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Aula 07 - Macroeconomia: Contabilidade Nacional
Desenvolver no aluno o conhecimento da Macroeconomia, iniciando o
estudo com a Contabilidade Nacional. Aprendendo os seguintes itens:
• Os conceitos de Renda, Produto e Despesa Nacional
• As diversas formas de contabilização do Produto
• A identidade entre os três conceitos mencionados acima
• As diferenças entre Produto Nominal e Real
• As principais relações entre os componentes do Produto
Introdução
A Macroeconomia estuda os grandes processos da Economia nacional
como um todo. Ela observa as variáveis econômicas (oferta, demanda,
preços, etc.) em termos agregados, ou seja, abrangendo todos os
agentes econômicos na escala de todo o território do país que está em
foco. Por isso, costuma-se falar nos agregados macroeconômicos, que
são as variáveis mais abrangentes da Economia. Produção, emprego
e desemprego, nível de preços e inflação, participação do Governo na
economia, exportações, importações, entrada e saída de capitais, taxa de
câmbio: esses são os principais aspectos abordados por esta subdivisão
das Ciências Econômicas.
A Macroeconomia surgiu como ramo específico dos estudos econômicos
a partir da obra do grande economista John Maynard Keynes: a “Teoria
Geral do Emprego, dos Juros e da Moeda”, publicada em 1936. Essa obra
revolucionou as concepções tradicionais da Teoria Econômica.
A principal corrente de idéias econômicas na época era a chamada escola
neoclássica, surgida nos fins do século XIX. Havia economistas críticos
dessa escola – a começar pelos marxistas, mas incluindo alguns outros
economistas independentes -, porém o predomínio dos neoclássicos nas
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Ciências Econômicas, nas universidades dos países avançados e entre os
políticos e empresários, era incontestável. Keynes apoiou-se na maioria
das concepções básicas dos neoclássicos, mas introduziu modificações
fundamentais e criou uma nova maneira de pensar nos problemas
macroeconômicos.
O objetivo principal da obra keynesiana era explicar como era possível
a existência de desemprego em massa nas economias capitalistas
desenvolvidas. Esse fato manifestou-se com a Grande Depressão de 1929
e durou quase toda a década de 1930. A teoria neoclássica não tinha
explicações para o problema e propunha soluções que, na época, eram
disparatadas. Keynes abordou a questão de um novo ângulo e ofereceu
respostas mais efetivas para enfrentar a situação. Suas sugestões acabaram
incorporadas ao corpo principal da Teoria Econômica e, nas três décadas
seguintes à Segunda Guerra Mundial (1939-45), tornaram-se o receituário
comum nos países avançados.
Desenvolvimento
A Contabilidade Nacional
O estudo da Macroeconomia apóia-se no registro estatístico dos principais
fluxos da produção e da renda. Este registro (denominado Contabilidade
Nacional) segue normas e princípios definidos, cada vez mais uniformizados
em escala internacional. A partir do impulso dado pela teoria keynesiana,
os países desenvolvidos e, a seguir, todos os países que se empenhavam na
busca do desenvolvimento econômico em moldes capitalistas, passaram
a sistematizar esses registros na segunda metade do século XX.
Para compreender a Contabilidade Nacional, um bom início de conversa
pode ser uma revisão da Aula 1- Parte IV (texto de G. Mankiw). Aí você
encontra o fluxo circular da renda. Esse fluxo vai nos mostrar de forma
simplificada os principais agregados macroeconômicos: o Produto, a
Renda e a Despesa.
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• Produto: é a denominação genérica para toda a produção de bens e
serviços finais de uma economia. Costuma-se usar dois modos de
contabilizá-lo: o Produto Nacional Bruto (PNB) e o Produto Interno
Bruto (PIB). O PNB é mais usado nos EUA; o Brasil usa mais o PIB.
Veremos como eles são calculados e a relação entre ambos; na
verdade, são maneiras distintas de medir o fluxo anual da produção
nacional de bens e serviços.
• Renda: como você viu na Aula 1, citada, as famílias recebem
remunerações pela venda de seus fatores de produção às empresas.
Essas remunerações são chamadas de Renda. A renda da terra é
o aluguel, a do capital é o lucro (ou os juros, quando o capital é
emprestado por terceiros) e a renda do trabalho é o salário. Assim,
aluguéis, lucros, juros e salários são os principais componentes
da Renda Nacional de um país. O valor da Renda Nacional iguala
o valor do Produto Nacional (veremos adiante como ocorre essa
igualdade).
• Despesa: os agentes econômicos (empresários, consumidores,
governo, outros países) compram a produção de bens e serviços
da economia nacional. Essa distribuição do produto entre os
agentes que o adquirem é um elemento importante do estudo da
Macroeconomia.
A primeira expressão importante da Macroeconomia é a que afirma a
igualdade entre esses três conceitos. De fato, trata-se de uma igualdade por
definição, o que faz com que a consideremos mais do que uma igualdade:
é uma identidade macroeconômica. Assim, dizemos que o Produto sempre
é igual à Renda e à Despesa, em termos agregados.
O Produto - Apuração e Contabilização
Atente para a definição do Produto acima. Referimo-nos a bens e serviços
finais. No processo de produção, alguns bens possuem caráter intermediário:
são resultados de um processamento, mas voltam ao circuito produtivo para
dar origem a outros bens. Aço, petróleo, produtos químicos, fertilizantes,
metais processados são alguns exemplos. Não servem para o consumo das
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famílias, nem das empresas; são apenas etapas intermediárias de produção.
Esses bens não se incluem no Produto. Já uma máquina é um bem final
comprado por uma empresa, como um celular é um bem final de consumo
das famílias. Esses bens (de consumo e de capital) formam o Produto
Nacional ou Interno.
Há três maneiras de computar o valor total da produção de bens e serviços
finais:
• somando diretamente o valor dos bens e serviços finais;
• somando o valor total da produção das empresas e descontando o
valor total dos bens intermediários; ou fazendo este procedimento
passo-a- passo, isto é,
• calculando o valor de cada etapa do processo produtivo e descontando
o que as empresas pagaram aos fornecedores da etapa anterior (p.
ex., matérias-primas) – esse procedimento é chamado de cálculo
pelo Valor Adicionado. Veja a tabela abaixo, que mostra um processo
simples de fabricação de pão e calcula o Valor Adicionado:
O moinho e a padaria compraram bens intermediários (trigo e farinha,
respectivamente) que devem ser descontados no cômputo geral. Se não
fizermos isso, chegaremos a um valor errado de toda a produção ($ 230).
Nesse valor, contamos duas vezes a farinha e três vezes o trigo, os quais
estavam embutidos nos preços das etapas posteriores. Descontando-os
dessas etapas, estamos apurando o Valor Adicionado de cada etapa do
processo de produção. Também é fácil observar que o valor do produto
final (pão) é igual à soma dos Valores Adicionados.
Este último procedimento é mais adequado à economias complexas, que
envolvem inúmeras empresas em diversos setores produtivos e múltiplas
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transações entre elas.
A contabilização do Produto envolve diversos conceitos, que enumeraremos
a seguir.
Produto Nacional e Produto Interno
O primeiro computa toda a produção cuja renda é apropriada por residentes
no país. Assim, a renda (aluguéis, lucros, juros e salários) dos fatores de
produção (terra, trabalho e capital) pertencentes a pessoas físicas e jurídicas
do país no Exterior é descontada do Produto. Por outro lado, os fatores de
produção de outros países, cuja renda é apropriada pelos residentes do
país em foco, tem essa renda computada no Produto Nacional deste último.
Podemos citar como exemplo do primeiro caso os dividendos remetidos
pela Volkswagen e pela IBM à suas matrizes na Alemanha e nos EUA,
respectivamente. O segundo caso pode ser exemplificado pelos lucros
remetidos ao Brasil pela Construtora Odebrecht com obras de engenharia
realizadas em outros países, ou os resultados das agências do Banco Itaú no
Exterior, remetidos à matriz no Brasil.
Em outras palavras, o PN inclui a Renda Recebida do Exterior (Rre) e desconta
a Renda Enviada ao Exterior (Ree). Mais comumente, dizemos que a Renda
Líquida de Fatores Externos (RLFE) é incluída no Produto Nacional. O termo
líquida significa a diferença entre o que foi recebido e enviado.
Já o Produto Interno informa toda a produção realizada no território do
país em questão, sendo indiferente se a apropriação da renda é feita por
nacionais ou estrangeiros¹ . Da mesma forma, ele desconta a renda de
fatores externos (em outros países) recebida por nacionais (residentes no
país).
Temos, assim, a seguinte relação:
PIB + RLFE = PNB, ou
PNB – RLFE = PIB
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Mais analiticamente, podemos dizer que:
PIB + Rre – Ree = PNB, ou
PNB – Rre + Ree = PIB, onde
Rre = renda recebida do Exterior
Ree = renda enviada ao Exterior
RLFE = Rre – Ree = renda líquida de fatores externos
Agora, você pode entender porque os EUA e o Brasil adotam conceitos
distintos de Produto. Os EUA são receptores líquidos de capital (recebem
mais do que enviam ao Exterior) – por isso, seu PNB é maior que seu PIB. O
Brasil é remetente líquido de capitais, pois paga mais renda a proprietários
externos de fatores no País do que recebe por fatores pertencentes a
brasileiros no Exterior. Assim, nosso PIB supera nosso PNB. Em 2003, o PIB
brasileiro foi de R$ 1,5 trilhão.
Produto Bruto e Líquido
Como vimos, os bens de capital fazem parte do Produto (Nacional ou
Interno). São bens finais comprados por empresas, não por famílias. No
entanto, uma parte desses bens irá apenas repor aqueles equipamentos e
máquinas que se desgastaram com o uso. Isso nos traz um novo conceito:
a depreciação. Trata-se do desgaste dos bens de capital pelo uso. Se
descontarmos a depreciação, então o Produto estará computando, além
dos bens de consumo e serviços, apenas o acréscimo líquido de bens de
capital – ou seja, o incremento da capacidade de produção dessa economia.
Trata-se do Produto (Nacional ou Interno) líquido.
Dessa forma, ao lado do PNB e do PIB, temos também o PNL e o PIL, dos
quais foi descontada a depreciação.
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Produto a preços de mercado e a custo de fatores
Vamos refletir num ponto já abordado: o Valor Adicionado. No que consiste,
como se distribui, quais são seus componentes? Se considerarmos que o
Valor Adicionado é tudo o que foi acrescentado aos bens intermediários
em cada etapa da cadeia produtiva para transformá-los em bens finais,
perceberemos que ele nada mais é que o equivalente a remuneração dos
fatores de produção utilizados pela empresa nessa transformação: terra,
trabalho e capital. Essas remunerações - salários, lucros, juros e aluguéis - são
a renda dos proprietários dos fatores de produção. Por isso, dissemos mais
acima que a Renda e o Produto são idênticos. Em cada bem ou serviço que
compramos, estamos pagando salários, lucros, juros e aluguéis à empresa
que os produziu ou vendeu; esta, ao pagar pelos bens intermediários,
está fazendo o mesmo para a empresa fornecedora dos mesmos e assim
sucessivamente (na verdade, como os preços intermediários são repassados
adiante, o consumidor final é quem pagará a renda dos fatores de toda
a cadeia produtiva). Assim, a renda dos fatores de produção constitui o
verdadeiro custo de produção.
Mas o preço efetivo de muitos bens no mercado (o preço de mercado) não
reflete diretamente esses custos de produção (a renda dos proprietários dos
fatores usados para produzi-los). Em geral, ele é distorcido por impostos
indiretos – aqueles que incidem sobre o preço do produto, como o ICMS ou
o IPI. Outra distorção é que o governo, em alguns casos, fornece subsídios
aos produtores de certos bens, com o objetivo de mantê-los no mercado a
preços factíveis para muitos consumidores (como ocorre com o trigo, por
exemplo). Impostos indiretos aumentam o preço do bem em relação ao
seu custo de produção, enquanto o subsídio abaixa artificialmente esse
preço. Assim, o Produto, medido a preços de mercado (isto é, computando
os preços efetivos de compra e venda dos bens) difere do Produto a custo
de fatores (sem aquelas distorções). Para chegarmos ao custo dos fatores,
devemos abater dos preços de mercado os impostos indiretos e acrescentar
o valor dos subsídios. Surge, agora, uma nova relação:
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PNBpm = PNBcf + Ii – Sub, ou
PNBcf = PNBpm – Ii + Sub, onde
pm = a preços de mercado
cf = a custo de fatores
Ii = impostos indiretos (incidentes sobre os preços)
Sub = subsídios concedidos aos produtores pelo Governo
Obs.: a relação acima vale tanto para o PNB como para o PIB (ou seja,
também usamos PIBcf e PIBpm).
Produto e Renda
Do que foi dito, percebe-se que o Produto Nacional a custo de fatores
está mais próximo da Renda Nacional do que o PN a preços de mercado.
Eliminando as distorções dos preços causadas pelos impostos e subsídios,
chegamos ao Valor Adicionado, que corresponde à renda dos proprietários
dos fatores utilizados na produção. O Produto Interno, por sua vez, está
incorporando renda de proprietários estrangeiros de fatores usados no país
e deixando de computar a renda de nacionais ganha no Exterior. Portanto,
tem maiores diferenças em relação à Renda. Ainda é necessário considerar
a depreciação, porque ela reduz o capital existente e, portanto, a renda
gerada na produção dos bens de capital que substituirão os desgastados
não representa um acréscimo, mas apenas uma reposição. Assim, chegamos
a uma identidade importante, que concretiza a afirmação do início desta
aula sobre igualdade entre Produto e Renda:
PNLcf = RN
Isto é, o Produto Nacional líquido a custo de fatores equivale à Renda Nacional
(o total dos aluguéis, lucros, juros e salários recebidos na economia).
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Produto Nominal e Produto Real, Produto Per Capita
No exemplo simples da produção de pão, acima, imagine que os $ 100
tenham resultado da venda de 1.000 unidades a $ 0,10 cada uma. Agora,
suponha que no ano seguinte o preço do pão suba para $ 0,15 e sejam
vendidas, novamente, 1.000 unidades. Teremos um Produto de $ 150 em
lugar de $ 100. O valor do Produto cresceu 50%; mas isso significa o que,
exatamente? Apenas um aumento equivalente no preço, sem alteração
na quantidade. A sociedade não aumentou seu bem-estar, medido pela
disponibilidade de pães.
Essa é a razão pela qual distinguimos o Produto Nominal e o Produto Real.
O primeiro apura o valor da produção a preços correntes, isto é, aos preços
em vigor no momento das transações. Desta forma, estamos usando uma
moeda cujo poder de compra – medido em produtos que ela permite
adquirir – caiu. As comparações entre anos diferentes estão usando moedas
nominalmente iguais, mas distintas em termos reais.
O Produto Real é apurado a preços constantes. Isso significa que
multiplicamos os bens e serviços de um ano pelos preços do ano anterior
(ou posterior), para compará-los com os desse outro ano. Assim, estamos
medindo apenas as variações na quantidade produzida, evitando as
distorções provocadas pela variação dos preços.
Chamamos inflação a variação generalizada dos preços numa economia
(examinaremos melhor o assunto na Aula 12). A inflação é medida por
índices de preços que captam as principais variações destes ao longo
dos meses. Para manter os preços constantes, devemos, ou multiplicar o
Produto Nominal do Ano 1 pela inflação acumulada no Ano 2, ou dividir o
Produto Nominal do Ano 2 pela inflação deste mesmo ano, voltando assim
aos preços do Ano 1. Para isso, tomamos o índice de preços que representa
a inflação do ano desejado em forma decimal, acrescido de 1.
O IBGE adotou em 2007 uma nova fórmula para calcular do Produto Interno
Bruto (PIB), e com isso revisou em alta o crescimento da economia do país
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entre 2002 e 2005.
De acordo com os novos cálculos do instituto, a economia brasileira cresceu
2,9% em 2005, e não 2,3%, como divulgado no ano passado.
O PIB brasileiro de 2005 em valores foi de R$ 2,148 trilhões, acima do R$
1,937 trilhão calculado inicialmente.
O crescimento econômico em 2004 foi de 5,7% (frente ao 4,9% calculado
inicialmente); o de 2003, de 1,1% (frente ao 0,5% anterior); e o de 2002, de
2,7% (acima do 1,9% divulgado antes).
Segundo o instituto, o novo sistema de cálculo leva em conta estudos
anuais econômicos e domiciliares, assim como informações tributárias das
empresas, para permitir maior “precisão”.
Entre as informações agora incluídas no cálculo do PIB, estão as oferecidas
pelas declarações fiscais das empresas, o código de Classificação Nacional
de Atividade Econômica, os resultados das Pesquisas de Orçamentos
Familiares de 2003 e o Censo Agropecuário de 2006.
Além disso, (o novo cálculo) atualiza conceitos e definições introduzidos
nas últimas recomendações das Nações Unidas e de outros organismos
internacionais”, afirmou o IBGE em comunicado.
O órgão também informou que o índice já revisado de 2004 ainda não é
definitivo e o de 2005 é preliminar, porque ambos dependem de novos
cálculos.
No final de 2007, serão divulgados os dados definitivos de 2004 e de 2005, e
revisados os índices trimestrais para 2006”, afirmou o IBGE.
O novo sistema de cálculo do PIB leva em conta 56 atividades econômicas
e 110 produtos, enquanto o anterior reunia dados de 43 atividades e 80
produtos.
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O setor de telecomunicações, por exemplo, agora incluirá informações
sobre empresas de consultoria em hardware e software, processamento
de dados, atividades de bancos de dados e distribuição on-line, atividades
cinematográficas e até de agências de notícias.
O consumo de ONGs, igrejas e clubes também passará a ter peso no cálculo
do PIB.
As mudanças elevaram significativamente o peso do setor de serviços no
PIB e reduziram o valor das atividades do Governo no cálculo do índice.
O mesmo critério pode ser aplicado ao PIB per capita (por cabeça, em
latim), que é o valor do PIB dividido pela população do país. O enfoque
do PIB per capita real permite observar se a produção física de bens e
serviços está crescendo acima do incremento da população. Este fato,
quando positivo, indica uma possível melhora na qualidade de vida, já que
aumentou a disponibilidade de bens e serviços por habitante, em média.
Evidentemente, isso não é automático: a distribuição de renda pode ser
perversa e concentrar os benefícios em camadas minoritárias da população.
Mas o crescimento real per capita é sempre um objetivo desejável para o
PIB.
As Três òticas do Produto
Os três conceitos com os quais iniciamos esta aula são aspectos diferentes,
mas relacionados entre si, que observamos na análise do Produto. Podemos
agora detalhá-los melhor, como três óticas do mesmo processo: a produção,
a geração de renda e a despesa com o produto.
Ótica da Produção
Esta abordagem nos leva a identificar os bens e serviços produzidos na sua
complexidade e variedade. Na Aula 1, mostramos uma primeira subdivisão:
bens de consumo não-duráveis e duráveis, bens intermediários, bens de
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capital, serviços. Também observamos os fatores de produção envolvidos
no processo.
A subdivisão acima representa as categorias de uso dos bens e serviços. Outra
importante subdivisão refere-se aos setores de atividade econômica:
• Agropecuária (setor primário);
• Indústria (setor secundário);
• Comércio e Serviços (setor terciário).
Essa subdivisão prossegue – no caso da Indústria, ela se constitui de três
grandes subsetores:
• Extrativa Mineral;
• de Transformação;
• Construção Civil.
Por sua vez, a Indústria de Transformação é formada por um grande número
de ramos ou segmentos: alimentícia, de bebidas, têxtil e do vestuário,
calçados, química, de plásticos, metalúrgica, de papel e papelão, de produtos
de borracha, de vidro, etc. Da mesma forma, o Comércio subdivide-se
em varejista e atacadista, cada um com diversas ramificações de acordo
com as especialidades abrangidas. Os serviços também são subdivididos:
financeiros, de transporte, de energia, serviços pessoais e assim por diante.
A ótica de produção busca analisar o desempenho da economia observando
a evolução das categorias de uso, dos setores e subsetores de atividade e
comparando-as entre si e com o conjunto. Ela também observa os fatores
de produção, sua escassez ou abundância relativa. A distribuição do Valor
Adicionado pelos diversos setores e subsetores é outra informação relevante,
assim como as interrelações entre eles (quem vende para quem e compra
de quem, em quais proporções ).
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Ótica da Renda
Já constatamos que a Renda Nacional é constituída pelas remunerações dos
proprietários dos fatores de produção envolvidos no processo produtivo.
O estudo da evolução desses componentes e da sua distribuição (por
exemplo, a participação relativa dos salários na renda nacional) é o foco
desta abordagem.
Ótica da Despesa
Como o PIB é gasto? Quem compra os bens e serviços produzidos?
Que efeito tem no próprio PIB cada um dos componentes do gasto
realizado pela sociedade? Essas são as preocupações atendidas pela ótica
da Despesa.
Expressamos a Despesa Nacional – os gastos com a compra do PIB – através
de uma expressão muito utilizada em Macroeconomia:
Y = C + I + G + (X – M), onde
Y = Produto ou Renda (no caso, falamos do Produto Nacional)
C = consumo das famílias
I = investimento (compra de bens de capital pelas empresas)
G = gastos do governo (realizados com recursos retirados das famílias e
empresas por meio dos impostos)
X – M = exportações menos importações, ou seja, o saldo do comércio
exterior
Vamos entender o significado desta importante equação macroeconômica.
A despesa com o PIB compõe-se de bens de consumo e serviços consumidos
pelas famílias; de bens de capital, cuja compra pelas empresas representa um
investimento - isto é, ampliação da sua capacidade produtiva; de compras do
governo, que retira recursos das famílias e empresas por meio da tributação
e despende-os na compra de bens e serviços, incluindo bens de capital (o
governo também investe, é o chamado investimento público). Finalmente,
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uma parte da produção nacional de bens e serviços é comprada por famílias,
empresas e governos no Exterior (passaremos a utilizar a expressão Resto
do Mundo, consagrada nos livros-textos de Macroeconomia).
Se fecharmos a equação assim, o resultado será maior que o PIB, porque
as famílias, empresas e o governo também consomem bens e serviços
produzidos no Resto do Mundo (importados). Assim, somamos as
exportações e subtraímos as importações para completar a fórmula da
Despesa com o PIB.
Renda Disponível e Investimento: dois conceitos importantes
O Consumo é um componente fundamental do PIB na ótica da despesa. As
famílias consomem de acordo com sua renda, o que significa que variações
na Renda Nacional afetam o Consumo agregado e, portanto, o PIB. O conceito
fundamental, nesse caso, é a Renda Pessoal Disponível (RPD), que mede a
parcela da Renda Nacional que fica efetivamente com as pessoas.
Para chegar à RPD, partimos da Renda Nacional (RN) e deduzimos todas
as parcelas não distribuídas às famílias: os Lucros Retidos pelas empresas
(não distribuídos aos acionistas); os Impostos Diretos e as Contribuições
Previdenciárias, FGTS e assemelhados, pagos pelas empresas. Por outro
lado, acrescentamos os pagamentos de Transferências do governo
(aposentadorias e pensões, seguro-desemprego, bolsas, etc.). Chegamos,
assim, à Renda Pessoal (RP). Deduzindo os Impostos Diretos e contribuições
previdenciárias e outras, pagos pelas pessoas físicas, encontramos a Renda
Pessoal Disponível (RPD).
Outro componente essencial do PIB na ótica da Despesa é o Investimento.
Este possui uma importância fundamental na teoria macroeconômica,
porque representa o fator-chave para o crescimento e o desenvolvimento
econômico.
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Chamamos Investimento o gasto das empresas com a aquisição de bens
de capital, isto é, com o aumento da sua capacidade produtiva. Assim, o
Investimento significa ampliação da oferta de bens e serviços no futuro. Ao
mesmo tempo, ele expressa a despesa com uma parte Faculdade On-line
UVB 15 do PIB já produzido. Por essa razão, o Investimento é uma ponte
entre o presente e o futuro.
Por convenção, também denominamos Investimento o aumento dos
estoques das empresas (por analogia, a redução de estoques é um
desinvestimento ou investimento negativo). Assim, quando uma empresa
realiza determinado volume de produção do qual apenas uma parte será
vendida, o restante (novo estoque) passa a ser considerado na Teoria
Econômica como Investimento - neste caso, um aumento na capacidade de
consumo futuro.
Portanto, Investimento representa a aquisição de bens de capital, com a
ampliação da capacidade física de produção das empresas, mais a variação
de estoques.
Se você teve dúvidas sobre o cômputo da variação de estoques como
Investimento, vamos admitir a hipótese simplificadora de que ocorram
apenas variações desejadas dos estoques das empresas. A ocorrência de
estoques indesejados é o cerne das crises econômicas analisadas por Keynes
(excesso de Oferta Agregada, ou insuficiência da Demanda Agregada) e,
por isso, será vista na aula seguinte.
Algumas identidades importantes
Vamos voltar ao fluxo circular da renda apresentado na Aula 1. Na mesma
aula, descrevemos o método dos modelos ou simplificações – o próprio
fluxo circular é uma aplicação desse método. Agora, vamos dar maior
consistência ao modelo, supondo dois novos fluxos: as famílias não gastam
tudo o que recebem em consumo, elas poupam; por seu lado, as empresas
não aplicam todos os seus recursos na produção de bens e serviços, elas
investem uma parte na ampliação da sua capacidade produtiva. Assim,
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temos duas equações representativas dos dois lados do modelo, os dois
agentes econômicos que o integram: famílias e empresas. As equações são
as seguintes:
Y = C + S
Y = C + I
A primeira equação mostra que a renda (Y) das famílias é gasta no consumo
(C) ou na poupança (S, do inglês saving). A segunda nos diz que o produto
nacional (gerado pelas empresas) compõe-se de consumo (bens e
serviços para as famílias) e investimento (bens de capital para as próprias
empresas).
Como já vimos que a Renda e o Produto são equivalentes (por isso usamos
o mesmo símbolo), podemos igualar as equações:
C + S = C + I,
de onde vem
S + I
Ou seja, a poupança é igual ao investimento. Esta é uma identidade
contábil, que sempre se verifica a posteriori, isto é, uma vez realizado o
fluxo econômico (em geral, ele é medido no período de um ano). Sempre
devemos nos lembrar, ao usar esta identidade, que estamos considerando
a variação dos estoques como investimento.
A maneira pela qual a poupança das famílias se transforma em investimentos
das empresas será melhor entendida no estudo do sistema financeiro, cuja
principal função é exatamente realizar essa transferência dos poupadores
aos tomadores de empréstimos para empreendimentos produtivos. Isto
será visto na Aula 12.
Continuando a tornar o modelo mais complexo – portanto, mais próximo
da realidade – vamos introduzir o Governo no fluxo da renda e do produto.
O Governo retira recursos das famílias e empresas através dos tributos (T) e
realiza gastos (G) com esses recursos, que aumentam a Demanda Agregada.
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Assim, a renda das famílias agora destina-se ao consumo (C), à poupança
(S) ou aos tributos (T). O produto, por sua vez, compõe-se dos bens de
consumo (C), do investimento (I) e do gasto governamental (G), ou seja:
Y = C + S + T
e
Y = C + I + G
Igualando as equações, vem:
S + T = I + G
Esta nova equação também pode ser reescrita assim:
G - T = S – I
Isto indica que o excesso de gastos do governo sobre sua arrecadação
tributária (o chamado déficit público) será financiado pela poupança
líquida das famílias (do setor privado). O termo líquido significa a parte da
poupança não canalizada para os investimentos. O governo será o tomador
desses recursos, através da dívida pública.
Vamos acrescentar agora o Resto do Mundo ao nosso modelo. O país
realiza exportações de bens e serviços (X) e também os importa (M). As
importações figuram no lado da renda, porque são um dispêndio realizado
pelos detentores dos recursos originados do fluxo de renda. As exportações
são uma parte do produto nacional. Assim, temos:
Y = C + S + T + M e
Y = C + I + G + X
Igualando, vem:
S + T + M = I + G + X
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Também podemos rearranjar esta equação, de duas formas interessantes
para observarmos alguns processos macroeconômicos:
1) I = S + (T – G) + (M – X)
2) (G – T) = (S – I) + (M – X)
A primeira equação nos diz que o investimento será financiado pela
poupança privada (S); pela poupança pública (T – G) - ou seja, o oposto
do déficit público; e pela poupança externa (M – X), isto é, os recursos
que o país terá que obter do Resto do Mundo para financiar o excesso de
importações sobre as exportações.
Na segunda equação, vemos que o déficit público acaba sendo financiado
pela poupança privada líquida e pela poupança externa. Ou seja, o setor
privado torna-se credor do governo (dívida pública interna) e o setor externo
torna-se credor do país (dívida externa, que pode ser pública e/ou privada).
No caso da dívida externa ser privada, os recursos externos são tomados
por agentes privados, que, por outro lado, financiarão a dívida interna do
governo – dessa forma, a dívida externa é internalizada.
Síntese
Nesta aula, você travou contato com os principais elementos da Contabilidade
Nacional. Verificou o significado e a identidade entre o Produto, a Renda e
a Despesa. Observou os diversos conceitos em que o Produto é calculado:
Interno ou Nacional, bruto ou líquido, a custo de fatores ou a preços de
mercado. Ficou sabendo a diferença entre o Produto Nominal e o Real e a
importância do PIB per capita.
Também vimos os conceitos de Renda Pessoal Disponível e de Investimento,
antecipando a importância deste último para o crescimento econômico.
Partindo do modelo mais simples do fluxo da renda, fomos observando as
identidades entre poupança e investimento e agregando novos agentes
(Governo, Resto do Mundo) para obter versões mais complexas daquele
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fluxo e das relações entre seus componentes.
A próxima aula desenvolverá o modelo macroeconômico keynesiano,
utilizando os conceitos desenvolvidos até aqui. Poderemos, então, discutir
o equilíbrio macroeconômico e as possibilidades de haver desemprego e
inflação.
Até lá!
Notas1 - Estamos usando o termo estrangeiro apenas no sentido de alguém
residente em outro país, assim como nacional significa, neste texto, um
residente no Brasil. A nacionalidade não está sendo considerada: um
brasileiro residente nos EUA, com capital aplicado no Brasil, é um estrangeiro
nesse sentido (há uma remessa de renda ao Exterior); um alemão residente
no Brasil, que investe na Argentina, é um nacional (há um recebimento de
renda do Exterior).