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Este artigo é um rápido relato de atividade que experimentei com turmas de crianças entre 3 e 6 anos, e apresenta como é possível utilizar uma grafia musical em atividades com crianças.
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© Carlos Roberto Prestes Lopes - 2008
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Representação gráfica da forma musical
Carlos Roberto Prestes Lopes
“Na gênese da própria música na criança e no processo de construção do
conhecimento musical, notações de diversas naturezas acompanham essa gênese em
complexidade crescente” (SALLES: 1996, p.150)
Esta atividade foi inicialmente feita com crianças de idades entre 4 e 6 anos (Infantil IV e
Infantil V), e consiste na grafia da forma da música, representando em cada linha um
instrumento ou grupo de instrumentos, registrados em seqüência.
Uma das músicas utilizadas foi a gravação traduzida da música “Con mi martillo” de Judith
Akoschky, (em português, “Com meu martelo”), que tem três partes bem definidas pelo
acompanhamento e pela letra, respectivamente: martelo, serrote e lixa (daí a música ter três
linhas), e que já havia sido trabalhada com as crianças.
O esquema foi montado no chão com fita adesiva, e cada linha simbolizada com o respectivo
instrumento (o qual já havia sido escolhido pelos alunos após exploração). A leitura foi feita
da esquerda para a direita, e representando a passagem do tempo um cabo de vassoura (ou
objeto semelhante) ia acompanhando por cima do esquema; assim, quando a linha de cada
grupo começasse ou terminasse, este começaria ou pararia de tocar.
Após algumas tentativas, vimos a dificuldade das crianças entenderem o gráfico, e
percebemos dois problemas:
1. a ligação das linhas de cada instrumento confundia os alunos;
2. os alunos não conseguiam reconhecer a continuação de cada linha.
Portanto, fizemos as mudanças retirando a ligação entre as linhas, e fazendo uma linha
contínua, somente mais grossa nas áreas a tocar. Ficou assim:
Utilizando esta nova organização, as crianças conseguiram seguir a sua linha, pois não havia
mais a necessidade de imaginar a seqüência desta, facilitando a compreensão e execução da
tempo
cabo de
vassoura
tempo
cabo de
vassoura
© Carlos Roberto Prestes Lopes - 2008
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proposta. Executamos com cada turma o arranjo próprio de cada uma delas, utilizando este
sistema de notação.
A última versão deste código é quando adicionamos cores designando cada grupo, novamente
facilitando para que a criança siga sua linha. Feito com tiras de papel crepom e fita adesiva
colorida, este formato aliado às cores se mostrou muito mais fácil para as crianças
acompanharem.
Uma representação do resultado final:
Após a experimentação deste código
colorido com a música (como havíamos
feito com as duas primeiras versões),
utilizamos de outras maneiras:
Somente tocando a seqüência, sem
cantar ou acompanhar a música;
Colocávamos o cabo de vassoura em diferentes lugares e os grupos que
tinham a linha grossa tocavam;
Algumas crianças fizeram o seu próprio arranjo, através de um
desenho sobre linhas coloridas em
um papel, definindo quando e quais
grupos iriam tocar. Em seguida
executamos alguns destes desenhos.
Por que utilizar linhas? Para que grafar a música?
Esta maneira de grafar a forma da música é interessante, pois através dela é possível facilitar a
análise, transformando um fenômeno temporal em atemporal. Quando estamos tocando, nem
sempre conseguimos perceber tudo que está acontecendo ao nosso redor, e com um registro
gráfico podemos observar que
há momentos em que tocamos
juntos, ou que tocamos
sozinhos, além de observar a
dimensão e proporção
temporais representadas ali.
tempo
cabo de
vassoura
Materiais Utilizados:
1ª versão: Fita crepe
2ª versão: Fita crepe e barbante
3ª versão: Fita adesiva colorida e tiras de papel crepom.
© Carlos Roberto Prestes Lopes - 2008
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Há também a possibilidade de utilização deste esquema gráfico como notação de atividades
para o professor, ou arranjos feitos com as crianças durante a aula, facilitando o registro e
avaliação das produções dos alunos.
Este sistema pode ser considerado como uma simplificação da linguagem utilizada por
diversas composições contemporâneas, e de vários pedagogos musicais, entre eles VIVANCO
(1986) e SAITTA (1978), que têm elaborações mais complexas sobre este assunto, ampliando
os sinais utilizados visando representar o som propriamente dito, seu timbre e características.
A importância dos registros musicais com as crianças é inegável, sendo seu valor diretamente
ligado ao processo de entender e transformar o som em algo diferente, uma outra linguagem,
resultado de um trabalho cognitivo que fará com que a música se torne mais significativa para
a criança e para o adulto que será.
REFERÊNCIAS
BRITO, T. A. Música na educação infantil - propostas para a formação integral da
criança. Peirópolis: São Paulo, 2003.
SAITTA, Carmelo. Creacion e iniciacion musical: hacia um nuevo enfoque metodológico.
Ricordi: Buenos Aires, 1978.
SALLES, P. P. Gênese da notação musical na criança - Os signos gráficos e os parâmetros do
som. In: Revista Música, V.7, nº12. São Paulo: ECA/USP, 1996.
VIVANCO, Pepa. Exploremos El sonido. Ricordi: Buenos Aires, 1986.
CD
AKOSCHKY, Judith. Con mi martillo. In: Coleção Ruidos y ruiditos - Música para los
más chiquitos, vol.1. Buenos Aires: Tarka, 1976.
Obs.:
Atividade desenvolvida em 2008 durante o “Projeto Tocando e Cantando... fazendo música
com crianças” sob coordenação de Profª Drª Iveta Maria Borges Ávila Fernandes, na
Escola Municipal “Maria Colomba Colella Rodrigues”, vinculada à
Secretaria de Educação de Mogi das Cruzes / São Paulo
© Carlos Roberto Prestes Lopes - 2008
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Artigo publicado em:
- Caderno “Tocando e Cantando” nº2 -
coordenação: Profª Drª Iveta Maria Borges Ávila Fernandes
produção: Prefeitura do Município de Mogi das Cruzes / São Paulo
Edição: 2009
Carlos Roberto Prestes Lopes:
é licenciando em Educação Musical pelo Instituto de Artes da UNESP, pianista e
atualmente participa como Pesquisador-Estagiário do “Projeto Tocando e
Cantando... fazendo música com crianças” (uma parceria entre a Prefeitura de Mogi
das Cruzes e FUNDUNESP)