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Beira do Rio – Qual o balanço de candidatos inscritos (capital e interior)? Marilucia Oliveira – Este ano, tere- mos 50.232 mil candidatos concor- rendo a 6.152 vagas, em 144 cursos de graduação. 25% dos candidatos estarão concorrendo às vagas no in- terior e 74% às vagas em Belém. Beira do Rio – Quantas pessoas conseguiram a isenção? Foi possí- vel ampliar o número de candida- tos atendidos em comparação aos anos anteriores? M. O. – Mais de sete mil candidatos foram beneficiados. E comparado aos anos anteriores, o número foi mais baixo. Mas isso ocorre porque, até o ano passado, as isenções eram dadas por sorteio. Com o Decreto 6.593/2008, do governo federal, fo- ram criados critérios para concessão de isenções em qualquer concurso público federal e esses critérios fo- ram adotados pelo CEPS da UFPA. O candidato deveria ter renda per capita de meio salário mínimo, ou renda familiar de até três salários mínimos, ou estar inscrito no Ca- dastro Único para Pro- gramas Sociais do go- verno federal (CadÚni- co). Por determinação do Ministério Público, deveriam ser isentos todos os candidatos que comprovassem hipos- suficência econômica. E ao analisar a docu- mentação, verificamos que sete mil candida- tos tinham o direito. Olhando apenas quan- titativamente, pode-se pensar que regredimos mas, na verdade, houve um avanço, pois qua- lificamos o processo que concede a isenção. Diferentemente do sorteio, neste novo modelo, você concede isenção a quem precisa de fato. Beira do Rio – O PSS 2010 será o último ano do modelo de entrada seriado, aplicado pela UFPA desde 2004. Há alguma diferença para os candidatos? M. O. – A diferença é que, este ano, só puderam se inscrever quem está concluindo ou quem concluiu o ensino médio, pois, a partir do ano que vem, nós não iremos aproveitar nenhuma fase. Beira do Rio – Essa fase de tran- sição implica alguma mudança no sistema de correção? M. O. – Não, o modelo de correção será o mesmo dos anos anteriores. O que, talvez, nós tenhamos que fazer é uma avaliação dos resultados deste PSS, até para nos nortear em 2011. Deve haver uma discussão com os professores envolvidos na elabora- ção e correção para verificar o que pode ser aproveitado deste vestibular para o próximo e o que precisa ser alterado. Beira do Rio Ou- tra novidade do PSS 2010 é a criação de duas vagas espe- ciais em cada curso, destinadas, especifi- camente, para can- didatos indígenas. Esse sistema de co- tas tem encontrado muita resistência? M. O. – Sempre que discutimos essas ações afirmativas, os pontos de vista são diferen- ciados – de um lado, estão os que acham que as ações trazem uma contribuição so- cial por universalizar o ensino, por dar oportunidade aos grupos que, historicamente, foram colocados à margem, do outro lado, estão os que acham que a Universidade está dando um tratamento diferenciado e que não deveria ser assim. É uma política que estamos implantando agora e que, se for bem discutida, pode trazer bons resultados. O sis- tema de cotas não é um modismo. A demanda mostra como essa iniciativa é importante. Beira do Rio – A primeira fase será dia 22 de novembro, a segunda prova será realizada no dia 13 de dezembro e a última fase acontece- rá dia 10 de janeiro de 2010. Qual a previsão para a divulgação dos resultados? M. O. – A previsão é, em média, dez dias para o resultado da 1ª fase. O prazo para os resultados da 2ª e 3ª fases depende muito do número de candidatos que passarem para cada uma delas. Mas, nós vamos trabalhar com os prazos de divulga- ção que vêm sendo praticados nos anos anteriores. E, com cer- teza, em janeiro, nós teremos a divulgação do resultado final. Beira do Rio – Quais são as principais mu- danças para 2011? M. O. – O processo seletivo será composto por uma única fase, com questões de múlti- pla escolha e a redação. Nós ainda estamos dis- cutindo como isso será efetivado. Talvez, uma das dificuldades que iremos enfrentar diga respeito à natureza das provas, que deverão avaliar as habi- lidades e as competências, ou seja, terão uma natureza diferenciada. Isso significa que nós precisaremos discutir a elaboração de uma pro- va realmente conjunta. Em 2011, também existe a possibilidade da Universidade usar o Exame Nacio- nal do Ensino Médio (Enem) no seu processo seletivo, mas essa questão ainda será discutida pelo Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Ex- tensão (Consepe). A proposta para o vestibular 2011 se aproxima bastante do novo Enem, o que é bom para os candidatos, que poderão se preparar para responder às duas provas. Beira do Rio – Essa proposta também está próxima do Exame Nacional de Desempenho de Estu- dantes (Enade), aplicado ao final do curso, e que apresenta uma prova contextualizada e interdis- ciplinar, cujos conteúdos são co- brados a partir de estudos de caso e questões-problema? M. O. – Sim e esse é o modelo da vida real. Quando você se depara com determinadas situações, não diz: "agora vou usar meu conhecimento de Língua Portuguesa, de Inglês ou de Física". Na verdade, você aciona e articula um conjunto de conheci- mentos para tentar resolver aquele problema. Ao elaborar uma prova com essa interdisciplinaridade e ar- ticulação, nós estamos preparando o aluno para ser competente em resolver problemas do dia a dia. Hoje, o nos- so PSS é reconhecido como um dos melhores do País, o que precisa- mos é aperfeiçoar esse modelo. Beira do Rio – Então, um dos maiores desa- fios será elaborar uma prova que atenda ao novo modelo. Como vocês estão pensando em fazer isso? M. O. – Isso vai de- mandar uma mudança de postura dos pro - fessores que precisa- rão discutir e articular mais esse conhecimen- to para elaborar questões com essa qualidade. Os professores do ensino médio também precisarão estar preparados para orientar os candi- datos. Isso mostra, cada vez mais, a necessidade de articulação entre a universidade e a escola básica. Nesse sentido, a UFPA avança por meio dos investimentos que têm feito e dos projetos de extensão que têm em vista essa articulação. PET/Pará realiza V Jornada de Iniciação Científica O evento acontece de 24 a 27 de novembro, reunindo intelectuais, professores e estudantes dos Grupos do Programa de Educação Tutorial do Pará para debaterem a importância da universidade pública. Pág. 9 Pesquisa Avançam estudos sobre bioetanol UFPA e instituições parceiras anali- sam rejeitos da cana-de-açúcar e da mandioca para produção de biocom- bustível. Pág. 7 Migração portuguesa na Amazônia Historiadores apresentam estudos inéditos e com diferentes recortes cro- nológicos sobre a vida de migrantes na região. Pág. 10 Candidatos temem leituras obrigatórias Professor sugere utilização de re- cursos multimídia para aproximar o universo dos personagens ao dos alunos. Pág. 3 Mandioca História Vestibular ISSN 1982-5994 Entrevista Rosyane Rodrigues No próximo dia 22, mais de 50 mil estudantes de Belém e do interior do Estado iniciam a disputa por 6.152 mil vagas no PSS 2010 da Universidade Federal do Pará. No último ano do modelo de entrada seriado, o Edital trouxe algumas novidades, entre elas estão: 790 vagas a mais que no PSS 2009; 26 novos cursos distribuídos por todos os campi da Universidade; a criação de duas vagas especiais, em cada curso, destinadas a candidatos indígenas. Em entrevista ao Jornal Beira do Rio, Marilucia Oliveira, diretora do Centro de Processos Seletivos (CEPS), fala dos novos critérios adotados para concessão de isenção, da polêmica criada em torno da cota para indígenas, além de adiantar algumas informações sobre como será o novo modelo de processo seletivo em 2011. Para a diretora do CEPS, no ano que vem, o grande desafio será mudar a natureza das provas, que deverão avaliar as habilidades e as competências do candidato. Mais de 50 mil candidatos disputam 6.152 vagas na UFPA "Nós vamos trabalhar com os prazos de divulgação que vêm sendo praticados nos anos anteriores" 12 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Novembro, 2009 “Em 2011, a prova vai avaliar habilidades e competências do aluno" “Existe a possibilidade da UFPA usar o Enem no seu vestibular" Energia limpa e renovável O Grupo de Energia, Biomassa & Meio Ambiente, da Universidade Federal do Pará, tem desenvolvido projetos na área de geração de energia em comunidades isoladas. O EBMA idealiza sistemas que tornam possível a utilização de biomassa como fonte de energia al- ternativa utilizando caroços de açaí, restos de agricultura e de madeira, estrume de gado, óleo vegetal ou qualquer substância à base de carbono, disponível em abundância nas comunidades ribeirinhas. Essa pode ser a solução para geração de emprego e renda em regiões mais distantes dos centros urbanos. Comunidades das Ilhas do Marajó e do Combu já estão sendo beneficadas pelos projetos. Pág. 6 Experiência permite formação diferenciada aos alunos Obra está na lista de leituras ALEXANDRE MORAES ALEXANDRE MORAES FOTOS ALEXANDRE MORAES JORNAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ • ANO XXIV • N. 77 • NOVEMBRO, 2009 Raymundo Cota faz uma "nova" viagem à Europa a partir de Portugal. Pág. 2 Opinião Entrevista Carlos Maneschy fala sobre os construtores do cotidiano institucional. Pág. 2 Marilucia Oliveira, diretora do Centro de Processos Seletivos da UFPA, fala sobre o vestibular 2010. Pág. 12 Fluorescentes desperdiçam energia Pesquisadores do Laboratório de Qualidade de Energia e Eficiência Energética da UFPA analisam vida útil e efi- ciência das lâmpadas utilizadas na iluminação pública da Região Metropolitana de Belém. Pág. 10 Eletricidade Com 15 milhões de pontos, a iluminação pública gera uma demanda de 9,7 KWh/ano em todo o país WAGNER MEIER WAGNER MEIER Marilucia: "O sistema de cotas é uma tentativa de universalizar o ensino" Coluna do Reitor

Beira 77

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Beira do Rio edição 77

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Beira do Rio – Qual o balanço de candidatos inscritos (capital e interior)? Marilucia Oliveira – Este ano, tere-mos 50.232 mil candidatos concor-rendo a 6.152 vagas, em 144 cursos de graduação. 25% dos candidatos estarão concorrendo às vagas no in-terior e 74% às vagas em Belém.Beira do Rio – Quantas pessoas conseguiram a isenção? Foi possí-vel ampliar o número de candida-tos atendidos em comparação aos anos anteriores?M. O. – Mais de sete mil candidatos foram beneficiados. E comparado aos anos anteriores, o número foi mais baixo. Mas isso ocorre porque, até o ano passado, as isenções eram dadas por sorteio. Com o Decreto 6.593/2008, do governo federal, fo-ram criados critérios para concessão de isenções em qualquer concurso público federal e esses critérios fo-ram adotados pelo CEPS da UFPA. O candidato deveria ter renda per capita de meio salário mínimo, ou renda familiar de até três salários mínimos, ou estar inscrito no Ca-dastro Único para Pro-gramas Sociais do go-verno federal (CadÚni-co). Por determinação do Ministério Público, deveriam ser isentos todos os candidatos que comprovassem hipos-suficência econômica. E ao analisar a docu-mentação, verificamos que sete mil candida-tos tinham o direito. Olhando apenas quan-titativamente, pode-se pensar que regredimos mas, na verdade, houve um avanço, pois qua-

lificamos o processo que concede a isenção. Diferentemente do sorteio, neste novo modelo, você concede isenção a quem precisa de fato.Beira do Rio – O PSS 2010 será o último ano do modelo de entrada seriado, aplicado pela UFPA desde 2004. Há alguma diferença para os candidatos? M. O. – A diferença é que, este ano, só puderam se inscrever quem está concluindo ou quem concluiu o ensino médio, pois, a partir do ano que vem, nós não iremos aproveitar nenhuma fase. Beira do Rio – Essa fase de tran-sição implica alguma mudança no sistema de correção?M. O. – Não, o modelo de correção será o mesmo dos anos anteriores. O que, talvez, nós tenhamos que fazer é uma avaliação dos resultados deste PSS, até para nos nortear em 2011. Deve haver uma discussão com os professores envolvidos na elabora-ção e correção para verificar o que pode ser aproveitado deste vestibular

para o próximo e o que precisa ser alterado. Beira do Rio – Ou-tra novidade do PSS 2010 é a criação de duas vagas espe-ciais em cada curso, destinadas, especifi-camente, para can-didatos indígenas. Esse sistema de co-tas tem encontrado muita resistência? M. O. – Sempre que discutimos essas ações afirmativas, os pontos de vista são diferen-ciados – de um lado, estão os que acham que as ações trazem uma contribuição so-

cial por universalizar o ensino, por dar oportunidade aos grupos que, historicamente, foram colocados à margem, do outro lado, estão os que acham que a Universidade está dando um tratamento diferenciado e que não deveria ser assim. É uma política que estamos implantando agora e que, se for bem discutida, pode trazer bons resultados. O sis-tema de cotas não é um modismo. A demanda mostra como essa iniciativa é importante.Beira do Rio – A primeira fase será dia 22 de novembro, a segunda prova será realizada no dia 13 de dezembro e a última fase acontece-rá dia 10 de janeiro de 2010. Qual a previsão para a divulgação dos resultados?M. O. – A previsão é, em média, dez dias para o resultado da 1ª fase. O prazo para os resultados da 2ª e 3ª fases depende muito do número de candidatos que passarem para cada uma delas. Mas, nós vamos trabalhar com os prazos de divulga-ção que vêm sendo praticados nos anos anteriores. E, com cer-teza, em janeiro, nós teremos a divulgação do resultado final.Beira do Rio – Quais são as principais mu-danças para 2011? M. O. – O processo seletivo será composto por uma única fase, com questões de múlti-pla escolha e a redação. Nós ainda estamos dis-cutindo como isso será efetivado. Talvez, uma das dificuldades que iremos enfrentar diga respeito à natureza das provas, que deverão avaliar as habi-lidades e as competências, ou seja, terão uma natureza diferenciada. Isso significa que nós precisaremos discutir a elaboração de uma pro-va realmente conjunta. Em 2011, também existe a possibilidade da Universidade usar o Exame Nacio-nal do Ensino Médio (Enem) no seu processo seletivo, mas essa questão ainda será discutida pelo Conselho

Superior de Ensino, Pesquisa e Ex-tensão (Consepe). A proposta para o vestibular 2011 se aproxima bastante do novo Enem, o que é bom para os candidatos, que poderão se preparar para responder às duas provas. Beira do Rio – Essa proposta também está próxima do Exame Nacional de Desempenho de Estu-dantes (Enade), aplicado ao final do curso, e que apresenta uma prova contextualizada e interdis-ciplinar, cujos conteúdos são co-brados a partir de estudos de caso e questões-problema?M. O. – Sim e esse é o modelo da vida real. Quando você se depara com determinadas situações, não diz: "agora vou usar meu conhecimento de Língua Portuguesa, de Inglês ou de Física". Na verdade, você aciona e articula um conjunto de conheci-mentos para tentar resolver aquele problema. Ao elaborar uma prova com essa interdisciplinaridade e ar-

ticulação, nós estamos preparando o aluno para ser competente em resolver problemas do dia a dia. Hoje, o nos-so PSS é reconhecido como um dos melhores do País, o que precisa-mos é aperfeiçoar esse modelo.Beira do Rio – Então, um dos maiores desa-fios será elaborar uma prova que atenda ao novo modelo. Como vocês estão pensando em fazer isso?M. O. – Isso vai de-mandar uma mudança de postura dos pro-fessores que precisa-rão discutir e articular mais esse conhecimen-

to para elaborar questões com essa qualidade. Os professores do ensino médio também precisarão estar preparados para orientar os candi-datos. Isso mostra, cada vez mais, a necessidade de articulação entre a universidade e a escola básica. Nesse sentido, a UFPA avança por meio dos investimentos que têm feito e dos projetos de extensão que têm em vista essa articulação.

PET/Pará realiza V Jornada de Iniciação Científica

O evento acontece de 24 a 27 de novembro, reunindo intelectuais, professores e estudantes dos Grupos

do Programa de Educação Tutorial do Pará para debaterem a importância da universidade pública. Pág. 9

Pesquisa

Avançam estudos sobre bioetanolUFPA e instituições parceiras anali-sam rejeitos da cana-de-açúcar e da mandioca para produção de biocom-bustível. Pág. 7

Migração portuguesa na Amazônia Historiadores apresentam estudos inéditos e com diferentes recortes cro-nológicos sobre a vida de migrantes na região. Pág. 10

Candidatos temem leituras obrigatóriasProfessor sugere utilização de re-cursos multimídia para aproximar o universo dos personagens ao dos alunos. Pág. 3

Mandioca

História

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Entrevista

Rosyane Rodrigues

No próximo dia 22, mais de 50 mil estudantes de Belém e do interior do Estado iniciam a disputa por 6.152 mil vagas no PSS 2010 da Universidade Federal do Pará. No último ano do modelo de entrada seriado, o Edital trouxe algumas novidades, entre elas estão: 790 vagas a mais que no PSS 2009; 26 novos cursos distribuídos por todos os campi da Universidade; a criação de duas vagas especiais, em cada curso, destinadas a candidatos indígenas.

Em entrevista ao Jornal Beira do Rio, Marilucia Oliveira, diretora do Centro de Processos Seletivos (CEPS), fala dos novos critérios adotados para concessão de isenção, da polêmica criada em torno da cota para indígenas, além de adiantar algumas informações sobre como será o novo modelo de processo seletivo em 2011. Para a diretora do CEPS, no ano que vem, o grande desafio será mudar a natureza das provas, que deverão avaliar as habilidades e as competências do candidato.

Mais de 50 mil candidatos disputam 6.152 vagas na UFPA"Nós vamos trabalhar com os prazos de divulgação que vêm sendo praticados nos anos anteriores"

12 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Novembro, 2009

“Em 2011, a prova vai avaliar

habilidades e competências do

aluno"

“Existe a possibilidade

da UFPA usar o Enem no seu

vestibular"

Energia limpa e renovávelO Grupo de Energia, Biomassa & Meio Ambiente, da Universidade

Federal do Pará, tem desenvolvido projetos na área de geração de energia em comunidades isoladas. O EBMA idealiza sistemas

que tornam possível a utilização de biomassa como fonte de energia al-ternativa utilizando caroços de açaí, restos de agricultura e de madeira,

estrume de gado, óleo vegetal ou qualquer substância à base de carbono, disponível em abundância nas comunidades ribeirinhas. Essa pode ser a solução para geração de emprego e renda em regiões mais distantes dos centros urbanos. Comunidades das Ilhas do Marajó e do Combu já estão sendo beneficadas pelos projetos. Pág. 6

Experiência permite formação diferenciada aos alunos

Obra está na lista de leituras

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JORNAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ • ANO XXIV • N. 77 • NOVEMBRO, 2009

Raymundo Cota faz uma "nova" viagem à Europa a partir de Portugal. Pág. 2

Opinião

Entrevista

Carlos Maneschy fala sobre os construtores do cotidiano institucional. Pág. 2

Marilucia Oliveira, diretora do Centro de Processos Seletivos da UFPA, fala sobre o vestibular 2010. Pág. 12

Fluorescentes desperdiçam energia Pesquisadores do Laboratório de Qualidade de Energia e Eficiência Energética da UFPA analisam vida útil e efi-ciência das lâmpadas utilizadas na iluminação pública da Região Metropolitana de Belém. Pág. 10

Eletricidade

Com 15 milhões de pontos, a iluminação pública gera uma demanda de 9,7 KWh/ano em todo o país

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Marilucia: "O sistema de cotas é uma tentativa de universalizar o ensino"

Coluna do Reitor

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BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Novembro, 2009 – 11

Graduação é a única em todo o BrasilCurso de Etnodesenvolvimento é fruto da política de ações afirmativas

Altamira

Pela conjugação de conhecimen-to e razão, a UFPA desenvolve, num processo de conformação

histórica cheio de virtudes, seu papel singular em benefício do desenvol-vimento regional.

Muitas são as testemunhas da importância dessa obra, sem a qual não se pode garantir o futuro de jus-tiça e de prosperidade a que todos temos direito.

São também muitos os atores que, ontem, construíram o legado de realizações indissociáveis do progresso até aqui acumulado e os que, hoje, ajudam a pôr em curso o movimento institucional que tem permitido sonhar com um tempo em que valores e direitos de cidadania sejam exercidos pelos mais amplos espectros sociais.

A todos esses servidores da Universidade Federal do Pará, de antes e de agora, dedicamos o mês de outubro para celebrar suas parti-cipações no amálgama que junta os fundamentos da ciência e da técnica aos anseios coletivos de bem-estar da população.

Ao longo desse mês, várias ações foram efetivadas pela Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas com o intuito de reconhecer e valorizar o trabalho de técnicos e docentes na

nossa afirmação institucional. Ainda que não na dimensão devida, porque nenhuma é capaz de reproduzir o real valor das contribuições dadas pelos servidores, essas medidas bus-caram explicitar o reconhecimento da administração superior aos que trabalharam e ainda trabalham no esforço de tornar a UFPA o espaço mais adequado à disseminação dos saberes, em todas as áreas.

Pela particularidade do trans-curso do último 15 de outubro, Dia do Professor, aproveito, aqui, a oportunidade para desejar a todos os nossos docentes o pleno sucesso nas tarefas do dia a dia, as quais fazem dessa profissão uma das mais nobres e gratificantes dentre todas as outras.

No espaço dessas reflexões, reconhecimentos e desejos de suces-so, quero reafirmar que o exercício do magistério na Universidade Fede-ral do Pará me ensinou, entre tantas lições, o quanto esta Instituição é importante e como ela pode alterar, para melhor, trajetórias individuais.

Hoje, na condição de reitor, tenho recebido manifestações que consolidam minha crença nesse papel transformador. Uma delas, assinada pelo professor doutor Pe-ter José Schweizer, do Programa de

Estudios de la Ciudad da Facultad Latinoamericana de Ciencias Socia-les de Quito, no Equador, é particu-larmente estimulante para todos nós que fazemos a UFPA.

O professor Schweizer chegou aqui há 43 anos, quando a Universi-dade Federal do Pará contava com apenas nove anos de fundação. Veio do Rio de Janeiro, junto com os professores Donato Mello Junior e Paulo Pena Firme (oriundos da UFRJ e já falecidos), para dar continuidade ao Curso de Arquitetura. Aqui, ele iniciava a carreira do magistério, que ainda hoje exerce, aos 70 anos. Segundo ele, essa foi a “mais im-portante experiência” de sua vida, marco inicial de uma atuação de quase vinte anos na Amazônia, tra-balhando no Ministério do Interior e ministrando cursos no NAEA e na antiga Sudam.

Destaco dois trechos da men-sagem do professor Peter José Schweizer. Diz ele: “Hoje me invade uma tremenda nostalgia por Belém, pela UFPA, pelos meus ex- alunos que tiveram todos carreiras brilhan-tes, pelos amigos que nessa cidade fiz e por ter aberto, em mim, a visão da importância do ensino e da responsa-bilidade do professor no Brasil”.

E continua: “Magnífico Rei-

tor, publique esta minha manifesta-ção de amor à Universidade Federal do Pará, para que as novas gerações saibam da importância que nós, que um dia por aí passamos, damos a essa Universidade e aos alunos que nela se formaram”.

Ao atender ao pedido do pro-fessor, no espaço reservado ao reitor neste jornal, quero dividir com a comunidade da Universidade Fede-ral do Pará a responsabilidade que sua mensagem coloca para os que receberam o legado dos pioneiros, como ele, e que levam adiante, no cotidiano institucional, a tarefa de ampliar seus limites de atuação no Estado e na região.

Quero, também, na pessoa do professor Peter José Schweizer, mais uma vez, reverenciar a todos os que, ao longo dos 52 anos da UFPA, ajudaram a construí-la, em condições muitas vezes adversas, e, ao dar-lhe o melhor de seu talento, também se deixaram tocar por ela, reservando-lhe um lugar especial na memória de seus afetos.

Para ler o e-mail do professor Peter José Schweizer na íntegra, acesse a Coluna do Reitor no Beira do Rio On Line.

Coluna do REITOR

OPINIÃO

Os construtores do cotidiano institucional

Viagem a Portugal

Carlos Maneschy

Raymundo Garcia Cota

[email protected]

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

2 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Novembro, 2009

Rua Augusto Corrêa n.1 - Belém/[email protected] - www.ufpa.br

Tel. (91) 3201-7577

[email protected]

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A UFPA desenvolve al-g u m a s p o l í t i c a s d e a ç õ e s a f i rmat ivas . Uma de las é o Programa de Políticas Afirma-tivas para Povos Indígenas e Populações Tradicionais (PA-PIT), que promove atividades de pesquisa, ensino e extensão na Universidade a partir dos campi de Belém, Altamira e Marabá, com o objetivo de im-plementar ações que permitam o acesso, a permanência e a formação superior aos povos i n d í g e n a s e à s p o p u l a ç õ e s t r ad ic iona i s na Ins t i tu ição . Criado em 2007, hoje, o Pro-grama pretende implementar pesquisa-ação abrangendo, a princípio, a área das bacias dos rios Xingu, Tapajós, Ara-guaia e Tocant ins , no Pará , com os povos indígenas e tra-dicionais, a fim de gerar dados que alimentem a formulação de propostas de pesquisa, en-sino e extensão voltadas para as comunidades participantes d o PA P I T. A U n i v e r s i d a d e também possui, desde 2004, o Grupo de Estudos Afro-Ama-z ô n i c o s ( G E A M ) , q u e l u t a pelo ingresso e permanência de negros na UFPA.

Raphael Freire

Há mais de 500 anos, os coloni-zadores ofereciam aos povos indígenas um pequeno peda-

ço de espelho em troca de pepitas de ouro. Historicamente esquecidos e enganados, hoje, os povos indígenas querem o que lhes é de direito: reco-nhecimento. Mas como reivindicar direitos sem educação superior?

Esse é o comprometimento da Universidade Federal do Pará quando se fala em políticas de ações afirmativas para povos indígenas e tradicionais (quilombolas, caboclos, ribeirinhos, agricultores familiares, camponeses e assentados). Uma das maneiras que a Universidade encon-trou de formar, em nível superior, os povos tradicionais foi por meio da criação do Curso de Licenciatura e Bacharelado em Etnodesenvolvi-mento.

O curso foi aprovado em reu-nião do Conselho Superior de Ensino e Pesquisa (Consepe), em março deste ano. E terá início em 2010, no Campus Universitário de Altamira, ofertando 45 vagas destinadas, ex-clusivamente, a pessoas oriundas de povos indígenas e tradicionais. As comunidades-alvo do curso deverão dispor de um período para organiza-rem suas demandas e encaminharem seus candidatos, cujo ingresso dos selecionados será feito por meio de vagas reservadas e Processo Seletivo

Especial (PSE).Os povos indígenas e tradi-

cionais têm enfrentado dificuldades na luta pela terra, na garantia da sobrevivência e na sua afirmação como cidadãos brasileiros, motivo suficiente para verem na educação uma forma de buscar melhorias e garantir direitos. "Eles [povos indí-genas e tradicionais] não querem so-

mente se habilitar, querem, também, trabalhar para sua comunidade com essa qualificação", conta a professora Jane Beltrão, uma das proponentes do curso.

Em nível de graduação, o curso de Etnodesenvolvimento é o único em todo o Brasil. Elaborado desde o início de 2008, em constante diálogo com as comunidades-alvo,

o curso pretende funcionar de forma que articule igualdade e diferença entre as diversas culturas existentes em nossa sociedade. "Essa é a inter-venção esperada, almejada e não é de hoje. Agora, ela chegou e pode render muitos frutos", diz Almires Martins, índio da etnia Guarani e discente do Programa de Pós-Graduação em Direito (PPGD) da UFPA.

n Curso organizado no eixo diversidade cultural

Os futuros licenciados e ba-charéis em Etnodesenvolvimento serão capazes de gerenciar propostas sócio-político-culturais de modo a superar os obstáculos das ações co-tidianas das comunidades indígenas e tradicionais, trabalhar em agências governamentais, além de poder atuar como docentes, entre outras competências. E, para isso, o curso foi organizado no eixo diversidade cultural, que, por sua vez, foi dividido em oito núcleos: Sistemas de Saúde; Desenvolvimento e Sustentabilidade; Educação; Direitos Humanos; So-ciedade e Meio Ambiente; Nação e Território; Identidades e Linguagens Étnicas.

A escolha do Campus de Alta-mira para sediar o curso justifica-se por dois motivos: pelo fato do corpo técnico-docente ter aceitado o desafio de implementar políticas afirmativas, formalizando a existência de um curso diferenciado e, também, por haver uma forte presença de comu-nidades indígenas e tradicionais no município. O quadro de docentes do curso de Etnodesenvolvimento será composto por docentes das cinco faculdades existentes no Campus (Ci-ências Agrárias, Ciências Biológicas, Educação, Engenharia Florestal e Le-tras), além de docentes do Núcleo de Ciências Agrárias e Desenvolvimento Rural (NCADR) da UFPA, dos campi

n Ações atendem capital e interior de Belém e Marabá e do Programa

de Políticas Afirmativas para Povos Indígenas e Populações Tradicionais (PAPIT).

Com duração de quatro anos, o curso será realizado no modelo de alternância (intervalar), com períodos letivos intensivo-modulares, organi-zados em momentos presenciais em sala de aula e momentos nas comu-nidades às quais pertencem os estu-dantes indígenas e de outros povos. A oferta do curso deverá acontecer a cada dois anos, mas a ideia é que ele se multiplique para outros campi.

No final do curso, os concluin-tes deverão oficializar sua formação com a entrega do Trabalho de Con-clusão de Curso, que contemple ações de Etnodesenvolvimento voltadas para a comunidade e adequadas à rea-lidade de cada povo. "Fazer o projeto desse curso foi melhor do que fazer uma tese, pois o projeto não vai ficar numa prateleira, ele será desenvolvi-do”, brinca Jane Beltrão.

A UFPA está dando um grande passo no que diz respeito às políticas de ações afirmativas, oferecendo um curso de relevância social que dá a oportunidade àqueles que talvez jamais chegassem ao ensino superior e, principalmente, pelo caráter multi-culturalista do curso. “Será um desa-fio colocar tantos diferentes juntos”, diz Luiza Mastop Lima, professora do Campus de Marabá.

Comunidades-alvo deverão encaminhar seus candidatos, que serão selecionados por meio de Processo Seletivo Especial

As professoras Luiza Mastop Lima e Jane Beltrão foram proponentes do curso

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Reitor: Carlos Edílson Maneschy; Vice-Reitor: Horácio Schneider; Pró-Reitor de Administração: Edson Ortiz de Matos; Pró-Reitor de Planejamento: Erick Nelo Pedreira; Pró-Reitora de Ensino de Graduação: Marlene Rodrigues Medeiros Freitas; Pró-Reitor de Extensão: Fernando Arthur de Freitas Neves; Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: Emmanuel Zagury Tourinho; Pró-Reitor de Desenvol-vimento e Gestão de Pessoal: João Cauby de Almeida Júnior; Pró-Reitor de Relações Internacionais: Flávio Augusto Sidrim Nassar; Prefeito do Campus: Alemar Dias Rodrigues Júnior. Assessoria de Comunicação Institucional JORNAL BEIRA DO RIO Coordenação: Ana Carolina Pimenta Edição: Rosyane Rodrigues; Reportagem: Abílio Dantas/Brena Freire/Glauce Monteiro(1.869-DRT/PA)/ Igor de Souza /Jéssica Souza(1.807-DRT/PA)/Killzy Lucena/Raphael Freire/ Walter Pinto (561-DRT/PA)/ Yuri Rebêlo; Fotografia: Alexandre Moraes/Mácio Ferreira/Wagner Meier; Secretaria: Carlos Júnior/Felipe Acosta; Beira On line: Leandro Machado/Le-andro Gomes; Revisão: Júlia Lopes/Karen Santos; Arte e Diagramação: Rafaela André/Omar Fonseca; Impressão: Gráfica UFPA.

Diferentemente de Saramago, este viajante adentrou em Por-tugal por sua capital, Lisboa.

Não chegou pelo Porto de Belém – onde se encontra a Torre de Belém, mas pelo aeroporto Humberto Del-gado, muito próximo da cidade. No passado, as viagens duravam meses, depois, semanas. Dava tempo de o viajante preparar-se psicologicamente para chegar à Europa; de ler sobre a geografia e a história dos lugares a serem visitados. Hoje, tudo mudou. Dependendo do lugar de saída e chegada, pode-se atingir Portugal em seis horas. Cochila-se e já se desperta com os comissários acordando para o pouso. Nem dá tempo, ao viajante, de perceber que chegou. Ouve sua mesma língua, de brasileiros e de portugueses, apenas com sotaques diferentes. É mesmo Portugal? Não estarei em Porto Alegre ou Floria-nópolis?

Portugal é a melhor entrada de viajantes e de mercadorias de brasilei-ros na Europa, assim como a Espanha o é para os hispano-americanos. Não

apenas nos aproxima a língua, mas também os costumes. As construções na Avenida da República, em Lisboa, já apresentam exemplos (que o via-jante irá encontrar em toda a Europa) de conciliação entre o novo e o velho: o novo em construção, o velho em conservação. Isso diferencia nossa realidade de destruição e abandono do passado. Alguns lugares parecem com o Rio de Janeiro, outros, com Belém.

Sintra é outro ponto a ser visitado na Grande Lisboa, nas pro-ximidades do estuário do rio Tejo, no extremo oeste de Portugal e da Europa, de que falou Camões em Os Lusíadas: “onde a terra acaba e o mar começa”. Trata-se de um município, uma serra e um castelo de mesmo nome, de origem celta, que data da pré-história portuguesa, hoje, patrimônio da humanidade junto à Unesco. O território já foi também ocupado por romanos e árabes. Após a expulsão destes últimos, seguiu-se outro tipo de ocupação, no século XII, devido à fertilidade do solo: con-

ventos e mosteiros, ordens militares, quintas e vinhas. Tornou-se região de caça de reis e nobres, e lugar de suas residências de verão.

O mosteiro de N.S. da Penha, mostrado aos visitantes, foi obra de D. Manuel I (1511) – daí o estilo ma-nuelino, simulando cordame de navios, que permanece nas colunatas antigas. O terremoto de 1755, que destruiu Lisboa, atingiu também esse conven-to, que ficou abandonado por muito tempo. Sua reconstrução e ampliação se devem ao rei consorte D. Fernan-do II, marido de D. Maria II, filha de nosso D. Pedro I, em 1830, para transformá-lo em residência de verão. É construção eclética, muito a gosto no século XIX, quando a região foi invadida por aristocratas e burgueses milionários, depois, por pintores, mú-sicos e escritores. De Sintra, o visitante pode continuar até Cascais, importante ponto de lazer no Atlântico português. Aí se encontram alguns dos doze fortes que protegiam Lisboa, assim como, em uma de suas freguesias, o famoso Cassino de Estoril.

O viajante apreciou outros pontos em Portugal, apesar do pouco tempo de sua estada. Um setor que lhe chamou atenção foi o turístico, menos caro que os outros países europeus. Hospedou-se, comeu e bebeu muito mais em conta do que nos demais países, exceto na Espanha. Alguns taxistas entrevistados pelo viajante elogiaram a União Europeia, outros não. Todavia se reconhece que o euro integrou Portugal à Europa, trazendo-lhe renda e modernização. Apesar disso, o país mantém suas tradições com muito orgulho. O viajante sente isso quando os portugueses falam de Aljubarrota e seus tantos heróis ou quando desancam o invasor Napoleão Bonaparte.

Raymundo Garcia Cota é doutor pela Syracuse University (NY) e professor do Programa de Pós-Graduação em Economia da UFPA. Para continuar a viagem, acesse a seção Opinião no Beira do Rio On Line

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10 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Novembro, 2009 BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Novembro, 2009 – 3

Candidatos temem leituras obrigatórias Ferramentas multimídia facilitam leitura das obras do vestibular

Literatura

Entre mares: a Belém dos portugueses Pesquisadores estudam vida de imigrantes na Amazônia

História

Ultrapassando a barreira da linguagem, vamos nos deparar com a falta do hábito de leitura dos jovens. A segunda prova, que acontece dia 13 de dezembro, traz narrativas maiores, como Cinco Minutos, de José de Alencar, Amor de Perdição, de Ca-milo Castelo Branco (Romantismo) e O Alienista, de Machado de Assis (Realismo). Inseridos em uma cultura visual e habituados com textos rápi-dos e simples, tal como os textos de internet, os alunos podem estranhar as linhas narrativas das obras da segunda fase.

O professor Sílvio Holanda in-dica que a primeira coisa que o aluno deve fazer é identificar as característi-cas básicas de uma narrativa, que são: personagens principais, os lugares, o tempo, o tipo de narrador e o tema principal. Para complementar a leitu-

ra, Sílvio Holanda indica a utilização de filmes, já que muitas dessas obras foram adaptadas em formato audiovi-sual. “A intenção não é a de o professor passar o filme e ir embora, mas sim destacar aspectos do filme que condi-zem ou não com a obra”, orienta.

Para o concluinte do ensino médio, Tiago Sousa, de 16 anos, a leitura mais complicada na segunda fase foi O Alienista. “Os professores sempre falam que é uma leitura re-cheada de humor, mas eu não consigo achar nada engraçado nela”, relata o estudante que prestará vestibular para Direito na UFPA. O professor Sílvio Holanda explica que a obra de Ma-chado de Assis, de fato, não é apenas humor ou loucura, mas também uma discussão sobre o poder e a ciência. “O realismo, em que Machado de Assis está situado cronologicamente,

deveria valorizar a ciência, mas a obra em questão é uma crítica do poder da ciência sobre a vida das pessoas”, analisa o professor.

Muita coisa se pode fazer para tentar concretizar as obras diante da falta do hábito de leitura dos estudan-tes. Em Cinco Minutos, de José de Alencar, por exemplo, as personagens estão inseridas em vários cenários, como Petrópolis (Rio de Janeiro), Ilha de Villegagnon (baía de Guanabara), Florença (Itália), entre outros, então, por que não levar para os estudantes ou estimular que pesquisem, na in-ternet, mapas desses locais, acompa-nhados de imagens que ilustrem os diversos cenários? “Muitas escolas públicas já possuem internet, por que não incentivar a utilização de recursos multimídias relacionados à literatu-ra?”- comenta Sílvio Holanda.

igor de souza

O Jornal Beira do Rio informa: se você quiser passar no vestibular da UFPA, é preciso ler muito.

Criar e sustentar o hábito da leitura nas nossas vidas é fundamental para interpretarmos e entendermos o mundo que nos rodeia, mundo este que, mini-mamente, está representado nas provas do vestibular da Universidade por meio de seu conteúdo programático. E adivi-nha quem está nesse mundo? Sim, as famosas leituras obrigatórias! Mas será que os jovens candidatos sabem como lê-las de forma que o entendimento seja completo para o sucesso nas provas? E como fica o papel dos professores nesse contexto?

Para o professor Sílvio Augus-to de Oliveira Holanda, do Instituto de Letras e Comunicação da UFPA, responder a essas questões requer um percurso discursivo ao longo de todo o conteúdo programático de literatura, desde o processo de elaboração do programa até o dia da prova. Vejamos por parte.

Nas três fases, as leituras indicadas obedecem à ordem cronológica

Ao chegar à terceira fase, que acontecerá dia 10 de janeiro de 2010, o candidato já está mais maduro e se de-para com uma leitura mais complexa, representada pelos simbolistas Camilo Pessanha e Alphonsus de Guimaraens. Para a estudante Amanda Barreiros, de 16 anos, os poemas simbolistas foram os mais complicados porque requerem uma leitura minuciosa. “Tive que reler várias vezes para poder entender o subjetivismo dos poemas”, ressalta a estudante que prestará vestibular para Administração na UFPA.

Sílvio Holanda explica que o Simbolismo traz uma linguagem indi-reta, cheia de sugestões ao nível da mu-sicalidade, do imaginário e da fantasia. Para dar um efeito diferente à leitura, o professor recomenda o uso de ima-gens e de sons. “Em dado momento, Camilo Pessanha fala sobre clepsidra e sobre violoncelos, mas será que o aluno sabe o que são esses objetos? Se o simbolismo trabalha com a música, por que não trazer um videoclip com execução de um violoncelo para criar a atmosfera propícia ao Simbolismo? Mais uma vez enfatizo o uso de ima-gens e tudo o que pode se relacionar com os poemas”, sugere.

É claro que o uso desses recur-sos técnicos não pode excluir a leitura dos textos na íntegra. Os professores, como mediadores entre os alunos e as leituras, devem usar os recursos mul-timídias como motivação, mas nada pode tirar a importância de ler as obras na sua completude. Para o vestibular, Sílvio Holanda recomenda que os alu-nos adotem uma leitura planejada após a orientação dos professores, sempre atentando para os detalhes ressaltados em sala de aula.

As provas do PSS deste ano marcam o fim de um ciclo para o começo de outro ainda não definido em termos de vestibular. “Eu acho que vale a pena mantermos o nosso vestibular, se não totalmente, mas parcialmente, para que autores regio-nais, como Dalcídio Jurandir e Inglês de Souza, possam participar da vida dos estudantes paraenses”, conclui o professor.

n É tempo de mudanças

Sílvio: "não precisa temer a língua"

n Recursos didáticos derrubam barreiras do tempoO Processo Seletivo Seriado

da UFPA (PSS), tal como o conhe-cemos hoje, existe desde 2004. Nesses cinco anos, a elaboração do conteúdo programático é pensada de forma interdisciplinar, dentro de uma prova unificada, ou seja, todos os candidatos estudam todo o conteúdo programático. No caso do conteúdo de literatura, há um fórum constituído por membros da comunidade acadêmica e da socie-dade, em que propostas de leituras são discutidas até que se chegue a um consenso. E um dos consensos foi estabelecer uma ordem cronoló-gica para o aluno, ou seja, o estudo começa das leituras mais antigas até as mais recentes na lógica do tempo.

A dificuldade do aluno co-

meça com a linguagem dos textos. A primeira fase do PSS, que acon-tecerá dia 22 de novembro, traz as primeiras manifestações literárias da língua portuguesa (Trovadoris-mo), que datam do século XIII, até chegar à leitura de poemas líricos do Arcadismo, uma escola surgida na Europa do século XVIII. Como passar uma leitura de textos com mais de 700 anos, como é o caso das cantigas de amor e de amigo do Trovadorismo, para alunos in-seridos em um contexto totalmente diferente da época medieval?

Para o professor Sílvio Ho-landa, o candidato ao vestibular não precisa temer a língua nem decorar palavras que desconhece. “No vestibular da UFPA, os textos serão dados aos alunos exatamente

como foram escritos. Contudo, um glossário acompanha esses textos na prova para auxiliar o aluno a interpretá-los, já que esse é o princi-pal objetivo da prova”, esclarece.

Sílvio Holanda sugere que os educadores utilizem músicas contemporâneas para auxiliar o entendimento das cantigas de amor e amigo, além da utilização dessas cantigas de forma cantada, serviço já disponível na internet. Ainda na primeira fase, temos a farsa de Gil Vicente O Velho da Horta (Huma-nismo). Para Sílvio Holanda, a for-ma mais interessante para derrubar a barreira da linguagem e perceber as críticas morais e sociais da farsa é encenar a peça em sala de aula após a leitura ou apresentá-la ao aluno com recursos audiovisuais.

n Falta do hábito de leitura dificulta entendimento

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Tensões à parte, os portugue-ses solteiros vinham para a região pensando em constituir família e, se possível, enriquecer. Trabalhando com 819 registros de casamentos de 1908 a 1920, a historiadora Cristina Donza Cancela observa que quase 46% dos portugueses casaram com paraenses, o que se justifica pelo número pequeno de portuguesas imigrantes naquele período. Depois das paraenses, a preferência era pe-las portuguesas. Em terceiro lugar, ficavam as nordestinas. Quando a historiadora analisa o caso das portu-guesas, o padrão se inverte. Em geral, elas casavam com seus conterrâneos. Quando isso não acontecia, elas podiam casar com paraenses e com espanhóis.

Os homens, em geral, se de-dicavam à atividade de comércio, na condição de proprietário, de vende-dores ou de caixeiros. Muitos traba-lhavam em serviços de transportes (carroceiros) ou em outros ofícios, como pintores e carpinteiros.

Os processos de inventários

permitiram à Cristina Cancela lançar um olhar sobre o desenvolvimento das famílias. Era grande o número de imigrantes portugueses que mo-ravam em Belém enquanto a família estava na Europa, durante o período de estudos dos filhos no bacharela-do em Direito ou na Faculdade de Medicina.

Alguns já tinham nome no Ma-ranhão antes de virem para Belém. É o caso de João Gualberto da Cunha, cuja família se estabelecera em São Luís. Tendo um tio comerciante em Belém, João Gualberto veio para a cidade, onde casou com uma mulher da elite paraense, Ana Cunha, filha do ex-intendente José Malcher.

A análise dos documentos pos-sibilitou que a historiadora observasse muitos desses arranjos, por meio dos quais, os portugueses, com dinheiro, mas sem tradição social, utilizaram o casamento para unir o dinheiro à força política das famílias tradicionais de Belém e da Ilha do Marajó, como as famílias Pombo, Ferreira Pena, Justo Chermont ou Correia de Miranda.

Walter Pinto

Em 2008, quando a vinda da Família Real para o Bra-sil completou 200 anos, os

eventos da programação de come-moração destacaram o significado do período joanino (1808-1821) para as transformações políticas e econômicas da colônia, mas o foco das abordagens privilegiou, principalmente, o Rio de Janeiro. Praticamente não houve trabalhos mostrando o impacto da presença da Família Real em outras regiões do Brasil. Na Universidade Federal do Pará, um grupo de historiadores se empenha na tarefa de mostrar que a presença portuguesa não está restrita ao Rio de Janeiro. Parte dos estudos em desenvolvimento foi apresentada durante o Seminário Internacional “Entre Mares: O Brasil dos Portugueses”, que reuniu, em Belém, pesquisadores portugueses e de 17 universidades brasileiras, além dos historiadores da UFPA que se dedicam ao estudo da migração portuguesa na Amazônia.

Quase todos os estudos apre-sentados pelos pesquisadores da UFPA são inéditos e de recortes cronológicos diferentes. O histo-riador Antônio Otaviano Júnior apresentou um resumo mostrando a intensa movimentação de embarca-ções portuguesas no porto de Belém, justamente no período joanino. Ele observa que, mesmo durante a ocu-pação de Portugal pelos franceses, o fluxo de embarcações de imigrantes entre o Atlântico e a Baía do Guajará não cessou, registrando-se média de 41 embarcações, por ano, no porto de Belém.

Entre homens e mulheres que chegavam a Belém no período de

1808 e 1821, apenas 0,1% era pela primeira vez. A maioria era forma-da por pessoas que já moravam na cidade e estavam retornando. Havia, também, trabalhadores de embar-cações e degredados. Somente 5% das mulheres vinham por iniciativa própria. As demais acompanhavam maridos, filhos ou genros, além de um grupo expressivo delas que veio como degredadas.

O degredo era uma pena em função de um crime. Os degredados formaram um grupo que veio à Ama-zônia como parte da ideia da Coroa de tornar úteis os que eram inúteis no reino, conforme explica o histo-riador Rafael Chambouleyron. Eles

foram um dos segmentos utilizados pela Coroa na política de ocupação da Amazônia, considerada, em gran-de medida, uma região de fronteira, onde o povoamento era uma questão estratégica vinculada ao potencial de riqueza. Muitas cartas do século XVII examinadas pelo historiador redirecionam os condenados em função dos interesses da Coroa em lugares diferentes. Não raramente, o corregedor da justiça da Casa de Suplicação recebia pedidos de co-mutação de pena de criminosos em pena de degredo para que pudessem viajar para o Maranhão e para o Grão Pará, onde atuariam como soldados em função das necessidades locais.

Além dos degredados, Cham-bouleyron ressalta que havia uma pequena migração voluntária, per-ceptível na documentação existente no Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa, agora disponível em Belém, no Laboratório de História da UFPA e no Arquivo Público do Estado. São registros do século XVII de pessoas que solicitam autorização para viajar para o Maranhão e para o Grão Pará. Os códices ultramarinos mostram a obrigatoriedade de fiança como garantia para a viagem, pois a Co-roa, em grande média, financiava os custos da travessia. Caso a viagem não se concretizasse, alguém teria que reembolsá-la.

n Tensão nas ruas de BelémNo final do século XIX, as

epidemias de varíola e febre amare-la, em Belém, atingiam portugueses e brasileiros de maneira diferente. A febre amarela atingia muito mais os portugueses, enquanto a varíola fa-zia mais vítimas entre os nacionais. A historiadora Iracy Gallo observa que as políticas públicas sanitárias implementadas pelas autoridades da época eram, também, diferen-ciadas em termos de qualidade de tratamento.

Enquanto os portugueses eram atendidos no moderno Hospital Do-mingos Freire, construído onde hoje funciona o Hospital Barros Barreto, aos nacionais restava a precária barraca de madeira construída pelo governo na área onde, hoje, está o Cemitério de Santa Isabel, à qual os jornais da época se referiam como Barraca Negra. Sobre o Domingos Freire, Iracy Gallo ressalta a obser-vação feita por um engenheiro no relatório do governo da época: “é tão lindo e suntuoso que merecia ser aberto à visitação pública".

No período considerado de economia mais próspera da Amazô-nia (do final do século XIX ao início do XX), as tensões se acirraram em Belém devido à afluência de imi-grantes. "São tensões causadas pelas práticas culturais, pela disputa do mercado ou pela própria etnicidade", como explica Maria de Nazaré Sar-ges, autora do clássico Belém - rique-zas produzindo a Belle-Époque.

A documentação que lhe ser-ve de fonte mostra uma realidade muito diferente do retrato traçado na literatura regional, na qual os portu-gueses aparecem avessos à política e distantes dos processos criminais. "Os documentos sobre a imigração surpreende pela quantidade de por-tugueses envolvidos em delitos, ora como testemunhas, ora como réus, ora como vítimas", informa a histo-riadora. Ela percebe, no entanto, a existência de uma rede de sociabili-dade, visível quando muitos portu-gueses surgem depondo em favor de brasileiros ou mesmo de brasileiros em favor de portugueses.

n Estratégias de casamento

Público pôde conhecer acervo de fotos e objetos de famílias de migrantes portugueses

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4 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará –Novembro, 2009

Curso de História obtém conceito cincoEnade

Qualificação docente e incentivo à pesquisa contribuem para o resultado

BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Novembro, 2009 – 9

V Jornada debate papel da universidadeEvento reunirá alunos e pesquisadores do Programa de Educação Tutorial

Iniciação Científica

O Enade, criado com o ob-jetivo de avaliar o desempenho e a aprendizagem dos alunos em relação ao conteúdo programático, de acordo com as diretrizes curriculares dos cur-sos, nunca foi visto com bons olhos pelos estudantes universitários de todo o país, entre eles, os da UFPA, que sempre participaram do boicote às provas. O formato do exame é um dos pontos criticados, assim como a formulação das provas que é a mesma para o Brasil inteiro.

Apesar de não concordar com esse tipo de avaliação, o alunado de História também comemora o resul-tado e reconhece os avanços do curso. Alguns estudantes que participaram do Exame já se encontram cursando a pós-graduação. É o caso de Fe-lipe Tavares de Moraes, aluno do Mestrado em Educação e concluinte de 2008. “Posso falar do curso de História como um aluno que entrou na Universidade e logo no segundo semestre conseguiu uma Bolsa de Iniciação Científica. Isso é algo que contribui, significativamente, para o bom desempenho dos alunos durante a graduação, pois estimula e qualifica para a pesquisa. O aumento da oferta de Bolsas de Iniciação Científica é

uma necessidade dentro do curso. Essa nota no Enade é um resultado que se deve aos alunos, especial-mente; a minha turma, que é muito interessada; e aos professores, que nos deram todas as condições para o nosso bom desempenho”, afirma.

“Eu considero o nosso curso excelente. Os professores têm um óti-mo preparo. Esse resultado também é fruto da iniciativa dos alunos do curso. Eu fiz a prova quando entrei na UFPA, em 2005, e quando conclui o curso em 2008, e pude observar a melhoria dos resultados. Mas faltam equipamentos e a quantidade de bolsas é insuficiente para o número de alunos que entram no curso todos os anos”, lamenta Patrícia Raiol de Castro Melo, concluinte de 2008 e aluna da UFPA, do Mestrado em História.

Participantes da prova como ingressantes de 2008, Ana Ruth Estumano e Gerusa Oliveira acre-ditam que o conceito obtido se deve ao esforço dos alunos e à excelente qualificação dos professores. “É um esforço do aluno em não se contentar somente com o que os professores ministram em sala, mas também bus-car outras fontes de conhecimento”,

ressalta Gerusa Oliveira.Para o diretor da Faculdade

de História, Mauro Coelho, o Enade deve ter o caráter generalista apre-sentado nas provas e não deve se restringir às especificidades dos cur-sos em cada região. “A bibliografia é a mesma em todos os lugares e o Enade não cobra o que chamamos de conteúdo regional. Esse resultado alcançado significa que a formação do aluno da Faculdade de História da UFPA está sendo minimamente satisfatória dentro de um padrão nacional” avalia.

Mauro Coelho reconhece que, apesar da excelente avaliação, ainda é preciso melhorar. Os desafios para alcançar um patamar de excelência ainda são muitos, “o desempenho dos alunos significa que estamos num bom caminho. É necessário incentivar a pesquisa na graduação, com o aumento do número de Bolsas de Iniciação Científica; melhorar os procedimentos de avaliação interna e o planejamento; intervir na estrutura curricular do curso, que apesar de recente já permite críticas; além de resolver problemas, como o acervo nas bibliotecas e a estrutura dos laboratórios” diz.

O curso de História foi criado na década de 50, para formar, regu-larmente, professores de matérias específicas, como História e Geogra-fia, para o então ensino secundário. Em 1955, surgiu o primeiro curso de Graduação em História e Geografia no Pará, na antiga Faculdade de Fi-losofia, Ciências e Letras do Pará e incorporado à Universidade Federal do Pará em 1957. No início, era ministrado predominantemente por advogados.

Com o tempo, os cursos de História e Geografia foram separados e foi criado um curso de História associado à Antropologia. Nos anos 70, a pesquisa no Departamento de História era praticamente inexisten-te. Durante esse período, houve uma tentativa de qualificação dos profes-sores, que foram para outros Estados cursar o mestrado. No entanto, entre 1970 e 1980, a necessidade de uma reestruturação curricular, tornando o curso mais crítico e analítico em relação à situação política e social do País e do mundo, foi crescendo.

Nos anos 80, o movimento es-tudantil surgiu como um elemento de grande contribuição para mudanças e conquistas nas universidades. Não foi diferente na UFPA. Estudantes como Edilza Fontes, José Maia Be-zerra Neto e Fernando Arthur Neves foram exemplos de jovens militantes que se tornaram professores do De-partamento de História e que contri-buíram muito para a renovação do curso entre os anos de 1985 até 1997. Paulo Watrin e José Alves Júnior também são nomes importantes nes-se contexto de lutas pelas mudanças estruturais e metodológicas no curso de História.

O Departamento de História autônomo foi estruturado em 1988 e um processo de qualificação em massa dos professores começou. No início dos anos 90, começaram os incentivos a projetos de pesquisa financiados pela UFPA e pelo CNPq, além disso, professores visitantes começaram a compor o quadro de docentes.

O crescimento da pós-gra-duação possibilitou a criação do Programa de Pós-Graduação em His-tória Social da Amazônia em 2004, que oferece o curso de mestrado e desenvolve pesquisas nas linhas de “História e Natureza” e “Trabalho, Cultura e Etnicidade”.

Atualmente, a Faculdade de História conta com um quadro de 21 professores efetivos, dos quais, 16 são doutores e quatro estão con-cluindo o doutorado. Mantém um laboratório, instalado em prédio próprio, para apoio das atividades de graduação e de pós-graduação. O espaço possui um miniauditório, sa-las de leitura e biblioteca com acervo de livros, periódicos, dissertações e monografias.

n Formação de pesquisadores

Brena Freire

O esforço conjunto de alunos, professores e direção da Fa-culdade de História, da Uni-

versidade Federal do Pará, resultou na excelente avaliação que o curso obteve no último Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade). O curso foi o único do Estado a obter o conceito cinco, revertendo, assim, avaliações anteriores nada satisfató-rias. Em 2008, a prova do Enade foi realizada por 65 alunos do Campus de Belém, ingressantes de 2008 e egressantes de 2005.

Para o diretor da Faculdade,

Mauro Cezar Coelho, a avaliação é fruto do investimento feito no curso, com destaque para a dedica-ção do corpo docente, o que reflete diretamente no alunado. “Muitos de nossos professores excedem a sua carga horária ministrando aulas na graduação e na pós-graduação, orientando Trabalhos de Conclusão de Curso e dissertações de mestrado, além de desenvolverem projetos de pesquisa. A própria diretora do Insti-tuto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) é docente da Faculdade de História e tem uma participação ativa no curso”, revela.

Para o diretor, além do em-

penho dos professores, as ações administrativas da Faculdade de His-tória, envolvendo direção e pessoal de secretaria no planejamento e na regularização da vida acadêmica do aluno, também foram fundamentais para a evolução do curso nos últimos anos. “Regularizamos a situação dos alunos em seus períodos curriculares e organizamos os semestres com qua-tro ou cinco meses de antecedência, informando aos professores as suas disciplinas, para que também possam se planejar. Além disso, promovemos reuniões periódicas com os discentes para discutir e tentar solucionar os problemas”, ressalta Mauro Coelho.

n Estudantes criticam formato do exame nacional

De acordo com os alunos, envolvimento com a Iniciação Científica favorece o bom desempenho

Abílio Dantas

Os prédios e pavilhões, à primeira vista, não apresentam nada de novo ou diferente. Os problemas

sociais são os mesmos que existem fora dos muros. As pessoas caminham e tra-balham como em qualquer outro lugar. O espaço localizado no bairro do Guamá, em Belém, destaca-se, unicamente, por abrigar um conceito fundamental para a educação formal de um país: o de uni-versidade. Mas, afinal, qual é o papel de uma universidade? Para que e para quem ela foi idealizada?

É para fomentar esse debate que a V Jornada de Iniciação Científica dos Grupos do Programa de Educação Tutorial (PET) do Pará traz o tema “A importância da universidade pública e a produção de conhecimento científico”. Intelectuais, professores e estudantes estarão reunidos entre os dias 24 e 27 de novembro, na Universidade Federal do Pará, para discutir o tema.

“A ideia é tratar a questão da produção de conhecimento como uma responsabilidade da universidade pú-blica, além de questionar quais são as responsabilidades da sociedade com essas universidades e com o ensino pú-blico”, explica Sérgio Vizeu, professor e tutor do PET do curso de Física da UFPA. Segundo o pesquisador, muito é dito sobre a obrigação dessas instituições com o cidadão comum, mas pouco é

Requisitos e Procedimentos para ingresso no PET

falado sobre o compromisso de todos na manutenção deste ensino, que deve ser gratuito e de qualidade.

Realizadas desde o ano de 2005 pela Executiva Estadual dos Grupos PET do Estado, as Jornadas de Iniciação Científica nasceram a partir de uma exigência do Ministério da Educação (MEC) aos grupos PET. “Um dos pré-requisitos do manual de orientações é que cada estudante-bolsista tenha uma publicação de trabalho científico por ano. Pode ser num encontro regional ou nacional”,

afirma Sérgio Vizeu. Assim, surgiu a ideia das Jornadas, que proporcionam a divulgação da produção científica dos grupos e promovem o diálogo com outros órgãos de dentro e de fora das universidades.

O professor também ressalta o caráter transdisciplinar da Jornada, pois todas as áreas de conhecimento estão convidadas a participar, assim como todas as instituições de pesquisa, “a ideia é que a Jornada transcenda os grupos PET e man-tenha uma das principais características do Programa, a multidisciplinaridade.”

Alessandra Nascimento, Ro-berto Peixoto, Débora Carvalho, Leandro Oliveira. Aparentemente, são nomes comuns, mas, no PET Física, cada um representa uma parte e o todo das atividades do grupo. Os bolsistas são responsá-veis pelo funcionamento de todos os projetos e ações internas - se-minários, cine-clube, divulgação na graduação, sendo tutorados pelo professor Sérgio Vizeu. Entre os projetos em vigor, podemos destacar os projetos Universidade Aberta (PUA) e Conexão Física.

A ideia é simples: propor-cionar uma preparação gratuita para o vestibular aos estudantes da rede pública. O PUA, formado por professores voluntários, contribui não só para a vida profissional, mas também para a formação humanística dos bolsistas que co-ordenam diretamente essa inicia-tiva. A manutenção financeira da Universidade Aberta é garantida pelo Projeto Reciclagem, criado pelo PET-Engenharia Macânica, que vende papel reciclado para o Banco Central. O projeto é secre-tariado pelo estudante Erberson Rodrigues.

No PET, todos os projetos se relacionam e não é diferente com o Conexão Física, projeto de pesqui-sa e extensão que visa à criação de material didático para professores e estudantes de ensino médio, ou seja, os alunos da Universidade Aberta. Algumas apostilas já estão disponíveis para consulta no site do PET Física www.cultura.ufpa.br/petfisica

Para Sérgio Vizeu, o que há de mais rico no PET é a experi-ência coletiva. “No fundo, o PET é a vivência na Universidade: atividades na sala, participação em projetos sociais e vivências em grupo. Essa experiência é um diferencial”, completa.

n Formação diferenciada

n Atividades de ensino, pesquisa e extensãoO que há em comum entre um

cursinho popular, a criação de mate-riais didáticos para o ensino médio e a elaboração de um livro sobre Métodos Matemáticos? Os bolsistas do PET-Física da UFPA não hesitariam em responder: o tripé ensino, pesquisa e extensão. Essas são as diretrizes do Programa de Educação Tutorial do MEC desde sua regulamentação em 2005. O objetivo é que os cursos de graduação possam desenvolver ati-vidades que integrem o cotidiano das pessoas, dentro e fora da universidade, contribuindo, assim, para a formação de indivíduos conscientes de suas obrigações na sociedade. “Além do

ensino, pesquisa e extensão, o PET tem como proposta promover uma for-mação acadêmica pautada pela ética e que comprometa o estudante como cidadão”, ressalta Sérgio Vizeu.

Atualmente, a UFPA possui nove PETs funcionando nos cursos de Física, Geologia, Biologia, Geografia, Farmácia, Engenharia de Pesca, En-genharia Civil, Engenharia Elétrica e Engenharia Mecânica. Todos os anos, são criados trinta novos grupos no País. Para concorrer, é preciso elaborar um projeto de acordo com o manual de orientações (ver box) e submetê-lo à seleção. Anualmente, duas novas propostas, por universi-

dade, são enviadas ao MEC. O curso de Ciências Sociais

mantém uma experiência diferenciada, encabeçada pelo professor Samuel Sá. O Projeto Extracurricular Temático funciona a partir de algumas reco-mendações do MEC, mas não é ligado formalmente ao Ministério. Segundo o professor, o grupo decidiu trabalhar de forma independente. Desta forma, não segue exigências, como a restrição de atividades a estudantes de graduação e o cumprimento de algumas normas bu-rocráticas. A iniciativa representa uma alternativa para os cursos que preten-dem trabalhar, indissociavelmente, os três eixos de ação da Universidade.

Fonte: MAnuAl de orientAções do Pet, disPonível no PortAl do Mec, no siTE PortAl.Mec.gov.br

Do Curso de Graduação:* deve oferecer as condições necessárias para o desenvolvimento das atividades do grupo Pet.* deve participar do planejamento do grupo, respeitando sua autonomia, tanto na organização do plano como na sua execução, buscando aproximar as ações do grupo aos demais interesses do curso.* Possuir um alunado com condições de candidatar-se à seleção de bolsistas (conforme o item “candidato”).

Do Tutor:*deve per tencer ao quadro permanente da instituição, sob contrato

de regime de tempo integral e dedicação exclusiva.*ter título de doutor e, excepcionalmente, de mestre.* não acumular qualquer outro tipo de bolsa.* comprovar atividades de pesquisa e extensão nos três anos anteriores à solicitação de ingresso.* comprometer-se a dedicar carga horária semanal mínima de oito horas às atividades do grupo, sem prejuízo das atividades de aula da graduação.* visão interdisciplinar e experiência em áreas que envolvam a tríade universitária: pesquisa, ensino e

extensão.

Do aluno candidato:* estar regularmente matriculado em curso de graduação.* não ser bolsista de qualquer outro programa.* Apresentar coef ic iente de rendimento escolar maior ou igual a 6,0 (seis).* ter disponibilidade para dedicar vinte horas semanais às atividades do programa.* A participação do aluno se dá a partir da aprovação em seleção, sob a responsabilidade de cada instituição de ensino superior.

Experiência coletiva é diferencial

Ao centro, os professores Samuel Sá e Sérgio Vizeu com bolsistas do PET

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Biblioteca

8 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Novembro, 2009 BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Novembro, 2009 – 5

Acervo guarda tesouros e raridades Fluorescentes provocam desperdícioLâmpadas aumentam o consumo e diminuem vida útil de equipamentos

Eletricidade

Cadastro on line atrai pesquisadores em busca de obras raras

EM DIAGenéticaNo Centro de Convenções da UFPA, nos dias 20 e 21, acontecem o II Sim-pósio Nacional sobre Atendimento em Genética Médica e Laboratorial e a VII Jornada Paraense sobre Doenças Metabólicas Hereditárias. Mais de 400 participantes discutirão a interface entre a Genética Médica e o Sistema Único de Saúde. A progra-mação completa está disponível no site www.ufpa.br/leim

Áreas ProtegidasA quarta edição do Seminário Bra-sileiro sobre Áreas Protegidas e In-clusão Social (IV SAPIS) terá como temática central “Amazônia e os desafios da proteção da diversidade biológica e social”. Estão convidados a participar estudantes, pesquisadores e profissionais que trabalhem com o tema. O evento ocorre entre os dias 22 e 25 de novembro, na UFPA. Informa-ções no site http://redesapis.org/

Guia do Estudante I26 cursos de graduação da UFPA receberam o V Prêmio Melhores Uni-versidades, concedido pela Revista Guia do Estudante, da Abril Cultural.Entre os premiados, estão seis cursos dos campi do interior. Engenharia Sanitária e Ambiental, Pedagogia (Al-tamira), Biblioteconomia, Medicina Veterinária, Enfermagem, Pedagogia (Marabá), Estatística, Pedagogia (Bragança), Pedagogia (Breves) e Ciências Econômicas receberam a premiação de três estrelas.

Guia do Estudante IIOs Cursos Filosofia (Belém), Ciên-cias Sociais (Marabá), Comunicação Social -Publicidade e Propaganda, Engenharia Mecânica, Pedagogia (Abaetetuba), Odontologia, Medici-na, Farmácia, Química, Engenharia Civil, Comunicação Social - Jorna-lismo, Engenharia Elétrica, Serviço Social e Ciência da Computação receberam quatro estrelas e os cursos de Geografia, Pedagogia (Belém) e Ciências Sociais (Belém) receberam cinco.

PescadorasO Laboratório de Estudos de Ecos-sistemas Amazônicos (LEEA) da Faculdade de Biologia, do Campus de Santarém, receberá R$ 200 mil do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) para realizar pesqui-sas sobre organizações produtivas femininas. O projeto prevê a pro-moção de atividades voltadas para o desenvolvimento sustentável à luz da economia feminista.

Para Sílvia Bitar Moreira, dire-tora do Sistema de Bibliotecas e da Bi-blioteca Central, até julho deste ano, o marco mais significativo do setor foi a reestruturação organizacional, com a aprovação do novo Estatuto e do Regimento Geral da UFPA. Outra meta importante foi a melhoria na infraestrutura das bibliotecas e a con-tratação de bibliotecários para todas as 33 bibliotecas do sistema. "Hoje, não há nenhuma biblioteca que não seja coordenada por bibliotecário profis-sional", afirma Sílvia Bitar.

Com o aumento dos investi-mentos para aquisição de livros para a graduação, os quais passaram de 200 mil reais no ano 2000 para um milhão em 2009, foi possível disponibilizar as bibliografias básicas das disciplinas, desde que estivessem vinculadas aos projetos pedagógicos dos cursos. A exigência visava eliminar a compra de livros não recomendados por docen-tes ou não indicados nas bibliotecas básicas dos cursos.

Alunos que emprestam livros e não devolvem estão sendo obrigados a efetuar a devolução sob pena de terem suas matrículas bloqueadas. As faculdades recebem relatórios com os nomes dos inadimplentes e somente com a apresentação de “nada consta" da biblioteca é que eles poderão efe-tivar suas matrículas. Os que estão se formando só receberão o diploma de-pois de resolverem suas pendências.

Walter Pinto

Centro de um sistema for-mado por 33 bibliotecas, a Biblioteca Central da UFPA

coordena um acervo total próximo a um milhão de volumes na forma de livros, periódicos, folhetos, coleções, catálogos, dissertações, teses, obras de referências, fotografias, fitas de vídeo, CDs, DVDs, entre outros tipos de documentação. Grande parte deste acervo está automatizada e conectada com o mundo por meio do catálogo on-line, no site da Biblioteca Central, no Portal da UFPA. Os interessados podem consultá-lo de qualquer com-putador.

Isso explica, por exemplo, a vinda à Biblioteca Central de um pesquisador do Rio Grande do Sul interessado em estudar as 12 cartas particulares do naturalista Karl Von Martius, escritas em alemão, entre os anos de 1821 e 1858. Ou mesmo a presença da pesquisadora carioca para estudar a coleção particular Eneida de Moraes, não no seu todo, mas apenas a parte do acervo formada pelos 1500 livros enviados à escritora paraense, com dedicatórias de seus autores, que são, de fato, o objeto de interesse da pesquisadora.

Vem das áreas das Ciências Humanas e das Letras a maioria dos usuários interessados no acervo de

n Obras raras estão disponíveis para interessadosO acervo do setor está organi-

zado pelo ano de publicação para fa-cilitar a consulta dos pesquisadores. A metodologia foi colocada em ação em função da longa experiência da bibliotecária Lucila Maia no setor. São quase trinta anos de trabalho com obras raras. O usuário das obras raras, segundo a bibliotecária, é diferenciado. "Percebe-se sua preo-cupação e cuidado ao manusear os livros, quase sempre muito antigos. Em geral, são pesquisadores, muitos amam a história, vivem a história", diz Lucila, citando, como exemplo, um pesquisador que estuda a obra de Tavares Bastos. "Às vezes, ele levanta os olhos do livro e parece ficar ausente, num processo que é de pura descoberta e imaginação", conta.

Ao contrário do acervo geral localizado no andar térreo, formado por livros constantes das bibliogra-fias básicas dos cursos de graduação, as obras raras são de acesso restrito, ou seja, não estão disponíveis para empréstimos. No entanto, estão ao alcance de qualquer interessado. O usuário é atendido por um bibliote-cário que faz a identificação da obra e a disponibiliza para consulta em sala específica, na sua presença.

Em 2004, teve início a auto-mação das obras raras, disponibili-zando todos os exemplares por meio do sistema Pergamum, software uti-lizado no gerenciamento dos acervos do Sistema de Biblioteca da UFPA.

Também no setor de Obras Raras, o usuário tem acesso aos acervos de bibliotecas particulares

doados à UFPA, em número de seis: Coleção Frederico Barata, adquirida em 1962, com enfoque em Antro-pologia, Etnologia, Arte, Folclore, além dos relatórios da Comissão Rondon; Coleção Eneida de Moraes, adquirida em 1972; Coleção Jayme Cardoso (embaixador brasileiro), incorporada ao acervo em 1975, contendo livros de História, Filo-sofia e Literatura; Coleção Santana Marques, incorporada em 1975 por doação da família do jornalista; Coleção Albeniza Chaves, formada por quatro mil exemplares ainda não processados; Coleção José da Silveira Netto, a maior, com cerca de 10 mil exemplares. Toda a Cole-ção Brasiliana, da coleção Silveira Netto, já está disponível no catálogo on-line.

obras raras da Biblioteca Central, que reúne não só livros, mas também documentos manuscritos, como as já citadas cartas do naturalista Von Martius ou as de Theodor Koch-Grünberg, etnólogo alemão que re-alizou viagem pelo Norte do Brasil

até a Venezuela durante os anos de 1911 a 1913.

Entre os tesouros do setor de Obras Raras está abrigada a monu-mental Hiléia Amazônica, do escritor carioca Gastão Luís Cruls, nascido em 1888 e falecido em 1959. Médico

sanitarista, geógrafo, astrônomo e romancista, Cruls retrata, nesta obra de 1944, a região sob os aspectos da fauna, flora, etnografia e arqueologia. O setor abriga, também, um tesouro mais antigo: uma edição de Dom Qui-xote de La Mancha do século XVII.

n Teses e dissertações já podem ser consultadas Em breve, a Biblioteca Cen-

tral disponibilizará à consulta dos usuários todo o acervo de teses e dissertações defendidas na UFPA. Um projeto está sendo executado com o Instituto Brasileiro de In-formação em Ciência e Tecnologia para formação da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações. O usuário não precisará mais se dirigir à Biblioteca Central para ter acesso ao conteúdo completo dos textos: eles estarão, na íntegra, on-line. Os interessados poderão imprimir, no

todo ou em parte, diretamente de seu computador.

Para tornar os textos acessí-veis aos usuários, a Biblioteca Cen-tral, desde o ano de 2000, passou a solicitar às secretarias dos cursos e de programas de pós-graduação o envio de cópias dos trabalhos em meio impresso e digital. Mas seus autores precisam assinar um termo de autorização, disponível no site da Biblioteca. Todas as disserta-ções e teses já disponibilizadas para consulta passaram por esse

processo. Há, no entanto, algumas que deverão levar mais algum tem-po, caso específico das que estão em processo de patente.

A maior dificuldade está relacionada aos trabalhos de pós-graduação anteriores a 2000, fase em que não era solicitado o envio por meio digital. O Instituto de Ciências Jurídicas, no entanto, resolveu contribuir para eliminar o problema na sua área: contratou uma empresa para digitar toda a sua produção de teses e dissertações.

n Investimentos de R$ 1 milhão

Investimento garantiu melhor infraestrutura e ampliação da bibliografia básica de diversos cursos

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Pesquisa analisou a eficiência da iluminação pública em Belém

A eficiência das lâmpadas está relacionada ao tipo de material utili-zado para a fabricação de seus com-ponentes. As chamadas lâmpadas de descarga conduzem eletricidade entre dois filamentos com a ajuda de um gás, o que produz energia luminosa visível ao olho humano. Entre os elementos mais utilizados para este fim, estão os vapores de argônio, de sódio e de mercúrio ou, ainda, misturas desses e de outros metais pesados em estado gasoso.

Intactas, as lâmpadas não oferecem maiores riscos, mas quando se que-bram, elas liberam o vapor de que são feitas. No caso do mercúrio, uma vez inalado ou ingerido, ele pode, por exemplo, debilitar o sistema nervoso humano.

Segundo a REDE Celpa, em 2002, 37 mil lâmpadas da ilumina-ção pública foram descartadas em Belém. Se todas elas quebraram, isso significa a emissão de 883 gra-mas de vapor de mercúrio no meio

ambiente apenas pela iluminação pública. “O impacto ambiental causado pelo mercúrio de uma úni-ca lâmpada não parece assustador. Mas, quando são descartadas, sem tratamento adequado, o material prejudicial à saúde se acumula em lixões e aterros, afetando o solo e os lençóis d’água e daí chega às pessoas. O ideal seria termos pontos de arrecadação para que as lâmpadas fossem descartadas adequadamen-te”, acredita Maria Emília Tostes.

Glauce Monteiro

Ela entra todos os dias em nossas casas. Acende a luz na sala, liga a geladeira, nos deixa assistir à

televisão, torna os pontos turísticos lumi-nosos e ajuda as ruas a ficarem bem mais bonitas durante o Natal. É quando a noite cai e a cidade escurece que a energia elétrica mostra todo o seu potencial asse-gurando luz em praças, ruas e avenidas. A iluminação pública ajuda a garantir segurança, transitoriedade para pessoas e veículos e incentiva o uso de espaços de lazer na ausência da luz do sol.

De acordo com as Centrais Elétricas Brasileiras (Eletrobrás), há 15 milhões de pontos de iluminação públi-ca no País, o que corresponde a 3% do consumo nacional de energia e a uma demanda de 9,7 bilhões de kWh/ano. A Eletrobrás incentiva a substituição das lâmpadas da iluminação pública que funcionam com vapor de mercúrio por aquelas que usam vapor de sódio, pois podem reduzir o consumo de energia de 5 a 40%.

Entre os anos de 2002 e 2003, pesquisadores do Laboratório de Qua-lidade de Energia e Eficiência Energé-tica (Labquauli) do Núcleo de Energia, Sistemas e Comunicação (NESC), do Instituto de Tecnologia (ITEC) da UFPA, analisaram a eficiência e a vida útil de marcas, modelos e tipos diferentes de lâmpadas utilizadas na iluminação públi-ca na capital paraense, o funcionamento de pontos de iluminação em quinze lugares da cidade e estimaram os danos ambientais que podem ser causados pelo descarte inadequado desse material.

A pesquisa constatou a existência de um lado negativo na substituição de lâmpadas. “Um tipo de desperdício de energia diferente é causado pelas chamadas distorções harmônicas ou harmônicos, espécie de sujeira gerada por equipamentos mais eficientes, como lâmpadas fluorescentes e eletroeletrô-nicos com dispositivos da eletrônica de potência, que prejudicam o funcio-namento adequado dos aparelhos, seja uma lâmpada, seja um computador”, explica Maria Emília Tostes, professora de Engenharia Elétrica da UFPA.

Se imaginarmos que a energia elétrica é como a água que chega as nossas casas, os canos seriam os cabos e as torneiras, tomadas. Então, uma distorção harmônica na corrente elétrica seria como se, ao ligar a torneira para

lavar louça, junto com a água, também tivéssemos óleo e lama. O harmônico acontece quando, junto com a frequ-ência da corrente elétrica de 60 hertz, passam no circuito outras frequências que prejudicam o desempenho e a vida útil dos aparelhos e lâmpadas. Como um prato lavado com água e óleo de cozinha sujo.

Constatou-se que os harmônicos são gerados mais por lâmpadas eficien-tes. “Economizamos com lâmpadas e aparelhos que requerem menos energia, mas, ao mesmo tempo, estamos jogando no sistema elétrico uma lâmpada que provoca perdas de energia decorrentes das distorções harmônicas. Se em canos de água, o acúmulo de ‘sujeira’ provoca vazamentos, neste caso, provoca perda de energia”, diz a professora.

n ‘Sujeira’ prejudica vida útil de equipamentosOs pesquisadores também ve-

rificaram a eficiência da iluminação pública em quinze pontos de Belém. Observando a ocorrência das distorções harmônicas em circuitos elétricos de di-ferentes tipos, ou seja, em lugares onde a energia era direcionada apenas para a iluminação pública e em situações em que a eletricidade abastecia, ao mesmo tempo, postes de iluminação, sinais de trânsito, residências e comércios.

“Constatamos que nos locais onde a rede elétrica de iluminação pública também estava ligada a outros tipos de consumo de energia, como casas, comércios ou semáforos, estes outros ‘consumidores’ também eram

afetados pelo problema de ‘sujeira’ na corrente elétrica, que aquece os cabos por funcionar com equipamentos que permitem a existência de outras frequ-ências de corrente elétrica e, por isso, provoca o aumento do consumo de energia”, detalha a pesquisadora do NESC, Maria Emília Tostes.

O resultado é perceptível a lon-go prazo. “É difícil para a população perceber que algo está acontecendo e tomar uma providência, pois ela nem desconfia de como estes processos se dão. O que notamos, cotidianamente, são lâmpadas que deveriam durar um ano e que ‘queimam’ em poucos meses, entre outros fatores, por esses proble-

mas do sistema elétrico”, conta.A pesquisadora defende que

os governos têm um papel central na prevenção deste processo. “Não há uma legislação que obrigue os fabricantes a utilizarem, nas lâmpadas, componentes que gerem menos harmônicos. Mas se houver uma preocupação maior dos governantes em limitar a produção de distorções harmônicas pelos equipa-mentos com leis e uma fiscalização mais eficaz, o efeito disso seria a melhoria de todo o funcionamento do sistema elétrico. Então, os equipamen-tos, lâmpadas e eletroeletrônicos teriam uma vida útil mais próxima da descrita na embalagem”, acredita.

n Descarte de lâmpadas polui meio ambiente

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6 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Novembro, 2009 BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Novembro, 2009 – 7

Um dos projetos do Grupo de Energia, Biomassa & Meio Ambiente da UFPA também investiga a utilização do caroço de açaí como biomassa. Uma vez tratada, essa parte da fruta, normalmente descartada quando aproveitado o suco, pode subs-tituir combustíveis fósseis de forma ecologicamente correta. O EBMA tem desenvolvido pesquisas visando à criação de queimadores específicos para o caroço de açaí como biocom-bustível, na tentativa de atender as demandas energéticas do parque industrial do Pará.

"Só para se ter ideia, hoje, na Região Metropoli tana de Belém (RMB), há uma oferta de 140 mil toneladas de caroço de açaí por ano, considerando um valor somado de safra e entressafra. Ou seja, temos a possibilidade de agregar um valor a mais ao fruto que já nos oportuniza tantos benefí-cios, aproveitando, também, o potencial energético do caroço que, normalmente, pararia nos lixões”, afirma o coordenador do projeto. A prática visa à troca de créditos de carbono com os combustíveis fósseis e a redução da emissão de gases poluentes na atmosfera.

Depois que se ret i ra a polpa do açaí, sobra o caroço. Do caroço , pode-se , a inda , aproveitar as fibras, que hoje são utilizadas, industrialmente, em estofamentos ou isolamen-tos acústicos, para, em seguida, t ransformá-lo em biomassa. Apesar da quantidade de ca-roços de açaí descartados ser grandiosa, o professor Gonçalo Rendeiro explica que não po-deria haver superprodução de energia suficiente para abaste-cer, por exemplo, toda a RMB, uma vez que a demanda na zona urbana é grande.

Em pequenas comunida-des, porém, a energia gerada pela queima dos caroços de açaí é facilmente aproveitável. "Temos aplicação desse projeto em comunidades de duas a três casas, na Ilha do Combu, as quais têm renda garantida pelo açaí. Lá mesmo, nas comuni-dades, o açaí é retirado para venda ou subsistência. Agora, eles podem, também, aprovei-tar os caroços da fruta como combustível para gerar energia no próprio local”, conta Ren-deiro. O EBMA desenvolveu um microssistema de geração de energia para ser utilizado por pequenas comunidades na queima do caroço de açaí.

Biomassa

Estação flutuante gera energia limpaProjetos beneficiam comunidades das Ilhas do Marajó e do Combu

Avançam estudos sobre bioetanolResultados devem melhorar o processamento da mandioca no Pará

Combustível

Jéssica souza

De um lado, mata fechada, de outro, apenas o rio. Essa é a localização de diversos

povoados no interior da Amazônia, lugares aonde, muitas vezes, não chegam nem mesmo os fios de alta tensão da companhia de energia elé-trica local. Desenvolver projetos na área de geração de energia aplicados em comunidades isoladas com foco em emprego e renda é o objetivo do Grupo de Energia, Biomassa & Meio Ambiente (EBMA), da Universidade Federal do Pará, que, desde 2001, pesquisa formas de levar a luz até onde mais se precisa dela.

Caroços de açaí, restos de agricultura e de madeira, estrume de gado, óleo vegetal ou qualquer substância à base de carbono são matérias que podem gerar energia de forma alternativa e muito efi-ciente. O EBMA idealiza sistemas que tornam possível a utilização da biomassa como fonte de ener-gia limpa e renovável, derivada de materiais orgânicos, disponíveis em abundância, principalmente, nas comunidades da Amazônia que têm subsistência garantida, em grande parte, pelo aproveitamento de recur-sos primários.

Para atender as demandas de energia elétrica em locais distantes dos centros urbanos, o Grupo de Pesquisa da Faculdade de Enge-nharia Mecânica da UFPA criou a plataforma flutuante, uma unidade de produção de energia de 50kW, que utiliza ciclo a vapor e combus-tível de biomassa regional. O fato de ser "flutuante" facilita o acesso às comunidades isoladas por meio hidroviário. A plataforma conta, ainda, com uma unidade de extração de óleo vegetal para agregar valor,

trabalho e renda às atividades da população ribeirinha.

Breves – “A ideia nasceu diante da facilidade em obter um produto final, no caso, uma unidade de geração de energia e renda, projetada, concebida e construída na Universidade, sem necessidade de deslocamento de ma-terial ou mão de obra para o interior do Estado, uma vez que conhecemos as dificuldades de transporte e de distâncias na Amazônia", explica o professor Gonçalo Rendeiro, co-ordenador do EBMA. A estação foi inteiramente montada na UFPA e já seguiu viagem em direção ao muni-cípio de Breves, na Ilha do Marajó, onde está a maioria das comunidades atendidas pelo projeto.

A meta é construir mais três unidades flutuantes de 50kW, além de estações maiores, de 200kW. "Uma dessas estações já atende a comunidade de Santo Antônio, onde temos uma fábrica de gelo que produz dez toneladas por dia,

uma fábrica de extração de óleo de 100 quilos de polpa oleaginosa por hora, uma câmara frigorífica para armazenagem de produtos agrícolas e pescado, com capacidade para 70 toneladas. Uma outra unidade, também de 200kW, funcionará na comunidade de Curumu, onde temos uma estufa para secagem de produtos naturais da Amazônia e uma fábrica de extração de óleo vegetal”, conta o coordenador.

A estação de Curumu vai aten-der cerca de 600 pessoas, além de subsidiar outros setores produtivos, como a fábrica de cabo de vassouras localizada na região. Já a estação de Santo Antônio é um projeto um pouco maior, pois, além de atender as fábricas e os frigoríficos, vai fornecer energia para uma pequena serraria e abastecer toda a área limítrofe do projeto. De acordo com Gonçalo Rendeiro, o objetivo geral é dinami-zar a agricultura local e gerar outras possibilidades de desenvolvimento econômico para a Ilha do Marajó.

n Invenção evita uso de geradores a óleo diesel A plataforma flutuante tem

uma unidade completa de geração de energia elétrica por meio do ciclo a vapor ou ciclo termodinâmico de Rankine. Possui uma caldeira, uma turbina, um gerador, um condensa-dor, um tanque de condensados, um sistema de bombeamento e um siste-ma de tratamento de água. A inven-ção alternativa evita a utilização de pequenos geradores movidos a óleo diesel, que gera gases de efeitos ex-tremamente poluentes à natureza.

Na plataforma, a biomassa é queimada na fornalha da caldeira e gera calor. O calor, então, entra em contato com a água e esta se trans-forma em vapor. O vapor, em alta pressão e alta temperatura, gira as pás da turbina. A rotação da turbina aciona o gerador, que proporciona a energia necessária para o processo e energia excedente para a comuni-dade. Diferentemente do resultado obtido com os geradores, a queima de biomassa garante energia estável e de qualidade por 24 horas.

Além da sustentabilidade ambiental, uma vez que o processo muda a matriz energética de um com-bustível fóssil para um renovável, a invenção traz benefícios econômicos porque agrega recursos à popula-ção ao não exigir investimentos na compra de óleo diesel, vendido, exclusivamente, por empresas sedia-das no centro-sul do País. “O diesel causa impactos, como a chuva ácida provocada pelo enxofre presente na sua composição, e colabora para a emissão, na atmosfera, dos gases responsáveis pelo efeito estufa", explica Gonçalo Rendeiro.

Os projetos do EBMA têm apoio do Ministério das Minas e Energia, do CNPq, da Eletrobrás e da Rede Celpa. O Grupo também possui pesquisas voltadas para a uti-lização de óleo vegetal e óleo usado em motores de combustão interna para geração de energia elétrica. As comunidades em que os sistemas criados pelo EBMA são instalados ganham toda a assistência científica.

Após o start up e o comissionamen-to da estação, os usuários recebem treinamento e são acompanhados pelos pesquisadores até que possam gerenciar o processo de forma inde-pendente.

n Açaí vira biocombustível

Plataforma flutuante garante produção de energia de 50kW

As primeiras enzimas estudadas apresentam potencial de resistência térmica

Rendeiro: energia de qualidade

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Atualmente, dos micro-orga-nismos endofíticos que apresentam grande potencial de produzir enzi-mas amilases e celulases, mais de 40 linhagens estão sob investigação nos Laboratórios de Investigaçoes Sistemáticas em Biotecnologia e Química Fina (LabISisBio) da UFPA, coordenados pelo professor Alberdan Santos para que se possa identificar aqueles que apresentem maiores ca-racterísticas de aplicação tecnológica, tais como: resistência a altas tempera-turas, adaptação mais rápida ao meio de cultura, resistência a interferentes que estão presentes na mandioca e se eles produzem enzimas robustas que consigam hidrolisar a biomassa

(rejeito) numa velocidade maior ou similar à dos micro-organismos que estão no mercado.

Segundo Alberdan Santos, os resultados são animadores. Os estudos iniciais constataram que as primeiras enzimas estudadas apresen-taram potencial de resistência térmica e poderão ser uma alternativa para as que estão no mercado, entretanto, investigações mais aprofundadas estão sendo realizadas pelo Grupo de Biotransformações para caracterizar essas enzimas.

Os estudos iniciais mostram que é eficaz a produção de álcool a partir dos açúcares obtidos desses resíduos. Parte da pesquisa está

sendo realizada por Nelson Rosa, aluno de doutorado, sob a orientação de Alberdan Santos. "Vamos partir para uma segunda etapa que é a in-vestigação do potencial de produção de bioetanol, em cooperação com o Centro de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE), em Campinas. Outras etapas envolvem otimização do processo com os organismos na-turalmente ocorrentes, quantificação dos fatores de rendimentos nos resí-duos de mandioca para que se possa ter dados plausíveis de estudos de viabilidade técnica e econômica para se implementar a segunda etapa na geração do bioetanol, isto porque, a partir desse momento, vai sobrar um

resíduo e nós teremos de estar com os parceiros integrados para encontrar uma aplicação para ele", detalha o coordenador do projeto.

Ano que vem, o trabalho será o de degradar uma quantidade maior de resíduos e treinar os pequenos produ-tores, o que deve envolver profissio-nais de outras áreas: Educação, Meio Ambiente, Antropologia, Sociologia, entre outras. "Só com conhecimento sobre tecnologia e educação ambien-tal será possível melhorar a qualidade do processamento da mandioca em nosso Estado. Vamos encontrar so-luções para problemas da região e melhorar a qualidade de vida da nossa gente", prevê Alberdan Santos.

Killzy Lucena

Quando se pergunta para um paraense de que forma ele utiliza a farinha no seu co-

tidiano, ele, com certeza, irá dizer: “com açaí, com peixe, com charque, com manga...” Porém, se dissermos que a parte da mandioca que ele não consome serve para a produção de biocombustível, com certeza, isso causará um estranhamento. Mas essa sensação deve acabar num futuro bem próximo. Desde 2004, na Universi-dade Federal do Pará (UFPA), um grupo de pesquisadores, coordenado pelo professor Alberdan Silva Santos, investiga o aproveitamento de resídu-os agroindustriais e, em 2007, iniciou estudos direcionados para a produção de bioetanol a partir do rejeito da mandioca.

Segundo os números do Insti-tuto Brasileiro de Geografia e Estatís-tica (IBGE), o Brasil, com seus 26,5 milhões de toneladas de mandioca produzidos anualmente, ocupa o 2° lugar do ranking mundial de produ-ção. Apesar de ser cultivada em todo o país, a mandioca concentra-se em três Estados, entre eles, no Pará, que res-ponde por mais de um quinto (20,3%) de toda a produção brasileira. Aqui, o município que mais produz mandioca é o Acará, que contribui com 2,5% da produção nacional. Em relação ao Estado, o município produz de 49% a 51% da mandioca consumida. Desse total, cerca de 10% é rejeito sólido, normalmente jogado próximo às ca-

n Parcerias dentro e fora da UFPA têm sido fundamentais Os rejeitos da cana-de-açúcar e

da mandioca estão entre as biomassas de extrema relevância no Brasil. Os pesquisadores vislumbram a produção de um coquetel enzimático para atuar sobre o rejeito da mandioca. Mas, antes disso, o resíduo precisa passar por um tratamento que consiste em secagem, moagem, classificação e aplicação de enzimas para fazer a “digestão” do material. Em seguida, monitora-se a produção dos açúcares fermentescíveis, formados com leve-

duras isoladas da própria mandioca, os quais transformam o material em álcool.

Contudo, essa tecnologia não seria uma realidade sem diversos olhares e as contribuições de outros parceiros, como os colaboradores do Instituto de Ciências Biológicas da UFPA, da Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro e do Instituto de Física de São Carlos, em São Paulo. Alunos de mestrado e de doutorado também fazem parte desta pesquisa, além dos

professores Cláudio Nahum Alves, que integra o projeto nos estudos de modelagem molecular, a professora Paula Schneider, coordenadora de pós-graduação da Genética e o professor Arthur Silva, que tem colaborado para que, futuramente, a genética seja apli-cada na obtenção de micro-organismos modificados para a produção de enzi-mas celulolíticas.

Também são parceiros, por meio do Projeto Casadinho, aprovado pela Fapespa, os professores Igor Polikar-

pov e Glaucius Oliva, do Instituto de Física de São Carlos (SP), que dispõe de laboratórios preparados para tra-balhar na caracterização das enzimas. Outra contribuição do projeto foi a criação do curso de Biotecnologia, que também contou com a participação do professor Júlio Cesar Pieczarka. “Uma das metas é a formação de recursos hu-manos para o aproveitamento racional de recursos naturais e agroindustriais disponíveis em nosso Estado", afirma Alberdan Santos.

n Mais de 40 linhagens de micro-organismos sob análise

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sas de produção de farinha, nos rios e em suas margens, atraindo pragas e doenças.

Depois de cinco anos estudan-do esse comportamento, o professor Alberdan Santos, graduado em En-genharia Química e pós-doutor em Biotecnologia de Micro-Organismos,

viu sua pesquisa ganhar espaço e aceitação nacional e internacional-mente. O biocombustível, além de ser um projeto do governo federal, tem apelo ambiental dentro e fora do Brasil. “Recentemente, fizemos um projeto em colaboração com a comunidade europeia, por meio do

Instituto de Física de São Carlos. Esse projeto é para que outros países da Europa, junto com o Brasil, possam aplicar tecnologias mais avançadas no aproveitamento de biomassa. Na Europa, já existem tecnologias para o aproveitamento da palha de cana-de-açúcar”, conta Alberdan Santos.