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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA
Programa de Pós-graduação em Agricultura Tropical
ASPECTOS FISIOLÓGICOS DE SEMENTES DE QUATRO
ESPÉCIES NATIVAS COM POTENCIAL ORNAMENTAL
CARMEN LÚCIA FERREIRA FAVA
C U I A B Á - MT
2008
Livros Grátis
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA
Programa de Pós-graduação em Agricultura Tropical
ASPECTOS FISIOLÓGICOS DE SEMENTES DE QUATRO
ESPÉCIES NATIVAS COM POTENCIAL ORNAMENTAL
CARMEN LÚCIA FERREIRA FAVA
BIÓLOGA
ORIENTADORA: PROFª. DRª. MARIA CRISTINA DE FIGUEIREDO E
ALBUQUERQUE
Dissertação apresentada à Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade Federal de Mato Grosso, para obtenção do título de Mestre em Agricultura Tropical.
C U I A B Á – MT
2008
FICHA CATALOGRÁFICA
F272a Fava, Carmen Lúcia Ferreira Aspectos fisiológicos de sementes de quatro espécies nativas com potencial ornamental / Carmen Lúcia Ferreira Fava. – 2008. 88p. : il. ; color.
Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Mato Grosso, Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária, Pós-graduação em Agricultura Tropical, 2008.
“Orientação: Profª Drª Maria Cristina de Figueiredo e Albuquerque”.
CDU – 635.924(043)
Índice para Catálogo Sistemático
1. Plantas nativas – Potencial ornamental2. Plantas nativas – Espécies3. Plantas nativas – Sementes – Propagação4. Plantas nativas – Sementes – Germinação5. Plantas nativas – Aspectos fisiológicos6. Planta ornamental7. Tibouchina stenocarpa8. Copernicia alba9. Cratylia argentea
10. Palicourea rigida
Epígrafe
“ O valor das coisas não está no tempo que
elas duram, mas na intensidade com que
acontecem. Por isso, existem momentos
inesquecíveis, coisas inexplicáveis e
pessoas incomparáveis.”
Fernando Pessoa
Dedicatória
Ao meu marido Antônio, aos meus
filhos Daniela, Fabiana e Vinícius, pela
compreensão e apoio em todos os
momentos desta importante etapa em
minha vida e por compreenderem a
minha ausência, durante a realização
deste trabalho.
Agradecimentos
À Deus, pelo dom da vida.
Ao Programa de Pós-Graduação em Agricultura Tropical da Universidade
Federal de Mato Grosso.
Ao CNPq, pela concessão da bolsa de estudos, que possibilitou a minha
permanência na Universidade.
À Profa Dra Maria Cristina de Figueiredo e Albuquerque “que é mais do que
uma professora”, pela orientação, paciência, afeição e ensinamentos que
foram marcantes para realização deste trabalho.
Às professoras Dra Iraídes Fernandes Carneiro e Drª Virgínia Helena de
Azevedo pela colaboração e sugestões na defesa.
Aos Professores Dr. Sebastião Carneiro Guimarães e Dra Carmen Eugenia
Rodríguez Ortíz pelas correções e sugestões no exame de qualificação.
À Sidnéa Aparecida Fiori Caldeira, pela presença constante e ajuda sem
limite durante a condução dos experimentos.
Ao Prof. Dr. Sidney Fernando Caldeira, pelas sugestões e fotos cedidas.
Aos colegas “Sementeiros” pela convivência durante o período de Mestrado:
Zé Luiz, Didi, Fernanda, Carla Cella, Carla Abido, Eliane, Fábio, Rozilaine,
Vagner, Islayne, Dielle, Roseli, Dionathan, Renata, Juliana, Marcela,
Luana,... e a todos que participaram dessa etapa.
À Profa Dra Elisabeth Aparecida Furtado de Mendonça, pela atenção e
sugestões.
À minha amiga Vera Lúcia Lopes Vieira Santos, pela amizade e incentivo em
todos os momentos.
À Denise Aparecida de Arruda Alves e Maria Minervina de Souza, pelo
carinho, apoio, competência, senso profissional e simpatia no atendimento.
Ao Prof. Dr. Edson Ferreira Duarte, pela contribuição das referências
bibliográficas cedidas.
Ao Sr. João de Almeida pela atenção e apoio durante a condução dos
experimentos.
Ao Sebrae/MT, pela disponibilidade do levantamento de espécies nativas
com potencial ornamental.
ASPECTOS FISIOLÓGICOS DE SEMENTES DE QUATRO ESPÉCIES
NATIVAS COM POTENCIAL ORNAMENTAL
RESUMO - Diante do interesse de inserir no mercado espécies nativas com
potencial ornamental, ampliar suas possibilidades de uso e de exploração
econômica, são necessárias mais pesquisas para ampliar os conhecimentos
sobre essas espécies. O objetivo deste trabalho foi obter informações sobre
alguns aspectos da propagação por sementes de Tibouchina stenocarpa,
Copernicia alba, Cratylia argentea e Palicourea rigida, espécies nativas com
potencial ornamental. Foram estudados aspectos de germinação e vigor de
sementes e de emergência de plântulas. Sementes de T. stenocarpa
apresentam germinabilidade nas temperaturas de 20 a 30ºC, na presença
de luz. Para a realização de testes de germinação de sementes dessa
espécie, o substrato sobre areia é o mais eficiente. Mesmo em condições de
temperatura e umidade controladas, ocorre a redução da germinabilidade
durante o armazenamento de sementes de T. stenocarpa. Para sementes de
Copernicia alba, recomenda-se a lavagem das mesmas por 24 ou 48 horas
para a superação da dormência. A germinabilidade de sementes de Cratylia
argentea ocorre nas temperaturas de 20, 25, 30, 35 e 40ºC e a formação de
plântulas nas temperaturas de 25, 30 e 35ºC. As plântulas apresentam maior
comprimento quando se desenvolvem na temperatura de 30ºC. Os melhores
métodos para superação da dormência de sementes de Palicourea rigida
são a embebição em água por 24 horas e o tratamento de dessecação por
432 horas intercaladas com períodos de embebição em água por três horas.
A viabilidade das sementes de Palicourea rigida pode ser avaliada pelo teste
de tetrazólio, utilizando o pré-condicionamento com imersão das sementes
em água por 16 horas, e posterior imersão em solução de tetrazólio na
concentração de 0,5% a 40ºC por 180 minutos.
Palavras-chave: Tibouchina stenocarpa, Copernicia alba, Cratylia argentea,
Palicourea rigida, plantas nativas, sementes.
PHYSIOLOGICAL ASPECTS OF SEEDS FROM FOUR NATIVE SPECIES
WITH POTENTIAL AS ORNAMENTALS
ABSTRACT – In view of the interest in introducing native species with
potential as ornamentals into the market, expanding their possibility of use
and economic exploitation, more researches are needed to increase
knowledge on such species. The objective of this study was to obtain
information on some seed propagation aspects of Tibouchina stenocarpa,
Copernicia alba, Cratylia argentea, and Palicourea rigida, all native species
with ornamental potential. Different aspects were studied on seed
germination and vigor, and plantlet emergence. T. stenocarpa seeds
presented germinability at temperatures from 20 to 30°C, in the presence of
light. The on-sand substrate was the most effective to conduct germination
tests with seeds of this species. Even under controlled temperature and
moisture conditions, there was a reduction in germinability during T.
stenocarpa seed storage. In Copernicia alba seeds, it is recommended that
seeds be washed for 24 or 48 hours in order to overcome dormancy. The
germinability of Cratylia argentea seeds occurred at temperatures of 20, 25,
30, 35, and 40°C, while plantlet formation occurred at temperatures of 25, 30,
and 35°C. Plantlets showed greater length when grown at 30°C. The best
methods to overcome dormancy in Palicourea rigida seeds were imbibition in
water for 24 hours and desiccation treatment for 432 hours intercalated with
periods of imbibition in water for three hours. The viability of Palicourea rigida
seeds can be evaluated with the tetrazolium test, using preconditioning by
immersing the seeds in water for 16 hours, and later immersing in a 0.5%
tetrazolium solution at 40°C for 180 minutes.
Keywords: Tibouchina stenocarpa, Copernicia alba, Cratylia argentea,
Palicourea rigida, native plants, seeds.
SUMÁRIO
Página
1 INTRODUÇÃO.......................................................................................... 12
1.1 Referências Bibliográficas...................................................................... 17
2 GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE Tibouchina stenocarpa (DC.)
COGN. EM FUNÇÃO DA TEMPERATURA, DO SUBSTRATO E DO
ARMAZENAMENTO ................................................................................... 19
Resumo ....................................................................................................... 19
Abstract........................................................................................................ 20
2.1 Introdução.............................................................................................. 21
2.2 Material e Métodos ................................................................................ 25
2.3 Resultados e Discussão ........................................................................ 28
2.4 Conclusões ............................................................................................ 34
2.5 Referências Bibliográficas...................................................................... 35
3 EMERGÊNCIA DE PLÂNTULAS DE Copernicia alba (MORONG EX
MORONG E BRITTON) EM FUNÇÃO DA ESCARIFICAÇÃO MECÂNICA E
LAVAGEM DE SEMENTES EM ÁGUA CORRENTE ................................. 39
Resumo ....................................................................................................... 39
Abstract........................................................................................................ 40
3.1 Introdução.............................................................................................. 41
3.2 Material e Métodos ................................................................................ 45
3.3 Resultados e Discussão ........................................................................ 48
3.4 Conclusões ............................................................................................ 52
3.5 Referências Bibliográficas...................................................................... 53
4 GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE Cratylia argentea (DESV.) O. KZE.
EM FUNÇÃO DA TEMPERATURA............................................................. 55
Resumo ....................................................................................................... 55
Abstract - ..................................................................................................... 56
4.1 Introdução.............................................................................................. 57
4.2 Material e Métodos ................................................................................ 61
4.3 Resultados e Discussão ........................................................................ 63
4.4 Conclusões ............................................................................................ 67
4.5 Referências Bibliográficas...................................................................... 68
5 VIABILIDADE E EMERGÊNCIA DE PLÂNTULAS DE Palicourea rigida
KUNTH EM FUNÇÃO DE DIFERENTES MÉTODOS PARA SUPERAÇÃO
DE DORMÊNCIA......................................................................................... 70
Resumo ...................................................................................................... 70
Abstract ....................................................................................................... 71
5.1 Introdução.............................................................................................. 72
5.2 Material e Métodos ................................................................................ 76
5.3 Resultados e Discussão ........................................................................ 80
5.4 Conclusões ............................................................................................ 86
5.5 Referências Bibliográficas...................................................................... 87
12
1 INTRODUÇÃO
A rápida e desordenada ocupação do Cerrado, desde os anos 70, tem
proporcionado o risco de extinção de espécies endêmicas. Estima-se que
existam apenas 20% da cobertura original, devido à sua incorporação ao
processo produtivo agrícola (Ratter et al., 1997; Aguiar et al., 2004) e uma
das formas de minimizar o impacto sobre algumas espécies, dentre as quais
as de uso ornamental, é a exploração econômica.
O cultivo e o manejo sustentável das espécies nativas com potencial
ornamental são extremamente necessários e podem vir a se tornar uma
opção econômica para a região e ou para o país (Siqueira Filho e Tabarelli,
2007), além de contribuir para a redução das atividades extrativistas e
predatórias, permitindo assim o manejo e a exploração dos biomas em base
sustentáveis (Felfili et al., 2004).
Grande parte das plantas ornamentais cultivadas nos mais diversos
locais do mundo não é nativa dessas regiões, o que pode acarretar
conseqüências negativas tanto nos ambientes naturais quanto nos cultivos.
O paisagismo com espécies exóticas contribui para a uniformização das
paisagens, enquanto o uso de espécies nativas, ao mesmo tempo em que
colabora para a preservação da flora local, é capaz de reforçar identidades
regionais. A inserção de plantas nativas com potencial ornamental na cadeia
produtiva e sua disponibilização para a comercialização representam um
diferencial em um mercado competitivo, ávido por novidades e com
13
tendência a se tornar cada vez mais inclinado a produtos considerados de
impacto ambiental reduzido (Heiden et al., 2006).
No Brasil, plantas como orquídeas, bromélias e algumas samambaias
são obtidas de forma extrativista, insustentável e ilegal, e são
comercializadas apesar dos riscos de autuação. Esse fato pode ser um
indicativo de que, se inseridas na cadeia produtiva, dentro das leis
ambientais e de proteção, as plantas nativas são capazes de ocupar um
espaço crescente no mercado da floricultura, por seus requisitos diferenciais
(Heiden et al., 2006).
Existe ainda desconhecimento a respeito das potencialidades das
plantas nativas, e seu uso, quando inadequado, também pode causar
impactos negativos sobre o ambiente. Se forem usadas simplesmente por
uma nova tendência paisagística, sem a devida atenção às condições locais,
os resultados podem ser insatisfatórios. Outro ponto a ressaltar é que o valor
e a introdução de novas espécies ornamentais na cadeia produtiva requerem
investimento em pesquisa e treinamento para a readequação da produção.
As plantas nativas são de fácil adaptação porque elas evoluíram em
determinadas condições por um longo tempo, desenvolvendo resistência às
variações climáticas e à incidência de pragas do ambiente local aos quais
uma planta exótica poderia não resistir. No entanto, é importante ressaltar
que, se colocadas em condições de estresse, mesmo espécies nativas
podem ter desempenho inferior às espécies exóticas (Buckstrup e Bassuk,
1997).
A produção de plantas ornamentais é uma das atividades que mais
cresce no país e no mundo nos últimos anos. Sua expansão depende,
diretamente, da introdução de novidades no setor, o que requer pesquisas
com plantas que apresentem determinadas características, e têm
encontrado grande interesse entre pesquisadores, produtores e o público em
geral. Essas pesquisas são dinâmicas e envolvem a localização e o
levantamento de espécies ornamentais, sua identificação taxonômica, a
formação e manutenção de coleção de plantas em cultivo, além de estudos
de reprodução, manejo, crescimento e floração, testes de produção industrial
14
e, por fim, análises de aceitação do produto pelo mercado (Faria et al.,
2007).
Há carência de dados quanto à oferta e procura de plantas
ornamentais nativas, mas é possível afirmar que a demanda existente para
utilização em projetos paisagísticos não vem sendo atendida pelo setor
produtivo, inviabilizando, em parte, o fortalecimento da proposta de um
paisagismo ecológico ou regionalizado (Heiden et al., 2006).
Chamas e Matthes (2000) elaboraram um Índice Composto de
Potencial Ornamental de Espécies Tropicais, no qual propõem um método
sistemático e critérios para o levantamento do potencial ornamental de
espécies nativas, em que, a partir de procedimentos de campo
sistematizados, são feitos registros e coletas de dados bióticos e abióticos. A
análise da potencialidade baseia-se em caracteres morfológicos, fenológicos
e de rusticidade, bem como em quantidade de indivíduos ou populações
disponíveis, facilidade reprodutiva para o cultivo, prazo para aplicabilidade e
originalidade da espécie. Os mesmos autores salientam a importância de
manter coleções ex situ para a obtenção das primeiras informações sobre o
comportamento em cultivo.
Atualmente, vários países consumidores de flores e plantas
ornamentais, como Estados Unidos, Canadá e Austrália, ou exportadores,
como Argentina e Colômbia, estão elaborando listas da flora nativa em
busca de dois objetivos conflitantes: a produção de ornamentais nativas
voltadas ao mercado local e comercializadas com argumentos embasados
em um paisagismo ecológico e sua disponibilização como novos produtos
capazes de concorrer no mercado mundial. No Brasil também existem
trabalhos visando a elaboração de inventários da flora ornamental nativa e a
organização de bancos de germoplasma de espécies que demonstrem
potencial para esse fim (Heiden et al., 2006). Em Mato Grosso, no ano de
2004, foi realizado um levantamento básico de dados bibliográficos, proposto
pelo SEBRAE/MT, e levantamento preliminar das espécies nativas com
potencial ornamental (Barros, 2004). Nesse levantamento são encontradas
15
as espécies Tibouchina stenocarpa, Copernicia alba, Cratylia argentea, e
Palicourea rigida, objetos do presente trabalho.
As espécies com potencial ornamental são classificadas a partir de
critérios que levam em consideração a sua beleza, porte, coloração,
resistência, floração, frutificação, relativa facilidade de reprodução, utilidade
paisagística e comercialização. Para que o uso de algumas espécies nativas
seja introduzido, torna-se necessário que se conheçam métodos de
propagação mais eficientes, bem como seja trabalhada a durabilidade das
flores e folhas.
Devido à beleza das flores, Tibouchina stenocarpa (quaresmeira)
pode ser usada como ornamental no paisagismo em canteiros centrais,
praças e parques. A espécie Copernicia alba (carandá), pela beleza das
folhas e do estipe, o seu uso como ornamental poderá ser como folhas de
corte e no paisagismo em canteiros centrais, praças e parques. Cratylia
argentea (cipó-prata), por causa da beleza das flores e folhas, o uso como
ornamental poderá ser no paisagismo em pergolados nas praças e parques,
e Palicourea rigida (douradão) devido à beleza das flores e folhas, o uso
ornamental poderá ser como flores de corte e no paisagismo em canteiros
centrais, praças e parques.
Diante do interesse de inserir no mercado essas espécies com
potencial ornamental, ampliar suas possibilidades de uso e de exploração
econômica são necessárias mais pesquisas, ampliando os conhecimentos e
obtendo informações com relação à conservação da qualidade fisiológica
das sementes durante o armazenamento, condições para germinação de
sementes e emergência de plântulas e quebra de dormência, que
possibilitem posteriores pesquisas com desenvolvimento de mudas em
viveiro.
Desta forma, o objetivo geral deste trabalho foi fornecer informações
sobre aspectos fisiológicos de sementes de Tibouchina stenocarpa,
Copernicia alba, Cratylia argentea e Palicourea rigida. Os objetivos
específicos foram: avaliar o comportamento germinativo das sementes de T.
stenocarpa sob diferentes temperaturas e substratos; de C. alba após
16
submetidas a escarifição mecânica do tegumento e lavagem das sementes;
de C. argentea sob diferentes temperaturas e de P. rigida depois de
tratamentos para a superação de dormência.
17
1.1 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AGUIAR, L. M. S.; MACHADO, R. B.; MARINHO FILHO, J. A diversidade biológica do Cerrado. In: AGUIAR, L. M. S.; CAMARGO, A. J. A. (Ed.). Cerrado: ecologia e caracterização. Planaltina: EMBRAPA Cerrados; Brasília: EMBRAPA Informação Tecnológica, 2004. p. 17-40.
BARROS, L.T.L.P. de. Potencial/potencialidade da flora nativa mato-grossense de valor ornamental. Cuiabá: SEBRAE/MT, 2004. (Relatório técnico), 62 p.
BUCKSTRUP, M.; BASSUK, N. Native vs. exotic for the home landscape. Ecogardening Factsheet, n.18, Cornell University, 1997. Disponível em: <http://www.cce.cornell.edu/programs/hort/gardening/factsheets/ecogardening/native.html>. Acesso em 7 set. 2007.
CHAMAS, C.C.; MATTHES, L.A.F. Método para levantamento de espécies nativas com potencial ornamental. Revista Brasileira de HorticulturaOrnamental, Campinas, v.6, n.1/2, p. 53-63, 2000.
FARIA, A. D. de; RIBEIRO, J. E. L. da S.; BITTRICH, V.; SAKAGAWA, S.; CARVALHO-SOBRINHO, J. G. de; ZARTMAN, C. E. Plantas ornamentais da Amazônia: região do Rio Uatumã, Presidente Figueiredo, AM. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA/CPBO). In: CONGRESSO BRASILEIRO DE FLORICULTURA E PLANTAS ORNAMENTAIS, 16, 2007, Goiânia. Anais... Goiânia: UFG, 2007. v.13 (CD-ROM).
FELFILI, J. M.; RIBEIRO, J. F.; BORGES FILHO, H. C.; VALE, A. T. Potencial econômico da biodiversidade do Cerrado: estádio atual e possibilidades de manejo sustentável dos recursos da flora. In: AGUIAR, L. M. S.; CAMARGO, A. J. A. (Ed.). Cerrado: ecologia e caracterização. Planaltina: EMBRAPA Cerrados; Brasília: EMBRAPA Informação Tecnológica, 2004. p. 177-220.
18
HEIDEN, G.; BARBIERI, R. L.; STUMPF, E. R. T. Considerações sobre o uso de plantas ornamentais nativas. Revista Brasileira de Horticultura Ornamental, Campinas, v. 12, n.1, p. 2-7, 2006.
RATTER, J. A.; RIBEIRO, J. F.; BRIDGEWATER, S. The Brazilian Cerrado vegetation and threats to its biodiversity. Annals of Botany, London, n. 80, p.223-230. 1997. < http://aob.oxfordjournals.org/cgi/reprint/80/3/223.pdf>.Acesso em 23 jan. 2008.
SIQUEIRA FILHO, J. A.; TABARELLI, M. Bromeliads species of the Atlantic forest of north-east Brasil: losses of critical populations of endemic species. Oryx, Cambridge, v. 40, n. 2, p. 1-7, 2007. <http://journals.cambridge.org/action/displayAbstract>. Acessado em 12 jan. 2008.
19
2 GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE Tibouchina stenocarpa (DC.)
COGN. EM FUNÇÃO DA TEMPERATURA, DO SUBSTRATO E DO
ARMAZENAMENTO
RESUMO – Este trabalho teve como objetivo avaliar o comportamento
germinativo das sementes de Tibouchina stenocarpa em função da
temperatura, do substrato e do armazenamento. Foram realizados três
ensaios: no primeiro foi verificado o efeito das temperaturas de 10, 15, 20,
25, 30, 35 e 40ºC; o segundo foi realizado para verificar o efeito dos
substratos terra do local de origem das plantas, areia, papel e no terceiro
ensaio foi avaliada a influência da época de coleta e do armazenamento na
germinabilidade das sementes. Sementes de T. stenocarpa apresentam
germinabilidade nas temperaturas de 20 a 30ºC, na presença de luz. Para a
realização de testes de germinação de sementes de T. stenocarpa o
substrato sobre areia é o mais eficiente. Mesmo em condições de
temperatura e umidade controladas, o armazenamento de sementes de T.
stenocarpa por um ano proporcionou a redução da capacidade germinativa.
Palavras-chave: Melastomataceae, quaresmeira-do-cerrado, planta
ornamental, germinabilidade.
20
GERMINATION OF Tibouchina stenocarpa (DC.) COGN. SEEDS AS A
FUNCTION OF TEMPERATURE, SUBSTRATE, AND STORAGE
ABSTRACT – This study aimed to evaluate the germination behavior of
Tibouchina stenocarpa seeds as a function of temperature, substrate, and
storage. Three assays were conducted: in the first we investigated the effect
of the following temperatures: 10, 15, 20, 25, 30, 35, and 40°C; the second
assay was carried out to study the effect of the following substrates: dirt from
the plants’ place of origin, sand, and paper; in the third assay we evaluated
the influence of collection season and storage on seed germinability. T.
stenocarpa seeds showed germinability at temperatures from 20 to 30°C, in
the presence of light. The on-sand substrate was the most effective to
conduct germination tests with T. stenocarpa seeds. Even under controlled
temperature and moisture conditions, T. stenocarpa seed storage for one
year caused a reduction in germination capacity.
Keywords: Melastomataceae, quaresmeira-do-cerrado, ornamental plant,
germinability.
21
2.1 Introdução
As espécies da família Melastomataceae, em especial o gênero
Tibouchina, têm grande importância ecológica na recuperação de áreas
degradadas, além do potencial para fins paisagísticos, como a Tibouchina
stenocarpa, e são capazes de se desenvolverem em regiões alteradas por
mineração (Lorenzo et al., 1994), podendo ser utilizada como bioindicadora
de poluição (Domingos et al., 2003).
A família Melastomataceae, apresenta cerca de 155 gêneros e 4500
espécies em todo o mundo, sendo a maior família das Angiospermas
(Peralta, 2002). No Brasil é a sexta maior família com 68 gêneros e mais de
1500 espécies, que se distribuem desde a Amazônia até o Rio Grande do
Sul, estando presente em praticamente todas as formações vegetacionais
com número variável de espécies. Essas espécies apresentam grande
diversidade de hábitos, desde herbáceo até arbustivo, ocorrendo muito
comumente espécies arbóreas, e mais raramente trepadeiras e epífitas, que
permitem a ocupação de ambientes distintos e diversificados (Romero e
Martins, 2002). A distribuição das espécies dessa família provavelmente é
influenciada por fatores ambientais tais como luz, temperatura e umidade,
sendo esses, determinantes na reprodução e estabelecimento das plantas
(Simão, 2005).
Tibouchina stenocarpa (DC.) Cogn. (Figura 1), conhecida como
quaresmeira-do-cerrado, da família Melastomataceae, é uma espécie nativa
dos cerrados de altitude do Brasil, apresenta altura variável de 1 a 3m e
22
florescimento notável no verão e outono. É uma planta ornamental, com
flores arroxeadas, fruto do tipo cápsula e com grande quantidade de
sementes. Em estado nativo forma colônias densas, muito floridas e
vistosas. Ainda rara em cultivo, é apropriado para plantio isolado e para
formação de renques ou de conjuntos compactos, em canteiros ou em pleno
sol. É tolerante a geadas, podendo ser cultivada em todas as regiões do país
(Lorenzi e Souza, 2001).
A B
FIGURA 1. Aspecto da planta (A) e da flor (B) de Tibouchina stenocarpa
(DC.) Cogn.
As sementes do gênero Tibouchina são fotoblásticas positivas com
germinação ausente ou muito baixa no escuro. Entretanto mesmo em
condições adequadas de luz, em algumas espécies da família
Melastomataceae a porcentagem de germinação não ultrapassa 40%,
devido ao grande número de sementes que não possuem embriões (Lopes
et al., 2005).
Para iniciar a exploração de novos habitats, a germinação das
sementes é o primeiro passo. Esse processo pode influenciar o número
populacional das espécies em sua área de ocupação (Ramírez-Padilla e
Valverde, 2005). Também a propagação por sementes, para muitas
espécies, é o único método ou o mais empregado, tornando indispensável o
conhecimento da fisiologia da germinação, pois vários fatores podem
23
interferir no processo como temperatura, disponibilidade de água, teor de
oxigênio, luminosidade e dormência, sendo a temperatura um dos principais
fatores que determinam a velocidade da germinação, porque controla a
velocidade das reações metabólicas (Paiva et al., 2005). Dentre os fatores
que afetam o processo germinativo, encontra-se a temperatura que afeta a
porcentagem, velocidade e uniformidade de germinação e está relacionada
com os processos bioquímicos.
O período de germinação pode mudar completamente em resposta à
temperatura, devido à complexidade do processo germinativo (Copeland e
McDonald, 1995).
Em algumas espécies sensíveis à luz, a alternância de temperaturas
pode influenciar nas respostas de germinação, como observado em
embaúba (Cecropia hololeuca) (Godoi e Takaki, 2004) e candeia
(Eremanthus elaeagnus) (Velten e Garcia, 2005). Em manacá-da-serra
(Tibouchina mutabilis), a exposição das sementes ao regime de alternância
de temperaturas não suprimiu o efeito do fotoperíodo na germinação, que
para essa espécie não ocorre no escuro (Simão, 2005).
A temperatura ótima para a germinação está diretamente associada
às características ecológicas da espécie, sendo um dos fatores mais
importantes para o teste de germinação (Coelho et al., 1997). Para
sementes de jatobá-do-cerrado (Hymenaea stigonocarpa), as melhores
temperaturas para a germinação de sementes foram 25ºC e 25º- 30ºC e,
para barbatimão (Stryphnodendron adstringens), 25ºC e 30ºC (Dignart,
1998). Ferronato (1999) observou que, para sementes de sucupira preta
(Bowdichia virgilioides), a melhor temperatura de germinação foi 30ºC.
Sementes de mangava-brava (Lafoensia pacari) foram colocadas para
germinar em diferentes temperaturas, 15, 20, 25, 30 e 35ºC, e em todas as
condições, as porcentagens de germinação e de emergência de plântulas
foram acima de 70% (Coelho e Souza, 2001).
O substrato utilizado durante o teste de germinação tem a função de
propiciar às sementes condições ambientais ótimas para a germinação e
desenvolvimento da plântula. Na sua escolha deve-se levar em conta o
24
tamanho das sementes, sua exigência em umidade, sensibilidade à luz, e
também facilidade que o mesmo oferece durante a avaliação das plântulas.
Para a realização de testes de germinação são descritos os substratos:
pano, papel toalha, papel de filtro, papel mata-borrão, terra e (Brasil, 1992),
sendo que para cada espécie, dependendo de suas características, há um
tipo de substrato mais adequado.
Para sementes de mangaba (Hancornia speciosa), Nogueira et al.
(2003), avaliando diferentes substratos, constataram que a areia
proporcionou maior índice de velocidade de germinação. Em sementes de
bertalha (Basella rubra), Lopes et al. (2005) verificaram que os substratos
areia (sobre areia), vermiculita (sobre vermiculita) e papel (sobre papel e rolo
de papel) foram mais favoráveis para germinação dessa espécie.
O armazenamento de sementes pode ser por poucos dias ou por
períodos maiores e objetiva a conservação da qualidade fisiológica das
sementes. Essa conservação é influenciada por diversos fatores,
relacionados à qualidade inicial da semente, como vigor das plântulas
ascendentes; condições climáticas durante a maturação das sementes; grau
de maturação no momento da colheita; ataque de pragas e doenças e grau
de injúria mecânica, e às características do ambiente como umidade relativa
do ar ou teor de água das sementes; temperatura do ar; ação de fungos e
insetos de armazenamento e embalagem (Carvalho e Nakagawa, 2000).
Desta forma, o objetivo deste trabalho foi avaliar o comportamento
germinativo das sementes de Tibouchina stenocarpa (DC.) Cogn. sob
diferentes temperaturas, substratos e armazenamento disponibilizando
dados para novos estudos envolvendo estratégias adaptativas para
produção de mudas.
25
2.2 Material e Métodos
O experimento foi realizado com sementes de T. stenocarpa
(quaresmeira), no Laboratório de Sementes da Faculdade de Agronomia e
Medicina Veterinária da Universidade Federal de Mato Grosso. As sementes
foram obtidas de frutos colhidos de 18 indivíduos na região da Serra de São
Vicente, rodovia Cuiabá-Campo Verde, situada nas coordenadas 15º48’33”S
e 55º24’17”W, em outubro de 2006 e outubro de 2007.
Os frutos foram encaminhados ao Laboratório para beneficiamento,
limpeza de impurezas e homogeneização das sementes, que foram
realizados manualmente, e depois essas foram acondicionadas em caixas
de plástico transparente, em câmara refrigerada (18ºC 2ºC e 73% 4%
UR), até o momento da realização dos três ensaios.
No primeiro ensaio realizado em outubro de 2006, com sementes
recém-colhidas, foi estudado o efeito das temperaturas de 10, 15, 20, 25, 30,
35 e 40ºC na germinabilidade das sementes. A semeadura foi realizada
sobre papel mata borrão em caixas de plástico transparente, tipo “gerbox”,
sendo utilizada quatro subamostras, cada uma com 0,01g de sementes,
espalhadas sobre o substrato. Essa metodologia foi adaptada de Brasil
(1992) para sementes de Eucalyptus spp. O papel foi umedecido até a
saturação, sendo retirado o excesso de água. As caixas foram mantidas
fechadas e envolvidas com uma película de filme plástico transparente e
colocadas em câmaras de germinação, reguladas nas temperaturas citadas,
sob fotoperíodo de 8 horas. O delineamento experimental utilizado foi o
26
inteiramente casualizado, com sete tratamentos (temperaturas) e quatro
repetições.
O segundo ensaio foi realizado no mês de abril de 2007, com
sementes armazenadas por seis meses. Foi verificado o efeito dos
substratos: terra do local de origem das plantas (TL) na forma sobre terra,
areia na forma sobre areia (SA), papel nas formas sobre papel (SP) e entre
papel (EP). Os substratos terra e areia foram esterilizados e umedecidos
com a quantidade de água equivalente a 60% da capacidade de retenção
(Brasil, 1992). Para o modo SP e EP foram utilizadas duas folhas de papel
de filtro e ambas umedecidas com solução de “água destilada + Nistatina a
2%” até a saturação. Após a saturação, o excesso de solução foi eliminado.
A umidade foi mantida adicionando-se água destilada sempre que
necessário. Foram utilizadas caixas de plástico transparente, com quatro
subamostras, cada uma com 0,01g de sementes, que foram acondicionadas
em câmaras de germinação com temperatura de 25ºC e fotoperíodo de 8
horas. O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado,
com quatro tratamentos (substratos) e quatro repetições.
O terceiro ensaio foi realizado no mês de outubro de 2007,
comparando sementes armazenadas por um ano e sementes coletadas em
2007. As sementes de cada época de coleta foram colocadas para germinar
sobre areia, em caixas de plástico transparente, com quatro subamostras,
cada uma com 0,01g de sementes, a 25°C. O substrato sobre areia e a
temperatura de 25ºC foram os determinados previamente como mais
adequados. O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente
casualizado, com três tratamentos (sementes coletadas em 2006, sementes
armazenadas por um ano e sementes coletadas em 2007) e quatro
repetições.
Em todos os ensaios, as avaliações foram realizadas diariamente
durante 30 dias e as variáveis foram número de sementes germinadas por
0,01 gramas e o índice de velocidade de germinação (IVG), calculado
segundo Maguire (1962). Foi considerada como semente germinada quando
ocorreu a emissão de raiz. Em função do tamanho das sementes, durante o
27
período de germinação, as avaliações foram realizadas com o auxílio de
microscópio (Olympus) com aumento de 40x.
Os dados foram submetidos à análise de variância e as médias
comparadas pelo teste Tukey a 5% de probabilidade, conforme metodologia
descrita por Ribeiro Junior (2001), utilizando-se o software SAEG 5.0 (1993).
28
2.3 Resultados e Discussão
A germinação de sementes de Tibouchina stenocarpa foi epigeal,
iniciando-se no sétimo dia e encerrando aos 30 dias após a semeadura,
quando ocorreu a estabilização do processo germinativo (Figura 1).
A B
FIGURA 2. Plântulas de Tibouchina stenocarpa: A – aos 12 dias após a
semeadura, apresentando raiz primária e os cotilédones; B – aos
20 dias após a semeadura, apresentando as primeiras folhas.
29
Na Tabela 1 estão os valores médios do número de sementes
germinadas em 0,01 gramas e do índice de velocidade de germinação em
função de diferentes temperaturas.
A germinabilidade das sementes ocorreu nas temperaturas de 20, 25
e 30°C, sendo que a melhor germinabilidade ocorreu a 25°C, onde foi
verificado também o maior índice de velocidade de germinação. Nessa
temperatura germinaram 32 sementes em 0,01 gramas. A temperatura
mínima ficou entre 15 e 20°C e a máxima entre 30 e 35°C, sob luz branca
por 8 horas. Nas temperaturas inferiores a 15°C e superiores a 35°C a
germinação das sementes foi inibida.
TABELA 1. Número de sementes germinadas por 0,01g de sementes e
índice de velocidade de germinação (IVG) de Tibouchina
stenocarpa, em diferentes temperaturas¹.
Temperatura (ºC)Nº de sementes
germinadas/0,01gIVG
10 0 d 0 d
15 0 d 0 d
20 9,25 c 0,99 b
25 32,0 a 2,33 a
30 16,5 b 1,25 b
35
40
0 d
0 d
0 d
0 d
CV (%) 22,37 26, 60
DMS (%) 4,28 0,40
Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste Tukey a 5%.¹ Semeadura sobre papel.
Para qualquer processo fisiológico, existem temperaturas limitantes e
temperaturas ótimas para a germinação. A temperatura é responsável não
somente pela velocidade de germinação como também pelo percentual final
de germinação (Carvalho et al., 2001). As temperaturas mínimas reduzem a
30
velocidade de germinação e alteram a uniformidade de emergência, talvez
devido ao aumento do tempo de exposição das sementes ao ataque de
patógenos (Carvalho e Nakagawa, 2000). As temperaturas máximas
aumentam a velocidade de germinação, mas somente as sementes mais
vigorosas conseguem germinar, determinando assim uma redução na
porcentagem de germinação.
A faixa de 20 a 30ºC para germinação de sementes de T. stenocarpa
foi mais estreita do que a verificada para outras espécies da mesma família.
Na espécie T. mutabilis, a faixa de temperatura para a germinação de
sementes foi de 15 a 35ºC, com melhor desempenho a 25 a 30ºC, condição
em que a germinabilidade atingiu 76,7% e 61,4%, respectivamente (Simão,
2005). Para outras espécies da família Melastomataceae a germinação
ocorreu em uma faixa de temperatura de 15 a 30°C, como demonstrado em
Miconia chamissois (Válio e Scarpa, 2001), Lavoisiera cordata e L.
francavillana (Ranieri et al., 2003), Miconia argentea (Pearson et al., 2003) e
Marcetia taxifolia (Silveira et al., 2004).
Zaia e Takaki (1998), em estudos sobre germinação de T. pulchra, T.
granulosa e T. mutabilis, observaram que cerca de 70 a 80% das sementes
das duas primeiras espécies não apresentavam o embrião desenvolvido, e
que a terceira apresentava grande número de sementes abortadas
(sementes sem embrião), cerca de 80%. Tal fato pode ter ocorrido com as
sementes de T. stenocarpa utilizadas neste estudo.
Em cedro-rosa (Cedrela fissilis) (Curvello et al., 1999), urucum (Bixa
orellana) (Amaral et al., 1999), jacatirão (Miconia cinnamomifolia) (Pereira e
Mantovani, 2001) e quaresmeira (Tibouchina granulosa) (Lopes et al., 2005),
observou-se que nas fases iniciais de desenvolvimento, as sementes
apresentam alto conteúdo de água, que tende a diminuir nas fases finais do
desenvolvimento, ocorrendo uma queda acentuada de umidade, sendo o
fator limitante para a germinação das sementes nas diferentes fases de
desenvolvimento. Também a perda progressiva de água durante o processo
de desenvolvimento e maturação de sementes do gênero Tibouchina, devido
ao tamanho da semente, influenciando diretamente na velocidade de
31
germinação (Lopes et al., 2005), pode ter sido a responsável pela baixa
germinabilidade das sementes de T. stenocarpa.
Na Tabela 2 estão apresentados os resultados médios da germinação
das sementes em diferentes substratos.
TABELA 2. Número de sementes germinadas por 0,01g de sementes e
índice de velocidade de germinação de sementes de
Tibouchina stenocarpa, em diferentes substratos.
Substratos Nº de sementes
germinadas/0,01gIVG
Sobre areia
Sobre terra
Sobre papel
Entre - papel
96 a
67 b
44 bc
25 c
13,00 a
8,72 b
6,25 bc
3,62 c
CV(%) 20,25 21,38
DMS (%) 24,67 3,55
Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo teste Tukey a 5%.
Houve diferença significativa entre as médias de germinação de
sementes de T. stenocarpa nos diferentes substratos (Tabela 2). O melhor
desempenho foi verificado quando a semeadura foi realizada sobre areia,
com 96 sementes germinadas em 0,01 gramas e IVG de 13,00. Esses
resultados foram superiores àqueles obtidos com semeadura sobre terra e
sobre papel, os quais não diferiram entre si. No substrato entre papel
ocorreu a menor quantidade de sementes germinadas, provavelmente
devido à menor exposição à luz, pois segundo Lopes et al. (2005) as
sementes do gênero Tibouchina são exigentes em luz no processo
germinativo. O uso de papel de filtro, apesar de ser indicado para sementes
pequenas e de rápida germinação (Figliolia e Pina-Rodrigues, 1995),
também favoreceu o desenvolvimento e a contaminação por
microrganismos.
32
Em espécies com sementes pequenas, a resposta ao ambiente de
germinação tem sido variável. Para sementes de tomate (Lycopersicon
esculentum) foi verificado que o substrato sobre areia foi o mais adequado
para a germinação, quando comparado com os substratos entre e sobre
papel (Oliveira et al., 2001). Também para sementes de caroba-branca
(Sparattosperma leucanthum), os melhores resultados de germinação
ocorreram quando as sementes foram mantidas no substrato sobre areia
(Folli e Lopes, 2004).
Os valores médios do número de sementes germinadas por 0,01g e
do índice de velocidade de germinação de T. stenocarpa em função da
época de coleta e do armazenamento das sementes estão na Tabela 3.
TABELA 3. Número de sementes germinadas¹ por 0,01g de sementes e
índice de velocidade de germinação de sementes de
Tibouchina stenocarpa em função da época de coleta e do
armazenamento.
ColetasNº de sementes
germinadas/0,01gIVG
Sementes/2006 96,0 a 13,02 a
Sementes armazenadas 47,2 c 6,33 c
Sementes/2007 75,5 b 10,22 b
CV (%) 11,72 12,10
DMS (%) 16,88 2,35
¹ substrato areia a 25ºC.Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste Tukey a 5%.
As sementes de T. stenocarpa coletadas em 2007 apresentaram
baixa germinabilidade, com 75 sementes germinadas em 0,01 gramas, e as
coletadas em 2006 apresentaram 93 sementes germinadas em 0,01 gramas.
Houve diferença significativa tanto no número de sementes germinadas
quanto no índice de velocidade de germinação entre sementes colhidas no
ano de 2006 e 2007.
33
As sementes de T. stenocarpa coletadas em 2006 e armazenadas por
um ano apresentaram redução no número de sementes germinadas. Essa
redução pode ser devida à embalagem (caixa de plástico tipo “gerbox”) que
não proporcionou isolamento adequado das sementes, permitindo que
houvesse troca de umidade com o ambiente de armazenamento. O teor de
água das sementes não foi monitorado durante o armazenamento devido ao
seu tamanho reduzido, mas pode ter ocorrido aumento do teor de água das
sementes, devido às suas características higroscópicas (Marcos Filho,
2005).. Também foi observado por Nery (2006), em sementes de guanandi
(Calophyllum brasiliense) armazenadas por 12 meses em umidade relativa
de 45%, que houve redução na germinação em função da perda de água
das sementes.
Além da possibilidade das sementes de T. stenocarpa não
apresentarem embrião desenvolvido, como verificado por Zaia e Takaki
(1998) em sementes de T. pulchra e T. granulosa, ou sem embrião, como
observou Simão (2005) em sementes de T. mutabilis, as condições
climáticas durante o processo de maturação e o grau de maturidade no
momento da coleta também podem ter interferido na qualidade das
sementes.
34
2.4 Conclusões
Sementes de T. stenocarpa apresentam germinabilidade nas
temperaturas de 20 a 30ºC, na presença de luz.
O substrato sobre areia é o mais eficiente para a realização de testes
de germinação de sementes de T. stenocarpa.
Mesmo em condições de temperatura e umidade controladas, o
armazenamento de sementes de T. stenocarpa por um ano proporcionou a
redução da capacidade germinativa.
35
2.5 Referências Bibliográficas
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39
3 EMERGÊNCIA DE PLÂNTULAS DE Copernicia alba (MORONG EX
MORONG E BRITTON) EM FUNÇÃO DA ESCARIFICAÇÃO MECÂNICA E
LAVAGEM DE SEMENTES EM ÁGUA CORRENTE
RESUMO – Este trabalho teve como objetivo avaliar a emergência de
plântulas de Copernicia alba em função da escarificação mecânica e
lavagem de sementes em água corrente. As sementes foram submetidas a
três tipos de escarificacão mecânica (sem escarificação, escarificada de um
lado e escarificada nos dois lados) e quatro tempos de lavagem em água
corrente (0, 24, 48 e 72 horas). A escarificação foi feita manualmente com
lixa nº 100, no lado do hilo e oposto ao hilo. Após os tratamentos, foi
realizada a semeadura em substrato areia. O delineamento experimental foi
o inteiramente casualizado, em esquema fatorial 3x4, com quatro repetições.
Os dados foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas
pelo teste Tukey a 5% de probabilidade. Pelos resultados obtidos, é possível
inferir que a causa da dormência em sementes de Copernicia alba é de
natureza física, devido à dureza de seu endocarpo. Sendo assim,
recomenda-se a lavagem das mesmas por 24 ou 48 horas para a superação
da dormência em sementes desta espécie.
Palavras- chave: Arecaceae, carandá, palmeira, dormência.
40
EMERGENCE OF Copernicia alba (MORONG EX MORONG AND
BRITTON) PLANTLETS AS A FUNCTION OF MECHANICAL
SCARIFICATION AND SEED WASHING IN RUNNING WATER
ABSTRACT – This study aimed to evaluate the emergence of Copernicia
alba plantlets as a function of mechanical scarification and seed washing in
running water. The seeds were submitted to three types of mechanical
scarification (no scarification, scarified on one side, and scarified on both
sides) and four washing times in running water (0, 24, 48, and 72 hours).
Scarification was performed manually with no. 100 sandpaper, on the sides
next to the hilum and opposite the hilum. After treatment, seeding was
performed on sand substrate. A completely randomized experimental design
was adopted, in a 3×4 factorial combination, with four replicates. The data
were submitted to analysis of variance and the means were compared by
Tukey’s test at 5% probability. From the results obtained, it can be inferred
that the cause of dormancy in Copernicia alba seeds is physical in nature,
due to the hardness of its endocarp. Therefore, seed washing is
recommended for 24 or 48 hours to overcome dormancy in seeds of this
species.
Keywords: Arecaceae, caranday palm, palm, dormancy.
41
3.1 Introdução
As palmeiras são plantas monocotiledôneas da família Arecaceae e
compreendem um grupo de plantas de grande importância econômica.
Juntamente com as árvores, arbustos, gramados e plantas rasteiras
constituem elementos componentes de parques e jardins. São plantas mais
características da região tropical, com capacidade de transmitir ao meio em
que são cultivadas algo de aspecto luxuriante e do fascínio das regiões
tropicais, por isso é elemento importante na composição paisagística
(Lorenzi et al., 2004).
Todas as palmeiras são consideradas ornamentais, embora algumas
sejam amplamente utilizadas e outras totalmente desconhecidas. Têm
potencial para serem usadas no artesanato, como alimento, na produção de
óleo, cera, entre outras. As palmeiras têm ainda grande importância
ecológica, principalmente no fornecimento de alimento para a fauna
silvestre, possibilitando sua sobrevivência (Pivetta et al., 2007).
Copernicia alba (Morong ex Morong & Britton) (Figura 2),
popularmente conhecida como carandá, pertence à família Arecaceae. O
nome do gênero “Copernicia” é uma homenagem ao astrônomo italiano
Copérnico que concluiu que a forma da terra era globosa, em alusão a essa
forma apresentada pela copa da planta. A palmeira carandá é muito
elegante e poderá ser utilizada no paisagismo (Pott e Pott, 1994).
42
A B
FIGURA 1. Aspecto da planta em área urbana (A) e em área natural (B) de
Copernicia alba) (Morong ex Morong & Britton).
Essa palmeira apresenta tronco único de 8-30m de altura e tronco
perfeitamente reto e cilíndrico de 17-22cm de diâmetro. Folhas numerosas,
em leque, palmadas, de cor verde clara quando jovem, formando uma copa
esférica, pecíolo rígido de mais de 1,5m de comprimento e providos de
espinhos curvos nas margens. Inflorescências dispostas entre folhas e
posicionadas mais ou menos verticalmente, ramificadas e excedendo o
comprimento das folhas, ramos florais (ráquilas) de 3-7cm de comprimento,
brácteas basais tubulares. Frutos ovóides, pretos, de 1-2cm de comprimento
(Lorenzi et al., 2004).
Ocorre em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul (Pantanal), em
terrenos periodicamente inundados, onde forma populações homogêneas
denominadas carandazais. Os carandazais são constituídos por um estrato
43
arbóreo formado quase exclusivamente pela palmeira carandá (C. alba) e
estratos arbustivo e herbáceo variáveis (Silva et al., 1998).
A área estimada de carandazais para a vegetação pantaneira é de
2,3%, sendo a segunda formação monotípíca mais representativa. O
carandá também é encontrado em fitofisionomias denominadas mata mista,
onde são encontradas espécies de mata semidecídua, associadas ao
paratudo (Tabebuia aurea (Manso) B. e H.) (Silva et al., 2000).
As palmeiras são propagadas exclusivamente por sementes, embora
apresentem germinação lenta, desuniforme e freqüentemente em baixa
porcentagem para a maioria das espécies, e perdem a viabilidade
rapidamente quando desidratadas (Broschat, 1994). Diferentes espécies de
palmeiras têm comportamento típico de sementes recalcitrantes e não
toleram a dessecação até determinados graus de umidade considerados
relativamente elevados, e tidos como letais para a semente (Stringheta et al.,
2004).
Sementes de palmeiras normalmente apresentam dormência física,
devido à dureza de seu endocarpo, que impede a embebição de água. O
embrião muitas vezes parece dormente, mas continua crescendo, embora
vagarosamente (Lorenzi et al., 2004). Para sementes de tucumã
(Astrocaryum aculeatum), a dormência pode estar relacionada, em parte, ao
endocarpo pétreo que as envolve, dificultando a embebição de água,
restringindo a difusão de oxigênio e, ou, impondo resistência mecânica ao
crescimento do embrião e à subseqüente emergência da plântula (Ferreira e
Gentil, 2006)
A embebição prévia das sementes por um determinado período é
suficiente para promover a germinação das sementes, quando existe
impermeabilidade do tegumento. Porém, dependendo da espessura e
permeabilidade do tegumento, considera-se o uso de ácidos como meios
para superação de dormência (Takahashi et al., 2006). Também pode ser
usada a escarifição mecânica por abrasão da superfície, até que o
endosperma fique visível.
44
Para se ter idéia da viabilidade das sementes, é comum colocar as
sementes imersas em água e as que flutuam são descartadas como
inviáveis; entretanto, algumas sementes de palmeiras flutuam naturalmente,
porque são disseminadas na natureza pela água (Pivetta et al., 2007). A pré-
embebição tem sido empregada para superação de dormência de sementes
dessas espécies, com imersão em água por 1 a 7 dias, trocando a água
diariamente. Embora seja um tratamento que não causa danos à semente,
quando comparado a outros utilizados na quebra de dormência, nem todas
as espécies respondem a esse tratamento (Pivetta et al., 2007).
O desenvolvimento das estruturas básicas do processo germinativo é
bastante peculiar na família Arecaceae, podendo diferir entre espécies;
desta forma, o conhecimento dos estádios morfológicos durante a
germinação das sementes de cada espécie de palmeira é imprescindível
para auxiliar na análise do ciclo vegetativo podendo fornecer subsídios à
interpretação de testes de germinação e, também, auxiliar os estudos de
taxonomia e ecologia (Kobori, 2006).
Nas Regras para Análise de Sementes (Brasil, 1992), revalidadas
pela Instrução Normativa Nº 19, de 18 de outubro de 2005 (MAPA, 2005),
são relatados procedimentos de análise para várias espécies vegetais; no
entanto, há escassez de informações sobre germinação de sementes de
palmeiras, sendo que apenas a espécie juçara (Euterpe edulis) consta nas
RAS.
O objetivo deste trabalho foi avaliar a emergência de plântulas de
Copernicia alba em função da escarificação mecânica e lavagem de
sementes em água corrente.
45
3.2 Material e Métodos
O presente estudo foi conduzido no Laboratório de Sementes da
Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade Federal de
Mato Grosso com sementes de Copernicia alba (Morong ex Morong e
Britton). Os frutos foram coletados de exemplares existentes em área urbana
na cidade de Cuiabá-MT, situada nas coordenadas 15º36’29”S e
56º45’16”W, nos meses de abril e maio de 2007. Após a coleta os frutos
foram encaminhados ao Laboratório de Sementes para remoção do epicarpo
e do mesocarpo por meio de atrito manual e depois foram homogeneizados
manualmente.
As sementes foram submetidas à análise de teor de água pelo
método de estufa a 105ºC 3ºC por 24 horas e massa de mil sementes,
utilizando-se oito subamostras de 100 sementes (Brasil, 1992), e depois
foram acondicionadas em sacos de papel Kraft, em câmara refrigerada
(18ºC 2ºC e 73% 4% UR), por 30 dias, quando da realização dos
experimentos.
Os tratamentos pré-germinativos utilizados para acelerar e uniformizar
a emergência de plântulas foram:
1. Sem lavagem e sem escarificação (testemunha);
2. Sem lavagem e escarificação na região do hilo;
3. Sem lavagem e escarificação na região do hilo e no lado oposto ao
hilo;
4. Com lavagem em água corrente por 24 horas sem escarificação;
46
5. Com lavagem em água corrente por 24 horas e escarificação na
região do hilo;
6. Com lavagem em água corrente por 24 horas e escarificação na
região do hilo e lado oposto ao hilo;
7. Com lavagem em água corrente por 48 horas sem escarificação;
8. Com lavagem em água corrente por 48 horas e escarificação na
região do hilo;
9. Com lavagem em água corrente por 48 horas e escarificação na
região do hilo e no lado oposto ao hilo;
10. Com lavagem em água corrente por 72 horas sem escarificação;
11. Com lavagem em água corrente por 72 horas e escarificação na
região do hilo;
12. Com lavagem em água corrente por 72 horas e escarificação na
região do hilo e lado oposto ao hilo.
Para a escarificação mecânica foi utilizada lixa d’água número 100,
sendo que a área escarificada por semente foi de 3 a 4mm na região do hilo
e oposto ao hilo.
Após os tratamentos, as sementes foram colocadas em caixas de
plástico com dimensões de 20cm x 30cm x 9cm, em quatro subamostras de
20 sementes. A profundidade de semeadura foi aproximadamente 1,5cm. O
substrato utilizado foi areia esterilizada e umedecida com a quantidade de
água equivalente a 60% da capacidade de retenção (Brasil, 1992) e foram
efetuadas regas sempre que necessário. O experimento foi mantido em
condições de laboratório com temperatura ambiente entre 25°C e 27°C,
umidade relativa em torno de 58% e oito horas de luz diária.
A emergência de plântulas foi monitorada diariamente, até o 90° dia
após a semeadura. Foram calculados o índice de velocidade de emergência
(Maguire, 1962) e a porcentagem de emergência de plântulas. Foram
consideradas plântulas emergidas quando houve a emissão do primeiro
eófilo acima do substrato areia.
O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado, em
esquema fatorial 3x4, sendo três formas de escarificação e quatro tempos de
47
embebição, e quatro repetições. Os dados foram submetidos à análise de
variância e as médias comparadas pelo teste Tukey e regressão polinomial a
5% de probabilidade, conforme metodologia descrita por Ribeiro Junior
(2001), utilizando-se o software SAEG 5.0 (1993).
48
3.3 Resultados e Discussão
Os valores médios do teor de água e da massa de mil sementes de
Copernicia alba foram 44,3% e 997,26g respectivamente.
A germinação de sementes de palmeiras pode ser de dois tipos,
adjacente e remota. Foi verificado que a germinação das sementes de
Copernicia alba é do tipo remota, segundo definição de Pivetta, et al. (2007),
ou seja, nesse tipo de germinação, o alongamento do pecíolo cotiledonar é
marcante (Figura 1).
FIGURA 2. Plântula aos 90 dias, apresentando primeiro eófilo, botão
germinativo, pecíolo cotiledonar, raízes secundárias e raiz
primária.
Pecíolo cotiledonar
Primeiro eófilo
Raiz secundáriaRaiz primária
Botão germinativo
49
A primeira estrutura emitida foi o botão germinativo, que Queiroz
(1986) propõe como critério de emergência em sementes de juçara (Euterpe
edulis Mart.). Em seguida surgiu o pecíolo cotiledonar que, em geral, é
erroneamente confundido com a raiz (Pivetta et al., 2007). A emissão do
eófilo ocorreu com o rompimento da bainha, permitindo a emergência da
plúmula que apareceu entre o 41º ao 90º dia após a semeadura.
Na avaliação das plântulas, as raízes primárias não puderam ser
avaliadas quanto à direção do crescimento ou a torções, pois a profundidade
das caixas utilizadas na semeadura não permitiu crescimento livre dessas
estruturas.
Na Tabela 1 estão os resultados de porcentagem, tempo médio e
índice de velocidade de emergência de plântulas de C. alba, em função dos
tratamentos de escarificação mecânica e lavagem de sementes em água
corrente. Não ocorreu efeito da interação escarificação x tempo de lavagem
em água corrente sobre a emergência de plântulas (P>0,05). Também não
foi verificado efeito da escarificação mecânica sobre as características
avaliadas.
O tempo de lavagem em água corrente influenciou significativamente
a porcentagem e o índice de emergência de plântulas (Tabela 1).
Provavelmente algumas substâncias que inibiam a germinação foram
eliminadas quando as sementes foram lavadas em água corrente por 24,e
48 horas, onde as porcentagens e os índices de velocidade de emergência
de plântulas foram mais elevados do que a testemunha.
50
TABELA 1. Porcentagem (%E), tempo médio (TME) e índice de velocidade
(IVE) de emergência de plântulas de Copernicia alba em função
da escarificação e diferentes tempos de lavagem das sementes
em água corrente.
Escarifição* % E TME (dias) IVE
Testemunha 64 56 0,22
Escarificação no
Hilo66 56 0,22
Escarificação no hilo e oposto ao
hilo67 56 0,24
Tempo de lavagem em água corrente (h)*
0 53 b 58 0,17 b
24 74 a 55 0,26 a
48 71 a 53 0,25 a
72 63 ab 57 0,22 ab
CV (%) 18,08 7,76 18,02
DMS (%) 13,05 4,8 0,05
* Médias seguidas de mesma letra na coluna, não diferem entre si, pelo teste Tukey, a 5% de probabilidade.
Para sementes de licuri (Syagrus coronata) foi observado aumento da
taxa de germinação nos tratamentos de embebição em água, por 24 e 48
horas, proporcionando taxas de germinação de 77% e 75%,
respectivamente. As sementes de licuri são estimuladas a germinar sob
condições de longos períodos de embebição, uma vez que as regiões por
onde a espécie se distribui apresentam características desfavoráveis para
essa condição (Crepaldi et al., 2001).
Na Figura 3 está a equação de regressão ajustada para o teste de
emergência em função do tempo de lavagem. Verifica-se que houve
tendência de aumento na porcentagem de emergência de plântulas com os
tratamentos de lavagem. Esse incremento foi maior à medida que o período
51
de lavagem aumentou de 24 para 48 horas, contudo, houve ligeiro
decréscimo entre os intervalos de 48 e 72 horas na porcentagem de
emergência de plântulas de C. alba.
FIGURA 3. Porcentagem de emergência de plântulas de Copernicia alba
em diferentes tempos de lavagem em água corrente.
O tempo que sementes de palmeiras leva para germinar é variável,
sendo que para as sementes de C. alba é em média 40 dias; na palmeira-
leque (Washingtonia robusta) ocorre em menos de 15 dias, em sementes de
tamareira-de-jardim (Phoenix roebelenii) em três dias e para areca-bambu
(Dypsis lutescens) em 3-4 semanas. No entanto, sementes de camedórea-
elegante (Chamaedorea elegans) podem demorar meses para iniciar a
germinação (Pivetta et al., 2007).
y = -7,25x2 + 38,95x + 22,25
R2 = 0,9318
40
45
50
55
60
65
70
75
80
0 24 48 72Tempo de lavagem (horas)
%
52
3.4 Conclusões
Recomenda-se a lavagem das sementes de Copernicia alba por 24
horas ou 48 horas para a superação da dormência em sementes desta
espécie.
53
3.5 Referências Bibliográficas
BRASIL. Regras para análise de sementes. Brasília: Ministério da Agricultura, Departamento Nacional de Produção Vegetal, 1992. 365p.
BROSCHAT, T.K. Palm seed propagation. Acta Horticulturae, Jaboticabal,n.360, p.141-147, 1994.
CREPALDI, I.C.; ALMEIDA-MURADIAN, L.B,de; RIOS, M.D.G.; PENTEADO,M. de V.C.; SALATINO, A. Composição nutricional do fruto de licuri (Syagrus coronata (Martius) Beccari). Revista Brasileira de Botânica, São Paulo, v.24, n.2, p.155-159, 2001.
FERREIRA, S.A. do N.; GENTIL, D.F. de O. Extração, embebição e germinação de sementes de tucumã (Astrocaryum aculeatum). Acta Amazônica, Manaus, v. 36, n. 2, p.141–146, 2006.
KOBORI, N.N. Germinação, morfologia e sanidade de sementes de Livistona chinensis (Jack.) R. Br. Ex. Mart. (Arecaceae). 2006. 51f.Dissertação (Mestrado em Agronomia) - Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal, 2006.
LORENZI, H.; SOUZA, H.M.; MEDEIROS-COSTA, J.T.; CERQUEIRA, L.S.C.; BEHR, N. Palmeiras brasileiras exóticas e cultivadas. Nova Odessa: Plantarum, 2004. p.131.
MAPA. Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa nº 19, de 18 de outubro de 2005. Mantém as Regras para Análise de Sementes, edição 1992, aprovadas pela Coordenação-Geral de Apoio Laboratorial... Diário Oficial da União, Brasília, DF, 2005. Disponível em: <http://extranet.agricultura.gov.br/sislegis-consulta/consultar legislação.do? operação=visualizar&id=13594>. Acesso em: 06 março 2008.
54
PIVETTA, K.F.L.; BARBOSA, J.G.; ARÚJO, E.F.; DEMANTÊ, M.E.P. Propagação de palmeiras e estrelítzias.In: BARBOSA, J. G; LOPES, L. C. Propagação de plantas ornamentais. Viçosa, MG: UFV, 2007. p. 43-70.
POTT, A.; POTT, V. J. Plantas do pantanal. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Centro de Pesquisa Agropecuária do Pantanal. Corumbá, MS: EMBRAPA – SPI, 1994. 320p.
QUEIROZ, M.H. Botão germinativo do palmiteiro (Euterpe edulis Mart) como indicador de germinação. Revista Brasileira de Sementes, Brasília, n. 2, p.55-59, 1986.
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STRINGUETA, A. C. O.; ALVES, E. A.; ARÚJO, E. F.; CARDOSO, A. A. Secagem e armazenamento de sementes de palmeira-real australiana (Archontophoenix alexandrae). Revista Brasileira de Armazenamento,Viçosa, v. 29, n. 1, p.51-57, 2004.
TAKAHASHI, L.S.A.; ROCHA, J.N.; SOUZA, J.R.P. Revisão sobre produção e tecnologia de sementes de espécies medicinais. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, Botucatu, v.8, n. 4, p.198-209, 2006.
55
4 GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE Cratylia argentea (DESV.) O. KZE.
EM FUNÇÃO DA TEMPERATURA
RESUMO - Este trabalho teve como objetivo avaliar a germinação das
sementes de Cratylia argentea em função da temperatura. Foram utilizadas
as temperaturas de 10, 15, 20, 25, 30, 35 e 40ºC, em substrato papel
“germitest” na forma de rolo, utilizando quatro subamostras de 25 sementes.
Os rolos foram embalados em sacos plásticos e mantidos em câmara de
germinação, com fotoperíodo de 12 horas, por dez dias. Foram consideradas
germinadas as sementes que apresentaram protrusão radicular. As variáveis
analisadas foram as porcentagens de germinação e de plântulas normais,
tempo médio de germinação, porcentagem de sementes deterioradas, e
comprimento de plântulas aos dez dias. O delineamento experimental
empregado foi o inteiramente casualizado, com sete tratamentos e quatro
repetições. Os dados foram submetidos à análise de variância e as médias
comparadas pelo teste Tukey a 5% de probabilidade. Sementes de Cratylia
argentea apresentam germinabilidade entre 15 a 40ºC, entretanto o melhor
desempenho é obtido entre 25 e 35ºC. As plântulas se desenvolvem mais
acentuadamente a 30ºC.
Palavras - chave: Fabaceae, cipó-prata, germinabilidade.
56
GERMINATION OF Cratylia argentea (DESV.) O. KZE. SEEDS AS A
FUNCTION OF TEMPERATURE
ABSTRACT - The objective of this study was to evaluate Cratylia argentea
seed germination as a function of temperature. Temperatures of 10, 15, 20,
25, 30, 35, and 40°C were investigated, onto a rolled-up “germitest” paper
substrate, using four subsamples of 25 seeds each. The paper rolls were
packaged in plastic bags and maintained in a germination chamber, with a
12-hour photoperiod, for ten days. Seeds showing root protrusion were
considered to have germinated. The variables analyzed included germination
and normal-seedling percentages, mean time for germination, percentage of
deteriorated seeds, and plantlet length at ten days. The experimental design
was completely randomized, with seven treatments and four replicates. The
data were submitted to analysis of variance and the means were compared
by Tukey’s test at 5% probability. Cratylia argentea seeds showed
germinability from 15 to 40°C. However, the best performance was obtained
between 25 and 35°C. Plantlets developed more prominently at 30°C.
Keywords: Fabaceae, cipo-prata, germinability.
57
4.1 Introdução
A espécie Cratylia argentea (Desv.) O. Kze. (Figura 3) pertence à
família Fabaceae, mede de 1,5 a 3,0m de altura em forma de lianas volúveis,
de ocorrência predominante no Cerrado da região Centro-Oeste do Brasil.
Sua distribuição geográfica também compreende as regiões Norte e
Nordeste do Brasil e países como Peru e Bolívia. Dependendo da região é
conhecida pelos nomes de camaratuba, copada ou cipó-prata. É uma planta
com grande potencial forrageiro (Ramos et al., 2003) e também ornamental
(Pott e Pott, 1994).
A B
. FIGURA 3. Aspecto da planta com flores (A) e frutos (B) de Cratylia argentea
(Desv.) O. Kze.
58
A C. argentea ocorre naturalmente em diversas regiões brasileiras,
principalmente no cerrado e tem capacidade de produzir durante o ano todo,
é tolerante à seca e ao frio. Outra característica importante dessa espécie é
a sua tolerância a solos ácidos e de baixa fertilidade natural. É importante
ressaltar que são poucas espécies de leguminosas arbustivas adaptadas a
essas condições (Ramos et al., 2003).
As folhas de C. argentea são trifoliadas e estipuladas, os folíolos são
membranosos ou coriáceos com as laterais ligeiramente assimétricas. A
inflorescência é um pseudorácimo nodoso com 6 a 9 flores e as flores
variam em tamanhos de 1,5 a 3,0cm com pétalas de cor lilás. O
florescimento ocorre de maio a julho e não é sincronizado, por conta da
variabilidade dentro das populações e, da mesma forma, por extensão, a
frutificação e a maturação. Plantas mais velhas, com baixo vigor, não
florescem (Argel e Lascano, 1998).
O fruto é um legume deiscente que contém 4 a 8 sementes em forma
lenticular, circular e elíptica (Queiroz e Coradín, 1995). A maturação dos
frutos ocorre de agosto a outubro, concentrando-se no mês de setembro. Os
frutos quando maduros são rígidos e se abrem naturalmente. A colheita é
feita manualmente, quando os frutos apresentam-se secos, com uma
coloração creme ou marrom. Os frutos colhidos podem ou não ser
acondicionados em sacos de ráfia até que ocorra a abertura natural das
mesmas. A exposição ao sol acelera esse processo (Ramos et al., 2003).
A cor da semente é influenciada pelo genótipo, local de produção,
momento de colheita ou pelo tempo de armazenamento. Sementes colhidas
mais maduras ou sementes com maior tempo de armazenamento têm
coloração mais escura. As sementes são circulares e achatadas e podem
ser consideradas grandes, em relação a outras arbustivas (Ramos et al.,
2003).
Na agricultura, a semente é um insumo muito importante, e se
constitui no fator primeiro do sucesso ou fracasso da produção, por conter
todas as potencialidades produtivas da planta. Em muitas espécies que se
reproduzem pela semente, ela é o início e o fim do ciclo da planta, pois o
59
nascimento dessas ocorre com a germinação da semente e, após a
formação da planta, todos os seus processos biológicos são dirigidos para a
produção de novas sementes (Popinigis, 1985). Outra característica
importante das sementes é a capacidade de distribuir a germinação no
tempo e no espaço por meio dos mecanismos de dispersão e controle da
germinação, garantindo a perpetuação e a disseminação das espécies
vegetais (Carvalho e Nakagawa, 2000).
As sementes de Cratylia argentea têm sido a sua unidade básica de
multiplicação, uma vez que as poucas tentativas de propagação vegetativa
não obtiveram êxito e as áreas de ocorrência das populações nativas dessa
espécie passam por grande antropização (Ramos et al., 2003).
Em C. argentea praticamente não existem sementes duras ou
dormentes, ao contrário do observado em sementes de outras leguminosas
arbustivas. A germinação das sementes de C. argentea é hipógea, ou seja,
os cotilédones não são visualizados com a emergência das plântulas. São
consideradas ortodoxas, ou seja, a manutenção de sua qualidade é
favorecida quando armazenadas sob baixas temperaturas e com baixa
umidade relativa do ar (Ramos et al., 2003).
Para muitas espécies agrícolas e também para as de importante valor
comercial, a metodologia dos testes de germinação está descrita nas Regras
para Análises de Sementes (Brasil, 1992), mas para espécies nativas a
metodologia não é conhecida ou ainda não foi padronizada, levando à
necessidade de adaptação das metodologias já estabelecidas (Takahashi et
al., 2006).
Uma germinação rápida e uniforme das sementes, seguida por
imediata emergência das plântulas, são características altamente desejáveis
na formação de mudas, pois quanto mais tempo a plântula permanecer nos
estádios iniciais de desenvolvimento e demorar a emergir do solo, mais
vulnerável estará às condições adversas do meio (Martins et al., 1999).
Dentre os fatores que afetam o processo germinativo, a temperatura,
a luz e a umidade têm importância particular na germinação de sementes
(Barrera e Nobel, 2003). O período de germinação pode mudar
60
completamente em resposta à temperatura, devido à complexidade do
processo germinativo (Copeland e McDonald, 1995). A germinação ocorre
dentro de determinados limites de temperatura, sendo que existe uma
temperatura em que o processo ocorre com maior eficiência (Carvalho e
Nakagawa, 2000).
Sousa et al. (2000) utilizaram várias temperaturas para avaliar a
germinação de sementes de sumaúma (Ceiba pentandra) e obtiveram
elevada taxa de germinação em 25ºC. Para o jenipapo (Genipa americana) e
faveira-preta (Parkia platycephala Benth) a temperatura ótima foi de 30ºC
(Nascimento et al., 2000; Nascimento et al., 2003).
Em função da importância da temperatura no processo germinativo, o
objetivo deste trabalho foi avaliar a germinação das sementes de Cratylia
argentea submetidas a diversas temperaturas.
61
4.2 Material e Métodos
O presente estudo foi conduzido no Laboratório de Sementes da
Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade Federal de
Mato Grosso com sementes de Cratylia argentea (Desv.) O. Kze. Os frutos
foram colhidos em 15 indivíduos na rodovia Cuiabá-Poconé, situados nas
coordenadas 15º49’39”S e 56º23’21”W, em setembro e outubro de 2007.
Após a colheita os frutos foram encaminhados ao Laboratório para limpeza
de impurezas e homogeneização, de forma manual.
As sementes foram submetidas à análise do teor de água, pelo
método de estufa a 105ºC 3ºC por 24 horas, e massa de mil sementes,
utilizando-se oito subamostras de 100 sementes (Brasil, 1992), e depois
foram acondicionadas em caixas de plástico transparente, tipo “gerbox”, em
câmara refrigerada (18ºC 2ºC e 73% 4% UR), por dois meses quando foi
realizado o experimento.
As sementes foram colocadas para germinar em câmaras de
germinação reguladas nas temperaturas de 10, 15, 20, 25, 30, 35 e 40ºC e
fotoperíodo de 12 horas. Para o teste de germinação foi utilizado o substrato
papel em forma de rolo (germitest), utilizando quatro subamostras de 25
sementes e quatro repetições. Os papéis foram umedecidos com água
destilada numa quantidade equivalente a 2,5 vezes a massa do papel seco
(Brasil, 1992). Os rolos foram embalados em sacos plásticos e mantidos em
câmara de germinação por 10 dias.
62
A germinação foi avaliada diariamente, sendo considerada germinada
a semente que apresentou protrusão radicular. Foram analisadas as
porcentagens de germinação e de plântulas normais, o tempo médio de
germinação (Edmond e Drapala, 1958), a porcentagem de sementes
deterioradas (Brasil, 1992) e o comprimento de plântulas aos dez dias. Para
o comprimento de plântulas foi utilizado paquímetro digital.
O delineamento experimental empregado foi o inteiramente
casualizado, com sete tratamentos e quatro repetições. Os dados foram
submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste Tukey
a 5% de probabilidade, conforme metodologia descrita por Ribeiro Junior
(2001), utilizando-se o software SAEG 5.0 (1993).
63
4.3 Resultados e Discussão
As sementes de Cratylia argentea apresentaram teor de água de
20,8% e massa de mil sementes de 210,31g.
As sementes de C. argentea apresentaram germinação hipógea,
como citado por Ramos et al. (2003). A germinação iniciou com a protrusão
da raiz primária branca e grossa (Figura 1A), nas temperaturas de 15, 20,
25, 30, 35 e 40ºC. O crescimento da raiz foi rápido e, dependendo da
temperatura, aos dez dias da semeadura, ocorria a presença de várias
raízes secundárias (Figura 1B).
A B
FIGURA 1. Raiz primária (A) e plântulas de Cratylia argentea aos dez dias
da semeadura, com presença de várias raízes secundárias (B).
64
Em geral, três sementes pesam um grama. Numa grande coleção
com populações coletadas de vários locais do Cerrado brasileiro foram
encontradas de 2 a 6 sementes por grama. A massa da semente de C.
argentea também é influenciada pelo ambiente de produção e idade da
planta. Plantas mais velhas com menor número de frutos por planta, em
geral, produzem sementes de maior massa (Ramos et al., 2003).
A germinabilidade das sementes ocorreu na faixa de temperatura
entre 15 e 40ºC, mas foi mais elevada de 20 a 40ºC quando variou de 94 a
98%. A germinação foi mais lenta a 15 e 20ºC (Tabela 1). O tempo médio de
germinação variou estatisticamente entre as temperaturas, sendo que na
faixa de temperatura entre 25 e 40ºC as sementes apresentaram a mesma
velocidade de germinação.
TABELA 1. Germinabilidade (%G), plântulas normais (%PN), tempo médio
de germinação (TMG), comprimento de plântulas (CP) e
sementes deterioradas (%Sd) de Cratylia argentea em diferentes
temperaturas, durante 10 dias.
Temperatura %G %PN TMG (dias) CP (cm)* % Sd
10 0,0 c 0 b 0,0 d 1,0 c 0,0
15 47 b 0 b 9,0 a 1,0 c 0,0
20 98 a 0 b 5,0 b 1,0 c 2,0
25 97 a 83 a 2,0 c 2,9 b 3,0
30 96 a 94 a 1,8 c 3,8 a 4,0
35 96 a 78 a 1,5 c 2,9 b 4,0
40 94 a 0 b 2,0 c 1,0 c 6,0
CV (%) 4,84 24,12 9,51 11,59
DMS (%) 8,4 20,23 0,66 0,06
Medias nas colunas seguidas de mesma letra, não diferem entre si, pelo teste Tukey, a 5% de probabilidade.*Dados transformados em ( x + 1)½
65
Nas temperaturas de 15, 20 e 40ºC, as sementes que haviam
formado raízes não formaram plântulas completas (Tabela 1) nos 10 dias do
experimento. Na temperatura de 15ºC, 43% das sementes que não
formaram raízes estavam firmes e aptas para germinar, entretanto na
temperatura de 20ºC as sementes que não emitiram raízes estavam
deterioradas (2%). A 25ºC, 30ºC e 35ºC foi observado que 83%, 94% e 78%,
respectivamente, das sementes formaram plântulas normais. As variações
de temperatura afetam a velocidade, a porcentagem e a uniformidade de
germinação; portanto, a temperatura ótima é aquela que possibilita a
combinação mais eficiente entre a porcentagem e a velocidade de
germinação (Marcos Filho, 2005).
Na temperatura de 40ºC, onde foi constatada 94% de germinação
(emissão de radícula), não foi observada a formação completa de plântulas e
todas as sementes que emitiram ou não radícula apresentaram deterioração
das sementes após 10 dias do experimento. Como as sementes
correspondem a um conjunto organizado de células cujo metabolismo
depende essencialmente da atividade acoplada de diversas enzimas, era
esperado que, em determinadas temperaturas, a inativação de proteínas
ocasionada por temperaturas extremas resultaria em um descompasso
metabólico que comprometeria a germinação (Marcos Filho, 2005). As
sementes de canistel (Pouteria campechiana) submetidas a uma faixa de
temperatura entre 15°C e 40ºC apresentaram maiores percentuais de
germinação em temperaturas inferiores a 35ºC (Andrade et al., 2002).
Inúmeros trabalhos demonstraram que a temperatura é um dos
fatores responsáveis não somente pela velocidade de germinação como
também pelo percentual final de germinação (Godoi e Takaki, 2004). Em
sementes de guanandi (Calophyllum brasiliense) submetidas a diferentes
regimes térmicos, foi verificado que nas temperaturas de 10ºC, 15ºC e 40ºC
a germinação foi nula. As sementes a 10ºC e 15ºC não germinaram por
estarem abaixo da temperatura mínima para a germinação da espécie e as
submetidas a 40ºC, por estarem acima da temperatura máxima para a
66
germinação das sementes, onde provavelmente sofreram danos irreversíveis
(Nery et al., 2007).
Para as sementes de C argentea a emissão de radícula foi entre 15ºC
a 40ºC. Para sementes de pau-tanino (Maquira sclerophylla) ocorreu entre
15°C e 35°C, com os maiores porcentuais de germinação entre 25°C e 35°C.
Godoi e Takaki (2004) observaram que as sementes de embaúba (Cecropia
hololeuca) apresentaram maior percentagem final de germinação a 25°C, e
que houve inibição em temperaturas superiores a 35°C e inferiores a 25°C
(Miranda e Ferraz, 1999).
Na temperatura de 15ºC, as primeiras raízes foram observadas após
nove dias da semeadura; a 20ºC, no 4º dia; a 25ºC, 30ºC e 40ºC no 3º dia e
a 35ºC, no 2º dia após a semeadura, o que evidenciou o efeito da
temperatura na aceleração do processo germinativo. A formação completa
de plântulas, na temperatura de 25ºC, foi no 6º dia e nas temperaturas de
30ºC e 35ºC, foi no 5º dia após a instalação do experimento.
67
4.4 Conclusões
Sementes de Cratylia argentea apresentam germinabilidade entre 15
e 40ºC, entretanto o melhor desempenho é obtido entre 25 e 35ºC.
As plântulas se desenvolvem mais acentuadamente a 30ºC.
68
4.5 Referências Bibliográficas
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69
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70
5 VIABILIDADE E EMERGÊNCIA DE PLÂNTULAS DE Palicourea rigida
KUNTH EM FUNÇÃO DE DIFERENTES MÉTODOS PARA SUPERAÇÃO
DE DORMÊNCIA
RESUMO – O objetivo deste trabalho foi determinar métodos eficientes na
superação de dormência das sementes de Palicourea rigida e a sua
viabilidade pelo teste de tetrazólio. Foram realizados quatro ensaios: no
primeiro, as sementes foram colocadas para germinar após tratamento com
hipoclorito de sódio a 2%, por um minuto e H2SO4 concentrado por dez
minutos e, em seguida as sementes não germinadas foram avaliadas pelo
teste de tetrazólio. No segundo ensaio, as sementes foram submetidas aos
tratamentos de escarificação mecânica, embebição em água e em condições
de altas temperaturas, sob condição úmida ou seca. No terceiro ensaio, as
sementes foram dessecadas em estufa de circulação forçada à temperatura
de 40ºC e 15% de umidade relativa, em embalagens de papel tipo Kraft por
21 dias, sendo que a cada 72 horas foi retirada uma amostra de 10
sementes e colocadas para germinar. As demais sementes foram colocadas
para embeber em água destilada por três horas, em seguida foi retirado o
excesso de água e as sementes foram colocadas novamente na estufa e
assim sucessivamente até 21 dias. No quarto ensaio foi realizado o teste de
tetrazólio com sementes submetidas à pré-condicionamento, ou seja,
imersão direta em água por 16 horas. As sementes permaneceram viáveis
após o tratamento com hipoclorito de sódio a 2%, entretanto o ácido sulfúrico
promoveu a morte das sementes. Quando as sementes foram dessecadas
por 432 horas, houve 20% de emergência de plântulas, melhor resultado
obtido nesse experimento. A viabilidade das sementes de P. rigida pode ser
avaliada pelo teste de tetrazólio, utilizando inicialmente a imersão das
sementes em água por 16 horas e, em seguida, imersão em solução de
tetrazólio na concentração de 0,5% a 40ºC por 180 minutos.
Palavras-chave: Rubiaceae, sementes, germinação, dormência, tetrazólio.
71
VIABILITY AND EMERGENCE OF Palicourea rigida KUNTH PLANTLETS
AS A FUNCTION OF DIFFERENT METHODS FOR OVERCOMING
DORMANCY
ABSTRACT – The objective of this study was to determine effective methods
for overcoming dormancy in Palicourea rigida seeds, and their viability by the
tetrazolium test. Four assays were carried out: in the first, the seeds were
placed to germinate after being treated with 2% sodium hypochlorite for one
minute or concentrated H2SO4 for ten minutes. Next, non-germinated seeds
were evaluated by the tetrazolium test. In the second assay, the seeds were
submitted to treatments consisting of mechanical scarification, imbibition in
water, and high temperature conditions, either wet or dry. In the third assay,
the seeds were dried in a forced-circulation oven at 40°C and 15% relative
humidity, in kraft paper packagings for 21 days. A sample consisting of 10
seeds was taken every 72 hours and then placed to germinate. The other
seeds were submitted to imbibition in distilled water for three hours; the
excess water was removed and the seeds were again placed in the incubator
and so on, until 21 days. In the fourth assay, the tetrazolium test was carried
out with preconditioned seeds, that is, the seeds were submitted to direct
immersion in water for 16 hours. The seeds remained viable after treatment
with 2% sodium hypochlorite; however, sulfuric acid caused seed death. A
20% plantlet emergence was obtained when the seeds were dried for 432
hours; this was the best result obtained in this experiment. The viability of P.
rigida seeds can be evaluated by the tetrazolium test, initially using seed
immersion in water for 16 hours, followed by immersion in 0.5% tetrazolium
solution at 40°C for 180 minutes.
Keywords: Rubiaceae, seeds, germination, dormancy, tetrazolium.
72
5.1 Introdução
A Palicourea rigida Kunth (Figura 1) pertence à família Rubiaceae, é
um subarbusto, arbusto ou às vezes arvoreta de até 2m, nesse caso com
casca espessa, fendida longitudinalmente (Durigan et al., 2004). A copa
apresenta ramos terminais suberosos com troncos possuindo diâmetros de
até 13cm apresentando ritidoma de cor cinza, com fissuras profundas e
cristas elevadas e descontínuas formando blocos retangulares (Silva Junior,
2005).
A B
FIGURA 1. Aspecto da planta com flores (A) e detalhes da flor (B) de
Palicourea rigida Kunth.
73
O gênero Palicourea compreende cerca de 200 espécies de arbustos
e pequenas árvores distribuídas somente nos trópicos do Novo Mundo.
Essas espécies são tipicamente membros do sub-bosque de matas tropicais
e poucas delas ocorrem em savanas. Existem três centros de riqueza de
espécies de Palicourea, todos na América do Sul, sendo um deles a região
do Planalto Centro-Sul do Brasil, com cerca de 37 espécies. Esse gênero
apresenta flores com corola tubular, sem odor, de cores fortes e polinizadas
principalmente por beija-flores, e os frutos são carnosos, azuis a púrpuras e
dispersos por aves (Taylor, 1997).
As folhas são simples, rígidas, coriáceas, possui tamanho muito
variável, mais comumente ao redor de 25cm de comprimento e 8cm de
largura sendo menor nas plantas maiores, têm nervura principal espessa e
sempre mais clara que o limbo com coloração amarelada (Durigan et al.,
2004).
As flores são amarelas ou alaranjadas apresentando eixo amarelo ou
vermelho, tubulosas, de até 2cm de comprimento, com cinco pétalas unidas
na base (Silva Junior, 2005).
Os frutos são carnosos, tipo baga, globosos, roxo-escuro, medindo
cerca de 5mm de diâmetro. As sementes são de até 0,8cm de comprimento,
em forma elipsóides; cada fruto contém duas sementes, sendo uma inviável
(Silva Junior, 2005). Estudos das características fisiológicas de sementes
dessa espécie citam uma taxa de 10% de germinação após dessecação das
sementes em temperatura de 25ºC (Wetzel, 1997).
Seu habitat e distribuição são em fisionomias campestres de cerrado
e cerrado típico, no Distrito Federal e nos estados da Bahia, Goiás, Minas
Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, São Paulo e Tocantins
(Silva Junior, 2005).
Muitas espécies possuem sementes que, embora sendo viáveis e
terem todas as condições do ambiente normalmente consideradas
adequadas, deixam de germinar; tais sementes são denominadas dormentes
e precisam de tratamentos especiais para germinar (Carvalho e Nakagawa,
2000). A dormência pode ser devida a vários fatores como impermeabilidade
74
do tegumento a água e aos gases, embriões imaturos ou rudimentares,
exigências especiais de luz ou de temperatura, presença de substâncias
promotoras ou inibidoras de crescimento, entre outras (Torres e Santos,
1994; Carvalho e Nakagawa, 2000). Por ser a dormência um fenômeno
controlado por fatores intrínsecos, a mesma é efetiva como mecanismo de
sobrevivência. As sementes utilizam, basicamente, três mecanismos de
dormência: controle da entrada de água no interior da semente; controle do
desenvolvimento do eixo embrionário; e controle do equilíbrio entre
substâncias promotoras e inibidoras do crescimento (Carvalho e Nakagawa,
2000).
A busca de metodologias para análise de sementes de espécies
nativas desempenha papel fundamental dentro da pesquisa científica e de
interesse diversificado, onde o conhecimento dos principais processos
envolvidos na germinação dessas sementes é de vital importância para a
preservação daquelas espécies ameaçadas e para a sua multiplicação.
Assim sendo, em laboratório, diversos métodos são empregados para
superação da dormência, entre os quais se pode destacar a escarificação
mecânica e química (Smiderle e Souza, 2003).
Além do teste de germinação também pode ser usado o teste de
tetrazólio para avaliar a viabilidade das sementes. O teste de tetrazólio tem
como objetivo principal determinar o potencial de germinação de um lote de
sementes sob condições ideais, classificar as sementes em diferentes
categorias de viabilidade e diagnosticar as possíveis causas da perda de
viabilidade das mesmas. Mesmo apresentando essas características, o uso
do teste de tetrazólio ainda não apresenta importância proporcional devido à
falta de metodologias apropriadas para as diferentes espécies (Marcos Filho,
2005).
O teste de tetrazólio é de suma importância para espécies que
apresentam germinação lenta e desuniforme, na identificação da viabilidade
das sementes. No entanto, metodologias consolidadas e, por conseguinte,
mais eficientes para o teste de tetrazólio estão restritas a poucas espécies,
como soja, feijão, milho e gramíneas forrageiras (Bhering et al., 2005).
75
As metodologias para o teste de tetrazólio apresentam grande
variação entre as espécies, principalmente em termos da necessidade de
pré-tratamentos, concentração, tempo de permanência e temperatura da
solução. Sementes de farinha-seca (Albizia hasslerii) embebidas em água
por 24 horas a 25ºC, com retirada do tegumento, em reação com solução de
tetrazólio 0,1% por cinco horas, apresentaram coloração adequada
permitindo a identificação e diferenciação de tecidos, com todas as
sementes coloridas de forma uniforme (Zucareli et al., 2001). Para sementes
de jenipapo, a combinação de pré-condicionamento em água por 24 horas à
temperatura de 36ºC e imersão dos embriões por duas horas em solução de
tetrazólio a 0,25% a 40ºC, mostrou-se eficiente (Nascimento e Carvalho,
1998).
O objetivo deste trabalho foi determinar métodos eficientes na
superação de dormência das sementes de Palicourea rigida e a sua
viabilidade pelo teste de tetrazólio.
76
5.2 Material e Métodos
Os experimentos foram realizados no Laboratório de Sementes da
Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade Federal de
Mato Grosso com sementes de Palicourea rigida Kunth (douradão). As
sementes foram obtidas a partir de frutos colhidos de vários indivíduos na
rodovia Cuiabá-Chapada dos Guimarães, situado nas coordenadas
15º26’33”S e 56º15’34”W, nos meses de janeiro e fevereiro de 2007.
Os frutos e sementes foram encaminhados ao Laboratório onde as
sementes foram despolpadas manualmente, lavadas e colocadas à sombra
por algumas horas, com a finalidade de eliminar o excesso de umidade.
Logo depois de retiradas as impurezas, as sementes foram homogeneizadas
manualmente e acondicionadas em caixas de plástico transparente, tipo
“gerbox”, em câmara refrigerada (18ºC 2ºC e 73% 4% UR), até o
momento da realização dos experimentos.
O teor de água foi determinado pelo método de estufa a 105ºC 3ºC
por 24 horas e a massa de mil sementes por meio de oito subamostras de
100 sementes (Brasil, 1992). Após essas análises foram realizados quatro
ensaios. No primeiro ensaio foram feitos dois testes preliminares de
germinação e posterior análise da viabilidade das sementes pelo teste de
tetrazólio. Em um dos testes de germinação as sementes foram tratadas
com hipoclorito de sódio a 2% por um minuto e no outro as sementes foram
colocadas em ácido sulfúrico concentrado por 10 minutos.
77
Para os testes de germinação foram utilizadas quatro subamostras de
25 sementes, em substrato de papel, em forma de rolo, umedecido com
água na quantidade de 2,5 vezes a massa do substrato (Brasil, 1992) e
colocados em câmara de germinação a 30ºC e fotoperíodo de 12 horas
durante 30 dias. Depois desse período, as sementes foram retiradas do
germinador passando para caixa de plástico transparente com tampa, tipo
“gerbox”, envolvidas com película de filme transparente, em substrato areia
esterilizada e umedecida com quantidade de água equivalente a 60% da
capacidade de retenção (Brasil, 1992). As regas foram realizadas sempre
que foi observada a necessidade de reposição de água no substrato. A cada
semana era retirada uma semente de cada tratamento e cortada para
verificar a viabilidade das sementes.
No segundo ensaio foram testados sete tratamentos para superação
de dormência:
1. testemunha - sementes intactas;
2. embebição em água à temperatura ambiente durante 24 horas;
3. dessecação em estufa de circulação de ar aquecido, à
temperatura de 40ºC e 15% de umidade relativa, em
embalagens de papel tipo Kraft, por 120 horas;
4. dessecação em estufa de circulação forçada de ar aquecido, à
temperatura de 40ºC e 15% de umidade relativa, em
embalagens de papel tipo Kraft, por 168 horas;
5. soda cáustica comercial – em recipiente de vidro foi colocada a
NaOH (soda cáustica comercial) em escamas na proporção de
10% (10g de soda para 100mL de água) e logo após as
sementes foram adicionadas à solução. A mistura foi agitada
com bastão de vidro, deixando as sementes em contato com a
solução por 30 minutos. Depois foram lavadas com água
corrente, para remover a solução de soda e a semeadura foi
efetuada em seguida;
78
6. desponte e pré-embebição - pequeno corte na região oposta à
micrópila e pré-embebição em água por 24 horas em
temperatura ambiente;
7. embebição em água a temperatura ambiente durante 12 dias,
trocando a água todos os dias.
No terceiro ensaio as sementes foram submetidas a períodos de
dessecação e de reumedecimento por 21 dias. As sementes foram
embaladas em papel tipo Kraft e colocadas em estufa de circulação forçada
à temperatura de 40ºC e 15% de umidade relativa. A cada 72 horas foi
retirada uma amostra de 10 sementes e realizada a semeadura. O restante
das sementes foi colocado em água destilada por três horas. Em seguida foi
retirado o excesso de água e as sementes foram colocadas novamente na
estufa. Esse procedimento foi realizado sucessivamente até completar 21
dias, sendo que não houve repetição nesse ensaio.
Depois de submetidas aos diferentes tratamentos (segundo e terceiro
ensaios), as sementes foram semeadas em substrato de areia lavada,
previamente peneirada e esterilizada, umedecida com quantidade de água
equivalente a 60% da capacidade de retenção (Brasil, 1992), em caixas de
plástico transparente, tipo “gerbox”, envolvidas com película de filme plástico
transparente. O reumedecimento foi realizado diariamente. Após a
semeadura, as caixas foram colocadas em prateleiras para germinação, sob
condições não controladas em laboratório com temperatura ambiente
variando entre 25°C e 27°C, umidade relativa em torno de 58% e fotoperíodo
de oito horas.
A avaliação foi realizada diariamente e foi considerada plântula
emergida, quando houve a emissão das folhas cotiledonares.
No quarto ensaio foi feita a adequação da metodologia do teste de
tetrazólio para sementes de P. rigida. Primeiramente, as sementes passaram
por pré-condicionamento, que consistiu na imersão dessas em água
destilada, a 25ºC, por 16 horas. Em seguida, as sementes foram
seccionadas longitudinalmente com auxílio de bisturi, e submetidas à
79
avaliação visual, com auxílio de lupa com aumento de 10 vezes, para
verificar a presença do eixo embrionário.
Após o pré-condicionamento e preparo, as sementes foram totalmente
imersas na solução de tetrazólio, em copos plásticos de 50mL,
acondicionadas em câmara de germinação e mantidas no escuro. Os
tratamentos consistiram de três concentrações de tetrazólio (0,1; 0,5 e 1%) e
duas temperaturas de incubação (35 e 40ºC), com três repetições de 50
sementes cada, sendo selecionadas as metades das sementes que
continham estrutura interna.
O período mais adequado para o desenvolvimento da coloração para
cada concentração da solução de tetrazólio e temperatura de incubação foi
avaliado a cada intervalo de 30 minutos. As amostras foram retiradas e
avaliadas até que as sementes atingissem excesso de cor na menor
concentração e temperatura de exposição (420 minutos – 15 períodos de
avaliação) conforme Mendonça et al., (2006). Para cada tratamento, foi
avaliado o padrão de coloração apresentado pelas sementes: viáveis, não
viáveis, sementes sem embrião.
80
5.3 Resultados e Discussão
As sementes de Palicourea rigida apresentaram teor de água de
16,0% e massa de mil sementes de 13,862g. As mesmas têm germinação
epígea (Figura 1) e baixa velocidade de germinação. Somente foram
verificados sinais morfológicos visíveis de germinação após 150 dias da
semeadura, e o processo germinativo manteve-se por até 360 dias.
A B
FIGURA 1. Início da emergência de Palicourea rigida com presença da testa
(A) e a plântula com as folhas cotiledonares (B).
81
No primeiro ensaio foi verificado que nos tratamentos com hipoclorito
de sódio a 2% e H2SO4 concentrado, as sementes não apresentaram
nenhum sinal de germinação. A imersão em ácido sulfúrico por 10 minutos
foi prejudicial ao embrião, pois ocasionou deterioração das sementes. Após
30 dias foi detectada a morte das sementes, pelo teste de tetrazólio,
provavelmente ocasionadas pelo H2SO4 concentrado. As sementes tratadas
com hipoclorito de sódio não germinaram, mas quando analisadas pelo teste
de tetrazólio foi verificado que as mesmas se mantiveram viáveis, entretanto
não ocorreu germinação.
Devido aos resultados negativos obtidos no primeiro ensaio, foram
realizados outros tratamentos (Tabela 1) para tentar superar a dormência de
sementes de P. rigida, considerando que não há estudos de germinação
para essa espécie.
TABELA 1. Porcentagem de emergência de plântulas (%E) e tempo para
emergência em dias (TE) de sementes de Palicourea rigida.
Tratamentos %E TE (dias)
1 12 180
2 16 240
3 11 240
4 9 210
5 3 300
6 4 240
7 11 150
1 – testemunha; 2 - embebição em água por 24 horas; 3 - dessecação em estufa de circulação forçada de ar à temperatura de 40ºC por cinco dias; 4 - dessecação em estufa de circulação forçada de ar à temperatura de 40ºC por sete dias; 5- soda cáustica comercial; 6 - desponte - pequeno corte e embebição em água por 24 horas e 7 - embebição em água durante 12 dias.
A porcentagem de emergência de plântulas variou de 16% aos 240
dias após a semeadura, no tratamento 2, a 3% no tratamento 5, aos 300
dias. O menor tempo para emergência de plântula ocorreu no tratamento 7
(150 dias), e apresentou 11% de emergência de plântulas.
82
Foi verificado que a embebição em água à temperatura ambiente por
24 horas foi o mais eficiente (Tabela 1), seguidos dos tratamentos
dessecação em estufa de circulação forçada, à temperatura de 40ºC e 15%
de umidade relativa, por cinco dias e da embebição em água com
temperatura ambiente durante 12 dias. Mas foi observado que a testemunha
também apresentou resultados próximos a esses, o que confirma que os
métodos usados não foram eficientes para promover e acelerar a
germinação de sementes de P. rigida. Como observado por Wütherich et al.
(2001), a dispersão das sementes dessa espécie ocorre tardiamente na
estação chuvosa. Provavelmente esse tempo para iniciar a germinação
corresponde ao tempo da coleta até o início das chuvas, quando as
sementes iniciariam a sua germinação.
O terceiro ensaio foi realizado por meio da dessecação em estufa com
circulação forçada de ar aquecido, metodologia essa utilizada por Wetzel
(1997). As sementes dessecadas por 72, 288, 360 e 504 horas, não
apresentaram nenhuma emergência de plântulas. As dessecadas por 144
horas e por 216 horas apresentaram 10% de emergência e quando
submetidas a 432 horas de dessecação apresentaram 20% de emergência
de plântulas. De forma geral, esses tratamentos também não foram
eficientes na promoção da germinação em sementes de P. rigida.
O calor seco ou as temperaturas relativamente altas (superiores a
35°C) auxiliam na superação da dormência de algumas espécies de floresta
tropical, de cerrado e de cereais (arroz, trigo), sendo recomendado
tratamento de pré-secagem com circulação de ar a 35-40°C por 5 a 7 dias
(Dias, 2005). A exposição das sementes ao calor seco visa a promoção de
fissuras no tegumento, para facilitar assim a absorção de água e gases e
desencadear o processo germinativo (Jeller e Perez, 1999), mas essa
metodologia foi ineficiente para superação da dormência de P. rigida.
Apenas 20% de sementes germinaram resultando em uma emergência
bastante baixa. Resultados semelhantes foram obtidos por Nassif e Perez
(1997) com sementes de Pterogyne nitens. Mesmo que fossem utilizadas
temperaturas mais elevadas o processo provavelmente seria inviável
83
porque, como verificado por García-Núñez et al. (2001), as sementes de P.
rigida não são capazes de sobreviver a 92ºC de calor úmido ou 100ºC de
calor seco por períodos maiores que um minuto.
Na Tabela 2 constam as avaliações do teste de tetrazólio, com as
combinações de temperatura, concentração e tempo de exposição das
sementes à solução de tetrazólio. Com o aumento da concentração e da
temperatura, o processo de coloração das sementes iniciou mais cedo. A
35ºC, o tempo mínimo para as sementes adquirirem coloração adequada foi
de 120 minutos em solução a 1%, 270 minutos a 0,5% e 360 minutos a
0,1%. A 40ºC, o tempo mínimo para as sementes adquirirem a coloração
adequada foi 150 minutos em solução a 1%, 180 minutos a 0,5% e 270
minutos a 0,1%, com redução do período de exposição em todas as
concentrações. Considerando o tempo para execução do teste e a menor
quantidade de sal de tetrazólio a ser utilizada, a imersão em solução de
tetrazólio na concentração de 0,5%, a 40ºC por 180 minutos pode ser
recomendada para avaliação da viabilidade de sementes de P. rigida.
Pelo teste de tetrazólio, foi observado que 46% das sementes de P.
rigida estavam viáveis, 14% não viáveis, e 40% das sementes não
apresentavam embrião e tecido de reserva (Figura 2). Por esse teste foi
confirmada a baixa viabilidade das sementes de P. rigida, como verificada
nos demais testes. Outros autores também verificaram a baixa germinação
de sementes de P. rígida como Wetzel (1997) que obteve 10% de
germinação após dessecação das sementes em temperatura de 25ºC e
Silva Júnior (2005) que verificou germinação de 5% em laboratório, havendo
necessidades de maiores investigações para a obtenção de resultados
positivos na superação da dormência.
84
A B C
FIGURA 2. Classificação das sementes de Palicourea rigida: semente viável
(A), não viável (B) e sem embrião (C).
Para outras espécies como a mangava-brava (Lafoensia pacari),
melhores resultados foram obtidos em concentração mais baixa de tetrazólio
(0,05%) e em menor tempo, duas horas (Mendonça et al., 2006), do que no
presente experimento com sementes de P. rigida. Entretanto para sementes
de farinha-seca (Albizia hasslerii) houve a necessidade de cinco horas de
imersão em solução de tetrazólio a 0,1% para demonstrar a sua viabilidade
(Zucareli et al., 2001).
85
TABELA 2. Reações ao sal de tetrazólio em sementes de Palicourea rigida sob diferentes temperaturas (T) de incubação e
concentrações (C) da solução de tetrazólio.
Período de exposição à solução de tetrazólio (minutos)
T (ºC) C (%) 30 60 90 120 150 180 210 240 270 300 330 360 390 420 450
0,1 NC NC NC NC IC IC CF CF CF CF CF CA CA CA CA
35 0,5 NC NC IC IC CF CF CF CF CA CA CE CE CE CE CE
1 NC IC CF CF CF CF CA CA CA CE CE CE CE CE CE
0,1 NC NC NC NC IC CF CF CF CA CA C CA CE CE CE
40 0,5 NC IC CF CF CF CA CA CA CA CE CE CE CE CE CE
1 IC CF CF CF CA CA CA CA CE CE CE CE CE CE CE
IC: início; NC: não coloriu; CF: coloração fraca; CA: coloração adequada; CE: coloração em excesso.
86
5.4 Conclusões
O melhor método para superação da dormência de sementes de
Palicourea rigida foi a dessecação por 432 horas intercaladas com períodos
de embebição em água por três horas.
A viabilidade das sementes de Palicourea rigida pode ser avaliada
pelo teste de tetrazólio, utilizando inicialmente a imersão das sementes em
água por 16 horas, e em seguida, em solução de tetrazólio na concentração
de 0,5%, a 40ºC por 180 minutos.
87
5.5 Referências Bibliográficas
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