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Beira do Rio - O que o Pará ganha, em termos de recursos financeiros para a pesquisa, com a criação de uma Fundação como a Fapespa? Ubiratan Holanda - A importância da Fapespa, no contexto do Estado, é que ela é um mecanismo que se tem para investimentos em ciência, tecno- logia e inovação e faz parte do Orça- mento do Estado oficialmente. O que se tinha antes era um fundo, o Funtec, que era praticado pelo Estado. O Fun- tec aplicava importâncias na média de R$ 4 milhões por ano para todos os investimentos em ciência e tecnolo- gia, até o ano passado. É uma quantia muito pequena. Com a instituição da Fapespa, ela participa do Orçamento do Estado em 1% da receita líquida corrente. Com isso, o valor que era aplicado em ciência e tecnologia no Estado aumentou significativamente e para este ano está em torno de R$ 23 milhões. Então, você vê o quanto a gente ganhou em investimento em ciência e tecnologia. Além disso, em nível nacional, existe uma série de programas de outros órgãos financia- dores que só são realizados por meio de fundações de amparo à pesquisa. Se você não tiver uma fundação de amparo à pesquisa do Estado, você não participa desses programas. A gente deixou de ter muitas oportu- nidades pelo fato de não existir a Fapespa. Era realmente uma coisa inconcebível. O Pará é um dos últimos Estados da federação a ter a sua fundação. Não dá para entender como é que o pesso- al tinha essa visão. Vamos ver se a gente recupera esse tempo todo perdido. BDR - Quais outros mecanismos existem para a implantação de uma política de ciência e tecnologia no Estado? Ubiratan Holanda - Hoje, no Estado, a base para a implantação de política de ciência, tecnologia e inovação não é só a Fapespa tem outras ações. O Sistema Paraense de Inovação (Sipi), por exemplo, prevê um modelo de desenvolvimento centrado em ciência e tecnologia para que a gente mude o nosso patamar de produção que é mui- to primário. A gente quer agregar co- nhecimento ao sistema produtivo para torná-lo mais competitivo também e, com isso, mudar o referencial. Para isso, entra o setor privado, as institui- ções de pesquisa e ensino e o próprio governo que faz a união de tudo isso, que estabelece as políticas e junta esse conjunto todo da sociedade na direção do desenvolvimento com agregação na área de ciência e tecnologia e ino- vação. A Fapespa, então passa a ser o mecanismo, o órgão do governo que tem esse objetivo de investimento em ciência e tecnologia. BDR - Qual é o modelo de de- senvolvimento que a Fapespa vai incentivar no Estado? Ubiratan Holanda - O modelo de desenvolvimento que vinha sendo praticado no Estado privilegiava um tipo de investimento mais primário. Com relação à mineração, por exem- plo, você tem hoje no sul do Pará, ci- dades como Marabá, onde, olhando assim como observador de fora, a impressão é de que está se desen- volvendo muita coisa circulando, recursos, pessoas, população aumentando. Mas é um desenvolvimento que não se susten- ta por muito tempo. Quando terminar o ciclo de exploração mineral, certamente, isso aí vai se refletir em prejuízos sociais e econômicos para o Estado. Você não vai conseguir manter BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Março, 2008 12 Entrevista Raimundo Sena A postando no crescimento econômico baseado num modelo de desenvol- vimento sustentável a partir do fortalecimento do sistema regional de ciência, tecnologia e inovação, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Pará – Fapespa, já lançou cinco editais para financiar a pesquisa no Estado e vai lançar mais 20 até o final do ano. Criada no final do ano passado, a Fapespa nasce com um orçamento de R$ 23.315.290,00, que corresponde quase a seis vezes mais ao que era investido até o ano passado, algo em torno de R$ 4 milhões. A meta é fomentar, até 2010, a formação de 300 mestres e 200 doutores por ano. Doutor em Engenharia Elétrica pela UFRJ, o professor do Departamento de Engenharia Elétrica e Computação da UFPA, Ubiratan Holanda Bezerra, aceitou o desafio de ser o primerio diretor presidente da Fapespa. essa estrutura. O que a gente quer é exatamente agregar ao sistema pro- dutivo maneiras de ele se sustentar, por meio de inovação, tecnologia. Temos que colocar mais tecnologia no processo produtivo. E com isso, a mi- neração continua, mas você consegue trabalhar outra cadeia agregada que se mantém por si só porque trabalha com maior valor agregado, maior conheci- mento, maior tecnologia agregada. E aí, você já passa a exportar produtos com outro valor. BDR - O orçamento com que o senhor está trabalhando dá para cumprir a meta estabelecida para a Fapespa? Ubiratan Holan- da - O orçamento deste ano, em torno de R$ 23 milhões, é o orçamento que a Fapespa tem do Estado. Claro que, comparando com o que vinha sendo in- vestido até agora, é um valor signifi- cativo, mas não é suficiente ainda para cobrir todas as priori- dades que nós temos em termos de inves- timentos em ciência e tecnologia. Só que a gente consegue do- brar ou até triplicar esse valor por meio de parcerias que po- demos firmar com outros órgãos de financiamento como o CNPq, Capes, BNDES, Finep, grande empresas como a Vale e Eletronorte. Você tem que ter recursos próprios para poder ter as contrapartidas. Então, a gente pensa realmente em dobrar este orça- mento em pouco tempo. Já temos até algumas parcerias acertadas nessa direção e isso sinaliza que não vai ser difícil a gente dobrar o orçamento de 2008 da Fapespa. Com relação aos programas de bolsas, nós lançamos agora cinco editais que estão na página da Fapespa (WWW.fapespa. pa.gov.br) e, até o final do ano, nós devemos lançar em torno de 20 edi- tais. Com relação à nossas metas, o nosso planejamento para mestrado e doutorado este ano é trabalhar com 100 bolsas de mestrado e 80 bolsas de doutorado, que já é um número significativo. Em quatro anos, nós pensamos em chegar ao patamar de 300 bolsas para mestrado e 200 bolsas de doutorado com recursos próprios da Fapespa. Já é uma coisa bem significativa se colocar no mer- cado todo ano 200 doutores. Isso vai mudar completamente o panorama. Hoje, a instituição que mais forma doutores, a UFPA – não tenho os números precisos -, mas forma em torno de 50 doutores por ano. Com esses investimentos próprios da fundação, nós atingimos um patamar significativo. E além disso, vão ter ainda os recursos que vêm do CNPq, da Capes para a ampliação dos programas. A idéia é ter um quadro de RH (recursos humanos) altamente qualifica- do no Estado para um desenvolvimen- to com ciência, tec- nologia e inovação. Se não tiver um RH especializado, você não consegue fazer isso. BDR - Quais são as prioridades da Fapespa? Ubiratan Holanda - A Fapespa tem várias prioridades, uma delas, é formação de RH, outra é o apoio a eventos científicos e tec- nológicos, a publicação de revistas, projetos de pesquisas estruturantes com rede de pesquisa. A gente tem um elenco grande de apoio. Também tem apoio a laboratórios especializados; atender a cadeias produtivas; apoio a parques tecnológicos, uma ação do governo que está sendo implementada agora, são três parques tecnológicos no Estado. Então, a Fapespa atua em todas as áreas do conhecimento, na formação de recursos humanos e no financiamento de infra-estrutura para pesquisa de forma resolver questões que são de interesse do Estado. Biotecnologia para Amazônia Centro guarda raridades dos séculos XVIII e XIX MARI CHIBA MARI CHIBA MARI CHIBA O Centro de Memória da Amazônia surgiu a partir de um convênio, assinado em janeiro de 2007, entre a UFPA e o Tribunal de Jus- tiça do Estado (TJE), que cedeu a documentação de natureza civil e criminal que integrava o arquivo morto do órgão. Parte do acervo, que abrange documentos desde os finais do século XVIII até 1970, já está à disposição da comunidade. Pág. 9 Pesquisadores da UFPA querem produzir biomoléculas, entre elas o etanol, a partir do rejeito da indústria da mandioca como alternativa ao problema am- biental causado pela devastação de imensas áreas para cultivo da cana-de-açúcar utilizada na produção de álcool. O Projeto prevê produção de biomoléculas e álcool em Moju. A biotecnologia também poderá ser usada para o tratamento de Aids e leishmaniose. Págs. 6 e 7 Qualidade de vida é fundamental Assunto foi tema da Jornada de Estu- dos e Pesquisas sobre Envelhecimento Humano na Amazônia promovida pela Faculdade de Serviço Social. Pág. 11 Fapespa quer economia sustentável O diretor presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Pará - Fapespa, Ubiratan Ho- landa, diz que é preciso fortalecer o sistema regional de ciência, tec- nologia e inovação. Pág. 12 Desinformação é aliada da doença Pág. 3 Minhocas também dão bons lucros Pág. 9 É no Laboratório de Desenvolvimento e Planejamento de Fármacos, um centro de ponta em biotecnologia e simulação computacional, que a pesquisa é feita O Centro de Memória da Amazônia restaura documentos raros Ubitaran Holanda: mais tecnologia ISSN 1982-5994 JORNAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ • ANO V • N o 59 • MARÇO, 2008 “A gente ganhou muito com a Fapespa” Memória Envelhecimento Entrevista Hanseníase Pesquisa FOTOS MARI CHIBA “Vamos dobrar o orçamento” Ubiratan Holanda: “Temos que colocar mais tecnologia no processo produtivo” Fapespa, um salto de qualidade para o futuro Fundação pretende fortalecer o sistema regional de ciência, tecnologia e inovação

Beira 59

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Beira do Rio edição 59

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Beira do Rio - O que o Pará ganha, em termos de recursos financeiros para a pesquisa, com a criação de uma Fundação como a Fapespa?Ubiratan Holanda - A importância da Fapespa, no contexto do Estado, é que ela é um mecanismo que se tem para investimentos em ciência, tecno-logia e inovação e faz parte do Orça-mento do Estado oficialmente. O que se tinha antes era um fundo, o Funtec, que era praticado pelo Estado. O Fun-tec aplicava importâncias na média de R$ 4 milhões por ano para todos os investimentos em ciência e tecnolo-gia, até o ano passado. É uma quantia muito pequena. Com a instituição da Fapespa, ela participa do Orçamento do Estado em 1% da receita líquida corrente. Com isso, o valor que era aplicado em ciência e tecnologia no Estado aumentou significativamente e para este ano está em torno de R$ 23 milhões. Então, você vê o quanto a gente ganhou em investimento em ciência e tecnologia. Além disso, em nível nacional, existe uma série de programas de outros órgãos financia-dores que só são realizados por meio de fundações de amparo à pesquisa. Se você não tiver uma fundação de amparo à pesquisa do Estado, você não participa desses programas. A gente deixou de ter muitas oportu-nidades pelo fato de não existir a Fapespa. Era realmente uma coisa inconcebível. O Pará é um dos últimos Estados da federação a ter a sua fundação. Não dá para entender como é que o pesso-al tinha essa visão. Vamos ver se a gente recupera esse tempo todo perdido.

BDR - Quais outros mecanismos existem para a implantação de uma política de ciência e tecnologia no Estado?

Ubiratan Holanda - Hoje, no Estado, a base para a implantação de política de ciência, tecnologia e inovação não é só a Fapespa tem outras ações. O Sistema Paraense de Inovação (Sipi), por exemplo, prevê um modelo de desenvolvimento centrado em ciência e tecnologia para que a gente mude o nosso patamar de produção que é mui-to primário. A gente quer agregar co-nhecimento ao sistema produtivo para torná-lo mais competitivo também e, com isso, mudar o referencial. Para isso, entra o setor privado, as institui-ções de pesquisa e ensino e o próprio governo que faz a união de tudo isso, que estabelece as políticas e junta esse conjunto todo da sociedade na direção do desenvolvimento com agregação na área de ciência e tecnologia e ino-vação. A Fapespa, então passa a ser o mecanismo, o órgão do governo que tem esse objetivo de investimento em ciência e tecnologia.

BDR - Qual é o modelo de de-senvolvimento que a Fapespa vai incentivar no Estado?Ubiratan Holanda - O modelo de desenvolvimento que vinha sendo praticado no Estado privilegiava um tipo de investimento mais primário. Com relação à mineração, por exem-plo, você tem hoje no sul do Pará, ci-

dades como Marabá, onde, olhando assim como observador de fora, a impressão é de que está se desen-volvendo muita coisa circulando, recursos, pessoas, população aumentando. Mas é um desenvolvimento que não se susten-ta por muito tempo. Quando terminar o ciclo de exploração mineral, certamente, isso aí vai se refletir em prejuízos sociais e econômicos para o Estado. Você não vai conseguir manter

BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Março, 2008 – 12

Entrevista

Raimundo Sena

Apostando no crescimento econômico baseado num modelo de desenvol-vimento sustentável a partir do fortalecimento do sistema regional de ciência, tecnologia e inovação, a Fundação de Amparo à Pesquisa do

Estado do Pará – Fapespa, já lançou cinco editais para financiar a pesquisa no Estado e vai lançar mais 20 até o final do ano. Criada no final do ano passado, a Fapespa nasce com um orçamento de R$ 23.315.290,00, que corresponde quase a seis vezes mais ao que era investido até o ano passado, algo em torno de R$ 4 milhões. A meta é fomentar, até 2010, a formação de 300 mestres e 200 doutores por ano. Doutor em Engenharia Elétrica pela UFRJ, o professor do Departamento de Engenharia Elétrica e Computação da UFPA, Ubiratan Holanda Bezerra, aceitou o desafio de ser o primerio diretor presidente da Fapespa.

essa estrutura. O que a gente quer é exatamente agregar ao sistema pro-dutivo maneiras de ele se sustentar, por meio de inovação, tecnologia. Temos que colocar mais tecnologia no processo produtivo. E com isso, a mi-neração continua, mas você consegue trabalhar outra cadeia agregada que se mantém por si só porque trabalha com maior valor agregado, maior conheci-mento, maior tecnologia agregada. E aí, você já passa a exportar produtos com outro valor.

BDR - O orçamento com que o senhor está trabalhando dá para cumprir a meta estabelecida para a Fapespa?Ubiratan Holan-da - O orçamento deste ano, em torno de R$ 23 milhões, é o orçamento que a Fapespa tem do Estado. Claro que, comparando com o que vinha sendo in-vestido até agora, é um valor signifi-cativo, mas não é suficiente ainda para cobrir todas as priori-dades que nós temos em termos de inves-timentos em ciência e tecnologia. Só que a gente consegue do-brar ou até triplicar esse valor por meio de parcerias que po-demos firmar com outros órgãos de financiamento como o CNPq, Capes, BNDES, Finep, grande empresas como a Vale e Eletronorte. Você tem que ter recursos próprios para poder ter as contrapartidas. Então, a gente pensa realmente em dobrar este orça-mento em pouco tempo. Já temos até algumas parcerias acertadas nessa direção e isso sinaliza que não vai ser difícil a gente dobrar o orçamento de 2008 da Fapespa. Com relação aos programas de bolsas, nós lançamos agora cinco editais que estão na página da Fapespa (WWW.fapespa.pa.gov.br) e, até o final do ano, nós devemos lançar em torno de 20 edi-tais. Com relação à nossas metas, o

nosso planejamento para mestrado e doutorado este ano é trabalhar com 100 bolsas de mestrado e 80 bolsas de doutorado, que já é um número significativo. Em quatro anos, nós pensamos em chegar ao patamar de 300 bolsas para mestrado e 200 bolsas de doutorado com recursos próprios da Fapespa. Já é uma coisa bem significativa se colocar no mer-cado todo ano 200 doutores. Isso vai mudar completamente o panorama. Hoje, a instituição que mais forma doutores, a UFPA – não tenho os números precisos -, mas forma em torno de 50 doutores por ano. Com esses investimentos próprios da fundação, nós atingimos um patamar

significativo. E além disso, vão ter ainda os recursos que vêm do CNPq, da Capes para a ampliação dos programas. A idéia é ter um quadro de RH (recursos humanos) altamente qualifica-do no Estado para um desenvolvimen-to com ciência, tec-nologia e inovação. Se não tiver um RH especializado, você não consegue fazer isso.

BDR - Quais são as prioridades da Fapespa?Ubiratan Holanda

- A Fapespa tem várias prioridades, uma delas, é formação de RH, outra é o apoio a eventos científicos e tec-nológicos, a publicação de revistas, projetos de pesquisas estruturantes com rede de pesquisa. A gente tem um elenco grande de apoio. Também tem apoio a laboratórios especializados; atender a cadeias produtivas; apoio a parques tecnológicos, uma ação do governo que está sendo implementada agora, são três parques tecnológicos no Estado. Então, a Fapespa atua em todas as áreas do conhecimento, na formação de recursos humanos e no financiamento de infra-estrutura para pesquisa de forma resolver questões que são de interesse do Estado.

Biotecnologia para Amazônia

Centro guarda raridades dos séculos XVIII e XIX

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O Centro de Memória da Amazônia surgiu a partir de um convênio, assinado em janeiro de 2007, entre a UFPA e o Tribunal de Jus-tiça do Estado (TJE), que cedeu a documentação de natureza civil e

criminal que integrava o arquivo morto do órgão. Parte do acervo, que abrange documentos desde os finais do século XVIII até 1970, já está à disposição da comunidade. Pág. 9

Pesquisadores da UFPA querem produzir biomoléculas, entre elas o etanol, a partir do rejeito da indústria da mandioca como alternativa ao problema am-biental causado pela devastação de imensas áreas para cultivo da cana-de-açúcar

utilizada na produção de álcool. O Projeto prevê produção de biomoléculas e álcool em Moju. A biotecnologia também poderá ser usada para o tratamento de Aids e leishmaniose. Págs. 6 e 7

Qualidade de vida é fundamentalAssunto foi tema da Jornada de Estu-dos e Pesquisas sobre Envelhecimento Humano na Amazônia promovida pela Faculdade de Serviço Social. Pág. 11

Fapespa quer economiasustentávelO diretor presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Pará - Fapespa, Ubiratan Ho-landa, diz que é preciso fortalecer o sistema regional de ciência, tec-nologia e inovação. Pág. 12

Desinformação é aliada da doença Pág. 3

Minhocas também dão bons lucros Pág. 9

É no Laboratório de Desenvolvimento e Planejamento de Fármacos, um centro de ponta em biotecnologia e simulação computacional, que a pesquisa é feita

O Centro de Memória da Amazônia restaura documentos raros

Ubitaran Holanda: mais tecnologia

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JORNAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ • ANO V • No 59 • MARÇO, 2008

“A gente ganhou muito

com a Fapespa”

Memória Envelhecimento

Entrevista

Hanseníase

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“Vamosdobrar o

orçamento”

Ubiratan Holanda: “Temos que colocar mais tecnologia no processo produtivo”

Fapespa, um salto de qualidade para o futuroFundação pretende fortalecer o sistema regional de ciência, tecnologia e inovação

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Um dos eixos do Plano de Desenvolvimento da UFPA – 2001-2010, aprovado desde

2002 pelo Conselho Universitário, destaca a necessidade da reestru-turação do ensino de graduação na Instituição. Durante cerca de quatro anos, o Fórum de Graduação – espaço colegiado criado pela PROEG, com a reunião de todos os coordenadores de cursos de graduação, dirigentes de unidades acadêmicas e especia-listas convidados, com a finalidade de debater temas e indicar propostas à melhoria do ensino de graduação – debruçou-se sobre a matéria e encaminhou, finalmente, à Reitoria, para fins de deliberação superior, o arcabouço de um projeto inovador de reforma, consubstanciado num sólido documento intitulado Regulamento da Graduação, aprovado pelo CON-SEPE em dezembro passado, que estabelece os princípios e as bases normativas de todo esse desafiador empreendimento.

Sim, a concepção de um novo paradigma para o ensino de graduação se apresenta como um dos maiores de-safios à universidade contemporânea. Em tempos de mudanças ininterruptas dos referenciais do conhecimento tradicional (em todos os campos e domínios do saber), de interdiscipli-naridade crescente, de educação conti-nuada e de novas fontes e tecnologias

de comunicação e informação, a idéia tradicional de “formatura” (inspirada naquela de “graduação”) perde o seu sentido. De fato, nunca mais se saberá tudo sobre alguma coisa; o conhecimento adquirido torna-se, a cada dia e em grande parte, obsoleto. Ninguém mais estará definitivamente “formado”. Impõem-se, pela dinâmica social, novos paradigmas educacio-nais – e dos graus e níveis de formação –, com as respectivas reorientações pedagógicas.

O grande desafio da educação superior em nosso tempo – como assinala Jorge Brovetto – é aquele da capacidade de adaptação ágil e eficiente às mudanças, demandas e necessidades reais da sociedade, formando para o desconhecido. O exercício permanente do aprender a aprender – portanto, o método e não a matéria ou a temática em si – passa a ser o foco do processo formativo, o fundamento da aprendizagem.

Conceber as ações acadêmicas sob esse novo paradigma de formação exige, dentre outras medidas, a for-mulação de uma política pedagógica que articule, de forma inovadora, o ensino, a pesquisa e a extensão. A Universidade deve inaugurar um novo modelo para a graduação em que os alunos passem a desenvolver, de fato, atividades de aprendizagem outrem que nas salas de aula, por meio

de sua participação em projetos de pesquisa e em programas de extensão, consolidando, assim, a sua formação universitária de forma interdisci-plinar, multidimensional, reflexiva, engajada, habilitados, então, a lidar com problemas práticos por meio da associação inteligente e criativa do conhecimento e da técnica.

Toda essa metamorfose preten-dida exige, de saída, maior flexibilida-de do regime acadêmico. Isso porque o contato com a realidade, o envolvi-mento em atividades práticas, o treina-mento de habilidades, os experimen-tos sociais e profissionais, a iniciação científica no laboratório de pesquisa, os compromissos comunitários da extensão, os deslocamentos entre os espaços de inserção, os estágios, etc. exigem continuidade e concentração das tarefas no tempo, foco de atenção, envolvimento intelectual e emotivo, exigências que não podem ser satis-feitas por um modelo de distribuição das atividades acadêmicas ao alunado segundo padrão de rigidez pedagógica e contábil, dependente exclusivamen-te do vínculo puro e simples à sala de aula, com distribuição inflacionada e paralela de disciplinas ao longo de todo um período extenso (semestral ou anual) de formação.

No mundo em que vivemos, apenas a sala de aula não oferece mais a possibilidade do acesso adequado

à informação e à passagem desta ao conhecimento. A ambientação múlti-pla e diversificada da aprendizagem passa a ser um dos objetivos centrais de todo e qualquer projeto pedagó-gico inovador. Não serão formados profissionais empreendedores ou intelectuais criativos por meio de métodos e técnicas de ensino que não ultrapassem a repetição, a mimese ou a simples clonagem da informação. As motivações ao aprendizado, a sede de desenvolvimento pessoal e grupal, a formulação de novos problemas, a capacidade para questionar, criticar, compreender e inovar, esse conjun-to de habilidades e competências decorre, sempre, da ambientação da aprendizagem e das oportunidades de aprender a aprender, sob orientação do docente, por conta própria.

O novo Regulamento da Gra-duação da UFPA aponta e abriga todas essas possibilidades. Caberá a cada subunidade acadêmica, com o apoio da PROEG, a tarefa, por vontade coletiva, de querer inovar e avançar. Aos poucos surge um novo paradigma institucional: a univer-sidade que pesquisa porque ensina cede lugar à universidade que ensina porque pesquisa; assim como o estu-dante que mimetiza porque copia é substituído por aquele que aprende e inova porque investiga. Resgata-se a qualidade.

Cerca de 50 mil cidadãos com-põe a Universidade Federal do Pará, mais que a maioria

dos municípios paraenses. Trata-se de uma “cidade” especial, que existe em rede, interligando inúmeros pólos, interconectada permanentemente ao mundo, em tempo real. São conceitos emitidos pelo Reitor Alex Fiúza de Mello, em recente entrevista. Existe, entretanto, uma cidade materialmente real, centro de decisões da UFPA, si-tuada em Belém, na orla do Rio Gua-má. É a cidade Universitária Professor José da Silveira Neto, com cerca de 450 ha de área urbana especial, onde circulam diariamente cerca de 45 mil cidadãos, demandando os mais diversos serviços e aspirações.

Na urbe universitária são exer-cidas funções diversas, como presta-ção de serviços em áreas como a saú-de, lazer e cultura para comunidades do entorno, localizadas em bairros com os mais baixos IDH de Belém. Inúmeras atividades de prestações de serviços formais e informais são exercidas na área, que mesmo tendo gestão federal, mantém caracterís-ticas de cidade aberta, integrada a toda sociedade. Esta diversidade de

funções justifica conflitos de interes-ses e prioridades existentes. Cabe à Administração Superior da UFPA, tendo como instrumento a Prefeitura, mediar conflitos, ordenando espaços, implantando políticas públicas sus-tentáveis com visão de futuro.

Nossa Cidade Universitária sofre de pressões relativas ao cres-cimento, considerado vigoroso em termos quantitativos e qualitativos. Não foi possível, apesar dos pesados investimentos em espaços físicos nos últimos anos, implantar um planeja-mento adequado do espaço urbano e em infra-estrutura, gerando conflitos e insatisfações de parte dos usuários da comunidade universitária. A atual administração universitária optou em sair do vermelho em termos de espaço físico. As legítimas aspirações dos dirigentes de unidades, para abrigar os novos cursos de graduação, pós-graduação e projetos de pesquisa, teriam que ser atendidas, mesmo que as áreas construídas não fossem harmônicas e que espaços coletivos fossem ocupados.

A decisão da administração superior é de revitalizar a urbaniza-ção da Cidade Universitária, bem

como estabelecer diretrizes para o crescimento e novas demandas das próximas décadas. Dessa forma, torna-se necessário a elaboração do arcabouço institucional de controle urbanístico, a criação de estruturas para implementação e gerenciamento dos planos e investimentos imediatos em infra-estrutura. Algumas ações já estão em andamento, como a elabora-ção do Plano de Desenvolvimento Ur-bano Participativo – PDU, o Código de Posturas, a elaboração do Projeto de Esgotos Sanitário, a avaliação com vistas à implantação e melhoria do suprimento de água, a implantação da gestão integrada do sistema de limpeza urbana.

O Código de Posturas já está concluído no âmbito da Prefeitura e será encaminhado para instância da Administração Superior. Os desta-ques referem-se ao controle ambien-tal, execução de obras e serviços, atividades comerciais, emissões so-noras, realização de eventos, limpeza urbana, segurança e controle.

Já foram contratadas as obras de drenagem pluvial em áreas críticas. Um amplo processo de desobstrução mecanizada das redes existentes está

em andamento. As obras de implanta-ção integrada de passarelas, calçadas e estacionamentos são importantes contribuições para a mobilidade e acessibilidade.

O PDU Participativo, já em processo de elaboração e com me-todologia já definida, deverá estar concluído e implementado até o final de 2008. Definirá a visão de futuro e a revitalização da área edificada, apri-morando o paisagismo e os espaços públicos. Terá base legal e institucio-nal, observados os procedimentos me-todológicos e fundamentos históricos, institucionais e físicos.

Um projeto especial com forte interface com o PDU é o de Conten-ção, Aterro e Urbanização da Orla do Guamá. Comissão já criada resgata estudos existentes, para elaboração do projeto de engenharia, objetivando captar recursos para início das obras. A presente agenda positiva elaborada pela Prefeitura, em conjunto com a Administração superior, certamente irá transformar de maneira sustentá-vel a qualidade de vida da comuni-dade universitária e dos usuários da Cidade Universitária Professor José da Silveira Netto.

BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Março, 2008 – 2 BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Março, 2008 – 11

Coluna do REITOR

OPINIÃO

Reestruturação da graduação na UFPA

Urbanização da Cidade Universitária

Alex Fiúza de Mello

Luiz Otávio Mota Pereira - Prefeito da Cidade Universitária José da Silveira Netto

[email protected]

Rua Augusto Corrêa no 1 - Belém/[email protected] - www.ufpa.br

T 91 3201-7577

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

Reitor: Alex Bolonha Fiúza de Mello; Vice-reitora: Regina Fátima Feio Barroso; Pró-reitora de Administração: Simone Baía; Pró-reitor de Planejamento: Sinfrônio Brito Moraes; Pró-reitor de Ensino de Graduação: Licurgo Peixoto de Brito; Pró-reitora de Extensão: Ney Cristina Monteiro de Oliveira; Pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação: Roberto Dall´Agnol; Pró-reitora de Desenvolvimento e Gestão de Pessoal: Sibele Bitar Caetano; Prefeito do Campus: Luiz Otávio Mota Pereira. Assessoria de Comunicação Institucional JORNAL BEIRA DO RIO Coordenação: Luciana Miranda Costa; Edição: Raimundo Sena; Reportagem: Ericka Pinto / Walter Pinto / Raimundo Sena/Ana Cristina Trindade; Fotografia: Mari Chiba / Manoel Neto; Produção: João Luiz de Freitas; Texto: Shamara Fragoso; Hellen Pacheco; Augusto Rodrigues; Secretaria: Elvislley Chaves / Gleison Furtado; Beira on-line: Gerson Neto; Revisão: Glaciane Serrão (Ascom) / Marcelo Brasil (Editora Ufpa); Arte e Diagramação: Omar Fonseca, Impressão: Gráfica Ufpa.

Qualidade de vida é o que mais importaJornada de Estudos e Pesquisas sobre Envelhecimento Humano na Amazônia

Envelhecimento

Ericka Pinto

Com o crescimento da população idosa em escala mundial, a pre-ocupação que surge em fóruns

de discussão - que reúnem pesquisado-res, estudantes e sociedade em geral - é como o envelhecimento humano está sendo tratado do ponto de vista bio-psico-social em pleno século XXI. O assunto foi tema da VI Jornada de Estu-dos e Pesquisas sobre Envelhecimento Humano na Amazônia, promovida pela Faculdade de Serviço Social, por meio do Programa Universidade da Terceira Idade (Uniterci) e do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Envelhecimento Humano na Amazônia (Senectus), da Universidade Federal do Pará.

O encontro ocorreu no período de 12 a 16 de fevereiro, no auditório do Centro de Capacitação (Capacit), na Cidade Universiária Prof. José da Silveia Netto, em Belém. A VI Jornada foi aberta pelo médico amazonense Eu-ler Ribeiro, PhD em Gerontologia, que abordou em sua conferência a questão da qualidade de vida como fator prepon-derante para uma velhice saudável. “En-velhecer com qualidade implica não só no modo de vida saudável, mas também na relação social, familiar e de trabalho que se estabelece”, explica Euler que completa “aquela discriminação que se tem com as pessoas de cabelo branco e cara enrugada tem que acabar, pois são pessoas que detém conhecimento e ex-periência de vida que podem contribuir e muito para a sociedade”, conclui.

Para entender melhor os desafios e as perspectivas de envelhecer com qualidade de vida, o médico amazo-nense iniciou em 2000 uma pesquisa que resultou em sua tese de doutorado intitulada “O Envelhecimento do Ho-mem da Floresta”, que faz referência ao homem amazônico.

A pesquisa foi feita no interior do Amazonas, na zona ribeirinha e den-tro da floresta, onde foram analisados os aspectos cognitivos, a bioquímica do sangue e a relação intersocial de 5 mil homens. Euler identificou em seu trabalho diferenças significativas entre o homem amazônico e de outras regiões do Brasil. O primeiro é mais paciente, sofre menos de depressão e pressão arterial; é mais sujeito a apresentar diabete porque ingere mui-to açúcar e é mais sujeito às doenças articulares, provocadas pela atividade que exerciam como a colheita da juta, o curtume e a pesca.

Para Euler Ribeiro, esse estudo poderá contribuir para a formação de uma massa crítica de profissionais de diversas áreas como médicos, cientis-tas, enfermeiros, assistentes sociais, nutricionistas, administradores, advo-gados, para que possam prestar melhor assistência ao idoso. Ribeiro alertou para os cinco gigantes da Geriatria: instabilidade postural, iatrogenia (alteração patológica provocada por procedimento médico errado), incon-tinência urinária e fecal, insuficiência cerebral e imobilidade provocada por fraturas ou por um Acidente Vascular Cerebral (ACV).

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n As relações entre gerações

A relação entre as gerações em grupos de Boi Bumbá, do bairro do Guamá, em Belém, é o foco da pesquisa coordenada pela assis-tente social, Heliana Baia Evelin. O trabalho - iniciado em julho de 2007, com o apoio do CNPq - foi apresentado durante a VI Jornada de Estudos sobre o Envelhecimento Humano na Amazônia e tem o ob-jetivo de conhecer a funcionalidade dos grupos de folclore, em particu-lar, o Boi Bumbá, e a inter-relação de gerações através dessa cultura popular.

Segundo Heliana, por meio da pesquisa pretende-se identificar qual a representação que os grupos de Boi Bumbá têm para crianças, jovens, adultos e idosos e como estão conseguindo sobreviver. Um dos problemas já identificados e que podem ameaçar a existência dessa cultura popular é a falta de es-paço para ensaios. “Essa pesquisa nos dará informações importantes para articularmos junto ao Minis-tério da Cultura a criação de um Espaço de Cultura no bairro para a apresentação e permanência desses grupos folclóricos”, afirmou.

n Acessibilidade e Políticas públicas

O conhecimento e experiência dos idosos podem contribuir para a sociedade

fotos MARI CHIBA

exercícios físicos

Outro convidado foi o en-genheiro civil, Manoel Peres, que abordou em sua palestra a questão da acessibilidade do idoso em locais e transportes públicos da cidade de Belém. Para o engenheiro, as cidades se planejam para o carro e não para o indivíduo. “O semáforo, por exemplo, tem o tempo estabelecido em função do trânsito do automóvel, e não do pedestre. A velocidade do idoso chega a ser dez vezes menor do que a estabe-lecida pelo semáforo”, analisa.

O trabalho do engenheiro se baseou em um estudo de caso, no qual foram analisados locais de grande circulação como praças, en-trada de prédios, via públicas como a avenida Duque de Caxias, além dos transportes coletivos como os ônibus que trafegam na grande Belém. “Há muitos profissionais capacitados para desenvolver um bom trabalho na cidade, mas o que falta realmente é planejamento e vontade política de se pensar no coletivo e nas necessi-dades de quem precisa”, critica Pe-res. Para ele, as obras visam apenas a propaganda política, de mostrar à sociedade que os governantes estão fazendo alguma coisa.

Para a coordenadora do pro-grama Uniterci, Nazaré Machado, os estudos realizados pelas universida-des podem contribuir bastante para as

ações de políticas públicas voltadas para esse segmento da população, que vem crescendo aceleradamente em todo o mundo nos últimos anos. Ela diz que apesar da existência de leis de proteção ao idoso, ainda há muito o que fazer para garantir os direitos e melhor qualidade de vida.

Esse crescimento está relacionado à expectativa de vida do idoso. No Brasil, o último censo divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), sobre a mé-dia de vida, passou de 68 para 72,3 anos. “Diante desses indicadores, a formação de recursos humanos ca-pacitados para lidar com a demanda de idosos tem sido uma das preocu-pações do meio científico. A univer-sidade tem esse caráter de preparar a mão-de-obra e construir elementos de cunho científico sobre a questão do envelhecimento”, explica.

Em 2005, o Grupo Senec-tus realizou uma pesquisa sobre a produção de trabalhos científicos apresentados na Reunião da Socie-dade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Fortaleza (CE). O Senectus descobriu que, dos cinco mil trabalhos científicos apresentados, só 1% tratava sobre envelhecimento humano e, a maioria, na área da saúde.

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A jornada sobre envelhecimento incluiu atividades como oficina de dança e ...

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Laïs Zumero

Quando Fernando Pessoa, o grande poeta português, chamou Pe. António Vieira

de Imperador da Língua Portuguesa, estava homenageando o maior orador das letras lusas, autor de mais de 200 sermões e 800 cartas.

Lisboeta, que na pia batismal recebe o nome de Fernando, quando é admitido na ordem dos Jesuítas adota o de Frei Antônio, em honra a Sto. Antônio Magno, muito venerado na Europa.

Vieira, desde os seis anos, vive o Brasil, incorpora sua realidade, toma a defesa dos índios, é perseguido, des-terrado e preso. E, sempre destemido lutador, atravessou o Atlântico (Brasil e Europa) sete vezes, percorreu milhares de quilômetros a pé ou de piroga pela floresta, rios e mares. Na Ba-hia e na Europa estu-dou com brilhantismo Teologia, Filosofia, Humanidades; falava fluentemente sete lín-guas indígenas.

Profeta, políti-co, filósofo, orador brilhante, literato sin-gular, os sermões são o principal título de glória de Vieira.

U m h o m e m maior que sua obra e uma alma maior que o corpo, gigante no

verbo e na ação. (João Mendes)

Os textos envolventes, a des-peito de terem sido escritos no século XVII, são de uma impressionante atualidade, per-passam a Antropo-logia, a História, a Política. Verda-deiras lições de justiça, dignidade, honradez, hones-tidade. Vieira fala do amor, da ver-dade, da mentira, da hipocrisia, da corrupção, ante-cipa a Lingüística indígena, a Psi-canálise.

Neste 2008, comemora-se os 400 anos do nascimento de Vieira e a UFPA, anunciando este evento, antecipou-se e fez dele o tema de seu calendário, além de publicar a obra “Para Refletir com Pe. António Vieira”.

Este Breviarium é uma pequena mostra da grandiosidade e profundidade das reflexões de Antônio Vieira que só uma estudiosa bibliófila com a sen-sibilidade de Amarílis Tupiassu podia recolher dos, talvez, mais de duzentos densos sermões.

Foram dez anos de leitura, recolha, hesitação e escolha de fragmentos (uma compilação de 636 textos). A partir daí é refletir, conferir a pertinência dos textos, deleitar-se com eles e então ler os sermões em sua integralidade.

BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Março, 2008 – 10

Livraria do Campus: Rua Augusto Corrêa, nº1, Campus Universitário do GuamáTelefax (91) 3201-7965 - Fone (91) 3201-7911. Livraria da Praça: Instituto de Ciências da Arte da UFPA Praça da República s/n - Fone (91) 3241-8369

O calendário e o livro Breviarium: Uma pequena mostra da grandiosidade e profundidade das reflexões de Antônio Vieira recolhida pela estudiosa

bibliófila Amarílis Tupiassu

BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Março, 2008 – 3

Desinformação é a maior aliada da doençaBoa parte dos 47 mil brasileiros infectados, a cada ano, residem no Pará

Hanseníase

“Confesso sem rebuço nem

vergonha... Não há trecho de

Chateaubriand ou canto de Lamartine – trechos que tantas vezes parecem ser a voz do que eu penso,

cantos que tantas vezes parecem ser-me ditos para conhecer

– que me enleve e me erga como um trecho da prosa de Vieira”.

VIEIRA, POR FERNANDO PESSOA

Shamara Fragoso

Segundo dados do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase

(Morhan), 47 mil brasileiros são infectados pela doença, a cada ano. O Estado do Pará tem parcela signi-ficativa de habitantes incluídos nesta estatística. A maior parte dos casos se concentra no município de Mari-tuba que, na última pesquisa, reali-zada em 2005, apareceu em primeiro lugar com 1.703 casos registrados, só no primeiro semestre.

O assunto despertou a atenção do pesquisador José Bittencourt, integrante do Núcleo de Altos Estu-dos Amazônicos (Naea) da Univer-sidade Federal do Pará. No artigo

“Hanseníase, Preconceito e Resis-tência: Um Enfoque na Colônia de Hansenianos (as) de Marituba”, ele expõe vários aspectos históricos e sociais da doença.

A Colônia de Marituba é re-corte vivo de um período da história do Brasil, em que a hanseníase era combatida por meio de políticas públicas de isolamento dos por-tadores do bacilo de Hansen (que desenvolve a doença). Vários locais semelhantes a esse foram espalhados pelo país com o objetivo de prevenir a epidemia. Mas o que ocorria, na verdade, era uma segregação dos “leprosos” - como eram pejorati-vamente chamados na época - do restante da população.Eles eram afastados de suas famílias, de seus

empregos e, raramente, voltavam ao pleno convívio social.

A hanseníase é caracterizada por manifestações dermatológicas e neurológicas, que se manifestam a longo prazo e atingem os nervos periféricos dos membros e da face, promovendo a perda das funções sensitivas e motoras do organismo. Sua transmissão acontece por via aérea, contudo, o risco de contágio acaba, assim que o tratamento é iniciado. Após a criação da poliqui-mioterapia, hoje considerada o tra-tamento padrão para os hansenianos, os Estados e municípios começaram a desfazer as colônias e reunificar a população. No caso da Colônia de Marituba, a abertura aconteceu na década de 80.

n URGÊNCIAS EM EN-DOCRINOLOGIA E ME-TABOLISMO - Diagnósti-co, tratamento em criança, no adulto e na gestante - João Felício.

n VELHICE CIDADÃ - Um Processo em Constru-ção - Heliana Bahia Evelin (Org).

n JOSÉ VERÍSSIMO - RAÇA, CULTURA E EDU-CAÇÃO - Sônia Maria da Silva Araújo (Org)

PRÓXIMOS LANÇAMENTOS

Em alguns lugares, essa rees-truturação se deu de forma natural, mas em outros, como em Marituba, o isolamento deixou marcas que permanecem até hoje. “No caso da Colônia de Marituba, a segregação compulsória dos doentes fez surgir um enclave sócio-cultural bastante expressivo no município, com ca-racterísticas próprias que deixaram marcas indeléveis nos atuais bair-ros constituintes do antigo local”, explica Bittencourt em seu artigo. Ele cita o Círio de Marituba, que acontece todo segundo domingo de novembro e que foi criado pelos internos na tentativa de reproduzir

o Círio de Belém.O preconceito da população,

ocasionado principalmente pela falta de informação correta sobre a forma de contaminação e a pro-filaxia da hanseníase, provocou o afastamento de grande parte dos internos da Colônia de Marituba, após sua abertura. Ainda hoje, alguns dos próprios doentes não têm conhecimento exato dos seus direitos. O pesquisador José Bit-tencourt distribuiu um texto com informações gerais sobre a doença para a comunidade, pois não havia nenhum material no local que pu-desse orientar a população. “Para

se ter uma idéia, alguns proble-mas de perdas de membros pelos hansenianos, acontecem porque eles acham que a água, de alguma maneira, pode deixar o tecido mais maleável, por isso eles evitam lavar e passar sabão no local. Eles preci-savam, simplesmente, que alguém dissesse a eles que sabão e água não fazem mal para a doença e que, pelo contrário, é indispensável que eles tomem banho”, esclarece.

O artigo alerta para a neces-sidade de campanhas informativas eficientes e duradouras e não so-mente a promoção de caçadas ao microrganismo.

A Unidade de Referência Especializada em Dermatologia Sanitária “Dr. Marcelo Cândia” e o Abrigo João Paulo II são exemplos de iniciativas que se dedicam a atender os hansenianos que vivem em Marituba e nos seus arredores.

A URE “Dr. Marcelo Cân-dia” presta assistência ambulatorial aos infectados e oferece treinamen-to para os profissionais de saúde no controle da hanseníase no Estado. O Abrigo João Paulo II atende cerca de 140 idosos portadores de defici-ências físicas em conseqüência da

hanseníase, eles são ex-internos da Colônia de Marituba, que foram abandonados pela família. Os ido-sos recebem auxílio ambulatorial e asilar, além de serem atendidos por uma equipe multiprofissional, formada por médicos, enfermeiros, assistentes sociais, nutricionistas, dentre outros.

Ambas as instituições ofe-recem atividades de capacitação voltadas para os pacientes atingi-dos pela hanseníase, visando sua reinserção no mercado de traba-lho. Grande parte dessas pessoas

acabam sendo introduzidas nas próprias instituições, trabalhando na área de auxílio administrativo ou em serviços manuais. Elas tam-bém prestam serviço à população por meio de palestras informativas sobre a prevenção e os cuidados que devem ser tomados para evitar as complicações da doença. São dis-cutidas ainda em escolas, empresas e centros comunitários, as questões biopsicossociais da hanseníase, na tentativa de evitar o preconceito e as informações equivocadas sobre os portadores.

Ericka Pinto

As fábulas e histórias foram métodos usados pela estudante de Filosofia, Alessandra Nogueiras, para despertar nos alunos do ensino fundamental a reflexão sobre algumas questões filosóficas. Sob a orientação da professora Elisabeth Assis, ela buscou aprofundar seus conhecimen-tos através do projeto “Licenciaturas: ações integradas em busca da forma-ção interdisciplinar”, da Pró-Reitoria de Ensino e Graduação. O projeto faz parte do Programa de Consolidação das Licenciaturas (Prodocência), da Secretaria de Educação Superior, do Ministério da Educação (MEC) que busca a melhoria da qualidade da graduação a parir do ensino dos cursos de licenciatura e da formação de professores

O projeto reúne um conjun-to de informações sobre práticas didático-pedagógicas que poderão subsidiar as práticas de ensino dos alunos e professores dos cursos de graduação, em especial das licen-ciaturas, na Cidade Universitária de Belém, além de estimular o aluno para carreira docente.

Iniciado em novembro do ano passado, o projeto já apresenta alguns resultados. “O meu trabalho se deu em três momentos. Primeiro fiz uma pesquisa de livros didáticos e paradidáticos, em seguida, selecionei fábulas em que eu pudesse trabalhar temas como, por exemplo, o que é mentira e verdade; e por fim produzi textos alternativos e exercícios que utilizassem esses conceitos filosófi-cos”, explicou Alessandra.

A experiência de Alessandra foi relatada durante a reunião de avaliação das ações pedagógicas de-senvolvidas por meio do projeto. O encontro ocorreu no final de janeiro entre representantes da Pró-Reitoria de Ensino e Graduação (Proeg), pro-fessores e alunos da Universidade Federal do Pará.

De acordo com a responsável pelo projeto, Sônia Lhamas, a pro-posta de desenvolver ações didático-pedagógicas para integrar as licen-ciaturas na formação do professor foi considerada alcançada neste primeiro momento. “Percebemos que todas as ações previstas no plano de trabalho estavam sendo bem desenvolvidas”, observa. O próximo encontro entre docentes e discentes envolvidos no projeto será nos dias 26 e 27 de fevereiro, durante o seminário “Inte-gração das Licenciaturas: o desafio de ser professor na Amazônia”.

Pró-docência

Programa busca melhoria

da educação

n Isolamento deixou marcas em ex-internos

n Centro Educacional e Sanitário de Marituba

O Abrigo João Paulo II atende cerca de 140 idosos portadores de deficiências causadas pela hanseníase

Processado pela Inquisição, padre Vieira é expulso com violência de Belém-Maranhão, mas continua a defender a Missão.

José BIttENCoURt DA sILvA

Os 400 anos de nascimento do padre António Vieira

António Vieira influenciou o rei João IV

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Preservar a memória da Universidade por meio dos documentos produzi-dos ao longo dos anos na instituição, não tem sido tarefa fácil para o Arquivo Central. Um trabalho de conscientização está sendo realizado junto aos gestores e servidores das unidades acadêmicas e administrati-vas da UFPA no sentido de sensibilizá-los não só quanto à preservar os documentos, mas também planejar a cria-ção de espaços adequados para guardá-los.

A atuação junto às unidades que sediam os arquivos setoriais também implica numa mudança de concepção sobre o papel do Arquivo. “Não podemos continuar sendo vistos como um depósito de papéis, por-que atuamos no sentido de resgatar o valor, a função social de um documento que pode servir de apoio nas atividades aca-dêmica e administrativa e também como um instrumento de cidadania. Necessitamos, assim, da parceria das unidades para preservar os docu-mentos desde a criação, tramitação e destinação final”, afirma a bibliote-

cária Suely Matias Palheta, diretora do Arquivo Central.

O trabalho, iniciado no ano passado junto aos arquivos setoriais, leva orientação quanto aos procedi-mentos de classificação dos docu-mentos, baseado nas novas técnicas arquivísticas. “A Arquivologia é uma

ciência que estuda os docu-mentos por meio de suas fa-ses. Cada documento tem um ciclo vital, o que compreende a fase corrente, a fase inter-mediária e a fase permanente, chamada de histórica ou com-probatória. A temporalidade de um documento é determi-nada pelo teor do assunto e não pela data como muitos pensam. Sendo assim, todo oficio, portaria, memorando, resolução, atas de reuniões de colações de grau, enfim, tudo que é produzido na área administrativa e acadêmica é um documento.E é único, perdeu, jogou fora não há mais como recuperar”, alerta Suely.

O Brasil tem carên-cia de profissionais em ar-quivologia. Em todo o país existem apenas 12 cursos de graduação. O Pará não possui

nenhum curso. O Arquivo Central da UFPA conta com apenas cinco pro-fissionais especializados na área para atuar em todos os campi. “A demanda é muito grande. A solução tem sido a inclusão de um módulo sobre ar-quivos nos cursos de capacitação de recursos humanos”, informa Suely.

Iniciado em 2007, o projeto construiu um canteiro de alvenaria de 40m², coberto por folhas de babaçu. Dentro do canteiro, os pesquisadores colocaram drenos providos de telas, para evitar a fuga das minhocas e facilitar a drenagem do excesso de água.

Foram colocados em torno de 200 a 300 ovos de minhocas por m², quando o material a ser vermicompostado já não apresentava mais varia-ção de temperatura. Setenta dias depois, o húmus produzido pelas minhocas foi distribuído para quatro famílias do assentamento Araras, em São João do Araguaia. Em seguida, os pesquisadores realizaram um novo experimento para verificação do melhor alimento para a produção de minhocas Eisenia foetida.

O canteiro foi, então, dividido em quatro partes iguais, todas elas recebendo igual quanti-dade de mistura de solo argiloso e esterco bovino. Quando a mistura atingiu a total fermentação, cada parte do canteiro recebeu um lote de 100

minhocas, além de diferentes alimentos orgânicos (cascas de frutas, pó de serragem, casca de arroz). Após 45 dias, os pesquisadores observaram que as minhocas se multiplicaram de acordo com a disponibilidade e o tipo de alimento.

A maior produção das minhocas se deu no

composto solo argiloso + esterco bovino + casca de melancia. A menor, no composto solo argiloso + esterco bovino + cascas de frutas diversas (la-ranja, banana e manga). Os resultados comprovam a preferência das minhocas por uma alimentação relativamente rica em nitrogênio protéico.

Coordenado por Andréa Hentz, o projeto conta com a participação dos docentes Sebastião Lopes Pereira, Fernando Michelotti e Walter Santos Evangelista Júnior, de dois bolsistas do curso de agronomia, de quatro bolsistas, além das quatro famílias de agricultores do projeto de assentamento Araras, localizado no município de São João do Araguaia. A equipe vai divulgar os resultados juntos aos produtores, técnicos e estu-dantes de agronomia sobre os principais aspectos relacionados à minhocultura. Planeja também dar continuidade à criação de minhoca e produção de vermicomposto para distribuição nas propriedades de agricultores familiares da região e publicar os resultados em boletim técnico.

BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Março, 2008 – 4

Minhocas podem salvar mais que a lavouraAlém de fertilizar o solo, elas viram remédios e até comida de astronautas

Pesquisa

Centro guarda raridades da Amazônia Centro de Memória da Amazônia faz um ano de criação e abre acervo

BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Março, 2008 – 9

Memória

Cristina Trindade

A assinatura de um convênio entre a Universidade Federal do Pará e o Tribunal de Jus-

tiça do Estado (TJE), em janeiro de 2007, assinalou a criação do Centro de Memória da Amazônia (CMA). A parceria garantiu para a UFPA a cessão e guarda da documentação de natureza civil e criminal que integrava o arqui-vo inativo do TJE. Um ano depois, a coordenação do Centro comemora os serviços que já estão sendo oferecidos à comunidade, como a disponibiliza-ção de parte do acervo que abrange documentos desde os finais do século XVIII até 1970.

Após um trabalho de higie-nização e organização, processos referentes a esse período histórico sobre assuntos variados da sociedade paraense, como questões religiosas e familiares, transações comerciais, conflitos fundiários, migração e imigração na Amazônia, já podem ser consultados por pesquisadores e interessados em conhecer a memória paraense.

Entre os processos da área ci-vil que compõem o acervo está o de investigação do assassinato de Severa Romana - uma moça casada com um soldado e morta, grávida, por outro que a assediava, no ano de 1900.

O Centro de Memória está instalado no prédio que abrigava a

Suely Palheta: “Já avançamos muito”n Experiência aponta melhor alimento da Eisenia foetida

n Todo cuidado é pouco com a memória

Walter Pinto

Com uma vida que pode atingir até 16 anos, as minhocas há algum tempo deixaram de ser

conhecidas apenas pela capacidade de fertilizar o solo. Hoje, elas são empregadas na indústria farmacêutica para produção de remédios contra doenças como hipertensão, asma, bronquite, impotência, doença de pele e reumatismo. Possuindo também um elevado teor de proteína (78%), elas são utilizadas na alimentação animal e humana, sendo um dos componentes da dieta dos astronautas. Também são importantes na redução de impactos ambientais, bioacumulação de metais pesados e no volume de lixo.

A utilização da minhoca para a fertilização do solo, a sua característi-ca mais conhecida, é praticada desde o antigo Egito, onde era responsável pela fertilidade das margens do rio Nilo. Ao chegar em Marabá, região sudeste do Pará, a engenheira agrícola Andréa Hentz de Mello, doutora em Ciência do Solo, constatou que a cria-ção de minhoca não era praticada na cidade, em desfavor dos agricultores familiares da região que poderiam se beneficiar com a melhoria da qualida-de química e biológica de seus solos e com a venda de vermicomposto (hú-mus) para outros produtores locais.

Andréa Hentz havia realiza-do uma bem-sucedida experiência, na Universidade de Santa Maria, Rio Grande do Sul, de criação de minhoca para produção de farinha a ser incorporada à alimentação de crianças desnutridas, e de produção de vermicompostos para uso nas hortas comerciais do município gaúcho. Professora adjunta da Faculdade de Agronomia do Campus da UFPA em Marabá, ela coordena o projeto de ex-tensão “Criação de minhocas Eisenia foetida em diferentes substratos para produção de vermicomposto”.

Vermicompostagem é a deno-minação da tecnologia que utiliza mi-

n Espécie está bem aclimatada

Originária da Europa, a minhoca utilizada na pesquisa é também conhecida por minhoca de esterco ou minhoca da Califórnia. Trata-se de uma espécie rústica de anelídeo, adaptada às condições de clima do Pará, bastante útil na conversão rápida do esterco animal em húmus. Andréa Hentz observa que a criação de minhocas pode ser feita em qualquer lugar e de diversas formas, de acordo com a finalidade da criação.

As pequenas criações po-dem utilizar caixas de madeira, baldes, antigas banheiras e outros recipientes. As dimensões variam de acordo com a quantidade de material a ser vermicompostado. As criações comerciais costumam utili-zar canteiros ou leiras, sendo que os canteiros de alvenaria são recomen-dados por terem maior durabilidade. A pesquisadora ressalta o uso de uma cobertura para evitar a entrada excessiva de água das chuvas e a incidência de raios solares, assim como para proteger as minhocas do ataque de predadores, entre os quais ratos, aves e formigas.

nhocas para produção de compostos orgânicos utilizados na agricultura. O húmus resultante da mistura de matéria orgânica humificada e de excrementos da minhoca se constitui em produto uniforme, de coloração escura, leve, solto e inodoro, cujas propriedades físicas, químicas e bio-lógicas são completamente diferentes da matéria prima original.

O projeto tem por objetivo geral o desenvolvimento e a difusão de tecnologias de baixo custo para o cultivo orgânico de diferentes culturas e reciclagem de resíduos vegetais por meio da vermicompostagem. Espe-cificamente, busca criar e difundir técnicas relacionadas à criação de minhocas, à produção de húmus e ao preparo de compostos orgânicos, além de verificar qual o melhor alimento para criação da minhoca Eisenia foetida. O projeto pretende também atuar como instrumento de promoção social e de sensibilização de estudantes e agricultores familiares sobre a importância da conservação e preservação do meio ambiente.

As minhocas atuam na fer-tilidade do solo, alterando as suas

propriedades físicas, químicas e biológicas. Andréa Hentz aponta seis formas de ação: melhora a estrutura do solo; areja solos argilosos e agrega arenosos; aumenta a capacidade de retenção da água; mantém a tempe-ratura do solo constante; armazena nutrientes; aumenta a capacidade de troca de cátions do solo, permitindo que retenha maiores quantidades de nutrientes, aumentando, assim, o po-der tampão do solo, o que lhe confere maior estabilidade de pH.

Além de melhorar a qualidade do solo, a criação de minhoca pode gerar renda. Cerca de mil minhocas criadas em 1 m², produzem, em até 45 dias, 350 quilos de húmus que é vendido a R$ 1,00 o quilo, rendendo R$ 350,00. Segundo a pesquisadora, “a viabilidade prática e econômica do projeto reside no apoio à agricultura familiar na região de Marabá, por meio da identificação de ações produtivas estratégicas, no caso, a produção or-gânica com elevada ocupação da força de trabalho familiar, alta rentabilidade econômica e pequena necessidade de exploração de áreas, evitando-se, assim, o desmatamento”.

A mistura de melancia deu o melhor resultado

Andréa Hentz de Mello em dia de campo com estudantes de Marabá

Os cocons (ovos) de minhoca

Gráfica da UFPA. Um projeto arqui-tetônico de adequação do espaço já foi elaborado e as obras devem iniciar no mês de maio. Atualmente, conta com nove bolsistas de história e duas es-pecialistas em arquivo na organização do material. Após a reforma, o Centro também deve se tornar um espaço para educação patrimonial. “Por meio de programação artístico- cultural e visitas monitoradas, vamos atrair estudantes de ensino fundamental e

médio, porque não queremos ser mais um arquivo no Pará, mas um centro de formação de cidadania a partir do conhecimento do passado”, afirma o coordenador Otaviano Júnior.

Entre os projetos que serão de-senvolvidos no Centro está o da compra dos arquivos digitalizados de documen-tos referentes ao período da inquisição no Pará, que se encontram na Torre do Tombo, em Portugal. “A inquisição foi intensa no Pará e modificou o cotidiano

paraense. Mas o pesquisador interes-sado no tema tem que ir para fora do país atrás de documentos”, lamenta o historiador Décio Gusmão, que divide a coordenação do Centro com Otaviano. A história dos bairros de Belém res-gatada a partir da história oral é outro projeto que está sendo formatado. Deve começar junto aos moradores do bairro do Reduto, onde fica localizado o pré-dio do Centro construído por Augusto Sidrim, em 1927.

n Acervo remonta à 1a administração

Os primeiros estudos para se criar um Sistema de Arquivos para a UFPA e organizar o setor existente des-de a sua criação foram feitos em 1985. Em 1996, dentro do programa Nova Universidade, do MEC, desenvolveu-se o projeto “Sistema de Arquivos da UFPA implantação e implementação”. A unidade passou a desenvolver um trabalho com técnicas arquivísticas de forma a estruturar o sistema de comunicação e arquivos, dinamizando e padronizando as atividades. “Ainda não possuímos o espaço ideal, mas já avançamos muito no trabalho de resga-te da documentação histórica e nosso acervo remonta a primeira administra-ção da UFPA”, informa Suely.

O processo da morte de Severa Romana

fotos MARI CHIBA

O Centro de Memória da Amazônia guarda documentos que datam dos séculos XVIII e XIX do arquivo morto do TJE

fotos: ARQUIvo PEsQUIsA

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BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Março, 2008 – 8

Energia

BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Março, 2008 – 5

Igarapés podem ser alternativa para região Depressão pode agravar doenças orgânicasA construção de pequenas hidrelétricas pode ser a saída para atender isolados Hospital Universitário Barros Barreto desenvolve projeto com portadores de Aids

Terapia

Augusto Rodrigues

A grande quantidade de rios e relevo com desníveis acen-tuados - principalmente nas

regiões sul, sudeste e extremo no-roeste -, fazem do Pará o detentor do maior potencial hidrelétrico do país, segundo a Eletrobrás. Quarto maior produtor de energia elétrica do Brasil, o potencial hidrelétrico para-ense está estimado em 61.096 MW. Contudo, dados de uma pesquisa realizada em 2003, pelo Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universi-dade de São Paulo (USP), mostraram que 27% da população paraense, ou 1,8 milhão de habitantes, não tinham acesso ao serviço público de energia elétrica.

“Um problema de grande re-levância social na Amazônia é o fato das pequenas comunidades isoladas não serem contempladas pelos bene-fícios dos grandes empreendimentos hidrelétricos instalados na região”, afirma o engenheiro mecânico Fábio Vinícius Vieira Bezerra. O engenheiro aponta o aproveitamento da grande

EM DIAHellen Pacheco

Com a pesquisa “Análise de sensibilidade da migração ao modelo de velocidades”, o con-cluinte do curso de Geofísica da UFPA, Francisco Josa, foi destaque durante a terceira edição do Prê-mio Petrobras de Tecnologia. A pesquisa, realiza-da como trabalho de conclusão de curso, consistiu em determinar o valor do campo de velocidade apresentado pelas ondas compressionais, que se deslocam com velocidades compreendidas entre 5,5 km/s e 13,8km/s e aumentam de acordo com a profundidade. A definição das velocidades facilita a prospecção de reservatórios de petróleo.

De acordo com Josa, deduzir a localização dos reservatórios por meio dos movimentos de transmissão e reflexão de ondas, produzindo pe-quenos sismos, necessita de muitos mecanismos, principalmente quando as estruturas geológicas da região em questão são complexas. Necessitam, por exemplo, de maior atenção quanto à criação da imagem sísmica em profundidade. Porém, a utilização desta técnica depende da avaliação dos

modelos de velocidade em profundidade. “Ajustar o modelo estimado até que se obtenha uma boa representação da distribuição de velocidade em superfície é fundamental. Nesse trabalho, procurei analisar a validação dos modelos de velocidades através das famílias de imagem comum, geradas a partir da migração Kirchhoff e por equação de onda”, informa o estudante.

O prêmio Petrobras de tecnologia existe há

três anos. Ele foi criado em parceria com o CNPq. Seu objetivo é proporcionar maior visibilidade aos trabalhos desenvolvidos por universidades e instituições de pesquisas relacionas à área ener-gética. Desta forma, busca incentivar a produção de conhecimentos na área de pesquisa. Em 2007, foram 421 trabalhos inscritos de 90 instituições de ensino e pesquisa distribuídas em 22 Estados da Federação. Os trabalhos concorrentes pertencem aos níveis de doutorado, mestrado e graduação. A premiação é composta por nove diferentes temas: exploração, perfuração e produção; refino e pe-troquímica; logística e transporte de petróleo, gás e derivados; produtos; gás; energia; segurança e desempenho operacional; e preservação ambien-tal. Os prêmios oferecidos em dinheiro aos autores dos trabalhos vencedores vão de 10 a 20 mil reais, dependendo da categoria. Os professores orien-tadores dos premiados em cada tema/categoria recebem o mesmo valor obtido pelo aluno autor, como taxa de bancada, para aplicação no labora-tório ou departamento da instituição acadêmica a que pertencem.

n Cálculo e simulação de área inundada na AmazôniaNo âmbito hidrológico, o en-

genheiro utilizou um modelo chuva-vazão desenvolvido pelo professor Cláudio Blanco – da Faculdade de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFPA – e aplicou a pequenas ba-cias da Amazônia que não possuem registros de vazão. Segundo Blanco, “os modelos chuva-vazão são uma forma matemática de representar o mecanismo das bacias hidrográficas que transformam as águas da chuva em vazão. Eles são usados em ba-cias que não dispõem de registros

históricos de vazão, nem de uma boa base de dados físicos, ou seja, o principal dado de entrada do modelo é a chuva. Com o uso dos modelos, pode-se estimar as vazões (dado de saída do modelo), permitindo o conhecimento do regime hídrico da bacia e a quantificação do recurso que ela representa”. Bezerra utilizou ainda ferramentas computacionais para predição de desempenho de turbinas de baixa queda adaptadas ao relevo da região amazônica. Os dados foram simulados para a turbina a ser

implantada na CGH irmã Dorothy. Os custos referentes à implantação da CGH irmã Dorothy foram compa-rados a custos de pequenas centrais e de geradores a diesel disponíveis na literatura.

As pesquisas de Fábio Bezerra resultaram um método para cálculo e simulação da área inundada para implantação de CGHs na Amazônia, aplicado, inicialmente, à CGH irmã Dorothy. “No âmbito ambiental, atualmente, há forte cobrança pe-las autoridades competentes locais

para realização do estudo ambiental inerente ao aproveitamento, e em se tratando da região amazônica, muito agredida pela ação do homem, os estudos devem ser bem definidos, apontando os possíveis impactos que podem ser causados pela CGH”, afirma. De acordo com a pesquisa, na época de cheia máxima do iga-rapé São João, a área a ser inundada será de aproximadamente 6000m², o equivalente a um estádio de futebol. O projeto, que tem mais de dez anos, mas ainda não foi executado.

malha de pequenos rios e igarapés da região como uma solução alter-nativa para este problema, a partir da implantação de Centrais Geradoras Hidrelétricas (CGHs).

Em sua dissertação de mestra-do, intitulada “Implantação de CGHs

na Amazônia - uma visão global com ênfase nos aspectos hidrológicos, tec-nológicos, ambientais e financeiros”, Fábio Bezerra analisa e discute certos aspectos gerais inerentes à implanta-ção das CGHs, trazendo-os à realida-de das pequenas bacias Amazônicas.

Além de uma análise de forma global sobre a implantação de CGHs na Amazônia e suas etapas, Bezerra focou sua pesquisa também num es-tudo de caso: a implantação da CGH Irmã Dorothy, na pequena bacia hi-drográfica do igarapé São João na Vila Sucupira, município de Anapú.

“Tais centrais produzem po-tências menores que 1MW, sendo suficiente para atender as necessida-des energéticas básicas das pequenas comunidades, inclusive para fins industriais das mesmas”, argumenta. Além da produção de energia a baixo custo para comunidades isoladas que não são atendidas pelas empresas concessionárias do setor energético, a vantagem dos micro-aproveitamentos hidrelétricos está na inundação de pequenas áreas e a simplicidade de manutenção das geradoras, que não demanda mão-de-obra especializada. Mas, o micro aproveitamento hidrelé-trico é uma forma de produção ainda pouco explorada, no Brasil, onde a energia proveniente de grandes usinas hidrelétricas, corresponde a 75% da capacidade instalada.

Prospecção

Irmã Dorothy, no igarapé São João, em Anapú, onde uma CGH terá seu nome

Francisco Josa (centro) foi destaque

Estudante da UFPA ganha prêmio Petrobras

n Metodologia utiliza princípios de análise freudiana O psiquiatra Julio Sergio Verzt-

man, da UFRJ, que nos últimos anos ampliou seu foco de investigação para as doenças auto-imunes, considera a melancolia como fator agravante no processo de desenvolvimento da doença, uma vez que inibe a vontade de viver do paciente.

O caso do paciente com HIV/AIDS, não é diferente. Em sua maio-

ria, ao constatarem que são portadores do vírus, a primeira reação é a não aceitação de que estão doentes. Em contrapartida, com a evolução da doença, esse preconceito só agrava o quadro clínico. Daí a necessidade de acompanhamento psicológico no auxílio do tratamento da patologia.

A associação entre melancolia e AIDS tornou-se freqüente nos estudos

sobre os co-fatores que interferem no desenvolvimento da patologia em por-tadores do HIV/AIDS. Baseado nesse dado, o projeto objetiva investigar as relações entre a presença da melancolia ou depressão em paciente portador da doença. No Hospital Barros Barreto são desenvolvidos estudos de casos cuja técnica de observação tem princípio nas metodologias de análise freudiana.

Hellen Pacheco

O tratamento e o diagnóstico de pacientes com doenças orgânicas e que também

apresentam sintomas como emagre-cimento, insônia e anorexia, tem sido o principal desafio de psicanalistas e psicólogos sociais. Eles têm se dedi-cado ao desenvolvimento de estudos sobre o porquê da manifestação de doenças psíquicas, como a depressão e a melancolia, em pacientes com patologias definidas como de origens física e orgânica.

Estudos comprovam que pa-cientes com doenças orgânicas, como a AIDS, reagem de forma diferencia-da quando recebem acompanhamento psicológico. Em sua maioria, esses pacientes, ao serem comunicados do diagnóstico, mergulham em melancó-lica profunda, o que dificulta a efici-ência do tratamento para a patologia orgânica.

A Universidade Federal do Pará desenvolve há seis anos, no Hospital Barros Barreto, o projeto de pesquisa e extensão “Tratamento psicológico em hospital geral: con-tribuições da clínica da melancolia e dos estados depressivos”, coordenado pela psicóloga Ana Cleide Guedes Moreira. Desde 2001, ela participa do tratamento de portadores de HIV/AIDS. Professores, psicólogos e alunos do Instituto de Filosofia e

Ana Cleide Guedes Moreira destaca o caráter integrador do projeto

MARI CHIBA

Ciências Humanas também estão envolvidos no projeto.

“A vantagem da UFPA, ao desenvolver um projeto de extensão como este, reside no seu caráter inte-grador, pois une ensino de graduação, de pesquisa (prioridade) e estágio supervisionado em psicologia social das organizações”, afirma a coorde-nadora do projeto Ana Cleide Guedes Moreira.

A realização de seminários quinzenais e mensais possibilitou uma avaliação mais precisa de novos dados e informações que surgem no decorrer

do tratamento. A constatação de crises de neurose, de angústias e dores de vá-rias ordens como reflexos do mal estar psíquico, provocado pela dor orgâni-ca, é um exemplo disso. Além disso, a redução da auto-estima também é um fator observado nas análises sobre os portadores do HIV/AIDS.

Os primeiros psicólogos que atuaram no Hospital Barros Barreto foram os professores e alunos envol-vidos no projeto, que é apresentado e renovado todos os anos pelo conselho do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UFPA.

n Melancolia e depressão

A melancolia é definida pela psicanálise como uma afecção mental caracterizada por depressão em grau variá-vel, sensação de incapacidade, perda de interesse pela vida, podendo evoluir para ansieda-de, insônia, tendência ao suicí-dio e, eventualmente, delírios de auto-acusação.

Para a psicóloga paulista Alessandra Aizenstein Furman Calbucci, depressão trata-se de “transtorno que pode ser caracterizado por baixa ener-gia, sentimento de tristeza prolongado, irritabilidade, falta de interesse nas ativida-des diárias, perda de prazer, alteração no sono, dificuldade de concentração, pensamentos de morte, sentimentos de inu-tilidade e culpa”.

O estudo sobre a me-lancolia e a depressão é de-senvolvido há tempos por psicanalistas e psicólogos interessados em compreender as manifestações que aconte-cem no plano do inconsciente humano. São as denominadas doenças psíquicas que estão relacionadas à dor existen-cial. A psicanálise, ciência do inconsciente, é responsável pelos estudos sobre enigmas e formas de manifestações dessas patologias. Esta ciên-cia foi fundada por Sigmund Freud, que desenvolveu os primeiros estudos sobre o inconsciente humano e suas motivações.

DIvULGAção

DIvULGAção

UFPA concorre bem nesse edital, garante o dire-tor do Departamento de Pós-Graduação da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós Graduação - Propesp, Paulo Sérgio Gorayeb que está coordenando o processo na UFPA. Mais informações no site da Finep (www.finep.gov.br).

ISSNO Beira do Rio recebeu este mês o código ISSN (International Standard Serial Number) – Número Internacional Normalizado para Publicações Seriadas, usado como identifica-dor do título de uma publicação. O registro é concedido por uma rede internacional, que no Brasil atua por meio do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict). “Fico muito feliz com mais esta conquista para a Universidade Federal do Pará. Ela reflete um trabalho sério de desenvolvimento de uma po-lítica institucional de comunicação, de padrão

profissional, que nunca mais pode regredir, senão avançar sempre mais, pois a UFPA ne-cessita dessa qualidade de atuação por tudo o que ela representa em nível regional, nacional e internacional”, declarou o reitor da UFPA, Alex Fiúza de Mello.

OuvidoriaO site da Ouvidoria da UFPA, que começou a funcionar a partir do início de fevereiro, permite que os usuários façam suas manifestações via Internet e as acompanhem em tempo real. O site oferece também aos visitantes informações sobre o que é a Ouvidoria, relatórios, as atribui-ções, o Código de Ética, bem como legislações e regulamentos que determinam e esclarecem a função do Ouvidor. Segundo a ouvidora da Universidade, Thelma Colares, “o sistema agi-liza porque diariamente o gestor pode verificar a informação.”

ConselheiroO reitor da UFPA, Alex Fiúza de Mello, assumiu uma cadeira no Conselho Superior da Capes, no dia 14 de fevereiro, em Brasília. O ministro da Educação, Fernando Haddad, presidiu a cerimônia de posse. Alex Fiúza de Mello é o primeiro para-ense a ocupar a função de membro em um órgão estratégico para os cursos de pós-graduação no país, responsável pelo direcionamento dos inves-timentos do MEC.

INFRAA UFPA elaborou um “projetão”, que inclui vários projetos, para concorrer no Edital da Finep para projetos de infra-estrutura (INFRA Finep 01/2007) que deverá ser lançado em abril. O INFRA é vol-tado para o financiamento de obras que incluem laboratórios, equipamentos e prédios inteiros. A

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BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Março, 2008 – 6 BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Março, 2008 – 7

Tecnologia

Uma dessas cooperativas se formou no município de Moju, no nordeste do Pará, onde será produzida a fécula e, conseqüentemente, rejeito de mandioca. Lá, os pesquisadores Alberdan Silva Santos, doutor em Bioquímica, e Cláudio Nahum Al-ves, pós-doutor em Química, líderes do grupo de Biotransformações e Simulação Computacional de Bio-moléculas da UFPA, desenvolverão o projeto de produção de biomoléculas e álcool combustível a partir do rejeito da mandioca por meio de processo biotecnológico. O resultado final, no entanto, dependerá do investimento e do andamento dos trabalhos. Se for impraticável gerar álcool combustí-vel, os pesquisadores poderão dire-cionar o processo para a produção de álcool refinado para cosméticos.

Na UFPA, Alberdan Santos

e Cláudio Nahum realizam suas pesquisas no Laboratório de De-senvolvimento e Planejamento de Fármacos, um centro de ponta em biotecnologia e simulação computa-cional de biomoléculas, abrigado em prédio inaugurado em junho de 2007, no campus de Belém. Ambos orien-tam e supervisionam as atividades científicas de 30 alunos, dos quais, sete doutorandos, 13 mestrandos e 10 bolsistas de iniciação científica.

O laboratório trabalha nas linhas de biotecnologia de microor-ganismos e de vegetal, realizando pesquisas como biotransformações, isolamento de enzimas, produção de biocatalizadores e fermentação, mé-todos de extração de óleos essenciais, produtos naturais, ensaios antimicro-bianos, estudos de mecanismo mole-cular de reações orgânicas com vistas

à produção de fármacos para doenças como Aids e leishmaniose, entre ou-tras. Atuando em área estratégica à saúde e à agrociência, o laboratório realiza estudos multidisciplinares para produção de novos fármacos, que exigem a parceria com institutos e centros de pesquisas do Brasil e do exterior. No plano interno da UFPA, os principais parceiros são o Instituto de Ciências Biológicas e o Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tec-nologia em Alimentos do Instituto de Tecnologia. No plano nacional, a Fundação Oswaldo Cruz, o INPA, a UFRJ, o Instituto de Química de São Carlos da USP. No exterior, a Univer-sidade de Valencia, a Universidade de Juame I, a Universidade Autônoma de Barcelona e o Instituto de Agroquí-mica e Tecnologia de Alimentos de Valencia, todas na Espanha.

Rejeito de mandioca pode ser solução para produção sustentável de álcool na AmazôniaGrupo de Biotecnologia da UFPA estuda produção de etanol e moléculas com atividades biológicas a partir do rejeito da mandioca para aproveitar potencial do ParáWalter Pinto

Um convênio na área de bio-tecnologia entre a Petrobrás, a Secretaria de Agricultura

do Estado do Pará e o grupo de Biotransformações e Simulação Computacional de Biomoléculas, do Instituto de Ciências Exatas e Natu-rais da UFPA, poderá resultar numa alternativa ao problema ambiental causado pela devastação de imensas áreas para cultivo da cana-de-açúcar utilizada na produção de álcool. Os pesquisadores da universidade estão propondo produzir biomoléculas, entre elas, o etanol, a partir do re-jeito da indústria da mandioca. Um processo biotecnológico está sendo desenvolvido para sacarificar o ami-do do rejeito da mandioca e utilizá-lo como substrato para produção de novas moléculas. Em parceria com o grupo de Polimorfismo de DNA, do Instituto de Ciências Biológicas, os pesquisadores realizam estudos com objetivo de produzir enzimas, que se-rão integralmente direcionadas para a produção de álcool combustível.

O sucesso da experiência po-derá eliminar também um problema ambiental causado pela indústria da farinha no Pará. Alguns rios da região estão em processo de contaminação porque servem de depósito para o rejeito da mandioca, resultante da fabricação da farinha. Potencialmente, o Pará desponta como um futuro grande produtor de biomoléculas e de álcool com-bustível porque concentra o maior cultivo de mandioca do Brasil.

A coleta do rejeito é um grande desafio para a pesquisa em função da fragmentação da indús-tria de farinha pelo Pará, Estado de grandes dimensões. O problema será resolvido quando o governo alcançar êxito na sua política de in-centivo à formação de cooperativas, que busca agrupar os produtores em pólos de produção.

n Laboratório de controle de qualidade

Uma das quatro unidades que inte-gram o Laboratório de Desenvolvimento e Planejamento de Fármacos, o Laboratório de Controle de Qualidade ainda está em fase de montagem, mas já se encontra em condições de realizar diversas análises exigidas pelos Ministérios da Saúde e da Agricultura para produtos alimentícios e cosméticos que disputam o comércio. Seu objetivo é dar suporte às empresas, por meio da prestação de serviços.

Alberdan Santos e Cláudio Nahum explicam, no entanto, que se trata de um laboratório de referência com atuação em diversos segmentos. “O mais importante é o da agroindústria, para o qual fazemos algu-mas análises, principalmente de proteínas, açucares, álcoois, sais minerais e ácidos graxos de origem vegetal e animal. Já na área médica, vamos implantar os métodos de dosagem de aminoácidos, alguns deles muito importantes para detecção de deter-minadas doenças”, diz Santos. Apesar de já existirem kits que fazem isso, o pesquisador observa que existem análises muito especí-ficas, algumas delas exigindo equipamentos sofisticados, de maior precisão, como os que estão sendo montados no laboratório.

Além do aparato laboratorial, o La-boratório de Controle de Qualidade conta com conhecimentos de química e bioquími-ca de seus pesquisadores, os quais sabem o alcance dos equipamentos para solução de determinados diagnósticos. Amostras antes enviadas para laboratórios das regiões Sul e Sudeste poderão ser analisadas no labora-tório da UFPA. O laboratório também está preparado para fazer a caracterização e o controle de qualidade de matérias-primas, das quais o Pará é um grande fornecedor.

n Biomoléculas serão produzidas em Moju

n Biocarrapaticida é testado

n Biotecnologia contra Aids

Trabalhando na área de biotecnologia, produtos naturais e simulação de bio-moléculas, o grupo avalia como excelentes os resul-tados até então alcançados. Um desses resultados é um biocarrapaticida, que se en-contra em testes de campo para posterior patenteamen-to. Foi produzido a partir de substâncias naturais com efi-caz ação biocida encontrado em alguns vegetais. Os testes in vitro comprovaram a sua eficácia. A tecnologia será repassada para os pequenos produtores da comunidade

Jararaca, município de Bra-gança, nordeste do Pará. Os pesquisadores também encontraram substâncias que possuem atividades alelo-páticas, ou seja, capazes de impedir o desenvolvimento de outros organismos, mas a efetividade delas ainda está em estudos na Embrapa Amazônia Oriental.

Também na área de biotecnologia, o grupo pro-duziu um concentrado de lipases, enzimas utilizadas na hidrólise de óleos vegetais, que possibilita isolar substân-cias como os ácidos graxos

(ômegas 3 e 6), essenciais no combate aos nódulos de mama. O objetivo dos pes-quisadores é desenvolver um complemento alimentar rico em ácidos graxos, a partir de oleaginosas produzidas no Pará. “O que estamos produzindo no momento”, esclarece Alberdan Santos, “é o agente biocatalítico para fazer a hidrólise desses óleos”. Na ponta final está o desenvolvimento de uma tecnologia nova e regional capaz de mimetizar o óleo de borragem importado de outros países.

A biotecnologia também foi usada no desenvolvimento de um processo de produção de um metabólico secundário, produzido por fungo, para combater a formação de mela-nina e o escurecimento de pele, assim como pode ser usado na conservação de determinados alimentos. Trata-se de uma molécula pequena, simples, mas de grande potencial tecno-lógico. É bastante conhecida no mundo, sobretudo, nos Estados Unidos e no Japão. O pesquisador Cláudio Nahum está realizando estudos de

modelagem molecular com vistas à modificação dessa estrutura. Trabalho desen-volvido em parceria com os pesquisadores José Luiz Mar-tins do Nascimento e Edilene Silva, também do Instituto de Ciências Biológicas da UFPA, encontrou uma série de atividades biológicas, entre as quais, o combate a uma doen-ça endêmica na Amazônia: a leishmânia cutânea. O resul-tado da pesquisa está sendo patenteado.

Na área de novos fár-macos, os pesquisadores do

Laboratório conseguiram pla-nejar, por meio de simulação computacional, uma molécula que poderá ter grande ativida-de anti-HIV, especificamente, contra a enzima integrase do HIV-1, uma das responsáveis pela replicação do vírus. A molécula se encontra em fase de purificação, antes de ser en-viada a laboratórios do Rio de Janeiro e dos Estados Unidos para testes biológicos. “Com investimentos nesta área, po-demos, no futuro, ter um novo fármaco anti-HIV produzido no Brasil”, afirma Nahum.

O Laboratório de Desenvolvimento e Planejamento de Fármacos, onde se desenvolve a pesquisa, é um centro de ponta

No laboratório de Biotransformações da UFPA são produzidas as biomoléculas

Os pesquisadores seguem normas rígidas de higiene

Alberdan Santos e Cláudio Nahum e a equipe de pesquisadores do projeto formada por sete doutorandos, 13 mestrandos e 10 bolsistas de iniciação científica

fotos WALtER PINto