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AVALIAÇÃO DE UM ROTEIRO SIMPLIFICADO DE OBSERVAÇÃO DE PRÉ-ESCOLARES EM PROGRAMAS CENTRO DE EDUCAÇÃO E ALIMENTAÇÃO DO PRÉ-ESCOLAR * José Fernandes ** Yaro R. Gandra *** FERNANDES, J. & GANDRA, Y. R. Avaliação de um roteiro simplificado de obser- vação de pré-escolares em programas Centro de Educação e Alimentação do Pré- Escolar. Rev. Saúde públ., S. Paulo, 15(supl.) :116-25, 1981. RESUMO: Foram entrevistados professores sobre as atitudes compor- tamentais com as quais eles espontaneamente analisaram o comportamento das crianças do Centro de Educação e Alimentação do Pré-Escolar (CEAPEs). Para isto foi organizado um instrumento de avaliação ''Ficha de Obser- vação" composta de 15 ítens, a maioria claramente discriminável e alguns inferenciais. O objetivo do instrumento era substituir a observação aleatória, pessoal e não padronizada dos professores por um roteiro de observação, simplificado, de uso descentralizado cuja fidedignidade fosse conhecida. Os resultados da aplicação pelos professores, do roteiro simplificado em pré- escolares do CEAPE, foram comparados com aqueles de instrumentos de medição psico-pedagógica mais sofisticados aplicados por técnicos. Os dados obtidos reportam a hipótese de ordenação de resultados em função da idade mas alijam a hipótese de que em todos os grupos houve incrementos de resultados ao longo da freqüência no programa. Os resultados, ainda que preliminares, são promissores e a "Ficha de Observação", embora sendo um roteiro muito simplificado, pode oferecer informações significativas aos pro- fessores, além de dirigir mais sua atenção ao comportamento dos pré-esco- lares. UNITERMOS: Pré-escolares, avaliação. Criança, desenvolvimento. Pro- grama CEAPE. * Convênio 10/77 INAN/DN/FSP/USP. ** Do Programa CEAPE Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da USP. Av. Dr. Arnaldo, 715 — 01255 — São Paulo, SP — Brasil. *** Do Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da USP — Av. Dr. Arnaldo, 715 — 01255 — São Paulo, SP — Brasil. INTRODUÇÃO O CEAPE, Centro de Educação e Ali- mentação do Pré-Escolar (Gandra) 4,5 é um modelo de atendimento ao pré-escolar que objetiva o desenvolvimento integral da criança 6 através de atividades sócio-psico- motoras programadas e de suplementação alimentar. Utilizando ao máximo os recursos comunitários, demonstrou ser econômico, abrangente, eficaz e de simples execução. Um ponto alto e constante do CEAPE é a presença continuada da avaliação da efi- ciência e da eficácia por meio de sistemas de indicadores adrede testados. Uma das avaliações mais estudadas foi a que mediu o desenvolvimento sócio-psicomotor, efe- tivadas por uma equipe central, treinada e supervisionada por especialistas 2 .

AVALIAÇÃO DE UM ROTEIRO SIMPLIFICADO DE OBSERVAÇÃO

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AVALIAÇÃO DE UM ROTEIRO SIMPLIFICADO DE OBSERVAÇÃODE PRÉ-ESCOLARES EM PROGRAMAS CENTRO DE EDUCAÇÃO

E ALIMENTAÇÃO DO PRÉ-ESCOLAR *

José Fernandes **Yaro R. Gandra ***

FERNANDES, J. & GANDRA, Y. R. Avaliação de um roteiro simplificado de obser-vação de pré-escolares em programas Centro de Educação e Alimentação do Pré-Escolar. Rev. Saúde públ., S. Paulo, 15(supl.) :116-25, 1981.

RESUMO: Foram entrevistados professores sobre as atitudes compor-tamentais com as quais eles espontaneamente analisaram o comportamentodas crianças do Centro de Educação e Alimentação do Pré-Escolar (CEAPEs).Para isto foi organizado um instrumento de avaliação — ''Ficha de Obser-vação" — composta de 15 ítens, a maioria claramente discriminável e algunsinferenciais. O objetivo do instrumento era substituir a observação aleatória,pessoal e não padronizada dos professores por um roteiro de observação,simplificado, de uso descentralizado cuja fidedignidade fosse conhecida. Osresultados da aplicação pelos professores, do roteiro simplificado em pré-escolares do CEAPE, foram comparados com aqueles de instrumentos demedição psico-pedagógica mais sofisticados aplicados por técnicos. Os dadosobtidos reportam a hipótese de ordenação de resultados em função daidade mas alijam a hipótese de que em todos os grupos houve incrementosde resultados ao longo da freqüência no programa. Os resultados, ainda quepreliminares, são promissores e a "Ficha de Observação", embora sendo umroteiro muito simplificado, pode oferecer informações significativas aos pro-fessores, além de dirigir mais sua atenção ao comportamento dos pré-esco-lares.

UNITERMOS: Pré-escolares, avaliação. Criança, desenvolvimento. Pro-grama CEAPE.

* Convênio 10/77 — INAN/DN/FSP/USP.** Do Programa CEAPE — Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da USP.

— Av. Dr. Arnaldo, 715 — 01255 — São Paulo, SP — Brasil.*** Do Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da USP — Av. Dr. Arnaldo,

715 — 01255 — São Paulo, SP — Brasil.

INTRODUÇÃO

O CEAPE, Centro de Educação e Ali-mentação do Pré-Escolar (Gandra)4 , 5 é ummodelo de atendimento ao pré-escolar queobjetiva o desenvolvimento integral dacriança6 através de atividades sócio-psico-motoras programadas e de suplementaçãoalimentar. Utilizando ao máximo os recursoscomunitários, demonstrou ser econômico,abrangente, eficaz e de simples execução.

Um ponto alto e constante do CEAPE éa presença continuada da avaliação da efi-ciência e da eficácia por meio de sistemasde indicadores adrede testados. Uma dasavaliações mais estudadas foi a que mediuo desenvolvimento sócio-psicomotor, efe-tivadas por uma equipe central, treinadae supervisionada por especialistas2.

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Apesar do grau de variabilidade entre osCEAPEs em funcionamento, decorrente daspróprias características do programa, exis-tia um ponto constante nos relatos das res-ponsáveis locais: segundo elas, as crianças''melhoraram bastante" após freqüentaremo CEAPE. Entretanto, a maioria das super-visoras não conseguiam prontamente especi-ficar quais os aspectos em que os pré-esco-lares "melhoraram", isto é, não conseguiamidentificar os aspectos relevantes dachamada "melhora".

Dada a freqüência com que surgiramrelatos de "melhora", após o ingresso aoCEAPE, julgou-se que seria de interessetentar estudar, mesmo que superficialmente,as avaliações periféricas feitas diretamentepelas professoras. Contar-se-ia com um ro-teiro de observação simplificado, ainda quede sennsibilidade reduzida, de uso descentra-lizado que tentasse disciplinar de algummodo as impressões avaliadoras obtidasdiretamente junto aos responsáveis locaispelo programa.

A comparação dos resultados logradospelas professoras por meio da "Ficha deObservação de Comportamento" com aquelesobtidos concomitantemente nas mesmascrianças, pela equipe técnica central, atravésdo "IADPE" 2 completa os propósitos destetrabalho. O passo inicial para a elaboraçãodesse roteiro de observação foi a consultaàs próprias professoras, pedindo-lhes quedescrevessem 10 comportamentos principaisque tivessem "melhorado", após a freqüênciado pré-escolar ao programa. Pelas respostasobtidas, pode-se notar que a grandemaioria das prefessoras não caracterizou o"comportamento" como atos motores,verbais, expressivos, entre outros, direta-mente observáveis, mas como categoriasamplas, inferenciais e interpretativas ("ti-midez", "apatia", "agressividade" entreoutras), cujos critérios de identificação erampouco claros.

A partir desta constatação inicial, optou--se por estruturar um roteiro bastante sim-plificado, com 15 itens, na sua maioria

comportamentos claramente discrimináveis ealgumas poucas categorias inferenciais (ascitadas com maior freqüência pelas profes-soras), evitando-se, ao máximo, apelos a"juízos de valor" acerca dos aspectos ava-liados.

A tarefa básica da responsável ou super-visora seria avaliar, a grosso modo, a "fre-qüência" ou "qualidade de desempenho" nosreferidos aspectos apresentados pela criança,escolhendo uma entre 3, 4 ou 5 alternativas,conforme o item. O roteiro já pronto passouentão a ser denominado "Ficha de Obser-vação de Comportamento".

Supôs-se que as crianças de idade menorapresentariam maiores dificuldades de adap-tação ao CEAPE, e dessa forma, as mu-danças seriam mais discrimináveis, atravésdo roteiro pouco sofisticado, como a "Fichade Observação". É importante assinalar queos resultados das observações realizadasexclusivamente pelas professoras, nem sem-pre são facilmente interpretáveis. A ava-liação efetuada pela professora não é um"reflexo" sem distorções das característicascomportamentais da criança, mas sim, oproduto final de série de fatores, entre eles:a sua habilidade e fidedignidade ao obser-var, o seu envolvimento com a própriatarefa de observação, o seu modo de "valo-rizar" ou não a criança; sua "expectativa"com relação a ela; o próprio comportamentoda crianças, entre outros.

O modo como a "expectativa" da profes-sora com relação à criança afeta a suaforma de avaliá-la, influenciando inclusiveos processos de escolarização e de desen-volvimento intelectual da criança, foi exten-samente estudado (Rosenthal e Jacobson9,1968; Rist8, 1970), demonstrando-se clara-mente que, muitas vezes, a professora estálonge de ser um "observador imparcial".Ela pode avaliar a criança baseando-se maisem suas expectativas do que no própriocomportamento da criança.

Estudos realizados em nosso meio mos-tram que podem ser obtidas correlações posi-

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tivas e significativas entre uma avaliaçãocomportamental, efetuada pela professora eos resultados obtidos pela criança em umteste cognitivo (Poppovic e col.7, 1975),embora, neste caso, não seja possível estimaraté que ponto a observação realizada pelaprofessora foi fidedigna aos comportamentosda criança. Mesmo com estas ressalvas,julgou-se que seria importante avaliar ograu de correlação entre os resultados obti-dos pela criança, segundo a "Ficha de Obser-vação" e os seus resultados em testes deaproveitamento psico-pedagógico com o"IADPE" 2 e "Instrumento II" 3 ou mesmoem outros procedimentos de observação("Escala de Comportamento Intra-teste"),conforme aplicados por uma equipe técnicatreinada. Assim, os objetivos do presentetrabalho são: efetuar uma análise inicialdo grau de mudança nas avaliações daprofessora, através da "Ficha de Obser-vação" e verificar o grau de correlação en-tre os resultados desta forma de avaliaçãoe os obtidos através dos procedimentos deavaliação técnica do programa CEAPE.

MATERIAL E MÉTODOS

A "Ficha de Observação deComportamento" *

A Ficha de Observação de Comportamentoé formada por 15 itens: Choro; (Tipo de);Permanência no CEAPE; Comportamentosna merenda; Recusa de alimentos; Organi-zação de materiais; Utilização de lápis;Quantidade de fala (espontânea); Quan-tidade de fala a partir de solicitações daprofessora; Busca espontânea de contato comoutras crianças; Comportamentos com outrascrianças; Busca espontânea de contato coma professora; Participação espontânea nasatividades; Grau de atenção; Grau de per-sistência; Outros comportamentos.

O número de alternativas em cada itemé variável (3, 4 ou 5). A tarefa da pro-

fessora é assinalar a alternativa que melhorrepresenta o comportamento da criança, naocasião da observação, em termos de "fre-qüência" ou "qualidade de desempenho".Cada resposta é posteriormente ponderadanuma escala de 1 a 4 pontos discretos(o ponto 1 corresponde à pior realizaçãopossível nno item; o ponto 4 à melhor rea-lização possível). Os resultados em cadaitem são somados e fornecem o "Total daFicha de Observação de Comportamento"cujo máximo é 60 pontos. As professorasnão tiveram acesso a este sistema de ponde-ração das alternativas, em nenhum momento.

Procedimento

Foram realizados dois estudos separados:de seguimento e de correlação. Para oestudo de seguimento, as professoras detodos os CEAPEs, em 15 municípios dife-rentes do Interior do Estado de São Paulo,receberam instruções detalhadas acerca dopreenchimento da "Ficha de Observação",através de um "Manual de Instruções". Elasforam instruídas para preencher as "Fichasde Observação" para 6 crianças sorteadasentre as que estivessem entrando em con-tato com o CEAPE pela primeira vez. Pre-ferencialmente, deveriam ser observadas ascrianças de 4 anos, nas condições acima,completando-se o restante com crianças de5 ou 6 anos, até perfazer um total de 6crianças. Estes pré-escolares deveriam serobservados em 3 ocasiões diferentes: aofinal da primeira semana letiva (observação1); ao final do primeiro mês letivo (obser-vação 2) e ao final do semestre letivo(observação 3). As "Fichas" deveriam serenviadas ao Departamento de Nutrição daFaculdade de Saúde Pública da Universidadede São Paulo, assim que fossem preenchidas.Pode-se notar que o número de criançasao longo das diferentes idades não foibalanceado entre e dentro de cada CEAPE.

* O material da "Ficha de Observação" pode ser encontrado no Departamento de Nutrição daFaculdade de Saúde Pública — USP.

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Para o estudo de correlação, outrascrianças Ceapenses de 4 a 6 anos (exclusi-vamente da cidade de Leme), foram avalia-das por uma equipe técnica com o "IADPE","Escala de Comportamento Intra-Teste"2

e/ou "Instrumento II" 3. Na mesma semanadestas testagens, estas crianças tiveram seucomportamento avaliado pelas respectivasprofessoras, por meio da "Ficha de Obser-vação".

Características da Amostra-Estudo deSeguimento

Foram utilizadas as "Fichas de Observa-ção" enviadas por 31 CEAPEs, de 11 loca-lidades. As 11 localidades do Estado deSão Paulo foram: Araras, Campinas, Capi-vari, Casa Branca, Descalvado, Guaratin-guetá, Indaiatuba, Itatiba, Leme, Sumaré eSuzano. Desse número, 12 CEAPEs localiza-vam-se em Leme. As perdas de dados foram

basicamente devidas à saída da criança doCEAPE, preenchimento das "Fichas" emocasiões erradas e interrupções das obser-vações por parte da professora. A amostrafinal foi formada por 139 crianças.

A Tabela 1 apresenta o número decrianças em cada grupo, assim como asmédias, desvios-padrões amostrais e media-nas das idades, em meses, na observação 1.

Para os três grupos etários, a Obser-vação 1 ocorreu, em média, ao redor do9.° dia letivo; a Observação 2, por voltado 20.° dia letivo e a Observação 3, ao redordo 75.° dia letivo. Todos os grupos apre-sentaram percentagem média de compareci-mento ao CEAPE de cerca de 90%, nastrês observações. Pode-se notar que asobservações iniciais apresentaram certoatraso, com relação às datas pré-estabele-cidas.

RESULTADOS

Total da "Ficha de Observação deComportamento"

A Tabela 2 apresenta as médias e des-vios-padrões amostrais do total da "Ficha

de Observação", para os três grupos, nastrês ocasiões de observação.

Pode-se notar que, em cada grupo, asmédias aumentaram ao longo das 3 obser-vações. Dentro de cada observação, asdiferenças entre os grupos foram pequenas.Nas observações 1 e 2, os 3 grupos rece-

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beram avaliações equivalentes. As diferençasentre os 3 grupos, nas observações 1 e 2,não foram significativas pela prova não-para-métrica de Kruskal-Wallis (Siegel 10, 1975).Curiosamente, na Observação 3, os 3 gruposreceberam avaliações significativamente dife-

rentes, conforme a mesma prova (H=19,006;X2

c = 13,815, p <.001). Estas diferençassão aparentemente atribuíveis apenas aosresultados mais elevados obtidos pelo grupo3 1/2 | 1 4 anos. (Fig. 1).

A Fig. 1 apresenta os totais medianos,para cada grupo e em cada observação,na forma de percentagens do Total Máximoda Ficha de Observação (60 pontos), se-gundo a fórmula:

Pode-se observar que todos os gruposapresentaram incrementos acentuados daObservação 1 para a Observação 2. Os incre-mentos dos grupos de 5 e 6 anos forammenores da Observação 2 para a Observação3. Por outro lado, neste período, o grupo

3 1/2 4 anos continuou apresentandouma tendência expressiva de aumento.

Os resultados de cada grupo, nas 3 oca-siões de observação, foram analisados atravésda prova não-paramétrica de Friedman(Siegel 10, 1975).

Os resultados obtidos encontram-se naFigura. Todos os grupos apresentaramalgum grau de incremento significativo, quepara os grupos de 5 e 6 anos ocorreubasicamente entre as observações 1 e 2.Por outro lado, conforme foi levantado, ogrupo 3 1/2 | 4 anos continuou a receberavaliações sistematicamente mais elevadasao longo das 3 observações.

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Análise dos itens da "Ficha de Observação"

Os 15 itens da ' 'Ficha de Observação"foram analisados individualmente, atravésda prova de Friedman, para cada grupo em

separado. Na Tabela 3, pode-se notar quepara o grupo 3 1/2 ¡ 4 anos 10 dos15 itens apresentaram incrementos significa-tivos. Este número passa para 3 no grupode 5 anos e apenas 1, no de 6 anos.

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Correlações entre o total da "Ficha deObservação'' e Resultados obtidos pelo"IADPE" 2, "Instrumento II" 3, "Escala deComportamento" 1

A Tabela 4 apresenta os valores da cor-relação de Spearman (rs) entre o total da"Ficha de Observação" (avaliação compor-tamental das crianças, feita pela professora)e os resultados obtidos pelas mesmascrianças, com instrumentos de avaliaçãotécnica ("IADPE", "Instrumento II" adicio-nal e "Escala de Comportamento"). Con-forme foi assinalado, neste caso, as "Fichas

de Observação" foram preenchidas pelasprofessoras nas mesmas ocasiões em queas crianças foram testadas pela equipe téc-nica central.

Conforme mostra a Tabela 4, o total da"Ficha de Observação" correlacionou-sepositiva e signicativamente com os resul-tados da testagem técnica feita pela equipecentral, que utilizou tanto procedimentos deavaliação de critérios mais "fechados"("IADPE", "Instrumento II"), como umprocedimento observacional breve ("Es-cala"), este mais influenciado pelos fatoressubjetivos do examinador.

Estas correlações, embora significativas,são ainda baixas para permitir prediçõesrazoavelmente acuradas de resultados indi-viduais nestes testes, a partir da "Ficha deObservação" (e vice-versa). Pode-se notartambém que existe uma queda nos valores

das correlações, com o aumento da idade,o que o faria mais recomendável para crian-

ças menores de 6 anos para "uso preditivo"

da "Ficha de Observação" ou dos instru-

mentos de avaliação técnica.

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DISCUSSÃO E CONCLUSÕES

Conforme foi levantado, a hipótese básicaque norteou esta pesquisa foi a de que osresultados na "Ficha de Observação" seriamcrescentes, em função da idade e do au-mento do tempo de freqüência ao CEAPE.Isto é, crianças de 6 anos deveriam obterresultados mais elevados que as de 5 anose estas, por sua vez, resultados mais ele-vados que as de 4 anos. Esta "ordenação"nos resultados deveria ser particularmentenotada na Observação 1, uma vez que, su-postamente, as crianças de mais idadeapresentariam maior facilidade de adaptaçãoao CEAPE e, desde o início, já tenderiama obter resultados mais elevados, próximosao total máximo da "Ficha" (60 pontos).

Além disso, os resultados em cada faixade idade, também deveriam aumentar, naseqüência de observações, ao longo da per-manência no CEAPE.

Os dados obtidos rejeitaram a primeirahipótese de "ordenação" dos resultados, emfunção da idade: de fato, dentro das obser-vações 1 e 2, os 3 grupos receberam ava-liações equivalentes, não se verificando ahierarquia prevista. Além disso, curiosa-mente, o grupo 3 1/2 4 anos naObservação 3 obteve resultados mais ele-vados que os grupos de 5 e 6 anos.

Estes resultados talvez possam ser atri-buídos a aspectos metodológicos (não balan-ceamento do número de crianças de dife-rentes idades entre e dentro de cada CEAPE;falta de fidedignidade entre e intra-obser-vador, entre outras). Por outro lado, elestalvez reflitam também processos diferentesde adaptação da criança ao CEAPE, emfunção da idade, favorecendo as criançasde 4 anos.

Com relação à hipótese de que os resul-tados em cada grupo deveriam aumentar,ao longo das diferentes observações, pode--se notar que todos os grupos apresentaramestes aumentos, de um modo significativo,com relação ao total da "Ficha". Conside-

rando-se os valores medianos do total da"Ficha", os aumentos foram maiores entreas observações 1 e 2, para os grupos de5 e 6 anos, ao passo que o grupo 3 1/2| 1 4 anos apresentou incrementos cons-tantes, em todas as observações. Analisan-do-se os itens, individualmente, existe umagrande diminuição no número de itens signi-ficativamente discriminativos, com o aumentoda idade. Parece, então, que no geral, asavaliações das professoras, acerca decrianças recém-ingressas ao programa, sãomais discriminativas no primeiro mês letivoe/ou para crianças de menos idades, se-gundo a "Ficha de Observação". Entretanto,estas conclusões são preliminares, sendo ne-cessários novos estudos que apresentem ummaior controle dos fatores já levantados.

Os resultados obtidos através dos estudosrealizados no programa CEAPE indicaramque as avaliações comportamentais realiza-das pelas professoras e as avaliações, comtestes psicopedagógicos, efetuados por téc-nicos, tenderam a variar no mesmo sentido.Entretanto, os valores de correlação, quediminuiram com o aumento da idade, pare-cem não permitir predições definitivas dosresultados em uma forma de avaliação, apartir de outra. Além disso, permanecemabertas as questões relativas dos viésessistemáticos de preenchimento da "Ficha",entre outros.

Apesar destas ressalvas e da necessidadede novas pesquisas, os resultados obtidosaté agora são promissores e indicam quemesmo um roteiro simplificado de obser-vação pode vir a fornecer informações signi-ficativas para a professora, não como uminstrumento de "rotulação" de suas crianças,mas como um pequeno guia, que lhe per-mita estar mais atenta aos comportamentosdos pré-escolares com os quais interage;instrumento este, coerente com a não sofisti-cação do próprio programa CEAPE.

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FERNANDES, J. & GANDRA, Y. R. [Assessment of a simplified procedure for theobservation of preschool children in the CEAPE program]. Rev. Saúde públ.,S. Paulo, 15(suppl.):116-25, 1981.

ABSTRACT: A survey to be came acquainted with the criteria usedby teachers in classifying the preschool children was carried out. In conti-nuation a simplified instrument with 15 selected items concerned with someaspects of the children's behavior and designed to be used by the teachers wasorganized. The results of analysis were compared with those obtained by moresophisticated mechanisms (IADPE, Instrument II and Behavior Scale) appliedto the same children. The results show correlation to age but also showa constant improvement in behavior according to the length of time thechildren had attended the program. These results, even though preliminaryindicated that the "Observation card" (Ficha de Observação) could give theteachers good information and call their attention to some important aspectsof preschool children's behaviour.

UNITERMS: Preschool, child, evaluation. Child development. CEAPEProgram.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Recebido para publicação em 10/07/1981Aprovado para publicação em 17/11/1981