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AutoAuto da Barca do Inferno da Barca do Inferno
O Procurador e o CorregedorO Procurador e o Corregedor
Corregedor – magistrado judicial, com alçada (poder) sobre os juízes. - juiz presidente de um círculo judicial; - título que tinha antigamente o representante do rei em cada comarca do país;
Procurador – homem que trata dos negócios de outra pessoa, em virtude de procuração, ou seja de negócios privados, da coroa, da cidade, da vila, comunidade religiosa…
Símbolos caracterizadores
Corregedor: - vara e feitos (processos) *
Procurador: - livros jurídicos *
* Estes símbolos representam a justiça e o jurado, ou seja, os seus cargos na Terra.
Grupo a que pertenciam: - Cor. – Magistratura. - Proc. - Funcionário da Coroa
Caracterização:
Corregedor:Corregedor: - corrupto Dia. - “Oh amador de perdiz”
- presunçoso Cor. - “À terra dos demos/há-de ir um corregedor?”
- subornado Dia. - “nonne accepistis rapina?” = não aceitaste roubos?
- crente mas só quando se ‘via em maus lençois’ Cor. -“Domine, memento mei!” – ó senhor, lembra-te de
mim!)
- - mentiroso/falso Cor. - “Semper ego justitia/ fecit e bem per
nivel.” = sempre procedi conforme a lei e imparcialmente.
- hipócrita Cor. - “Nom som peccatus meus, peccavit
uxore mea” = não são pecados meus, foi a minha mulher que pecou.)
Procurador:Procurador: - graxista/ bajulador
Proc. -“ Bejo-vo-las mãos, Juiz!” - crente mas tal como o Corregedor, só nas situações de risco
Proc. - “Quia speramus in Deo” = porque temos esperança em Deus))
Acusações:O Diabo acusa o Corregedor de: - ser corrupto “Oh amador de perdiz,/gentil cárrega trazês!” - parcial/ faccioso / tendencioso
“ Quando éreis ouvidor/nonne accepistis rapina?” = não aceitas-te roubos, “A largo modo adquiristis /sanguinis laboratorum,/ ignorantes peccatorum./ Ut quid eos non audistis.” = enriquecestes com o trabalho dos lavradores e nem sequer escutastes as suas queixas.)
Auto acusação do Corregedor e do Procurador:
- acusaram-se de ser mentirosos, falsos, presunçosos e estavam convencidos de que se se confessassem, teriam garantida a entrada no Paraíso.
Cor. – Confessaste-vos, doutor?Proc. – Bacharel som… Dou-me ó demo!/Não cuidei que era extremo,/nem de morte minha dor./E vós, senhor Corregedor?Cor. – Eu mui bem me confessei,/mas tudo quanto roubei/encobri ao confessor…/ Porque, se o nom tornais,/ não vos querem absolver,/ e é muito mao de volver,/depois que o apanhais.
O Joane acusa o Corregedor e o Procurador de: - serem ladrões, pecadores e de levarem a religião de uma forma superficial (“rapinastis coelhorum/et pernis perdiguitorum/e mijais nos campanairos!” – rapinastes coelhos e pernas de perdigotos.)
Defesas:Corregedor: - Defendeu-se sendo falso e hipócrita “ No meu ar conhecerês / que nom é ela do meu jeito.” e “ Semper ego justitia/ fecit e bem per nivel” – sempre procedi segundo a justiça e imparcialmente.
- Quando o Diabo o acusa de imparcialidade e de má aplicação da justiça, este não negou, mas atirou as culpas para a sua mulher “ Nom som peccatus meus,/ peccavit uxore mea.” – Não são pecados meus, foi a minha mulher que pecou.)
Recursos estilísticos:Eufemismo: - Diab.- “ Irês ao lago dos cães/ e verês os escrivães/ como estão prosperados.” ; Cor.-“ E na terra dos danados/ estão os evangelistas?” ; Cor.- “Venha a negra prancha cá!”
Ironia: - Anjo - “Como vindes preciosos,/sendo filhos da ciência!”
Antítese: Cor. - “ Á terra dos demos/há-de ir um corregedor? Dia. – “Santo descorregedor.”
Tipos de cómico:Cómicos de situação: - Cor. – “Oh! Renego da viagem/e de quem m'há-de levar!/Há'qui meirinho do mar?” - Proc. – “Dix! Nom vou eu pera lá!/Outro navio está cá,/muito milhor assombrado.” e “Diz um texto do Degredo…(decreto)”.
Cómicos de carácter: - Cor. – “No meu ar conhecerês/que nom é ela do meu jeito.” e “Ó arrais dos gloriosos/passai-nos neste batel!”.
Cómicos de linguagem:
- nesta cena há muitos cómicos de linguagem. O latim macarrónico falado pelas personagens, mas há mais versos com a presença de cómicos de linguagem. Vê alguns exemplos: Dia. - “Oh amador de perdiz/gentil cárrega trazês!” e “Imbarquimini in barco meo…”- embarcai no meu barco. Joa. – “rapinastis coelhorum/ et pernis perdiguitorum/e mijais nos campanairos!” – rapinastes coelhos e pernas de perdigotos; e “Beleguinis ubi sunt?/Ego latinus macairos.” – Onde estão os beleguins? Eu falo latim macarrónico.
Outros aspectos:Registo de língua: - Corregedor e Procurador: Gíria - usavam o latim, pois era uma língua muito utilizada em Direito; - Diabo e Joane: Corrente (latim macarrónico) - Anjo: Apenas teve uma fala e utilizou um registo corrente..
Percurso cénico: - O corregedor ao chegar ao cais dirigiu-se á barca do Inferno onde dialogou com o Diabo, entretanto chega o Procurador e dirigem-se ambos á barca da Glória onde são renegados pelo Anjo, voltando assim para a barca do Inferno onde embarcam.
Questões de interpretação:“Oh amador de perdiz”. Como interpretas este cumprimento do Diabo? - - A perdiz, era uma das ‘moedas’ com as quais se A perdiz, era uma das ‘moedas’ com as quais se compravam os favores dos juízes, assim o Diabo com este compravam os favores dos juízes, assim o Diabo com este cumprimento pretende acusar o corregedor de corrupção.cumprimento pretende acusar o corregedor de corrupção.
Com que intenção o Diabo lhe responde (ao corregedor) em Latim Macarrónico? -- O Diabo responde-lhe em Latim Macarrónico com O Diabo responde-lhe em Latim Macarrónico com intenção de ridicularizar a linguagem usada na justiça, intenção de ridicularizar a linguagem usada na justiça, mostrar-lhe que não lhe servia de nada saber falar Latim mostrar-lhe que não lhe servia de nada saber falar Latim se não subesse aplicar as leis.se não subesse aplicar as leis.
“Irês ao lago dos cães/e verês os escrivães/como estão prosperados”. Interpreta as palavras do Diabo, no que diz respeito ao alargamento da crítica.
- Com estes versos, Gil Vicente, pretende alargar a crítica a todos os homens ligados á justiça. Ele queria dizer que assim que a personagem em julgamento nesta cena, quando chegasse ao Inferno, veria os seus colegas (Homens ligados á Justiça).
Sendo o Procurador um funcionário da Coroa e de entidades privadas, por que razão o colocará Gil Vicente na situação de ser julgado em simultâneo com o corregedor? - Porque ambos passavam informação, ambos pertenciam á justiça (havia cumplicidade entre a justiça e os assuntos do Rei, ambos eram corruptos.)
Os dois réus falam sobre a confissão. O que nos revela o seu diálogo? - O seu diálogo revela-nos que para eles a confissão não era muito importante, apenas se confessavam em situações de risco e isto, quando tinham tempo, mas não diziam todo a verdade, pois segundo a sua conversa, omitiam os seus pecados ao confessor.
Como reage o Anjo á aproximação do Corregedor e do Procurador? - O Anjo quando viu chegar o Corregedor e o Procurador, ficou irritado, reagiu mal e mostrou-lhes que eles que praticavam a justiça humana na Terra, seriam agora réus e julgados perante a justiça divina.
Conclusão: