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><,: BIOSSEGURAN A ............ Biossegurança e Experimentação Animal Evelyn Oliver Sarmento :MédicaVeterinária, CRMV - SPn°3569, ,Pesquisadora Científica do Instituto IAdolfo Lutz, Mestre em Saúde Pública IpelaFaculdade de Saúde Pública da USP. IE-mail:[email protected] I INTRODUÇÃO o termo biossegurança está rela- cionado à segurança da vida e envol- ve um conjunto de condições e práti- cas direcionadas para a prevenção, minimizaçãoou eliminaçãode riscos inerentes às atividades de produção, ensino e pesquisa. Os riscos presen- tes podem afetar a saúde de seres hu- manos, animais e causar danos ambientais, alémdecomprometer aqua- !idadedo trabalho (Rirata et al.,2(02). Em todo o mundo, animais contri- buem de forma inequívoca para a melhoria da qualidade de vida, sendo amplamente utilizados em pesquisas para o desenvolvimento de novas tecnologias, vacinas e fármacos, além da geração de conhecimento sobre a biologia das espécies e a interação com o meio ambiente. Entretanto, o trabalho com animais sadios, infectados e/ou geneticamente modificados (OGMs), expõe médicos veterinários, pesquisadores e técnicos a diversos riscos associados às atividades desenvolvidasemlaboratóriosdeconten- ção e também em pesquisas de campo. Durante a realização de experimen- tos é necessário manipular o animal, co- letar amostras de tecidos, realizar exa- mes, inoculações e necropsias.Animais podem provocar ferimentos e doenças, escapar e disseminar contaminações ao meioambiente.Amanutençãodeanimais em biotériosenvolveo trabalhorígidode manejo, higienização rotineirado ambi- ente onde vivem, se alimentam, produ- zemdejetoseaerossóis,amplificandoris- cos de agravos à saúde. O artigo tem com objetivo trazer in- formações e precauções sobre os riscos mais comuns na manipulação e manu- tenção de animais em experimentos para maior proteção das pessoas e do meio em que vivemos. BIOSSEGURANÇA E RISCOS Ao longo da evolução científica e tecnológicaa necessidadede realizar pesquisas com animais e a manipular agentespatogênicoslevou a comuni- dade científicaa desenvolverum tipo de laboratório ou recinto especial- o biotério de experimentação ou labo- ratório de experimentação animal (Figura 1),com o intuitode: . mantera saúdee o bem-estar dos animais dentro de padrões de ex- celência, determinando maior confiabilidade aos resultados experi- mentais; . proporcionar a segurança da equipe envolvida no trabalho; . assegurar a preservação do meio ambiente, evitando a saída de agentes de risco (CDC, 1999). Espécies animais só devem seruti- lizadas em pesquisas, se não existirem métodos ou sistemas alternativos que forneçam resultados válidos. Se não for possível dispensá-Ias, é consenso que a dor e o sofrimento inerentes ao ex- perimento, sejam evitados ou minimizados (Russell et al., 1959). As recomendações sobre cuidado e uso de animais estão extensamente descritas em publicações nacionais e internacionaisque disponibilizaminfor- mações detalhadas sobre característi- cas de instalações físicas, equipamen- tos, biologia e manejo das espécies, saúde e bem-estar, controle ambienta!, I Revista CFMV - Brasília/DF -Ano XI - N° 36 Setembro/Outubro/Novembro/Dezembrode 2005

Biossegurança e Experimentação Animal - cfmv.org.br cobio/artrev36.pdf · Biossegurança e Experimentação Animal Evelyn Oliver Sarmento:Médica Veterinária, CRMV-SP n° 3569,,Pesquisadora

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><,:BIOSSEGURAN A ............

Biossegurança e Experimentação Animal

Evelyn Oliver Sarmento:MédicaVeterinária, CRMV- SPn°3569,,Pesquisadora Científica do InstitutoIAdolfo Lutz, Mestre em Saúde Pública

IpelaFaculdade de Saúde Pública da USP.IE-mail:[email protected]

INTRODUÇÃO

o termo biossegurança está rela-cionado à segurançada vida e envol-ve um conjunto de condiçõese práti-cas direcionadas para a prevenção,minimizaçãoou eliminaçãode riscosinerentes às atividades de produção,ensino e pesquisa. Os riscos presen-tes podem afetar a saúdede sereshu-manos, animais e causar danosambientais,alémdecomprometeraqua-!idadedo trabalho (Rirataet al.,2(02).

Em todo o mundo, animais contri-

buem de forma inequívoca para amelhoria da qualidade de vida, sendoamplamente utilizados em pesquisaspara o desenvolvimento de novastecnologias, vacinas e fármacos, alémda geração de conhecimento sobre abiologia das espécies e a interação como meio ambiente.

Entretanto, o trabalho com animais

sadios, infectados e/ou geneticamentemodificados (OGMs), expõe médicosveterinários,pesquisadores e técnicos adiversos riscos associados às atividadesdesenvolvidasem laboratóriosdeconten-

ção e também em pesquisas de campo.Durante a realização de experimen-

tos é necessáriomanipular o animal, co-letar amostras de tecidos, realizar exa-

mes, inoculaçõesenecropsias.Animaispodem provocar ferimentos e doenças,escapar e disseminar contaminações aomeioambiente.Amanutençãodeanimaisem biotériosenvolveotrabalhorígidodemanejo,higienizaçãorotineirado ambi-ente onde vivem, se alimentam, produ-zemdejetoseaerossóis,amplificandoris-cos de agravos à saúde.

O artigo tem com objetivo trazer in-formações eprecauções sobre os riscos

mais comuns na manipulação e manu-tenção de animais em experimentospara maior proteção das pessoas e domeio em que vivemos.

BIOSSEGURANÇAE RISCOS

Ao longo da evoluçãocientíficaetecnológicaa necessidadede realizarpesquisascom animaise a manipularagentespatogênicoslevou acomuni-dadecientíficaadesenvolverum tipode laboratórioourecinto especial- obiotério de experimentação ou labo-ratório de experimentação animal(Figura1),como intuitode:

. mantera saúdee o bem-estardos animais dentro de padrões de ex-celência, determinando maior

confiabilidade aos resultados experi-mentais;

. proporcionar a segurança daequipe envolvida no trabalho;

. assegurar a preservação do meioambiente, evitando a saída de agentesde risco (CDC, 1999).

Espécies animais só devem seruti-lizadas em pesquisas, se não existiremmétodos ou sistemas alternativos queforneçam resultados válidos. Se não forpossível dispensá-Ias, é consenso quea dor e o sofrimento inerentes ao ex-

perimento, sejam evitados ouminimizados (Russell et al., 1959).

As recomendações sobre cuidadoe uso de animais estão extensamente

descritas em publicações nacionais einternacionaisque disponibilizaminfor-mações detalhadas sobre característi-cas de instalações físicas, equipamen-tos, biologia e manejo das espécies,saúde e bem-estar, controle ambienta!,

IRevista CFMV -Brasília/DF - Ano XI - N° 36 Setembro/Outubro/Novembro/Dezembrode 2005

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genética, nutrição, técnicas experimen-tais, modelos animais, eutanásia, des-carte, ética e outras abordagens-essen-ciaispara a promoção do bem-estar ani-mal e a qualidade das pesquisas. Refe-rências on line oferecem infonnaçõesque auxiliam na capacitação e atualiza-ção de usuários sobre temas pertinen-tes a biotériose experimentação animal(Poole, T. B, 1987; Rollin B.E.,1990;COBEA, .1991; CACC, 1984;CACC, 1993; De Lucca, R.R., 1996;NRC, 1996; NIH ,1998; Andrade et

aI., 2002; Neves et aI., 2002).Todo profissional envolvido com

experimentação animal deve estar de-vidamente informado e capacitadopara desenvolver esta atividade. Osprojetos de pesquisa devem ser sub-metidos à análise do Comitê Interno

de Biossegurança e da Comissão deÉtica para Uso de Animais (CEUA),da instituição (CDC, 1999; Ministérioda Saúde, 2005).

O Biotério de Experimentação devecontar com o apoio da direção insti-tucional e participar de programa decontrole médico de saúde ocupacional.

O funcionamentoadequadodessaunidadeexperimentalprevê:

1 -

. uso de instalaçõesfísicasadequa-das às atividadesderiscocom animais;

. disponibilidade de equipamen-tos e materiais em quantidade e quali-dade requeri das;

. adoção de práticas operacionaispadronizadas que determinem a quali-dade e a segurança das atividades com

agentes de riscos, animais e ou orga-nismos geneticamente modificados;

. equipe capacitada para o tra-balho com animais e devidamenteesclarecida e treinada sobre os riscosexistentes;

. atendimento às normas, re-gulamentos e leis vigentes relativasa biossegurança, saúde ocupacionale ética na pesquisa com animais(CDC, 1999).

Os níveis de biossegurança (1\1]3),para o trabalho com animais venebra-dos são designados em ordem cres-cente como (NB-A) 1,2,3 e 4, deacordo com o grupo de risco dosmicroorganismos manipulados, em as-sociação às características e comple-xidade das instalações, equipamentosde segurança e na aplicação de práti-cas recomendáveis para contenção deriscos. Mantêm a equivalência aos::--"'B

I designados para atividades labora-toriais(NB I, 2, 3 e4) e estãoresumi-damente apresentados na Tabela 1'CDC, 1999).

Emrelação às instalações e equi-pamentos,oBiotériodeExperimenta-ção deveserplanejadocom o concei-~ básico de manter a segurança densuários,animaisemeioambiente,con-siderandoaindao fluxogramadas ati-,idades da unidade.

.JeVeID estar previstas salas ou áreas

~ificas para animais,lavagem epre-~ de materiais, depósitos, adminis-traç.ãc.vestiários, laboratórios e equi-pamemos como autoclaves, sistema dearcondicionado e cabines de conten-

çID.entreoutros itensindispensáveisaom-reIde biossegurança requerido.

É Gbrigatória a existência de bar-reiras ffsicas que separam áreas distin-tas. e"itando o cruzamento de conta-

minações dentro do biotério e propor-cionam.seu isolamento do meio exter-

no. oode há a circulação de pessoas eomros 3T11m3is.Inversamente, as bar-reiras de"em impedir o escape de ani-mais e contaminações indesejáveis aomeio ambiente.

As superfícies de paredes, pisos etetOSdevem ser resistentes, laváveis,

se~ reentrâncias, para facilitar ahigieni~. O sistemadeclimatizaçãoproporciona estabilidade ambiental,mantendo temperatura,umidade e ven-tilação adequadas ao conforto e segu-rança das espécies mantidas e da equi-

I

pe de trabalho. Preconiza-se a reno-vacão total de ar em torno de 15-20

! ~ de ar/hora, e o gradiente deI pressão no interior das salas de ani-

mais menor do que o das áreas contí-guas (CDC, 1999; Neves et al., 2002).

A Tabela 1 apresenta infonnaçõesresumidas sobre instalações, equipa-mentos eprocedimentos recomendados

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BIOSSEGURAN A

~b~ -R;s-;-m~71; ~is de b~s-;;g';anç;~e~~e~M;P;; atividadesIIcom animais vertebrados naturalmente ou experimentalmente infectados

NBA"1 Agentes; Instalações Equipamentos I Prática~' .

~ i ~ de segurança I Procedimentos1 Desconhecidos Padrão Convencional. Necessários aos Convencionais para

por causarem cuidados normais cuidados e manejodoenças em Recomendável: para manutenção de animais.

. seres humanos IF~uxode ar unldirecional.. de cada espécie. I Programa deadultos e Pia para lavagem de controle de saúde.saudáveis. mãos. Ética com animais.

para os níveis de biossegurança reque-ridos no trabalho com animais (NBA -1,2, 3 e 4). As informações completasestão disponíveis para consulta em re-ferências on Unee publicações descri-tas na bibliografia do artigo.

ASPECTOS INERENTESA RISCOS BIOLÓGICOS ~ ~--""'---r-: -~- ----

2 Associados NBA-1 acrescido de:com doençasem seres Autoclave disponivel.humanos. Pia para lavagem de

mãos dentro da sala deanimais.Lavagem mecânica degaiolas.

A higienepessoalrigorosaé uma dasbarreiras efetivas para prevenção deinfecções. O simples procedimento delavagem de mãos antes e após a mani-pulação ou contato com animais e deri-vados, reduz o risco de contaminações.O banho após o trabalho e a não circu-lação de pessoas com uniformes e aces-sórios utilizados em salas de animais e

salas de apoio do biotério de experi-mentação para o exterior, também ftm-cionam como barreiras à aquisição edisseminação de agravos à saúde e aomeio ambiente.Tantooshmcionáriosdo

biotério como pesquisadores e visitan-tes autorizadosdevem fazeruso de equi-pamentos deproteçãoindividual(EPIs),ao entrar ou trabalhar em recintos deanimais. Os EPIs devem ser descon-

taminados e/ou descartados após o usosegundo critériosestabelecidosde acor-do com o risco biológico requerido(NBA-1,2,3 ou 4). Fumar, ingerirlí-quidos e alimentos, utilizar cosméticose adornos, manipular lentes de conta-tos, são práticasque devem ser abolidasem salas de animais, áreas de apoio elaboratórios.Cuidadosespeciaisdevemser observados em unidades onde são

mantidos primatas não humanos e ani-mais silvestres, espécies em que o po- ...tendal zoonóticoéalto ounãoestáain- Fonte: CDC (1999)

da estabelecido.Aquarentenade ani- clínicose laboratoriaisregularespara Andradeet al.,2002).mais, uso de EPIs como protetores diagnósticoe,quandohouverindicação, Todososrejeitosprovenientesdasfaciais,respiradorescomfiltros,controle imunização contra Raiva, Tétano e salasde animais (NBA-1), incluindode saúde,testes sorológicos, exames Hepatite( Smith 1987;CACC, 1993; cama(maravalha),contaminada,restos

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Risco:exposiçãocutânea oumucosa eingestão.

- ~ - - -~ -3 Agentes nativos

ou exóticos quepodem causarsérios danos àsaúde.

Risco: potencialpara trans":,!ssãopor aerossols.

NBA 2 acrescido de:

Separação física entreas safas de animais,corredores de acesso eãrea de apoio.Portas de fechamentoautomãtico.

Acesso por duplaporta.

Aberturas e janelasvedadas.Autoclave disponíveldentro do biotério.

4

. - - -~----Agentesexóticos/perigosos queproduzem altorisco de vida

Risco:transmissão

NBA- 3 acrescido de;Edificação separadaou ãrea isolada.

Sistemas exclusivospara: ventilação,exaustão, vácuo edescontaminação.entre outros requisitos.

j,

I

NBA-1 acrescido de: NBA-1 acrescido de:

Uso de EPls Acesso limitado.adequados aorisco.

Equipamento decontençãoapropriado paraespécies animais.

I Avisos de risco.Regras eproteção contraperfurocortantes.Manual deBiossegurança.Descontaminaçãode material/lixoinfeccioso egaiolas/caixas deanimais antes dalavagem/descarte.- ------ - --

NBA 2 acrescido de: NBA 2 acresc:ido de:

Equipamento de Acesso controlado.contenção para Descontaminaçãoanimais alojados de EPls antes danas gaiolas lavagem/descarte.(microisoladores e . -fluxos laminares). Desco,:,tamlOaçao

das gaiolas antesEPls, proteção Ido forramento ser

I respiratória I removido paraapropriada. Idescarte.

Cabines de Pedilúvios quesegurança Igeram aerossóisbiológica classe I jInfecciosos comoou 11para inoculações,procedimentos que necropsias egeram aerossóis Iextração de fluidos.infecciosos comoinoculações,necropsias eextração de fluidos.

--- - ~

NBA 3 acrescido de: NBA 3 acrescido de:

AcessoI rigorosamentecontrolado.

Entrada através devestiãrlo, troca de

I roupas completa,vestimenta especial,banho na saida,descontaminaçãode todo materialantes do descarte.

Equipamentos decontenção mãxima:cabine desegurança

I biológica cm ouI equipamento de

proteção parcialassociado ao usode vestimenta

j especialpressurizadapositivamente paratodosprocedimentos. ...

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de ração, tecidos e carcaças, devemser transportados das salas dos animaisem recipientes rígidos, cobertos e aprova de vazamentos para serem ade-quadamente descartados de acordocom os requisitos locais e as normasinstitucionais aplicáveis (CDC, 1999;Ministério da Saúde, 2005).

Animais silvestrespodem funcionarcomo reservatórios ou transmitir doen-

ças como a Hanta'virose e as Leish-manioses. São muito utilizados em pes-quisas de interesse em saúde pública.Muitas delas exigem o trabalhode cam-po, fora do laboratório de contenção. Amanipulação de animais silvestres du-rante a captura, identificação, coleta dematerial e transporte expõe a riscos aspessoas envolvidas nos procedimentosexperimentaiseo meioambiente(Figura2). Desta forma, aspectos legais enormativosrelativosàsegurança,meioambientee bem-estaranimaldevem ser

conhecidose respeitados(Müller,2oo5).

ZOONOSES

As zoonoses são infecções ouinfestações provocadas por agentespatogênicos transmitidos aos seres

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Animal silvestre - cuíca

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BIOSSEGURAN A

humanospor animaisvertebradosouseus tecidos, sendo consideradasdoenças de caráter ocupacional empessoas que trabalham em biotérios(Hankeson et aI., 2003; CCAC,1993). Os animais carreiam grandevariedade de microorganismos na

síndrome aguda respiratória grave(SARS)e dovírusH5N1da influenzaayiária (CCAC, 1993; CDC, 1999;VlHO,2005).

A Tabela 2 mostra algumas daszoonoses associadas a animais delaboratório.

Rabe'a 2 - Zódnbses comumenteassociadas a animaisde laboratório

I Ectoparasltoses, leptospirose. coriomeningite IInfocltica,febre daCamundongos e Ratos mordedura do rato, salmoneloses. hantavlroses, arbovlroses

!=-.:o= ~- - ~ ~a -I Ectoparasltoses, coriomeningite ünfocítlca, clamidlosEl.

c~'t'"_m- - ~~

Dermatofltoses, ectoparas'ltoses. pasteurelose

Salantldlose, coriomenin9~te IInfocltica, clamldloses,salmoneloses, dermatofitoses

1 Raiva, 'ePtl~s;i;ose, brucelose. hmoplasmose, ;ctoi):rasltose:-4~ ~ - ~.. ""- ...,..

, Ameblase, ectoparasitoses. raiva,.doença da arranhadura do gato,. toxoplasmose, tuberculose. febre Q

-- ~".~ m ~ .."" .. """'""""..."[Herpes S, tuberculose. hepatite. shiguelose, sslmonelose,

1 balantldlose, ameblase, giardiase

~---

Hamsters"""""""""

Coelhos-

.....

........

Cobaias

JCã~s

Gatos

Prlmatas

Fonte: CCAC (1993).

pele, pêlos, sistemas digestivo, res-piratórioe urogenital,eliminando-osatravés de aerossóis, urina, fezes esecreções.Alguns microorganismoscausam danos à saúde, outros sãoconsiderados oportunistas por cau-sarem doenças em indivíduosimunodeprimidos. Portanto, pesso-as imunodeprimidas e gestantes têmacesso restrito a biotérios de expe-rimentação.Agentespatogênicosge-ralmente específicosde determinadaespécie podem ainda sofrer muta-ções e se adaptar em novas espéci-es, provocando doenças emergentesde dimensões graves, algumas aindapoucoconhecidas,quee?gem esfor-ços científicose altos recursosfinan-ceiros para contenção de surtos e atépandemias. Recentemente, observa-mos como exemplo a ocorrência da

ALERGIAS

As alergiaspodem acometerpes-soas que trabalham com animais delaboratório,sendoconsideradasdoen-ças de caráter ocupacional. Trata-sedereaçãodehipersensibilidadedo tipoimediato (IgE),provocada pelo con-tato com ce1u1asdescamativas da pele,

pêlo, urina, soro, saliva, entre outrostecidos. Caracteriza-sepor sintomascomo corrimento nasal e ocular,

1acrimejamento,espirros,prurido,exan-temas e até outros mais preocupantescomo tosse, dificuldade respiratória echiado no peito,sinaispresentesnaasma.Todos os sintomas podem variar de in-tensidade e gravidade e ocasionar riscode vida, se o processo alérgico nãofor prontamente diagnosticado e tra-tado pelo médico (CCAC, 1993).

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Em roedores, as proteínasidentificadas como responsáveisporalergias são eliminadas em maioresconcentrações na urina de machos,mas também estão presentes em cé-lulas descamativas da pele e pêlos.Pequenas partículas em suspensãooriginadaspela manipulação ou mo-vimentação de animais veiculam asproteínasquepodemsensibilizarpes-soas e outros animais,principalmen-te pela via inalatória, desencadean-do alergias. Outras vias de contatopossíveis são a pele e as mucosas.Em certos casos é necessário oremanejamento de funcionáriosdo biotério para áreas em quenão tenham contato com animais(Majerowicz,2003).

São medidasdeproteçãoparaevi-taralergiasno trabalhocomanimais:

. uso de equipamentosdeprote-ção individual (EPIs), como roupasprotetoras, luvas, gorros, máscaras,protetoresfaciaise oculares,parausoexclusivona saladeanimais;

. lavagemdemãosebanhosapósa manipulação de animais esubprodutos;

. uso demicroisoladores(gaiolascom tampas e membranasfiltrantes),cabines de segurança e fluxoslaminares;

. adoçãode procedimentosoperacionais padronizados (POPs) eprogramas educacionais para preven-ção de riscos (CCAC, 1993).

OUTROS RISCOSE ACIDENTES

No âmbitodasatividadesde expe-rimentaçãoe manutençãode animais,estão presentes riscos determinadospor agentes físicos, químicos e tam-bém a ocorrênciade diversostipos de

'i <BIOSSEGURAN A

acidentescausadospor animais,equi-pamentos e ambientede trabalho.Osanimais podem através de dentes,unhas e movimentosbruscos,provo-car desde ferimentosleves até lesõesmais gravescomo traumatismos,fra-turas e hemorragias, dependendo doporte, agressividade ou nível deestresseda espécie.É imprescindívelestar capacitadopara o trabalhocomanimais,conhecera espécieescolhida,a forma de contenção adequada,minimizaro estresse,nuncanegligen-ciar o uso de EPIs indicados para aespécie manipulada e as demais pre-cauçõesrelacionadasaoNBA reque-rido. Estudantes, estagiários e pes-quisadoresiniciantesdevemcontarcomasupervisãodeprofissionaisexperien-tes em experimentaçãoanimal.Todososacidentesdeterminadosporanimais,assimcomofugas,devemserimediata-mente comunicados ao responsávelpelobiotérioe registrados.Devemsertomadasmedidasde contençãoe pro-vidênciasrecomendáveisemcadacaso.Um estojodeprimeirossocorrosdeveestardisponívelparausoemergencial.Animaisrecapturadosdevemsersub-metidosàeutanásiasobométodomaisadequadoà espécie (CCAC, 1993).

As altastemperaturasde materiaisretirados de equipamentos como es-tufasde esterilizaçãoeautoc1avespos-sibilitamo riscode queimaduras,se ooperadornão estiverdevidamenteca-pacitado para o uso do equipamentoou sem utilizar uniforme e luvas deproteção.Ainexistênciaoumanuten-ção inadequada de sistema declimatizaçãodobiotério para atendi-mento das necessidades de seguran-ça e conforto de animais e pessoaspode trazerconseqüênciasnegativasparaa saúde de ambos. A falta de manuten-

ção preventiva e o uso inadequado de

todos os equipamentos podem acar-retar problemas como quebras, pa-nes elétricas, incêndios e explosões.Produtos químicos muito utilizadospara higiene e desinfecção embiotérios podem ser tóxicos, corrosi-vos, explosivos,inflamáveise causardanos à saúde se não forem correta-menteutilizados.Podemserinalados,ingeridos ou entrar em contato comolhos, mucosas e pele.Alguns anes-tésicos como o éter e o clorofórmiooferecemriscos de explosãoe lesõeshepáticas, respectivamente (Smith1987,Andrade, 2002).

Os riscos ergonômicos são de-terminadospelotipo,ambientee a for-ma de execução dos trabalhos. Embiotérios sãocomumenteobservadaslesões articulares, tendinitese doresmusculares,entreoutrasprovenientesdeposturasinadequadasparaa execu-ção de trabalhos repetitivos ou de pépor longosperíodos.O levantamentoe deslocamentode peso em carrinhosoumanualmente(sacosderação,ani-mais e gaiolas pesadas, entre outrosmateriais), podem ocasionar lesõesque afetam a saúde e comprometemos trabalhos. Materiais inflamáveiscomo gaiolas plásticas, maravalha eprodutos químicos presentes noBiotériopodem ocasionarincêndios.Devem estar disponíveis alguns dis-positivos de combate a incêndiocomo:extintores,rotasde fuga,saídade emergência, treinamentos deemergência, entre outros itens de se-gurançaprevistos (Smith, 1987).

As radiações presentes emmarcadoresradioativos,equipamentosde RX e lâmpadasultravioleta,cons-tituem um risco para pessoas, quedevemseguiras normasde segurançada instituiçãoe de órgãosreguladores(Hirataet aI.,2002).

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LEGISLAÇÃO E OGMs

No Brasil, a Lei de BiossegurançanOl1.105, de 24/03/05 estabelece nor-

mas de segurança e mecanismos defiscalizaçãode atividadesque envolvamOGMs e seus derivados. A Comissão

Técnica Nacional de Biossegurança(CTNBio) em suas instruções nor-mativas detalha regras em relação à se-gurança, práticas, equipamentos e ins-talações para o trabalho de contençãocom animaisgeneticamentemodificadosAnGMs, (Brasil, 2005).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É possível considerar que estamossempre em estado de alerta, frente àvariedàde e complexidade de fatorese agentes relacionados à experimenta-ção animal e biossegurança. Manter asaúde e o bem-estar das pessoas,

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animais e aindaproteger-;;mric am- . sibilitaa capacitaçãoe o treinamentobienteé umdesafioquedepemeprin- sisremáricoe é fator essencialpara acipalmentedaconsciênciadeIDCksos promoção da saúde e qualidade dasprofissionais enyohidDs..sej2mcles 2ÇÕeS..Assimcomo recursosdestina-gestores, auxiliares..~~~.;::;.es e dos à manutenção de instalações,estudantes.As informações Sübreos equipamentos e a aquisição deriscos e as precauçõesa ~ ~ Insmncs nas quantidades e especi-das, tanto nas ari"'Ídades de ~~~ ~ solicitadas merecem atençãocomo em situações de~;z ~ de gestores. Os Comitês dedevem estar disponíveis em n--.r.:=~t<;Biossegu:rança e Ética no Uso de Ani-e protocolos para todos os Çt.u,;'i,,~ mais sãc instâncias de reflexão e ava-naisquedesempenhamsuas~ liação de projetos, cuja imple-no biotériollaboratório de ~ ~ e valorização institueional

tação animal. A adoção de }JIOOCdi- ~ ess...onciaispara promover a segu-mentos operacionais pa~ :FC.."!Jso- r.m.'?i e c bem estar de pessoas, ani-é indispensável para agardlliiada.:pa- m2is e meio ambiente. Finalizando,lidade das atividades deseII<-::;"""id6sc ~~ ressaltar que o médico veteriná-o uso de EPIs não deve ser negfi~ ~ tum IIOfissionalindispensávelparaciado por inexperiência ou exa:::ssc~ ~ Gcontrole da saúde dos ani-confiança. O investimento iu.J;I::I:--.~ mzis .mantidos no Biotério e na ori-

emprogramaseducacionaisDiD5reas c~~~ção de práticas e proce-de biossegurança, cuidadoseHJi6i...~ ~ir::::.cmos experimentais que en-de animais e ética em pe&t~ ~ ~ir:~~ animais.

. .

ANDRADE, A.; PINTO, S. C.;OLIVEIRA, R. S.(orgs.). Animais de laboratório: criação eexperimentação. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz.2002. 388 p.

ANDRADE, A. Segurança em biotérios. In:ANDRADE, A.; PINTO, S. c.; OLIVEIRA. R S.(orgs.). Animais de laboratório: criação eexperimentação. Rio de Janeiro: Editora Fiocrnz..2002. p. 381 - 387.

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1111

BRASIL. Lei Federal n.o11.105,de 24 de marçc de2005, estabelecenormas de segurançae mecanismosdefiscalizaçãodeatividadesqueenvolvamorganismosgeneticamentemodificados- OGMe seusderivados.Disponível em < http://www.ctnbio.gov.br > ~09.05.05.

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Page 7: Biossegurança e Experimentação Animal - cfmv.org.br cobio/artrev36.pdf · Biossegurança e Experimentação Animal Evelyn Oliver Sarmento:Médica Veterinária, CRMV-SP n° 3569,,Pesquisadora

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-- _IRevista CFMV - Brasília/DF - Ano XI - N° 36 Setembro/Outubro/Novembro/Dezembro de 2005