Upload
duongkien
View
212
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
+ QUÍMICA DIGITAL 136
CAPÍTULO 3
OBJECTIVOS E METODOLOGIAS DA INVESTIGAÇÃO
1. Fundamentação da investigação
2. Identificação do objecto
3. Objectivos da investigação
4. Características da investigação qualitativa em educação
5. Estudo de Caso
6. Instrumentos de recolha de dados
6.1. Notas de campo
6.2. Entrevista
6.3. Questionário
+ QUÍMICA DIGITAL 137
Os aspectos versados neste trabalho são algo ousados, no que concerne à
extensão dos assuntos e à produção de recursos digitais. Nesse sentido, privilegiando
aqueles recursos, não fomos deliberadamente exaustivos no enquadramento
metodológico, pese embora a necessária contextualização dos objectivos e das
abordagens efectuadas, que apresentaremos ao longo deste capítulo
(ver secções 3, 4 e 5).
1. FUNDAMENTAÇÃO DA INVESTIGAÇÃO
Pretendeu‐se no âmbito do nosso curso de mestrado realizar uma investigação
que abarcasse o que para nós, enquanto professores, é fundamental para as nossas
aulas: melhorar e enriquecer a nossa prática lectiva. Os alunos merecem toda a nossa
disposição para lhes proporcionar um ensino interessante, desafiante e actualizado, que
aposta no seu sucesso.
Aprender não é o resultado do desenvolvimento, aprender é desenvolvimento.
A escola, enquanto estrutura educativa, não pode ficar indiferente à evolução
tecnológica que o mundo atravessa. Assim, deverá criar espaços para que os alunos
coloquem as suas próprias questões, façam a gestão das suas hipóteses e modelos e
testem a sua validade. Os recursos “+ Química Digital” (de que se falará em mais
pormenor no capítulo 4) poderão ter um papel importante para motivar os alunos para a
Ciência, usando ferramentas pelas quais a geração mais jovem se sente bastante
atraída.
Pretende‐se com esta investigação dar o nosso contributo para incentivar os
professores de Ciências Físico‐Químicas a utilizarem software educativo nas suas aulas e
promover o sucesso dos seus alunos.
2. IDENTIFICAÇÃO DO OBJECTO
No que diz respeito ao objecto do estudo, isto é, o ensino das Ciências Físico‐
Químicas, defendem‐se aqui a concepção e aplicação de um conjunto de recursos
digitais como uma alternativa válida e prática para o ensino desta Ciência.
Atenderam‐se a vários aspectos (que se descreverá detalhadamente nas secções
3, 4 e 5 do capítulo 4) inerentes à concepção dos recursos “+ Química Digital” e à sua
+ QUÍMICA DIGITAL 138
utilização no espaço sala de aula e fora desta, de modo a perceber se proporciona uma
aprendizagem com sucesso nas Ciências Físico‐Químicas no 7º ano de escolaridade.
3. OBJECTIVOS DA INVESTIGAÇÃO
O objectivo central da investigação que se apresenta foi produzir e validar novos
recursos digitais capazes de constituir uma oferta com qualidade científica, pedagógica,
técnica e estética utilizáveis por professores e alunos na disciplina de Ciências Físico‐
Químicas, no âmbito do ensino e da aprendizagem do tema Terra em Transformação, no
3º ciclo do Ensino Básico.
De forma mais detalha, pode dizer‐se que os objectivos parcelares que
nortearam a nossa investigação foram os seguintes:
§ Fundamentar a pertinência da construção de recursos digitais,
como uma ferramenta educativa válida para o desenvolvimento de
actividades de aprendizagem nas aulas de Ciências Físico‐
Químicas;
§ Identificar diferentes aspectos a ter em conta quando se pretende
construir recursos digitais para o ensino desta Ciência;
§ Promover a literacia científica e digital, fornecendo um conjunto
de recursos científico‐pedagógicos, acompanhados de sugestões de
utilização e exploração;
§ Perceber se os recursos digitais desenvolvidos satisfazem as
funções para as quais foram concebidos;
§ Fazer a experiência de utilização dos recursos produzidos com
alunos do 7º ano de escolaridade e avaliar o seu impacto;
§ Recolher a opinião dos alunos sobre os recursos digitais
desenvolvidos e a sua utilização nas aulas de Ciências Físico‐
Químicas;
§ Incentivar os professores a usarem, de forma integrada e
enriquecedora, recursos digitais nas suas aulas;
§ Divulgar a Química e a cultura científica, contribuindo para o
crescimento em quantidade e qualidade dos recursos digitais
científico‐pedagógicos de Química em língua portuguesa à
+ QUÍMICA DIGITAL 139
disposição dos alunos, professores e demais intervenientes no
processo educativo.
De modo a atingir os objectivos referidos anteriormente, colocaram‐se as
seguintes questões de investigação:
§ Será que a utilização dos recursos “+ Química Digital” leva os
alunos a aprender melhor Química?
§ Poderão os recursos “+ Química Digital” contribuir para que os
alunos gostem mais de Química?
Para permitir dar uma resposta às questões de investigação apresentadas
procedeu‐se a um estudo de impacto com uma abordagem essencialmente qualitativa.
No futuro terá todo o interesse proceder‐se também a uma investigação quantitativa
tendo em conta as questões de investigação apresentadas. Contudo, considerou‐se que
esta metodologia seria a mais indicada para esta fase do estudo.
Veremos de seguida as principais características de uma investigação de cariz
qualitativo.
4. CARACTERÍSTICAS DA INVESTIGAÇÃO QUALITATIVA EM EDUCAÇÃO
Utiliza‐se a expressão “investigação qualitativa” como um termo genérico que
agrupa diversas estratégias de investigação que partilham determinadas características.
Os dados recolhidos são designados por qualitativos, o que significa ricos em pormenores
descritivos relativamente a pessoas, locais, e conversas. As questões a investigar não se
estabelecem mediante a operacionalização de variáveis, são formuladas com o
objectivo de investigar os fenómenos em toda a sua complexidade e em contexto
natural.
As estratégias mais representativas da investigação qualitativa são a observação
participante e a entrevista em profundidade.
O investigador introduz‐se no mundo das pessoas que pretende estudar, tenta
conhecê‐las, dar‐se a conhecer e ganhar a sua confiança, elaborando um registo escrito
e sistemático de tudo aquilo que ouve e observa. O material assim recolhido é
complementado com outro tipo de dados, como os obtidos através da realização de
+ QUÍMICA DIGITAL 140
entrevistas (veremos na secção 6 deste capítulo as características dos instrumentos
usados na realização da investigação que integra este trabalho).
Tal como a definimos, a investigação qualitativa possui cinco características
essenciais (BOGDAN et al,1994):
Tabela 3.1 − Características essenciais da investigação qualitativa
Características essenciais da investigação qualitativa
1. Na investigação qualitativa a fonte directa de dados é o ambiente natural, sendo o
investigador o instrumento principal – quer os dados sejam recolhidos sobre interacções
na sala de aula, utilizando equipamento vídeo (FLORIO, 1978; MEHAN, 1979), sobre
educação científica, recorrendo à entrevista (DENNY, 1978), ou ainda sobre a
desagregação, mediante observação participante (METZ, 1978), os investigadores
qualitativos assumem que o comportamento humano é significativamente influenciado pelo
contexto em que ocorre, deslocando‐se, sempre que possível, ao local de estudo.
2. A investigação qualitativa é descritiva – os dados recolhidos são em forma de palavras ou
imagens e não de números. Os resultados escritos da investigação contêm citações feitas com
base nos dados para ilustrar e substanciar a apresentação. A sua primeira preocupação é
descrever e só secundariamente analisar os dados.
3. Os investigadores qualitativos interessam‐se mais pelo processo do que simplesmente
pelos resultados ou produtos – este tipo de estudo foca‐se no modo como as definições (as
definições que os professores têm dos alunos, as definições que os alunos têm de si próprios e
dos outros) se formam.
4. Os investigadores qualitativos tendem a analisar os seus dados de forma indutiva – não
recolhem dados ou provas com o objectivo de confirmar ou infirmar hipóteses construídas
previamente; ao invés disso, as abstracções são construídas à medida que os dados
particulares que foram recolhidos se vão agrupando. Os dados são analisados indutivamente,
como se se reunissem em conjunto todas as partes de um puzzle;
5. O significado é de importância vital na abordagem qualitativa – os investigadores
qualitativos em educação estão continuamente a questionar os sujeitos de investigação, com
o objectivo de perceber “aquilo que eles experimentam, o modo como eles interpretam as
suas experiências e o modo como eles próprios estruturam o mundo social em que vivem”
(PSATHAS, 1973). A preocupação reside essencialmente ao significado das coisas, ou seja, ao
“porquê” e ao “o quê”.
+ QUÍMICA DIGITAL 141
Vejamos de seguida algumas concepções teóricas sobre o Estudo de Caso, nas
suas diferentes perspectivas: situações em que se aplica, objectivos a que se propõe,
tipos de estudos, metodologia de trabalho e problemas relacionados com a validade das
suas conclusões.
5. ESTUDO DE CASO
O Estudo de Caso é uma metodologia de investigação científica de cariz
qualitativo. A crescente importância das metodologias qualitativas na investigação
cientifica, nomeadamente na área da Educação em Ciências, deve‐se, por um lado, a
uma certa desvalorização da investigação desenvolvida à luz do paradigma positivista,
e, por outro, à necessidade de desenvolver novas abordagens metodológicas que
permitam dar resposta a problemáticas emergentes.
A característica que melhor distingue esta metodologia é o facto de ser um plano
de investigação que se concentra no estudo pormenorizado e aprofundado, de uma
entidade bem definida – o “caso”, no seu contexto natural.
Um “caso” pode ser quase tudo: um indivíduo, um pequeno grupo, uma
organização, uma comunidade, um processo, um incidente ou acontecimento
imprevisto, etc. Obedecendo a uma perspectiva da pesquisa holística (sistémica, ampla,
integrada), o Estudo de Caso tem como objectivo compreender o “caso” no seu todo e
na sua unicidade.
Dada a sua natureza qualitativa, são compreensíveis as diferentes
conceptualizações que se encontram na literatura da especialidade. Vejamos apenas
alguns exemplos das definições fornecidas por alguns autores de referência:
§ “O Estudo de Caso é uma investigação empírica que investiga um
fenómeno no seu ambiente natural, quando as fronteiras entre o
fenómeno e o contexto não são bem definidas (...) em que múltiplas
fontes de evidência são usadas” (YIN, 1994).
§ “O Estudo de Caso é a exploração de um “sistema limitado”, no tempo e
em profundidade, através de uma recolha de dados profunda envolvendo
fontes múltiplas de informação ricas no contexto” (CRESWELL, 1994).
§ “É a estratégia de investigação mais adequada quando queremos saber o
“como” e o “porquê” de acontecimentos actuais sobre os quais o
investigador tem pouco ou nenhum controlo” (YIN, 1994).
+ QUÍMICA DIGITAL 142
O Estudo de Caso é uma investigação empírica (YIN, 1994) que se baseia no
raciocínio indutivo (BRAVO et al, 1998; GOMEZ et al, 1996) que depende fortemente do
trabalho de campo (PUNCH, 1998) e que se baseia em fontes de dados múltiplas e
variadas (YIN, 1994).
O plano geral de um Estudo de Caso pode ser representado como um funil. Num
estudo qualitativo, o tipo adequado de perguntas nunca é muito específico.
O início do estudo é representado pela extremidade mais larga do funil: os
investigadores procuram locais ou pessoas que possam ser objecto do estudo ou fontes
de dados e, ao encontrar aquilo que pensam interessar‐lhes, organizam então uma
malha larga, tentando avaliar o interesse do terreno ou das fontes de dados para os seus
objectivos. Começam pela recolha de dados, revendo‐os e explorando‐os, e vão
tomando decisões acerca do objectivo do trabalho. De uma fase de exploração alargada
passam para uma área mais restrita de análise dos dados recolhidos (tabela 3.2).
Tabela 3.2 − Etapas de um Estudo de Caso
Etapas de um Estudo de Caso
§ Definir o problema da investigação (que pode nascer a partir da experiência do investigador,
de situações da sua vida prática, de questões sociais e/ou políticas ou até a partir da
revisão de literatura);
§ Recolher dados;
§ Analisar os dados;
§ Formular conclusões.
O Estudo de Caso pode ser igualmente uma modalidade de investigação mista.
Por vezes, e de forma a proporcionar uma melhor compreensão sobre o caso a estudar,
combinam‐se métodos quantitativos e qualitativos.
Objectivos do Estudo de Caso
Para YIN (1994) o Estudo de Caso pode ser conduzido para um dos três propósitos
básicos: explorar, descrever e explicar. BOGDAN et al (1994) sublinham a importância do
enfoque na análise dos processos em vez dos resultados. Numa tentativa de síntese
GOMEZ et al (1996) concluem que, bem vistas as coisas, os objectivos que orientam um
Estudo de Caso podem ser em tudo coincidentes com os da investigação educativa em
geral: “explorar, descrever, explicar, avaliar e/ou transformar”
+ QUÍMICA DIGITAL 143
Tipos de Estudo de Caso
Existem várias propostas de tipificação dos Estudos de Caso. Vamos apenas expor
o da autoria de STAKE (1995), referência clássica na literatura da especialidade, que faz
alusão a três tipos de Estudo de Caso:
1. Estudo de Caso intrínseco – quando o investigador pretende uma melhor
compreensão de um caso particular que contém em si mesmo o interesse da
investigação;
2. Estudo de Caso instrumental – quando um caso é examinado para fornecer
introspecção sobre um assunto, para refinar uma teoria, para proporcionar
conhecimento sobre algo que não é exclusivamente o caso em si; o estudo do
caso funciona como um instrumento para compreender outro(s)
fenómeno(s);
3. Estudo de Caso colectivo – quando o caso instrumental se estende a vários
casos, para possibilitar, pela comparação, conhecimento mais profundo sobre
o fenómeno, população ou condição.
Preparação e condução do Estudo de Caso
Na preparação do estudo deve‐se ter em conta os seguintes aspectos
(YIN, 1994):
§ O know‐how e capacidades do investigador;
§ O seu treino;
§ A preparação para a realização do Estudo de Caso;
§ O desenvolvimento de um protocolo e a condução de um estudo piloto.
Para a condução do Estudo de Caso, é de sublinhar a importância das fontes de
recolha dos dados: análise documental, as entrevistas, a observação e os artefactos
físicos.
Credibilidade do método
Em qualquer tipo de investigação científica, é necessário definir critérios para
aferir a sua credibilidade. A credibilidade é um conceito genérico, mas encerra em si os
+ QUÍMICA DIGITAL 144
três critérios “clássicos” de aferição da qualidade de um trabalho de investigação, que
também devem ser satisfeitos no Estudo de Caso.
São eles:
1. A validade interna – estabelece o relacionamento causal que explica que
determinadas condições levam a outras situações. A coerência interna entre
as proposições iniciais, desenvolvimento e resultados encontrados deve ser
testada. Na validade interna está em causa a legitimidade das conclusões
(BRUYNE et al, 1991).
2. A validade externa – estabelece o domínio sobre o qual as descobertas
podem ser generalizadas. A coerência entre os resultados do estudo e os
resultados de outras investigações semelhantes deve ser testada. Está em
causa a generalização das conclusões (BRUYNE et al, 1991).
3. A fiabilidade que está directamente relacionada com a possibilidade de
replicabilidade do processo de recolha e análise de dados;
A utilização da metodologia de Estudo de Caso permite que o investigador
observe, entenda, analise e descreva uma determinada situação real, adquirindo
conhecimento e experiência que podem ser úteis na tomada de decisão frente a outras
situações.
É um método de investigação no qual o investigador tem um grande
envolvimento nas suas diferentes etapas, desde a recolha de informações até à
formulação de conclusões.
Nesta investigação em particular pode dizer‐se, de forma mais precisa, que se
realizou um estudo de impacto uma vez que a amostra usada não constitui em si um
“caso” particular, pois não apresenta nenhuma característica específica além das
particularidades próprias de cada aluno que a constitui.
+ QUÍMICA DIGITAL 145
6. INSTRUMENTOS USADOS NA INVESTIGAÇÃO
6.1. Notas de campo
O investigador registará ideias, estratégias, reflexões e palpites, bem como os
padrões que vão emergindo no decorrer da sua observação. Isto são as notas de campo:
o relato escrito daquilo que o investigador ouve, vê, experiencia e pensa no decurso da
recolha, assim como a reflexão sobre os dados de um estudo qualitativo.
As notas de campo são fundamentais para a observação participante, e
constituem em si um suplemento importante a outros métodos de recolha de dados.
Tal como a definição apresentada sugere, as notas de campo consistem em dois
tipos de materiais:
§ A parte descritiva das notas de campo – em que a preocupação é a de
captar uma imagem por palavras, do local, de pessoas, de acções e
conversas observadas, etc. Esta é a parte mais extensa, representa o
melhor esforço do investigador para registar objectivamente os detalhes
do que ocorreu no campo. Consciente de que qualquer descrição até um
certo grau representa escolhas e juízos ‐ decisões acerca do que anotar,
sobre a utilização exacta de palavras ‐ o investigador qualitativo em
educação procura ser preciso dentro destes limites. Sabendo que o meio
nunca pode ser completamente capturado, o investigador procura
transmitir o máximo possível para o papel, dentro dos parâmetros dos
objectivos do projecto.
§ A parte reflexiva das notas de campo – juntamente com o material
descrito, as notas de campo incluem frases e parágrafos que reflectem
um relato mais pessoal por parte do investigador. A ênfase é colocada na
especulação, sentimentos, problemas, ideias, palpites, impressões e
preconceitos. Também se inclui aqui o material em que o investigador faz
planos para investigação futura bem como classificações e correcções dos
erros e incompreensões das suas notas de campo. Espera‐se que o
investigador deixe sair tudo: confesse os seus erros, as suas
inadequações, aos seus preconceitos, os seus gostos e aversões. Especule
acerca daquilo que pensa que está a aprender, aquilo que vai fazer a
+ QUÍMICA DIGITAL 146
seguir, e qual será o resultado do estudo que está a empreender. O
objectivo de toda esta reflexão é melhorar as notas registadas. A parte
reflexiva das notas de campo insiste que a investigação, como todo o
comportamento humano, é um processo subjectivo.
Na secção 2.3 do capítulo 5 encontram‐se algumas notas de campo que traduzem
observações efectuadas no decorrer do estudo realizado.
6.2. Entrevista
A entrevista é uma forma de comunicação entre duas pessoas iniciada pelo
entrevistador, com o objectivo específico de obter informação relevante. Esta
metodologia de investigação permite descobrir as causas de algumas dificuldades,
determinar pontos de vista, valores, preferências e crenças. Pode ser usada para testar
hipóteses existentes ou para sugerir novas hipóteses e constitui o principal meio ou
procedimento para a recolha de dados e de informações na pesquisa qualitativa.
Vantagens da entrevista como instrumento de investigação
A entrevista como metodologia de investigação apresenta algumas vantagens
relativamente a outras formas de investigação (tabela 3.3).
Tabela 3.3 − Vantagens da entrevista como instrumento de investigação
Vantagens da entrevista
§ Possibilita uma relação interactiva entre o entrevistador e o entrevistado, criando uma
atmosfera de influência recíproca entre quem pergunta e quem responde
(LUDKE et al, 1986);
§ Permite captar, de forma imediata, a informação desejada e efectuar correcções,
esclarecimentos de questões ou dúvidas e adaptações em tempo útil;
§ Apresenta uma vasta aplicabilidade, podendo ser utilizada com qualquer pessoa e sobre
qualquer assunto;
§ É possível registar observações sobre o comportamento e sobre as atitudes do entrevistado
no decorrer da entrevista;
§ A entrevista não é apenas um método de recolha de dados, mas também um processo de
ensino‐aprendizagem para os alunos, de modo mais ao menos consciente, pois poderá
constituir uma forma de compreender melhor uma dada situação
(ALTRICHETER et al, 1993).
+ QUÍMICA DIGITAL 147
Limitações da entrevista como instrumento de investigação
No entanto, tal como qualquer outra metodologia de investigação, a entrevista
também apresenta algumas limitações (tabela 3.4).
Tabela 3.4 − Limitações da entrevista como instrumento de investigação
Limitações da entrevista
§ A interacção directa com entrevistado conduz a alguma subjectividade e parcialidade por
parte do entrevistador (COHEN et al, 1994);
§ As eventuais ideias pré‐concebidas do entrevistador podem condicionar a análise dos
resultados da entrevista;
§ É restrita a pequenos universos;
§ É dispendiosa em termos de tempo (LUDKE et al, 1986);
§ O entrevistado, dependendo do grau de liberdade concedido pelo entrevistador, pode
distorcer as respostas exagerando ou salientando aspectos menos importantes ou omitindo
factos;
§ É uma metodologia que depende em grande parte das qualidades e habilidades do
entrevistador.
Tipos de entrevistas
De acordo com as múltiplas situações em que podem ocorrer, as entrevistas
assumem diversos formatos de modo a adequar‐se convenientemente às contingências
do ambiente e aos objectivos que o investigador se propõe atingir. Assim, em função do
grau de sistematização, as entrevistas podem ser de três tipos (tabela 3.5):
Tabela 3.5 − Tipos de entrevistas
Tipos de entrevistas
Estr
utur
adas
§ Os conteúdos e os procedimentos são organizados com
antecedência, isto é, desenvolve‐se a partir de um conjunto fixo e
estruturado de perguntas precisas cuja ordem e redacção
permanece a mesma para todos os entrevistados. Apresentam
perguntas pré‐formuladas com respostas fechadas como se de um
questionário falado se tratasse. A entrevista estruturada apresenta,
contudo, algumas limitações, tais como a não abordagem de
conceitos relevantes não previstos pelo entrevistador e uma fraca
compreensão do conhecimento processual do entrevistado.
+ QUÍMICA DIGITAL 148
Tipos de entrevistas
Não
est
rutu
rada
s § Este tipo de entrevista fornece uma compreensão geral do problema,
auxilia na identificação de conceitos e objectivos e fornece as
condições necessárias para compreender os métodos adequados à
resolução de determinados problemas. Contudo, as informações que
se obtêm são, na sua maioria, fragmentadas e pobres em detalhes.
Baseiam‐se na conversação do dia‐a‐dia, sem perguntas directas e
sempre que a oportunidade aparece o entrevistador investiga um
determinado tema de interesse, para extrair factos e opiniões.
Sem
i‐es
trut
urad
as
§ Apresentam perguntas previamente formuladas, suficientemente
abertas e cuja ordem poderia, eventualmente, ser alterada de
acordo com a sequência da entrevista, nomeadamente tendo em
conta as respostas dos entrevistados. Assim, o entrevistador vai
seguindo as respostas dos entrevistados, podendo surgir aspectos não
considerados à partida. O entrevistador pode também clarificar o
sentido das respostas dadas pelo entrevistado ou colocar questões
não consideradas previamente. Os objectivos da entrevista estão
sempre presentes, pelo que, no caso da totalidade dos conteúdos
não surgirem naturalmente durante a mesma, o entrevistador poderá
colocar questões no sentido de estes serem abordados.
A escolha do tipo de entrevista depende da questão de investigação. Contudo,
atendendo ao exposto na tabela 3.5, é compreensível o crescente uso das entrevistas
semi‐estruturadas como ferramenta de recolha de dados em investigação em educação,
já que combina algumas das principais vantagens das entrevistas estruturadas e das
entrevistas não estruturadas.
Também neste trabalho se utilizou a entrevista semi‐estruturada. Considerou‐se
que desta forma é possível avaliar o impacto do conjunto de recursos digitais
desenvolvidos – “+ Química Digital”. Pretendeu‐se recolher opiniões, perceber se os
alunos se sentem mais motivados para o estudo da Química, gostando mais desta
Ciência e aprendendo melhor, assim como, obter sugestões de reformulação do
conjunto de recursos digitais desenvolvidos.
O pressuposto fundamental da aplicação da entrevista no ensino, é de que o acto
de ensinar comporta e reivindica tanto um processo de diálogo quanto um processo de
investigação e pesquisa. Isto é, o ambiente da sala de aula e os conteúdos
programáticos da disciplina fornecem as pistas necessárias para o desenvolvimento de
+ QUÍMICA DIGITAL 149
um processo mínimo de ordenação, sistematização, reflexão, captação, crítica,
discussão e conclusão por parte do aluno, o qual pode ser operacionalizado e
estabelecido na direcção da realização da entrevista (ALTRICHETER et al,1993).
Na entrevista, o investigador é necessariamente envolvido na vida dos alunos
visto que os seus procedimentos de investigação se baseiam em conversar, ouvir e
permitir a sua expressão livre. Tais procedimentos acabam por resultar num certo clima
de informalidade e o simples facto dos alunos poderem falar livremente a respeito de
um tema sem que lhes tenham sido impostas questões fechadas, colabora para diminuir
o distanciamento entre o investigador e o investigado e influencia positivamente na
obtenção de informação. Contudo, esta proximidade exige que o investigador tenha
sempre presente o sentido inicial da pesquisa para que consiga conduzir os encontros
com os entrevistados no sentido dos objectivos da entrevista.
Entrevista – planeamento, realização e análise de dados
Como qualquer outra etapa de uma investigação, a entrevista exige um
planeamento cuidadoso, do qual devem constar a definição de objectivos, a construção
de um guião e a escolha dos entrevistados.
O planeamento de uma entrevista deve iniciar‐se com a definição clara dos
objectivos de pesquisa, ou seja, com o esboço da base teórica do estudo. De seguida,
partindo dos objectivos gerais da pesquisa, devem enumeram‐se objectivos mais
detalhados e específicos. Esta etapa reveste‐se de elevada importância, uma vez que
apenas uma formulação cuidadosa dos objectivos poderá produzir o tipo adequado de
dados necessários para uma resposta satisfatória à pergunta de partida.
Após esta etapa deve seguir‐se a planificação da entrevista propriamente dita,
ao longo da qual se formulam as questões que constituirão o corpo da entrevista.
As questões formuladas devem expressar, de uma forma clara e adequada, aquilo
que o investigador pretende averiguar, sendo aconselhável dedicar alguma atenção ao
formato das questões e ao modo de resposta. A selecção do formato das questões
depende de diversos factores, tais como: o objectivo da entrevista; a natureza do
conteúdo; o nível de especificidade ou de profundidade pretendido; o tipo de
informação que o entrevistador espera obter; a necessidade de a sua reflexão ser ou
não estruturada; a avaliação do nível de motivação; a extensão do conhecimento
profundo da situação do entrevistado, por parte do entrevistador; entre outros.
Saliente‐se ainda que o guião preparado para a entrevista pode incluir diferentes
formatos de questões e diferentes modos de resposta.
+ QUÍMICA DIGITAL 150
A etapa seguinte da preparação de uma entrevista, após a escolha dos
entrevistados, deve consistir na sua realização propriamente dita.
Uma vez realizada a entrevista, é sempre útil para o entrevistador registar as
observações sobre o comportamento verbal e não verbal do entrevistado, bem como o
ambiente em que a mesma decorreu. Tal registo permitirá levantar hipóteses mais
seguras sobre a autenticidade das respostas obtidas e sobre o grau de liberdade com
que estas foram dadas.
Posteriormente, o entrevistador deve analisar os dados obtidos na entrevista com
o intuito de os interpretar.
A título de síntese, pode afirmar‐se que para o correcto emprego desta
metodologia de investigação é necessário que o investigador tenha em conta três
momentos: antes, durante e depois da entrevista.
Credibilidade da entrevista
A análise de dados subjectivos como os da entrevista é muitas vezes percebida
como problemática, trabalhosa e o investigador deve estar atento, a ponto de poder
criticar a possibilidade de parcialidade que pode comprometer a validade do estudo.
Qualquer que seja o tipo de pesquisa e sua dimensão, as conclusões e generalizações
que dela se podem extrair estão sempre condicionadas em termos de validade, quer
interna quer externa (COHEN et al, 1994).
Neste estudo a validade interna está relacionada com o facto de se averiguar se
os resultados obtidos são atribuíveis ao efeito da utilização do conjunto de recursos
digitais desenvolvidos.
A forma de aumentar a validade externa do estudo na entrevista é diminuindo as
fontes de subjectividade e parcialidade. As principais fontes são: as características do
entrevistador e do entrevistado; o conteúdo das questões; as atitudes e opiniões do
entrevistado; a tendência do entrevistador procurar respostas que vão ao encontro das
suas noções pré‐concebidas e a incompreensão por parte do entrevistador pelo o que é
respondido e por parte do entrevistado em relação ao que é questionado.
No anexo I encontram‐se o guião da entrevista utilizada no estudo e a transcrição
das entrevistas realizadas, que, por sua vez, estão disponíveis em
http://nautilus.fis.uc.pt/cec/teses/carlam.
+ QUÍMICA DIGITAL 151
6.3. Questionário
Embora nem todos os projectos de pesquisa utilizem o questionário como
instrumento de recolha e avaliação de dados, este é muito importante na pesquisa
científica, especialmente nas Ciências da Educação.
Um questionário é um instrumento de investigação que visa recolher informações
baseando‐se, geralmente, na inquisição de um grupo representativo da população em
estudo. Para tal, coloca‐se uma série de questões que abrangem um tema de interesse
para os investigadores, não havendo interacção directa entre estes e os inquiridos.
A importância dos questionários passa também pela facilidade com que se
interroga um elevado número de pessoas, num espaço de tempo relativamente curto.
Estes podem ser de natureza social, económica, familiar, profissional, relativos
às suas opiniões, à atitude em relação a opções ou a questões humanas e sociais, às suas
expectativas, ao seu nível de conhecimentos ou de consciência de um acontecimento ou
de um problema, etc.
Não existe um método‐padrão para se formular um questionário. Porém, existem
algumas recomendações, bem como factores a ter em conta relativamente a essa
importante tarefa num processo de pesquisa.
Tentaremos seguidamente discutir a construção de um questionário destacando
as tarefas e cuidados a serem tomados, dentro de uma sequência lógica, de modo a que
este instrumento tenha eficácia para a finalidade a que se destina.
Construção das questões
Sempre que um investigador elabora e administra um inquérito por questionário,
e não esquecendo a interacção indirecta que existe entre ele e os inquiridos, verifica‐se
que a linguagem e o tom das questões que constituem esse mesmo questionário, são de
elevada importância.
Assim, é necessário ser cuidadoso na forma como se formula as questões, bem
como na apresentação do questionário.
Na elaboração de um questionário é importante, antes de mais, ter em conta as
habilitações do público‐alvo a quem ele vai ser administrado. É de salientar que o
conjunto de questões deve ser muito bem organizado e conter uma forma lógica para o
inquirido, evitando formatos demasiado confusos e complexos, ou ainda questões
demasiado longas.
+ QUÍMICA DIGITAL 152
Deve, o investigador, ter o cuidado de não utilizar questões ambíguas que
possam, por isso, ter mais do que um significado, que por sua vez, levem a ter
diferentes interpretações. Não deve incluir duas questões numa só (double‐barrelled
questions), pois pode levar a respostas induzidas ou nem sempre relevantes, além de
não ser possível determinar qual das “questões” foi respondida, aquando o tratamento
da informação.
O investigador deve ainda evitar questões baseadas em pressuposições, pois
parte‐se do princípio que o inquirido encaixa numa determinada categoria e procura
informação baseada nesse pressuposto.
As questões devem ser reduzidas e adequadas à pesquisa em questão. Assim, elas
devem ser desenvolvidas tendo em conta três princípios básicos:
§ Princípios da clareza – as questões devem ser claras, concisas e unívocas;
§ Princípio da coerência – as questões devem corresponder à intenção da
própria pergunta;
§ Princípio da neutralidade – as questões não devem induzir uma dada
resposta mas sim libertar o inquirido do referencial de juízos de valor ou
do preconceito do próprio autor.
T ipos de questões
Existem dois tipos de questões:
§ As questões de resposta aberta – permitem ao inquirido construir a
resposta com as suas próprias palavras, permitindo deste modo a
liberdade de expressão;
§ As questões de resposta fechada – são aquelas nas quais o inquirido
apenas selecciona a opção (de entre as apresentadas), que mais se
adequa à sua opinião.
Também é usual aparecerem questões dos dois tipos no mesmo questionário,
sendo este considerado misto. Na tabela 3.6 podem encontrar‐se algumas vantagens e
desvantagens de cada um dos tipos de questões.
+ QUÍMICA DIGITAL 153
Tabela 3.6 − Vantagens e desvantagens dos diferentes tipos de questões.
Tipos de questões Vantagens Desvantagens
Res
post
a ab
erta
§ Preza o pensamento livre e a
originalidade;
§ Surgem respostas mais
variadas;
§ Respostas mais
representativas e fiéis da
opinião do inquirido;
§ O inquirido concentra‐se mais
sobre a questão;
§ Vantajoso para o
investigador, pois permite‐lhe
recolher variada informação
sobre o tema em questão.
§ Dificuldade em organizar e categorizar
as respostas;
§ Requer mais tempo para responder às
questões;
§ Muitas vezes a caligrafia é ilegível;
§ Em caso de baixo nível de instrução dos
inquiridos, as respostas podem não
representar a opinião real do próprio.
Res
post
a fe
chad
a
§ Rapidez e facilidade de
resposta;
§ Maior uniformidade, rapidez e
simplificação na análise das
respostas;
§ Facilita a categorização das
respostas para posterior análise;
§ Permite contextualizar melhor a
questão
§ Dificuldade em elaborar as respostas
possíveis a uma determinada questão;
§ Não estimula a originalidade e a
variedade de resposta;
§ Não preza uma elevada concentração do
inquirido sobre o assunto em questão;
§ O inquirido pode optar por uma resposta
que se aproxima mais da sua opinião não
sendo esta uma representação fiel da
realidade.
Tipos de questionários
A aplicação de um questionário permite recolher uma amostra dos
conhecimentos, atitudes, valores e comportamentos. Deste modo é importante ter em
conta o que se quer e como se vai avaliar, devendo haver rigor na selecção do tipo de
questionário a aplicar de modo a aumentar a credibilidade do mesmo.
Existem três tipos de questionários:
§ Questionário do tipo aberto – é aquele que utiliza questões de resposta
aberta. Este tipo de questionário proporciona respostas de maior
+ QUÍMICA DIGITAL 154
profundidade, ou seja dá ao sujeito uma maior liberdade de resposta,
podendo esta ser redigida pelo próprio. No entanto a interpretação e o
resumo deste tipo de questionário é mais difícil dado que se pode obter
um variado tipo de respostas, dependendo da pessoa que responde ao
questionário.
§ Questionário do tipo fechado – tem na sua construção questões de
resposta fechada, permitindo obter respostas que possibilitam a
comparação com outros instrumentos de recolha de dados. Este tipo de
questionário facilita o tratamento e análise da informação, exigindo
menos tempo. Por outro lado a aplicação deste tipo de questionários
pode não ser vantajoso, pois facilita a resposta para um sujeito que não
saberia ou que poderia ter dificuldade acrescida em responder a uma
determinada questão. Os questionários fechados são bastante objectivos
e requerem um menor esforço por parte dos sujeitos aos quais é aplicado.
§ Questionário do tipo misto – tal como o nome indica são questionários
que apresentam questões de diferentes tipos: resposta aberta e resposta
fechada.
Escala
Quando se aplica um questionário pretende‐se medir aspectos como atitudes ou
opiniões do público‐alvo, e tal só é possível com a utilização de escalas.
As escalas que se utilizam podem ser de quatro tipos, como indicado na tabela 3.7:
Tabela 3.7 − Tipos de escalas usadas em questionários
Tipos de escalas
Esca
la d
e Li
kert
§ Apresenta uma série de cinco proposições, das quais o inquirido deve seleccionar
uma, podendo estas ser: concorda totalmente, concorda, sem opinião, discorda,
discorda totalmente. É efectuada uma cotação das respostas que varia de modo
consecutivo: +2, +1, 0, ‐1, ‐2 ou utilizando pontuações de 1 a 5. É necessário ter
em atenção quando a proposição é negativa. Nestes casos a pontuação atribuída
deverá ser invertida.
+ QUÍMICA DIGITAL 155
Tipos de escalas V
AS
(Vis
ual A
nalo
gue
Scal
es)
§ É um tipo de escala que advém da escala de Likert apresentando os mesmos
objectivos mas um formato diferente. Este tipo de escala baseia‐se numa linha
horizontal com 10 cm de comprimento apresentando nas extremidades duas
proposições contrárias:
Útil Inútil
O inquirido deve responder à questão assinalando na linha a posição que
corresponde à sua opinião.
Esca
la
Num
éric
a
§ A Escala Numérica deriva da escala anterior na qual a linha se apresenta dividida
em intervalos regulares.
Esca
la G
uttm
an
§ Apresenta um conjunto de respostas que estão hierarquizadas. Deste modo se um
inquirido concordar com uma das opções está a concordar com todas as que se
encontram numa posição inferior na escala. Se o inquirido concordar com uma
opção mas não concordar com as anteriores, tal significará que a escala está mal
construída. A cada item é atribuído cotação que se inicia em zero caso não seja
escolhida nenhuma opção, um se for escolhida a primeira opção, dois se for
escolhida a segunda opção e assim sucessivamente. Este tipo de escala apresenta
diferenças relativamente às anteriores, pois pretende fazer uma apreciação
quantitativa relativamente à atitude do inquirido; as restantes escalas medem o
grau de concordância ou discordância relativamente às proposições de opinião.
Preparação do questionário
O investigador deve ter em consideração, e como ponto de partida, o tema em
estudo, o qual deve ser apresentado de uma forma clara e simplista, assim como a
disposição gráfica do questionário, qualidade e cor do papel, que devem ser, também
eles, adequados ao público‐alvo.
Deve ainda, o investigador, reduzir o número de folhas constituintes do
questionário, tanto quanto possível, uma vez que este facto pode, eventualmente,
provocar algum tipo de reacção prévia negativa por parte do inquirido.
Antes de administrar o questionário, o investigador deve proceder a uma revisão
gráfica pormenorizada daquele, de modo a evitar erros ortográficos, gramaticais ou de
sintaxe, que tanto pode provocar erros ou induções nas respostas dos inquiridos, como
pode fazer baixar a credibilidade do questionário por parte destes.
+ QUÍMICA DIGITAL 156
Vantagens e desvantagens de um inquérito por questionário
A escolha do questionário como instrumento de inquisição a um determinado
número de pessoas apresenta vantagens e desvantagens relativas à sua aplicação.
Na tabela 3.8 apresentam‐se algumas dessas vantagens:
Tabela 3.8 − Vantagens do questionário como instrumento de investigação
Vantagens do questionário
§ A aplicação de um inquérito por questionário possibilita uma maior sistematização dos
resultados fornecidos;
§ Permite uma maior facilidade de análise, bem como, reduz o tempo que é necessário
despender para recolher e analisar os dados;
§ Este método de inquirir apresenta ainda vantagens relacionadas com o custo, sendo este
menor.
Se por um lado a aplicação de questionários é vantajosa, esta aplicação
apresenta também desvantagens. Na tabela 3.9 apresentam‐se algumas dessas
desvantagens:
Tabela 3.9 − Desvantagens do questionário como instrumento de investigação
Desvantagens do questionário
§ Ao nível da dificuldade de concepção, pois é necessário ter em conta vários parâmetros
tais como: a quem se vai aplicar, o tipo de questões a incluir, o tipo de respostas que se
pretende e o tema abordado;
§ Os questionários fornecem respostas escritas a questões previamente fornecidas e como tal
existe uma elevada taxa de não‐respostas. Esta dependerá da clareza das perguntas,
natureza das pesquisas e das habilitações literárias dos inquiridos.
Na sequência do estudo realizado construiu‐se um questionário do tipo misto,
com questões de resposta aberta e resposta fechada, usando a escala de Likert.
Pretende‐se aplicar este questionário num projecto futuro envolvendo alguns
professores de Ciências Físico‐Químicas. (No capítulo 8 apresenta‐se em mais pormenor
os objectivos desse projecto).
Os instrumentos usados na investigação foram devidamente validados pelo
orientador da presente dissertação e por alguns professores de Ciências Físico‐Químicas.