Upload
others
View
7
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
1
Índice
Resumo---------------------------------------------------------------------------------------------2
Abstract---------------------------------------------------------------------------------------------3
Introdução------------------------------------------------------------------------------------------4
Material e Métodos-------------------------------------------------------------------------------9
Resultados-----------------------------------------------------------------------------------------10
Discussão------------------------------------------------------------------------------------------21
Conclusão------------------------------------------------------------------------------------------24
Lista de Abreviaturas-----------------------------------------------------------------------------25
Bibliografia----------------------------------------------------------------------------------------26
Agradecimentos-----------------------------------------------------------------------------------30
Anexo-------------------------------------------------------------------------------------------31
2
Resumo
Introdução: A Lesão Renal Aguda (LRA) é uma complicação comum e grave em
doentes em estado crítico. O grupo de estudo da LRA Acute Dialysis Quality Initiative
(ADQI) publicou a classificação “Risk, Injury, Failure, Loss of kidney function, End-
stage kidney disease” (RIFLE). Posteriormente, foi publicada uma nova classificação,
proposta pelo grupo Acute Kidney Injury Network (AKIN).
Objectivos: Avaliação da incidência da LRA, definida e estratificada pelas
classificações RIFLE e AKIN e o seu impacto na mortalidade. Avaliar o impacto que
um valor elevado de creatinina basal poderá ter na estratificação de gravidade no SOFA
“Sequential Organ Failure Assessment”.
Material e Métodos: Análise prospectiva de doentes internados no Serviço de
Cuidados Intensivos 1 do Centro Hospitalar do Porto, com mais de 5 dias de
internamento.
Resultados: A classificação RIFLE 0,974 (IC a 95% de 0,941 a 1) foi mais sensível e,
mais específica que a AKIN 0,899 (IC a 95% de 0,835 a 0,963) ao detectar LRA.
Relativamente à mortalidade, RIFLE 0,500 (IC a 95% de 0,300 a 0,701) e AKIN 0,577
(IC a 95% de 0,397 a 0,758), a acuidade foi semelhante. Demonstrou-se uma fraca
correlação entre o SOFA e valores elevados de creatinina.
Conclusão: A classificação RIFLE apresentou melhor acuidade quando comparada à
classificação AKIN, ao detectar a presença de LRA. As duas classificações
apresentaram acuidade semelhante ao prever a mortalidade. Observamos uma fraca
correlação entre o SOFA e valores elevados de creatinina.
Palavras Chave: RIFLE, AKIN, Lesão Renal Aguda, Creatinina Sérica, Diurese,
Terapia de Substituição da Função Renal.
3
Abstract
Introduction: Acute Kidney Injury (AKI) is a serious and common complication in
critically ill patients. The study group of LRA Acute Dialysis Quality Initiative (ADQI)
published the rating of "Risk, Injury, Failure, Loss of kidney function, End-stage kidney
disease" (RIFLE). It was later published a new classification proposed by the group
Acute Kidney Injury Network (AKIN).
Objectives: To review the incidence of AKI, defined and stratified by the RIFLE and
AKIN classifications and their impact on mortality. Assess the impact that a large
amount of baseline creatinine may have to stratify the severity of the SOFA "Sequential
Organ Failure Assessment."
Methods: Prospective analysis of patients admitted in the Intensive Care Service 1,
Hospital Santo António, with more than 5 days of hospitalization.
Results: The classification RIFLE 0,974 (95% CI 0,941 to 1) was more sensitive and
more specific than AKIN 0,899 (95% CI 0,835 to 0,963) to detect AKI. For mortality,
RIFLE 0,500 (95% CI 0,300 to 0,701) and 0,577 AKIN (95% CI 0,397 to 0,758), the
accuracy was similar. They demonstrated a weak correlation between the SOFA and
elevated creatinine.
Conclusion: The classification RIFLE has better accuracy when compared to AKIN
classification, to detect the presence of AKI. The two classifications showed similar
accuracy in predicting mortality. We observed a weak correlation between the SOFA
and elevated creatinine.
Key Words: RIFLE, AKIN, Acute Kidney Injury, Serum Creatinine, Urinary Output,
Renal Replacement Therapy.
4
Introdução
A designação LRA é relativamente recente, tendo sido primeiramente designada
por ischuria renalis (1). No início do séc. XX passou a ser conhecida como doença de
Bright aguda. Em meados do séc. XX passa então a ser conhecida como Insuficiência
Renal Aguda (IRA), até 2004, quando passa a haver consenso sobre os critérios de
diagnóstico ou definição clínica da LRA, havia pelo menos 35 definições da mesma na
literatura médica (2). Estas variam desde critérios de perda da função renal, tais como
um aumento de 25% do valor basal da creatinina sérica (CrS) até à necessidade de
Terapia de Substituição da Função Renal (TSFR).
A falta de uma definição uniforme de LRA tornou difícil a comparação dos
resultados entre diferentes estudos e populações (3) e, foi ainda responsável pela
ausência do progresso terapêutico neste domínio (4).
Taxas de incidência e mortalidade relatadas variam amplamente na literatura,
com uma incidência entre 1 a 31% e uma mortalidade entre 28 a 82% (5). Esta ampla
variação deve-se não só à diferença entre grupos de doentes não comparáveis, existentes
nos diferentes estudos, como também aos diferentes critérios utilizados para definir a
LRA.
De um modo geral, a Lesão Renal Aguda é definida como uma diminuição
súbita e sustentada da função renal que causa alterações do equilíbrio ácido-base e
hidro-eletrolítico, assim como a retenção de produtos resultantes do metabolismo do
azoto (6).
Trata-se de uma complicação comum e grave em doentes em estado crítico (7 -
9), Doentes com LRA têm um tempo de internamento prolongado nas Unidades de
Cuidados Intensivos (UCI) (8), com uma elevada taxa de mortalidade, mesmo com a
melhoria da TSFR (8). Esta elevada taxa de mortalidade que ainda se verifica na
5
actualidade está em grande medida associada ao facto de que os doentes internados em
UCI serem mais idosos e mais debilitados (8), sendo a LRA muitas vezes parte de uma
síndrome de falência multiorgânica (10). Mesmo assim a sua existência é referenciada
em vários estudos como um fator de risco independente para mortalidade, mesmo após
ajuste para a demografia, a gravidade da doença ou outros fatores relevantes (5).
Recentemente vários estudos têm demonstrado que mesmo um aumento mínimo
da CrS tem um impacto importante sobre o risco de mortalidade, morbilidade e no custo
hospitalar (11 - 13). Por esta razão, o termo IRA foi recentemente substituído por LRA,
tal como definido pelos critérios RIFLE (ver abaixo) (14).
O grupo de estudo da LRA, ADQI, composto por nefrologistas e intensivistas
publicou pela primeira vez em 2004 na revista Critical Care, os critérios da
classificação RIFLE (15).
A definição da LRA teria que obedecer a vários requisitos: fácil aplicação
clínica, ser sensível e específica, considerar CrS basal e implementar classificações para
a doença renal crónica (DRC) agudizada. Esta classificação deveria ser capaz de detetar
doentes cuja função renal estivesse ligeiramente afectada (alta sensibilidade mas com
especificidade limitada) e doentes com alterações graves da função renal (alta
especificidade mas com diminuição da sensibilidade). A classificação RIFLE baseia-se
na determinação da CrS e do débito urinário e considera 3 classes de gravidade da LRA
(Risk, Injury, Failure) e, duas classes de outcome (Loss of kidney function e End-stage
kidney disease) (15). Os critérios (CrS e/ou débito urinário) que permitem classificar o
doente de acordo com a classe de maior gravidade (RIFLE máximo) deverão ser os
considerados.
Para definir a LRA, a deterioração da função renal deverá ser súbita (1 a 7 dias)
e mantida (mais de 24 horas). A classe R (Risk) é definida pelo aumento da CrS basal
6
igual ou superior a 50%, ou pela diminuição da taxa de filtração glomerular (TFG) basal
superior a 25%, ou por um débito urinário menor que 0.5 mL/kg/h durante pelo menos 6
horas; a classe I (Injury) é definida pelo aumento da CrS basal igual ou superior a 100%
ou pela diminuição da TFG basal superior a 50%, ou por um débito urinário menor que
0.5 mL/kg/h durante pelo menos 12 horas; a classe F (Failure) é definida pelo aumento
da CrS basal igual ou superior a 200% ou pela diminuição da TFG basal superior a
75%, ou por um débito urinário menor que 0.3 mL/kg/h durante pelo menos 24 horas ou
por anúria durante pelo menos 12 horas. Nos doentes com uma CrS basal maior que 4
mg/dL, a classe F é, também, definida por um aumento da CrS superior a 0.5 mg/dL
(Tabela 1).
Classificação RIFLE TFG Diurese
Risk ↑ CrS X 1.5
ou ↓ TFG > 25%
< 0.5 mL/kg/h X 6h
Injury ↑ CrS X 2
ou ↓ TFG > 50%
< 0.5 mL/kg/h X 12h
Failure ↑ CrS X 3
ou ↓ TFG > 75%
ou se CrS basal ≥ 4 mg/dL
↑ CrS > 0.5 mg/dL
< 0.3 mL/kg/h X 24h
ou anúria X 12h
Loss Perda completa da função
renal > 4 semanas
End-stage kidney disease Doença renal terminal > 3
meses
Tabela 1: Para a conversão da creatinina sérica (CrS) expressa em unidades
convencionais em unidades ST multiplica-se por 88.4. A variação TFG é calculada de
7
acordo com a variação da CrS em relação ao seu valor basal. Quando a CrS basal é
desconhecida e não há história conhecida de doença renal crónica, a CrS basal é
calculada de acordo com a fórmula Modification of Diet in Renal Disease (MDRD)
(16), assumindo-se uma TFG de 75 mL/min/1.73m2.
A classificação RIFLE foi validada em mais de 550.000 paciente em todo o
mundo, e o artigo original destes critérios foi visto mais de 170.000 vezes (1). Foi ainda
demonstrada a estreita correlação entre os Critérios RIFLE e a mortalidade (15, 17, 18).
Posteriormente, em 2007, é publicada na revista Critical Care (19) uma versão
modificada da classificação RIFLE, proposta pelo grupo AKIN, composto por
nefrologistas, intensivistas e outros especialistas em LRA. Nesta nova classificação não
é necessário o valor basal da CrS, sendo, no entanto, necessários pelo menos 2 valores
da CrS obtidos num período de 48 horas. A LRA é definida pela redução súbita (em 48
horas) da função renal, que é definida pelo aumento absoluto da CrS igual ou superior a
0.3 mg/dL, ou pelo aumento percentual da CrS igual ou superior a 50% (1.5 vezes o
valor basal), ou pela diminuição da diurese (oligúria documentada de menos de 0.5
mL/kg/h durante mais de 6 horas); a classe R passa a corresponder ao estadio 1, mas
inclui, também, o aumento absoluto da CrS igual ou superior a 0.3 mg/dL; as classes I e
F passam a corresponder, respectivamente, aos estadios 2 e 3; o estadio 3 inclui,
também, os doentes com LRA que necessitem de TSFR independentemente do estadio
em que se encontrem no início da mesma; as duas classes de outcome (Loss of kidney
function e Endstage kidney disease) foram retiradas da classificação (19) (Tabela 2).
8
Estadio CrS Débito Urinário
1 ↑ CrS ≥ 0.3 mg/dL ou
↑ CrS ≥ 150 a 200%
(1.5 a 2 X)
< 0.5 mL/kg/h (> 6h)
2 ↑ CrS > 200 a 300%
(> 2 a 3 X)
< 0.5 mL/kg/h (> 12h)
3ª ↑ CrS > 300%
(> 3 X)
ou se CrS basal ≥ 4.0
mg/dL
↑ CrS ≥ 0.5 mg/Dl
< 0.3 mL/kg/h (24h)
ou anúria (12h)
Tabela 2: Classificação/sistema de estadiamento da LRA (19) elaborados a partir da
classificação RIFLE. a: doentes que necessitem de (TSFR) são considerados como
pertencendo ao estadio 3 independentemente do estadio em que se encontrem no início
da mesma.
Para além da inclusão da TSFR como um critério específico, a classificação
AKIN também procedeu á eliminação da fórmula MDRD.
Com estas classificações pretendia-se avaliar as variações agudas da função
renal, permitindo-nos, de maneira uniforme, avaliar o seu impacto na mortalidade, na
morbilidade e no custo hospitalar. Pretendia-se também que tivesse um papel
preponderante para delinear uma estratégia terapêutica adequada, nomeadamente quanto
ao início de uma TSFR.
Com este estudo pretende-se a avaliação da incidência da LRA, definida e
estratificada de acordo com as classificações RIFLE e AKIN e o seu impacto na
9
mortalidade. É frequente em cuidados intensivos avaliar o grau de disfunção ou falência
de um órgão pelo score de gravidade SOFA e, tendo em conta que este score não
descrimina agudizações de lesões renais crónicas procedeu-se também á avaliação do
impacto que um valor elevado de creatinina basal poderá ter para a estratificação de
gravidade no SOFA renal.
Material e Métodos
Procedeu-se a um estudo prospectivo, durante 3 meses, em doentes internados
mais de 5 dias no Serviço de Cuidados Intensivos (SCI) 1 (nas áreas intensiva e
intermédia) do Hospital de Santo António, Centro Hospitalar do Porto.
Idade, género, tipo de internamento, peso corporal, sépsis, definida pela presença
de infecção no actual internamento, índice de gravidade SOFA e a evolução clínica dos
doentes foram obtidos a partir da base de dados informatizada Sistema de Apoio
Médico (SAM) e do processo clínico dos doentes.
A LRA foi definida com base nos critérios RIFLE (Tabela 1) e AKIN (Tabela
2). Os doentes foram estratificados nas 3 classes RIFLE de gravidade da LRA (classe R,
classe I e classe F), e nos 3 estadios AKIN (estadio 1, 2 e 3) de acordo com a CrS e o
débito urinário.
O SOFA foi o score utilizado para avaliar a gravidade geral do doente e foi
calculado nos dias 1, 3 e 5 do internamento com base nos valores de PaO2/FiO2,
noradrenalina administrada, bilirrubina, plaquetas, escala de coma de Glasgow, e
creatinina sérica.
A mortalidade avaliada foi a mortalidade no SCI.
10
Os doentes renais crónicos em hemodiálise e os doentes transplantados renais
foram excluídos da análise.
Em 11 doentes (10,58%) não foi possível obter a CrS, pelo que em 9 destes
doentes a CrS basal foi calculada de acordo com a fórmula Modification of Diet in
Renal Disease (MDRD) (16).
As variáveis contínuas são expressas em média ± desvio padrão, e as variáveis
quantitativas em percentagem de número de casos (%).
A acuidade prognóstica das classificações RIFLE e AKIN foram avaliadas pela
curva area under the Receiver Operator Characteristic (ROC).
A análise estatística foi efectuada com o software Statistical Package for Social
Sciences (SPSS) versão 20.0 para o Windows.
Resultados
No total, foram avaliados 104 doentes, com idade média: 66,49±14,763 anos,
maioritariamente do género masculino (56,7%), SOFA médio 1º dia 4,92 ± 3,101, 3º dia
5,18±2,951, 5º dia 4,41 ± 2,911, tiveram sépsis 51,9% dos doentes internados e, ocorreu
uma taxa de mortalide de 11,5%.
O RIFLE máximo e o AKIN máximo foram definidos com base em ambos os
critérios CrS e débito urinário.
Segundo a classificação RIFLE 55 (52,88%) doentes apresentam LRA, destes 18
(32,72%) na classe R, 25 (45,45%) na classe I, 12 (21,81%) na classe F. 49 (47,1%)
doentes não apresentaram LRA. (Tabela 3).
11
RIFLE/CrS/Diurese
Frequência Percentagem Percentagem
Válida
Percentagem
cumulativa
Válido
Sem
LRA 49 47,1 47,1 47,1
R 18 17,3 17,3 64,4
I 25 24,0 24,0 88,5
F 12 11,5 11,5 100,0
Total 104 100,0 100,0
Tabela 3
Aplicando-se os critérios da classificação AKIN, diagnosticou-se LRA em 48
(46,15%) doentes, destes, 22 (45,83%) doentes no estadio 1, 19 (39,58%) doentes no
estadio 2 e 7 (14,58%) doentes no estadio 3. Em 56 (53,8%) doentes não foi
diagnosticada LRA (Tabela 4).
12
Akin/CrS/Diurese
Frequência Percentagem Percentagem
Válida
Percentagem
cumulativa
Válido
Sem
LRA 56 53,8 53,8 53,8
1 22 21,2 21,2 75,0
2 19 18,3 18,3 93,3
3 7 6,7 6,7 100,0
Total 104 100,0 100,0
Tabela 4
A classificação RIFLE diagnosticou um maior número de doentes com LRA em
relação à classificação AKIN, sendo que no estadio 1 (21,2%) a classificação AKIN
detectou mais doentes com LRA do que a RIFLE na classe R (17,3%), mas comparando
as classes com maior grau de gravidade, a classificação RIFLE detectou uma maior
percentagem de doentes face à classificação AKIN: I (24%) 2 (18,3%); F (11,5%) 3
(6,7%).
Ao analisar separadamente a LRA com o valor da CrS, da diurese e da CrS +
diurese temos os seguintes resultados (Tabela 5):
13
CrS c Diurese CrS + Diurese
RIFLE
Sem LRA 75% 64,4% 47,1%
R 8,7% 12,5% 17,3%
I 6,7% 21,2% 24%
F 9,6% 1,9% 11,5%
Qualquer Classe 25% 35,6% 52,8%
AKIN
Sem LRA 82,7% 64,4% 53,8%
1 12,5% 12,5% 21,2%
2 2,9% 18,3% 18,3%
3 1,9% 4,8% 6,7%
Qualquer Classe 17,3% 35,6% 46,2%
Tabela 5
A CrS permitiu calcular o RIFLE máximo em 25% e o AKIN máximo em 17,3%
dos doentes, já o débito urinário detectou o RIFLE e o AKIN máximos em 35,6% dos
doentes.
4,8% dos doentes foram submetidos a TSFR, sendo que a necessidade foi maior
nas classes de maior gravidade F (80%) e estadio 3 (100%) respectivamente.
Analisando as curvas ROC para a avaliação de LRA em ambas as classificações
RIFLE e AKIN, verificamos que a classificação RIFLE 0,974 (IC 95% 0,941 - 1) é mais
especifica que a classificação AKIN 0,899 (IC 95% 0,835 - 0,963) ao detectar LRA e,
tem também maior capacidade descriminativa (Fig. 1).
14
Fig. 1
A curva ROC para o diagnóstico de LRA, usando apenas os valores de CrS, nas
classificções RIFLE e AKIN, foi respectivamente O,724 (IC 95% 0,627- 0,821) e 0,637
(IC 95% 0,531 - 0,742), revelando a classificação RIFLE maior especificidade e maior
capacidade descriminativa. (Fig. 2).
15
Fig. 2
A curva ROC para o diagnóstico de LRA, recorrendo exclusivamente à diurese,
para as duas classificações foi sobreponível, 0,891 (IC a 95% de 0,736 a 0,901),
indicando que as duas classificações têm a mesma acuidade para diagnosticar LRA,
tendo acuidade superior, quando comparada à mesma análise usando os valores da CrS.
(Fig. 3).
16
Fig. 3
Analisando taxa de mortalidade, de acordo com o RIFLE máximo, houve um
aumento da mortalidade de acordo com a gravidade da LRA (R 0%, I 8% e F 25%) mas,
a taxa de mortalidade total dos doentes com LRA (10,20%) foi ligeiramente inferior à
taxa de mortalidade para os doentes sem LRA (12,73%).
Analisando o AKIN máximo, verificamos aqui que a taxa de mortalidade não
aumentou de forma linear à medida que a LRA agravou (estadio 1: 17,39%, estadio 2:
0%, estadio 3: 42%) mas houve uma diferença significativa na taxa de mortalidade entre
os doentes com LRA (14,58%) e sem LRA (8,93%).
17
Usando-se isoladamente os critérios CrS, verificamos que aplicados os critérios
RIFLE temos na classe R (0%), na classe I (22,22%) e na classe F (20%). Aplicando os
critérios AKIN encontra-se uma taxa de mortalidade de 46,15% no estadio 1, 0% no
estadio 2 e, 50% no estadio 3. Quando analisamos a taxa de mortalidade recorrendo
exclusivamente à diurese, temos pela classificação RIFLE 0% nas classes R e I e, 50%
na classe F. Com a classificação AKIN: 0% nos estádios 1 e 2 e, 40% no estadio 3.
As curvas ROC de mortalidade para o RIFLE (Fig. 4) e AKIN máximos (Fig. 5)
foi respectivamente 0,500 (IC 95% 0,300 - 0,701) e 0,577 (IC 95% 0,397 - 0,758),
mostrando que nesta amostra a acuidade das duas classificações foi semelhante.
Fig. 4
18
Fig. 5
A curva ROC da mortalidade hospitalar, quando usada exclusivamente a CrS e,
aplicando as classificações RIFLE e AKIN (Fig. 6) é respectivamente: 0,561 (IC 95%
0,375 - 0,746) e 0,726 (IC 95% 0,553 - 0,898), mostrou haver maior capacidade
descriminativa na classificação AKIN, mas a especificidade foi semelhante em ambas
as classificações.
19
Fig. 6
A curva ROC de mortalidade usando apenas a diurese, para a classificação
RIFLE (Fig. 7): 0,362 (IC 95% 0,204 - 0,519) e para a classificação AKIN: 0,422 (IC
95% 0,242 - 0,602), demonstrou maior capacidade descriminativa pela classificação
AKIN, mas maior especificidade pela classificação RIFLE.
20
Fig. 7
Ao avaliar o impacto que um valor elevado de creatinina basal poderá ter para a
estratificação de gravidade no SOFA renal e, recorrendo à correlação de Pearson,
obtivemos os seguintes resultados: 1º dia 0,377 no 3º 0,425 e no 5º dia 0,693. Isto
demonstra uma fraca correlação entre o SOFA e valores elevados de creatinina no 1º e
no 3º dia e, uma correlação moderada no 5º dia, que pode ser explicado, em contexto de
cuidados intensivos, pela administração de diurético e, por muitos doentes já terem um
valor prévio à admissão de CrS elevado.
21
Quando avaliamos a presença de sépsis, nos doentes com RIFLE e AKIN
máximos, verificamos que na classificação RIFLE, na classe R 55,56% dos doentes têm
sépsis, estes com 0% de mortalidade, na classe I 56% dos doentes apresenta-se com
sépsis e estes apresentam 13,3% de mortalidade, na classe F 66,67% dos doentes tem
sépsis e, estes com 37,5% de mortalidade. Pela classificação AKIN, temos 68,2% dos
doentes no estadio 1 com sépsis, estes com 26% de mortalidade, 68,4% dos doentes no
estadio 2 com sépsis e, estes com 0% de mortalidade, 42% dos doentes no estadio 3
apresenta-se com sépsis, com 100% de mortalidade. Isto sugere que na classificação
RIFLE a mortalidade nos doentes com sépsis aumentou com o aumento da gravidade da
LRA, esta distribuição na classificação AKIN já não teve uma distribuição linear..
Discussão
A validade de qualquer classificação para LRA depende do facto da mesma ser
capaz de distinguir entre a função renal normal e diferentes fases do LRA, ter de
critérios fáceis de determinar e ter propriedades prognósticas (4).
A classificação RIFLE apresenta, no entanto, algumas limitações sendo a mais
importante a necessidade da presença de um valor basal de CrS. Para ultrapassar esta
limitação, o grupo ADQI propôs a utilização da equação MDRD (16). Por outro lado, a
avaliação da função renal através da determinação da CrS apresenta algumas limitações
tais como a produção endógena e a libertação sérica da creatinina são variáveis, sendo
influenciadas por múltiplos factores, entre os quais a idade, o género, a dieta, a massa
muscular e a patologia. Por último classificação RIFLE não contempla a etiologia da
LRA nem a necessidade de TSFR.
22
A classificação AKIN, que tinha como principal objectivo, melhorar a
sensibilidade e especificidade dos critérios para definir e classificar a LRA apresenta
algumas diferenças em relação à RIFLE (19). Nesta não é necessário o valor basal da
CrS, mas são, no entanto, necessários pelo menos 2 valores da CrS obtidos num período
de 48 horas sendo a LRA definida pela redução súbita (em 48 horas) da função renal.
Estas modificações basearam-se na evidência de que pequenos aumentos da CrS estão
associados a um agravamento do prognóstico, e pretendia-se homogeneizar a elevada
variabilidade de recursos e de indicação para o início de TSFR existentes nos diferentes
países e hospitais.
No entanto, apesar da classificação AKIN poder, teoricamente, apresentar uma
maior capacidade descriminativa e especificidade diagnóstica, relativamente à
classificação RIFLE, essas vantagens ainda não foram comprovadas.
Estudos demonstraram que dentro de cada estadio de LRA, a mortalidade na
UCI foi significativamente maior em doentes com valores de CrS a subir quando
comparados a doentes com LRA mas com os níveis séricos de CrS a descer (20).
Neste estudo, a aplicação de diferentes critérios (CrS, Diurese e ambas) para as
classificações RIFLE e AKIN de LRA aos mesmos doentes mostrou diferentes
incidências de LRA.
Para além de demonstrar uma elevada incidência de LRA nesta Unidade de
Cuidados Intensivos, confirmamos que os critérios destas classificações para
diagnosticar o RIFLE e o AKIN máximos, foram capazes de identificar uma
percentagem significativa de doentes com LRA. No entanto a classificação RIFLE
apresenta uma maior sensibilidade diagnóstica em relação à classificação AKIN como
tem sido de igual modo demonstrado em estudos realizados anteriormente, (14, 21) não
se tendo observado diferenças estatisticamente significativas no que se refere à
23
capacidade de prever a mortalidade no doente crítico, em ambas as classificações, à
semelhança de estudos anteriores (3, 9, 21 - 24).
Quando analisados separadamente os valores CrS e diurese no diagnóstico de
LRA, verificou-se que à semelhança de outros estudos houve maior sensibilidade
quando se recorreu ao uso da diurese isoladamente (18, 25 - 27).
Verificamos ainda que o SOFA, sendo um índice que avalia a gravidade da lesão
de vários órgãos, apresenta uma correlação fraca a moderada com a CrS ao avaliar a
LRA.
A sépsis é um fator que contribui para a LRA (9, 28 - 30), verificamos também
nesta amostra, uma alta prevalência de LRA nos doentes com sépsis. Em estudos
anteriores, foi observada uma incidência variável (10 – 50%) (28 - 31).
O nosso estudo apresenta como principal limitação o número reduzido da
amostra, o que impossibilitou a análise de outras variáveis clínicas e/ou laboratoriais
com implicações na epidemiologia da LRA. Não foi também avaliado qual o impacto da
precocidade no início da técnica, da dose e da modalidade de TSFR selecionada, para o
prognóstico destes doentes.
24
Conclusão
É frequente a ocorrência de LRA em doentes internados em unidades de
cuidados intensivos. Este estudo veio evidenciar que a classificação RIFLE apresenta
uma boa acuidade quando comparada à classificação AKIN, ao detectar a presença de
LRA.
As duas classificações apresentaram acuidade semelhante ao prever a
mortalidade dos doentes internados nesta unidade de cuidados intensivos.
Observamos uma correlação fraca a moderada entre o SOFA e valores elevados
de creatinina, sendo este um dos muitos argumentos que existem na actualidade para a
necessidade de se proceder a uma reformulação dos Indices de SOFA.
25
Lista de Abreviaturas
ADQI Acute Dialysis Quality Initiative
AKIN Acute Kidney Injury Network
CrS creatinina Sérica
DRC Doença Renal Crónica
IRA Insuficiência Renal Aguda
LRA Lesão Renal Aguda
MDRD Modification of Diet in Renal Disease
RIFLE Risk, Injury, Failure, Loss of kidney function, End-stage kidney disease
ROC area under the Receiver Operator Characteristic
SOFA Sequential Organ Failure Assessment
SPSS software Statistical Package for Social Sciences
TSFR Terapia de Substituição da Função Renal
UCI Unidade de Cuidados Intensivos
26
Bibliografia
1 - Eknoyan G: Emergence of the concept of acute renal failure. Am J Nephrol. 2002;
22: 225–230.
2 - Kellum JA, Levin N, Bouman C, Lameire N: Developing a consensus classification
system for acute renal failure. Curr Opin Crit Care. 2002; 8: 509–514.
3– Lopes JA, Fernandes P, Jorge S, Gonçalves S, Alvarez A, Silva ZC, et al. Acute
kidney injury in intensive care unit patients: a comparison between the RIFLE and the
Acute Kidney Injury Network classifications Critical Care. 2008; 12(4):R110.
4 - Osterman M, Chang RWS. Challenges of defining acute kidney injury. Q J Med.
2011; 104:237–243.
5 - Cruz DN, Ricci Z, Ronco C. Clinical review: RIFLE and AKIN – time for
reappraisal. Critical Care. 2009; 13:211.
6 - Nissenson AR. Acute renal failure: definition and pathogenesis. Kidney Int. 1998;
66: S7-S10.
7 - Andrikos E, Tseke P, Balafa O, Cruz DN, Tsinta A, et al. 2009; Epidemiology of
acute renal failure in ICUs: a multi-center prospective study. Blood Purif 28: 239–244.
8 – Chang CH, Lin CY, Tian YC, Jenq CC, Chang WY, Chen YC, et al. Acute Kidney
Injury Classification: Comparison of AKIN and RIFLE. Shock. 2010; 33 (3): 247Y252.
9 - Bagshaw MS, George, C Bellomo R. A comparison of the RIFLE and AKIN criteria
for acute kidney injury in critically ill patients Nephrol Dial Transplant. 2008; 23:
1569–1574.
10 - Ostermann M, Chang RW. Acute kidney injury in the intensive care unit according
to RIFLE. Crit Care Med. 2007; 35: 1837–1843.
27
11 - Chertow GM, Burdick E, Honour M, Bonventre JV, Bates DW: Acute kidney
injury, mortality, length of stay, and costs in hospitalized patients. J Am Soc Nephrol.
2005; 16: 3365–3370.
12 - Lassnigg A, Schmidlin D, Mouhieddine M, Bachmann LM, Druml W, Bauer P,
Hiesmayr M: Minimal changes of serum creatinine predict prognosis in patients after
cardiothoracic surgery: a prospective cohort study. J Am Soc Nephrol. 2004; 15: 1597–
1660.
13 - S. S. Waikar, K. D. Liu, and G. M. Chertow. Diagnosis, epidemiology and
outcomes of acute kidney injury. Clinical Journal of theAmerican Society of
Nephrology. vol. 3, no. 3, pp. 844–861, 2008.
14 – Srisawat N, Hoste EEA, Kellum AJ. Modern Classification of Acute Kidney
Injury. Blood Purif. 2010; 29:300–307.
15 - Bellomo R, Ronco C, Kellum JA, Mehta RL, Palevsky P and the ADQI workgroup.
Acute renal failure – definition, outcome measures, animal models, fluid therapy and
information technology needs: the Second International Consensus Conference of the
Acute Dialysis Quality Initiative (ADQI) Group. Crit Care. 2004; 8: R204- R212.
16 - Manjunath G, Sarnak MJ, Levey AS. Prediction equations to estimate glomerular
filtration rate: an update. Curr Opin Nephrol Hypertens. 2001; 10: 785-792.
17 - Abosaif NY, Tolba YA, HeapMet al. The outcome of acute renal failure in the
intensive care unit according to RIFLE: model application, sensitivity, and
predictability. Am J Kidney Dis. 2005; 46: 1038–1048.
18 - Ricci Z, Cruz D, Ronco C. The RIFLE criteria and mortality in acute kidney injury:
a systematic review. Kidney Int. 2008; 73: 538–546.
28
19 - Mehta RL, Kellum JA, Shah SV, Molitoris BA, Ronco C, Warnock DG, et al.
Acute Kidney Injury Network. Acute Kidney Injury Network: report of an initiative to
improve outcomes in acute kidney injury. Crit Care. 2007; 11: R31.
20 - Ostermann M, Chang R, and the Riyadh ICU Program Users Group. Correlation
between the AKI classification and outcome. Crit Care. 2008; 12:R144.3.
21 – Ando M , Mori J, Ohashi K, Akiyama H, MoritoT, Tsuchiya K, et al. A
comparative assessment of the RIFLE, AKIN and conventional criteria for acute kidney
injury after hematopoietic SCT. Bone Marrow Transplantation. 2010; 45 (9): 1427–
1434.
22 - Joannidis M, Jordan B, Bauer G, Druml W, Metnitz P: Comparison of RIFLE
versus AKIN for classification of acute kidney injury [abstract]. Intensive Care Med
2007, 33 (Suppl 2): S98.
23 – Zappitelli M, Parikh CR, Akcan-Arikan A, Washburn KK, Moffett BS, Goldstein
SL. Ascertainment and epidemiology of acute kidney injury varies with definition
interpretation. Clinical Journal of the American Society of Nephrology. 2008; 3, (4):
948–954.
24 – Lassnigg A, Schmid ER, Hiesmayr H et al. Impact of minimal increases in serum
creatinine on outcome in patients after cardiothoracic surgery: do we have to revise
current definitions of acute renal failure? Critical Care Medicine. 2008; 36 (4): 1129–
1137.
25 – Joannidis M, Metnitz B, Bauer P et al. Acute kidney injury in critically ill patients
classified by AKIN versus RIFLE using the SAPS 3 database. Intensive CareMedicine.
2009; 35 (10): 1692–1702.
29
26 – Hoste EA, Clermont G, Kersten A et al. RIFLE criteria for acute kidney injury are
associated with hospital mortality in critically ill patients: a cohort analysis. Crit Care
2006; 10: R73.
27 - Hoste EA, Kellum JA. Acute kidney injury: epidemiology and diagnostic criteria.
Curr Opin Crit Care. 2006b; 12: 531-537.
28 - Yegenaga I, Hoste E, Van Biesen W, Vanholder R, Benoit D, Kantarci G, et al.
Clinical characteristics of patients developing ARF due to sepsis/systemic inflammatory
response syndrome: results of a prospective study. Am J Kidney Dis 2004; 43: 817-824
29- Vincent JL, Sakr Y, Sprung CL, Ranieri VM, Reinhart K, Gerlach H, et al. Sepsis
Occurrence in Acutely Ill Patients Investigators. Sepsis in European intensive care
units: results of the SOAP study. Crit Care Med. 2006; 34: 344-353
30 - Oppert M, Engel C, Brunkhorst FM, Bogatsch H, Reinhart K, Frei U, et al. Acute
renal failure in patients with severe sepsis and septic shock a significant independent
risk factor for mortality: results from the German Prevalence Study. Nephrol Dial
Transplant. 2008; 23: 904-909
31 -Bagshaw SM, Uchino S, Bellomo R, Morimatsu H, Morgera S, Schetz M, et al.
Septic acute kidney injury in critically ill patients: clinical characteristics and outcomes.
Clin J Am Soc Nephrol. 2007; 2: 431-439
30
Agradecimentos
Ao Dr. Aníbal Marinho pela orientação, ajuda e disponibilidade.
Ao Pedro, por me acompanhar em todos os momentos e, por todo o apoio, sem o
qual não seria possível a realização desta dissertação.
Aos meus Pais, por torcerem tanto por mim, mesmo quando esta tese era ainda
um projecto
Ao Dr. Álvaro Silva pela ajuda com o SPSS.
Ao Nuno Costa por toda a ajuda.
Por fim, mas não menos importante, ao Guilherme, por estar sempre presente.
31
Anexo