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Caderno com ideias sobre o direito ao esoprte.
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CA ERN DE I EIA D O D SPara o debate dos adolescentes sobre o direito
ao esporte seguro e inclusivo e o legado social
dos megaeventos esportivos
CADERNO DE IDEIAS
Para o debate dos adolescentes sobre o direito
ao esporte seguro e inclusivo e o legado social
dos megaeventos esportivos
Este caderno de ideias foi elaborado para servir de
apoio aos adolescentes que discutem sobre o direito ao
esporte e o legado social dos megaeventos esportivos.
Seu objetivo é de apresentar algumas ideias centrais
para esse debate, ajudando a esclarecer conceitos
básicos sobre o esporte e a introduzir a reflexão sobre a
importância do esporte seguro e inclusivo na vida de
todos.
Boa leitura!!
O ESPORTE COMO UM
DIREITO HUMANO
O QUE É ESPORTE?
Para a Organização das Nações Unidas (ONU), o esporte é, antes de tudo,
um direito fundamental de todos os povos. Não se restringe a uma forma de
entretenimento ou de ganhar medalhas e marcar gols. O acesso e a
participação na área do esporte são direitos humanos essenciais para que
indivíduos de todas as idades possam ter uma vida saudável e gratificante.
O "esporte" abrange todas as formas de atividade física que contribuem
para a aptidão física, o bem-estar mental e interação social. Os esportes
incluem jogos, recreação organizada e casual, esporte competitivo,
esportes indígenas ou outras formas de jogos.
A história da civilização humana tem registros muito antigos de práticas
esportivas. Egípcios, assírios e babilônios praticavam suas lutas corpo a corpo
e com armas, buscando melhorar suas habilidades para a guerra. Entre os
povos antigos, o esporte era praticado como exercício militar, mas também
para cumprir finalidades religiosas. Há registros de eventos esportivos na
Mesopotâmia, que tornavam os vencedores das corridas grandes heróis,
com privilégios equivalentes aos de um rei. Nos torneios de cavaleiros na
Idade Média, os grandes encontros esportivos reuniam milhares de
participantes. Nos países do Oriente, como a China, o esporte é praticado
há milhares de anos.
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Porém, o que havia de mais parecido com o esporte que praticamos hoje
eram as práticas esportivas realizadas na Grécia Antiga. Naquele tempo, o
esporte era fator de cidadania, ainda que só uma elite privilegiada fosse
considerada cidadã. Todo o serviço pesado era realizado por escravos.
Homens livres faziam política, arte e esporte, entre outras atividades nobres;
os homens, não as mulheres. O esporte era levado tão a sério pelos
cidadãos, que todo um sistema de preparação física foi desenvolvido por
eles. Muito do que sabemos hoje sobre treinamento herdamos dos gregos
antigos.
Foram os gregos que criaram o mais importante evento esportivo da
antiguidade, os Jogos Olímpicos, praticados naquele tempo com intervalos
de quatro anos. Foi tão grande a influência da civilização grega antiga
sobre o ocidente que, em 1896, instituímos os Jogos Olímpicos da Era
Moderna. O primeiro encontro foi realizado em Atenas, por iniciativa do
Barão Pierre de Coubertin e outros idealistas.
A CRIANÇA E O ESPORTE
Há muitas semelhanças entre o que chamamos de esporte e as
brincadeiras que as crianças fazem. Porém, há diferenças, e a maior delas
é a regra. Nas brincadeiras infantis, as regras são simples, localizadas,
funcionam para permitir a organização de grupos pequenos. Nos
esportes, as regras são complexas, precisam dar conta de organizar
as relações entre grupos grandes, e, às vezes, como no futebol, entre
pessoas do mundo inteiro.
Crianças podem praticar esportes? Sim, mas quando os praticam, o esporte
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tem que assumir a forma de brincadeira, não pode ter a seriedade e a
complexidade do esporte adulto. Criança não pode treinar atletismo ou
voleibol, mas pode brincar de atletismo e voleibol. A brincadeira, por sua
descontração, sua alegria, sua falta de compromisso com rendimento,
nunca faz mal. Já o esporte internacional, por seu compromisso com
grandes resultados, com recordes, exige tanto do organismo que uma
criança não suportaria. Os danos que o esporte de rendimento lhe causaria
poderiam repercutir negativamente pelo resto da vida.
ESPORTE COMO DIREITO
Para ser um direito universal, o esporte precisa, muitas vezes, ser adaptado.
Aquele esporte que vemos nas Olimpíadas exige indivíduos especialmente
preparados, capazes de suportar esforços que as demais pessoas não
suportariam. O chamado esporte de alto nível exige grandes esforços não
só físicos, mas também psicológicos e sociais. Por isso, seriam necessários
cuidados especiais desde a sua iniciação.
Em nível de alto rendimento, o esporte nunca pode ser praticado por
crianças. Por adolescentes, se considerarmos pessoas a partir dos 14 anos,
ele pode, sim, ser praticado, desde que muito cuidadosamente. Para o
Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e o Instituto Esporte
Educação (IEE), por exemplo, uma organização não governamental de
São Paulo cujo objetivo é ensinar cidadania a crianças e jovens por meio do
esporte, por exemplo, o objetivo maior do esporte não é o alto rendimento
esportivo, mas a educação para a vida, a educação para o exercício da
liberdade e da cidadania.
Com objetivos educacionais, o esporte pode ajudar no desenvolvimento
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das pessoas desde a infância, com maiores possibilidades de exercer sua
cidadania.
TIPOLOGIAS DE ESPORTE
• O esporte de rendimento
O esporte mais conhecido pelas pessoas é o chamado esporte de
rendimento, que é esse esporte que está nos jornais, no rádio, na televisão e
na internet. Esse tipo de esporte, também conhecido como esporte
espetáculo, é profissional e alguns atletas de muito destaque ganham altos
salários por praticá-lo. Seus praticantes são pessoas especialmente
habilidosas.
São essas práticas
esportivas que mobilizam os grandes eventos esportivos globais como os
campeonatos mundiais e as Olimpíadas.
Em 2014 teremos, no Brasil, o Campeonato Mundial de Futebol e, em 2016,
na cidade do Rio de Janeiro, a trigésima primeira edição das Olimpíadas.
No Rio de Janeiro, teremos as Olimpíadas de Verão; nos países mais frios são
realizadas também as Olimpíadas de Inverno. O esporte de rendimento
sempre atraiu multidões.
Para se ter uma ideia de como ele é forte entre as populaçõeshá notícias de
encontros de cavaleiros na Idade Média (as chamadas Justas), com
participação de mais de 12 mil pessoas. Proporcionalmente à população
da época, isso é muito mais que o número de participantes das Olimpíadas
Modernas. As proezas de atletas como Michael Jordan no basquetebol,
São exemplos de esporte de alto rendimento esportes de alta
exigência motora, como o atletismo, o voleibol ou o handebol, e aqueles de
grande precisão, como o arco e flecha ou o tiro ao alvo.
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ou Usain Bolt no atletismo, fazem multidões delirar e levam milhões de
adolescentes a querer ser como eles. E esses sonhos não devem ser
desconsiderados.
• Esporte de Educação
o esporte praticado de modo voluntário, por
pessoas comuns, sem que tenham necessidade de apresentar algum talento
especial ou rendimento físico superior. Esse esporte inclui tanto os esportes
formais, mais conhecidos, tais como o futebol, o handebol, o atletismo, o
voleibol e o basquetebol, como esportes regionais, praticados somente por
algumas comunidades. Trata-se daquele esporte que praticamos, por
exemplo, quando vamos a um clube ou à academia para praticar natação.
Ou o futebol que jogamos com os amigos nas horas de folga. Esse é o esporte
que todos podemos praticar para ter uma melhor saúde, mais tranquilidade,
boa condição física, enfim, para ter uma melhor qualidade de vida. Todos
deveríamos dedicar algumas horas livres às caminhadas, às corridas, aos
jogos com os amigos, à ginástica, à ioga.
Praticar esportes é um direito humano, reconhecido, inclusive, pela
Organização das
Nações Unidas e pelas
leis de vários países.
Porém, a prática dos
esportes exige
educação esportiva.
Os planos
governamentais
deveriam incluir
projetos de educação
Esporte de participação é
Você sabia que mesmo esse esporte
sem compromisso, com os amigos,
nos finais de semana, exige
c u i d a d o s e s p e c i a i s ? N ã o
deveríamos praticá-lo sem antes
realizar exames médicos.
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esportiva que se estendessem a todos os segmentos populacionais. É
preciso aprender bem os esportes para poder praticá-los.
Pesquise na sua escola, na sua comunidade, converse com seus colegas e
professores, busque informação em sua cidade e tente responder as
perguntas abaixo:
Que espaços existem na sua comunidade para praticar esportes?
Existem equipamentos esportivos na sua cidade que você pode
acessar gratuitamente?
Sua escola tem uma quadra esportiva ou local adequado para os
esportes?
O que sua cidade deveria fazer para garantir o direito ao esporte?
• Esporte Educacional
E ainda temos outro tipo de esporte, que é o chamado esporte
educacional. Esse esporte é praticado nas escolas e em outras instituições
educacionais, como por exemplo, no Instituto Esporte Educação e nas
Caravanas do Esporte. O esporte educacional tem por objetivo ensinar o
esporte a todas as pessoas, não importa se homens, se mulheres,
independentemente de cor da pele, crença religiosa, nacionalidade,
classe social ou idade.
Crianças e jovens são especialmente atraídos pelo esporte, de modo que
ele pode constituir um excepcional veículo educacional. Por si só o esporte
não é educacional; sua prática não garante necessariamente saúde,
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responsabilidade, emancipação, ética, e assim por diante. Depende do
modo como ele for orientado. Qualquer esporte possui virtudes e vícios.
No esporte educacional, as regras devem ser
propostas. Crianças e, principalmente,
adolescentes podem participar inclusive da
elaboração de regras mais adequadas ao
contexto em que vivem.
O esporte, para
ser
educacional,
deve ser
desenvolvido
em sua
capacidade de
contribuir para o
desenvolvimento integral. A educação esportiva deve supor o ensino
adequado das técnicas esportivas num ambiente seguro e, junto com elas,
de valores de vida, tais como a solidariedade, a perseverança, a coragem,
o respeito à diversidade. O esporte pode ajudar as pessoas a se expressar
melhor, a tomar iniciativas, a liderar ações, a lidar com a insegurança, a
compreender valores nas relações humanas, a conhecer melhor o próprio
corpo em suas possibilidades e limites.
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Muitos adolescentes brasileiros trabalham porque a lei permite que
as pessoas sejam contratadas profissionalmente a partir dos 16 anos
de idade. Para os que trabalham, o esporte começa a se tornar
aquele esporte que pode ajudar a viver melhor; é o chamado esporte
de participação. Isso não impede, porém, que muitos adolescentes
talentosos consigam conciliar trabalho e treinamentos. O
adolescente não deve abrir mão do esporte, pois é um direito seu.
O ESPORTE É UM DIREITO HUMANO
Quando assistimos aos espetáculos esportivos na televisão, temos a
impressão de que o esporte é privilégio somente de pessoas especialmente
dotadas. É como se nosso único direito fosse assistir às proezas dos grandes
atletas, pagando caro para vê-las. Esses superatletas realizam proezas tão
fantásticas que achamos ser impossível praticar o esporte que eles praticam.
Claro, o nível de rendimento que esses atletas atingem no esporte é
inacessível para a maioria. Porém, os mesmos esportes, praticados de
maneira adaptada, podem ser praticados por todos e é um direito humano.
Está lá, no Artigo 217 da Constituição Federal do Brasil:
“É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não formais,
como direito de cada um.”
Assistir aos grandes espetáculos esportivos pela televisão é uma boa forma
de lazer. Os maiores benefícios do esporte existem quando todos podemos
praticá-los, exercendo nosso direito constitucional.
Você sabia?
Existe também a Lei Pelé - Lei Nº. 9.615, de 24 de março de 1998 -, que
foi elaborada e promulgada, a partir da Constituição, para reger todo
o funcionamento do esporte no Brasil. É a Lei Pelé que define as três
formas básicas de práticas esportivas: o esporte de rendimento, o
esporte de participação e o esporte educacional.
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A Lei Pelé também define os agentes responsáveis pela gestão do
esporte. Nos Estados e em boa parte dos municípios são as
Secretarias de Esporte que gerenciam as políticas locais, sendo
assim os responsáveis por atender a população em geral. Já os
esportes competitivos são gerenciados por um sistema federativo,
seguindo a estrutura internacional. Em cada modalidade, seja
olímpica ou não olímpica, há Federações Estaduais e
Confederação Nacional. No futebol, é a CBF; no voleibol, a CBV;
para a natação e outros desportos aquáticos, a CBDA. O Comitê
Olímpico Brasileiro (COB) integra todas as modalidades olímpicas
e o Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPB) as paraolímpicas. Há
também a Organização Nacional das Entidades do Desporto –
Oned, que representa modalidades não olímpicas. São essas
entidades esportivas que organizam as principais competições
estaduais e nacionais, de qualquer modalidade.
INCLUSÃO DE TODOS
O esporte deve ser democrático e incluir todas as pessoas. Sendo um direito
humano, deve ser levado a todas as pessoas, sem discriminações. A prática
do esporte deve ser capaz de ensinar crianças, adolescentes, adultos,
independentemente de sua condição física: pessoas com ou sem
deficiência, homens ou mulheres, altos ou baixos, com muita experiência
motora ou com pouca experiência motora.
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Algumas vezes a exclusão ocorre por falta de preparo dos professores, outras
por falta de boas políticas educacionais ou pelo próprio preconceito das
pessoas. As diferenças enriquecem as relações.
CONSTRUÇÃO COLETIVA
Incluir todas as pessoas no esporte não significa apenas deixar que elas
participem. Participar, de verdade, é poder opinar, planejar juntos. Temos
que lembrar que as pessoas não estão ali apenas para aprender as técnicas
do esporte, mas para aprender as coisas que poderão servir para uma vida
melhor, mais democrática. Por isso, o ambiente do esporte tem que ser
democrático. As regras do jogo, por exemplo, por que precisam ser impostas?
Mesmo que a gente não possa mudar as regras do basquetebol ou do
futebol, elas podem ser discutidas entre todos os participantes, para que
possam ser compreendidas. E os muitos jogos adaptados do voleibol ou do
handebol podem ter regras também adaptadas, construídas na discussão
entre todos. Uma regra significa um dispositivo para garantir justiça durante o
jogo. Ora, compreender isso é muito importante, pois significa compreender
o valor da justiça.
O RESPEITO À DIVERSIDADE
Que somos diferentes, todos sabemos. Somos diferentes na cor da pele, no
cabelo, no tipo físico, na nacionalidade. Uns são homens, outros mulheres,
meninos ou meninas, índios, negros, caboclos. Há os que possuem mais
habilidades, os que possuem menos, os muito magros, os muito gordos, as
pessoas com deficiência. E daí? Somos todos seres humanos, todos temos o
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direito de viver bem, com qualidade.
É aí que entra o esporte educacional. Ele promove o respeito à diversidade.
Uma pessoa baixa não tem o direito de praticar esportes? Claro que tem; o
esporte educacional tem que ser adaptado para atendê-la. Da mesma
maneira ele tem que se ajustar às pessoas com deficiência, aos menos
habilidosos, e assim por diante. É uma questão de direitos humanos, de
respeito à Constituição, de democracia.
RUMO À AUTONOMIA
No esporte sempre aparecem oportunidades para aprender autonomia,
pois o esporte é um enorme campo de escolhas. A cada instante
precisamos decidir o que fazer. No esporte coletivo, essa escolha é feita em
função da habilidade de cada um e das necessidades do grupo. No
esporte coletivo, a pessoa que joga tem autonomia para decidir para quem
passar e em que direção, mas essa autonomia dependerá sempre do
interesse maior do grupo. Tudo que a gente faz no esporte coletivo é para
fortalecer a equipe, o grupo. O indivíduo autônomo é aquele que se guia
por sua consciência para decidir o que é melhor para si e para os outros. O
indivíduo autônomo é ético, pois aprende a cuidar de si ao mesmo tempo
que aprende a cuidar dos outros.
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OS DIVERSOS TIPOS DE ENCONTROS ESPORTIVOS
Atualmente, temos notícias de vários tipos de jogos. Os mais famosos, claro,
são os Jogos Olímpicos, isto é, as Olimpíadas, disputadas de quatro em
quatro anos em alguma cidade do mundo. Os Jogos Olímpicos seguem
uma tradição que vem desde a Grécia antiga. Naquele tempo ele tinha um
fundo religioso e ajudava a marcar o tempo, o calendário dos gregos. Em
2016 as Olimpíadas serão disputadas no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro,
escolhida entre muitas cidades candidatas. Outro evento bastante famoso
é o Campeonato Mundial de Futebol. O Brasil sediará esse campeonato em
2014, e os jogos serão realizados em 12 cidades brasileiras: Belo Horizonte,
Brasília, Cuiabá, Curitiba, Fortaleza, Manaus, Natal, Porto Alegre, Recife, Rio
de Janeiro, Salvador e São Paulo. Todas elas cidades brasileiras com muitos
desafios em áreas como transporte, educação, moradia, poluição
ambiental e exclusão social. De que maneira essas cidades serão
beneficiadas com a Copa do Mundo em 2014?
Os adolescentes brasileiros estão convidados a refletir sobre o impacto
desses grandes e eventos esportivos na garantia do direito ao esporte
seguro e inclusivo e propor ações para assegurar um legado social para o
País.
OS GRANDES EVENTOS
ESPORTIVOS
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OUTROS JOGOS
Temos também os jogos menos noticiados. Menos noticiados porque
envolvem menos interesses, menos dinheiro, e acabam sendo pouco vistos
pela televisão, não dão grandes notícias nos jornais ou na internet.
Atualmente fala-se um pouco mais das Paraolimpíadas. Nas últimas
décadas, as pessoas com deficiência conquistaram vários direitos, entre
eles, o de praticar esportes. De maneira geral, praticam os mesmos esportes
que as pessoas sem deficiência, porém, as regras e o modo de praticar esses
esportes são adaptados às pessoas com deficiência. Há jogos para pessoas
com deficiênciaem boa parte do mundo. De quatro em quatro anos, logo
após as Olimpíadas, a mesma cidade-sede realiza as Paraolimpíadas.
Além disso, no Brasil, por exemplo, há os Jogos dos Povos Indígenas. Os
participantes praticam alguns esportes convencionais, como o futebol e o
atletismo, mas praticam outros esportes que são específicos dos indígenas,
como o arremesso da lança, a corrida com tora e a zarabatana.
Ex i s tem também os esportes regionais , não reconhecidos
internacionalmente. São criações de certos povos, de certas comunidades.
São pouco conhecidos fora desses locais, dessas culturas. Fazer trilhas pode
constituir uma prática esportiva, assim como as escaladas e o rapel. Vocês já
ouviram falar de bossaball, por exemplo? Pois então, ele é praticado na
Bélgica. Há a regata de abóboras na Nova Escócia, os duelos de lanças que
lembram os torneios antigos. De modo que qualquer comunidade que
comece a insistir em uma prática adaptada, acaba por transformar isso em
um esporte típico dessa comunidade. Um grupo de jovens pode fazer o
mesmo, transformando, por exemplo, um jogo de taco ou de queimada, em
um esporte.
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O LEGADO DOS GRANDES EVENTOS ESPORTIVOS
Legar significa deixar algo a alguém por herança ou transmitir algo às novas
gerações. Por exemplo, o Brasil realizou, em 2007, na cidade do Rio de
Janeiro, os Jogos Panamericanos. Na ocasião, muito se falou sobre o legado
do Pan, isto é, o que esse grande evento deixaria de herança para a cidade.
Na verdade, legado é algo que pode ser bom ou pode ser ruim. O que se
esperava dos Jogos Panamericanos no Rio de Janeiro era que as heranças
deixadas fossem boas, que a população do Rio de Janeiro ganhasse mais
qualidade de vida com os jogos, que a cidade resolvesse alguns problemas
com a realização do Pan. Em alguns aspectos, o legado do Pan foi positivo;
a curto prazo foi possível empregar um significativo número de
trabalhadores nas obras de infraestrutura, maior arrecadação de impostos e
incentivo aos serviços de turismo. Entretanto, surgiram diversos problemas
com o que se pretendia chamar de “legado social” e não há um consenso
sobre o que sobrou de positivo para a comunidade depois de tantos
investimentos.
O grande evento esportivo que, possivelmente, deixou o legado mais
positivo para uma cidade, foram as Olimpíadas de 1992, na cidade de
Barcelona. Diz-se que, por causa dos jogos, Barcelona saiu da depressão
para a prosperidade, e hoje é uma das cidades mais importantes do mundo.
O projeto de realização das Olimpíadas em Barcelona foi feito em função
não apenas da realização dos jogos, mas da transformação da cidade, e
estendeu-se de 1986 a 1993.
Mais recentemente, por ocasião da realização dos Jogos Olímpicos em
Pequim, na China, o governo chinês alardeou legados extremamente
positivos para cidade, especialmente no que diz respeito ao meio ambiente
e direitos humanos. Sem dúvida, a cidade de Pequim passou por
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transformações importantes em sua infraestrutura, porém, os críticos dizem
que a poluição da cidade continua gravíssima e os direitos humanos não
passaram a ser mais respeitados.
Podemos concluir daí que, a partir do exemplo de Barcelona, outras cidades
poderiam receber, como legado dos jogos, enormes benefícios. Porém, isso
dependerá da eficácia dos projetos, da lisura na execução dos projetos, da
honestidade dos políticos e empresários e de vontade política.
Legado não quer dizer somente coisa boa, portanto. Quer dizer apenas
herança de algo realizado. Legados são produções deixadas pelas pessoas,
e a conduta dessas pessoas é que determinará a extensão dos benefícios ou
dos prejuízos. Em relação aos grandes eventos anunciados para o Brasil –
Copa do Mundo de Futebol em 2014 e Olimpíadas em 2016 – diversos grupos
da sociedade brasileira procurarão ficar com legados. Alguns tentarão
auferir lucros financeiros, outros tentarão tornar o esporte brasileiro mais
competitivo a partir desses eventos, há, ainda, os que pretendem melhorar a
imagem do Brasil em todo o mundo. O turismo espera um aumento do fluxo
de turistas a partir da Copa do Mundo e das Olimpíadas. Os educadores
esperam recolher dos eventos motivo para tornar o esporte um bom veículo
educacional e um direito que possa ser estendido a todos.
O esporte mostrará, durante os grandes eventos que serão realizados no
Brasil, suas diversas faces. Tanto pode se transformar numa oportunidade
para fazer avançar o direito de todos ao esporte como pode se limitar a ser
apenas um grande espetáculo. Em 1995, por exemplo, durante a realização
da Copa do Mundo de Rúgbi, na África do Sul, o esporte mostrou seu
virtuosismo. Precisando de elementos para unir o povo africano,
historicamente dividido entre negros e brancos, o então presidente Nelson
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Mandela recorreu ao rúgbi, que até então era um esporte de brancos
naquele país. A África do Sul venceu a Copa do Mundo e todo o povo sul-
africano se emocionou, comemorou junto. Mandela recorreu aos versos de
William Ernest Henley para incentivar a equipe de rúgbi, especialmente seu
capitão François Pienaar.
INVENCÍVEL
Dentro da noite que me rodeiaNegra como um poço de lado a ladoEu agradeço aos deuses que existemPor minha alma indomável
Nas garras cruéis da circunstânciaEu não tremo ou me desesperoSob os duros golpes da sorte
Minha cabeça sangra,Mas não se curva,Além deste lugar de raiva e choro
Para somente o horror da sombraE, ainda assim a ameaça do tempoVai me encontrar e me achar, destemido
Não importa se o portão é estreito,Não importa o tamanho do castigo.Eu sou o dono do meu destino.Eu sou o capitão da minha alma.
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Os adolescentes, importantes atores sociais envolvidos na prática esportiva
em nosso País, podem ter um papel ativo na elaboração de propostas, na
crítica construtiva e na reivindicação de uma política pública que assegure
o direito ao esporte para todos.
Você aceita o desafio de contribuir para assegurar que o legado dos
grandes eventos como a Copa do Mundo de Futebol em 2014 e as
Olimpíadas em 2016 seja uma política pública de esportes que assegure o
direito de todos ao esporte seguro e inclusivo?
Então, mãos à obra!
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