22
Açúcar nas Américas Antonio Santamaría García (Escola de Estudos Hispano-Americanos e Área de Cultura Científica, Conselho Superior de Investigações Científicas, Espanha) 1 . Tradução: Daiane Reis “No te canses, ¡oh numen! en alumbrar especies […,] pues a favor producen de Cibeles […] las cañas mieles” 2 . Assim trovava o remanso Manuel de Justo Rubalcava de Cuba e seu doce lá pelo trânsito do século XVIII ao XIX, quando não se tinha transformado ainda a ilha na açucareira do Novo Mundo e do planeta e viriam, pois, tempos melhores e muito diferentes de atual panorama de açúcar na América. Açúcar na América é o título deste breve artigo que se nos encomendou com o fim de preliminar as conferências apresentadas ao seminário “A Bahia e ou Açúcar”, celebrado nessa cidade entre o 14 e 16 de abril de 2008, e o livro editado com elas. A tarefa é difícil. Os textos do simpósio versam sobre produção, tecnologia, escravidão, consumo, sua democratização, sociedades, economias e mentalidades, o caso cubano nos séculos XIX e XX, a decadência da oferta de açúcar naquela primeira centúria e também de ciclos açucareiro, matéria-prima e biocombustível. Temas variados, pois, centrados nos exemplos brasileiros (especialmente da Bahia) e da Grande Antilha, em uma cronologia ampla que abrange de mediados do milênio que há pouco terminou ao início do presente. Tratados por acadêmicos de diferentes especialidades da Europa (a Espanha e a Alemanha), os Estados Unidos, o Brasil e Cuba. Abordarei minha complexa tarefa, portanto, suscetível de infinidade de enfoques, levando em conta tal diversidade seletiva de matérias e autores e de economia que é o que mais estou capacitado para falar. Nestes anos de princípios do século XXI a oferta mundial de açúcar supera 150.000.000t e o consumo 145.000.000. Os países da América do Sul são os maiores produtores, com mais de 21%, mas dois terços de tal quantidade se elaboram no Brasil. Proporções similares às dessa nação fabricam a Índia, Europa Ocidental e extremo oriente e a Oceania, onde destacam a China (5%), a Tailândia e a Austrália (3-4%). Na América, os outros gigantes açucareiros são os Estados Unidos e o México, com porcentagens de 4 e 5%. Entre a oferta desse último país e de Cuba (outrora das grandes do planeta e reduzida bruscamente de 8.000.000-9.000.000 t a menos de 3.000.000t depois do desaparecimento do bloco socialista, seu principal cliente) monopolizam quase 70% do açúcar fabricado no resto de América do Norte, o Caribe e a 1 Trabalho financiado pelo projeto “Memoria del azúcar: prácticas económicas, narrativas nacionales y cultura en Cuba y Puerto Rico, 1791-1930” (HUM2006-00908/HIST), del Ministerio de Educación y Ciencia de España, y la Red de Estudios Comparados sobre el Caribe y el Mundo Atlántico, RECCMA” (http://reccma.es ). 2 Manuel de Justo Rubalcava: “Silva cubana”. Em Poesías de Manuel Justo de Rubalcava. Santiago de Cuba: Luis Alejandro Baralt, 1848.

Azucar en America (en Portugues)

  • Upload
    gdlo72

  • View
    251

  • Download
    4

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Historia americana

Citation preview

  • Acar nas Amricas

    Antonio Santamara Garca

    (Escola de Estudos Hispano-Americanos e rea de Cultura Cientfica, Conselho Superior de

    Investigaes Cientficas, Espanha) 1.

    Traduo: Daiane Reis

    No te canses, oh numen! en alumbrar especies [,] pues a favor producen de Cibeles [] las caas mieles2.

    Assim trovava o remanso Manuel de Justo Rubalcava de Cuba e seu doce l pelo trnsito do

    sculo XVIII ao XIX, quando no se tinha transformado ainda a ilha na aucareira do Novo

    Mundo e do planeta e viriam, pois, tempos melhores e muito diferentes de atual panorama de

    acar na Amrica.

    Acar na Amrica o ttulo deste breve artigo que se nos encomendou com o fim de preliminar

    as conferncias apresentadas ao seminrio A Bahia e ou Acar, celebrado nessa cidade entre

    o 14 e 16 de abril de 2008, e o livro editado com elas. A tarefa difcil. Os textos do simpsio

    versam sobre produo, tecnologia, escravido, consumo, sua democratizao, sociedades,

    economias e mentalidades, o caso cubano nos sculos XIX e XX, a decadncia da oferta de

    acar naquela primeira centria e tambm de ciclos aucareiro, matria-prima e

    biocombustvel. Temas variados, pois, centrados nos exemplos brasileiros (especialmente da

    Bahia) e da Grande Antilha, em uma cronologia ampla que abrange de mediados do milnio que

    h pouco terminou ao incio do presente. Tratados por acadmicos de diferentes especialidades

    da Europa (a Espanha e a Alemanha), os Estados Unidos, o Brasil e Cuba. Abordarei minha

    complexa tarefa, portanto, suscetvel de infinidade de enfoques, levando em conta tal

    diversidade seletiva de matrias e autores e de economia que o que mais estou capacitado

    para falar.

    Nestes anos de princpios do sculo XXI a oferta mundial de acar supera 150.000.000t e o

    consumo 145.000.000. Os pases da Amrica do Sul so os maiores produtores, com mais de

    21%, mas dois teros de tal quantidade se elaboram no Brasil. Propores similares s dessa

    nao fabricam a ndia, Europa Ocidental e extremo oriente e a Oceania, onde destacam a

    China (5%), a Tailndia e a Austrlia (3-4%). Na Amrica, os outros gigantes aucareiros so

    os Estados Unidos e o Mxico, com porcentagens de 4 e 5%. Entre a oferta desse ltimo pas e

    de Cuba (outrora das grandes do planeta e reduzida bruscamente de 8.000.000-9.000.000 t a

    menos de 3.000.000t depois do desaparecimento do bloco socialista, seu principal cliente)

    monopolizam quase 70% do acar fabricado no resto de Amrica do Norte, o Caribe e a

    1 Trabalho financiado pelo projeto Memoria del azcar: prcticas econmicas, narrativas nacionales y cultura en Cuba y Puerto Rico, 1791-1930 (HUM2006-00908/HIST), del Ministerio de Educacin y Ciencia de Espaa, y la Red de Estudios Comparados sobre el Caribe y el Mundo Atlntico, RECCMA (http://reccma.es). 2 Manuel de Justo Rubalcava: Silva cubana. Em Poesas de Manuel Justo de Rubalcava. Santiago de Cuba: Luis Alejandro Baralt, 1848.

  • Amrica Central3.

    Desses grandes produtores muitos so, alm disso, importadores lquidos. Os Estados Unidos

    adquire 0,4 t de acar por cada uma que fabrica. Europa Ocidental tem algum excedente, na

    ndia, extremo oriente e a Oceania a oferta e a procura esto igualadas, ainda que haja pases

    que exportem. O mesmo ocorre na frica austral e equatorial. Com mais de 10.000.000 t o

    principal abastecedor do mercado o Brasil. Tambm tm stocks para a comercializao as

    naes da Amrica Central e o Caribe (5.000.000 t). Os grandes importadores so a Rssia e

    Europa Oriental (8.000.000) e a frica setentrional (7.000.000) 4.

    Pode-se dizer, portanto, que os pases do mundo se auto abastecem de acar em uma grande

    proporo, que no espao exportador em que outrora competiram o Brasil, Cuba, Java, s fica

    um gigante, o Brasil, e algumas naes pequenas, que no geram uma oferta destacada no

    total do planeta, mas sim dentro de suas economias, como o caso de vrios Estados da

    Amrica Central e as Antilhas.

    preciso assinalar, alm disso, que dois teros do acar mundial se elaboram a partir dos

    sucos da cana e o resto da beterraba. De ambas as plantas possvel extrair sacarose com

    rentabilidade econmica, mas a segunda se adapta a climas mais frios e menos midos que os

    requeridos pela primeira, por isso se cultivam na Europa e grande parte de Estados Unidos.

    A relativa escassez de feiras livres exteriores para o acar resultado de uma comprida

    histria que afunda suas razes nos alvores do sculo XIX. At ento aquela se elaborava

    fundamentalmente em territrios tropicais coloniais a partir da cana. Durante as guerras

    napolenicas se fomento sua fabricao na Europa a partir da beterraba, por ser um artigo de

    alto valor estratgico, e se protegeu progressivamente sua produo e seu comrcio com

    subsdios e tarifas.

    Segundo avanou o sculo XIX o acar de beterraba, como se disse destinado

    fundamentalmente ao consumo interno dos produtores, foi ganhando espao no mercado ao de

    cana. Mais um fator que interveio em tal substituio foi o fato de que, frente a outras matrias

    primas tropicais, o acar de cana deve processar-se in situ, pois a plantao perde

    progressivamente sacarose se transcorre mais de um dia entre seu corte e sua moenda, razo

    pela qual no possvel exportar a planta e extrair dela a sacarose nos pases consumidores5.

    Durante o sculo XIX o acar foi o principal produto do comrcio internacional, o que amostra

    sua importncia estratgica mencionada, e Cuba seu principal exportador. Pelas razes citadas,

    quando a dcada de 1920 finalizou o ciclo de alta de sua produo e tambm de sua demanda e

    caram drasticamente os preos (que demorariam depois mais de duas dcadas para recuperar

    o nvel perdido em meados desse decnio), e, sobretudo depois da crise de 1930, o mercado se

    3 Dados da FAO, http://www.fao.org/docrep/007/j3877s/j3877s12.htm (consulta janeiro de 2008), e La produccin mundial de azcar superar los 160 millones de toneladas en la temporada 2006/2007, http://www.agroinformacion.com/leer-noticia.aspx?not=37201 (consulta janeiro de 2008). 4 Ademais das fontes citadas na nota precedente, ver tambm Azcar de caa, http://www.perafan.com/ea02azuc.html (consulta janeiro de 2008), e para uma evoluo da produo e o mercado at a dcada de 1990, por exemplo, o formidvel livro de Jorge Prez Lpez: The Economics of Cuban Sugar. Chicago: University of Pittsburgh Press, 1991. 5 Para mais detalhes a respeito ver o livro de Alan D. Dye: Cuban Sugar in the Age of Mass Production: Technology and the Economics of. Cuban Sugar Central, 1899-1929. New York: Stanford University Press, 1998.

  • cartelizou ou foi sujeito a acordos bilaterais entre exportadores e importadores. Este processo

    explica o elevado nvel de auto-abastecimento que observamos na atualidade6.

    Mais um fator acontecido com a passagem dos tempos a apario de substitutivos do acar

    de sacarose, o que, alm disso, guarda relao com a diversificao progressiva das dietas e

    sua adequao a critrios saudveis nos pases mais ricos do mundo, e com o fato de que as

    tecnologias de conservao dos alimentos reduziram tambm paulatinamente o emprego do

    acar com essa funo. Tais causas tambm no jogaram a favor do aumento de seu

    consumo.

    Em resumo, no final da dcada de 1930 a produo mundial de acar era de aproximadamente

    30.000.000 t, por isso desde ento cresceu 5% anual. O de beterraba monopolizava 40%, mas

    a porcentagem tinha aumentado notavelmente em pouco tempo graas proteo dos

    mercados, pois nos anos vinte no superava 30%. Cuba elaborava 10% dessa oferta, quando

    ao finalizar a Primeira Guerra Mundial chegou a ultrapassar 25%.

    Antes da Grande Guerra os pases da Europa ocidental fabricavam mais de 8.000.000 t de

    acar, Cuba e Indiana cerca de 2.500.000, os Estados Unidos 1.800.000 e Java 1.300.000.

    Esses eram os principais produtores. A guerra reduziu metade a oferta europia e como

    resultado outros produtores aumentaram a sua, de modo que antes da crise de 1930, quando

    se tinha recuperado a do Velho Continente e superava os 9.000.000, naes como o Brasil, o

    Japo e Formosa ou a Austrlia tinham experimentado um notvel aumento na quantidade que

    elaboravam em muito pouco tempo, ultrapassando 1.000.000 t os dois primeiros e 500.000 o

    terceiro. Aucareiros tradicionais, ou se mantinham em cifras similares s da dcada de 1910,

    por exemplo, a ndia, ou muito acima delas: Cuba 5.000.000, os Estados Unidos 3.300.000.

    Assim se saturou o mercado.

    A Grande Depresso e o reforo dos regulamentos dos mercados depois dela alteraram de novo

    a situao descrita. No final da dcada de 1930 o Brasil preservava com 1.000.000 t a posio

    produtiva atingida uma dcada antes, tambm a Europa com 9.000.000-10.000.000, mas

    melhorou a da Austrlia e os Estados Unidos, que superavam 820.000 e 4.500.000

    respectivamente. A oferta da ndia oscilava de 3.000.000 a 4.000.000 e s se reduziu

    drasticamente a dos grandes exportadores: Cuba (3.200.000) e Java (1.500.000)7.

    O melhor indicador das condies de mercado reflete na sua evoluo todas essas

    circunstancias. As cotaes do acar dependem dos acordos de comrcio internacional, as

    barreiras protecionistas e subvenes a sua produo. No obstante se pode afirmar que so

    estruturalmente baixas e que, pela maneira em que est organizado o mercado, a oferta

    responde de um modo muito inelstico a elas salvo no caso dos pases que no tm subscritos

    6 Desenvolvemos com mais amplitude estes temas no livro Antonio Santamara Garca: Sin azcar no hay pas. La industria azucarera y la economa cubana, 1919-1939. Sevilla: Universidad de Sevilla, Escuela de Estudios Hispano-Americanos, CSIC, y Diputacin de Sevilla, 2002. Sobre a historia internacional do setor at a dcada de 1950 verse a obra clssica de Noel Deerr: The History of Sugar (2 volmenes). London: Chapman & Hall, 1950, e para uma anlise por pases antes e depois das grandes mudanas que ocorreram no mercado durante o perodo de entre guerras do sculo XX, as compilaes de Bill Albert e Adrian Graves (editores): Crisis and Change in the International Sugar Economy, 1860-1914. Norwich: ISC Press, 1984, y The World Sugar Economy in War and Depression. London: Routledge, 1988. 7 Os dados dos ltimos prrafos procedem do citado livro, Antonio Santamara Garca: Sin azcar no hay pas, apndice.

  • convnios e vendem os preos de feira livre. O mais afetado por tal situao Cuba ao haver

    pedido seus clientes privilegiados, a Unio Sovitica e o CAME (Conselho de Ajuda Mtua

    Econmica da Europa comunista), que, alm disso, substituram aos Estados Unidos, que at a

    revoluo de 1959 jogou esse mesmo rol.

    Para ter uma idia do que estamos assinalando basta dizer que o preo atual do acar de

    consumo oscila de 10 a 12 cts/lib FOB (livre a bordo). Ao fim da dcada de 1990 sofreu uma

    drstica depresso, descendo a 8. Na de 1920 chegou a superar os 20 cts, mas devido s

    excepcionais condies do primeiro ps-guerra mundial. O nvel normal nesses anos foi de

    aproximadamente 4 cts, por isso se pode dizer que as cotaes s subiram 2% anual desde

    ento, magra cifra considerando a inflao internacional que caracterizou segunda metade do

    sculo XX e sobretudo ao perodo posterior crise de 1973.

    A queda mais recente dos preos afetou sensivelmente produo do Brasil e se agravou pelo

    fato de coincidir com o ajuste e liberalizao da economia do pas depois da crise dos anos

    oitenta, que tambm teve um impacto considervel nas cotaes, pois a eliminao dos

    regulamentos do setor provocou um aumento de sua oferta e uma depresso de seu valor. Tais

    condies, enfim, e o feito de que a tecnologia aucareira h evolucionado relativamente pouco

    h muitos anos devido ao escassamente competitivo que seu mercado, afetam, alm disso,

    aos rendimentos, de modo que resulta difcil compensar os problemas de deflao com custos

    mais baixos8.

    Desde suas origens a indstria aucareira no Brasil se caracterizou por prticas extensivas e

    predatrias na explorao dos recursos. Alguns autores acham que no se modernizou o

    suficiente frente a seus competidores do Caribe e a sia, mas outros afirmam que sua oferta se

    estagnou antes da revoluo que sups a implantao do modelo de plantao em Barbados a

    fins do sculo XVIII devido a causas polticas e exgenas9. Para tempos mais recentes a questo

    no to discutvel. Uma sucesso de fatores no incentivou a melhora da produtividade dos

    engenhos e que optassem por mais um crescimento intensivo e sustentvel: dispor de terra

    abundante, de leis que favoreceram sua concentrao e a dotao de trabalho barato e de uma

    grande feira livre interno, protegido desde os anos trinta. Por isso sua produo aumentou

    perdendo competitividade e clientes. Desde 1959 o fato fortuito de poder abastecer parte da

    demanda norte-americana que antes de sua revoluo supria Cuba ajudou a preservar esse tipo

    de expanso, e tambm a crise energtica dos setenta, com a qual se reforou a citada

    proteo do setor e se fomentou sua reconverso em fabricante de combustvel.

    A desregularizao da indstria aucareira brasileira a partir da dcada de 1990 parece que por

    ltimo criou os incentivos para uma melhora de sua produtividade, mas alm dos problemas

    8 Para a evoluo recente dos preos internacionais e o impacto sobre Brasil, ademais da informao proporcionada sobre a cotizao em qualquer jornal internacional, verse o artigo de Iris Nocedo: El precio del azcar en el mercado mundial y su impacto sobre los exportadores, http://www. fao.org/DOCREP/005/X4988E/x4988e10.htm (consulta janeiro de 2008). A informao sobre as cotizaes no perodo anterior a 1940 est tomada de Antonio Santamara Garca: Sin azcar no hay pas., apndice. 9 Stuart B. Schwartz: `A Commonwealth Within Itself. The Early Brazilian Sugar Industry, 1550-1670". En Antonio Santamara Garca y Alejandro Garca lvarez (coordinadores): La industria azucarera en Amrica. Monogrfico de Revista de Indias, nmero 235 (Madrid: Consejo Superior de Investigaciones Cientficas, 2005), pginas 79-116. O nmero pode consultar-se tambm on line em http://revistadeindias.revistas.csic.es/index.php/revistadeindias/issue/view/41 (consulta janeiro de 2008).

  • mencionados de preos e pouca renovao tecnolgica, prevalecem desincentivos para um

    crescimento scio-ecolgico sustentvel devido s prticas trabalhistas e contaminantes que

    ainda se permitem10.

    No obstante, preciso assinalar, que uma perspectiva comparada desmonta muitos mitos que

    vinculam tais problemas ao pouco desenvolvimento de Brasil ou a fora nele do capital

    estrangeiro. Exemplo disso o impacto ambiental do cultivo encanador no leste da Austrlia,

    pas no qual no intermediaram esses fatores. A rotulao mecnica generalizada desde

    mediados do sculo XX e a poda indiscriminada para fornecer combustvel aos engenhos

    supuseram o desaparecimento de 60% da floresta endmico embaixo dos 80 m, porcentagem

    no muito diferente ao que se computa, por exemplo, em Cuba11, ou sua substituio por

    espcies exticas. Colateralmente, alm disso, isto aumentou o impacto destruidor que as

    geladas provocam no cultivo e uma forte eroso do terreno, o que deu lugar a inundaes,

    frente ao que o Governo no tomou medidas at que no causaram graves danos. Por outra

    parte, a prtica de drenar os terrenos midos doces e cegar com diques os salinos, acabou com

    pelo menos a metade das restingas, e os mangues roubados ao mar se deslocaram a terras

    mais baixas, criando novos pntanos e contaminando rios e solos com o cido sulfrico que

    contm sua gua. S a partir da dcada de 1970 uma legislao tratou de acabar com essas

    barbaridades e comearam a instalar-se depuradoras. Sem mencionar o impacto sobre a fauna,

    outros danos ocasionados minguaram tambm a fertilidade da terra12.

    Como no Brasil, na Venezuela tambm se constata que a rentabilidade do negcio aucareira se

    reduziu notavelmente nos ltimos anos, e igualmente por causa da descapitalizao e a

    incerteza que sofre. Caso contrrio o da Guatemala, um desses com pouca importncia nas

    exportaes mundiais de acar, mas no qual sua indstria encanadora um rubro muito

    destacado na economia nacional. Alm disso, se comportou de modo muito dinmico nas

    ltimas dcadas, o que sups sua renovao e um aumento de sua competitividade, apesar de

    que tambm se viu afetada por problemas climatolgicos e pelos referido baixos preos13.

    Mais exemplos, pois em to breve espao impossvel abordar to amplo tema sem recorrer a

    eles. No Peru a indstria aucareira foi um setor tradicionalmente importante nas exportaes

    e, sobretudo na sua costa setentrional, onde sua modernizao e competitividade a partir de

    10 Pedro Ramos e Araken Alves de Lima: La influencia de la agroindustria de la caa en Brasil y la persistencia de las desigualdades sociales en las tcnicas de produccin extensivas y depredatorias. Em Tamas Szmerecsanyi (coordinador): Sucre. Passat i present. Dossier de Illes i Imperis, nmero 9 (Barcelona: Universitat Pompeu Fabra, 2006), pginas 17-58. Sobre a historiografia da industria aucareira brasileira verse Lucia Amaral Ferlini: O aucar no Brasil. Uma abordagem historiogrfica. En Alberto Vieira (editor): O aucar e o quotidiano. Funchal (Madeira): Centro de Estudios de Histria do Atlntico, 2005, pginas 445-451. 11 Reinaldo Funes Monzote: Del bosque a sabana. Azcar, deforestacin y medio ambiente en Cuba, 1492-1926. Mxico: Siglo XXI Editores, 2004. 12 Peter Griggs: Environmental Change in the Sugar Cane Producing Lands of Eastern Australia, 1865-1990. En 20th International Congress for the Historical Sciences. Sydney: International Committee for the Historical Sciences y University of New Walles of South, 2006 (CD-Rom). 13 Iris Nocedo: El precio del azcar. Sobre Venezuela, verse Luis H. Sigala Venegas y Luis E. Sigala Paparella: La rentabilidad del negocio azucarero en Venezuela. El caso de los precios y los productores del Ro Turbio. Em Antonio Santamara Garca y Alejandro Garca lvarez (coordinadores): La industria azucarera, pginas 171-182, y Juan A. Morales: Dulzura carorea. Historia del central La Pastora. Caracas: C. A. Central La Pastora, 2006.

  • finais do sculo XIX deram lugar a uma oligarquia com uma posio predominante no Governo

    da nao at a dcada de 1960. Como em outros lugares da Amrica, salvo nas pequenas

    Antilhas e Cuba, mesmo que ali s depois da independncia, o cultivo e processamento da cana

    foram de especial importncia em certas regies, no obstante quase sempre tambm tais

    reas tiveram um papel sumamente destacado no pas.

    No Peru as grandes mudanas scio-econmicas, ocorridas nas regies do noroeste, fruto da

    consolidao da indstria aucareira ajudam a explicar tambm a formao do APRA (Aliana

    Popular Revolucionria) e de sua base eleitoral, o chamado slido norte aprista. A revoluo

    militar de Juan Velasco Alvarado em 1968 nacionalizou e cooperativou o setor. Depois este

    experimentou mudanas significativas e uma aguda crise, coincidindo com a j mencionada em

    outros pases, da qual resultou um srio declive particularmente em anos posteriores a 1980,

    cujo principal sintoma que a nao h passado de exportadora a importadora de acar. Alm

    disso, no h signos evidentes que tal situao possa variar no futuro14.

    Na Jamaica e Guiana, por outra parte, a produo de acar sofreu fortes flutuaes ao longo

    de sua histria, mas desde a dcada de 1970, graas ao tratado subscrito entre os dois pases e

    a Unio Europia pela sua pertinncia ao Grupo de Estados da frica, o Caribe e o Pacfico

    (ACP), tal situao mudou e como conseqncia das quotas de exportao atribudas nesse

    convnio, o que padece agora so limitaes para seu crescimento. Ambos os casos so

    representativos do que indicamos aproxima da organizao do mercado. Os governos jamaicano

    e guianense iniciaram polticas de modernizao dos engenhos e de incentivos a atividade e ao

    consumo local, mas tropearam com graves obstculos devido dependncia que tem o setor

    de um mercado internacional muito fragmentado, regulado e estagnado h muito tempo, por

    isso as perspectivas so muito pouco favorveis15.

    Em Porto Rico, aps sofrer problemas na sua modernizao, a indstria aucareira

    experimentou uma forte expanso depois da finalizao do domnio espanhol em 1898, quando

    a ilha ficou baixo a soberania norte-americana. No perodo de entre guerras gozou de novos

    incentivos para aumentar sua oferta devido ao aumento das tarifas dos Estados Unidos frente

    queda dos preos e a elevada safra e exportaes cubanas, que ameaavam a sobrevivncia de

    sua produo interna. No entanto o setor padeceu desde ento por adversas condies pelas

    mesmas razes, sobretudo por causa das baixas cotaes, com o efeito da climatologia, de um

    furaco fundamentalmente, e do programa que o Governo de Washington desenhou para sua

    antilhana depois da crise de 1930, dirigido a sua industrializao e diversificao econmica.

    A oferta aucareira de Porto Rico, que a princpios do sculo XX era de aproximadamente

    300.000 t, e em 1915 de 500.000, superou 1.000.000 no perodo de entre guerras graas s

    citadas condiciones da poca16. Depois o mercado norte-americano se dividiu em quotas

    atribudas aos diferentes abastecedores e a produo porto-riquenha se estagnou nessas cifras.

    O fracasso dos planos para sua modernizao e mais uma legislao efetiva com as restries

    14 Peter Klaren: The Sugar Industry in Peru. Em Antonio Santamara Garca e Alejandro Garca lvarez (coordinadores): La industria azucarera, pginas 33-48. 15 Guy Pierre: Las nuevas tendencias de la produccin de azcar en Guyana y Jamaica a la luz de los tratados Lome-Cotounou y de la globalizacin. Em Antonio Santamara Garca e Alejandro Garca lvarez (coordinadores): La industria azucarera, pginas 49-70. 16 Sol L. Descartes: Basic Statistic of Puerto Rico. Washington: Office of Puerto Rico, 1949.

  • que se haviam imposto na ilha desde sua ocupao pelos Estados Unidos sobre a concentrao

    da propriedade da terra, que prejudicou as empresas donas de engenhos, alm de problemas

    trabalhistas e da prioridade poltica que se deu diversificao econmica e industrializao,

    explicam a crise do setor, que em 1974 s elaborava 450.000 t de acar e em 1982 menos de

    110.000. A incidncia de vrias pragas, finalmente, culminou o desastre e hoje em Borinquen

    inclusive as destilarias tm que importar o suco da cana para manter a manufatura de rum17.

    Na Colmbia, como em outras naes americanas, a produo de acar se localiza em uma

    regio, a do rio Cauca. Seu auge foi resultado da revoluo cubana, mesmo que parece que sua

    indstria estava preparada para assumir o desafio que sups a repartio entre terceiros pases

    da quota de exportao de 4.500.000 t que tinha atribudo a Grande Antilla no mercado dos

    Estados Unidos, pois o Governo exigiu aos engenhos que em nenhum caso deixassem de

    abastecer por causa dele o consumo interno. Durante a dcada de 1960 estes duplicaram sua

    oferta (de 330.000 a 700.000 t) e as vendas no exterior cresceram de 120.000 a 173.000 t,

    mas o mais importante foi um aumento nos rendimentos graas s melhoras introduzidas nos

    cultivos e nos procedimentos de extrao da sacarose.

    Construram-se novos engenhos, aumentaram sua capacidade, no campo se introduziram

    variedades de cana mais rentveis, se generalizou a irrigao e o uso de abonos e se adotaram

    tecnologias de nivelamento. Como resultado a produo colombiana de acar aumentou 50%

    nos anos setenta, superando 1.000.000 t. Depois, nos anos oitenta, experimentou o mesmo

    estancamento que em outros pases e por iguais causas, elevando s a 1.500.000. Nos incios

    do sculo XXI, a oferta, acima dos 2.600.000, gera 1,3% do PIB, um 2,5 dos ingressos de

    exportao e um 9,4 da renda agrria, mas no vale do Cauca se cultiva com cana 66% de sua

    superfcie agrria e o acar gera 6% do PIB18.

    Um estudo de Landell Mills em 1997 sobre dez grandes produtores aucareiros, concluiu que os

    engenhos colombianos esto entre os mais rentveis do mundo em todos os indicadores agro-

    industriais19. Alm disso, nesses anos se abriram novas perspectivas para o comrcio fruto de

    convnios internacionais e que quase todo o acar do pas andino tem certido de qualidade

    ISO20.

    Tanto no Brasil como na Colmbia, onde mais progrediu a indstria aucareira na Amrica e o

    mundo, no nvel da produo no primeiro caso e no da rentabilidade no segundo, se

    potencializou a diversificao e as economias externas do setor.

    J na dcada de 1960 se potencializou o uso do bagao da cana para produzir papel na

    Colmbia e a principal empresa do setor, Propal, se situava entre as cinco maiores do mundo

    nesse ramo de atividade. Tambm se fundaram companhias como Alimentos e Refrescos S.A.

    17 Verse James Dietz. Historia econmica de Puerto Rico. San Juan: Ediciones Huracn, 1989, y Antonio Santamara Garca y Alejandro Garca lvarez: La industria azucarera en Puerto Rico. Un Balance. En Alberto Vieira (editor): O aucar e o quotidiano, pginas 529-574. 18 scar Gerardo Ramos: Caa de azcar en Colombia. Em Antonio Santamara Garca e Alejandro Garca lvarez (coordinadores): La industria azucarera, pginas 45-78. 19 Landell Mills: The Competitive Positions of Leading Sugar Industries. Bogot: Landell Mills e ASO-CAA, 1997. Alm de Colombia, os pases estudados foram Australia, Brasil, Estados Unidos, India, Mxico, Tailandia y Sudfrica. 20 Verse www.icontec.org.co, 2004 (consulta janeiro de 2008). ISO so as siglas de International Standards Organization.

  • para elaborar twist em p, propriedade de um engenho, e um Cluster do Acar, que alm de

    fbricas de papel e bebidas como as citadas, abrange outras de alimentos, energia ou

    sacaroqumica. Alm disso, o pas conta h anos com um museu e um parque da cana, e

    vinculado com a obteno de certificados de qualidade, se assinou um convnio de conserto

    para uma produo limpa no setor aucareiro21.

    Nessa diversificao de atividade destaca na Colmbia e outros pases aucareiro da Amrica

    uma produo tradicional, os licores e o rum, e uma mais nova e pioneira na economia mundial,

    a elaborao de etanol. Comeando pela primeira, hoje o mercado de tais bebidas movimenta

    entre 450.000.000 e 550.000.000lt anuais, dos quais 20% correspondem destilados de

    qualidade e envelhecidos. Destacam entes estes ltimos os conhecidos e prestigiosos runs

    cubanos, e tambm os colombianos, centro-americanos, de outras as Antilhas, e os da

    Venezuela, que exporta cerca de 1.000.000lt.

    A cachaa brasileira, entre os licores fabricados da cana de acar de menor qualidade, que se

    usam na confeco de coquetis como a caipirinha, se exporta modestamente, mesmo que suas

    vendas internacionais experimentaram um forte crescimento e se espera que seja ainda maior

    proximamente. Em 2001 o Brasil colocou fora de suas fronteiras mais de 11.000.000lt e com

    1.300.000.000lt abastecia sua demanda interna. Os prognsticos prenunciam que em 2010 a

    primeira cifra crescer at 40.000.000 ou mais22.

    Logo ao combustvel, preciso assinalar que o etanol pode usar-se como carburante s ou

    misturado com derivados do petrleo e para a oxigenao destes ltimos. Alm disso, reduz a

    dependncia energtica dos pases que no contam com o ouro preto, pois se obtm das

    plantas, e tem vantagens ambientais. preciso enfatizar, no entanto, que em alguns casos os

    cultivos usados para fabric-lo podem ter um grave impacto ecolgico, que para process-lo se

    emprega uma grande quantidade de energia e que sua combusto despeja ao ar mais gases

    poluentes que a queima de leo diesel ou gasolina, mesmo que isso se resolve com a maior

    eficincia da maquinaria que se movimenta com ele.

    Por outra parte, ao se obter o etanol de vegetais, o aumento de sua produo est provocando

    um encarecimento dos mesmos que afeta os consumidores e prejudica, sobretudo, os pases

    mais pobres. Por isso e pelo fato de que tambm reduz a quantidade disponvel de reservas

    naturais se elaborada a partir de substratos das plantas, sua renovao no gratuita.

    O etanol se produz facilmente a partir do milho, de outros cereais e da cana-de-acar. No caso

    desta ltima, dado que h no mundo campos que em outros anos se dedicaram a ela para

    elaborar acar e que hoje esto abandonados, se reduzem algumas das desvantagens

    indicadas. A isso preciso acrescentar o fato de que o obtido da plantao mais simples e

    menos custoso de fabricar.

    Na Amrica, alm dos Estados Unidos, a Colmbia e o Brasil desenvolveram destacados

    programas para obter etanol. O primeiro pas a partir do milho, o segundo usando cana, como

    tambm no terceiro que, alm disso, alcanou assim diminuir sensivelmente sua dependncia

    21 Vase www.cenicana.org; www.contraloriagen.gov.co/cdagro/html/lista-der.htm, y www.apah.hn/tes-timonio.html (consulta janeiro de 2008). 22 Mario Osavah: Comercio-Brasil: la cachaa desafa al tequila y al ron, http://www.ipsenespa-nol.net/crisis/2503_2.shtml (consulta janeiro de 2008).

  • da importao de petrleo.

    Em 2005 a produo mundial de bioetanol era de 30.000.000 m3 e seu comrcio tinha

    aumentado 50% em somente seis anos, por isso se espera um crescimento exponencial no

    futuro. O Brasil exporta a metade do qual se comercializa internacionalmente,

    aproximadamente 5.000.000 m3. Os preos, como ocorrem com os do acar, variam com os

    contratos de compra-venda e as tarifas, mas sem dvida so muito mais atrativos. Nos Estados

    Unidos as tarifas alfandegrias alcanam 13,9 cts/l, mesmo que para os pases da Amrica

    Central, por exemplo, h um mercado livre de quase 900.000 m3 pelo que obtm 50 cts/l

    FOB23.

    Voltando ao exemplo colombiano, em 2002 se estabeleceu por lei a oxigenao das gasolinas

    com lcool vegetal, nas cidades de mais de 50.000 habitantes e reas metropolitanas. Como

    isto requeria quase 500.000 m3 anuais de etanol e se precisavam destilarias com uma

    capacidade de 150.000 a 300.000 l dirios. Em 2005 comeavam a produzir algumas das seis

    que se estabeleceram anexas aos engenhos aucareiro, tecnologia relativamente simples e fcil

    de instalar e que alm disso gasta pouca energia extra. Em 2006 sua capacidade era de

    340.000 m3 anuais e se espera duplicar em breve tal quantidade24.

    Quanto a o Brasil, que alm de ser o primeiro produtor mundial de etanol o primeiro

    consumidor, se comeou a desenvolver sua produo h j trs dcadas e em 2006 superava os

    15.000.000 m3 ao ano. Em Cuba, no entanto, o Governo revolucionrio afirmou que no pensa

    fomentar a indstria de biocombustveis alegando razes ecolgico-humanitrias para no

    contribuir ao crescimento de um setor que usa como matria-prima alimentos. Se dvida que a

    ilha conte com possibilidades reais de coloc-lo em andamento, mesmo que poderia contar com

    capital e assessoria tcnico estrangeiro25.

    Em resumo, um mercado muito fragmentado no qual predominam o auto-abastecimento dos

    pases, no qual o comrcio e os preos sofrem fortes regulamentos e esto muito condicionados

    por acordos internacionais, e no qual a produo interna se encontra submissa a rgidas quotas,

    provocaram substanciais mudanas na situao mercantil e econmica do setor aucareiros nos

    ltimos oitenta anos. O Brasil, com uma forte demanda interior, se transformou no principal

    exportador mundial, superando amplamente a qualquer outra nao.

    H alguns pases da Amrica Central e o Caribe nos quais o comrcio aucareiro, relativamente

    pequeno a escala internacional, tem uma importncia nas suas economias maior que na do

    Brasil. Alm disso, os engenhos dessa nao no so os mais rentveis nem possuem uma

    liderana tecnolgica no setor equivalente ao de sua posio como exportadores, como se

    ocorreu antigamente com os cubanos. Estes ltimos no s perderam clientes, mas sua situao

    piora h muito tempo e no se aprecia soluo no futuro.

    Onde a produo e exportao aucareira progrediram mais e tm melhores perspectivas

    23 Dados de F. O. Licht's: World Ethanol Markets, www.energyfuturecoalition.org/pubs/Bio-fuels%20Seminar%20FOLichts.pdf, e Perfil de mercado y competitividad exportadora de etanol, http://www.mincetur.gob.pe/comercio/otros/penx/pdfs/Etanol.pdf (consulta janeiro de 2008). 24 www.cenicana.org/sctt/publicaciones/ct4_2003_p14-19.htm (consulta janeiro de 2008). 25 Sobre o Brasil verse as fontes citadas na nota nmero 23, e sobre Cuba Fernando Ravsberg: Cuba se distancia del etanol. BBC Mundo.com (quinta feira, 29 de maro de 2007), http://news.bbc.co.uk/hi/spanish/latin_america/newsid_6507000/6507479.stm (consulta janeiro de 2008).

  • naqueles pases em que se diversificou a indstria de cana e alm de artigos derivados

    tradicionais como os licores ou o papel, elabora combustvel. Parece que as perspectivas desse

    negcio so boas, no obstante apresenta tambm problemas cujos efeitos no futuro no so

    fceis de predizer.

    Para concluir parece oportuno fazer algumas apreciaes sobre o omitido. Alm de um valor

    econmico bsico e destacado, a produo de acar na Amrica deixou historicamente pegadas

    nos pases da regio de mais capacidade e transcendncia inclusive, e, sobretudo mais

    durveis, pois prevalecem l onde mal se fabrica o acar alimento. A mais importante,

    certamente, foi escravido. Escreveu-se tanto a respeito que no seria respeitoso, mesmo

    assim, exporei aqui com umas breves consideraes no que diz respeito do inumano, de tal

    forma de explorao do homem pelo homem. No positivo, a herana dessa abominvel

    instituio so sociedades multirraciais e multiculturais nas as Antilhas e em muitas regies do

    resto do continente americano, que, alm disso, se enriqueceram com outros aportes tambm

    aucareiros26.

    Valemo-nos de novo de alguns exemplos. Atravs do acar chegaram a Cuba tantos escravos

    que, em um territrio muito pouco povoado, na primeira metade do sculo XIX superaram aos

    brancos na relao de empregados de habitantes da ilha. A ela e a Porto Rico, as colnias que

    nesse sculo ficaram Espanha na Amrica, chegaram pelo menos 1.600.000 africanos nos

    navios do trfico27. Ao Brasil mais de 4.500.000, aos domnios britnicos 2.600.000, aos

    franceses pelo menos 1.200.000, aos Estados Unidos 300.000, e a outros territrios

    aproximadamente 100.00028.

    parte de escravos, para substituir seu trabalho quando os tratados internacionais e a

    legislao interna dificultassem seu trfico, a lugares como Trinidad e Tobago, o Peru ou Cuba

    chegaram tambm asiticos no sculo XIX com contratos de trabalho cujas condies se podem

    qualificar de semi-escravistas. Calcula-se que nao sul-americana chegaram pelo menos

    100.000 chineses29.

    Ainda mais, em Cuba, por exemplo, aps finalizar efetivamente o trfico, houve imigrao em

    massa, igual que em outros pases da Amrica entre 1880 e 1930 aproximadamente, mas no

    seu caso a causa do crescimento da produo aucareira, que enriquecia por ento o pas

    gerando direta ou indiretamente a maioria do emprego e a renda. Estima-se neste caso que em

    uma populao de aproximadamente 4.000.000 de habitantes ao iniciar a dcada dos anos

    trinta, 1.500.000 procediam da Espanha, de onde chegaram principalmente os migrantes ainda

    depois de deixar de ser a ilha colnia da nao europia30.

    26 Sobre a escravido, verse, por exemplo o balano historiogrfico de Mara del Carmen Barcia: "La esclavitud moderna en la historiografa americana". Historia Social, nmero 19 (Valencia: Fundacin de Historia Social, 1994), pginas 84-98. 27 Verse Consuelo Naranjo Orovio e Antonio Santamara Garca: Las ltimas colonias. Em Bernard Lavall, Consuelo Naranjo Orovio y Antonio Santamara Garca: La Amrica espaola, 1863-1898. Economa. Madrid: Editorial Sntesis, 2002. 28 Datos de Philip D. Curtin: The Atlantic Slave Trade: a Census. Maddison: University of Illinois Press, 1969. 29 Eveykn Hu-DeHart: "Opium and Social Control: Coolies in the Plantations of Peru and Cuba". Journal of Chinese Overseas, volume 1, nmero 2 (Singapore: Singapore University Press, 2005), pginas 169-183. 30 Consuelo Naranjo Orovio: Anlisis histrico de la emigracin espaola a Cuba en el siglo XX". Revista

  • So muitos e variados os efeitos que o acar deixou na Amrica. Tem-se feito referncia

    configurao de sociedades multi raciais e multi culturais. Pode-se dizer, alm disso, que em

    muitos lugares se elaborou em torno ao universo do acar o discurso atravs do qual se

    criaram os modernos pases. O exemplo mais claro o de Cuba. Coincidindo com a crise do

    ciclo de alta da produo de adoante, obras como as de Ramiro Guerra ou Fernando Ortiz

    estabeleceram as bases da historiografia nacional31. Os trabalhos de Ortiz ou de sua discpula,

    Lidia Cabrera so, alm disso, pioneiros nos estudos antropolgicos sobre os afro-americanos32.

    Essa historiografia, no entanto, pretendeu afirmar o predomnio de uma sociedade branca e

    uma nao branca frente herana da escravido, assentada sobre pequenos e mdios

    camponeses independentes que, por outra parte, distinguem a todas as Antilhas na Amrica

    junto com a mencionada escravido, a plantao encanadora e o tipo de colonizao europia

    (mais variada que no continente) segundo as investigaes de Sydney Mintz33.

    A moderna historiografia aucareira, independentemente de sua importncia no nacional,

    sempre destacada, mesmo que sem chegar a cobrir-se com ela como no caso de Cuba, nasceu

    no perodo de entre guerras. Tem alguns precedentes, como a monumental obra de Edmund O.

    Von Lippmann, de 1890, a de H. O. Prinsen Geerlig, editada em 1912, ambas gerais, o estudo

    de Paul L. Vogt aproxima das refinarias norte-americanas, ou os primeiros trabalhos de Noel

    Deerr sobre Cuba34, mas os livros pioneiros j citados de Guerra e Ortiz para a Grande Antilha,

    os de Felipe Ruiz de Velasco ou Arthur D. Gayer, Paul T. Homan e Earl K. James a respeito ao

    Mxico e Porto Rico, ou o do norte-americano Myer Linsky, se escreveram nos anos que

    intermediaram entre as duas conflagraes mundiais, o mesmo que as anlises mais

    ecumnicas dos corredores aucareiros Williet & Gray, muito conhecidos pelos seus anurios, ou

    de Francis Maxwell e o prprio Deerr35. Essas obras, alm disso, junto de algumas outras, como

    de Indias, nmero 174 (Madrid: Consejo Superior de Investigaciones Cientficas, 1984), pginas 505-527. 31 Ramiro Guerra: Azcar y poblacin de Las Antillas. La Habana: Editorial Cultural, 1927, e Fernando Ortiz: Contrapunteo cubano del tabaco y el azcar. La Habana: Editorial del Ciencias Sociales, 1973 (a primera verso dessa obra se publicou em 1937). 32 Verse, por exemplo, Fernando Ortiz: Hampa afrocubana: Los negros esclavos: estudio sociolgico y de derecho pblico. La Habana: Revista Bimestre Cubana, 1916; Los cabildos afrocubanos. La Habana: Imprenta y Papelera La Universal, 1921, ou Lydia Cabrera: El monte. La Habana: Editorial Pueblo y Educacin, 1993 (primeira edio, 1954), livro considerado a Biblia das religies afrocubanas. 33 Sydney W. Mintz: The Culture History of a Puerto Rican Sugar Cane Plantation, 1876-1949. Hispanic American Historical Review, nmero 33/2 (Durham: Duke University Press, 1953), pginas 225-251; Caamelar: the Sub-culture of a Rural Sugar Plantation Proletariat. Em James H. Seward et al.: The People of Porto Rico. A Study on Social Anthropology. Madison: University of Illinois Press, 1956, pginas 314-417, ou Sydney W. Mintz (editor): Caribbean Transformation. Chicago: Aldine Press, 1974. 34 Edmund O. von Lippmann: Geschichte des zuckers seiner darstellung und verwendung, seit den ltesten zeiten bis zum beginne der rbenzuckerfabrikation: ein beitrag zur kulturgeschichte. Leipzig: M. Hesse, 1890; H. O. Prinsen Geerlig: The World's Cane Sugar Industry: Past and Present. Manchester: Norman Rodger, 1912 (verse tambm Cane Sugar Production, 1912-1937: a Supplement to The World's Cane Sugar Industry, Past and Present, 1912. London: Norman Rodger, 1938); Paul L. Vogt: The Sugar Refining Industry in the States. Philadelphia: Pennsylvania University Press, 1908, e Noel Deerr: Memorndum. Condiciones de la industria azucarera en Cuba. La Habana: El Iris, 1915. 35 Ramiro Guerra: Azcar y poblacin; Fernando Ortiz: Contrapunteo cubano del tabaco; Felipe Ruiz de Velasco: Historia y evolucin del cultivo de la caa y la industria azucarera en Mxico, hasta el ao de 1910. Mxico D. F.: Publicaciones de Azcar, 1937, y Arthur D. Gayer, Paul T. Homan y Earl K. James: The Sugar Economy of Porto Rico. New York: Columbia University Press, 1938; Myer Linsky (compilador): Sugar Economics. Statistics and Documents. New York: United States Cane Sugar RefinersAssociation, 1938;

  • a da brasileira Alice Piffier36, algo posterior, foram o incio de uma historiografia mayor na

    Amrica, cujo mximo expoente talvez El ingenio de Manuel Moreno Fraginals, mesmo que

    tambm seu antecessor, Cuando reinaba su majestad del azcar de Roland T. Ely, Sweetness

    and Power de Sydney W. Mintz, La hacienda del azcar de Andrs A. Ramos Mattei, ou The

    Sugar Cane Industry de Jock H. Galloway37, que integrou nos seus contidos outra temtica,

    tambm maior, e qual j temos feito referncia: a dedica anlise da escravido, que surgiu

    muito antes mas por causas similares: nos anos do sculo XIX em que se discutia sua

    abolio38. Esse tema gerou igualmente clssicos no estudo do passado americano, como os

    livros de Eric Williams, Phlip D. Curtin, Arthur L. Corwin, Seymur Drescher ou Hebert S. Klein39,

    ou as compilaes de Laura Foner e Eugene D. Genovese, Richard Frucht, Sydney Mintz, Robert

    Willet & Grays Co.: Production of the World (Cane and Beet) by Countries for Seven Corps 1913-1914 to 1919-1920. New York: Willet & Grays Co., 1920; Comparison of the Portions of the Cuban Sugar Production Controlled by American Companies for the Corp of 1918-1919 to 1923-1924. New York: Willet & Grays Co., 1924, y Willet & Grays Statistical Journal. New York: Willet & Grays Co. (publicao peridica); Francis Maxwell: Economic Aspects of Cane Cultivation. London: Norman Rodger, 1927, y Noel Deerr: Cane Sugar. A Textbook on the Agriculture of Sugar Cane, the Manufacture of the Cane Sugar, and the Analysis of the Sugar House Products. London: Norman Rodger, 1921. Verse tambm o livro clsico posterior j mencionado de Noel Deerr: The History of Sugar, e sobre a origem da historiografa aucarera, Antonio Santamara Garca e Alejandro Garca lvarez: Azcar en Amrica. Em Antonio Santamara Garca e Alejandro Garca lvarez (coordinadores): La industria azucarera, pginas 9-32; Tamas Szmerecsanyi: The Impact of Sugar Cane Expansion on Five Continents. Em 20th International Congress, ou Antonio Santamara Garca: Temas y controversias del debate histrico internacional reciente en torno a la industria azucarera. Amrica Latina en la Historia Econmica. Boletn de Fuentes, nmero 25 (Mxico D. F.: Instituto Mora, 2006), pginas 5-42. Exemplos destacados desses estudos so as citadas compilaes de Bill Albert e Adrian Graves (editores): Crisis and Change, y The World Sugar Economy, ou as publicadas com as atas dos seminrios bianuais celebrados em Madeira desde a dcada de 1990: Alberto Vieira (editor): Escravos com e sem acar. Funchal (Madeira): Centro de Estudos de Histria do Atlntico, 1996; Histria e tecnologia do acar. Funchal (Madeira): Centro de Estudos de Histria do Atlntico, 2000; Histria do aucar. Rotas e mercados. Funchal (Madeira): Centro de Estudios de Histria do Atlntico, 2002, ou O aucar e o cuotidiano 36 Alice Piffer: A influncia do Brasil na tcnica do fabrico de acar nas Antilhas francesas e inglesas no meado do sculo XVIII". Anurio da Faculdade de Cincias Econmicas e Administrativas, 1 (So Paulo: Universidade de So Paulo, 1948), pginas 63-76. Versasse tambm o estudo publicado mais recentemente, mas produto da teses de doutorado da autora, apresentada em 1944, Alice Piffer: A indstria do acar nas ilhas inglesas e francesas do mar das Antilhas, 1697-1755. So Paulo: Universidade de So Paulo. 1981. 37 Manuel Moreno Fraginals: El ingenio. Complejo econmico social cubano del azcar (3 volumes). La Habana: Editorial de Ciencias Sociales, 1978 (primera edio 1968); Roland T. Ely: Cuando reinaba su majestad el azcar. Buenos Aires: Editorial Sudamericana, 1963; Sydney W. Mintz: Sweetness and Power: the Place of Sugar in Modern History. New York: Penguin Books, 1985, Andrs A. Ramos Mattei: La hacienda azucarera: su surgimiento y crisis en Puerto Rico (siglo XIX). San Juan: Centro de Estudios de la Realidad Puertorriquea, 1981 (verse tambin seu livro posterior, La sociedad del azcar en Puerto Rico. San Juan: Universidad de Puerto Rico, 1988), ou Jock H. Galloway: The Sugar Cane Industry: an Historical Geography from its Origins to 1914. New York: Cambridge University Press, 1989. 38 Verse, por exemplo, Jos Antonio Saco: La esclavitud en Cuba y la revolucin espaola. La Habana: Miguel de Villa, 1881, o Historia de la esclavitud desde los tiempos ms remotos hasta nuestros das (3 volmenes). Pars: [s. n.], 1875-1877, ou Georges Scelle: La traite ngrire aux Indes de Castille: contrats et traits d'assiento (2 volumes). Paris: Librairie de la Socit du Recueil J. - B. Sirey & du Journal du Palais, 1906. 39 Eric Williams: Capitalism and Slavery. Chapel Hill: North Carolina University Press, 1944; Philip D. Curtin: The Atlantic Slave Trade; Arthur L. Corwin: Spain and the Abolition of Slavery in Cuba, 1817-1886. Austin: Texas University Press, 1968; Seymur Drescher: Econocide: British Slavery in the Era of Abolition. Pittsburgh: Pittsburgh University Press, 1977; Kennet A. Kiple: The Caribbean Slave: a Biological History. Cambridge: Cambridge University Press, 1984, y Herbert S. Klein: La esclavitud africana en Amrica Latina y el Caribe. Madrid: Alianza Editorial, 1986.

  • B. Toplin; Ann M. Pascatello, Vera Rubin e Arthur Tuden; Manuel Monero Fraginals, Frank Moya

    Pons e Stanley L. Engerman, Margaret R. Crahan e Franklyn W. Knight, Barbara Solow e Stanley

    L. Engerman, Francisco de Solano e Agustn Guimer, Ethnicity in the Caribbean, Franklyn W.

    Knight, Howard Temperley, Roger Munting e Tamas Szmrecsnyi, Enriqueta Vila Vilar ou Jos

    Antonio Piqueras40.

    Estas incidncias do acar na Amrica so to ricas e extensas, quase incalculveis. Por

    exemplo, chama ateno, e j fizemos alguma referncia ao tema, que um setor

    tecnologicamente pioneiro no mundo como foram os engenhos antigamente e nos quais, alm

    disso, aconteceu um fluxo simtrico de intercmbio de idias e inovaes entre os pases

    produtores e os importadores devido tambm referida necessidade de processar a cana in

    situ41, se encontra relativamente estagnado h muito tempo como conseqncia da organizao

    de seu mercado. Recentemente, no entanto, a produo de etanol associada ao mesmo permitiu

    recuperar a liderana tecnolgico internacional em uma atividade econmica em expanso a

    seus fornecedores, como o Brasil.

    Vinculado com a tecnologia e com os tipos de sociedade a que deram lugar as regies

    aucareiras, se pode assinalar tambm que todas elas foram objeto de interesse do

    investimento estrangeiro. possvel remontar-se neste sentido aos tempos em que outras

    potncias europias puseram em interdio o domnio da Espanha e Portugal sobre a Amrica

    no Caribe e no Brasil e financiaram sua presena ali estabelecendo engenhos aucareiros. Esses

    engenhos foram o bero da primeira grande revoluo industrial que conheceu o mundo com o

    surgimento do sistema de plantao em Barbados para 164042, mas no possvel esquecer

    40 Laura Foner e Eugene D. Genovese (editores): Slavery in the New World: a Reader in Comparative History. Englewood Cliffs: Prentice-Hall, 1969; Richard Frucht (editor): Black Society in the New World. New York: Random House, 1971; Sydney W. Mintz (editor): Slavery, Colonialism and Racism. New York: W. W. Norton, 1974; Robert B. Toplin (editor): Slavery and Race Relations in Latin America. Westport: Greenwood Press, 1974; Ann M. Pascatello (editor): The African in Latin America. New York: A. A. Knopf, 1975; Vera Rubin y Arthur Tuden (editores): Comparative Perspectives on Slavery in New World Societies. Monogrfico de Annals of the New York Academy of Sciences, nmero 229 (New York: New York Academy of Sciences, 1977); Margaret C. Crahan e Franklyn W. Knight (editores): Africa and the Caribbean: the Legacies of a Link. Baltimore: John Hopkins University Press, 1979; Manuel Moreno Fraginals, Frank Moya Pons e Stanley L. Engerman (editores): Between Slavery and Free Labor: the Spanish-Speakings Caribbean in the Nineteenth Century. Baltimore: John Hopinks University Press, 1985; Barbara Solow y Stanley L. Engerman (editores): British Capitalism and Caribbean Slavery. Cambridge: Cambridge University Press, 1987; Francisco de Solano e Agustn Guimer (coordenadores): Esclavitud y derechos humanos. Madrid: Consejo Superior de Investigaciones Cientficas, 1990; Ethnicity in the Caribbean: Essays in Honour of Harry Hoetink. London: Macmillan Caribbean Press, 1996; Franklyn W. Knight (editor): The Slave Societies of the Caribbean. Basingtoke: McMillan Press y UNESCO, 1999 (volume 3 da General History of the Caribbean, 6 volumes); Howard Temperley (editor): After Slavery Emancipation and Its Discounts. London: F. Cass, 2000; Roger Munting e Tamas Szmrecsnyi (editores): Competing for the Sugar Bowl. Sugar and Alternative Sweeteners in History. St. Katharinen: Scripta Mercatorum Verlag, 2000; Enriqueta Vila Vilar (compiladora): Afroamrica. Textos histricos. Madrid: Fundacin Mapfre Tavera, 2000 (Cd-Rom), ou Jos Antonio Piqueras (editor): Azcar y esclavitud en el Caribe en el final del trabajo forzado. Madrid: Fondo de Cultura Econmica, 2002. Para mais detalhes verse o artigo j citado de Mara del Carmen Barcia: La esclavitud en la moderna. 41 Sobre a tecnologa, ver os estudos citados de Noel Deerr: History of Sugar, Manuel Moreno Fraginals: El ingenio, Alan D. Dye: Cuban Sugar in the Age, as como a obra de Francis Maxwell: Economic Aspects of Cane, entre outras. 42 Verse Stuart B. Schwartz (editor): Tropical Babylons: Sugar and the Making of the Atlantic World, 1450-1680. Chapel Hill: University of North Carolina Press, 2004.

  • que isso foi possvel graas ao uso de mo-de-obra escrava, e que a presena de estrangeiros

    no foi sinnimo de sucesso, pois foi precisamente pelos tempos da ocupao holandesa do

    Brasil quando a revoluo aucareira das Antilhas provocou ali uma crise produtiva43.

    A revoluo aucareira foi possvel graas a que o trabalho escravo ofereceu mais rendimentos

    por homem que qualquer outro recurso trabalhista antes da Revoluo Industrial44. Por isso a

    abolio do trafico no Caribe ingls ou a independncia do Haiti francs no trnsito do sculo

    XVIII ao XIX provocaram, junto com o esgotamento das terras das pequenas Antilhas, a

    substituio desses territrios pelas ilhas espanholas, e, sobretudo por Cuba, onde se

    registraram a partir de ento as maiores chegadas de escravos, como as grandes exportadoras

    internacionais de acar45.

    Aos fatores do sculo XVIII lhes substituram a partir do XIX grandes empresas internacionais e

    mais adiante bancos. A Cuba Cane, j nas primeiras dcadas do XX, do hispano-cubano-norte-

    americano Manuel Rionda, foi a maior aucareira do mundo e uma das grandes companhias do

    planeta46. Depois da crise de 1930 foram assinaturas vinculadas ao National City Bank as que

    ocuparam essa posio. Tais sociedades possuram engenhos na Grande Antilha, e tambm em

    Porto Rico e a Repblica Dominicana e refinarias do acar nos Estados Unidos47.

    Em uma escala menor, por exemplo, o desenvolvimento, regional, da produo aucareira na

    Argentina, em Tucumn concretamente, contribuiu ampliao e internacionalizao dos

    bancos no pas com os investimentos no setor de capital britnico. O acar ali, como no norte

    do Peru, foi o principal fator para o desenvolvimento local. Para o servio dos engenhos e a

    exportao do acar (exemplo) se construram ferrovias48. E onde mais vinculao houve, de

    novo, entre acar e modernizao dos transportes, foi em Cuba. As necessidades causadas da

    cana e de seu suco cristalizado explicam que na ilha se acolhesse os primeiros trens, s uma

    dcada depois que na Inglaterra, em 1837, antes que em sua metrpole, Espanha, e que em

    qualquer outro lugar na Amrica ao sul do Rio Grande, e que j no sculo XX, quando os

    canaviais se estenderam pela metade, este da Grande Antilha (no XIX se limitaram

    praticamente ao oeste) se configurasse nela um dos sistemas ferrovirios proporcionalmente

    mais extensos do planeta (medido em km/km2 ou km/habitante) 49.

    43 Stuart B. Schwartz: `A Commonwealth Within Itself, pginas 79-116. 44 Barry W. Higman: Slavery, Plantations and Landscape Change on the Caribbean Sugar Islands. Em 20th International Congress 45 Verse Seymour Drescher: Econocide: British Slavery 46 Verse, por exemplo, Alan D. Dye: Cuban Sugar in the Age, ou Muriel McAvoy: Sugar Barons: Manuel Rionda and the Fortunes of Pre-Castro Cuba. Gainesville: University Press of Florida, 2003. 47 Verse Antonio Santamara Garca: Sin azcar no hay pas, e Csar J. Ayala: American Sugar Kingdom: the Plantation Economy of the Spanish Caribbean, 1898-1934. Chapel Hill: University of North Carolina Press, 1999. 48 Verse, por exemplo, Jos Antonio Snchez Romn: El Banco de Londres y el ro de la Plata y el negocio azucarero en Tucumn, Argentina (1900-1914). Revista de Historia Econmica, ao XIX, nmero 2 (Madrid: Marcial Pons, 2001), pginas 415-447, ou "Ferrocarril e industria azucarera en Tucumn (1876-1914)". Em Alberto Vieira (editor): Histria e tecnologia.... 49 Verse Oscar Zanetti Lecuona y Alejandro Garca lvarez: Caminos para el azcar. La Habana: Editorial de Ciencia Sociales, 1987, ou Antonio Santamara Garca: El ferrocarril en las Antillas Espaolas Cuba, Puerto Rico y la Repblica Dominicana, 1830-1995. Em Jess Sanz Fernndez (coordinador) et al.: Historia de los ferrocarriles de Iberoamrica (1837-1995). Madrid, Ministerio de Fomento (CEDEX Y CEHOPU), 1998, pginas 289-334.

  • E assim poderamos seguir misturando-nos em aspectos to diversos como o acar e a

    paisagem, a unificao dos meios naturais pela ao do homem, que nas Antilhas, por exemplo,

    revestiram de cana os lugares prximos ao mar ou as fontes de energia natural, relegando a

    plantao e outros cultivos a seus imediatos limites e a floresta e a flora endmica s margens

    mais extremas das plantaes50. O acar e as mentalidades tambm, que a doutora Lucia

    Amaral Ferlini aborda em um estudo deste mesmo livro. O acar e a literatura: Menino de

    engenho do brasileiro Jos Lins do Rego, ou a epopia La Zafra. Poema de combate do cubano

    Agustn de Acosta, escritos do perodo de entre guerras, aquele em que nascia a historiografia

    aucareira, ou El central de Reinaldo Arenas, muito mais recente51. Acar e vocabulrio, Las

    Palabras doces de Neida Nunes Nunes52. Acar e consumo, que o professor Werner

    Abelshauser trata tambm neste livro. Acar na cozinha53, na arquitetura, na arte, pois os

    engenhos, os campos de cana, as sociedades no seu ambiente geraram manifestaes culturais

    de uma imensa beleza. Por citar s um exemplo no qual se unem pintura, um tratado

    tecnolgico e o desejo tcnico de editores e litgrafos, o livro Los ingenios. Coleccin de visitas

    a los principales ingenios de Cuba, com que o fazendeiro Justo G. Cantero, o litgrafo Eduardo

    Laplante e o impressor Luis Marquier retrataram a indstria do acar na Grande Antilha em

    meados do sculo XIX54.

    Com estas pinceladas termino. No possvel estender-se mais e parece mais apropriado

    reconhecer que to s se tratou de oferecer aqui uma viso impressionista e introdutria de um

    tema descomunal, acar na Amrica, que atropelar um relato com um sem-fim de

    enumeraes e enunciados nos quais no h tempo nem espao para aprofundar. Por essa

    mesma razo j assinalamos que centramos o discurso no econmico e unicamente para acabar

    se apontaram outros aspectos, e entre eles o tema da escravido e as migraes, por serem

    estas as estampagens em relevo mais durveis e interessantes que deixou a produo e

    comrcio do doce alimento nas terras do qual se conhecesse como o Novo Mundo. So temas de

    populao, claro est entendida em um sentido amplo, como configuradora de sociedade e de

    cultura. No sentido que Miguel Barnet, por exemplo, fala do preto em Cuba, que toma de

    conciencia africana de la cultura 55; no sentido que hoje se professa os ritos candombl no

    Brasil, a santidade na Grande Antilha; no sentido que desde sua estampagem em relevo,

    misturada nos lugares de compulsivo acolhimento, nasceu o som, o blues, o samba, e como o 50 Verse, por exemplo, o citado artgo de Barry W. Higman: Slavery, Plantations and Landscape. 51 Jos Lins do Rego: Mehino de engenho. So Paulo: Livraria Jos Olympio Editora, R. J., 1971 (primeira edio 1932); Agustn Acosta: La zafra. Poema de combate. La Habana: Minerva, 1926, y Reinaldo Arenas: El central. Barcelona: Editorial Seix Barral, 1981. Na compilacin de Michelle Guicharnaud Tollis (editora): Le sucre dans l'espace Carabe hispanophone aux XIXe et XXe sicles. Pars: L' Harmattan, 1999, Existe vrios estudos acerca do acar e a literatura nas Antilhas. 52 Neida Nunes Nunes: Palabras doces. Funchal (Madeira): Centro de Estudios de Histria do Atlntico, 2003. 53 Verse, por exemplo, sobre Borinquen, Cruz Miguel Ortiz Cuadra: Puerto Rico en la olla. Somos an lo que comimos? Madrid: Ediciones Doce Calles, 2006. 54 Justo G. Cantero: Los ingenios. Coleccin de vistas a los principales ingenios de azcar de la isla de Cuba. Aranjuez: Ediciones Doce Valles, Ministerio de Fomento (CEHOPU) y Consejo Superior de Investigaciones Cientficas, 2005 (edio a cargo de Luis Miguel Garca Mora y Antonio Santamara Garca, primeira edio 1855-1857). 55 Miguel Barnet: Cultos afrocubanos. La regla de Ocha. La regla de Palo Monte. La Habana: Ediciones UNION, 1995.

  • Poema y Azcar de Carolina Escobar Sarti:

    Triturar la caa

    y cuando hable

    ser jugo para ti,

    pois de acar estamos falando e de um acar que em muitos lugares j no o que era

    antes,

    Y endulzar el ayuno

    de tus recuerdos 56

    de um universo, que a dizer de Jos Lezama Lima, Es ms un perodo geolgico que una in-

    dustria, una medida relacionable entre el vegetal, el hombre y el fuego [], un juego de posi-

    bilidades, e aqui o autor d uma de chauvinista, del que slo los cubanos conocemos el se-

    creto 57. Segredo, trova Agustn de Acosta, que esperana e

    Esperanza de todos hecha cristal:

    grano de nuestro bien []

    clave de nuestro mal

    [Y] se ignora, mientras rauda danzas en las turbina,

    si sers nuestra gloria o sers nuestra ruina"58.

    Bibliografa citada

    20TH INTERNATIONAL Congress for the Historical Sciences. Sydney: International Committee for the Historical

    Sciences y University of New Walles of South, 2006 (CD-Rom).

    ACOSTA, Agustn: La zafra. Poema de combate. La Habana: Minerva, 1926.

    ALBERT, Bill y Adrian GRAVES (editores): Crisis and Change in the International Sugar Economy, 1860-1914.

    Norwich: ISC Press, 1984.

    y Adrian GRAVES (editores): The World Sugar Economy in War and Depression. London: Routledge,

    1988.

    AMARAL FERLINI, Lucia: O aucar no Brasil. Uma abordagem historiogrfica. Em Alberto Vieira (editor): O

    aucar e o quotidiano. Funchal (Madeira): Centro de Estudios de Histria do Atlntico, 2005, pginas 445-

    451.

    ARENAS, Reinaldo: El central. Barcelona: Editorial Seix Barral, 1981.

    AYALA, Csar J.: American Sugar Kingdom: the Plantation Economy of the Spanish Caribbean, 1898-1934.

    Chapel Hill: University of North Carolina Press, 1999.

    AZCAR de caa (http://www.perafan.com/ea02azuc.html, consulta enero de 2008).

    BARCIA, Mara del Carmen: "La esclavitud moderna en la historiografa americana". Historia Social, nmero

    19 (Valencia: Fundacin de Historia Social, 1994), pginas 84-98.

    BARNET, Miguel: Cultos afrocubanos. La regla de Ocha. La regla de Palo Monte. La Habana: Ediciones

    56 Carolina Escobar Sarti: Poema y azcar (http://www.poemasde.net/y-azucar-carolina-escobar-sarti/, consulta janeiro 2008). 57 Jos Lezama Lima: "Introduccin". Em Fernando Lpez Junqu: Temporada en el ingenio. Ensayo foto-grfico. La Habana: Editorial de Ciencia Sociales, 1990, pginas 1-5. 58 Agustn de Acosta: La zafra. Poema

  • UNION, 1995.

    CABRERA, Lydia: El monte. La Habana: Editorial Pueblo y Educacin, 1993 (primera edicin, 1954).

    CANTERO, Justo G.: Los ingenios. Coleccin de vistas a los principales ingenios de azcar de la isla de Cuba.

    Aranjuez: Ediciones Doce Valles, Ministerio de Fomento (CEHOPU) y Consejo Superior de Investigaciones

    Cientficas, 2005 (edicin a cargo de Luis Miguel Garca Mora y Antonio Santamara Garca, primera edicin

    1855-1857).

    CENICAA (www.cenicana.org, consulta enero de 2008).

    CONVENIO de concertacin para una produccin limpia en el sector azucarero

    (www.apah.hn/testimonio.html, consulta enero de 2008).

    CORWIN, Arthur L.: Spain and the Abolition of Slavery in Cuba, 1817-1886. Austin: Texas University Press,

    1968.

    CRAHAN, Margaret C. y Franklyn W. KNIGHT (editores): Africa and the Caribbean: the Legacies of a Link. Balti-

    more: John Hopkins University Press, 1979.

    CURTIN, Philip D.: The Atlantic Slave Trade: a Census. Maddison: University of Illinois Press, 1969.

    DEERR, Noel: Memorndum. Condiciones de la industria azucarera en Cuba. La Habana: El Iris, 1915.

    Cane Sugar. A Textbook on the Agriculture of Sugar Cane, the Manufacture of the Cane Sugar, and

    the Analysis of the Sugar House Products. London: Norman Rodger, 1921.

    The History of Sugar (2 volmenes). London: Chapman & Hall, 1950.

    DESCARTES, Sol L.: Basic Statistic of Puerto Rico. Washington: Office of Puerto Rico, 1949.

    DIETZ, James: Historia econmica de Puerto Rico. San Juan: Ediciones Huracn, 1989.

    DRESCHER, Seymur: Econocide: British Slavery in the Era of Abolition. Pittsburgh: Pittsburgh University Press,

    1977.

    DYE, Alan D.: Cuban Sugar in the Age of Mass Production: Technology and the Economics of. Cuban Sugar

    Central, 1899-1929. New York: Stanford University Press, 1998.

    ELY. Roland T.: Cuando reinaba su majestad el azcar. Buenos Aires: Editorial Sudamericana, 1963.

    ESCOBAR SARTI, Carolina: Poema y azcar (http://www.poemasde.net/y-azucar-carolina-escobar-sarti/,

    consulta enero 2008).

    ETHNICITY in the Caribbean: Essays in Honour of Harry Hoetink. London: Macmillan Caribbean Press, 1996.

    FAO (http://www.fao.org/docrep/007/j3877s/j3877s12.htm, consulta enero de 2008)

    FONDO de Estabilizacin de Precios (www.contraloriagen.gov.co/cdagro/html/lista-der.htm, consulta enero

    de 2008).

    FONER, Laura y Eugene D. GENOVESE (editores): Slavery in the New World: a Reader in Comparative History.

    Englewood Cliffs: Prentice-Hall, 1969.

    FRUCHT, Richard (editor): Black Society in the New World. New York: Random House, 1971.

    FUNES MONZOTE, Reinaldo: Del bosque a sabana. Azcar, deforestacin y medio ambiente en Cuba, 1492-

    1926. Mxico: Siglo XXI Editores, 2004.

    GALLOWAY, Jock H.: The Sugar Cane Industry: an Historical Geography from its Origins to 1914. New York:

    Cambridge University Press, 1989.

    GAYER, Arthur D., Paul T. HOMAN y Earl K. JAMES: The Sugar Economy of Porto Rico. New York: Columbia

    University Press, 1938.

    GENERAL History of the Caribbean (6 volmenes). Basingtoke: McMillan Press y UNESCO, 1998-2000.

  • GRIGGS, Peter: Environmental Change in the Sugar Cane Producing Lands of Eastern Australia, 1865-

    1990. En 20th International Congress for the Historical Sciences. Sydney: International Committee for the

    Historical Sciences y University of New Walles of South, 2006 (CD-Rom).

    GUERRA, Ramiro: Azcar y poblacin de Las Antillas. La Habana: Editorial Cultural, 1927.

    GUICHARNAUD TOLLIS, Michelle (editora): Le sucre dans l'espace Carabe hispanophone aux XIXe et XXe sicles.

    Pars: L' Harmattan, 1999.

    HIGMAN, Barry W.: Slavery, Plantations and Landscape Change on the Caribbean Sugar Islands. En 20th

    International Congress for the Historical Sciences. Sydney: International Committee for the Historical

    Sciences y University of New Walles of South, 2006 (CD-Rom).

    HU-DEHART, Eveykn: "Opium and Social Control: Coolies in the Plantations of Peru and Cuba". Journal of

    Chinese Overseas, volumen 1, nmero 2 (Singapore: Singapore University Press, 2005), pginas 169-183.

    INCOTEC (www.icontec.org.co, consulta enero de 2008).

    KIPLE, Kennet A.: The Caribbean Slave: a Biological History. Cambridge: Cambridge University Press, 1984.

    KLAREN, Peter: The Sugar Industry in Peru. En Antonio Santamara Garca y Alejandro Garca lvarez

    (coordinadores): La industria azucarera en Amrica. Monogrfico de Revista de Indias, nmero 235

    (Madrid: Consejo Superior de Investigaciones Cientficas, 2005), pginas 33-48.

    KLEIN, Herbert S.: La esclavitud africana en Amrica Latina y el Caribe. Madrid: Alianza Editorial, 1986.

    KNIGHT, Franklyn W. (editor): The Slave Societies of the Caribbean. Basingtoke: McMillan Press y UNESCO,

    1999 (volumen 3 de la General History of the Caribbean, 6 volmenes).

    LANDELL MILLS: The Competitive Positions of Leading Sugar Industries. Bogot: Landell Mills y ASOCAA,

    1997.

    LAVALL, Bernard, Consuelo NARANJO OROVIO y Antonio SANTAMARA GARCA: La Amrica espaola, 1863-1898.

    Economa. Madrid: Editorial Sntesis, 2002.

    LEZAMA LIMA, Jos: "Introduccin". En Fernando Lpez Junqu: Temporada en el ingenio. Ensayo fotogrfico.

    La Habana: Editorial de Ciencia Sociales, 1990, pginas 1-5.

    LICHT'S, F. O.: World Ethanol Markets

    (www.energyfuturecoalition.org/pubs/Biofuels%20Seminar%20FOLichts.pdf, consulta enero de 2008).

    LINSKY, Myer (compilador): Sugar Economics. Statistics and Documents. New York: United States Cane

    Sugar RefinersAssociation, 1938.

    LIPPMANN, Edmund O. von: Geschichte des zuckers seiner darstellung und verwendung, seit den ltesten

    zeiten bis zum beginne der rbenzuckerfabrikation: ein beitrag zur kulturgeschichte. Leipzig: M. Hesse,

    1890.

    LPEZ JUNQU, Fernando: Temporada en el ingenio. Ensayo fotogrfico. La Habana: Editorial de Ciencia

    Sociales, 1990.

    MAXWELL, Francis: Economic Aspects of Cane Cultivation. London: Norman Rodger, 1927.

    MCAVOY, Muriel: Sugar Barons: Manuel Rionda and the Fortunes of Pre-Castro Cuba. Gainesville: University

    Press of Florida, 2003.

    MINTZ, Sydney W.: The Culture History of a Puerto Rican Sugar Cane Plantation, 1876-1949. Hispanic

    American Historical Review, nmero 33/2 (Durham: Duke University Press, 1953), pginas 225-251.

    Caamelar: the Sub-culture of a Rural Sugar Plantation Proletariat. En James H. Seward et al.: The

    People of Porto Rico. A Study on Social Anthropology. Madison: University of Illinois Press, 1956, pginas

  • 314-417.

    Sweetness and Power: the Place of Sugar in Modern History. New York: Penguin Books, 1985.

    (editor): Caribbean Transformation. Chicago: Aldine Press, 1974.

    (editor): Slavery, Colonialism and Racism. New York: W. W. Norton, 1974.

    MORALES, Juan A.: Dulzura carorea. Historia del central La Pastora. Caracas: C. A. Central La Pastora, 2006.

    MORENO FRAGINALS, Manuel: El ingenio. Complejo econmico social cubano del azcar (3 volmenes). La

    Habana: Editorial de Ciencias Sociales, 1978 (primera edicin 1968).

    , Frank MOYA PONS y Stanley L. ENGERMAN (editores): Between Slavery and Free Labor: the Spanish-

    Speakings Caribbean in the Nineteenth Century. Baltimore: John Hopinks University Press, 1985.

    MUNTING, Roger y Tamas SZMRECSNYI (editores): Competing for the Sugar Bowl. Sugar and Alternative

    Sweeteners in History. St. Katharinen: Scripta Mercatorum Verlag, 2000.

    NARANJO OROVIO, Consuelo: Anlisis histrico de la emigracin espaola a Cuba en el siglo XX". Revista de

    Indias, nmero 174 (Madrid: Consejo Superior de Investigaciones Cientficas, 1984), pginas 505-527.

    y Antonio SANTAMARA GARCA: Las ltimas colonias. En Bernard Lavall, Consuelo Naranjo Orovio y

    Antonio Santamara Garca: La Amrica espaola, 1863-1898. Economa. Madrid: Editorial Sntesis, 2002.

    NOCEDO, Iris: El precio del azcar en el mercado mundial y su impacto sobre los exportadores

    (http://www. fao.org/DOCREP/005/X4988E/x4988e10.htm, consulta enero de 2008).

    NUNES NUNES, Neida: Palabras doces. Funchal (Madeira): Centro de Estudios de Histria do Atlntico, 2003.

    ORTIZ CUADRA, Cruz Miguel: Puerto Rico en la olla. Somos an lo que comimos? Madrid: Ediciones Doce

    Calles, 2006.

    ORTIZ, Fernando: Hampa afrocubana: Los negros esclavos: estudio sociolgico y de derecho pblico. La

    Habana: Revista Bimestre Cubana, 1916.

    Los cabildos afrocubanos. La Habana: Imprenta y Papelera La Universal, 1921.

    Contrapunteo cubano del tabaco y el azcar. La Habana: Editorial del Ciencias Sociales, 1973 (la

    primera versin de esa obra se public en 1937).

    OSAVAH, Mario: Comercio-Brasil: la cachaa desafa al tequila y al ron

    (http://www.ipsenespanol.net/crisis/2503_2.shtml, consulta enero de 2008).

    PASCATELLO, Ann M. (editor): The African in Latin America. New York: A. A. Knopf, 1975.

    PREZ LPEZ, Jorge: The Economics of Cuban Sugar. Chicago: University of Pittsburgh Press, 1991.

    PERFIL de mercado y competitividad exportadora de etanol

    (http://www.mincetur.gob.pe/comercio/otros/penx/pdfs/Etanol.pdf, consulta enero de 2008).

    PIERRE, Guy: Las nuevas tendencias de la produccin de azcar en Guyana y Jamaica a la luz de los

    tratados Lome-Cotounou y de la globalizacin. En Antonio Santamara Garca y Alejandro Garca lvarez

    (coordinadores): La industria azucarera en Amrica. Monogrfico de Revista de Indias, nmero 235

    (Madrid: Consejo Superior de Investigaciones Cientficas, 2005), pginas 49-70.

    PIFFER, Alice: A influncia do Brasil na tcnica do fabrico de acar nas Antilhas francesas e inglesas no

    meado do sculo XVIII". Anurio da Faculdade de Cincias Econmicas e Administrativas, 1 (So Paulo:

    Universidade de So Paulo, 1948), pginas 63-76.

    A indstria do acar nas ilhas inglesas e francesas do mar das Antilhas, 1697-1755. So Paulo:

    Universidade de So Paulo, 1981 (tese de doutorado apresentada em 1944).

    PIQUERAS, Jos Anronio (editor): Azcar y esclavitud en el Caribe en el final del trabajo forzado. Madrid:

  • Fondo de Cultura Econmica, 2002.

    PRINSEN GEERLIG, H. O.: The World's Cane Sugar Industry: Past and Present. Manchester: Norman Rodger,

    1912.

    Cane Sugar Production, 1912-1937: a Supplement to The World's Cane Sugar Industry, Past and

    Present, 1912. London: Norman Rodger, 1938.

    LA PRODUCCIN mundial de azcar superar los 160 millones de toneladas en la temporada 2006/2007

    (http://www.agroinformacion.com/leer-noticia.aspx?not=37201, consulta enero de 2008).

    RAMOS MATTEI, Andrs A.: La hacienda azucarera: su surgimiento y crisis en Puerto Rico (siglo XIX). San

    Juan: Centro de Estudios de la Realidad Puertorriquea, 1981.

    La sociedad del azcar en Puerto Rico. San Juan: Universidad de Puerto Rico, 1988.

    RAMOS, scar Gerardo Caa de azcar en Colombia. Em Antonio Santamara Garca y Alejandro Garca

    lvarez (coordinadores): La industria azucarera en Amrica. Monogrfico de Revista de Indias, nmero 235

    (Madrid: Consejo Superior de Investigaciones Cientficas, 2005), pginas 45-78.

    RAMOS, Pedro y Araken ALVES DE LIMA: La influencia de la agroindustria de la caa en Brasil y la persistencia

    de las desigualdades sociales en las tcnicas de produccin extensivas y depredatorias. En Tamas

    Szmerecsanyi (coordinador): Sucre. Passat i present. Dossier de Illes i Imperis, nmero 9 (Barcelona:

    Universitat Pompeu Fabra, 2006), pginas 17-58.

    RAVSBERG, Fernando: Cuba se distancia del etanol. BBC Mundo.com (jueves de 29 de marzo de 2007,

    http://news.bbc.co.uk/hi/spanish/latin_america/newsid_6507000/6507479.stm, consulta janeiro 2008).

    REGO, Jos Lins do: Mehino de engenho. So Paulo: Livraria Jos Olympio Editora, R. J., 1971 (primera

    edicin 1932).

    RUBALCAVA, Manuel de Justo: Silva cubana. En Poesas de Manuel Justo de Rubalcava. Santiago de Cuba:

    Luis Alejandro Baralt, 1848.

    RUBIN, Vera y Arthur TUDEN (editores): Comparative Perspectives on Slavery in New World Societies.

    Monogrfico de Annals of the New York Academy of Sciences, nmero 229 (New York: New York Academy

    of Sciences, 1977).

    RUIZ DE VELASCO, Felipe: Historia y evolucin del cultivo de la caa y la industria azucarera en Mxico, hasta

    el ao de 1910. Mxico D. F.: Publicaciones de Azcar, 1937.

    SACO, Jos Antonio: Historia de la esclavitud desde los tiempos ms remotos hasta nuestros das (3

    volmenes). Pars: [s. n.], 1875-1877.

    La esclavitud en Cuba y la revolucin espaola. La Habana: Miguel de Villa, 1881.

    SNCHEZ ROMN, Jos Antonio: "Ferrocarril e industria azucarera en Tucumn (1876-1914)". En Alberto Vieira

    (editor): Histria e tecnologia do aucar. Funchal (Madeira): Centro de Estudios de Histria do Atlntico,

    2000.

    El Banco de Londres y el ro de la Plata y el negocio azucarero en Tucumn, Argentina (1900-1914).

    Revista de Historia Econmica, ao XIX, nmero 2 (Madrid: Marcial Pons, 2001), pginas 415-447.

    SANTAMARA GARCA, Antonio: El ferrocarril en las Antillas Espaolas Cuba, Puerto Rico y la Repblica Domi-

    nicana, 1830-1995. En Jess Sanz Fernndez (coordinador) et al.: Historia de los ferrocarriles de

    Iberoamrica (1837-1995). Madrid, Ministerio de Fomento (CEDEX Y CEHOPU), 1998, pginas 289-334.

    Sin azcar no hay pas. La industria azucarera y la economa cubana, 1919-1939. Sevilla: Universidad

    de Sevilla, Escuela de Estudios Hispano-Americanos, Consejo Superior de Investigaciones Cientficas

  • (CSIC), y Diputacin de Sevilla, 2002.

    Temas y controversias del debate histrico internacional reciente en torno a la industria azucarera.

    Amrica Latina en la Historia Econmica. Boletn de Fuentes, nmero 25 (Mxico D. F.: Instituto Mora,

    2006), pginas 5-42.

    y Alejandro GARCA LVAREZ: Azcar en Amrica. En Antonio Santamara Garca y Alejandro Garca

    lvarez (coordinadores): La industria azucarera en Amrica. Monogrfico de Revista de Indias, nmero 235

    (Madrid: Consejo Superior de Investigaciones Cientficas, 2005), pginas 9-32.

    y Alejandro GARCA LVAREZ: La industria azucarera en Puerto Rico. Un Balance. En Alberto Vieira

    (editor): O aucar e o quotidiano. Funchal (Madeira): Centro de Estudios de Histria do Atlntico, 2005,

    pginas 529-574.

    y Alejandro GARCA LVAREZ (coordinadores): La industria azucarera en Amrica. Monogrfico de

    Revista de Indias, nmero 235 (Madrid: Consejo Superior de Investigaciones Cientficas, 2005, y

    http://revistadeindias.revistas.csic.es/index.php/revistadeindias/issue/view/41, consulta enero de 2008).

    SANZ FERNNDEZ, Jess (coordinador) et al.: Historia de los ferrocarriles de Iberoamrica (1837-1995).

    Madrid, Ministerio de Fomento (CEDEX Y CEHOPU), 1998.

    SCELLE, Georges: La traite ngrire aux Indes de Castille: contrats et traits d'assiento (2 volmenes). Paris:

    Librairie de la Socit du Recueil J. - B. Sirey & du Journal du Palais, 1906.

    SCHWARTZ, Stuart B.: A Commonwealth Within Itself . The Early Brazilian Sugar Industry, 1550-1670". En

    Antonio Santamara Garca y Alejandro Garca lvarez (coordinadores): La industria azucarera en Amrica.

    Monogrfico de Revista de Indias, nmero 235 (Madrid: Consejo Superior de Investigaciones Cientficas,

    2005), pginas 79-116

    (editor): Tropical Babylons: Sugar and the Making of the Atlantic World, 1450-1680. Chapel Hill:

    University of North Carolina Press, 2004.

    SEWARD, James H. et al.: The People of Porto Rico. A Study on Social Anthropology. Madison: University of

    Illinois Press, 1956.

    SIGALA VENEGAS, Luis H. y Luis E. SIGALA PAPARELLA: La rentabilidad del negocio azucarero en Venezuela. El

    caso de los precios y los productores del Ro Turbio. En Antonio Santamara Garca y Alejandro Garca

    lvarez (coordinadores): La industria azucarera en Amrica. Monogrfico de Revista de Indias, nmero 235

    (Madrid: Consejo Superior de Investigaciones Cientficas, 2005), pginas 171-182.

    SOLANO, Francisco de y Agustn GUIMER (coordinadores): Esclavitud y derechos humanos. Madrid: Consejo

    Superior de Investigaciones Cientficas, 1990.

    SOLOW, Barbara y Stanley L. ENGERMAN (editores): British Capitalism and Caribbean Slavery. Cambridge:

    Cambridge University Press, 1987.

    SZMERECSANYI, Tamas: The Impact of Sugar Cane Expansion on Five Continents. En 20th International Con-

    gress for the Historical Sciences. Sydney: International Committee for the Historical Sciences y University of

    New Walles of South, 2006 (CD-Rom).

    (coordinador): Sucre. Passat i present. Dossier de Illes i Imperis, nmero 9 (Barcelona: Universitat

    Pompeu Fabra, 2006).

    TEMPERLEY, Howard (editor): After Slavery Emancipation and Its Discounts. London: F. Cass, 2000.

    TOPLIN, Robert B. (editor): Slavery and Race Relations in Latin America. Westport: Greenwood Press, 1974.

    VIEIRA, Alberto (editor): Escravos com e sem aucar. Funchal (Madeira): Centro de Estudios de Histria do

  • Atlntico, 1996.

    (editor): Histria e tecnologia do aucar. Funchal (Madeira): Centro de Estudios de Histria do

    Atlntico, 2000.

    (editor): Histria do aucar. Rotas e mercados. Funchal (Madeira): Centro de Estudios de Histria do

    Atlntico, 2002.

    (editor): O aucar e o quotidiano. Funchal (Madeira): Centro de Estudios de Histria do Atlntico,

    2005.

    VILA VILAR, Enriqueta (compiladora): Afroamrica. Textos histricos. Madrid: Fundacin Mapfre Tavera, 2000

    (Cd-Rom).

    VOGT, Paul L.: The Sugar Refining Industry in the States. Philadelphia: Pennsylvania University Press, 1908.

    WILLET & GRAYS CO.: Production of the World (Cane and Beet) by Countries for Seven Corps 1913-1914 to

    1919-1920. New York: Willet & Grays Co., 1920.

    Comparison of the Portions of the Cuban Sugar Production Controlled by American Companies for the

    Corp of 1918-1919 to 1923-1924. New York: Willet & Grays Co., 1924.

    WILLET & Grays Statistical Journal. New York: Willet & Grays Co. (publicacin perodica).

    WILLIAMS, Eric: Capitalism and Slavery. Chapel Hill: North Carolina University Press, 1944.

    ZANETTI LECUONA, Oscar y Alejandro GARCA LVAREZ: Caminos para el azcar. La Habana: Editorial de Ciencia

    Sociales, 1987.