BANDEIRA Luiz Moniz Geopolitica e Politica Exterior Estados Unidos 2010

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    GEOPOLTICAEPOLTICAEXTERIOR

    ESTADOSUNIDOS, BRASILE

    AMRICADOSUL

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    MINISTRIODASRELAESEXTERIORES

    Ministro de Estado Embaixador Celso AmorimSecretrio-Geral Embaixador Antonio de Aguiar Patriota

    FUNDAOALEXANDREDEGUSMO

    Presidente Embaixador Jeronimo Moscardo

    AFundao Alexandre de Gusmo, instituda em 1971, uma fundao pblica vinculada aoMinistrio das Relaes Exteriores e tem a finalidade de levar sociedade civil informaessobre a realidade internacional e sobre aspectos da pauta diplomtica brasileira. Sua misso promover a sensibilizao da opinio pblica nacional para os temas de relaes internacionaise para a poltica externa brasileira.

    Ministrio das Relaes ExterioresEsplanada dos Ministrios, Bloco HAnexo II, Trreo, Sala 170170-900 Braslia, DFTelefones: (61) 3411-6033/6034Fax: (61) 3411-9125Site: www.funag.gov.br

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    Braslia, 2010

    LUIZALBERTOMONIZBANDEIRA

    Geopoltica e Poltica ExteriorEstados Unidos, BrasileAmrica do Sul

    2 edio

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    Copyright , Fundao Alexandre de Gusmo

    Fundao Alexandre de Gusmo

    Ministrio das Relaes ExterioresEsplanada dos Ministrios, Bloco HAnexo II, Trreo70170-900 Braslia DFTelefones: (61) 3411 6033/6034Fax: (61) 3411 9125Site: www.funag.gov.brE-mail: [email protected]

    Depsito Legal na Fundao Biblioteca Nacional conformeLei n 10.994, de 14/12/2004.

    Capa:

    Wega Nery, Composio n 4,1953, OST, 60x73cm

    Equipe Tcnica:Maria Marta Cezar LopesCntia Rejane Sousa Arajo GonalvesErika Silva NascimentoJuliana Corra de FreitasFbio Fonseca Rodrigues

    Programao Visual e Diagramao:Juliana Orem e Maria Loureiro

    Impresso no Brasil 2010

    B166g Bandeira, Luiz Alberto Moniz.Geopoltica e poltica exterior Estados Unidos, Brasile Amrica Sul / Luiz Alberto Moniz Bandeira. 2. ed. Brasl ia : FUNAG, 2010.124p. : il.

    ISBN: 978-85-7631-239-0

    1. Geopoltica. 2. Poltica exterior - Brasil. 3. Polticaexterior - Estados Unidos. 4. Poltica exterior -

    Amrica do Sul. I. Ttulo.

    CDU: 911.3:32(73:8)327(73:8)

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    Prefcio

    Darc Costa

    Duas so as dialticas que comandam os estudos estratgicos: a dialtica,meios e fins, e a dialtica, espao e tempo. Neste conjunto de quatro artigosdo professor Luiz Alberto Moniz Bandeira que compem este livro, a queme foi dado honra de prefaciar, a dualidade mais presente a do espao,

    que interessa a geopoltica, e a do tempo, que diz respeito histria.Implicitamente encontra-se, nos textos, a dialtica dos meios e dos fins dojogo de poder que est se desenrolando no Hemisfrio Ocidental.

    No primeiro destes artigos Dimenso Estratgica e Poltica Externa dosEstados Unidos so apresentadas, com a riqueza de detalhes que caracterizao autor, as aes recentes da poltica externa dos Estados Unidos da Amrica,suas razes impregnadas da necessidade de energia, em especial do petrleo.Este artigo expe claramente a progressiva deteriorao da capacidade deste

    pas, em anos prximos, de conseguir impor seus desgnios, apesar daprogressiva militarizao de sua ao diplomtica.

    Tambm de forma minuciosa, o autor, no artigo que se segue: A ImportnciaGeopoltica da Amrica do Sul na Estratgia dos Estados Unidos, discorresobre a influncia no pensamento geopoltico estadunidense do domnio sobreas Amricas, em especial sobre a Amrica do Sul. Demonstra tambm a

    presena militar crescente dos Estados Unidos no subcontinente, na qual a IVFrota s um grande complemento. O professor Moniz utilizou este texto emconferncia que proferiu, sobre o mesmo tema, na Escola Superior de Guerra.

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    PREFCIO

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    No terceiro artigo: O Brasil como Potncia Regional e a ImportnciaEstratgica da Amrica do Sul, o autor ressalta o potencial do Brasil, o

    porqu da relevncia que adquiriu na poltica exterior de nosso pas a Amricado Sul e o embate que a nossa diplomacia vem travando no sentido de buscaraumentar sua influncia no subcontinente, ao mesmo tempo em que buscacriar contingncias a presena hegemnica na regio.

    Finalmente, no ltimo artigo: A Integrao da Amrica do Sul comoEspao Geopoltico, o autor demonstra o esforo que est sendo feitoeconmica e diplomaticamente no sentido de dar consistncia a algo que ageografia exige e que a histria tem de forjar: a constituio de uma nicagrande ptria abaixo do Equador, um Megaestado, capaz de se impor ao

    centro e de materializar na Amrica o que no foi possvel na Europa, umnico povo, fruto da Ibria.Este conjunto de artigos imperdvel para todos os que se preocupam

    com o destino do Brasil e continua toda a obra magnfica do professor MonizBandeira, ao apresentar de forma objetiva todos os desafios queenfrentaremos.

    Rio de Janeiro, agosto de 2009.

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    Dimenso estratgica e poltica externa dos

    Estados Unidos*

    America is too democratic at home to be autocraticabroad. This limits the use of Americas power, especially its

    capacity for military intimidation.Zbigniew Brzezinski1

    No matter how selfless America perceives its aims, an

    explicit insistence on predominance would gradually unitethe world against the United States and force into

    impositions that would eventually leave it isolated anddrained.

    Henry Kissinger2

    A Eursia a massa de terra que se estende da Europa sia, separada pelacordilheira dos Montes Urais, tendo a Rssia e a Turquia parte de seus territriosnos dois continentes. Seuheartland, situado, fundamentalmente, entre a sia Central

    e o Mar Caspio, abrange o Cazaquisto, Armnia, Azerbaijo, Quirguisto,Tadjiquisto, Turcomenisto, Usbequisto, Sibria Ocidental e parte setentrionaldo Paquisto, e circundado pelo Afeganisto, Rssia, China, ndia e Ir.3SirHalford John Mackinder, no incio do sculo XX, em conferncia, na LondonsRoyal Geographical Society, sob o ttulo The Geographical Pivot of History4,

    *Texto escrito para a III Conferencia Nacional de Poltica Externa e Poltica Internacional - III,promovida pelo Instituto de Pesquisa de Relaes Internacionais (IPRI) e Fundao Alexandrede Gusmo, do Ministrio de Relaes Exteriores, realizada no Rio de Janeiro, em 29 desetembro de 2008. Este texto foi atualizado com outros dados em agosto de 2009.1BRZEZINSKI, Zbigniew. The Grand Chessboard. American Primacy ant its GeostrategicImperatives. Nova York: Basic Books, 1997, p. 35.2KISSINGER, Henry. Does America Need a Foreign Policy? Toward a Diplomacy for the21st Century. Nova York: Simon & Schuster, 2001, p. 468.3The heartland for the purpose of strategic thinking, includes the Baltic Sea, Asia Minor,Armenia, Persia, Tibet, and Mongolia. Within it, therefore, were Brandenburg-Prussia andAustria-Hungary, as well as Russia a vast triple base of man-power, which was lacking ro thehorse-riders of history. MACKINDER, Sir Halford John. Democratic Ideals and Reality.Westport Connecticut: Greenwood Press, Publisher, 1981, p. 110.4 MACKINDER, Sir Halford John. The Geographical Pivot of History, GeographicalJournal, Royal Geographical Society London, April 1904, vol. XXIII pp. 421-444.

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    sustentou que este closed heartland of Euro-Asia era o pivot do equilbrioglobal e o Estado que o controlasse teria condies de projetar o poder de um lado

    para o outro lado da regio.Ali o poder terrestre teria maior vantagem, devido aofato de que seus rios fluam para mares mediterrneos, o que a tornava inaccessvela uma fora naval, atravs do Oceano rtico, e poderia no apenas explorar osrecursos naturais l existentes como usar os meios terrestres comunicao, maisrpidos que os martimos. O Estado que dominasseheartland, the greatest natural

    fortress on earth, teria, portanto, a possibilidade de comandar toda a Eursia,chamada por Mackinder de World Island 5.

    sia Central - Heartland

    Durante o governo presidente James Earl Carter (1977-1981), ZbigniewBrzezinski, seu assessor de Segurana Nacional, tratou de orientar a poltica

    5 The over setting oft he balance of power in favor of the pivot states, resulting in istexpansion on the marginal lands of Euro-Asia, would permit the use of vast continental resourcesfor fleet-building, and the empire of the world would the be in sight. Id., ibid., p. 436.

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    externa, dentro dos mesmos parmetros de Mackinder. Ele considerava que,naquele contexto da Guerra Fria, a forma como os Estados manejavam a

    Eursia era crtica e enfatizou a doutrina segundo a qual o Estado quedominasse este vasto continente, que constitua um eixo geopoltico, controlariaduas das trs mais regies econmicas mais produtivas e avanadas do mundo,subordinaria frica e tornaria o hemisfrio ocidental e a Oceaniageopoliticamente perifricos. Ali, na Eursia, viviam 75% da populao mundiale estavam depositadas 3/4 das fontes de energia conhecidas em todo omundo.6Com esta percepo, Brzezinski induziu o presidente Carter a abrirum terceirofront, na Guerra Fria, instigando contra Moscou os povosislmicos da sia Central, no heartlandde Eursia e integrantes da Unio

    Sovitica, com o objetivo de formar umgreen belt7

    e conter o avano doscomunistas na direo das guas quentes do Golfo Prsico e dos campos depetrleo do Oriente Mdio.8

    Brzezinski, em seu livro Game Plan How to Conduct the U.S. Soviet Contest, reconheceu que a contenda entre os Estados Unidos e aUnio Sovitica no era entre duas naes. Era between two empires, i.e., entre duas naes que haviam adquirido imperial attributes even beforetheir post-World War II colision.9A Unio Sovitica esbarrondou-se, entre1989 e 1991, quando perdeu o domnio no apenas sobre os Estados doLeste-Europeu como, tambm, sobre outras repblicas que a integravam,inclusive as do Bltico e da sia Central, abrindo um vacuumpoltico, queos Estados Unidos aproveitaram para ocupar. E uma conseqnciageopoltica, produzida pelo fim da Guerra Fria, foi acirrar a disputa em tornodas imensas fontes de energia gs e petrleo existentes naquela parte doheartlandeuro-asitico. Com independncia das cinco repblicas soviticada sia Central e a fraqueza dos novos Estados emergentes dos escombrosda Unio Sovitica, os Estados Unidos aproveitaram o vacuume avanaramsobre a regio. Expandiram a OTAN s fronteiras da Rssia, incorporando

    6BRZEZINSKI, Zbigniew K. The Grand Chessboard: American Primacy and ItsGeostrategic Imperatives. Nova York: Basic Books, 1997, p. 31.7A cor verde simbolo da bandeira do Isl.8 BRZEZINSKI, Zbigniew. Power and Principle - Memoirs oft he National SecurityAdviser (1977-1981). Nova York: Farrar-Straus-Girox,1983, p. 226. Mais detalhes vide MONIZBANDEIRA, Luiz Alberto. Formao do Imprio Americano (Da guerra contra aEspanha guerra no Iraque). Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2 edio, 1986, pp. 377-402.9BRZEZINSKI, Zbigniew K. Game Plan How to Conduct U.S-Soviet Contest. NovaYork: The Atlantic Monthly Press, 1986, p. 16.

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    alguns Estados que antes pertenceram ao Bloco Socialista, impuseram suapreeminncia nos Blcs, com o desmembramento da antiga Iugoslvia, e

    empreenderam guerras para a ocupao do Afeganisto e Iraque. A Rssiano podia tolerar que a OTAN, uma aliana militar, se transformasse em umaespcie de ONU, rbitro poltico com autoridade para intervir contra qualquerregime, como fez com respeito Srvia, na questo do Kosovo, e continuassea incorporar as repblicas orientais, como a Georgia e a Ucrnia, que antesintegraram a extinta Unio Sovitica.10

    No governo do presidente George H. W. Bush (19891993), perodoem que ocorreu o desmoronamento da Unio Sovitica e de todo o BlocoSocialista, o general Colin Powell, como chefe do Estado-Maior Conjunto

    das Foras Armadas, recomendou que governo preservasse a crediblecapability to forestall any potential adversary from competing militarilycom os Estados Unidos11, impedisse a Unio Europeia de tornar-se uma

    potncia militar, fora da OTAN, a remilitarizao do Japo e da Rssia, edesencorajasse qualquer desafio sua preponderncia ou tentativa de revertera ordem econmica e poltica internacionalmente estabelecida. E assinalou

    para as Foras Armadas dos pases latino-americanos as suas novas misses,que consistiam em

    to maintain only such military capabilities as are necessary forself-defense and alliance commitments counter-narcotrafic efforts,disaster relief, international peacekeeping forces and consistentwith their laws and constitutions and other missions, with the

    principles of the Organization of American States and United NationsCharters.12

    Na mesma poca, 1992, Dick Cheney, como secretrio de Defesado governo de George H. W. Bush, divulgou um documento, no qual

    10George Friedman. Georgia and Kosovo: A Single Intertwined Crisis. Stratfor, August25, 2008.11POWELL, Colin L. - The Military Strategy of the United States 1991-1992, US Government,Printing Office, ISBN 0-16-036125-7, 1992, p 7. Draft Resolution - 12 Cooperation forSecurity in the Hemisphere, Regional Contribution to Global Security - The General Assembly,recalling: Resolutions AG/RES. 1121 (XXX- 091 and AG/RES. 1123 (XXI-091) for strengtheningof peace and security in the hemisphere, and AG/RES. 1062 (XX090) against clandestine armstraffic.12Id. Ibid., p. 7.

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    confirmou que a primeira misso poltica e militar dos Estados Unidosps-Guerra Fria consistia em impedir o surgimento de algum poder rival

    na Europa, na sia e na extinta Unio Sovitica.Mas, desde a administrao do presidente Ronald Reagan (1981-

    1989), o Pentgono, estava a gestar novas ameaas, como justificativapara os vultosos recursos oramentrios com os quais financiava ocomplexo industrial-militar e toda a sua cadeia produtiva, bem como acadeia de bases militares e tropas nas mais diversas regies do mundo.Operigo verde, identificado com o fundamentalismo islmico, comeoua substituir o perigo vermelho, representado pela Unio Sovitica, eo terrorismo internacional passou a ocupar relevante espao na agenda

    internacional dos Estados Unidos. Em 1984, porm, Reagan tomoucomo principal alvo, no mais as organizaes responsveis pelosatentados, mas alguns Estados, no Terceiro Mundo, os quais classificoucomo rogue states (estados irresponsveis, indisciplinados) e acusoude patrocinar o terrorismo (state-sponsored terrorism). E aps oesbarrondamento da Unio Sovitica e de todo o Bloco Socialista, oterrorismo e o narcotrfico configuraram os novos inimigos a combater13,

    porquanto no mais havia outro Estado ou bloco de Estados comcapacidade de desafiar e por em risco sistema econmico, social e

    poltico dos Estados Unidos, cuja fora militar se tornara, desde o fimda Segunda Guerra Mundial, a nica no mundo a ter como principalmisso, no a defensiva, mas a ofensiva, no a de guardar as fronteirasnacionais, mas a de projetar seu poder sobre todos os continentes, nosquais instalou comandos militares, que caracterizam o domnio imperial.14

    13 GUIMARES, Samuel Pinheiro Esperanas e Ameaas: notas preliminares. 23.10.1995.Original. Rio de Janeiro.14Os comandos militares, institudos pelos Estados Unidos, com jurisdio sobre continentese determinadas reas so Comandos com responsabilidade geogrfica:

    Northern Command (USNORTHCOM) Pacific Command (USPACOM) Central Command (USCENTCOM) European Command (USEUCOM) Southern Command (USSOUTHCOM)Comandos com responsabilidade funcional: Special Operations Command (USSOCOM) Transportation Command (USTRANSCOM) Strategic Command (USSTRATCOM) Joint Forces Command (USJFCOM)

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    Fonte : http://www.defenselink.mil/specials/unifiedcommand/

    Embora buscasse maior comprometimento multilateral, o presidenteWilliam Bill Clinton (1993-2001), do Partido Democrata, mantevesubstancialmente a agenda poltica externa dos seus antecessores do PartidoRepublicano, Ronald Reagan e George H. H. Bush. O counter-terrorismfoi aa top priority for the Clinton Administration, conforme a CasaBranca anunciou em 1995.15E Madaleine Albright, secretria de Estado nasua administrao, enfatizou que o terrorismo constitua a mais importanteameaa que os Estados Unidos e o mundo enfrentariam no incio do sculoXXI e altos funcionrios norte-americanos reconheceram que os terroristas,mais do que nunca, estavam em condies de obter e usar armas nucleares,qumicas e biolgicas.

    O que predominou em Washington, nos anos 1990, foi a doutrina,

    segundo a qual os Estados Unidos deveriam exercer seu unrivaled power,como um imprio, a fim de trazer estabilidade internacional, resolver os

    problemas do terrorismo, das rogue nations, das armas de destruio em

    15The White House - Office of the Press Secretary - Fact Sheet - Counter-Terrorism - TheWhite Houses Position on Terrorism - State Fair Arena, Oklahoma City, Oklahoma April 23,1995.

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    massa etc... As propostas para tornar os Estados Unidos um imprio noeram intelectualmente srias, na opinio do jornalista William Pfaff, do

    International Herald Tribune, mas eram significativas, porque a classepoltica e a burocracia estavam apaixonadas pelo poder internacional e theywant more16. A enorme cadeia de bases militares, que os Estados Unidosmantm em todos os continentes, exceto Antrtica, configura, de fato, umaforma de imprio.17De acordo, com as estatsticas do Departamento deDefesa, havia cerca de 725 bases militares dos Estados Unidos, em 38 pases,

    por volta de 2003, e em torno de 100.000 soldados em toda a Europa18. Sna Alemanha, mesmo terminada a Guerra Fria e a retirada das tropas pelaextinta Unio Sovitica, os Estados Unidos possuam cerca de 20 bases

    militares e quartis (facilities), devido vantagem de estarem mais prximasdo Oriente Mdio e da sia Central, em um pas com uma democracia estvele condies de vida, que propiciavam melhor conforto e comodidade ssuas tropas, cujo total era de aproximadamente 75.000 soldados, em 2004,somente na Alemanha.

    Os Estados Unidos, por meio do poder militar, com o suporte da mdia,como as redes de televiso CNN e Fox, passaram a dominar o mundo econformaram um imprio informal, a partir da derrota da Alemanha e doJapo, em 1945. Segundo o jornalista William Pfaff ressaltou, Washingtonignores whenever convenient19os princpios da soberania nacional e daigualdade das naes, que desde o sculo XVII, quando foi celebrado, em30 de janeiro de 1648, o Tratado de Westphalia, em Mnster (Alemanha),

    pondo fim Guerra dos 30 Anos, constituram os fundamentos do DireitoInternacional. Foi com base em tais princpios que o grande jurista brasileiroRui Barbosa, como chefe da Delegao do Brasil, na Segunda Confernciade Paz, em Haia (1907), proclamou que la souverainit est la grandemuraille de la patriee defendeu a lgalit des Etats souverains , contraa posio dos Estados Unidos e outras grandes potncias, que pretendiam

    16 PFAFF, William Empire isnt the American way Addiction in Washington,International Herald Tribune 09.04.2002.17JOHNSON, Chalmers. The Sorrows of Empire. Militarism. Secrecy, and the End of theRepublic. Nova York: Metropolitan Books Henry Holt and Company, 2004, pp. 151-161.18 Id. Ibid. p. 154. Department of Defense http://www.defenselink.mil/news/Jun2003/basestructure2003.pdfhttp://www.globalpolicy.org/empire/tables/2005/1231militarypersonnel.pdf19PFAFF, William Empire isnt the American way Addiction in Washington,International Herald Tribune 09.04.2002.

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    criar um Supremo Tribunal Arbitral, discriminando os demais pases na suacomposio.20

    Militarizao da poltica externa

    Com a ascenso de George W. Bush presidncia, os neo-conservadores, conhecidos como neocons, a hard right do PartidoConservador, trataram de orientar a poltica internacional dos EstadosUnidos, conforme oProject for the New American Century(PNAC),que consistia em aumentar os gastos com defesa, fortalecer os vnculosdemocrticos e desafiar os regimes hostis aos interesses e valores

    americanos, promover a liberdade poltica em todo o mundo, e aceitarpara os Estados Unidos o papel exclusivo de preservar e estender umaordem internacional amigvel (friendly) nossa segurana, nossa

    prosperidade e nossos princpios. Contudo, a primeira prioridade dopresidente George W. Bush, quando inaugurou o governo no incio de 2001,no foi combater o terrorismo ou a proliferao de armas de destruio emmassa, porm aumentar o fluxo de petrleo do exterior, devido reduodos estoques de petrleo e de gs natural, nos Estados Unidos, evidenciada

    pelos blackoutsocorridos na Califrnia, enquanto as importaes depetrleo estavam a ultrapassar 50% do consumo interno. E os atentadosde 11 de setembro de 2001 contra as torres-gmeas do World Trade Center,em Nova York, permitiram que o governo de Washington, sob a consignada war on terrorism, intensificasse a militarizao da poltica externa eempreendesse a campanha para assegurar as fontes de energia gs e

    petrleo e as rotas de abastecimento, uma vital sphere de interessesdos Estados Unidos, da cordilheira de Hindu Kush, no Afeganisto enordeste do Paquisto, envolvendo o Ir e o Oriente Mdio, at oBosphorus.21Assim, a guerra contra o terrorismo constituiu mera figura deretrica, um eufemismo, para disfarar os reais objetivos do presidente

    George W. Bush, que consistiam em vencer a resistncia e/ou a insurgncia

    20BARBOSA, Rui Obras Completas. Vol. XXXIV, 1907 - Tomo II - A Segunda Confernciade Haia. Rio de Janeiro:Ministrio da Educao e Cultura, 1966, pp. 251-268. Vide tambmCARDIM, Carlos Henrique. A raiz das coisas. Rui Barbosa: O Brasil no mundo . Rio deJaneiro, pp. 115-149: Editora Civilizao Brasileira, 2007, pp. 124-135.21BRZEZINSKI, Zbigniew. Power and Principle- Memoirs oft he National Security Adviser(1977-1981). Nova York: Farrar-Straus-Girox,1983, pp. 443-446.

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    islmica, e controlar a sia Central e o Oriente Mdio, com suas enormesjazidas de gs e petrleo. A convergncia das necessidades da economia

    mundial capitalista e os interesses das grandes corporaes pautou a suapoltica internacional.

    A mudana na estratgia de segurana nacional dos Estados Unidos,substituindo a doutrina de containment and deterrence (conteno edissuaso) pela depreemptive attacks, i. e., de ataques preventivos, contragrupos terroristas ou pases percebidos como ameaa, foi oficializada emsetembro de 2002, com a emisso do documento The National SecurityStrategy of the United States of America.22Esta mudana era necessria,como fundamento para as intervenes militares, que o presidente George

    W. Bush e os neocons pretendiam promover, visando a assegurar asuperioridade militar, poltica e estratgica dos Estados Unidos, mediante ocontrole, sobretudo, das fontes de energia existentes na sia Central e noOriente Mdio. A perspectiva era, ento, a de que a sociedade americanaestaria a enfrentar a maior crise de suprimentos de energia, nas duas prximasdcadas. Previa-se que, nos prximos 20 anos, i. e., at 2020, o consumode petrleo pelos Estados Unidos aumentaria para cerca de 6 milhes de

    barris por dia, enquanto a sua produo declinaria cerca 1,5 milho de barrispor dia e atenderia a menos de 20% do consumo. Ao mesmo tempo, oconsumo de gs natural cresceria cerca de 50%, mas a produo aumentariaapenas 14%.23Diante de tais perspectivas, logo nos primeiros meses daadministrao de George W. Bush, em 19 de maro de 2001, o secretriode Energia, Spencer Abraham, admitiu em conferncia na National EnergySummit que a America faces a major energy supply crisis over the nexttwo decades, told The failure to meet this challenge will threaten ournations economic prosperity, compromise our national security, andliterally alter the way we lead our lives.24Em tais circunstncias, quandoa crise de energia na Califrnia, quela poca, comeou a fugir do controle,

    22The National Security Strategy of the United States of America - White House PresidentGeorge W. Bush - http://www.whitehouse.gov/nsc/nss.html23Overview Reliable, Affordable, and Environmentally Sound Energy for Americas Future -Sandia National Laboratories & U.S. Department of Energy, Energy Information. http://www.whitehouse.gov/energy/Overview.pdf24Simon Davis & Ben Fenton - New York is next for blackouts, warns Bush in Los Angeles29 Jun 2001 Telegraph.co.uk -http://www.telegraph.co.uk/news/worldnews/northamerica/usa/1327358/New-York-is-next-for-blackouts,-warns-Bush.html - Michael Klare. US:Procuring the worlds oil - Asia Times- Global Economy. Apr 27, 2004.

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    Dick Cheney, vice-presidente dos Estados Unidos e ex-chefe executivo daHaliburton, reuniu-se, secretamente, com diretores das maiores companhias

    de petrleo e gs, a fim de debater a questo energtica. E uma Task Force,nomeada pelo presidente George W. Bush e dirigida por Dick Cheney,formulou a National Energy Policy, como um problema de segurana nacional.

    Geopoltica do petrleo

    A segurana nacional dos Estados Unidos, portanto, implicava, necessariamente,o domnio das fontes de energia, no Oriente Mdio, onde estavam depositadascerca de 64,5% das reservas conhecidas de petrleo, bem como na sia Central.

    Qualquer outra potncia, que dominasse aquelas regies, teria poderosa arma paraameaar a sociedade americana, cuja segurana energtica se tornara bastantevulnervel, uma vez que mais de 50% do consumo de petrleo nos Estados Unidosdependia das importaes. Da o ataque ao Afeganisto, por onde deveria passarum oleoduto, ligando o Turcomenisto ao Paquisto, e a invaso e ocupao doIraque, onde estavam, aps as da Arbia Saudita, as maiores reservas provadasde petrleo, algumas com baixo custo de extrao. E, com o objetivo estratgicode estabelecer plataformas areas para eventuais guerras preventivas ou outrasmisses militares, os Estados Unidos expandiram seu aparato militar, mediante aconstruo de novo arco de bases e instalaes nas antigas repblicas soviticas Quirguisto, Tadjiquisto e Usbequisto noheartlandda Eursia, assim como noPaquisto, Qatar e Dijibouti.

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    Documentos datados de maro de 2001, que o Departamento de Comrciodos Estados Unidos teve de desclassificar, em meados de 2003, como resultado

    de processo movido pelas organizaes Sierra Club (ambientalista) e pela JudicialWatch, revelaram que a Task Force, dirigida pelo vice-presidente Dick Cheney,havia elaborado dois mapas dos campos de petrleo, oleodutos, refinarias eterminais, bem como dois mapas detalhando os projetos e as companhias que

    pretendiam execut-los.25Depois da invaso pelos Estados Unidos, em 2003,os gelogos das companhias multinacionais realizaram pesquisas e estimaramque nos territrios relativamente inexplorados, os desertos do oeste e sudeste do

    pas, podiam conter reservas adicionais de 45 a 100 bilhes de barris (bbls) depetrleo recupervel.26E, em 19 de junho de 2008, The New York Times

    publicou um artigo intitulado Deals With Iraq Are Set to Bring Oil GiantsBack, comprovando que a ocupao do Iraque visou realmente a capturar oscampos de petrleo. Com base em informaes de funcionrios do ministrioresponsvel pelo petrleo no Iraque e de um diplomata americano, mantido noanonimato, o jornalista Andrew Kramer, no artigo, escreveu que a Exxon

    Mobil, Shell, Total and BP ... along with Chevron and a number of smalleroil companies, are in talks with Iraqs Oil Ministry for no-bid contracts to

    service Iraqs largest fields. 27De acordo com o Oil and Gas Journal, asreservas de petrleo provadas existentes no Iraque eram de 115 bilhes barris,em 2001, mas possivelmente o volume seriam ainda muito maior.

    O controle dessas e outras reservas de petrleo tornou-se cada vezmais fundamental para os Estados Unidos, porquanto suas importaestotalizaram US$ 327 bilhes em 2007 e, de acordo com as estimativas,alcanariam US$ 400 bilhes, em 2008, o que representava um incrementode 300%, com relao a 2002. A conta do petrleo respondeu por 35%a 40% de todo o dficit comercial dos Estados, em 2006, um percentualmuito maior do que em 2002, que foi de apenas 25%.28Em 2007, o total

    25H. Josef Hebert Group: Cheney Task Force Eyed on Iraq Oil. Associated PressJuly 18,2003.26Energy iInformation Administration Official Energy Statistics from the U.S. Government.

    Iraq - http://www.eia.doe.gov/emeu/cabs/Iraq/Oil.html27Andrew E. Kramer. Deals With Iraq Are Set to Bring Oil Giants Back. The New YorkTimes, June 19, 2008.28The Global Energy Market: Comprehensive Strategies to Meet Geopolitical and FinancialRisks The G8, Energy Security, and Global Climate Issues Baker Institute Policy Report(Published by the James A. Baker Institute for Public Policy of Rice University. Number 37 July 2008.

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    do dficit comercial dos Estados Unidos foi de US$ 708,5 bilhes29.Embora fosse cerca de US$ 50 bilhes menor do que no ano anterior,

    2006, graas desvalorizao do dlar e, conseqentemente, ao aumentodas exportaes, a tendncia, no entanto, era aumentar cada vez mais.

    No sem razo, o presidente George W. Bush, na State of Union de2006, advertiu que os Estados Unidos, para manter sua produocompetitiva, requeria recursos energticos baratos e a estava o grave

    problema: America is addicted to oil, which is often imported fromunstable parts of the world.30

    Os Estados Unidos, a fim de manter a posio de potncia mundial,que h mais de um sculo alcanaram, dependem mais e mais de fontes

    de energia confiveis, especialmente petrleo, cujas importaes,sobretudo da regio do Golfo Prsico, tendem a crescer,significativamente, nas prximas dcadas. A expectativa era a de que ademanda mundial de petrleo saltaria de 82 milhes de bpd, em 2004,

    para 111 milhes bpd em 2025, o que representaria um aumento de35%. E a Energy Information Administration (EIA), de acordo com oAnnual Energy Outlook, previa um incremento ainda maior da demandade suprimentos de petrleo pelos Estados Unidos e pelos pasesemergentes da sia notavelmente a China e, conseqentemente, oaumento do preo, por volta de/at 2030. Destarte, a segurananacional dos Estados Unidos passou a significar, tambm, seguranaenergtica, elemento central da sua poltica externa, e o Great Game31,o jogo de poder, intensificou-se no heartlandda Eursia, devido emergncia da China e recuperao econmica da Rssia, envolvendo

    29U.S. Bureau of Economic Analysis, U.S. International Trade in Goods and Services, Exhibit1, March 11, 2008. News Release: U.S. International Transactions. Bureau of EconomicAnalysis International Economic Accounts U.S. International Transactions: First Quarter2008 Current Account U.S. Departament of Commerce http://www.bea.gov/newsreleases/

    international/transactions/transnewsrelease.htm30President Bush Delivers State of the Union Address United States Capitol Washington, D.C.Office of the Press Secretary - January 31, 2006.31A expresso Great Game foi usada , no sculo XIX, com referncia aos esforos da Gr-Bretanha, na sia Central e na ndia, para impedir a predominncia da Rssia, que firmoucom a Prsia, em 1813, um tratado de paz (Tratado de Gulistan), mediante o qual anexouo Azerbaijo, Daguesto e a Georgia oriental. Tudo indica que o primeiro a usar essaexpresso Great Game foi Arthur Conolly, oficial do servio de inteligncia da SixtBengal Light Cavalry. E celebrizada pelo escritor ingls Rudyard Kipling na obra Kim,publicada em 1901.

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    os pases islmicos, com reflexos diretos sobre o teatro de guerra noOriente Mdio. Abre-se assim novo captulo nas relaes internacionais.

    O teatro de Guerra no Oriente Mdio

    Fonte: Centre for Research on Globalisation

    Great Game

    Os Estados Unidos, desde o fim da Guerra Fria, haviam avanadodecididamente sobre o Usbekisto, Turcomenisto, Tadjiquisto eKazaquisto, pases margem oriental da baa do Mar Cspio. Eram asrepblicas mais pobres da extinta Unio Sovitica, mas possuam vastasreservas de petrleo, iguais ou maiores do que as da Arbia Saudita, e asmais ricas reservas de gs natural do mundo, comprovadamente mais de

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    236 trilhes de metros cbicos, praticamente fechadas. O total das reservasde petrleo de toda a regio poderia ultrapassar a casa de 60 bilhes de

    barris, chegando a atingir 200 bilhes, conforme revelou John J. Maresca,vice-presidente de relaes internacionais da Unocal Corporation, emdepoimento prestado ao Subcommittee on sia and Pacific e aoCommittee on International Relations da House of Representatives,em 12 de fevereiro de 1998. E as companhias ocidentais tinham condiesde aumentar em mais de 500% a produo, da ordem de apenas 870.000

    barris em 1995, at 4,5 milhes, em 2010, o equivalente a 5% da produomundial de petrleo.32

    A estimativa da administrao do presidente Bill Clinton, de acordo

    com a National Security Strategy, era a de que havia reservas de 160b i lhes de barr is na bac ia do Mar Cspio, reservas quedesempenhariam importante papel na crescente demanda mundial deenergia.33Para manter o controle e a segurana dessas fontes deenergia e dos dutos que transportam gs e petrleo, os Estados Unidoscomearam ento a implementar a militarizao do corredor daEursia, desde o leste do Mediterrneo, margem da fronteiraocidental da China, para vencer o Great Game no heartland daEursia. Da que o documento A National Security Strategy for a

    New Century previa que, to deter aggression and secure our owninterests, we maintain about 100,000 military personnel in theregion.34E mais adiante:

    A stable and prosperous Caucasus and Central Asia will facilitaterapid development and transport to international markets of largeCaspian oil and gas resources with substantial US commercial

    participations. Resolution of regional conflicts such as Nagorno-Karabakh and Abkhazia is impor tant for creating the stab ilit ynecessary for development and transport of Caspian resources.35

    32 MONIZ BANDEIRA, Luiz Alberto. Formao do Imprio Americano(Da guerra contraa Espanha guerra no Iraque), Rio de Janeiro: Editora Civilizao Brasileira, 2. ed., p. 585-586.33A National Security Strategy for a New Century - The White House - December 1999. http://clinton4.nara.gov/media/pdf/nssr-1299.pdf34Ibid.35Ibid.

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    Projees geopolticas do Mar Cspio

    Em 1999, o Congresso dos Estados Unidos aprovou a Silk Road Strategy(SRS), renovando o Foreign Assistance Act of 1961, com o objetivo de darmaior assistncia e apoio econmico e independncia poltica aos pases dosul do Cucaso e da sia Central, avanar seus interesses geoestratgicos naregio e opor-se crescente influncia poltica de potncias regionais como aChina, Rssia e Ir. 36Conforme explicitado na Silk Road Strategy, estaregio ao sul do Cucaso e sia Central podia produzir petrleo e gs emsuficientes quantidades para reduzir a dependncia dos Estados Unidos emrelao s volteis fontes de energia do Golfo Prsico.37Alguns clculosindicavam que, por volta de 2050, a landlocked sia Central proveria

    mais do que 80% do petrleo importado pelos Estados Unidos e da apremente necessidade de controlar as reservas de petrleo da regio e osoleodutos atravs do Afeganisto e da Turquia, principal objetivo da invasodo Afeganisto em 2001.

    36Silk Road Strategy Act of 1999, 106thCONGRESS - 1stSession - S. 579.37Ibid.

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    Os Estados Unidos, contudo, no mais so o lonely power, quepredominou, como um global cop, ao longo dos anos 1990, aps o

    colapso da Unio Sovitica e o fim da Guerra Fria. A China emergiucomo potncia econmica, poltica e militar cada vez mais poderosa. E aRssia, como sucessora jurdica, herdou todo o poderio blico da extintaUnio Sovitica, que no fora, militarmente, derrotada na Guerra Fria,recuperou-se, beneficiada, em larga medida, pela alto dos preos deenergia e matrias primas, e tornou-se a dcima economia mundial, comum PIB da ordem de US$ 2 trilhes (est. 2007), segundo mtodo da

    purchasing power parity.38E no est disposta a permitir que os EstadosUnidos ampliem sua presena na sia Central e no Cucaso, ameaando

    sua segurana.No incio de 2007, o ento presidente da Rssia, Vladimir Putin,advertiu que os Estados Unidos haviam ultrapassado suas fronteirasnacionais em todos os setores, o que era muito perigoso, e mostrou-se contrrio expanso da OTAN, uma organizao poltico-militarque refora sua presena em nossas fronteiras. E acrescentou: Umerro.39 O presidente Vladimir Putin sempre deixou clara a decisode no tolerar que a OTAN estendesse sua mquina de guerra sfronteiras da Rssia, ameaando sua posio estratgica, nem oestacionamento do escudo antimsseis, nos territrios da Polnia e daRepblica Tcheca, conforme pretendido pelo presidente George W.Bush, bem como no aceitava a independncia de Kosovo, conformeo plano do ex-presidente da Finlndia e mediador da ONU, MarttiAhtisaari, que previa o reconhecimento de uma soberania parcial daregio, sob vigilncia internacional. A Rssia, ao perceber a ameaaimplcita nas iniciativas militares dos Estados Unidos, deu umademonstrao de fora. Restaurou outra vez sua frota no Atlntico eno Mediterrneo, bem como tratou de transformar o porto de Tartus,na Sria, em base naval para a sua frota no Mar Negro, juntamente

    com a instalao de um sistema de defesa antiarea, com msseisbalsticos S-300PMU-2 Favorit, capazes de alcanar 200 km. Aomesmo tempo, reativou os vos de patrulha por bombardeirosatmicos, suspendidos desde 1992.

    38CIA Fact Book - https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/geos/br.html39La Nacin, Buenos Aires, 11/02/2007.

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    O Ocidente em xeque

    Os objetivos estratgicos dos Estados Unidos e da Unio Europeia, nasia Central, colidem com os interesses geopolticos da Rssia, que se sentegravemente afetada com o avano da OTAN. E o duro ataque militardesfechado em agosto de 2008 contra as foras da Georgia, que invadiram aregio separatista da Osstia do Sul, constituiu sria advertncia de que aquelaregio, no Cucaso, margem do Mar Negro, est na sua esfera de influnciae no permitir maior penetrao dos Estados Unidos e das potnciasindustriais do Ocidente. E ao intervir na Georgia para defender a autonomiada Osstia do Sul, a Rssia retaliou o apoio que os Estados Unidos e a Unio

    Europeia deram independncia do Kosovo, instrumentalizando a OTAN(OperationAllied Force) para bombardear a Iugoslavia em 1999. Edemonstrou, como exemplo, o que poder ocorrer se a Polnia e a RepblicaTcheca permitirem a instalao, no seu territrio, das bases antimsseis

    pretendida pelo presidente George W. Bush. A Rssia ps os Estados Unidose as potncias ocidentais em xeque.

    Vrios e complexos fatores naturalmente concorreram para a eclosodeste conflito armado. A Georgia, das antigas repblicas que antes integrarama Unio Sovitica, foi a que mais estreitamente se aliou os Estados Unidos,depois da chamada Revoluo Rosa, o regime changemanipulado pelaCIA e pelo embaixador Richard Miles40, em novembro de 2003. Com aascenso ao poder do advogado Mikhail Saakashvili, que cursara a ColumbiaLaw School e a George Washington University Law School, nos anos 1990,o governo do presidente George W. Bush, executou o Georgia Train andEquip Program (GTEP), entre 2002 e 2004, e a partir de 2005, o GeorgiaSecurity and Stability Operations Program (Georgia SSOP), enviando aoCucaso assessores da U.S. Special Operation Forces (Green Berets), U.S.Marine Corps e outros para o treinamento de contingentes militares da Georgia.Estes contingentes participaram das operaes em Kosovo e, depois, das

    guerras no Afeganisto e no Iraque. Posteriormente, em meio s tenses coma Abecsia e a Osstia do Sul, regies separatistas e que aspiram integraocom a Rssia, o presidente Mikhail Saakashvili, encorajado pelos Estados

    40O embaixador Richard Miles havia desempenhado importante papel na derrubada do presidenteda Srbia Slobodan Miloevi, quando chefiara a Misso Diplomtica dos Estados Unidos, emBelgrado, entre 1996 e 1999.

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    Unidos, solicitou a adeso da Georgia OTAN. O mesmo fez o presidenteda Ucrnia Viktor A. Yushchenko, que em novembro de 2004 assumira o

    poder, mediante outra operao de regime change, a Revoluo Laranja,fomentada igualmente pela CIA, tendo como vice-presidente, a bilionriaYulia Timoshenko, conhecida como a princesa do gs.41

    A invaso da Ossetia do Sul foi planejada pelo governo de MikhailSaakashvili e recebeu a luz verde do presidente George W. Bush, conformetestemunhou perante o Parlamento da Georgia o ex-embaixador em Moscou,Erosi Kitssmarishvili.42Com efeito, os acontecimentos na Georgia e na Ucrniaresultaram da poltica externa do presidente George W. Bush, orientada nosentido de promover freedom and democracy na sia Central, no Oriente

    Mdio e em outras regies do mundo, o que significava, de acordo com asdiretrizes doProject for New American Century(PNAC), desafiar osregimes hostis aos valores americanos, e preservar e estender a uma ordeminternacional (friendly) nossa segurana, nossa prosperidade e nossos

    princpios.43Em maio de 2005, o presidente George W. Bush visitou Tblisi,capital da Georgia, que pretendia transformar em beacon of democracy,dado que o controle do sul do Cucaso e da sia Central era percebidocomo indispensvel ao xito da guerra no Afeganisto. Os Estados Unidos

    j haviam assegurado o estabelecimento de bases areas no Usbequisto eno Quirguisto, assentando seu poder militar no heartlandda sia Central,e no sul do Cucaso, principalmente na Georgia e no Azerbaijo, cujo espaoareo se tornou essencial para o transporte de material blico pesado e tropasda OTAN, com destino ao Afeganisto, primeiro campo de batalha que o

    presidente George W. Bush denominou de guerra contra o terrorismo. Dentrodesse esquema logstico, as bases na Georgia deviam servir como backupdas bases na Turquia, enquanto o Azerbaijo funcionaria como rea desustentao para eventuais operaes militares dos Estados Unidos contra oIr. O ataque para derrubar o regime de Saddam Hussein mostrou aimportncia do estabelecimento de tais bases nas vizinhanas do Oriente Mdio,

    41Ian Travnor. US campaign behind the turmoil in Kiev,The Guardian,November 26 2004.F. William Engdahl. Revolution, geopolitics and pipelines Asia Times, June 30, 2005.42 Olesya Vartanyan & Ellen Barry Former Georgian envoy to Moscow puts blame for waron his own country. International Herad Tribune, 26.11.2008.43Detalhes vide MONIZ BANDEIRA, Luiz Alberto. Formao do Imprio Americano (Daguerra contra a Espanha guerra no Iraque). Rio de Janeiro: Editora Civilizao Brasileira,2. ed., 2006, p. 571.

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    quando o Parlamento da Turquia proibiu que as tropas dos Estados Unidosabrissem uma segunda frente no nordeste do Iraque, a partir do seu territrio.

    Contudo, apesar do empenho dos Estados Unidos, a Alemanha e demaisEstados europeus entenderam que ainda no era o momento para admitirtanto a Georgia quanto a Ucrnia na OTAN, sob o argumento de que asituao dos dois pases era ainda instvel. Em verdade, a Alemanha e algunsEstados europeus no quiseram provocar a Rssia e criar uma grave crise,com fortes reflexos econmicos, se a Gazprom44, como represlia, cortassefornecimento de gs do qual enormemente dependiam e dependem45.Entretanto, as potncias ocidentais deixaram as portas abertas Georgia e Ucrnia para uma eventual admisso, futuramente, como membros da OTAN.

    E, se isto realmente se consumasse, os Estados Unidos e as potncias ocidentaisconquistariam enorme vantagem geoestratgica, cercando a Rssia compoderosa estrutura militar, ao armar os exrcitos da Ucrnia e da Georgia einstalar bases da OTAN nas suas fronteiras.

    Esta possibilidade, ameaando diretamente os interesses vitais da Rssia,tornou previsvel a interveno na Georgia, em defesa da Osstia do Sul. OKremlin sinalizou que iria reagir, quando avies de sua Fora Area Russaentraram no espao areo da Georgia e sobrevoaram territrio da Ossitiado Sul, poucas horas antes da vista da secretria de Estado CondollezzaRice a Tbilisi (Tiflis) e do incio (15 de julho) do exerccio militarImmediate

    Response 2008, em que 1.000 soldados dos Estados Unidos treinariam asforas da Georgia, Azerbaijo, a Armnia e da Ucrnia, nas imediaes da

    base militar de Vaziani. O ministro das Relaes Exteriores da Rssia, SergeiLavrov, declarou ento que as iniciativas de Tbilisi representavam real ameaa paz e segurana, o que poderia chegar beira de um novo conflito armado,de conseqncias imprevisveis.46O presidente Mikhail Saakashvili sabia edeclarou que a Georgia no tinha condies de enfrentar a Rssia, porm

    podia usar os instrumentos polticos e diplomticos para impedir suainterveno. E empreendeu a aventura, com o propsito de retomar o controle

    44A Gazprom a maior empresa de energia da Rssia, controlada pelo Estado, e conta com aparticipao acionria das empresas alems E.On e BASF-Wintershall.45A Gazprom fornece 60% do gs natural consumido na ustria, 35% da Alemanha e 20% daFrana. Tambm fornece gs a outros pases, como a Ucrnia, Estnia, Litunia e Finlndia. Em2006, a Gazprom cortou o fornecimento Ucrnia por causa de uma divergncia em torno deo aumento de preos, o que afetou pases da Unio Europia.46BBC News - Page last updated at 15:52 GMT, Wednesday, 9 July 2008 16:52 UK.

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    da Osstia do Sul, decerto imaginando que a Rssia no reagiria, militarmente,e esperando eventual assistncia dos Estados Unidos e demais membros da

    OTAN, com a qual firmara o Partnership Action Plan (IPAP), para recebersua assistncia, com vista a futura admisso como membro .

    O corredor do petrleo

    Os vnculos militares estabelecidos pelos Estados Unidos com a Georgia,inclusive incentivando sua aspirao de ingressar na OTAN, envolvemigualmente importante interesse econmico e geoestratgico, que garantir asegurana dos dutos de petrleo e gs, entre os quais o oleoduto Baku-

    Tbilisi-Ceyhan (BTC). Este oleoduto, que passa pelo territrio da Turquia,permite s companhias ocidentais desviar da Rssia e do Ir o fluxo depetrleo procedente do Azerbaijo e de outras repblicas da sia Central, edestarte reduzir a dependncia do Golfo Prsico. Sua construo pelascompanhias BOTAS Petroleum Pipeline Corporation e Bechtel Corporation(Bechtel Group), esta ltima intimamente vinculada ao presidente dos EstadosUnidos, comeou em 2002 e terminou em 2006, ao mesmo tempo em queos Estados Unidos tratavam de estreitar as relaes militares com a Georgia,mediante o envio de assessores com a misso de treinar seu exrcito.

    Rota do oleoduto Baku-Tbilisi-Ceyhan

    Fonte: BBC

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    Esse oleoduto, com capacidade para transportar 1,0 milho de barris depetrleo por dia, o segundo maior do mundo e estende-se por 1.768 km,

    desde os campos de petrleo de Azeri-Chirag-Guneshli, margem do MarCspio. Liga Baku, capital do Azerbaijo, passando por Tbilisi, capital daGeorgia, ao porto de Ceyhan, no sudeste do Mediterrneo, na costa daTurquia. O oleoduto Baku-Supsa leva 150.000 barris de petrleo por diado Mar Negro ao porto de Supsa na Georgia. E o gasoduto Baku-Tbilisi-Erzrum (BTE transporta, por ano, 6 milhes de metros cbicos de gs doAzerbaijo para a Turquia.

    Fonte: BBC

    O Azerbaijo e a Georgia so dois pases-chaves, no apenas por causade sua produo de gs e petrleo, mas porque deles depende o

    estabelecimento de um corredor ligue o Cucaso e a sia Central ao Ocidente,sem passar pela Rssia, e do qual a pedra fundamental foi a construo dooleoduto BTC. Este oleoduto, cujo terminal Ceyhan, no Mediterrneo,muda a situao do Cucaso e no somente estabelece como consolida umvnculo estratgico entre o Azerbaijo, Georgia, Turquia e Israel, que noapenas poder abastecer-se, diretamente, com o petrleo do Mar Caspiocomo ainda reexport-lo para os mercados asiticos, atravs do porto de

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    Eilat.47Conforme explicou Michel Chossudovsky, professor de economia naUniversidade de Ottawa e diretor do Centre for Research on Globalization,

    Israel tornou parte do eixo militar anglo-americano, que which serves theinterests of the Western oil giants in the Middle East and Central Asia.48

    O que se projeta ligar o BTC ao oleoduto Trans-Israel (Tipline), construdoem 1968 para transportar do petrleo desde o porto de Ashkelon, noMediterrneo, para Eilat, no sul de Israel, no Mar Vemelho.

    .

    Oleoduto Trans-Israel Eilat-AshkelonFonte: Chossudovsky 2008.

    Entretanto, a interveno da Rssia na Georgia, em 8 de agosto de 2008,para defender a autonomia da Osstia do Sul, bem como a autonomia da Abecsia,outra regio separatista, mostrou que o transporte de petrleo e gs atravs dosdutos que atravessam a Georgia to vulnervel quanto atravs do Golfo Prsico.Suas tropas conquistaram a cidade de Gori, onde nasceu Stalin, e a garganta deKodori, ocupada pela Georgia desde 2006, e destruram depsitos de armamentos

    e bases militares. Os oleodutos no foram atacados, embora fechados pelasprprias companhias, por motivos de segurana ou precauo. Mas os projetos

    47 Michel Chossudovsky. The Eurasian Corridor: Pipeline Geopolitics and the New ColdWar Global Research, August 22. 2008. In:http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=990748Ibid.

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    de construo de novos dutos ou expanso do BTC ficaram aparentementeinviabilizados, em virtude da instabilidade apresentada pela regio, alarmando as

    companhias que l pretendiam investir. E a Rssia, por fim, reconheceram aindependncias das duas regies separatistas Abecsia e Osstia do Sul, nasvizinhanas do oleoduto Baku-Tbilisi-Ceyhan (BTC), que tem capacidade detransportar 1,2 milho barris por dia para o Ocidente.

    Os limites do poderio militar

    O poder que os Estados Unidos possuem, tanto econmico quanto poltico,tecnolgico-militar e cultural, ainda enorme. Detm cerca de 25% (2009) do

    PIB mundial e exercem o poder econmico, inclusive atravs do FMI, BancoMundial, OMC etc.; aplicam, internacionalmente, osoft power, i. e.,a dominaoideolgica e cultural, por meio das redes de televiso, da CNN, da internet, dasagncias de notcias, do cinema etc.; tm capacidade de interferir nas questesinternas de qualquer pas, com a colaborao das elites locais, que cooptam,intimidam ou esto associadas aos seus interesses, 49e podem modelar a vontadedas outras potncias industriais e conduzir a poltica internacional, de acordo comseus interesses, exportando suas prprias ameaas para os aliados e levando-osmovimentar-se e agir em funo do que pensam ser seus autnticos interessesgeoestratgicos, quando, na realidade, so interesses dos Estados Unidos.50

    Os Estados Unidos dispem de meios para intervir imediata eefetivamente, em qualquer regio do mundo. Seu poderio militar incomparvel, seu poder de destruio no tem paralelo na histria. Desdeas bombas atmicas lanadas contra Hiroshima e Nagasaki, matando umtotal de cerca de 199.000 pessoas51, em 1945, os Estados Unidos produziramcerca de 70.000 armas nucleares de 72 tipos. Ao fim de Guerra Fria, em1991, tinham um arsenal ativo da ordem 23.000 artefatos nucleares dos 26

    principais tipos. E nunca cessaram completamente de produzi-los.52Um

    49 Samuel Pinheiro Guimares. O mundo em que vivemos.Teoria e Debaten 51, revista daFundao Perseu Abramo.50Guilherme Sandoval Ges. O Geodireito e os Centros Mundiais de Poder, estudo apresentadono VII Encontro Nacional de Estudos Estratgicos. 6 a 8 de novembro de 2007. Braslia, F.F.Gabinete de Segurana Institucional da Presidncia da Repblica.51 Atomic Archive. The Atomic Bombings of Hiroshima and Nagasaki. http://www.atomicarchive.com/Docs/MED/med_chp10.shtml52U.S. Nuclear Weapon Enduring Stockpile http://nuclearweaponarchive.org/Usa/Weapons/Wpngall.html

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    estudo realizado no Brookings Institute, de Washington, estimou que os custoscom armamentos nucleares, desde a II Guerra Mundial at 2007, foram da

    ordem de US$ 7,2 trilhes, e o total das despesas militares, no mesmo perodode meio sculo, atingiram o montante de US$ 22,8 trilhes. 53 De acordocom o Annual Report of Implementation of the Moscow Treaty, os EstadosUnidos mantinham, em 31 de dezembro de 2007, cerca de 2.871 ogivasnucleares estratgicas em condies operacionais, i. e., prontas paralanamento, mais 2.500 como reserva (ativas e inativas), e outras 4.200retiradas para desmantelamento. O total do estoque era de 9.400 armasnucleares, de todas as categorias.54

    Os Estados Unidos, entretanto, nada puderam fazer, no conflito na

    Osstia do Sul, seno protestar e enviar ajuda humanitria Georgia, apesarde que o vice-presidente Dick Cheney proclamasse que a interveno daRssia must not go unanswered. O poderio militar, tecnolgico,econmico e diplomtico de que dispem de nada valeu para defenderseus interesses na Georgia. Os Estados Unidos esto economica efinanceiramente esgotados com duas guerras perdidas, no Afeganisto e noIraque, cujos custos, incluindo o alto preo do petrleo, as despesas detratamento dos veteranos feridos e o pagamento dos juros do dinheiroemprestado, totalizavam, em novembro de 2007, cerca US$ 1,5 trilho,acima de 10% do PIB (US$ 13,8 trilhes, est. 200755), de acordo comestudo feito pelos representantes do Partido Democrata, integrantes daComisso Econmica Conjunta do Congresso americano.56E a estimativaera de que, somente no ano de 2008, os gastos com as duas guerrasultrapassariam US$ 1,6 bilho, o dobro de US$ 804 bilhes, anunciado

    pelo presidente George W. Bush.

    53Stephen I. Schwartz . The Costs of U.S. Nuclear Weapons. James Martin Center forNonproliferation Studies - Monterey Institute for International Studies. http://www.nti.org/e_research/e3_atomic_audit.html54U.S. Departament of State. 2008 Annual Report on Implementation of the Moscow Treaty- Bureau of Verification, Compliance, and Implementation (VCI) - Washington,DC - May 13,2008.FAS Strategic Security Blog. Comments and analyses of important national and internationalsecurity issues http://www.fas.org/blog/ssp/2009/02/sort.phpMcNamara, Robert. Apocalypse Soon. Foreign Policy, May/June 2005. http://www.foreignpolicy.com55CIA Fact Book - https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/geos/us.html56Josh WhiteHidden Costs Double Price Of Two Wars, Democrats Say. TheWashingtonPost, November 13, 2007, p. A14

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    O declnio do Imprio Americano j se evidencia, tanto ao nvel econmicocomo poltico e militar. Diferentemente de outras potencias industriais, os Estados

    Unidos deixaram de ser exportador lquido de capitais e no mais lideram as comprasou o estabelecimento de firmas em outros pases. Com enormes dficits comerciale fiscal, bem como na conta corrente do balano de pagamento, tornaram-se uma

    potncia devedora e no tm como pagar sua dvida externa. Os bancos centraisde outros pases detm cerca de US$ 4 trilhes como reservas. Somente a China

    possui reservas no valor de mais US$ 2 trilhes. E o poderio militar dos EstadosUnidos, baseado, sobretudo, nas armas nucleares e nos msseis de longa distncia,mais do que nas tropas terrestres, no mais pode garantir-lhe a hegemonia poltica.Econmica e financeiramente, ser difcil sustentar, por muitas dcadas, ao longo de

    todo o sculo XXI, um imprio com cerca de 190.000 efetivos militares e 115.000empregados civis, amontoados em 909 bases instaladas em 46 pases e territrios,segundo os dados oficiais (2009), que no incluem outras bases ostensivas e secretas,57ademais de duas guerras Iraque e Afeganisto cujos custos totais sobem deUS$ 2,7 trilhes, em termos estritamente oramentrios, para um montante US$ 5trilhes, em termos econmicos, segundo os clculos de Joseph E. Stiglitz.58

    Com tais gastos, a dvida pblica dos Estados Unidos saltou de US$ 5,6trilhes, no ano 2000, para um total de aproximadamente US$ 9.5 trilhes emabril de 200859. E a dvida nacional (externa e interna) continua a crescer cercade US$ 1,82 bilho por dia, desde 2007. Em dezembro de 2007, a China

    possua reservas em dlar da ordem de US$ 1,5 trilho (10% do PIBamericano), dos quais os ttulos (securities) do Tesouro americano, em junhode 2007, totalizavam mais de US$ 922 bilhes, superando em 61% o Japocomo o maior credor dos Estados Unidos.60De acordo com o Fundo Monetrio

    57LUTZ, Catherine (ed). The Bases of Empire. The Global Struggle against U.S. MilitaryPosts. Londres: Pluto Press, 2009, p. 1. Somente 865 bases militares constam da relao oficialdo Pentgono, que no inclui outras menores e tambm as bases secretas, instaladas em Aruba,Australia, Bulgaria, Bahrain, Colmbia Grcia, Djibouti, Egito, Kuwait, Qatar, Romnia,

    Singapura e Cuba (Guantnamo).58STIGLITZ, Joseph E. & BILMES, Linda J. The Three Trillion Dollar War.The TrueCost the Iraq Conflict.59The Government Section of TreasuryDirect http://www.treasurydirect.gov/govt/resources/faq/faq_publicdebt.htmWilliam F. Shughart II. Spending Addicts. The Washington Times, 7/20/08)U.S. National Debt Clock - The Outstanding Public Debt as of 18 Aug 2008 at 08:45. http://www.brillig.com/debt_clock/60Congressional Research Service Report for Congress. Chinas Holdings of U.S. securities Implications for the U.S. Economy. Updated May 19, 2008.

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    Internacional, essas reservas representavam 23,9% das reservas em dlaresmantidas por todos os pases, cujo total era de US$ 6,4 trilhes.61Porm, na

    primeira metade de 2009 as reservas em dlares que a China possua jultrapassavam o montante de US$ 2 trilhes. Isto significa que o valor do dlar

    poderia cair dramaticamente se a prpria China, que o maior comprador dettulos dos Estados Unidos, inclusive da dvida pblica, colocasse no mercadomundial grande parte das reservas que mantm.62E j ameaou faz-lo.

    Os Estados Unidos esto a depender pesadamente do influxo de capitaisde outros pases, sobretudo da China, a fim de ajudar o desenvolvimento desua economia e cobrir o dficit fiscal. So uma potncia, virtualmente, falida.Ainda no ocorreu o default porque o dlar, no atual esquema defiat money,

    moeda fiduciria e o governo est livre para imprimir a quantidade quequiser. Isto no significa que o governo de Washington possa continuaremitindo dlares sem lastro, indefinidamente. Mais cedo ou mais tarde, essa

    bolha vai estourar, como ocorreu com os financiamentossubprime, a bolhaimobiliria, levando bancarrota os maiores bancos de investimentos, LehmanBrothers e Merril Lynch, Mac, bem como as seguradores AmericanInternational Group (AIG), a maior dos Estados Unidos e do mundo, FannieMae e Freddie Mac, entre outras corporaes. At dezembro de 2008, ogoverno dos Estados Unidos teve de investir cerca de cerca de US$ 5 trilhesa fim de evitar o colapso de todo o sistema financeiro. 63E j no primeirosemestre de 2009, seu dficit oramentrio superou o montante de US$ 1trilho. A previso era de que alcanasse a cifra de US$ 1,6 trilho, at ofinal do ano, e o Congressional Budget Office estimou que, dentro de dezanos, o dficit oramentrio estar entre US$ 9 trilhes e US$ 10 trilhes.64

    A dvida federal, que corresponde a 33% do PIB dos Estados Unidos, em2009, poder saltar para 68%, por volta de 2019, o que representar cercade 5,1% do PIB calculado para a dcada, um percentual extremamente alto.65

    61

    IMF, International Financial Statistics, November 2007; IMF Currency Composition ofOfficial Foreign Exchange Reserves.62Federal Reserve Statistical Money Stock Measures http://www.federalreserve.gov/releases/h6/current/63Elizabeth Moyer. Financial Crisis. Washingtons $5 Trillion Tab. Forbes.comh t t p : / / w w w . f o r b e s . c o m / 2 0 0 8 / 1 1 / 1 2 / p a u l s o n - b e r n a n k e - f e d - b i z - w a l l -cx_lm_1112bailout_print.html64Jackie Calmes Estimate for 10-Year Deficit Raised to $9 Trillion. The New York Times,August 26, 2009.65Ibid.

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    Essa tendncia no pode continuar indefinidamente. David M. Walker,controlador-geral e diretor Government Accountability Office (GAO), rgo

    do Congresso dos Estados Unidos, encarregado de auditoria, avaliao einvestigao das contas pblicas, desde 1998, renunciou ao cargo, em 2008,advertindo que o pas estava sobre uma burning platform de polticas e

    prticas insustentveis, com dficits fiscais, insuficincia de recursos para oservio de sade, imigrao e compromissos militares no estrangeiro.66Hsimilitudes assombrosas entre a situao atual dos Estados Unidos e da antigaRoma disse David M. Walker, explicando que a Repblica romana caiu

    por muitas razes, entre as quais o declnio dos valores morais e do civismopoltico domstico; o excesso de confiana e o emprego do Exrcito em

    terras estrangeiras; e irresponsabilidade fiscal. A bolha que a indstria blicae sua cadeia reprodutiva, fomentando o militarismo, representam conjuga-secom a fragilidade do sistema financeiro, gerando enormes riscos no s paraos Estados Unidos como tambm para todos os demais pases. E o governode Washington somente teria condies de evitar uma grande exploso, secortasse os gastos militares e, por conseguinte, reduzisse seu aparato blicoe sua presena em todas as regies, algo extremamente difcil, dados osinteresses econmicos e financeiros implicados.

    De qualquer forma, o fato que os Estados Unidos passaram a dependerda China, assim como a Gr-Bretanha, para vencer na Segunda Guerra Mundial,

    passou a depender financeiramente dos Estados Unidos, declinando, a pontode tornar-se seu satlite, conforme concluiu Correlli Barnett.67 Sem osinvestimentos de outros pases, como o Japo e, sobretudo, a China, quecompram ttulos do Tesouro americano, os Estados Unidos no podem sustentaras guerras no Afeganisto e no Iraque. E, economica e financeiramenteconstrangidos, sofreram forte revs poltico e estratgico com a interveno daRssia em defesa da Osstia do Sul e da Abecasia. No podiam correr o riscode mandar tropas para a Georgia, a fim de assumir o controle dos portos e

    66Discurso de David M. Walker em em 7 de agosto de 2008, perante o Federal Midwest HumanResources Council o Chicago Federal Executive Board. Is America on Course to Fall LikeRome. http://www.digitalnpq.org/articles/economic/198/08-23-2007/david_m._walker. DavidM. Walker. Va Estados Unidos en camino de caer como Roma? El Pas(Espanha) 05/09/2007. Jeremy Grant (Washington). Learn from the fall of Rome, US warned. FinancialTimes. 14/08/2007.67BARNETT, Correlli. The Collapse of British Power.Gloucester (Inglatterra): Alan SuttonPublisher, 1987, pp. 585-593.

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    aeroportos do pas, conforme anunciado pelo governo de Tblisi, e escalar oconflito, que poderia resultar em confrontao armada com a Rssia. A

    dificuldade de recrutar jovens homens e mulheres para servir como soldadosnas Foras Armadas tornou-se cada vez maior, depois da invaso do Iraque.68

    A crescente oposio interna Guerra no Iraque, assim como o medo damorte ou da invalidez causada pelos ferimentos, produziu efeitos sobre as ForasArmadas e a Guarda Nacional, uma vez que o Pentgono desde ento noconsegue atingir suas metas anuais de recrutamento69.

    Em 2007, a exausto e a fadiga estavam a abater as tropas dos EstadosUnidos no Iraque e as deseres aumentavam.70Seria difcil para Washingtondeflagrar e sustentar outra guerra convencional. E o impasse existente entre

    os Estados Unidos e a extinta Unio Sovitica, que culminou dramaticamentecom a crise dos msseis instalados em Cuba (1962), demonstrou que umaguerra nuclear, conforme o ento secretrio de Defesa, Robert McNamara,admitiu, era unthinkable71. No haveria vencedor. No haveria benefcios

    para nenhuma das potncias. Somente custos imensos, incalculveis, em vidase propriedades. Com razo Zbigniew Brzezinski observou que as armasnucleares reduziram praticamente a utilidade da guerra como instrumento da

    poltica ou mesmo como ameaa72.

    A Segunda Guerra Fria

    Diante de tal situao, o poderio militar dos Estados Unidos, por maior queseja, tem limites. Washington no atentou para o fato de que a Rssia permaneceracomo poderosa potncia militar e que a paridade estratgica no havia acabado,no obstante a desagregao da Unio Sovitica, em 1991 A Rssia atualmenteconta com 1,2 milho de efetivos nas suas Foras Armadas, um total 14.000ogivas nucleares, das quais cerca de 5.192 em estado operacional, enquanto osEstados Unidos possuem 1,3 milho de militares na ativa, 5.400 ogivas, das

    68Robert Hodierne Concern over US army recruitment. BBC News- Last Updated: Wednesday,BBC Radio 4s Crossing Continents 23 August 2006, 22:48 GMT 23:48 UK .69Ann Scott Tyson Army Having Difficulty Meeting Goals In Recruiting Fewer EnlisteesAre in Pipeline; Many Being Rushed Into Service. Washington Post, February 21, 2005,p. A0170 Peter Beaumont. Fatigue cripples US army in Iraq. The Observer, August 12 2007.71Apud KISSINGER, Henry. Diplomacy.Nova York Touchstone Book, 1994, p. 644.72BRZEZINSKI, Zbigniew. The Grand Chessboard. American Primacy ant its GeostrategicImperatives. Nova York: Basic Books, 1997, p. 36.

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    quais 4.075 ativas, ademais de 3.575 estratgicas e 500 no-estratgicas (est) eestoque um adicional de 1.260 inativas.73No total, a Rssia possui 62.500 armas

    nucleares e os Estados Unidos, 33.500.74Tanto os Estados Unidos quanto daRssia pouco fizeram para reduzir o inventrio de armamentos nucleares,remanescentes da Guerra Fria, e que permaneceu, desnecessariamente mais altodos que as necessidades de segurana das duas potncias.

    Entretanto, o presidente George W. Bush, como antes o presidente BillClinton, continuou a provoc-la, humilhando-a. Logo aps assumir o governo,em 2001, retirou os Estados Unidos do Tratado de Msseis Antibalsticos(ABM), celebrado em 1972 com a Unio Sovitica, a fim de implementar o

    projeto de construo do sistema de defesa antimsseis, e empenhou-se no

    somente em estabelecer bases antimsseis na Polnia e na Repblica Tchecacomo tambm levar a OTAN s fronteiras da Rssia, atravs da Ucrnia eda Georgia. Ainda se recusou a ratificar o Tratado de Proibio Total deTestes, de 1996, e as mudanas no SALT 2, sobre a limitao e a reduodos armamentos estratgicos. E ordenou a invaso do Iraque, como iniciativaunilateral, desrespeitando o Conselho de Segurana da ONU. O presidenteGeorge W. Bush derrubou todos os fundamentos da ordem internacional e,conseqentemente, da paz, que possibilitou o fim da Guerra Fria. Porm,no conseguiu desfazer o equilbrio de poder global, objetivo do projeto deinstalar as bases do sistema de defesa antimsseis na Polnia e na RepblicaTcheca. Como o prprio Mackinder havia ressaltado, a Rssia umplayer

    statee no um Estado perifrico.75Est diretamente dentro dapivot areada

    73Center for Strategic and International Studies (CSIS). Western Military Balance andDefense Efforts. A Comparative Summary of Military. Expenditures; Manpower; Land, Air,Naval, and Nuclear Forces - Anthony H. Cordesman & Arleigh A. Burke Chair in Strategy withthe Assistance of Jennifer K. Moravitz - CSIS January, 2002.http://www.csis.org/media/csis/pubs/westmb012302%5B1%5D.pdfNORRIS, Robert S., and M. KRISTENSEN, Russian nuclear forces, 2008, Robert S. Norris & Hans M. Kristensen. Russian nuclear forces, 2008. Nuclear Notebook - Bulletin of

    the Atomic Scientists. May / June 2008 Vol. 64, No. 2, p. 54-57, 62 DOI: 10.2968/064002013. Robert S. Norr is & Hans M. Kristensen. U.S. nuclear forces, 2008. NuclearNotebook - Bulletin of the Atomic Scientists. May / June 2008Vol. 64, No. 2, p. 54-57,62 DOI: 10.2968/064002013http://thebulletin.metapress.com/content/pr53n270241156n6/fulltext.pdfDepartment of Defense Active Duty Military Personal by Rank Grade August 2007.http://siadapp.dmdc.osd.mil/personnel/MILITARY/rg0708.pdf74Ibid.75MACKINDER, Sir Halford John. The Geographical Pivot of History, GeographicalJournal, Royal Geographical Society London, April 1904 , vol. XXIII pp. 436.

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    Eursia. Pode usar sua influncia e dinheiro, dificultar ou mesmo suspender ofornecimento de energia (gs e petrleo), de que a Unio Europeia tanto

    necessita, bem como solapar os interesses dos Estados Unidos no OrienteMdio e em outras regies, vendendo armamentos Sria, Ir etc., alm deexercer seu poder de veto no Conselho de Segurana da ONU. A Rssiatem mais condies de afetar o Ocidente, que precisa mais da Rssia, do queo Ocidente, de afetar a Rssia, que no precisa tanto do Ocidente. Assim,econmica e financeiramente recuperada, ela voltou a participar do GreatGame, o jogo de poder na sia Central.

    O colapso financeiro

    A Segunda Guerra Fria efetivamente comeou, mas os Estados Unidosdificilmente tero condies de sustent-la, em virtude do colapso do seusistema financeiro. A erupo da crise, que abalou e continua a abalar a suaeconomia, j estava prevista havia muito tempo. A alta do preo do petrleo,e do ouro, bem como a valorizao do euro eram sintomas da profunda criseque solapava a economia americana. Com efeito, em 28 de maro de 2006,o Asian Development Bank advertira aos seus membros no sentido de que se

    preparassem para um possvel colapso do dlar, que, embora fosse incerto,teria graves conseqncias para a economia mundial. O financista GeorgeSoros considerava que o estouro da bolha era inevitvel e previu que ocorreriaem 2007, como de fato ocorreu, quando, desde o 1 semestre de 2007,quando grandes corretoras, como Merrill Lynch e Lehman Brothers,suspenderam a venda de colaterais, e em julho do mesmo ano, bancoseuropeus registraram prejuzos com contratos baseados em hipotecas sub-

    prime. Foi a inadimplncia de devedores hipotecrios que detonou o colapsofinanceiro, atingindo emprstimos de empresas, cartes de crdito etc.

    Ao longo de oito anos de governo, as polticas de George W. Bush somentebeneficiaram os ricos. O problema fiscal nos Estados Unidos extremamente

    grave. Os Estados Unidos emitem dlares, sem lastro, para pagar a energia,commoditiese manufaturas que importam, e os pases que lhes vendem, taiscomo a Arbia Saudita, China e outros, com os mesmos dlares sem lastrocompram bnus do Tesouro Americano. Em outras palavras, so os bancoscentrais de outros pases que estavam a financiar o dficit na conta corrente do

    balano de pagamentos dos Estados Unidos, que somava US$ 731,2 bilhes,em 2007. A partir do primeiro mandato do presidente George W. Bush os Estados

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    Unidos tomaram emprstimos dos governos e bancos estrangeiros mais do quetodas as administraes de 1776 a 2000. A dvida externa dos Estados Unidos,

    30 de junho de 2008, era da ordem de US 13,70,76do mesmo tamanho que oseu PIB, calculado em US$ 13,78 trilhes.77A dvida pblica dos Estados Unidos,em 2007, representou cerca de 60,8% do PIB. E, no fim de 2004, de acordocom as estatsticas do Departamento do Tesouro indicavam, os estrangeirosdetinham 44% do dbito federal possudo pelo pblico. Cerca de 64% dos 44%estavam na posse dos bancos centrais de outros pases, a maior parte nos bancoscentrais do Japo e da China. O que afastava e ainda afasta, por enquanto, umcolapso ainda maior o fato de que o dlar a moeda internacional de reserva.E sua recente valorizao, em meio crise financeira, em larga medida conjuntural,

    devido ao fato de que as empresas americanas ou de outras nacionalidades estoa vender suas posies nas bolsas dos mais diversos pases, desfazendo-se deseus investimentos no exterior, de modo a remeter recursos para cobrir os fundosde suas matrizes nos Estados Unidos, na Europa ou na sia. Este fato e a

    perspectiva de inevitvel recesso concorreram tambm para fazer a cotao dobarril de petrleo despencar. Mas as piores conseqncias esto por acontecer.O presidente George W. Bush apresentou um pacote de US$ 700 bilhes, um

    pacote multi-bilionrio, para salvar as corporaes em crise. De onde sair talvolume de dinheiro, que tudo indica ser ainda muito maior, quando o dficit fiscaldos Estados Unidos j da ordem de US$ 700 bilhes? O valor dos recursos

    pblicos destinados a salvar empresas privadas, tais como a AIG e o Bear Stearns,em maro, ou semi-privadas, como as instituies hipotecrias Fannie Mae eFreddie Mac, j haviam alcanado cerca de US$ 1 trilho e poder chegar aUS$ 1,2 trilho. O contribuinte americano que pagar, subsidiando Wall Street.

    Em agosto de 2007, David Walker, chefe da Agncia de Controladoriados Estados Unidos, advertiu que o pas estava sobre uma burning

    platform de polticas e prticas insustentveis, escassez crnica de recursospara a sade, problemas de imigrao e compromissos militares externos,que ameaavam eclodir se medidas no fossem em breve adotadas.78Ele

    previu aumentos dramticos nos impostos, reduo nos servios do governo

    76U.S. Departament Of Treasury - Treasury International Capital System -U.S. Gross External Debt - http://www.treas.gov/tic/external-debt.html77CIA World Factbook https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/geos/us.html78 Jeremy Grant Learn from the fall of Rome, US warned. Financial Times, Londres,14.08.2007.

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    e a rejeio em larga escala dos bnus do Tesouro americano comoinstrumento de reservas pelos pases estrangeiros. E apontou notveis

    semelhanas entre os fatores que resultaram na queda do Imprio Romanoe a situao dos Estados Unidos, devido ao declnio dos valores morais e dacivilidade poltica, confiana e excessiva disperso das Foras Armadasno exterior, bem como irresponsabilidade fiscal do governo.79Mas, se odeclnio do Imprio Romano durou muitos sculos, o declnio do ImprioAmericano provavelmente levaria apenas algumas dcadas e seria tovertiginosa, dramtica e violenta quanto sua ascenso.80Em 18 de marodeste ano, 2008, Paul Craig Roberts, que foi secretrio-assistente doDepartamento doTesouro, no governo de Ronald Reagan (1981-1989) e

    co- editor do Wall Street Journal,publicou um artigo, intitulado TheCollapse of American Power, demonstrou, claramente, que, de fato, osEstados Unidos esto em bancarrota, que nunca pagaro suas dvidas, quefinanceiramente no so independentes e que as guerras no Iraque e noAfeganisto esto financiadas por outros pases, principalmente a China e oJapo, que compram os bnus do Tesouro americano. Dez dias depois, naedio de 27 de maro, a revista The Economistpublicou um artigo intituladoWaiting for Armageddon, no qual ressaltou que o recente aumento dascorporaes em bancarrota pode ser o sinal de que muito pior est para vir.O pior defaultdo prprio governo dos Estados Unidos, cujo sistemafinanceiro poder, inclusive, cair em poder da China, que dispe de suficientesreservas em dlares (mais de US$ 2 trilhes) para compr-lo.

    Atualmente os Estados Unidos so uma superpotncia devedora da Chinae no conseguem sequer financiar suas operaes domsticas, muito menosas guerras no estrangeiro, que o presidente George W. Bush deflagrou. Suascontas esto em vermelho. Tudo indica que, em 2009, os custos totais daguerra no Iraque ultrapassaro o montante US$ 800 bilhes, US$ 100 bilhesa mais do que o custo do pacote para salvar o sistema financeiro. De acordocom os economistas Joseph Stiglitz e Linda Bilmes, as estimativas dos custos

    em longo prazo da guerra, incluindo benefcios aos veteranos que se

    79Ibid.80Seales muy parecidas a las que marcaron la decadencia y la cada del Imperio Romano,descriptas tan magistralmente por Edward Gibbon, ya se manifiestan y se acentan en losEstados Unidos. Sin un estado de guerra permanente sua economa deja de funcionar.MONIZBANDEIRA, Luiz Alberto. La Formacin del Imperio Americano. Buenos Aires: EditorialNorma, 2007, p. 17

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    estendero ao futuro distante, disparam para a estratosfera. Variam de entreUS$ 1 trilho e US$ 2 trilhes, nos clculos do Servio Oramentrio do

    Congresso, a at US$ 4,5 trilhes.Assim, a erupo da crise no sistema financeiro, abalando todo o sistema

    capitalista mundial, afetar, seguramente, estrutura econmica dos EstadosUnidos, sustentada, sobretudo, pelo complexo industrial-militar, outra bolhaque, mais dias menos dias, vai explodir. Qualquer que seja o governo,republicano ou democrata, no ter mais recursos para continuar subsidiandoa indstria blica e toda a sua cadeia produtiva, como at agora tem feito. A

    bancarrota dos Estados Unidos inevitvel se o governo no conseguir reduzirseus gastos militares. Esta reduo, decerto, difcil, ainda que o presidente

    eleito seja o democrata Barak Obama. O peso econmico e poltico docomplexo industrial-industrial imenso na correlao de poderes dentro dosEstados Unidos e influi no somente no Congresso, mas em toda a mdia,

    principalmente das redes de televiso, que funcionam como aparelhoideolgico do Estado. De qualquer forma, porm, a situao torna-se mais emais insustentvel. O incomparvel poderio militar dos Estados Unidos temfortes limites polticos, mas tambm econmicos. O declnio do ImprioBritnico acentuou-se quando a Gr-Bretanha tornou-se devedora dosEstados Unidos a partir da Primeira Grande Guerra Mundial. E as guerras,tanto no Afeganisto quanto no Iraque, esto perdidas. Mais cedo ou maistarde, o presidente Barak Obama ter de retirar as tropas dos dois pases.

    A eleio de Barack Obama, de uma forma ou de outra, acabou com osonho de George W. Bush de manter os neo-conservadores do PartidoRepublicano com o domnio do governo nos Estados Unidos. Esta foi umaeleio realmente histrica. Mas Barak Obama ter muito pouco tempo paradesfrutar de sua vitria, em meio dbcle econmica e financeira que estapenas a comear e que decerto atingir todo o sistema poltico internacional.As foras profundas, econmicas e polticas, e os complexos interessesgeopolticos dos Estados Unidos no lhe permitem mudar sensivelmente a

    poltica exterior dos Estados Unidos, ainda que o quisesse. Suas diretrizesso atualmente condicionadas, no mais propriamente pelo Departamentode Estado, mas, sobretudo, pelo Pentgono, cujos generais, nos comandosmilitares instalados em diversas regies do planeta, desempenham um papelsimilar ao dos cnsules ao tempo do Imprio Romano. E os generaisamericanos, conforme o prprio presidente Lyndon Johnson (1963-1969)certa vez comentou, durante a guerra do Vietn, somente conhecem duas

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    palavras: bomb and spend .81O presidente Barack Obama, mesmo quetrate de reduzir o dficit fiscal dos Estados Unidos, no pode cortar

    substancialmente as encomendas com que o Pentgono subsidia as indstriasde material blico. Se tentasse faz-lo, diversas empresas logo quebrariam,aumentando o desemprego e arruinando os Estados onde esto instaladas.Entretanto, por outro lado, os Estados Unidos no mais podero sustentar

    por muitas dcadas o poderio militar que mantm com cerca de 1.000 basesespalhadas em diversas regies do mundo. Seus dficits fiscal e comercial

    e sua dvida externa s tendem a crescer e provocar a exploso da bolha,representada pelo complexo industrial-militar e inflada com recursos pblicos.Esta bolha mais dias menos dia vai estourar, como aconteceu com a bolha do

    sistema financeiro e a indstria automobilstica.Em virtude de suas tradies culturais e polticas e ao alto desenvolvimentodas foras produtivas do capitalismo e de suas relaes sociais, nunca houveabertamente golpes de Estado nos Estados Unidos, como acontecia nasrepblicas presidencialistas da Amrica Latina. Contudo, l ocorreram quatroassassinatos de presidentes e cinco tentativas, que constituram atos deviolncia e aparentemente resultaram de conspiraes. Abraham Lincoln(1865), James Garfield (1881), William McKinley (1901) e John F. Kennedy(1963) foram assinados. E Andrew Jackson (1835), Franklin D. Roosevelt(1933) (como presidente eleito), Harry S. Truman (1950), Gerald Ford (1975)e Ronald Reagan (1981) sofreram tentativas. Tais atentado configuraram, deum modo ou de outro, um golpe poltico, e no h a menor dvida de queGeorge W. Bush foi instalado na presidncia por meio de um golpe judicial.

    No se pode descartar, portanto, que existe enorme risco de que BarakObama possa a ser assassinado, forma que substitui no Estados Unidos osclssicos golpe de Estado para a mudana de presidentes.

    St. Leon, 2008/2009

    81 SCHULZINGER, Robert D. American diplomacy in the Twentieth Century. Oxford:Oxford University Press, 1994, p. 276.

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    A importncia geopoltica da Amrica do Sul na

    estratgia dos Estados Unidos*

    (...) A doutrina de Monroe no uso diplomticodos Estados Unidos, tivera, em todos os tempos, umcarter exclusivamente norte-americano, (...) e que,

    cerrando, por aquela frmula memorvel, ocontinente americano cobia Europeia no fizera

    mais do que o reservar aos empreendimentos futurosda sua.1

    Rui Barbosa

    Procuremos precisar quais os interesses em jogona questo. Petrleo! Exclamam de todos os lados. O

    petrleo opera prodgios, tem ditado a poltica

    internacional das grandes potncias, assentou ederrubou governos, abalou uma dinastia, criou

    fortunas fabulosas e conta entre os seus servidoresestadistas dos mais notveis.

    Embaixador Jos Joaquim Moniz de Arago,secretrio-geral do Itamaraty, durante a Guerra do

    Chaco, 19342

    *Texto para conferncia no Curso de Poltica e Estratgia da Escola Superior de Guerra, Rio deJaneiro, 23 de setembro de 2008. Atualizado e ampliado em 1o de setembro de 2009.1Rui Barbosa. O continente enfermo. A Imprensa, 3 de maio de 1899, in BARBOSA deOliveira, Rui. Obras Seletas - Volume 8. Edio. ebooksBrasil. Fonte digital: Ministrio daCultura. Fundao Biblioteca Nacional - Departamento Nacional do Livro. www.bn.br/bibvirtual/acervo/2Circular n 907. s Misses Diplomticas Brasileiras. Confidencial. A Questo do Chaco Osttulos dos contendores., Embaixador Jos Joaquim Moniz de Arago, Secretrio-Geral doItamaraty. Rio de Janeiro, 28.8.1934. AHI Guerra do Chaco - 9(31).(45)5. Arquivo doEmbaixador Moniz de Arago.

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    O conflito entre a Rssia e a Georgia mostrou que oarc of crisis,que Zbigniew Brzezinski dizia estender-se do Paquisto at a Etipia,circundando o Oriente Mdio, muito mais amplo e abrange toda a

    sia Central e o Cacaso. Diante de tal situao, a importnciageopoltica da Amrica do Sul aumentou ainda mais, na estratgia desegurana dos Estados Unidos, que buscam fontes de fornecimento degs e petrleo em regies mais estveis. O prprio Halford J. Mackinder,na sua conferncia sobre o The Geographical Pivot of History, em 1904,ressaltou que o desenvolvimento das vastas potencialidades da Amricado Sul podia ter decisive influence sobre o sistema internacional de

    poder e fortalecer os Estados Unidos ou, do outro lado, a Alemanha,se desafiasse, com sucesso, a Doutrina Monroe.4

    Os Estados Unidos e a Alemanha, desde fim do sculo XIX, j sehaviam tornado as duas maiores potncias industriais do mundo econseqentemente rivais. Porm, ao contrrio da Alemanha, que no

    possua qualquer domnio importante, ao qual pudesse estender o crculode consumo para o capital, os Estados Unidos dispunham de enormeespao econmico. As Amricas Central e do Sul, assim como o Caribe,configuravam uma espcie de colnia, a nica regio do mundo, em queno havia sria rivalidade entre as grandes potncias. L os EstadosUnidos eram, praticamente, soberanos e seufiattinha fora de lei,conforme o secretrio de Estado, Richard Olney, escreveu em 1895. E

    acrescentou que os infinite resources da Amrica (Estados Unidos),combinados com sua posio isolada, tornavam-na master of the

    3Amerika ist somit das Land der Zukunft, in welchem sich in vor uns liegenden Zeiten, etwaim Streite von Nord- und Sdamerika, die weltgeschichtliche Wichtigkeit offenbaren soll.HEGEL, G.W.F. Vorlesung ber die Philosophie der Weltgeschichte. In: Die Vernunft in derGeschichte. Hamburg: F. Meiner Verlag, 1994. Band 1, p. 209.4 MACKINDER, Sir Halford John. The Geographical Pivot of History, GeographicalJournal, Royal Geographical Society London, April 1904 , vol. XXIII pp. 436.

    A Amrica a terra do futuro, na qual, emtempos vindouros, haver algo como uma contenda

    entre a do Norte e a