 1987).

Uma amperagem 150 e 250 mA respectivamente com uma corrente

alternada (CA) de 50 Hz deve ser aplicada por um período mínimo de 1

segundo para frangos e perus, respectivamente, para gerar parada cardíaca.

Indução de fibrilação ventricular cardíaca é o método mais rápido de indução

de morte encefálica em aves, no entanto, isto não se aplica aos perus em que

a morte cerebral ocorre mais rápido após o corte das artérias carótidas (EFSA,

2004).

As preocupações de bem-estar das aves associados com a

recuperação da consciência, em sistemas de insensibilização elétrico que

geram morte são diminuídos como à falta de atordoamentos ou atordoamentos

Page 60: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

48

ineficazes ou cortes de pescoços maus sucedidos, assim a morte cerebral não

ocorre, prejudicando o bem estar das aves (EFSA, 2004).

A UBA (2008) aconselha o método de insensibilização elétrica,

eletronarcose. A duração da inconsciência das aves depende da quantidade e

da freqüência da corrente elétrica, tempo em que as aves permanecem

imersas na água, velocidade da linha, comprimento da cuba e resistência do

meio e da profundidade de imersão das aves. A imersão rasa precisa de uma

voltagem maior do que a profunda, já que, perde-se muita corrente.

Recomenda-se que as aves sejam imersas até a base da asa de

forma que a cabeça esteja próxima ao eletrodo na base interna da cuba.

Sugere-se que seja colocado na linha um spray ou borrifador com água

direcionado à área de contato (gancho/pé) prévio à entrada da cuba de

insensibilização (UBA, 2008).

Todos os equipamentos que insensibilizam aves através da

eletronarcose devem possuir monitores que permitam a visualização dos

parâmetros de amperagem, voltagem e frequência. Recomenda-se observar os

sinais de eficiência da insensibilização como, pescoço frouxo, asas junto ao

corpo, olhos abertos e ausência de reflexo das córneas (sem movimento da

membrana nictitante quando o olho é tocado com o dedo ou com uma pena).

Em caso de falhas na eficiência da insensibilização ações corretivas

imediatas devem ser tomadas. Uma delas é adicionar à água da cuba, 0,15%

de sal para melhorar a condutividade e o monitoramento e registro diário em

intervalos de duas horas, para avaliar a eficiência da insensibilização (UBA,

2008).

A HFAC (2008) aceita os seguintes métodos de atordoamento, cuba

para atordoamento elétrico, atordoamento a seco incorporando uma grelha ou

barra de metal eletrificada e atordoamento manual.

Quando uma cuba com água eletrificada para atordoamento elétrico

é usada, a cuba de atordoamento deve estar em uma altura apropriada para o

tamanho e o número de aves especificamente. A altura deve ser definida de

forma que as cabeças de todas as aves tenham contatos efetivo com a cuba de

água. Quando os perus são eletricamente atordoados, deve ser usada uma

corrente elétrica suficiente para induzir inconsciência imediata a todas as aves

Page 61: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

49

antes que os pescoços sejam cortados. As aves devem ser mantidas

inconscientes até que morram com a sangria, por choque hipovolêmico (HFAC,

2008).

A cuba de água deve ser projetada e instalada para evitar que as

aves recebam choques antes do atordoamento denominado de pré-choque

(Figura 19). Bem como deve ser provida de um amperímetro para monitorar o

fluxo de corrente através da cuba, quando elas estiverem carregadas com aves

(HFAC, 2008).

Quando os perus são eletricamente atordoados em uma cuba de

água, a corrente aplicada deve ser suficientes para induzir inconsciência

imediata. As aves não-atordoadas devem ser impedidas de ver as aves

atordoadas ou mortas. A linha até o atordoador deve ter pouca iluminação

(HFAC, 2008).

FIGURA 19 - Pré-choque na asa, na entrada da cuba , antes da ave ser insensibilizada. Fonte: WSPA, 2008.

No atordoamento elétrico utilizando eletrodo seco, as aves são

contidas em esteiras, não são penduradas na linha antes do atordoamento, o

que evita o mal-estar da pendura e do pré-choque, que possa vir a ocorrer. No

entanto, as correntes mínimas necessárias para a insensibilização foram

criadas apenas para frangos e precisam ser determinadas para perus (EFSA,

2004).

Page 62: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

50

O atordoamento elétrico a seco é melhor do que cuba elétrica, em

razão do bem-estar das aves, onde se regula a quantidade necessária de

corrente e amperagem para cada ave especifica, não tendo problemas de

resistências diferentes no mesmo lote (EFSA, 2004).

Para os atordoadores elétricos manuais, são aceitáveis os seguintes

parâmetros, os perus devem ter os movimentos limitados em um cone ou em

uma trava, as aves devem ser atordoadas imediatamente depois de serem

imobilizadas, devem-se adotar cuidados para garantir que os eletrodos de

atordoamentos sejam aplicados firmemente em um dos lados da cabeça, entre

o olho e o ouvido, a corrente usada deve ser suficiente para que os perus

fiquem inconscientes imediatamente, a eletricidade deve ser aplicada até que o

bater de asas inicial pare ou, se os perus estiverem em um cone, até que as

pernas fiquem rígidas e estendidas, o pescoço deve ser cortado imediatamente

com um corte unilateral, para garantir o rompimento das artérias carótidas

(HFAC, 2008).

A HFAC trabalha com protocolos de manutenção e imprevistos,

onde afirmam que todos os equipamentos de atordoamento e de sangria

devem receber manutenção regular, limpeza frequente e verificação para

garantir que se encontram em condições de funcionamento adequado.

Atmosfera controlada: O equipamento deve dispor de aparelhos

para medir a concentração de gás no ponto de exposição máxima. Esses

aparelhos devem emitir um sinal de alerta, visível e/ou audível pelo operador,

caso a concentração de dióxido de carbono esteja fora dos limites

recomendáveis pelo fabricante; a concentração de dióxido de carbono em seu

nível máximo em volume deve ser de pelo menos, 30% para aves (BRASIL,

2000).

O objetivo principal do atordoamento com gás é evitar a dor e o

sofrimento associados a outros métodos de insensibilização e da sangria das

aves no abate. Por isso, atordoamento com gás deve ser utilizado com as aves

contidas em caixas. O atordoamento em recipientes de transporte vai eliminar a

necessidade de aves vivas serem manipuladas para a pendura e todos os

problemas encontrados com as instalações elétricas. Porém necessita de certo

Page 63: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

51

tempo de intervalo entre o final da exposição ao gás e o corte no pescoço,

prolongando o intervalo de inconsciência/morte (EFSA, 2004).

A duração da inconsciência induzida com atordoamento com gás

terá que ser maior do que o exigido em situações de atordoamentos elétricos,

para impedir o retorno da consciência, durante o corte dos vasos (EFSA, 2004).

A única diferença entre o atordoamento com gás e a morte pelo

mesmo, é que as aves são expostas a misturas de gases até estarem mortas.

Portanto, qualquer atraso no corte dos vasos sanguíneos torna-se prejudicial

para a eliminação do sangue da carcaça, podendo ocasionar grandes taxas de

sangue residual nas carcaças.

Preocupações relacionadas ao bem-estar das aves como o estresse

da indução da inconsciência, provocado pela misturas de gases, levaram as

autoridade a definirem importantes parâmetros para definir o grau de

atordoamento desejado (EFSA, 2004).

RAJ (1997) constatou que a hipóxia não é invasiva às aves de abate

e que a mistura de argônio-dióxido de carbono é melhor do que usar altas

concentrações de dióxido de carbono. Os resultados do referido trabalho

também indicam que 30% em volume de dióxido de carbono pode ser

prejudicial às aves. O autor verificou que aves expostas a concentrações

decrescentes de oxigênio usando nitrogênio durante a matança, a anóxia (falta

de oxigênio) não fez as aves mostrarem qualquer manifestação de sofrimento

ou falta respiratória, não apresentando qualquer comportamento que sugerisse

angústia. Com base em tais dados sugere-se que a hipóxia é a melhor opção

para o atordoamento ou abate de aves.

Concentração de 50% ou mais de dióxido de carbono é considerada

desagradável para os animais, diferentes dos humanos. Os animais possuem

quimiorreceptores intrapulmonares que são extremamente sensíveis ao dióxido

de carbono e insensíveis à hipóxia. Esta é provavelmente a razão pela qual as

galinhas e perus evitam o dióxido de carbono, mas não as atmosferas

hipóxicas, do contrário os humanos sentem mais a falta do oxigênio do que a

presença do dióxido de carbono (EFSA, 2004).

As aves podem ser abatidas com uma exposição à atmosfera de

dois minutos a 2% em volume de oxigênio residual, no entanto observa-se o

Page 64: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

52

retorno dos sentidos após 15 segundos fora da atmosfera. Para evitar isso

recomenda-se que as aves devam ser mortas, em vez de atordoadas,

expondo-as a 2% em volume de oxigênio residual no máximo, utilizando 3

minutos de exposição à anóxia, para que possa ocorrer a morte das aves

(EFSA, 2004).

A tempo de exposição necessário para atordoar ao invés de matar e

a duração da inconsciência induzida com estas misturas não são totalmente

conhecidos. Não há conhecimento sobre o uso da mistura de gás para os

perus, mas se sabe que 2 minutos de exposição tem sido suficiente para matá-

los (EFSA, 2004).

As misturas gasosas para o atordoamento ou gerar morte das aves

defendidas pela EFSA ( 2004) são:

• Um mínimo de dois minutos de exposição ao nitrogênio, argônio ou

outros gases inertes, ou qualquer mistura desses gases no ar atmosférico, com

um máximo de 2% de oxigênio residual por volume.

• Um mínimo de dois min. de exposição a qualquer mistura de

argônio, nitrogênio ou outros gases inertes com o ar atmosférico e dióxido de

carbono, desde que a concentração de dióxido de carbono não exceda 30% do

volume e a concentração de oxigênio residual não exceda 2% em volume.

• Mínimo de um min. de exposição a uma mistura de dióxido de

carbono de 40% em volume, 30% de oxigênio e nitrogênio, 30% em volume,

seguido imediatamente por dois min. exposição a um mínimo de 80% de

dióxido de carbono no ar em volume para abate de frangos.

4.5.6. Sangria

A sangria é o ponto final para que se possa fiscalizar os lineares do

bem-estar animal. Neste ponto não deve haver nenhuma manifestação de

sentimento ou lucidez, afim de que ocorra uma morte tranquila do animal. É

durante a sangria que necessita-se de maior atenção, por parte das pessoas

treinadas para serem inspetores do bem-estar, já que aqui é possível verificar o

grau da insensibilização e se o animal sentiu dor durante a sua morte.

Page 65: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

53

Todas as aves que forem insensibilizadas devem ser sangradas

imediatamente, isso por que na insensibilização correta ocorre apenas uma

perda de consciência da ave, e se ela não for sangrada ocorrera à recuperação

(WSPA, 2008).

A sangria interrompe o fornecimento de sangue para o cérebro, e

consequentemente do oxigênio, levando à morte cerebral e posteriormente a

morte cardíaca. É aconselhável o sangramento imediato após a saída do

animal da cuba de insensibilização.

Em casos de frequências maiores que 100 Hz, a sangria deve

ocorrer em até 10 segundos. Em casos de baixa frequência deve ocorrer em

até 20 segundos (WSPA, 2008).

O tempo de morte das aves por choque hipovolêmico (perda de

sangue) é influenciado pela quantidade de vasos sanguíneos rompidos e pela

qualidade do corte. Caso os principais vasos não forem cortados

adequadamente, o cérebro continuara recebendo oxigênio, e a ave precisara

de mais tempo para morrer (WSPA, 2008).

De acordo com a WSPA (2008) quando ambas as veias e artérias

(duas jugulares, duas carótidas) são cortadas, a ave morre rapidamente, e em

torno de 10 segundos, demonstrado na Figura 20.

FIGURA 20 – Demonstrativo do corte dos quatro vasos: duas artérias carótidas e duas jugulares. Fonte WSPA, 2010.

O corte lateral, produzindo a incisão de apenas uma veia e uma

artéria, implica em uma morte mais lenta, levando até 24 segundos. Já que o

Page 66: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

54

cérebro ainda possuirá uma pequena fonte de oxigênio, demonstrado na Figura

21.

FIGURA 21 – Demonstrativo do corte de dois vasos: uma artéria

carótida e uma jugular. Fonte: WSPA, 2010.

Caso ocorra apenas os cortes das duas veias jugulares, a ave

demora em torno de 55 segundos para morrer. No entanto as fontes de

oxigênio continuam intactas, ocorrendo a morte hipovolêmica pela falta de

sangue do retorno da pequena circulação, demonstrado na Figura 22.

FIGURA 22 – Demonstrativo do corte das duas jugulares, com as artérias intactas. Fonte WSPA, 2010.

No protocolo de bem-estar para frangos e perus, da União Brasileira

de Avicultura (2008) a sangria pode ser manual ou automática. Nos casos em

que se utiliza a sangria automática, deve haver uma pessoa encarregada pelo

Page 67: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

55

repasse manual, quando as aves não forem bem sangradas pelo equipamento.

A incisão deve ser feita próxima às vértebras cervicais (pescoço) seccionando

os vasos sanguíneos. Deve ocorrer a incisão por completo dos quatro grandes

vasos, 2 carótidas (arterial) 2 jugulares (venoso). Assim o animal pode morrer

mais rápido por choque hipovolêmico.

A eficiência da sangria deve ser monitorada na entrada do tanque de

escaldagem, não sendo admitida nenhuma ave consciente (viva). A sangria

deve ser realizada imediatamente após a insensibilização devendo acontecer

no máximo 12 segundos após a mesma, sendo monitorada e com 100% de

eficiência. O tempo de sangria deve ser no mínimo de 2 minutos a fim de

garantir o máximo de expulsão do sangue, antes que os animais entre no

tanque de escaldagem (UBA, 2008).

Os padrões norte americanos da HFAC (2008), seguem protocolos

parecidos com os protocolos brasileiros, onde a sangria deve ser realizada por

corte dos quatro vasos sanguíneos, das artérias carótidas e as veias jugulares,

onde devem ser efetivamente rompidos usando-se um corte transversal. Este

corte deve ser examinado por um funcionário indicado, com tempo suficiente

para romper os vasos sangüíneos manualmente se necessário. Em abates

comuns, as aves não devem bater as asas, pestanejar ou respirar durante a

sangria, exceto nos abates religiosos.

O tempo entre o atordoamento e o corte do pescoço, não deve ser

maior que 10 segundos. Todas as aves devem estar acessíveis aos

funcionários antes de serem mergulhadas no tanque de escaldagem, para que

eles possam verificar as que apresentem sinais de consciência. As aves devem

ser examinadas para garantir que estão mortas antes de serem mergulhadas

no tanque de escaldagem (HFAC, 2008).

De acordo com o tempo entre o corte no pescoço e a escaldagem,

os perus não devem ser depenados ou mergulhados no tanque de escaldagem

até que, pelo menos, 120 segundos tenham decorrido desde que os vasos

sanguíneos principais do pescoço tenham sido cortados. Somente após este

período, ocorre a parada cardíaca (podendo ocorrer a parada cardíaca na

eletronarcose), e morte hipovolêmica. Assim, todos os padrões para promover

o bem-estar das aves foram cuidadosamente verificados, do nascimento até a

Page 68: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

56

sua morte, sendo evitado o máximo de estresse e sofrimento in vida (HFAC,

2008).

O MAPA defende que a operação de sangria deve ser iniciada logo

após a insensibilização do animal, de modo a provocar o rápido e mais

completo possível escoamento do sangue. A operação de sangria é realizada

pela seção dos grandes vasos do pescoço, no máximo 10 segundos após a

insensibilização. Após a incisão dos grandes vasos do pescoço, não serão

permitidas na calha de sangria, operações que envolvam mutilações até que o

sangue seja esgotado ao máximo possível, tolerando-se a estimulação elétrica

com o objetivo de acelerar as modificações post-mortem. Na sangria

automatizada, torna-se necessária a supervisão de um operador, visando

proceder manualmente o processo, em caso de falha do equipamento,

impedindo que o animal alcance a escaldagem sem a devida morte pela

sangria (BRASIL, 2000).

No abate mecânico, o disco deve estar regulado para o tamanho das

aves do lote. Em linha de abate manual, deve ocorrer a troca constante das

facas e do operador, para evitar cansaço de funcionários. O sangrador deve

observar um bom fluxo de sangue após a incisão, caso não ocorra, deve-se

certificar-se que houve a incisão reforçando o corte. Todas as aves devem

sangrar completamente e estarem mortas antes de entrarem no tangue de

escaldagem, nenhuma ave pode entrar viva no tanque de escaldagem (WSPA,

2008).

4.5.7. Abate de Emergência

O abate de emergência é uma ferramenta muito importante para

amenizar o sofrimento dos animais, acelerando o processo de abate, e livrando

a ave de sofrimento ou injúrias.

Assim animais que forram encontrados em situações de doença ou

estresse visíveis aumentados, que estejam interferindo numa das cinco

liberdades do bem-estar, devem ser abatidos de emergência, realizando o

sacrifício do mesmo no local encontrado. O método de sacrifício das aves de

Page 69: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

57

emergência, é com o deslocamento da conexão das colunas cervicais (atlas –

áxil), artérias e nervos.

Os animais acidentados ou em estado de sofrimento durante o

transporte ou à chegada no estabelecimento de abate, devem ser submetidos à

abate de emergência. Para tal, os animais não devem ser arrastados e sim

transportados para o local do abate de emergência por meio apropriado, meio

este que não acarrete qualquer sofrimento inútil ao animal a ser abatido

(BRASIL, 2000).

Outros animais presentes no estabelecimento, não devem

presenciar ou ouvir os animais que estejam sofrendo, não deve ser realizado o

abate emergencial na presença de outros animais.

As aves que apresentam fraturas ou lesões que comprometem seu

bem-estar, não devem ser penduradas na linha de abate. É aceitável o

deslocamento manual do pescoço desde que as aves não apresentem mais de

3 kg e que seja realizado por um funcionário treinado para o abate emergencial

nas aves com estas medidas, no caso de aves como chester e perus, devem

ser utilizados o estrangulador para realizar o abate de emergência (UBA,

2008).

As aves com pernas e ossos quebrados devem ser separadas e

sacrificadas emergencialmente, evitando o prolongamento do seu estresse

(WSPA, 2008).

4.5.8. Abate religioso – Halal

O abate Religioso, principalmente o método Halal, é exigido pela

comunidade islâmica, que consome apenas alimentos considerados puros,

sendo denominados produtos Halal. Estes alimentos são considerados puros,

livres de agrotóxico, sangue e toxinas.

Halal significa lícito, permitido, autorizado (permitido ao consumo

humano, legal). Alimentos Halal são aquelas cujo consumo é permitido por

Deus. No Alcorão, Deus ordena aos muçulmanos e a toda a humanidade a

comer apenas alimentos Halal (Figura 23) (CIBAL, 2010).

Page 70: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

58

Halal também é a base de tudo que é lícito, na política, no social,

nos atos praticados (conduta), na justiça, nas vestimentas, nas finanças, etc., é

o resultado de um sistema de produção que busca criar mecanismos que

contribuam com a saúde humana, criando equilíbrio sustentável em todo seu

processo (CIBAL, 2010).

Com esse rigoroso controle da sociedade islâmica, existem pessoas

treinadas para prepararem os alimentos, a convicção que os animais devam

sofrer, para livrar-se das impurezas durante a sua morte diante de Ala.

No abate dos animais destinados ao comércio Halal, à sangria é

realizada por pessoas obrigatoriamente da religião islâmica, em que em cada

procedimento de sangria, é realizado um ritual religioso, onde o peito do animal

deve estar voltado para Meca e sejam feitas orações pelo sangrador, que deve

falar ou pensar em cada corte, Ala é grande.

Esse ritual de sacrifício deve ser feito com ética. Ao evocar o nome

de Deus, estamos agradecendo pelo alimento que Este nos enviou, pedimos

perdão, pois não matamos um animal por sadismo e nem por prazer, e sim

para garantir o sustento alimentar ao ser humano.

Procedimentos para o abate Halal: a) Os animais, para serem

abatidos, devem ser saudáveis e aprovados pelas autoridades sanitárias

competentes; b) O animal deverá estar em perfeita condição física; c) O abate

será executado somente por muçulmano mentalmente sadio e que entenda,

totalmente, o fundamento das regras e das condições relacionadas com o

abate de animais no Islam; d) A frase (Em nome de Deus, o mais Bondoso, o

mais Misericordioso) tem de ser invocada imediatamente antes do abate; e) Os

equipamentos e os utensílios utilizados no abate Halal serão exclusivos para

esse tipo de degola; f) A faca do abate deverá ser afiada; g) A sangria deverá

ser feita apenas uma vez. A “ação cortante” do abate é permitida já que as

facas do abate não são descoladas do animal durante o abate, procurando

minorar-se o sofrimento infringido; h) O esgotamento do sangue deverá ser

espontâneo e completo; i) O inspetor mulçumano treinado será indicado e terá

responsabilidade de checar se os animais são abatidos corretamente de

acordo com as (leis) Shariah; j) A ave abatida somente poderá ser escaldada,

após a confirmação da morte pelo abate Halal (CIBAL, 2010).

Page 71: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

59

FIGURA 23 - Símbolo Cibal Halal Brasil, Centro Islâmico Brasileiro de abate Halal. Fonte: Google Imagens.

Quando por razões religiosas os animais forem abatidos sem prévia

insensibilização, a operação deverá ser realizada sem causar sofrimento

desnecessário ao animal e de acordo com os controles específicos para o

procedimento (TWAR-UK, 1995).

É permitido o abate sem a prévia insensibilização somente para

atender preceitos religiosos (BRASIL, 2OOO).

Page 72: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

60

CONCLUSÃO

Mediante a literatura pesquisada, temos parâmetros suficientes para

identificar condições de estresse das aves destinadas ao abate comercial, o

que nos direciona a priorizar o bem-estar animal, com a intenção de evitar

qualquer tipo de desconforto antes do abate.

Neste trabalho estão relatados, aspectos de bem-estar das aves

durante o processo de abate, implicados em várias diretrizes mundiais, países

produtores e compradores, com a intenção de comparar ou unificar um

parâmetro único de bem-estar.

A intenção do trabalho é alertar sobre a importância de se priorizar

um abate humanitário, sem sofrimento ou qualquer tipo de estresse na cadeia

produtiva de carne de aves, podendo ser adotados não só no Brasil, mas em

qualquer região do mundo, já que reúne referências aprovadas dos quatro

blocos econômicos.

Entretanto, o bem-estar animal no abate das aves não deve ser um

preceito unicamente econômico, ou um detalhe a ser seguido devido a

pressões da sociedade, mas, bem-estar animal é condição inerente ao

desenvolvimento de uma sociedade mais humana, justa e responsável para

com os animais.

Page 73: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

61

REFERÉNCIAS BIBLIOGRAFICAS

ANADÓN, H.L.S. Biological, nutritional and processing factors affecting breast meat quality of broilers. 2002. 171f. Thesis (Doctor of Philosophy in Animal and

Poultry Sciences) - Faculty of Virginia Polythecnic Institute and State University. 2002. AXELROD, J.; REISINE, T. Stress hormones: their interation and regulation. Sience. V. 224, p. 452-459, 1984. BARBUT, S. Meat color and flavor, Poultry products processing: an industry guide.

New York: CRC, 2002. Chap.13, p.429-463. BORGES, S.A. et al. Physiological responses of broiler chickens to heat stress and dietary electrolyte balance (sodium plus potassium minus chloride, milliequivalents per kilogram). Poultry Science, Ithaca, v.83, p.1551-1558, 2003. BRANCO, J.A.D. Manejo de frango no período pré-abate. In: Simposio Mineiro de Avicultura, 2, 1999. BeloHorizonte. AVIMIG, p.109-119. 1999. BRASIL. Decreto nº 24.645 (1934), Estabelece medidas de proteção aos animais,

Art.1º e Art.3º, alíneas I, II, IV, V, VI, XX, XXVI e XXVIII. Publicado no Diário Oficial da União, Suplemento ao número 162, de l4.07.1934, Rio de Janeiro, 1934. BRASIL. Portaria nº 210, de 10 de novembro de 1998. Regulamento Técnico da Inspeção Tecnológica e Higiênico-Sanitária de Carne de Aves., 2007 Disponível em: http://www.agricultura.gov.br/sda/dipoa/republport210.html. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa nº. 03, de 17 de janeiro de 2000. Regulamento Técnico de Métodos de Insensibilização Para o Abate Humanitário de Animais de Açougue. Diário Oficial da União, Brasília, 2000. CIBAL, Historia do abate halal - Núcleo de Desenvolvimento do Conceito e Sistema Halal do Brasil - Central Islâmica Brasileira de Alimentos Halal (CIBAL HALAL) 2010. DUKE, G.E.; BASHA, M.; NOLL, S. Optimum duration of feed and water removal prior to processing in oder to re reduce the potential for fecal contamination in turkeys. Poltry science. Champaing, v.53, p.516-22. 1997.

DRANSFIELD, E.; SOSNICKI, A.A. Relationship between muscle growth and poultry meat quality. Poultry Science, Ithaca, v.78, p.743-746, 1999. EDENS, F.W., SIEGEL, H.S. Adrenal responses in high and low ACTH response lines of chicken duringacute heat stress. Gen. Compa. Endocrinol. 1975.

EFSA, European Food Safety Authority “WELFARE ASPECTS OF

Page 74: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

62

ANIMAL STUNNING AND KILLING METHODS” - Scientific Report of the Scientific Panel for Animal Health and Welfare on a request from the Commission related to welfare aspects of animal stunning and killing methods, 2004 GRACEY, J.F., COLLINS, D.S. Humane Slaughter In: Meat hygiene.

London: Baillière Tindall, 1992. p.143-167. GREGORY, N.G., Moss, B.W., and Leeson, R.H., 1987. An assessment of carbon dioxide stunning of pigs. Veterinary Record, 121: 517-518.

HEDRICK, H.B.; ABERLE, E.D.; FORREST. J.C; JUDGE, M.D.; MERKEL,R.A. Principles of meat science. 3º. Ed. Dubuque, 1994, pg 354 HILLMAN, P.E. et al. Physiological responses and adaptations to hot and cold environments. In: YOUSEF, M.K. Stress physiology in livestock. Boca Raton: CRC,

1985. 3v. p.1- 71. HFAC, Humane Farm Animal Care – Padrões dos cuidados com animais, PO Box 727 VA 20172, 2008. HFAC, Humane Farme Animal Care – news, http://www.certifiedhumane.org/, 2010

HOWLINDER, M.A.R.; ROSE, S.P. Rearing temperature and meat yield of broilers.

British Poultry Science, London, v.34, p.925-938, 1989. JAMES, VHT.; HORNER, M.W.; M.S.; RIPPON, A.E. adrenocortical function is the horse. J. Endocr., v 48, p 319 – 335, 1970.

LEANDRO, N.S.M.; ROCHA, P.T.; STRINGHINI, J.H.; SCHATL, M.; FORTES, R. Efeito do tipo de captura dos frangos de corte sobre a qualidade da carcaça. Ciência Animal Brasileira, U-2, N2, p. 97-100. 2001. MAGANHINI, Magali Bernardes, et al. Carnes PSE (Pale, Soft, Exudative) e DFD (Dark, Firm, Dry) em lombo suíno numa linha de abate industrial - Ciênc. Tecnol. Aliment., Campinas, 27(supl.): 69-72, ago. 2007 MACARI, M. et al. Fisiologia aviária aplicada a frangos de corte. Jaboticabal:

Fundação de Estudos e Pesquisas em Agronomia Medicina Veterinária e Zootecnia - FUNEP, 1994. 296p. MACARI, M.; FURLAN, R.L.; MAIORKA, A. Aspectos fisiológicos e de manejo para manutenção da homeostase térmica e controle de síndromes metabólicas. In: MENDES, A.A.; NÄÄS, I.A.; MACARI, M. (Eds.). Produção de frangos de corte. Campinas: Fundação Apinco de Ciência e Tecnologia Avícolas, 2004. p.137-155.

MAGANHINI, M. B, Carnes PSE (Pale, Soft, Exudative) e DFD (Dark, Firm, Dry)em lombo suíno numa linha de abate industrial, Ciênc. Tecnol. Aliment., Campinas,

27(supl.): 69-72, ago. 2007

Page 75: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

63

MENDES. Avaliação do rendimento e qualidade da carcaça de frangos de corte. http://www.unesp.br/propp/dir_proj/Agropecuaria/. 2002 MOURA, D.J. Ambiência na produção de aves de corte. In: SILVA, I.J.O. (Ed.). Ambiência na produção de aves em clima tropical. 1.ed. Piracicaba: FUNEP, 2001. v.2, p.75-148. MURRA, Y.& ROSEMBERG, M.M. Studies on blood sugar and glicogen levels in chickens. Poutry Sience Champaign, v.32, p.805-11.1953.

NÄÄS, I.A. Estresse calórico: meios artificiais de condicionamento. In: SIMPÓSIO

INTERNACIONAL DE AMBIÊNCIA E INSTALAÇÃO NA AVICULTURA INDUSTRIAL, 1995, Campinas. Anais… Campinas, Unicamp, 1995. p. 109-112.

ODA, S. H. I.; BRIDI, A. M.; SOARES, A. L.; GUARNIERI, P. D.; IDA, E. I.; SHIMOKOMAKI, M. Carnes PSE (Pale, Soft, Exudative) e DFD (Dark, Firm, Dry) em aves e suínos - diferenças e semelhanças. Rev. Nac. Carne, v. 28, n. 325, p. 108-113, 2004. OLIVEIRA, R. et al. Efeitos da temperatura e da umidade relativa sobre o desempenho e o rendimento de cortes nobres de frangos de corte de 1 a 49 dias de idade. Revista Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v.35, n.3, p.797-803, 2006.

RAI. Brasil exporta menos carne de peru, reportagem, Quarta-feira, 18 de novembro

de 2009. Revista eletrônica Avicultura industrial, 2009. RAJ, A.B.M., Wilkins, L.J., Richardson, R.I., Johnson, S.P., and Wotton, S.B., 1997b.Carcase and meat quality in broilers either killed with a gas mixture or stunned with an electric current under commercial processing conditions. British Poultry Science, 38: 169-174. 1997

ROSA, P.S.; MARCOLN,S.D.; WESSHEIMEIR, A. Manejo no pré-abate. Disponível

em: http://www.aviculturaindustrial.com.br. 2002 . Acesso em 05 de novembro 2007. ROÇA, R.O. Abate humanitário: manejo ante-mortem. Revista Tec. Carnes.

Campinas, SP, v.3, n.1, p.7-12, 2001. SAMS, A.R. & MILLS, K.A. The effect of feed withdrawal duration on the responiveness of broiler pectoralis to rigor mortis acceleration. Poultry

Science. Champaign, v.72, n.9, p.1789-96. 1993. SILVA, I.J.O.; LAGATTA, D.; PEDROSO, D.S. et al. Análise das condições de conforto em caminhões em abatedouro. In: CONFERÊNCIA APINCO 1997 DE

CIÊNCIA E TECNOLOGIA AVÍCOLAS, 1997, São Paulo. Resumos... Campinas: Fundação Apinco de Ciência e Tecnologia Avícolas, 1997.

Page 76: ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE AVES Aurione.pdf · Miguel Aurione Orientador: Prof. Dr. Ariel Eurides Stella JATAÍ 2010 . MIGUEL AURIONE ASPECTOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO

64

SILVA, M.A.N.; SILVA, I.J.O.; PIEDADE, S.M.S. et al. Resistência ao estresse calórico em frangos de corte de pescoço pelado. Revista Brasileira de Ciência

Avícola, v.3, n.1, p.27-33, 2001. STOTT, G. H. What is animal stress and how is it measured? J. Animal Sci. v. 52, n

1, p. 150 -153, 1981. SWATLAND, H.J. On line evaluation of meat. Lancaster: Technomic, 1995. 347p. TWAR-UK, The Welfare of Animals (Slaughter or Killing) Regulations, PART VI REPEALS, REVOCATIONS AND AMENDMENTS - Schedule 12 - Additional provisions for slaughter by a religious method, (1995) UBA, União Brasileira de Avicultura, Protocolo de bem-estar para frangos e peru; Edt. Av. Brigadeiro Faria Lima, 1912 – 20º andar – Jardim Paulista, 2008. WOTTON, S.B., and Gregory, N.G., 1986. Pig slaughtering procedures: time to loss of brain responsiveness after exsanguination or cardiac arrest. Res. Vet. Sci., 40: 148-151. WSPA, lançamento do programa de bem estar-animal.

http://www.wspabrasil.org/latestnews/2009. acessado em 25/08/2010, Brasília, 2009.