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Boi Bumbá Comece perguntando aos estudantes se já ouviram falar do Boi-bumbá e faça um levantamento das versões mais co- nhecidas e dos nomes atribuídos ao mesmo personagem, seja por já terem lido ou ouvido o conto, por haverem participado das festas folclóricas ou por conhecerem a dança popular. Auxilie- os a fazerem o reconto do que sabem e anuncie que lerão uma versão apre- sentada por Rosana Rios, escritora que reconta o conto folclórico à sua manei- ra, apoiada nas versões existentes no Amazonas, no Maranhão e no Pará, e ilustrada por Elma. Ao lerem, descobri- rão, além da história em si, o aproveita- mento e a origem de cantigas que co- nhecem desde muito pequenos e que são saberes transmitidos de geração a geração, por isso, também valorizadas como manifestação da cultura nacional. Preparação para a leitura Autor: Rosana Rios Ilustrações: Elma Gênero: narrativa/contos de fadas Temas transversais: Pluralidade cultural; diversidade Abordagem interdisciplinar: Língua Portuguesa e Literatura, História, Artes Palavras-chave: cultura popular; folclore brasileiro Uma das narrativas mais conhecidas do folclore brasileiro, presente em diversos estados com diferentes nomes, conta a história de um boi que foi sacrificado por Francisco, um trabalhador, para atender o desejo que sua mulher grávida tinha de comer língua de boi. O fato provoca uma crise na fazenda e a fúria do patrão, que ameaça prender quem o matou. Para evitar esse desfecho, é chamado um médico que ressuscita o boi, restaura a ordem no lugar e provoca a alegria de todos. O livro pertence à Coleção Quem foi que disse, que relata - além do conto tradicional -, outros pontos de vista da mesma história e aspectos relacionados à sua origem. Leitura e compreensão geral do texto Realizada a leitura, proponha uma con- versa que retome a narrativa. De que trata a história? Quem são os personagens? O que acontece com eles? Há acontecimen- to mágico? Qual? Em que lugar acontece a história? Esse momento oportuniza os alunos a trocarem as primeiras impres- sões a respeito da leitura, relacionando o lido com os conhecimentos prévios. Se necessário, auxilie-os a recuperar os elementos do conto: o tempo (inde- finido) o espaço (numa fazenda), os personagens e suas características prin- cipais (pai Francisco e mãe Catirina, os outros trabalhadores, o Senhor Dono da Fazenda, o capataz, os vaqueiros, os poli- ciais, os índios, o pajé, o Doutor Curador), a ação deflagradora da intriga (desejo de Catirina, grávida, de comer língua de boi), a perseguição e morte do boi desgarra- do, a denúncia do pajé (ele descobre que foi pai Francisco quem matou o boi) e o castigo imposto pelo dono do boi (após ser pego pelos índios, pai Francisco é ameaçado de prisão, se não ressuscitar o boi), o recurso ao maravilhoso (Doutor Curador recorre a um método inusitado para salvar o boi) e o desfecho da histó- ria (o boi revive, Doutor Curador fica mais famoso do que já era, pai Francisco é per- doado e pode acompanhar Catirina e seu filho, todos dançam para comemorar e o boi continua a viver no campo). À medida que forem retomando a nar- rativa, chame a atenção dos alunos para aspectos que a lenda suscita: a questão Roteiro de leitura | Boi Bumbá © Edelbra Editora | www.edelbra.com.br

Boi Bumbá Preparação para a leitura - Grupo Edelbra ... · se já ouviram falar do Boi-bumbá e faça ... no Maranhão e no Pará, e ilustrada por Elma. Ao lerem, descobri-

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Boi Bumbá

Comece perguntando aos estudantes se já ouviram falar do Boi-bumbá e faça um levantamento das versões mais co-nhecidas e dos nomes atribuídos ao mesmo personagem, seja por já terem lido ou ouvido o conto, por haverem participado das festas folclóricas ou por conhecerem a dança popular. Auxilie-os a fazerem o reconto do que sabem e anuncie que lerão uma versão apre-sentada por Rosana Rios, escritora que

reconta o conto folclórico à sua manei-ra, apoiada nas versões existentes no Amazonas, no Maranhão e no Pará, e ilustrada por Elma. Ao lerem, descobri-rão, além da história em si, o aproveita-mento e a origem de cantigas que co-nhecem desde muito pequenos e que são saberes transmitidos de geração a geração, por isso, também valorizadas como manifestação da cultura nacional.

Preparação para a leitura

Autor: Rosana Rios

Ilustrações: Elma

Gênero: narrativa/contos de fadas

Temas transversais:Pluralidade cultural; diversidade

Abordagem interdisciplinar:Língua Portuguesa e Literatura, História, Artes

Palavras-chave:cultura popular; folclore brasileiro

Uma das narrativas mais conhecidas do folclore brasileiro, presente em diversos estados com diferentes nomes, conta a história de um boi que foi sacrificado por Francisco, um trabalhador, para atender o desejo que sua mulher grávida tinha de comer língua de boi. O fato provoca uma crise na fazenda e a fúria do patrão, que ameaça prender quem o matou. Para evitar esse desfecho, é chamado um médico que ressuscita o boi, restaura a ordem no lugar e provoca a alegria de todos. O livro pertence à Coleção Quem foi que disse, que relata - além do conto tradicional -, outros pontos de vista da mesma história e aspectos relacionados à sua origem.

Leitura e compreensão geral do texto

Realizada a leitura, proponha uma con-versa que retome a narrativa. De que trata a história? Quem são os personagens? O que acontece com eles? Há acontecimen-to mágico? Qual? Em que lugar acontece a história? Esse momento oportuniza os alunos a trocarem as primeiras impres-sões a respeito da leitura, relacionando o lido com os conhecimentos prévios.

Se necessário, auxilie-os a recuperar os elementos do conto: o tempo (inde-finido) o espaço (numa fazenda), os personagens e suas características prin-cipais (pai Francisco e mãe Catirina, os outros trabalhadores, o Senhor Dono da Fazenda, o capataz, os vaqueiros, os poli-ciais, os índios, o pajé, o Doutor Curador), a ação deflagradora da intriga (desejo de

Catirina, grávida, de comer língua de boi), a perseguição e morte do boi desgarra-do, a denúncia do pajé (ele descobre que foi pai Francisco quem matou o boi) e o castigo imposto pelo dono do boi (após ser pego pelos índios, pai Francisco é ameaçado de prisão, se não ressuscitar o boi), o recurso ao maravilhoso (Doutor Curador recorre a um método inusitado para salvar o boi) e o desfecho da histó-ria (o boi revive, Doutor Curador fica mais famoso do que já era, pai Francisco é per-doado e pode acompanhar Catirina e seu filho, todos dançam para comemorar e o boi continua a viver no campo).

À medida que forem retomando a nar-rativa, chame a atenção dos alunos para aspectos que a lenda suscita: a questão

Roteiro de leitura | Boi Bumbá

© Edelbra Editora | www.edelbra.com.br

Peça que retomem o conto, fixando-se, agora, nas canções que o pontu-am (p. 10, 13, 15, 17, 19, 20, 24 e 25). Distribua uma canção a cada pequeno grupo e atribua-lhes a tarefa de des-cobrir sua origem (proponha que con-versem com pessoas mais velhas para conhecê-las por inteiro, ou que inves-tiguem na Internet e registrem o que encontrarem. Nesse processo, prova-velmente encontrem mais de uma ver-são, o que é próprio da cultura oral). Peça que se fixem na forma de apre-sentação no livro e procurem inferir por que isso ocorre (espera-se, aqui, que observem a semelhança formal entre a canção e o poema, especialmente pela distribuição na página e pela presença de versos rimados). Por fim, sugira que organizem um painel de apresentação dos achados, onde não poderá faltar a apresentação oral da canção, seja pre-parada pelos alunos, seja capturada no portal YouTube.

Então pergunte: o que as canções apre-sentadas têm a ver com a história lida? Ouça as inferências dos alunos, desta-cando a presença do boi, o que também ocorre na lenda, e valorize a escolha da autora que, ao fazer o reconto pontua-do por canções populares, dá um trata-mento original à sua narrativa.

Que outra característica marcante apa-rece no reconto?

Encaminhe-os para a releitura das pá-ginas 29 a 36, que apresentam outros pontos de vista da mesma história, o do boi e o de mãe Catirina, curiosamen-te personagens que têm uma atuação passiva no reconto tradicional, ainda que sejam os que motivam a intriga (desejo da mulher de comer língua de boi) e a presença do maravilhoso (a morte do boi provoca a ira do patrão e a intervenção do Doutor Curador, que acaba por ressuscitá-lo). Problematize: a leitura desses pontos de vista amplia a compreensão que temos da história?

Ouça o que eles têm a dizer e mostre que mãe Catirina continua sendo uma mulher passiva, a repetir o senso co-mum a respeito da gravidez e dos de-sejos de grávidas. Já o boi, ao refletir a respeito de sua vida, acentua uma crítica social que está apenas insinua-da no conto popular. Ele vive sua “vida de boi” como uma sina, mas também explica o motivo da sua fuga da fazen-da, quando – ao saber da existência de uma mulher grávida que está com desejo de comer língua de boi (Com

Estudo do textoda fome, o mito dos desejos da mulher grávida, a passividade da mulher no de-senvolvimento da intriga, o recurso ao feiticeiro indígena como um adivinho, a relação de poder entre o Senhor Dono da Fazenda (dono da terra) e a polícia (re-presentante da lei), a solidariedade entre o povo e o destino de pai Francisco e o respeito popular pela atuação do Doutor Curador, ainda que tenha recorrido a uma solução mágica.

Pergunte: essas questões ainda têm sen-tido na atualidade? Proponha a conside-ração dos três grandes ramos da forma-ção cultural brasileira: branco europeu (representado pelo fazendeiro, o Doutor Curador), indígena (pajé) e afro-negro (mãe Catirina, trabalhadores) do ponto de vista da crítica social. O que isso mos-tra? Valorize suas respostas e dê destaque às que apontam relações desiguais entre o senhor de engenho, os trabalhadores e

os indígenas, que ainda hoje se refletem em diferenças. Contraponha então ao que se observa hoje nos festejos do Boi-bumbá, quando o espetáculo midiático e turístico tende a assegurar relações mais igualitárias. Se achar conveniente, mostre algum vídeo que ilustre a dança e a come-moração folclórica como, por exemplo, https://www.youtube.com/watch?v=t_cziTYeoLY e https://www.youtube.com/watch?v=_FFSF_C0Bio , ou outro.

Retome algumas ilustrações da história lida e peça que os alunos identifiquem a repercussão do que foi discutido nas es-colhas da ilustradora (por exemplo, as di-ferenças sociais marcadas pela forma de representar negros e brancos (p. 6-7, 11 e 21) , bem como a presença de instru-mentos nas imagens visuais, o que reme-te à dança e a miscigenação racial, como mostram as páginas 28, 34 e 37).

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Resposta ao texto

Desafie os alunos a escreverem uma nova versão de o Boi-bumbá, formu-lando um texto em resposta ao desafio apresentado pela autora na p. 41:

“que tal imaginar o que diria o Dono da Fazenda se pudesse falar sobre como se sentiu ao perder o Boi? E se o Doutor Curador pudesse contar como teve a ideia de ressuscitar o Boi? Teríamos rela-tos muito engraçados...”

Proponha que planejem antes como se desenvolverá a escrita. Comente as ideias apresentadas de modo a orientá-los a:

manterem-se fiéis ao tema da história; criar peripécias que tornem inusitada ou que expliquem a percepção da per-sonagem escolhida; ampliar a possibili-dade de atribuição de sentidos do leitor, encaminhando-o para compreender me-lhor o procedimento do personagem es-colhido em relação ao desenvolvimento da trama.

Acompanhe e problematize as diferentes etapas da produção. Ao final, promova um encontro de contação dos pontos de vista produzidos.

a palavra mãe Catirina) – decide fugir e passar a viver desgarrado, somente a dançar e a aproveitar a vida.

Esse epílogo, então, vincula a narrativa que finda com a dança popular, apre-sentando um aspecto inovador ao conto e dando-lhe atualidade na forma como é construído.

Retome com eles a questão do ponto de vista. Quando há um narrador-per-sonagem, como na segunda e tercei-ra partes, a história é contada de um

ângulo pessoal, o que admite a presen-ça do pronome eu e dos valores que a personagem possui. Questione: por que Rosana Rios teria achado impor-tante mostrar outros ângulos da histó-ria? Do ponto de vista do leitor, o que essa iniciativa da autora determina para o texto? Isso amplia ou reduz a possi-bilidade de atribuição de sentido à nar-rativa? Relacione as respostas obtidas com um recurso presente nas narrativas contemporâneas.

Roteiro de leitura | Boi Bumbá

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Autoras do roteiroAna Mariza Filipouski e Diana Marchi