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Beira do Rio – O que pode ser considerada a principal vantagem no Exame Nacional do Ensino Médio? Héliton Tavares – Desde 1996, com a implan- tação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), foi definido um desenho para a educação brasileira. Esse desenho, efetivamente, nunca foi implementado, salvo por raras iniciativas próprias. Então, o Enem era uma oportunidade de transformar a ‘cara’ da educação brasileira. O Exame começou em 1998, com 160 mil pessoas inscritas. Na época, era um exame pequeno, de lá para cá, houve uma grande evolução. Ele passou a ter o poder de intervir na área educacional muito além do que era previsto. O que tivemos foi um salto qualitativo em termos da educação básica, ainda que o que mais apareça seja a democratiza- ção de acesso às universidades, particularmente, as públicas. Beira do Rio – Em que medida a utilização do Exame nos processos seletivos das universida- des públicas federais democratiza o acesso às vagas? Héliton Tavares – Conheço alguns casos de pes- soas que realmente tinham dificuldade de acesso e que hoje acreditam estar mais próximas das Parfor capacita professores da educação básica O Plano Nacional de Formação dos Professores da Educação Básica en- volve 39 polos da UFPA. Este se- mestre, quatro mil professores estão matriculados nos 18 cursos ofertados. Pág. 4 Terapia Saúde Adolescentes Meio ambiente Rosyane Rodrigues Criado em 1998, o Exame Nacional do En- sino Médio nasceu com o propósito de avaliar o desempenho do estudante ao fim da escolaridade básica. Após algumas reformulações, o Exame começou a ser utilizado como critério de seleção por candidatos à bolsa no Programa Universidade para Todos (Prouni) e, desde o ano passado, seus resultados têm sido utilizados como critério de seleção para ingresso no ensino superior, comple- mentando ou substituindo o Vestibular em diversas universidades brasileiras. Este ano, a Universidade Federal do Pará utilizará o Enem como critério de seleção na primeira fase do seu Processo Seletivo. Para entender as vantagens trazidas pelo Enem, o Jornal Beira do Rio conversou com Héliton Tavares, professor da Faculdade de Estatística do Instituto de Ciências Exatas e Naturais (ICEN), da UFPA, o qual também atuou como diretor de Ava- liação da Educação Básica do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP/MEC). De acordo com o professor, mais do que garantir o acesso ao ensino superior, o Enem é a oportunidade de fortalecer a educação básica. 12 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Novembro, 2010 Educação Transtornos afetam jovens grávidas. Pág. 7 Bacia do Mata Fome sob ameaça Pág. 6 Caminhos da medicina tradicional Tese de Doutorado analisa práticas do Sistema Tradiconal de Saúde no Distrito de Icoaraci e em Chipaiá, no Marajó. Pág. 9 Pesquisa estuda prevenção da malária Aliada aos medicamentos, a alimentação rica em antioxidantes pode prevenir os casos mais graves da doença. Pág. 8 Novo antiviral contra o HIV-1 O Laboratório de Planejamento e Desenvolvimento de Fármacos, da Universidade Federal do Pará, está realizando pesquisa para desenvolver um novo antiviral para combater o Vírus da Imuno- deficiência Adquirida, o HIV-1. O estudo foi selecionado para participar do Programa de Apoio à Cooperação Científica e Tecnológica Trilateral entre Índia, Brasil e África do Sul (IBAS), financiado pelo CNPq para apoiar as atividades de pesquisa científica, tecnológica e de inovação. A partir de janeiro de 2011, professores e estudantes da Universidade farão intercâmbio com grupos de excelência nos dois países. As novas técnicas serão aplicadas no Laboratório de Fármacos da UFPA. Pág. 3 Para participar, professores precisam atuar na rede pública de ensino Desejo de morte é comum ISSN 1982-5994 JORNAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ • ANO XXV • N. 88 • NOVEmbRO, 2010 A prova dos nove da educação brasileira Enem garante acesso à universidade e qualidade da educação básica Entrevista 25 Anos Saiba como funciona a Comissão Própria de Avaliação da UFPA. Pág. 2 Opinião Entrevista Marlene Freitas discute o acesso e a permanência na Universidade. Pág. 2 O professor Héliton Tavares fala sobre uniformização da educação a partir do Enem. Pág. 12 Coluna da Reitoria Eclusas entram em funcionamento Projeto terá grande impacto socioeconômico para toda a região. Interligando o sul do Pará e o centro-oeste brasileiro ao Porto de Vila do Conde, em Barcarena, hidrovia é nova rota para o transporte de produtos. Pág. 5 Tucuruí instituições públicas. Para fazer a divulgação do Enem, precisei viajar muito e por isso partilhei das aflições de professores e de pais que agora dizem "eu acho que meu filho tem uma possibilidade maior de entrar numa instituição pública". Outra questão importante é que você não paga para fazer o Exame e mais importante ainda é não precisar se deslocar entre cidades para realizar diversos processos seletivos. O fato de você poder fazer Vestibular aqui, em Belém, mas o resultado servir, por exemplo, para a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) é uma coisa fundamental. Com isso, ganham as instituições que podem fazer uma seleção mais refinada, com participantes de diversos locais do País. Beira do Rio – O Exame já tem mais de 10 anos. Que resultados foram alcançados? Héliton Tavares – O Ministério da Educação tem dois sistemas de mensuração da qualidade da educação. O Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), quando os alunos de toda a rede pública e mais uma mostra dos da rede particular fazem exames do primeiro ciclo (1ª à 4ª série), do segundo ciclo (5ª à 8ª) e do terceiro ciclo (ensino médio). No ensino médio, é só uma amostra, mas para os dois primeiros ciclos, existem políticas determinadas a partir dos resultados do Saeb. O Enem já começou a ter políticas adotadas com base nos seus resultados, particularmente nos últimos dois anos. Como isso é feito? A partir de alguns relatórios de desempenho e de formulários que os alunos preenchem indicando um conjunto de variáveis que servem para demonstar os fatores que levam a um bom desempenho. A cada ano, os resultados são enviados para as escolas e ficam disponíveis na página do MEC. Então, é possível saber qual o perfil do bom aluno e tentar criar essas condições em cada unidade escolar. Beira do Rio – Outra proposta do Enem era a reestruturação dos currículos do ensino médio. Já é possível falar nisso? Héliton Tavares – Ano passado, foi feita uma re- formulação nesse sentido. Cada Estado tem o seu currículo, mas existe um núcleo, ou seja, aquilo que é básico que todo aluno saiba ao concluir o ensino médio. São conteúdos importantes tanto para a universidade quanto para o mercado de trabalho. Um conjunto de especialistas definiu o conteúdo básico que serviria para essas duas linhas. Isso ainda está vigendo, mas precisa passar por avaliações e alterações contínuas. Uma comis- são formada por professores da educação básica, dos institutos federais, das escolas particulares e de outras instituições voltadas à educação irá dis- cutir continuamente e pode apresentar propostas de reestruturação dessa matriz. Beira do Rio – O Exame não é unanimidade. Quais são as razões das críticas? Héliton Tavares – São duas as mais comuns. A primeira diz que o Enem cobra um conteúdo ainda não trabalhado pelas escolas. Mas é essa iniciativa que vai provocar a mudança. Muitas escolas estão de acordo com a linha adotada pelo Enem e sabem que precisam se adaptar. A segunda é quanto ao número de itens a serem respondidos, conside- rado muito "pesado" para o aluno. Por ser uma avaliação que serve para uma seleção nacional, é necessária uma seleção "fina". O quantitativo de 45 itens por área foi definido baseado em um es- tudo técnico. É possível que, ao longo dos anos, venha baixar para 40, 42. O importante é garantir a qualidade dos resultados. Beira do Rio – Por que ainda é tão difícil pro- mover uma avaliação interdisciplinar? Héliton Tavares – Porque as nossas universida- des não formam os profissionais com esse perfil. Eles são licenciados puramente em Matemática, História ou Geografia. Não há essa interação, fun- damental tanto para o mercado de trabalho quanto para qualquer situação da vida. E é no planeja- mento da educação básica que vamos iniciar essa mudança. Tenho certeza de que colheremos frutos. Não será daqui a um ou dois anos, mas espero que isso já esteja consolidado na nossa sociedade daqui a dez anos. Beira do Rio – Este ano a UFPA vai usar o Exa- me como primeira fase do Processo Seletivo. Qual a sua expectativa? Héliton Tavares – Praticamente todas as uni- versidades federais brasileiras já estão adotando o Enem. A UFPA, por ser a maior do Norte, não poderia ficar atrás. É fundamental que ela participe desse processo de interação entre as universidades. Os resultados educacionais do nosso Estado não são muito favoráveis. Alguns críticos dizem que não é justo sermos comparados com o restante do País. Mas a uniformização que o Enem está crian- do é a oportunidade de mudarmos para melhor a educação básica. Espero que os professores, as escolas, os dirigentes e gestores adotem o Enem não apenas porque ele garante o acesso às univer- sidades, mas também porque isso irá melhorar a qualidade da educação em todo o Estado. FOTOS ALEXANDRE MORAES As eclusas I e II fazem sair do papel um antigo sonho dos paraenses, a Hidrovia do Tocantins MANOEL NETO THAIS REZENDE KAROL KHALED

Beira 88

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Beira do Rio edição 88

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Page 1: Beira 88

Beira do Rio – O que pode ser considerada a principal vantagem no Exame Nacional do Ensino Médio?Héliton Tavares – Desde 1996, com a implan-tação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), foi definido um desenho para a educação brasileira. Esse desenho, efetivamente, nunca foi implementado, salvo por raras iniciativas próprias. Então, o Enem era uma oportunidade de transformar a ‘cara’ da educação brasileira. O Exame começou em 1998, com 160 mil pessoas inscritas. Na época, era um exame pequeno, de lá para cá, houve uma grande evolução. Ele passou a ter o poder de intervir na área educacional muito além do que era previsto. O que tivemos foi um salto qualitativo em termos da educação básica, ainda que o que mais apareça seja a democratiza-ção de acesso às universidades, particularmente, as públicas.

Beira do Rio – Em que medida a utilização do Exame nos processos seletivos das universida-des públicas federais democratiza o acesso às vagas?Héliton Tavares – Conheço alguns casos de pes-soas que realmente tinham dificuldade de acesso e que hoje acreditam estar mais próximas das

Parfor capacita professores da educação básica

O Plano Nacional de Formação dos Professores da Educação Básica en-volve 39 polos da UFPA. Este se-

mestre, quatro mil professores estão matriculados nos 18 cursos ofertados. Pág. 4

Terapia

Saúde

Adolescentes

Meio ambiente

Rosyane Rodrigues

Criado em 1998, o Exame Nacional do En-sino Médio nasceu com o propósito de avaliar o desempenho do estudante ao fim da escolaridade básica. Após algumas reformulações, o Exame começou a ser utilizado como critério de seleção por candidatos à bolsa no Programa Universidade para Todos (Prouni) e, desde o ano passado, seus resultados têm sido utilizados como critério de seleção para ingresso no ensino superior, comple-mentando ou substituindo o Vestibular em diversas universidades brasileiras. Este ano, a Universidade Federal do Pará utilizará o Enem como critério de seleção na primeira fase do seu Processo Seletivo.

Para entender as vantagens trazidas pelo Enem, o Jornal Beira do Rio conversou com Héliton Tavares, professor da Faculdade de Estatística do Instituto de Ciências Exatas e Naturais (ICEN), da UFPA, o qual também atuou como diretor de Ava-liação da Educação Básica do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP/MEC). De acordo com o professor, mais do que garantir o acesso ao ensino superior, o Enem é a oportunidade de fortalecer a educação básica.

12 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Novembro, 2010

Educação

Transtornos afetam jovens grávidas.

Pág. 7

Bacia do Mata Fome sob ameaça

Pág. 6

Caminhos da medicina tradicional Tese de Doutorado analisa práticas do Sistema Tradiconal de Saúde no Distrito de Icoaraci e em Chipaiá, no Marajó. Pág. 9

Pesquisa estuda prevenção da malária Aliada aos medicamentos, a alimentação rica em antioxidantes pode prevenir os casos mais graves da doença. Pág. 8

Novo antiviral contra o HIV-1O Laboratório de Planejamento e Desenvolvimento de Fármacos,

da Universidade Federal do Pará, está realizando pesquisa para desenvolver um novo antiviral para combater o Vírus da Imuno-

deficiência Adquirida, o HIV-1. O estudo foi selecionado para participar do Programa de Apoio à Cooperação Científica e Tecnológica Trilateral

entre Índia, Brasil e África do Sul (IBAS), financiado pelo CNPq para apoiar as atividades de pesquisa científica, tecnológica e de inovação. A partir de janeiro de 2011, professores e estudantes da Universidade farão intercâmbio com grupos de excelência nos dois países. As novas técnicas serão aplicadas no Laboratório de Fármacos da UFPA. Pág. 3

Para participar, professores precisam atuar na rede pública de ensino Desejo de morte é comum

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JORNAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ • ANO XXV • N. 88 • NOVEmbRO, 2010

A prova dos nove da educação brasileiraEnem garante acesso à universidade e qualidade da educação básica

Entrevista

25 Anos

Saiba como funciona a Comissão Própria de Avaliação

da UFPA. Pág. 2

Opinião

Entrevista

Marlene Freitas discute o acesso e a permanência na

Universidade. Pág. 2

O professor Héliton Tavares fala sobre uniformização da educação a partir do Enem.

Pág. 12

Coluna da Reitoria

Eclusas entram em funcionamento Projeto terá grande impacto socioeconômico para toda a região. Interligando o sul do Pará e o centro-oeste brasileiro ao Porto de Vila do Conde, em Barcarena, hidrovia é nova rota para o transporte de produtos. Pág. 5

Tucuruí

instituições públicas. Para fazer a divulgação do Enem, precisei viajar muito e por isso partilhei das aflições de professores e de pais que agora dizem "eu acho que meu filho tem uma possibilidade maior de entrar numa instituição pública". Outra questão importante é que você não paga para fazer o Exame e mais importante ainda é não precisar se deslocar entre cidades para realizar diversos processos seletivos. O fato de você poder fazer Vestibular aqui, em Belém, mas o resultado servir, por exemplo, para a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) é uma coisa fundamental. Com isso, ganham as instituições que podem fazer uma seleção mais refinada, com participantes de diversos locais do País.

Beira do Rio – O Exame já tem mais de 10 anos. Que resultados foram alcançados?Héliton Tavares – O Ministério da Educação tem dois sistemas de mensuração da qualidade da educação. O Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), quando os alunos de toda a rede pública e mais uma mostra dos da rede particular fazem exames do primeiro ciclo (1ª à 4ª série), do segundo ciclo (5ª à 8ª) e do terceiro ciclo (ensino médio). No ensino médio, é só uma amostra, mas para os dois primeiros ciclos, existem políticas determinadas a partir dos resultados do Saeb. O Enem já começou a ter políticas adotadas com base nos seus resultados, particularmente nos últimos dois anos. Como isso é feito? A partir de alguns relatórios de desempenho e de formulários que os alunos preenchem indicando um conjunto de variáveis que servem para demonstar os fatores que levam a um bom desempenho. A cada ano, os resultados são enviados para as escolas e ficam disponíveis na página do MEC. Então, é possível saber qual o perfil do bom aluno e tentar criar essas condições em cada unidade escolar.

Beira do Rio – Outra proposta do Enem era a reestruturação dos currículos do ensino médio. Já é possível falar nisso?Héliton Tavares – Ano passado, foi feita uma re-formulação nesse sentido. Cada Estado tem o seu currículo, mas existe um núcleo, ou seja, aquilo que é básico que todo aluno saiba ao concluir o ensino médio. São conteúdos importantes tanto para a universidade quanto para o mercado de trabalho. Um conjunto de especialistas definiu o conteúdo básico que serviria para essas duas linhas. Isso ainda está vigendo, mas precisa passar por avaliações e alterações contínuas. Uma comis-são formada por professores da educação básica,

dos institutos federais, das escolas particulares e de outras instituições voltadas à educação irá dis-cutir continuamente e pode apresentar propostas de reestruturação dessa matriz.

Beira do Rio – O Exame não é unanimidade. Quais são as razões das críticas?Héliton Tavares – São duas as mais comuns. A primeira diz que o Enem cobra um conteúdo ainda não trabalhado pelas escolas. Mas é essa iniciativa que vai provocar a mudança. Muitas escolas estão de acordo com a linha adotada pelo Enem e sabem que precisam se adaptar. A segunda é quanto ao número de itens a serem respondidos, conside-rado muito "pesado" para o aluno. Por ser uma avaliação que serve para uma seleção nacional, é necessária uma seleção "fina". O quantitativo de 45 itens por área foi definido baseado em um es-tudo técnico. É possível que, ao longo dos anos, venha baixar para 40, 42. O importante é garantir a qualidade dos resultados.

Beira do Rio – Por que ainda é tão difícil pro-mover uma avaliação interdisciplinar?Héliton Tavares – Porque as nossas universida-des não formam os profissionais com esse perfil. Eles são licenciados puramente em Matemática, História ou Geografia. Não há essa interação, fun-damental tanto para o mercado de trabalho quanto para qualquer situação da vida. E é no planeja-mento da educação básica que vamos iniciar essa mudança. Tenho certeza de que colheremos frutos. Não será daqui a um ou dois anos, mas espero que isso já esteja consolidado na nossa sociedade daqui a dez anos.

Beira do Rio – Este ano a UFPA vai usar o Exa-me como primeira fase do Processo Seletivo. Qual a sua expectativa? Héliton Tavares – Praticamente todas as uni-versidades federais brasileiras já estão adotando o Enem. A UFPA, por ser a maior do Norte, não poderia ficar atrás. É fundamental que ela participe desse processo de interação entre as universidades. Os resultados educacionais do nosso Estado não são muito favoráveis. Alguns críticos dizem que não é justo sermos comparados com o restante do País. Mas a uniformização que o Enem está crian-do é a oportunidade de mudarmos para melhor a educação básica. Espero que os professores, as escolas, os dirigentes e gestores adotem o Enem não apenas porque ele garante o acesso às univer-sidades, mas também porque isso irá melhorar a qualidade da educação em todo o Estado.

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Page 2: Beira 88

Marlene Freitas - Pró-Reitora de Ensino de Graduação

Comissão Própria de Avaliação - UFPA

[email protected]

[email protected]

Coluna da REITORIA

OPINIÃO

BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Novembro, 2010 – 11

Os caminhos da medicina tradicional Trabalho analisa práticas em Icoaraci e em comunidade do Marajó

O ingresso na Universidade do tempo presente deixou de ser um privilégio de minorias para

se tornar possível a todos que desejem formação profissional superior com qualificação para o mundo do trabalho, e, dentre esses, aqueles que pretendem apropriar-se de métodos científicos de investigação e produção de conhe-cimento e tecnologias geradoras de bens de capital e serviços de utilidade econômica destinados à obtenção de benefícios sociais.

A partir do momento histórico na vida brasileira em que foi demarcado o resgate do papel do Estado como agente condutor de ações que podem garantir a igualdade real por meio de autorre-gulação e da criação de mecanismos que assegurem o acesso de todos a bens e serviços públicos de qualidade, o ingresso na Universidade vem se elastizando para não apenas ampliar a abertura dos portões da entrada geral de candidatos comuns, mas também para permitir que pessoas merecedoras de atenção especial possam nela ingressar. Essas pessoas que agora têm direito ao acesso à Universidade são aquelas que padecem de alguma limitação físico-corporal, ou se encontram em situação de vulnerabilidade econômica, ou per-tencem a etnias às quais a fruição dos bens da vida social e econômica do país lhes foi historicamente negada.

A Universidade Federal do Pará, por exemplo, já incorporou nos seus regulamentos e na sua práxis de seleção

para o ingresso nos cursos superiores um sistema de cotas que privilegia a condição socioeconômica do candida-to, elegendo como cotista aquele que realizou a sua educação de nível médio na escola pública. Esse critério foi considerado, à época, pelo Conselho Superior de Ensino como o mais justo na medida em que as escolas públicas são hoje frequentadas preponderantemente por crianças e jovens que não dispõem de condições financeiras para custear livros, computadores, internet e outros meios para a atualização e complemen-tação de seus estudos.

Diante de tal realidade, há que haver sensibilidade política para permi-tir que os jovens estudantes desprovidos das vantagens geralmente ofertadas pela rede particular de ensino também possam concorrer à realização do desejo legítimo de ingresso na Universidade.

Além da efetivação dessa política de inclusão, a UFPA vem, de outros modos, ampliando as oportunidades de acesso a candidatos de condições especiais, como a reserva de 40% das vagas destinadas aos candidatos de com-provada vulnerabilidade econômica, aos autodeclarados pretos e pardos que desejem concorrer ao sistema de cotas.

Também é importante registrar que, desde a seleção para o corrente ano de 2010, a UFPA destina duas vagas em cada curso de graduação para serem preenchidas por candidatos indígenas. As vagas foram criadas por acréscimo, significando que a concorrência se dá

apenas entre os próprios índios que se submeterão a processo diferenciado de seleção e, não havendo aprovados, as vagas são suprimidas.

Com essa medida de justiça social já adotada por outras Instituições Públicas de Ensino Superior, a UFPA possibilita o acesso dos indígenas aos seus cursos superiores de graduação, o que lhes permitirá, sem dúvida, a busca de alternativas para a melhoria da qua-lidade de suas vidas, na defesa dos seus direitos e territórios, na proteção da sua cultura e dos seus saberes tradicionais.

Acrescente-se também que, para o processo seletivo de vagas de 2011, cuja primeira etapa se inicia com a rea-lização do ENEM, a Instituição resolveu reservar uma vaga, por acréscimo, aos portadores de deficiência. Portanto a promoção de ações afirmativas que viabilizam o ingresso de grupos mino-ritários na Universidade nos permite a (re)discussão da própria trajetória do Brasil como nação de origem étnica diversamente múltipla.

Inobstante essas medidas desti-nadas à inclusão progressiva de grupos sociais determinados na Universidade, não podem os seus dirigentes tampouco os seus professores e técnicos descuidar-se de medidas e providências para a permanência bem sucedida de todos os que nela ingressam.

Para tanto, é preciso que nos conscientizemos de que a Universi-dade contemporânea está a exigir a superação de alguns hábitos que se

incorporaram no fazer acadêmico, tal como a centralidade do processo de ensino-aprendizagem focalizada no professor. O aluno universitário é, como os demais de outros níveis de ensino, um aprendiz que, se por um lado precisa ter acesso a uma diversidade de conteúdos científicos e técnicos relativos à área de conhecimentos do seu curso, por outro lado, precisa contar com um orientador que lhe permita desenhar e construir o seu próprio projeto profissional; um professor que lhe encoraje a dar passos largos em busca de conhecimento; um mestre que lhe aponte desafios e estimu-le a sua criatividade, alimente os seus sonhos e faça-o crer na sua realização.

É com essa diretriz que a Pró-Reitoria de Graduação vem sensibili-zando os dirigentes das faculdades e dos cursos para a adoção de um novo mo-delo de ensino, fundado na integração com a pesquisa e com a extensão e que dele possa resultar um profissional com maturidade e independência científica, capaz de adquirir autonomia acadêmica para identificar problemas e buscar so-luções adequadas e pertinentes.

Não há sentido e nenhum amparo lógico pensar em resultados social-mente relevantes com a formação de profissionais de nível superior se não lhes for assegurada a autonomia que lhes permita o efetivo exercício da ci-dadania para assumir compromissos de responsabilidade no desenvolvimento socioeconômico-cultural deste Estado e desta região amazônica.

Acesso e permanência na Universidade

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

2 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Novembro, 2010

Rua Augusto Corrêa n.1 - Belém/[email protected] - www.ufpa.br

Tel. (91) 3201-7577

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O fazer da Universidade está ali-cerçado no Ensino, na Pesquisa e na Extensão, envolvendo

várias etapas na consolidação de uma instituição forte e comprometida com a sociedade acadêmica e regional. É um fazer essencialmente pedagógico e social, cuja responsabilidade ultrapassa os seus limites territoriais. É com a compreensão desta responsabilidade social que a Universidade Federal do Pará vem implementando ações volta-das para a autoavaliação institucional, etapa imprescindível em qualquer pro-cesso de evolução, desenvolvimento e crescimento.

Resultante, portanto, da preo-cupação com a qualidade dos serviços educacionais prestados, aliado ao atual contexto das políticas para a Educação Superior do MEC e INEP, que consi-dera a Avaliação Institucional um dos meios capazes de identificar os pontos fortes e pontos críticos de uma Institui-ção de Ensino Superior, com vistas à melhoria da sua qualidade, constituiu-se

a CPA-UFPA, sigla que significa Co-missão Própria de Avaliação, órgão que integra o Sistema Nacional de Avalia-ção da Educação Superior (SINAES), responsável por realizar os processos de avaliação interna nas Instituições de Ensino Superior (IES).

O objetivo da CPA-UFPA con-siste em desenvolver e efetivar meca-nismos de autoavaliação que integrem a comunidade acadêmica, de modo que a UFPA mantenha uma cultura de avaliação, capaz de converter-se em um processo de autoconhecimento e melhoria contínua. Por que colaborar e interagir com a CPA-UFPA?

Por acreditar que no processo participativo na vida das IES há maiores possibilidades de diagnosticar em que sentido a autoavaliação é vista e en-tendida no ambiente interno da UFPA, ao contrariar sinônimos mitificados, como ‘controle’, ‘medida’, ‘verifica-ção’, ambientalizados em um cenário de descrição, diagnósticos e projeção, com ênfase quantitativa/qualitativa, em

âmbito parcial/global, seguindo padrões nacionais/internacionais.

Por defender que a autoavalia-ção é um processo constante de reco-nhecimento e não tem data marcada para acontecer, senão se reduzirá à conhecida representação dicotômica entre ‘educar’ e ‘avaliar’. A autoava-liação é essencial à educação quando concebida como problematização, questionamento, reflexão sobre a ação. Um indivíduo, docente ou não, que não avalia constantemente a ação educativa, no sentido investigativo do termo, insta-la sua docência em verdades absolutas, pré-moldadas e terminais.

Por acreditar que é possível, por meio de uma reeducação de todos os agentes envolvidos no processo de crescimento da UFPA, com relação ao mito ‘avaliação’, transformar a visão reducionista dessa prática e reverter o conceito inadequado atribuído pelo MEC, na última avaliação externa, por equívocos vários e motivos tantos, que não cabem ser discorridos neste mo-

mento. Talvez, esse conceito inadequa-do tenha se resumido à ideia equivocada de que avaliação só ocorre em momen-tos definidos, a intervalos estabelecidos e exigidos burocraticamente.

Por isso a maior relevância desta exposição é gerar textos ou falas, in-formações, enfim, que conectem todas essas preocupações e que se incluam no esforço que se pretende fazer no corpo educacional, para um resultado de qualidade. É necessária a tomada de consciência gradual e coletiva, nos di-versos níveis da UFPA, de tal forma que ultrapasse seus muros, reais ou imagi-nários, e transforme-se numa força que influencie a revisão dos significados social e político das exigências ainda burocráticas da autoavaliação.

A CPA-UFPA está localizada no prédio da Biblioteca Central, funcionando na sala do Projeto Branding-UFPA. Dúvidas e sugestões pelos telefones 3201-7346 ou 32018085 e pelo e-mail [email protected]

CPA-UFPA: autoavaliação e autoconhecimento

Reitor: Carlos Edilson Maneschy; Vice-Reitor: Horácio Schneider; Pró-Reitor de Administração: Edson Ortiz de Matos; Pró-Reitor de Plane-jamento: Erick Nelo Pedreira; Pró-Reitora de Ensino de Graduação: Marlene Rodrigues Medeiros Freitas; Pró-Reitor de Extensão: Fernando Arthur de Freitas Neves; Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: Emmanuel Zagury Tourinho; Pró-Reitor de Desenvolvimento e Gestão de Pessoal: João Cauby de Almeida Júnior; Pró-Reitor de Relações Internacionais: Flávio Augusto Sidrim Nassar; Prefeito do Campus: Alemar Dias Rodrigues Júnior. Assessoria de Comunicação Institucional JORNAL BEIRA DO RIO Coordenação: Ana Danin; Edição: Rosyane Rodrigues; Reportagem: Ana Carolina Pimenta (013.585-DRT/MG)/Dilermando Gadelha/Flávio Meireles/Glauce Monteiro (1.869-DRT/PA)/Jéssica Souza(1.807-DRT/PA)/Killzy Lucena/Rosyane Rodrigues (2.386-DRT/PE)/Thais Rezende/Yuri Rebêlo; Fotografia: Alexandre Moraes/Karol Khaled; Secretaria: Silvana Vilhena/Carlos Junior/ Davi Bahia; Beira On-Line: Leandro Machado/Leandro Gomes; Revisão: Júlia Lopes/Cintia Magalhães; Arte e Diagramação: Rafaela André/Omar Fonseca; Impressão: Gráfica UFPA; Tiragem: 4 mil exemplares.

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Os profissionais do Sistema Tradicional, por outro lado, não veem a medicina científica como algo que possa destruir as suas práticas. Ao con-trário. Eles até aconselham os pacientes a irem ao médico caso avaliem que o tratamento não está sendo eficaz. Além disso, esses profissionais acreditam que Deus ou qualquer outra divindade de poder supremo é quem poderá curar seus pacientes de qualquer mal. "Eles se veem como um instrumento e se colocam como seres possuidores de um dom, um talento. Eles acreditam que é uma missão", afirma a pesquisadora.

Apesar de seguirem caminhos

diferentes, nada impede que essas duas vertentes da medicina convivam de maneira equilibrada. Para Angélica Homobono, essa convivência pode se tornar difícil se na universidade os alunos aprenderem a desvalorizar as técnicas tradicionais. "Por essa razão, seria necessária uma reformulação não apenas do ensino acadêmico, mas tam-bém da forma como lidamos com aqui-lo que é diferente de nosso aprendizado. Somos modelos para nossos alunos, se respeitamos a diferença, vamos ensiná-los a respeitar", avalia. A tese vem justamente socializar as informações reunidas durante a pesquisa.

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Flávio Meireles

Dores no estômago, nas costas e nas pernas. Além disso, uma sensação anormal de cansaço

que lhe deixa incapacitado de traba-lhar. O diagnóstico: espinhela caída. O tratamento: reza e puxões com ervas medicinais. Um conhecimento basea-do em diferentes culturas, usado para o tratamento e a prevenção de doenças físicas ou mentais, é o que caracteriza a medicina tradicional. Essa vertente da medicina é marcada por medicações à base de ervas, minerais, terapias manuais e espirituais.

Por ter contato com essas práti-cas tradicionais na infância e achar que ainda são raras as pesquisas sobre o assunto, a professora Angélica Homo-bono decidiu estudá-lo. O resultado foi a Tese de Doutorado Atravessando Fronteiras: viagens rumo à saúde tradicional, defendida no Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, sob orientação da antropóloga Jane Felipe Beltrão.

Seus estudos se concentraram no Distrito de Icoaraci e em Chipaiá, comunidade pertencente ao município de Cachoeira do Arari, no Marajó. A pesquisa teve como objetivo listar os profissionais desses locais e catalogar doenças que utilizam como trata-mento a prática da puxação, técnica corporal usada para a cura de doenças relacionadas ao sistema muscular. A professora chamou esse tipo de prática de "Sistema Tradicional de Ação para Saúde".

Tratamentos envolvem puxões com ervas, rezas, terapias manuais e espirituais

Disponibilidade de produtos �Angélica Homobono acredita

que a disponibilidade dos produtos interfere na escolha do que será usa-do. Um exemplo disso são os emplas-tros. Em Icoaraci, eles são comprados em farmácias, enquanto em Chipaiá, eles são feitos de modo artesanal, utilizando ervas, farinha e até pasta de chuchu como compressa.

Outra diferença está nas poma-das. Em Chipaiá, elas são chamadas de unguento e são fabricadas no pró-prio local com produtos da floresta, como andiroba e copaíba. Em Icoara-ci, as pomadas feitas desses produtos são encontradas e comercializadas em drogarias.

"Essas diferenças mostram que este 'Sistema Tradicional de Ação para Saúde' se transforma de acordo com o acesso aos materiais. Quando esse material está ali na esquina, é mais fácil ir até lá e adquiri-lo. Caso contrário, o jeito é utilizar os materiais disponíveis", ressalta a professora.

A partir da pesquisa, a profes-sora pôde perceber como a medicina tradicional e a científica estavam posicionadas na sociedade. Segundo Angélica Homobono, as duas cami-nham paralelamente, já que as doen-ças do "Sistema Tradicional de Ação para Saúde" não são comprovadas pela Ciência.

Convivência equilibrada �

Diferente da medicina científi-ca, a medicina tradicional não possui métodos tabelados para a cura de doenças. Dependendo do local, as práticas, as orações e os produtos uti-lizados podem ser diferentes. A partir desses dados, Angélica Homobono

buscou fazer comparações entre os sistemas de saúde utilizados nas duas localidades.

Em Icoaraci, por exemplo, al-guns profissionais utilizam produtos industrializados, enquanto em Chi-paiá, os materiais são extraídos quase

que exclusivamente da natureza. Isso acontece, entre vários motivos, pela questão geográfica, já que Icoaraci está a 20 km do centro de Belém, portanto convive com a estrutura urbana da capital. Chipaiá, em virtude do difícil acesso, não tem essa influência.

Assim, o posicionamento que um profissional da medicina científica tem diante das técnicas tradicionais pode variar. "Quando atendo um pa-ciente que já passou por profissionais do Sistema Tradicional, tenho sempre duas escolhas: posso rejeitar e dizer 'não use mais, pois isso não é o indi-cado' ou posso respeitar a opção que o paciente fez e dizer ‘certo, mas, além disso, você pode seguir minhas reco-mendações", avalia a professora.

Angélica Homobono

No Sistema Tradicional, profissionais acreditam na ação de deuses e divindades

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10 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Novembro, 2010 BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Novembro, 2010 – 3

UFPA participa de pesquisa contra HIV-1Pesquisadores e alunos viajarão para a Índia e a África do Sul

Tese analisa biologia molecular de lacrauAtaques têm sintomas diferentes de acordo com a região geográfica

CiênciaEscorpião

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Estudo selecionado em edital de cooperação internacional pesquisa novos fármacos contra o HIV-1

A participação nesse Projeto também dará um novo fôlego para os processos de registro e patente das pesquisas do Laboratório de Fármacos. De acordo com Cláudio Nahum, somente depois de serem patenteados nacional e internacio-nalmente é que os resultados são publicados em revistas científicas. O procedimento é uma forma de assegurar que não se perca o direito sobre a pesquisa, algo que acontece

rotineiramente no Brasil. O País nunca conseguiu produzir, com todas as fases obrigatórias, um me-dicamento genuinamente nacional.

"Nossa maior preocupação é a patente internacional, princi-palmente em alguns países, como Estados Unidos, Japão e os da União Europeia. O processo é complicado pelo preço, pois uma patente inter-nacional custa entre R$ 50 e R$ 80 mil. A Universidade tem contribuído

muito, mas queremos buscar novas parcerias para garantir as patentes das nossas descobertas", revela Cláudio Nahum.

O desenvolvimento de um fármaco não é algo simples. Envol-ve conhecimento multidisciplinar, equipe e recursos. Na opinião de Cláudio Nahum, a Amazônia tem condição de encarar o desafio de criar e manter toda essa estrutura para avançar ainda mais com as

pesquisas. O IBAS impulsiona as parcerias na medida em que o re-sultado depende do esforço de todos os envolvidos. "Soubemos do edital por parceiros que já conheciam nos-so grupo por meio de publicações. Construímos juntos o Projeto, que foi apresentado e julgado em três países. Temos certeza de que es-tamos fazendo algo realmente im-portante para a Ciência", considera Cláudio Nahum.

Killzy Lucena

De acordo com a Associação Brasileira da Indústria Far-moquímica (Abiquif), 30%

do custo final de um medicamento é atribuído à matéria-prima que, por ser importada, depende da variação cambial. Uma alternativa são as pes-quisas com matéria-prima nacional, o que nos remete diretamente para a Amazônia e sua biodiversidade. Desenvolvendo pesquisas sobre substâncias naturais e sintéticas oriundas da região, o Laboratório de Planejamento e Desenvolvimento de Fármacos, da Universidade Federal do Pará (UFPA), acaba de ser sele-cionado em edital para o Programa de Apoio à Cooperação Científica e Tecnológica Trilateral entre Índia, Brasil e África do Sul (IBAS), fi-nanciado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

O Programa tem por objetivo apoiar as atividades de pesquisa científica, tecnológica e de inova-ção, ações que também norteiam o trabalho do Laboratório, inaugu-rado em 2007 e coordenado pelo professor Cláudio Nahum Alves. No Brasil, somente quatro projetos foram aceitos, entre eles, o da UFPA, o qual pesquisa o desenvolvimento de novos fármacos contra o Vírus da Imunodeficiência Adquirida, o HIV-1.

Entre os objetivos dessa co-laboração, estão a transferência de tecnologias entre os grupos, a consolidação de novas parcerias, a formação de doutores em Química Medicinal e a inserção da Univer-sidade nesse cenário internacional.

O IBAS propõe desenvolver novos inibidores contra a Protease, uma das enzimas que permitem o ciclo repro-dutivo do HIV-1. Assim, inibidores de Protease são desenvolvidos como meios antivirais.

As pesquisas acontecerão em cooperação com grupos de excelên-

cia que buscam novas drogas anti-HIV, do Instituto Birla de Tecnologia & Ciência, da Índia, e da Escola de Química da Universidade de KwaZu-lu, da África do Sul, sob coordenação dos professores Dharmarajan Sriram e Glenn E. M. Maguire, respectiva-mente. Alunos de Pós-Graduação em

Biologia, Química e Farmácia que participam do Projeto terão a opor-tunidade de viajar para os dois países para aprenderem novas técnicas, a serem aplicadas no Laboratório de Fármacos da UFPA. Segundo o professor Cláudio Nahum, as viagens começarão em janeiro de 2011.

Capacitação de profissionais em Química medicinal �O Laboratório de Planejamen-

to e Desenvolvimento de Fármacos surgiu com o propósito de gerar pesquisas e formar pesquisadores na área de Química Medicinal. Entre os trabalhos em andamento, está a pes-quisa dos professores Davi Brasil e Adolfo Müller, doutores em Química Orgânica, em uma planta conhecida como Marmeleiro. Testes em camun-dongos comprovaram a atividade biológica de alguns constituintes químicos na prevenção de úlceras es-tomacais. A eficácia das substâncias

seria equivalente à da Cimetidina, medicamento receitado para este tipo de distúrbio. A pesquisa, realizada em colaboração com pesquisadores do Laboratório de Produtos Naturais do Instituto de Biologia da Unicamp (SP), irá continuar, uma vez que as substâncias apresentaram toxicidade em ensaio in vitro.

Em pesquisas de ponta são utilizadas técnicas de investigação avançadas. Neste caso, é a Química Computacional. O método é usado a fim de obter novos fármacos mais

eficazes e menos tóxicos, otimi-zando o tempo de busca de novas moléculas.

O pesquisador Jerônimo da Silva, doutor em Físico-Química, explica que, com a Química Com-putacional, é possível simular a interação de uma enzima com deter-minadas moléculas, avaliando seu potencial inibidor e selecionando as mais promissoras. "Analisadas por meio dessa técnica, temos como saber que substâncias naturais têm propriedades contra o HIV. Das 500

que nós já isolamos, cerca de 10 ou 15 têm potencial inibidor da Protease, uma das enzimas responsáveis pela replicação viral", explica.

De acordo com Glaécia Pe-reira, mestre em doenças tropicais e também pesquisadora do Laboratório, "a Química Computacional dá possi-bilidade de avaliar alvos farmacoló-gicos como uma triagem virtual. Os grandes laboratórios farmacêuticos já utilizam essa técnica porque é mais barato testar o potencial inicial das moléculas in sílico do que in vivo".

Custo com registro e patente gira em torno de R$ 80 mil �

Yuri Rebêlo

O Pará é o Estado da região amazônica com o maior ín-dice de acidentes por animais

peçonhentos, a maioria deles en-volvendo cobras. Outro animal que também aparece no ranking de aci-dentes é o lacrau (Tityus Obscurus). Trata-se de uma espécie de escorpião que vem causando grande interesse dos pesquisadores nos últimos tem-pos, pois os ataques registrados na região leste do Estado têm sintomas diferentes dos registrados na região oeste. Para investigar os motivos que diferenciam os escorpiões de uma região e outra, o professor Pedro Par-dal, da Universidade Federal do Pará (UFPA), está desenvolvendo sua tese de doutorado com a Pesquisa "Com-parar os aspectos clínico-epidemio-lógico, molecular e cromatográfico do veneno do Tityus Obscurus Ger-vais, 1843 (Scorpiones:Buthidae), de duas populações de regiões distintas do Estado do Pará, Brasil", sob orien-tação da professora Edna Ishikawa.

A Pesquisa está em vigor há dois anos e inclui a identificação e a comparação dos escorpiões sob diversos aspectos. Estão sendo fei-tos estudos clínicos para mostrar os efeitos e os sintomas causados, as análises físico-químicas do veneno e o sequenciamento genético do DNA dos animais, para verificar similari-dade entre eles.

A diferença que se pode notar

Habitat e dieta de animais podem ser causas de propriedades diversas do veneno

Professor Pedro Pardal

UFOPA e butantan participam da Pesquisa �Os estudos estão sendo desenvol-

vidos pelo Laboratório de Entomologia Médica e Artrópodes Peçonhentos, do Núcleo de Medicina Tropical (NMT) da UFPA, coordenado pelo professor Pe-dro Pardal, em parceria com a UFOPA e as Faculdades Integradas do Tapajós (FIT), em Santarém; pelo Laboratório de Biologia Molecular e Celular; pelo Centro Nacional de Pesquisa de Recursos Genéticos e Biotecnologia, em Brasília; e pelo Laboratório de Artrópodes do Instituto Butantan, em São Paulo.

Edna Ishikawa conta que essa é uma oportunidade de trabalho, até então, inexplorada. "Estudar a biologia molecular de escorpiões é algo novo e interessante, porque, na nossa região, são pouquíssimos os trabalhos nessa

área". Assim, todos esperam que, ao final do trabalho, os resultados revelem se são animais realmente diferentes ou se, por algum outro motivo, como a dieta ou o habitat, o veneno tem pro-priedades diversas.

Um dos grandes problemas en-volvendo acidentes com escorpião na Amazônia é justamente o tratamento, que, como todo animal peçonhento, exige rapidez. Segundo estudos, o tempo ideal para o socorro é que ele aconteça em, no máximo, três horas. Em algumas localidades, isso não é possível. Além disso, hoje, há poucos médicos especialistas para esse tipo de tratamento. "Na UFPA, por exemplo, o curso de Medicina tem apenas uma dis-ciplina sobre o assunto e sou eu quem ministra", revela o professor.

Soro em pó �facilita atendimento

imediatamente são as manifestações clínicas. "Enquanto aqui, na região leste, os sintomas são locais, como dores no local da picada e pequenos inchaços (edema), na região oeste do Pará, eles são mais graves e apre-sentam manifestações neurológicas. Essas manifestações se caracterizam

por mioclonia (contrações muscu-lares repentinas e incontroláveis), disartria (incapacidade de articular as palavras de maneira correta), di-ficuldade para andar, entre outras", explica o professor.

Apesar da Pesquisa já estar em andamento há dois anos, Pedro

Pardal conta que ainda é muito cedo para falar em resultados. Até porque, segundo o professor, a análise da maioria dos fatores realmente de-terminantes ainda está incompleta, "eu espero que dentro de seis meses nós já tenhamos resultados mais palpáveis".

O tratamento das vítimas por animais peçonhentos, como cobra, aranhas e escorpião, necessita de antiveneno específico, disponibili-zado gratuitamente pelo Ministério da Saúde. A forma líquida dificulta sua manutenção e conservação, pois necessita de geladeira, eletrodo-méstico nem sempre disponível na zona rural.

Uma alternativa para atender a população de comunidades rurais mais distantes seria disponibilizar o soro liofilizado – desidratado e cris-talizado, transformado numa espécie de pó, o que facilita o transporte e a estocagem. Esse tipo de soro foi lançado em 2004 por um pesquisa-dor do Instituto Butantan, durante uma Jornada de Medicina Tropical, e até hoje não foi desenvolvido. "Os produtores reclamam que o proble-ma é o custo, mas quando há vidas em jogo, ninguém pode falar em custos", conta Pedro Pardal.

Atualmente, o único soro liofilizado desenvolvido no Brasil é para aplicação em cavalos, bovinos e outros animais. Em países vizi-nhos, como a Colômbia e a Bolívia, já existe o medicamento contra ani-mais peçonhentos. "Por que esses países vizinhos desenvolvem esse soro e aqui nós não fazemos isso?"

Centro de Informações Toxicológicas

o laboratório de entomologia M é d i c a e A r t r ó p o d e s peçonhentos, no núcleo de Medicina tropical, e o centro de informações toxicológicas (cit) funcionam no hospital João de Barros Barreto. o centro de informações toxicológicas funciona 24 horas, prestando

orientação à comunidade e assessorando os profissionais de saúde na prevenção e tratamento dos envenenamentos por animais peçonhentos. caso haja algum acidente com escorpiões, cobras e até centopeias, basta ligar para 0800-722-6001.

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4 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Novembro, 2010

Parfor deve capacitar 25 mil professores Plano de qualificação do ensino básico envolve 39 polos da UFPA

BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Novembro, 2010 – 9

Faculdade atende pacientes especiaisServiço faz diagnóstico e tratamento de lesões na cavidade bucal

OdontologiaEducação

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Atendimento é realizado por alunos de graduação , sob a supervisão de um cirurgião-dentista

Pequenas lesões são tratadas no próprio laboratório

Segundo o reitor da UFPA, Carlos Maneschy, é uma honra para a Universidade recepcionar os alunos do Plano Nacional de Formação dos Pro-fessores da Educação Básica (Parfor). "Eles são protagonistas deste plano grandioso. Uma das razões para par-ticiparem do Plano é o compromisso com as crianças pelas quais são res-ponsáveis por educar. Este é apenas o primeiro passo para sua qualificação", afirmou o reitor no discurso de encer-ramento das atividades do Parfor no primeiro semestre.

O Parfor é resultado da ação conjunta do Ministério da Educação (MEC), de Instituições Públicas de Educação Superior (IPES) e das Se-cretarias de Educação dos Estados e Municípios, no âmbito do Plano

de Metas Compromisso Todos pela Educação (PDE), que estabeleceu no País, um novo regime de colaboração da União com os Estados e os Muni-cípios, respeitando a autonomia dos entes federados.

A partir da pré-inscrição dos professores na Plataforma Paulo Frei-re, sistema desenvolvido pelo MEC, e da oferta de formação pelas IPES, as secretarias estaduais e municipais de Educação terão um instrumento de planejamento estratégico capaz de ade-quar a oferta das Instituições de Ensino Superior à demanda dos professores e às necessidades reais das escolas de suas redes.

Existem 10 critérios instituídos pelo Fórum Permanente de Apoio à Formação Docente para a seleção dos

professores. Eles estão disponíveis no site www.ufpa.br/parfor. "Professores que se enquadravam em todos os cri-térios não estavam sendo chamados, o que pode indicar uma questão política em algumas secretarias municipais. Por exemplo, houve município que teve 100 inscrições na Plataforma Freire e as secretarias homologaram somente 45 candidatos", explica o coordenador Márcio Nascimento.

As secretarias municipais assu-miram o compromisso com o governo federal de apoiar os professores no período da formação. Este apoio pode ser referente ao transporte, à alimenta-ção ou à moradia. "Inicialmente, não havia um valor estipulado. Contudo, a Seduc e as prefeituras já assinaram um termo e alguns professores já re-

ceberam o auxílio. O valor está sendo definido e as informações completas serão divulgadas em breve", afirma o coordenador.

De acordo com Márcio Nasci-mento, o sucesso do Parfor depende de todos os que fazem a Universidade: do-centes, técnicos e gestores comprome-tidos com o Programa. "Estes profes-sores, alunos do Parfor, permanecerão dando aulas para nossas crianças. Cabe a nós, docentes da UFPA, elaborarmos mecanismos e novas metodologias para que esses profissionais melhorem a sua formação e sejam multiplicadores de conhecimento", afirma o professor.

Serviço: Para mais informações sobre o Parfor, acesse o site: www.ufpa.br/parfor ou pelo telefone 3201 8697.

Thais Rezende

Em 2009, a Universidade Federal do Pará aderiu ao Plano Nacio-nal de Formação dos Professores

da Educação Básica (Parfor), cujo ob-jetivo é melhorar a educação brasileira a partir da qualificação dos professores responsáveis pela formação de crianças e jovens. Para a efetivação de um Plano com esta dimensão, a Universidade conta com profissionais de 39 polos, espalhados em todo o território para-ense, para a realização de 18 cursos de licenciatura. Ao final do curso, os participantes serão diplomados pela UFPA.

Este semestre, o Parfor tem cerca de quatro mil alunos matriculados nos 143 municípios paraenses. "A maioria dos cursos tem duração de quatro anos e acontece no período de recesso escolar e nos finais de semana, dependendo do projeto pedagógico traçado pela coor-denação e aprovado pela Pró-Reitoria de Ensino de Graduação", explica Már-cio Nascimento, coordenador geral do Parfor na UFPA. Para participar, é preciso que o professor esteja atuando na rede pública de ensino.

Alessandra Borges tem 34 anos e é professora da 1ª à 4ª série, há 11 anos, na Escola Cecília Lobão, no município Augusto Corrêa, onde re-side. A professora está realizando o grande sonho de sua vida: a formação superior. Ela conquistou uma vaga no Parfor para o curso de Letras - Língua Portuguesa, no município de Bragan-

Campi � colocam infraestrutura à disposição dos novos alunosAlém da melhoria de salário,

Alessandra Borges acredita que o curso vai mudar a sua vida. "Pensava que meu trabalho em sala de aula era só ensinar as crianças a ler e escrever. Hoje, sei que é muito mais que isso e já estou colocando em prática o que aprendo", afirma. A professora conta, ainda, que o apoio do campus é muito importante nesse momento, "recebemos toda a atenção. Usamos a biblioteca, o labora-tório de informática. Recebemos a visita

do reitor e dos coordenadores". Em Bragança, os alunos do

Parfor "são vistos como os demais alu-nos", explica a professora Rosa Helena Oliveira, coordenadora do Campus e subcoordenadora local do Parfor. A professora conta que a infraestrutura do local está sempre à disposição. "As aulas de informática e as aulas práticas do curso de Ciências Naturais e Mate-mática aconteceram nos laboratórios do Campus". No município, as aulas

aconteceram na Escola Estadual Yo-landa Chaves.

Atualmente, em Bragança, fun-cionam 11 turmas dos cursos de Ma-temática, Letras, Pedagogia, História, Ciências Naturais e Educação Física. O Campus é responsável ainda por três turmas em Capanema e uma turma em Salinópolis.

Em Breves, a atuação da UFPA também foi fundamental. A professora Sônia Amaral, vice-coordenadora do

Campus e subcoordenadora local do Parfor, explica que o trabalho foi de parceria, "nosso empenho foi para que os alunos se sentissem bem".

É de Breves a coordenação de duas turmas do curso de Pedagogia em São Sebastião da Boa Vista e Ponta de Pedras. "Enviamos data show, note-book, porque sabíamos que os profes-sores não encontrariam estes recursos e queríamos que tudo ocorresse como o esperado", explicou a professora.

Plataforma Freire é instrumento de planejamento estratégico �

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As aulas acontecem durente o recesso escolar e durante os finais de semana

ça. "Durante sete anos, tentei passar no Vestibular para Letras. Em 2008, passei em Matemática, mas tranquei o curso quando surgiu a oportunidade para cursar Letras, pois este era o meu grande sonho", conta.

Durante o período intensivo do Parfor, em julho, Alessandra Borges acordou todos os dias às 5h30, de se-gunda a domingo. Ela fazia seu almoço e pegava o ônibus fretado pela Prefei-tura para levar o grupo de professores

do município até a escola onde foram realizadas as aulas em Bragança e re-tornava para casa apenas à noite. "Estou gostando muito do curso, me identifi-quei com as leituras, com a gramática, estou encantada!", afirma.

É possível diagnosticar preco-cemente o câncer da cavidade oral, para isso, deve-se fazer o autoexame bucal. "Coloque-se na frente do es-pelho, em um local com boa ilumi-nação: deve-se inspecionar e apalpar todas as estruturas bucais (lábios, língua, bochecha) e do pescoço. Durante o autoexame, os principais indícios a serem observados são: feridas que permanecem na boca por mais de 15 dias; caroços (prin-cipalmente no pescoço e embaixo do queixo); mobilidade dental acentua-da, sem causa aparente; sangramento espontâneo; halitose; endurecimento e/ou perda de mobilidade da língua", recomenda Erick.

O Serviço Integrado de Diag-nóstico Oral e Atendimento Odon-tológico a Pacientes Especiais não faz apenas diagnóstico de lesões da cavidade oral, como também realiza tratamento odontológico em pacien-tes com síndromes, portadores de doenças sistêmicas, soropositivos para o HIV, transplantados, entre outros. O atendimento é semanal, realizado às terças e quintas-feiras, nos turnos manhã e tarde, proviso-riamente na Clínica Odontológica do Projeto Brasil Sorridente, ocupando as dependências da Faculdade de Odontologia da UFPA.

O atendimento é realizado pelos graduandos de Odontologia, sob supervisão do cirurgião-dentista responsável. Nos casos em que se requer maior habilidade devido ao comprometimento neuropsicomotor do paciente, o próprio cirurgião-dentista é quem se torna responsável pelo atendimento.

O tratamento odontológico realizado vai desde escovação super-visionada, profilaxia, procedimentos restauradores, cirurgia oral menor, culminando com a utilização de biópsias para fins de diagnóstico de lesões orais, sempre respeitando a necessidade do paciente.

Nos pacientes que chegam ao Sidope com suspeitas de câncer oral, são realizados exames clíni-cos e complementares e são dadas instruções sobre os fatores de risco e o tratamento. "Acompanhamos o paciente até chegarmos ao diagnós-tico. Nos casos de lesões pequenas, em que é possível a intervenção la-boratorial, nós mesmos realizamos o atendimento. Quando há suspeita de metástase e as lesões são grandes, in-dicamos os pacientes para tratamento em serviços de referência em cabeça e pescoço", resume o coordenador do Projeto. Como forma de prevenção da doença, a recomendação é manter

Jéssica souza

O câncer de boca ocupa, no Brasil, o quinto lugar de todos os tumores malignos

do corpo humano com maior inci-dência. Algumas pessoas podem ter maior probabilidade de desenvolver o câncer oral, principalmente aquelas que se utilizam de forma exagerada do tabaco e de bebidas alcoólicas. Na maioria dos casos, o câncer oral não é hereditário, porém alguns fatores genéticos podem tornar determina-das pessoas mais sensíveis à ação dos carcinógenos ambientais, como pacientes portadores de necessidades especiais.

Um projeto de extensão de-senvolvido no âmbito da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Pará (UFPA) tem como objetivo a prevenção e promoção de saúde oral a pacientes portadores de deficiência, bem como o diagnóstico e o tratamento de doenças no comple-xo maxilofacial. O Serviço Integrado de Diagnóstico Oral e Atendimento Odontológico a Pacientes Especiais (Sidope) visa ser reconhecido pela comunidade como um local de ex-celência para atendimento de casos de lesão na cavidade bucal.

O Sidope iniciou suas ativi-dades em outubro de 2008, coor-denado pelo professor Erick Nelo Pedreira, doutor em Patologia Bu-cal e pró-reitor de Planejamento e Desenvolvimento Institucional da UFPA. Segundo o coordenador, até dezembro de 2009, o Projeto havia

atendido 95 pacientes com lesões suspeitas de câncer da cavidade oral, dos quais, 55 foram casos confirma-dos. Os cânceres orais com maior frequência são o câncer de língua e o de lábios. O diagnóstico é feito por meio de uma biópsia, que é a retirada de um fragmento da lesão suspeita e envio a um especialista para análise

histopatológica."Qualquer ferida que não

cicatrize e que sangre facilmente; placas brancas que não desaparecem; aumentos de volume ou úlceras da cavidade bucal, da língua e do pala-to; dificuldade para engolir; dentes moles sem causa aparente são sinais que devem preocupar o paciente e

levá-lo a procurar um profissional de saúde o mais rápido possível", expli-ca Erick Pedreira. De acordo com o especialista, o diagnóstico precoce de qualquer lesão, maligna ou não, aumenta muito as chances de cura. "Quanto menor a lesão, menores as sequelas serão e, portanto, melhor a qualidade de vida", observa.

Autoexame bucal ajuda no diagnóstico precoce �

hábitos sadios, como uma boa ali-mentação, e evitar o uso de cigarros e bebidas alcoólicas.

Serviço: O Serviço Integrado de Diagnóstico Oral e Atendimento Odontológico a Pacientes Espe-

ciais atende às terças e quintas-feiras, nos turnos manhã e tarde, na Clínica Odontológica do Projeto Brasil Sorridente, na Faculdade de Odontologia da UFPA. Informações pelos telefones (91) 3201-7495 e 3201-7689.

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8 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Novembro, 2010 BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Novembro, 2010 – 5

Dieta antioxidante contra a maláriaAssociada a medicamentos, alimentação pode prevenir casos mais graves

Prêmio IRaquel Raick, aluna do curso de Biomedicina da UFPA, foi uma das vencedoras do 8º Prêmio Destaque do Ano na Iniciação Científica, promovido pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Orientada pela professora Edilene Oliveira da Silva, do Instituto de Ciências Biológicas, a aluna desenvolveu pesquisa sobre a eficácia do extrato de uma planta amazônica para o tratamento da leishmaniose.

Prêmio IIEntre os 43 inscritos para o Prêmio na área de Ciências da Vida, Ra-quel Raick foi a terceira colocada e recebeu R$ 3.300 durante uma cerimônia realizada na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, na abertura da Semana Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação. Ao todo, foram recebidos 157 traba-lhos. Participaram 90 instituições, sendo 71 universidades e 19 insti-tutos de pesquisa. Esta é a primeira vez, em oito anos, que uma aluna da UFPA está entre os vencedores do Prêmio.

ConsciênciaO Campus Universitário de Cametá realiza, no período de 18 a 20 de novembro, a II Semana da Cons-ciência Negra – Identidade e Re-sistência Negra. Na programação, constam palestras, mesas-redondas, conferências e grupos de trabalho temáticos. Paralelamente, ocorre-rão oficinas de samba do cacete, banguê, capoeira angola, capoeira regional e outras práticas relativas à identidade negra. Mais informações no blog www.historiaemcampo.blogspot.com

Memória O Centro de Memória da Amazô-nia disponibilizou em seu site um banco de dados sobre o Alistamento Eleitoral ocorrido no século XIX. Durante a pesquisa, foram analisa-dos o livro de registro de eleitores do 3º registro criminal, os processos de alistamento e recursos eleitorais. Naquela época, o alistamento, base-ado na Lei Saraiva, decretada em 1881, era uma forma de selecionar quem estaria apto a votar. Para se tornar um eleitor, a pessoa precisava ser do sexo masculino, ter mais de 22 anos e possuir renda anual acima de 200 mil réis. Para consultar o banco de dados, acesse http://www.ufpa.br/cma/

Professor VisitanteEstá aberto o Edital do Programa Professor Visitante Nacional Sênior (PVNS), criado pela Capes com o objetivo de fortalecer os grupos de pesquisa, especialmente nos novos campi das universidades federais. A bolsa de R$ 8.900 tem duração de dois anos. Os contemplados devem atuar na área de ensino e pesquisa da graduação e da pós-graduação. Mais informações: [email protected]

Eclusas já são realidadeProjeto é um marco socioeconômico na região

Tucuruí EM DIABioquímica

Obra permite a operacionalização da Hidrovia do Tocantins

Assim que as duas eclusas estiverem funcionando, será possí-vel transportar pelo Rio Tocantins o minério de ferro, os grãos do centro do Brasil, o ferro gusa e outros produtos da siderúrgica que a Vale construirá em Marabá. O Porto de Vila do Conde não suportará o aumento do volume de carga. Por isso a construção do terminal II do Porto de Vila do Conde é outro projeto em que a UFPA encontra-se inserida.

A conclusão das obras de

Tucuruí, o projeto do novo porto, o investimento em novas hidrovias e a construção de hidrelétricas já com eclusas indicam as potencialidades da Engenharia Naval na nossa re-gião. O setor vive seu melhor mo-mento na atualidade, porém ainda há carência de profissionais qua-lificados no mercado. O professor Hito Braga explica que muitos dos engenheiros aqui formados vão tra-balhar no sul e sudeste do País, mas a expectativa é que a Região Norte passe também a empregar grande

parte desses profissionais.

Os números da obra – De acordo com a Eletronorte, os investimentos na construção das eclusas I e II de Tucuruí totalizam R$ 1,63 bilhão. No pico da obra, em julho de 2009, havia 3.646 operários, sendo cerca de 80% da mão de obra local e regional. Os tanques medem 33 metros de largura, por 210 metros de comprimento, com 44,5 metros de altura. Eles têm capa-cidade para dar passagem a 40 milhões de toneladas de cargas por ano.

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etoAna Carolina Pimenta

Ainda este mês, serão inaugu-radas as eclusas de Tucuruí, cujo objetivo é transpor o

desnível de cerca de 69 m criado pela construção da Hidrelétrica de Tucu-ruí e dar continuidade à navegação no trecho do rio interrompido pela barragem. As eclusas serão quase do tamanho do Canal do Panamá e abri-rão grandes portas de acesso ao Pará e daí para o mundo. A Universidade Federal do Pará integra os projetos de aproveitamento hidroviário e de derrocamento de pedrais do Rio To-cantins, sob coordenação do professor Hito Braga de Moraes, da Faculdade de Engenharia Naval.

A conclusão das obras e a eliminação do conjunto de pedras permitirão a operacionalização da Hidrovia do Tocantins, um antigo sonho dos paraenses. A inauguração das eclusas I e II constitui, assim, um marco socioeconômico no Estado e no Brasil. "Ao interligar o sul do Pará e o centro-oeste brasileiro ao Porto de Vila do Conde, em Barcarena, surgirá uma importante alternativa de trans-porte de produtos na região", explica o professor. Segundo ele, produtos, como a soja, o minério e o carvão, poderão ser levados, via hidrovia, até o porto de Barcarena, barateando o frete e tornando os insumos mais competitivos no mercado internacio-nal. Cabe destacar que o custo por

Porto de Vila do Conde terá novo terminal �

quilômetro da hidrovia é duas vezes menor que o da ferrovia e seis vezes mais baixo que o da rodovia.

De acordo com o especialista, os impactos positivos socioeconômi-cos e ambientais serão vários. "O Pará só tem a ganhar. A construção das eclusas trará mais investimentos das iniciativas privada e governamental. Haverá grande geração de emprego e renda, representando um ‘boom’ econômico na nossa região", ressalta Hito Braga. A diminuição do consu-mo de óleo diesel para o transporte, promovendo redução de custos e menor emissão de poluentes, é outro benefício apontado.

O pesquisador da UFPA ilustra a relação custo-benefício da hidro-via com dados numéricos. "Uma balsa pequena, com capacidade de carga de 2 mil toneladas, ‘retira’ da rodovia o equivalente a 67 cami-nhões". O que significa dizer que, entrando em operação, a Hidrovia do Tocantins, que será trafegada por comboios com capacidade de até 18 mil toneladas, desafogará bastante as rodovias que interligam o Estado do Pará ao restante do País. A economia com combustíveis no transporte de minérios e grãos das Regiões Norte e Centro-Oeste pode chegar a R$ 10 milhões por dia.

Veja como funcionam as eclusas

Porta Jusante Aberta

Porta Jusante Fechada

nível da água

válvulas Fechadas

válvula de enchimento aberta

Porta Montante FechadaA pesquisa também indica o

uso do cogumelo nutricional Agaricus silvaticus, conhecido popularmente como Cogumelo do sol, para a pre-venção da malária. "Essa espécie tem altíssima capacidade antioxidante, cerca de 30 vezes mais eficaz que a vitamina E, unidade de referência. Ao adicionarmos o cogumelo à alimen-tação do animal, há um bloqueio no desenvolvimento do parasita e o mais importante: auxilia a resposta imuno-lógica do hospedeiro para combater a infecção.

"O processo é simultâneo: o

hospedeiro produz radical livre para matar o parasita, que produz antioxi-dante para se defender. O parasita e o hospedeiro produzem, então, uma ‘queda de braço química’. Quem ata-car mais e se defender melhor ganha a briga bioquímica. E o Cogumelo pode ser uma arma de defesa simples e efi-caz para tornar o organismo humano mais propenso a vencer a malária", defende Sandro Percário.

O Cogumelo do sol tem regis-tro pela Agência Nacional de Vigilân-cia Sanitária (ANVISA) e pelo Food and Drug Administration (FDA),

órgão regulador dos Estados Unidos para alimentos e medicamentos, além de ter sua importância reconhecida em diversos artigos científicos. "Não incentivamos a substituição do tra-tamento medicamentoso, mas uma associação terapêutica para cuidados contra a malária utilizando-se de alimentos ricos em antioxidantes, como o Cogumelo do sol. Devemos ressaltar que a pesquisa ainda está em fase experimental. Iremos aprofundar as análises antes de partirmos para estudos clínicos e epidemiológicos", reforça o pesquisador.

Sandro Percário faz parte da Rede Paraense de Malária e estudará as alterações de radicais livres e an-tioxidantes em crianças em Goianésia do Pará. Localizado na mesorregião do sudeste do Estado, o município tem um dos maiores índices para-sitários do Pará e ocupa a terceira colocação no ranking nacional. Em 2009, registros indicaram que todos os moradores foram acometidos, pelo menos uma vez, pela doença ao longo de suas vidas. Em 2008, foram 3.049 casos registrados, sendo 90,5% do tipo vivax.

Glauce Monteiro

Uma picada de mosquito que causa febre, dor de cabeça e calafrios. Esses são os princi-

pais sintomas da malária, doença que mata mais de um milhão de pessoas a cada ano em todo o mundo. O Brasil apresenta 40% dos casos notificados no continente americano e a Ama-zônia Legal possui 98% dos doentes brasileiros. Apesar da ocorrência, o sucesso dos tratamentos médicos para lidar com a malária tem decaído nos últimos anos. Pesquisa realizada na Universidade Federal do Pará estuda os mecanismos bioquímicos da malá-ria no organismo humano e defende o uso de complementos alimentares como tratamento preventivo para a doença.

A malária é uma doença pa-rasitária e sistêmica, produzida por protozoários do gênero Plasmodium. Ela é transmitida de pessoa para pessoa por meio de invertebrados do gênero Anopheles. Estima-se que 42% da população de zonas tropicais, como a região amazônica, está exposta ao risco de contrair a doença. "A partir do diagnóstico que atesta a malária, iniciamos imediatamente o tratamento, mas já temos relatos de pacientes que não respondem a medicamentos como a cloroquina. É como se o parasita estivesse adquirindo 'resistência' ao procedimento e isso é um risco, por exemplo, para quem desenvolve a malária falciparum, uma variedade da doença que pode levar à morte", explica Sandro Percário, livre docente e pesquisador do Programa de Pós-

Radicais livres e antioxidantes travam "queda de braço" �Uma das pesquisas realizadas

pelo professor revela que, inibindo a produção de óxido nítrico, um radical livre, diminui-se a chance da malária evoluir para formas severas. "A malária mais comum, a vivax, não evolui para casos mais graves, mas no caso da malária falciparum, por exemplo, o parasita pode atravessar a barreira he-matocerebral, evoluindo para a malária cerebral. As pessoas, então, podem ter convulsões, hemorragias e correm risco de morte.

"Em laboratório, criamos um

modelo com camundongos, o qual imita, ao mesmo tempo, a malária vivax e a falciparum. Assim, temos a chance de estudar os mecanismos bioquímicos associados às duas variações da malá-ria. Neste estudo, inibimos a produção de óxido nítrico antes de infectar os animais. Com a redução deste oxidante, entre os infectados, é menor a chance de desenvolver formas severas da doença. O resultado é muito relevante, porque a literatura especializada, até o mo-mento, não tem uma definição sobre o papel do óxido nítrico na malária e nós

conseguimos mostrar que este radical livre tem um efeito vasodilatador que aumenta a permeabilidade da barreira hematocerebral, facilitando a passagem dos parasitas. Ou seja, é um elemento facilitador que, ao ser inibido, protege o hospedeiro de desenvolver formas mais severas da doença", detalha o pesquisador.

Sandro Percário revela, ainda, que, "embora estejamos estudando a cronologia exata e identificando quais os radicais livres que participam deste processo em cada momento, parece-

nos que, no instante em que alguém é picado, o corpo prepara uma resposta imunológica. Entre os vários meca-nismos de resposta, está a produção de radicais livres, em uma tentativa de minimizar a infecção. Por outro lado, o parasita produz, então, outras molé-culas, chamadas antioxidantes, para se defender da ação dos radicais livres. A grande quantidade de ácido lipoico (um tipo de antioxidante), gerada pelos parasitas é um dos grandes responsáveis pela ineficácia da resposta de defesa do organismo humano."

Cogumelo do sol pode ser usado para prevenir a doença �

Graduação em Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários, do Instituto de Ciências Biológicas da UFPA (ICB/UFPA).

O pesquisador que coordena o Laboratório de Estresse Oxidativo do ICB/UFPA analisa os mecanismos bioquímicos associados à infecção a fim de descobrir quantos e quais são os pontos exatos da evolução da malária que interferem na progressão

da doença. O objetivo é desenvol-ver medicamentos e procedimentos médicos mais efetivos e entender os mecanismos que levam à resistência ao tratamento da doença.

Tanto o parasita quanto o hos-pedeiro, frente à infecção, produzem grandes quantidades de radicais livres. Em um determinado momento, essa reação é importante para o hospedeiro – o homem –, porque é uma forma de

combater o parasita. No entanto, em outro momento, este também utiliza a produção de radicais livres a seu favor para infectar as células, primei-ro as do fígado, depois as do sangue. "É um equilíbrio delicado, porque os dois elementos utilizam as mesmas moléculas em momentos distintos, com finalidades contrárias, em uma verdadeira batalha química", compara Sandro Percário.

No Laboratório de Estresse Oxidativo, pesquisadores medem capacidade de defesa dos organismos

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As comportas separam os dois níveis do rio. Para chegar à parte alta, o barco entra pela comporta e o rio enche, elevando a embarcação. Para chegar à parte baixa, o barco entra pela comporta e permanece no reservatório enquanto ele é esvaziado.

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Bacia do Mata Fome sob ameaça Ocupação desordenada cria "cinturão de miséria" na periferia de Belém

Dificuldades da gravidez na adolescênciaEstudo realizado em Belém investiga saúde mental de futuras mães

SaúdeMeio ambiente

Ana Carolina Pimenta

Nas últimas décadas, a gesta-ção na adolescência tem sido considerada um sério proble-

ma de saúde pública. Somente no Brasil, a gravidez precoce é a causa mais frequente de internações na rede do Sistema Único de Saúde (SUS), correspondendo a cerca de um quarto do total de partos realizados. No mu-nicípio de Belém, a fecundidade das mulheres mais jovens (15 a 19 anos) acompanha os índices brasileiros, representando 25% do total.

Para estudar o perfil sociode-mográfico e a saúde mental dessas futuras mães, a professora Silvia Maués Santos Rodrigues, do curso de Medicina da Universidade Federal do Pará, desenvolveu a monografia intitulada Fatores associados a transtornos mentais em adolescentes grávidas, realizada em 2009, como conclusão do curso de Especializa-ção em Bioestatística do Instituto de Ciências Exatas e Naturais da UFPA. Em abril deste ano, o trabalho, orientado pela professora Silvia dos Santos de Almeida, foi contemplado com o prêmio de Melhor Monografia de Especialização no XV Congresso Médico Amazônico.

A pesquisa enfocou 89 grávi-das na faixa etária de 12 a 18 anos (média de 16 anos), em acompa-nhamento pré-natal, na Unidade de Referência Materno Infantil e Adolescente (Uremia), em Belém. Um questionário caracterizou o perfil sociodemográfico e comportamental das adolescentes, abordando variá-veis, tais como: idade, escolaridade, faixa de renda, classe econômica, condições de moradia, vínculos fa-miliares, características da gestação, sentimentos relativo à gestação e relacionamento com o pai do bebê. A ideia foi identificar, entre outras coisas, como o suporte da família e o contexto extrafamiliar influenciam a vida da adolescente gestante, poden-do ocasionar Transtornos Mentais Comuns (TMC).

Resultados contribuirão para políticas de saúde �As jovens não estão prepara-

das para enfrentar as mudanças no cotidiano e nos aspectos emocionais que uma gravidez pode gerar. As-sim, observa-se que a precoce matu-ridade sexual não se faz acompanhar pelo amadurecimento psicológico necessário. Esse desencontro pode envolver situações de fragilidade psíquica e risco de desenvolver pro-blemas psiquiátricos que mereçam intervenção terapêutica.

"Me surpreendeu o elevado percentual de desejos de morte dentre os casos diagnosticados com transtornos", conta a pesqui-sadora. Isso pode estar associado ao relacionamento entre as adoles-centes e a família, marcado, muitas vezes, por aspectos negativos, como isolamento, exclusão, raiva,

vergonha, relações agressivas de brigas e gritos, incompreensão e, ainda, percepção de relações de competição na família, interesse e culpabilidade entre os membros em situações de conflito. Além das carências afetivas, o desejo de mor-rer pode ser explicado também pela falta de habilidade e imaturidade das gestantes para lidarem com situações-problema.

Suporte familiar – A pesquisa comprovou que relações sociais e afetivas de apoio podem influen-ciar positivamente o bem-estar psicológico das futuras mães e sua capacidade para a maternidade. A percepção de falta de suporte fami-liar pela jovem grávida pode gerar estresse, sintomas depressivos e

uma tendência para a violência física.

Com relação ao suporte dado pelo parceiro, a pesquisa constatou que o não acompanhamento da gestação pelo pai do bebê pode se tornar um fa-tor de risco para a geração de Transtor-nos Mentais Comuns. Por outro lado, o apoio do pai do bebê às futuras mães surge como fator de proteção.

Para a pesquisadora Silvia Maués, a grande relevância de seus estudos é poder contribuir para o desenvolvimento de tratamentos e políticas de saúde que atuem na pre-venção desses transtornos, uma vez que a pesquisa demonstra a direta relação entre a participação da famí-lia e do parceiro da gestante durante o pré-natal e o desencadeamento de doenças mentais.

Fragilidade �socioeconômica

Médicos, psicólogos e as-sistentes sociais concordam que as precariedades das condições de vida, a falta de perspectiva profissional e a fragilidade socioeconômica são grandes responsáveis pelas jovens iniciarem a vida sexual e engravi-darem cada vez mais cedo. A pes-quisa sobre os fatores associados a transtornos mentais em adolescentes grávidas evidencia tal situação.

A escolaridade das adolescen-tes estudadas mostra-se altamente defasada em relação à própria idade, 58% das adolescentes possuíam en-sino fundamental incompleto, sendo que 60% das entrevistadas não es-tavam mais estudando. Um índice significativo (30%) das adolescentes parou de estudar em decorrência da gravidez.

O nível econômico revela-se como um fator importante para a ocorrência da gravidez. Nas classes econômicas menos favorecidas, há uma maior incidência de adoles-centes grávidas. A pesquisa sobre as adolescentes da Uremia /Belém revela que quase 90% das gestantes são das classes econômicas C e D. Mais da metade das adolescentes gestantes declarou ser estudante, sem renda própria (79%) ou com uma renda menor que um salário mí-nimo (12%). A renda do grupo fami-liar demonstrou ser, em sua maioria, baixa, com quase 34% com renda de um a dois salários mínimos.

A maior parte das adolescen-tes estudadas não planejou a ges-tação (67,42%), porém 80% delas desejavam a gravidez. Os índices indicam uma elevada prevalência de gestações desejadas. De acordo com a professora Silvia Maués, o número sugere a possibilidade de uma atitude de idealização da gestação por parte das adolescentes grávidas, uma vez que muitas delas superestimam a quantidade de su-porte social que irão receber. Além disso, são muitas as adolescentes que idealizam na gravidez e num casamento precoce a possibilidade de esquivarem-se de um ambiente familiar escasso de compreensão e carinho.

Com relação ao estado civil, a pesquisa levantou um equilíbrio entre as solteiras e aquelas com vínculo conjugal estável, cada ca-tegoria correspondendo a cerca de 47% da amostra. Na caracterização do relacionamento com o pai do bebê, a maior parte das adolescentes grávidas mantinha relacionamento com o pai do bebê (56 %); a gravidez era aceita pelo pai (93%) e, em 74% dos casos, os pais do bebê estavam acompanhando a gravidez.

Apesar das adversidades, as adolescentes afirmaram o desejo de criar o bebê e não houve nenhum relato de desejo de encaminhar o recém-nascido para adoção.

A professora Silvia Maués explica que os transtornos mentais podem ser encontrados com frequên-cia e a maioria dos indivíduos relata queixas, como tristeza, ansiedade, fadiga, diminuição da concentração, preocupação somática, irritabilidade e insônia. O estudo desenvolvido

pela pesquisadora revelou que 31 adolescentes grávidas, atendidas durante o mês de julho, na Uremia, apresentavam Transtornos Psiqui-átricos Menores, destacando-se os Distúrbios Psicossomáticos, com 26 %, Desejos de Morte, com 25%, e Distúrbios do Sono, com 18%.

Transtornos mais comuns

- distúrbios Psicossomáticos - 26 % - desejos de Morte – 25%

- distúrbios do sono – 18%

Perfil das adolescentes

- 16 anos- parda- ensino fundamental incompleto- sem renda própria- pertencente a classes econômicas baixas (c e d)

- mantinha vínculo com o pai do bebê

- esperava o primeiro filho

- não planejou a gravidez- desejava ter e criar o bebê

Falta de suporte familiar pode gerar sintomas depressivos

Além da falta de saneamento básico, outros problemas da Bacia são a prostituição infantil, a explo-ração sexual e os maus-tratos contra os idosos. Em decorrência desses vários problemas socioeconômicos, o Projeto foi pensado de uma manei-ra multidisciplinar. "Não estudamos só os recursos hídricos. Estudamos, também, todos os outros elementos que estão associados a eles, como o direito, a falta de obediência à legis-lação ambiental na Bacia, as doenças relacionadas à água, a prostituição infantil, entre outros. Criamos um conjunto de 20 planos de trabalho que analisam a Bacia por dentro e

com uma perspectiva geral", afirma o professor Milton Matta.

Os planos de trabalho abran-gem as seguintes áreas de conhe-cimento: Direito, Serviço Social, Oceanografia, Geologia, Engenharia Sanitária e Ambiental, Geofísica, Medicina, Biologia e Jornalismo. Os planos serão colocados em prática pelas três instituições parceiras no Projeto: a UFPA, a Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) e a Universidade Estadual do Pará (UEPA).

A UEPA participará com dois planos na área da Saúde, os quais pesquisarão as doenças de veicula-

ção hídrica da Bacia do Mata Fome, e dois planos na área da Engenharia Ambiental. Já a UFRA realizará pla-nos relacionados à ictiofauna (con-junto das espécies de peixes) e aos zooplanctons (organismo aquáticos sem capacidade fotossintética, como alguns crustáceos) existentes no Iga-rapé Mata Fome.

Outros planos de trabalho a serem realizados pela UFPA são a pro-dução de um jornal para acompanhar as atividades do Projeto, a aplicação da Lei do Idoso na Bacia do Mata Fome e uma avaliação da violência, delinquência e prostituição infantil. Essas informações ficarão disponíveis

em um banco de dados já elaborado pelo Projeto.

Segundo o professor Milton Matta, a maior dificuldade encontrada para a implantação do Projeto foi a captação de recursos para as pesqui-sas. "Fizemos todo o trabalho sem dinheiro algum ou utilizando recursos de projetos coordenados por mim. Às vezes, utilizamos recursos do pró-prio LARHIMA. Nunca recebemos qualquer tipo de ajuda". Este ano, a empresa Vale aprovou o financiamen-to das pesquisas por mais dois anos. "Estamos apenas esperando a libera-ção das verbas para darmos início aos planos de trabalho" afirma.

Falta de saneamento é um dos principais problemas da área da Bacia do Mata Fome, na Região Metropolitana de Belém

Dilermando Gadelha

São as regiões pobres do Brasil as que mais sofrem com a falta de saneamento básico. É o que

diz a Síntese de Indicadores Sociais (SIS 2010) divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ainda segundo o relatório, a Região Norte divide com o Nordeste o posto de pior saneamento do País. Em 2009, apenas 13,7% dos domi-cílios urbanos do Norte possuíam os serviços de abastecimento de água, rede de coleta de esgoto e coleta de lixo, ao mesmo tempo. Entre os mais pobres, com renda de até meio

salário mínimo, essa taxa não chega a 10%.

Em Belém, a falta de sanea-mento básico pode ser observada em lugares como a Bacia do Mata Fome, um território localizado ao norte da cidade, abrangendo os bairros Benguí, Parque Verde, Pratinha, São Clemente e Tapanã. É nessa área que o Laboratório de Recursos Hídricos e Meio Ambiente (LARHIMA), da Faculdade de Geologia da UFPA, desenvolve o Projeto "Os Recursos Hídricos e a Qualidade de Vida na Bacia do Mata fome, Belém/PA: doenças de veiculação hídrica e o contexto geo-socioambiental." A

bacia hidrográfica de 5,3 km² tem como principal afluente o Igarapé Mata Fome.

O Projeto já funciona há dois anos, vinculado à Universidade. Segundo o professor Milton Matta, coordenador do LARHIMA, o traba-lho surgiu da necessidade de alertar a sociedade sobre a degradação am-biental e social que está acontecendo na área, além de tentar melhorar a qualidade de vida das comunidades que vivem ao redor da Bacia.

O Igarapé Mata Fome, que recebeu este nome por servir como subsistência para sua população tra-dicional, passa, agora, por um grave

processo de falecimento, devido à desenfreada ocupação informal do território da Bacia do Mata Fome.

Segundo a estudante Karen Carmona, bolsista do LARHIMA e responsável por pesquisar a qualida-de das águas superficiais da Bacia, o espaço do Mata Fome começou a ser intensamente povoado em meados da década de 80. "As pessoas que vivem na Bacia do Mata Fome moravam no centro da cidade, mas, devido à espe-culação imobiliária, tiveram que mu-dar para a periferia da cidade. Tapanã e Pratinha são ‘a borda de Belém’ e esta região é chamada ‘cinturão de miséria’", explica a estudante.

Lixo e esgoto são lançados diretamente no leito do rio �A ocupação urbana desorde-

nada do território da Bacia do Mata Fome acarretou graves problemas ao lugar. O principal deles foi a destruição das vegetações ciliares do Rio Mata Fome. Essa vegetação, característica da borda de rios e ma-nanciais, é uma das armas para evitar o assoreamento, que é o depósito de sedimentos, areia e qualquer tipo de detritos no leito dos rios. "Se eu retiro aquela vegetação, as margens acabam se tornando frágeis e assore-ando, porque as raízes não aguentam mais a terra", explica o professor

Milton Matta. A vegetação ciliar foi devastada pelos próprios moradores, que cortavam a madeira das árvores para construir casas, banheiros e pontes.

O assoreamento do Rio Mata Fome é reforçado pelo lançamento de lixo e esgoto em seu leito, "a matéria orgânica produzida pelos moradores da Bacia é lançada diretamente no Igarapé. Os banheiros, por exem-plo, são construídos sobre pontes de madeira feitas com a vegetação da área, em cima do Igarapé", diz o professor.

Da década de 80 até hoje, o Rio do Mata Fome regrediu para Igarapé e continua diminuindo seu volume de água. Contudo, o falecimento do Rio não é o único efeito causado pela poluição das águas e o desmatamento da flora. Vários impactos sociais, que prejudicam a qualidade de vida das quase oitenta mil pessoas que moram na Bacia, também podem ser obser-vados. De acordo com as pesquisas já realizadas no âmbito do Projeto, verificou-se que as águas superficiais estão contaminadas e causam doen-ças na população.

"Na Bacia, o problema de abas-tecimento de água é grande, pois os dos poços construídos pela prefeitura não atendem a todos. Nesse contexto, surgiu a figura do ‘agueiro’, pessoa que tem um poço de 10 a 15 metros em sua casa e vende essa água para a população. As pessoas pagam R$ 15 por semana para terem um abasteci-mento por algumas horas do dia. Essa água não é confiável, porque o poço perfurado pega o aquífero superior, que já está sendo comprometido pela contaminação do Igarapé", esclarece Karen Carmona.

Planos de trabalho terão perspectiva multidisciplinar �

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