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Mercator - Revista de Geografia da UFC E-ISSN: 1984-2201 [email protected] Universidade Federal do Ceará Brasil Firmino Barbosa, Maria Emanuella; Furrier, Max CARACTERIZAÇÃO GEOMORFOLÓGICA DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DA SALSA, PARAÍBA-BRASIL Mercator - Revista de Geografia da UFC, vol. 11, núm. 26, septiembre-diciembre, 2012, pp. 149-156 Universidade Federal do Ceará Fortaleza, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=273625981013 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

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Mercator - Revista de Geografia da UFC

E-ISSN: 1984-2201

[email protected]

Universidade Federal do Ceará

Brasil

Firmino Barbosa, Maria Emanuella; Furrier, Max

CARACTERIZAÇÃO GEOMORFOLÓGICA DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DA SALSA,

PARAÍBA-BRASIL

Mercator - Revista de Geografia da UFC, vol. 11, núm. 26, septiembre-diciembre, 2012, pp. 149-156

Universidade Federal do Ceará

Fortaleza, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=273625981013

Como citar este artigo

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Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

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www.mercator.ufc.br 00[: IOA215!RM2012.11 26.00 10

CARACTERIZAÇÃO GEOMORFOLÓGICA DA BACIAHIDROGRÁFICA DO RIO DA SALSA, PARAíBA-BRASIL

characterization geomorpho/ogk o( Salsa's River watershed, Paraiba-Brazil

Maria Emanuella Finnino Barbosa"Max Furricrv-

Resumo

o presente traba lho almeja ampliar os conhecimento s sobre a geomorfolcgia da bacia hidrográfica do rio daSalsa, localizada no municíp io do Conde, estado da Paraíba -Brasil. A pesqu isa teve com obj etc nortcadc relab orar cartas tem áticas relacionadas aos aspect os morfométriccs da bacia ta is com o: hierarquia fluvia l.h ipsomc tria e declividade e a realização de cálculos mcrfométricos, visando caracterizar, com maior deta­lhe, a geomcrfolo gia da bacia hidrográfica. Após a obtenção dos dados morfométricos e da confecção dosprodutos cartográficos pode-se ava liar prov ávei s influências da tectónica sobre a morfologia des-..a bacia.Já de- pos se dos prim e-iros resultados observou-se o elevado nível de dissecação da Formação Barreiros e adiscrepância dessa dissecação entre os divisores topográfi cos localiza dos ao leste e oe ste da bacia hidrográficado rio da Salsa. Na Formação Barre-i ras, foi possível observar indicativos de- tecton ismc a part ir de recuos decabecei ras com entalhes acentuados e bastante diferenciados entre os setores L e \V,da dir ecã o subsequentedr, rio da Salsa S-N, que é discordante- da direçêc dos principa is curs os fluvi ais e- da incli nação da próp riaForma ção Barreiras que é de- \V-E, e de- seu curs o bastant e rctil ineo indicando um aju ste a uma linha de falha.

Palavras-chave: Bacia hidrográfica, Rio da Salsa, Formaçã o Barreiras, Mc rfomctrte .

Abstract

The presem work nims to exten d knowledge about the geomorphology of Salsa 's nver wate rshcd, locat ed inthe municipal dtstrict of Conde, Stete of Paretba/Braail. The resea rch object wa s to devclop thcm etic nmpsrelat cd to mc rphometri c aspe cts of the basin how: fluv ial hierarchy, hypsometrtc end s lope. Afte r obtainiugthe morphometr ic data can essess the Iikely te ctonic influen ccs on th e morph ology of thc basin, Mc rcover,we rc mede two topcgraphical pro files ofthe arca , thr ough which tt was pos sible to examin e mor e detai l th easpects geomorphological and Slop e of basin. Alrcady of possc ssion of th e first results of this study wa sobserv ed with th e analysis of cha rts and topograph ical prof ilesthe high level of disscction of the Barrei rosPonnation and the dissecti o n of this discrepancy bctween thc margin left and right of Salsa's river. ln th eBarrei ras Formation, it was observed indicativo of tectonic retrea ts from the head..vater notched qu ite differentand the dir cction of the obsequen t Salsa's rivc r (S-N) , which is discordant with thc di recuon of main ri vcrsaud th e inclmatio n of the Barrei ras Formation wh ich is itself W-E and its fairty st raight course iudicatingnn adjustmcnt to a fau lt line.

Key words: Watcrshc d, Salsa river, Barreiras Formatíon, Morphcmetry.

Resumen

EI prese nte trab ajo tiene como obj etivo amp liar los conocimientos sobre la geomorfolcgia de la cuencadei rio de la Salsa, ubic ado cn cl município de Conde, en cl estado de ParetbaBrasil . La investi gnción fueobjeto de gu iar y produc ir lIlapas temáticos relacionados con aspectos morfométricos de la cuenca, talescom o: la jerarqu ia fluvial, hipsomc tria y la inclinación y el logro de los cálculos morfcmétricos para carac­tcrizar, ccn mayor detallc, la geolllo rfolog ia de la cuenca. Después de obtener los dntos lllorfométricos yla confe cci6n de productos cartogriificos pued e eva luar posibles influencias tectónic as e-n la morfologi a dela cuellca dei fÍo. Ya en posesi6n de los pr imeros resu ltados observados el alio nivel de la disección de laForlllaci6n Ba rreiras, y la discrepanci a de la disección entre los dÍ';, isores topograficas s ituadas aI este y aioest e de la cuen ca dei rio de la Salsa. N a Fornmción Barreiras fue posible obser"ar indicativo de tectónicaen los reveses de cabecer a con muescas acentua dos y muy distinta ent re los sect ores L y W. Ia dire-cci{,nsu bsequente dei rio de la Salsa S-N, lo que es incompat ible con la dirección de los princ.ipalcs cursos de losrios y la incli naci61l de propia f onnació n Barreiras que es \....-E. y por supue~10, es bastante rectilínea queindica un ajuste a una !inca de falia.

Palabras clav e: Cuenca hidrográfica. Rio de la Sal sa, Fonnación Barrei ras , Morfometri a.

(*) Mest randa do Programa de Pós-Graduação em Geografia dalJniversidnde Fede ral dn Paraiba - Cmnpus I, Departame ntode Geoc iéncias. Cidade lJn iver sita ria, Castelo Branco III CEP : 58059-900 - João PesSúa (PB) , Brasil. Tel: (+ 55 83) 32 16 7432

ma [email protected]

(**) Prof. Dr do Progra ma de Pós-Gra duação em Geogra fia da lJniversidnde Federal da Para iba - Cmnpus I, Departame ntode Geoc iénc.ias. Cidade l1nivC'f'sitá ria, Castelo Branco III CEP : 58059-900 - João PesSúa (PB) , Brasil. Tel; (+ 55 83) 3216 7432- max.furrier(<<;hotm ail.com

MERCAfaR.Mercator, Fortaleza, v. 11, n. 26, p. 149-156, set./dez. 2012.

ISSN 1984-2201 © 2002, Universidade Federal do Cear á. Todos os ci reitos rese rvados.

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BARBOSA, M. E. F.; FURRIER, M.

INTRODUÇÃO

o estudo foi realizado na bacia hidrográficado rio da Salsa, localizada no municipio do Conde,estado da Paraiba/Brasil. Essa bacia está localizada nos Tabuleiros Litorâneos esculpidos sobre ossedimentos areno-argilosos mal consolidados da Formação Barreirasde idade atribuida ao Mioceno(ARAI, 2005).

Aanálise do relevo é de grande importância não só para a própria geomorfologia, mas tambémpara as outras ciências da terra que estudam os componentes da superftcie terrestre, bem comona definição de fragilidade/vulnerabilidade do meio ambiente e no estabelecimento de legislaçãopara a sua ocupação e proteção. Dependendo de suas características, o relevo favorece ou dificul­ta a ocupação dos ambientes terrestres pelo homem, além disso, a geomorfologia dispõe de umagrande variedade de métodos, técnicas e equipamentos que permitem estudar com profundidadeformas de relevo e processos geomorfológicos, ao combinar modelos de previsão, observações decampo e informações extraídas através de técnicas de Sistemas de Informações Geográficas (SIG)(FLORENZANO, 2008).

Apesquisa tevecomobjeto norteador a elaboração de cartas temáticas relacionadasaos aspectosmorfom étricos da bacia tais como: hierarquia fluvial, hipsometria e declividade. Foram realizadoscálculos morfom étricos seguindo a metodologia de Strahler (1 957). Visando quantificar as princi­pais caracteristicas morfológicas, produzindo cartas temáticas que visam compreender a evoluçãogeomorfológica da bacia. Os produtos cartográficosgerados bemcomo os resultados morfométricosobtidos poderão auxiliar futuras intervenções antr ópicas na mesma.

A bacia do rio da Salsa é composta pelo rio principal denominado rio da Salsa, pelo riacho daBica e demais córregos semdenominação. Abacia está localizada entre as coordenadas de longitude34°55' 12,91"/34°50 '5 1,07"W e latitude 7"18'21,47"/7"14'0,01"S.

A partir desse estudo almeja-se contribuir para um melhor conhecimento da dinâmica dosprocessos geomorfológicos na área em questão enfatizando, também, os outros componentes dapaisagem e suas interrelaçõ es, fornecendo assim dados que possam servir de subsidio para proj etosde plancjamcnto ambiental e territorial.

METODOLOGIA

Os materiais utilizados foram: cartas topográficas do Conde (SB.25-Y-C-III-3-NO), Jacumã(SB.25- Y-C-III-3-NE), Santa Rita (SB.25-Y-C-III-I -SO) e Nossa Senhora da Penha (SB.25-Y-C­III-l -SE), todas na escala de I: 25.000 (SUDENE, 1974), com equidistância entre as curvas denivel de 10m. Foi feitoum mosaico da bacia com as cartas topográficas e em seguida a imagem foiimportada para o Software Spring 5.1 .7, para ser realizado o processo de vetorização. Concluidoo processo de vetorização, foi elaborado o Modelo Numérico do Terreno (MNT) da bacia e comesses dados pode-se fazer o processo de contagem e mensuração dos canais e, por fim, a confecçãodas cartas temáticas.

Foram confeccionadas as cartas hipsométrica e c1inográfica. Na carta hipsom étrica foramdelimitadas as altimetrias de 0- 10 m, para se detalhar com maior precisão a, planicies e terraçosfluviais, e a partir dos 10 m foram delimitadas altimetrias com intervalo de 20 m até o patamar de140 m. Nacarta clinográfica foram adoradas as classes de declividade proposta por Herz e De Biasi(1 989) que amarram essas classes aos limites utilizados internacionalmente, bem como a trabalhosdesenvolvidos por institutos de pesquisa nacionais e a leis vigentes no Brasil.

As classes de declividades elaborada, por Herz e De Biasi (1 989) foram delimitada, e espe­cificadas da seguinte forma:

• < 12%- Faixa que define o limite máximo parao emprego de mecanização agricola (CHlA­RINI; DONZELLI, 1973 apud, HERZ; DE BIASI, 1989);

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Caracte rização Geomorfológica da Bacia Hidrográfica do Rioda Salsa, Paraíba-Brasil

12-30% - Lei Federal 6.766!79 limita em 30% de declividade a urbanização sem restrições:

30-47% - Lei Federal 4.771f65 (Código Florestal) limita em 47% de declividade o corteraso da vegetação:

• 47- lO0% - Lei Federal 4.771 165 (Código Florestal) proíbe a derrubada de floresta nesteinte rvalo de declividade sem um regime de utilização racio nal que vise a rendimentos perma­nentes:

• 100% - Lei Federal 4 .77 1!6 5 (Código Florestal) considera toda a área co m esta decl ividadee super ior como área de preservação permanente .

Os cálculos referentes aos aspectos morfom étricos foram: relação de bifurcação [Rb), com­primento dos canais de cada ordem (L), comprimento médio dos seguimentos (Lm), relação entreo índice do comprimento médio dos canais e o índice de bifurcação (Rib}, relação entre os com­primentos m édios dos canais (RLm) e o comprimento do rio principal. Com os resultados doscálculos morfom étricos e das cartas temáticas geradas pode-se fazer um diagnóstico detalhado dabacia quanto ao grau de dissecação, disc repância de canais entre os setores L e W, evidên cias detectónica rece nte através dos desníveis altimétricos verificados e do ajuste estrutural da bacia.

RESULTADOS

Com a análise das cartas temáticas constatou-se a elevada disseca ção da Formação Barreirase a diferença dessa dissecação entre os setores W e L da bacia hidrográfica (Figura 1). Na For­mação Barreiras, foi poss ível observar indicativos de tectonismo a parti r da disc repância entre osentalh es fluviais e recuos de cabecei ras entre os dois setores da bacia. Isto se torna importante , poi sa análise morfológica desta unidade Iitoestatigráfica é de suma im portância para a compreensãodos mecan ismos que regem a geomorfologia do litoral nordestino, principalmente , no tocante aosmecan ismos que regem as morfologias das bacias hidrográficas do litoral da Paraíba, muitas delasfortemente atreladas ao fator tect ônico .

A bacia do rio da Salsa possu i uma área de aproximadamente 23 ,6 km' tendo seu escoamentosu perficial perpendicular, no sentido S-N , à inclinação das cam adas sedim entares que se encon­tram dispostas de W-L. O rio principal possui um padrão retilineo , corroborando a hipótese queo seu curso está disposto sobre uma linha de falha com rejeito vertica l, sendo evidenciada pelodesnível altimétrico ace ntuado entre os setores W e L da bacia. Para JIoward (1967) uma anomaliade drenagem pode ser compreendida como uma discordância loca l da drenagem regional e/ou dospadrões de canais, sugerindo desvios topográficos ou estruturais. Uma das anomalias identificadasna bacia em estudo foram: o padrão retilineo do curso principal e anómalo em relação ao padrãode drenagem regional.

Observando a carta hipsom étrica da bacia do rio da Salsa (Figura 1), nota-se que o setor oesteda bacia tem uma maior elevação quando comparado ao setor leste, chegando a patamares queatingem 12 1 metros de altitude. Comparando-se com o setor lest e, os patamares são mais rebai­xados , alcançando a alt itude máxima de 92 metros , perfazendo um desnível entre os dois setoresde 29 metros . Outro ponto relevante constatado e bastante visível na carta hipsom étrica e na cartaclinográfica (Figuras 1 e 2) é a acentuada dissecação do relevo no setor oeste da bacia originandoamplos anfiteatros erosivos e com maior número de afluentes.

Na carta clinogr áfica (Figura 2) observa- se que as maiores declividades estão nas cabeceirasde drenagem da porção oeste da bacia do rio da Salsa. Avaliando toda a área de estudo chega-seao resultado de que uma considerável parte da bacia possui declividades em torno de O- 12% quecorresponde aos topos aplainados dos tabulei ros e as planícies e ter raços fluviais . Há também opredomínio das decl ividades entre 12-3()oÁl nas cabeceiras de drenagem vporém na porçâo NW,

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BARBOSA, M. E. F.; FURRIER, M.

Figura 1- Carta hipsométrica dabacia hidrográfica do rio da Salsa e adjacências. Observar que as maiores altitudesestão na porção oeste da bac ia.

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BAC IA HIDROGRÁFICA DO RIO DA SALSAHIPSOMETR IA

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Figura 2 - Carta c1 inográfica da bacia hidrográfica do rio daSalsa e adjacências.

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BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DA SALSADECLIVIDADE

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MERCAiIl Mercato r, Fortaleza, v. 11, n. 26, p. 147-154, set. /dez. 2012.

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Caracte rização Geomorfológica da Bacia Hidrográfica do Rioda Salsa, Paraíba-Brasil

correspondente ao riacho da Bica e seus afluentes, pode- se encontrar valores de 47- 100%. Na por­ção NE verificam-se, também, va lores entre 47- 100%, embora esta fração da área possua altitudesinferiores ao sctor W, o que pode corroborar com a evi dência de um pulso de scerguimento nestaporção. Outra dado que corrobora a evidência de influência de tcctonismo recente é a morfologia dacabeceira de drenagem que se encontra bastante entalhada com declividades elevadas que atestamum recuo acelerado.

HIERARQUIA FLUVIAL ECÁLCULOS MORFOMÉTRICOS

A hierarquia de um a bacia hidrográfica consiste no processo de estabelecer a classificaçãode determinado curso de água (ou da área drenada que lhe pertence) no conjunto total da baciahidrográfica na qual se encontra (STRAHLER, 1957). Para a cxtraçâc do comprimento dos canaisde cada ordem deve ser levada em consideração a lei do número de canais, onde , não se consideranenhuma mensuração, mas somente o ponto de origem e a confluência dos seguimentos (1IORTON,1945) . Ela pode ser aplicada com a mesma cxatidão nas bacias hierarquizadas con forme o sistemade Horton ou com o de Strahler (CIIRISTOFOLETTI, 1980). Isso é realizado com a função defacilitar e tomar mais objetivo os estudos morfo métricos sobre as bacias hidrográficas (F igura 3).

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-- 1· 0 RDEM

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LEGENDA

BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DA SALSA

HIERARQUIA FLUVIAL

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Figura 3 ~Hierarquia fluvial da bacia hidrog ráfica do rio da Salsa.

A partir dos dados obtidos com a hierarquização se chegou ao resultado que a bacia hidro grá­fica do rio da Salsa é de 43 ordem, possuindo ao todo 94 canais , que estão distribuídos segundo assuas ordens hierárquicas na tabela abaixo (Tabela 1) . Outro ponto constatado através da hierarquiafluvial é a diferença conspícua no número de caudais entre os setores W e L e o desenvolvi mentodos mesmos, visto o setor W apresenta mais caudais de 2:1 e ):l ordens que o sctor L.

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BARBOSA, M. E. F.; FURRIER, M.

Tabela 1- Resultados damorfometria da bacia hidrográfica do rio da Salsa

Comprimento dos Relação entre os Re lação e ntre o índice do

canais. de cada comprimentos comprimento médio dosOrdem N!!de Relação de ordem (L) Comprimento médio dos méd ios dos canais canais e o índice de bitur-

Canais bifurcação seguimentos Ilm) (RLm) ração {Ribl

l ' 69 21. 324 0, 309

3,83 L 95 1 0, 5 13

2' 18 10,849 o, 603

3 L 492 0, 498

3' 6 5,402 0.9

6 5, 441 0, 90 7

4' 1 4, 897 4, 897

Os aspectos morfométricos das bacias hidrográficas refletem algu mas das interrelações maissignificativas entre os principais fatores responsávei s pela evolução e organização do modelado, empart icular a geomorfo logia. Os cálculos morfométr ico s relacionados a caracteres espac iais, linearese hipsom étricos da drenagem contribue m para uma melhor caracterização das unidades geornor­fológicas, cuja qua lidade e precisão variam conforme a particularidade redacional do pesquisador.

Pode-se ressaltar a importância quantitativa que a aplicação dos cálculos morfométricos dáá pesquisa, possibil itando a comparação concreta com resultados obtidos em estudos efetuadosem out ras bacias hidrográfica, situadas na região, ou até mesmo em bacias localizadas em regiõesdispares, mas que estejam localizada s sobre a mesma formação litológica e com contexto climáticosemelhante. Outro fator que ressalta a importância da morfometria em estudos de bacias hidrog ráficas

:+ é a utilização dos resultados alcançados em projete s de engenharia, bem como em qualquer outrotipo de intervenção antrópica onde há a necessidade de dados quantitativos pretéritos.

Analisando os resu ltados do indice da Relação de bifurcação constatou-se que todos os resul­tados foram superiores a dois (Rb 2:2), co mo estabe lecido por Strahler (19 57) (Tabela I). SegundoSilva et aI. (2003) , o va lor desse parâmetro é maior para áreas amorreadas, com bacias de drenagemmuito dissecadas, do que para bacias com áreas colinosas, sendo de 3 a 4 para as primei ras e maispróximo de 2 para as últimas. Esse valor encontrado não é comum para bacias situadas em áreas degeologia sedimentar e formas tabulares como a bacia em questão, o que pode evidenciar a atuaçãoda tectónica na área .

Porém, Christofolelli (1969) menciona que Strahler(l952), observa a não validade dessa regrade relação, sugerindo ser mais consistente a regra que associa o sub strato geológico com o grau depermeabilidade e da resistência erosiva desse subs trato à relação de bifurcação. Nesse caso o valorobtido estaria mais próximo aos valores encontrados para bacias hidrográficas localizadas em áreascom substrato cristalino e não em áreas com substrato sed imentar como a bacia em que stão, ondeo ideal seria valores da Relação de bifurcação menores que 2 (Rb<2).

A relação entre o indice do co mprimento médio dos canais e o indice de bifurcação (Rib) é umimportante elemento na relação entre a composição da drenagem e o dese nvolvimento morfológicodas bac ia, hidrográficas. Se a relação entre o com primento médio e o indice de bifurcação for igua l,o tamanho médio dos canais crescerá ou dimi nuirá na mesma proporção. Caso não sejam iguai s,o que é mais comum, o tamanho dos canais poderá diminuir ou aume ntar progressivamente coma elevação da ordem dos canais, pois são os fatores hid rológicos, morfológicos e geo lógicos quedeterminam o último grau do desenvolvimento da drenagem em determinada bacia (CIIRISTO FO­LETTI, 1980). Os valores obtidos para a bacia do rio da Salsa entre o comprimento médio dos canaise o indice de bifurcação são diferentes, corroborando a hipótese de influênc ia tectónica na área v istoque a bacia percorre somente uma Iitologia (Fo rmação Barrei ras), que sustenta apenas um cornpar-

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timento morfológico (Tabuleiros Litorâneos), que está inseri do em apenas um domínio climático(tropical úm ido) e possui uma dimensão areal pequ ena (23,6 km2). A configu raçã o morfo lógica daárea atrelada ao fator tectónico já foi disc utida em trabalhos de Bezerra et al. (200 l), Furrier et a i.(2006) , Furrier (2007) e Brito Neves et al. (2009), mas sem a uti lização de dados morfométricos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A conf igu ração morfo lóg ica da bacia hidrográfica do rio da Salsa está intimamente atrelada aofator tcct ônico recente, visto que toda área est á assentada sobre a mesma Iitologia, a Fonnação Bar­reiras, constituída princ ipalmente por sedim entos areno-argilosos mal consolidados. A dis crepânciaaltimétri ca , os diferentes índices de declividade e a quant idade discrep ante de canais flu viais dosscrorcs leste e oeste, os amplos anfiteatros erosivos n a porção oeste. o sentido subsequente (S-N)do rio principal corrobora fortemente para a aferição do fator tectônico como princip al elementona configuração morfológica da bacia .

Essas caracter ísticas são fortes ev idências que o fator tectónico fo i o gr ande influenciadorna atual configuraç ão do re levo da área e, consequentemente , dos padrões da rede de drenagem,já que a bacia apresenta uma área reduzida, não havendo diferenciação p luviométrica significanteque poderia influenciar a morfologia da área ao ponto de produzir formas e arranjos tão distintos.

O con hecim ento gcomorfotóg ico da bacia hidrográfica do rio da Salsa e o entendimento de seuco mp ortamento morfo lógico e morfométrico poderão subsidiar inúmeras intervenções antrópicasque por ventura venham a ocorrer nessa bacia como: lo teamentos, cultivos diversos, barra gens,sendo esta última propicia na referi da bacia devida sua morfo logia alongada e com canais fortementeentalhados o que possibilitari a um armazenamento de água substancial com uma área a lagada deproporções reduz idas.

Os produtos cartográficos confec cionados neste traba lho serão de fundamenta l importânciano plancjamcnto territor ial e ambiental da área em questão, bem co mo servirão de ferramentas naimplementação das pro váveis intervençõe s acima descritas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Trabalho enviado em setemb ro de 20 12

Trabalh o aceito em novembro de 2012

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