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Cadernos de Textos do GEEDH N. 02 DIAGNÓSTICO DO PERFIL MÉDIO DOS ESTUDANTES DA UFPA EM BELÉM: Notas críticas a partir do QSEC Alberto Damasceno (ICED/UFPA) Carlos MacieL (ICSA/UFPA), Emina Santos (ICED/UFPA), Ney Cristina de Oliveira (ICED/UFPA). UFPA - ICED – FAED BELÉM, 2010

CADERNO GEEDH N 2 - Diagnóstico perfil estudante da UFPA€¦ · N. 02 DIAGNÓSTICO DO PERFIL MÉDIO DOS ESTUDANTES DA UFPA EM BELÉM: Notas críticas a partir do QSEC Alberto Damasceno

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  • Cadernos de Textos do GEEDH

    N. 02 DIAGNÓSTICO DO PERFIL MÉDIO

    DOS ESTUDANTES DA UFPA EM BELÉM: Notas críticas a partir do QSEC

    Alberto Damasceno (ICED/UFPA) Carlos MacieL (ICSA/UFPA), Emina Santos (ICED/UFPA), Ney Cristina de Oliveira (ICED/UFPA).

    UFPA - ICED – FAED

    BELÉM, 2010

  • Cadernos de Textos do GEEDH

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

    Reitor

    Prof. Dr. Carlos Edilson de Almeida Maneschy

    Vice-Reitor Prof. Dr. Horacio Schneider

    Pró-Reitor de Administração

    Prof. MSc. Edson Ortiz de Matos

    Pró-Reitor de Planejamento Prof. Dr. Erick Nelo Pedreira

    Pró-Reitora de Ensino de Graduação

    Profa. Dra. Marlene Rodrigues Medeiros Freitas

    Pró-Reitor de Extensão Prof. Dr. Fernando Arthur de Freitas Neves

    Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação

    Prof. Dr. Emmanuel Zagury Tourinho

    Pró-Reitor de Desenvolvimento e Gestão de Pessoal João Cauby de Almeida Júnior

    Pró-Reitor de Relações Internacionais

    Prof. Flávio Augusto Sidrim Nassar

    Diretora do ICED Profa. Dra. Ana Tancredi

    Diretor do CTIC

    Prof. Dr. Antonio Jorge Gomes Abelém

    Coordenação do GEEDH / OCA Prof. Dr. Alberto Damasceno

    Profa. Dra. Emina Santos Profa. Dra. Ney Cristina de Oliveira

    Prof. Dr. Carlos Maciel

    Equipe do GEEDH / OCA Adriana Dias

    Iraneide Lameira Leonardo Barbosa

    Ramon Lisboa Ricardo Figueiredo

    Rodrigo Neto Samia Mota

    Sandra Soares Vanessa Costa Vinicius Lobo

  • Cadernos de Textos do GEEDH

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    Cadernos de Textos do GEEDH é uma produção do Grupo de Estudos em Educação em Direitos

    Humanos da UFPA, que é composto pelos professores Alberto Damasceno, Emina Santos e Ney

    Cristina de Oliveira do ICED e Carlos Alberto Maciel do ICSA.

    Apoio técnico e revisão: Adriana Dias, Iraneide Lameira, Maíra Carvalho e Sandra Soares.

    Foto da capa: Restaurante Universitário do Campus II.

    DAMASCENO, Alberto Damasceno, MACIEL, Carlos, SANTOS, Emina e OLIVEIRA, Ney Cristina.

    DIAGNÓSTICO DO PERFIL MÉDIO DOS ESTUDANTES DA UFPA EM BELÉM: Notas críticas a partir do QSEC: s.ed. 2010.

    1. UFPA 2. Estudante 3. Questionário Socioeconômico e Cultural 4. Política de Assistência

    Estudantil.

    ISSN 2177-4722

  • Cadernos de Textos do GEEDH

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    PREFÁCIO

    O Grupo de Estudos em Educação em Direitos Humanos – GEEDH do Instituto de

    Ciências da Educação –ICED/UFPA na edição nº 02 do seu Caderno de Textos apresenta o

    “Diagnóstico do Perfil Médio dos Estudantes da UFPA em Belém: notas crítica a partir do QSEC”,

    apoiando-se no Questionário Sócio Econômico e Cultural – QSEC, instrumento de coleta de

    informações sobre o corpo discente da UFPA, elaborado pela Pró-Reitoria de Extensão e

    desenvolvido pelo Centro de Tecnologia da Informação e Comunicação – CTIC/UFPA, objetivando

    formular políticas de Assistência Estudantil.

    Por meio desse questionário pretende-se mapear a situação dos estudantes e ir ao

    seu encontro com programas e ações que garantam a sua integração acadêmica, científica, e

    social durante todo o seu percurso acadêmico e que obtenha êxito no seu curso.

    Analisando apenas dez das trinta e duas questões presentes no questionário concernentes

    a realidade familiar, social, econômica e cultural, o GEEDH trouxe a público a absoluta

    necessidade se realizarem estudos para conhecer a real situação dos estudantes e com esses

    dados estabelecer ações afirmativas visando amenizar a situação de vulnerabilidade social em

    que vivem grande parte dos estudantes da UFPA. Com o apoio decisivo de uma política estudantil

    inclusiva, cidadã certamente a sociedade ganhará um profissional qualificado e a UFPA poderá

    contribuir para a diminuição das desigualdades e ajudar a fazer justiça social. O estudo

    possibilitou ainda a organização de um banco de dados que permitirá acompanhar as

    transformações havidas com os estudantes e propor medidas durante o percurso acadêmico do

    discente de modo a criar condições para o êxito no curso.

    Estudos que desvelem a situação dos estudantes são sempre bem vindos, pois

    conhecendo a realidade, a Universidade poderá estabelecer estratégias, envolvendo diferentes

    sujeitos e entidades de modo que se possa estabelecer como política institucional programas

    permanentes que envolvam diferentes aspectos e garantam a sustentabilidade do discente no

    curso.

    Agradeço a deferência com que me foi concedida para prefaciar este trabalho,

    cumprimento a equipe dos pesquisadores, bolsistas e do CTIC e desejo que o GEEDH continue

    produzindo mais estudos que, se considerados pelos formuladores de políticas públicas poderão

    contribuir para melhorar a vida dos estudantes, meta perseguida por todos nós.

    Ana Tancredi

    Diretora do ICED

  • Cadernos de Textos do GEEDH

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    APRESENTAÇÃO

    O GEEDH - Grupo de Estudos em Educação em Direitos Humanos do Instituto de Ciências

    da Educação da UFPA, tendo como base a idéia de que é estimulando a participação da

    sociedade no acompanhamento e verificação das ações da gestão pública que resultados

    concretos podem ser alcançados, apresenta o projeto DISEC - Diagnóstico Socioeconômico e

    Cultural do Estudante da UFPA. O DISEC foi criado em 2008, atendendo a uma demanda

    histórica da nossa comunidade acadêmica com o objetivo de reunir informações importantes que

    auxiliassem a concepção, o planejamento e a execução de políticas e programas de assistência

    estudantil, além de subsidiar estudos e pesquisas sobre o tema. Seu início se deu com a

    concepção de um questionário que atendesse a diversidade característica de nossa população

    estudantil. Posteriormente, foi desenvolvido um sistema on-line destinado a recolher informações

    individuais de modo a compor um mosaico ilustrativo acerca do perfil médio do estudante,

    proporcionando uma visão global do corpo discente e de seus principais aspectos do ponto de

    vista de suas fortalezas e fragilidades.

    Seu real funcionamento, todavia, começou em 2009, quando os estudantes deram uma

    efetiva resposta por meio do preenchimento das 32 (trinta e duas) questões referentes à sua

    realidade familiar, social, econômica e cultural. Destas, foram escolhidas apenas 10 (dez) que, no

    presente trabalho, nos servem de base para visualizar e diagnosticar as principais características

    de nosso estudante, assim como as diferenças que se manifestam quando observamos estes

    dados individual e comparativamente entre os institutos.

    O DISEC foi, e está sendo, desenvolvido com o apoio do Centro de Tecnologia da

    Informação e Comunicação.que não tem negado apoio ao crescimento da proposta que tantos

    benefícios tem trazido à nossa comunidade acadêmica. Nossos objetivos são estimular e divulgar

    a produção de estudos sobre a vida de nossos discentes e promover o papel social que a

    instituição cumpre ao propiciar o maior conhecimento acerca de sua clientela.

    Para a estruturação do projeto, nossos bolsistas modificaram as páginas de consultas

    (modulo administrador do sistema) a fim de garantir a disponibilidade do sistema, criaram um

    módulo de análise de micro dados, com o intuito de analisar os dados numa visão geral da

    universidade e também por entre suas unidades acadêmicas, além da criação de um web-service

    em parceria com o CTIC que se configura numa interface do consulta aos dados do SIE de modo

    a garantir a integridade das informações. Para fins de manutenção e adaptação do sistema

  • Cadernos de Textos do GEEDH

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    métodos advindos da engenharia de software como engenharia reversa, foram utilizados de modo

    a compreender e reformular o sistema.

    Por fim, e não menos importante, devemos ressaltar que o DISEC possibilitou a criação de

    um banco de dados que ainda necessita de aprimoramento, visto que o desenvolvimento de

    software é um processo contínuo. Se em 2009 demos um passo decisivo para a construção deste

    banco que é capaz de captar as transformações ocorridas com nossos estudantes, em 2010,

    precisaremos de apoio para aprimorarmos e consolidarmos essa proposta que se destina a ser,

    mais que um projeto de pesquisa ou extensão, um plano estratégico de desenvolvimento para o

    corpo discente.

    Alberto Damasceno, Carlos Maciel, Emina Santos e Ney Cristina de Oliveira

    Equipe do GEEDH

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    NOTA TÉCNICA SOBRE O SISTEMA DO QUESTIONÁRIO SOCIOE CONÔMICO E CULTURAL

    DO ESTUDANTE DA UFPA

    O desafio do desenvolvimento sustentável, desenvolver sem devastar, requer por parte das

    diferentes áreas do conhecimento humano uma nova postura nas abordagens adotadas nas

    soluções dos problemas. A Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) é sem sombras de

    dúvida, um dos pilares fundamentais de sustentação das soluções inovadoras em direção a esse

    objetivo.

    O CTIC - Centro de Tecnologia da Informação e Comunicação, da Universidade Federal do Pará –

    UFPA, tem como missão prover serviços e recursos tecnológicos para a comunidade universitária

    da UFPA, tanto nos campi da capital como do interior, em apoio às atividades acadêmicas e

    administrativas, integrando-se no esforço de oferecer à sociedade uma universidade em

    excelência. O CTIC é responsável não só por fornecer serviços de computação, como:

    manutenção de computadores, suporte, hospedagem e desenvolvimento de sites,

    desenvolvimento de softwares e expansão e melhoria da rede, mas também por prospectar e

    induzir à utilização de novas tecnologias e soluções na área, inclusive com a conquista de

    importantes premiações e certificações de âmbito nacional.

    Foi neste contexto que o CTIC apoiou o GEEDH – Grupo de Estudos em Educação em Direitos

    Humanos na implantação do projeto DISEC – Diagnóstico Sócio-Econômico e Cultural dos

    Estudantes, desenvolvendo o sistema web que permitiu a coleta das informações

    socioeconômicas e culturais dos estudantes da UFPA a partir de um questionário online através

    do qual o aluno faz o preenchimento de dados pessoais e responde questões relativas à sua

    condição socioeconômica possibilitando traçar o perfil sócio-econômico dos alunos da UFPA,

    visando facilitar a implantação de políticas de assistência estudantil dentre outras iniciativas.

    Essa identificação começa pela análise das informações sobre os discentes, disponibilizadas

    através dos relatórios de dados do QSEC (Questionário Sócio-Econômico e Cultural). Daí a

    importância de divulgar maciçamente sua existência e incentivar o seu preenchimento. O sistema

    está disponível no seguinte endereço: http://qse.ufpa.br/

    Desta forma, o CTIC parabeniza a equipe do GEEDH pela iniciativa e, como órgão da UFPA

    responsável pelo planejamento, padronização e execução das ações de tecnologia da Informação

    e Comunicação da UFPA, continua disponível para colaborar com projetos que enriqueçam as

    ações de ensino, pesquisa e extensão da Instituição.

    Antonio Abelém

    Diretor do CTIC

  • Cadernos de Textos do GEEDH

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    Sempre precisei

    De um pouco de atenção

    Acho que não sei quem sou

    Só sei do que não gosto...

    E nesses dias tão estranhos

    Fica a poeira

    Se escondendo pelos cantos

    Esse é o nosso mundo

    O que é demais

    Nunca é o bastante

    E a primeira vez

    É sempre a última chance

    (...)

    Vamos sair!

    Mas não temos mais dinheiro

    Os meus amigos todos

    Estão procurando emprego...

    Voltamos a viver

    Como há dez anos atrás

    E a cada hora que passa

    Envelhecemos dez semanas...

    Vamos lá, tudo bem!

    Eu só quero me divertir

    Esquecer dessa noite

    Ter um lugar legal prá ir...

    (...)

    Comparamos nossas vidas

    E esperamos que um dia

    Nossas vidas

    Possam se encontrar...

    (...)

    Não sou perfeito...

    Eu não esqueço

    A riqueza que nós temos

    Ninguém consegue perceber

    E de pensar nisso tudo

    Eu, homem feito

    Tive medo

    E não consegui dormir...

    (Teatro Dos Vampiros, Legião Urbana / Renato Russo)

  • Cadernos de Textos do GEEDH

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    INTRODUÇÃO

    O Grupo de Estudos em Educação em Direitos Humanos - GEEDH, por meio do projeto de

    extensão DIAGNÓSTICO SOCIOECONÔMICO E CULTURAL DO ESTUDANTE – DISEC, realiza

    desde meados de 2008 a importante tarefa de compreender os processos que levam o estudante

    da UFPA a enfrentar - com êxito ou fracasso – as dificuldades no que tange ao êxito na conclusão

    do seu curso de graduação. Mesmo que a UFPA seja, comprovadamente, uma instituição

    inclusiva, com elevado contingente de estudantes em situação de vulnerabilidade

    socioeconômica, tal condição ainda não propiciou a superação dos obstáculos para a

    emancipação e promoção sustentável de seu corpo discente.

    Por isso mesmo, essa discussão é tão fundamental quanto o tema dos currículos ou dos

    projetos pedagógicos dos cursos, pois parte significativa de nossos alunos não lograrão êxito em

    sua carreira se não lhe forem proporcionadas as condições objetivas para tal, do contrário, gerar-

    se-á o perverso quadro da retenção acadêmica, que é prejudicial para eles e para o país como um

    todo. O próprio Secretário de Educação Superior do Ministério da Educação (SESu/MEC),

    Ronaldo Mota, ao tratar da importância do Ensino Superior, defendeu que a expansão de vagas

    nas Instituições de Ensino Superior – IES, além de ser balizada em critérios de qualidade, deve

    levar em conta a inclusão social. Na SESuWEB, revista eletrônica da SESu, ele declarou que é

    importante crescer com qualidade e é importante, também, que nesse processo se promova a

    inclusão social através da educação. (www.sesuweb.mec.gov.br, 14/05/2007).

    Atualmente, uma simulação da taxa de conclusão de cursos de graduação a partir dos

    dados do PingIFES (Plataforma de Integração de Dados das IFES) 2005 por curso de graduação

    demonstra que a média nacional é de cerca de 63%, mantendo o índice do século passado

    praticamente intocável. Quanto à UFPa, a quantidade de ingressantes é de 5.811 estudantes/ano

    e de concluintes, 4.109 estudantes/ano, perfazendo uma taxa de conclusão de 70,71%. No

    contexto das 50 IFES brasileiras é interessante notar que, em termos de taxa de conclusão a

    UFPA situa-se em 15º lugar, todavia, em relação ao número de ingressantes fica em 3º lugar e, no

    que tange ao número de concluintes, é a que mais gradua no país.

    Em que pese esse dado positivo, para se constituir em uma dimensão importante no

    âmbito da UFPA, o cuidado com seus estudantes mais vulneráveis deverá converter-se em um

    conjunto de ações que tenham em vista a integração acadêmica, científica e social do estudante,

    incentivando-o ao exercício pleno da cidadania e promovendo seu êxito acadêmico. Para tanto,

    aproximar-se do seu cotidiano é essencial, pois é nele que os riscos de insucesso acadêmico se

  • Cadernos de Textos do GEEDH

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    manifestam e se constituem de forma mais definitiva. Daí a importância do presente

    DIAGNÓSTICO PRELIMINAR SOBRE O PERFIL SOCIOECONÔMICO E CULTURAL MÉDIO DO

    ESTUDANTE DA UFPA (Notas críticas a partir do QSEC)

    Em uma análise superficial, os números absolutos dos discentes da UFPA parecem indicar

    a condição de uma universidade inclusiva, todavia, quando a visualizamos discriminada por

    institutos, observamos resultados que, mesmo não sendo surpreendentes, constituem algo inédito

    em termos da dessa demanda social. Trata-se da coexistência de universos homogêneos dentro

    de um universo heterogêneo maior. Dito de outra forma, este estudo demonstra, em última

    instância, que as unidades acadêmicas, pelo fato de aglutinarem cursos com características

    semelhantes, acabam sendo compostas por estratos humanos que guardam, com extraordinária

    regularidade, características socioeconômicas também semelhantes.

    Adotadas por facilitarem a composição de um mosaico socioeconômico e cultural de amplo

    espectro, as sete questões escolhidas para iniciar o diagnóstico têm a faculdade de tornar visíveis

    as diferenças sociais que existem entre estudantes de cursos diferentes, independentemente das

    áreas originais do então candidato. Pois que não é nas grandes áreas de conhecimento que tais

    diferenças aparecem (Humanas, Biológicas ou Exatas) mas na definição e acesso aos cursos de

    graduação, daí a visível disparidade entre as condições dos estudantes.

    Ficou claro para nós que este tema se reveste de grande relevância e atualidade, uma vez

    que estudos têm comprovado que a pobreza e a miséria em nosso país não são resultantes

    apenas da escassez de recursos, mas fenômenos que, na verdade, refletem o perverso padrão de

    distribuição da renda, sobretudo porque, além de elevada, a desigualdade no Brasil tem

    demonstrado uma impressionante rigidez.

    Dono de uma significativa dívida social que se acumulou durante séculos, o Brasil é um

    país de índices desproporcionais quando se trata da socialização de suas riquezas. Esse quadro,

    que não apresenta solução a curto e médio prazo, tem imposto as suas instituições e cidadãos,

    com justificada urgência, estudos que esmiúcem essa realidade e promovam um amplo debate

    sobre como construir adequadamente a cicatrização de suas profundas chagas sociais e o

    equilíbrio de oportunidades para o desenvolvimento humano de todos. Esperamos que este

    trabalho seja um primeiro passo nessa grande tarefa de desvendar a realidade com vistas à sua

    mudança.

  • Cadernos de Textos do GEEDH

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    UNIDADE NA DIVERSIDADE OU DIVERSIDADE NA UNIDADE?

    Longe de esgotarmos todas as possibilidades de análise existentes nos dados contidos no

    sistema de informações sócio-econômicas e culturais dos discentes da UFPA, nossa intenção

    primária é, em primeiro plano, compartilharmos com a comunidade intra e extra-institucional essas

    informações.

    Em segundo plano, e decorrente da publicização gerada por esse compartilhamento,

    temos a esperança de estimularmos a produção de ilações (perguntas e questionamentos

    distintos) sobre a diversidade da realidade social desses universitários, seus fragmentos de vida

    pessoal e acadêmica. Quiçá passamos também contribuir para a instituição de uma cultura de

    planejamento que incorpore a heterogeneidade das histórias humanas contidas e reveladas por

    estes dados contribuindo, assim, para uma distribuição de esforços e recursos mais justa, em que

    os desiguais recebam, na prática, ações específicas com intensidade e alcance programático

    distintos, com o horizonte de uma universidade promotora de justiça e igualdade para todos.

    Nos limites desse primeiro trabalho agrupamos sete questões entre o total de 32 que

    compõem o referido sistema, para apresentarmos um perfil preliminar dos discentes do campus

    Belém1 da UFPA, especialmente no tocante ao leque de gradientes entre os seus institutos.

    Em relação aos discentes que viveram a maior parte do tempo até os 14 anos em área

    urbana do município (vide gráfico 1 e tabela 1), identificou-se que os institutos ICS e ICB

    apresentaram o maior índice com 96%. No outro extremo, ou seja, com menor índice, está o

    ICED, com 91%. Os dados produzidos por essa questão podem permitir a inferência de que

    aqueles que viveram em área urbana, em tese, tiveram maior probabilidade de acesso aos

    serviços disponíveis (públicos e privados).

    Da mesma forma, é possível inferir que, no outro extremo, os indivíduos que viveram em

    área rural, em tese, não contaram com uma rede de serviços (públicos e privados) que pudesse

    impactar sobre a qualidade de sua reprodução social, em particular no que diz respeito ao acesso

    aos direitos de cidadania.

    Assim, de forma inicial, é possível identificar distintas gradações entre os institutos do

    campus Belém quanto a incidência de discentes que contaram (ou não) com a possibilidade do

    acesso a uma estrutura de serviços (públicos e privados) existentes no espaço urbano, e, por

    1 Do total de alunos matriculados no campus Belém no ano de 2009 (22.666), aproximadamente 33% responderam as questões do DISEC.

  • Cadernos de Textos do GEEDH

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    decorrência, tiveram (ou não) melhores oportunidades para o seu processo inicial de

    desenvolvimento.

    Quanto ao tipo de estabelecimento em que o discente cursou o ensino fundamental (escola

    pública, ou privada) (vide gráfico 2 e tabela 2), os dados obtidos no DISEC evidenciam que os

    institutos que detém incidência de alunos provenientes da rede pública, em ordem decrescente,

    são: ICED (65,3%); ILA (58,2%); ICEN (57,3%); ICA (55,2%); ICSA (53,3%); IFCH (47,0%); IGC

    (44,3%); ICB (42,1%); ITEC (39,4%); ICS (34,4%) E ICJ (32,0%).

    Se forem somados os valores parciais daqueles que cursaram a totalidade e a maior parte

    em escola pública, os dois institutos com maior incidência desses discentes são ICED (78,0%) e o

    ICEN (69,3%). Já os dois institutos com menos incidência desses alunos são o ICJ (42,7%) e o

    ICS (45,4%).

    Uma especificidade desses dados diz respeito ao fato do ICJ e o ICS serem os únicos

    institutos que possuem uma concentração de alunos abaixo de 50% que cursaram o ensino

    fundamental em escola pública (em sua totalidade somada à maior parte).

    Quanto ao tipo de estabelecimento em que o discente cursou o ensino médio (escola

    pública ou privada) (vide gráfico 3 e tabela 3), os dados do DISEC mostram que os institutos que

    possuem incidência de discentes oriundos da rede privada, em ordem decrescente, são: ICJ

    (53,1%); ICS (51,1%); ITEC (42,7); ICB (37,2%); IFCH (36,0%); IGC (33,1%); ICSA (30,7%); ILA

    (29,4%); ICEN (27,5%); ICA (26,8%); ICED (22,4%). Somando os valores parciais daqueles que

    cursaram a totalidade com aqueles que cursaram a maior parte em escola privada, os dois

    institutos com maior incidência desses discentes são o ICS (59,8%) e o ICJ (59,0%). Já os dois

    institutos com menor incidência de alunos são o ICED (29,0%) e o ILA (36,3%).

    Nesses dados em particular (soma daqueles que cursaram a totalidade e a maior parte do

    ensino médio na rede privada), oito dos onze institutos do campus Belém tem o índice abaixo dos

    50% de alunos, são eles: ICED, ILA, ICEN, ICA, ICSA, IGC, IFCH e ICB.

    No quesito estado civil agrupamos em três conjuntos o leque de respostas assinaladas

    pelos discentes para simplificar a organização dos dados. Desta forma, o dado “União conjugal”,

    agrega os arranjos formais e informais de conjugalidade, assim como o dado “separado / viúvo”,

    expressa distintas formatações desse estado civil em particular (vide gráfico 4 e tabela 4).

    Os institutos que tem incidência de discentes solteiros, em ordem decrescente, são: ICB

    (93,6%); ICS (92,9%); IGC (92,4%); ITEC (89,4%); ICA (88,9%); ICEN (87,2%); IFCH (86,6%); ICJ

    (85,1%); ILA (85,3%); ICSA (85,0%); ICED (81,6%).

    Em relação à incidência de alunos que estão em união conjugal, os dois institutos com

    maior concentração desses discentes são: ICED (17,6%); ICSA (13,8%). Os únicos institutos

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    abaixo de 10% de discentes em união conjugal são: ICB (6,5%); ICS (7,1%); IGC (7,2%); ITEC

    (9,3%).

    Um aspecto em relevo nestes dados evidencia que o instituto que possui a maior

    concentração de discentes em união conjugal, o ICED, tem a quarta menor incidência em relação

    à presença de alunos separados ou viúvos (com 0,8%), estando atrás do ICS (0,3%), do ICB

    (0,4%) e do ICA (0,7%).

    Em relação à pergunta “quantos filhos você possui?”, para efeito desta análise, agregamos

    no dado “tem filho” as distintas respostas correspondentes a diversidade de quantidade de

    rebentos que os discentes possuem (vide gráfico 5 e tabela 5).

    Desta forma, a incidência de institutos com alunos que tem filhos, em ordem decrescente,

    é: ICED (22,3%); ICEN (15,7%); ICSA (14,3%); ILA (14,3%); IFCH (13,2%); ICA (12,2/50; ICJ

    (11,9%); ITEC (10,3%); ICB (9,8%); IGC (8,5%); ICS (6,0%).

    A partir destes dados é possível inferir que sobre estes alunos, em particular, existe uma

    quantidade adicional de responsabilidades para além de sua necessidade de reprodução

    intelectual. De fato, as ações concernentes aos cuidados com crianças e adolescentes podem

    concorrer com (ou subtrair consideravelmente) o tempo dedicado ao estudo e à formação destes

    discentes. Por não ser irrelevante essa realidade, este dado em particular, deveria ser um

    subsídio importante à organização da política de assistência estudantil na UFPA.

    Quanto à renda líquida mensal dos alunos que trabalham, para efeito desta análise

    reorganizamos em cinco estratos as respostas existentes no DISEC: de 0 a 1 salário mínimo; de 1

    a 3 salários mínimos; de 3 a 5 salários mínimos; de 5 a 10 salários mínimos; e acima de 10

    salários mínimos (vide gráfico 6 e tabela 6).

    Dos estudantes que auferem alguma fonte de renda, a principal faixa em que eles se

    encontram esta situada no intervalo entre 0 e 1 salário mínimo. Em relação aos institutos do

    campus Belém eles estão organizados na seguinte ordem decrescente: ICS (91,3%); ICG

    (92,0%); ICB (87,6%); ICA (86,7%); IFCH (78,0%); ILA (76,5%); ICED (74,9%); ITEC (74,7%);

    ICEN (72,7%); ICSA (68,6%); ICJ (62,5%).

    Um dado interessante é que sete institutos têm alunos que auferem uma renda própria

    acima de 10 salários mínimos, em uma faixa de incidência que vai de 3,5% a 0,3%. Dentre estes,

    aquele que possui a maior concentração é o ICJ.

    Em relação à renda líquida mensal da família, adotamos também cinco estratos. Para

    efeito desse exercício analítico, são eles: 0 a 1 salário mínimo, 1 a 3 salários mínimos, 3 a 5

    salários mínimos, 5 a 10 salários mínimos e acima de 10 salários mínimos (vide gráfico 7 e tabela

    7).

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    Dos lados obtidos, identificou-se que a faixa de maior concentração da renda familiar,

    compreende o estrato de 1 a 3 salários mínimos. Em relação à incidência desse estrato de renda

    familiar dos discentes nos institutos do campus Belém, em ordem decrescente, eles estão assim

    distribuídos: ICED (63,3%); ICA (62,3%); ILA (55,9%); ICEN (53,9%), ICSA (53,0%); IGC (49,6%),

    IFCH (48,5%); ICB (47,0%); ITEC (36,0%); ICS (34,7%); ICJ (18,4%).

    No estrato de renda familiar mais alto (acima de 10 salários mínimos) a incidência presente

    nos institutos se distribui no intervalo de 1,9% a 30,1%, sendo estes representados pelos ICED e

    ICJ, respectivamente.

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    ANEXOS

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    Onde Viveu a Maior Parte do Tempo até seus 14 Anos? ICA ICEN ICJ ICS IFCH IGC ITEC ICB ICED ILA ICSA

    Área Urbana do Município 94,48% 92,09% 95,64% 95,04% 94,10% 93,29% 94,50% 95,83% 91,24% 93,41% 92,57%

    Área Rural do Município 5,52% 7,91% 4,36% 4,96% 5,90% 6,71% 5,50% 4,17% 8,76% 6,59% 7,43%

    GRÁFICO 1

    TABELA 1

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    Em que Tipo de Estabelecimento Você cursou o Ensino Fundamental? ICA ICEN ICJ ICS IFCH IGC ITEC ICB ICED ILA ICSA

    Todo em Escola Pública 55,25% 57,34% 32,08% 34,40% 47,05% 44,30% 39,43% 42,16% 65,37% 58,29% 53,31%

    Todo em Escola Particular 20,44% 22,78% 48,54% 41,08% 30,05% 29,87% 37,98% 29,62% 13,70% 22,15% 23,49%

    Maior Parte em Escola Pública 9,39% 11,93% 10,63% 10,99% 13,06% 13,76% 12,42% 13,59% 12,66% 9,46% 12,34%

    Maior Parte em Escola Particular 14,92% 7,95% 8,75% 13,52% 9,84% 12,08% 10,17% 14,63% 8,27% 10,10% 10,86%

    GRÁFICO 2

    TABELA 2

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    Em que Tipo de Estabelecimento Você Cursou o Ensino Médio? ICA ICEN ICJ ICS IFCH IGC ITEC ICB ICED ILA ICSA

    Todo em escola pública 58,10% 56,39% 35,98% 35,50% 50,09% 51,38% 41,88% 47,16% 64,23% 58,01% 54,31%

    Todo em escola particular 26,82% 27,57% 53,14% 51,13% 36,04% 33,10% 42,70% 37,23% 22,45% 29,40% 30,79%

    Maior parte em escola pública 5,03% 7,17% 5,02% 4,69% 8,11% 4,83% 6,86% 3,55% 6,79% 5,70% 7,64%

    Maior parte em escola particular 10,06% 8,88% 5,86% 8,68% 5,77% 10,69% 8,57% 12,06% 6,53% 6,89% 7,26%

    GRÁFICO 3

    TABELA 3

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    Estado Civil ICA ICEN ICJ ICS IFCH IGC ITEC ICB ICED ILA ICSA

    Solteiro 88,96% 87,21% 85,11% 92,94% 86,57% 92,42% 89,38% 93,55% 81,55% 85,25% 84,92%

    União conjugal 10,39% 11,89% 13,76% 7,06% 12,04% 7,20% 9,29% 6,45% 17,56% 13,45% 13,80%

    Separado / Viúvo 0,65% 0,90% 1,04% 0,28% 0,87% 0,87% 1,33% 0,36% 0,75% 1,30% 1,28%

    GRÁFICO 4

    TABELA 4

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    Quantos Filhos Você Possui? ICA ICEN ICJ ICS IFCH IGC ITEC ICB ICED ILA ICSA

    Não tem filho 87,80% 84,26% 88,13% 94,00% 86,77% 91,54% 89,75% 90,20% 77,71% 85,71% 85,68%

    Tem filho 12,20% 15,74% 11,87% 6,00% 13,23% 8,46% 10,25% 9,80% 22,29% 14,29% 14,32%

    TABELA 5

    GRÁFICO 5

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    Se você trabalha, qual sua renda líquida mensal? ICA ICEN ICJ ICS IFCH IGC ITEC ICB ICED ILA ICSA

    De 0 a 1 Salário Mínimo 86,74% 72,67% 62,45% 91,34% 78,00% 91,95% 74,69% 87,63% 74,87% 76,53% 68,62%

    De 1 a >3 Salários Mínimos 12,71% 19,54% 19,50% 7,31% 16,99% 6,38% 19,07% 7,90% 22,51% 18,77% 24,11%

    De 3 a >5 Salários Mínimos 0,55% 4,73% 8,92% 1,18% 3,58% 1,01% 3,63% 3,44% 2,36% 3,39% 4,67%

    De 5 a >10 Salários Mínimos 0,00% 2,44% 5,60% 0,17% 0,54% 0,67% 2,32% 1,03% 0,00% 0,91% 2,15%

    Acima de 10 Salários Mínimos 0,00% 0,61% 3,53% 0,00% 0,89% 0,00% 0,29% 0,00% 0,26% 0,39% 0,45%

    TABELA 6

    GRÁFICO 6

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    Qual a renda líquida mensal de sua família? ICA ICEN ICJ ICS IFCH IGC ITEC ICB ICED ILA ICSA

    De 0 a 1 Salário Mínimo 3,43% 6,30% 1,80% 1,19% 4,62% 2,88% 2,57% 2,29% 5,75% 3,35% 3,19%

    De 1 a >3 Salários Mínimos 62,29% 53,90% 18,43% 34,65% 48,46% 49,64% 36,04% 46,95% 63,29% 55,87% 52,91%

    De 3 a >5 Salários Mínimos 24,57% 21,23% 20,45% 25,55% 22,31% 29,50% 27,59% 25,19% 21,64% 22,07% 24,50%

    De 5 a >10 Salários Mínimos 7,43% 13,27% 29,21% 24,36% 15,96% 14,75% 22,20% 15,65% 7,40% 14,94% 13,73%

    Acima de 10 Salários Mínimos 2,29% 5,31% 30,11% 14,25% 8,65% 3,24% 11,58% 9,92% 1,92% 3,77% 5,67%

    GRÁFICO 7

    TABELA 7