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Beira do Rio – Na sua palestra, o senhor traçou um panorama da Pós-Graduação em Filosofia no Brasil, a qual já conta com 40 anos e tem avançado. Com relação à inserção internacional dos Programas, qual é o quadro? Marcelo Perine – Esse quesito é decisivo, principalmente, para os Programas de no- tas seis e sete. A Capes está cada vez mais empenhada em exigir e favorecer a inserção internacional, justamente porque é a única maneira de fazer a nossa pesquisa e produção intelectual serem reconhecidas pelos nossos congêneres no exterior. Já existem acordos entre os chamados Programas " tops de linha" e as instituições internacionais, o que bene- ficia os pesquisadores brasileiros. O PPGFIL da UFPA já mantém parcerias internacionais que podem avançar e serem consolidadas com Coruja Navigator promove inclusão digital e social Desenvolvido pelo Laboratório de Pro- cessamento de Sinais, o software ajuda aqueles que não podem acessar o com- putador utilizando mouse ou teclado. Parcerias irão garantir que o Programa chegue ao público-alvo. Pág. 4 Observatorium Geografia Engenharia Entreletras Ana Cristina Trindade O curso de Mestrado em Filosofia da UFPA foi aprovado pela Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), no final do ano passado, como o primeiro Programa de Pós-Graduação nessa área a ser instalado em uma universidade da Região Norte. A criação do curso é um marco para o Instituto de Filosofia e Ciências Humanas que, agora, já pode ofertar pós-graduações para todos os seus cursos de graduação. O edital para seleção da primeira turma do mestrado já foi lançado e as inscrições se- rão encerradas no próximo dia 20 de maio. Na cerimônia de inauguração do novo curso, o pro- fessor Marcelo Perine, coordenador do Comitê Assessor de Filosofia/Teologia da Coordena- ção de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), discutiu a Pós-Graduação em Filosofia no Brasil. Estudioso de Filosofia Antiga, com diversos trabalhos sobre Platão, ele concedeu entrevista ao Jornal Beira do Rio sobre o pioneirismo da UFPA e a responsabilidade da Instituição marcar e consolidar a fronteira da produção filosófica na Amazônia. 12 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Maio, 2011 Software Qual o perfil do consumidor paraense? Pág. 9 UFPA capacita técnicos municipais Pág. 10 Aulas práticas nas ruas do Curió-Utinga Pág. 8 Vivências ensinam a ler e a escrever Pág. 3 História e lazer na Cidade Velha P reservar a memória e o patrimônio. Esse é o objetivo do Projeto de Extensão "Roteiro Geoturístico no bairro da Cidade Velha - conhecendo o centro histórico de Belém", iniciativa do Grupo de Pesquisa em Geografia do Turismo da Universidade Federal do Pará. O roteiro, realizado aos sábados, é uma opção de lazer para turistas e moradores da cidade. Ao longo do trajeto, os participantes recebem in- formações históricas sobre os pontos visitados. "Nenhuma agência de turismo tem esse percurso como opção. Percebemos essa lacuna e o po- tencial da Cidade Velha para o desenvolvimento do turismo patrimonial e histórico", afirma a professora Maria Goretti Tavares. Págs. 6 e 7 Casario da Rua da Ladeira, ao lado do Forte do Castelo, está entre os pontos visitados pelo Roteiro Geoturístico Utilizando o comando de voz, usuários podem navegar em diversos ambientes ISSN 1982-5994 JORNAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ • ANO XXV • N. 94 • MAIO, 2011 Pós-Graduação marca pioneirismo da UFPA Marcelo Perine participou do lançamento do Mestrado em Filosofia Entrevista 25 Anos A professora Rosaly Brito comemora os 35 anos do curso de Comunicação Social. Pág. 2 Opinião Entrevista O pró-reitor Emmanuel Tourinho fala sobre recursos humanos na Amazônia. Pág. 2 "Papel da Fsilosofia é manter as pessoas acordadas, com uma postura crítica", afirma Marcelo Perine. Pág. 12 Coluna da Reitoria a implantação do Mestrado. Beira do Rio – Qual a importância da im- plantação de um Programa nessa área numa região como a Amazônia? M.P. – Em primeiro lugar, a importância está no pioneirismo. O fato de ser o primeiro traz para este Programa a responsabilidade de marcar e consolidar uma fronteira na produção filosófica brasileira na região amazônica. Em- bora não haja linhas de pesquisas que possam ser consideradas regionais, pode refletir num avanço de estudos sobre problemas regionais no âmbito da Filosofia Política, por exemplo. O fato de atrair para a Amazônia pesquisadores de outras partes do Brasil também é importante para facultar intercâmbios com programas do Sul, Sudeste e da própria Amazônia. A UFPA tem grandes nomes na Filosofia. Vocês tive- ram um desaparecimento recente, o professor Benedito Nunes, mas há pesquisadores aqui, que, com certeza, também terão projeção na- cional e internacional. Beira do Rio – Os estudos filosóficos têm se voltado para os efeitos das novas tecnolo- gias no comportamento do homem? M.P. – Sem dúvida. Alguns programas de pós-graduação no Brasil desenvolvem estudos avançados em torno da Filosofia da Mente. Existem pesquisadores reconhecidos nessa área, com produção relevante e que atuam numa área da Filosofia que tem feito fronteira com a Neurociência, uma ciência altamente desafiadora. Algumas universidades, como a Federal da Paraíba (UFPB) e a Universidade de São Paulo (USP), já têm linhas de pesquisas específicas nessa área. A Filosofia também se mostra presente em outras fronteiras, como nas ciências da vida e nos estudos bioéticos. Beira do Rio – O senhor é estudioso de Filosofia Antiga, especialista em Platão, um expoente da Filosofia Ocidental. Como estimular nos jovens o interesse pelo pen- samento de Platão? M.P. – Mesmo para nós, estudiosos de Filoso- fia Antiga, é um desafio encontrar o caminho para tornar atraentes os grandes estudos filo- sóficos do passado que, a princípio, podem não exercer nenhum fascínio sobre os jovens. Aqui, vocês têm um marco que é a tradução dos Diálogos de Platão. Embora já tenham surgido outros estudos e novas traduções, a obra de Carlos Alberto Nunes ainda é a mais completa e continua sendo uma referência para nós, apesar da dificuldade de sua aquisição. Há algum tempo, participei de uma publicação voltada para a faixa etária entre 15 e 16 anos. Era um volume sobre a República de Platão, feita para adolescentes, como parte integrante de uma Coleção chamada Releituras. A obra teve boa aceitação, tive notícias de professo- res, colegas do ensino médio, que passaram a usá-la em sala de aula. Isso foi um trabalho muito prazeroso. Os jovens precisam saber que os grandes pensadores, desde o surgimento da Filosofia até os dias de hoje, sempre têm algo a nos dizer. Beira do Rio – Como a Filosofia poderia ajudar a entender a atual crise ética que o Brasil enfrenta? M.P. – O papel da Filosofia é compreender os fatos, compreender a realidade. Isso não é fácil em determinadas circunstâncias, porque os fatos são carregados de sentidos e essa compreensão tem que se cruzar com a com- preensão de outros campos do saber. Outro desafio é levar o cidadão comum a ter uma atitude mais crítica diante de certos fatos da vida nacional, no sentido de compreender a origem dos problemas e não somente de revoltar-se e indignar-se. A reflexão crítica se faz a partir da análise da dimensão ética, da vida humana, da importância que os valores têm na constituição do próprio ser humano e da organização da sociedade. Isso faz fronteira com a Antropologia Filosófica. Nosso papel é manter as pessoas acordadas para que a atitude crítica também tenha um caráter de denúncia e permaneça presente na vida de cada um. Só- crates já induzia os cidadãos atenienses a uma reflexão crítica e "denuncista" da sociedade. FOTOS CARLA CYBELLE SOARES ALEXANDRE MORAES ALEXANDRE MORAES

Beira 94

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Beira do Rio edição 94

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Page 1: Beira 94

Beira do Rio – Na sua palestra, o senhor traçou um panorama da Pós-Graduação em Filosofia no Brasil, a qual já conta com 40 anos e tem avançado. Com relação à inserção internacional dos Programas, qual é o quadro? Marcelo Perine – Esse quesito é decisivo, principalmente, para os Programas de no-tas seis e sete. A Capes está cada vez mais empenhada em exigir e favorecer a inserção internacional, justamente porque é a única maneira de fazer a nossa pesquisa e produção intelectual serem reconhecidas pelos nossos congêneres no exterior. Já existem acordos entre os chamados Programas "tops de linha" e as instituições internacionais, o que bene-ficia os pesquisadores brasileiros. O PPGFIL da UFPA já mantém parcerias internacionais que podem avançar e serem consolidadas com

Coruja Navigator promove inclusão digital e social

Desenvolvido pelo Laboratório de Pro-cessamento de Sinais, o software ajuda aqueles que não podem acessar o com-

putador utilizando mouse ou teclado. Parcerias irão garantir que o Programa chegue ao público-alvo. Pág. 4

Observatorium

Geografia

Engenharia

Entreletras

Ana Cristina Trindade

O curso de Mestrado em Filosofia da UFPA foi aprovado pela Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior (Capes), no final do ano passado, como o primeiro Programa de Pós-Graduação nessa área a ser instalado em uma universidade da Região Norte. A criação do curso é um marco para o Instituto de Filosofia e Ciências Humanas que, agora, já pode ofertar pós-graduações para todos os seus cursos de graduação.

O edital para seleção da primeira turma do mestrado já foi lançado e as inscrições se-rão encerradas no próximo dia 20 de maio. Na cerimônia de inauguração do novo curso, o pro-fessor Marcelo Perine, coordenador do Comitê Assessor de Filosofia/Teologia da Coordena-ção de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), discutiu a Pós-Graduação em Filosofia no Brasil. Estudioso de Filosofia Antiga, com diversos trabalhos sobre Platão, ele concedeu entrevista ao Jornal Beira do Rio sobre o pioneirismo da UFPA e a responsabilidade da Instituição marcar e consolidar a fronteira da produção filosófica na Amazônia.

12 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Maio, 2011

Software

Qual o perfil do consumidor paraense?

Pág. 9

UFPA capacita técnicos municipais

Pág. 10

Aulas práticas nas ruas do Curió-Utinga

Pág. 8

Vivências ensinam a ler e a escrever

Pág. 3

História e lazer na Cidade Velha Preservar a memória e o patrimônio. Esse é o objetivo do Projeto

de Extensão "Roteiro Geoturístico no bairro da Cidade Velha - conhecendo o centro histórico de Belém", iniciativa do Grupo de

Pesquisa em Geografia do Turismo da Universidade Federal do Pará. O roteiro, realizado aos sábados, é uma opção de lazer para turistas e

moradores da cidade. Ao longo do trajeto, os participantes recebem in-formações históricas sobre os pontos visitados. "Nenhuma agência de turismo tem esse percurso como opção. Percebemos essa lacuna e o po-tencial da Cidade Velha para o desenvolvimento do turismo patrimonial e histórico", afirma a professora Maria Goretti Tavares. Págs. 6 e 7

Casario da Rua da Ladeira, ao lado do Forte do Castelo, está entre os pontos visitados pelo Roteiro Geoturístico

Utilizando o comando de voz, usuários podem navegar em diversos ambientes

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94

JORNAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ • ANO XXV • N. 94 • MAIO, 2011

Pós-Graduação marca pioneirismo da UFPAMarcelo Perine participou do lançamento do Mestrado em Filosofia

Entrevista

25 Anos

A professora Rosaly Brito comemora os 35 anos do curso de Comunicação Social. Pág. 2

Opinião

Entrevista

O pró-reitor Emmanuel Tourinho fala sobre recursos

humanos na Amazônia. Pág. 2

"Papel da Fsilosofia é manter as pessoas acordadas, com uma postura crítica", afirma Marcelo

Perine. Pág. 12

Coluna da Reitoria

a implantação do Mestrado.

Beira do Rio – Qual a importância da im-plantação de um Programa nessa área numa região como a Amazônia?M.P. – Em primeiro lugar, a importância está no pioneirismo. O fato de ser o primeiro traz para este Programa a responsabilidade de marcar e consolidar uma fronteira na produção filosófica brasileira na região amazônica. Em-bora não haja linhas de pesquisas que possam ser consideradas regionais, pode refletir num avanço de estudos sobre problemas regionais no âmbito da Filosofia Política, por exemplo. O fato de atrair para a Amazônia pesquisadores de outras partes do Brasil também é importante para facultar intercâmbios com programas do Sul, Sudeste e da própria Amazônia. A UFPA tem grandes nomes na Filosofia. Vocês tive-ram um desaparecimento recente, o professor Benedito Nunes, mas há pesquisadores aqui, que, com certeza, também terão projeção na-cional e internacional.

Beira do Rio – Os estudos filosóficos têm se voltado para os efeitos das novas tecnolo-gias no comportamento do homem? M.P. – Sem dúvida. Alguns programas de pós-graduação no Brasil desenvolvem estudos avançados em torno da Filosofia da Mente. Existem pesquisadores reconhecidos nessa área, com produção relevante e que atuam numa área da Filosofia que tem feito fronteira com a Neurociência, uma ciência altamente desafiadora. Algumas universidades, como a Federal da Paraíba (UFPB) e a Universidade de São Paulo (USP), já têm linhas de pesquisas específicas nessa área. A Filosofia também se mostra presente em outras fronteiras, como nas ciências da vida e nos estudos bioéticos.

Beira do Rio – O senhor é estudioso de Filosofia Antiga, especialista em Platão, um expoente da Filosofia Ocidental. Como estimular nos jovens o interesse pelo pen-samento de Platão?M.P. – Mesmo para nós, estudiosos de Filoso-

fia Antiga, é um desafio encontrar o caminho para tornar atraentes os grandes estudos filo-sóficos do passado que, a princípio, podem não exercer nenhum fascínio sobre os jovens. Aqui, vocês têm um marco que é a tradução dos Diálogos de Platão. Embora já tenham surgido outros estudos e novas traduções, a obra de Carlos Alberto Nunes ainda é a mais completa e continua sendo uma referência para nós, apesar da dificuldade de sua aquisição. Há algum tempo, participei de uma publicação voltada para a faixa etária entre 15 e 16 anos. Era um volume sobre a República de Platão, feita para adolescentes, como parte integrante de uma Coleção chamada Releituras. A obra teve boa aceitação, tive notícias de professo-res, colegas do ensino médio, que passaram a usá-la em sala de aula. Isso foi um trabalho muito prazeroso. Os jovens precisam saber que os grandes pensadores, desde o surgimento da Filosofia até os dias de hoje, sempre têm algo a nos dizer.

Beira do Rio – Como a Filosofia poderia ajudar a entender a atual crise ética que o Brasil enfrenta? M.P. – O papel da Filosofia é compreender os fatos, compreender a realidade. Isso não é fácil em determinadas circunstâncias, porque os fatos são carregados de sentidos e essa compreensão tem que se cruzar com a com-preensão de outros campos do saber. Outro desafio é levar o cidadão comum a ter uma atitude mais crítica diante de certos fatos da vida nacional, no sentido de compreender a origem dos problemas e não somente de revoltar-se e indignar-se. A reflexão crítica se faz a partir da análise da dimensão ética, da vida humana, da importância que os valores têm na constituição do próprio ser humano e da organização da sociedade. Isso faz fronteira com a Antropologia Filosófica. Nosso papel é manter as pessoas acordadas para que a atitude crítica também tenha um caráter de denúncia e permaneça presente na vida de cada um. Só-crates já induzia os cidadãos atenienses a uma reflexão crítica e "denuncista" da sociedade.

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Page 2: Beira 94

Rosaly Brito [email protected]ÃO

BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Maio, 2011 – 11

Pesquisa incentiva atitude pró-ativa Estomizados criam grupo para discutir problemas em comumMais do que outras regiões do País,

a Amazônia precisa apropriar-se pelo conhecimento de suas

riquezas naturais e culturais, de modo a promover com sustentabilidade o neces-sário desenvolvimento econômico, com geração e distribuição de renda, inclusão social e promoção da cidadania. Para isso, são necessários recursos humanos altamente qualificados, sobretudo pes-quisadores doutores.

Na contramão dessa demanda, o Norte apresenta indicadores de recursos humanos para a ciência e tecnologia que deixam muito a desejar. Do total de douto-res no País, pouco mais de 4% encontram-se nos Estados do Norte. Na formação, a região responde por pouco mais de 1% dos doutores titulados a cada ano, em cursos de doutorado que representam apenas 2.7% dos cursos do País.

O reconhecimento pleno dessa realidade e da necessidade de transformá-la tem sido reiteradamente afirmado pela comunidade científica, pelos gestores públicos, pelas instituições acadêmicas e científicas e pelas agências de fomento à pesquisa e à pós-graduação. Mas as políti-cas até aqui formuladas e executadas não têm sido suficientes para sinalizar uma mudança substancial de cenário a curto ou médio prazos. Na melhor das hipóte-ses, elas têm sido suficientes para evitar um maior distanciamento em relação aos melhores indicadores do País.

É de grande monta a responsabi-

lidade das universidades nesse contexto, sobretudo das universidades públicas, onde se concentra, em grande medida, o esforço nacional de produção científica e tecnológica. Do sucesso dessas institui-ções na formação e fixação de recursos humanos para a pesquisa, depende dire-tamente o processo de desenvolvimento na Amazônia.

A Universidade Federal do Pará (UFPA) tem compreendido esse desafio e dedicado grande parte de seus esforços à construção de um parque de pós-graduação que, hoje, já oferece vinte e seis cursos de doutorado, nos quais se encontram matri-culados mais de mil alunos. Esses números sugerem que, em breve, poderemos formar mais de duzentos doutores por ano (em 2010, foram cerca de cem).

A UFPA também tem procurado oferecer aos seus docentes doutores algumas das condições necessárias para a formação de novos grupos e o estabele-cimento de programas novos de pesquisa. Para tanto, vem executando o Programa de Apoio ao Doutor Pesquisador (PRODOU-TOR), que compreende os subprogramas de Apoio ao Recém-Doutor (PARD) e de Apoio ao Doutor Recém-Contratado (PARC).

O avanço é extraordinário e foi conseguido com expressivo apoio das agências nacionais e estaduais de apoio à pesquisa e à pós-graduação. Mas é insuficiente para suprir, a curto ou médio prazos, toda a demanda por recursos

humanos qualificados para a pesquisa no Estado e na região. Quando agregamos os dados das demais universidades do Pará e dos Estados vizinhos, o cenário não é mais animador.

É fundamental, portanto, acelerar a expansão da estrutura de pesquisa e a aber-tura de cursos de doutorado. Porém, isso não será possível apenas com os doutores que já estão aqui (muitos deles vindos de outros Estados), ou que serão formados em nossas instituições nos próximos anos. Precisamos começar a discutir a alternativa de atrair e fixar, pelo menos por um tempo razoável, (novos) doutores formados em outras regiões e mesmo em outros países, que venham para a Amazônia motivados pela possibilidade de uma boa carreira e empreendimentos científicos inovadores.

Experiências passadas de acolhi-mento de doutores titulados em outras regiões, que acabavam, alguns deles, retornando, em pouco tempo, aos seus Estados de origem, levaram à ideia de que é melhor formarmos aqui os doutores de que precisamos. De fato, seria muito melhor se tivéssemos, já, o sistema regio-nal de formação dos recursos humanos de que precisamos, mas esse não é o caso. Muito provavelmente, também não teremos esse sistema nas dimensões que almejamos se continuarmos avançando nas taxas atuais, que, cumpre reiterar, são muito boas, mas partem de uma referên-cia que as torna insuficientes.

Em complemento ao excepcional

trabalho que já vem sendo desenvolvido pelos grupos aqui estabelecidos, com resultados expressivos e que poucos arriscariam antecipar alguns anos atrás, precisamos, para o curto prazo, de polí-ticas públicas que atraiam e fixem aqui novos doutores produtivos, que possam contribuir para acelerar a construção e consolidação de uma base mais abran-gente e vigorosa de formação de recur-sos humanos para a pesquisa. Quando tivermos tais políticas, serão atrativas as oportunidades de trabalho para pesquisa-dores em nossas instituições e será mais improvável a desistência e emigração daqueles que tiverem iniciado projetos localmente.

Não são necessários grandes esfor-ços para formular as políticas requeridas para a atração e fixação de doutores na Amazônia. Na verdade, elas já estão pelo menos parcialmente descritas em muitos documentos da comunidade científica nacional e mesmo das agências de fomento à pesquisa e à pós-graduação. Uma tarefa importante e urgente, para nossas lideran-ças acadêmicas e não acadêmicas, consiste em trabalhar para que essas políticas sejam efetivadas e venham a somar-se àquelas que já têm sido bem sucedidas na promo-ção da pesquisa e da pós-graduação na região. Desse modo, os grupos de pesquisa instalados na UFPA poderão alargar seus horizontes de trabalho e responder mais amplamente às demandas engendradas no processo de desenvolvimento regional.

Recursos Humanos para a pesquisa na Amazônia

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

2 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Maio, 2011

Rua Augusto Corrêa n.1 - Belém/[email protected] - www.ufpa.br

Tel. (91) 3201-7577

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O ano era 1976. Na esteira do que ficou conhecido como o boom das Escolas de Comunicação

no País, surgia, na Universidade Federal do Pará, o primeiro curso de Comuni-cação Social do Estado e o segundo da Amazônia Legal, com habilitações em Jornalismo e Publicidade e Propaganda. Durante duas décadas, foi o único centro formador de comunicadores no Pará. Só cinco anos depois, o curso veio a ser reconhecido pelo MEC, motivo de muitas lutas por parte dos alunos ante a insensatez do Regime Militar implantar um curso sem reconhecimento oficial e com condições muito precárias de funcionamento.

O contexto do Brasil quando o curso foi criado, porém, explicava quase tudo. Somente oito anos separavam seu nascimento do AI-5, que suprimiu as liberdades políticas no País e instaurou o Regime de Exceção, instituindo a censura prévia à imprensa. O Regime disseminou a ideia de que o Brasil vivia ameaçado por uma subversão permanen-te, que justificava o arbítrio permanente. Seis meses antes do ato que criou o curso

de Comunicação no Pará, em agosto de 1975, o presidente Ernesto Geisel afirmara em discurso que "os órgãos de segurança acompanham atentamente a infiltração comunista em órgãos de comunicação". Logo depois, o jornalista Vladimir Herzog, o Vlado, foi morto nas dependências do DOI-CODI. Outro porta-voz do Regime, o deputado federal Minoro Myamoto (Arena-PR), chegou a afirmar que "os jornalistas não passam de fomentadores de boatos com o objetivo de criar um clima de tensão", atribuindo às redações dos principais jornais do País a criação da "crise política".

Foi justo neste clima de com-pleto obscurantismo que os cursos de Comunicação se multiplicaram, o que só à primeira vista parece paradoxal. Tra-tava-se de procurar adequar a formação dos futuros profissionais, ainda que de forma precária, às exigências de um mer-cado em franca expansão, o dos meios de comunicação de massa, sob a tutela da ideologia educacional do Regime. É sempre bom lembrar que, a despeito da fúria da censura contra a imprensa e as artes, foi o mesmo Regime Militar que

patrocinou não só o surgimento da TV Globo, como também o de um sistema nacional de telecomunicações, investin-do maciçamente na criação de um siste-ma de comunicação e de entretenimento de massas o qual desviasse a atenção da sociedade do que estava acontecendo de fato no País.

É útil rememorar tudo isso, pois esses fatos marcaram profundamente não só a história do curso de Comuni-cação, mas também a de toda a univer-sidade, e seus desdobramentos ainda hoje ecoam. Este olhar em retrospecto, quando o curso de Comunicação do Pará completa 35 anos, permite valorizar a ousadia de ele ter resistido aos problemas que marcaram sua origem e buscado sua afirmação como centro formador e produtor de um pensamento crítico sobre a comunicação na Amazônia. Muito se caminhou de lá até aqui. Além do inves-timento maciço feito para qualificar a formação na graduação, no ano passado, outro passo importante foi dado com a implantação do Mestrado em Comuni-cação, Cultura e Amazônia, o primeiro programa stricto sensu do Estado e o

segundo na região. Isso significa dizer que, além de publicitários e jornalistas, começam a ser formados pesquisadores em Comunicação na Amazônia.

Ao longo da existência do curso, o mundo assistiu a um reordenamento sem precedentes no âmbito da Comu-nicação, a ponto de estarmos imersos, hoje, em uma ordem midiática que envolve, de maneira cada vez mais complexa, a vida social e política em escala global. Mais que nunca, e também pela posição estratégica ocupada hoje pela Amazônia na geopolítica global, é preciso produzir conhecimento sobre as questões comunicativas, as quais se entrelaçam com as de ordem cultural, social, política e econômica regionais. Pensar as questões da comunicação que nos dizem respeito diretamente a partir do nosso lugar de fala. Não fosse por mais nada, isso já seria motivo de sobra para celebrar essa frutífera história de três décadas e meia.

Rosaly Brito é professora da Faculdade de Comunicação desde 1985 e integrante da terceira turma do curso.

35 anos do curso de Comunicação Social

kkkSaúde

Reitor: Carlos Edilson Maneschy; Vice-Reitor: Horácio Schneider; Pró-Reitor de Administração: Edson Ortiz de Matos; Pró-Reitor de Plane-jamento: Erick Nelo Pedreira; Pró-Reitora de Ensino de Graduação: Marlene Rodrigues Medeiros Freitas; Pró-Reitor de Extensão: Fernando Arthur de Freitas Neves; Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: Emmanuel Zagury Tourinho; Pró-Reitor de Desenvolvimento e Gestão de Pessoal: João Cauby de Almeida Júnior; Pró-Reitor de Relações Internacionais: Flávio Augusto Sidrim Nassar; Prefeito do Campus: Alemar Dias Rodrigues Júnior. Assessoria de Comunicação Institucional JORNAL BEIRA DO RIO Coordenação: Ana Danin; Edição: Rosyane Rodrigues; Reportagem: Ana Cristina Trindade (761-DRT/PA)/Dilermando Gadelha/ Flávio Meireles/ Glauce Monteiro (1.869-DRT/PA)/ Igor de Souza/ Jéssica Souza(1.807-DRT/PA)/Marília Jardim/ Paulo Henrique Gadelha/ Yuri Rebêlo; Fotografia: Alexandre Moraes/Karol Khaled; Secretaria: Silvana Vilhena/Carlos Junior/ Davi Bahia; Beira On-Line: Leandro Machado/Leandro Gomes; Revisão: Jú-lia Lopes/Cintia Magalhães; Arte e Diagramação: Rafaela André/Omar Fonseca; Impressão: Gráfica UFPA; Tiragem: 4 mil exemplares.

Segundo a professora Regina Cunha, o acompanhamento profissio-nal, não apenas dos enfermeiros, mas também de uma equipe de médicos, nutricionistas, assistentes sociais e psicólogos, é essencial durante todo o processo operatório das pessoas es-tomizadas. Entretanto as deficiências na qualificação dos profissionais da saúde foram um dos temas mais discu-tidos pelos participantes dos círculos dialógicos.

Tal deficiência ocasiona uma sé-rie de dificuldades na vida dos estomi-zados. São dúvidas que vão desde o tipo de bolsa de estomia que será utilizada, até a falta de informação, por exemplo, quanto ao Tratamento Fora do Domi-cílio (TFD), uma ajuda de custo paga

para pacientes do interior que precisam realizar seu tratamento na capital.

"Essas dificuldades aparecem desde o momento em que é tomada a decisão de fazer o procedimento. Os pacientes precisam saber onde e como conseguir o equipamento, como deve ser a alimentação, qual a melhor região do corpo para essa estomia", exemplifi-ca a professora. Após a cirurgia, aconte-ce também a retração social, pois alguns pacientes se sentem constrangidos na hora de realizar ações em grupo, como tomar banhos de piscina.

Última fase – Para procurar soluções para tais problemas, foi realizado o "Desvelamento Crítico" dos temas levantados, última fase do Itinerário de

Pesquisa Freireano. Para o problema da qualificação deficiente dos profissionais da saúde, a solução encontrada pelo grupo foi a criação de um Programa de Educação Permanente na Atenção à Pessoa Estomizada, no município de Belém. "Eles propõem que exista um curso elaborado pelos próprios pacien-tes, tornando o estomizado coautor da própria vida", explica Regina Cunha. O diferencial seria unir o conhecimento técnico dos profissionais à experiência de quem vive como estomizado.

Como solução para a falta de visibilidade da Associação dos Ostomi-zados do Pará, foi reforçar a divulgação do órgão na mídia local, por meio de sugestões de pauta, gravação de progra-mas de rádio e televisão, além do envio

de um ofício para a Assembleia Legis-lativa e a Câmara Municipal solicitando auxílio para a construção de uma sede própria para a AOPA, que, atualmente, funciona na URE Presidente Vargas.

Em breve, será realizada uma audiência com a direção da Unidade de Referência Especializada para estabele-cer parcerias que coloquem em prática as sugestões indicadas pelos grupos durante a pesquisa. "Há, também, a proposta do Curso de Especialização em Estomaterapia. Hoje, o Estado do Pará possui duas enfermeiras estoma-terapeutas (ETs). Há um no Acre, uma em Tocantins, 16 em Manaus, formados em 2010. Amapá, Rondônia e Roraima não possuem especialistas nessa área", finaliza a professora.

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Dilermando Gadelha

As pessoas costumam dizer que a vida não é fácil, é uma bata-lha diária, na qual se precisa

lutar por cada conquista, ultrapassar as barreiras e vencer os preconceitos para, enfim, chegarmos ao nosso objetivo final. Agora, imagine como é a vida de quem, por algum motivo, como uma doença crônica, acidentes com armas brancas e de fogo, má formação congê-nita ou outros problemas nos sistemas

digestório, excretor e respiratório, precisa realizar cirurgias que vão trans-formar seu corpo e, por consequência, a sua vida em sociedade.

Esse é o caso das pessoas esto-mizadas, aquelas que utilizam equipa-mentos, como as bolsas de colostomia ou urostomia, para a coleta de fezes e urina fixadas na parede do abdômen. Segundo a professora da Faculdade de Enfermagem da UFPA e enfermeira estomaterapeuta há 15 anos, Regina Cunha, essas pessoas encontram uma

série de dificuldades em suas vidas a partir do momento em que é decidido fazer a cirurgia que resultará em uma estomia.

Algumas dessas dificuldades estão relacionadas às deficiências na qualificação dos profissionais da saúde que atuam nessa área. Outras têm origem na atitude passiva que os pacientes adotam diante desses pro-fissionais e não questionam quais são os seus direitos. Foi com o objetivo de transformar os estomizados em prota-

gonistas de sua própria história que a professora Regina Cunha produziu a tese de doutoramento em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina, "Educação libertadora como possibilidade de empowerment de pessoas estomizadas".

O objetivo principal da pesquisa era promover, por meio da vivência em círculos dialógicos de educação libertadora, o desenvolvimento do empoderamento (empowerment) da pessoa estomizada.

Paciente recebe orientação para autocuidado com a equipe de enfermagem da Unidade de Referência Especializada da Presidente Vargas

Círculos dialógicos favorecem troca de experiências �Foi a partir do conceito de

empoderamento que a professora direcionou as pesquisas para a tese. "Eu considero o empoderamento um processo de emancipação. Esse pro-cesso possibilita escutar as pessoas, ouvir suas vivências para que elas possam expressar suas necessida-des e, a partir daí, juntas, buscarem estratégias de participação pró-ativa para a transformação de suas reali-dades".

O processo construído em conjunto com as outras pessoas, por isso, para conduzir as pesquisas, a professora resolveu utilizar o refe-rencial teórico e metodológico do

educador Paulo Freire, que criou círculos de cultura, durante os quais adultos trocavam suas experiências no intuito de alfabetizarem-se e tornarem-se sujeitos de suas ações. Regina Cunha aplicou o Itinerário de Pesquisa Freireano, constituído por círculos dialógicos, nos quais os estomizados discutiam temas rela-cionados à sua vida após a cirurgia.

Entre os meses de abril de 2009 a fevereiro de 2010, foram realizados sete círculos dialógicos na Unidade de Referência Especia-lizada (URE) da Presidente Vargas, a qual, atualmente, dispõe do único serviço de atendimento a pessoas

estomizadas. Um número irregular de pessoas participava dos círculos, que aconteciam antes da reunião mensal da Associação Paraense dos Ostomizados (AOPA), responsável por congregar as pessoas com esse tipo de intervenção cirúrgica.

De acordo com a professora, os círculos dialógicos foram dividi-dos em três momentos dialéticos e in-terdisciplinarmente entrelaçados. No primeiro, os participantes levanta-vam as principais questões relativas à sua situação, como a discordância entre o serviço público e o privado; a baixa resolutividade dos sistemas de saúde; a deficiente qualificação dos

profissionais de saúde; a invisibili-dade social da AOPA e a deficiente orientação perioperatória (o antes, o durante e o depois da cirurgia).

Os temas geradores levantados eram validados. "Nós voltávamos com eles e mostrávamos os temas. 'Vocês falaram isso. O que vocês acham?'", explica a pesquisadora. No segundo momento, acontecia a codificação e a decodificação dos temas, quando os participantes dos círculos dialógicos representavam visualmente suas questões, para fa-cilitar a apreensão e, então, o grupo discutia aprofundadamente aqueles assuntos.

Pará conta com apenas dois enfermeiros especializados �

Emmanuel Zagury Tourinho - Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação [email protected] da REITORIAM

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10 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Maio, 2011 BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Maio, 2011 – 3

Vivências ensinam a ler e a escrever Perspectiva bakhtiniana ajuda a desenvolver competência comunicativa

UFPA capacita técnicos municipaisTreinamento visa à construção do Cadastro Territorial Multifinalitário

EntreletrasGeografia

Cemitério da Soledade já foi cenário de atividade

Neste semestre, haverá uma etapa do Projeto dedicada somente à percepção desses olhares, à análise das fotografias já tiradas. Quem fará isso será Mara Tavares, ex-aluna de Letras e atual aluna de Jornalismo da UFPA. Segundo avalia Rosa Brasil, no geral, os "textos fotográ-ficos" e os "textos escritos" passam a ser percebidos pelos próprios participantes como frutos de "ação" (ética) e "elaboração" (estética) no mundo.

De acordo com a professora, a ética e a estética, no Entreletras, também são tomadas a partir da pers-pectiva bakhtiniana. "Para Bakhtin, a ética tem a ver com a 'ação no mun-do', com o fazer expressivo, a 'atitude pessoal'. Já a estética tem a ver com o 'olhar de fora', 'extraposto', um olhar que vai muito além do objeto", explica. No Projeto, há um grupo de trabalho sob o título "Ética e estética em Bakhtin", dedicado exatamente à discussão desses conceitos.

Inclusive, 23 alunos do En-treletras receberam apoio da Pró--Reitoria de Extensão da UFPA (PROEX) para apresentarem seus trabalhos – sobre essas temáticas – na Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), em evento in-ternacional denominado "Rodas de conversa bakhtiniana", realizado em novembro de 2010. "Os tra-balhos foram muito elogiados e a UFPA também, por ter viabilizado a presença de tantos alunos, cada aluno com um texto devidamente orientado e publicado no Caderno de Anotações do evento", comemora a pesquisadora.

E, para ler e escrever o mun-do a partir de uma atitude ética e estética, há uma receita: "Parto do princípio de que, para haver texto escrito sobre fatos do mundo, é im-prescindível vivenciar esses fatos, agir eticamente e olhar estetica-mente para eles. É preciso, enfim, haver envolvimento do sujeito com o objeto da escrita para que textos sejam produzidos por um escritor proficiente, maduro e competente. É assim que o olhar modifica a pa-lavra", ensina Rosa Brasil.

Serviço: O curso de "Compreen-são e Produção Escrita" ocorre às segundas e quartas-feiras, das 14h30 às 17h30. Já o GT de "Ética e estética em Bakhtin" ocorre às quintas-feiras, nesse mesmo horá-rio. Apenas no segundo semestre de 2011, abrirão turmas para alunos do ensino médio. As inscrições ocorre-rão de 1º a 31 de maio de 2011, no Centro Acadêmico de Letras (sala no Bloco G do Campus Básico da UFPA - Guamá), entre 14h e 17h. Para mais informações, os conta-tos são: 8356-0436 (Alessandra); 8207-3018 (Amanda); 8287-8193 (Elisama).

Leia abaixo alguns textos produzidos por alunos como resultado das vivências:"Era apenas mais um beijo... pensava ela, mas para ele, incauto, era um momento inefável acompanhado por um excerto de uma canção escolhida. Chegou o dia de conhecer o pai da garota. Um sujeito tosco que gostava de ver as pessoas prostadas diante de si. O garoto tinha um amigo como assessor que lhe aconselhou dizendo: 'seja intrépido'! E assim ele foi. Infelizmente, 'más línguas' o acusaram de ter amigos em corruptela

antes mesmo do opróbrio do pai da garota, e, o final foi a proscrição". lidiane santos, 21 anos, Curso de letras, 5º semestre.

"Amizades verdadeiras fazem-nos ressusci tar! Não é sempre que encontramos no imbróglio da vida pessoas com um talento tão insólito. Porém, eu tive sorte, conheci uma estrelinha que tem um prurido que só passa quando

conquis ta uma nova amizade. Por isso, não é embuste, descobri que o meu coração "Bakhtin" por você! Adorei deambular por São Carlos ao seu lado, mesmo quando, titubeante, você trocou de vestido com medo de alguma profanação. Quero conservar nossa amizade sem labéu. Então, largue esse papel e vem me reabraçar". andréia Patrícia, 19 anos, Curso de letras, 1º semestre.

Jéssica souza

Escalafobético, funestação, escanchado, escamoteado, opróbrio, incauto, intrépido...

Você conhece o significado de alguma dessas palavras? Sem um dicionário à mão fica difícil, não é mesmo? E se utilizarmos uma dessas palavras em uma frase, por exemplo: "Ultrapas-samos diferenças, aprendemos com o outro – mesmo com os mais escalafo-béticos". Melhorou? Um pouco, cer-to? O contexto nos ajuda a entender que escalafobético se remete a algo estranho, esquisito, extravagante ou excêntrico.

Fazer os alunos aprenderem o significado das palavras não só mediante a consulta ao dicionário, mas também por meio da experiência prática, utilizando-as no dia a dia é o objetivo do Projeto "Entreletras: aprendendo e ensinando a ler e a es-crever o mundo a partir da atitude éti-ca e estética no mundo", pertencente à Faculdade de Letras da Universidade Federal do Pará. Coordenado pela professora Rosa Maria de Souza Bra-sil, o Projeto visa desenvolver a com-petência comunicativa de estudantes e professores que tenham dificuldades em produzir textos escritos com um mínimo de sofisticação.

Competência comunicativa é a capacidade do ser humano de inte-ragir em diferentes situações. Essa interação inicia-se muito antes da criança entrar na escola, nos primeiros

anos de vida. Mas, já na fase adulta, ainda é difícil, para estudantes e até mesmo professores, estabelecer uma comunicação 100% bem sucedida ou sem nenhum ruído. Na Linguística, o conceito é trabalhado, entre outros, por teóricos, como o formalista rus-so Mikhail Bakhtin, e diz respeito à necessidade do falante de entender e usar as variedades da língua de acordo com o contexto linguístico e social em que se insere o ato da fala.

No entanto a comunicação também se dá com a leitura e a escrita ou, ainda, de maneira não verbal, por

imagens, sons ou expressões. Segun-do explica a professora Rosa Brasil, "essa competência se desenvolve por meio da prática efetiva, constante, sensível e crítica das habilidades de ler e escrever, pautadas em valores estéticos e éticos, tudo associado à experiência vivida em espaços sociais variados e ao conhecimento interdisciplinar". O Entreletras, neste sentido, viabiliza o intercâmbio dos estudantes entre a reflexão teórica e a realidade cotidiana; entre a ciência e a vida; entre o universo subjetivo e o mundo cultural.

Mercado Ver-o-Peso já foi espaço de vivência �O Projeto iniciou suas ativi-

dades em 2010 e já tem resultados positivos. A ação se dá por meio de vivências temáticas em espaços urba-nos e tarefas de escrita e leitura delas decorrentes. O Entreletras conta com sete bolsistas e 42 voluntários, gradu-andos regulares do curso de Letras da UFPA, aprovados por meio de exame de seleção. Este ano, duas turmas de 30 vagas cada serão ofertadas a alunos do ensino médio, no segundo semes-tre, nas quais os graduandos de Letras e os professores envolvidos farão experimentações pedagógicas.

"Nossa meta é promover as vivências em espaços urbanos de Belém como pré-requisito para o despertar do olhar estético e do agir

ético a serem expostos. Em sequên-cia, voltamos para a sala de aula e trabalhamos a vivência por meio da atividade de escrita", especifica Rosa Brasil. Em 2010, os voluntários do Projeto tiveram duas experiências nesse sentido, tendo como temas: "Mercado informal – vida e morte da/na cidade" e os "Ex-votos no Círio de Nazaré", respectivamente.

"Em 'Mercado informal – vida', passamos uma tarde no Ver-o-Peso, observando e vivenciando tudo; em 'Mercado informal – morte', passamos uma tarde (com chuva e vento) no Ce-mitério da Soledade. Já em 'Ex-votos', passamos uma manhã, no dia do Círio de Nazaré, coletando dados sobre os promesseiros", recorda a coordenado-

ra. Cada um desses ciclos resultou em um texto escrito pelos alunos, com a utilização de palavras e experiências novas que eles conheceram em diver-sas situações comunicativas.

Todo esse processo é feito conjuntamente. "Após as vivências, relembramos juntos as experiências, antes da escrita do texto, por meio de slides com as fotos tiradas por participante", conta a professora Rosa. É importante destacar o papel da fotografia no desenvolvimento do olhar estético dos estudantes. "Nas vivências, fotografa-se tudo a partir de um olhar específico. No próprio local, conversa-se sobre os objetos e a forma de captá-los, de olhá-los", complementa.

Fotografias �serão analisadas

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Como reflexo das demandas geradas pelo edital de 2010/PRO-EXT, foi realizado em abril, em Belém, o Seminário Regional Norte das Diretrizes Nacionais para o CTM, em que os representantes do Minis-tério das Cidades apresentaram aos participantes de outros municípios as principais orientações para a ela-boração do CTM, de acordo com as Diretrizes Nacionais, publicadas na Portaria nº. 511/2009, do Ministério

das Cidades. O evento possibilitou aos gestores/técnicos municipais a percepção do que é o Cadastro Territorial e de como as Instituições de Ensino Superior - nesse caso, a UFPA - podem ajudar na elaboração dessa ferramenta.

Também participaram do Se-minário administradores públicos, especialistas em cadastro ou sistemas de informação, cartógrafos, agri-mensores, formuladores de políticas

territoriais e fiscais, planejadores ur-banos e/ou ambientais, avaliadores de imóveis para fins públicos, acadêmi-cos que desenvolvam atividades em áreas afins, agentes sociais e demais profissionais que atuem em funções relacionadas ao cadastro urbano.

A Caixa Econômica Federal foi uma das participantes do evento. Quatro técnicos dessa instituição par-ticiparam da última turma do curso de capacitação. O interesse da Insti-

tuição pelo Projeto foi estreitado em 2010. Segundo Pedro Barros do Rego Baptista, coordenador de Sustentação ao Negócio Governo da Caixa Eco-nômica Federal, "a Caixa e a UFPA estão construindo ações conjuntas para desenvolver encontros em polos regionais nos quais a Caixa auxiliaria a divulgação dos cursos nos municí-pios contemplados" visando à maior sensibilização dos gestores públicos para a importância do CTM.

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Aulas são ministradas no Laboratório de Análise da Informação Geográfica da UFPA

Marília Jardim

Profissionais das diversas áreas do conhecimento participa-ram do Projeto "Capacitação

de técnicos municipais na imple-mentação do Cadastro Territorial Multifinalitário (CTM), com uso de Sistemas de Informações Geográfi-cas", por meio dos cursos realizados nos meses de fevereiro e março no Laboratório de Análise da Informa-ção Geográfica da UFPA (LAIG). O Projeto é uma iniciativa do Grupo Acadêmico de Produção de Territó-rio e Meio Ambiente na Amazônia (GAPTA), vinculado à Faculdade de Geografia e Cartografia (FGC), com amparo do Programa de Apoio à Ex-tensão Universitária, do Ministério das Cidades.

O projeto de capacitação foi, inicialmente, concebido como um projeto de extensão voltado aos re-cursos humanos da área técnica das prefeituras municipais do Estado do Pará convocadas para o Programa Nacional de Capacitação das Cida-des (PNCC/Ministério das Cidades). Este ano, o Projeto também atraiu servidores de outros órgãos estadu-ais e municipais, além de estudantes da Graduação e Pós-Graduação em Geografia. A última turma teve participantes da Companhia de De-senvolvimento e Administração de Belém (Codem), da Secretaria de In-tegração Regional (SEIR), da Caixa Econômica Federal e da Prefeitura do Campus da UFPA.

O Cadastro Territorial Mul-tifinalitário é uma das políticas do Ministério das Cidades e deve ser

utilizado como ferramenta de regula-rização urbana, auxílio aos gestores nas tomadas de decisão e implemen-tação de políticas públicas adequadas à realidade municipal. A Faculdade de Geografia e Cartografia, por meio do GAPTA, há quatro anos, acumula experiências no processo de capaci-tação de agentes públicos e sociais, com ênfase na área de capacitação em ferramentas de geoprocessamen-to e ordenamento urbano.

Desde 2007, o Grupo participa de iniciativas do Ministério das Ci-dades, em parceria com o Serviço de Proteção da Amazônia (Sipam), por meio da aprovação de projetos nos editais Proex/MEC/Cidades. A ini-ciativa resultou na capacitação de 71 municípios, sendo 70 no Pará e um no Amapá. O cronograma 2010/2011 estabeleceu a realização de quatro cursos de técnicas de geoprocessa-mento e sensoriamento remoto para

capacitar agentes de 40 municípios da Região Metropolitana de Belém, da Ilha do Marajó e do Nordeste pa-raense. Essas ferramentas facilitam a sistematização de informações sobre a superfície terrestre e a sociedade. São geotecnologias que contribuem no controle do parcelamento, uso e ocupação do solo urbano municipal, além de constituírem-se em ferra-mentas para a construção de bancos de dados geográficos.

Benefícios são tanto para gestor quanto para cidadão �O pesquisador Christian Nunes

da Silva, docente da Faculdade de Geografia e Cartografia e colaborador do Projeto, considera o CTM bem mais que um levantamento de informações espaciais do município. "É, antes de tudo, uma ferramenta de diagnóstico, reconhecimento e análise da realidade em escala municipal, a qual possibilita ao gestor municipal conhecer melhor o território municipal, otimizar a gestão pública e formular políticas públicas adequadas a cada realidade encontrada no meio urbano". Nosso objetivo é estimular todas as prefeitu-ras municipais a construir seu Cadastro

Territorial Multifinalitário. Um CTM bem elaborado e atualizado pode ser usado para fins sociais, urbanísticos, fundiários, ambientais e jurídicos e permitir melhores planejamentos ur-banos", observa Christian Nunes.

Para o professor João Marcio Palheta, coordenador do Projeto, o CTM beneficia tanto o gestor quanto o cidadão, pois é fundamental para que os municípios possam realizar, por exemplo, a cobrança justa dos im-postos, "além de produzir informações para serem acessadas pelos cidadãos, permitindo a transparência das políti-cas municipais".

A dinâmica do curso, o qual é gratuito, inclui o uso de imagens de satélites para que os participantes tenham uma visão geral da área e a delimitação física do município. As imagens servem de base para mape-amento digital e criação de banco de dados por meio do software TerraView, ferramenta cartográfica que permite visualizar , consultar e analisar dados geográficos. As aulas são realizadas no Laboratório de Análise da Informação Geográfica (LAIG), dotado de moder-nos equipamentos para receber cursos desse porte.

Nos dois primeiros meses de

2011, foram ofertadas quatro turmas, beneficiando 19 municípios e capaci-tando 60 servidores públicos - entre técnicos municipais e servidores esta-duais e federais de outras instituições. A coordenação do Projeto prevê a oferta, ainda este ano, de mais duas turmas para atender a capacitação dos técnicos dos outros 21 municí-pios paraenses que ainda não foram atendidos, entre eles: Ponta de Pedras, Ananindeua, Castanhal, Igarapé-Açu, Tracuateua, Aurora do Pará, Capitão Poço, Nova Esperança do Piriá, São Miguel do Guamá, Magalhães Barata, Vigia e Acará.

Caixa Econômica é parceira na divulgação do Projeto �

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Remo e Paysandu: paixão pelos times locais transformam torcedores em compradores potenciais de produtos que envolvam as marcas

4 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Maio, 2011

Software promove inclusão digital e social Público-alvo são pessoas que não podem usar mouse ou teclado

BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Maio, 2011 – 9

Qual o perfil do consumidor paraense?Inédito, estudo investiga tendências de consumo no mercado regional

ObservatoriumCoruja Navigator

Segundo a professora Scarleth O’hara, o aspecto antropológico é o que mais pesa na hora de estudar os hábitos de consumo da população paraense. Com uma forte herança portuguesa e indígena, o Pará possui um hibridismo cultural interessante, que interfere, sem dúvida, no modo como o paraense se porta diante da compra. "Talvez em um próximo mo-mento, poderíamos dar maior ênfase na questão psicanalítica. Mas, por agora, resolvemos estudar o que está

mais latente", diz a coordenadora.A professora ressalta que há

casos extraordinários nessa relação de consumo e cultura, os quais podem trazer resultados significativos. Um exemplo é a substituição de produtos na gastronomia paraense. Há tempos, já é possível perceber que o famoso pato que acompanha o tucupi, na épo-ca do Círio, está sendo trocado pelo peru. "Mudar o principal ingrediente de um prato típico do Estado, consu-mido na principal festa e manifestação

cultural paraense, não é fácil", avalia a professora, enaltecendo a estratégia de marketing bem sucedida da empre-sa de alimentos frigoríficos.

A professora lembra que, ao chegar a Belém, passou a observar os hábitos alimentares do paraense, comparando-os com os de São Paulo, Estado onde nasceu. "Mas eu não tenho um olhar forasteiro e analítico, aprendi a amar e a entender a cultura paraense. E o fato de não ser daqui me ajuda a detectar os traços culturais

com maior facilidade e isso, para a pesquisa, é extremamente importan-te", afirma.

Para Scarleth O’hara, a Ama-zônia é vista no mundo como algo à parte do Brasil. E, no Brasil, o Pará é visto como algo à parte da Amazô-nia. "Então, aqui, tudo possui uma aura única, diferente. É, no mínimo, instigante pensar que existe uma cultura forte e que pode ser estudada dentro da Academia", conclui a co-ordenadora.

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Flávio Meireles

Que variáveis influenciam o nosso comportamento no momento da compra? O que nos motiva a

escolher determinado produto? O Pro-jeto "Observatorium: grupo de estudos interdisciplinares sobre o imaginário do consumidor paraense" foi elaborado para responder a essas e a outras questões. O Projeto procura analisar as condutas hu-manas relacionadas ao consumo de bens, tangíveis e não tangíveis, e entender como as determinantes culturais, sociais,

pessoais e psicológicas influenciam no planejamento e na ação de compra das pessoas.

Estudos sobre o comportamento do consumidor só existiam em nível glo-bal. "O fato de não haver pesquisas aca-dêmicas na área de atuação publicitária, sobretudo no que diz respeito a entender os desejos que permeiam o imaginário coletivo paraense, foi fator decisivo para a criação do Projeto e pela aprovação dele no Conselho Nacional de Desen-volvimento Científico e Tecnológico (CNPq)", afirma a professora Scarleth

O’hara, coordenadora do Projeto.Pesquisas indicam que hoje, no

Pará, o setor de comércio de varejo tornou-se mais competitivo nos últimos anos. Deste modo, o consumo no Estado vem crescendo de maneira acelerada e pode tornar-se objeto de estudo. É por esse motivo que o conteúdo trabalhado no Projeto faz parte de uma das disci-plinas da habilitação de Publicidade e Propaganda do curso de Comunicação Social da UFPA.

Por mais que tenha sido o primei-ro projeto de pesquisa da Faculdade de

Comunicação, na área de Publicidade e Propaganda, aprovado pelo CNPq, as pessoas ainda duvidam da importância dos resultados, porque "ainda é difícil acreditar que publicitário faça pesquisa acadêmica. Esta é uma profissão sem-pre voltada para o mercado", pondera Scarleth O’hara.

A professora garante que, por mais que esses resultados venham servir ao mercado, a pesquisa não está pautada em acordos com empresas, pois, desta forma, os estudos ficariam comprometi-dos com alguma política empresarial.

Proposta multidisciplinar conta com apoio internacional �A previsão é que as atividades

do Projeto sejam concluídas em julho deste ano. Por entender que este é um tema inter e multidisciplinar, Scarleth O’hara conta com a colaboração de do-centes da Faculdade de Comunicação, à qual ela e o Projeto estão vinculados, de docentes de outras faculdades da UFPA e do professor Gotzon Mada-riaga, da Universidade Del País Vasco, na Espanha.

Ao todo, são dez linhas de pesquisa que terão como fator comum

estarem embasadas na cultura paraense. As categorias buscam entender desde as variáveis situacionais até as mega-tendências paraenses de consumo e o nível de fidelidade à marca.

De modo geral, o Projeto Obse-vartorium pretende analisar a "paixão" que move os consumidores/torcedores pelos times locais belenenses, como Remo e Paysandu; mapear as lojas da web e o mercado GLS ou pinkmoney na região; avaliar a inserção de políticas de responsabilidade social e ambiental

nas empresas; analisar as reações pós- -compra; compreender as mudanças de hábitos de homens e mulheres no ato da compra; estudar a região amazônica como marca e mercadoria; observar o fenômeno musical mercadológico - o tecnobrega; averiguar as perspectivas psicológicas do consumidor paraense e investigar os hábitos de consumo em momentos específicos, como datas comemorativas.

Diante da escassez de recursos – humanos e financeiros –, não há a

possibilidade de desenvolver as dez linhas de pesquisa ao mesmo tempo. Por isso a escolha da abordagem vai surgindo de acordo com o objeto de estudo. "Além disso, há a orientação de TCC's e a exibição de filmes que retratam temas de consumo e compor-tamento, seguida de roda de discus-são", acrescenta a professora. Outra dificuldade diz respeito ao referencial bibliográfico sobre o assunto, o qual é raro e, quando disponível, está em língua estrangeira.

Primeiras análises devem privilegiar aspectos culturais �

O Coruja Navigator é um softwa-re de código aberto. Isso significa que qualquer um pode ter acesso à forma como ele foi desenvolvido e sugerir atu-alizações, novas aplicações e utilidades. Para facilitar ainda mais esse acesso, a equipe desenvolveu o Programa dando suporte a linguagens de programação diferentes, para que o maior número de pessoas possa contribuir.

"Em qualquer lugar do Brasil, usando C-Sharp ou Java, por exemplo, o usuário pode dar a sua contribuição", afirma o professor Aldebaro Klautau. Esse caráter do Coruja Navigator facilita a aplicação e o aperfeiçoamento do Pro-grama por pesquisadores de todo o país, o que já vem despertando a curiosidade e o interesse de empresários. Apesar desse interesse, o objetivo principal da equipe é fazer o software chegar ao público que,

por um motivo ou por outro, não pode utilizar mouse e teclado.

Os pesquisadores do Laboratório de Processamento de Sinais já estão pro-curando formas de viabilizar o acesso ao Programa entre essas pessoas. Parcerias estão sendo articuladas com a Faculdade de Fisioterapia da UFPA, com o Núcleo de Desenvolvimento em Tecnologia Assistiva e Acessibilidade (Nedeta) da Universidade do Estado do Pará e com a rede de hospitais Sara Kubitscheck.

Apesar de ter o seu objetivo principal definido, o software também permite outras aplicações. Por exemplo, uma empresa de caminhões mostrou interesse em utilizá-lo em seu GPS. Assim, o motorista poderia recalcular as rotas ou fazer alterações utilizando apenas a voz, sem que fosse necessário apertar qualquer botão. A mudança

proporcionaria maior segurança no trânsito.

Para o futuro, um dos planos é fazer o caminho contrário: desenvolver um sintetizador de voz, um programa que possa "ler" o que está na tela, de forma a promover a inclusão, também, de deficientes visuais.

Prêmio "Melhor Produto de Software do Pará": Em 2010, o Coruja Navigator ganhou o Prêmio de "Melhor Produto de Software do Pará" no Simpósio Brasilei-ro de Qualidade de Software, em Belém. Este tipo de reconhecimento valoriza e torna público o trabalho desenvolvido pela equipe do Laboratório. Segundo o coordenador, as premiações também atraem novos investidores, o que é im-portante para um projeto como este, que, a priori, não tem cunho comercial.

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No Laboratório de Processamento de Sinais, o trabalho não para. Alunos e pesquisadores buscam maneiras de aperfeiçoar o programa de reconhecimento de voz

Professor Aldebaro Klautau

Yuri Rebêlo

Ao longo do último século, a espécie humana evoluiu tecno-lógica e cientificamente muito

mais do que havia evoluído em toda a sua história. E, assim como mudaram os objetos de pesquisas, também mudaram métodos, materiais e motivações. Hoje, uma das grandes bandeiras da ciência é promover a inclusão tecnológica e social. Pensando nisso, o Laboratório de Processamento de Sinais (LaPS) da Universidade Federal do Pará (UFPA), sob coordenação do professor Aldebaro Klautau, desenvolveu o Coruja Naviga-tor: um software de reconhecimento de voz para ser utilizado em computado-

res, o qual, em vez de utilizar o mouse e o teclado, atenderia às ordens vocais do usuário.

Idealizado e desenvolvido ao longo dos últimos seis anos, o Coruja Navigator foi desenvolvido com recur-sos do Conselho Nacional de Desen-volvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e permanece em constante aperfeiçoamento, tendo à frente uma equipe de oito pessoas, entre estudan-tes de doutorado, mestrado e iniciação científica. O software utiliza uma mecâ-nica de "cenários" que se ajustam à si-tuação conforme é submetido. Por isso, se o computador estiver no desktop, ele vai tentar adequar o que você falar àquele ambiente, por exemplo: ao cha-

mar "menu iniciar", o menu irá abrir. Ao abrirmos uma página da internet, um novo cenário será identificado e irá responder a comandos, como: voltar, atualizar, ir para a página.

Segundo Aldebaro Klautau, essa mecânica de cenários foi desenvolvida para que o Programa não se confunda em suas funções. "O software tem que entender em que cenário se está no mo-mento em que se dá o comando ‘vá para a direita’. É o mouse que deve ir para a direita ou é, por exemplo, o cursor de edi-ção de texto?", exemplifica o professor.

Apesar de já ter uma versão completa lançada, disponível no site www.laps.ufpa.br, o Programa será alvo de constantes atualizações pela

equipe. O próximo passo é conseguir desenvolver uma forma de utilizá-lo com um discurso natural, direto, sem precisar ditar letra por letra como é feito hoje.

Atualmente, a produção de um artigo mais longo é demorada e cansativa, pois só pode ser feita de duas maneiras: ou o usuário dita letra por letra, ou utiliza palavras-chave que as representam, como explica o coordenador, "ao escrever uma carta, por exemplo, começa-se com ‘Caro amigo’. Em um módulo, dita-se C-A-R-O, e prossegue. No outro módulo, faz-se como na telefonia, usa-se uma palavra para representar a letra: Casa-Alfa-Rato-Ontem".

Próximo passo é desenvolver sintetizador de voz �

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8 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Maio, 2011 BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Maio, 2011 – 5

Projeto retira conceitos da sala de aula Alunos buscam alternativas para água, lixo e esgoto no Curió-Utinga

Universo e Extensão A PROEX lançou edital para inscrição de trabalhos para serem publicados na Revista Universo e Extensão. O perió-dico é semestral, online e tem edição prevista para novembro. Artigos, relatos de experiência de extensão, documentos histó-ricos e resenhas serão recebidos em fluxo contínuo. As áreas temáticas são Meio Ambiente, Tecnologia e Produção, Traba-lho, Saúde, Educação, Justiça e Direitos Humanos, Cultura e Comunicação. Mais informa-ções: (91) 3201-7620 e e-mail: [email protected]

PrêmioEstão abertas, até o dia 22 de julho, as inscrições para o “I Prêmio Estadual de Monografias Professor Roberto Santos – Ges-tão da Informação para o Desen-volvimento do Pará”. Promovido pelo Instituto de Desenvolvimen-to Econômico, Social e Ambien-tal do Pará (IDESP), a premiação pretende fomentar a socialização de pesquisas aplicadas à gestão pública que tenham como objeti-vo promover o desenvolvimento do Estado. Mais informações: (91) 3321-0600 e no site: http://www.sie.pa.gov.br

Narrativas DiscentesDe 17 a 20 de maio, alunos do Instituto de Artes da UFPA e de outras instituições estarão participando do Projeto “Nar-rativas Discentes: Conexões em Arte”. A programação prevê mostras artísticas, conferências, mesas-redondas e apresentação de trabalhos. Mais informações: e-mail [email protected] ou no site http://www.narrativasdis-centes.blogspot.com

FilosofiaEstão abertas as inscrições para o processo seletivo do Programa de Pós-Graduação em Filosofia (nível mestrado) do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH). Os candidatos devem se dirigir à Secretaria do PPGFIL, no período de inscrição de 2 a 20 de maio, das 9h às 15h. Acesse o edital no link http://www3.ufpa.br/ifch/administrator/editalfilo-sofia.pdf

Direitos HumanosDoutores brasileiros com dou-torado concluído antes de 2007 e pelo menos dez anos de ex-periência profissional acadê-mica e de pesquisa na área de direitos humanos podem concorrer à Cátedra Fulbright em Direitos Humanos na Uni-versidade de Notre Dame, In-diana, nos EUA. As inscrições estão abertas até 31 de maio de 2011. Mais informações: http://www.fulbright.org.br/2010/

Menores e melhores Dispositivos eletrônicos atendem a novas demandas

Tecnologia EM DIAEngenharia Sanitária

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Outra pesquisa realizada no La-boratório de Nanoeletrônica e Nanofo-tônica da UFPA analisa o uso de nano-tubos de carbono para o processamento de dados e construção de eletrônicos. Nanotubos de carbono são estruturas de formato cilíndrico, montadas a partir do elemento químico carbono. "Estes materiais associam resistência e flexibilidade e podem ter aplicações em diversos ramos da ciência, como transportadores de fármacos, produção de coletes à prova de bala, maleáveis e leves como a seda ou, ainda, serem uti-lizados como componentes de circuitos elétricos. Esta última é a aplicabilidade que trabalhamos aqui", enumera Fer-nando Gomes, que também faz parte do Laboratório.

As pesquisas com metamateriais também buscam circuitos mais com-pactos e eficientes. Toda informação utilizada para fazer funcionar aparelhos eletrônicos ou estabelecer comunicação por meio deles é transportada por fre-quências de onda eletromagnéticas, isso inclui a luz visível, os raios-X e os raios ultravioleta, por exemplo.

"Há uma faixa do espectro eletromagnético chamada terra, na qual não há resposta. Nesta situação, dizemos que um material não possui utilidade para uma dada frequência. Nas pesquisas com metamateriais, fazemos ajustes no tamanho, na for-ma ou, ainda, na composição de um elemento, buscando manipulá-lo até que ele apresente reação a esta faixa

do espectro eletromagnético que antes era inexistente", detalha o pesquisador Jorge Andrei Macedo.

O pesquisador analisa a simetria de materiais à base de ouro, prata e níquel em busca de novas respostas eletromagnéticas que tenham aplica-bilidade para as telecomunicações. "Buscamos projetar materiais para uma aplicação específica, tentando descobrir o elemento, as dimensões, a simetria e o design ideal para que, ao criarmos repetições, tenhamos um circuito que faça o que desejamos", explica Jorge Macedo. Entre as aplicações, estão o desenvolvimento de microscópios de altíssima resolução, nanocircuitos para computadores ópticos e coberturas de invisibilidade.

Aparelho de eletroscopia mede frequência de metamateriais, uma das pesquisas do Laboratório de Nanoeletrônica

Glauce Monteiro

Televisores, telefonia celular, rá-dios, fibras ópticas, computado-res e transmissão de informação

por satélite ou a grandes distâncias são processos que parecem automáticos aos usuários, mas enfrentam proble-mas e limitações técnicas para serem aperfeiçoados. Uma das possibilidades de melhoria desses serviços é o uso de nanotecnologia na área de eletrônica e fotônica. A primeira está relacionada aos estudos de elétrons e a segunda está voltada para a manipulação de luz ou de fótons.

Estudar novos materiais e proje-tar dispositivos que facilitem a teleco-municação são os objetivos do Labora-tório de Nanoeletrônica e Nanofotônica da Faculdade de Engenharia Elétrica da Universidade Federal do Pará (UFPA),

liderado pelo professor Victor Dmitriev. "Estas duas áreas vislumbram não apenas a redução das dimensões dos dispositivos eletrônicos, mas também representam um novo paradigma diante do surgimento de novos materiais e fenômenos em escala nanométrica, os quais podem originar dispositivos com desempenho superior aos que existem atualmente", acredita o pesquisador.

O Laboratório foi convidado a fazer parte do Instituto Nacional de Ciências e Tecnologia Fotônica para Comunicações Ópticas (Fotonicom), que reúne 11 instituições de ensino superior e pesquisa de todo o país. "Aqui, nós projetamos, simulamos e tentamos produzir eletrônicos em escala nanométrica. Este é um campo promis-sor, porque a tendência é de aparelhos menores, com maior velocidade de transmissão de informação", assegura

Victor Dmitriev. Os 15 integrantes do grupo estudam fenômenos, materiais e aparelhos que vão desde nanotubos de carbono, passando por metamateriais, até a criação de um nanocirculador óptico.

"Trata-se de um aparelho com várias pontas, pelas quais a luz entra e sai de forma direcionada, ou seja, pro-gramada com a aplicação de campos magnéticos. Dispositivos como este não existem em escala nanométrica e permitirão que um mesmo sinal acione aparelhos diferentes ao mesmo tempo em que impedem que haja vazamento de energia neste processo de roteamento. É um dispositivo de conexão", revela An-derson Oliveira, doutorando e integrante do Laboratório. Essa nova tecnologia óptica permitirá a construção de uma nova geração de chips de computador mais velozes do que os atuais.

Nanotubos de carbono para processar dados �

No bairro Curió-Utinga, exis-tem cinco centros comunitários. O principal deles é o Centro Co-munitário das Castanheiras, que funciona onde a urbanização é mais evidente. Outros centros, como o de São Cristóvão e Paraíso Verde, já se encontram em áreas mais precárias, com pouquíssima infraestrutura. A aproximação com esses centros foi fundamental para que a equipe do Projeto pudesse conhecer a área, iden-tificar os problemas e as necessidades da população residente no bairro.

"Temos contato com todas as comunidades do Curió-Utinga, pois nosso primeiro passo foi o reconhe-cimento da área. Nós nos reunimos com os representantes dos centros comunitários, os quais nos auxiliaram neste primeiro passo", explica um dos bolsistas do Projeto, Welington da Silva. Em seguida, a equipe dividiu o bairro em cinco zonas para a coleta dos dados, a qual ocorreu nos meses de janeiro e fevereiro deste ano, com a aplicação de questionários de per-cepção sanitária e ambiental.

Nas cinco zonas, os problemas eram similares: falta de saneamento básico, bueiros sem tampa, tubu-lações de água instaladas de modo equivocado, resíduos por todos os lados e ausência de fossas sépticas em algumas localidades do bairro, as quais são consideradas essenciais às moradias por diminuírem o lançamen-to de dejetos humanos diretamente em rios, lagos e na superfície do solo, evitando, assim, doenças, verminoses e endemias, como a dengue.

São dados preocupantes, uma

vez que, no Curió-Utinga, se encon-tram os lagos Bolonha e Água Preta, os quais abastecem a maior parte da Região Metropolitana de Belém. Além disso, o bairro está dentro de uma Área de Proteção Ambiental (APA). "O Curió-Utinga nasceu de uma ocupação e, hoje, está urbani-zado. Esse processo se intensificou com a abertura da Av. João Paulo II, todavia a ocupação neste bairro é feita de forma desordenada", complemen-ta a coordenadora Maria Ludetana Araújo.

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Com o reconhecimento da área e com os dados obtidos no diagnóstico de percepção sanitária e ambiental, as atividades iniciais do Projeto foram conduzidas pelos aspectos da Engenha-ria Ambiental, cujo foco é promover mudanças de atitudes e melhoria da qualidade de vida dos moradores ao for-necer informações sobre o melhor uso dos recursos hídricos, destino adequado dos resíduos sólidos, serviços de esgoto e cuidados com o meio ambiente.

"Com o apoio dos centros co-munitários e de rádios comunitárias, marcamos encontros com os morado-res do bairro no intuito de divulgar os nossos objetivos e metas, alertá-los de que eles são os protagonistas do meio em que vivem e, por isso, têm o dever de cuidar desse espaço. Esses encontros

com a população são feitos a partir de atividades, como campanhas, palestras e oficinas", explica uma das bolsistas do Projeto, Francielli Magno Bastos.

Para comemorar o Dia da Água (22 de março), os moradores do Curió- -Utinga participaram de uma programa-ção com palestras e exibição de vídeos educativos sobre a temática da água, além da apresentação de grupos de dança e teatro do próprio bairro. "Per-cebo que havia muita esperança quando chegamos à comunidade. E este deve ser o papel da Universidade, ir até as comunidades, ouvir seus moradores e dialogar com eles", ressalta a professora Maria Ludetana Araújo.

Grupos de estudos – Desde que iniciou suas atividades, o Projeto "Práticas

Curriculares do Curso de Engenharia Sanitária e Ambiental" já conseguiu impulsionar dois grupos de estudos dentro da Faculdade de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFPA: o Grupo de Estudo em Consciência e Educação Ambiental (GECEA) e outro voltado para o estudo da coleta seletiva nas lanchonetes dentro do Campus da UFPA.

O próximo passo da equipe será organizar uma exposição na UFPA, retratando a experiência vivida durante a primeira fase do Projeto, para, assim, conseguir a atenção e o apoio de ou-tros professores. "A professora Maria Ludetana nos dá suporte na área da Educação Ambiental, mas precisamos de professores de Engenharia Sanitária que orientem projetos para captarmos

recursos financeiros com futuros parcei-ros. Assim, será possível operacionali-zar, de forma viável para os moradores, uma melhoria no saneamento básico do bairro", aponta o bolsista Welington da Silva.

Com os resultados obtidos, a equipe do Projeto pretende manter o apoio do Programa Integrado de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão e dar continuidade às atividades no bairro Curió-Utinga, pois, do ponto de vista da Educação Ambiental, "as ações não podem ocorrer como atividades pontuais e isoladas. Precisa haver continuidade para que as pessoas assumam e reflitam sobre a mudança que está acontecendo em seu bairro", conclui a coordenadora Maria Lude-tana Araújo.

Palestras e oficinas propiciam encontros com população �

igor de souza

Quem participa ou já participou de projetos de extensão sabe o peso que uma universidade,

como uma instituição social, possui na sociedade. Ao saírem das salas de aula e chegarem às comunidades, alunos e professores se deparam com expectativas, cobranças, mas, acima de tudo, esperança de que a universidade traga soluções para os problemas en-frentados pela população. A situação não foi diferente com os membros do Projeto "Práticas curriculares do curso de Engenharia Sanitária e Ambiental" do Instituto de Tecnologia da UFPA (ITEC).

O Projeto teve início em 2009, a partir de diálogos realizados no âmbito das disciplinas "Saúde Ambiental" e "Educação Ambiental Participativa do Curso de Engenharia Sanitária e Ambiental". "Saneamento, esgoto, resíduos sólidos e poluição dos recur-sos hídricos são temas que estão no cotidiano da sociedade, e toda essa discussão fez com que nós nos preo-cupássemos em elaborar um projeto para sairmos da sala de aula e trabalhar mas com a comunidade, que vivencia na prática esses conceitos", explica a professora e coordenadora do Projeto, Maria Ludetana Araújo.

Cadastrado no âmbito do Pro-grama Integrado de Apoio ao Ensi-no, Pesquisa e Extensão (PROINT

Primeiro passo: identificar problemas e necessidades �

Falta de saneamento básico é uma das consequências da ocupação desordenada na área

2010/2011) da Pró-Reitoria de Ensino de Graduação (PROEG), o Projeto conta, atualmente, com seis bolsistas e trinta e dois voluntários do Curso de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFPA. O grande desafio da equipe de estudantes é melhorar o dia a dia das

comunidades com informações ade-quadas, procurando alternativas para moradia, esgoto, água e lixo.

Ao buscar por comunidades que pudessem se encaixar nos objetivos do Projeto, a equipe, primeiramente, se voltou para o entorno da UFPA

(comunidades da Terra Firme e da Riacho Doce). Todavia, pela falta de segurança nos locais, os membros escolheram mudar para o bairro Curió-Utinga, considerado o maior bairro em extensão territorial de Belém, mas com uma das menores populações.

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Passeio a pé pelo centro histórico é opção de turismo em BelémIniciativa do Grupo de Pesquisa em Geografia do Turismo, o roteiro resgata memória socioespacial do bairro

Cidade Velha

Após cada edição do roteiro, a equipe se reúne para avaliar a ativi-dade. Nesse momento, é levada em consideração a ficha de avaliação preenchida pelos participantes. O documento é considerado como um termômetro do trabalho desenvol-vido. "Esta ficha contém críticas, observações, sugestões e dicas dos participantes e nos ajuda a melhorar o roteiro. Dependendo da viabilida-de, podemos incluir outros pontos no passeio e mudar detalhes da pro-gramação. É muito importante essa avaliação de quem participa", avalia a professora Goretti Tavares.

O público é composto por 30 pessoas, em média. São estudantes, professores, moradores da Cidade Velha e de outros bairros, além de turistas, eventualmente. Os interessa-dos em participar podem se inscrever antecipadamente por e-mail ou, então, comparecer no dia marcado, no local de saída do roteiro. Uma vez cadastra-do, o participante irá receber a ficha de avaliação e informações sobre as próximas edições.

Outro objetivo do Projeto é cha-mar a atenção do Poder Público para o cumprimento de suas competências administrativas. "É preciso provocar o Poder Público para que se cuide, por exemplo, da arquitetura dos prédios antigos e da limpeza da cidade. Como queremos que o turista venha a Belém se a cidade não for bem administrada e considerada um lugar agradável por esse visitante?", pondera Goretti Tavares.

A professora destaca, ainda, que a iniciativa pode contribuir para o

Ao longo da caminhada, professores e bolsistas do Projeto dão informações sobre os pontos visitados

Paulo Henrique Gadelha

A cidade de Belém está cami-nhando para completar 400 anos, o que acontecerá em

12 de janeiro de 2016. Mesmo es-tando entre as capitais mais antigas do Brasil, o seu centro histórico só ganha notoriedade por ocasião do aniversário, transformando-se em cenário principal das comemora-ções e da cobertura jornalística. Ao longo do ano, o bairro Cidade Velha é pouco lembrado, assim como são escassas as iniciativas para resgatar e conservar a memória do lugar.

Para reaver a memória socio-espacial do centro histórico da ca-pital paraense, o Grupo de Pesquisa em Geografia do Turismo (GGEO-TUR) da Faculdade de Geografia e Cartografia da Universidade Federal do Pará (UFPA) criou o Projeto de Extensão "Roteiro Geoturístico no bairro Cidade Velha – conhecendo o centro histórico de Belém".

"Os turistas que vêm a Belém não têm uma boa opção de roteiro para conhecer o centro histórico, na Cidade Velha. Os próprios mo-radores do bairro e de outros locais da cidade pouco conhecem o lugar. Nenhuma agência de turismo ofere-ce um percurso a pé pelas ruas do bairro. Ao percebermos essa lacuna e o potencial da Cidade Velha para o desenvolvimento do turismo pa-trimonial e histórico, avaliamos que seria pertinente a criação do Projeto,

pois atenderíamos os turistas, os es-tudantes, a comunidade local e o pú-blico em geral", diz a coordenadora do Projeto de Extensão e professora da Faculdade de Geografia da UFPA, Maria Goretti da Costa Tavares.

O Projeto, concebido essen-cialmente para desenvolver turismo de base comunitária, começou a ser

elaborado pelo GGEOTUR em 2009. Para a implementação da iniciativa, foi montada uma equipe de traba-lho. Além da coordenadora Goretti Tavares, integra o Projeto quatro estudantes da Graduação de Geogra-fia – com bolsas da Pró-Reitoria de Extensão –, uma técnica da Compa-nhia de Turismo do Estado do Pará

(Paratur), um docente do Campus de Marabá, um aluno do Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFPA e, mais recentemente, três estudantes da Escola de Aplicação da Universidade, contemplados pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica - Ensino Médio (Pibic-EM).

Saídas acontecem aos sábados, a cada quinze dias �

Saindo da Feira do Açaí, participantes sobem a Rua da Ladeira em direção ao Largo da Sé

Com a equipe pronta, a próxima etapa foi de pesquisa bibliográfica e documental, o que aconteceu a partir de maio de 2010, sob responsabilidade dos bolsistas de extensão. Para isso, foram consultados artigos científicos, dissertações e teses. Segundo a coor-denadora, a intenção era sistematizar as informações colhidas sobre o centro histórico de Belém e usá-las para a produção de pequenos textos, que serviriam de base para as falas dos integrantes ao longo do roteiro.

A partir das informações reu-nidas, a equipe definiu o trajeto que seria percorrido. O roteiro sempre inicia em frente ao Forte do Castelo, onde Goretti Tavares explica os moti-vos pelos quais a cidade "nasceu" ali. "Utilizamos elementos da Geografia, da Geopolítica, da História, da Arqui-tetura e a ressignificação do Turismo, neste caso, o de base comunitária, para entendermos a complexidade da formação do centro histórico. Desta forma, podemos compreender, por exemplo, o motivo da existência do Forte do Castelo, que foi uma das estratégias utilizadas pelos portu-gueses para a ocupação do que hoje entendemos por Amazônia", diz a professora.

A primeira edição do roteiro geoturístico foi realizada em 12 de janeiro de 2011. A escolha da data, obviamente, não foi aleatória, já que se

tratava do aniversário de 395 anos de Belém. Os pontos visitados no roteiro de estreia foram mantidos nas edições subsequentes. Desde então, o roteiro vem sendo realizado a cada 15 dias, aos sábados, seguindo, basicamente, o mesmo caminho: Forte do Castelo,

Feira do Açaí, Praça Frei Caetano Brandão, Igreja da Sé, Rua Siqueira Mendes (antiga Rua do Norte, pri-meira rua da capital paraense), Casa Rosada, Fábrica do Guaraná Soberano, Praça e Igreja do Carmo, Rua Joaquim Távora, Largo e Igreja de São João,

Rua Tomázia Perdigão, Palácio do Governo, Prefeitura (mesmo prédio onde também funciona o Museu de Arte de Belém – MAB), Praça Dom Pedro II, Instituto Histórico e Geo-gráfico do Pará, Praça do Relógio e Museu do Círio.

Ficha de avaliação de participantes é termômetro �

desenvolvimento local (econômico e social), hoje, carente de ações voltadas ao turismo. Para manter-se em ativi-dade, o Projeto depende de recursos financeiros. Atualmente, são parceiros: a UFPA - por meio da Pró-Reitora de Extensão, a Paratur e a Secretaria Mu-nicipal de Turismo (Belemtur). Para o mês de junho, é possível que o roteiro inclua o Ver-o-Peso e, para o segundo semestre, estão previstas edições nos bairros Reduto e Campina.

"Com o decorrer das ativida-des, recebemos o retorno do nível de satisfação dos participantes, que se mostram entusiasmados com o rotei-ro. Um dos comentários mais comuns é sobre o ineditismo da iniciativa. Isso nos motiva a tentar melhorar ainda mais. Outro ponto importante é a aproximação dos estudantes envolvi-dos com o objeto de estudo, no caso, o centro histórico na Cidade Velha. Isso pode motivá-los a fazer o Trabalho de

Conclusão de Curso (TCC) sobre esse tema, o que também é enriquecedor para nós, professores", avalia Goretti Tavares.

Serviço: "Roteiro Geoturístico no bairro Cidade Velha - conhecendo o centro histórico de Belém"Edições de maio: dias 14 (sábado) e 29 (domingo), às 8hLocal: Em frente ao Forte do Castelo (local de saída do percurso).

O público interessado tem sido composto por estudantes, professores, moradores da Cidade Velha e turistas

Na ilustração, é possível identificar os pontos que fazem parte do roteiro

a - Forte do Castelob - Feira do açaíC - Praça Frei Caetano brandãod - igreja da sée - rua siqueira MendesF - Casa rosadag - Fábrica guaraná soberanoh - Praça e igreja do Carmoi - rua joaquim távoraj - largo e igreja de são joãoK - rua tomázia Perdigãol - Palácio do governoM - Prefeitura Municipal de belémn - Praça dom Pedro iiO - Instituto Histórico e Geográfico do ParáP - Praça do relógioQ - Museu do Círio