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AVALIAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR – Avaliação da Aprendizagem
como Potencial Criativo de Qualidade de Vida
SILVA, Sara Inocêncio Vaz1
MEREGE, Sônia Regina Leite2
Resumo
O presente trabalho na disciplina de Educação Física evidencia que a área de estudo em questão, atualmente, vem alicerçando o conhecimento científico nos aspectos pessoal, profissional, científico e social. Oportunizamos na implementação pedagógica no colégio de atuação, o trabalho com atividades diversificadas e estratégias adequadas para que os alunos da Educação de Jovens e Adultos – EJA possam usufruir da cultura corporal e dela se apropriarem. Foram efetivadas também formas de avaliar as ações pedagógicas por meio de um processo de interação entre professor e alunos da referida modalidade de ensino. Inicialmente foram abordados aspectos históricos da avaliação da aprendizagem para a compreensão da produção teórica e contemporânea da disciplina de Educação Física objetivando o que de mais recente se produz e se adéqua ao presente momento histórico não só em termos de conceitos, como também em diferentes formas de realizar a prática avaliativa de uma forma mais humana. A mediação do docente apresentou-se como fundamental para garantir que a avaliação permeasse todo o processo de ensino e aprendizagem considerando os eixos fundamentais da EJA: Cultura, Trabalho e Tempo. O conhecimento não pode perder a dimensão social de tornar esses alunos mais capazes de agir de forma autônoma e independente para reagir a imposições que os impedem de escolher o que mais está vinculado à sua realidade, ao seu contexto social. Assim, criar possibilidades de
1 Professora QPM da Rede Pública do Estado do Paraná, participante do Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE, Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP).
2 Professora orientadora do Programa de Desenvolvimento Educacional, UENP- Campus de
Jacarezinho – Paraná.
tornar a participação de todos mais expressiva na disciplina em questão, sempre em busca de conquistas significativas e qualitativas para sua vida pessoal e social.
Palavras-chave: Conhecimento; Avaliação da Aprendizagem; Interação; Autonomia; Qualidade de Vida.
1 INTRODUÇÃO
Ao desenvolver um estudo na área educacional estamos sempre em busca
de entender a evolução e os retrocessos das disciplinas do conhecimento, do que foi
estabelecido em função de uma determinada concepção, de uma determinada visão
de mundo, frutos de um determinado momento histórico.
A disciplina de Educação Física tem um campo bastante vasto e
diversificado de méritos e fracassos, mas atualmente vem alicerçando todo o
conhecimento científico em todos os aspectos: pessoal, profissional, científico e
social.
A oportunidade conquistada com o ingresso no Programa de
Desenvolvimento Educacional – PDE nos permitiu um espaço de tempo necessário
para, numa investigação pedagógica, buscar a história da referida disciplina e
tomarmos decisões baseadas em informações completas, fundamentados em
teóricos contemporâneos visando entender o que mais recentemente vem sendo
produzido nessa área do conhecimento.
A Implementação Pedagógica que se originou do projeto de estudo
“Avaliação em Educação Física Escolar – Avaliação da Aprendizagem como
Potencial Criativo de Qualidade de Vida”, teve início na Semana Pedagógica de
julho/2011, quando aproveitamos o espaço concedido pela Direção do Colégio
Estadual João Turin – Ensino Fundamental e Médio, para proceder à apresentação
do nosso trabalho aos presentes nesse evento de Formação Continuada:
professores, direção, equipe pedagógica e funcionários do Estabelecimento de
Ensino.
Como a referida Unidade de Ensino seria o foco da nossa implementação,
aproveitei a ocasião para buscar o apoio do coletivo de profissionais da educação ali
reunidos e conquistar a compreensão e ajuda de todos, o que realmente aconteceu,
para a nossa alegria.
A proposta de trabalhar com diferentes formas de avaliar as ações
pedagógicas num processo de interação entre professor e alunos surgiu como uma
garantia aos alunos da Educação de Jovens e Adultos – EJA, alvos dessa
implementação, da possibilidade real de participação por meio de atividades
diversificadas e estratégias adequadas, mobilizando-os a usufruir da cultura corporal
com consciência e propriedade.
Na condução desse trabalho, analisamos conceitos que nos auxiliaram a
compreender melhor a produção teórica e contemporânea da disciplina de Educação
Física objetivando o que de mais recente se produz e se adéqua ao presente
momento histórico, sabedores de que o sucesso escolar produz auto estima. Para
tanto, todo o processo do trabalho em questão foi realizado sob nossa mediação,
considerando os eixos fundamentais da EJA: Cultura, Trabalho e Tempo.
Como explica Saviani (2005), o professor, por haver apreendido as relações
sociais de forma sintética, é colocado na condição de possibilitar esta apreensão por
parte dos alunos. Sendo assim, “realiza a mediação entre o aluno e o conhecimento
que se desenvolveu socialmente” (SAVIANI, 2005, p. 144).
O conhecimento ofertado na escola para os alunos da EJA não pode perder
a dimensão social de tornar esses alunos mais capazes de agir de forma autônoma
e independente reagindo a imposições que os impedem de escolher o que mais está
vinculado à sua realidade, isto é, ao seu contexto social.
O primeiro passo em direção a uma Implementação Pedagógica bem
sucedida com os alunos da EJA, é reconhecer que os mesmos trazem à escola uma
sabedoria proveniente de sua experiência de vida. Cada qual com sua cultura e
habilidades profissionais. Cabe a nós, educadores, valorizar essa bagagem cultural
e dessa forma, contribuir para a elevação da auto estima e fortalecimento da
autoconfiança de todos.
Esse acolhimento e valorização pelo professor de jovens e adultos
possibilitará um canal de aprendizagem com maiores garantias de sucesso no
processo de ensino e aprendizagem. Essa sintonia vai fomentar o encontro dos
saberes da vida vivida com os saberes escolares e, assim, promover conhecimentos
novos (MEC, 2006, p.19).
Atuando nesta perspectiva, coordenamos um Grupo de Trabalho em Rede,
GTR, o qual superou nossas expectativas pela utilização dos recursos midiáticos e,
mais ainda, pelo diálogo que se estabeleceu, o qual trouxe contribuições
significativas para a temática do estudo.
As discussões que envolveram os professores participantes do GTR
apontaram que a preocupação com a qualidade da educação para todos os alunos
não significa somente pontuar e criticar a prática avaliativa. Antes, precisamos
apontar sugestões e estratégias e criar condições de efetivá-las levando em conta a
realidade do dia a dia do professor no ambiente escolar. Em relação aos alunos da
EJA, primeiramente devemos considerar as peculiaridades desses alunos e o que a
escola representa pra eles.
Tal postura nos remete ao previsto em relação à avaliação nas Diretrizes
Curriculares Orientadoras da Educação Básica para a Rede estadual de Ensino
(2011). Considerada enquanto elemento constituinte do processo educacional, a
prática avaliativa deve estar coerente com os princípios que sustentam o projeto
político-pedagógico da escola. Assim, ela não se reduzirá a um momento ou a
períodos pré-determinados, de forma a atender apenas às exigências normativas da
escola, como também não poderá pautar-se nos critérios avaliativos comumente
utilizados. Deve, antes de tudo, indicar em que medida a prática pedagógica foi
capaz de conduzir a uma efetiva apreensão do conhecimento, balizada pelo eixo
fundamental do projeto político pedagógico.
Em todos os passos do desenvolvimento do presente trabalho, o que foi
particularmente interessante e motivador desde o início da elaboração do projeto
foram as contribuições prestadas pela nossa orientadora que nos preparou as
condições necessárias para traçarmos e atingirmos nossos objetivos, ou seja, um
apoio indispensável nessa jornada.
2 A PRÁTICA AVALIATIVA EM EDUCAÇÃO FÍSICA
A proposta educacional atual priorizada pelas políticas educacionais do
Estado, fundamentadas e organizadas na abordagem crítico-superadora apresenta
uma concepção de avaliação mais próxima do que entendemos por avaliação a
serviço da qualidade do ensino, com vistas à construção de uma sociedade mais
crítica, criativa, consciente e com justiça social. No entanto, ainda verificamos uma
ausência de implementação dessas metodologias.
Para explicarmos essa ausência, no que se refere à avaliação em Educação
Física, há de se considerar primeiro a herança histórica desta área, a qual
encontrava-se atrelada aos códigos e valores da classe dominante ao assumir a
tarefa de desenvolver um homem apto, capaz de superar-se, competir e concorrer,
características indispensáveis para a sua inserção no modo de produção capitalista.
Segundo as DCES, “no início do século XX, especificamente a partir de
1929, a disciplina de Educação Física tornou-se obrigatória nas instituições de
ensino para crianças a partir de 06 anos de idade e para ambos os sexos, por meio
de um anteprojeto” ( PARANÀ/SEED, 2009, p. 39).
A partir de 1930, a Educação Física escolar brasileira passou a ser marcada
pelo modelo higienista e pelo modelo militarista. Ambas as concepções tinham suas
práticas pedagógicas formalizadas por meio da seleção dos indivíduos perfeitos e
exclusão dos considerados incapacitados. Nessa época entendiam a Educação
Física como uma disciplina essencialmente prática, não necessitando de nenhuma
fundamentação teórica para lhe dar suporte (Coletivo de Autores, 1992).
O termo educação física escrito em letras minúsculas nos remete ao
passado, ou seja, aos diferentes conhecimentos sistematizados sobre práticas
corporais restritas ao cotidiano escolar. Mais tarde esse termo passou a ser escrito
com letras maiúsculas, o que representa a disciplina curricular de Educação Física,
institucionalizada nas escolas do Brasil a partir do século XIX (PARANÁ/SEED,
2009).
No contexto das reformas educacionais que ocorreram no país até a década
de 70 a concepção de Educação Física escolar era de caráter esportivo visando
obter entre os alunos melhores resultados nas competições esportivas e consolidar
o país como uma potência olímpica. Porém, essa perspectiva recebeu fortes críticas
da corrente da psicomotricidade cujos fundamentos valorizavam a formação integral
da criança, acreditando que está se dá interdependente de aspectos cognitivos,
afetivos e motores. Mesmo assim, o conhecimento para o ensino da área em
questão, as práticas corporais, o esporte, continuaram como meios para a educação
e disciplina dos corpos, e não como conhecimentos sistematizados e, portanto,
transmitidos no ambiente escolar (PARANÁ/SEED, 2009).
Tradicionalmente, as práticas avaliativas em Educação Física priorizam os
aspectos quantitativos para mensurar o rendimento do aluno, em gestos técnicos,
destrezas motoras, qualidades físicas, priorizando à seleção e à classificação dos
alunos (DCES/SEED).
Diante dessas discussões nos remetemos a Luckesi (2005), o qual afirma
que os professores, historicamente, praticam a verificação e não a avaliação, visto
que a aferição da aprendizagem escolar, na maioria das vezes, é usada para
classificar os alunos em aprovados e reprovados. Não são aproveitadas as ocasiões
que surgem para os alunos se recuperarem, uma vez que a preocupação maior dos
professores está em rever os conteúdos programáticos para recuperar a nota, ou
seja, a preocupação recai em recuperar nota quando deveria ser em construir
conhecimento e consequentemente melhorar a nota ( LUCKESI, 2005, p.91).
Contrário a essas posturas encontradas ainda hoje entre os professores,
Luckesi (2005) defende que cada momento avaliativo deve pautar-se na efetivação
de uma prática pedagógica que vise uma formação humana crítica e autônoma,
condição para que o sujeito possa intervir na realidade social, tendo em vista a sua
superação.
No caso da Educação Física, tal compreensão da realidade se daria
mediatizada pelo conhecimento cientificamente elaborado “a Cultura Corporal
Humana” sob a lógica dialética materialista de pensamento. Neste sentido, a
avaliação tem um caráter diálogico e participativo assumindo assim o papel de
instrumento dialético de diagnóstico no processo educacional.
Buscamos em Saviani (2005), autor denominado como pai da pedagogia
Histórico-Crítica, uma explicação para esse movimento partindo dos fundamentos
teóricos da concepção do materialismo histórico quanto a questão do método
pedagógico, focando questões como o conteúdo, o conhecimento e a ação do
professor. Nesse caso, o autor mostra a necessidade de compreender o problema
das relações sociais.
Se a educação é mediação no seio da prática social global, se a humanidade se desenvolve historicamente, isto significa que uma determinada geração herda da anterior um modo de produção com os respectivos meios de produção e relações de produção. E a nova geração, por sua vez, impõe-se a tarefa de transformar as relações herdadas das gerações anteriores. Nesse sentido, ela é determinada pelas gerações anteriores e depende delas. Mas é uma determinação que não anula a sua iniciativa histórica, que se expressa justamente pelo desenvolvimento e pelas transformações que ela opera sobre a base das produções anteriores. À educação, na medida em que é uma mediação no seio da prática social global, cabe possibilitar que as novas gerações incorporem os elementos herdados de modo que se tornem agentes ativos no processo de desenvolvimento e transformação das relações sociais. (SAVIANI, 2005, p. 143).
Destacamos, por meio do entendimento da citação acima, a questão do
conhecimento e a mediação do professor no conhecimento sistematizado ofertado
pela escola, ou seja, sendo o professor alguém que apreendeu as relações sociais
de forma sintética ele adquiriu condições de viabilizar esta apreensão pelos alunos
por meio da mediação entre o aluno e o conhecimento que se desenvolveu
socialmente. Evidentemente, “o processo pedagógico permitiria que no ponto de
chegada o aluno se aproximasse do professor, podendo, também ele, estabelecer
uma relação sintética com o conhecimento da sociedade” ( SAVIANI,2005,p.144).
Na escola, a cada oportunidade, é necessário fazer o aluno pensar, refletir,
analisar, sintetizar, criticar criar, concluir, argumentar, estabelecer relações, avaliar,
justificar, como consequência de um trabalho do professor por meio de metodologias
participativas, desafiadoras estimulantes que levem os alunos a formular hipóteses,
questionar, argumentar e defender seus pontos de vista, assumindo compromissos e
atitudes indispensáveis à sua vivência como cidadão ativo e responsável em uma
sociedade democrática. Para tanto, os alunos devem vivenciar valores humanos na
escola. A prática avaliativa do professor é uma oportunidade efetiva para esse
processo de transformação.
As DCES (2009), destacam que o papel da Educação Física é desmistificar
e refletir sobre as diversas práticas e manifestações corporais que foram produzidas
e acumuladas pela humanidade no decorrer da história. Como prioridade na prática
pedagógica encontra-se o conhecimento sistematizado, para que os alunos possam
ampliar a sua compreensão sobre os saberes produzidos pala humanidade e suas
implicações para a vida. Quanto à avaliação, deve ser processual, estar a serviço de
todos os alunos e nunca para excluí-los (PARANÁ/SEED,2009).
Neste sentido, a avaliação, considerada enquanto elemento constituinte do
processo educacional, deve estar coerente com os princípios que sustentam o
projeto político-pedagógico da escola. Assim, ela não se reduzirá a um momento ou
a períodos pré-determinados, de forma a atender apenas às exigências normativas
da escola, como também não poderá pautar-se nos critérios avaliativos comumente
utilizados. Deve, antes de tudo, indicar em que medida a prática pedagógica foi
capaz de conduzir a uma efetiva apreensão do conhecimento, balizada pelo eixo
fundamental do projeto político pedagógico.
Dessa forma, cada aula representa uma oportunidade de proporcionar a
reflexão sobre o processo de conhecimento e a mudança de atitude frente a
realidade das situações vividas. Como nos propõe o Coletivo de Autores, assim, as
práticas avaliativas produtivo-criativas, buscam imprimir à avaliação uma perspectiva
de busca constante da identificação de conflitos no processo ensino-aprendizagem,
bem como a superação dos mesmos, através do esforço crítico e criativo coletivo
dos alunos e a mediação do professor (COLETIVO DE AUTORES, 1992).
Ao abordarmos essa perspectiva no trabalho com alunos da EJA temos que
nos questionar acerca dos conteúdos que elegemos para trabalhar com nossos
alunos, sujeitos sociais, quanto às necessidades reais dos mesmos, se o que eles
aprendem, de alguma forma, transforma para melhor seu modo de ver e atuar na
comunidade em que vivem.
Essa abrangência na escola vai exigir uma mobilização entre professor e
alunos diante da possibilidade de fazer diferente a prática avaliativa da Educação
Física na escola. O processo de transformação vai exigir uma relação dialógica e
respeitosa, muito estudo teórico, socialização dos conhecimentos. Acreditamos
serem esses os passos iniciais para a construção de uma avaliação mais
democrática e justa. Apreciar e interpretar os pontos de vista dos alunos jovens e
adultos, proporcionar oportunidades de ampliação e contato com as diferenças
consistem, no nosso entender, nos passos iniciais para construção de uma
sociedade mais democrática e justa, onde seja melhor viver.
3 METODOLOGIA
O compromisso com uma Educação de qualidade como meio de acesso ao
saber para compreender e atuar dentro de uma sociedade em que os avanços de
toda ordem trazem não só consequências benéficas à nossas vidas, foi o incentivo
inicial do nosso projeto de estudo.
A escolha do tema “Avaliação da aprendizagem como potencial criativo
de qualidade de vida”, deu-se em função de acreditar na possibilidade de fazer
diferente a prática avaliativa de Educação Física no colégio, pois conhecedores da
realidade pelos nossos vinte anos de atuação na área educacional, evidenciamos
vários fatores que resultaram em insucesso e abandono escolar do aluno do período
noturno. Diante dessa possibilidade de transformação e atuando na modalidade de
estudo em questão, vislumbramos exercitar práticas metodológicas mais
significativas junto a esses alunos adultos. Portanto, estávamos indo de encontro às
nossas expectativas.
Nas estratégias optamos pela metodologia de abordagem qualitativa que é a
mais interessante para a área educacional, uma vez que permite uma leitura da
realidade por meio de um diálogo reflexivo entre os sujeitos envolvidos na pesquisa.
O método dialético é bastante questionador o que propicia muitos elementos
para atuar na realidade estudada e provocar mudanças significativas. Para tanto,
estabelecemos um processo de interação entre professor e alunos objetivando
despertar nos discentes, o interesse pela disciplina de Educação Física.
Desta maneira, para estabelecer uma maior aproximação com a dinâmica
que caracteriza as questões de ensino e aprendizagem, realizamos um
levantamento de informações que pudessem ter tratamento interpretativo. Para isso,
procuramos interpretar os instrumentos utilizados para coletar informações, por meio
de uma reflexão coletiva com nossos alunos, ouvindo a voz de todos, para detectar
os pontos que mereciam uma maior atenção do professor na efetivação dessas
estratégias previstas e de estratégias futuras.
Com um embasamento teórico apropriado, planejamos nosso trabalho junto
aos alunos em 12 (doze) horas aula, porém flexível, de acordo com o
desenvolvimento das ações. Após cada ação desenvolvida nas etapas da
implementação, era estabelecida uma reflexão conjunta entre professor e alunos, ou
seja, uma nova postura do professor para o aluno interagir e se sentir parte
integrante com voz e vez.
Na apresentação do projeto aos alunos da EJA investigamos as expectativas
dos mesmos em relação às atividades propostas, uma vez que, na ocasião,
aproveitamos para aplicar a Ficha Diagnóstico Inicial.
Realizamos uma prévia orientação antes de solicitar aos alunos que
respondessem aos questionamentos presentes no referido instrumento, os quais
indagavam sobre as formas como foi processada a avaliação na Disciplina de
Educação Física nos anos anteriores, visando nortear nossas ações a partir desse
conhecimento. Explicamos que não havia necessidade de se identificarem, mas que
ficassem à vontade quanto a esse quesito, uma vez que estávamos trabalhando
com uma turma da Organização Coletiva da EJA, a qual contava com poucos alunos
naquele momento do ano letivo.
No Estado do Paraná a Educação de Jovens e Adultos é ofertada em duas
formas de organização: A Coletiva e a Individual. Na primeira forma, o colégio
oferece aos alunos um cronograma que estipula o período, dias e horários das
aulas, definindo a data de início e término de cada disciplina, garantindo a
integralidade do currículo. Esta organização destina-se àqueles alunos que têm
possibilidade de frequentar regularmente as aulas previstas.
Já, a organização Individual destina-se àqueles alunos trabalhadores que
não têm possibilidade de freqüentar com regularidade as aulas; é oferecida aos
alunos por meio de um cronograma que estipula o período, dias e horários das
aulas, contemplando o ritmo próprio do educando, respeitando os saberes já
apropriados ( PARANÁ, Dia a Dia Educação).
Assim, como nos aponta as Diretrizes Curriculares da Educação de Jovens e
Adultos (2006), “Para que a escola possa reorganizar o conhecimento originário na
cultura vivida e dar significado ao conhecimento escolar, o ponto de partida deve ser
a experiência dos sujeitos envolvidos” (PARANÁ/SEED, p.38).
As opções de respostas eram as seguintes: Provas práticas, provas teóricas,
participação nas aulas, apresentação de trabalhos, fichas, pesquisas, outras.
Na ordem decrescente, a opção mais escolhida foi provas práticas, seguida
pelas provas teóricas, participação nas aulas, apresentação de trabalhos e
pesquisas.
Na tentativa de propor novos procedimentos avaliativos a partir desse
diagnóstico inicial recorremos às sugestões do Coletivo de Autores (2005), o qual
nos aponta que devemos considerar na prática avaliativa a necessidade de criar
situações onde normas e valores, regras e padrões que informam essas condutas
devem ser criticados, reinterpretados e redefinidos. Portanto, os alunos devem
participar criticamente da reinterpretação dos valores e procedimentos que
sustentam a avaliação (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 106).
Essa aproximação é essencial, pois o aluno ainda se sente à margem do
processo avaliativo. Com a promoção dessas reflexões finalmente entenderiam que
o sucesso do professor depende do sucesso do aluno. Essa ação cooperativa
depende do envolvimento de ambos no processo de ensino e aprendizagem.
Vasconcellos (2005) oferece uma análise importante sobre o aproveitamento
coletivo, o caráter comunitário da aprendizagem entre os alunos, enfatizando que o
professor deve incentivar essa prática. Segundo esse autor, “a colaboração dos
colegas é fator de crescimento mútuo, de responsabilidade social e de ajuda efetiva
no processo de construção do conhecimento”. Ainda segundo Vasconcellos, “a
aprendizagem escolar é uma tarefa coletiva e não uma apropriação privada de um
conhecimento” como algo que dotaria o sujeito de um preço mais elevado no
mercado de trabalho (VASCONCELLOS, 2005, p. 97).
Na continuidade das ações planejadas, utilizamos o Data Show para
apresentar slides referentes à modalidade voleibol, mostrando aspectos históricos
da modalidade em questão, uma vez que esse conteúdo sempre foi apresentado
aos alunos sem ser trabalhada a dimensão histórica do mesmo.
Passamos então às aulas práticas de voleibol onde foram estimulados a
realizar os fundamentos básicos dessa modalidade, ou seja, saque, toque,
manchete e rodízio objetivando provocar uma reflexão sobre o estilo de vida
fisicamente ativo. Na ocasião todos tiveram oportunidade de realizar esses
fundamentos, mesmo com um pouco de timidez manifestada por alguns,
considerada natural para o momento.
Num segundo momento, foi estimulada uma discussão sobre as
possibilidades de controlar esse aspecto emocional, a ansiedade e a timidez de
alguns alunos no desenvolvimento das aulas práticas para incentivá-los a ser mais
participativo, criativo, crítico e mais seguro nesse envolvimento com a prática
esportiva, na sua expressão corporal.
Para garantir a apropriação do conhecimento, nossa próxima ação foi levar
os alunos ao Laboratório de Informática para procedermos a uma pesquisa sobre os
fundamentos básicos do Voleibol. Este procedimento permitiu o contato com
imagens, reportagens, entrevistas com técnicos e jogadores, levando-os a entender
a evolução do que é produzido socialmente, a mudança das regras dessa
modalidade esportiva também é parte dessa dinâmica histórica. A relação entre a
atividade física e saúde também foi possibilitada por essa pesquisa, uma vez que os
alunos foram compreendendo que a atividade física traz saúde, mas até isso é uma
questão social, pois temos que ter garantido outras condições para usufruir desse
benefício.
Conforma explica Gasparin (2005), “o novo conteúdo de que o aluno se
apropriou não é, portanto, algo dado pelo professor, mas uma construção social feita
com base em necessidades criadas pelo homem”. Agora, o aluno passa a entender
que “esse conhecimento possui uma função explícita: a transformação social”
(GASPARIM, 2005, p.130).
A partir desse momento, com esse novo posicionamento dos alunos
mediante a compreensão do conteúdo, poderíamos aplicá-lo como prática, a qual é
a concretização dessa compreensão (GASPARIM, 2005).
Para Saviani (2005), não é o bastante só atuarmos intelectualmente visando
possibilitar ao aluno a compreensão teórica e concreta da realidade. É necessário
ofertarmos, mesmo que seja em pequena escala, as condições para que a
compreensão teórica seja traduzida em ações, “uma vez que a prática
transformadora é a melhor evidência da teoria” (SAVIANI, 2005, p. 82).
Na sequência, entregamos aos alunos o “Contrato de Avaliação”, para que
escolhessem a forma pela qual seria avaliado (a) nessas aulas referentes ao
trabalho em questão. Nesse instrumento cada qual teria que se identificar, datar e
assinar o contrato. As opções de resposta eram: redigir um relatório; apresentar o
conteúdo estudado por meio de imagens; elaborar um manual prático; fazer uma
demonstração para a turma; gravar e exibir entrevistas em áudio ou vídeo; elaborar
um mural; apresentar um seminário; fazer uma dramatização; montar um
experimento; coordenar um debate na sala; fazer uma música; outro (MIRANDA,
2007, p.44).
Pudemos constatar como foi surpreendente o fato de poderem escolher a
forma de ser avaliado. Foram registrados depoimentos, como “Nunca fizemos esse
tipo de escolha antes”. Ou ainda, “Agora vamos ter que caprichar mais ainda já que
fomos nós que escolhemos o jeito de ser avaliado”. Ou “Vou marcar a que eu achar
mais fácil pra garantir minha nota”.
Esses depoimentos exigiram mais reflexões coletivas, pois nos chamou a
atenção o sentido autoritário da avaliação da aprendizagem explícito na fala dos
alunos.
Vale lembrar Vasconcellos (2005), que propôs ao professor lutar para criar
uma nova mentalidade junto aos alunos, colegas educadores e pais, visando
superar o senso comum deformado a respeito da avaliação. Sentimos que o aluno
não se apropriou que a prática avaliativa é processual, ou seja, está inserida no
processo de ensino e aprendizagem, é concomitante a esse processo e não pode
ser reduzida a um momento de todo um trabalho que foi sendo desenvolvido num
espaço de tempo, devidamente planejado, com objetivos previamente traçados e
critérios avaliativos transparentes, evidenciados e passíveis de um replanejamento,
dado à flexibilidade das ações pedagógicas.
O analisar os resultados contidos no referido contrato a surpresa ficou por
conta da escolha de “fazer uma demonstração para a turma” e “montar um mural no
colégio”. Verificamos que o espírito coletivo e cooperativo ficou evidente nessas
escolhas, como forma de sentirem-se mais acolhidos e seguros por meio dessa
interação.
A partida de Voleibol foi precedida e procedida pela prática de alongamentos
sugeridos por Anderson (2003), contribuindo para a conscientização dos alunos
quanto a sua corporeidade de uma forma saudável o que objetivamos no decorrer
das ações e atividades propostas, uma vez que a ampliação dos conhecimentos
anteriores sobre o movimentar-se que o aluno possuía o auxiliou na construção de
novos conceitos corporais construídos e vividos intensamente como um corpo em
movimento e com possibilidades diferentes de ação.
A aplicação dessas práticas eleitas pelos alunos foi uma excelente
oportunidade para refletir sobre as expectativas dos alunos em relação às suas
novas posturas, agora mais autônomos, com uma nova visão do conteúdo, objeto de
nosso estudo.
Como explica Gasparin (2005) nos procedimentos práticos da sua proposta
de trabalho pedagógico no uso do método de dialético, ou seja, é o momento da
ação consciente agora transformada pela aprendizagem. Nessa nova forma de agir,
o sujeito, aluno, tem a intenção, a predisposição de colocar em prática os novos
conceitos que aprendeu através da mediação do professor assumindo o
compromisso de usá-los em seu cotidiano com suas características essenciais,
concretas, isto é, diferentes do seu conhecimento anterior. Um novo conhecimento,
diferente do que havia apresentado no início do processo.
Oportunamente, buscamos ouvir as impressões da turma relativas ao
nosso desempenho no desenvolvimento do projeto por meio de uma enquete
escrita, sem necessidade de identificação, constando os seguintes
questionamentos: “O professor expôs a matéria com clareza e domínio do
assunto?”, “O professor atendeu às solicitações dos alunos com atenção?”, “O
professor expressou-se adequadamente através de linguagem satisfatória?”, “O
professor despertou o interesse do aluno pela disciplina?”. Como opções de
respostas, essa enquete apresentava: “Ótimo”. “Bom”. “Regular”. (MIRANDA, 2007,
p.80-81).
Mais uma vez decidimos pela desnecessária quantificação desse
instrumento, pois todos optaram pelo “Ótimo”, o que foi gratificante.
Verificamos que um trabalho que apresenta uma metodologia participativa,
enriquecido de práticas críticas e reflexivas entre professor e alunos e se juntos
compreendemos a aprendizagem como um processo dinâmico progressivo, vamos
obter maior envolvimento e interesse dos alunos na aprendizagem.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Concordamos que efetivar uma prática avaliativa mais democrática e justa
na Educação de Jovens e Adultos é mais do que defender uma concepção teórica,
isto é, esse processo de transformação exige também uma coerência e sensibilidade
humana nas ações metodológicas que só é possível por meio de uma ação dialógica
e respeitosa.
Com o diagnóstico que foi propiciado pelos instrumentos utilizados e pela
reflexão conjunta, concluímos que as dificuldades dos alunos adultos do período
noturno, especialmente em valorizar a disciplina de Educação Física como potencial
criativo de qualidade de vida, ainda é a baixa auto estima. Mas, tudo pode ser
superado com a autoconfiança proporcionada pelo estímulo e incentivo do professor
da disciplina em questão, com aulas mais atraentes, vivas, capazes de despertar
nos alunos o espírito de iniciativa e criatividade que muitas vezes está dormente
esperando ser despertado para a vida. Basta predispor o aluno a essa aventura de
aprender, fazer com que ele vivencie os benefícios dessa conquista.
Nosso projeto, apesar de simples, apresentou resultados gratificantes,
superando nossas expectativas, uma vez que, com o transcorrer das aulas,
pudemos verificar mudanças ocorridas na forma como o aluno se envolvia nas
ações previstas, com entendimento, com desenvoltura, com interesse pela
aprendizagem, dando um real significado a tudo o que aprendia.
Sabemos que nossa implementação só foi uma proposta inicial que
implantamos no colégio, a qual vai nortear nossas ações pedagógicas futuras para
que os alunos trabalhadores da EJA adotem uma postura mais crítica na realidade
social, se valorizem e sejam valorizados como sujeitos históricos.
5 REFERÊNCIAS
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1996.
COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino de educação física. São
Paulo: Cortez, 1992.
CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE VOLEIBOL. Regras Oficiais de Voleibol. Rio
de Janeiro: Sprint, 2004. : http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/1546-6.pdf
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LUCKESI, C.C.; Avaliação da aprendizagem escolar: estudos e proposições. 17. Ed. São Paulo: Cortez, 2005.
MIRANDA, Simão de. Professor, não deixe a peteca cair!: 63 ideias para aulas criativas. Campinas, SP: Papirus, 2005.
PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes curriculares da rede pública de Educação Básica do Estado do Paraná, Educação Física, Curitiba: SEED – PR, 2009.
PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares Orientadoras da Educação Básica para a Rede Estadual de Ensino.
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