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1 Filosofia da Ciência — Uma bibliografia comentada Prof. Valter A. Bezerra Universidade Federal do ABC Esta é uma lista comentada de referências concentrada sobre os seguintes temas: (a) estrutura e dinâmica do conhecimento científico, (b) progresso e racionalidade da ciência, (c) metodologia científica e metametodologia, (d) dinâmica dos valores na ciência. O seu objetivo é auxiliar os estudantes de filosofia da ciência e demais interessados nesse campo a se orientarem diante dos debates, problemas e posições teóricas mais atuais. Foram incluídas tanto textos clássicos quanto referências de caráter expositivo e didático, assim como artigos “estado-da-arte” mais técnicos. Considerei que uma bibliografia selecionada sobre esses temas poderia ser mais útil se fosse acompanhada de alguns breves comentários sobre cada uma das referências. A maior parte das referências aqui incluídas provêm da minha bibliografia geral sobre filosofia da ciência e história da ciência, cuja elaboração se iniciou durante o meu pós-doutorado e projeto temático na FFLCH-USP (2002-2005, com financiamento da Fapesp). Apresentam-se, agora (2009), após algumas revisões, e acrescidas de mais algumas atualizações. Esta lista não está organizada em ordem alfabética de autor nem de maneira estritamente cronológica, mas antes procurando acompanhar a “ordem das razões” — i.e. a precedência lógica e argumentativa (“quem responde a quem”, ou “quem pressupõe conhecimento das teses de quem”, ou ainda “quem reconstrói quem”), bem como as relações de influência entre os autores (“quem influenciou o pensamento de quem”). Tal como na bibliografia abrangente supracitada, adotei aqui a norma de considerar um dado texto e sua tradução como sendo referências diferentes (por exemplo, Kuhn 1970a e 1970b), mantive esta mesma convenção aqui. Note que algumas coletâneas e volumes coletivos que são citados no corpo das referências encontram-se listados no final do documento, para que os dados não fiquem incompletos. LAUDAN, Larry [1968]. “Teorias do método científico de Platão a Mach”. [Tradução brasileira por Baltazar Barbosa Filho.] Cad. Hist. Fil. Ci. Supl. 1(1980), e também CHFC, Série 3, 10(2)(2000). Bibliografia exaustiva das fontes sobre metodologia científica até o século XIX, precedida por um ensaio introdutório com mais de 60 páginas. LAUDAN, Larry [1981]. Science and Hypothesis. Historical Essays on Scientific Methodology. Dordrecht: D. Reidel, 1981. Coletânea de ensaios sobre história da metodologia escritos nos anos 60 e 70 em que Laudan analisa as teses metodológicas de diversos autores listados em “Platão a Mach”, e defende um modelo “simbiótico” para a interação entre teorias científicas e metodologias. BUNGE, Mario [1961]. “Laws of physical laws”. Am. J. Phys. 29(1961), pp. 518-529.

BEZERRA. Bibliografia Comentada Filosofia Da Ciencia

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Filosofia da Ciência — Uma bibliografia comentada

Prof. Valter A. Bezerra Universidade Federal do ABC

Esta é uma lista comentada de referências concentrada sobre os seguintes temas: (a) estrutura e dinâmica do conhecimento científico, (b) progresso e racionalidade da ciência, (c) metodologia científica e metametodologia, (d) dinâmica dos valores na ciência. O seu objetivo é auxiliar os estudantes de filosofia da ciência e demais interessados nesse campo a se orientarem diante dos debates, problemas e posições teóricas mais atuais. Foram incluídas tanto textos clássicos quanto referências de caráter expositivo e didático, assim como artigos “estado-da-arte” mais técnicos. Considerei que uma bibliografia selecionada sobre esses temas poderia ser mais útil se fosse acompanhada de alguns breves comentários sobre cada uma das referências. A maior parte das referências aqui incluídas provêm da minha bibliografia geral sobre filosofia da ciência e história da ciência, cuja elaboração se iniciou durante o meu pós-doutorado e projeto temático na FFLCH-USP (2002-2005, com financiamento da Fapesp). Apresentam-se, agora (2009), após algumas revisões, e acrescidas de mais algumas atualizações. Esta lista não está organizada em ordem alfabética de autor nem de maneira estritamente cronológica, mas antes procurando acompanhar a “ordem das razões” — i.e. a precedência lógica e argumentativa (“quem responde a quem”, ou “quem pressupõe conhecimento das teses de quem”, ou ainda “quem reconstrói quem”), bem como as relações de influência entre os autores (“quem influenciou o pensamento de quem”). Tal como na bibliografia abrangente supracitada, adotei aqui a norma de considerar um dado texto e sua tradução como sendo referências diferentes (por exemplo, Kuhn 1970a e 1970b), mantive esta mesma convenção aqui. Note que algumas coletâneas e volumes coletivos que são citados no corpo das referências encontram-se listados no final do documento, para que os dados não fiquem incompletos. LAUDAN, Larry [1968]. “Teorias do método científico de Platão a Mach”. [Tradução

brasileira por Baltazar Barbosa Filho.] Cad. Hist. Fil. Ci. Supl. 1(1980), e também CHFC, Série 3, 10(2)(2000).

Bibliografia exaustiva das fontes sobre metodologia científica até o século XIX, precedida por um ensaio introdutório com mais de 60 páginas. LAUDAN, Larry [1981]. Science and Hypothesis. Historical Essays on Scientific

Methodology. Dordrecht: D. Reidel, 1981. Coletânea de ensaios sobre história da metodologia escritos nos anos 60 e 70 em que Laudan analisa as teses metodológicas de diversos autores listados em “Platão a Mach”, e defende um modelo “simbiótico” para a interação entre teorias científicas e metodologias. BUNGE, Mario [1961]. “Laws of physical laws”. Am. J. Phys. 29(1961), pp. 518-529.

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Artigo em que Bunge discute a distinção entre enunciados teóricos e enunciados metodológicos. Existe tradução em português por Valter A. Bezerra, “As leis das leis físicas”, disponível em http://www.geocities.com/ufabc.bc1611/ SUPPE, Frederick [1974]. “The search for philosophic understanding of scientific

theories”. Em: F. Suppe (ed) - The Structure of Scientific Theories, pp. 1-241. Urbana, Illinois: University of Illinois Press, 1974.

Texto de valor inestimável que apresenta uma reconstrução da concepção “padrão” ou “ortodoxa” de teorias, tributária em grande medida do empirismo lógico. Também apresenta as principais críticas a essa concepção, formuladas por Toulmin, Hanson, Feyerabend (o Feyerabend dos anos 60), Achinstein, Kuhn e outros. Proporciona um bom retrato de qual era a situação do debate no final dos anos 60, época crucial para a filosofia da ciência do século XX. FEIGL, Herbert [1970]. “A visão ‘ortodoxa’ de teorias: Comentários para defesa

assim como para crítica”. [Tradução e notas por Osvaldo Pessoa Jr.] Scientiae Studia 2(2)(2004), pp. 265-277. [Originalmente publicado em: M. Radner / S. Winokur (eds) - Analyses of Theories and Methods of Physics and Psychology, pp. 3-16. Minneapolis: University of Minnesota Press, 1970.]

Apresentação e discussão crítica da concepção “padrão” ou “ortodoxa” de teorias, muito mais resumida que a de F. Suppe, porém bastante útil, e escrita por um autor que participou ativamente da construção da visão ortodoxa. HEMPEL, Carl G. [1965]. Aspects of Scientific Explanation and Other Essays in the

Philosophy of Science. New York: Free Press, 1965. A apresentação mais autorizada do modelo clássico de explicação científica, pelo seu principal articulador. Essa teoria da explicação está intimamente ligada à concepção ortodoxa de estrutura teórica. POPPER, Karl R. [1959]. A lógica da investigação científica. Em: Os Pensadores -

Popper, pp. 1-124. São Paulo: Abril Cultural, 1980. [Tradução (abreviada) por Pablo R. Mariconda, baseada na edição alemã de 1965.]

Texto fundamental de Popper, escrito em 1934, onde ele expõe sua concepção falseacionista de ciência e a contrapõe ao empirismo lógico. POPPER, Karl R. [1963]. Conjecturas e refutações. Brasília: Editora da UnB, 1982.

[Tradução brasileira baseada na edição de 1972.] Coletânea de artigos e conferências onde o falseacionismo de Popper já se apresenta mais amadurecido, agora em termos de conjecturas e refutações. Merece especial destaque o capítulo 10, “Verdade, racionalidade e a expansão do conhecimento científico”. POPPER, Karl R. [1972]. Conhecimento objetivo - Uma abordagem evolucionária.

São Paulo / Belo Horizonte: EDUSP / Itatiaia, 1975. [Tradução brasileira.]

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Coletânea de artigos e conferências em que Popper assume explicitamente uma forma de epistemologia evolutiva ou darwinismo cognitivo e desenvolve a sua epistemologia da maturidade, em termos dos “três mundos”. AGASSI, Joseph [1975a]. “The nature of scientific problems and their roots in

metaphysics”. Em: J. Agassi [1975] - Science in Flux, pp. 208-239. Dordrecht: D. Reidel, 1975. [Boston Studies in the Philosophy of Science, Vol. XXVIII.]

AGASSI, Joseph [1975b]. “Questions of science and metaphysics”. Em: J. Agassi [1975], pp. 240-269.

AGASSI, Joseph [1981]. “The choice of scientific problems”. Em: J. Agassi - Science and Society, Cap.18, pp. 239-252. Dordrecht: D. Reidel, 1981.

Três interessantes textos em que Agassi, um popperiano, defende uma visão de ciência como solução de problemas e defende a idéia de uma interação recíproca entre os problemas científicos e os referenciais metafísicos da ciência. QUINE, W. v. O. [1953a]. “Two dogmas of empiricism”. Em: W. v. O. Quine - From a

Logical Point of View - Nine Logico-Philosophical Essays (Second, revised edition), pp. 20-46. Cambridge, Massachusetts: Harvard University Press, 1980. [Reimpresso em: L. Sklar (ed) [2000] - The Nature of Scientific Theory, pp. 72-98. New York / London: Garland Publishing, 2000. Reeditado em: S. G. Harding (ed) [1976], pp. 41-64.]

QUINE, W. v. O. [1953b]. “Dois dogmas do empirismo”. [Trad. por Marcelo G. S. Lima.] Em: Os Pensadores - Ryle, Strawson, Austin, Quine (2ª ed.), pp. 231-248. São Paulo: Abril Cultural, 1980. [Tradução brasileira de W. v. O. Quine [1953a].]

Texto fundamental em que Quine demole a distinção analítico-sintético — um dos pilares da epistemologia clássica —, defende a tese do holismo teórico, e propõe o germe de uma teoria coerencial da confirmação e da justificação epistêmica. QUINE, W. v. O. [1975]. “On empirically equivalent systems of the world”. Erkenntnis

9(1975), pp. 313-328. [Reimpresso em L. Sklar (ed) [2000], pp. 353-368.] LAUDAN, Larry [1990]. “Demystifying underdetermination”. Em: C. W. Savage (ed)

[1990] - Scientific Theories, pp. 267-297. Minneapolis: University of Minnesota Press, 1990. [Minnesota Studies in the Philosophy of Science, Volume XIV.]

LAUDAN, Larry / Jarrett Leplin [1991]. “Empirical equivalence and underdetermination”. J. Phil. 88(1991), pp. 449-472.

Três textos fundamentais sobre a questão da subdeterminação empírica. HARDING, Sandra G. (ed) [1976]. Can Theories Be Refuted? Essays on the

Duhem-Quine Thesis. Dordrecht: D. Reidel, 1976. [Synthese Library, Volume 81.]

Principal antologia de textos discutindo a tese do holismo teórico, também conhecida como “tese Duhem-Quine”.

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KUHN, T.S. [1970a]. The Structure of Scientific Revolutions. 2ª ed. Chicago:

University of Chicago Press, 1970. KUHN, T. S. [1970b]. A estrutura das revoluções científicas. [Trad. por Beatriz V.

Boeira e Nelson Boeira.] São Paulo: Perspectiva, 1998. A Estrutura é um texto fundamental, em que Kuhn desenvolve seu modelo de conhecimento científico e sua concepção de racionalidade, empregando os conceitos de paradigma (depois matriz disciplinar), exemplar, solução de enigmas (puzzles), anomalias e revoluções científicas, e propondo a tese da incomensurabilidade. O modelo de Kuhn tem o efeito de problematizar as noções de progresso, racionalidade, teste, descoberta e consenso em ciência. LAKATOS, Imre / Alan Musgrave (eds) [1970]. A crítica e o desenvolvimento do

conhecimento. São Paulo: Cultrix / EDUSP, 1979. [Tradução brasileira.] Volume clássico que registra o debate Popper-Kuhn no seu auge, durante um congresso ocorrido na London School of Economics em 1965. KUHN, T.S. [1977a]. The Essential Tension - Selected Studies in Scientific Tradition

and Change. Chicago: University of Chicago Press, 1977. KUHN, T. S. [1977b]. A tensão essencial. Lisboa: Edições 70, s/d. [Trad.

portuguesa.] Importante coletânea de artigos em que Kuhn desenvolve vários aspectos da Estrutura, incluindo também ensaios de história da física. KUHN, Thomas S. [2000]. The Road Since Structure - Philosophical Essays, 1970-

1993, with an Autobiographical Interview. [Ed. por James Conant e John Haugeland.] Chicago: University of Chicago Press, 2000.

Coletânea de ensaios de Kuhn, até então inéditos, acrescidos de uma importante entrevista. DAVIDSON, Donald [1974a]. “On the very idea of a conceptual scheme”. Em: D.

Davidson [1984a] - Inquiries into Truth and Interpretation, Cap. 13. Oxford: Clarendon Press, 1984. [Publicado originalmente em Proc. Addr. Am. Phil. Soc. 47(1974), pp. 5-20.]

DAVIDSON, Donald [1974b]. “De la idea misma de un esquema conceptual”. [Trad. espanhola de D. Davidson [1974a].] Em: D. Davidson [1984b] - De la verdad y de la interpretacion - Fundamentales contribuciones a la filosofía del lenguaje, Cap. 13. [Trad. por Guido Filippi.] Barcelona: Editorial Gedisa, 1990. [Reimpressão, 2001. Trad. espanhola de D. Davidson [1984a].]

Texto denso porém fundamental em que Davidson critica a noção de esquema conceitual de caráter pervasivo e inclusivo, o que tem conseqüências importantes para as noções de paradigma, referencial categorial, tradição de pesquisa, visão de mundo, etc. FEYERABEND, Paul K. [1981a]. Realism, Rationalism and Scientific Method -

Philosophical Papers, Volume 1. Cambridge: Cambridge University Press, 1981.

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FEYERABEND, Paul K. [1981b]. Problems of Empiricism - Philosophical Papers, Volume 2. Cambridge: Cambridge University Press, 1981.

FEYERABEND, Paul K. [1999]. Knowledge, Science and Relativism - Philosophical Papers, Volume 3. Edited by John Preston. Cambridge: Cambridge University Press, 1999.

Textos reunidos de Feyerabend, representando suas três grandes “fases”: a primeira, mais ligada aos fundamentos da física; a segunda, mais voltada para a crítica à concepção ortodoxa de teorias, observação, explicação científica e redução teórica; e a terceira, onde ele critica o projeto da filosofia da ciência no século XX como um todo, e defende a necessidade de uma ciência e uma filosofia da ciência mais engajadas na construção da liberdade e da cidadania. (A divisão em volumes não corresponde diretamente a essas três fases.) É importante ressaltar que estes três volumes retratam o pensamento de Feyerabend de maneira muito melhor, mais completa e bem articulada do que o seu famoso livro Contra o método. LAKATOS, Imre [1970a]. “Falsification and the methodology of scientific research

programmes”. Em: I. Lakatos [1978] - The Methodology of Scientific Research Programmes, cap. I, pp. 8-101. Cambridge: Cambridge University Press, 1978. [Reeditado em S. G. Harding (ed) [1976], pp. 205-259.]

LAKATOS, Imre [1970b]. “O falseamento e a metodologia dos programas de pesquisa científica”. Em: I. Lakatos / A. Musgrave (eds ) [1970], pp. 109-243. [Tradução brasileira de I. Lakatos [1970a].]

Principal texto em que Lakatos apresenta sua “metodologia dos programas de pesquisa”, que procura encontrar uma “terceira via” além das concepções de Popper e Kuhn. LAKATOS, Imre [1971]. “History of science and its rational reconstructions”. Em: I.

Lakatos [1978] - The Methodology of Scientific Research Programmes, Cap. 2, pp. 102-138. Cambridge: Cambridge University Press, 1978.

Importante texto publicado originalmente como parte de um simpósio incluído nos anais do congresso PSA 1970, onde Lakatos expõe sua concepção de metametodologia e discute a relação entre história da ciência e filosofia da ciência. LAUDAN, Larry [1976]. “Two dogmas of methodology”. Phil. Sci. 43(1976), pp. 585-

597. Texto em que Laudan defende a possibilidade de se falar em um progresso científico não-cumulativo (i.e. progresso mesmo com a possibilidade de perdas epistêmicas) e critica a tese de que a “incomensurabilidade” torna impossível a avaliação comparativa de teorias. LAUDAN, Larry [1977]. Progress and Its Problems: Towards a Theory of Scientific

Growth. Londres: Routledge & Kegan Paul, 1977. Texto fundamental em que Laudan apresenta seu modelo de conhecimento científico em termos de solução de problemas, procurando superar diversas dificuldades identificadas nos modelos de Popper, Lakatos e Kuhn. Também lança a provocativa tese da existência de dois “contextos cognitivos” em ciência: o contexto da aceitação (context of acceptance) e o

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contexto prospectivo (context of pursuit). Este livro originou uma extensa literatura crítica nos anos 80. LAUDAN, Larry [1981a]. “A problem-solving approach to scientific progress”. Em:

Ian Hacking (ed) [1981a] - Scientific Revolutions, pp. 144-155. Oxford: Oxford University Press, 1981.

LAUDAN, Larry [1981b]. “Un enfoque de solución de problemas al progreso científico”. [Trad. espanhola de L. Laudan 1981a.] Em: Ian Hacking (ed) [1981b] - Revoluciones científicas, pp. 273-293. [Trad. por J. J. Utrilla.] México, DF: Fondo de Cultura Económica, 1985. [Trad. espanhola de I. Hacking (ed) 1981a.]

Texto em que Laudan apresenta uma versão resumida do modelo de solução de problemas exposto em Progress and Its Problems. CHALMERS, Alan [1982]. O que é ciência afinal? São Paulo: Brasiliense, 1999.

[Trad. bras. da 2a. ed. inglesa, 1982, de Chalmers 1999a.] CHALMERS, Alan [1999a]. What is this thing called science? Indianapolis /

Cambridge: Hackett Publishing, 1999. [Terceira ed. inglesa.] CHALMERS, Alan [1999b]. ¿Qué es esa cosa llamada ciencia? Buenos Aires: Siglo

XXI, 2005. [Trad. da 3a. ed. inglesa de Chalmers 1999a.] LOSEE, John [2001]. A Historical Introduction to the Philosophy of Science. [Fourth

Edition.] Oxford: Oxford University Press, 2001. [Quarta edição da obra publicada pela primeira vez em 1972.]

NEWTON-SMITH, W. H. [1981]. The Rationality of Science. Boston: Routledge, 1981.

SALMON, Merrilee H. / John Earman / Clark Glymour / James G. Lennox / Peter Machamer / J. E. McGuire / John D. Norton / Wesley C. Salmon / Kenneth F. Schaffner [1992]. Introduction to the Philosophy of Science. Indianapolis / Cambridge: Hackett Publishing, 1992.

Temos aqui quatro textos de caráter didático, que primam pela clareza, precisão e legibilidade, e que podem cumprir, de maneira honrosa, função semelhante à de verdadeiros livros-texto de Filosofia da Ciência. Os três primeiros (i.e. Chalmers, Newton-Smith, Losee) apresentam análises críticas e comparativas das concepções de estrutura do conhecimento, progresso e racionalidade científica de Popper, Kuhn, Lakatos, Laudan, entre outros. O texto de Losee, além de apresentar os principais problemas e teorias da filosofia da ciência, traça a sua evolução histórica, remontando às concepções sobre a ciência da Antigüidade, da Idade Média e do século XVII, e avançando até as questões mais recentes da filosofia pós-kuhniana. Já o texto de Salmon et al, resultante de uma iniciativa que reuniu os esforços de alguns dos mais renomados filósofos da ciência da atualidade, integrantes do Departamento de História e Filosofia da Ciência da Universidade de Pittsburgh, segue uma organização temática, com capítulos dedicados à filosofia da biologia, filosofia da medicina, da psicologia e das ciências sociais, bem como aos problemas do espaço-tempo e do determinismo em física, e temas mais clássicos como explicação, confirmação, realismo e mudança científica. LAUDAN, Larry / Arthur Donovan / Rachel Laudan / Peter Barker / Harold Brown /

Jarrett Leplin / Paul Thagard / Steve Wykstra [1986a]. “Scientific change:

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Philosophical models and historical research”. Synthese 69(1986), pp. 141-223.

LAUDAN, Larry / Arthur Donovan / Rachel Laudan / Peter Barker / Harold Brown / Jarrett Leplin / Paul Thagard / Steve Wykstra [1986b]. “Mudança científica: modelos filosóficos e pesquisa histórica”. [Tradução de L. Laudan et al [1986a] para o português por Caetano E. Plastino.] Estudos Avançados 7(19)(1993), pp. 7-89.]

Ensaio em que uma equipe liderada por Laudan procura estabelecer uma terminologia uniforme para descrever os modelos de mudança científica e procura formular da maneira mais objetiva possível as teses dos modelos de Popper, Lakatos, Kuhn, Feyerabend e Laudan. O ensaio se insere dentro de um projeto naturalista mais amplo que visa o “teste histórico” de modelos de racionalidade científica, porém tem valor próprio independentemente da viabilidade de tal projeto. LAUDAN, Larry [1981]. “A confutation of convergent realism”. Phil. Sci. 48(1981),

pp. 19-49. [Reeditado em Laudan, Science and Values, Cap. 5.] Uma importante crítica ao realismo metodológico convergente, depois incorporada pelo próprio Laudan ao seu quadro “reticulacional” de racionalidade. LAUDAN, Larry [1984]. Science and Values - The Aims of Science and Their Role in

Scientific Debate. Berkeley: University of California Press, 1984. Texto fundamental em que Laudan formula o seu modelo “reticulacional” de racionalidade, de caráter não-hierárquico, para descrever a interação entre valores cognitivos, metodologias e teorias científicas. O autor também utiliza o modelo reticulacional como base para lançar uma crítica bastante cogente às concepções de Kuhn. Assim como Progress and Its Problems, este livro de Laudan também deu origem a uma extensa literatura crítica. LAUDAN, Larry [1986]. “Some problems facing intuitionist metamethodologies”.

Synthese 67(1986), pp. 115-129. LAUDAN, Larry [1987]. “Progress or rationality? The prospects for normative

naturalism”. Am. Phil. Quart. 24(1987), pp. 19-31. [Reeditado em Laudan [1996], cap. 7.]

Dois textos em que Laudan desenvolve sua concepção de metametodologia, ao mesmo tempo naturalista, normativa e não-intuicionista. SNEED, Joseph D. [1971]. The Logical Structure of Mathematical Physics.

Dordrecht: D. Reidel, 1971. STEGMÜLLER, Wolfgang [1973]. The Structure and Dynamics of Theories. New

York: Springer, 1976. [Tradução inglesa.] STEGMÜLLER, Wolfgang [1979]. La concepción estructuralista de las teorías.

Madrid: Alianza Editorial, 1981. [Tradução espanhola.] A metateoria estruturalista (que não possui nenhuma relação com o chamado “estruturalismo” em antropologia e em teoria literária), ou concepção estrutural de Balzer-Moulines-Sneed-Stegmüller, um programa de pesquisa metateórico que já dura quase 40

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anos, constitui a principal alternativa à concepção “ortodoxa” de teorias (e, segundo penso, também a mais viável). O árido porém visionário livro de Sneed constitui o seu texto fundador, influenciado por P. Suppes e F. P. Ramsey. Os livros de Stegmüller constituem duas defesas entusiásticas e early do enfoque de Sneed, incluindo tentativas de reinterpretar algumas noções kuhnianas dentro desse novo quadro conceitual. KUHN, T. S. [1976]. “Theory-change as structure-change: comments on the Sneed

formalism”. Erkenntnis 10(1976), pp. 179-199. Texto em que Kuhn comenta (em tom de aprovação) os esforços de J. Sneed e W. Stegmüller para reconstruir algumas de suas noções em termos da concepção estrutural de teorias. BALZER, Wolfgang / C. Ulises Moulines / Joseph D. Sneed [1987]. An Architectonic

for Science: The Structuralist Program. Dordrecht: D. Reidel, 1987. MOULINES, Carlos-Ulises [1982]. Exploraciones metacientificas. Madrid: Alianza

Editorial, 1982. BALZER, Wolfgang / David A. Pearce / Heinz-Jürgen Schmidt [1984]. Reduction in

Science: Structures, Examples, Philosophical Problems. Dordrecht: D. Reidel, 1984.

BALZER, Wolfgang / C. Ulises Moulines (eds) [1996]. Structuralist Theory of Science: Focal Issues, New Results. Berlim: Walter de Gruyter, 1996.

BALZER, Wolfgang / Joseph D. Sneed / C. Ulises Moulines (eds) [2000]. Structuralist Knowledge Representation: Paradigmatic Examples. Amsterdam: Rodopi, 2000. [Poznań Studies in the Philosophy of the Sciences and the Humanities, Volume 75.]

DÍEZ, J. A. / P. Lorenzano (eds) [2002]. Desarrollos actuales de la metateoría estructuralista: Problemas y discusiones. Bernal: Universidad Nacional de Quilmes, 2002.

A Architectonic, uma súmula da metateoria estruturalista, constitui, em minha opinião, uma das obras de maior fôlego e envergadura dentro da filosofia contemporânea da ciência, talvez comparável ao Aufbau ou à Logical Syntax of Language de Carnap. O livro de Moulines fornece uma apresentação excepcionalmente clara, legível e filosoficamente profunda da concepção estrutural de teorias científicas. Os três volumes editados por Balzer et al e o volume editado por Díez e Lorenzano representam o estágio mais recente do programa da metateoria estruturalista. Incluem numerosas reconstruções de teorias científicas particulares, não se restringindo à física, mas enveredando por várias disciplinas, incluindo a biologia, a economia, a lingüística, a química e as ciências sociais. DÍEZ, José A. / Pablo Lorenzano [2002]. “La concepción estructuralista en el

contexto de la filosofía de la ciencia del siglo XX”. Em: J. A. Díez / P. Lorenzano (eds) [2002], pp. 13-78.

Exposição didática e sistemática da concepção estrutural de teorias de Balzer-Moulines-Sneed-Stegmüller. Este ensaio cumpre, em relação à metateoria estruturalista, aproximadamente o mesmo papel que o ensaio de F. Suppe cumpria em relação à concepção ortodoxa.

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LACEY, Hugh [1998]. Valores e atividade científica. São Paulo: Discurso Editorial, 1998.

LACEY, Hugh [1999a]. Is Science Value Free? Values and Scientific Understanding. London: Routledge, 1999.

LACEY, Hugh [1999b]. “Science and values (2)”. Manuscrito XXII(2)(1999), pp. 165-203.

LACEY, Hugh [2003]. “Existe uma distinção relevante entre valores cognitivos e sociais?” Scientiae Studia 1(2)(2003), pp. 121-149.

LACEY, Hugh [2006]. A controvérsia sobre os transgênicos: Questões científicas e éticas. [Trad. por C. R. Tossato, G. Rodrigues Neto, R. A. Rebollo, R. R. Kinouchi e S. G. Garcia.] Aparecida, SP: Idéias e Letras, 2006.

Principais referências disponíveis até o momento em português sobre o modelo de ciência de Lacey, em termos de “estratégias de restrição e seleção”, distinguindo três momentos ou contextos da atividade científica, e propiciando um marco teórico para se compreender o lugar dos valores cognitivos e sociais no sistema do conhecimento científico.