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Autorizo a reproduo parcial ou total desta obra, para fins acadmicos, desde que citada a fonte.
DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAO-NA-PUBLICAO
(Biblioteca Virginie Buff Dpice da Faculdade de Medicina Veterinria e Zootecnia da Universidade de So Paulo)
T.2720 Guimares, Marta Brito FMVZ Deteco do vrus da Influenza Aviria Paramyxovrus tipo 1 (vrus da Doena de
Newcastle), Mycoplasma gallisepticum e Mycoplasma synoviae em aves silvestres e domsticas prximas s granjas avcolas comerciais nas regies de Mogi das Cruzes e Louveira do Estado de So Paulo / Marta Brito Guimares. -- 2012.
134 f. : il.
Tese (Doutorado) - Universidade de So Paulo. Faculdade de Medicina Veterinria e Zootecnia. Departamento de Patologia, So Paulo, 2012.
Programa de Ps-Graduao: Patologia Experimental e Comparada. rea de concentrao: Patologia Experimental e Comparada.
Orientador: Prof. Dr. Antonio Jose Piantino Ferreira.
1.Influenza aviria. 2. Doena de Newcastle. 3. Paramyxovirus tipo I. 4. Mycoplasma gallisepticum. 5. Mycoplasma synoviae. 6. Aves silvestres. 7. Galinha de subsistncia.
I. Ttulo.
FOLHA DE AVALIAO
Nome: Guimares, Marta Brito
Ttulo: Deteco do vrus da Influenza Aviria, Paramyxovirus tipo 1 (vrus da Doena de
Newcastle), Mycoplasma gallisepticum e Mycoplasma synoviae em aves silvestres e
domsticas prximas s granjas avcolas comerciais nas regies de Mogi das Cruzes e
Louveira do Estado de So Paulo.
Tese apresentada ao Programa de Ps-Graduao em
Patologia Experimental e Comparada da Faculdade de
Medicina Veterinria e Zootecnia da Universidade de So
Paulo para a obteno do titulo de Doutor em Cincias
Data: / /
Banca Examinadora
Prof. Dr.
Instituio: Julgamento: ____________
Prof. Dr.
Instituio: Julgamento: _______
Prof. Dr.
Instituio: Julgamento: _______
Prof. Dr.
Instituio: Julgamento: ______
Prof. Dr.
Instituio: Julgamento: ______
Dedicatria
Dedico este trabalho aos pssaros que representam Deus e a liberdade...
Liberdade que nos permite voar, criar, mudar e decidir sem medo os caminhos da vida.
minha famlia, que sem ela nada seria possvel.
AGRADECIMENTOS
Agradeo a todos que participaram deste trabalho direta ou indiretamente e que puderam
contribuir para que esse desafio fosse realizado da melhor forma possvel.
Ao meu orientador Prof. Antonio J. P. Ferreira pelo incentivo, apoio e amizade.
Ao Departamento de Patologia e ao Laboratrio de Ornitopatologia da FMVZ.
Aos responsveis pelas granjas de reproduo, postura e corte de Mogi das Cruzes e Louveira
(Emlia, Alfredo e Renato).
Aos proprietrios das aves de fundo de quintal: Miguel, Renato, Gerardo e Terezinha.
A toda equipe da biblioteca pela dedicao e trabalho surpreendentes.
WCS - Wildlife Conservation Society, patrocinadora do projeto.
ALLEGRETTI, L. A verdade e a alegria sobre tudo.
BELLO, C.P. O humor na hora certa.
CORRAL, L.R. Pacincia e amizade acima de tudo.
CUNHA, M.P.; AZEVEDO, N, P.; DAVIES, Y. O apoio, a ajuda, a amizade e a confiana.
FARIA, M.; ZANETTI, D. O riso e a conversa, essenciais para a sobrevivncia humana.
FERREIRA, C. A. S. Persistncia e organizao. O que um ps-graduando deve ter.
GUIMARES, Ms.Bs. Todos com a gentica do amor.
HURTADO, R. F. Talvez nem o cu seja o limite.
KNBL, T. Persistncia e compreenso. A conquista do sucesso.
MENO, M.C. Pacincia com ensino. Essencial para um excelente mestre.
METTIFOGO, E. Pesquisa e tcnica. Dicas que no esto nas publicaes
MILANELO, L.; FITORRA, L. S. A unio faz a fora.
MORAES, M.E. F, onde quer que ela esteja.
NARANJO, L.; SANTADER, S. Perseverana e dedicao, a essncia desta dupla.
REVOLLEDO, L. Ajuda e amizade.
RODRIGUES, L. Sempre presente na minha vida. Minha admirao pelo seu trabalho.
SANCHES, L. A paz na alma de uma mulher. A ajuda sem fim.
SILVA, L. R. Sempre presente na minha vida. Minha admirao pelo seu trabalho.
SINHORINI, J.A.; SINHORINI, I e S. A fora da alma iluminada, transforma o corpo.
TIMENESKY, J. ; SELMA. A doao sem inteno.
VANTRELLS, R. Sua inteligncia e o meu respeito por ela.
et al. muitas vezes so os que mais nos ajudam e nem mesmo sabemos. So todos aqueles
que me dizem bom dia, do um sorriso ou apenas trocam um olhar de carinho. Obrigada!!
RESUMO
GUIMARES, M. B. Deteco do vrus da Influenza aviria, Paramyxovirus tipo 1 (vrus
da Doena de Newcastle), Mycoplasma gallisepticum e Mycoplasma synoviae, em aves
silvestres e domsticas prximas s granjas avcolas comerciais nas regies de Mogi das
Cruzes e Louveira, no Estado de So Paulo. [Detection of Influenzavirus, Paramyxovirus I,
Mycoplasma gallisepticum and Mycoplasma synoviae in free-ranging birds and backyard
chicken around poultry farms in Mogi das Cruzes and Louveira, So Paulo state]. 2012. 134 f
Tese (Doutorado em Cincias) - Faculdade de Medicina Veterinria e Zootecnia,
Universidade de So Paulo, So Paulo, 2012.
Objetivou-se, neste trabalho, detectar o vrus da Influenza aviria, Paramyxovirus tipo 1
(doena de Newcastle), Mycoplasma gallisepticum e Mycoplasma synoviae, respectivamente
pelas tcnicas de RT-PCR e PCR, em aves domsticas e aves em vida livre prximas s
granjas avcolas nas cidades de Mogi das Cruzes e Louveira do Estado de So Paulo. As aves
silvestres foram capturadas, anilhadas, submetidas avaliao de estado geral e coleta de
suabes de orofaringe e cloaca. As aves de subsistncia ou fundo de quintal seguiram o
mesmo protocolo com a exceo do anilhamento, e tiveram amostras de sangue coletadas para
a pesquisa de anticorpos contra o vrus da Doena de Newcastle, Mycoplasma gallisepticum e
Mycoplasma synoviae pela tcnica de ELISA indireto. Foram considerados os aspectos da
biodiversidade entre as espcies silvestres capturadas e a biossegurana nas granjas. As aves
silvestres apresentaram resultados negativos nesta pesquisa, no entanto, Mycoplasma
gallisepticum e Mycoplasma synoviae foram detectados pela tcnica da PCR nas aves de
subsistncia, assim como apresentaram ttulos de anticorpos para os agentes acima citados e
para o Paramyxovirus tipo I. Duas granjas no possuam medidas de biosseguridade
adequadas permitindo o contato de animais de vida livre com as aves de fundo de quintal e
com as aves de produo, o que pode facilitar a disseminao de patgenos de interesse para a
sade pblica e para a avicultura comercial.
Palavras-chave: Influenza Aviria. Doena de Newcastle. Mycoplasma gallisepticum.
Mycoplasma synoviae. Aves Silvestres. Galinhas de Subsistncia.
ABSTRACT
GUIMARES, M. B. Detection of Influenzavirus, Paramyxovirus I, Mycoplasma
gallisepticum and Mycoplasma synoviae in free-ranging birds and backyard chicken
around poultry farms in Mogi das Cruzes and Louveira, So Paulo state. [Deteco do
vrus da Influenza aviria, Paramyxovrus tipo 1 (vrus da Doena de Newcastle),
Mycoplasma gallisepticum e Mycoplasma synoviae, em aves silvestres e domsticas
prximas s granjas avcolas comerciais nas regies de Mogi das Cruzes e Louveira, no
Estado de So Paulo]. 2012. 134 f. Tese (Doutorado em Cincias) - Faculdade de Medicina
Veterinria e Zootecnia, Universidade de So Paulo, So Paulo, 2012.
The aim of this study is to detect avian influenza virus, Newcastle disease virus
(Paramyxovirus I), Mycoplasma gallisepticum and Mycoplasma synoviae in backyard chicken
and wildlife birds around commercial poultry farms using RT-PCR and PCR. The birds were
captured with mist nets, identified with alluminium leg rings, subjected to the assessment of
clinical conditions and samples were collected by oral and cloacal swabs. The same was done
with backyard chicken without the identification with leg rings. Blood samples were collected
from backyard chicken and tested for antibodies against Mycoplasma gallisepticum,
Mycoplasma synoviae and Paramyxovirus I by indirect ELISA test. This study was conducted
in Mogi das Cruzes and Louveira, So Paulo state, where the commercial poultry is
considered an activity of great importance. The results were negative to wild birds, but we
could detect Mycoplasma gallisepticum and Mycoplasma synoviae by PCR and antibodies
titles for Mycoplasma gallisepticum, Mycoplasma synoviae and Newcastle disease in
backyard chickens.Two farms didnt have appropriate biosecurity measures, allowing intense
contact with free-living birds, backyard chicken and poultry facilitating spread of pathogens
with concern to human health and poultry farms.
Keywords: Bird Influenza. Mycoplasma gallisepticum. Mycoplasma synoviae. Wild Birds.
Backyard Poultry.
LISTA DE ILUSTRAES
FIGURAS
Figura 1 - Mapa do Estado de So Paulo, destacando os municpios onde foram realizadas as
coletas a campo..................................................................................................................
53
Figura 2 - Mapa com a distribuio das reas de coleta com G1, G2 e G3 representando as
localizaes das granjas em amarelo, e GS1, GS2, GS3 e GS4 representando as
localizaes das criaes das aves de subsistncia em vermelho e a Barragem Ponte
Nova em branco...............................................................................................................
53
Figura 3 - Distribuio dos galpes das granjas: a = G2, b = G3, c = G1.......................................... 54
Figura 4 - Rede de neblina colocada em frente aos arbustos.............................................................. 55
Figura 5 - Rede de neblina colocada prxima ao galpo na granja de postura................................... 56
Figura 6 - Pssaros silvestres nos galpes.......................................................................................... 57
Figura 7 - Galpo de aves para corte.................................................................................................. 58
Figura 8 - Pssaros sobre os comedouros da granja........................................................................... 58
Figura 9- Vista da Barragem Ponte Nova......................................................................... 59
Figura 10 - Galpo de aves de subsistncia GS1.................................................................................. 61
Figura 11 - Galinheiro com diversas raas de aves na criao GS2..................................................... 62
Figura 12 - rea aberta com arbustos e vegetao abundante na criao de aves GS3...................... 63
Figura 13 - Galinheiro da criao de aves GS4.................................................................................... 64
Figura 14 - Columbina talpacoti capturada em rede de neblina........................................................... 65
Figura 15 - Conteno manual e identificao da espcie.................................................................... 68
Figura 16 - Observao de ectoparasitas e anilhamento....................................................................... 68
Figura 17 - Biometria e coleta de suabe de orofaringe......................................................................... 68
Figura 18 - Famlias de aves capturadas nas granjas e BPN................................................................. 83
Figura 19 - Comparao das concentraes sricas de IgG em logaritmo natural (ln) contra a
doena de Newcastle nas aves de subsistncia..................................................................
96
Figura 20 - Comparao das concentraes sricas de IgG em logaritmo natural (ln) contra a
Mycoplasma gallisepticum nas aves de subsistncia.........................................................
96
Figura 21 - Comparao das concentraes sricas de IgG em logaritmo natural (ln) contra a
Mycoplasma synoviae nas aves de subsistncia.................................................................
97
Figura 22 - Mdia da concentrao de anticorpos para DNC (ln) nas aves das diferentes criaes
estudadas............................................................................................................................
97
Figura 23 - Mdia da concentrao de anticorpos para Mg (ln) nas aves das diferentes criaes
estudadas............................................................................................................................
98
Figura 24 - Mdia da concentrao de anticorpos para Ms (ln) nas aves das diferentes criaes
estudadas............................................................................................................................
98
Figura 25- Eletroforese das amostras positivas para Mg e Ms............................................................ 100
QUADROS
Quadro 1 - Segmentos de genes do vrus da influenza A, com as protenas e suas funes................ 30
Quadro 2 - Caractersticas e exames diagnsticos das doenas pesquisadas....................................... 47
Quadro 3 - Valores positivos para Paramyxovirus tipo I, Mg e Ms preconizados pelo Kit IDDEX.. 75
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Composio do Meio Frey .................................................................................................. 67
Tabela 2 Sequncia dos iniciadores, acesso ao GenBank e condies de reao PCR ou RT-PCR
dos agentes estudados..........................................................................................................
74
Tabela 3 Diferenas de produo, biosseguridade, estao do ano e plantel das granjas................. 78
Tabela 4 A riqueza de espcies capturadas, a abundncia aparente e o ndice de diversidade
Shannon de aves capturadas nas granjas e na BPN.............................................................
81
Tabela 5 Presena de Zonotrichia capensis em relao s demais espcies capturadas nos locais
estudados..............................................................................................................................
84
Tabela 6 Presena de Passer domesticus em relao s demais espcies capturadas nos locais
estudados.................................................................................................................... ..........
84
Tabela 7 Condio corporal, idade e presena de caros nas aves silvestres capturadas na granja
G1.............................................................................................................................. ..........
86
Tabela 8 Condio corporal, idade e presena de caros nas aves silvestres capturadas na granja
G2.................................................................................................................................... ....
87
Tabela 9 Condio corporal, idade e presena de caros nas aves silvestres capturadas na granja
G3.................................................................................................................................... ....
89
Tabela 10 Nmero total de indivduos, abundncia aparente, porcentagem de jovens, porcentagem
de aves em condio corporal regular ou ruim e porcentagem de aves com caros de
penas nas trs espcies dominantes nas granjas estudadas..................................................
90
Tabela 11 Ttulos de IgG srica encontrados na reao de ELISA nas aves da criao GS1.............. 92
Tabela 12 Ttulos de IgG srica encontrados na reao de ELISA nas aves da criao GS2.............. 93
Tabela 13 Ttulos de IgG srica encontrados na reao de ELISA nas aves da criao GS3.............. 94
Tabela 14 Ttulos de IgG srica encontrados na reao de ELISA nas aves da criao GS4.............. 94
Tabela 15 Ttulos de anticorpos sricos atravs de ELISA para Newcastle, Mycoplasma
gallisepticum e Mycoplasma synoviae (ln)..........................................................................
95
Tabela 16 Comparao dos resultados da PCR para Mg nas criaes de subsistncia........................ 99
Tabela 17 Comparao dos resultados da PCR para Ms nas criaes de subsistncia........................ 100
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABEF Associao Brasileira de Exportadores e Produtores de Frango
AVIPA Avicultura Integral e Patologia Animal
BPN Barragem Ponte Nova
DAEE Departamento de guas e Energia Eltrica do Estado de So Paulo
DNA cido Desoxirribonucleico
DNC Doena de Newcastle
CDC Doena Respiratria Crnica
C.V. Coeficiente de Variao
ELISA Ensaio Imunoenzimtico
FAO Food and Agriculture Organization
G Granja
GS Galinha de Subsistncia
HA Hemaglutinina
HI Inibio da Hemaglutinao
IA Influenza Aviria
IAAP Influenza Aviria Altamente Patognica
IABP Influenza Aviria de Baixa Patogenicidade
IBAMA Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica.
IPI ndice de Patogenicidade Intracerebral
MAPA Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento
Mg Mycoplasma gallisepticum
Ms Mycoplasma synoviae
NA Neuraminidase
NP Nucleoprotena
NC Newcastle
OIE Organizao Internacional de Epizootias
PCR Reao em Cadeia pela Polimerase
RNA cido Ribonucleico
RNAm RNA mensageiro
RNP Complexo composto por RNA e NP
SAR Soroaglutinao Rpida
VI Vrus da Influenza
VIA Vrus da Influenza Aviria
VDN Vrus da Doena de Newcastle
UBABEF Unio Brasileira de Avicultura e Associao Brasileira dos Produtores e
Exportadores de Frangos
SUMRIO
1 INTRODUO ........................................................................................................... 18
2 REVISO DE LITERATURA .................................................................................. 22
2.1 INFLUENZA AVIRIA .............................................................................................. 27
2.1.1 Histrico ....................................................................................................................... 27
2.1.2 Caractersticas do Vrus ............................................................................................. 28
2.1.3 Replicao viral ........................................................................................................... 30
2.1.4 Caractersticas da doena .......................................................................................... 31
2.2 DOENA DE NEWCASTLE ...................................................................................... 33
2.2.1 Histrico ....................................................................................................................... 33
2.2.2 Caractersticas do vrus .............................................................................................. 34
2.2.3 Caractersticas da Doena .......................................................................................... 35
2.3 MYCOPLASMA GALLISEPTICUM E MYCOPLASMA SYNOVIAE ................... 38
2.3.1 Histrico ....................................................................................................................... 38
2.3.2 Caractersticas do Micoplasma ................................................................................. 40
2.3.3 Caractersticas da doena .......................................................................................... 41
2.4 EXAMES LABORATORIAIS ..................................................................................... 43
2.4.1 Exames sorolgicos ..................................................................................................... 43
2.4.1.1 Soroaglutinao rpida em placa (SAR) ....................................................................... 44
2.4.1.2 Reao de Inibio da Hemaglutinao (HI) ................................................................ 45
2.4.1.3 Ensaio imunoenzimtico (ELISA) ................................................................................ 46
2.4.2 Reao em cadeia pela polimerase (PCR) ................................................................ 47
3 OBJETIVOS ............................................................................................................... 49
4 MATERIAL E MTODOS ....................................................................................... 51
4.1 REA DE ESTUDO .................................................................................................... 52
4.2 CARACTERSTICAS DAS GRANJAS E DA BARRAGEM PONTE NOVA .......... 54
4.2.1 Granja de reproduo (G1) ....................................................................................... 54
4.2.2 Granja de Postura (G2) .............................................................................................. 55
4.2.3 Granja de Corte (G3) ................................................................................................. 57
4.2.4 Barragem Ponte Nova ................................................................................................ 58
4.3 CARACTERSTICAS DAS CRIAES DE SUBSISTNCIA................................. 60
4.4 CAPTURA E IDENTIFICAO DE ESPCIES DE AVES SILVESTRES ............. 64
4.5 AVALIAO CLNICA E COLETA DE AMOSTRAS BIOLGICAS ................... 65
4.6 COLETA DE AMOSTRAS BIOLGICAS DE AVES DE SUBSISTNCIA ........... 69
4.7 PROCESSAMENTO DAS AMOSTRAS PARA OS TESTES MOLECULARES .......... 69
4.7.1 Extrao de DNA ........................................................................................................ 70
4.7.2 Primers utilizados na Amplificao de Mycoplasma gallisepticum e
Mycoplasma synoviae .................................................................................................. 70
4.7.3 Reao em cadeia pela polimerase (PCR) ................................................................ 70
4.7.4 Extrao de RNA utilizando o mtodo de TRIZOL/BRAZOL .............................. 71
4.7.5 Primers utilizados na amplificao dos vrus RNA ................................................. 72
4.7.6 Tcnica da Transcriptase Reversa da Reao em Cadeia pela Polimerase (RT-
PCR) ............................................................................................................................. 72
4.7.7 Eletroforese ................................................................................................................. 73
4.7.8 Ensaio Imunoenzimtico Indireto (ELISA) para VNC, Mg e Ms .......................... 75
4.8 ANLISES ESTATSTICAS ...................................................................................... 75
4.8.1 Anlise estatstica com os dados obtidos das aves silvestres ................................... 76
4.8.2 Anlise estatstica com os dados obtidos das aves de subsistncia ......................... 76
5 RESULTADOS ........................................................................................................... 77
5.1 PREVALNCIA DAS ESPCIES DE AVES SILVESTRES CAPTURADAS ......... 78
5.2 IDENTIFICAO DAS ESPCIES ........................................................................... 79
5.2.1 Comparao das frequncias de espcies mais prevalentes entre as granjas e BPN ........... 84
5.3 AVALIAO DAS AVES SILVESTRES .................................................................. 85
5.4 PCR E RT-PCR EM AMOSTRAS DE AVES SILVESTRES .................................... 91
5.5 PESQUISA DE TTULO DE ANTICORPOS EM AVES DE SUBSISTNCIA ........... 91
5.6 PCR E RT-PCR EM AMOSTRAS DE AVES DE SUBSISTNCIA ......................... 99
6 DISCUSSO ............................................................................................................. 101
7 CONCLUSO ........................................................................................................... 116
REFERNCIAS ........................................................................................................ 118
APNDICE A- TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ............ 133
APNDICE B - FICHA DE CAMPO UTILIZADA PARA AS AVES SILVESTRES .............. 134
1 INTRODUO
19
1 INTRODUO
A avicultura brasileira ocupa o primeiro lugar como pas exportador e mantm a
terceira posio na produo mundial de aves (ABEF, 2008). O Programa Nacional de
Sanidade Avcola (PNSA) normatiza o controle sanitrio do plantel avcola em relao s
doenas de interesse comercial. Os investimentos realizados decorrem principalmente da
preveno e controle de doenas de importncia mundial, como a Influenza Aviria, a Doena
de Newcastle e a Micoplasmose (BRASIL, 2009).
A Influenza Aviria (IA) uma doena sistmica que pode ser altamente letal. As
mortes de seres humanos e de centenas de milhes de aves ocorreram pelo mundo, e
resultaram em enormes prejuzos para a atividade avcola (LIPATOV et al., 2004; GIMENO,
2009). Os sintomas nas aves variaram de acordo com a virulncia do agente. Dessa forma, a
doena recebeu a denominao de Influenza Aviria de Alta Patogenicidade para a forma
mais virulenta do vrus e Influenza Aviria de Baixa Patogenicidade para a forma menos
severa deste (COX; SUBBARAO, 1999).
A Influenza aviria (IA) faz parte da lista de doenas notificveis pela Organizao
Mundial de Sade Animal (OIE) que determina os padres de sade e sanitrios para as
doenas de animais (SWAYNE; HALVORSON, 2008).
Os enormes prejuzos econmicos decorrem da dependncia do subtipo do vrus, da
espcie de ave infectada, do nmero de estabelecimentos atingidos, dos mtodos de controle
utilizados e da velocidade de execuo de aes de controle e erradicao. Essas perdas esto
relacionadas s aes de sacrifcio e destruio de aves, custos das atividades de quarentena,
vigilncia e mercados consumidores (SWAYNE; HALVORSON, 2008).
O vrus da Influenza A pertencente famlia Orthomyxoviridae, apresenta maior
ocorrncia em aves aquticas, capacidade de mutao gentica e adaptao a outras espcies
de hospedeiros como a populao humana e espcies animais. A contaminao pode ocorrer
pelo contato direto, indireto, aerossis e exposio de fmites contaminados com o vrus
(WEBBY; WEBSTER, 2003; SWAYNE; HALVORSON, 2008).
Apesar do Brasil no ter ocorrncia de surtos da doena, estudo mostrou que o vrus
est presente em aves silvestres (KAWAMOTO et al., 2005).
A Doena de Newcastle (DNC) considerada uma das maiores causas de perdas
econmicas da avicultura mundial e apresenta distribuio global (ALEXANDER, 2001).
uma enfermidade causada pelo Paramyxovirus tipo I, pertencente ao gnero Avulavirus e
20
famlia Paramyxoviridae (LEIGHTON; HECKERT, 2007; PAULILLO; JNIOR, 2009).
Diferentes graus de severidade da doena podem ocorrer dependendo da virulncia da cepa
viral, ou seja, desde uma infeco subclnica, onde os sintomas so inaparentes ou discretos,
at uma doena fatal (ZANETTI et al., 2005).
A infeco pode ocorrer atravs da inalao ou ingesto de partculas virais presentes
no ar, fezes, carcaa e fmites contaminados. O vrus j foi encontrado em aproximadamente
250 espcies de aves silvestres e de produo (LEIGHTON; HECKERT, 2007), porm, no
Brasil, poucos estudos foram desenvolvidos em aves silvestres (OLIVEIRA-JUNIOR et al.,
2003; SILVA et al., 2006).
A Micoplasmose uma infeco causada por bactrias do gnero Mycoplasma, da
famlia Mycoplasmateceae e ordem Mollicutes. So bactrias procariotas, sem parede celular
e so capazes de sobreviver no ambiente de um (01) a trs (03) dias. Os micoplasmas tm
predileo pelas membranas mucosas e serosas das aves, e provocam comprometimentos
respiratrios, articulares e urogenitais. As leses causadas nas aves de produo reduzem o
ganho de peso, aumentam as condenaes de carcaas, diminuem a produo de ovos, e
ocorre aumento nos gastos com medicamentos, o que torna a doena uma das mais onerosas
da avicultura comercial mundial (NASCIMENTO, 2000; BACK, 2002).
Em 1994, Micoplasma gallisepticum (Mg) emergiu como agente causador de doena
em pssaros silvestres da espcie Carpodacus mexicanus, no leste dos Estados Unidos, e
posteriormente foi diagnosticada na espcie Carduelis tristis (LUTRELL et al., 1998). A
doena nessa espcie se caracterizou principalmente por conjuntivite, secreo nasal e
debilidade. Os estudos mimetizando as condies em vida livre mostraram que a baixa
densidade de pssaros em uma determinada rea, diminua a frequncia de interao entre as
espcies, ocasionando menor estresse e menos propenso reinfeco (DHONDT et al.,
2012).
Micoplasma gallisepticum (Mg) e Mycoplama synoviae (Ms) foram isolados e
detectados em uma grande diversidade de espcies, o que pode representar um risco de
transmisso deste patgeno para as aves de produo comercial (LIERZ et al., 2008).
Os testes sorolgicos para a deteco de anticorpos nas criaes de frangos de corte,
galinhas de postura e aves reprodutoras, devem ser um instrumento para o controle de
micoplasmas na avicultura industrial, pois uma vez que este seja introduzido na granja requer,
na maioria das vezes, a desocupao do ambiente para o sucesso da erradicao do agente
(CARDOSO et al., 2006).
21
Programas de preveno e controle devem incluir monitoria peridica (sorologia,
cultura, isolamento e identificao) e vacinao, alm de medidas de biosseguridade (LEY,
2003).
Influenza aviria (IA), vrus da Doena de Newcastle (VDN), Mycoplasma
gallisepticum (Mg) e Mycoplasma synoviae (Ms) so patgenos economicamente
significativos para o PNSA, no Brasil e os pssaros silvestres podem ser um dos principais
disseminadores dessas doenas para as aves de produo.
Este estudo tem como objetivo contribuir com a investigao desses agentes em aves
silvestres capturadas em reas ao redor de granjas avcolas em Mogi das Cruzes e Louveira e
na rea da Barragem Ponte Nova. Assim como, nas aves domsticas de subsistncia de
criaes da regio de Mogi das Cruzes para que medidas de controle e preveno possam ser
adotadas para garantir a sade pblica e a economia da indstria avcola no pas.
22
2 REVISO DE LITERATURA
23
2 REVISO DE LITERATURA
O Brasil abrange uma rea de 8.512.000 Km2
que ocupa 47,3% da superfcie da
Amrica do Sul, sendo considerado o quinto pas no globo terrestre em extenso territorial
(SICK, 1997). Possui uma das maiores bacias hidrogrficas e florestas do mundo, atingindo
uma enorme multiplicidade de biomas particulares (SIGRIST, 2006). Dentre eles, a Mata
Atlntica que ocorre sob a forma de uma faixa de transio de amplitude varivel, cujos
limites geogrficos entre este e os biomas vizinhos, como o Cerrado e a Caatinga, foram
estabelecidos em 1993, pelo Decreto Federal n 750/93 (BENCKE; MAURICIO, 2006).
A Mata Atlntica considerada a segunda maior floresta da Amrica do Sul, se
destacando pela biodiversidade e alto endemismo. Porm, atualmente, somente 7,5% desta
floresta permanece pouco degradada, sendo considerada o bioma mais susceptvel do pas
(MYERS, 2000; SOS MATA ATLNTICA, 2012).
As questes ambientais se intensificaram nos ltimos anos, com nfase na integrao
dos efeitos da destruio de florestas e a volatilidade do clima, os quais podem oferecer
condies para o aparecimento de doenas emergentes. A identificao dos problemas
relacionados destruio do meio ambiente no Brasil, data do fim do sculo XVIII. No
entanto, apenas em 1937 houve a criao da primeira unidade de conservao pblica
(EPSTEIN, 2002; GOERCKE, 2006).
Um dos maiores desafios para a conservao da Mata Atlntica tm sido a degradao
e a fragmentao de reas. Em consequncia houve a destruio do habitat tanto pela
ocupao humana, quanto pela agricultura e pecuria, incluindo a produo avcola (DEEM;
KARESH; WEISMAN, 2001). A explorao deste ambiente, compromete a riqueza da
biodiversidade das 1.020 espcies de aves, das quais 188 so endmicas desta regio (SOS
MATA ATLNTICA, 2012).
As aves so indicadores de biodiversidade e foram usadas de maneira eficaz na
avaliao da conservao de reas, assim como na identificao de grandes centros de
endemismo terrestre (WEGE; GOERCKE, 2006).
Dentro da Classe Aves, a ordem Passeriformes uma das mais numerosas e
diversificadas em espcies e ocupam uma grande variedade de nichos ambientais pelo mundo
(PERKINS; SWAYNE, 2003). Compreende 5.739 espcies ou 59,1% das espcies de aves
descritas que se distribuem em 45 famlias (SICK, 1997). No Brasil, a diversidade da avifauna
composta por aproximadamente 1.832 espcies (CBRO, 2011).
24
Dentro desta ordem, encontram-se algumas espcies sinantrpicas que so
consideradas excelentes exploradoras de meios urbanos com baixa diversidade de espcies
(MACGREGOR et al., 2010).
No Brasil, o reforo populacional de aves silvestres em diversos biomas tem sido
realizado com a soltura de animais apreendidos pelo trfico. Desde 2008, foi criada a
Instruo Normativa n179 de 25 de junho de 2008 que normatiza o controle sanitrio e a
realizao de exames laboratoriais de doenas que acometem, principalmente, as aves de
produo (IBAMA, 2012). As solturas so realizadas em reas previamente cadastradas pelo
IBAMA e podem estar localizadas em regies de produo avcola.
A avicultura um dos recursos alimentares mais desenvolvidos do mundo, sendo
considerada uma importante fonte de protena animal. No ano de 1995, o consumo mundial
foi de 54,9 milhes de toneladas e no ano de 2000 foi de 65,6 milhes de toneladas, ou seja,
um aumento de 10,7 milhes de toneladas neste perodo. Em 2000, particularmente as
Amricas (Amrica do Sul, Central e Norte) foram responsveis pelo consumo de 28,6
milhes de toneladas, representando 44% da produo mundial (GIMENO, 2009).
O consumo de aves favorecido pelos preos competitivos em relao aos outros tipos
de carne (bovina e suna) e a preferncia do consumidor pela carne branca como fonte de
protena animal. O consumo de carne de frango e ovos aumentou nos ltimos anos quando
comparado ao consumo de qualquer outra fonte de protena animal (FAO, 2012).
O Brasil classificado mundialmente como o maior exportador de carne de frango e o
terceiro maior produtor avcola (ABEF, 2008). Segundo a UBABEF (Unio Brasileira de
Avicultura e Associao Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frangos) a produo de
carne de frango atingiu 12,230 milhes de toneladas em 2010. Houve um crescimento de
11,38% em relao a 2009, aproximando-se da China, considerado o segundo maior produtor
mundial (ABEF, 2008a).
Estima-se que 48,1% das exportaes mundiais at 2020, tero origem nacional
(MAPA, 2011). Quanto produo de ovos, no 1 trimestre de 2012 foram produzidas
671.176 milhes de dzias de ovos de galinha. Este valor representa um aumento de 8,2% e
de 1,4%, respectivamente, em relao ao 1 trimestre e ao 4 trimestre de 2011. So Paulo foi
o Estado com a maior produo de ovos de galinha, representando 29,3% do total nacional
(IBGE, 2012a).
Programas governamentais brasileiros foram criados para prevenir a sade da
populao humana e avcola. Assim como, garantir a segurana sanitria do comrcio
internacional (GIMENO, 2009). Segundo as Portarias n193 de 19 de setembro de 1994 e o
25
Programa Nacional de Sanidade Avcola (PNSA) tem como objetivo orientar o controle do
estado sanitrio das aves de produo. Em 2006, foi aprovada a Instruo Normativa n17 que
instituiu o Plano Nacional de Preveno da Influenza Aviria e de Controle e Preveno da
Doena de Newcastle, cuja notificao obrigatria (BRASIL, 2009).
Por outro lado, aparte ao desenvolvimento da indstria avcola, ocorre a explorao
extensiva de aves de fundo de quintal em funo da predominncia de alguns fatores sociais
como a mudana no consumo de alimentos e no investimento econmico. fato que a
produo de aves de subsistncia no apresenta fiscalizao ou acompanhamento
governamental e desta forma, os registros destas criaes so desconhecidos (BUCHALA et
al., 2006a; GIMENO, 2009).
As aves de fundo de quintal so criaes adotadas como prticas que podem
apresentar diversas finalidades como: exposio, hobby e companhia at para o consumo e
venda local de carne e ovos (SMITH et al., 2012; HAMILTON-WEST et al., 2012).
No Chile, aps a avaliao dos proprietrios dessas criaes atravs de questionrios
constatou-se que o perfil desses indivduos era de pessoas que mantinham as aves como
tradio familiar (HAMILTON-WEST et al., 2012).
Esses animais so expostos a uma grande variedade de infeces concomitantes ou
no, causadas por vrus, bactrias ou parasitas. A infeco por parasitas ocorre nas aves mais
debilitadas, tornando-as susceptveis s outras infeces (AWAN; OTTE; JAMES, 1994;
HERNANDEZ-DIVERS et al., 2006).
O aumento da densidade de criaes de aves em proximidades com as populaes
humanas podem favorecer o risco de transmisso de doenas entre as populaes de aves e
das aves para os seres humanos (XAVIER et al., 2011; SMITH et al., 2012).
Os mercados de aves vivas se encontram em vrias partes do mundo e servem de
alimento para as populaes locais, as quais muitas vezes preferem o consumo de carne
fresca. As aves podem se tornar fontes de infeco de diversos agentes, principalmente IA,
pois as aves saudveis ou doentes podem desempenhar o papel de carreadoras deste agente
(VAN DEN BERG, 2009).
Nos Estados Unidos, desde 1986 esses mercados foram reconhecidos como
importantes reservatrios do vrus da Influenza. Neste ano foi encontrado o mesmo subtipo do
vrus de baixa patogenicidade (H5N2) tanto em aves comerciais como nas aves encontradas
nos mercados do nordeste dos EUA (SENNE et al., 2003; SENNE, 2007).
26
Na sia, os mercados de aves vivas foram fontes do vrus da Influenza Aviria de Alta
Patogencidade (IAPP) H5N1 com a transmisso para 18 pessoas e a morte de seis delas
(SIMS, 2007; SELWOOD, 2010). A interao de aves de diferentes idades e espcies, por
exemplo, frangos com aves aquticas, uma prtica comum na maioria dos pases do sul da
frica, o que facilita a disseminao do vrus. Dessa forma, esses mercados possibilitam a
proximidade de aves domsticas e selvagens em cativeiro, aumentando o risco de infeco
cruzada (VAN DEN BERG, 2009).
Na sia e frica foram identificadas cepas lentognicas, mesognicas e velognicas
do vrus da Doena de Newcastle (VDN) em aves de subsistncia, assim como a presena do
vrus da influenza H5N1 (ALEXANDER, 1988; VAN DEN BERG, 2009).
Em Chancay, no Peru, as aves mortas foram utilizadas como alimento para sunos em
15% das granjas pesquisadas e revelou ser este um potencial mecanismo para a adaptao do
vrus da influenza a outra espcie (MCCUNE et al., 2012).
No estudo de Soos, et al. (2008), as galinhas de subsistncia apresentavam idades
diferentes e as medidas de biossegurana raramente eram empregadas nas criaes.
A falta de divulgao aliada movimentao humana entre as criaes de aves de
subsistncia e as aves de produo, propicia a transmisso de doenas relevantes como a
Influenza aviria para as aves comerciais (BURNS et al., 2011).
No Brasil, a atual legislao sobre o controle sanitrio de aves domsticas de
subsistncia ou de fundo de quintal ainda est em desenvolvimento pelos rgos
competentes de Defesa Sanitria Animal, cujo programa de sade animal deveria ser capaz de
garantir e assegurar a explorao avcola em escala industrial. Buchala et al. (2006a) citaram
que deve ser prioritria a preservao dos plantis de multiplicao gentica, e que estes
devem estar livres dos patgenos responsveis por enfermidades que representem importncia
para a sade humana e animal.
Na lista de doenas de notificao obrigatria preparada pela Organizao Mundial da
Sade Animal se encontram a Influenza Aviria, a doena de Newcastle (Paramyxovirus tipo
I), Mycoplasma gallisepticum e Mycoplasma synoviae (OIE, 2012a). O estudo destas doenas
avirias de grande importncia, pois podem acometer aves silvestres, aves domsticas de
subsistncia e de produo, com vasto interesse para a sade pblica e a economia avcola
mundial.
27
2.1 INFLUENZA AVIRIA
2.1.1 Histrico
Na histria da humanidade existem relatos de diversas pandemias, cujas descries
sugerem o vrus da influenza como agente da infeco. Em 412 a. C., Hipcrates descreveu a
ocorrncia de uma epidemia de febre, rapidamente disseminada, com surtos de doena
respiratria febril e alta taxa de mortalidade (SELLWOOD, 2010). No sculo XX, as
pandemias de 1918, 1957 e 1968 afetaram a populao humana levando morte mais de 40
milhes de pessoas (ALEXANDER; BROWN, 2000; MORAES; SALLE; CARON, 2009;
SELLWOOD, 2010). No Brasil, o surto ocorreu no incio da primavera e coincidiu com a
segunda onda global da pandemia em outubro de 1918 (SELLWOOD, 2010).
A influenza Aviria tambm conhecida como peste aviria foi descoberta em 1878 por
Edoardo Perroncito, na Itlia e foi uma das primeiras doenas descritas apresentando um
agente etiolgico ultra filtrvel (ALEXANDER, 2009).
As aves pertencentes as ordens Anseriformes e Charadriiformes so consideradas
potenciais reservatrios e participam da perpetuao do vrus da IA na natureza
(LEBARBENCHON et al., 2010; VERHAGEN et al., 2012).
Nas aves silvestres, o primeiro isolamento do vrus da influenza ocorreu em 1961,
proveniente de andorinhas do mar (Sterna hirundo), na frica do Sul (BECKER, 1996).
No Brasil, o vrus da Influenza aviria foi isolado pela primeira vez em 1980, de fezes
de irers (Dendrocygna viduata) e de aves exticas no Estado do Rio de Janeiro (SALCEDO,
1980).
As aves silvestres apresentam diferenas de sintomatologia e prevalncia de
mortalidade dependendo da espcie envolvida e do subtipo do agente encontrado.
Em 2005, mais de 600 aves aquticas de vida livre morreram infectadas com o vrus
IAAP H5N1 no lago da reserva natural de Qinghai, na China. Este vrus foi isolado, em 2006,
de dois (02) casos fatais em humanos, na Turquia (SELLWOOD, 2010).
Em pssaros Acrocephalus arundinaceus e Turdus pallidus foram observadas
diferenas de manifestaes clnicas aps a inoculao do vrus da influenza H5N1. Este
ocasionou a mortalidade de 100% das aves da primeira espcie e sobrevivncia da segunda
por mais de oito (08) dias, com eliminao contnua do vrus. Desta forma, compreendeu-se
28
que as aves apresentavam respostas diferentes frente aos desafios com o vrus da IA
(FUJIMOTO et al., 2010).
Os estudos filogenticos com o vrus da influenza aviria estabeleceram uma
correlao entre o vrus encontrado em galinhas e pssaros. A identificao das cepas
A/Chicken/Vic/1/85 (H7N7) e A/Starling/Vic/5156/85 (H7N7) demonstraram uma
proximidade na sequncia gentica que ocasionou alta mortalidade das aves envolvidas na
doena (NESTOROWICZ et al., 1987).
No sul da Frana, o vrus da IA no foi detectado em amostras de 713 aves capturadas
no inverno e 237 aves capturadas na primavera pertencentes ordem Passeriformes mesmo
coabitando o ambiente das aves aquticas (LEBARBENCHON et al., 2010).
Fuller et al. (2010) consideraram que a vigilncia sobre os pssaros deveria ser maior
em relao s epizootias, pela capacidade dessas aves exercerem o papel de carreadoras na
transmisso dos vrus dentro da cadeia epidemiolgica da Influenza Aviria, assumindo a
mesma importncia que aves aquticas e domsticas.
Atualmente, cinquenta e um pases relataram casos de IAAP (influenza aviria
altamente patognica) H5N1 em aves domsticas ou de vida livre, entre 2003 e 2012. No final
de novembro de 2011 houve 596 casos em humanos com 334 relatos de morte humana pelo
vrus de alta patogenicidade H5N1(OIE, 2012b).
2.1.2 Caractersticas do Vrus
A Influenza aviria (IA) causada pelo vrus da influenza do tipo A, pertencente
famlia Orthomyxoviridae (MORAES, 2009), que apresenta genoma segmentado, de senso
negativo e fita nica de RNA. Existem cinco gneros desta famlia: Influenzavirus A,
Influenzavirus B, Influenzavirus C, tambm denominados influenza tipos A, B e C,
Thogotovirus e Isavirus. Somente os vrus do gnero Influenzavirus A infectam as aves
(ALEXANDER, 2007; HAAHEIM, 2010).
Os vrus influenza tipo A foram divididos em subtipos de acordo com as relaes
antignicas das glicoprotenas de superfcie, definidas como hemaglutininas (HA) e
neuraminidases (NA). Existem 16 subtipos de HA (H1 a H16) e nove subtipos de NA (N1 a
N9), sendo que o vrus apresenta a combinao de um antgeno HA e um antgeno NA. Todos
29
os subtipos do vrus influenza A foram isolados de espcies avirias aquticas.
(ALEXANDER, 2007; SELLWOOD, 2010; HAAHEIM, 2010).
Os vrus da Influenza Aviria Altamente Patognica (IAAP) foram caracterizados
pelos subtipos H5 e H7. No entanto, nem todos os vrus com estes subtipos so classificados
como vrus altamente patognicos, podendo ser considerados como vrus da Influenza Aviria
de Baixa Patogenicidade (IABP) (ALEXANDER, 2007). Se uma nica clula animal for
infectada simultaneamente com dois subtipos diferentes de vrus, podero emergir novas
combinaes de protenas HA e NA (STALKNECHT et al., 2007).
Os rearranjos do vrus da Influenza so comuns em populaes de vida livre. Estes
representam um mecanismo em potencial para a insero de genes de subtipos de vrus de IA
(incluindo novos subtipos de HA) dentro dos vrus da influenza existentes em animais ou
humanos. Esse processo de rearranjo no apresenta possibilidade de correo pelas
polimerases celulares e denominado de shift antignico.
Alm disso, o vrus da Influenza susceptvel s mutaes genticas espontneas que
podem ocorrer nas sequncias das protenas HA e NA. Estas mutaes podem alterar a
antigenicidade dessas protenas de superfcie, cujo processo denominado de drift
antignico (STALKNECHT, et al., 2007; MORAES, 2009).
Os virions da Influenza geralmente so esfricos ou pleomrficos, podendo ocorrer
como formas filamentosas. Apresentam entre 80 e 120 nm de dimetro e envelopes que so
derivados dos lipdios da membrana plasmtica da clula hospedeira (SWAYNE;
HALVORSON, 2008). Possuem nucleocapsdeo segmentado com simetria helicoidal e
podem ter tamanhos que variam entre 30 e 120 nm de comprimento (NODA et al., 2006). O
genoma tem oito (08) segmentos separados que codificam 10 protenas, das quais oito so
estruturais (quadro 1). O comprimento destes segmentos podem variar entre 874 e 2.396
nucleotdeos e o tamanho do genoma pode diversificar entre 10 e 14,5 Kb (STALKNECHT et
al., 2007; HAAHEIM, 2010).
30
Quadro 1 - Segmentos de genes do vrus da influenza A com as protenas e suas funes.
Fonte: Haaheim (2010)
2.1.3 Replicao viral
O vrus inicia a sua replicao com a adsoro da partcula viral membrana da clula
hospedeira. Este se liga especificamente nos receptores contendo cido silico (SA) 2-3Gal,
presente, principalmente, nas clulas do trato intestinal das aves. As cepas de influenza
humana se ligam preferencialmente aos receptores SA 2-6 Gal presentes nas clulas
epiteliais do trato respiratrio (STALKNECHT et al., 2007).
Em humanos, os receptores SA 2-3 Gal esto presentes no trato respiratrio, porm
parecem ser menos acessveis, pois esto localizados mais profundamente nas via areas
Segmento Protena Funo
1 PB2 Complexo polimerase. Replicao viral
2 PB1(-F2)
3 PA
4 HA Hemaglutinina. Protena de superfcie glicosilada. Inicia a
infeco pela ligao aos receptores celulares.
Antigenicamente altamente varivel. Existem 16 subtipos.
5 NP Nucleoprotena que encapsula os segmentos de RNA. O
complexo RNA-NP denominado RNP
6 NA Neuraminidase. Protena de superfcie glicosilada. Enzima
que divide o vrus a partir da clula hospedeira.
Antigenicamente varivel. Existem nove subtipos.
7 M1
M2
Protena matriz. Localizada abaixo da camada de superfcie
lipdica. Antigenicamente muito estvel.
Canal de on, existem poucas cpias na membrana viral.
Antigenicamente muito estvel.
8 NS1
NS2(NEP)
Protena no estrutural, a funo no bem entendida.
Acredita-se que inibe a sntese de interferon pelo
hospedeiro.
Auxilia na exportao do complexo RNA com a NP para o
citoplasma.
31
inferiores, o que explica a restrio de replicao de vrus avirios em humanos (SHINYA,
2006).
A adeso do vrus da influenza clula ocorre pela hemaglutinina do envelope viral.
Esta protena um trmero que deve ser clivado por proteases orgnicas transformando o
precursor desta molcula, denominada H0, em subunidades da hemaglutinina H1 e H2, para
que as partculas virais se tornem infecciosas (STALKNECHT, 2007; ALEXANDER, 2009).
O pH de 5 ou 6 auxilia na adsoro do vrus. A capacidade de clivagem pelo hospedeiro
determina a patogenicidade do subtipo viral (MORAES et al., 2009; HAAHEIM, 2010).
No trato respiratrio e digestrio existem baixas concentraes de proteases tripsina-
like que clivam os vrus no patognicos. No entanto, as proteases subtilisina-like que clivam
amostras patognicas se encontram em vrias clulas de diferentes tecidos e permitem a
disseminao do vrus no organismo (ALEXANDER, 2009).
Aps a adeso, o vrus perde o capsdeo no citoplasma da clula e o RNA viral migra
para o ncleo celular, onde ocorrer a transcrio e a sntese de RNAm. Posteriormente, o
RNAm migrar para o citoplasma, ser traduzido no retculo endoplasmtico para a sntese
das protenas virais. As protenas produzidas nos ribossomos sero transportadas para o
complexo de Golgi onde podero sofrer modificaes ps traducionais (SWAYNE;
HALVORSON, 2008).
Os RNAs recm produzidos migram com as protenas e se organizam para a sada da
clula pelo processo de brotamento. Neste momento, a glicoprotena neuraminidase permite a
eluio viral ou o rompimento das ligaes dos vrus pela hemaglutinina com os receptores de
membrana (MORAES et al., 2009; HAAHEIM, 2010).
2.1.4 Caractersticas da doena
A transmisso do vrus em aves de vida livre ocorre pela via fecal/oral e trato
respiratrio (STALKNECHT et al., 2007), porm, os vrus da influenza altamente
patognicos causam morte muito rpida nas aves e possvel que poucos vrus sejam
excretados durante o curso da infeco (ALEXANDER; SENNE, 2008).
Em pssaros Acrocephalus scirpaceus infectados com H5N1 foi demonstrada que a
eliminao viral pelo trato respiratrio era maior do que pelo trato intestinal (FUJIMOTO et
32
al, 2010). Bertran et al. (2012), sugeriram que falces poderiam adquirir o vrus da IAAP e/ou
IABP atravs da ingesto de presas infectadas.
Os sinais clnicos podem ser classificados de acordo com a cepa envolvida e a
susceptibilidade do hospedeiro. O vrus da influenza aviria de baixa patogenicidade (IABP)
comum em aves de produo. Tambm pode ser encontrado em outras espcies avirias
apresentando sinais clnicos como: baixa produo de ovos, inapetncia, penas eriadas,
edema de cabea, sinais respiratrios moderados incluindo dispneia, secreo ocular e nasal
(KENT et al., 2006; SELLWOOD, 2010).
A influenza aviria de alta patogenicidade (IAAP) se caracteriza pela rpida
disseminao, morte sbita, com mortalidade de 100% das aves. Pode causar sinais
respiratrios, acompanhados por hemorragia interna, cianose, diarreia e morte (SELLWOOD,
2010). Falces inoculados como o vrus da IAAP podem manifestar sinais neurolgicos antes
do bito (BERTRAN, 2012). Nesta doena se encontram leses necrticas e hemorrgicas em
diversos rgos, alm de edema de face, cabea, pescoo e patas podendo estar acompanhada
de hemorragias, petquias e equimoses. Nos rgos internos foram descritos quadros
hemorrgicos e necrose em mucosas e serosas (SWAYNE; HALVORSON, 2008).
Os achados patolgicos so variveis de acordo com o patotipo do vrus. Na doena
provocada pelo vrus da IABP foram descritos inflamao fibrinopurulenta em seio nasal,
traqueia, sacos areos e brnquios, alm de exsudatos inflamatrios no oviduto de fmeas.
Esporadicamente rins e pncreas podiam estar acometidos (SWAYNE; HALVORSON,
2008).
Os vrus podem estar protegidos pela matria orgnica das prprias aves como
secrees nasais, oculares e fezes. Temperaturas frias e condies de umidade favorecem a
longa sobrevivncia do vrus em ambientes ocupados por aves reservatrios (FULLER et al.,
2010; SWAYNE; HALVORSON, 2008). Os virions so sensveis ao calor, solventes
lipdicos, detergentes (aninicos, catinicos ou neutros), formaldedo, irradiao e agentes
oxidantes (STALKNECHT et al., 2007).
33
2.2 DOENA DE NEWCASTLE
2.2.1 Histrico
A doena recebeu este nome por ter ocorrido o primeiro surto na primavera de 1926,
em uma granja prxima a cidade de Newcastle-on-Tyne, na Inglaterra. No entanto, outros
relatos da doena foram descritos na ilha de Java, Indonsia (maro de 1926) e em outras
localizaes como: ndia, Sri Lanka, Coreia e Japo (KRANEVELD, 19261, DOYLE, 1927
2
apud ALEXANDER, 1988, p. 2).
Nas aves silvestres, os primeiros casos de isolamento do vrus da doena de Newcastle
ocorreram em bigus, Phalacrocorax aristotelis em 1949, na Esccia, e em Phalacrocorax
carbo, em 1974. Em 1956, a doena havia sido sugerida nestas duas espcies por
Macpherson, pois apresentavam os mesmos sinais clnicos e a mesma localizao geogrfica
que as aves de produo, durante a epidemia de DNC em 1897-1898 ou em 1949-1951
(KUIKEN, 1999; LEIGHTON; HECKERT, 2007).
O VDN foi descrito em uma variedade de espcies, compreendendo 27 das 50 ordens
de aves. Embora tenha sido provado que a maioria das cepas isoladas de aves aquticas no
era patognica para galinhas, as aves silvestres foram consideradas reservatrios do VDN
(ZHU et al., 2010).
O VDN foi identificado no Brasil, em 1953, nos Estados do Par e Amap pela
importao de carcaas de aves contaminadas dos Estados Unidos (SANTOS, 1954).
Desde ento, a doena foi descrita esporadicamente no pas, com a ltima ocorrncia
em 2006 diagnosticados em criao de galinhas de fundo de quintal no Estado do Rio Grande
do Sul, Mato Grosso e Amazonas (SILVA et al., 2008).
Em aves do Zoolgico Municipal e de propriedades particulares no Rio de Janeiro, no
Brasil, foi estudada a presena de anticorpos para o VDN pela tcnica da inibio da
hemaglutinao (HI). Encontraram em 12 aves silvestres de 837 aves domsticas no
vacinadas, ttulos de anticorpos para esta doena (OLIVEIRA-JNIOR, 2003). Nesta cidade,
foi isolada a cepa mesognica do vrus da Doena de Newcastle em patos domsticos com
1 KRANEVELD, F.C. A poultry disease in Dutch East Indies. Ned.-Indisch Bl. Diergeneesk, n.38, p.448-451,
1926. 2 DOYLE, T.M. A hitherto unrecorded disease of fowls due to a filter-passing virus .Journal Comparative
Pathology and Therapeutics, n.40, p. 144-169, 1927.
34
sinais clnicos respiratrios, neurolgicos e mortalidade de aproximadamente 100 aves
(OLIVEIRA-JNIOR et al., 2005).
Pardais (Passer domesticus) capturados em granjas de frangos de corte e granjas de
reproduo no Estado do Pernambuco apresentaram trs (03) aves positivas (n=103) na prova
de HI. Houve o isolamento viral de cepas provavelmente vacinais, demonstrando o contato
dos pssaros com as aves de produo (SILVA et al., 2006).
Na costa brasileira e regio Amaznica foram detectadas, pela tcnica de PCR em
tempo real, cepas lentgenicas de VDN em sete amostras de aves silvestres (0,7%),
migratrias ou no, e domsticas de um total de 1.022 aves estudadas, ocorreu o isolamento
viral, demonstrando a possibilidade desses animais se tornarem carreadores e reservatrios do
vrus DNC de baixa patogenicidade (THOMAZELLI et al., 2012).
2.2.2 Caractersticas do vrus
O vrus pertence ordem Monegavirales, famlia Paramyxoviridae, a qual dividida
em duas sub-famlias: a sub-famlia Pneumovirinae composta pelos gneros Pneumovirus e
Metapneumovirus e a sub-famlia Paramyxovirinae composta pelos gneros Morbillivirus,
Respirovirus, Rubulavirus, Henipavirus e Avulavirus (LEIGHTON; HECKERT, 2007;
PAULILLO; JNIOR, 2009).
O gnero Avulavirus apresenta nove subtipos de Paramyxovirus avirios, sendo a
Doena de Newcastle causada pelo Paramyxovirus tipo I (ALEXANDER, 1988; PAULILLO;
JNIOR, 2009).
As partculas virais do Paramyxovirus tipo I so pleomrficas e com formatos
arredondados de dimenses que variam entre 100 a 500 nm de dimetro. Tambm podem se
apresentar como formas filamentosas de aproximadamente 100 nm de comprimento
(ALEXANDER, 1988).
O vrus consiste de RNA envelopado, o qual mostra assimetria no capsdeo helicoidal
e possui um genoma no segmentado, de fita simples e polaridade negativa (ALEXANDER,
1988).
Dentro do envelope reside um nucleocapsdeo helicoidal central contendo o RNA
genmico com 15.186 nucleotdeos, compreendendo seis genes. Estes codificam seis
polipeptdeos: as protenas do nucleocapsideo (NP), fosfoprotenas (P), grande polimerase
35
RNA-dependente (L) que inicia a replicao intracelular do vrus (MILLAR; CHAMBERS;
EMMERSON, 1988; LAMB, 2007), protena hemaglutinina-neuraminidase (HN) e protena
de fuso (F). Entre o envelope e o ncleo existe uma protena da matriz (M) que compe a
arquitetura viral e liberada durante a entrada do vrus na clula hospedeira (MILLAR;
CHAMBERS; EMMERSON, 1988).
Os virions possuem um envelope lipdico onde esto inseridas projees tpicas, em
forma de espcolas (maiores e menores) que cobrem toda a sua superfcie.
As espculas maiores apresentam aproximadamente 8 nm de comprimento e possuem
uma glicoprotena HN com atividade hemaglutinante e neuraminidase (PAULILLO;
JNIOR, 2009). As espculas menores possuem a glicoprotena F, que est associada
capacidade do envelope em se fundir s membranas celulares do hospedeiro, para que haja a
introduo do material gentico na clula e ocasionar a fuso das clulas infectadas,
resultando no efeito citoptico in vitro, com a formao de sinccio (PAULILLO; JNIOR,
2009).
A virulncia do VDN em galinhas determinada pela composio de aminocidos da
protena de fuso (F) presente na superfcie do vrus. Assim como, pela presena de enzimas
celulares do hospedeiro capazes de clivar esta protena. Para que o processo de infeco viral
ocorra necessrio que a protena F0 seja clivada nas protenas F1 e F2, pelas proteases do
hospedeiro, que interagem com um grupo especfico de aminocidos no ponto de clivagem da
protena F (LEIGHTON; HECKERT, 2007).
A virulncia deste patgeno ser determinada pela composio de aminocidos
encontrados no ponto de clivagem da protena F0. Quando houver poucos aminocidos no
ponto de clivagem, somente as enzimas encontradas nos tecidos do trato respiratrio ou
intestinal do hospedeiro sero capazes de agir nestes aminocidos. As sequncias de
aminocidos no ponto de clivagem foram descritas entre as posies 113 a 117 da protena.
(ALEXANDER, 2011).
2.2.3 Caractersticas da Doena
Vrios fatores podem estar envolvidos na manuteno da infeco e a sua transmisso,
como: a presena de aves de produo carreadoras, a introduo constante de aves
susceptveis, a presena de outras espcies de aves de produo, aves silvestres, condies de
36
ambiente favorvel e a heterogeneidade do vrus da Doena de Newcastle (AWAN; OTTE;
JAMES, 1994).
A patogenicidade do vrus varia de acordo com a cepa e a espcie do hospedeiro
envolvida, sendo mais estudada em aves de produo. Em geral, o perodo entre a infeco e a
presena dos sinais clnicos ocorre entre 2 a 6 dias, mas pode ser at de 15 a 21 dias
(LEIGHTON; HECKERT, 2007).
O vrus capaz de infectar experimentalmente ou naturalmente mais de 241 espcies
de aves, representando 27 das 50 ordens de aves existentes (LEIGHTON; HECKERT, 2007;
PAULILLO; JNIOR, 2009; ALEXANDER, 2011). Os sinais clnicos podem variar quanto
severidade da doena dependendo da cepa viral, na dependncia da espcie aviria, do estado
de imunidade do hospedeiro, a idade e as condies em que so encontradas e se h a
presena ou no de outros agentes concomitantes (ALEXANDER, 2011). Ocorrem diferenas
entre os sinais clnicos e a severidade da doena nas espcies hospedeiras, com diferentes
cepas e isolados do VDN. Um sinal clnico caracterstico em aves de postura a formao de
ovos sem casca ou com casca mole (ALEXANDER, 2011).
O vrus transmitido entre as aves susceptveis, podendo ser eliminado pelas fezes,
secrees corpreas e ovos (LEIGHTON; HECKERT, 2007).
As aves clinicamente doentes so consideradas as principais fontes de infeco, entretanto as
aves infectadas, e as sobreviventes a infeces naturais podem albergar o agente e atuar como
reservatrios (AWAN; OTTE; JAMES, 1994).
O vrus foi isolado de diversas aves aparentemente saudveis, indicando que a
eliminao deste agente pode ocorrer por longos perodos e as aves podem ser potencialmente
transmissoras para outras aves (LEIGHTON; HECKERT, 2007).
A participao de vetores mecnicos como a mosca (Musca domestica) na transmisso
da doena foi demonstrada pelo estudo que detectou o vrus vacinal da cepa LaSota em
tecidos digestivos de moscas, pelo teste de hemaglutinao em at 72 horas aps a exposio
vacinal (BARIN et al., 2010).
Os vrus isolados da DNC foram divididos em cinco patotipos: a) velognico
viscerotrpico, caracterizado por cepas que promovem a forma da doena altamente virulenta,
na qual as leses hemorrgicas so caractersticas no trato intestinal e trato respiratrio; b)
velogncia neurotrpica, que causa alta mortalidade, aps ocorrer os sinais clnicos
respiratrios e nervosos; c) mesognica, cuja cepa causa sinais respiratrios e ocasionalmente
sinais clnicos neurolgicos, porm com baixa mortalidade; d) lentognica que causam sinais
37
clnicos medianos ou ausentes no aparelho respiratrio e entrica assintomtica onde a cepa
provoca infeces entricas inaparentes (PAULILLO; JNIOR, 2009).
Os vrus altamente virulentos podem produzir infeces agudas em todas as aves
susceptveis, com quadros de mortalidade sbita. Alm disso, podem ser encontrados os sinais
tpicos da doena como: depresso, prostrao, diarreia, edema de cabea e sinais nervosos. A
mortalidade pode chegar a 100% e em geral menor em aves mais velhas.
Embora os anticorpos sricos contra o vrus de NC no informem a qual cepa do vrus
a ave foi exposta, estes so importantes porque indicam se as aves silvestres estiveram
expostas a este agente.
Existe uma variedade de testes sorolgicos, como a imunodifuso radial simples,
hemlise radial simples, imunodifuso em gel de gar, neutralizao viral, soroaglutinao
rpida em placa (SAR), inibio da hemaglutinao (HI) e ensaio imunoenzimtico (ELISA)
(LEIGHTON; HECKERT 2007; PAULILLO; JNIOR, 2009). Destes, os mais usados na
avicultura comercial so a SAR, a HI e o ELISA (LEIGHTON; HECKERT, 2007).
Em aves comerciais foi demonstrada ocorrncia tanto da resposta imunolgica celular
como a humoral contra o VDN, sendo que os anticorpos podem ser detectados no soro entre 6
a 10 dias aps o contato com o vrus (LEIGHTON; HECKERT, 2007).
Um dos objetivos da Organizao Mundial da Sade Animal (OIE) facilitar o
comrcio de animais e seus produtos entre os pases membros. Dessa forma, foram
estabelecidas algumas definies para se caracterizar a Doena de Newcastle, cuja notificao
obrigatria.
A doena de Newcastle definida como uma infeco de aves causada pelo
Paramyxovirus avirio sorotipo 1 (PMV-1) que deve ter os seguintes critrios de virulncia
(ALEXANDER, 2011):
a. o vrus ter um ndice de patogenicidade intracerebral (IPI) em aves (Gallus
gallus), de um dia de idade, de 0,7 ou maior ou;
b. ter sido demonstrado a presena de mltiplos aminocidos bsicos (no mnimo
trs resduos de argininas ou lisinas entre os resduos 113 e 116), na regio carboxi terminal
da protena F2 e fenilalanina no resduo 117 na regio amino terminal da protena F1 do vrus.
O vrus sensvel a solventes lipdicos e instvel em pH muito alto ou baixo, alm de
mostrar instabilidade, especialmente, em temperaturas acima de 40C, luz solar e luz
ultravioleta ( PAULILLO; JNIOR, 2009).
38
Pode apresentar estabilidade e permanecer infectante por semanas, quando em
temperaturas baixas e na condio de estar protegido por matria orgnica, sobrevivendo no
lixo, gua, solo, carcaas, ovos e penas (LEIGHTON; HECKERT, 2007).
A maioria dos pases que mantm aves de produo emprega o uso de programas de
vacinao, com o objetivo de manter suas aves protegidas. Entretanto, a doena de Newcastle
endmica representa o maior fator limitante para o aumento da produo avcola em muitos
pases, incluindo a Unio Europeia que apresenta a ocorrncia de surtos espordicos
(ALEXANDER, 2011).
As vacinas vivas atenuadas e/ou mortas de VDN so de cepas lentognicas (baixa
virulncia) do vrus de NC e tm sido usadas com grande sucesso. No entanto, tais cepas,
especialmente a La Sota e Hitchner B1, podem provocar a doena clnica, caracterizada por
sinais respiratrios quando administradas a plantis infectados com outros agentes
respiratrios, principalmente Mycoplasma gallisepticum (SILVA et al., 2008). Com o objetivo
de se evitar essas reaes, para primeira vacinao recomenda-se o uso das estirpes B1,
Ulster, ou VG-GA (PAULILLO; JNIOR, 2009).
2.3 MYCOPLASMA GALLISEPTICUM e MYCOPLASMA SYNOVIAE
2.3.1 Histrico
Os micoplasmas pertencem classe Mollicutes, ordem I Mycoplasmatales, famlia
Mycoplasmataceae e gnero Mycoplasma, com aproximadamente 180 espcies que se
distribuem entre o homem, mamferos, aves, peixes, insetos e plantas (RIVERA-TAIPA;
CEDILLO-RMIREZ; JUREZ, 2002; KLEVEN; FERGUSON-NOEL, 2008;
TIMENESKY, 2009).
Dentre as 25 espcies de micoplasmas descritos em aves, 17 foram encontradas em
aves silvestres (LUTTRELL; FISCHER, 2007). No entanto, apenas Mycoplasma
gallisepticum (Mg), Mycoplasma synoviae (Ms), Mycoplasma iowae (Mi) e Mycoplasma
meleagridis (Mm) apresentam importncia econmica, pois afetam as aves de produo e se
distribuem mundialmente (GIMENO, 2009; METTIFOGO; BUIM, 2009, NASCIMENTO et
al., 2005).
39
Em 1898, Nocard e Roux, na Frana, isolaram os micro-organismos da
pleuropneumonia contagiosa de bovinos. Durante dcadas os micoplasmas foram isolados de
animais e humanos, doentes ou no, e foram denominados de organismos pleuro pneumonia-
like (TIMENESKY, 2009; NASCIMENTO; PEREIRA, 2009).
Em aves, a primeira descrio da doena ocorreu em perus, em 1905, na Inglaterra e
recebeu a denominao de pneumoenterite epizotica (LEY, 2008). Em 1935 um cocobacilo
presente no exsudato nasal de galinhas foi identificado, sendo isolado de perus com quadro
clnico de sinusite, denominada em 1938, de sinusite infecciosa dos perus (LEY, 2008;
NASCIMENTO; PEREIRA, 2009).
A doena foi denominada de Doena Respiratria Crnica pela evoluo lenta e
carter crnico dos sinais clnicos (METTIFOGO; BUIM, 2009), sendo posteriormente
definido o patgeno como Mycoplasma gallisepticum (NASCIMENTO; PEREIRA, 2009).
No Brasil, a micoplasmose aviria foi relatada pela primeira vez em 1955, por Reis e
Nbrega, a partir de casos de aerossaculite em galinhas e sinusite infecciosa em perus
(METTIFOGO; BUIM, 2009).
Mycoplasma synoviae foi descrito por Olson, em 1954, como o agente causador da
Sinovite Infecciosa em perus. Nas dcadas de 50 e 60, as granjas avcolas de frango de corte
apresentaram as manifestaes articulares. Em 1970, foi descrita a forma respiratria
associada a outros agentes como E. coli e DNC (NASCIMENTO; PEREIRA, 2009).
Um surto de micoplasmose causada por uma cepa de Mg genotipicamente diferente
das cepas encontradas nas aves de produo (LEY; BERKHOFF; LEVISOHN, 1997), foi
descrito em tentilhes (Carpodacus mexicanus), nos EUA e Canad, que apresentaram sinais
clnicos de conjuntivite (LUTTRELL; FISCHER, 2007). Esta doena reduziu a populao
desta espcie de ave em mais de 60%. Entre outras causas, em consequncia transmisso do
patgeno por via direta, de ave para ave, e indireta, por meio dos comedouros instalados em
reas pblicas (DHONDT; DHONDT; LEY, 2007). Alm disso, as aves doentes apresentaram
alteraes de comportamento, o que influenciou na disseminao do patgeno, como por
exemplo, o tempo de alimentao nos comedouros (HAWLEY; DAVIS; DHONDT, 2012).
Dhondt et al. (2007) demonstraram que sementes contaminadas poderiam ser dispersadas
quando os pssaros fossem remover as cascas antes do consumo, e estas poderiam espalhar
Mg pela poeira, infectando novos hospedeiros pela exposio ao agente.
Nos estudos epidemiolgicos de Mg em pssaros Carpodacus mexicanus foi
enfatizado por States, Hochachka e Dhondt (2009) que a prevalncia da doena dentro de uma
populao, poderia ser maior ou menor na dependncia da abundncia e das interaes entre
40
hospedeiros primrios e hospedeiros alternativos dentro da comunidade de aves. Esses
pssaros quando doentes poderiam transmitir a bactria pela mudana de comportamento com
a diminuio de movimentao, manuteno mais prolongada nos comedouros externos
encontrados em ambientes caseiros, parques e permanecendo em pequenos grupos
(HAWLEY, DAVIS, DHONDT, 2007).
No Brasil, os estudos epidemiolgicos referentes ao Mg e Ms relacionaram-se
basicamente s aves de produo, uma vez que pela legislao brasileira, as aves reprodutoras
tm que ser livres de Mg, Ms e Ms independente da espcie de aves da criao. As criaes
tercirias que produzem frangos de corte e poedeiras comerciais no so contempladas com
essa exigncia (SILVA et al., 2008).
2.3.2 Caractersticas do Micoplasma
Os micoplasmas so seres procariontes, com ausncia de parede celular, considerados
os menores micro-organismos de vida livre capazes de auto replicao (RIVERA-TAPIA;
CEDILLO-RAMREZ; JUREZ, 2002; LEY, 2008). Em razo desta ausncia, so resistentes
a antibiticos que agem na parede celular como, por exemplo, as penicilinas (NASCIMENTO
et al., 2005). Possuem conformaes estruturais pleomrficas, como pequenos bacilos ou
cocobacilos Gram negativos, formando colnias com caracterstica de ovo frito (LEY,
2008; METTIFOGO; BUIM, 2009; NASCIMENTO; PEREIRA, 2009).
As dimenses variam entre 200 a 300 nm de dimetro e podem possuir o formato de
uma garrafa ou pera pela protruso de membrana (MIYATA; OGAKI, 2006). Em sua
membrana existem projees similares a fimbrias que possuem a funo de motilidade,
quimiotaxia e aderncia aos receptores das clulas do hospedeiro (TAJIMA; NUNOYA;
YAGIHASHI, 1979; LEY 2008; NASCIMENTO; PEREIRA, 2009).
Em funo do reduzido genoma, apresentam capacidade limitada de biossntese dos
componentes necessrios ao seu metabolismo e crescimento (METTIFOGO; BUIM, 2009).
A membrana plasmtica trilaminar, sendo constituda por mais de dois teros de
protenas, 20 a 30% de lipdios e uma pequena quantidade de carboidratos. As protenas de
membrana de Mg podem ser divididas em duas classes: as integrais e as perifricas. O alto
grau de variabilidade na expresso de antgenos de superfcie entre as cepas de Mg foram
41
demonstrados com a utilizao de anticorpos monoclonais no sistema western blot
(METTIFOGO; BUIM, 2009).
As protenas de aderncia s clulas do hospedeiro podem variar entre as bactrias,
sendo a pMGA (hemaglutinina), MGC1, MGC2 e PVpA as que mais sofreram alteraes nas
cepas de Mg, enquanto nas cepas de Ms foram as protenas MSPA e MSPB. A principal
protena da membrana de Mg a pMGA (p67). Essa protena formada por trs eptopos
variveis que podem ser expressos ou no pelas diferentes cepas existentes (METTIFOGO;
BUIM, 2009, NASCIMENTO; PEREIRA, 2009).
Na superfcie do Ms existe um grupo de protenas, com pesos moleculares entre 45-50
KDa, dominantes na cepa WVU-1853. Estas protenas no se expressavam de forma
constante, foram classificadas como grupo MSPA e grupo MSPB e estavam relacionadas com
a interao com hemcias. Foi demonstrado que a MSPA uma hemaglutinina. Essas
protenas so codificadas por um nico gene, denominado vlhA, que possui alto grau de
identidade com o gene pMGA 1.7 de Mg (KLEVEN; FERGUSON-NOEL, 2008).
O sistema imune do hospedeiro estimulado pela ativao de macrfagos, moncitos,
clulas T helper e clulas NK, levando sintese do fator de necrose tumoral (TNF-),
interleucina 1 (IL-1), IL-2, IL-6, interferon , interferon e interferon (NASCIMENTO et
al., 2005). No entanto, o micoplasma possui a capacidade de variar os antgenos presentes na
membrana e, desta forma, se evadir do sistema imunolgico dos hospedeiros levando
colonizao dos tecidos do organismo (METTIFOGO; BUIM 2009; NASCIMENTO;
PEREIRA, 2009).
O micoplasma pode se manter em forma latente, dentro das clulas. Quando ocorre um
estado de debilidade do organismo, ocasionado de forma espontnea ou por presses
ambientais, como a presena de antimicrobianos no tecido dos hospedeiros, este pode se
manifestar (RAZIN; YOGEV; NAOT, 1998).
2.3.3 Caractersticas da doena
Os micoplasmas podem ser transmitidos por aerossis, atravs da cpula, transmisso
vertical pelo ovo, por contgio direto com outras aves ou indireto por meio de pessoas, rao,
gua e fmites. Dhondt et al. (2007) sugeriram que os comedouros para as aves de vida livre
poderiam ser fonte de contaminao de Mg para os pssaros.
42
O perodo de incubao da doena pode variar entre seis (06) e 21 dias
(NASCIMENTO; PEREIRA, 2009).
O Mg responsvel pela doena crnica respiratria em galinhas e pela infeco por
sinusite em perus (LEY, 2008). Nas aves de produo, causa a reduo do ganho de peso, a
diminuio da eficincia da converso alimentar, o aumento da taxa de mortalidade e o
aumento da condenao das carcaas (MACHADO et al., 2012). Em reprodutoras e aves de
postura, a doena pode causar uma diminuio da produo de ovos e o aumento da
mortalidade embrionria (NASCIMENTO et al., 2005; LEY, 2008).
Os sinais clnicos causados pela infeco por Mg so caracterizados pelo
comprometimento do sistema respiratrio, sendo que estes podem variar desde um edema
facial, at as secrees em traqueia, estertores em sacos areos. As leses anatomopatolgicas
exibem exsudatos aderidos parede da traqueia, acmulo de material caseoso em pulmes,
congesto e hemorragia pulmonar. Pode ocorrer tambm salpingite, perihepatite e pericardite,
resultando na condenao da carcaa em abatedouros (ISLAM, 2011).
A infeco crnica das vias areas inferiores na DRC (Doena Respiratria Crnica)
ocasiona morbidade e mortalidade, principalmente, em aves que esto concomitantemente
infectadas com outros vrus e bactrias (SILVA et al., 2008; ISLAM, 2011).
Nas infeces por Ms o sistema locomotor acometido, com edema articular em
membros plvicos, resultando em formao calosa na regio peitoral pelo apoio constante
desta regio. Ms pode ocasionar tambm aerossaculite, porm de forma assintomtica. A
queda na produo de ovos pode estar associada tanto a Mg como a Ms (NASCIMENTO;
PEREIRA, 2009; SILVA et al, 2008; ISLAM et al., 2011).
Mg e Ms podem ser diagnosticados por vrias tcnicas como a necropsia, o cultivo
bacteriano, e testes sorolgicos para se determinar a presena de anticorpos especficos ou
PCR (TIMENETSKY, 2009).
A heterogeneidade antignica pode comprometer os exames sorolgicos, uma vez que
as cepas utilizadas como antgenos podem no ser capazes de detectar os anticorpos induzidos
por Mg atpicos que estejam circulando no campo. Dificulta tambm a eficcia de novas
vacinas que possam induzir proteo contra diferentes isolados de campos (METTIFOGO;
BUIM, 2009).
Geralmente, a concentrao de anticorpos circulantes pode estar relacionada com a
reduo da gravidade das leses, porm no de forma eficaz, sendo sugerido que a proteo
pode ocorrer, principalmente, pela resposta local de IgG e IgA (YAGIHASHI; TAJIMA,
1986; ELLAKANY et al., 1998).
43
Os micoplasmas so sensveis maioria dos desinfetantes comuns (amnia
quaternria, compostos iodados, fenlicos, lcool). Assim como, aos antimicrobianos que
interferem na sntese dos aminocidos, cidos nuclicos e metabolismo dos lipdios, no
entanto, mostram resistncia a penicilina (LEY, 2008; KLEVEN, 2003; METTIFOGO;
BUIM, 2009). Christensen et al. (1994) demonstraram que Mg, Ms e M. iowae sobreviveram
nas penas de aves por dois (02) a quatro (04) dias e Mg foi capaz de permanecer no cabelo
por trs (03) dias, comprovando a resistncia destas bactrias fora do hospedeiro.
As cepas vacinais podem induzir s leses em aves expostas, o que tem acontecido
principalmente com vacinas vivas. O uso de antibiticos potentes como tetraciclinas,
macroldeos, quinolonas e tiamulina podem comprometer o diagnstico etiolgico de Mg e
Ms pela reduo da resposta imunolgica e dificuldade de isolamento bacteriano e deteco
por PCR (NASCIMENTO et al., 2005).
A instruo normativa n 44 de 23/08/2001 do PNSA, determina as medidas de
monitoramento da micoplasmose causada por Mg, Ms e Mm nas granjas de reproduo
(linhagens puras, bisavs e avs), produo de aves e de ovos frteis, de galinhas e perus.
Granjas que realizam o comrcio ou a transferncia nacional e internacional de seus produtos
destinados reproduo e produo de aves e ovos frteis. No caso do comrcio
internacional, os estabelecimentos avcolas devem estar certificados como livres de
micoplasmose aviria (Mg, Ms e Mm). A referida instruo normativa ainda prev a mesma
conduta para os estabelecimentos avcolas de matrizes de perus, entretanto, para matrizes de
galinhas, estabelece apenas aes de vigilncia para M. synoviae (BRASIL, 2009).
2.4 EXAMES LABORATORIAIS
2.4.1 Exames sorolgicos
Os mtodos sorolgicos so ferramentas laboratoriais de grande importncia na
medicina aviria, uma vez que possibilita o diagnstico de doenas e a monitoria do plantel
avcola. Esta deve fazer parte de um programa de monitoramento e preveno na indstria
avcola, pois os resultados podero contribuir para que medidas de segurana sejam instaladas
de forma a impedir que uma infeco se espalhe no plantel (SANTOS, 2009).
O monitoramento sorolgico de lotes de aves gera informaes sobre a prevalncia da
enfermidade pesquisada e permite avaliar a resposta imunolgica das vacinas que so usadas
44
(BERMUDEZ; STEWART-BROWN, 2003). Existe uma variedade de reaes sorolgicas
que podem ser utilizadas, de acordo com os objetivos da pesquisa diagnstica pretendida.
O programa de monitoria vlido quando um nmero adequado de amostras
avaliado e quando as anlises so realizadas durante um perodo de tempo. Desta forma,
possvel correlacionar o ttulo obtido com os problemas associados s criaes avcolas
(INOUE; CASTRO, 2009).
Diante das situaes de desafio, a deteco de anticorpos no soro torna-se possvel
entre uma a trs semanas aps a exposio ao agente infeccioso. Assim, a coleta pareada de
amostras obtidas tanto na fase aguda como na fase de convalescncia, so essenciais para o
diagnstico de uma enfermidade. Os resultados de uma nica coleta de soro apenas indicam
que o lote foi exposto ao agente infeccioso em algum momento da sua vida (INOUE;
CASTRO, 2009).
A utilizao de reaes para a triagem, seguidas de reaes para a confirmao do
agente so determinantes para o sucesso do diagnstico.
A reao de triagem deve apresentar elevada sensibilidade, baixo custo, alta
velocidade de processamento e possibilidade de automatizao. Os casos positivos devem ser
submetidos confirmao com testes que apresentem maior especificidade diagnstica,
maiores custos, baixa velocidade de processamento e impossibilidade de automatizao
(RITCHTZENHAIM; SOARES, 2007).
Os exames mais utilizados nos diagnsticos sorolgicos em aves de produo e
preconizados pelo MAPA consistem na soroaglutinao rpida em placa (SAR), inibio da
hemaglutinao (HI) e ensaio imunoenzimtico (ELISA). A sensibilidade e especificidade
apresentam variaes entre estes ensaios (LUCIANO et al., 2011). A presena de reao falso
positivo decorre da variao dos antgenos utilizados na preparao do teste e daqueles
encontrados nas cepas de campo, afetando a sensibilidade do teste sorolgico na dependncia
da prova utilizada (FEBERWEE et al., 2005, ASGHARZADE et al., 2012).
2.4.1.1 Soroaglutinao rpida em placa (SAR)
A soroaglutinao rpida em placa qualitativa, sensvel e de especificidade varivel.
utilizada na triagem para a pesquisa de ttulos contra Mg e Ms. Esta apresenta baixo custo e
de fcil execuo, ou seja, pode ser realizada em qualquer local, sem a necessidade de um
laboratrio (CARDOSO, 2009; SANTOS, 2009).
45
A reao de aglutinao envolve a interao entre partculas insolveis (bactria) que
contm os determinantes antignicos em sua superfcie e imunoglobulinas que apresentam, no
mnimo, dois stios de combinao ao antgeno. Quando ocorrem concentraes ideais destes
reagentes existir a formao de grumos ou reao de aglutinao positiva
(RITCHTZENHAIM; SOARES, 2007).
uma prova de eleio para a triagem de infeces por Salmonella spp. e
Mycoplasma spp.(CARDOSO, 2009). No entanto, a dificuldade na produo de antgenos
especficos pode resultar em reao falso positiva, sendo necessria uma prova
comprobatria.
Para Mg e Ms, os ttulos maiores ou iguais a 1:10 so considerados positivos, 1:5 so
considerados suspeitos e abaixo de 1:5 so considerados negativos (LUCIANO et al., 2011).
2.4.1.2 Reao de Inibio da Hemaglutinao (HI)
As glicoprotenas (hemaglutininas) de superfcie de alguns agentes infecciosos se
ligam a receptores mucopolissacardeos de membranas encontrados em eritrcitos, ocorrendo
a hemaglutinao. No entanto, para que ocorra esse processo necessrio que alm da
especificidade estrutural, o pH, a composio inica do meio e a temperatura estejam
adequados (SANTOS, 2009).
Alguns agentes como o vrus de Newcastle, influenza aviria, bronquite infecciosa,
sndrome da queda de postura, e bactrias como M. gallisepticum, M. synoviae e
Avibacterium paragallinarum apresentam a capacidade de hemaglutinao. Esta prova tem a
finalidade de titular a presena de anticorpos no soro que inibem a ao destes agentes
hemaglutinantes (CARDOSO, 2009).
O teste de HI uma prova sorolgica menos sensvel e mais especfica do que a
soroaglutinao rpida em placa e apesar de ser uma tcnica amplamente utilizada, pode no
detectar no teste, variantes antignicos que diferem das cepas usadas como antgeno
(FEBERWEE et al., 2005).
No caso de infeces por Mg pode-se considerar que ttulos iguais ou maiores que
1:80 so positivos, entre 1:20 e 1:40 so considerados suspeitos e abaixo de 1:20 so
negativos (LUCIANO et al. , 2011).
46
2.4.1.3 Ensaio imunoenzimtico (ELISA)
O teste ELISA foi desenvolvido nos anos 70, sendo utilizado incialmente na medicina
humana e posteriormente na medicina animal (SANTOS, 2009).
Esta reao utiliza um anticorpo marcado com uma enzima, que apresenta
especifidade ao fragmento Fc de uma imunoglobulina. Este anticorpo denominado de
conjugado. A enzima presente no conjugado reage com seu substrato e cromgeno,
produzindo cor. A intensidade de cor medida em espectofotmetro e quando esta intensa
indica que ocorreu uma reao entre o antgeno e o anticorpo (CARDOSO, 2009; SANTOS,
2009). Esta prova pode ser muito sensvel ou muito especfica, ou ambos na dependncia de
cada teste (CARDOSO, 2009). ELISA indireto usado para a deteco de anticorpos
presentes em um soro sanguneo. Neste ensaio, antgenos especficos so adsorvidos em pH
alcalino a uma fase slida (microplaca de poliestireno, com 96 cavidades). O antgeno
excedente removido atravs de lavagens e adicionado o soro no qual se quer detectar a
presena de anticorpos. Novas lavagens so realizadas para a retirada do excesso de
anticorpos e o conjugado adicionado. Novamente a placa lavada para a remoo do
conjugado e o substrato cromgeno so acrescentados para que se determine a concentrao
de anticorpos especficos presentes no soro sanguneo (RITCHTZENHAIN; SOARES, 2007;
SANTOS, 2009).
Assim como, na reao de inibio da hema