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Universidade Federal de São João Del-Rei
Programa de Pós-Graduação em Tecnologias para o Desenvolvimento Sustentável
Avaliação da qualidade das águas do Alto Rio Maranhão e do
EIA/RIMA de um empreendimento minerário adjacente
(Estudo de caso)
CAROLINA BASTOS CABRAL
Ouro Branco - MG
Julho de 2013
i
Universidade Federal de São João Del-Rei
Campus Alto Paraopeba
Programa de Pós-Graduação em Tecnologias para o Desenvolvimento Sustentável
Avaliação da qualidade das águas do Alto Rio Maranhão e do
EIA/RIMA de um empreendimento minerário adjacente
(Estudo de caso)
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Tecnologias para o Desenvolvimento Sustentável da Universidade Federal de São João del-Rei como requisito parcial para do Título de Mestre.
Mestranda: Carolina Bastos Cabral
Orientadora: Profª. Drª. Ana Maria de Oliveira
Co-orientador: Prof. Dr. Heraldo Nunes Pitanga
Ouro Branco - MG
Julho de 2013
ii
CAROLINA BASTOS CABRAL
Avaliação da qualidade das águas do Alto Rio Maranhão e do
EIA/RIMA de um empreendimento minerário adjacente
(Estudo de caso)
Banca Examinadora
Profª. Drª. Ana Maria de Oliveira – UFSJ – Orientadora
__________________________________________________________
Prof. Dr. Luiz Gustavo Martins da Silva – UFSJ
__________________________________________________________
Prof. Dr. Sérgio Francisco de Aquino - UFOP
Julho de 2013
iii
Dedico este trabalho à minha amada família, em especial ao André e aos meus pais.
iv
AGRADECIMENTOS
Agradeço, primeiramente e sempre, a Deus, por me guiar no meu
caminho, sempre me abençoando, por colocar na minha vida pessoas tão especiais,
e por permitir que possamos viver em um planeta tão lindo, com tantas belezas
naturais.
Aos meus orientadores, Ana Maria e Heraldo, por todo apoio e
compreensão, por acreditarem em mim, por dividirem comigo seus conhecimentos,
pelos “puxões de orelha” e por terem sido os melhores orientadores que alguém
pode ter.
Ao meu marido, André, pelo amor, amizade, companheirismo, incentivo,
apoio, carinho, paciência e compreensão... enfim, por estar ao meu lado. Sem ele,
teria sido impossível a realização do mestrado.
À minha família, em especial, meus pais, pelo incentivo e carinho, e aos
meus sobrinhos, Arthur, Rafaela, Thiago, Gabriela, Davi e Manuela, por existirem.
Aos meus amigos, em especial Thete, Nanda, Filipe e Pavê, por
entenderem as minhas ausências e por estarem sempre ao meu lado.
Às minhas meninas lindas, Ana Cristina e Taís, pela amizade, pelo
“ombro amigo”, pela diversão e pelos conhecimentos de química analítica e
instrumental. Sem elas, esse trabalho seria impraticável!
À Elisa e Samyra, pela amizade e solidariedade na “batalha” do mestrado.
À Universidade Federal de São João del-Rei e ao Programa de Pós-
Graduação em Tecnologias para o Desenvolvimento Sustentável pela oportunidade.
Aos laboratórios de Química Instrumental, Microbiologia e Enzimologia e
de Engenharia Química, por permitirem o uso de seus equipamentos.
À FAPEMIG, por patrocinar a minha pesquisa com a bolsa de estudos.
v
À Universidade Federal de Viçosa, pelo fornecimento de alguns
reagentes.
À Universidade Federal de Ouro Preto, em especial à Professora Dra.
Roberta E. Santos Froes Silva e à aluna de iniciação científica Priscila Talita
Fernandes pelo uso do Espectrômetro de Absorção Atômica e ao Professor Dr.
Sérgio Francisco Aquino pelo treinamento nas análises de DBO.
Aos professores e amigos Maurício Coutrim, Wilson Guerra e Marco
Antônio Tourinho Furtado, pela ajuda e força.
Aos professores do PPGTDS, em especial, Enio, Marcel, Luiz, Rogério,
Ana Cláudia, Sandra, Marcelo, Telde, Edson e Renata, pela transmissão de
conhecimentos.
À Nina Botelho, arquivista do órgão ambiental que tão prontamente e
atenciosamente me atendeu.
Ao Sr. Nélio Niquini e sua família, por permitir nossa entrada em seu
terreno, onde foram realizadas as coletas das amostras.
À COPASA (ETE de Conselheiro Lafaiete), pelo fornecimento do lodo
necessário para as análises de DBO.
Ao Sr. Miguel, morador do Bairro Plataforma, pela atenção e carinho.
Aos amigos e colegas Débora, Fellipe e Michelle, pelo incentivo.
Aos meus anjinhos de quatro patas Harry, Potter e Lilica, pela companhia
constante e alegre e pelos momentos de distração e alegria, principalmente quando
o “stress” e a tensão “apertavam”.
vi
RESUMO
Na cidade de Congonhas/MG existem grandes empresas mineradoras de
ferro, cujos projetos de expansão e aumento de produção causam apreensão em
relação ao Alto Rio Maranhão, pois este recebe influências tanto da área urbana,
quanto de mineradoras de ferro instaladas em sua bacia. Por isso, o presente estudo
visou analisar a qualidade das águas do Rio Maranhão, verificando as alterações de
sua qualidade que pudessem estar associadas, direta e indiretamente, à mineração
de ferro, bem como comparar o conteúdo do EIA da expansão de uma mineradora,
no que se refere ao cumprimento das exigências legais. Para tal, a coleta das
amostras foi realizada mensalmente durante 09 meses, em três pontos, sendo que
amostragem realizada conforme o Standard Methods for the examination of water
and wastewater. Foi verificado que o Rio Maranhão já se encontra extremamente
antropizado em razão das atividades industriais instaladas na sua bacia e ausência
de tratamento de esgoto na cidade de Congonhas, com violações nos parâmetros:
ferro dissolvido, manganês total, óleos e graxas, fenóis, DBO e oxigênio dissolvido,
sendo que, ao receber a influência da mineradora adjacente, percebe-se,
principalmente, um aumento nas concentrações dos metais ferro e manganês. O EIA
e o RIMA foram analisados à luz da legislação pertinente e do termo de referência,
sendo observada a ausência de algumas informações legalmente exigidas nos
documentos. Assim, diante disso e das modificações observadas no corpo d’água,
foi proposta uma modificação no termo de referência de atividades mineradoras,
para que seja considerado, na elaboração do EIA/RIMA, o enquadramento do rio, o
minério a ser explorado, e a região em que será instalado o empreendimento. Além
disso, diante do fato das modificações na qualidade das águas estarem atreladas ao
crescimento populacional decorrente da expansão industrial da Região do Alto
Paraopeba, foi sugerido um estabelecimento de parceria entre as indústrias mínero-
siderúrgicas e o poder público municipal para construção de ETE (estação de
tratamento de esgoto), como forma de condicionante para licenciamentos
ambientais.
Palavras chave: Qualidade das águas. Mineração de ferro. Estudo de Impacto
Ambiental. Termo de referência.
vii
ABSTRACT
In the city of Congonhas/MG there are large iron mining companies whose
projects of expansion and increase in production raise concerns over the Maranhão
River, because this is influenced both the urban area as the iron ore mining. In this
sense, the present study aimed to analyze the water quality of the Maranhão River,
checking its quality changes that might be associated, directly and indirectly, to the
mining of iron, as well as comparing the contents of the EIA/RIMA of an expansion of
one mining company in regard to complying with applicable laws, ascertaining
whether the alterations were prevised. The sample collection was performed
monthly, for 09 months, in three points, and the sample was in triplicate, following the
guidelines of Standard Methods for the examination of water and wastewater. It was
verified that the Rio Maranhão is intensely anthropized because of the industrial
activities installed in its basin and the lack of sewage treatment in Congonhas, with
violations of the parameters dissolved iron, total manganese, oil and grease,
phenols, BOD and dissolved oxygen, and, on receiving the influence of mining
adjacent it is noticed mostly an increase in the concentrations of the metals iron and
manganese. The EIA/RIMA were analyzed in the light of relevant legislation and the
terms of reference, and has been observed that some information legally required,
not included in the documents. Besides, on the fact that the changes in water quality
being linked to population growth resulting from industrial expansion of the Alto
Paraopeba region, it was suggested establishment of partnership between the mining
and steel industries and the municipal public power to build STP (sewage treatment
plant) as a form of conditioning for environmental permits.
Keywords: Quality of water. Iron mining. Environmental Impact Study. Terms of
reference.
viii
LISTA DE SIGLAS E ABREVIAÇÕES
ANA – AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS
ANOVA – ANALYSES OF VARIANCE - ANÁLISE DE VARIÂNCIA
APHA – AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION – ASSOCIAÇÃO
AMERICANA DE SAÚDE PÚBLICA
CERH – CONSELHO ESTADUAL DE RECURSOS HÍDRICOS
CSN – COMPANHIA SIDERÚRGICA NACIONAL
CETESB – COMPANHIA AMBIENTAL DO ESTADO DE SÃO PAULO
CODAP – CONSÓRCIO PÚBLICO PARA O DESENVOLVIMENTO DO ALTO
PARAOPEBA.
CONAMA – CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE
COPAM – CONSELHO ESTADUAL DE POLÍTICA AMBIENTAL
CT – CONTAMINAÇÃO POR TÓXICOS
DBO – DEMANDA BIOQUÍMICA DE OXIGÊNIO
DNPM – DEPARTAMENTO NACIONAL DE PESQUISA MINERAL
EIA – ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL
FAPEMIG – FUNDAÇÃO DE AMPARO À PESQUISA DO ESTADO DE MINAS
GERAIS
FEAM – FUNDAÇÃO ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE
IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA
IBRAM – INSTITUTO BRASILEIRO DE MINERAÇÃO
IGAM – INSTITUTO MINEIRO DE GESTÃO DAS ÁGUAS
INMET – INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA
ix
IQA – ÍNDICE DE QUALIDADE DAS ÁGUAS
NSF – NATIONAL SANITATION FOUNDATION – FUNDAÇÃO SANITÁRIA
NACIONAL
OD – OXIGÊNIO DISSOLVIDO
ONU – ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS
PCA – PRINCIPAL COMPONENTS ANALYSIS (ANÁLISE DE COMPONENTES
PRINCIPAIS)
PIB – PRODUTO INTERNO BRUTO
PNRH – POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS
RIMA – RELATÓRIO DE IMPACTO AMBIENTAL
ROM – RUN OF MINE
SEMAD – SECRETARIA DE ESTADO DE MEIO AMBIENTE E
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
SISEMA – SISTEMA ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS
STD – SÓLIDOS TOTAIS DISSOLVIDOS
WWF – WORLD WILD FOUNDATION (FUNDAÇÃO PARA A VIDA SELVAGEM)
x
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 - Esquema de beneficiamento de minério de ferro. ................................... 6
FIGURA 2 - Principais impactos ambientais na água, ar e solo causados pela
atividade mineradora em geral. ................................................................................... 9
FIGURA 3 - Esquema das principais estruturas de uma mina (à céu aberto) com
ênfase na sua relação com os corpos d'água. .......................................................... 10
FIGURA 4 - Panorama geral da área de estudo com a localização do Rio Maranhão
em relação à barragem de rejeitos, ao Córrego Casa de Pedra e à cidade de
Congonhas. ............................................................................................................... 22
FIGURA 5 - Localização dos três pontos amostrais (P1, P2, P3). ............................ 24
FIGURA 6 - Sonda multiparamétrica usada na determinação de oxigênio dissolvido,
turbidez, sólidos totais dissolvidos e pH nas amostras de água do Rio Maranhão. .. 30
FIGURA 7 - Precipitação diária registrada na estação meteorológica de Ouro
Branco/MG. Em vermelho, as datas de coleta das amostras. ................................... 35
FIGURA 8 - Variação da concentração de ferro total nas amostras de água coletadas
em vários pontos do Alto Rio Maranhão, entre os meses de julho de 2012 a março
de 2013. Símbolos seguidos pela mesma letra não apresentam médias
estatisticamente diferentes entre si, de acordo com o teste de Tukey, ao nível de
95% de confiança. ..................................................................................................... 39
FIGURA 9 - Variação da concentração de ferro dissolvido nas amostras de água
coletadas em vários pontos do Alto Rio Maranhão, entre os meses de julho de 2012
a março de 2013. Símbolos seguidos pela mesma letra não apresentam médias
estatisticamente diferentes entre si, de acordo com o teste de Tukey, ao nível de
95% de confiança. ..................................................................................................... 40
FIGURA 10 - Variação da concentração de manganês total nas amostras de água
coletadas em vários pontos do Alto Rio Maranhão, entre os meses de julho de 2012
a março de 2013. Símbolos seguidos pela mesma letra não apresentam médias
estatisticamente diferentes entre si, de acordo com o teste de Tukey, ao nível de
95% de confiança. ..................................................................................................... 44
FIGURA 11 - Variação da concentração de manganês dissolvido nas amostras de
água coletadas em vários pontos do Alto Rio Maranhão, entre os meses de julho de
2012 a março de 2013. Símbolos seguidos pela mesma letra não apresentam
xi
médias estatisticamente diferentes entre si, de acordo com o teste de Tukey, ao
nível de 95% de confiança. ....................................................................................... 45
FIGURA 12 - Variação da turbidez nas amostras de água coletadas em vários
pontos do Alto Rio Maranhão, entre os meses de julho de 2012 a março de 2013.
Símbolos seguidos pela mesma letra não apresentam médias estatisticamente
diferentes entre si, de acordo com o teste de Tukey, ao nível de 95% de confiança.
.................................................................................................................................. 47
FIGURA 13 – Variação na concentração de sólidos totais dissolvidos nas amostras
de água coletadas em vários pontos do Alto Rio Maranhão, entre os meses de julho
de 2012 a março de 2013. Símbolos seguidos pela mesma letra não apresentam
médias estatisticamente diferentes entre si, de acordo com o teste de Tukey, ao
nível de 95% de confiança. ....................................................................................... 49
FIGURA 14 – Variação da concentração de óleos e graxas nas amostras de água
coletadas em vários pontos do Alto Rio Maranhão, entre os meses de julho de 2012
a março de 2013. Símbolos seguidos pela mesma letra não apresentam médias
estatisticamente diferentes entre si, de acordo com o teste de Tukey, ao nível de
95% de confiança. ..................................................................................................... 51
FIGURA 15 - Variação da concentração de fenóis nas amostras de água coletadas
em vários pontos do Alto Rio Maranhão, entre os meses de julho de 2012 a março
de 2013. Símbolos seguidos pela mesma letra não apresentam médias
estatisticamente diferentes entre si, de acordo com o teste de Tukey, ao nível de
95% de confiança. ..................................................................................................... 55
FIGURA 16 - Variação da concentração de DBO nas amostras de água coletadas
em vários pontos do Alto Rio Maranhão, entre os meses de julho de 2012 a março
de 2013. Símbolos seguidos pela mesma letra não apresentam médias
estatisticamente diferentes entre si, de acordo com o teste de Tukey, ao nível de
95% e confiança. ....................................................................................................... 58
FIGURA 17 - Variação da concentração de oxigênio nas amostras de água
coletadas em vários pontos do Alto Rio Maranhão, entre os meses de julho de 2012
a março de 2013. Símbolos seguidos pela mesma letra não apresentam médias
estatisticamente diferentes entre si, de acordo com o teste de Tukey, ao nível de
95% de confiança. ..................................................................................................... 60
xii
FIGURA 18 - Variação da temperatura nas amostras de água coletadas em vários
pontos do Alto Rio Maranhão, entre os meses de julho de 2012 a março de 2013.
Símbolos seguidos pela mesma letra não apresentam médias estatisticamente
diferentes entre si, de acordo com o teste de Tukey, ao nível de 95% de confiança.
.................................................................................................................................. 62
FIGURA 19 - Variação da temperatura nas amostras de água coletadas em vários
pontos do Alto Rio Maranhão, entre os meses de julho de 2012 a março de 2013.
Símbolos seguidos pela mesma letra não apresentam médias estatisticamente
diferentes entre si, de acordo com o teste de Tukey, ao nível de 95% de confiança.
.................................................................................................................................. 63
FIGURA 20 - Gráfico biplot resultante da análise de componentes principais de todos
os parâmetros de qualidade da água analisados durante o período do estudo, além
da precipitação 48 H antes de cada coleta e precipitação total. Onde: FeT – ferro
total; FeD – ferro dissolvido; MnT – manganês total; MnD – manganês dissolvido;
OG – óleos e graxas; Fen – fenóis; OD – oxigênio dissolvido; DBO – demanda
bioquímica de oxigênio; temp – temperatura; STD – sólidos totais dissolvidos; Prec –
precipitação (48 H); Prec total – precipitação total. ................................................... 65
FIGURA 21 - Gráfico biplot resultante da análise de componentes principais de todos
os parâmetros de qualidade da água do Alto Rio Maranhão analisados para o Ponto
P1 (a), P2 (b) e P3 (c), além da precipitação 48 H antes de cada coleta e
precipitação total, ao nível de 95% de confiança. Onde: FeT – ferro total; FeD – ferro
dissolvido; MnT – manganês total; MnD – manganês dissolvido; OG – óleos e
graxas; Fen – fenóis; OD – oxigênio dissolvido; DBO – demanda bioquímica de
oxigênio; temp – temperatura; STD – sólidos totais dissolvidos; Prec – recipitação (
48 H); Prec total – precipitação total. ........................................................................ 66
Figura 22 - Localização do Córrego Casa de Pedra em relação à barragem de
rejeitos e ao Rio Maranhão. A seta amarela aponta para a interseção ..................... 75
xiii
LISTA DE QUADROS E TABELAS
QUADRO 1 - Localização e descrição dos pontos amostrais ................................... 23
QUADRO 2 - Formas de preservação das amostras de água de rio conforme
parâmetro a ser determinado .................................................................................... 25
QUADRO 3- – Indicadores de demografia da Região do Alto Paraopeba ................ 53
QUADRO 4 - Parâmetros violados em cada trimestre dos anos de 2012 e 2011 ..... 71
TABELA 1 - Correlação entre os parâmetros monitorados, estabelecida pela PCA ao
nível de 95% de confiança ........................................................................................ 65
xiv
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 1
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................. 3
2.1 Importância da Mineração .............................................................................. 3
2.2 Mineração: conceito e fases ........................................................................... 4
2.3 Impactos ambientais associados à mineração de ferro.................................. 7
2.4 Mineração e sustentabilidade ambiental da mineração................................ 11
2.5 Legislação mineral e ambiental pertinente ................................................... 13
2.6 Congonhas e a mineração ........................................................................... 19
3 MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................................. 22
3.1 Local do estudo e pontos de amostragem ................................................... 22
3.2 Coleta, estocagem e preservação das amostras de água ........................... 24
3.3 Monitoramento da qualidade das águas do Rio Maranhão .......................... 25
3.3.1 Demanda Bioquímica de Oxigênio (Método DBO5) ............................... 26
3.3.2 Óleos e graxas (Método da partição gravimétrica) ................................ 27
3.3.3 Ferro total e dissolvido, manganês total e dissolvido. ............................ 28
3.3.4 Fenóis .................................................................................................... 28
3.3.5 Oxigênio dissolvido, pH, sólidos totais dissolvidos, turbidez e
temperatura ........................................................................................................ 29
3.3.6 Testes estatísticos ................................................................................. 30
3.3.7 Precipitação pluviométrica ..................................................................... 31
3.4 Análise do EIA/RIMA .................................................................................... 32
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ........................................................................ 34
4.1 Precipitação pluviométrica ........................................................................... 34
4.2 Análise da qualidade das águas do Rio Maranhão ...................................... 35
4.2.1 Ferro total e dissolvido ........................................................................... 37
xv
4.2.2 Manganês total e dissolvido .................................................................. 43
4.2.3 Turbidez ................................................................................................. 46
4.2.4 Sólidos totais dissolvidos ....................................................................... 48
4.2.5 Óleos e graxas....................................................................................... 50
4.2.6 Fenóis .................................................................................................... 54
4.2.7 Demanda Bioquímica de Oxigênio ........................................................ 57
4.2.8 Oxigênio Dissolvido ............................................................................... 59
4.2.9 Temperatura e pH .................................................................................. 61
4.2.10 Análise de componentes principais (PCA) ......................................... 64
4.2.11 Comparação com os dados do IGAM................................................. 69
4.3 Análise do EIA/RIMA .................................................................................... 73
5 CONCLUSÕES ................................................................................................... 86
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 89
1
1 INTRODUÇÃO
A mineração é uma atividade econômica extremamente importante para a
humanidade, e, apesar de ser fonte geradora de renda, empregos e matéria-prima, é
capaz de causar impactos ambientais de enorme monta. Nas águas, os impactos
ambientais causados pela atividade mineradora podem alterar sua qualidade de tal
forma que possibilita a descaracterização da classificação do corpo hídrico e, em
consequência, os seus usos pretendidos. Com o crescimento e expansão das
atividades mineiras, a preocupação com os recursos hídricos se torna ainda maior,
já que a pressão sobre estes aumenta, e a possibilidade de danos é ainda maior.
O Brasil é um país que possui vastas reservas minerais, tendo destaque
neste cenário o Estado de Minas Gerais, particularmente, o Quadrilátero Ferrífero,
que abriga inúmeras reservas, principalmente de minério de ferro. A expansão da
exploração de minério de ferro nesta região é facilmente perceptível e anunciada
pelos veículos de comunicação, com perspectivas de aumento de renda, de
empregos e, consequentemente, da população.
A região do Alto Paraopeba, inserida dentro do Quadrilátero Ferrífero, tem
sido chamada de o novo Eldorado Brasileiro, isso porque a previsão de
investimentos nas indústrias mineradora e siderúrgica, nela abrigadas, é altíssima.
Nesse cenário, destaca-se a cidade de Congonhas/MG, que possui grandes
empresas mineradoras, as quais possuem projetos de expansão e de aumento de
sua produção.
Diante disso, o Rio Maranhão, que corta a cidade e passa adjacente às
mineradoras, pode estar em risco, pois a pressão sobre ele pode ser além da sua
capacidade de recuperação (resiliência), e, por consequência, há o risco de
alteração da sua qualidade e classificação.
Assim, para evitar que impactos ambientais ocorram com a instalação e
operação das atividades mineiras (e mitigação dos danos que não podem ser
evitados), a legislação ambiental brasileira exige que seja realizado o Estudo de
Impacto Ambiental (EIA) e o respectivo Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) dos
2
empreendimentos minerários devem ser confeccionados com o devido respeito às
determinações legais, seguindo um termo de referência, que determinará o seu
conteúdo mínimo.
O EIA/RIMA se apresentam como instrumentos de gestão ambiental, pois
é a partir deles que será determinado o posicionamento dos órgãos ambientais e
das pessoas afetadas diante dos planos de instalação ou expansão das empresas,
devendo, pois, dar especial destaque à questão da qualidade das águas.
Ocorre que os termos de referência aplicáveis à mineração em Minas
Gerais são muito genéricos, não considerando o bem minerado e as particularidades
locais, o que pode causar problemas na elaboração de EIA/RIMA: excesso de dados
que não são realmente pertinentes e ausência de outros que seriam importantes
para o posicionamento dos interessados no licenciamento dos empreendimentos.
Por essa razão, o presente estudo tem por objetivo analisar possíveis
alterações na qualidade das águas do Alto Rio Maranhão que possam estar
associadas à mineração de ferro na cidade de Congonhas/MG, verificando, também,
se ocorreu previsão para impactos no corpo hídrico no EIA/RIMA de uma
mineradora de ferro localizada adjacente ao rio e a conformidade destes
instrumentos com a legislação pertinente e o termo de referência aplicável.
Como objetivos específicos do presente trabalho citam-se:
Analisar parâmetros de qualidade da água em um trecho do Alto
rio Maranhão que sofre influência de uma mineradora de ferro,
ao longo dos meses de julho de 2012 a março de 2013 e
verificar a adequação desses parâmetros à legislação ambiental
pertinente;
Analisar a adequação legal do EIA/RIMA e verificar se houve
previsão para possíveis alterações nos referidos parâmetros e
as tecnologias descritas para monitorar, recuperar ou restaurar
danos ambientais no corpo hídrico;
Analisar o Termo de Referência para confecção de EIA de
mineração e propor alternativas de mudança no tocante a um
instrumento mais direcionado à mineração de ferro.
3
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 Importância da Mineração
A atividade mineradora é uma das atividades mais antigas exercidas pelo
homem. Ela é tão importante e fundamental para a humanidade que a história da
civilização adota suas diferentes modalidades como marco divisório de suas eras:
idade da pedra lascada (período paleolítico), idade da pedra polida (neolítico) e
idade dos metais (cobre, bronze e ferro) (FERREIRA, 2012).
Atualmente, a essencialidade dos bens minerais repousa no fato de que
inúmeros produtos indispensáveis são feitos a partir de matérias-primas provindas
da exploração mineral (como automóveis, telefones e computadores), que
aprimoram e mantêm a qualidade de vida do homem, e sem os quais seria
impossível manter a modernidade e a tecnologia (MENDONÇA, 2012).
Além disso, a atividade mineradora é responsável pela geração de
empregos diretos e indiretos e de tributos (FLORES e LIMA, 2012), sendo, dessa
forma, uma atividade importante sob o ponto de vista social e econômico.
Neste sentido, o Brasil tem posição de destaque, figurando entre os dez
maiores produtores minerais no mundo, sendo que a estimativa é que o valor da
produção mineral brasileira tenha atingido US$ 51 bilhões em 2012, o que
corresponde a um crescimento de 900% quando comparado ao ano de 2002.
(IBRAM, 2012).
No que tange às reservas de minério de ferro no Brasil, estas são da
ordem de 29,6 bilhões de toneladas (com um teor médio de 52,95% de ferro) e estão
localizadas, em sua quase totalidade, no estado de Minas Gerais (79,7% das
reservas e teor médio de 51,4% de ferro) (DNPM, 2012; IBRAM, 2012), que teve a
4
sua história de desenvolvimento atrelada às atividades de mineração, figurando
como o principal estado produtor de minério de ferro do país (MENDONÇA, 2012).
O Estado é responsável por mais da metade da produção mineral
nacional (69,1%), com destaque para a região do Quadrilátero Ferrífero, importante
estância mineral que abriga não só importantes reservas de minério de ferro, mas,
também reservas de ouro, calcário, bauxita, manganês, argila, caulim, etc (DNPM,
2012; IBRAM, 2012; PRADO FILHO e SOUZA, 2004).
Inserido no Quadrilátero Ferrífero está o município de Congonhas/MG,
que diante de seu potencial minerador, com grandes reservas de minério de ferro,
atraiu e atrai grandes empresas do setor mineral, que estão em processo de franca
expansão (CODAP, 2012).
2.2 Mineração: conceito e fases
Mineração é o termo utilizado para a extração e beneficiamento de
minerais que se encontram em estado natural, conferindo-lhes valor econômico,
podendo ser conceituada como sendo a arte de descobrir, avaliar e extrair
substâncias minerais ou fósseis, existentes na superfície ou no interior da Terra,
com o objetivo de aproveitamento econômico dos corpos minerais que se revelarem
jazidas (FLORES, 2006).
A exploração mineral é realizada em várias fases, sendo a primeira o
reconhecimento do local onde se encontra o depósito mineral, que visa delimitar as
zonas de prováveis ocorrências de minerais, compreendendo, assim, o inventário
dos bens minerais e registro em bases cartográficas (BRASIL, 1967).Após o
reconhecimento do local, passa-se a fase de prospecção, em que novas pesquisas
de exploração são feitas, utilizando métodos geológicos, geoquímicos ou geofísicos,
com o escopo de localizar e delimitar as possíveis jazidas, baseando-se em
5
diferentes fontes primárias de informações, tais como a literatura, mapeamento e
reconhecimento geológico, correlações estratigráficas, informações de terceiros e
outros (FLORES, 2006).
Assim, se a área demonstrar potencial mineral a ser explorado, passa-se
à fase de exploração com a abertura de trincheiras e poços para pesquisas mais
detalhadas da base e das formações geológicas e aquisição de amostras para
análises químicas. A partir dos dados obtidos, é analisada a viabilidade técnica e
econômica da jazida, que, sendo comprovada, dá início aos estudos de
sequenciamento de lavra, definição dos processos de beneficiamento do minério e
estudos de implantação (RIPLEY et al., 1996).
A lavra é a extração controlada dos recursos minerais, que, no caso do
minério de ferro, pode ser feita através de processos mecânicos ou com utilização
de explosivos (MENDONÇA, 2012). Nesta fase, é retirado o estéril (porção mineral
não dotada de valor econômico) que é encaminhado para uma pilha de disposição
controlada, chamada “pilha da estéril”. Assim, inicia-se a retirada do minério em seu
estado bruto (in natura), que é encaminhado para os processos de beneficiamento.
Este minério ganha o nome de ROM (Run of Mine – vindo da mina) (RIPLEY et al.,
1996).
Passa-se, assim, ao beneficiamento, que é definido pela Norma
Regulamentadora de Mineração nº 18, do Departamento Nacional de Pesquisa
Mineral (DNPM), como tratamento que objetiva preparar granulometricamente,
concentrar ou purificar minérios por métodos físicos ou químicos sem que haja
alteração da constituição química dos minerais (DNPM, 2001). Ela se divide em três
subfases: preparação/cominuição, classificação e concentração.
Especificamente para o minério de ferro, as operações de beneficiamento
compreendem, basicamente, as seguintes etapas (CARVALHO, 2012):
Cominuição, que pode ser feita através de britagem e moagem;
Separação por tamanhos, que pode ser feita por peneiramento e
classificação granulométrica;
Concentração, que pode ser gravítica, magnética, eletrostática e
por flotação;
6
Eliminação de parte da água do concentrado, que é feita por
espessamento e filtragem;
Disposição de rejeitos.
A Figura 01 demonstra um esquema resumido do processo de
beneficiamento do minério de ferro.
FIGURA 1 - Esquema de beneficiamento de minério de ferro. Fonte: Autorizado por FIGUEIREDO, 2007.
De acordo com Cabral (2010), na preparação, o minério sofre o processo
de cominuição, tendo o seu tamanho reduzido com o objetivo de produzir partículas
com tamanho e formato pré-determinados e liberar minerais úteis passíveis de
7
concentração. Já na classificação há a separação do minério pelo tamanho das
partículas de acordo com a aplicação industrial.
Após essa fase, passa-se à concentração, em que ocorre a separação do
mineral desejado do não desejado e da ganga, através de processos físico-
químicos. Os métodos mais comuns são a concentração gravítica, a separação
magnética, a ciclonagem e a flotação, sendo estes dois últimos muito comuns na
região do Quadrilátero Ferrífero, que podem ser empregados em separado ou
combinados (CABRAL, 2010). A seleção do método de concentração é baseada
principalmente na assembleia mineralógica (CABRAL, 2010), que vai determinar um
melhor controle de qualidade e o conhecimento do comportamento dos minérios de
ferro nos processos de beneficiamento e metalúrgicos, dependendo, assim, do
conhecimento da análise estrutural detalhada do depósito mineral (TRZASKOS et
al., 2011).
Então, ocorre o espessamento e, ou filtragem que promovem a separação
do material particulado da água, que é, então, recirculada, e o restante, chamado
rejeito, é direcionado para a barragem de rejeitos (FIGUEIREDO, 2007).
2.3 Impactos ambientais associados à mineração de ferro
É fato que a atividade mineradora gera muita riqueza. Contudo a
mineração de ferro também traz uma série de problemas (MILANEZ, 2012) e, com o
aumento das atividades de mineração no Quadrilátero Ferrífero, os impactos
ambientais no meio físico aumentaram muito nos últimos quarenta anos (ROESER e
ROESER, 2010).
Isso se deve ao fato de que, na exploração mineral, os impactos sobre o
meio ambiente estão presentes em todas as fases das atividades, como: sondagens,
8
lavra, deposição de estéreis e, ou rejeitos, beneficiamento e recuperação da área
minerada (IBRAM, 2012).
Os principais distúrbios associados à mineração de ferro podem ser
atribuídos ao método de exploração em cavas a céu aberto, já que as lavras se
desenvolvem pelo sistema de bancadas, sendo que o desmonte das rochas é feito
com explosivos, escavadeiras e o transporte em caminhões fora de estrada,
resultando na emissão de material particulado. Além disso, o beneficiamento a
úmido do minério exige a construção de barragens de rejeitos, para as quais são
destinadas as águas utilizadas nos processos de beneficiamento (MENDONÇA,
2012).
Dessa forma, os efeitos ambientais da extração podem produzir danos à
flora e fauna (incitando a fuga dos animais selvagens), alteração da paisagem, além
do rebaixamento do lençol freático em razão do bombeamento da água (FLORES,
2006; FIGUEIREDO, 2000), sendo, portanto, responsável por sérios danos ao meio
físico durante toda a vida do empreendimento e podendo atingir o solo, o ar e as
águas (FLORES e LIMA, 2012), conforme a Figura 02.
9
FIGURA 2 - Principais impactos ambientais na água, ar e solo causados pela atividade mineradora em geral. Fonte: FLORES, 2006; FIGUEIREDO, 2000; MENDONÇA, 2012.
FASES DA MINERAÇÃO MEIO FÍSICO IMPACTO AMBIENTAL
Pesquisa/Prospecção
Água Allteração da qualidade
Ar Emissão de ruído, poeira e material
particulado
Solo Aceleração de
processos erosivos
Desenvolvimento
Água Carreamento de sólidos, aumento
da turbidez
Ar Emissão de ruído, poeira e material
particulado
Solo Compactação,
erosão
Extração Beneficiamento
Água
Aumento de turbidez, sólidos dissolvidos; alteração pH;
poluição por metais pesados, óleos e graxas e fenóis; aumento da DBO; diminuição de oxigênio
dissolvido; rebaixamento do lençol freático
Ar
Intensa emissão de material particulado e poeira, emissão
de ruído
Solo Compactação,
intensificação dos processos erosivos
10
No que tange às águas, em especial, há uma relação estreita entre os
processos de extração mineral e as instalações da mina e a qualidades das águas,
conforme Figura 3. Isso porque a intensa produção de rejeitos no processo de
beneficiamento pode modificar as condições naturais locais (FIGUEIREDO, 2000,
FLORES E LIMA, 2012), pois contém uma série de potenciais poluentes dos
recursos hídricos, tais como sólidos em suspensão, metais, compostos orgânicos e
óleos.
FIGURA 3 - Esquema das principais estruturas de uma mina (à céu aberto) com ênfase na sua relação com os corpos d'água. Fonte: Autorizado por MENDONÇA, 2012.
Em decorrência disso, vários parâmetros indicadores da qualidade das
águas podem ser alterados e contaminantes podem ser adicionados ao meio, como,
por exemplo, incremento das concentrações de óleos, detergentes, aumento do teor
de metais e sólidos dissolvidos, incremento da turbidez e aumento do nível de
desoxigenação, alteração do pH, criando, assim, condições adversas à biota
aquática. Ainda pode ocorrer poluição do lençol freático e alteração dos cursos dos
rios (BRUM e OLIVEIRA JR, 2000; FLORES e LIMA, 2012).
11
Essa situação é preocupante, já que a água é um elemento de suma e
vital importância à vida no planeta, fazendo parte de incontáveis processos químicos
e biológicos da biota e servindo como alimento, constituição inorgânica e matéria-
prima (MEZOMO, 2009). Dessa forma é necessário uma legislação mais rigorosa no
sentindo de proteção dos mananciais e prevenção dos impactos ambientais.
Por todo o exposto, quando se trata de gestão ambiental, os programas
de monitoramento da qualidade da água também se configuram como um
importante instrumento para gerir os recursos hídricos, uma vez que permite
aumentar a capacidade de prognóstico da qualidade das águas, ajudando, assim na
tomada de decisão gerencial e oferecendo as condições para prever situações de
risco (MORETTO et al., 2012).
2.4 Mineração e sustentabilidade ambiental da mineração
A mineração, em razão da natureza exaurível dos bens minerais e pelas
significativas alterações que provoca no meio ambiente, necessita adequar-se às
novas exigências sustentáveis, ou seja, os empreendimentos minerários devem
internalizar a obrigação de crescer com equilíbrio ambiental (SIMÕES, 2010),
inserido dentro do que é chamado desenvolvimento sustentável.
O termo desenvolvimento sustentável é recente, data de 1987, quando foi
lançado o trabalho Our common future (Nosso futuro comum), também conhecido
como o relatório de Bruntland, que caracterizou o desenvolvimento sustentável como
um conceito político e um conceito amplo para o progresso econômico e social que
era fixado como o desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem
comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias
necessidades (VEIGA, 2010).
12
Esta conceituação tem caráter extremamente antropocêntrico, ou seja,
coloca o homem acima da natureza, e não como parte dela. Contrapondo-se a este
antropocentrismo, aparece o índice da Pegada Ecológica, desenvolvido pelo Fundo
para a Vida Selvagem, que é uma medida de como o consumo pode afetar o meio
ambiente, levando em consideração a produção de alimentos e fibras, o consumo de
energia e o uso humano da terra para espaço de vida e outros fins (DIETZ et al.,
2007).
Assim, quanto maior a exploração do meio ambiente, maior se torna a
marca que se deixa na Terra. O uso excessivo de recursos naturais, o consumismo
exagerado, a degradação ambiental e a grande quantidade de resíduos gerados são
rastros deixados por uma humanidade que ainda se vê fora e distante da natureza
(WWF, 2011).
Diante disso, a ideia atual passa pelo estabelecimento de uma eficiência
econômica, conjugada com a justiça social e a harmonia ambiental, pensando nas
próximas gerações. É uma forma de exploração de recursos, orientação dos
investimentos e os rumos do desenvolvimento ecológico (MAIMON, 1996 apud
CAMARGO, 2003).
O desenvolvimento sustentável pode ser definido, deste modo, como
aquele economicamente viável, socialmente justo e ambientalmente adequado
(SACHS, 2004 apud VIANA, 2012), que estabeleça condições em que todos os
membros da sociedade sejam capazes de determinar e alcançar suas necessidades,
ao mesmo tempo em que haja manutenção da diversidade e qualidade e da
capacidade de dar suporte à vida dos homens e outros seres vivos. Em outras
palavras, as condições humanas e ecológicas são de igual importância, e uma
sociedade sustentável deve alcançar esses dois objetivos conjuntamente (VIANA,
2012).
Diante da já citada natureza exaurível intrínseca do recurso mineral, para
que a mineração possa ser considerada uma atividade sustentável, ela precisa
promover a equidade intra e intergeração, ou seja, a partir da perspectiva da
geração atual, a mineração apenas pode ser considerada sustentável se minimizar
13
os seus impactos ambientais e mantiver certos níveis de proteção ecológica e de
padrões de qualidade ambiental (ENRIQUEZ, 2009).
Isso, no contexto das empresas mineradoras, requer compromisso
contínuo com a melhoria ambiental e socioeconômica, desde a pesquisa e a
operação, até o fechamento da mina (HILSON e MURCK, 2000 apud ENRIQUEZ e
DRUMMOND, 2007).
Portanto, a sustentabilidade ambiental na mineração passa pela busca
por técnicas de exploração mineral menos agressivas ao meio ambiente e pela
recuperação das áreas degradadas, além do aproveitamento dos recursos minerais
de maneira compatível com a preservação dos aspectos ambientais através de
técnicas eficazes que aproveitem ao máximo o minério extraído, diminuindo a
quantidade de rejeitos e, por consequência, a exploração de novas minas, mantendo
os recursos minerais por mais tempo (FLORES e LIMA, 2012).
Diante deste contexto, o Estudo de Impacto Ambiental se mostra como
instrumento de gestão ambiental inserido na busca da sustentabilidade na
mineração, uma vez que o arrolamento das tecnologias menos agressivas de
exploração, os possíveis impactos e a forma de mitigação e a forma de recuperação
do dano ambiental fazem parte de seu conteúdo obrigatório (CONAMA, 1986).
Tudo isso fornece subsídios para que as autoridades tomem ciência e
tenham consciência das vantagens e desvantagens do empreendimento para a
região, viabilizando uma forma de sustentabilidade da atividade minerária,
compatibilizando-a com a qualidade ambiental sustentável (REIS, 2011).
2.5 Legislação mineral e ambiental pertinente
No que tange à atividade mineral, a legislação pertinente inicia-se pelo
Direito Minerário e passa para o Direito Ambiental. O Direito Minerário é um ramo do
14
direito público formado por um conjunto de normas que disciplina a atividade mineira
sob os enfoques preventivo, corretivo e de fomento dos empreendimentos
minerários (POVEDA, 2007).
Como Diploma Legal principal, tem-se o Código de Mineração Brasileiro,
Decreto Lei 227/1967, que regula os direitos sobre as substâncias minerais ou
fósseis, encontradas na superfície ou no interior da terra, constituindo os recursos
minerais, o regime de seu aproveitamento e a forma de fiscalização da pesquisa, da
lavra e de outros aspectos da indústria mineral (BRASIL, 1967). Ou seja, o Código
de Mineração disciplinou a atividade, especificando a maneira de realizar a pesquisa
e a lavra de bens minerais (TONIDANDEL et al., 2012).
Ao longo dos anos, o Código de Mineração sofreu alterações,
complementações e adaptações, como é o caso da Portaria nº 237/2001, do DNPM,
que estabeleceu as Normas Regulamentadoras da Mineração, tendo por objetivo
disciplinar o aproveitamento das jazidas, ponderando as condições técnicas e
tecnológicas de operação, de segurança e de proteção ao meio ambiente, com o fim
de que o planejamento e o desenvolvimento da atividade minerária sejam ajustados
com a busca da produtividade, da preservação ambiental, da segurança e saúde dos
trabalhadores (DNPM, 2001).
Outro marco do Direito Minerário está presente na Constituição Federal
de 1988, que estabelece o recurso mineral como parte integrante do bem ambiental
(POVEDA, 2007), disciplinando não somente os direitos tributários e as
competências para legislar sobre os recursos minerais, mas também impondo
direitos e deveres dos empreendimentos minerários sobre a proteção do meio
ambiente (TONIDANDEL et al., 2012).
Os recursos minerais são considerados como parte integrante dos bens
ambientais e sua proteção constitucional é estabelecida no artigo 225 da
Constituição Federal: “Todos têm o direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo
para as presentes e futuras gerações” (BRASIL, 1988; TONIDANDEL et al., 2012.).
15
Os bens minerais, então, são considerados, sem quaisquer dúvidas,
recursos ambientais, conforme a Carta Magna de 1988 e, também, conforme
disposto no artigo 3°, inciso 5, da Lei n° 6.938, de 31 de agosto de 1981: “Entende-
se por recursos ambientais a atmosfera, as águas interiores, superficiais e
subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da
biosfera, a flora e a fauna” (BRASIL, 1981).
Apesar de ser anterior à Constituição Federal, a Lei ° 6.938/81, que
dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de
formulação e aplicação (BRASIL, 1981), foi por ela recepcionada. E, embora, não
tenha feito menção expressa sobre os Estudos de Impacto Ambiental, deu sinais
visíveis de que este faria parte do Ordenamento Jurídico Brasileiro definitivamente
(REIS, 2011), pois estabeleceu dentre os seus instrumentos a Avaliação de Impacto
Ambiental como fase obrigatória do processo de licenciamento de empreendimentos
de atividades potencialmente degradadoras e poluidoras (CONAMA, 1997).
O Estudo de Impacto Ambiental (EIA) faz parte do processo de Avaliação
de Impacto Ambiental. Nele é imperioso que haja a descrição das medidas
mitigadoras dos impactos negativos, dentre elas os equipamentos de controle e
sistemas de tratamento de despejos, com a avaliação da eficiência de cada uma
delas (CONAMA, 1986).
Esta exigência é confirmada pela Constituição Federal de 1988, que
estabelece ações de mitigação e recuperação ambiental como uma obrigação legal,
pois aquele que explorar recursos minerais tem a responsabilidade de recuperar os
danos ambientais causados pela atividade de mineração, devendo ser usada, para
tal, uma solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei
(BRASIL, 1988).
Portanto, o objetivo principal do EIA é prever e prevenir os danos
ambientais, constituindo importante ferramenta de gestão ambiental, tratando-se,
portanto, de um dos mais importantes instrumentos de política ambiental que
permite uma ponderação entre os benefícios de um projeto e seus custos ambientais
(REIS, 2012).
16
Neste sentido, sua destinação é fazer com que os impactos ambientais
dos projetos e atividades sejam considerados na implementação do
empreendimento, sendo que também é obrigatório para as mineradoras, pois a lei
determina que os interessados em lavrar devam licenciar-se previamente (REIS,
2012).
O Artigo 5º da Resolução CONAMA 01/86 estabelece que o EIA deve,
dentre outras obrigações:
Definir os limites da área geográfica a ser direta ou
indiretamente afetada pelos impactos, considerando a bacia
hidrográfica na qual se localiza, devendo ser realizado um
diagnóstico ambiental da área de influência do empreendimento;
Descrever e analisar os recursos ambientais e suas interações
de modo a caracterizar a situação ambiental da área,
considerando o meio físico (incluindo os recursos hídricos), o
meio biológico e o meio sócio- econômico;
Analisar os impactos ambientais do projeto com a identificação,
previsão da magnitude e interpretação da importância dos
prováveis impactos relevantes e a definição das medidas
mitigadoras dos impactos negativos, entre elas os equipamentos
de controle e sistemas de tratamento de despejos;
Elaborar o programa de acompanhamento e monitoramento,
indicando os fatores e parâmetros a serem considerados
(CONAMA, 1986).
Em Minas Gerais, o conteúdo técnico para a elaboração do EIA das
atividades minerárias em áreas cársticas deve seguir seu respectivo Termo de
Referência, que exige, basicamente, as seguintes informações:
Descrição do Empreendimento;
Diagnóstico ambiental;
Descrição do meio físico;
Descrição do meio biótico;
Descrição do meio sócio econômico;
17
Identificação e avaliação dos impactos ambientais;
Proposição de medidas mitigadoras;
Programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos
ambientais;
Compensação ambiental e
Plano de recuperação de áreas degradadas.
No que tange às águas, é fato que elas estão sob o impacto das diversas
atividades antrópicas recorrentes em suas inúmeras drenagens, podendo receber o
imenso aporte de efluentes domésticos e industriais, como da mineração,
ocasionando a degradação destes cursos d’água. Assim, a deterioração da
qualidade da água pode ser causada em razão da pressão antrópica sobre os
ambientes aquáticos, em maior ou menor escala (ALVES et al., 2012).
Diante disso, além da exigência legal de se estabelecer a qualidade e os
impactos sobre os recursos hídricos presentes no EIA, existe a proteção da Lei
9433/97, que instituiu a Política Nacional dos Recursos Hídricos (PNRH).
Os objetivos da PNRH são assegurar, à atual e às futuras gerações, a
necessária disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos
respectivos usos e garantir a utilização racional e integrada dos recursos hídricos
com vistas ao desenvolvimento sustentável (BRASIL, 1997).
Entre os instrumentos contemplados na PNRH, o enquadramento visa
assegurar ao corpo d’água a qualidade compatível com os usos mais exigentes
(MACHADO, 2008).
Neste sentido, a resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente
(CONAMA) nº 357 de 2005 e a Deliberação Normativa Conjunta do Conselho de
Política Ambiental (COPAM) e Conselho Estadual de Recursos Hídricos (CERH-MG)
nº 01/2008 dispõem sobre a classificação e diretrizes ambientais para o
enquadramento dos corpos de água superficiais, e estabelece condições e padrões
para o lançamento de efluentes, através de parâmetros ambientais, tais como níveis
de fósforo, nitrogênio, coliformes fecais e metais pesados.
18
A Lei 9433/97 determinou o enquadramento dos corpos d’água em
classes de acordo com o uso preponderante da água, sendo que a Resolução
CONAMA 357/05 e a Deliberação Normativa COPAM/CERH-MG nº 01/08
estabelecem 13 classes de usos de água, agrupados em três categorias: águas
doces, salinas e salobras (BRASIL, 1997; COPAM, 2008; CONAMA, 2005).
Enquadrar, portanto, é determinar os padrões de qualidade para as águas
superficiais da bacia, baseado nos usos futuros pretendidos, pressupondo uma
divisão da rede hidrográfica em trechos, associado a uma vazão de referência
(quantidade de água), sendo, assim, um processo técnico apoiado na participação
social (MEZOMO, 2008).
De acordo com Granziera (2001 apud ANA, 2007), o enquadramento dos
corpos d’água possui um sentido de proteção da água em si e da saúde pública, e,
também, uma preocupação com o fator econômico em relação aos custos de
tratamento da água para abastecimento público, já que quanto pior a qualidade das
águas, mais dispendioso será o tratamento.
Ademais, o instrumento em tela representa, indiretamente, um mecanismo
de controle do uso e de ocupação do solo, já que restringe a implantação de
empreendimentos cujos usos não consigam manter a qualidade de água na classe
em que o corpo d´água fora enquadrado (ANA, 2007). E, ainda, permite uma melhor
adequação de custos de controle da poluição, já que possibilita que os níveis de
poluentes estejam de acordo com os usos que se pretende dar ao corpo d’água nos
seus diferentes trechos (ANA, 2007).
Assim, o enquadramento dos corpos d’água se configura como um
importante instrumento de planejamento ambiental, sendo que a classe do
enquadramento a ser alcançada no futuro, para um corpo d’água, deverá ser
definida em um pacto construído pela sociedade, levando em conta as prioridades
de uso da água. Como instrumento de planejamento, representa a visão global da
bacia, necessitando de uma visão em macro escala (“do todo”) para se tomar a
decisão de quais são os usos prioritários em cada trecho de rio, fixando uma visão
futura da bacia e estabelecendo metas de qualidade a serem alcançados no médio e
longo prazo e, fazendo parte do plano de bacia como garantia de integração entre os
19
aspectos quantitativos e qualitativos do uso da água (PORTO, 2002 apud ANA,
2007).
Segundo Machado (2008), a competência para classificar cada corpo
hídrico é atribuição do organismo público competente para licenciar, fiscalizar e
impor penalidades administrativas ambientais. Assim, em Minas Gerais, essa
atribuição pertence ao Conselho Estadual de Política Ambiental (COPAM), que em
sua Deliberação Normativa n°14, de 1995, enquadrou o Rio Maranhão como corpo
hídrico classe 2, cujas águas podem ser destinadas à:
Abastecimento para consumo humano, após tratamento
convencional (clarificação com utilização de coagulação e
floculação, seguida de desinfecção e correção de pH);
Proteção das comunidades aquáticas;
Recreação de contato primário, tais como natação, esqui
aquático e mergulho;
Irrigação de hortaliças, plantas frutíferas e de parques, jardins,
campos de esporte e lazer, com os quais o público possa vir a
ter contato direto;
Aquicultura e atividade de pesca.
2.6 Congonhas e a mineração
A cidade de Congonhas está localizada na região central de Minas
Gerais, com uma área de 304,04 km2, possuindo uma população 48.519 habitantes
(IBGE, 2013).
O município foi criado oficialmente em 1938, mas a história da cidade é
bem mais antiga e se confunde com a ocupação do estado de Minas Gerais
(GIAROLA, 2012), sendo que a criação da freguesia de Congonhas ocorreu entre os
20
anos de 1734 e 1749 (MILANEZ, 2011). Durante esse período, a intensidade da
exploração mineral era tal que o Brasil chegou a contribuir com cerca da metade da
produção mundial de ouro e diamantes (MACHADO e FIGUEIRÔA apud MILANEZ,
2011).
A cidade surgiu, então, da lavra do Rio Maranhão, pertencente à Bacia do
Paraopeba e, posteriormente, a exploração estendeu-se a outros locais e a grande
quantidade de ouro extraída favoreceu o crescimento rápido do vilarejo (IBGE,
2013).
O processo de urbanização da cidade é antigo. Já em 1960, 52% da
população viviam na área urbana, sendo a terceira cidade mais populosa da região
(depois de Conselheiro Lafaiete e Ouro Preto). Embora não tenha a maior
população, Congonhas é a cidade mais urbanizada, uma vez que apenas 2,7% da
sua população vive em áreas rurais (MILANEZ, 2011).
No período de 2000 a 2010, a população de Congonhas cresceu em torno
de 18% (a população aumentou de 41,3 mil habitantes para 48,6 mil habitantes),
bem acima da média estadual de 9% (MILANEZ, 2011). Estima-se que essa
população alcançou 63.792 habitantes em 2012 (FERREIRA, 2012).
Essa situação se deve, em grande parte, ao crescimento da indústria
minero-siderúrgica da região do Alto Paraopeba (incluindo o município de
Congonhas), que abriga siderúrgicas (Gerdau Açominas, VSB) e mineradoras (CSN,
Namisa, Ferrous, Vale), contando com inúmeros projetos e investimentos para o
setor de mineração (CODAP, 2012).
Em Congonhas, a atividade mineradora é tão forte que 50,7% do seu
espaço superficial estão comprometidos com a extração de minério de ferro, com
significativos 100 processos registrados no seu território, sendo as empresas Vale,
CSN e Ferrous as mais expressivas do município. A Mina Casa de Pedra
(pertencente à CSN) é o principal empreendimento minerário de Congonhas
(FERREIRA, 2012).
A Mina Casa de Pedra localiza‐se ao sudoeste do Quadrilátero Ferrífero,
fazendo parte da Formação Cauê (GIAROLA, 2011). Ela está situada a
21
aproximadamente 10 km da sede do município de Congonhas e cerca de 70 km de
Belo Horizonte, no estado de Minas Gerais, e contempla as atividades de lavra,
beneficiamento e embarque de minério de ferro. O processo de beneficiamento inclui
todas as etapas necessárias para obtenção de concentrados de minério de ferro que
geram produtos (carga metálica) para a Usina de Volta Redonda e outros clientes
(FIGUEIREDO, 2007).
As reservas provadas e prováveis são de 1,6 bilhão de toneladas, de
minério de ferro de alta qualidade (teor de 68% de ferro), e com os projetos de
expansão na mina de Casa de Pedra, a previsão é que a capacidade de produção
da mina atingirá 50 milhões de toneladas anuais nos próximos anos (CSN, 2013).
E é certo que, com o aumento da produção, haverá, automaticamente, um
aumento no volume de rejeito. Para se ter uma ideia, considerando-se uma
produção de 30.000.000 toneladas/ano de produtos, a previsão de geração de
rejeitos e lamas em Casa de Pedra, até 2028, seria de, aproximadamente,
340.000.000 toneladas. Este valor aumentará significativamente quando a produção
prevista chegar a 40.000.000 toneladas/ano de produtos (FIGUEIREDO, 2007).
Os impactos ambientais negativos associados à mineração são facilmente
perceptíveis em Congonhas, MG, já que a poluição do ar por material particulado
deixa a cidade com uma cor marrom avermelhada, o que pode gerar uma série de
problemas de saúde, principalmente irritações no sistema respiratório (GIAROLA,
2012).
No tocante às águas, na Mina Casa de Pedra, estas são utilizadas na
umidificação de acessos, em correias transportadoras, nas usinas de classificação e
tratamento de minérios, lavagem de veículos, processos de limpeza, (FERREIRA,
2012), o que pode causar o carreamento de sólidos para o corpo d’água, com
alteração da turbidez.
Além disso, após a recuperação de cerca de 80% da água no processo
de beneficiamento, estes rejeitos são encaminhados para um grupo de barragens
localizado ao longo do córrego Casa de Pedra que deságua no Rio Maranhão
(GIAROLA, 2012), o que pode provocar alteração na qualidade de suas águas.
22
3 MATERIAIS E MÉTODOS
3.1 Local do estudo e pontos de amostragem
O estudo sobre a qualidade das águas e os possíveis impactos
ambientais associados à mineração foi realizado no Rio Maranhão, no trecho que
corre adjacente à mineradora Mina Casa de Pedra, no município de Congonhas/MG
(Figura 4). As Figuras 4 e 5 foram obtidas através de imagens de satélite do
software Google Earth® georreferenciadas no software AutoCAD®.
FIGURA 4 - Panorama geral da área de estudo com a localização do Rio Maranhão em relação à barragem de rejeitos, ao Córrego Casa de Pedra e à cidade de Congonhas. Fonte: Imagem do Google Earth® georreferenciada no AutoCAD®, 2013.
23
O Córrego Casa de Pedra recebe as águas da barragem e do sistema de
drenagem da mina e deságua no Rio Maranhão em ponto cujas coordenadas
geográficas são as seguintes: 20º30’42.82’’ S Latitude e 43°53’06.82 O Longitude.
Assim, para verificar se houve alteração em alguns parâmetros da
qualidade das águas do Rio Maranhão que pudesse estar associada diretamente
aos efluentes da atividade mineradora adjacente, e indiretamente ao
empreendimento minerário, foram estabelecidos três pontos de amostragem (Figura
5 e Quadro 1).
QUADRO 1
Localização e descrição dos pontos amostrais
Pontos Coordenadas Descrição
P1 20°30'44.80"S Latitude e
43°53'5.05” O Longitude
A montante do ponto de encontro do
Córrego Casa de Pedra com o Rio
Maranhão.
P2 20°30'43.35"S Latitude e
43°53'7.44” O Longitude
À jusante do ponto de encontro do
Córrego Casa de Pedra com o Rio
Maranhão
P3 20°30'57.16"S Latitude e
43°54'43.59” O Longitude
Bairro Plataforma na cidade de
Congonhas
A distância entre os pontos P1 e P2 é de 75 metros. O ponto P3 dista
georreferencialmente 2,375 km do ponto P2. A distância do ponto de interseção do
Córrego Casa de Pedra é de 65 metros em relação ao ponto P1 e 35 metros em
relação ao ponto P2.
24
FIGURA 5 - Localização dos três pontos amostrais (P1, P2, P3). Fonte: imagem do Google Earth® georreferenciada no AutoCAD®, 2013.
3.2 Coleta, estocagem e preservação das amostras de água
As coletas das amostras de água aconteceram nos dias 11/07/2012,
08/08/2012, 20/09/2012, 10/10/2012, 14/11/2012, 12/12/2013, 09/01/2012,
16/02/2013 e 13/03/2013 iniciando-se, em torno de 07:30 H, pelo ponto P1,
passando pelo ponto P2 e finalizando no ponto P3
As amostras foram coletadas em triplicata e na margem oposta ao ponto
de interseção do Córrego Casa de Pedra com o Rio Maranhão e a 3 metros das
margens na camada superficial (10 cm), formando amostras compostas. Após a
coleta, as amostras foram devidamente acondicionadas em frascos de vidro âmbar,
previamente lavados com solução de ácido nítrico, e preservadas conforme os
procedimentos estabelecidos no Standard Methods for Examination of Water and
Wastewater (APHA, 2005) (Quadro 02).
25
QUADRO 2
Formas de preservação das amostras de água de rio conforme parâmetro a ser determinado
Parâmetro Preservação
Ferro dissolvido, ferro total, manganês
dissolvido e manganês total Solução de HNO3 1:1 para pH<3
DBO5, pH, turbidez e sólidos totais
dissolvidos Refrigeração a 4 °C
Fenóis, óleos e graxas e oxigênio
dissolvidos Solução de H2SO4 1:1 para pH<2
Fonte: APHA, 2005.
3.3 Monitoramento da qualidade das águas do Rio Maranhão
Neste trabalho, foram determinados e analisados os seguintes
parâmetros físico-químicos nas amostras de água: ferro total e dissolvido, manganês
total e dissolvido, oxigênio dissolvido, sólidos totais dissolvidos, óleos e graxas,
fenóis, temperatura, pH e turbidez.
Para a determinação de fenóis, ferro total e dissolvido, manganês total e
dissolvido e óleos e graxas, as condições estabelecidas no Standard Methods for
Examination of Water and Wastewater foram usadas tanto para o preparo das
amostras, quanto para as determinações. Os métodos analíticos usados foram
espectroscopia de absorção molecular no UV-Visível para a determinação de fenóis
(método 5530), espectroscopia de absorção atômica por chama para determinação
de ferro e manganês (método 3111), gravimetria para óleos e graxas (método 5520),
teste DBO, 5 dias (DBO5, método 5210) (APHA, 2005).
A seguir, são detalhados os métodos analíticos usados na determinação
de cada um dos parâmetros. Para a realização dos mesmos foram usados os
seguintes reagentes: ácido sulfúrico concentrado, ácido clorídrico concentrado, ácido
nítrico concentrado e sulfato de sódio anidro da marca Impex; n-hexano da marca
26
Dinâmica; clorofórmio da marca Proquimios; 4-aminoantipirina e ferricianeto de
potássio da marca Sigma-Aldrich.
3.3.1 Demanda Bioquímica de Oxigênio (Método DBO5)
Para análise da demanda bioquímica de oxigênio (DBO), inicialmente, foi
preparada a água de diluição adicionando 5,00 L de água destilada saturada de
oxigênio dissolvido (com auxílio de uma bomba de aquário) em um balde de
polietileno (previamente higienizado), e 5,00 mL de cada uma das seguintes
soluções: solução tampão fosfato (pH 7,13), solução de sulfato de magnésio 0,091
mol L-1, solução de cloreto de cálcio 0,248 mol L-1, solução de cloreto férrico 0,00468
mol L-1 e solução de cloreto de amônio 0,0215 mol L-1. A mistura foi denominada
água de diluição.
Assim, foram misturados 210 mL de água de diluição, 100 mL de amostra
e 2 mL de lodo (de lagoa de estabilização). Em seguida, foi medido o oxigênio
dissolvido inicial, utilizando-se uma sonda multiparamétrica. Então, a amostra foi
transferida para um frasco de vidro âmbar com capacidade para 300 mL e incubado,
em uma incubadora tipo BOD (ACBLABOR®), por 5 dias, a 20 °C. Decorrido esse
período, o oxigênio dissolvido foi novamente medido, utilizando-se a sonda
multiparamétrica.
Os mesmos procedimentos foram realizados para o branco, composto por
310 mL de água de diluição e 2 mL de lodo (APHA, 2005).
Os cálculos foram realizados usando a equação 1:
Equação 1
27
Onde: ODf: oxigênio dissolvido final (mg L-1); ODi: oxigênio dissolvido inicial (mg L-1);
V1: volume de amostra (L); V2: volume de água de diluição (L); Vtotal: volume da
amostra, do lodo e da água de diluição (L); V3: volume da água de diluição e do lodo
(L).
3.3.2 Óleos e graxas (Método da partição gravimétrica)
Para determinar a massa de óleos e graxas contida na amostra,
primeiramente foi pesado um balão de fundo redondo de 100 mL vazio. Após esse
procedimento, foram medidos 400 mL de amostra (previamente acidificadas com
ácido sulfúrico 1:1 para pH < 2 para preservação da amostra) e transferidos para um
funil de separação de 500 mL, acrescentando-se 30 mL de n-hexano. A mistura foi
então agitada vigorosamente, por aproximadamente dois minutos. Após a separação
das camadas aquosa e orgânica, esta foi drenada para um erlenmeyer de 500 mL,
filtrada através de um papel de filtro contendo, aproximadamente, 10 g de sulfato de
sódio anidro e transferida para um balão de fundo redondo. Esse procedimento foi
repetido por mais duas vezes. Então, o solvente do balão foi destilado em um
rotoevaporador a 85 °C e o balão colocado para resfriar em um dessecador por 30
minutos. Em seguida, o balão de fundo redondo, contendo os óleos e graxas da
amostra, foi pesado novamente, e os valores da massa do balão vazio e com os
óleos e graxas foram usados para a determinação do teor destes compostos nas
amostras de água (APHA, 2005) usando a equação 2:
Equação 2
Onde: mf: massa final (vidraria e óleos e graxas) (mg); mv: massa do balão vazio
(mg).
28
3.3.3 Ferro total e dissolvido, manganês total e dissolvido.
Inicialmente, foi necessário o preparo das amostras, sendo que, para os
metais dissolvidos, este procedimento foi realizado filtrando-se um volume de 100
mL de amostra em um filtro de membrana com diâmetro de poro de 0,45 µm
diretamente para um frasco de vidro de 250 mL.
Já para a determinação do teor de metais totais, o preparo consistiu em
uma digestão ácida da amostra não filtrada, em que foram adicionados a um béquer
5,0 mL de ácido nítrico concentrado a 100,0 mL de amostra. A mistura foi digerida
lentamente sobre uma placa de aquecimento até que atingisse um volume de 10,0 a
20,0 mL e não apresentasse sólidos em suspensão. Depois disso, foi transferida
para um balão volumétrico de 100 mL, o qual foi aferido com água livre de metais
(APHA, 2005).
As quantificações dos metais foram realizadas através de padronização
externa, com padrões com concentração variando de 0,25 mg L-1 a 20 mg L-1 para o
ferro, e de 0,10 mg L-1 a 3,00 mg L-1 para o manganês. Para tal, foi usado um
Espectrômetro de Absorção Atômica de Chama (Espectra AA50), ajustado para os
comprimentos de onda de 372 nm para o ferro e 403,1 nm para o manganês.
3.3.4 Fenóis
A determinação da concentração de fenóis nas amostras de água foi feita
pelo método colorimétrico da 4-aminoantipirina. Inicialmente, destilou-se 500 mL de
amostra preservada conforme indicação do Quadro 2 supra. Em seguida, foram
adicionados a ela 6,00 mL de hidróxido de amônio concentrado para ajustar o pH
entre 10 e 11. Então, acrescentou-se 5,00 mL de solução de ferricianeto de potássio
29
80 g L-1 e 5,00 mL de solução de 4-aminoantipirina 20 g L-1, sob agitação, para
formação do complexo colorido. Após 15 min, foram adicionados à amostra 10,00
mL de clorofórmio e realizada uma extração líquido-líquido, sendo o extrato orgânico
drenado para um béquer de 100 mL contendo aproximadamente 10 g de sulfato de
sódio anidro. Este procedimento foi repetido mais duas vezes e os extratos unidos.
Para a quantificação dos fenóis, utilizou-se a padronização externa para
construção da curva analítica com faixa de concentração de 0,001 mg L-1 a 0,010 mg
L-1. Os padrões foram preparados de maneira semelhante às amostras (APHA,
2005). As absorbâncias das amostras e dos padrões foram lidas em um
Espectrofotômetro de absorção molecular no UV-Vis (Shimadzu UV 3600) no
comprimento de onda 452,6 nm.
Com os valores das absorbâncias, foi estabelecida uma regressão linear,
utilizando o software Microsoft Excel®. A partir da equação obtida, calculou-se a
concentração de fenóis, considerando as diluições realizadas, seguindo a equação
3:
Equação 3
Onde: x: concentração final de fenóis (mg L-1); y: absorbância lida (A); a e b:
coeficientes da regressão linear; 50: fator de diluição.
3.3.5 Oxigênio dissolvido, pH, sólidos totais dissolvidos, turbidez e
temperatura
Os parâmetros oxigênio dissolvido, turbidez, sólidos totais dissolvidos e pH
foram determinados utilizando-se uma sonda multiparamétrica (Horiba U52G)
(Figura 4). A temperatura foi medida in locu.
30
FIGURA 6 - Sonda multiparamétrica usada na determinação de oxigênio dissolvido, turbidez, sólidos totais dissolvidos e pH nas amostras de água do Rio Maranhão.(Fonte: acervo particular).
3.3.6 Testes estatísticos
Os dados obtidos nas análises foram tratados estatisticamente da
seguinte forma, todos ao nível de 95% de confiança.
Inicialmente foi verificada a normalidade da distribuição, utilizando o
software OriginPro 9®, sendo, então, constatada a distribuição normal das médias
das concentrações de cada ponto amostral. Dessa forma, foi realizado o teste
paramétrico da ANOVA (Análise de Variância) para determinar a diferença entre as
médias nos diferentes pontos de amostragem.
Então, foi realizado o teste de Tukey, para verificar a existência da
diferença entre as médias dos pontos amostrais, em cada mês de coleta. Este teste
31
é baseado na amplitude total estudentizada e pode ser utilizado para comparar todo
e qualquer contraste entre duas médias de tratamentos, considerado exato e de uso
muito simples quando o número de repetições é o mesmo para todos os tratamentos
(OLIVEIRA, 2008). Para a realização do teste de Tukey foram utilizados os
softwares OriginPro 9® e SISVAR® versão 5.3.
Para verificar a diferença entre as médias de cada ponto amostral ao
longo do tempo foi realizada a ANOVA seguida do teste de diferença de médias de
Scott-Knott, também utilizando o programa SISVAR® versão 5.3. Este teste objetiva
a separação de médias de tratamentos em grupos distintos sendo que os resultados
são facilmente interpretados, devido à ausência de ambiguidade. Desta forma este
procedimento resulta em maior objetividade e clareza (BORGES E FERREIRA,
2013), pois o teste de Scott e Knott é um teste de agrupamento de médias, evitando
a sobreposição de letras, já que são muitas médias a serem comparadas (09 médias
para cada ponto amostral).
A correlação entre as variações das concentrações dos parâmetros em
estudo foi verificada mediante Análise de Componentes Principais (Principal
Analysis Componentes - PCA) utilizando-se o programa XLSTAT® 2013.
3.3.7 Precipitação pluviométrica
A precipitação pluviométrica diária ocorrida durante o período das
amostragens foi coletada no site do INMET (Instituto Nacional de Meteorologia) para
a estação automática de Ouro Branco/MG (cidade vizinha a Congonhas/MG).
32
3.4 Análise do EIA/RIMA
O Estudo de Impacto Ambiental e seu respectivo Relatório de Impacto
Ambiental relativos à expansão da Mina Casa de Pedra foram obtidos perante o
Arquivo de Regularização Ambiental do Sistema Estadual do Meio Ambiente e
Recursos Hídricos (SISEMA).
Neles, foi verificada a obediência à legislação ambiental vigente: Lei
6938/81, Artigo 225, parágrafo 2º da Constituição Federal Brasileira, Lei nº 9433/97,
Resoluções CONAMA nº 01/86 e nº 357/05, Deliberação Normativa COPAM/CERH-
MG nº 01/08 e Deliberação Normativa do Conselho de Política Ambiental (COPAM)
nº 14 de 1995. Também foi verificada a adequação do EIA/RIMA às exigências de
conteúdo obrigatório contidos no termo de referência para atividades mineradoras do
Estado de Minas Gerais.
A análise do EIA/RIMA fundamentada nessa legislação contemplou os
seguintes aspectos:
Na descrição do meio físico:
Qualidade das águas superficiais da área sob influência direta e
indireta da mina;
Pontos de amostragem;
Parâmetros analisados;
Metodologia seguida para determinação dos parâmetros.
Na previsão de impactos para o meio físico:
Se houve previsão para os impactos sobre o corpo hídrico
denominado Rio Maranhão, no ponto de encontro deste com as
águas provindas da mina pelo córrego denominado Casa de
Pedra, tanto na fase de implantação, quanto na fase de
operação do empreendimento.
Na proposição de medidas de controle ambiental:
33
Quais as técnicas para contenção ou mitigação dos impactos
gerados que foram mencionadas.
.
34
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.1 Precipitação pluviométrica
A precipitação durante o período do estudo foi monitorada na estação
automática de Ouro Branco/MG, cidade vizinha a Congonhas/MG e pertencente à
mesma região (Alto Paraopeba), uma vez que esta não possui estação
meteorológica. Essa estação pertence ao Instituto Nacional de Meteorologia
(INMET). Foi monitorada a precipitação diária ocorrida entre as datas de coleta de
amostras entre os meses de julho de 2012 a março de 2013.
O regime pluviométrico da região é caracterizado por um verão chuvoso
que se estende de outubro a março, sendo novembro, dezembro e janeiro os meses
mais chuvosos, e um inverno, que se estende de abril a setembro, sendo o período
de junho à agosto, o mais seco (com precipitações mensais próximas de zero). A
precipitação média anual é de 1565 mm (CSN, 2003).
Nos períodos entre junho e setembro de 2012, a precipitação chegou a
quase nulidade, com valores totais bem próximos a zero, com um volume de 0,2 mm
de chuva registrado entre as coletas de julho/agosto e de 1,8 mm entre as coletas de
amostra de agosto/setembro daquele ano. Com o início da estação chuvosa, houve
um aumento da precipitação, sendo que o maior volume de chuva foi verificado no o
período entre coletas de amostra de janeiro/fevereiro, em que foi registrada uma
precipitação total de 380,6 mm (Figura 20).
A precipitação registrada nas 48 horas anteriores à amostragem foram as
seguintes: em julho de 2012, 0,2 mm; em agosto de 2012, 0,0 mm; em setembro de
2012, 0,4 mm, em outubro de 2012, 0,0 mm; em novembro de 2012, 23,6 mm, em
dezembro de 2012, 6,8 mm; em janeiro de 2013, 0,2 mm; em fevereiro de 2013, 0,0
mm e em março de 2013, 7,2 mm (Figura 20).
35
FIGURA 7 - Precipitação diária registrada na estação meteorológica de Ouro Branco/MG. Em vermelho, as datas de coleta das amostras. Fonte: INMET (2012, 2013).
A precipitação por período, que é a soma das precipitações diárias
registradas entre as datas de coleta, e a precipitação diária (considerando as 48 H
antes da coleta das amostras) foram inseridas na análise de componente principal
(PCA – Principal Components Analysis), juntamente com todas as médias
observadas de cada um dos parâmetros de qualidade da água estudados em todos
os meses. Isto foi realizado a fim de verificar a correlação entre as concentrações
dos parâmetros de interesse e a precipitação pluviométrica do período. Além disso,
a precipitação pluviométrica também foi usada na interpretação dos resultados de
análises de cada parâmetro ao longo do estudo.
4.2 Análise da qualidade das águas do Rio Maranhão
As águas do Alto Rio Maranhão foram escolhidas como objeto de estudo
devido ao grande número de empreendimentos minerários adjacentes a ele, e em
36
razão da sua vulnerabilidade ocasionada pela relação com as estruturas da mina,
tais como a pilha de estéril, cava, planta de beneficiamento e, principalmente, a
barragem de rejeitos, cujos sistemas de drenagem podem carrear para o corpo
d’água substâncias que alteram suas características físico-químicas, causando
assim, impactos ambientais negativos.
Assim, diante da natureza do empreendimento, que é uma expansão da
mineração de ferro, foram escolhidos, para análise, parâmetros que poderiam ser
alterados em decorrência desta atividade, que são ferro total e dissolvido, manganês
total e dissolvido, óleos e graxas, fenóis, turbidez, sólidos totais dissolvidos, oxigênio
dissolvido, pH e temperatura. Os resultados das análises foram comparados com os
limites estabelecidos para os rios enquadrados como Classe 2, nos termos da
legislação ambiental. Destaca-se que o enquadramento dos corpos d’água, definido
como o estabelecimento do nível de qualidade a ser alcançado ou mantido em um
corpo hídrico ao longo do tempo (FREIRE e MARTINS, 2009), é realizado por
classes, e, em Minas Gerais, é responsabilidade do COPAM.
Cada uma dessas classes corresponde a uma determinada qualidade de
água a ser obrigatoriamente mantida no corpo d’água, de acordo com os usos
principais almejados. A qualidade da água é expressa em padrões que estabelecem
limites máximos e, ou mínimos para um grupo de substâncias listadas na Resolução
CONAMA nº 357/ 05. Estes padrões foram estabelecidos com o objetivo de controlar
o despejo no meio ambiente de poluentes, de maneira a coibir o lançamento em
níveis nocivos ou perigosos para os seres humanos e outras formas de vida,
levando-se em consideração que tanto a saúde e o bem-estar humano, quanto o
equilíbrio ecológico aquático, não devem ser afetados pela deterioração da
qualidade das águas (BRASIL, 1997; COPAM, 2008; CONAMA, 2005; MEZOMO,
2008).
Ressalta-se que o enquadramento dos corpos d’água deve estar baseado
não necessariamente no seu estado atual, mas nos níveis de qualidade que
deveriam possuir para atender às necessidades da comunidade. Assim, os usos
pretendidos foram fixados considerando os anseios da população afetada, de forma
que a classificação do corpo hídrico é realizada com a participação pública e de
37
acordo com o uso e ocupação do solo fixado na lei orgânica de cada município
(CONAMA, 2005; ANA, 2007).
Dessa forma, existe a necessidade de se avaliar a qualidade do corpo
hídrico, pois, se ele se apresentar violado perante a classe em que foi enquadrado,
não poderá ser utilizado para os usos desejados, o que também deve ser
considerado nos processos de licenciamento de empreendimentos a serem
instalados na bacia hidrográfica.
Por todo exposto, a escolha dos pontos de amostragem objetivou verificar
os impactos ambientais diretos e indiretos que pudessem estar associados à
mineração de ferro, e, por essa razão, foram fixados um ponto a jusante e outro a
montante do local de encontro das águas provindas da barragem da mineradora
através do Córrego Casa de Pedra com o Rio Maranhão (P1 e P2) e um terceiro
ponto que verificasse a situação dos parâmetros dentro de uma área urbana,
localizado no Bairro Plataforma, Congonhas/MG (P3), que poderia demonstrar os
impactos ambientais indiretos associados à atividade da mineradora (Figura 7). A
variação de cada parâmetro de qualidade da água estudado ao longo do tempo e
nos diferentes pontos amostrais é mostrada a seguir.
4.2.1 Ferro total e dissolvido
O ferro é comumente encontrado em águas naturais em concentrações
que variam de acordo com as características geológicas de cada local (ANDRADE,
2010). As fontes naturais de ferro para o ambiente aquático são, principalmente, o
intemperismo das rochas que compõem a bacia de drenagem e a erosão de solos
ricos nesses materiais. Além disso, atividades antrópicas, como a mineração de
ferro, também têm se mostrado responsáveis pelos elevados níveis desses
elementos nos corpos d’água (OLIVEIRA et al., 2012).
38
A Resolução CONAMA nº 357/05 e a Deliberação Normativa
COPAM/CERH-MG nº 01/08 estabelecem como limite máximo para o ferro
dissolvido a concentração de 0,3 mg L-1 e não fazem referência ao limite para o ferro
total (CONAMA, 2005; COPAM/CERH, 2008). Provavelmente, a ausência desta
informação na legislação se deve ao equilíbrio entre o ferro total e o ferro dissolvido
que ocorre no ambiente aquático, sendo que aquele pode ser alterado em função da
variação na concentração deste. Assim, altas concentrações de ferro podem levar à
formação de complexos de ferro total. A complexação nada mais é que a formação
de compostos coordenados entre a matéria orgânica e os metais presentes,
aumentando, assim, a concentração do metal no corpo d’água (BAHIA et al., 2011;
MORUZZI e REALI, 2012).
De acordo com Moruzzi e Reali (2012) tanto o ferro, quanto o manganês
apresentam-se dissolvidos sob diferentes formas que dependem basicamente do pH
da água. Alguns exemplos são os hidróxidos complexos de Fe2+, que podem estar
presentes na forma de Fe2+, FeOH+, Fe(OH)3-; assim como o Fe3+, que pode estar
presente na forma solúvel como Fe3+, FeOH2+, Fe(OH)2+, Fe(OH)4-, além de
complexos inorgânicos com bicarbonato, sulfato ou fosfato. Ainda de acordo com
estes autores, compostos orgânicos podem reduzir Fe3+ para Fe2+, resultando num
retardamento da oxidação ou formando complexos orgânicos de Fe2+.
Tanto o ferro total como o ferro dissolvido foram encontrados em grandes
concentrações nas amostras de água do Rio Maranhão (Figuras 8 e 9), sendo que,
para o ferro dissolvido, houve violação no limite máximo estabelecido na legislação
supracitada. Isto ocorreu em todos os meses e em todos os pontos amostrais.
39
FIGURA 8 - Variação da concentração de ferro total nas amostras de água coletadas em vários pontos do Alto Rio Maranhão, entre os meses de julho de 2012 a março de 2013. Símbolos seguidos pela mesma letra não apresentam médias estatisticamente diferentes entre si, de acordo com o teste de Tukey, ao nível de 95% de confiança.
A concentração de ferro total variou de 1,06 mg L-1 a 21,5 mg L-1, no
ponto P1 (à montante do ponto de interseção do córrego Casa de Pedra com o Rio
Maranhão), de 1,24 mg L-1 a 21,5 mg L-1 no ponto P2 (à jusante do ponto de
interseção entre o Córrego Casa de Pedra e o Rio Maranhão) e de 0,99 mg L-1 a
31,42 mg L-1 no ponto P3 (Bairro Plataforma, Congonhas/MG).
Após a aplicação do teste estatístico para verificar a diferença entre as
médias dos pontos amostrais em cada mês (Tukey), verificou-se que somente nos
meses de novembro e março houve diferença estatística entre as médias das
concentrações com as maiores observações encontradas no ponto P3. As altas
concentrações verificadas em todo o trecho estudado do Rio Maranhão indicam que
a fonte de ferro total para o corpo d’água localiza-se antes mesmo do ponto P1.
Como os solos da região são ricos em ferro, as atividades mineradoras instaladas na
bacia hidrográfica propiciam um aumento da concentração desse parâmetro na
água, em função do carreamento do solo para os corpos hídricos.
a a a a
b
b
a
a
a
a ab b
a
40
Tudo isso foi comprovado pela verificação das concentrações do metal ao
longo do tempo, pela aplicação do teste estatístico de Scott-Knott, que demonstrou
haver diferença significativa entre as médias das concentrações de ferro ao longo
dos meses, sendo as menores concentrações observadas nos meses de julho e
agosto e as maiores nos meses de novembro e janeiro. Essa variação entre as
médias dos pontos ao longo dos meses pode estar associada à precipitação já que,
nas águas superficiais, o nível de ferro aumenta nas estações chuvosas devido ao
carreamento de solos (OLIVEIRA FILHO et al.; 2012) e foi em novembro que foi
registrada a maior precipitação diária (considerando as 48 horas anteriores à
amostragem) (23,4 mm). Apesar de a precipitação registrada na amostragem de
janeiro não ter sido alta, estava chovendo no momento da coleta das amostras, o
que também explicaria essas altas concentrações de ferro total neste mês.
Com já mencionado, as concentrações de ferro dissolvido observadas no
Rio Maranhão violaram as disposições legais, conforme se infere na Figura 9.
FIGURA 9 - Variação da concentração de ferro dissolvido nas amostras de água coletadas em vários pontos do Alto Rio Maranhão, entre os meses de julho de 2012 a março de 2013. Símbolos seguidos pela mesma letra não apresentam médias estatisticamente diferentes entre si, de acordo com o teste de Tukey, ao nível de 95% de confiança.
b
a
b
a
b ab
a
a
a a
a b b
a a ab b
a ab b a
ab b
41
As concentrações de ferro dissolvido variaram de 0,53 mg L-1 a 3,64 mg L-
1 no ponto P1, de 0,65 mg L-1 a 3,64 mg L-1 no ponto P2 e de 0,50 mg L-1 a 4,04 mg
L-1 no ponto P3, sendo as menores concentrações observadas no mês de julho e as
mais altas nos meses de novembro e janeiro. Esta variação pode estar relacionada,
como no caso do ferro total, ao volume de precipitação registrado no período, tendo
em vista, que, conforme já explanado acima, a concentração de ferro nos corpos
d’água é maior nas estações chuvosas.
O teste de diferença de médias de Tukey demonstrou haver diferença
entre as médias das concentrações dos meses de julho, agosto, setembro, outubro e
novembro de 2012 e fevereiro de 2013, sendo as maiores concentrações
observadas no ponto P2 e P3 (novembro de 2012 e fevereiro de 2012) e as
menores, no ponto P1, demonstrando haver uma fonte externa que contribui para
elevar a concentração deste elemento no Rio Maranhão. Situação confirmada pela
análise temporal que demonstrou que as médias das concentrações diferiram
estatisticamente entre si ao longo dos meses, em cada ponto. Nos meses em que as
médias diferiram entre si, as maiores concentrações foram observadas nos ponto
P2, a jusante do ponto de interseção entre o Rio Maranhão e Córrego Casa de
Pedra.
Mais uma vez, as violações foram observadas a partir do ponto P1,
indicando uma fonte deste metal anterior a este ponto (solos da região e demais
atividades mineradoras). Contudo, para o ferro dissolvido, a contribuição da
atividade mineradora adjacente é mais perceptível, pois foram verificadas
concentrações maiores nos pontos à jusante do Córrego Casa de Pedra.
Conclusões semelhantes ocorreram em estudos realizados em outras
regiões do Quadrilátero Ferrífero, em que o excesso de ferro e manganês nas águas
estava associado à exploração ferrífera, como verificado por Mendonça (2012) que
realizou diagnóstico geoambiental na Bacia do Ribeirão Mata Porcos, em
Itabirito/MG, em região que tem influência de atividade de extração de ferro, e
encontrou altas concentrações de ferro nas águas.
Rodrigues e colaboradores (2013) determinaram o excesso de metais em
águas e sedimentos na Bacia do Rio Gualaxo do Norte, Ouro Preto/MG e
42
Mariana/MG. Da mesma forma Parra e colaboradores (2007), em estudo realizado
no Rio Conceição, Santa Bárbara/MG, encontraram excesso de metais,
principalmente ferro, sendo as altas concentrações verificadas em tributários
associados a minas da região.
Em Moçambique, Chilundo e colaboradores (2008), ao estabelecer uma
rede de monitoramento de qualidade de água para a bacia do Rio Limpopo,
observaram altas concentrações de ferro e outros metais que estariam associadas
ao transporte de sedimentos ao longo do rio proveniente de áreas de mineração à
montante. No Tibete, no vale do Rio Gyama, região com intensa atividade de
extração de ferro e cobre, Huang e colaboradores (2010), avaliaram a qualidade das
águas que apresentaram altas concentrações de ferro, manganês, cobre, chumbo,
entre outros metais pesados, o que representa um risco para o meio ambiente local.
Essas altas concentrações foram associadas à característica natural da região e
potencializadas pelas atividades minerárias adjacentes.
Apesar da baixa toxicidade, o excesso de ferro nas águas coloca em risco
o equilíbrio ecológico dos sistemas aquático, causando danos ao material genético,
por oxidação do DNA, e deficiência na produção de vitamina A em peixes (PAYNE et
al., 2001 apud MENDONÇA, 2012 ; OLIVEIRA FILHO et al.; 2012). Além disso, se
apresenta como um problema para o abastecimento público, pois altas
concentrações de ferro podem alterar a cor e o sabor da água e pode causar o
desenvolvimento de depósitos de ferro-bactérias em canalizações, causando a
contaminação biológica da água na própria rede de distribuição (CETESB, 2009).
Como um dos usos pretendidos para o Rio Maranhão é o abastecimento de água,
após tratamento convencional (COPAM, 1995), essa situação não é apropriada.
43
4.2.2 Manganês total e dissolvido
O manganês pode estar presente naturalmente nas águas superficiais ou
decorrer das atividades antropogênicas, tais como a mineração. Raramente atinge
concentrações acima de 1,00 mg L-1 em águas superficiais naturais, sendo que,
normalmente, está presente em quantidades iguais ou inferiores a 0,20 mg L-1
(ANDRADE, 2010). A Resolução CONAMA nº 357/05 e a Deliberação Normativa
COPAM/CERH-MG nº 01/08 estabelecem como limite máximo, para o manganês
total, a concentração de 0,1 mg L-1, não fazendo referência ao manganês dissolvido.
No que ser refere ao equilíbrio entre as formas dissolvida e total do
manganês em sistemas aquáticos, as mesmas considerações feitas para o ferro
podem também ser aplicadas ao manganês. Ou seja, o manganês encontra-se
dissolvido em diversas formas, podendo se apresentar sob a forma de Mn2+, MnOH+,
Mn(OH)3-. O equilíbrio basicamente depende do pH, e a presença de matéria
orgânica pode levar a formação de complexos (MORUZZI e REALI, 2012).
Tanto o manganês total quanto sua forma dissolvida foram observados
em altas concentrações nas amostras de água do Rio Maranhão, sendo que o limite
máximo permitido pela legislação foi violado em todos os pontos amostrais e em
todos os meses, conforme Figuras 10 e 11.
44
FIGURA 10 - Variação da concentração de manganês total nas amostras de água coletadas em vários pontos do Alto Rio Maranhão, entre os meses de julho de 2012 a março de 2013. Símbolos seguidos pela mesma letra não apresentam médias estatisticamente diferentes entre si, de acordo com o teste de Tukey, ao nível de 95% de confiança.
As concentrações de manganês total variaram de 0,75 mg L-1 a 1,45 mg
L-1 no ponto P1, de 0,61 mg L-1 a 1,44 mg L-1 no ponto P2 e de 0,72 mg L-1 a 1,79
mg L-1 no ponto P3. O teste de Tukey apontou não haver diferença estatística entre
as médias dos três pontos amostrais nos meses de agosto, setembro e outubro de
2012 e janeiro, fevereiro e março de 2013. Nos demais meses houve diferença
significativa entre as médias sendo as maiores concentrações observadas no ponto
P3 (julho e novembro de 2012) e no ponto P1 (em dezembro de 2012). Pela
aplicação do teste de Scott-Knott, para verificação da interação entre as datas de
coleta e os pontos amostrais, restou demonstrado haver diferença significativa entre
as médias de concentração do manganês total em cada ponto amostral, ao longo
dos meses de coleta.
Como as maiores observações ocorreram no ponto P3 (no Bairro
Plataforma) e ponto P1 (à montante do ponto de interseção do Córrego Casa de
Pedra com o Rio Maranhão), é possível que essas violações estejam relacionadas
com a geoquímica dos solos da região de Congonhas, inserida no Quadrilátero
Ferrífero, onde os teores de óxidos de manganês são naturalmente altos
a
a a
a
a a
b b a
a ab b
a
a a
a
a
a ab a
b
45
(CARVALHO FILHO et al., 2011). Entretanto, a concentração de manganês nas
águas devido à ocorrência natural pode ser intensificada, por atividades
antropogênicas, como a mineração como pode ser observado para o metal
dissolvido. As concentrações do metal dissolvido variaram de 0,55 mg L -1 a 1,23 mg
L -1 no ponto P1, de 0,53 mg L -1 a 1,31 mg L -1 no ponto P2 e de 0,70 mg L -1 a 1,51
mg L -1 no ponto P3 (Figura 11).
FIGURA 11 - Variação da concentração de manganês dissolvido nas amostras de água coletadas em vários pontos do Alto Rio Maranhão, entre os meses de julho de 2012 a março de 2013. Símbolos seguidos pela mesma letra não apresentam médias estatisticamente diferentes entre si, de acordo com o teste de Tukey, ao nível de 95% de confiança.
Os testes estatísticos apontaram que nos meses de setembro, outubro e
dezembro de 2012 e fevereiro de 2013 não houve diferença significativa entre as
médias das concentrações nos três pontos amostrais, diferentemente do que
ocorreu nos meses de julho, agosto e novembro de 2012 e janeiro e março de 2013,
em que os testes apontaram haver diferença entre as médias das concentrações,
que foram maiores no ponto P3 (Bairro Plataforma – Congonhas/MG). Essa situação
indica que existe uma fonte externa, além da fonte natural (solo local rico em
a
b
b
a
a
ab
b
a
a
b b a
a a b c
a b c
46
manganês), intensificando a quantidade de manganês dissolvido nas águas do Rio
Maranhão.
Em outros trabalhos análogos realizados na região do Quadrilátero
Ferrífero (MENDONÇA, 2012; RODRIGUES et al., 2013; PARRA et al., 2007), já
mencionados no item 4.2.1 supra (para o ferro), e Carvalho Filho e colaboradores
(2011) também verificaram a presença e a intensificação deste metal em rios que
sofrem influência direta de mineradoras de ferro.
Assim como acontece com o ferro, o excesso de manganês nas águas de
abastecimento pode alterar sua cor, podendo causar manchas em tecidos e
utensílios, e seu sabor, causando gosto metálico desagradável. Além disso, o
acúmulo de manganês precipitado nas canalizações favorece o crescimento de
bactérias ferruginosas nos sistemas de distribuição, formando compostos coloridos e
odorosos na rede (MORUZZI e REALI, 2012). E, de maneira semelhante ao ferro,
esta situação (excesso de manganês nas águas) não é adequada para os usos
pretendidos para o Rio Maranhão, como o abastecimento público e a irrigação de
hortaliças (COPAM, 1995).
4.2.3 Turbidez
A turbidez da água é o grau de atenuação de intensidade que um feixe de
luz sofre ao atravessá-la devido, em geral, à presença de sólidos em suspensão
(MEZOMO, 2008). Além disso, a presença de matéria orgânica e inorgânica
decorrentes de efluentes da mineração, das indústrias e do esgoto doméstico
lançados nos mananciais sem tratamento, os quais diminuem a claridade e reduzem
a transmissão da luz no meio, também é responsável pela alteração da turbidez nos
corpo d’água (VALLE JR et al., 2012).
47
A Resolução CONAMA nº 357/05 e a Deliberação Normativa
COPAM/CERH-MG nº 01/08 estabelecem um limite máximo de 100 NTU para a
turbidez. Nas amostras de água coletadas no Rio Maranhão só foi observado
violação no mês de novembro de 2012 no ponto P3 e nos três pontos amostrais em
janeiro de 2013, conforme pode ser observado na Figura 12.
FIGURA 12 - Variação da turbidez nas amostras de água coletadas em vários pontos do Alto Rio Maranhão, entre os meses de julho de 2012 a março de 2013. Símbolos seguidos pela mesma letra não apresentam médias estatisticamente diferentes entre si, de acordo com o teste de Tukey, ao nível de 95% de confiança.
As violações observadas podem ser associadas à precipitação
pluviométrica registrada, no caso do mês de novembro, nas 48 horas anteriores à
amostragem, e, no mês de janeiro, pela precipitação registrada no momento da
coleta (estava chovendo quando foi realizada a amostragem). Isto porque os altos
índices de turbidez se devem, em muitos casos, às chuvas que deflagram processos
erosivos na bacia de drenagem, que carreiam maior quantidade de sólidos para as
águas (PARRA et al., 2007). Essa situação foi confirmada pela aplicação do teste de
Scott-Knott que demonstrou que a correlação entre a data de coleta e os pontos
a
a
a
a a a
a
b b
a ab b
a ab b
a b b
a b
a
48
amostrais foi significativa, em outras palavras, as médias das concentrações
variaram ao longo dos meses em cada ponto amostral.
Ademais, o teste de Tukey demonstrou que houve diferença significativa,
nas médias dos níveis de turbidez das amostras coletadas nos meses de julho,
agosto, setembro e novembro de 2012 e fevereiro de 2013, com os maiores valores
observados nos pontos P2 (julho, agosto e setembro) e P3 (novembro e fevereiro).
Tudo isso indica a existência de uma fonte externa de substâncias que alteram a
turbidez das águas e, como os metais ferro e manganês são capazes de aumentar a
turbidez das águas (VALE JR et al., 2012), há, assim, indicativos de que a atividade
mineradora de ferro adjacente seja responsável pelo incremento da turbidez no
trecho estudado do Rio Maranhão, em razão do carreamento de solos, em razão da
remoção da camada vegetal, e poeira pelos sistemas de drenagem que desaguam
no Córrego Casa de Pedra. Vale lembrar, que o ponto P3, também sofre influência
do descarte do esgoto doméstico nas águas do rio, o que também contribui para o
aumento da turbidez. Resultados semelhantes foram apontados por Parra e
colaboradores (2007), em estudo realizado no Rio Conceição, Santa Bárbara/MG,
onde verificaram a alteração na turbidez em tributários associados a minas de ferro
e manganês da região.
Alta turbidez pode influenciar no equilíbrio das comunidades biológicas
aquáticas, na medida em que reduz a fotossíntese da vegetação enraizada e
submersa e das algas, e, como consequência há redução do oxigênio dissolvido,
influenciando, também na produtividade dos peixes. Ademais, afeta adversamente
os usos doméstico, industrial e recreacional da água (MEZOMO, 2008). O que é
contrário aos usos destinados às águas do Rio Maranhão, enquadrado como Rio
Classe 2 (COPAM, 1995).
4.2.4 Sólidos totais dissolvidos
49
Os sólidos totais dissolvidos (STD) são resultantes da soma de todos os
constituintes minerais presentes na água, tais como cloretos, sulfatos, metais
dissolvidos, sendo que a concentração total de sólidos dissolvidos é uma indicação
geral de adequabilidade da água para uso doméstico (CRISPIM, 2007). Eles podem
ter origem no carreamento dos solos pelas águas pluviais, nos processos erosivos e
nos lançamentos de esgoto doméstico e de efluentes industriais (LEÃO, 2010).
A Resolução CONAMA nº 357/05 e a Deliberação Normativa
COPAM/CERH-MG nº 01/08 estabelecem um limite máximo de 500 mg L-1 para
sólidos totais dissolvidos para rios Classe 2. Nas amostras de água do Rio
Maranhão analisadas no presente estudo, este parâmetro não apresentou violações
(Figura 13).
FIGURA 13 – Variação na concentração de sólidos totais dissolvidos nas amostras de água coletadas em vários pontos do Alto Rio Maranhão, entre os meses de julho de 2012 a março de 2013. Símbolos seguidos pela mesma letra não apresentam médias estatisticamente diferentes entre si, de acordo com o teste de Tukey, ao nível de 95% de confiança.
O teste de Tukey demonstrou não haver diferença estatística entre as
médias das concentrações dos sólidos totais dissolvidos na maioria dos meses de
a
a a
a
a a a
a a a
b
50
coleta, exceto no mês de julho, indicando a inexistência de fontes externas alterando
as concentrações de STD no corpo hídrico. Além disso, a aplicação do teste de
Scott-Knott demostrou que a interação entre o ponto amostral e as datas das coletas
foi significativa, demonstrando assim, que a quantidade de sólidos totais dissolvidos
presentes nas amostras coletadas nas águas do Rio Maranhão variaram ao longo do
tempo, provavelmente em razão da precipitação registrada na bacia hidrográfica,
como mostrado na Figura 7.
Diante destes resultados, percebe-se que a atividade mineradora
adjacente não exerceu influência na variação deste parâmetro no Rio Maranhão,
sendo que a variação observada ao longo dos meses de coleta pode ser atribuída à
precipitação pluviométrica, uma vez que foi observado que quanto maior o volume
de chuva, menor foi a concentração de sólidos totais dissolvidos nas amostras
coletadas no Rio Maranhão.
4.2.5 Óleos e graxas
Óleos e graxas são compostos orgânicos que podem ser encontrados em
águas em razão de despejos domésticos e industriais, sem o devido tratamento, e a
presença de áreas urbanas próximas ao curso d’água pode contribuir para o
aumento destes poluentes nos rios (OLIVEIRA FILHO et al.; 2012).
A Resolução CONAMA nº357/05 e a Deliberação Normativa
COPAM/CERH-MG nº01/08 estabelecem, para corpos d’água Classe 2, que os
óleos e graxas devem estar virtualmente ausentes. Entretanto, os relatórios
trimestrais do IGAM (Instituto de Gestão de Águas de Minas Gerais) consideram
violações concentrações acima de 1 mg L-1. Levando em consideração essa
concentração limite, houve violação desse parâmetro em todos os pontos amostrais
e em todos os meses (Figura 14).
51
FIGURA 14 – Variação da concentração de óleos e graxas nas amostras de água coletadas em vários pontos do Alto Rio Maranhão, entre os meses de julho de 2012 a março de 2013. Símbolos seguidos pela mesma letra não apresentam médias estatisticamente diferentes entre si, de acordo com o teste de Tukey, ao nível de 95% de confiança.
A concentração de óleos e graxas variou de 5,88 mg L-1 a 31,83 mg L-1 no
ponto P1, de 6,41 mg L-1 a 52,2 mg L-1 no ponto P2 e de 8,00 mg L-1 a 34 mg L-1 no
ponto P3. O tratamento estatístico dos dados (teste de Tukey) demostrou que
apenas nos meses de novembro de 2012 e janeiro de 2013 não houve diferença
significativa entre as médias das concentrações em cada ponto amostral. Nos
demais meses houve diferença estatística, com destaque para os meses de agosto
de 2012 e fevereiro de 2013, quando as concentrações de óleos e graxas no ponto
P2 (a jusante do Córrego Casa de Pedra) atingiram 40,00 mg L-1 e 52,00 mg L-1,
respectivamente.
Os resultados apontam que o trecho estudado do Rio Maranhão encontra-
se contaminado por óleos e graxas, e, além disso, aparentemente, há outra fonte
externa, pontual e intermitente destes contaminantes para o corpo d’água, o que é
confirmado pela aplicação do teste Scott-Knott. Este demonstrou que há interação
significativa entre a data de coleta das amostras e os pontos amostrais, em outras
a
b
c
a
b b
a
b b
a
a
a a
b
a a
b
c
b
a
a
a
b
52
palavras, as médias de concentração de óleos e graxas de cada ponto amostral
foram estatisticamente diferentes ao longo dos meses.
Toda essa situação pode ser discutida sob dois ângulos porque as fontes
de óleos e graxas para os corpos hídricos podem ter duas origens: efluentes
industriais e efluentes domésticos (CETESB, 2009). No que se refere aos efluentes
industriais, é fato que muitas indústrias não produzem efluentes tipicamente oleosos,
mas podem possuir algumas linhas de efluentes com essa natureza, como os
provenientes de oficinas mecânicas (OLIVEIRA FILHO et al., 2012), que é o caso
das mineradoras, em que efluentes provenientes da lavagem e manutenção dos
seus automóveis e maquinário e de suas instalações sanitárias podem ser drenados
para os corpos d’água (MENDONÇA, 2012). E, nesse caso a mineradora de ferro
poderia ser apontada como uma das fontes externas destes contaminantes de forma
direta, como foi observado nos meses de julho e agosto de 2012 e fevereiro de
2013.
Outra fonte de óleos e graxas para os corpos hídricos são os esgotos
domésticos, dessa forma, estas violações podem estar associadas indiretamente a
atividade de mineração, quando se analisa o crescimento populacional e industrial
da Região do Alto Paraopeba, formada pelas cidades de Congonhas, Conselheiro
Lafaiete, Ouro Branco, Jeceaba, Belo Vale, Entre Rios de Minas e São Brás do
Suaçuí como um todo (CODAP, 2010).
É importante ressaltar, que a mineradora estudada é apenas uma das
várias indústrias mínero-siderúrgicas responsáveis pelo crescimento da região do
Alto Paraopeba, e da cidade de Congonhas, em particular.
Nos últimos anos, Congonhas vem apresentando as maiores taxas de
crescimento populacional da Região do Alto Paraopeba, apresentando crescimento
em torno de 18% entre os anos de 2000 e 2010, porcentagem muito acima da média
estadual de 9% (MILANEZ, 2012) (Quadro 3).
53
QUADRO 3
Indicadores de demografia da Região do Alto Paraopeba
Localidade População total (mil habitantes)
1991 2000 2010
Minas Gerais 15.743,20 17.891,50 19.595,30
Congonhas 35,4 41,3 48,6
Belo Vale 7 7,4 7,5
Conselheiro Lafaiete 89,1 102,8 116,5
Ouro Branco 27,4 30,4 35,3
Fonte: IBGE, 2013
O crescimento populacional foi impulsionado pelo crescimento industrial
da região. Segundo dados do CODAP (2010), o Produto Interno Bruto (PIB)
demonstra a grande evolução econômica no Alto Paraopeba, tendo um crescimento
de 302% entre os anos de 2000 e 2008, passando de R$1.116.933 mil para
R$4.490.378 mil nos municípios do CODAP. A indústria foi a atividade que mais
estimulou a expansão da região, sendo responsável por quase metade da riqueza
gerada, com alta de 386% no período entre 2000 e 2008, com destaque para as
grandes empresas de mineração e siderurgia (CODAP, 2012).
Além da população fixa, a população flutuante também cresceu no
período (MILANEZ, 2012; FIGUEIREDO, 2007), tudo isso aumenta, naturalmente, a
demanda pelos recursos hídricos e causa um aumento dos efluentes domésticos
produzidos e lançados no Rio Maranhão sem tratamento, já que a cidade de
Congonhas/MG, não possui estação de tratamento de esgoto.
Conforme levantamento do comitê da Bacia do Alto Paraopeba, o Rio
Maranhão já se encontra em situação de estresse, no qual a demanda hídrica (2,02
m³/s) já superou a disponibilidade (1,97m³/ s). Em consequência disso, há perda da
qualidade local e violações em diversos parâmetros de qualidade da água, que são
atribuídos ao acelerado desenvolvimento econômico regional (DIAS e MATOS,
2012).
Contudo, se, por um lado, as atividades industriais são responsáveis pelo
crescimento populacional (e também, por um aumento na arrecadação de tributos),
por outro, o poder público tem a obrigação de fornecer saneamento básico para a
população, incluindo coleta e tratamento de esgoto, estabelecendo assim, uma
54
responsabilidade solidária nesta questão, acenando para uma possibilidade de se
estabelecer uma parceria entre as empresas instaladas no município com o poder
público, no que se refere ao tratamento de esgoto.
Fato é que altas concentrações de óleos e graxas observadas no Rio
Maranhão são extremamente prejudiciais ao corpo hídrico, uma vez que tais
substâncias têm baixa solubilidade e densidade e, quando presentes em grandes
quantidades, reduzem a capacidade de transferência de oxigênio entre a água e a
atmosfera (OLIVEIRA FILHO et al., 2012) diminuindo o oxigênio dissolvido na água.
Ainda, sua presença nos corpos hídricos pode acarretar problemas de origem
estética (CETESB, 2009), que influenciam na forma de tratamento para
abastecimento público.
Diante do fato de que os usos pretendidos para corpos hídricos
classificados como Classe 2, que é o caso do Rio Maranhão, são o abastecimento
para consumo humano, a proteção das comunidades aquáticas, a recreação de
contato primário, tais como natação, esqui aquático e mergulho, a irrigação de
hortaliças, plantas frutíferas e de parques, jardins, campos de esporte e lazer, com
os quais o público possa vir a ter contato direto e aquicultura e pesca (CONAMA,
2005), essa situação não é apropriada.
4.2.6 Fenóis
Assim com os óleos e graxas, os fenóis são compostos orgânicos que
também podem ser encontrados em águas em razão de despejos domésticos e
industriais sem o devido tratamento, sendo que a presença de áreas urbanas
próximas ao curso d’água pode contribuir para o aumento destes poluentes nos rios
(OLIVEIRA FILHO et al., 2012). Isto ocorre em razão do maior volume de esgoto
doméstico produzido nessas áreas mais urbanizadas.
55
Os limites estabelecidos pela Resolução CONAMA nº 357/05 e a
Deliberação Normativa COPAM/CERH - MG nº01/08 para os fenóis são o máximo
de 0,003 mg L-1. Sendo assim, verifica-se que as concentrações destes compostos
no Rio Maranhão apresentam algumas violações ao limite estabelecido pela
legislação, como pode ser visto na Figura 15.
FIGURA 15 - Variação da concentração de fenóis nas amostras de água coletadas em vários pontos do Alto Rio Maranhão, entre os meses de julho de 2012 a março de 2013. Símbolos seguidos pela mesma letra não apresentam médias estatisticamente diferentes entre si, de acordo com o teste de Tukey, ao nível de 95% de confiança.
As concentrações de fenóis variaram, para os três pontos amostrais, de
0,002 mg L-1 a 0,012 mg L-1. O teste de Tukey apontou que não houve diferença
significativa entre as médias das concentrações nos meses de setembro, outubro e
dezembro de 2012 e janeiro de 2013. Para os demais meses, as médias foram
estatisticamente diferentes sendo que não se observou um padrão no
comportamento dessas substâncias nas amostras coletadas no Rio Maranhão, já
que em cada mês as maiores concentrações foram observadas em um ponto de
coleta diferente, indicando que a origem da contaminação do rio por fenóis está
localizada antes mesmo do ponto P1. Esses resultados são reforçados pelo teste de
a
b
c
b
ab
a
a
a
a a
a
ab
b
a
a
b
c
a b c
a a
a
56
Scott-Knott, que demonstrou não haver interação significativa entre os pontos e a
data de coleta, ou seja, a concentração de fenóis nas águas do Rio Maranhão, nos
três pontos amostrais, não sofreu variação na concentração ao longo do tempo.
Deste modo, diante do fato de que a cidade Congonhas não trata seu
esgoto, e pelo fato de os fenóis fazerem parte da composição de alguns materiais de
limpeza, tais como os desinfetantes (BRITTO e RANGEL, 2008), tem-se como
provável fonte destes compostos no corpo hídrico o lançamento de efluentes
domésticos sem tratamento diretamente no Rio Maranhão. Ainda, outras fontes
destes compostos para os rios seriam os efluentes de indústrias de colas e
adesivos, componentes elétricos, que não estão presentes na região estudada (Alto
Paraopeba), e indústrias siderúrgicas (LEÃO, 2012).
No que se refere às atividades siderúrgicas, a contaminação dos fenóis
podem provir dos efluentes das coquerias, que são responsáveis pela produção de
gás e coque para aplicações metalúrgicas. Além de fenóis, o efluente líquido gerado
pode conter outros produtos como benzeno, tolueno, antraceno e naftaleno,
compostos amoniacais e cianetos sendo, portanto, altamente poluente e de difícil
tratamento. Neste tipo de efluente os compostos fenólicos encontram-se numa faixa
de concentração de 80 a 123 mg L-1 (BRITTO e RANGEL, 2008).
Ante essas informações, não há como atribuir a violação legal observada
para este parâmetro no Rio Maranhão às atividades da mineradora de ferro
adjacente. Contudo, pelas mesmas explicações elucidadas no item 4.2.5 acerca do
crescimento populacional e do aumento na pressão sobre o corpo hídrico, as altas
concentrações de fenol nas águas do Rio Maranhão podem ser consideradas como
impacto ambiental indireto da mineração da região (e das demais indústrias
instaladas na bacia), já que as expansões e o aumento das atividades são
responsáveis por um acréscimo populacional, que somada à ausência do tratamento
do esgoto, gera maior volume de esgoto doméstico produzido e lançado no corpo
d’água.
Tudo isso é alarmante, uma vez que os compostos fenólicos são
extremamente tóxicos ao meio ambiente aquático, podendo provocar a morte de
peixes em concentrações na faixa de 1,00 mg L-1, além de também serem
57
prejudiciais a outras espécies biológicas como os organismos bentônicos, destruindo
o delicado balanço ambiental aquático (BRITTO e RANGEL, 2008). Somado a isto, a
contaminação da água potável por fenóis pode causar sérios problemas de saúde
pública, pois a presença destes compostos em doses sub-letais afeta os sistemas
nervoso e circulatório humano, com redução do crescimento das células sanguíneas
em concentrações extremamente baixas (0,002 mg L-1). E, ainda, a presença de
fenol nas águas confere a elas um sabor identificável (CETESB, 2009; BRITO e
RANGEL, 2008).
Essa situação interfere e, até mesmo, impede a utilização pretendida para
o Rio Maranhão, pois a presença deste contaminante nas águas interfere tanto nos
usos recreativos e de contato direto (pesca e natação), quanto na utilização das
águas para irrigar plantações e para o abastecimento público, que foram usos
objetivados e estabelecidos para o rio estudado, nos termos da legislação (COPAM,
1995).
4.2.7 Demanda Bioquímica de Oxigênio
A demanda bioquímica de oxigênio (DBO) é entendida como a quantidade
de oxigênio necessária para oxidar a matéria orgânica por decomposição microbiana
aeróbica para uma forma inorgânica estável, sendo considerada como a quantidade
de oxigênio consumido durante um período de tempo de cinco dias numa
temperatura de incubação de 20 °C, sendo, por isso, referida como DBO5. É um dos
parâmetros mais empregados para determinar a poluição das águas, porquanto
indica a presença de matéria orgânica, que pode ter origem nos esgotos cloacais ou
efluentes domésticos (MEZOMO, 2008).
A Resolução CONAMA nº357/05 e a Deliberação Normativa
COPAM/CERH-MG nº 01/08 determinam, para os rios Classe 2, a concentração
58
máxima de 5,00 mg L-1 para a DBO, tendo sido constatada que houve violação neste
parâmetro na maioria das amostras coletadas no Rio Maranhão (Figura 16)
FIGURA 16 - Variação da concentração de DBO nas amostras de água coletadas em vários pontos do Alto Rio Maranhão, entre os meses de julho de 2012 a março de 2013. Símbolos seguidos pela mesma letra não apresentam médias estatisticamente diferentes entre si, de acordo com o teste de Tukey, ao nível de 95% e confiança.
A aplicação do teste de Tukey não detectou diferença entre as médias
das concentrações para cada ponto amostral, apenas com exceção ao mês de
outubro de 2012. Isso indica que a fonte externa, que causa alteração na DBO, é
anterior ao ponto P1 (à montante do ponto de interseção entre o córrego Casa de
Pedra e o Rio Maranhão). Dessa forma, tendo em vista que, quando ocorreram as
violações, elas foram observadas em todo o trecho do Rio Maranhão estudado, a
atividade mineradora não pode ser responsabilizada diretamente pela alteração
deste parâmetro nas águas do Rio Maranhão.
Essas altas concentrações de DBO podem ser atribuídas, principalmente,
ao lançamento de efluentes domésticos, ricos em matéria orgânica, sem tratamento,
no corpo hídrico, circunstância que pode inviabilizar ou interferir na vida aquática em
razão da redução ou ausência de oxigênio dissolvido no corpo hídrico, além de
a a a
a a
a
a
a
ab
b
a
a
a
a a a
a
59
produzir mau cheiro. Uma concentração elevada de DBO pode indicar um
incremento da microflora presente, interferindo, assim, no equilíbrio da vida aquática
(CRISPIM, 2007; CETESB, 2009; MEZOMO, 2008).
Por essa razão, e pelas mesmas discussões aclaradas no item 4.2.6
(supra), as violações verificadas na DBO nas águas do Rio Maranhão podem ser
associadas indiretamente à atividade mineradora (e às demais indústrias minero-
siderúrgicas instaladas na bacia), na medida em que esta, em razão das expansões,
causa um crescimento populacional da cidade de Congonhas. Em consequência, há
um aumento na pressão sobre o corpo hídrico, agravado pela inexistência de
tratamento dos efluentes domésticos, que é uma obrigação do poder público.
4.2.8 Oxigênio Dissolvido
O oxigênio dissolvido é um dos principais parâmetros para controle dos
níveis de poluição das águas, visto que é fundamental para manter e verificar as
condições aeróbicas num curso d’água que recebe material poluidor, onde os
principais responsáveis pela elevação do consumo de oxigênio dissolvido são os
microrganismos responsáveis pela degradação da matéria orgânica. Além disso, a
oxidação de íons metálicos, tais como ferro e manganês, também é responsável
pela diminuição de sua concentração nas águas (CRISPIM, 2007; VALLE JR et al.,
2012).
A Resolução CONAMA nº 357/05 e a Deliberação Normativa
COPAM/CERH-MG nº 01/08 determinam, para rios Classe 2, uma concentração
mínima de 5 mg L-1 para oxigênio dissolvido. As concentrações deste parâmetro no
Rio Maranhão apresentaram algumas violações, conforme pode ser percebido na
Figura 17.
60
FIGURA 17 - Variação da concentração de oxigênio nas amostras de água coletadas em vários pontos do Alto Rio Maranhão, entre os meses de julho de 2012 a março de 2013. Símbolos seguidos pela mesma letra não apresentam médias estatisticamente diferentes entre si, de acordo com o teste de Tukey, ao nível de 95% de confiança.
Nas amostras do Rio Maranhão, as concentrações de oxigênio dissolvido
oscilaram entre 3,45 mg L-1 e 6,05 mg L-1. Após realização do teste de Tukey
verificou-se não haver diferença entre as médias dos três pontos amostrais nos
meses de setembro, outubro e dezembro de 2012 e janeiro e março de 2013. Nos
demais meses houve diferença significativa, sendo que não foi verificado um
comportamento padrão, pois ora as menores concentrações foram observadas no
ponto P2 (sem que houvesse diferença significativa entre este e o ponto P1), ora no
ponto P3 (sem que houvesse diferença entre este e o P2), ou seja, o comportamento
do oxigênio dissolvido nas águas do Rio Maranhão foi semelhante nos três pontos
amostrais.
Esses resultados apontam que existe uma fonte externa contribuindo para
a alteração desse parâmetro no Rio Maranhão, localizada antes mesmo do ponto P1
(a montante do ponto de interseção entre o Córrego Casa de Pedra e o Rio
Maranhão), e, como o decréscimo de oxigênio dissolvido é um indicativo da
presença de matéria orgânica (GOMES et al., 2011), as violações observadas estão
associadas à presença de esgoto doméstico sem tratamento. Assim, a atividade
a ab b
b
a a
a
a a a b
a ab b
a a
b
61
mineradora adjacente contribui indiretamente para a violação deste parâmetro no
Rio Maranhão, pelas mesmas razões expostas no item 4.2.6, pelo crescimento
populacional associado à expansão da mineradora e da região Alto Paraopeba,
somada à omissão do poder público no que se refere ao tratamento do esgoto.
Salienta-se que a presença de oxigênio dissolvido na água é de
fundamental importância para a regulação da fauna do corpo hídrico, sendo que a
sua ausência ou diminuição reduz a biodiversidade nos corpos de água,
potencializando a presença de microrganismos anaeróbios que, no processo de
decomposição da matéria orgânica presente na água, produz odores ruins
(TREVISAM, 2011). Ao mesmo tempo, ele é essencial para a manutenção da biota
aquática, uma vez que faz parte dos processos de fotossíntese e respiração ou
decomposição, sendo essencial para os processos de autodepuração (CRISPIM,
2007; CETESB, 2009).
Por todo o exposto, verifica-se que a situação observada no Rio
Maranhão é preocupante e a alteração nas concentrações de oxigênio dissolvido
prejudica, ou até mesmo impede, a destinação e usos pretendidos para as águas,
como, por exemplo, para a pesca e manutenção da biota aquática, nos termos da
legislação pertinente (COPAM, 1995; CONAMA, 2005).
4.2.9 Temperatura e pH
A temperatura e o pH foram analisados porque podem influenciar na
concentração dos metais (ferro e manganês), sendo que o parâmetro físico
temperatura da água não consta na Resolução CONAMA nº 357/05 nem na
Deliberação Normativa COPAM/CERH-MG nº 01/08, mas é quase sempre medido
em diagnósticos de recursos hídricos, pois reflete bem as variações sazonais
ocorridas, além de poder alterar os equilíbrios aquáticos (VALLE JR et al., 2012).
62
Apesar de não haver limites para a temperatura do corpo d’água receptor,
na Resolução CONAMA nº 357/05 nem na Deliberação Normativa COPAM/CERH-
MG nº01/08, elas estabelecem que a temperatura máxima do efluente descartado no
corpo d’água não deva ultrapassar 40 °C, sendo que a variação da temperatura no
corpo receptor não deverá exceder a 3°C na zona de mistura (CONAMA, 2005,
COPAM/CERH, 2008).
No Rio Maranhão, a temperatura da água acompanhou a atmosférica,
sendo observadas temperaturas mais baixas nos dias mais frios e temperaturas
mais altas nos dias mais quentes, não havendo variações maiores que 3°C entre os
pontos amostrais no mesmo mês, conforme pode ser percebido na Figura 18.
FIGURA 18 - Variação da temperatura nas amostras de água coletadas em vários pontos do Alto Rio Maranhão, entre os meses de julho de 2012 a março de 2013. Símbolos seguidos pela mesma letra não apresentam médias estatisticamente diferentes entre si, de acordo com o teste de Tukey, ao nível de 95% de confiança.
O pH, por sua vez, também, não apresentou violações aos limites mínimo
e máximo (6,00 e 9,00, respectivamente) estabelecidos na Resolução CONAMA
nº357/05 e na Deliberação Normativa do COPAM/CERH- MG nº 01/08. Como pode
a
a a
a
a
b b
a
b
c b b
a
b
c
b
c
a a
63
ser observado na Figura 19, os valores de pH mantiveram-se dentro dos limites
legais, não apresentado, pela aplicação do teste de Tukey, diferenças significativas
entre as médias em cada ponto amostral.
FIGURA 19 - Variação da temperatura nas amostras de água coletadas em vários pontos do Alto Rio Maranhão, entre os meses de julho de 2012 a março de 2013. Símbolos seguidos pela mesma letra não apresentam médias estatisticamente diferentes entre si, de acordo com o teste de Tukey, ao nível de 95% de confiança.
As variações neste parâmetro podem ser ocasionadas, além de outros,
pelo consumo e pela produção de gás carbônico realizados pelos organismos
fotossintetizadores e pelos fenômenos da respiração/fermentação de todos os
organismos presentes na água, produzindo ácidos orgânicos fracos (MEZOMO,
2008). Assim o caráter neutro das águas e a ausência de alterações no pH ao longo
dos meses, afirmada pela aplicação do teste de Scott-Knott, que demonstrou não
haver diferença entre as médias do pH, em cada ponto amostral, ao longo dos
meses, são fatores positivos e benéficos ao Rio Maranhão, visto que valores de pH
acima ou abaixo dos limites podem ser prejudiciais, ou mesmo letais, para a maioria
dos organismos aquáticos (LEÃO, 2011).
a a a
a
a a
a
a
a
a
a
64
Além do mais, o pH também interfere na solubilidade de diversas
substâncias, tais como as formas dissolvidas de ferro e manganês, nas formas livre
e ionizada de diversos compostos químicos e no potencial de toxicidade de vários
elementos (GARUZZI e REALI, 2012; LEÃO, 2011; MARTINS e SPERLING, 1997),
o que poderia alterar a concentração de ferro e manganês nas águas do Rio
Maranhão.
4.2.10 Análise de componentes principais (PCA)
A PCA pode ser definida como um método de estatística multivariada, que
permite interpretar a estrutura de um conjunto de dados multivariados a partir das
respectivas matrizes de variâncias-covariâncias ou de correlações entre os
parâmetros considerados. Ele é importante em estudos ambientais onde se tem
muitas amostras e variáveis que podem ter seus valores influenciados por outras,
pois é uma maneira de avaliar integradamente um complexo de dados, onde as
variáveis podem ser analisadas em conjunto (BERNARDI et al., 2009).
Dessa forma foram realizadas duas formas de análise multivariada:
utilizando todas as médias de concentração de todos os parâmetros por ponto e
utilizando todas as médias de concentração de todos os parâmetros analisados. Em
ambos os casos, o teste foi realizado ao nível de 95% de confiança, sendo que a
correlação estabelecida pela análise multivariada total (todos os dados) pode ser
vista na Tabela 1.
O gráfico biplot resultante dos resultados apresentados na Tabela 1 pode
ser observado na Figura 20. . E, com pequenas variações, mas mantendo a
tendência de correlação significativa entre as variáveis, a PCA por ponto gerou os
gráficos biplot mostrados na Figura 21.
65
TABELA 1
Correlação entre os parâmetros monitorados, estabelecida pela PCA ao nível de 95% de confiança
FeT FeD MnT MnD Turb OG Fen OD DBO pH Temp STD Prec Prec total
FeT 1 0,876 0,342 0,321 0,781 - - - - - - - 0,416 -
FeD 0,876 1 0,504 0,429 0,909 - - - - - - - 0,400 -
MnT 0,342 0,504 1 0,752 0,519 - - - 0,384 - - - 0,405 -
MnD 0,321 0,429 0,752 1 0,395 - - - 0,565 - -
0,266 -
Turb 0,781 0,909 0,519 0,395 1 - - - - - - - -0,423 -
OG - - - - - 1 - - - - - - - -
Fen - - - - - - 1 - - - - - 0,410 -
OD - - - - - - - 1 0,515 - - - - 0,498
DBO - - 0,384 0,565 - - - 0,515 1 - - - - -0,370
pH - - - - - - - -- - 1 -0,518 - - -
temp - - - - - - - - - - - - 0,555 0,517
STD - - - - - - - - - - - 1 - -0,860
Prec 0,416 0,400 0,405 0,266 - -0,423 0,410 - - - 0,555 - 1 -
Prec total - - - - - - - 0,498 -0,370 - 0,517 -0,860 - 1
Onde: FeT – ferro total; FeD – ferro dissolvido; MnT – manganês total; MnD – manganês dissolvido; OG – óleos e graxas; Fen – fenóis; OD – oxigênio dissolvido; DBO – demanda bioquímica de oxigênio; temp – temperatura; STD – sólidos totais dissolvidos; Prec – precipitação (48 H); Prec total – precipitação total e (–) sem correlação.
FIGURA 20 - Gráfico biplot resultante da análise de componentes principais de todos os parâmetros de qualidade da água analisados durante o período do estudo, além da precipitação 48 H antes de cada coleta e precipitação total. Onde: FeT – ferro total; FeD – ferro dissolvido; MnT – manganês total; MnD – manganês dissolvido; OG – óleos e graxas; Fen – fenóis; OD – oxigênio dissolvido; DBO – demanda bioquímica de oxigênio; temp – temperatura; STD – sólidos totais dissolvidos; Prec – precipitação (48 H); Prec total – precipitação total.
-4 -2 0 2 4 6
-4
-3
-2
-1
0
1
2
3
4
5
-0,5 0,0 0,5
-0,6
-0,4
-0,2
0,0
0,2
0,4
0,6
0,8
FeT
FeD
MnTMnD
Turb
OG
Fenóis
OD
DBOpH
Temp
STD
Prec
PT
Com
ponente
Princip
al 2
Componente principal 1
66
FIGURA 21 - Gráfico biplot resultante da análise de componentes principais de todos os parâmetros de qualidade da água do Alto Rio Maranhão analisados para o Ponto P1 (a), P2 (b) e P3 (c), além da precipitação 48 H antes de cada coleta e precipitação total, ao nível de 95% de confiança. Onde: FeT – ferro total; FeD – ferro dissolvido; MnT – manganês total; MnD – manganês dissolvido; OG – óleos e graxas; Fen – fenóis; OD – oxigênio dissolvido; DBO – demanda bioquímica de oxigênio; temp – temperatura; STD – sólidos totais dissolvidos; Prec – recipitação ( 48 H); Prec total – precipitação total.
-4 -2 0 2 4
-4
-3
-2
-1
0
1
2
3
4
-0,5 0,0 0,5
-0,5
0,0
0,5
FeT
FeD
MnT
MnD
Turb
OG
Fenóis
OD
DBO
pH
Temp
STD
Prec
PTC
om
po
ne
nte
prin
cip
al 2
Componente principal 1
-4 -2 0 2 4
-4
-3
-2
-1
0
1
2
3
-0,5 0,0 0,5
-0,5
0,0
0,5
FeT
FeD
MnT
MnD
Turb
OG
Fenóis
OD
DBOpH
Temp
STD
Prec
PT
Co
mpo
ne
nte
prin
cip
al 2
Componente principal 1
-4 -2 0 2 4 6
-5
-4
-3
-2
-1
0
1
2
3-0,5 0,0 0,5
-1,0
-0,5
0,0
0,5
FeTFeD
MnT
MnD
Turb
OGFenóis
OD
DBOpH
Temp
STD
Prec
PT
Com
ponente
princip
al 2
Componente principal 1
a
b
c
67
A correlação entre o ferro total e o ferro dissolvido foi demonstrada pela
aplicação da PCA como já se esperava, em razão das discussões já explanadas no
item 4.2.1. Da mesma forma, e pelas mesmas explicações, foi comprovada, pela
análise estatística a correlação entre o manganês total e o manganês dissolvido.
Também houve correlação positiva e significativa entre os metais ferro e
manganês, o que provavelmente se deve ao tipo de depósitos minerais encontrados
na Região do Quadrilátero Ferrífero, formados por hematitas, goethitas e
magnetitas, sendo que estas últimas contem, nas suas estruturas além do ferro,
concentrações menores de manganês (CABRAL, 2010).
Além destas, observou-se que houve correlação significativa (e positiva)
entre os metais (ferro e manganês) e a turbidez, conforme se esperava, uma vez
que, conforme restou demonstrado nos itens 4.2.1 e 4.2.2, os tributários que sofrem
influência de mineradoras de ferro tendem a ter um aumento na turbidez
(MENDONÇA, 2012; PARRA et al., 2007, RODRIGUES et al.,2013). Além disso, as
concentrações dos metais sofreram influência da precipitação diária (48 horas antes
da coleta), sendo observada entre eles uma correlação positiva e significativa. Esse
resultado também era esperado, uma vez que as concentrações de metais em
corpos d’água são maiores em períodos chuvosos em razão dos processos erosivos
deflagrados na bacia, como já mencionado no item 4.2.3 (PARRA et al., 2007). Tudo
isso confirma que a atividade mineradora adjacente pode ser apontada como a
origem da alteração destes parâmetros.
Conforme visto no item 4.2.5, foi observada a presença de matéria
orgânica no Rio Maranhão, demonstrada pelas altas concentrações de DBO. As
altas concentrações de ferro e manganês associadas à presença de matéria
orgânica nos corpos hídricos podem levar à formação de complexos orgânicos que
aumentam a solubilidade destes metais no corpo hídrico, levando a um incremento
na concentração dos metais e, dificultando, ainda mais, a retirada dos mesmos das
águas (MORUZZI e REALI, 2012). Esta situação pôde ser observada pela aplicação
da PCA que demonstrou haver uma correlação positiva e significativa entre as
concentrações de DBO e manganês.
68
A presença de matéria orgânica nos corpos d’água influencia
negativamente as concentrações de oxigênio dissolvido porque a presença daquele
pode induzir ao completo esgotamento deste na água, provocando o
desaparecimento de peixes e outras formas de vida aquática (CETESB, 2009;
GOMES et al., 2011). A relação entre a DBO e o oxigênio dissolvido foi confirmada
pela aplicação da PCA, que apontou haver correlação negativa e significativa entre
esses dois parâmetros, ou seja, quando maior a concentração de DBO, menor a
quantidade de oxigênio dissolvido nas águas.
Friese e colaboradores (2010) ao estudar a influência antropogênica na
degradação da Lagoa da Pampulha, Belo Horizonte/MG, verificaram baixíssimas
concentrações de oxigênio dissolvido (em alguns pontos foi determinada ausência
total) e presença de metais, tais como ferro e manganês nas águas do lago.
Resultados semelhantes foram observados no estado do Paraná por Oliveira Filho e
colaboradores (2012), que conduziram um estudo para verificar a qualidade das
águas e o uso da terra na microbacia do Rio Santa Rosa para identificar as
principais fontes poluidoras do rio. Neste sentindo verificou-se que os parâmetros
DBO, oxigênio dissolvido, fenóis, óleos e graxas, dentre outros, não respeitavam a
legislação, apresentando, portanto, violação nos valores máximos e mínimos.
Em ambos os casos, as violações encontradas nos parâmetros
mencionados foram atribuídas ao lançamento de esgoto doméstico in natura
diretamente nos rios. As mesmas observações foram feitas por Guedes (2011) ao
estudar a poluição de rios em áreas urbanas.
A PCA também demonstrou haver uma correlação positiva e significativa
entre a concentração de oxigênio dissolvido e a quantidade de precipitação total (a
soma de toda precipitação registrada entre as datas de coleta), uma vez que com o
aumento das chuvas há uma maior aeração e um aumento do volume de águas (e,
consequentemente, da correnteza).
A precipitação total também influenciou negativamente na concentração
de DBO, quanto maior o volume de chuva total, menor a concentração de DBO. Este
resultado foi corroborado pela aplicação do teste de Scott-Knott, que demonstrou
haver diferença significativa entre as médias de concentração de DBO em cada
69
ponto amostral, ao longo dos meses. Ou seja, houve variação das concentrações de
DBO nas amostras coletadas no Rio Maranhão, ao longo do tempo. Isto ocorre em
razão do aumento da movimentação das águas causada pelas chuvas, e,
consequentemente, da aeração do corpo hídrico, levando a um incremento na
concentração de oxigênio dissolvido (MEZOMO, 2008), ao mesmo tempo em que há
um aumento no volume das águas que causa a diluição dos compostos orgânicos.
A existência de correlação foi observada entre a precipitação total e a
concentração de sólidos totais dissolvidos, óleos e graxas e fenóis e na temperatura
como observado pelo PCA da seguinte forma:
A correlação observada entre sólidos totais dissolvidos e a
precipitação total foi negativa, ou seja, quanto maior o volume
de precipitação total, menor a concentração de sólidos totais
dissolvidos, em razão da diluição provocada pelo aumento de
volume das águas ocasionado pelas chuvas;
Entre a temperatura e as precipitações total e diária a correlação
também foi positiva, ou seja, quanto maior a precipitação
registrada, maior a temperatura. Isso porque o período chuvoso
coincide com a estação do verão, quando as temperaturas são
maiores, o que ratifica os resultados observados para a
temperatura, que acompanhou a temperatura atmosférica.
4.2.11 Comparação com os dados do IGAM
O Instituto Mineiro de Gestão de Águas de Minas Gerais (IGAM) possui
um projeto chamado Águas de Minas em que a qualidade das águas de inúmeros
corpos d’água de importantes bacias hidrográficas do estado é monitorada
trimestralmente, dando origem ao Relatório Trimestral de Águas, que é
disponibilizado para o público em geral no sítio oficial do instituto. Os parâmetros
analisados pelo projeto são: Alcalinidade, bicarbonato, demanda bioquímica de
70
oxigênio (DBO), nitrogênio amoniacal total, alcalinidade total, demanda química de
oxigênio (DQO), nitrogênio orgânico, alumínio dissolvido, densidade de
cianobactérias, óleos e graxas, arsênio total, dureza (cálcio), oxigênio dissolvido,
bário total, dureza (magnésio), pH in loco, boro total, dureza total, potássio, cádmio
total, ensaio de toxicidade crônica, selênio total, cálcio, estreptococos fecais, sódio,
chumbo total, fenóis totais, sólidos dissolvidos, cianeto livre, feoftina, sólidos em
suspensão, cianotoxinas, ferro dissolvido, sólidos totais, cloreto total, fósforo total,
substâncias tensoativas, clorofila a, macroinvertebrados bentônicos, sulfatos, cobre
dissolvido, magnésio total, sulfetos, coliformes termotolerantes, manganês total
temperatura da água, coliformes totais, mercúrio total, temperatura do ar,
condutividade elétrica in loco, níquel total, turbidez, cor verdadeira, nitrato e zinco
total.
De posse dos quatro relatórios trimestrais dos anos de 2012 e 2011
(IGAM, 2011, 2012), (os dados referentes ao ano de 2013 ainda não estavam
disponibilizados quando da realização do presente trabalho) foram analisados os
resultados das análises dos parâmetros de qualidade das águas do Rio Maranhão
coincidentes com os apresentados no presente estudo.
É importante informar que os dados do IGAM são coletados em dois
pontos amostrais: em Gagé, distrito de Conselheiro Lafaiete/MG (20º36’00,00”
latitude e -43º48'13,00" longitude) próximo a Conselheiro Lafaiete/MG, antes da
cidade de Congonhas) e a jusante da cidade de Congonhas/MG, antes da foz do Rio
Maranhão (que deságua no Rio Paraopeba) (20º30'52,00" latitude e -43º54'16,00
longitude). Os parâmetros violados em cada trimestre dos anos de 2011 e 2012
estão relacionados no Quadro 3.
71
QUADRO 4
Parâmetros violados em cada trimestre dos anos de 2011 e 2012
Parâmetros violados (concentração em mg L-1
)
Período 2011 2012
1º trimestre
Manganês total (2,455); Coliformes termotolerantes (160000);
Fenóis totais (0,004); Fósforo total (0,15),
Ferro dissolvido (0,325); Oxigênio dissolvido (2,4).
Coliformes termotolerantes (24000), Manganês total (1,72);
Oxigênio dissolvido (4,70).
2º trimestre
Ferro dissolvido (0,546); Manganês total (1,153),
Coliformes termotolerantes (13000); Oxigênio dissolvido (2,9);
Coliformes termotolerantes (160000); Manganês total (1,598),
Fósforo total (0,18), Oxigênio dissolvido (3,1);
3º trimestre
Ferro dissolvido (0,964); Manganês total (1,279);
Nitrogênio amoniacal (4,36); Coliformes termotolerantes (90000);
Oxigênio dissolvido (1,8); Fósforo total (0,22);
DBO (9,7); Ferro dissolvido (0,96);
Substâncias tensoativas (1,24); Fósforo total (0,20);
Manganês total (1,97); Oxigênio dissolvido (1,70);
Coliformes termotolerantes (90000); Nitrogênio amoniacal (5,25)
4º trimestre
Ferro dissolvido (0,01857); Manganês total (1,787);
Coliformes termotolerantes (30000); Fenóis totais (0,006);
Oxigênio dissolvido (3,2); Fósforo total (0,12).
Cianeto Livre (0,006); Coliformes termotolerantes (35000);
Manganês total (0,1066); Fósforo total (0,15); Substâncias
tensoativas (1,2).
Fonte: Relatórios trimestrais de água dos anos de 2011 e 2012 (IGAM, 2011, 2012).
As violações verificadas nos relatórios de qualidade da água demonstram
que as águas do Rio Maranhão já se encontram em situação delicada antes de
passarem pela cidade de Congonhas/MG, tendo sua situação agravada após cortar
a cidade, uma vez que as maiores concentrações de ferro dissolvido, manganês
total, coliformes termotolerantes e cianeto foram observadas, na sua maioria, à
jusante da cidade de Congonhas/MG.
Conforme visto nos itens anteriores, as violações à determinação legal
observadas na presente pesquisa foram confirmadas, na sua maioria, nos relatórios
do IGAM dos anos de 2012 e 2011, sendo que nestes foram verificadas violações
nos parâmetros: ferro dissolvido, manganês total, oxigênio dissolvido, DBO e fenóis,
além de coliformes termotolerantes, nitrogênio amoniacal, fósforo, substâncias
tensoativas e cianeto total (IGAM, 2012).
72
Considerando os métodos físicos e químicos proposto para avaliar a
qualidade da água no Brasil, o mais amplamente utilizado é o Índice de Qualidade
da Água (IQA), originalmente desenvolvido pela National Sanitation Foundation
(Fundação Sanitária Nacional) dos Estados Unidos, o qual foi criado após pesquisa
de opinião dos especialistas do setor ambiental, que estabeleceram como variáveis
relevantes de qualidade das águas os coliformes termotolerantes, a demanda
bioquímica de oxigênio (DBO), o fosfato, o nitrato, oxigênio dissolvido, o potencial
hidrogeniônico (pH), os sólidos totais dissolvidos, a temperatura e a turbidez
(MORETTO et al., 2012).
No programa de monitoramento de qualidade das águas de Minas Gerais
em comento também é verificado o Índice de Qualidade das Águas (IQA) que reflete
a contaminação das águas em decorrência da matéria orgânica e fecal, sólidos e
nutrientes e sumariza os resultados de nove parâmetros (oxigênio dissolvido,
coliformes termotolerantes, pH, demanda bioquímica de oxigênio, nitrato, fosfato
total, variação da temperatura da água, turbidez e sólidos totais). Os valores do
índice variam entre 0 e 100 e os níveis de qualidade são classificados como Muito
Ruim (entre 0 e 25), Ruim (entre 25 e 50), Médio (entre 50 e 70), Bom (entre 70 e
90) e Excelente (entre 90 e 100) (IGAM, 2012). O IQA do Rio Maranhão, de acordo
com os relatórios trimestrais, foi estabelecido como “RUIM”.
Além do IQA, o projeto Águas de Minas verifica também a contaminação
por Tóxicos (CT), que avalia a presença de 13 substâncias tóxicas nos corpos de
água, quais sejam: arsênio total, bário total, cádmio total, chumbo total, cianeto livre,
cobre dissolvido, cromo total, fenóis totais, mercúrio total, nitrito, nitrato, nitrogênio
amoniacal total e zinco total, estabelecendo denominações baixa, média ou alta
(IGAM, 2012).
Nos termos do IGAM (2011, 2012), a denominação baixa refere-se à
ocorrência de substâncias tóxicas em concentrações que excedam em até 20% o
limite de classe de enquadramento do trecho do corpo de água onde se localiza a
estação de amostragem, a média refere-se à faixa de concentração que ultrapasse
os limites mencionados no intervalo de 20% a 100%, enquanto a contaminação alta
refere-se às concentrações que excedam em mais de 100%. No Rio Maranhão, a
contaminação por tóxicos variou entre baixa e média nos anos de 2011 e 2012.
73
Tudo isso, somado aos resultados da análise dos parâmetros da presente
pesquisa, em que algumas violações foram observadas no trecho estudado do Rio
Maranhão, indicam que suas águas podem estar inadequadas para os usos para os
quais foi destinado, quando da realização do seu enquadramento como Rio Classe
2.
4.3 Análise do EIA/RIMA
O Estudo de Impacto Ambiental (EIA) analisado se refere ao processo de
expansão do empreendimento já existente, denominado Mina Casa de Pedra,
processo de licenciamento n° 00103/1981/022/2002, com a implantação de duas
novas frentes de lavra, denominadas Corpo Norte e Mascate, uma nova barragem
de contenção de rejeitos, denominada Batateiro, além da junção das cavas Corpo
Oeste e Principal e do alteamento da barragem do Córrego Casa de Pedra. A
expansão data de 2003.
O Diagnóstico Ambiental da Área de Influência foi realizado considerando
os meios físico, biótico e socioeconômico, sendo que, nos termos do EIA, o mesmo
foi elaborado “com base nos levantamentos de dados primários em campo, por
equipe multidisciplinar, e ainda considerando os estudos ambientais realizados
anteriormente na área objeto de estudos e dados bibliográficos” (CSN, 2003).
Deve ser realçado que o EIA se refere a uma expansão, logo, dados
preexistentes em relação ao diagnóstico do meio físico, incluindo os dados
referentes à qualidade das águas, foram utilizados como fonte.
A hidrografia foi descrita inserindo o empreendimento na sub-bacia do Rio
Maranhão, bacia do Rio Paraopeba (como bacia estadual), macro bacia do Rio São
Francisco (bacia federal). É informado também que o complexo de barragem de
74
rejeitos do empreendimento é formado pelas bacias dos córregos Figueiredo, Casa
de Pedra, do Pilar, do Sabino e da Canela.
A qualidade das águas foi diagnosticada e para tal foram utilizados dados
fornecidos pela própria empresa relativos ao programa de monitoramento executado
ao longo do ano de 2002. Os pontos de amostragem descritos foram os seguintes:
Ponto 1P- Córrego Poço Fundo;
Ponto 2P - Córrego da Matinha;
Ponto 1Q, montante – Rio Maranhão a montante do Córrego
Casa de Pedra;
Ponto 1Q, jusante – Rio Maranhão a jusante do Córrego Casa
de Pedra;
Ponto 2Q, montante – Rio Maranhão a montante do Córrego
Plataforma;
Ponto 2Q, jusante – Rio Maranhão a jusante do Córrego
Plataforma;
Ponto 3Q – Vertedouro da barragem B6;
Ponto 4Q – Vertedouro da barragem do Lagarto;
Ponto 6Q – Córrego Esmeril a jusante do dique de contenção de
finos do Esmeril;
Ponto 7Q – Córrego Bichento a jusante do dique de contenção
de finos do Esmeril;
Córrego 8Q – Córrego Figueiredo.
É importante observar que, no EIA, não foram mencionadas as
coordenadas dos pontos de amostragem, sendo apenas colocado quais são os
pontos amostrais e onde eles estão localizados.
Após o exame de um dos anexos do EIA intitulado DESENHOS, concluiu-
se que os pontos 1Q montante e 1Q jusante se referem ao ponto de encontro do Rio
Maranhão com o Córrego Casa de Pedra (que recebe a água drenada da mina).
Estes pontos são coincidentes com os pontos P1 e P2, respectivamente, do
presente trabalho, ressaltando que o ponto 1Q jusante (coincidente com o P2)
recebe as influências da Mina Casa de Pedra (Figura 22).
75
Figura 22 - Localização do Córrego Casa de Pedra em relação à barragem de rejeitos e ao Rio Maranhão. A seta amarela aponta para a interseção. Fonte: Modificado do EIA (CSN, 2003).
Os parâmetros monitorados foram os seguintes: demanda bioquímica de
oxigênio, óleos e graxas, fenóis, manganês solúvel e total, ferro solúvel, sólidos
totais dissolvidos, turbidez, cor, oxigênio dissolvido, pH in natura, temperatura da
água, temperatura do ar, coliformes fecais, coliformes totais e estreptococos fecais.
As análises foram realizadas pelo Laboratório LIMNOS Hidrobiologia e Limnologia
Ltda., seguindo a metodologia prescrita no Standard Methods for Examination of
Water and Wasterwater (APHA, 1998), sendo que os resultados foram comparados
com os padrões máximos e mínimos estabelecidos pela Deliberação Normativa do
COPAM 10/87 e o enquadramento definido pela Deliberação Normativa do COPAM
14/95, que trata sobre o enquadramento da Bacia do Rio Paraopeba e que classifica
o Rio Maranhão como rio Classe 2 e compilados em tabelas e gráficos.
É importante informar que a Deliberação Normativa COPAM nº10/87 foi
revogada e substituída pela Deliberação Normativa COPAM/CERH-MG nº01/08.
Esta, por sua vez, não alterou aquela, mas apenas trouxe atualizações e adaptou-se
à Resolução CONAMA nº 357/05.
Vertedouro da barragem
Interseção Córrego Casa de
Pedra/Rio Maranhão
P1/ 1Q montante P2/ 1Q jusante
76
Em relação à qualidade das águas superficiais, foi verificado que nos
pontos 1Q montante e 1Q jusante (coincidentes com os pontos P1 e P2 desse
trabalho, respectivamente), alguns parâmetros estavam em desacordo com aqueles
estabelecidos para águas Classe 2, pela Deliberação Normativa do COPAM n°
10/87 no que se refere à DBO, oxigênio dissolvido e coliformes fecais.
No Estudo de Impacto Ambiental este desacordo é atribuído ao
lançamento de esgoto in natura no Rio Maranhão pelas cidades de Congonhas e
Conselheiro Lafaiete. As concentrações de manganês também estavam em
desacordo com a resolução mencionada, o que foi atribuído aos solos da região,
ricos em manganês, sendo que os dados do EIA não contrariam essas afirmações.
Para a previsão de impactos ambientais nos corpos hídricos, tanto na
fase da implantação, quanto na fase de operação do empreendimento, foram
previstas as gerações de efluentes líquidos sanitários e oleosos, sendo que os
efluentes contendo óleos e graxas seriam gerados nas operações de manutenção e
abastecimento de equipamentos mecânicos e veículos. Foi informado que estes
locais já possuíam sistema de tratamento destes efluentes, o que seria confirmado
pelos dados do EIA, que não observou diferenças nas concentrações de óleos e
graxas entre os pontos à montante e à jusante do Córrego Casa de Pedra.
No EIA, é afirmado que os efluentes sanitários seriam gerados pelos
funcionários das obras e, posteriormente, pelos funcionários da lavra e do transporte
de minério, sendo que os canteiros de obras deveriam ser dotados de sistema de
tratamento daqueles efluentes e, nas áreas das cavas, seria implantado um sistema
móvel de controle de efluente sanitário e não foi relatada qualquer previsão para
contaminação do Rio Maranhão pelos efluentes provenientes da mina e da
barragem de rejeitos.
Duas são as medidas relacionadas à qualidade das águas relatadas no
EIA: Controle de Poluição Hídrica e Programa de Monitoramento da Qualidade das
Águas. O primeiro visa evitar a contaminação dos corpos d’água e aquíferos pelos
efluentes líquidos gerados pelo empreendimento e seria realizado através dos já
mencionados sistemas de tratamento de efluentes sanitários, da utilização de
banheiros químicos e do sistema de tratamento dos efluentes oleosos, não havendo
77
qualquer menção sobre os demais parâmetros. Além disso, para controlar o
carreamento de sólidos, foi previsto, dentro do programa de Controle de Poluição
Hídrica, a implantação de sistema de drenagens com valetas, leiras de contenção,
bacias de decantação e dissipadores de energia, de forma a conduzir as águas
superficiais, evitando o surgimento de processos erosivos.
Segundo o EIA, o Programa de Monitoramento da Qualidade das Águas
tem como objetivo “ser um instrumento capaz de dar suporte à manutenção do nível
desejável de qualidade das águas, considerando-se os sistemas de minimização a
serem implantados”, e o programa de monitoramento é justificado pelo potencial
modificador decorrente da sua implantação.
Diante do exposto, o EIA analisado no contexto desse trabalho não
obedece (em partes) à Resolução CONAMA nº01/86, que estabelece o conteúdo
mínimo que um estudo de impacto ambiental deve conter no que se refere ao
diagnóstico ambiental da área de influência, a saber, a “completa descrição e análise
dos recursos ambientais e suas interações”, a previsão da “magnitude e
interpretação da importância dos prováveis impactos” e, também, a “definição das
medidas mitigadoras dos impactos negativos, entre elas os equipamentos de
controle e sistemas de tratamento de despejos, avaliando a eficiência de cada uma
delas” (CONAMA, 1986). Não há qualquer menção sobre o tratamento específico
das águas drenadas da mina e provindas da barragem, que são direcionadas para o
córrego Casa de Pedra, e, consequentemente, para o Rio Maranhão. Também, não
faz qualquer menção sobre impactos indiretos que o aumento populacional em
decorrência da expansão poderia vir a causar.
Após a realização do EIA, as conclusões são refletidas no Relatório de
Impacto Ambiental (RIMA), e, como ocorreu com o EIA, também foi observado no
seu respectivo RIMA o descumprimento das exigências legais no que se refere ao
conteúdo mínimo.
O RIMA analisado se refere ao processo de licenciamento da expansão
da empresa Companhia Siderúrgica Nacional, Mina Casa de Pedra, a qual foi
licenciada em 2003, cujo EIA foi analisado acima, tratando-se de um resumo
78
simplificado deste. A empresa responsável pelo RIMA foi a SETE Soluções e
Tecnologia Ambiental, com sede na cidade de Belo Horizonte - MG.
Foi verificado que o RIMA é muito bem estruturado e a linguagem é de
fácil entendimento e acessível ao público leigo, porém peca pelo excesso de
informação em certos pontos, tais como no arrolamento das aves que foram
encontradas na região do empreendimento, e pela ausência de dados em outros
momentos (por exemplo, não há menção de quais parâmetros foram monitorados no
programa de monitoramento de qualidade das águas).
Mesmo deixando claro de que se trata de um resumo do Estudo de
Impacto Ambiental, que seria um documento mais completo e complexo, faltam
informações importantes, estando o presente documento em desacordo com a
Resolução CONAMA 01/86 em alguns de seus itens, conforme mencionado abaixo.
No que tange à qualidade das águas, o documento não
especificou a situação dos corpos hídricos, inclusive o Rio
Maranhão, apenas informando que este se enquadra como rio
Classe 2, nos termos da legislação da Deliberação Normativa
COPAM nº10/86, e que somente os parâmetros DBO, oxigênio
dissolvido e manganês teriam apresentado violações no Rio
Maranhão;
A descrição dos impactos também é tratada de maneira
superficial, sendo que os critérios usados para identificá-los,
quantificá-los e interpretá-los não foram arrolados. Essas
informações deveriam estar contidas no RIMA, afinal é a ele que
o público tem acesso;
No que se refere à descrição do efeito esperado das medidas
mitigadoras previstas em relação aos impactos negativos, bem
como a alusão daqueles que não puderam ser evitados, e,
também, o grau de alteração esperado, nada foi mencionado, o
que está em total desacordo com a Resolução CONAMA 01/86,
que exige que estes itens estejam explicitados no RIMA;
Em relação aos corpos d’água, há a ausência de dados, tais
como quais os parâmetros foram analisados e qual a situação
79
dos mesmos naquele momento e, até mesmo, qual metodologia
foi seguida para identificá-los e medi-los, sendo que estes dados
deveriam estar inseridos na descrição da qualidade das águas
superficiais.
Fato é que o público geral não tem acesso ao EIA, e sim ao RIMA, e ele é
realizado para que os interessados possam se posicionar quanto ao
empreendimento, principalmente nas audiências públicas (CONAMA, 1986). Assim,
a ausência dos dados acima mencionados compromete esse posicionamento e a
discussão do mesmo nestas audiências, impossibilitando as reclamações que
possam ser formuladas e atendidas durante a consulta pública durante um processo
de Avaliação de Impacto Ambiental (SANCHES, 2008).
O EIA e seu respectivo RIMA são elaborados a partir de um termo de
referência, que pode ser conceituado como documento que estabelece as diretrizes
para a preparação de um EIA, orientando sua elaboração, definindo seu conteúdo,
abrangência e métodos e, por fim, estabelecendo sua estrutura. Eles podem ser
gerais, para todo e qualquer empreendimento, ou específicos, para o
empreendimento que será estudado (SANCHES, 2008).
Em Minas Gerais, o termo de referência para atividades mineradoras é
denominado Termo de Referência para elaboração de Estudos de Impacto
Ambiental para as Atividades Minerárias em Áreas Cársticas nos Estado de Minas
Gerais, elaborado no ano de 2005 (FEAM, 2005). Nele é estabelecido o conteúdo
obrigatório mais detalhado do que o exigido pela Resolução CONAMA nº01/86,
dando atenção especial às questões das cavernas (áreas cársticas).
Assim, foi considerada, para a elaboração do termo, a preocupação com
a manutenção com as cavernas e a suas contribuições paleontológicas, sem,
contudo, fixar a importância do bem mineral que será explorado, nem mesmo os
parâmetros de qualidade da água a serem monitorados.
O termo em comento só foi elaborado no ano de 2005 e por essa razão o
EIA da expansão da CSN não foi elaborado seguindo as suas exigências, já que
data do ano de 2002. Provavelmente, o EIA e seu respectivo RIMA foram
elaborados a partir do Termo de Referência Geral (FEAM, data desconhecida).
80
Neste termo, é exigida a caracterização dos principais usos das águas
superficiais e subterrâneas, na área potencialmente atingida pelo empreendimento,
apresentando a listagem das utilizações levantadas, suas demandas atuais e
futuras, em termos qualitativos e quantitativos, e, também, a análise das
disponibilidades frente às utilizações atuais e projetadas (FEAM, data
desconhecida). Ou seja, deve ser considerado o enquadramento dos corpos hídricos
sob influência do empreendimento.
Os parâmetros avaliados no EIA foram os seguintes: demanda bioquímica
de oxigênio, óleos e graxas, fenóis, manganês solúvel e total, ferro solúvel, sólidos
totais dissolvidos, turbidez, cor, oxigênio dissolvido, pH in natura, temperatura da
água, temperatura do ar, coliformes fecais, coliformes totais e estreptococos fecais.
É importante ressaltar que a concentração de ferro total não foi analisada no EIA.
Quanto aos parâmetros que devem ser acompanhados por exigência legal, a
situação é a seguinte:
A Resolução CONAMA 01/86 não especifica quais seriam os
parâmetros de qualidade da água que devam ser monitorados;
O termo de referência para elaboração de EIA para atividades
minerárias ema áreas cársticas impõe que a qualidade das
águas deve ser diagnosticada quanto às suas características
físicas, biológicas e químicas, sem fixar quais seriam os
parâmetros (FEAM, 2005);
O termo de referência geral para elaboração de EIA estabelece
que deve haver a caracterização físico-química e bacteriológica
de referência dos recursos hídricos;
Diante disso, conclui-se que os parâmetros a serem acompanhados
devem constar dentre aqueles arrolados na Resolução CONAMA nº 357/05, cujos
limites máximos e mínimos são estabelecidos para cada classe de rio. Os
parâmetros listados na resolução mencionada são os seguintes: clorofila a,
densidade de cianobactérias, sólidos dissolvidos totais, alumínio dissolvido,
antimônio, arsênio total, bário total, berílio total, boro total, cádmio total, chumbo
total, cianeto livre, cloreto total, cloro residual total, cobalto total, cobre dissolvido,
cromo total, ferro dissolvido, fluoreto total, fósforo total, fósforo total, lítio total,
81
manganês total, mercúrio total, níquel total, nitrato, nitrito, nitrogênio amoniacal total,
prata total, selênio total, sulfato total, sulfeto, urânio total, vanádio total, zinco total,
acrilamida, alacloro, aldrin + dieldrin, atrazina, benzeno, benzidina, benzo
(a)antraceno, benzo(a)pireno, benzo(b)fluoranteno, benzo(k)fluoranteno, carbaril,
clordano, 2-clorofenol, criseno, demeton, dibenzo(a,h)antraceno,1,2-dicloroetano,1-
dicloroeteno, 2,4-diclorofenol, diclorometano, DDT, dodecacloro pentaciclodecano,
endossulfan, endrin, estireno, etilbenzeno, fenóis totais, glifosato, gution heptacloro
epóxido + heptacloro, hexaclorobenzeno, indeno(1,2,3-cd)pireno lindano, malation,
metolacloro, metoxicloro, paration, PCBs - bifenilas policloradas, pentaclorofenol,
simazina, substâncias tensoativas, tetracloreto de carbono, tetracloroeteno, tolueno,
toxafeno, tributilestanho, tricloreteno, trifluralina, xileno, cor verdadeira, turbidez,
DBO, oxigênio dissolvido, óleos e graxas, coliformes termotolerantes e pH
(CONAMA, 2005).
Contudo, a forma de seleção de quais, dentre esses vários parâmetros,
devem ser analisados na elaboração do EIA, não é explicitado pela legislação ou
pelos termos de referência, o que leva a crer que essa seleção é feita a partir da
discricionariedade da empresa que é responsável pela elaboração do estudo.
Tanto no termo de referência geral, quanto no termo de referência para
atividades minerárias em áreas cársticas é imposto que haja a caracterização da
dinâmica populacional, inclusive no que se refere às causas e tendências
migratórias e à evolução da população, o que foi feito no EIA/RIMA em estudo.
Contudo, a interação entre a dinâmica populacional, com o meio físico,
(principalmente os recursos hídricos) não foi igualmente estabelecida. Em
decorrência disso, a obrigação de descrever detalhadamente os impactos
ambientais sobre o corpo hídrico, foi descumprida. E, ainda, houve descumprimento
no que se refere à consideração dos usos pretendidos das águas que sofrem
influência do empreendimento.
Toda essa circunstância pode estar associada à ausência do
estabelecimento de uma relação de causalidade entre as ações da empresa com os
possíveis danos, que é uma noção fundamental na avaliação de impacto, indicando
claramente como os impactos surgem das ações em desenvolvimento (GLASSON e
PERDICOÚLIS, 2012).
82
É fato que, no caso em estudo, não houve violação nos parâmetros pH,
sólidos totais dissolvidos e turbidez. Por outro lado, as violações observadas para
ferro, manganês, óleos e graxas e fenóis demonstram que o trecho estudado do Rio
Maranhão não respeita o enquadramento como rio Classe 2 (COPAM, 1995), nos
termos da resolução CONAMA nº 357/05, apontando que suas águas não podem
ser destinadas ao abastecimento público após tratamento convencional, nem a
irrigação de plantas, ou qualquer destinação legalmente prevista na resolução
(CONAMA, 2005).
Essa situação pode ficar ainda pior em razão dos projetos industriais que
estão sendo e serão implementados na região, principalmente em Congonhas, com
planejamento de novas expansões pela CSN para os próximos anos. O cronograma
da empresa aponta investimentos na mina para que haja um aumento de produção
de 22 milhões de toneladas em 2010, para 70 milhões de toneladas em 2014 (CSN,
2013; MILANEZ, 2012). Tais projetos deverão levar a um crescimento significativo
da população de Congonhas e dos municípios do entorno, sendo que a previsão é
de que o município tenha por volta de 62 mil habitantes em 2015 (MILANEZ, 2012).
Diante disso é que os Estudos de Impacto Ambiental assumem posição
importante na gestão pública ambiental, se apresentando como principal ferramenta
para a manutenção da qualidade ambiental das áreas que irão receber os
empreendimentos. Do ponto de vista técnico, assume importância por trazer em seu
bojo informações caracterizadoras do local onde o empreendimento será construído
(REIS, 2011), pois é através dele que será verificada a viabilidade ambiental de cada
um dos empreendimentos previstos para a região, principalmente no tocante à
questão da qualidade das águas (SANCHES, 2008).
O EIA, assume, assim, o papel de instrumento de gestão ambiental, e,
diante disso, ele está ligado à questão da sustentabilidade de maneira inseparável,
pois não só verifica os possíveis impactos ambientais, mas trás, também, a forma de
mitigação dos danos e as alternativas tecnológicas (REIS, 2011; FLORÊNCIO,
2010).
A gestão ambiental está intrinsecamente associada à gestão dos recursos
hídricos. Portanto, não há que se falar em uso e ocupação do solo, licenciamento,
83
controle, fiscalização e acompanhamento do estado da qualidade ambiental, sem se
levar em conta a política sobre recursos hídricos e seus instrumentos de gestão,
como o enquadramento dos corpos de água. Assim, quando se pensa no recurso
ambiental água, todos esses instrumentos estão associados em sua gestão, de uma
forma ou de outra (FLORÊNCIO, 2010, SANCHES, 2008).
Por isso a questão da qualidade das águas é exigência recorrente na
formação e verificação dos índices de sustentabilidade da mineração, sendo
considerada para tal, a devolução das águas em qualidade igual ou superior ao
legalmente exigido, como um dos parâmetros para verificar a sustentabilidade
ambiental da atividade mineira (VIANA, 2012). A integridade dos biomas, das bacias
hidrográficas e dos ecossistemas, de forma geral, que garanta a continuidade da
base sobre a qual a economia repousa é um dos pré-requisitos essenciais para a
sustentabilidade (ENRIQUEZ et al., 2011).
Outro aspecto que deve ser avaliado é a questão do termo de referência
para a realização dos Estudos de Impacto Ambiental de Mineradoras. Em Minas
Gerais, o termo de referência para atividades mineradoras leva em consideração
apenas a preocupação com as áreas cársticas, sendo genérico nas outras questões.
Isso expõe uma dificuldade, pois cada tipo de mineral lavrado pode causar um dano
ambiental diferente, acrescentar poluentes ou alterar parâmetros dos cursos d’água
diferentes, como é o caso da mineração de ouro ou bauxita (cujos rejeitos podem
ser tóxicos) e a mineração de ferro (cujos rejeitos não são considerados
potencialmente tóxicos) (MENDONÇA, 2012).
Em decorrência disso, o EIA pode ser sobrecarregado em termos de
quantidade de informação por ter que informar questões não tão relevantes no
tocante ao empreendimento que está sendo avaliado, como, por exemplo, na
determinação de inúmeros parâmetros de qualidade de água que não são
associados à mineração de ferro (cloretos, metais pesados, entre outros), e outros
parâmetros que não são estudados a fundo, com a cautela necessária. Sem
mencionar a questão dos custos das análises de água que podem ser bem altos.
No caso em estudo, o excesso de informação pode atrapalhar os
programas de monitoramento de qualidade das águas previstos no próprio EIA
84
(CSN, 2003), já que sem especificar os parâmetros realmente importantes a serem
monitorados, vários outros o são, o que onera financeiramente a empresa e causa
certa confusão, diante de tantos parâmetros e valores. Essa situação pode
ocasionar a fragilidade do EIA como importante instrumento de gestão ambiental, e,
também, o licenciamento de atividades inviáveis ambientalmente.
O ideal é que os termos de referência fossem individualizados para cada
empreendimento, a exemplo do que ocorre no Estado do Espírito Santo, ou no
mínimo, mais específicos quanto ao tipo de empreendimento. Assim, a sugestão do
presente trabalho é que os termos de referência para mineração sejam específicos,
devendo ser levado em consideração, além de outros dados, o seguinte:
O bem mineral que será extraído estabelecendo uma correlação
com a sua possível contribuição para alteração dos corpos
hídricos sob sua influência, com o consequente monitoramento
dos parâmetros que são passíveis de serem modificados
diretamente que, no caso do minério de ferro são: ferro total e
dissolvido, manganês total e dissolvido, turbidez, pH, sólidos
totais dissolvidos e temperatura;
A interação entre a dinâmica populacional, no que se refere ao
aumento da população que o empreendimento gerará para a
região, e o corpo hídrico, verificando as consequências daquele
para este, se manifestando como impactos ambientais indiretos,
cujas alterações de parâmetros estão ligadas ao aumento da
produção de esgoto doméstico: óleos e graxas, fenóis, oxigênio
dissolvido, DBO, turbidez, pH, além de coliformes
termotolerantes e nitrogênio amoniacal;
A classe em que foram enquadrados os recursos hídricos sob
sua influência, levando em consideração os usos pretendidos
para as águas.
Assim, diante de todo o exposto, os Estudos de Impacto Ambiental dos
empreendimentos que passarão por processo de licenciamento na região do Alto
Paraopeba, principalmente na cidade Congonhas, devem ser cautelosos quanto à
85
questão dos recursos hídricos impactados direta e indiretamente, sob o risco de
desconfigurar, ainda mais, o enquadramento do Rio Maranhão, piorando a qualidade
de suas águas e impedindo os usos pretendidos para o mesmo.
Ademais, a elaboração de um Termo de Referência Específico para cada
tipo de bem minerado, conforme proposta acima deveria ser feito pelo órgão
ambiental competente, evitando, dessa forma que haja excesso de informações que
não alteram o resultado do EIA, e mirando nos impactos que o empreendimento
minerário pode causar, principalmente nos cursos d’água.
E, ainda, no caso em estudo, é necessário que a mineradora atue em
duas frentes, uma delas é o tratamento dos efluentes provindos da barragem de
rejeitos antes do lançamento no corpo hídrico, que não foi previsto no EIA. Outra
frente seriam ações proativas, com a outorga de recursos para a melhoria da
qualidade de vida das pessoas atingidas pelo impacto ou até mesmo dano causado
pela implantação da atividade. Estes recursos identificados no estudo de impacto
ambiental e materializados como condicionantes da licença ambiental poderão
implementar políticas ambientais visando o desenvolvimento sustentável
(FONTENELLE, 2004) materializada na forma de estabelecimento de parcerias com
o poder público municipal e demais empresas instaladas na bacia do Rio Maranhão
para construção da estação de tratamento de esgoto na cidade de Congonhas.
Em ambos os casos, o EIA assumiria característica de instrumento de gestão
e controle ambiental, vinculado ao princípio da prevenção, que norteia o Direito
Ambiental.
86
5 CONCLUSÕES
Após analisar a qualidade das águas do Rio Maranhão, enquadrado como
Rio Classe 2, verificou-se que as concentrações de ferro, manganês, óleos e graxas,
fenóis, DBO e oxigênio dissolvido estavam em desacordo com o exigido pela
legislação. Foi verificado que a alteração destes parâmetros se deviam à uma fonte
externa de contaminação, que poderia estar associada ao empreendimento
minerário, uma vez que em muitos dos casos as concentrações desses parâmetros
no ponto antes do lançamento dos efluentes da mineradora e depois deste eram
diferentes.
Ao mesmo tempo, o crescimento populacional em decorrência da
expansão industrial da cidade de Congonhas/MG (e da Região do Alto Paraopeba),
associado à falta de tratamento de esgoto, aumentou a pressão sobre o recurso
hídrico. Essa pode ser a causa da violação dos parâmetros que se encontravam em
desacordo com a legislação nos três pontos amostrais, se configurando como
impacto ambiental indireto não só da mineradora adjacente, mas, também dos
demais empreendimentos mínero-siderúrgicos instalados na Bacia do Rio
Maranhão. Deixando claro que isso não exclui a responsabilidade do poder público
de fornecer a coleta e o tratamento do esgoto doméstico.
A análise do EIA e do seu respectivo RIMA da expansão do
empreendimento minerário estudado demonstrou que ambos desobedeceram a
legislação no que se refere à completa descrição do meio físico (não há informação
detalhada dos pontos de amostragem) e aos impactos ambientais causados no Rio
Maranhão (já que não foi previsto nenhum impacto causado pelos efluentes da
barragem sobre o rio).
O termo de referência para atividades mineradoras em áreas cársticas do
estado de Minas Gerais dá ênfase à questão das riquezas paleontológicas. Contudo,
não se atenta às especificidades do bem mineral que será lavrado e os possíveis
impactos diretos e indiretos associados à extração, que podem ser causados nos
corpos hídricos. Ao mesmo tempo, o termo de referência geral, que foi utilizado na
87
elaboração do EIA/RIMA estudado é muito amplo, o que dá margem, em ambos os
casos, a um EIA/RIMA cheio de informações desnecessárias que podem levar a um
distanciado do foco principal que é prever e prevenir os possíveis e verdadeiros
impactos ambientais que a atividade pode causar (além da questão financeira, pois
os custos de análise de água podem ser bastante altos) e a viabilidade do
empreendimento em decorrência daqueles.
Além disso, o termo de referência para atividades minerárias em áreas
cársticas de Minas Gerais não deixa clara a questão dos usos pretendidos para o
corpo hídrico, que são definidos de acordo com as intenções da população.
Tudo isso fragiliza o EIA/RIMA como instrumento de gestão ambiental e
agrava a situação do corpo hídrico estudado, que fica ainda mais vulnerável aos
impactos ambientais que poderão ser causados pelas expansões e novos
empreendimentos minerários que serão implantados na cidade de Congonhas/MG.
Isso pode desconfigurar o seu enquadramento, e, por conseguinte impedir os usos
pretendidos para as suas águas. A caracterização e a definição dos usos
pretendidos para o corpo hídrico devem ser consideradas com cautela, inclusive
para se estabelecer a melhor forma de tratamentos dos efluentes provindos da
barragem de rejeitos e do sistema de drenagem, afim de que aqueles tenham
qualidade igual ou superior ao que se almeja para o corpo d’água.
Por essa razão, é feita a proposta para que os termos de referência sejam
confeccionados de acordo com o bem mineral que será explorado e suas
características, e, por consequência os possíveis impactos ambientais diretos
decorrentes de sua extração que podem ser causados nos corpos hídricos,
estabelecendo os parâmetros mais importantes a serem monitorados. E, ainda, a
interação entre o aumento populacional e os recursos hídricos deve ser analisada
sob o ponto de vista da alteração da qualidade das águas como impactos ambientais
indiretos.
Finalmente, é de interesse dos empreendedores mineiros que seus
empreendimentos tenham “selo verde”, que sejam considerados sustentáveis diante
das exigências e pressões do mercado internacional, e, também da própria
população afetada, diante da maior consciência “ambiental”. Assim, como medida
88
compensatória dos danos causados sobre os corpos hídricos, ou mesmo como
condicionantes nos processos de licenciamento e, a fim de mitigar os impactos
ambientais indiretos, as atividades indústrias, em especial, as empresas minero-
siderúrgicas, deveriam estabelecer parceria com o poder público para instalação e
manutenção de estações de tratamento de esgotos domésticos na cidade sob sua
influência, demonstrando assim, interesse em transformar a atividade mineradora
em uma atividade mais sustentável em termos ambientais.
89
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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