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 SUSCEPTIBILIDADE A FRAGILIZAÇÃO PELO HIDROGÊNIO EM TUBOS DE AÇO INOXIDÁVEL SUPER DUPLEX UNS S32750 SOB TENSÃO MECÂNICA. Bruno Raphael de Souza da Silva Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Metalúrgica da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários a obtenção do título de Engenheiro Metalúrgico. Orientadores: Dilson Silva dos Santos Leonardo Sales Araújo Rio de Janeiro  AGOSTO/2011

Bruno Raphael

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    SUSCEPTIBILIDADE A FRAGILIZAOPELO HIDROGNIO EM TUBOS DE AO

    INOXIDVEL SUPER DUPLEX UNSS32750 SOB TENSO MECNICA.

    Bruno Raphael de Souza da Silva

    Projeto de Graduao apresentado aoCurso de Engenharia Metalrgica daEscola Politcnica, UniversidadeFederal do Rio de Janeiro, como partedos requisitos necessrios a obtenodo ttulo de Engenheiro Metalrgico.

    Orientadores: Dilson Silva dos Santos

    Leonardo Sales Arajo

    Rio de Janeiro

    AGOSTO/2011

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    SUSCEPTIBILIDADE A FRAGILIZAO PELO HIDROGNIO EM TUBOS DE AOINOXIDVEL SUPER DUPLEX UNS S32750 SOB TENSO MECNICA.

    Bruno Raphael de Souza da Silva

    PROJETO DE GRADUAO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO DEENGENHARIA METALRGICA DA ESCOLA POLITCNICA DA UNIVERSIDADEFEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSRIOSPARA A OBTENO DO GRAU DE ENGENHEIRO METALRGICO.

    Examinada por:

    Prof. Dilson Silva dos Santos, D. Sc.PEMM-COPPE/UFRJ - (Orientador)

    Leonardo Sales Arajo, M. Sc.PEMM-COPPE/UFRJ(Co-Orientador)

    Prof. Luiz Henrique de Almeida, D. Sc.PEMM-COPPE/UFRJ

    RIO DE JANEIRO, RJBRASIL

    AGOSTO de 2011

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    Silva, Bruno Raphael de Souza

    Susceptibilidade a Fragilizao pelo Hidrognio em Tubos

    de Ao Inoxidvel Super Duplex UNS S32750 Sob Tenso

    Mecnica/ Bruno Raphael de Souza da Silva. Rio de Janeiro:

    UFRJ/ Escola Politcnica, 2011.

    VII, 94 p.: il.; 29,7 cm.

    Orientador: Dilson Silva dos Santos

    Co-Orientador: Leonardo Sales Arajo

    Projeto de graduao UFRJ/ Escola Politcnica/ Curso

    de Engenharia Metalrgica, 2011.

    Referncias Bibliogrficas: p. 90-94.

    1. Ao Inoxidvel Super Duplex 2. Fragilizao 3.

    Hidrognio

    I. Santos, Dilson Silva et al. Arajo, Leonardo Sales

    II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ,

    Engenharia Metalrgica III. Susceptibilidade a

    Fragilizao pelo Hidrognio em Tubos de Ao

    Inoxidvel Super Duplex UNS S32750 Sob Tenso

    Mecnica.

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    Agradecimentos

    Agradeo a Deus, por ter me concedido a sabedoria e a persistncia necessria para concluir o

    Curso de engenharia.

    Aos meus pais Maria Inez e Jos Ronaldo ao meu irmo Rmulo por serem a famlia que pedi a

    Deus durante toda a minha vida, e por sempre terem me dado carinho, apoio e motivao nas

    horas mais difceis de minha vida acadmica. Sem eles eu realmente no conseguiria alcanar

    este objetivo.

    Ao meu orientador de Projeto Final Prof. Dilson Silva dos Santos pelo apoio incondicional e pela

    oportunidade de aprendizado.

    A Leonardo Sales Arajo e ao Prof. Luiz Henrique de Almeida pelo acompanhamento e pelo

    apoio nas interpretaes e revises.

    A todos os professores do Departamento de Engenharia Metalrgica e de Materiais da

    Universidade Federal do Rio de Janeiro pela dedicao.

    Aos colaboradores da PROPMEC Mariana, Monique, Cntia, Snia, Camila, Denise, Gabriela,

    Lo Roberto, Matheus, Alejandro e Luis pelo apoio e orientao na execuo do projeto.

    Aos tcnicos Oswaldo, Nelson, Joo, Roberto, Robson, Larcio e Adriana pelo apoio nas

    diferentes etapas da anlise.

    Ao Departamento de Engenharia Metalrgica e de Materiais da Universidade Federal do Rio de

    Janeiro, pela disponibilidade dos laboratrios de Microscopia tica, Microscopia Eletrnica de

    Varredura e Propriedades Mecnicas, necessrios para os ensaios realizados neste projeto.

    A todos os meus familiares que contriburam para minha formao como ser humano, em

    especial aos familiares j falecidos, Delza e Walter meus avs maternos, Joo meu av paterno e

    meu tio Jorge, aos quais gostaria de prestar esta grande homenagem.

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    iv

    Resumo do Projeto de Graduao apresentado ao DEMM/EP/UFRJ como parte

    integrante dos requisitos necessrios para a obteno do grau de Engenheiro

    Metalrgico.

    Susceptibilidade a Fragilizao pelo Hidrognio em Tubos de Ao InoxidvelSuper Duplex UNS S32750 Sob Tenso Mecnica

    Bruno Raphael de Souza da Silva

    Agosto/2011

    Orientador: Dilson Silva dos Santos.

    Os aos inoxidveis super duplex so uma boa escolha de material quando se

    necessita de resistncia a ambientes agressivos, devido principalmente, alm da

    excelente resistncia corroso e alta resistncia mecnica. Apesar disto, quando

    expostos a meios agressivos, utilizam a proteo catdica como forma de garantir a

    sua integridade em servio. Neste caso, as estruturas ficam susceptveis ao fenmeno

    de trincamento sob tenso induzido pelo hidrognio. Neste estudo foi investigado a

    fragilizao pelo hidrognio em tubos de ao inoxidvel super duplex de denominao

    UNS S32750, carregados catodicamente sob tenso mecnica durante 160 horas em

    soluo de 3,5% NaCl, utilizando diferentes correntes catdicas em cada amostra.

    Foram utilizados tubos nas condies como recebido e como soldado. Aps a

    hidrogenao, os corpos de provas foram submetidos imediatamente ao ensaio de

    trao uniaxial para avaliar como o hidrognio inserido na microestrutura do material

    afeta as suas propriedades mecnicas. As microestruturas foram analisadas

    utilizando-se microscpio tico e microscpio eletrnico de varredura. Foram tambm

    analisadas as fases presentes no material, em ambas as condies, por difratometria

    de raios-X. Atravs do ensaio de polarizao foram realizadas as curvas andica e

    catdica do material em soluo de 3,5% NaCl. A superfcie de fratura obtida aps os

    ensaios de trao foram analisadas macroscopicamente e microscopicamente. Os

    resultados experimentais indicaram que as perdas de propriedades mecnicas so

    mais acentuadas nos tubos de ao inox super duplex que foram hidrogenados atravs

    de maiores correntes de proteo catdica, principalmente para as amostras na

    condio soldada.

    Palavras chave:Ao Inoxidvel Super Duplex, Fragilizao, Hidrognio.

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    v

    Abstract of Undergraduate Project presented to DEMM/POLI/UFRJ as a partial

    fulfillment of the requirements for the degree of Metallurgical Engineer.

    Hydrogen Embrittlement Susceptibility in Super Duplex Stainless Steel Pipes

    UNS S32750 Under Mechanical Stress.

    Bruno Raphael de Souza da Silva

    Agosto/2011

    Advisor: Dilson Silva dos Santos.

    Super duplex stainless steels are a good choice of material when resistance to harsh

    environments is needed, mainly due to excellent corrosion resistance and high

    strength. Nevertheless, when exposed to corrosive environments, cathodic protection

    is used in order to guarantee its integrity in service. In this case, the structures are

    susceptible to the phenomenon of hydrogen induced stress cracking. In this work, it

    was investigated the hydrogen embrittlement of tubes of super duplex stainless steel

    UNS S32750, cathodically charged under tensile stress for 160 hours, submerged

    3,5% NaCl solution, using different cathodic currents in each sample. The tubes were

    used in two conditions: as received and as welded. After hydrogenation, the specimens

    were submitted immediately to the uniaxial tensile test to evaluate how the hydrogen

    inserted into the microstructure of the material affects its mechanical properties.

    Microstructure was analyzed by optical microscopy and scanning electronic

    microscopy. The phases present in the material were analyzed by X ray diffraction in

    both conditions. Through the polarization test materials anodic and cathodic curves in

    a solution of 3,5% NaCl were carried out. The fracture morphology after the tensile

    tests were investigated macroscopically and microscopically. The experimental results

    indicated that the loss of mechanical properties is more pronounced in tubes of super

    duplex stainless steels that have been hydrogenated through higher cathodic currents,

    especially for samples in the welded condition.

    Keywords: Super Duplex Stainless Steel, Embrittlement, Hydrogen.

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    Sumrio

    1. Introduo ............................................................................................................... 1

    2. Reviso Bibliogrfica ............................................................................................. 32.1. Aos Inox Duplex e Super Duplex .................................................................... 3

    2.1.1. Metalurgia dos AID ..................................................................................... 6

    2.1.2. Propriedades Mecnicas ........................................................................... 10

    2.1.3. Resistncia a Corroso ............................................................................. 13

    2.2. Precipitao de fases em AID ....................................................................... 14

    2.2.1. Fase Sigma ( ) .......................................................................................... 17

    2.2.2. Fase Chi ( ) .............................................................................................. 19

    2.2.3. Nitretos de Cromo ..................................................................................... 20

    2.2.4. Carbonetos (M7C3e M23C6) ........................................................................ 22

    2.2.5. Austenita Secundria ( 2) ........................................................................... 22

    2.2.6. Alfa linha ( )............................................................................................. 25

    2.2.7. Fase G ...................................................................................................... 25

    2.2.8. Fase R ...................................................................................................... 26

    2.2.9. Fase Pi ( ) ................................................................................................. 26

    2.2.10. Precipitados ricos em Cobre (fase ) ....................................................... 26

    2.3. Metalurgia fsica da soldagem dos AID .......................................................... 27

    2.3.1. Zona Afetada pelo Calor (ZAC) .................................................................. 29

    2.3.2. Zona Fundida (ZF) ..................................................................................... 33

    2.4. Fragilizao pelo Hidrognio ......................................................................... 36

    2.4.1. Teoria da fragilizao pelo hidrognio ....................................................... 36

    2.4.2. Difuso e solubilidade do hidrognio em AID ............................................ 39

    2.4.3. Mecanismo de difuso de hidrognio em AID ........................................... 41

    2.4.4. Fragilizao em proteo catdica ............................................................ 42

    2.4.5. Lei de Faraday .......................................................................................... 45

    2.5. Principais Aplicaes dos AID ........................................................................ 46

    2.6. Condies de trabalho na Indstria Offshore dos AID ................................... 46

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    vii

    3. Materiais e Metdos .............................................................................................. 48

    3.1. Material como recebido .................................................................................. 48

    3.2. Soldagem ....................................................................................................... 48

    3.3. Caracterizao Microestrutural ....................................................................... 49

    3.4. Difrao de Raios-X ....................................................................................... 50

    3.5. Ensaio de Polarizao.................................................................................... 51

    3.6. Ensaio de Hidrogenao Sob Tenso ............................................................ 51

    3.7. Quantidade Terica de Hidrognio ................................................................. 53

    3.8. Ensaio de Trao ........................................................................................... 53

    3.9. Fractografia .................................................................................................... 54

    3.10. Esquema Geral ............................................................................................ 54

    4. Resultados e Discusso ....................................................................................... 55

    4.1. Caracterizao Microestrutural ...................................................................... 55

    4.2. Difrao de Raios-X ...................................................................................... 65

    4.3. Ensaio de Polarizao ................................................................................... 67

    4.4. Quantidade Terica de Hidrognio ................................................................ 68

    4.5. Ensaio de Trao .......................................................................................... 69

    4.6. Fractografia ................................................................................................... 74

    4.7. Consideraes Gerais .................................................................................... 86

    5. Concluses ........................................................................................................... 89

    6. Referncias Bibliogrficas ................................................................................... 90

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    1. INTRODUO

    A escassez do petrleo e seu preo elevado possibilitam a extrao destes em

    ambientes mais agressivos, onde a produo martima de petrleo e gs est em

    constante movimento para guas mais profundas. Pode-se citar por exemplo, as

    reservas de petrleo encontradas na camada de pr-sal do litoral brasileiro. So

    reservas de petrleo classificadas de mdia a alta qualidade, segundo a escala API,

    com profundidades que variam de 1000 a 2000 metros de lmina dgua e entre 4000

    e 6000 metros de profundidade no subsolo, chegando a, portanto, at 8000 metros da

    superfcie do mar, incluindo uma camada de sal que varia de 200 a 2000 metros.

    Por isto, o desenvolvimento de ligas de maior resistncia mecnica e

    corroso tornou-se o objetivo de vrios fabricantes, para atender s exigncias atuais

    da indstria petrolfera. Um dos materiais modernos de maior destaque nas

    propriedades de resistncia corroso e mecnica em relao ao custo, e cuja

    demanda cresce a cada ano na indstria petrolfera, so os aos inoxidveis super

    duplex. Esta nova classe de aos possibilita que os equipamentos fiquem mais leves,

    devido maior resistncia mecnica, e com maior vida til, favorecida pela resistncia

    corroso. Sendo assim, os aos inoxidveis super duplex tornaram-se

    potencialmente uma excelente alternativa em relao aos aos inoxidveis ferrticos e

    austenticos.Entretanto, os aos inoxidveis da famlia duplex, quando expostos a um meio

    agressivo, utilizam, em alguns casos, proteo catdica como forma de garantir a

    integridade da estrutura. Em conjunto com solicitaes mecnicas e microestrutura

    desfavorvel podem vir a apresentar o fenmeno de trincamento sob tenso induzido

    pelo hidrognio (HISC Hydrogen Induced Stress Cracking).

    Aliado nova tendncia da indstria petrolfera, presume-se que o aumento da

    presso hidrosttica influenciar na gerao de hidrognio pela proteo catdica e a

    possibilidade de difuso do mesmo para estrutura. A presso hidrosttica da guaaumenta 1 bar (0,1 MPa) para cada 10 m. Um aumento na profundidade da lmina de

    gua necessitar da aplicao de maiores densidades de corrente para realizar uma

    proteo efetiva. O resultado disto um aumento na quantidade de hidrognio gerado

    na superfcie do componente. Acredita-se tambm que a qualidade do filme de xido

    protetor na superfcie do material menos resistente em maiores profundidades [1].

    A resistncia, com respeito s estruturas de aos inoxidveis usados em

    componentes subaquticos, tem sido uma preocupao h muito anos, onde foram

    reportados casos de falhas em campo [2]. Como o aparecimento de trincas emestruturas fabricadas com esse tipo de material pode ser inevitvel, torna-se evidente

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    a importncia da avaliao da resistncia dos materiais em relao concentrao

    crtica de hidrognio, que causar falhas adiantadas nos meios que viro a ser

    utilizados. A estimativa de uma concentrao crtica de hidrognio presente na

    microestrutura do material poder determinar o tempo de vida til dos equipamentos,

    bem como as condies de segurana na operao destes.

    O objetivo deste trabalho foi avaliar como o hidrognio inserido na

    microestrutura do ao inoxidvel super duplex de denominao UNS S32750 afeta as

    propriedades mecnica do material, durante solicitao mecnica em trao, abaixo

    do limite de escoamento, em soluo aquosa 3,5% de NaCl com proteo catdica. Ao

    aplicar diferentes valores de densidade de corrente de proteo catdica, so

    investigadas as perdas de propriedades sofridas para cada amostra durante o ensaio

    de trao uniaxial.

    Para a anlise da microestrutura, formao de fases deletrias e propriedades

    de resistncia corroso, as amostras foram investigadas por microscopia tica,

    microscopia eletrnica de varredura, difrao de raios-X e ensaio de polarizao. Aps

    o tratamento de hidrogenao sob tenso, os tubos foram ensaiados em trao

    uniaxial para avaliar como as suas propriedades mecnicas eram afetadas pelo

    hidrognio. Para estudar os micromecanismos de fratura, a superfcie de fratura dos

    corpos de prova de trao forma analisadas no microscpio eletrnico de varredura.

  • 5/19/2018 Bruno Raphael

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    2. REVISO BIBLIOGRFICA

    2.1. Aos Inox Duplex e Super Duplex

    Os aos inoxidveis duplex (AID) foram desenvolvidos como alternativa aos

    aos inoxidveis austenticos, para aplicaes que exigem elevadas propriedades de

    resistncia mecnica e resistncia a corroso, sejam na indstria offshore, qumica,

    petroqumica, de papel, alimentcia, farmacutica, entre outras [3].

    Os AID so ligas baseadas no sistema Fe-Cr-Ni. Compostas por cromo (20% a

    30%) e nquel (5% a 10%), com a adio de molibdnio, nitrognio, cobre e

    tungstnio e baixo teor de carbono (geralmente menor que 0,03%). Estas ligas

    possuem uma microestrutura bifsica de ferrita, com estrutura CCC, denotada por ,

    e austenita com estrutura CFC, denotada por [4]. Os AID so projetados para

    possuirem um balano equivalente entre as fraes volumtricas das fases, ou seja,

    50% de ferrita com 50% de austenita. A quantidade de cada fase ser funo da sua

    composio qumica, do tratamento termomecnico e do tratamento trmico realizado

    [2] .

    Os elementos de liga adicionados so, ou formadores de austenita ou

    formadores de ferrita. Como o nome sugere, certos elementos favorecero uma maiorproporo de austenita e outros favorecero a ferita. Entre a maioria dos elementos de

    liga nos AIDs, Cr, Mo, Si, Nb, V, W, Ti, Ta e Al so formadores da ferrita, ao passo que

    Ni, C, N, Cu, Mn e Co so formadores da austenita [5]. O balano entre elementos

    formadores de austenita e ferrita ser uma das variveis que ditar a microestrutura do

    material.

    As propriedades dos AID derivam de ambas pores ferrtica e austentica. Os

    aos inox austenticos possuem excelente soldabilidade e baixa temperatura de

    transio dctil-frgil, enquanto sua resistncia ao trincamento sob tenso por cloretose resistncia mecnica so relativamente pobres. Aos inox ferrticos possuem alta

    resistncia ao trincamento sob tenso por cloretos mas com baixa tenacidade,

    principalmente na condio como soldado.

    Se o balano de fases significativamente alterado e as duas fases no se

    encontram mais em propores similares, a perda de propriedades do material pode

    ser relevante. Assim, se a proporo de austenita aumenta, a resistncia a corroso

    sob tenso e a resistncia mecnica diminuem. Por outro lado, se a proporo de

    ferrita aumenta, diminui a tenacidade a fratura do material [3]. Com a tabela 1 abaixo,

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    podemos comparar as principais propriedades dos aos inoxidveis austenticos (AIA)

    e aos inoxidveis ferrticos (AIF) com os aos super duplex.

    Tabela 1Comparao entre as principais propriedades dos aos inoxidveis

    super duplex, ferrticos e austenticos

    .As vantagens especficas oferecidas pelos AID em relao aos aos

    inoxidveis austenticos so a resistncia ao escoamento (aproximadamente o dobro),

    a maior resistncia ao trincamento de corroso sob tenso por cloretos e a maior

    resistncia corroso por pites. A soldabilidade superior aos aos inoxidveis

    ferrticos, mas geralmente no to boa como a dos materias austenticos [4].

    A composio qumica tambm possui grande influncia na resistncia a

    corroso dos AID. Para determinar a extenso da resistncia corrosso por pites

    oferecida pelo material, o ndice PRE (Pit Resistance Number) normalmente usado,

    calculado pelas equaes 1 e 2. A diferena entre as duas equaes que a segunda

    leva-se em considerao o efeito do tungstnio.

    PREN= %Cr + 3,3%Mo + 16%N (Eq. 1)

    PREW= %Cr + 3,3(%Mo + 0,5%W) + 16%N (Eq. 2)

    Pro p ri edad es Ao Ino x Ferrtic o Ao Ino x Aus tentic oAo Ino x

    Duplex

    Resistncia a

    Corroso

    Baixa a resistncia corroso generalizada

    e oxidao. Altaresistncia corroso

    sob tenso

    Boa resistncia

    corroso. Baixa

    resistncia corroso

    sob tenso

    Boa resistncia corroso

    localizada porpites e frestas.

    Alta resistncia corroso sob

    tenso.Soldabilidade Baixa soldabilidade Alta soldabilidade Soldabilidade

    intermediria

    Resistncia

    Mecnica

    Limite de escoamentointermedirio, menorlimite de resistncia e

    menor ductilidade

    Menor limite deescoamento, limite de

    resistnciaintermedirio e maior

    ductibilidade

    Maior limite deescoamento,

    maior limite deresistncia eductibilidadeintermediria

    Estrutura

    CristalinaCCC CFC CCC e CFC

    Magnticos Sim No Sim

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    Os AID com maiores teores de Cr, Ni, Mo e N e com adies menores de Cu e

    W alcanam um valor PRE 40, apresentando propriedades mais nobres, e so

    denominados de aos inoxidveis super duplex (AISD) [4, 6, 7]

    Em segida, apresenta-se a tabela 2 com a composio qumica dos principais

    aos inoxidveis duplex e super duplex comerciais e a figura 1 com comparao entre

    os valores de PRE das diferentes classes de aos inoxidveis.

    Tabela 2Composio e valores do ndice PRE para os principais aos inoxidveisduplex e super duplex comerciais. Adaptado de [4].

  • 5/19/2018 Bruno Raphael

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    Figura 1Classificao PRE de acordo com as famlias de aos inoxidveis.Adaptado de [8].

    2.1.1. Metalurgi a do s AID

    O total de fases identificadas no sistema ternrio Fe-Cr-Ni so quatro, sendo

    trs delas de soluo slida e a quarta de natureza intermetlica. As fases de soluo

    slida so a austenita ( ); ferrita ( ); e , estrutura CCC rica em cromo. A ltima fase

    chamada de sigma ( ), fase intermetlica de estrutura tetragonal, sendoextremamente dura, frfil e no magntica [5, 6].

    Na figura 2, observam-se os campos bifsicos 1300 C, onde a presena de

    ferrita e austenita possvel. Portanto, o desenvolvimento da estrutura duplex pode

    ocorrer pela escolha correta de composies e da execuo de tratamento de

    solubilizao seguido de um resfriamento rpido. Equivalente raciocnio pode ser

    desenvolvido para sees isotrmica a menores temperaturas, ilustrado na figura 3,

    onde o campo de estabillidade entre as duas fases aumenta com a reduo da

    temperatura para 1000 C [5,6].

  • 5/19/2018 Bruno Raphael

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    Figura 2Seo isotrmica a 1300 C do ternrio Fe-Cr-Ni. Adaptado de [6].

    Figura 3Seo isotrmica a 1000 C do ternrio Fe-Cr-Ni. Adaptado de [6].

  • 5/19/2018 Bruno Raphael

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    Contudo, o equilbrio entre as duas fases pode ser melhor observado utilizando

    um diagrama pseudo-binrio. Como na maioria dos AID a porcentagem de Fe

    aproximadamente 70%, retira-se uma seo vertical do diagrama ternrio

    considerando o ferro costante e variando as porcentagens de nquel e cromo. A figura

    4 mostra esquematicamente a evoluo microestrutural de um AID de composio

    tpica durante a solidificao no equilbrio. A liga solidifica-se totalmente na estrutura

    ferrtica em torno de 1400 C. Durante o resfriamento, parte desta ferrita transforma-

    se, no estado slido, em austenita, sendo que a transformao reversvel. Desta

    forma, em temperatura ambiente, forma-se uma estrutura bifsica, caso as condies

    de resfriamento impeam a formao de outras fases, que sero discutidas

    posteriormente [5, 9].

    Figura 4Seo vertical com ferro constante (70%) do diagrama ternrio Fe-Cr-Ni.Adaptado de [5].

    A previso da microestrutra de um AID complicada, j que o digrama de

    fases ternrio Fe-Cr-Ni no leva em considerao a influncia de outros elementos de

    liga presentes que afetam a quantidade de ferrita e austenita formada. Por

    conseguinte, diversos pesquisadores desenvolveram formulaes empricas que

    relacionam a relativa eficincia dos elementos em estabilizar a ferrita, em comparao

    com a eficincia do cromo, expressa em termos do Cromo equivalente (Creq).

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    Elementos que estabilizam a austenita so expressos em termos de Nquel

    equivalente (Nieq) [5, 9].

    Os valores de cromo equivalente e nquel equivalente podem ser calculados a

    partir das equaes 3 e 4 [5, 6, 9]:

    %Nieq= %Ni + 0,5%Mn + 30(%C + %N) (Eq. 3)

    %Creq= %Cr + %Mo + 1,5%Si + 0,5%Nb (Eq. 4)

    Considerando a composio qumica mdia do ao super duplex SAF 2507:

    25,0% Cr7% Ni4,0% Mo1,2% Mn0,8% Si0,28% N0,03% C [6], obtm-se

    Nieq = 16,9% e Creq= 30,2%. Ao considerar esses valores iguais a %Ni e a % Cr,

    verifica-se ,atravs de linhas auxiliares, que na seo isotrmica a 1100 C

    (representada na figura 5) as composies de Nie Crformam uma estrutura duplex.

    A nucleao e o crescimento da fase austentica um processo difusional, ou

    seja, se durante um resfriamento do campo ferrtico no houver tempo suficiente para

    os elementos de liga formadores de austenita se difundirem para realizar a

    transformao , a formao de austenita pode ser parcialmente impedida.

    Portanto, a transformao no depende somente do equlbrio entre Nieq e Creqmas

    tambm da cintica da reao.

    Figura 5Seo isotrmica a 1100 C do ternrio Fe-Cr-Ni, mostrando as tie-linesno campo +. A interseo entre as linhas auxiliares representa a composio (em

    %Cr e %Ni) do ao SAF 2507. Adaptado de [6].

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    10

    2.1.2. Propr iedad es Mecnic as

    As propriedades mecnicas de um AID reflete as propriedades mecnicas

    individuais das fases ferrita e austenita. Para aproximadamente a mesma

    porcentagem de intersticiais, analisando os AIF e AIA, geralmente os ferrticospossuem maior limite de escoamento do que os AIA. A ferrita, portanto, tem o efeito de

    crescimento do limite de escoamento quando combinado a fase austentica para

    formar um AID, principalmente a baixas temperaturas [5, 6, 9].

    Como observa-se na figura 6, o valor do limite de escoamento apresentado

    pela estrtura duplex maior do que os austenticos e ferrticos, sendo assim, uma

    suposta lei de mistura linear com base nas fraesvolumtricas de ferrita e austenita

    e de suas respectivas resistncias quando em ligas monofsicas no pode ser

    aplicada para o clculo da resistncia a trao dos AID [9]. Esse fato deve-se, emparte, ao efeito de disperso de partculas de segunda fase (austenita) na matriz

    ferrtica, e contribuio do menor tamanho de gro da estrutura duplex (como pode

    ser visualizado pela conhecida relao de Hall-Petch, mostrada na equao 5) [6, 9].

    Figura 6Comparao do comportamento em tenso uniaxial dos aos inixodveisduplex, ferrtico e austentico. Adaptado de [10].

    Tenso[MPa]

    Deformao [%]

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    11

    y= 0+ kyd-1/2 (Eq. 5)

    Em relao ao limite de resistncia trao, conforme figura 7, observa-se que

    ele apresenta uma tendncia inversa ao do limite de escoamento com relao a

    porcentagem de ferrita, ou seja, o limite de resistncia a trao tem uma tendncia de

    diminuir com o aumento da frao volumtrica de ferrita [9].

    Figura 7Depedncia do limite de resistncia dos aos inoxidveis duplex comrelao a porcentagem em volume de ferrita para diferentes temperaturas. Adaptado

    de [6].

    Os AID apresentam boa tenacidade em temperaturas suficientemente baixas

    para a a maioria das aplicaes em engenharia, mas estas ligas no devem ser

    usadas em servios criognicos. Para este tipo de aplicao as ligas devem ser

    totalmente austenticas. Conforme apresentado na figura 8, a tenacidade e a

    temperatura de transio dctil-frgil dos AID e AISD variam conforme a frao

    volumtrica de ferrita presente na microestrutura. Quanto maior a quantidade de ferritamenor ser a tenacidade e, consequentemente, a temperatura de transio desloca-se

    -129 C

    Limite

    deResistnciaaTrao

    ksi

    Percentagem em volume de ferrita [%]

    -196 C

    -77 C

    21 C

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    12

    para temperaturas maiores [2]. Este efeito acontence em funo da clivagem ocorrer

    na fase ferrtica [5].

    Figura 8Depedncia da energia de impacto de AID em relao a percentagem emvolume de ferrita. Adaptado de [2].

    Quando a frao volumtrica de ferrita excede cerca de 60 a 70% a energia

    absorvida no impacto decresce rapidamente. Deve-se considerar, entretanto, que nos

    aos duplex, a austenita e a ferrita so conformadas em forma de lamelas na direo

    de laminao e a tenacidade depender da orientao tomada. A mxima tenacidade

    obtida quando a propagao da trica ocorre transversalmente a posio das lminas,

    ou seja, a direo de laminao [5].

    Portanto, as propriedades mecnicas dos aos inoxidveis duplex dependem

    da quantidade de ferrita e austenita, da morfologia dessas fases, da orientao delas

    com relao s tenses aplicadas ou com o plano de fratura e de suas exatas

    composies qumicas. Ademais, as propriedades variam com a temperatura e a taxa

    de deformao, isso sem levar em considerao um outro fator que a presena de

    fases adicionais [9]. A influncia de fases deletrias no comportamento mecnico dos

    AID ser discutido adiante.

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    13

    2.1.3 . Resis tncia Co rroso

    A marcante resistncia corroso dos aos inoxidveis de alto desempenho

    no se deve somente ao seu elevado teor de elementos de liga, onde a concentrao

    crtica de cromo permite a formao de um filme fino de xido protetor, cuja espessura

    da ordem de ngstrons, isolando o material do ambiente no qual se encontra imerso,

    mas tambm aos efeitos sinrgicos relacionados interao entre o alto teor de cromo

    e outros elementos de liga [7].

    Por exemplo, at mesmo uma pequena quantidade de nquel em um ao

    ferrtico alto cromo extender consideravelmente a sua passividade em cidos

    redutores. O molibdnio torna-se um agente mais efetivo em resistir corroso por

    pites em meio contendo os de cloreto a medida que a porcentagem em peso de

    cromo aumenta [11].

    Portanto, estes materiais so importantes para o uso em plataformas offshore,

    em aplicaes que envolvem o bombeamento de gua produzida, ou seja, gua do

    mar contendo elevada concentrao de ons (Cl-), CO2, gs sulfdrico (H2S) e ons de

    HS-e S2-, entre outros, em temperaturas variando desde 40 C at 80 C [12].

    Os AID possuem boa resistncia corroso localizada, por pites e frestas.

    Estes aos foram principalmente desenvolvidos para melhor resistir corroso sob

    tenso por cloretos, sendo bem superior a dos aos inoxidveis austenticos, devido

    principalmente presena da fase ferrtica, que interage mecanicamente e

    eletroquimicamente com a fase austentica, diminuido a susceptibilidade a este tipo de

    corroso [2].

    A figura 9 compara resistncia a corroso sob tenso de alguns aos

    inoxidveis austenticos com alguns AID (UNS S31803 e UNS S32304) e um AISD

    (UNS S32750) em funo da temperatura e concentrao de cloreto, em meio neutro

    com concentrao aproximada de 8 ppm de O2 em soluo. As tenses aplicadas

    durante o ensaio foram da ordem do limite de escoamento dos materiais. Abaixo dalinha pontilhada o material no sofre trincamento associado ao fenmeno [2].

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    Figura 9Resistncia corroso sob tenso em funo da temperatura econcentrao de ons de cloreto. Adaptado de [4].

    2.2. Preci pi tao de fas es em AID

    Alm da austenita e ferrita, uma variedade de fases secundrias indesejveis

    podem se formar nos AID, em temperaturas que variam de 300 C a 1000C e que

    causam, frequentemente, a perda de tenacidade e o decrscimo na resistncia

    corroso. A exposio do material nestas temperaturas pode ocorrer como resultado

    das condies de servio, tratamentos trmicos e a ciclos trmicos devido s

    operaes de soldagem. Por esta razo, recomenda-se que a temperatura superior de

    aplicao dos AID seja de 280 C para materiais no soldados e de 250 C paramateriais soldados [2].

    A figura 10 mostra o diagrama tempo-temperatura-transformao (TTT) para os

    AID, explicitando duas faixas de temperaturas distintas para o surgimento de diversas

    fases secundrias.

    Temperatura[C]

    Temperatura[F]

    Concentrao de os cloreto (Cl-) [ppm]

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    Figura 10Diagrama TTT esquemtico para precipitao de fasessecundrias em AID. Adaptado de [5].

    Na faixa entre 300 C e 600 C, o aparecimento da fase alfa linha ( ) (ou

    fragilizao 475 C) a de maior relevncia [2, 13]. Na segunda faixa, que se

    encontra entre 600C e 1000C, a fase sigma ( ) a mais deletria, devido a sua

    grande frao volumtrica e sua influncia nas propriedades mecnicas e de corroso

    [2, 5, 7, 9, 13-15].

    Segundo LEITE [2], o fenmeno de precipitao de fases secundrias em

    termos da cintica em AID extremamente favorecida pelo aumento nos teores deelementos de liga nestes materiais. A figura 11 mostra a cintica de precipitao de

    fases com relao a especificao UNS (unified number system) das ligas duplex. As

    ligas UNS S32520 e UNS S32550 so considerados AISD em comparao s

    restantes, que so apenas duplex e, consequentemente, menos ligadas.

    Tempo [min]

    Carboneto M7C

    3, nitreto CrN (ZTA)

    Fase

    Nitreto Cr2N Fase Fase

    2

    Carboneto M23

    C6

    Fase R

    Fase Fase (Cu) Fase Fase G

    Tem

    eratura

    C

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    Figura 11Diagrama esquemtico TTT para os AID e AISD com relao aalgumas ligas e suas respectivas composies qumicas. Adaptado de [2].

    NILSON et al. [10] estudaram a a precipitao de fases deletrias nos AID e

    determinaram experimentalmente para o AISD SAF 2507 (UNS S32750) as curvas

    TTT de precipitao algumas das fases intermetlicas, conforme figura 12.

    Figura 12Diagrama TTT experimentalmente determinado do SAF 2507mostrando as curvas de precipitao do Cr2N, fase , fase , fase R e . Adaptado de

    [10].

    Temperatura[C]

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    17

    Devido a precipitao de fases nos AID, occorre uma grande reduo na

    resistncia ao impacto destes materiais, fazendo com que os mesmos se tornem

    frgeis do ponto de vista de tenacidade. Isto devido a m deformabilidade das fases

    por causa da sua baixa fora de ligao metlica [13].

    A seguir, sero discutidas as principais fases secundrias encontradas nos

    AID, bem como os seus respectivos efeitos nas propriedades:

    2.2.1. Fase Sigma ()

    Das fases precipitadas, a fase sigma a mais importante devido a sua maior

    frao volumtrica observada na soldagem e sua influncia nas propriedades

    mecnicas e de resistncia corroso. A fase sigma no magntica e intermetlica,

    com estrutura cristalina tetragonal e, basicamente, composta por ferro, cromo e

    molibdnio [5, 13].

    Normalmente a fase sigma precipita-se entre 600 e 1000 C onde, nos AID, a

    ferrita metaestvel. A ferrita possui um teor mais elevado dos elementos formadores

    da fase sigma, por exemplo, o cromo e o molibdnio. Dessa forma, o mecanismo de

    precipitao da fase sigma se d principalmente pela decomposio da ferrita. O

    mecanismo de precipitao uma transformao eutetode + 2. Adenominao da fase obtida como austenita secundria ( 2) permite uma explcita

    separao da fase austentica que nucleia-se em condies controladas de

    solidificao.

    A reao de formao de fase ocorre por nucleao, apresentando uma

    curva de transformao em C esquematizado na figura 13 . Como o diagrama TTT

    mostra, a taxa de mxima precipitao pode ser encontrada entre 850 e 900 C. De

    acordo com a temperatura de precipitao, a morfologia de precipitao da fase sigma

    muda. Em baixa temperatura de precipitao (750C), uma estrutura de tipo coraisde fase sigma pode ser encontrada.

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    Figura 13 Diagrama TTT e morfologia da fase em relao a temperatura derecozimento isotrmico; (a) 950 C, (b) 850 C, (c) 750 C. Adaptado de (13).

    Nesta faixa de temperaturas, a quantidade de ncleos de fase sigma no incio

    da precipitao maior, devido as pequenas distncias de difuso percorridas pelos

    elementos de liga formadores de em menores temperaturas de precipitao.

    Portanto, menores velocidades de difuso causam supersaturao local e levam a

    uma maior disperso de precipitados. Um comportamento de precipitao diferente

    pode ser observado em temperaturas mais altas (>950 C). A fase sigma maior e

    mais compacta nessas temperaturas, resultado de uma menor taxa de nucleao,

    resultado de uma maior taxa de difuso em altas temperaturas. A transio na forma e

    tamanho de partculas encontrada em tempraturas intermedirias, por exemplo, a

    850 C.

    A precipitao do intermetlico sigma acompanhado pela formao de uma

    nova fase austentica ( 2). A medida que a fase sigma precipita-se, enriquece de

    cromo e molibdnio. E simultaneamente o nquel difunde-se para a ferrita. O

    enriquecimento de elementos estabilizadores de austenita na ferrita e a perda de

    elementos estabilizadores de ferrita conduz a uma ferrita instvel, transformando-seem 2. Esta austenita pobre em cromo e molibdnio.

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    POHL et al. [13] em seu trabalho cita que clculos e tcnicas de anlise

    executadas por KOBAYASHI e WOLYNEC mostram que a quantidade de cromo na 2

    cai para valores menores que 11% em peso, tornando essa fase susceptvel

    corroso. As menores concentraes de cromo e molibdnio no so o nico fator

    responsvel pela corroso. A vizinhana de fases mais nobres promover uma

    extensiva dissoluo andica da 2, principalmente em meios altamente corrosivos.

    As propriedades mecnicas dos AIDs tambm so seriamente prejudicadas

    com a precipitao da fase sigma. Os precipitados aumentam a dureza e diminuem a

    ductilidade e tenacidade do substrato. A dureza pode atingir nveis de 900 a 1000 HV.

    O limite de escoamento e o limite de resistncia a trao aumentam ligeiramente, mas

    o alongamento pode cair de 40% para 7% [2, 5]. A tenacidade tambm bastante

    afetada. Conforme apresenta a figura 14, a precipitao de 1% de leva a de enegia

    de impacto Charpy cair em um tero do valor em relao ao do material solubilizado e

    temperado [13].

    Figura 14Influncia da precipitao e mofologia de nos valores de impacto de barraentalhadas. Adaptado de [13].

    2.2.2. Fase Chi ()

    geralmente encontrada em AISD mas, normalmente em menores

    quantidades do que a fase sigma. Entretanto, to deletria s propriedades quanto a

    fase sigma. A fase chi no apenas possui um percentual de Cr similar, em relao a

    EnergiadeImpactoC

    harpy[J]

    Frao de fases intermetlicas [%]

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    20

    fase sigma, mas um teor de Mo maior, cerca de 20%, tornando a fase chi mais

    prejudicial resistncia corroso por pite do que fase sigma. Mas como a fase chi

    geralmente coexiste com a fase sigma, torna-se difcil de separar os efeitos nocivos de

    cada fase sobre as propriedades mecnicas e de resistncia corroso.

    As fases e no so distinguivis no micrscopio tico, mas a fase chi pode

    ser identificada usando difrao de eltrons em um Microscpio Eletrnico de

    Transmisso (MET). Contudo , identificaes podem ser feitas tambm no Microscpio

    Eletrnico de Varredura (MEV) utilizando eltros retroespalhados, como pode se

    observar na figura 15. A fase chi causa um maior constraste na imagem do que a fase

    sigma.

    Figura 15Precipitao da fase e crescimento da fase em um AISD fundido[13].

    A fase chi precipita-se na faixa de 700 a 900 C, atingindo o mximo da sua

    cintica de precipitao na faixa de 800 a 850 C. Entretanto, aps um longo tempo de

    envelhecimento a fase chi se transformar na fase sigma.

    2.2.3. Nitretos de Crom o

    A precipitao de nitretos de cromo tem se tornado um dos assuntos mais

    importantes para os AID e AISD devido a evoluo destes materiais com o aumento

    de nitrognio em soluo. A formao de Cr2N ocorre na faixa de temperatura de 700

    a 900 C durante resfriamento rpido ou tratamentos trmicos isotrmicos. No primeiro

    caso, as partculas de Cr2N precipitam-se, em sua maioria, intragranularmente e, em

    ltimo caso, intergranularmente nos contornos de gro / ou / . O Cr2N pode

    precipitar-se simultaneamente com a austenita secundria ( 2), retirando cromo da

    matriz, onde, nessas condies, compromete a resistncia a corroso por pite [16].

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    Segundo LEITE [2], em AID e AISD os nitretos de cromo precipitam-se na

    forma de bastonetes de Cr2N ou de plaquetas de CrN. A formao destes nitretos

    ocorre durante resfriamento rpido a partir de temperaturas elevadas, frequentemente

    onde o nitrognio se encontra solubilizado, devido a supersaturao da fase ferrtica

    em baixas temperaturas. Se a quantidade de austenita formada durante o resfriamento

    for tal que se aproxime da condio de equilbrio, praticamente todo o nitrognio

    estar na soluo austentica devido a partio deste elemento na liga. Como

    consequncia, a quantidade de nitretos de cromo precipitado na ferrita praticamente

    nula. Porm, se a fase austenita for suprimida, o nitrognio encontra-se em soluo

    slida super saturada na ferrita, precipitando nitreto de cromo em sua matriz. A figura

    16 mostra o efeito da temperatura na solubilidade do nitrognio para a fase ferrtica e

    austentica.

    Figura 16Solubilidade do nitrognio em funo da temperatura para fase austenticae ferrtica [17].

    Apesar do Cr2N, com estrutura hexagonal, ser o tipo de nitreto predominante, o

    CrN, com estrutura cbica, tambm foi observado na zona termicamente afetada de

    soldas do ao tipo 2205. O efeito do nitreto de cromo nas propriedades mecnicas e

    de corroso difcil de ser separado do efeito da fase , visto que e Cr2N

    frequentemente coexistem [9].

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    22

    2.2.4. Carbetos (M7C3e M23C6)

    Os carbetos M7C3 precipitam-se em contornos de gro / em temperaturas

    entre 950 e 1050 C, de acordo com a figura17. J abaixo de 950 C, o carbeto que se

    precipita o M23C6, possuindo uma cintica de precipitao bastante acelerada. Os

    carbetos precipitam-se predominantemente em contornos / , mas tambm podem

    estar presentes em contornos / e / e, em menor grau, dentro dos gros de ferrita e

    austenita. Entretanto, a precipitao de carbetos torna-se menos importante em AISD,

    onde a porcentagem de carbono muito baixa. O SAF 2507, por exemplo, no revelou

    precipitados de carbetos de qualquer natureza. Portanto, a corroso intergranular

    causada pela precipitao de carbetos parece ser improvvel nos modernos AISD

    [16].

    Figura 17Micrografia de uma liga duplex aps um minuto a 750C, mostrando aprecipitao de carbetos nos contornos de gro / (9600x)[5].

    2.2.5. Au st enit a Secundria (2)

    Como j foi discutido, os AID solidificam-se completamente com estrutura ferrtica.

    E durante o resfriamento parte desta fase tranforma-se em austenita primria ( 1).

    Caso este resfriamento seja acelerado, a formao de 1 pode ser prejudicada,

    originando uma microestrutura metaestvel de elavado teor de ferrita. Sendo assim,

    durante um processo de reaquecimento, seja por tratamento trmico ou devido a umprocesso de soldagem, a austenita secundria ( 2) precipita-se a partir da ferita.

  • 5/19/2018 Bruno Raphael

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    No metal de solda de um AID so distinguidos dois tipos de 2. A primeira delas

    forma-se na interface / , na faixa de temperaturas de 800 a 900 C, sendo resultantes

    do crescimento de partculas preexistentes de , porm com composio qumica

    distinta. O outro tipo forma-se no interior do gro ferrtico, com a forma de finas

    partculas acirculares, conforme figura 18, na faixa de temperatura de 800 a 1000 C,

    onde as discordncias e incluses atuam como stios preferencias para nucleao [5].

    Figura 18Micrografia da austenita secundria no metal de solda de uma liga superduplex (1000x). Ataque eletroltico: cido sulfrico [6].

    A 2tambm pode se precipitar em conjunto com as fases intermetlicas ricas

    em cromo, tais como a fase sigma, o carboneto Cr23C6 e o nitreto Cr2N [5, 9]. O

    empobrecimento de cromo na ferrita ao redor desses precipitados desestabiliza a

    ferrita transformando-se em austenita.

    Segundo discutido por PINTO [9], o crescimento da 2ao redor de carbonetos e

    fase sigma, tem ocorrido de trs diferentes modos, sendo eles:

    a. Um crescimento lamelar casado com o crescimento do carboneto a partir da

    interface / , dando origem a reao eutetode Cr23C6+ 2. A precipitao

    dos carbonetos retira cromo da ferrita e, desta forma, a ferrita empobrecida em

    cromo transforma-se em 2, transformao que, por sua vez, rejeita cromo para

    a ferrita adjacente, permitindo o crescimento dos carbonetos. Estabelece-se,

    portanto, o crescimento cooperativo das duas fases. Posteriormente, devido

    reduo do teor de C nos AIDs, a precipitao de carbonetos limitada, dando

    origem a segunda reao eutetode do tipo + 2 (4, 6).

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    b. Precipitao de carbonetos no formato de larva na interface original /,

    seguida do crescimento de 2dentro da ferrita. O motivo pelo qual a 2 cresce

    em direo ferrita, d-se pelo fato dos tomos de carbono e cromo estarem

    difundindo-se em direo aos carbonetos, que tambm esto crescendo.

    Assim, a relao Creq/Nieq na ferrita fica reduzida a tal ponto que favorece a

    expanso da 2[5, 7].

    c. A austenita cresce na salincia da fase sigma, que principalmente induzida

    pelo empobrecimento do cromo ao redor da fase sigma. A figura 19 mostra

    esquematicamente esses modos de crescimento da 2.

    Figura 19- Modos de crescimento da 2associada a precipitao de carbonetos(M23C6) ou fase , sendo: (a) crescimento lamelar casado com o crescimento do

    carboneto; (b) somente a 2cresce deixando para trs carbonetos do tipo larva; (c)a austenita cresce nas salincias da fase [9].

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    Segundo PINTO [9], no caso da austenita secundria se formar juntamente com a

    precipitao de Cr2N em contornos de gro / , tem sido estabelecido ser a 2 pobre

    em cromo. Isto causa a perda de balano qumico entre ferrita e austenita e perda de

    resistncia a corroso local na liga , facilitando a ocorrncia de corroso por pites

    nessas reas.

    2.2.6. Al fa lin ha ( )

    A fase est associada formao de uma fase rica em cromo, e com

    estrutura cristalina CCC. Este fenmeno de fragilizao resulta da separao da

    ferrita, de ligas Fe-Cr, em uma fase rica em Fe e uma fase rica em Cr. Esse tipo

    de fragilizao tem sido observado em aos ferrticos e duplex, em temperaturas

    abaixo de aproximadamente 500 C [9, 16].

    A formao de pode ocorrer por dois mecanismos: nucleao e crescimento,

    quando o teor de cromo na ferrita baixo; e decomposio espinoidal quando o teor

    de cromo nesta mesma fase alto [2, 5, 6].

    Verifica-se que a resulta em um aumento da resistncia trao e dureza,

    diminuindo a ductilidade, a resistncia ao impacto, resistividade eltrica e resistncia a

    corroso da ferrita [2]. Tem sido verificado que cromo, molibdnio e cobre promovem afragilizao a 475 C [9, 16].

    A cintica de formao da fase consideralvemente mais lenta que do que

    as fases que se precipitam em altas temperaturas ( e ). Sendo assim, improvvel

    que a fragilizao a 475 C ocorra no resfriamento do processo de soldagem de

    estruturas em AID e AISD [2].

    2.2.7. Fase G

    Outros tipos de fase podem aparecer nos AID entre 300 e 600 C. Dentre estas

    podemos destacar os precipitados com composio baseada em nquel, silcio e uma

    maior quantidade de molibdnio denominada fase G. Composta de partculas da

    ordem de 1 a 10 nanmetros, ocasionalmente alcanando 50 nm. Aos inoxidveis

    contendo molibdnio mostram uma precipitao mais uniforme do que os que no

    contm em sua composio. Estas partculas de fases G precipitam-se

    preferencialmente em stios de discordncias e nas interfaces / em AID. Sua

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    composio depende dos elementos presentes no ao e das condies de

    envelhecimento. A concentrao total dos elementos que compem a fase G aumenta

    de 40% a 60%, quando so mantidos numa faixa de temperatura ao redor de 350 C,

    mais precisamente para tempos de envelhecimento de 1.000 a 30.000 horas [2].

    2.2.8. Fase R

    A fase R um composto intermetlico enriquecido em molibdnio (Fe2Mo),

    precipitando-se em pequenas quantidades no intervalo de temperatura entre 550 e

    700C. PINTO e SMUNK [9, 16] comentam que pesquisas anteriores encontararam

    aproximadamente 30% Fe, 25% Cr, 6% Ni, 35% Mo e 4% Si na composio da fase R.

    Foi tambm estabelecido nessa investigao que a tenacidade e a resistncia

    corroso por pite so reduzidas pela formao da fase R, sendo observado que esta

    pode precipitar-se tanto intergranularmente quanto intragaranularmente. Segundo

    LEITE [2], estudos reportaram que precipitados intergranulares podem ser mais

    deletrios do ponto de vista da corroso por pite, desde que estes tenham teores de

    Mo de cerca de 40%, causando portanto a depeleo deste elemento na matriz ao

    redor. A fase R torna-se instvel para tempos longos de envelhecimento [2. 16].

    2.2.9. Fase Pi ()

    O nitreto conhecido como fase foi encontrado dentro de gros, com estrutura

    cristalina cbica. Semelhante fase R, contribui para a fragilizao e corroso por pite

    em materiais envelhecidos a 600C. Verificou-se que a fase contm

    aproximadamente 28% Fe, 35% Cr, 3% Ni e 34% Mo, mostrando assim que a frmula

    qumica ideal proposta como Fe7Mo13N4 somente uma aproximao grosseira (9).

    2.2.10. Precipitados ricos em Cobre (fase )

    A adio de cobre aos aos inoxidveis tem sido usada para melhorar as

    propriedades de resistncia a corroso e tambm induzir um endurecimento por

    precipitao.

    Devido existncia da precipitao desta fase rica em cobre em temperaturas

    mais baixas, por volta dos 300 C, h um endurecimento da liga atribuda a esses finos

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    27

    precipitados. Entretanto, observou-se que este endurecimento provoca tambm uma

    queda de tenacidade ao impacto nos AID que contm este elemento, durante

    tratamentos trmicos na faixa de 260 a 320 C [2].

    LEITE e SMUNK [2, 16] comentam que o cobre em soluo slida nos AID

    facilita a passivao da austenita. Porm, estudos seguintes mostraram que

    precipitao da fase rica em cobre na matriz ferrtica diminuiu a resistncia ao pite no

    meio com soluo 1M H2SO4+ 1M NaCl, pelo decrscimo da estabilidade do filme

    passivo devido a atuao do on cloreto em regies prximas a precipitao desta fase

    rica em cobre. A concluso que a alta concentrao de cobre na fase ferrtica

    conduz precipitao de uma fase rica neste elemento em aos ferrticos e austeno-

    ferrticos, levando ao aumento da dureza do material e da deteriorao da resistncia

    corroso da fase ferrtica.

    2.3. Metalu rgi a fsic a da so ldag em do s AISD

    Durante o processo de soldagem de um AISD, no dercorrer do aquecimento e

    resfriamento, ocorrem transformaes microestruturais no material. Estas

    transformaes devem ser monitoradas de modo que as propriedades da junta

    soldada sejam as mais prximas ao do metal de base. Segundo apresentado

    anteriormente, este controle pode ser efetuado atravs da composio qumica e da

    histria trmica (ciclos trmicos e repartio trmica). A composio qumica da zona

    fundida (ZF) pode ser ajustada atravs do metal de adio e/ou da composio do gs

    de proteo. A histria trmica determinar basicamente a microestrutura na zona

    afetada pelo calor (ZAC) e, eventualmente, na zona fundida.

    Na soldagem de AID, a microestrutura varia desde a poa de fuso onde

    ocorem fenmenos de solidificao at o metal adjacente solda na ZAC, onde

    ocorrem transformaes no estado slido.As figuras 20 e 21 expem algumas das modificaes microestruturais

    ocorridas na junta soldada de um AID. Ao analisar a figura 20, notam-se cinco regies

    na junta soldada: zona fundida, zona parcialmente fundida (ZPF), zona de crescimento

    de gro de ferrita, zona bifsica parcialmente transformada e zona bifsica similar ao

    metal base. Em cada regio, a microestrutura final depender da velocidade de

    resfriamento a partir de cada temperatura mxima presente na repartio trmica.

    Este diagrama no contm a precipitao de outras fases alm da ferrita e austenita.

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    Figura 20Diagrama esquemtico das alteraes microestruturais ocorridas na juntasoldada de um AID. Adaptado de [5].

    Figura 21Microestrutura tpica de uma junta soldada de AID. Adaptado de [18].

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    Observando a figura 22, a transformao da austenita comea logo abaixo da

    temperatura solvus da ferrita, nucleando-se primeiramente nos contornos de gro de

    ferrita e crescendo at cobrir completamente toda a extenso do contorno. Austenita

    adicional pode-se formar como estruturas de Widmanstten ou intragranularmente nos

    gro ferrticos.

    Figura 22Regio de temperatura elevada do diagrama pseudobinrio paracomposies de AID. A regio rachurada representa a faixa para ligas comerciais.

    Adaptado de [17].

    2.3.1. Zona Afetada pelo Calor (ZAC)

    Na ZAC o balano microestrutural / determinado somente pelas condies

    de aquecimento e resfriamento, pela temperatura mxima atingida e pelo tempo de

    permanncia nessa temperatura. Estas variveis sero de consequncia de fatores

    como: espessura do material, energia de soldagem transferida, temperatura de pr-

    aquecimento e temperatura de interpasses.

    Temperatura[C]

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    O ciclo trmico da ZAC em uma rea adjacente linha de fuso pode ser

    divida em trs regies distintas em relao ao tempo, como pode-se visualizar na

    figura 23.

    Figura 23- Cilco trmico da ZAC em regio prxiam linha de fuso de um AID comelevada razo Creq/Nieq. Adaptado de [17].

    Na regio I, o metal de base aquecido a temperaturas prximas a

    temperatura solvus da ferrita. Nesta faixa de temperatura a austenita comea a

    transformar-se em ferrita e a maioria dos precipitados intermetlicos presentes na

    estrutura, devido ao processamento termomecnico anterior, tambm comearo a se

    dissolver. Estes precipitados consistem primariamente de carbetos e, especialmente,

    nitretos.

    Como as modificaes que ocorrem na microestrutura so processos

    controlados pela difuso dos elementos de liga, a cintica dessas tranformaes serinfluenciada pela taxa de aquecimento. Ou seja, um aquecimento rpido retarda a

    dissoluo da austenita e dos precipitados, enquanto o aquecimento lento permitir

    completa dissoluo da austenita em temperaturas prximas a temperatura solvus.

    Na regio II, acima da temperatura solvus da ferrita, os precipitados e a

    austenita continuam se dissolvendo, porm com a cintica acelerada pela temperatura

    mais elevada. No caso em que a taxa de aquecimento no seja muito elevada, estas

    transformaes se completariam, resultando somente na fase ferrtica. A partir deste

    momento ocorre o crescimeto e o coalescimento dos gros ferrticos, j que no

    existem mais a austenita ou intermetlicos para inibirem o crescimento. Quanto mais

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    baixa a temperatura solvus da ferrita mais pronunciado ser o crescimento dos gros.

    E o tamanho de gro proporcional ao tempo e a temperatura que o material

    permanecer acima da temperatura solvus da ferrita.

    A medida que ocorre o resfriamento a partir da temperatura solvus da ferrita, na

    regio III, a austenita nuclear e crescer e os intermetlicos precipitaro. A

    transformao controlada pela taxa de resfriamento. Altas taxas de

    resfriamento retardam a transformao, resultando em uma ZAC com elevado teor de

    ferrita. A taxa de resfriamento entre 1200 e 800 C (t12/8) frequentemente usada para

    quantificar o efeito da taxa de resfriamento com o percentual de ferrita. Em taxas de

    resfriamento elevadas, que promovem a reteno da ferrita, a precipitao de carbetos

    e nitretos na fase ferrtica muito mais pronunciada.

    Segundo GIRALDO [3], para evitar a precipitao de outras fases na ZAC,

    recomenda-se a limitao do tempo de resfriamento t12/8para valores prximos de 20

    segundos, principalmente quando se solda materiais de espessura fina. Entretanto,

    MUTHUPANDI et al. [19] recomenda um t12/8 entre 4 e 15 segundos que gerar um

    resfriamento lento o suficiente para a formao adequada da austenita, mas rpido o

    bastante para preveno de precipitao de fases deletrias.

    Os resultados de NOWACKI et al. [20] mostraram que a microestrutura tpica

    da ZAC de uma junta soldada de um ao UNS S31803, soldada pelo processo de

    Arame Tubular (Flux Cored Arc Welding - FCAW) sem o tratamento trmico de pssoldagem, consiste de ferrita e austenita primria, onde a quantidade de ferrita diminui

    junto com o aumento de aporte trmico. Para uma aporte trmico de 1,6 kJ/mm o

    percentual de ferrita encontrado foi de 54 %, e para o aporte de 2,2 kJ/mm o

    percentual diminui para 48% de ferrita.

    Como mencionado anteriormente, o tempo acima da temperatura solvus da

    ferritapossui um efeito drstico no crescimento de gro ferrtico. E como foi discutido

    acima, o tamanho de gro ferrtico possui um forte efeito na tenacidade e ductilidade.

    Portanto, geralmente conveniente minimizar o tempo na regio completamenteferrtica. Isto pode ser feito pelo controle de composio qumica ou pelo aporte de

    calor e condies trmicas. A medida que Creq/Nieqdiminui, a temperatura solvus da

    ferrita aumenta, como mostrado na figura 22, e o tempo acima desta temperatura

    diminuir para um dado ciclo trmico na ZAC. Para uma razo Creq/Nieq fixa, a

    diminuio do aporte de calor promove gradientes trmicos mais drsticos

    minimizando o tempo na regio completamente ferrtica.

    Ambos tamanhos de gro do metal de solda e da ZAC aumentam em funo

    do maior aporte trmico imposto no material. LIPPOLD et al. [17] mostra, na figura 24,o crescimento do gro, para soldas autognas no processo TIG (Gas Tungsten Arc

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    Welding - GTAW), para as ligas de AID 2205 e 2507 tanto da zona fundida quanto da

    ZAC.

    Figura 24Efeito do aporte de calor no crescimento do gro ferrtico na zona fundidae na ZAC. Adaptado de [17].

    Na liga super duplex, 2507, o metal de solda tambm exibe um crescimento de

    gro em funo do aporte de calor. Na ZAC este crescimento retardado devido aelevada temperatura solvus da ferritaque restringe a regio totalmente ferrtica a uma

    banda bem estreita ao longo da linha de fuso.

    Quando a temperatura mxima atingida est abaixo da linha solvus da ferrita,

    fala-se de zona afetada pelo calor de temperatura baixa (ZACTB). Para visualizar

    melhor as transformaes que ocorrem nesta seo do material, acrescenta-se a

    temperatura onde as fraes volumtricas de e so as de equilbrio (T / ) e faixa de

    temperatura de precipitaes de fases secundrias. Dependendo da temperatura

    mxima atingida pelo ciclo trmico, podem ser delimitadas em duas regies principais,como esquematizado na figura 25.

    2507 ZF

    2205 ZF

    2507 ZAC

    2205 ZAC

    Dimetromdiodosgros[m

    ]

    Aporte trmico [kJ/mm]

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    Figura 25Regies mais importantes de um ciclo trmico de soldagem na ZACTB.Em (a) temperatura mxima acima de T/e em (b) dentro do intervalo de precipitao

    de fase deletria. Adaptado de [5].

    Na regio I ocorre a dissoluo parcial da austenita e , dependendo da taxa de

    resfriamento, a sua posterior precipitao. Os gros de austenita no dissolvidos

    impedem o crescimento do gro ferrtico [5]. Durante o resfriamento, a austenita

    cresce continuamente a apartir das regies intergranulares de austenita no

    dissolvidas, condio esta favorvel nucleao de austenita secundria. A

    quantidade de austenita nesta zona maior que na seo adjacente linha de fuso.

    Sendo assim, a precipitao de nitretos significativamente reduzida.

    A regio II encontra-se entre as temperaturas mxima e mnima de precipitao

    de fases deletrias. A precipitao destas fases depender da cintica da

    transformao e do tempo de permanncia nesta faixa de temperatura.

    A figura 25 representa um exemplo dos ciclos trmicos encontrados em duas

    zonas na ZACTB. Na primeira zona a temperatura mxima foi acima de T /. O

    segundo ciclo trmico refere-se a uma zona onde a temperatura mxima est

    compreendida dentro do intervalo de precipitao das fases deletrias.

    2.3.2. Zon a Fun did a (ZF)

    Durante a solidificao da poa de fuso, o crescimento a partir dos gros de

    ferrita da zona parcialmente fundida, produzem uma estrutura colunar grosseira de

    gros de ferrita na ZF. Posteriormente, durante o resfriamento, similar s

    transformaes na ZAC, precipita-se a austenita e as demais fases possveis.

    As regies do metal de solda e da ZAC so rapidamente resfriadas a partir de

    temperaturas prximas a temperatura solvus da ferrita, portanto, existe uma tendncia

    (a) (b)

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    formao de um teor de fase ferrtica maior no metal de solda e na ZAC em relao

    ao metal de base.

    Conforme foi discutido anteriormente, a composio qumica da ZF pode ser

    ajustada atravs do metal de adio e do gs de proteo, junto com a diluio,

    permitindo o controle da frao de austenita e assim, da precipitao de nitretos.

    MUTHUPANDI [19] mostrou em seus resultados que ao soldar o ao super

    duplex UNS S31803 com os processos GTAW e Soldagem por Feixe de Eltrons

    (Electron Beam Welding - EBW) com metal de adio enriquecido com nquel sem

    tratamento trmico ps soldagem, o metal de solda apresentava um percentual de

    ferrita menor do que quando foram soldados com os mesmos processos de forma

    autgena.

    Figura 26Micrografia da soldagem pelo processo GTAW. (a) soldagem autogna;(b) soldagem com metal de adio enriquecido em nquel. Note que a matriz ferrtica

    est escura e as partculas de austenita esto mais claras [19].

    O balano de fases na soldagem de AID fortemente dependente da difuso, e

    o nitrognio o elemento chave para o alcance do equilbrio entre as fases. Isso

    porque todos os elementos de liga em um AID, exceto pelo carbono e nitrognio, so

    tomos substitucionais grandes. Sendo assim, a taxa de difuso desses elementos frequentemente baixa. Em contraste, o carbono e o nitrognio so tomos intersticiais

    pequenos com taxas de difuso muito maiores em temperaturas elevadas. Como o

    carbono um elemento de liga indesejvel, devido aos efeitos adversos na resistncia

    corroso, a sua concentrao geralmente configurada para a mais baixa possvel.

    Portanto, o nitrognio possui o papel principal para manipular o balano entre as fases

    sob as condies de resfriamento da solda.

    O nitrognio um elemento de liga estabilizador da austenita, e com isso

    muito mais solvel na austenita do que na ferrita em temperaturas elevadas. Quando aliga encontra-se a uma temperatura abaixo da temperatura solvus da ferrita, o

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    nitrognio difunde-se da ferrita em direo a austenita. Se a taxa de resfriamento for

    muito elevada para o nitrognio alcanar a austenita, parte do nitrognio se encontrar

    aprisionado na ferrita e sequencialmente se precipitar como nitretos de cromo. As

    reas prximas austenita so livres de nitretos, porque o nitrognio originalmente,

    nessas regies, teve tempo suficiente para difundir-se para a austenita.

    O teor de nitrognio altera a posio da temperatura solvus da ferrita.

    Aumentando-se o teor do nitrognio, aumenta-se a temperatura solvus. Quanto maior

    o teor de nitrognio, maior o Nieq. Sendo assim, menor ser razo Creq/Nieq,

    deslocando a temperatura solvus da ferrita, como mostrado na figura 22. Neste caso, a

    precipitao da austenita comea em temperaturas mais elevadas.

    Para a previso do modo de solidificao do metal de solda so utilizados

    diagramas constitucionais, como por exemplo, o Diagrama Schaeffler-Delong,

    apresentado na figura 27. Este diagrama considera somente o efeito da composio

    sobre a quantidade de ferrita, sendo vlido s para uma determinada faixa de

    velocidades de resfriamento.

    Figura 27 - Diagrama Schaeffler-Delong. Adaptado de [21].

    %

    Nieq=%Ni+0,5

    %Mn+30(%C

    +%N)

    %Creq= %Cr + %Mo + 1,5%Si + 0,5%Nb

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    2.4. Fragilizao pelo Hidrognio

    2.4.1. Teoria da fragilizao pelo hidrognio

    O hidrognio interage com a maioria dos metais por uma srie de mecanismos,resultando em modificaes das propriedades mecnicas que levam a fraturas frgeis.

    Em um ambiente rico em hidrognio, a fragilizao se manifesta com o decrscimo da

    ductilidade, ou seja, uma reduo do tempo para a ocorrncia da fratura sob

    carregamento esttico sem alterao significativa do limite de escoamento. A

    contaminao pelo hidrognio pode ocorrer durante o processamento e a fabricao

    ou posteriormente em servio [22].

    A difuso do hidrognio nos metais e suas ligas ocorre na forma atmica e,

    devido ao hidrognio possuir raio atmico muito pequeno, a sua presena facilitadaem soluo slida na estrutura cristalina. Alm disso, a sua movimentao por difuso

    no estado slido acontece com relativa facilidade, mesmo em baixas temperaturas.

    Portanto, qualquer processo que produza hidrognio na forma atmica na superfcie

    do metal poder resultar em absoro do mesmo. Porm, grande parte deste

    elemento tende a se combinar sob a forma molecular e assim escapar na forma de

    bolhas de gs. A frao que penetra no metal ento determinada pela presena de

    agentes que diminuem a formao de molculas de hidrognio gasoso como sulfetos,

    cianetos e arsnicos, e pela extenso da superfcie exposta ao hidrognio [22].

    A presena de hidrognio nos metais e ligas metlicas prejudica suas

    propriedades, mesmo em pequenas quantidades, possuindo uma tendncia a

    segregar-se em defeitos, atingindo concentraes localmente elevadas [22]. O

    acmulo de hidrognio em stios da rede pode enfraquecer as ligaes metlicas e

    nuclear uma trinca, a qual, em condies apropriadas, se propagar e levar a fratura

    catastrfica dos componentes metlicos.

    Vrias teorias tm sido propostas para explicar a fragilizao pelo hidrognio,

    no havendo uma teoria nica aceita como geral para todos os casos. Vrios

    mecanismos poderiam atuar simultaneamente, predominando um ou outro,

    dependendo das condies microestruturais e esforos aplicados.

    A teoria das presses internas foi a primeira das teorias sobre a fragilizao

    pelo hidrognio, provavelmente devido aos casos de empolamento. Segundo esta

    teoria, o hidrognio atmico em excesso na rede cristalina se precipitaria, sob a forma

    molecular, em descontinuidades internas, tais como microporosidades, desenvolvendo

    presses internas elevadas, suficientes para o alargamento dos poros e a

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    consequente formao de microtrincas, sendo um mecanismo vlido para a nucleao

    destas em altas concentraes de hidrognio [2].

    Figura 28- Chapa de ao de um vaso depresso com mltiplos empolamentos.Adaptado de [23].

    GONZALEZ [24] apresenta outro mecanismo, que mostrado pela figura 29,

    que consiste no crescimento de trinca onde se supe que a presena da mesma levaa um aumento da concentrao de hidrognio na regio adjacente da trinca, na zona

    de processo, at atingir um valor limite.

    Esse valor da concentrao de hidrognio na zona de processo resultado do

    retardamento da propagao da trinca devido ao elevado perodo de tempo para que o

    hidrognio possa se acumular nos campos de deformao e tenso elsticas.

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    Figura 29Estgios da propagao da trinca: (a) Difuso de hidrognio para a zonade processo de uma trinca pr-existente; (b) Zona de processo saturada de

    hidrognio; (c) Gerao de nova zona de processo a partir da trinca propagada.Adaptado de [24].

    Quando uma concentrao crtica de hidrognio atingida, a trinca tende a se

    propagar. Com a propagao h uma diminuio da concentrao de hidrognio

    atmico que se recombinou na forma molecular. Para que haja um incremento no

    tamanho da trinca, toda a sequncia descrita se repete at que se forme uma fratura

    macroscpica que, por sua vez, leva a falha da estrutura metlica.

    Uma teoria proposta para a fragilizao pelo hidrognio em AISD a

    transformao martenstica da austenita. Segundo os resultados de DABAH et al. [25],

    confirmam uma transformao de fase induzida pelo hidrognio em ambos os aos

    inoxidveis austenticos e duplex, que consiste na transformao de fase da austenita

    para *, enriquecida de hidrognio (conhecida tambm como H), ou para martensita

    . Com a consequente introduo de hidrognio, este elemento acaba produzindo

    expanso da rede cristalina e tenses internas suficientes para que parte da austenita

    se transforme em martensita , de estrutura hexagonal compacta. Esta distoro da

    rede cristalina da liga causa a fragilizao do material.

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    2.4.2. Difuso e solubilidade do hidrognio em AID

    A difuso intersticial no reticulado cristalino o principal mecanismo de difuso

    para o hidrognio nos AISD. O coeficiente de difuso D no retculo cristalino pode ser

    descrito pelas relaes da forma de Arrhenius [26, 27]:

    (Eq. 6)

    onde E a energia de ativao (J/mol), R a constante dos gases (8,314 J/molK), T a

    temperatura em Kelvin e D0 a constante pr-exponencial independente da

    temperatura (m2/s).

    A primeira lei de Fick descreve a difuso de hidrognio, como fluxo dos tomos

    de hidrognio, de uma regio com alta concentrao para uma de baixa concentrao

    [26, 27]:

    (Eq. 7)

    Onde ( C)t o gradiente de concentrao em um tempo especfico t.

    Considerando um material ideal sem a presena de aprisionadores, o processo

    de difuso em condies transientes, dependente do tempo, descrito pela segundalei de Fick [26]:

    (Eq. 8)

    A soluo da segunda lei de Fick a principal base para os clculos de

    distribuio de hidrognio (ou de outros elementos intersticiais) em metais. Solues

    analticas para a equao podem ser tratadas para a difuso uniaxial. A soluo tambm dependente da concentrao inicial e final e de dados de entrada para os

    coeficientes de difuso. A soluo unidimensional para a segunda lei de Fick [26,

    27]:

    (Eq. 9)

    Assumindo um caso para um slido semi-infinito, ou seja, uma placa espessa

    onde a concentrao na superfcie do slido constante e no seu lado oposto a

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    influncia da concentrao de hidrognio ser pouca ou nenhuma, a soluo da

    segunda lei de Fick para uma concentrao constante de hidrognio na superfcie (Ci)

    e uma distribuio inicial de hidrognio no material (C0), ao aplicar as condies de

    contorno ser [26, 27]:

    (Eq. 10)

    Onde e

    C(x,t) representa a concentrao em uma profundidade x decorrido um tempo t. A

    expresso a funo de erro de Gauss, cujos os valores so dados emtabelas matemticas para diferentes valores de .

    De acordo com a literatura, os aos inoxidveis ferrticos (AIF) so claramente

    susceptveis fragilizao pelo hidrognio, pelo menos quando polarizados

    catodicamente a potenciais abaixo de -800mV/ECS, em meio contendo cloreto. Por

    outro lado, os aos inoxidveis austenticos (AIA) mostraram-se quase imunes ao

    efeito de fragilizao por hidrognio em ambiente marinho e em solues contendo

    cloretos, at quando deformado a frio antes de serem ensaiados. A diferena

    observada entre os AIF e AIA, respectivamente, atribuda alta solubilidade de

    hidrognio. A solubilidade de hidrognio nos AIA aproximadamente 100 vezes o

    valor para os AIF. Outra diferena relevante a difusividade do hidrognio nos dois

    tipos de ao. A constante de difusividade do ferrtico pode diferir de 5 ordens de

    grandeza maior da constante do austentico [28].

    A diferena entre difusividade e solubilidade das fases presentes em AID pode

    ser explicada pelos diferentes parmetros de rede das fases e . A ferrita de

    estrutura CCC permite uma alta taxa de difuso e uma baixa solubilidade devido a suaestrutura de retculo cristalino aberto. Em contraste a austenita de estrutura CFC

    apresenta uma baixa taxa de difuso e elevada solubilidade de hidrognio devido a

    seu reticulado cristalino ser mais compacto [24]. Portanto, a susceptibilidade

    fragilizao pelo hidrognio aumenta a medida que o teor de ferrita cresce.

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    Tabela 3Difusividade e solubilidade do hidrognio em AIA 301 e AIF AL 29-4-2 a 25C [26].

    AISI 301 (Au stenti co ) AL 29-4-2 (Ferrti co )

    Difusividade (m/s) 3,1 x 10-16 1,1 x 10-11

    Solubilidade (ppm atmico em

    equilbrio com gs H2S a 1 atm)70,1 0,74

    2.4.3. Mecanismo de difuso de hidrognio em AID

    Segundo elucidado por OLDEN et al. [26], a difuso na fase austentica nos AID e

    AISD possui uma influncia insignificante no coeficiente efetivo de difuso. Entretanto,

    a difuso menos acelerada em AID e AISD do que nos aos ferrticos, possuindo um

    coeficiente de difuso D = 1,1 x 10-15m2/s temperatura ambiente. Isto considerado

    ser efeito do:

    1. Aumento do caminho de difuso na ferrita devido s ilhas austenticas. Refere-

    se a um aumento na sinuosidade do caminho para o hidrognio

    2. Os contornos de gro austenticos e a prpria fase funcionam como

    aprisionadores do hidrognio.Aspectos como forma, tamanho e espaamento das ilhas austenticas influenciam

    tanto a sinuosidade como a tendncia de aprisionar o hidrognio e as propriedades de

    imobilizao da trinca no ao. Ilhas austenticas finamente dispersas promovem

    caminhos de difuso mais longos e mais aprisionadores se comparado a uma

    estrutura composta de austenita grosseira.

    Com respeito resistncia a fratura, um curto espaamento austentico

    normalmente preferido devido s propriedades de imobilizao da trinca pela fase

    austentica mais dctil. OLDEN [26] comenta tambm que um AID com grosalongados de austenita na direo perpendicular ao carregamento aplicado

    apresentam melhor capacidade de prevenir o trincamento induzido pelo hidrognio

    comparado aos com estruturas de gros finos equiaxias. Consequentemente, todas as

    tcnicas de fabricao que tendem a diminuir o espaamento interaustentico so

    favorveis.

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    2.4.4. Fragilizao em proteo catdica

    A fragilizao pelo hidrognio fortemente dependente da resistncia

    mecnica do material. Materiais de elevada resistncia mecnica possuem maior

    susceptibilidade ao fenmeno de fragilizao. Para muitos aos existe uma relao

    entre o material e a concentrao crtica de hidrognio, onde nenhum trincamento

    ocorrer abaixo de certa quantidade de hidrognio presente. A concentrao de

    hidrognio na liga ser influenciada por algumas variveis como, temperatura,

    composio qumica, estrutura cristalina, sobrepotencial catdico e presso [2, 29].

    Os termos fragilizao pelo hidrognio e corroso sob tenso algumas vezes

    so empregados de forma indistinta. Porm, a fragilizao pelo hidrognio causada

    pela absoro deste elemento, enquanto na corroso sob tenso deve ocorrer

    necessariamente a dissoluo andica para a ocorrncia deste fenmeno. Com a

    utilizao de proteo catdica elimina-se a corroso sob tenso, mas no a

    fragilizao pelo hidrognio. A reao catdica na superfcie do material induz a

    reao de reduo da gua do mar, resultando na formao de hidrognio atmico na

    interface metal/soluo.

    A norma NACE MR0175 [29], diferencia os mecanismo de trincas induzidas

    pelo hidrognio (hydrogen-induced cracking HIC) e do trincamento sob tenso

    induzido pelo hidrognio (hydrogen-induced stress crackingHISC).

    O HIC provocado por trincas planares que ocorrem em aos carbono e baixa

    liga quando o hidrognio atmico se difunde no ao e combina-se para formar

    hidrognio molecular em stios de aprisionamento. As trincas so resultados da

    pressurizao destes stios pelo hidrognio. Nenhuma tenso externa aplicada

    necessria para a formao de trincas induzidas pelo hidrognio. Stios de

    aprisionamento capazes de causar o trincamento induzido pelo hidrognio socomumente encontrados em aos com elevado nvel de impurezas, que possuem alta

    densidade de incluses planares e/ou regies de microestrutura anmala produzida

    pela segregao de impurezas e elementos de liga no ao.

    J o HISC resulta da presena de hidrognio no metal quando submetido a

    tenses (residuais e/ou aplicadas). O trincamento sob tenso induzido pelo hidrognio

    um processo envolvendo a iniciao e a propagao de trincas.

    Este mecanismo representa essencialmente a manifestao do decrscimo da

    tenso de ruptura ou na quantidade de deformao (falhas adiantadas). A fratura

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    inicia-se em regies de tenses altamente localizadas, que representam stios

    preferenciais para difuso de hidrognio.

    Resultados de outros estudos [28, 30-32], mostram que nos AID ensaiados em

    trao aps hidrogenao por imposio de corrente catdica, tanto o limite de

    escoamento quanto a tenso de ruptura no sofreram alteraes. Em alguns casos

    ocorre at mesmo um leve acrscimo dessas variveis. Porm, a ductilidade

    significativamente afetada pela presena de hidrognio.

    A probabilidade de falha associada a este fenmeno depende da

    disponibilidade do hidrognio no metal. Vrios fatores podem influenciar esta

    disponibilidade em equipamentos protegidos catodicamente em gua do mar [2]:

    Potencial de proteo catdica quanto menor o sobrepotencial negativo

    imposto, maior ser a densidade de corrente resultando em uma maior

    quantidade de hidrognio formado na superfcie;

    Temperatura superficial do equipamento maior temperatura, mais eficiente

    ser a difuso de hidrognio;

    Presso hidrosttica um aumento na profundidade gerar a necessidade de

    aumento na densidade de corrente catdica para a proteo efetiva;

    Carregamentos favorecem a formao destios preferenciais de hidrognio,

    bem como a expanso dos mesmos presentes anteriormente ao carregamento;

    Tipo de material a fragilizao ser dependente da microestrutura domaterial, influenciando a solubilidade e difuso do hidrognio na rede cristalina;

    Resistncia ao escoamento quanto maior a resistncia do material, maior a

    susceptibilidade a fragilizao por hidrognio;

    Em seus resultados, HADAM et al. [33] evidenciam atravs de testes de

    permeao e dessoro eletroqumica de hidrognio em liga de ferro e ao alto

    carbono, que a quantidade de hidrognio presente nos materiais crescia medida que

    aumentava a deformao imposta aos mesmos. A quantidade de hidrognio difusvel

    na rede cristalina foi constante, independente da deformao (ou tenso). O aumentona quantidade de hidrognio nos materiais provocado pelo aprisionamento do

    hidrognio, principalmente devido ao aumento da capacidade dos aprisionadores

    originais, quando carregados abaixo do limite de escoamento, e s novas

    discordncias geradas durante a deformao plstica.

    Podemos citar como principais aprisionadores de hidrognio, sem levar em

    considerao os efeitos da austenita, nos aos AID: discordncias, incluses no

    metlicas e contornos de gro ferrita-austenita [33, 34].

    Vrios autores [28, 30, 32, 35] mostram que AIDs que sofreram trabalho a frio

    antes de serem hidrogenados apresentam uma perda de ductilidade durante o ensaio

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    de trao, muito mais acentuando em relao aos materiais no deformados

    previamente. As perdas de propriedades mecnicas se tornavam mais significativas

    medida que uma maior deformao por trabalho a frio fosse imposta.

    Requisitos microestruturais dos AID tambm devem ser avaliados quanto ao risco

    de HISC. As trincas devidas a este fenmeno de falha comumente propagam-se pelo

    mecanismo frgil de clivagem, atravs da fase ferrtica. Estas trincas podem ser

    imobilizadas ou propagadas atravs da fase austentica dependendo do tamanho da

    trinca, nvel de tenses aplicadas e morfologia da austenita, como citado

    anteriormente.

    A iniciao da trinca comea com a formao de poros e vazios de hidrognio,

    tanto entre os contornos de gros ferrticos, como entre os contornos de gros

    austentos e ferrticos, dependendo da liga. Este um processo governado pela

    difuso de hidrognio. Devido desordem cristalina nos contornos de fase, os tomos

    de hidrognio difundido podem facilmente se acumular neste local, formando um poro

    ou vazio. Acrescentando-se o efeito das concentraes de tenses locais, o acmulo

    de hidrognio intensifica-se. Quando a presso hidrosttica ou a concentrao de

    tenses nos vazios atinge um valor crtico, esse pode desenvolver uma pequena trinca

    [10].

    Figura30(a) Iniciao de trinca no AISD SAF 2507 durante ensaio de HISC, comporos nos contornos de gros ferrticos. (b) Iniciao de trinca no AISD SAF 2906

    durante ensaio de HISC, poros e pequenas trincas nos contornos ferrtcos-austenticos[10].

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    2.4.5. Lei de Faraday

    A primeira Lei de Faraday postula que, durante uma eletrlise, a massa de

    substncia liberada em um eletrodo proporcional quantidade de corrente eltrica

    imposta. Pela segunda lei, a massa da substncia liberada em um eletrodo, para certa

    quantidade de corrente, proporcional a massa atmica do elemento dividida por sua

    valncia. Essas duas leis permitem calcular a massa de um certo elemento liberado

    durante uma eletrlise [36].

    (Eq. 11)

    Onde MA a massa atmica, i a intensidade de corrente que circula, t o tempo deeletrolise em segundos, v a valncia do elemento, F a constante de Faraday

    equivalente a 96.500 C.

    Neste caso, tanto a massa atmica quanto a valncia do hidrognio so

    unitrias. Portanto, a quantidade de massa de hidrognio formada durante a eletrlise

    ser somente proporcional a corrente eltrica.

    (Eq. 12)

    A Equao 11 nos revela a quantidade de hidrognio em unidade de mols

    formado durante a eletrlise. Se utilizarmos a densidade de corrente eltrica ao invs

    da corrente eltrica obteremos o resultado em mols/m2

    (Eq. 13)

    OndeA a rea do eletrodo imerso na soluo.

    Ao multiplicar o denominador da Equao 13 pela espessura l do tubo

    podemos calcular a quantidade de hidrognio formada em mols/m3.

    (Eq. 14)

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    2.5. Principais Aplicaes dos AID

    Devido a sua excelente capacidade de combinar boas propridades tanto do

    ponto de vista mecnico quanto corrosivo, os AID tornam-se bastantes atrativos para

    vrios ramos da indstria que trabalham em ambientes severos e temperaturas de

    operaes to elevadas quanto 200 C.

    Os AID e AISD foram desenvolvidos para atender s necessidades das

    indstrias qumica, petroqumica, de papel, alimentcia, farmacutica, e principalmente,

    offshore, que necessitam de materiais mais resistentes que os aos inoxidveis

    comuns, tanto aos meios corrosivos e s altas presses. Em particular, para a

    indstria de petrleo e gs , o AID e AISD comumente usado em ambientes aquosos

    e contendo cloretos, como a gua do mar, em alternativa aos AIA que sofrem com a

    corroso sob tenso.

    Vrios documentos emitidos por companhias de leo e gs sublinham o

    comportamento muito satisfatrio dos AID, que tm sido experimentados por mais de

    25 anos em um grande conjunto de aplicaes, como, top side, tubulaes

    submarinas, coletores, umbilicais, componentes em poos, sistemas de combate a

    incndio, bombas, etc.

    Esses materiais so amplamente utilizados em aplicaes martimas,

    principalmente no processo de extrao de petrleo nas plataformas offshorefixas ou

    flutuantes.

    2.6. Condies de trabalho na IndstriaOffshoredos AID

    Devido ao processo de extrao ser realizado em guas profundas, cerca de

    1500 metros de lmina dgua e, alm disso, pelo fato do lenol petrolfero localizar-se

    a aproximadamente 1200 metros abai