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AVALIAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA EM NEUROLOGIA INFANTIL INTRODUÇÃO Este capítulo aborda o processo de avaliação de crianças portadoras de déficits neurológicos, a partir da ótica terapêutica. Atualmente existem muitos métodos de avaliação, desde escalas de avaliação específicas para o tipo de população aplicada, observação, confiabilidade, pontuação, até protocolos de avaliação que variam conforme a patologia em questão. Optou-se por discutir neste capítulo, a Avaliação Neurofuncional na Infância e a Avaliação Neuromotora do Lactente, que são descritas com maior freqüência na literatura e atualmente utilizadas no Ambulatório de Fisioterapia em Neurologia Infantil do HC - Unicamp. Há alguns anos atrás, a avaliação do terapeuta se confundia com a do neurologista e por esse motivo não fornecia todos os dados que deveriam nortear o planejamento terapêutico. A partir da evolução das teorias neurofisiológicas e especialmente das teorias sobre controle motor, a abordagem terapêutica tomou novos rumos e como conseqüência, o processo de avaliação passou a ter um outro enfoque (SHUMWAY-COOK & WOOLLACOTT, 2003). As propostas terapêuticas aplicadas até a década de 90 eram vistas como uma seqüência de exercícios de difícil aplicabilidade nas atividades de vida diária (AVDs), não contribuindo desta maneira, para o processo de aprendizagem e memória (BLY,1996). Atualmente, o paciente é abordado sob o 1

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AVALIAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA EM NEUROLOGIA INFANTIL

INTRODUÇÃO

Este capítulo aborda o processo de avaliação de crianças portadoras de déficits

neurológicos, a partir da ótica terapêutica.

Atualmente existem muitos métodos de avaliação, desde escalas de avaliação

específicas para o tipo de população aplicada, observação, confiabilidade, pontuação, até

protocolos de avaliação que variam conforme a patologia em questão.

Optou-se por discutir neste capítulo, a Avaliação Neurofuncional na Infância e a

Avaliação Neuromotora do Lactente, que são descritas com maior freqüência na literatura

e atualmente utilizadas no Ambulatório de Fisioterapia em Neurologia Infantil do HC -

Unicamp.

Há alguns anos atrás, a avaliação do terapeuta se confundia com a do

neurologista e por esse motivo não fornecia todos os dados que deveriam nortear o

planejamento terapêutico. A partir da evolução das teorias neurofisiológicas e

especialmente das teorias sobre controle motor, a abordagem terapêutica tomou novos

rumos e como conseqüência, o processo de avaliação passou a ter um outro enfoque

(SHUMWAY-COOK & WOOLLACOTT, 2003).

As propostas terapêuticas aplicadas até a década de 90 eram vistas como uma

seqüência de exercícios de difícil aplicabilidade nas atividades de vida diária (AVDs), não

contribuindo desta maneira, para o processo de aprendizagem e memória (BLY,1996).

Atualmente, o paciente é abordado sob o aspecto funcional, e para isso, considera-se

além da plasticidade do sistema nervoso, a plasticidade do sistema músculo esquelético,

os sistemas sensoriais e de autoregulação, a motivação e o ambiente (COHEN, 2001).

Devido a essa nova proposta terapêutica, houve a necessidade de reformular o

processo de avaliação para que pudesse oferecer os subsídios necessários para a

abordagem funcional.

A partir desse momento, passou-se a denominar a avaliação fisioterapêutica de

Avaliação Neurofuncional, que aborda as manifestações sensório-motoras e cognitivas

como conseqüência de um evento neurológico, interferindo na realização das tarefas

funcionais. Nesse contexto é possível afirmar que a atuação do fisioterapeuta que

trabalha com pacientes neurológicos deve ser focada nas manifestações e seqüelas

neurofuncionais, e não apenas na doença neurológica. Através da análise de tarefas

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motoras funcionais é possível identificar os problemas que estão interferindo na sua

realização, como por exemplo, a diminuição da força e mobilidade, o aumento de tônus e

a falta de graduação de movimento. A partir disso, deve-se elaborar um programa

terapêutico voltado para as reais necessidades do paciente (DAUT, 2003).

A Avaliação Neurofuncional destina-se à coleta de dados necessários para

auxiliar o diagnóstico e estabelecer as hipóteses disfuncionais, baseados na integração

dos sistemas motores, somatossensitivo e cognitivo, incluindo aspectos emocionais

(UMPHRED, 1994). Além disso, pode revelar a evolução maturacional do sistema

nervoso, indicar possíveis regressões ou estacionamento do desenvolvimento neuro-

psico-motor, avaliar o comportamento e a capacidade de interação do indivíduo com o

meio ambiente (LEFÈVRE, 1990).

A ANAMNESE

A anamnese em neurologia infantil é fundamental para a elaboração do

diagnóstico disfuncional, objetivo e conduta de tratamento.

Na Avaliação Neurofuncional, a anamnese é importante para conhecer a rotina da

criança e da família, conhecer como se deu o seu desenvolvimento, identificar o nível de

dependência, os fatores que podem interferir no tratamento e as barreiras sociais que

podem limitar a conduta terapêutica (RATLIFE, 2000). Porém, as informações colhidas na

anamnese podem ser incompletas e, portanto não confiáveis. Isso ocorre devido ao

envolvimento de fatores emocionais e sócio-culturais da família, que conseqüentemente

omite ou torna irrelevantes as informações que seriam essenciais (LEFÈVRE, 1990).

Antes de iniciar a anamnese propriamente dita, deve-se sugerir uma brincadeira à

criança, geralmente no chão, para oferecer maior liberdade de movimento. Nesse

momento, o terapeuta deve observar o movimento espontâneo da criança, as habilidades,

as dificuldades, o conhecimento das cores, formas, tamanhos e espaço

(UMPHRED,1994). No caso de um paciente grave, solicitamos que a mãe ou cuidador,

fique com a criança no colo, possibilitando que ela realize alguma atividade de acordo

com a sua capacidade. Observaremos então, a interação dos pais com a criança e se

existe uma dependência emocional da criança em relação aos pais e vice-versa.

Esses itens são observados durante toda anamnese, na presença dos pais. Assim,

a criança tem mais tempo para adaptar-se ao novo ambiente e mostrará um

comportamento mais próximo da sua realidade (LEVITT, 2001).

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Uma anamnese bem feita nos conduzirá a conclusões corretas e ajudará na

elaboração dos objetivos e programa de tratamento satisfatório. Além disso, através da

anamnese, vamos prever o que podemos esperar em termos de colaboração da família,

já que a interação dos pais ou cuidadores é essencial para o processamento da

aprendizagem e memória, uma vez que favorece a aplicação das orientações terapêuticas

nas atividades de vida diária (AVDs), contribuindo conseqüentemente para o processo de

inclusão social, além de esclarecer qual é o potencial e as dificuldades da criança devido

à patologia de base (COHEN,2001).

Queixa e Duração.

Ë o motivo pelo qual a criança é levada para a consulta. Devemos perguntar sobre

as dificuldades da criança e da família; quais são os cuidados especiais que os pais tem

com a criança; qual é a melhor e mais complexa atividade que a criança consegue

realizar sozinha; etc. A queixa deve vir acompanhada da duração, mesmo que imprecisa

(LEFÈVRE, 1990).

História da moléstia atual (HMA)

A história da moléstia atual refere-se à patologia de base do paciente: quando teve

início, local de instalação, quais são os comprometimentos motores, limitações funcionais

que o paciente adquiriu com o passar do tempo, quais são os exames complementares

que o paciente possui e quais são os outros tipos de terapia que o paciente realiza

(SHUMWAY-COOK & WOOLLACOTT, 2003).

Antecedentes pessoais

História da gestação

Tem grande importância na etiologia de várias encefalopatias congênitas. Deve-se

questionar sobre traumatismos: local, época e conseqüência; infecções: rubéola,

toxoplasmose, citomegalovírus, sífilis, influenza, AIDS, herpes; hemorragias: época,

causa, conseqüência, medicamentos; hipertensão arterial: sinais e sintomas da pré-

eclampsia, convulsões, edemas; medicamentos- drogas: época, tipo de droga; fator RH;

diabetes materno; exposição ao raio-x; vacinas; duração da gestação: a termo ou não

(LEFEVRE,1990).

História do parto

Perguntar sobre tipo de parto: se for vaginal, interrogar sobre duração desde o

primeiro sinal de entrada em trabalho de parto até o momento de dar à luz; tipo de

apresentação; emprego de manobras obstétricas; tipo de anestesia usada; sinal de

sofrimento fetal; condições de nascimento: indagar sobre a existência de distúrbios

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respiratórios (se necessitou de ressucitação, de aspiração), presença de cianose ou

palidez; se ficou em tenda de oxigênio e por quanto tempo; se houve choro inicial

(espontâneo ou não, forte ou fraco) e índice de apgar (LEFEVRE,1990).

A validade do índice de apgar é comprovada por vários trabalhos, mas isso não

exclui a hipótese de haver falsas impressões de objetividade, portanto, frente a sinais de

sofrimento do RN devem ser aplicados exames neurológicos evolutivos nos primeiros dias

que darão melhor correlação com a normalidade futura ou não (UMPHRED, 1994).

Deve-se investigar se o recém-nascido teve sucção normal a partir dos primeiros

dois ou três dias, se movimentava livremente todos os membros ou se ficava “mole”,

apático (duração e evolução). Perguntar sobre icterícia, se precisou de fototerapia ou

exsanguineotransfusão (quantas vezes). Abordar se houve ou não crises convulsivas, de

que tipo, gravidade, número, periodicidade e medicação usada (O’SULLIVAN, 1994).

Desenvolvimento neuro-psico-motor

Deve-se perguntar sobre sustento cefálico completo e incompleto; sorriso de

reconhecimento materno; sentar com e sem apoio; sentar sozinho e permanecer;

engatinhar; ficar em pé com e sem apoio; primeiros passos com e sem apoio; ritmo do

sono; emissão de sons (lalação, sílabas, palavras, palavras-frase, frases agramaticais e

gramaticais); correr; subir e descer escadas com e sem apoio; controle do esfíncter diurno

e noturno; nível de escolaridade, temperamento, sociabilidade e agressividade (LEVITT,

2001). É importante saber qual era a qualidade dos movimentos que a criança

apresentava, incluindo aspectos de simetria, velocidade e coordenação (SHUMWAY-

COOK & WOOLLACOTT, 2003). Precisamos questionar como a criança desenvolveu os

padrões de movimento, para que mais tarde possamos concluir se houve favorecimento

do alinhamento biomecânico normal, necessário para permitir uma função motora normal,

como foi discutido no Capítulo 1.

História da moléstia pregressa

Nesse aspecto é importante salientar informações sobre vacinações, traumas,

antecedentes convulsivos, déficits motores, movimentos involuntários, distúrbios

autonômicos, alterações sensitivas, estados infecciosos, cirurgias e outras

(LEFEVRE,1990).

Hábitos

Deve-se buscar informações sobre hábito de alimentação, higiene pessoal, de

sono, o tipo e local de moradia, se há contato com animais, lagos, se freqüenta a escola e

como é o seu comportamento durante o contato com outras crianças, etc.

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Essas informações são importantes para o planejamento terapêutico, pois

conheceremos as limitações da família e do ambiente em que a criança vive (LEVITT,

2001).

Antecedentes familiares

Identificar doença semelhante na família, qualquer que seja o parentesco, até três

gerações. Perguntar o nome dos irmãos, idade, se são normais ou não. Indagar sobre

consangüinidades. Anotar sobre a ocorrência de natimortos ou abortos anteriores e sua

etiologia (época e causa) (LEFEVRE, 1990).

Interrogatório sobre os diversos sistemas

Interrogar sobre o funcionamento dos sistemas respiratório, circulatório, digestivo e

outros que podem acrescentar elementos diagnósticos ou fatores que irão limitar a terapia

(LEFEVRE, 1990, FLHEMIG, 2000).

AVALIAÇÃO NEUROFUNCIONAL NA INFÂNCIA

A avaliação em fisioterapia refere-se à coleta de informações necessárias para

chegar a uma conclusão sobre o diagnóstico disfuncional ou prognóstico de um paciente,

ou ainda para tomar decisões sobre a intervenção, registrando de forma subjetiva ou

objetiva, documentando e informando os achados sobre os distúrbios dos movimentos

(STOKES, 2000).

A finalidade da avaliação na fisioterapia é identificar e descrever o problema,

desenvolver a terapia direcionada para a meta, monitorar o progresso e medir o resultado

final.

A importância da avaliação é a tomada de decisões visando condutas de

tratamento individuais e específicas para cada paciente. A avaliação vai demonstrar a

efetividade do tratamento, indicando a melhor maneira de realizá-lo em cada circunstância

em relação à duração, freqüência e local ideal (STOKES, 2000).

Para que a avaliação não seja puramente subjetiva, levando à carência dos dados

significantes, é necessário o uso de técnicas de avaliação objetivas, através de medidas

padronizadas. No entanto, antes de utilizarmos as medidas corretas devemos estabelecer

o que vai ser medido, como tônus, força muscular, AVD, função motora grosseira, etc.

Assim, registramos a situação clínica prevalente, discriminando o que não é normal,

prevendo o estado futuro e avaliando as mudanças com o tempo (O’SULLIVAN, 1994).

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A avaliação deve conter informações sobre como a criança entra e sai da sala,

como fica no colo dos pais, entre os brinquedos e como estão sendo realizadas as

atividades que fazem parte da avaliação (LEVITT, 2001).

Resumidamente, o terapeuta deve observar a criança junto com os pais. Então,

ele vai poder perceber:

- Aspectos de comportamento: se a criança está alerta, apática, irritável, se cansa

facilmente;

- aspectos da comunicação: como a criança interage com os pais, se a

comunicação ocorre através de gestos, sons, apontando com a mão ou dedo,

apontando com os olhos ou se usa palavras;

- aspectos de atenção: o que chama a atenção da criança e o que a distrai;

- aspectos da compreensão: se a criança segue sugestões para se mover, o que ela

aparenta compreender;

- aspectos da postura: em qual posição ela prefere ficar, se assume essa posição

sozinha ou com ajuda, como participa, se movimentos involuntários que podem

estar presentes diminuem em certas posições;

- aspectos de controle postural e alinhamento: devem ser analisados, o quanto de

suporte a criança precisa para estabilização postural, se descarrega mais peso em

uma parte do corpo, se fica muito desalinhada para se manter estável em

posturas;

- uso dos membros e mãos: deve-se observar como os membros se movem para

mudar de posição e para realizar diferentes tarefas em determinadas posturas,

observar se as mãos são usadas simétricamente, o tipo de preensão e liberação, a

precisão do alcance e da ação da mão, movimentos involuntários, tremores ou

espasmos que interfiram nas ações;

- aspectos sensoriais: observar o uso visão, audição, tato, cheiros e temperatura em

tarefas relevantes;

- forma de locomoção: observar como a criança é carregada, como usa a cadeira

de rodas ou órteses para a marcha, como rola, rasteja, engatinha e outras formas

de locomoção;

- deformidades: observa-se as posições que se mantém nas diversas posturas e

testa-se a amplitude passiva de movimento (LEVITT, 2001).

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Avaliação da Atividade Funcional

É observada a atividade funcional mais complexa que o paciente é capaz de

realizar com mínimo ou sem auxílio. Essa atividade é escolhida de acordo com o

interesse da criança em realizar uma atividade, ou de acordo com o que o terapeuta

observou juntamente com os relatos da mãe ou responsável. Envolve a integração de

aspectos motores, sensoriais e cognitivos, que devem ser inseridos em uma proposta

lúdica que envolva a criança o tempo necessário para a coleta dos dados. Se a criança

precisar de algum tipo de ajuda, esta deve ser registrada (O`SULLIVAN, 1993).

Em algumas situações a análise da atividade funcional é dificultada pela

complexidade desta. Neste caso, optamos por avaliar outra função que também pode

revelar os problemas que interferem na atividade normal, pois na realidade os déficits são

os mesmos, porém, podem estar mais evidentes em funções mais complexas.

Durante a realização da função, serão analisados todos os componentes de

movimento de cada segmento do corpo em seus respectivos planos e eixos.

TABELA 1: Planos e eixos de movimentos.Plano frontal Eixo sagital Movimentos de adução e abdução

Plano sagital Eixo frontal Movimentos de flexão e extensão

Plano transversal Eixo longitudinal Movimento de rotação

Fonte: Dângelo & Fattini, 1998.

A partir da análise dos componentes de movimento da atividade funcional (figura

1, figura 2 e figura 3), será possível identificar a presença de componentes

desnecessários e a ausência de outros que deveriam estar presentes. Neste momento,

com todas as informações necessárias, o terapeuta passa a questionar os problemas que

interferem na realização da função, como por exemplo, a alteração do tônus muscular.

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Figura 2 Figura 3Figura 1

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Nas figuras acima, a função avaliada em uma paciente com hipótese disfuncional

de tetraparesia distônica, é pegar objetos no chão e encaixá-los no alto. Observamos na

figura 1 que, para pegar o objeto, a criança necessita de uma base de apoio maior, para

manter a estabilidade postural, apresentando importante abdução de coxofemoral

bilateralmente. Na figura 2, no momento em que fixa o objeto no tapete observamos

exagerada pronação do antebraço esquerdo, componente de movimento desnecessário

nesta ação. Na figura 3 observamos falta de alinhamentos como a hiperextensão de

joelhos e anteversão pélvica.

A partir desses dados observados, o terapeuta passa a questionar o porquê de

alguns componentes de movimento estarem presentes, como por exemplo, se a

hiperextensão dos joelhos na figura 3 é inerente apenas a fraqueza muscular de

quadríceps, ou se a hipertonia e flutuação tônica do músculo sóleo também contribui para

tal alteração. Após levantar todas as possíveis hipóteses para a realização da função

através da análise dos seus componentes de movimento, o terapeuta passa a identificar

os problemas para finalmente ter condições de estabelecer os objetivos de tratamento.

Identificação dos problemas

Baseados nas informações que foram reunidas desde a anamnese, até a análise

da atividade funcional do paciente, podemos agora identificar cada problema que está

interferindo na função, bem como nas AVDs. Para uma identificação mais detalhada dos

problemas, vamos dividí-los em aspectos neuromotores, músculo-esqueléticas, sensoriais

e cognitivos.

Aspectos neuromotores

Tônus muscular

A avaliação do tônus exige repetidos exames, porque são comuns as flutuações

devido ao estado constantemente mutante da excitabilidade do sistema nervoso central.

Durante a observação inicial do paciente, pode-se perceber a presença de movimentos

anormais ou de posturas dos membros, ou do corpo. Padrões motores estereotipados,

movimentos flutuantes involuntários e ausência de movimentos espontâneos indicam a

presença de anormalidade do tônus. A postura em posições fixas, antigravitacionais

sugere espasticidade. Membros com completa ausência de movimentos e um aspecto

frouxo indicam baixo tônus. A palpação revela informações sobre o estado de repouso

dos músculos (O’SULLIVAN, 1993).

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Figura 1

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A avaliação dos movimentos passivos e dos reflexos miotático revela informações

sobre as respostas dos músculos a um estímulo de alongamento. A movimentação

passiva fornece informações sobre as características de extensibilidade e a passividade.

Isto pode ser realizado pedindo ao paciente um completo relaxamento, e em seguida é

realizada a movimentação passiva dos diversos segmentos dos membros. O balanço

passivo das articulações é uma outra forma de avaliação do tônus, sendo realizado ao

nível dos segmentos distais dos membros, permitindo apreciar oscilações amplas no caso

de hipotonias até oscilações de pequena ou ausência de oscilação, demonstrando

hipertonias (SANVITO, 1996). Um músculo espástico aumenta a resistência oferecida

para os movimentos mais velozes; a rigidez oferece uma resistência constante a todas as

velocidades de movimentos. O clônus é avaliado através de um rápido estímulo de

alongamento (O’SULLIVAN, 1993).

Tabela 2-As avaliações de tônus foram baseadas na escala modificada de Durigon & Piemont (1993).Tipos Descrição

Hipotonia Não há resistência durante o movimento.

Tônus normal Não apresenta alterações.

Hipertonia Leve Resistência em 1/3 do movimento rápido.

Hipertonia Leve + Resistência em 1/3 do movimento rápido e lento.

Hipertonia Moderada Resistência em 1/2 do movimento rápido.

Hipertonia Moderada + Resistência em 1/2 do movimento rápido e lento.

Hipertonia Grave Resistência em todo o movimento rápido.

Hipertonia Grave + Resistência em todo o movimento rápido e lento.

A avaliação do controle do movimento voluntário pode trazer informações

adicionais sobre a influência das anormalidades do tônus sobre o controle motor. Durante

a realização de atividades envolvendo a motricidade voluntária, os movimentos devem ser

bem analisados quanto à interferência do tônus.

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Trofismo muscular

Trofismo é definido como massa muscular, sendo o grau de hipertrofia do

músculo. Pode ser avaliado através da inspeção visual, palpação e cirtometria. Na

inspeção visual observamos o abaulamento da massa hipertônica ou o achatamento da

massa hipotônica; a palpação destina-se à confirmação dos achados na inspeção visual e

a cirtometria deve ser medida em intervalos regulares ao longo do eixo longitudinal da

parte do corpo. Uma protuberância óssea é usada como um ponto de referência para

reavaliação do estado do paciente.

Reflexos osteotendinosos

A avaliação dos reflexos osteotendinosos é realizada através da percussão dos

tendões. Tipicamente são examinados os reflexos bicipital, estilorradial, triciptal, patelar,

adutor e aquileo. São usadas posturas padronizadas que permitem o isolamento e exame

acurado da integridade radicular. O teste dos reflexos também revela informações sobre

estados musculares hipertônicos ou hipotônicos (O’SULLIVAN, 1993). Os reflexos serão

classificados em ausentes quando não há resposta a percussão; hipoativos quando a

resposta é diminuída; presentes quando a resposta é normal; vivo quando a resposta está

aumentada; e exaltado quando apresenta resposta fora da área do tendão (percussão do

ventre muscular).

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Figura 4 – Cirtometria. Etapas para avaliação de trofismo muscular de membro inferior.

Figura 4 – Avaliação de tônus muscular dos flexores de cotovelo.

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Equilíbrio

O equilíbrio é investigado com a pessoa em posição ereta (equilíbrio estático) e

durante a marcha. Se não for possível o paciente se manter em pé, o equilíbrio pode ser

analisado na postura sentada (SANVITO, 1996).

É interessante a pesquisa do sinal de Romberg, que deve ser realizada com o

paciente em posição ereta, com os pés unidos e os olhos fechados. O teste é positivo

quando o paciente apresenta oscilações corpóreas, com tendência à queda em qualquer

direção.

Coordenação

Examinamos a coordenação através de algumas provas que serão descritas

abaixo. Nos casos de distúrbios da sensibilidade, o paciente não consegue atingir o alvo

ou o faz de modo imperfeito. Nas cerebelopatias veremos dismetria e decomposição dos

movimentos.

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Figura 5 – Avaliação do reflexo patelar.

Figura 6 - Teste de Romberg positivo.

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Prova índex-nariz: com os membros superiores abduzidos o paciente é solicitado a

tocar a ponta do nariz com o dedo indicador. Repete-se a prova algumas vezes, primeiro

com os olhos abertos, depois, fechados (PORTO, 1982).

Prova calcanhar-joelho: em decúbito dorsal com os membros inferiores

estendidos, o paciente deve tocar seu joelho com o calcanhar do lado oposto (membro a

ser examinado). A prova deve ser repetida várias vezes, com os olhos abertos e depois

fechados. A sensibilização da prova é feita permitindo-se que o paciente deslize o

calcanhar ao longo da crista da tíbia, após ter tocado seu joelho.

Prova dos braços estendidos: na posição em pé ou sentado e com os olhos

fechados, o paciente deve elevar os membros superiores estendidos até o plano

horizontal. Nas lesões unilaterais do cerebelo, o membro superior ipsilateral à lesão

desvia-se para fora em abdução, ou então pode ocorrer desvios e queda do membro sem

que o paciente perceba a mudança.

Prova dos movimentos alternados: pede-se ao paciente que realize movimentos

rápidos alternados, como abrir e fechar as mãos, movimento de supinação e pronação.

Nos cerebelopatas o movimento é mais lento, mal executado, podendo até ser impossível.

Essa função recebe o nome de diadococinesia, e seu distúrbio, disdiadococinesia.

Prova de Stewart-Holmes (ou do rechaço): com o paciente sentado, solicita-se a

flexão do cotovelo, contra resistência manual do examinador que bruscamente a relaxa.

Se houver distúrbio cerebelar, o paciente não consegue frear o movimento (assinergia

muscular) e o antebraço irá se chocar contra a sua região peitoral. Isso acontece em

cerebelopatas, em casos de hipotonia, déficit motor periférico e em distúrbios

extrapiramidais.

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Figura 7- Prova índex-nariz

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Força muscular

O paciente pode realizar os mesmos movimentos do teste de mobilidade, porém,

com resistência. Essa resistência pode ser aplicada manualmente pelo examinador.

A força muscular deve ser avaliada nos vários segmentos, testando-se metódica e

comparativamente os grupos musculares interessados (SANVITO, 1996). Pode ser

graduada de 0 á 5. Grau 0 significa ausência de contração muscular; grau 1 significa

presença de contração muscular sem deslocamento do segmento; grau 2 significa

presença de contração muscular com deslocamento do segmento na ausência da

gravidade; grau 3 significa que há movimento ativo contra a ação da gravidade; grau 4

significa que ocorre movimento ativo contra uma resistência, mas não em toda amplitude

de movimento; grau 5 significa que ocorre deslocamento contra resistência por toda a

amplitude de movimento. Em crianças não colaborativas ou com baixo grau de

compreensão, a força muscular pode ser testada nas diferentes posturas.

Motricidade voluntária

A avaliação dos movimentos ativos é feita pedindo-se ao paciente que realize uma

série de movimentos em todos os segmentos do corpo. Deverão ser analisadas a

velocidade de execução dos movimentos, a força muscular, a amplitude do movimento e

a habilidade para realização do que é solicitado. Em crianças muito pequenas que ainda

não respondem à comandos, ou em crianças com dificuldade de compreensão, devemos

estimular a motricidade com atividades lúdicas e então verificamos a qualidade dos seus

movimentos.

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Figura 8 - Teste de força muscular dos flexores do cotovelo.

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Aspectos músculo-esqueléticos

Mobilidade

A avaliação da função de mobilidade busca determinar a disponibilidade de uma

adequada amplitude, através da aplicação de testes de amplitude de movimento passiva

e ativa e do funcionamento muscular. A mobilidade também pode ser avaliada mais

fidedignamente através dos testes de goniômetria, sendo estes bastante replicáveis entre

os examinadores. Para estes testes é necessário um goniômetro transparente, contendo

um fulcro, uma haste móvel, e uma haste fixa. A disposição de cada componente do

goniômetro varia conforme a região anatômica analisada. Na figura abaixo, podemos

observar a realização do teste de goniômetria de flexores de quadril, o fulcro neste caso

esta sobre o trôcanter maior, a haste fixa paralela e lateral ao tronco, e a haste móvel vai

em direção ao movimento de flexão do quadril, paralelo e lateral ao fêmur (MARQUES,

1997).

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Figura 9- Goniometria da flexão do quadril.

Figura 10 - Avaliação da mobilidade do tronco para a extensão.

Figura 11 - Avaliação da mobilidade do tronco para a flexão.

Figura 12 - Avaliação da mobilidade do tronco para a rotação.

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Aspectos sensoriais e cognitivos

A visão, a audição, o comportamento, a compreensão e a comunicação da

criança, são itens avaliados desde a anamnese. Quando o terapeuta propõe uma

brincadeira para a criança, ele pode envolver a utilização dos sistemas visual e auditivo e

observar se existem déficits aparentes.

O comportamento, comunicação e compreensão, são observados no

relacionamento da criança com seus cuidadores, com o terapeuta e também através dos

relatos da família que já foram citados na anamnese.

No caso de existir algum déficit aparente, seja ele visual, auditivo ou cognitivo, o

terapeuta deve encaminhar a criança para o profissional ao qual compete o problema.

Sensibilidade

A sensibilidade superficial inclui sensibilidade tátil, térmica e dolorosa. Para a

sensibilidade tátil usamos algodão ou pincel macio que irão estimular várias partes do

corpo. A sensibilidade térmica requer um tubo com água gelada e outro com água quente

para testar diversos pontos do corpo. A sensibilidade dolorosa é testada com o estilete

rombo, capaz de provocar dor sem ferir o paciente (PORT0, 1982, SANVITTO, 1993).

A sensibilidade profunda ou proprioceptiva divide-se em cinético-postural,

barestésica, dolorosa profunda e vibratória. A sensibilidade vibratória é testada com

auxilio de um diapazão (128 ciclos/segundo), colocado em saliências ósseas especificas.

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Figura 13- Teste de sensibilidade tátil.

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A barestésica é testada através da compressão digital ou manual em qualquer

parte do corpo. A cinético postural é explorada deslocando suavemente qualquer

segmento do corpo em varias direções; fixa-se o segmento em uma determinada posição

que deverá ser reconhecida pelo paciente. A sensibilidade dolorosa à compressão

profunda é pesquisada mediante a compressão das massas musculares, nervos e

tendões. A estereognosia (gnosia cortical) é a capacidade de reconhecer objetos pela

palpação, estando com os olhos fechados. É realizada colocando objetos comuns (pente,

chave, moeda, metal, vidro, nas mãos do paciente).

Posturas e Transferências

Após a identificação dos problemas o terapeuta sugere que a criança algumas

posturas e observa as faltas de alinhamento, transferência de peso, flutuação tônica,

motricidade voluntária e por onde inicia o movimento; e neste momento ele tem condições

de analisar e concluir o porquê destas alterações uma vez que já identificou os problemas

anteriormente.

16

Figura 14 - Teste de sensibilidade vibratória.

Figura 15 - Teste de estereognosia.

Page 17: Avaliao Fisioteraputica Em Neurologia Infantil(Monografi (1)

Será avaliado se o paciente tem a capacidade de assumir independentemente ou

não uma postura. Caso haja necessidade de ajuda, deverá ser anotado o tipo e a

intensidade da ajuda.

Após assumir uma postura (com ajuda ou não), é avaliada a capacidade da

manutenção desta postura. Devem ser descritos qualquer tipo de suporte que possibilite o

posicionamento e quais são as posições das articulações que se mantém constantes em

todas as posturas, podendo evidenciar deformidades, encurtamentos, etc. São verificados

padrões anormais de movimentos influenciados pela presença de reflexos primitivos, pelo

tônus anormal e pela presença de movimentos involuntários, além da transferência de

peso na postura. Também devemos verificar qual função é possível ser desempenhada

pela criança sem que ocorra perda da estabilidade e quais são as compensações que ela

utiliza.

Além disso, devemos avaliar a capacidade de transferência de uma postura para

outra. Essa avaliação consta de onde o paciente inicia e desenvolve o movimento até

assumir outra postura, quais as compensações utilizadas. Deve constar também qual

transferência é capaz de realizar sozinho e em qual precisa de ajuda.

Marcha

A marcha deve ser analisada solicitando que o paciente caminhe uma certa

distância, descalço com olhos abertos e fechados indo e voltando sob a observação do

examinador (PORTO, 1982), sendo iniciado à entrada do paciente à sala de exame

(HOPPENFELD, 1999).

17

Figura 16- Postura de gato. Figura 17- Postura ajoelhada.

Page 18: Avaliao Fisioteraputica Em Neurologia Infantil(Monografi (1)

São analisados os componentes de movimento de cada segmento corporal

durante as fases da marcha que são: apoio inicial, apoio médio, apoio final, balanço

inicial, balanço médio e balanço final (ROSE & GAMBLE, 1999). Juntamente a isso

analisamos a ação fásica dos músculos durante a marcha, a extensão da base, o

comprimento do passo, a velocidade, os desvios laterais de pelve e tronco que podem

mostrar fraquezas e movimentos oscilatórios dos membros superiores (HOPPENFELD,

1999).

Concluída a avaliação, devemos correlacionar todos os dados registrados e então

elaborar os objetivos a curto e em longo prazo para o paciente específico e a conduta que

será realizada. No Ambulatório de Fisioterapia aplicada à Neurologia Infantil da Unicamp

esta avaliação é realizada uma vez por ano (ou de acordo com a necessidade). Dessa

maneira, podemos informar os pais da criança sobre a sua evolução e fazer com que eles

tenham conhecimento do nosso trabalho e da importância da sua colaboração.

AVALIAÇÃO NEUROFUNCIONAL DO LACTENTE

O primeiro ano de vida é o momento em que se processam as maiores

modificações, sendo um período de grandes transições da evolução da espécie humana

de atitudes passivas em decúbito dorsal para a posição ortostática.

De acordo com Lefevre (1990), as manifestações da criança podem ser divididas

em três grupos: manifestações permanentes, com as quais a criança nasce e não se

18

Figura 18 - Marcha (vista anterior).

Figura 19 - Marcha (vista lateral).

Figura 17- Marcha (vista posterior).

Page 19: Avaliao Fisioteraputica Em Neurologia Infantil(Monografi (1)

modifica no decorrer de sua evolução (reflexos miotáteis, e sensibilidades primitivas), as

manifestações reflexas transitórias normais nos recém nascidos e no lactente, que

desaparecem com a evolução, reaparecendo em condições patológicas do SNC, e

finalmente, as manifestações evolutivas, com as quais a criança nasce, e com a evolução

deixam de ter caráter reflexo para dar lugar ao controle voluntário ou automatismo

secundário. Devemos partir do exame do recém nascido e observar os sinais evolutivos

que desaparecem ou aparecem segundo vários grupos etários.

Através da sistematização do exame neurológico de crianças normais no primeiro

ano de vida podemos ter um exame simplificado que permita formar uma idéia evolutiva

da criança. Atualmente, existem inúmeras escalas e formas de avaliação para observação

dos sinais evolutivos nos lactentes. No ambulatório de Fisioterapia aplicada à Neurologia

Infantil da Unicamp, é utilizada a Avaliação Neurofuncional do Lactente (ANL), que foi

elaborada baseando-se na escala modificada de Amiel-Tison (1976), sendo avaliado entre

outras coisas: a atividade motora espontânea, o tono passivo do membro e do eixo

corporal, o tono ativo, o desenvolvimento neuromotor, o tônus muscular avaliado pela

escala modificada de Ashwort, e a avaliação das posturas. Tendo o objetivo de detectar

alterações de simetrias, alterações de tono, e de motricidade voluntária, etc. A reavaliação

deve ser realizada mensalmente, a fim de observar possíveis alterações das

manifestações citadas anteriormente.

Esta avaliação será de fundamental importância na elaboração do diagnóstico

disfuncional, estimando a idade gestacional, relatando a capacidade de interação do

individuo com o meio, e conforme as disfunções e déficits apresentados, será feito um

programa de tratamento individualizado, de acordo com as necessidades do paciente. A

seguir, vamos descrever sucintamente a seqüência de avaliação e a forma de realização

dos testes da ANL.

Atividade motora espontânea

Mãos constantemente fechadas

Nos recém-nascidos as mãos são constantemente fechadas. Entretanto quando

as crianças estão dormindo ou muito quietas as mãos abrem e fecham espontaneamente.

Com a maturação das funções neurológicas a mão tende-se a abrir para a execução de

tarefas funcionais (Amiel-Tison, 1976).

Postura assimétrica de membros

19

Page 20: Avaliao Fisioteraputica Em Neurologia Infantil(Monografi (1)

Com a cabeça mantida cuidadosamente no eixo do tronco, temos que observar a

posturas dos membros comparando um em relação ao outro. O reflexo tônico cervical

assimétrico pode interferir nesta postura, mesmo envolvendo somente os membros

inferiores ou os membros superiores (Amiel-Tison, 1976).

Hipertonia permanente de extensores de cervicais

Para qualquer estágio maturacional, quando a criança é colocada na posição

supina relaxada, o pescoço fica normalmente plano, os músculos estão relaxados e não

existe espaço entre as vértebras cervicais e a maca. Geralmente no decúbito lateral a

cabeça fica extendida. Em alguns casos como: quando a criança apresenta uma occipital

proeminente é necessário aplicar o teste de flexão ventral repetida da cabeça (Amiel-

Tison, 1976).

Motricidade espontânea

A velocidade e intensidade dos movimentos são observadas quando a criança é

colocada na posição supina. Este exame subjetivo é necessário e envolve a comparação

da quantidade e qualidade de movimentação espontânea nas crianças avaliadas,

comparando com a faixa etária, e também a presença de assimetrias (AMIEL-TISON,

1976).

20

Figura 18- Postura assimétrica dos membros.

Page 21: Avaliao Fisioteraputica Em Neurologia Infantil(Monografi (1)

A motricidade espontânea também pode ser observada durante os testes de

coordenação específicos, como o teste da Mão-objeto (cubo ou bolinha), verificando com

quanto tempo a criança iniciava esta coordenação, e de que modo ela faz. A Prova do

lençol no rosto, também pode ser realizado, colocando-se um lençol no rosto, e

observando o modo que a criança faz a retirada do lençol e quanto tempo ela leva para

executar a tarefa. Verifica-se também o tipo de preensão (palmar ou em pinça), o modo

(em supinação ou pronação), a direção, e a época desta aquisição. E finalmente, a prova

da mão à boca, observa-se a criança tem a coordenação bucomanual, qual é o modo, a

época de aquisição (LEFEVRE, 1990).

Movimentos anormais

O tremor é observado nos primeiros dias de vida em recém-nascidos normais e é

aumentado nestas crianças devido à fome, choro, ao despir a criança, ou com a aplicação

de água fria, não tendo implicação fisiopatológica, e sendo mais facilmente observado nas

extremidades e mandíbula. O tremor é considerando presente se for incessante e

observado quando estas crianças não estão chorando ou não estão começando a ter

movimentos de preensão voluntária. Os movimentos clônicos são freqüentemente

observados durante o começo da resposta de moro em recém-nascidos. Eles também

são freqüentes durante movimentação espontânea nas primeiras horas de vida,

considerados movimentos anormais se são notáveis e sustentados. Outros movimentos

anormais são os movimentos mastigatórios incessantes. (LEFEVRE, 1990).

21

Figura 19- Prova da mão-objeto

Page 22: Avaliao Fisioteraputica Em Neurologia Infantil(Monografi (1)

Tono passivo do eixo corporal

Flexão ventral repetida da cabeça

Depois de fletir a cabeça por muitas vezes, a resistência sentida pelo examinador

normalmente é a mesma. O resultado do teste é considerado anormal se a resistência

aumenta com a repetição (Amiel-Tison, 1976).

Flexão de tronco

As pernas e a pelve são seguradas em flexão e são empurradas em direção à

cabeça. Normalmente, o alcance passivo de flexão do tronco é maior que na extensão.

Entretanto, a amplitude é freqüentemente limitada devido ao volume do abdome. A

resposta é considerada como exagerada se a amplitude de movimento permite que o

joelho alcance o queixo, e movimentos diminuídos se nenhuma flexão de tronco é

encontrada (Amiel-Tison, 1976).

Extensão de tronco

Com a criança em decúbito lateral, uma mão é mantida na lombar e a outra

estende as pernas para trás. A amplitude de movimento é geralmente muito limitada

(quase zero). A resposta é notada como exagerada se uma curva dorsal é notada e a não

ocorrência de curva pode chegar a tal ponto que produz flexão (Amiel-Tison, 1976).

22

Figura 20-Flexão do tronco

Figura 21- Extensão do tronco.

Page 23: Avaliao Fisioteraputica Em Neurologia Infantil(Monografi (1)

Flexão lateral do tronco

Este teste é realizado somente se a assimetria entre o lado direito e o esquerdo é

detectada. Com a criança em posição supina, a cabeça mantida sobre uma mão, as

pernas são então puxadas lateralmente para direita e para esquerda, (produzindo uma

flexão lateral de tronco para os lados), tentando o máximo de amplitude. Este movimento

depende da tonicidade de músculos contralaterais, que podem se o tônus estiver alterado,

alterar a amplitude do movimento (Amiel-Tison, 1976).

Tono passivo do membro

Ângulo adutor

Com criança na posição supina, ambas as pernas são abduzidas o máximo

possível, sendo o ângulo formado pelas pernas o ângulo abdutor, obtido através de um

goniômetro posicionado com seu fulcro na região umbilical e suas hastes sobre as pernas

(Amiel-Tison, 1976).

Calcanhar orelha

Com a criança em decúbito dorsal, segura-se a perna da criança e leva em direção

ao peito da criança. O fulcro do goniômetro é colocado no trôcanter maior do fêmur, o

23

Figura 22- Flexão lateral do tronco.

Figura 23-Medida do ângulo abdutor.

Page 24: Avaliao Fisioteraputica Em Neurologia Infantil(Monografi (1)

braço fixo lateralmente o tronco, e o braço móvel em direção ao movimento da perna.

(Amiel-Tison, 1976).

Ângulo poplíteo

Com a criança em decúbito dorsal, esticar a perna da criança e observar o ângulo

formado entre a fíbula e o fêmur. Colocando o fulcro do goniômetro posicionado na

cabeça da fíbula, o braço fixo lateralmente ao corpo da fíbula, e o braço móvel em direção

ao movimento de extensão (Amiel-Tison, 1976).

Dorsiflexores

Com a criança em decúbito dorsal, dorsifletir o pé da criança. O fulcro do

goniômetro é colocado na região do maléolo lateral, o braço fixo é colocado na região

lateral do pé, e o braço móvel vai na direção do movimento de dorsiflexão. (Amiel-Tison,

1976).

24

Figura 24 - Medida do ângulo calcanhar-orelha.

Figura 25 – Medida do ângulo poplíteo.

Figura 26- Medida do ângulo dorsi-flexor.

Page 25: Avaliao Fisioteraputica Em Neurologia Infantil(Monografi (1)

Cachecol

Consiste em cruzar os braços da criança adiante do pescoço segurando em suas

mãos e soltando a fim de verificar a amplitude, e de que modo os membros voltam a

posição normal. As posições descritas são: cotovelo não alcança a linha media, o cotovelo

passa a linha média, e o cotovelo ultrapassa muito, a linha média (Amiel-Tison, 1976).

OBS:Para todos os testes de tono passivo a cabeça deve ser mantida na linha

média evitando que o tônus extensor interfira nas medições, temos também que anotar o

ângulo obtido, e comparar com a faixa de normalidade, segundo a faixa etária. Também

pode ser notado se existe assimetria comparando uma perna com a outra.

Assimetrias

Balanceio dos pés

O pé é balançado látero-lateralmente e a amplitude de movimento deve ser notada

(Amiel-Tison, 1976).

25

Figura 27- Manobra de cachecol.

Figura 28 – Balanceio dos pés.

Page 26: Avaliao Fisioteraputica Em Neurologia Infantil(Monografi (1)

Balanceio das mãos

A mão é balançada látero-lateralmente, e a amplitude de movimento é observada

(Amiel-Tison, 1976).

Rotação lateral da cabeça

A cabeça é virada para os lados, é avaliada a resistência dos músculos

contralaterais (Amiel-Tison, 1976).

Janela quadrada

O punho é fletido o máximo possível. O ângulo formado entre a mão e o punho é

medido. É observado se existe uma diferença de angulação entre os lados (Amiel-Tison,

1976).

OBS: nos testes de assimetrias, se o movimento estiver aumentado pode significar

diminuição de tônus, no entanto se estiver diminuído pode haver aumento do tônus.

Avaliação do tono ativo e desenvolvimento neuromotor

Flexão da cervical

Com a criança na posição supina, pegue-a pelos ombros e puxe lentamente para a

posição sentada. Deve ser observada a posição da cabeça em relação ao tronco. Antes

que a posição vertical seja alcançada, os músculos flexores são estimulados para

sustentar a cabeça. O resultado é considerado anormal se a cabeça ficar suspensa no

primeiro momento, e quando passa a linha média vertical cai imediatamente para trás.

Pode ser notada a hipertonia de extensores do pescoço mantendo a cabeça para trás

(Amiel-Tison, 1976).

Extensão de cervical

Com a criança sentada e inclinada para frente, a cabeça suspensa para baixo

sobre o peito, enquanto os ombros são segurados, o tronco é levado lentamente para trás

26

Figura 29 – Flexão da cervical.

Page 27: Avaliao Fisioteraputica Em Neurologia Infantil(Monografi (1)

observando-se a reação da cabeça. Antes que a posição vertical seja alcançada, os

músculos extensores são estimulados para sustentar a posição vertical. O resultado é

anormal se a cabeça fica suspensa e quando passa a linha média cai imediatamente para

trás (Amiel-Tison, 1976).

Ajuda para sentar

Com a criança na posição deitada em supino, o examinador oferece apoio nos

ombros, permitindo que a criança adquira a posição sentada. Está presente quando a

criança adquire a posição ativamente (Amiel-Tison, 1976).

Desenvolvimento neuromotor

Em relação ao desenvolvimento neuropsicomotor é observada a aquisição motora

no rolar (supino-prono/prono-supino), se a criança senta com apoio no quadril, se

consegue permanecer sentado por pelo menos 30 segundos, quando colocada na

posição. Também devemos avaliar a aquisição das posturas sentada, ajoelhada, em pé

com apoio, em pé sem apoio. Devemos observar nestas posturas se a criança necessita

de algum apoio para manter esta posição, como é a descarga de peso, qual é a relação

de simetria de um lado comparando com o outro. Devemos também saber se a criança

adquiriu posturas mais dinâmicas como: o engatinhar, e a marcha independente.

Examinando nestas a sinergia e a simetria de um lado em relação ao outro (Amiel-Tison,

1976). As idades chaves do desenvolvimento neuropsicomotor já foram previamente

abordadas no capítulo 1, e deverão ser utilizadas para saber se a criança não tem algum

tipo de atraso neuropsicomotor.

27

Figura 30 – Paciente em posição sentada por 30”.

Figura 31 – Postura de gato.

Figura 32- Postura em pé com apoio.

Page 28: Avaliao Fisioteraputica Em Neurologia Infantil(Monografi (1)

Durante as provas de desenvolvimento neuromotor podem ser observados o

equilíbrio estático e o equilíbrio dinâmico. Durante os testes de equilíbrio estático podem

ser observadas: a sustentação da cabeça, no qual a criança é capaz de mantê-la ereta de

modo incompleto (com oscilações maiores ou menores e quedas para qualquer direção) e

de modo completo, mantendo a cabeça na referida posição. Durante a posição sentada, é

observado se a criança o faz independente ou precisa de algum suporte (LEFEVRE,

1990).

Durante a posição ortostática também é observada a capacidade que a criança

tem de se manter em pé sozinha ou com apoio. Nos testes de equilíbrio dinâmico

observa-se nas posturas avaliadas como é o deslocamento, a coordenação, e a

possibilidade de executar tarefas.

Podemos avaliar o déficit motor através das posturas do desenvolvimento

neuromotor (aquisição, permanência e simetrias) e a também através das provas

deficitárias, consistindo na prova de echarpe de MMII, e na prova de mingazzini. A prova

de echarpe de MMII consiste em formar um ângulo de 90 da coxa com a barriga e da

perna coma coxa, pressionando com a mão espalmada contra a planta dos pés e

observar a queda. A prova de mingazzini, consiste em colocar a criança em decúbito

dorsal, apoiada em uma mesa, do quadril para cima de modo que os MMII fiquem fora da

mesa, e é observado se a criança tem a capacidade de manter os membros inferiores

elevados (LEFEVRE,1990).

Movimentação involuntária reflexa

Reflexos osteotendinosos

São reflexos musculares profundos e para testá-los devemos manter a cabeça da

criança no eixo do tronco, evitando a rotação que é reflexa nos bebês. É necessário ser

paciente e saber aguardar o momento oportuno. Sabendo que o choro induz erros,

modificando as respostas, é necessário que a criança esteja tranqüila, alimentada, e não

sonolenta. São testados os reflexos: estiloradial, bicipital, tricipital, adutor, patelar, e

aquileu (SILVA, 2001).

Reflexos superficiais

São reações aos estímulos externos aplicados sobre os receptores da pele ou

mucosas que determinam as respostas motoras, geralmente em flexão.

28

Page 29: Avaliao Fisioteraputica Em Neurologia Infantil(Monografi (1)

Reflexo cutâneo plantar: estimula-se com estilete de ponta romba. A pressão deve

ser suave e contínua, o percurso se faz rapidamente para que a superfície plantar receba

um único estimulo e não a somação de estímulos sucessivos (LEFEVRE, 1990).

Atividades reflexas primitivas

Os reflexos são reações automáticas desencadeadas por estímulos que

impressionam diversos receptores, tendendo a favorecer a adequação do indivíduo ao

meio ambiente. Á medida que evolui a maturação do sistema nervoso, os estímulos que

desencadeiam os reflexos vão provocando menos respostas automáticas, devido ao

componente cortical. Desenvolvendo-se, modificando-se, e adaptando-se às

circunstâncias do momento (LEVREVE, 1990). Neste capitulo será apenas abordado a

maneira de testar alguns reflexos e as conseqüências do não desaparecimento, as idades

já foram citadas no Capitulo 1.

Reflexo de moro

É uma reação corporal maciça, sendo determinado por vários estímulos. É obtido

batendo as mãos sobre o plano de apoio, logo acima da cabeça da criança; ou estando a

criança reenclinada sobre o antebraço do examinador, provoca-se uma queda através de

uma extensão de cotovelo. O bater as mãos às vezes não se mostra muito efetivo quando

temos uma insuficiência do estímulo auditivo. A resposta consiste em uma extensão,

abdução, e elevação de ambos os membros superiores, em seguida ocorre o retorno á

habitual atitude flexora em adução. Pode interferir com as reações de equilíbrio e

proteção na posição sentada e coordenação óculo-manual (FLEHMIG, 2000).

Reflexo Tônico Cervical Assimétrico (RTCA)

29

Figura 33 - Reflexo cutâneo-plantar.

Page 30: Avaliao Fisioteraputica Em Neurologia Infantil(Monografi (1)

É desencadeado virando a cabeça da criança para um lado e como resposta

ocorre flexão do membro superior e inferior do lado do couro cabeludo; a coluna vertebral

fica curvada com a convexidade na direção do lado da face. Pode interferir com a

alimentação, o acompanhamento visual, o uso das mãos na linha mediana, o rolar, o

desenvolvimento do engatinhar, e também pode levar a mau formações esqueléticas

(escoliose, luxações de quadril) (FUNAYAMA, 1996).

Reflexo Tonico Labiríntico (RTL)

É desencadeado por mudanças na posição da cabeça no espaço, apresentando

aumento do tônus flexor na posição de prono e extensor na posição supina. Como

resposta, quando a criança está em decúbito ventral, o corpo e os membros em extensão

e em decúbito dorsal, o corpo e os membros em flexão. Pode interferir com a capacidade

de iniciar o rolar, com a capacidade de flexionar o tronco e os quadris para ficar na

posição sentada a partir do decúbito ventral, em geral causa extensão do tronco, e

interfere no equilíbrio da posição ortostática e sentada em geral (SILVA, 2001).

Reflexo de Galant

É desencadeado tocando a pele ao longo da coluna vertebral do ombro até o

quadril. Como resposta é esperada uma flexão lateral do tronco, para o lado do estimulo.

Pode interferir se persistir, com o equilíbrio na posição sentada e pode ocasionar

escoliose (RATLIFFE, 2000).

Preensão Palmar

Estímulo provocado pela colocação do dedo do examinador na palma da mão do

bebê, como resposta é esperado uma flexão dos dedos, causando uma forte preensão.

Sua persistência pode interferir com a capacidade de prender e soltar objetos

voluntariamente e incapacidade de suportar o peso nas mãos para apoiar-se em

respostas de proteção, no engatinhar, etc (FLEHMIG, 2000).

Preensão plantar

30

Figura 33 - Reflexo de Galant.

Page 31: Avaliao Fisioteraputica Em Neurologia Infantil(Monografi (1)

É desencadeado estimulando a base dos dedos do pé. Como resposta é

esperada a flexão dos dedos do pé. Sua persistência pode interferir com a capacidade de

ficar em pé, com o pé plano em uma superfície, e com as reações de equilíbrio na posição

ortostática (FUNAYAMA, 1996)

Reflexo magnético

Estando a criança em decúbito dorsal de maneira simétrica, com flexão de quadris

e joelhos. O examinador estimula as solas dos pés da criança através dos polegares,

sendo em seguida retirados de forma lenta (FLEHMIG, 2000).

Reflexo extensor cruzado

Realiza-se a estimulação da sola do pé do RN, em decúbito ventral, com eventual

pressão sobre o joelho mantendo fixa a perna.

A resposta será a flexão inicial do membro inferior oposto, com eventual extensão e

adução com abertura dos dedos em leque (SILVA, 2001).

Reações

As reações podem desaparecer ou se transformar durante o desenvolvimento

motor da criança. “Essas reações facilitam a aquisição e manutenção das habilidades

motoras voluntárias” (RATLIFFE, 2000).

Reação de suporte

A pesquisa é feita através de estímulos proprioceptivos com a dorsiflexão, ou pelo

contato das plantas dos pés com o solo. A resposta será a contração simultânea de

extensores e flexores.

31

Figura 34 - Preensão plantar.

Page 32: Avaliao Fisioteraputica Em Neurologia Infantil(Monografi (1)

Reação cervical de retificação (Endireitamento cervical)

A criança é colocada em decúbito dorsal. A seguir, gira a cabeça para um lado e o

corpo acompanha o movimento em bloco. Esta reação está presente no recém-nascido e

perdura por até seis meses. “Exerce grande contribuição para a criança aprender a mudar

de decúbito, rolando” (SILVA, 2001). Sofre modificações com a reação corporal de

retificação.

Reação labiríntica de retificação

Esta reação avalia a posição da cabeça em relação com o corpo. A criança pode

ser colocada em posição ventral, dorsal e vertical. O levantamento da cabeça quando em

posição ventral inicia o processo de extensão geral do tronco e dos membros contra a

gravidade (SHUMWAY-COOK & WOOLLACOTT, 2003).

Reação anfíbia

A criança é colocada em decúbito ventral. Através de estímulo na pelve como um

pequeno afastamento da mesa do exame – a resposta será a flexão e abdução do

membro inferior do lado estimulado (ipsilateral) (FLEHMIG, 2000).

Reação de extensão protetora (Pára-quedista ou precipitação)

Segurando-se o lactente pelo tronco, o examinador provoca mudanças súbitas na

posição do corpo. Se colocada de cabeça para baixo, ocorrerá a extensão dos braços e

mãos em direção ao solo. A extensão dos membros inferiores ocorre quando se solta a

criança, sustentada pelas axilas (SILVA, 2001).

32

Figura 35- Reação de suporte.

Page 33: Avaliao Fisioteraputica Em Neurologia Infantil(Monografi (1)

Reação de equilíbrio

Dependendo da posição em que a criança é colocada; provoca-se a mudança de

posição corporal – mudança do centro de gravidade - para frente, para trás e para os

lados. Estando sentada, de pé ou em decúbito (FLEHMIG, 2000).

Reação de proteção da cabeça

A criança é colocada em decúbito ventral, com a face voltada para baixo. Assim,

ela levanta a cabeça e lateraliza como forma de liberação das vias aéreas (SILVA, 2001).

Reação corporal de retificação

Ao girar a cabeça da criança para um lado, o corpo que antes acompanhava o

movimento em bloco, não o faz devido à dissociação das cinturas escapular e pélvica, ou

seja, a reação de retificação cervical é modificada pela reação corporal de retificação

(SHUMWAY-COOK & WOOLLACOTT, 2003).

Reação de Landau

Para obtê-lo é necessário manter a cabeça suspensa horizontalmente, dorso para

cima, posição na qual a criança se eleva espontaneamente em extensão, impulsionada

pelos reflexos de retificação cefálica de origem labiríntica (FLEHMIG, 2000).

Reação de colocação dos pés (Placing-Reaction)

Baseando-se nas pesquisas de FLEHMIG (2000), este reflexo é deflagrado

quando a criança é posta de pé, segurando-a “por baixo dos braços, com os pés abaixo

da borda da escada levantando devagar, tocando o dorso do pé levemente. Puxa-se este

para cima pela borda inferior da escada”.

33

Figura 36 - Reação de equilíbrio.

Page 34: Avaliao Fisioteraputica Em Neurologia Infantil(Monografi (1)

Tono muscular passivo

É observado com a movimentação passiva de cada grupo muscular referente aos

membros inferiores, e membros superiores. Tendo a mesma classificação da avaliação de

tônus muscular já disponível anteriormente, na avaliação neurofuncional da infância.

Atividades motoras

A criança é observada nos decúbitos ventral e dorsal, no rolar, tracionado para

sentar, sentado, de gato e em posição ortostática. Observamos a simetria durante as

posturas, em qual parte do corpo ela descarrega o peso, qual os componentes de

movimento que já adquiriu e como é sua dependência em relação à necessidade de apoio

nas diversas atividades motoras.

OBJETIVOS E PLANEJAMENTO DO TRATAMENTO

Para podermos tomar decisões e planejar um tratamento efetivo é necessário que

saibamos organizar, analisar e interpretar os dados para concluir o estabelecimento de

metas a curto, médio e longo prazo, desenvolvendo um plano de tratamento apropriado

para que as metas sejam atingidas.

34

Figura 38- Placing-Reaction.

Page 35: Avaliao Fisioteraputica Em Neurologia Infantil(Monografi (1)

Primeiramente, os dados da avaliação precisam ser organizados e analisados

formulando uma lista de problemas primários, que são resultados diretos de problemas

patológicos subjacentes (ex. diminuição de força muscular), e os problemas secundários

das complicações que podem resultar em uma incapacidade prolongada, ou manejo

inadequado (p ex. limitação articular). Devemos determinar quais são os problemas que

estão interferindo na função mais alta em questão, delimitando quais os problemas que

podem ser manipulados durante a terapia e os que não podem, como por exemplo, um

bloqueio articular mecânico (UMPHRED, 1994).

A determinação de metas terapêuticas apropriadas é o passo mais difícil do

processo de planejamento do tratamento, exigindo habilidades na interpretação de dados

da avaliação e julgamento profissional. Metas em longo prazo definem o nível de

desempenho específico para o paciente no fim do processo de reabilitação (ex. O

paciente adquirir a capacidade de deambular independente). O paciente e sua família

devem ser considerados membros ativos da equipe, devendo estar intimamente

envolvidos no processo de estabelecimento de metas. Depois que as metas são

estabelecidas o próximo passo é determinar quais são os componentes necessários para

a execução das metas. Estes componentes necessários para a execução de uma tarefa

são denominados metas em curto prazo. (ex. melhorar a força muscular, melhorar a

mobilidade articular).

Após ter sido formulado as metas apropriadas, devemos determinar quais são os

procedimentos terapêuticos mais adequados para a aquisição das metas. A decisão do

plano terapêutico mais apropriado deve ser formulado levando em consideração uma

série de fatores, tais como:a interação com os outros profissionais da saúde, os custos

financeiros, etc. Deve também ser feita uma estimativa da duração total de tratamento,

freqüência e duração de cada sessão. Maiores detalhes serão discutidos no capítulo

sobre Abordagens Terapêuticas.

É importante que periodicamente, seja feita uma reavaliação do paciente, para que

se possa medir a eficácia ou não do tratamento. Além disso, propõe-se que ao início e

término de cada terapia seja analisada alguma função do paciente para estabelecer as

prioridades da abordagem fisioterapêutica diária, além de redirecionar os objetivos caso o

paciente não responda favoravelmente a proposta terapêutica (O’SULLIVAN, 1993).

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