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Universidade Estadual do Cear
Faculdade de Veterinria
Programa de Ps-Graduao em Cncias Veterinrias
Jos Maurcio Fonteles Gomes
Caracterizao dos dermatfitos e leveduras
isolados de leses sugestivas de dermatomicoses
em ces
Fortaleza, Cear
2004
2
Universidade Estadual do Cear
Faculdade de Veterinria
Programa de Ps-Graduao em Cincias Veterinrias
Jos Maurcio Fonteles Gomes
Caracterizao dos dermatfitos e leveduras
isolados de leses sugestivas de dermatomicoses em
ces
Fortaleza, Cear
2004
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Cincias Veterinrias da Faculdade de Veterinria da Universidade Estadual do Cear, como requisito parcial para obteno do grau de Mestre em Cincias Veterinrias. rea de Concentrao: Reproduo e sanidade de carnvoros Orientador: Prof. Dr. Marcos Fbio Gadelha Rocha
3
Universidade Estadual do Cear Pr-Reitoria de Ps-Graduao e Pesquisa
Faculdade de Veterinria Programa de Ps-Graduao em Cincias Veterinrias
Ttulo do Trabalho: Caracterizao dos dermatfitos e leveduras isolados de leses
sugestivas de dermatomicoses em ces.
Autor: Jos Maurcio Fonteles Gomes
Defesa em 09/12/2004 Conceito obtido: Satisfatrio
Banca Examinadora:
__________________________________
Marcos Fbio Gadelha Rocha, Prof.Dr.
Orientador
_________________________________ _______________________________
Salette Lobo Torres Santiago, Profa. Dra. Jos Jlio Costa Sidrim, Prof.Dr.
Examinadora Examinador
__________________________________
Maria Ftima da Silva Teixeira, Profa. Dra.
Examinadora
4
Devemos buscar amigos como buscamos livros... mendigo o homem que no tem amigos Annimo
5
A Deus. Aos meus pais, Aguilberto e Nuplia.
minha esposa Danielle e meu filho Rafael.
Dedico
6
AGRADECIMENTOS
Ao Professor Doutor Marcos Fbio Gadelha pela pacincia, estmulo, confiana e
acima de tudo amor profisso.
Ao Professor Doutor Jos Jlio Costa Sidrim pelo exemplo de profissionalismo e
dedicao.
Biloga Raimunda Smia Brilhante, pela inestimvel orientao e colaborao.
Ao Mdico Veterinrio Jos Ricardo Henz, pela amizade e incentivo.
minha esposa Danielle e meu filho Rafael pelo amor a mim dedicado.
Ao Programa de Ps-Graduao em Cincias Veterinrias da Faculdade de
Veterinria da Universidade Estadual do Cear, pela oportunidade de crescimento
humano e profissional.
Ao Centro Especializado em Micologia Mdica da Universidade Federal do Cear
pelo essencial suporte tcnico.
Aos colegas, funcionrios do CEMM, amigos e todos aqueles que contriburam
direta e indiretamente na realizao deste trabalho.
7
RESUMO
Esta dissertao estuda os aspectos epidemiolgicos e laboratoriais das
dermatomicoses de ces na cidade de Fortaleza, bem como avalia dois protocolos
teraputicos convencionais, associados ao levamisol. Cento e vinte e sete ces suspeitos de
dermatomicoses foram submetidos avaliao clnica e micolgica. A avaliao clnica
consistiu do histrico clnico, exame fsico e caractersticas de manejo. Na avaliao
micolgica, o espcime clnico era submetido ao exame direto e cultura fngica. Os fungos
isolados foram correlacionados com as caractersticas clnicas dos animais acometidos. Os
ces com dermatofitose por Microsporum canis foram separados em 4 grupos de 6 animais,
submetidos aos seguintes protocolos teraputicos: 1 Griseofulvina (50 mg/kg/sid/po); 2
Griseofulvina associada ao levamisol (2,2 mg/kg/a cada 2 dias/po); 3 Cetoconazol (10
mg/kg/sid/po); 4 Cetoconazol associado ao levamisol. O tratamento se estendeu por 30
dias, sendo realizadas avaliaes clnicas e micolgicas semanalmente. Foi estabelecida
uma tabela de escores, previamente estipulada, de acordo com a severidade das leses
clnicas. Foram identificados 33 ces (25,98%) portadores de dermatopatia fngica. Os
dermatfitos e leveduras compreenderam, respectivamente, 28 (84,84%) e 5 (15,15%). Os
dermatfitos identificados foram M. canis (n=22; 78,57%), Microsporum gypseum (n=4;
14,29%), Trichophyton tonsurans (n=1; 3,57%) e Microsporum fulvum (n=1; 3,57%). Dentre
as leveduras, foram isoladas: Malassezia pachydermatis (n=4; 80%) e Candida tropicalis
(n=1; 20%). Observou-se que o M. canis mais freqente em animais de plo longo do que
o M. gypseum (p=0,0140). Os animais domiciliados em apartamento foram mais acometidos
por M. canis, enquanto os domiciliados em casa, por M. gypseum (p=0,0140). Os animais
portadores de M. pachydermatis apresentaram prurido mais intenso (p=0,0060) e plo mais
oleoso (p=0,0015) quando comparados com os ces acometidos com dermatfitos. Quanto
aos tratamentos, observou-se que no houve diferena estatstica significativa entre os
grupos II, III e IV. Os animais do grupo 1, tiveram uma diferena estatstica significativa em
relao aos demais grupos. A associao de levamisol aos protocolos teraputicos no se
mostrou vantajosa. Em suma, a dermatofitose representa papel importante nas
dermatopatias fngicas e a griseofulvina, ainda , a melhor opo teraputica para o
tratamento de M. canis.
8
ABSTRACT
The purpose of this study was to evaluate the epidemiological and clinical
features of the canine dermatomycosis in the city of Fortaleza. The possible improvement of
two conventional therapeutic protocols was also evaluated, associated to the levamizole.
Hundred and twenty-seven dogs with clinical suspected dermatomycosis were submitted to
the clinical and mycological evaluation. The clinical evaluation consisted of the clinical
report, physical exam and handling characteristics. In the mycological evaluation, the clinical
specimen (hair and/or skin) it was submitted to the direct microspcopy and fungal culture.
The isolated fungi were correlated with the clinic characteristics of the attacked animals.
Twenty-four dogs with dermatophytosis were separate in four groups of 6 animals. Each
group was treated with the following therapeutic protocols: 1 Griseofulvin (50 mg/
kg/sid/po; 2 - Griseofulvin combined with Levamizole (2.2 mg/kg/every other day/sid/po); 3
Ketoconazole (10 mg/kg/sid/po); 4 - Ketoconazole combined with Levamizole. The treatment
lasted 30 consecutive days. The dogs were examined once a week and the severity of
lesions was scored semi-quantitatively. In addition, hair samples were collected from each
dog once a week for a fungal culture. Thirty three dogs (25.98%) with fungal dermatopathy
were identified after primary cultivation. The dermatophytes and yeast consisted of 28
(84.84%) and 5 (15.15%), respectively. The identified dermatophytes were Microsporum
canis (n=22; 78.57%), Microsporum gypseum (n=4; 14.29%), Trichophyton tonsurans (n=1;
3.57%) and Microsporum fulvum (n=1; 3.57%). The following were isolated from the yeast:
Malassezia pachydermatis (n=4; 80%) and Candida tropicalis (n=1: 20%). It was observed
that M. canis was more frequent in long-haired animals than M. gypseum (p=0.0140).
Animals keep in apartments are attacked more by M. canis, and those in houses, by M.
gypseum (p=0.0140). The animals with M. pachydermatis presented more intense itching
(p=0.0060) and more oily hair (p=0.0015) when compared with the dogs with M. canis.
Significant differences in clinical scores were not seen among the groups 2, 3 and 4. The
dogs of the group 1, had a significant statistical difference in relation to the other groups.
Briefly, the dermatophytosis represents an important fungal disease of dogs and the
griseofulvin is still the best therapeutic option for the treatment of M. canis.
9
SUMRIO
LISTA DE ABREVIATURAS E SMBOLOS 11
INTRODUO 12
REVISO DE LITERATURA 14
1. Dermatofitose. 14
1.1. Aspectos histricos 14
1.2. Epidemiologia 15
1.3. Patogenia 17
1.4.Dermatofitose versus sistema imunolgico 18
1.5. Diagnstico 19
1.5.1. Exame direto 20
1.5.2. Isolamento primrio em meios de cultura 20
1.5.3. Diferenciao microscpica das colnias 21
1.5.4. Perfurao de plo in vitro 22
1.5.5. Teste da Urease 22
1.5.6. Prova de requerimentos vitamnicos 23
1.6. Tratamento da dermatofitose 23
1.6.1. Griseofulvina 23
1.6.2. Derivados azlicos 24
1.6.3. Alilaninas 26
1.6.4. Morfolnicos 27
1.6.5. Lufenuron 28
1.6.6. Vacinas 28
2. O uso de imunomoduladores 28
2.1. Levamisol 29
JUSTIFICATIVA 32
HIPTESE CIENTFICA 33
OBJETIVOS 34
Objetivos gerais 34
Objetivos especficos 34
MATERIAL E MTODOS 35
RESULTADOS E DISCUSSO 40
CONSIDERAES FINAIS 52
10
ARTIGOS ANEXOS 54
Artigo anexo 1: Epidemiological anda clinical features of canine dermatophytosis
in northeast Brazil 55
Artigo anexo 2: A study of the efficacy of the combination of Levamisole to
Griseofulvin and Ketoconazole in the treatment of the canine Microsporum
canis infection 67
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 68
ANEXOS 78
Anexo 1: Ficha de avaliao clnica e micolgica 78
Anexo 2: Ficha de acompanhamento clnico e micolgico semanal 79
Anexo 3: Fichas de acompanhamento clnico e micolgico individuais 80
11
LISTA DE ABREVIATURAS E SMBOLOS
C - Graus Celsius
CEMM Centro Especializado em Micologia Mdica
cm - Centmetros
Gr - Grupo
kg - Quilograma
LPMN - Leuccitos polimorfonucleares
mg - Miligrama
M. canis - Microsporum canis
M. gyseum - Microsporum gypseum
M. pachydermatis - Malassezia pachydermatis
PO - Por via oral
SID A cada 24 horas
UFC Universidade Federal do Cear
% - Por cento
12
INTRODUO
As dermatopatias, isoladas ou associadas a outros distrbios drmicos,
constituem um do principais motivos de visitas s clnicas e hospitais veterinrios.
Dentro do atendimento clnico de carnvoros domsticos, estas constituem 30%,
independente da localizao geogrfica e do desenvolvimento scio-econmico
regional (Larson et al., , 1980). A introduo de mtodos diagnsticos mais
confiveis das dermatopatias, vem evidenciando o crescente aumento de infeces
por fungos queratoflicos dos gneros Microsporum e Trichophyton, ou seja, as
dermatofitoses (Brilhante et al, 2003). Paralelamente ao avano no diagnstico
clnico-laboratorial, a avaliao do potencial zoontico destas enfermidades se
reveste de importncia, devido proximidade destes animais com os seres
humanos.
Diagnosticar, instituir terapias e manejos adequados para dermatofitoses
correlacionando-as com a enfermidade em seres humanos, tornou-se um constante
desafio aos clnicos e pesquisadores.
A base para a abordagem teraputica das dermatofitoses est no diagnstico
clnico-laboratorial preciso. A elaborao de um fluxograma de procedimentos,
envolvendo uma completa anamnese, exame clnico apurado e a adoo de
tcnicas laboratoriais adequadas, constitue a base do diagnstico e
conseqentemente, o subsdio mais importante para a escolha do agente
teraputico e das medidas de controle e manejo.
Em alguns animais observa-se que mesmo munido dos cuidados supra
citados, tanto na avaliao clnica quanto laboratorial, estes no respondem
adequadamente aos protocolos teraputicos escolhidos (Scoot et al., 1996). A partir
da melhor compreenso dos diversos mecanismos de resposta imunolgica do
hospedeiro frente s dermatofitoses, alguns autores tm relatado que nos animais
no responsivos aos tratamentos clssicos, geralmente h uma resposta
imunolgica mediada por clulas, comprometida.
Frente a esta constatao, torna-se plausvel a otimizao das condutas
teraputicas, associando os antifngicos clssicos drogas capazes de estimular ou
13
mesmo de restabelecer a capacidade de resposta imunolgica, como os
imunomoduladores, por exemplo. Esta combinao no s amplia o efeito
teraputico dos antifngicos como tambm pode criar condies de competncia
imunolgica frente a estes e outros patgenos.
As drogas ditas imunomoduladoras ainda esto cercadas de incertezas
quanto sua eficcia e viabilidade clnica. Dentre estas drogas, o Levamisol,
frmaco j conhecido por sua ao anti-helmntica e seu baixo custo, tem se
mostrado particularmente eficiente na estimulao da imunidade mediada por
clulas. Seu mecanismo de ao e sua eficcia j foram objetos de estudos em
vrias enfermidades humanas com resultados ora promissores ora contraditrios.
14
REVISO DE LITERATURA
Os fungos, objeto de estudo na micologia humana e veterinria, so agentes
de processos infecciosos denominados micoses, que podem ser classificadas
clinicamente, de acordo com o local de instalao do agente infeccioso, em
superficiais, subcutneas e sistmicas. As micoses superficiais, genericamente
chamadas de dermatomicoses, podem ser classificadas em micoses superficiais
estritas e dermatofitoses (Sidrim & Moreira, 1999; Sidrim & Rocha, 2004). As
dermatomicoses so definidas como o conjunto de entidades clnicas causadas por
fungos causadores de alteraes nas camadas mais superficiais do extrato crneo.
Os dermatfitos e algumas leveduras so os principais grupos de microrganismos
implicados nas dermatomicoses (Sidrim & Rocha, 2004). A descrio dos
dermatfitos ser realizada detalhadamente, a seguir, em virtude deste grupamento
fngico ser o principal objeto de nosso estudo.
1. Dermatofitoses
1.1. Aspectos histricos
As dermatofitoses parecem ser to antigas como a prpria histria da
humanidade. Segundo Greer (1994), a existncia de fungos queratinoflicos
saprfitas inicia-se no perodo mesozico, onde podem ser referidas em espcies
zoofilicas e com posterior adaptao, passando a ser antropoflicas.
O estudo das dermatofitoses teve incio em 1839, quando Robert Remak
elucidou a etiologia do favus. Em seguida, em 1842, David Gruby redescobre o
agente etiolgico do favus ratificando a etiologia das tinhas (Sidrim & Moreira, 1999;
Sidrim & Rocha, 2004).
Aps aproximadamente 50 anos, os dermatfitos foram estudados por
Raymond Jacques Andrien Sabouraud e em seu tratado, denominado Les teignes,
15
os dermatfitos foram enquadrados em quatro gneros: Achorion, Trichophyton,
Epidermophyton e Microsporum.
Emmons, em 1934, revalidou a taxonomia assexuada dos dermatfitos,
extinguindo o gnero Achorion, ficando os dermatfitos classificados nos trs
gneros restantes at a atualidade. Em 1960, a reproduo sexuada foi estudada
por Donald Griffin, corroborando os estudos anteriormente realizados por Nannizzi,
em 1926. Em 1986 ocorreu a classificao sexuada dos dermatfitos em um nico
gnero Arthroderma (Sidrim & Moreira, 1999; Sidrim & Rocha, 2004).
Nos dias atuais encontramos um grande nmero de fungos pertencentes aos
gneros Trichophyton, Epidermophyton e Microsporum. Entretanto, a denominao
dermatfito atribuda somente aos fungos pertencentes a esses gneros que so
queratinoflicos capazes de causar enfermidades em humanos e animais (Sidrim &
Moreira, 1999; Sidrim & Rocha, 2004).
1.2. Epidemiologia
Nos animais domsticos, as dermatofitoses, consideradas como micoses
superficiais, possuem grande interesse pelo seu potencial zoontico, podendo ser
transmitidas de uma espcie animal para outra, bem como do animal para o homem,
ou ainda, mais raramente, do homem para os animais (Richard et al., 1994). No
meio urbano, 20% das infeces fngicas humanas, acometendo pele glabra, so de
origem animal, em decorrncia do contato prximo com animais de estimao,
como, ces e gatos (Crespo et al., 2000).
Os animais so considerados como um reservatrio de dermatfitos
zooflicos, sendo a sua incidncia varivel de acordo com o clima e com o seu
habitat. Conseqentemente observa-se variao de incidncia tanto relacionada
proximidade do homem com os seus animais de estimao como a caracterstica
ambiental (Cabaes et al., 1997).
16
Estudos sobre a incidncia e etiologia das dermatofitoses em animais tm
apresentado diferentes resultados, podendo variar de 7% a 40%, em ces, e de 9%
a 46 %, em gatos (Lewis et al., 1991; Sparkers, 1994; Cabaes, 2000; Brilhante et
al., 2003).
O Microsporum canis o responsvel pela maioria de casos de micoses em
ces e gatos e o mais freqente dermatfito zooflico de humanos (Simpanya &
Baxter, 1996, Cabaes, 2000), seguido de Trichophyton mentagrophytes e
Microsporum gypseum (Larsson 1980; Gambale et al., 1987; Gambale et al., 1993;
Brilhante et al., 2003) em diversas reas geogrficas.
Dentro da relao entre seres humanos e animais, no se pode atribuir
potencial zoontico somente aos animais domsticos que apresentem quadro clnico
de dermatofitoses, mas tambm animais assintomticos, portadores do
microrganismo como parte de microbiota da pele normal (Romano, 1997; Cabaes
et al., 1997), em at 88% de prevalncia (Sparkers, 1994). Observa-se uma estreita
correlao entre estes portadores assintiomticos e a boa adaptao de M. canis
aos plos e pele destes pequenos animais (Moriello & DeBoer, 1991).
Os animais portadores assintomticos de fungos dermatofticos, quando
mantidos em ambientes livres de estruturas fngicas, podem manter-se com exames
micolgicos negativos, provando assim que o animal nada mais do que um reflexo
do seu ambiente, de suas condies de manejo (Sparkes et al., 1994) e
provavelmente do seu status imunolgico (Dahl, 1994). Para determinar se o
animal encontra-se com dermatofitoses, necessrio que o exame direto seja
positivo, bem como haja isolamento do microorganismo em culturas primrias,
correlacionando com a sintomatologia clnica (Moriello et al. , 2002).
Diante de indefinies quanto ao papel exato do reservatrio animal nas
dermatofitoses humanas causadas por fungos zooflicos, sabido que a ausncia de
um reservatrio animal inviabiliza a contaminao homem a homem por cepas de M.
canis aps a quarta passagem (Rippon, 1985).
17
Quanto s raas, pode ser observada uma maior prevalncia em ces da raa
Yorkshire Terrier, Poodle e Pastor Alemo e gatos Persa (Lewis et al., 1991;
Cabaes, 2000; Brilhante et al., 2003). Teoricamente os plos alongados facilitam as
condies timas de temperatura e umidade para que as estruturas fngicas fiquem
protegidas contra a dissecao, favorecendo assim a sua propagao. Tais
evidncias conflitam com trabalhos realizados sobre dermatofitoses em humanos,
onde o plo curto favorece a implantao de artrocondios. A presena de
substncias na pele como sebo e suor, ou ainda fatores genticos podem ser
considerados fatores de susceptibilidade de algumas raas s dermatofitoses
(Sparker, 1993).
A sazonalidade das dermatifitoses rene dados conflitantes, pois alguns
autores no descrevem dados relevantes quanto mudana na flora dermatoftica,
quanto ao perodo ou estao do ano (Baxter, 1973). J outros autores identificam
diferenas na freqncia de dermatfitos, sendo mais prevalente no vero (Lewis,
1991).
1.3. Patogenia
O processo infeccioso primrio clssico est relacionado, principalmente, a
enzimas produzidas pelo dermatfito e a foras mecnicas. A enzima queratinase
pode estar ou no ativa, podendo desenvolver ou no quadros clnicos de
dermatofitose (Sidrim & Rocha, 2004).
Nas dermatofitoses, os plos quando parasitados sempre so
secundariamente a infeco da pele. Tal infeco encontrada na regio do folculo
piloso, invadindo assim a camada crnea da epiderme, que se aprofunda em direo
ao infudbulo piloso. O dermatfito em contato com a queratina remove a cutcula e
retoma o plo (Sidrim & Moreira, 1999). Ao chegar nesse estgio da infeco do
plo, cada espcie fngica manifesta suas particularidades. Esses diversos aspectos
18
parasitrios levaram Sabouraud a descrever cinco tipos de parasitismos pilosos:
endotrix, megasprico ectotrix, micride ectotrix, microsprico e fvico.
Os dermatfitos desenvolvem-se crescendo do centro para as bordas,
resultando, no final de alguns dias, em leses circulares discretas, com reas de
alopecia, bordos eritematosos e vesiculares, que circunscrevem uma parte central
descamativa. Possuem intensa descamao associada ou no resposta
inflamatria, resultante da atividade queratinoltica (Sidrim & Moreira, 1999).
1.4. Dermatofitoses versus sistema imune
Acredita-se que a imunidade celular seja a frao do sistema imunolgico
responsvel pelo controle das dermatofitoses (Marsh & Artis,1984; Dahl, 1987;
Dahl, 1993). As dermatofitoses so combatidas pelo hospedeiro atravs de
mecanismos imunolgicos mediado por clulas, sendo a imunidade adquirida
atravs da infeco ativa. A reao inflamatria ocasionada pela instalao dos
dermatfitos, leva a maior atividade proliferativa das clulas queratinizadas, levando
distribuio do fungo por estruturas mais profundas da pele como o bulbo piloso
(Ogawa et al., 1998) Mecanismos de imunidade inespecfica evitam a penetrao do
dermatfito na derme e na corrente sangnea, at mesmo naqueles animais em
que a imunidade especfica para tal fungo esteja ausente ou comprometida (Ogawa
et al., 1998).
Antgenos presentes na parede celular ativam o sistema complemento atravs
da via alternativa, levando a inibio do crescimento fngico por diversos
mecanismos, estimulados e mediados por fatores deste sistema.
Concomitantemente, a atividade de leuccitos polimorfonucleares (LPMN) parece
estar tambm envolvida na linha de defesa do hospedeiro, sendo a ao destas
clulas, mediada freqentemente por componentes do sistema complemento (Dahl
et al., 1986). O fator C5a parece estar envolvido na capacidade quimiotxica para
LPMN quando da presena de hifas de dermatfito. J o fator C3b est envolvido na
adeso de neutrfilos ao fungo, agindo como uma ponte de opsonizao entre o
fungo e os receptores para C3b e C3bi dos neutrfilos Cr1 e Cr3 (Dahl et al., 1986).
19
Assim, os neutrfilos parecem ter a capacidade parcial de eliminar os fungos ou
simplesmente inibir seu crescimento atravs de dano subletal parede fngica, ou
cobrindo a superfcie de fungos para diminuir a captao de nutrientes. Em suma, os
componentes imunolgicos do plasma e os LPMN efetivamente inibem o
crescimento fngico (Dahl, 1994) Esta atividade previne a septicemia fngica.
Acredita-se que a ativao de complemento e interaes com neutrfilos tambm
pode acontecer na pele, inibindo o desenvolvimento fngico, quando estes tentam
escavar mais profundamente a pele, atravs da produo de enzimas queratolticas,
invadindo o estrato crneo da epiderme vivel (Berk et al., 1976).
Outro aspecto imunolgico das dermatofitoses a existncia de
especificidade relativa da resposta celular. Isto se reveste de importncia no
apenas em termos de defesa do hospedeiro, mas tambm com respeito a
desenvolvimento de vacinas que poderiam prevenir e imunizar os animais e pessoas
suscetveis. Alguns pesquisadores acreditam que existem antgenos comuns a todos
os dermatfitos e outros especficos para cada espcie (Tamagi et al. 1977;
deSanchez & MacKenzie, 1983; MacCarthy & Dhal, 1989; Dahl, 1994)
1.5. Diagnstico das dermatofitoses
As enfermidades micticas tm importncia distinta dentro das patologias
veterinrias devido ao seu potencial zoontico. Apesar da grande incidncia dessas
micoses em nosso meio (Brilhante et al., 2003), bem como, a existncia de espcies
fngicas capazes de produzir diversos quadros clnicos, o diagnstico de tais
molstias comumente e indevidamente realizado apenas pelos aspectos clnicos,
sem o devido diagnstico laboratorial (Hay, 1995; Brilhante et al., 2003).
O diagnstico e subseqente tratamento das micoses deve ser atrelado aos
diagnsticos laboratoriais (Hay, 1995). Justifica-se tal afirmativa devido aos
possveis erros na etiologia baseados exclusivamente na avaliao clnica, as
diferenas dos padres de sensibilidade aos antifngicos entre as espcies e
particularidades da microbiota fngica, demonstrado na variao da populao
fngica de regio para regio (Rubio et al, 1999).
20
1.5.1. Exame direto
O exame direto do espcime clnico a etapa inicial do processamento
laboratorial. Tal exame indispensvel no diagnstico, visto que, quando feito por
micologistas experientes, acarretar uma maior rapidez no diagnstico, bem como,
maior agilidade no tratamento (Brilhante et al., 2003).
Na anlise, utilizam-se diversas preparaes clarificantes, podendo ser citado
o hidrxido de potssio (KOH), em concentrao de 30%. Tais preparaes em
lmina e lamnula podem ser visualizadas em microscopia ptica em objetivas de
10X ou de 40X, sendo sua interpretao feita a partir da ausncia ou presena de
elementos fngicos. Em caso de parasitismos, em pele e unha, por dermatfitos, a
presena de hifas artroconidiadas fundamenta o diagnstico. Em relao ao plo, o
parasitismo deve ser descrito a partir do tamanho do artrocondio e se est por
dentro ou por fora do plo.
1.5.2. Isolamento primrio dos fungos em meios de cultura
O isolamento primrio uma etapa indispensvel na identificao do agente
etiolgico das micoses. Este preparado simultaneamente ao exame direto, onde
alquotas de plos e escamas de pele so semeadas, na maioria das vezes, em
meios de cultura ricos em glicose e peptona. Depois de semeados, os tubos so
incubados, entre 25C e 30C, durante perodos variveis de acordo com o agente
etiolgico envolvido. No caso de cepas dermatofticas, as colnias so visualizadas
aps 7 dias de incubao. No momento que as macrocolnias so detectadas,
segue-se para a anlise das caractersticas macromorfolgicas, onde so levados
em considerao relevo, textura, bem como a presena ou ausncia de pigmento
(Sidrim & Moreira, 1999; Sidrim & Rocha, 2004).
21
A textura das colnias pode ser enquadrada como veludosa, algodonosa,
furfurcea (com aspecto de farinha), arenosa, bem como penungenta (Sidrim &
Moreira, 1999). Em relao aos tipos de relevo, as colnias podem ser classificadas
como cerebriforme, rugosa e apiculada (Sidrim & Moreira, 1999; Sidrim & Rocha,
2004).
1.5.3. Diferenciao microscpica das colnias
O estudo micromorfolgico feito a partir do isolamento primrio, sendo uma
pequena alquota da colnia retirada do gar e montada entre lmina e lamnula com
corante lactofenol azul algodo. A montagem observada em microscopia tica em
objetiva de 40X. Nestas preparaes podem ser visualizadas estruturas de
reproduo (macrocondios e microcondios), bem como, estruturas de
ornamentao (hifas nodulares, pectinadas entre outras). Os macrocondios de M.
canis podem ser facilmente visualizados em tais montagens.
Aliado a tais preparaes, outra tcnica pode ser utilizada para promover o
estudo microscpico das estruturas de ornamentao e frutificao; bem como, a
sua disposio ao longo da hifa, sendo esta metodologia denominada de
microcultivo em gar batata, padronizada por Kern e Blevins (1997) e descrita a
seguir: Em placas de Petri esterilizadas, contendo montagem com trs lminas,
deposita-se um pequeno bloco de gar batata de 1 cm x 1 cm. Nas extremidades
desse bloco, semeiam-se alquotas de colnias do fungo e delicadamente cobre-se
essa montagem com lamnula estril, mantendo-se este preparado em ambiente
mido, durante 7 dias. Aps o perodo de incubao, a temperatura ambiente, a
lamnula retirada com o auxlio de uma pina e montada com lactofenol azul
algodo em lmina, sendo, posteriormente, observada em microscopia tica na
objetiva de 40X. Tais preparaes so mais laboriosas, entretanto, de fundamental
importncia para estudos quantitativos.
22
1.5.4. Perfurao de plo in vitro
Esta prova tem como objetivo visualizar se o fungo perfura ou no o plo, in
vitro. Este teste foi preconizado por Badillet, em 1987, e baseia-se em manter cabelo
de criana loura pr-pbere, esterilizado em gar gelosada, sendo alquotas de
fungos repicadas sobre o plo. A placa incubada a temperatura ambiente (25C)
durante perodos de 7 a 30 dias. Nesta prova, o microrganismo vai dispor da
queratina como nica fonte nutricional. Aps o perodo de estocagem, monta-se o
plo entre lmina e lamnula com lactofenol azul algodo. Esta preparao , ento,
visualizada em microscopia tica no aumento de 40X. O teste considerado positivo
se for observado perfuraes perpendiculares ao longo do plo. Alguns fungos,
como, por exemplo, cepas de M. canis, perfuram o plo, ou seja, tais fungos
possuem enzimas capazes de degradar a queratina, in vitro, como fonte de energia
(Sidrim & Moreira, 1999; Sidrim & Rocha, 2004)
1.5.5. Teste da urease
Esta prova bioqumica processada em meio de Christensen, e detecta a
presena ou ausncia da enzima urease produzida pelo fungo. Este meio rico em
uria, assim, quando em contato com a enzima urease, produzida por algumas
espcies de fungos, hidrolisado com liberao de amnia, acarretando mudanas
de pH, que vira para um pH alcalino e, posteriormente, ocorre a viragem do
indicador para rseo intenso. A metodologia simples e consiste em semear
fragmentos da colnia no Meio de Christensen e incubar a temperatura ambiente (25
C) por 96 horas. O resultado considerado positivo quando houver a mudana do
meio de amarelo para rseo e considerado negativo quando o meio se mantiver
amarelo. Esta prova positiva para cepas de M. canis (Sidrim & Moreira, 1999;
Sidrim & Rocha, 2004).
23
1.5.6. Prova de requerimentos vitamnicos
Esta prova utilizada para diferenciao de cepas baseadas em exigncias
nutricionais. Os meios de cultura utilizados so enriquecidos com cido nicotnico,
tiamina, histidina e inositol, sendo a base do gar T1 ao T5 a casena e do gar T6 e
T7 o nitrato de amnia. Tais meios sero detalhados a seguir: T1 (gar base
casena), T2 (gar base casena com inositol), T3 (gar base casena com tiamina e
histidina), T4 (gar base casena com tiamina), T5 (gar base casena com cido
nicotnico), T6 (gar base nitrato de amnia) e T7 (gar base nitrato de amnia com
histidina).
Para o repique, primeiramente faz-se uma suspenso das cepas de
dermatfitos em soluo salina, usando como padro a turvao 2 da escala de Mac
Farland. Esta suspenso semeada em todos os tubos, e, aps repicagem,
incubada a temperatura ambiente, por 15 dias. Logo aps o perodo de incubao,
as leituras so feitas comparativamente. As cepas de M. canis crescem em todos os
meios testados (Sidrim & Moreira, 1999; Sidrim & Rocha, 2004).
1.6. Tratamento das dermatofitoses
H vrias classes de drogas antifngicas utilizadas em protocolos
teraputicos das dermatofitoses, a saber: griseofulvina, derivados azlicos e
alilaminas (Sidrim & Rocha, 2004) e mais recentemente a amorofina (Zaug, 1989) e
as equinocandinas (Denning, 1997).
1.6.1. Griseofulvina
A griseofulvina foi isolada a partir do Penicillium griseofulvum, em 1939,
sendo tambm obtida por sntese. a droga de primeira escolha no tratamento das
dermatofitoses (Heit & Riviere, 1995; Moriello & DeBoer, 1991).
O mecanismo de ao da griseofulvina ocorre atravs da sua penetrao na
clula fngica, por um processo energia-dependente. Por conseguinte, interage com
24
os microtbulos desfazendo o fuso mittico, provocando uma inibio no processo
de mitose fngica e consequentemente na multiplicao do microrganismo (Heit &
Riviere, 1995; Knasmmuller et al., 1997; Costa & Grniak, 1999; Sidrim & Rocha,
2004).
A griseofulvina bem absorvida, por via oral, sendo sua absoro
intensificada pela ingesto concomitante de alimentos gordurosos, sofre
biotransformao heptica extensa, por conjugao e oxidao, sendo excretada
principalmente na forma de metablitos inativos por via renal (Heit & Riviere, 1995;
Knasmmuller et al., 1997; Costa & Grniak, 1999).
A griseofulvina mostra uma atividade fungisttica importante sobre espcies
de fungos dos gneros Trichophyton, Microsporum e Epidermophyton. Sendo,
portanto, utilizada exclusivamente em infeces dermatofticas (Heit & Riviere, 1995;
Costa & Grniak, 1999). Tal frmaco pode, ainda, ser utilizado em associao com
medicamentos tpicos, como clotrimazol, miconazol, cetoconazol entre outros, em
casos de dermatofitoses por M. canis em gatos (Sparker et al., 2000).
Os distrbios gastrintestinais, tais como: nuseas, vmitos e diarria, tm sido
seus efeitos indesejados mais freqentes. A griseofulvina pode causar, ainda,
hepatotoxicidade e atividade teratognica ( Heit & Riviere, 1995; Knasmmuller et al.,
1997).
1.6.2. Derivados azlicos
Esta classe de medicamentos antifngicos forma um grupo de compostos
sintticos, com estrutura qumica semelhante e com amplo espectro de atividade
antifngica, sendo, muitos deles, tambm, ativos contra algumas bactrias Gram
positivas, sendo estes divididos em dois grandes grupos, a saber: os derivados
imidazlicos e os triazlicos (Farias & Giuffrida, 2002)
Os derivados imidazlicos, para uso clnico, so representados pelo
clotrimazol, miconazol, econazol, bifonazol, isoconazol, tioconazol, oxiconazol,
sertaconazol, terconazol e cetoconazol etc. Os derivados triazlicos (fluconazol,
25
itraconazol e voriconazol) so antifngicos com largo espectro de atividade, eficazes
tanto em micoses sistmicas como em superficiais (Farias & Giuffrida, 2002).
Todos os derivados azlicos interferem na sntese do ergosterol, bloqueando
a enzima 14--demetilase, do citocromo P-450 do fungo, e, por conseguinte,
impedindo a demetilao do precursor lanosterol em ergosterol. Esta propriedade
dos azis prejudica a funo da membrana celular, aumentando a sua
permeabilidade (Heit & Riviere, 1995; Costa & Grniak, 1999; Sidrim e Rocha,
2004).
O mais significativo frmaco do grupo dos imidazlicos o cetoconazol, este
apresenta espectro de atividade contra vrios fungos causadores de micoses
profundas; bem como eficaz para vrias espcies de Candida e dermatfitos. O
uso dos imidazis tpicos, como: clotrimazol, econazol, bifonazol, isoconazol,
oxiconazol, sertaconazol etc., restringem-se s micoses superficiais, em especial as
dermatofitoses. O itraconazol tem sido utilizado com sucesso no tratamento de
dermatofitoses refratrias (Heit & Riviere, 1995; Costa & Grniak, 1999; Sidrim &
Rocha, 2004).
O cetoconazol bem absorvido, por via oral, mas, por ser dibsico, necessita
da acidez gstrica para dissoluo e absoro, sob a forma de hidrocloreto. Dessa
forma, seu uso com frmacos que aumentam o pH gstrico, produz um antagonismo
farmacocintico, sendo, portanto, contra-indicado (Heit & Riviere, 1995; Costa &
Grniak, 1999). Este frmaco apresenta-se, amplamente, ligado s protenas
plasmticas (85-92%). Sofrem biotransformao heptica, especialmente por
oxidao, O-desalquilao e hidroxilao, dando origem a vrios metablitos
inativos, que so eliminados principalmente atravs da bile; porm, cerca de 10%
destes so excretados por via renal e, por ltimo, cerca de 2-4% da droga
eliminada inalterada. O cetoconazol, a exemplo do que ocorre com outros imidazis
de uso tpico exclusivo, tais como: clotrimazol, econazol, bifonazol, isoconazol,
oxiconazol, sertaconazol etc., praticamente no so absorvidos atravs da pele e
mucosas; logo, sua formulao tpica, tem uma ao exclusivamente local. O
itraconazol bem absorvido, por via oral, sendo que sua biodisponibilidade
mxima quando ingerido juntamente com uma refeio. A exemplo do cetoconazol,
a absoro do itraconazol altamente dependente do pH gstrico, mostrando,
26
tambm, uma grande afinidade por protenas plasmticas (99%). O itraconazol sofre
intensa biotransformao heptica, originando vrios metablitos, dentre os quais se
destaca o hidroxiitraconazol, que, por sua vez, apresenta uma atividade antifngica
importante (Sidrim & Rocha, 2004).
Distrbios no trato gastrintestinal, tais como: anorexia, nuseas, vmitos,
diarria e hepatotoxicidade, podem aparecer durante a terapia com o cetoconazol.
Seus efeitos endcrinos, do tipo: ginecomastia, diminuio da libido, impotncia,
oligospermia etc., resultantes do bloqueio na sntese dos esterides andrognicos. A
exemplo do que ocorre com imidazis de uso tpico, como: clotrimazol, isoconazol,
oxiconazol, sertaconazol etc., o cetoconazol, quando administrado topicamente,
pode apresentar aes deletrias apenas localmente, como: irritao, eritema e
prurido. O surgimento de efeitos colaterais terapia com itraconazol, no to
comum, podendo alguns pacientes apresentar nuseas, vmitos, diarria e
distrbios hepticos. Ademais, diferentemente do observado com o cetoconazol, o
itraconazol, no interferem na sntese de esterides do hospedeiro (Heit & Riviere,
1995; Costa & Grniak, 1999; Sidrim & Rocha, 2004).
1.6.3. Alilaminas
A naftifina e seu anlogo a terbinafina representam o grupo de frmacos
sintticos, as alilaminas, que foram descritas como frmacos de utilizao clnicas no
tratamento das micoses superficiais por Balfour e Fauulds em 1992. Tem mostrado
atividade fungicida contra ampla variedade de dermatfitos, bolores e alguns fungos
dimrficos, e atividade fungisttica contra Candida albicans (Heit & Riviere, 1995;
Abdel-Rahman & Nahata, 1997).
O seu mecanismo de ao se baseia no bloqueio da biosntese do
ergosterol, um componente essencial das membranas celulares fngicas, atravs da
inibio da enzima fngica, a esqualeno epoxidase (Heit & Riviere, 1995).
A tolerabilidade destes frmacos geralmente alta aps administrao tpica
ou oral. Em estudos comparativos, a incidncia de efeitos adversos associados ao
uso de terbinafina, por via oral, foi inferior quela observada com a griseofulvina e
semelhante ao itraconazol. As reaes adversas mais comuns so aquelas
27
relacionadas irritabilidade do aparelho digestivo (nuseas, vmitos) e as alteraes
de carter dermatolgico (vermelhido, prurido). Observam-se mais raramente
alteraes nos sistema nervoso central (tremores, incoordenao motora) e
alteraes no paladar (Abdel-Rahman & Nahata, 1997). A terbinafina surgiu como
uma nova opo teraputica para dermatofitoses, tanto em humanos como em
animais (Millanta et al., 2000).
1.6.4. Morfolnicos
Os derivados morfolnicos representam um novo grupo qumico de
antifngicos, no relacionados com as outras drogas antifngicas atualmente
disponveis. Estes agem atravs da inibio da biosntese do esterol, bloqueando
dois processos enzimticos sucessivos, ou seja, inibindo a biotransformao do
lanosterol em zymosterol pelo bloqueio da enzima C-14 esterol redutase e inibindo
no evento subseqente da sntese do ergosterol da biotransformao do fecosterol
em episterol pelo bloqueio da enzima C-8 esterol isomerase, estas diferentes das
inibidas pelas alilaminas ou pelos azis (Kerkenaar, 1987; Polak, 1988).
A amorolfina o nico derivado morfolnico em uso clnico, com atividade
fungicida contra a maioria dos fungos de importncia clnica como dermatfitos,
leveduras, fungos filamentosos no dermatfitos, fungos demceos e fungos
dimrficos. Apesar da possibilidade de uso oral a amorolfina est disponvel
somente para o tratamento tpico das leses fngicas, associados ou no ao
tratamento parenteral com outra droga antifngica, particularmente a griseofulvina
(Polak, 1988).
Seu baixo nvel de absoro percutnea estabelece uma excelente
tolerabilidade, no sendo descritos efeitos colaterais, exceto aqueles de carter local
e transitrio como eritema, prurido. Sendo contra-indicado em reas muito extensas
e inflamado, fmeas prenhes, filhotes e fmeas lactentes (Polak, 1988).
28
1.6.4. Lufenuron
uma benzoilenilurea que interfere na sntese da quitina sendo comumente
usado para o controle de pulgas. A quitina um componente crtico da parede
externa do fungo e drogas que interferem na sntese da quitina podem tambm ter
atividade antifngica. O uso do lufenuron para o tratamento da dermatofitose em
ces e gatos foi bem descrito em vrios estudos (Bem-Ziony & Arzi, 2000; Moriello et
al., 2002; DeBoer et al., 2003).
1.6.5. Vacinas
H trs estudos que reportam o uso de vacinas fngicas usadas em gatos
para preveno da dermatofitose (DeBoer & Moriello, 1995; Manoyan et al., 2000)
Uma vacina de dermatfitos morta, est disponvel nos Estados Unidos para o
tratamento de M. canis em gatos. Este produto autorizado para a preveno de
leses, mas no doena. Nenhuma vacina preveniu a infeco ou uma cura mais
rpida, quando comparando animais vacinados com grupos controle. Porm, a
vacinao foi associada com uma ligeira diminuio da severidade da infeco inicial
quando comparada com animais no vacinados. O Interesse em vacinar ces como
um tratamento ou profilaxia, continua sendo uma rea de intenso interesse,
principalmente por causa de sucesso da vacinao de raposas contra dermatofitose
(Bredahl et al., 2000).
2. O uso de imunomoduladores
O sistema imune dos animais superiores desenvolveu-se com a finalidade de
conferir defesa ao hospedeiro contra milhares de ameaas potenciais,
provenientes de doenas parasitrias, infecciosas e neoplsicas. No entanto,
durante muito tempo os mecanismos fundamentais que direcionam e regulam os
mecanismos imunes tem sido em sua maioria, pobremente definidos. Nos dias
atuais nosso conhecimento do sistema imunolgico, se bem que incompleto, tem
progredido ao ponto de agora podermos influenciar muitos dos mecanismos que
controlam a atividade imunolgica (Foster, 2004). Este conceito forma a base da
29
imunomodulao; isto , a potencializao ou o aumento dos mecanismos de
resposta imune especfica ou inespecfica (Foster, 2004).
Existe um interesse crescente entre os clnicos em relao s falhas da
quimioterapia antimicrobiana. Observa-se que a quimioterapia convencional
otimamente eficaz s em animais com sistemas imunolgicos intactos e funcionais.
Sua eficcia pode estar seriamente comprometida em animais imunossuprimidos ou
imunodeficientes. Apesar da existncia de drogas antimicrobianas potentes, ainda
existe um nmero substancial de infeces bacterianas e fngicas de grave ameaa
vida. A crescente, desordenada e excessiva utilizao destes frmacos pode estar
relacionado a efeitos txicos colaterais, reaes de hipersensibilidade e seleo de
microorganismos resistentes (Foster, 2004).
A manipulao farmacolgica do mecanismo imune oferece possibilidades
promissoras na clnica mdica veterinria como o controle de hipersensibilidades, o
tratamento de doenas auto-imunes, a preveno da rejeio de transplantes; assim
como, tratamento coadjuvante nas doenas infeciosas, virais, bacterianas e fngicas
em pacientes imunodeprimidos (Waune & Jassen, 1991). Entretanto, o uso clnico
de imunomoduladores tem, at o momento, focalizado principalmente o seu papel
como uma modalidade teraputica em medicina humana para auxiliar no tratamento
de alguns tipos de cncer (Dhal, 1994). O uso de imunomoduladores no tratamento
ou na preveno de doenas infecciosas comparativamente tem recebido menor
ateno. Est se tornando cada vez mais evidente que os imunomoduladores
encontraro aplicaes significantes no aumento das defesas dos hospedeiros
nestas patologias infecciosas. Numerosas evidncias tm mostrado que os
imunomoduladores possuem a caracterstica de potencializar a resposta imune para
vacinas, restaurar a imuno-competncia em animais imuno-comprometidos, bem
como promover a potencializao inespecfica de resistncia contra infeces,
aumentando assim a eficincia da teraputica convencional (Wauwe & Jassen,
1991).
2.1. Levamisol
O levamisol um ismero levgiro do tetramisol. Originalmente foi introduzido
como um agente anti-helmntico na dcada de 60, se revelando logo como uma
30
droga capaz de aumentar a competncia imunolgica de animais imunodeprimidos.
A primeira indicao desta capacidade foi determinada por Renoux & Renoux
(1971). Eles mostraram que o tratamento de ratos vacinados contra Brucella abortus
com levamizol resultou em proteo melhorada contra estes microorganismos. Este
achado ativou um fluxo de pesquisas experimentais e clnicas do levamizol como
imunomodulador. A concluso global destes estudos foi que o levamizol possui
propriedades de restabelecer respostas imunes deprimidas em animais e humanos,
mas sem nenhum efeito imunoestimulante em indivduos imunocompetentes
(Symoens & Rosental, 1977, Wauwe & Janssen, 1991). Assim, o levamizol foi
indicado para induzir melhoria clnica em pacientes com infeces crnicas ou
doenas inflamatrias como herpes, estomatite, artrite reumatide e sndrome
nefrtica (Symoens et al. 1979; Wauwe & Janssen, 1991). Em contraste com este
resultado favorvel, resultados clnicos obtidos no tratamento de doenas
neoplsicas foram considerados inconclusivos, embora um nmero respeitvel de
estudos animais revelou que o levamizole tem efeito anti-metasttico,
particularmente quando a droga era usada como um adjuvante para terapias
antineoplsicas convencionais (cirurgia, radioterapia ou quimioterapia) (Amery,
1981). Associado a estes achados favorveis, observou-se em estudo semelhante
que o levamizol induzia um granulocitopenia reversvel em aproximadamente 2% de
todos os pacientes testados (Symoens et al, 1979), levando a um desinteresse
quanto a utilizao da droga como imunomoduladora. Recentemente, esta falta de
perspectiva teraputica parece ter se acabado, estudos relatam que o levamizol
droga adjuvante eficaz na immunoterapia de melanoma e carcinoma de clon,
melhorando a sobrevivncia global e reduzido a incidncia de metstase comparado
ao grupo controle (Quirt et al, 1999).
O levamisol tem a capacidade para melhorar, ou at mesmo restabelecer a
atividade deficiente de clulas que participam na resposta imune celular-mediada,
em particular macrfagos e linfcitos T. Funes celulares inerentes ao sistema
imunolgico podem ser aumentadas, como a fagocitose, quimiotaxia, migrao
celular, aderncia, morte intracelular e hipersensibilidade tardia (Symoens et al.,
1979; Wauwe & Janssen, 1991). Os efeitos do levamisol sobre os linfcitos B,
indiretamente atravs dos linfcitos T, extremamente variado. A produo de
imunoglobulinas especficas pode ser pequena, aumentada ou suprimida (Renoux,
1978). Entretanto, a elevada atividade de linfcitos B inibida pela atividade do
31
levamisol, sugerindo a reduo de IgG, IgM e os nveis de imunocomplexos
circulantes aps tratamentos a longo prazo (Symoens et al, 1979)
32
JUSTIFICATIVA
A introduo de novos conceitos, enfocando o uso de drogas
imunomoduladoras, como, por exemplo, o levamisol, associadas terapia
antifngica convencional, tem sido um importante avano na clnica de pequenos
animais. Contudo, fazem-se necessrios estudos epidemiolgicos, clnico-
laboratoriais e teraputicos, investigando a real eficcia e viabilidade clnica desta
associao de drogas, em ces acometidos de dermatomicoses, em especial nos
casos de dermatofitoses.
33
HIPTESE CIENTFICA
O conhecimento prvio dos aspectos clnico-laboratoriais e epidemiolgicos
associado a melhorias do status imunolgico, favorece o sucesso teraputico das
infeces dermatofticas causadas por Microsporum canis.
34
OBJETIVOS
Objetivo Geral
Realizar um estudo detalhado das dermatofitoses canina, enfocando os
aspectos epidemiolgico, clnico-laboratoriais e teraputicos.
Objetivos Especficos
- Fazer uma triagem clnica de ces com leses sugestivas de dermatopatia
fngica;
- Determinar os principais agentes fngicos causadores destas leses;
- Estabelecer os aspectos clnico-epidemiolgicos presentes nas dermatopatias
fngicas;
- Comparar a eficcia da griseofulvina e cetoconazol, in vivo, sozinhos e
associados ao levamisol, no controle da dermatofitose canina por Microsporum
canis.
35
MATERIAL E MTODOS
Animais
Foram utilizados ces, de raas diversas, ambos os sexos, oriundos do
atendimento de rotina da Clnica Veterinria So Francisco, localizada na regio
metropolitana de Fortaleza, portadores de dermatopatias fngicas diagnosticadas,
atravs de exame clnico e anlise micolgica. Estes foro mantidos em seus
domiclios de origem sob guarda de seus respectivos proprietrios.
Exame clnico
Todos os animais foram submetidos a completa identificao e a exame
clnico prvio, composto de anamnese, histrico e caracterizao das leses, sendo
as informaes compiladas em ficha de exame padronizada (Anexo 1). O referido
exame foi novamente realizado do 7, 14, 21 e 28 dia aps o incio do protocolo
teraputico.
Anlise micolgica
A anlise micolgica constou de exames laboratoriais, inicialmente para
diagnstico de dermatomicoses nos ces com suspeita clnica e posteriormente no
7, 14, 21 e 28dia aps o incio do protocolo teraputico no caso dos ces com
dermatofitose por M. canis. A metodologia usada em tais procedimentos descrita a
seguir.
Colheita do espcime
A colheita do espcime clnico foi a primeira etapa do diagnstico laboratorial.
A colheita foi realizada no consultrio pelo prprio veterinrio previamente treinado e
munido do material de coleta. As amostras foram colhidas aps uma rigorosa
limpeza das leses com lcool isoproplico a 70%, e com o auxlio de uma lmina
de bisturi estril n 22, sendo realizada uma vigorosa raspagem das bordas de todas
as leses ativas, assim como fragmentos de pelos destas leses, dispersas por todo
36
o corpo ou de carter focal. Estas amostras foram acondicionadas em frascos
plsticos estreis e remetidos ao laboratrio de micologia em no mximo 7 dias.
Exame direto
O exame direto era a segunda etapa do diagnstico laboratorial micolgico.
Com as amostras oriundas da colheita eram colocada uma pequena quantidade de
escamas e fragmentos de plos sobre uma lmina de microscopia, sendo
adicionadas 2 gotas de hidrxido de potssio a 30% e sobre esta se colocou uma
lamnula. Aps 10 minutos a preparao era levada microscopia tica em objetiva
de 40X para a observao de elementos fngicos presentes ou no na amostra
examinada.
Cultura
A cultura a etapa fundamental no isolamento e identificao dos fungos.
Aps o exame direto as amostras eram semeadas em meio de culturas (gar
Sabouraud, gar Sabouraud mais cloranfenicol e gar Sabouraud mais cloranfenicol
mais cicloeximida) sendo os tubos incubados entre 25C e 30C durante 7 a 14 dias.
Os tubos eram observados diariamente aps o 3 dia de incubao indo no mximo
at o 15 dia. No instante em que as macrocolnias eram evidenciadas estas eram
analisadas quanto s caractersticas macromorfolgicas (relevo, textura, presena
de pigmento). Os procedimentos para identificao das leveduras foram realizadas
de acordo com o preconizado por Sidrim & Rocha (2004).
Diferenciao microscpica das colnias
A partir de uma pequena alquota da colnia retirada do gar do isolamento
primrio, era montado sobre lmina de microscopia, corado com lactofenol azul
algodo e recoberta com lamnula. Tal preparao era levada microscopia tica
em objetiva de 40X, objetivando identificar estruturas reprodutivas e ornamentais do
fungo.
37
Teste da perfurao de plo in vitro
Uma pequena alquota retirada do gar do isolamento primrio era repicada
em placas de Petri contendo cabelos de criana pr-pbere e incubada na
temperatura de 25C durante 14 dias. Aps este perodo montava-se uma amostra
do cabelo sobre lmina de microscopia, sendo corada com lactofenol azul algodo
sendo visualizada em microscpio tico com objetiva de 40X. Era considerada
positiva para Microsporum canis a amostra que apresentava perfuraes
perpendiculares ao eixo principal do cabelo.
Teste da urease
Fragmentos de colnia, oriunda do isolamento primrio era semeada em meio
de Christensen, incubando a 25C por 4 dias. Era considerado positivo para
Microsporum canis o cultivo que apresentasse mudana de colorao amarela para
rseo.
Teste de requerimentos vitamnicos
Para realizao de deste teste foi realizada uma suspenso da colnia a ser
testada, em soluo salina, com um incuo correspondente ao padro 2 na escala
de McFarland. Semeava-se ento em meios de cultura enriquecidos (T1- gar base
casena, T2 gar base casena com inositol, T3 gar base tiamina e histidina, T4
gar base casena com tiamina, T5 gar base casena com cido nicotnico, T6
gar base nitrato de amnia e T7 gar base nitrato de amnia com histidina)
incubados a 25C por 15 dias. A interpretao era realizada por quantificao
subjetiva e comparativa do crescimento fngico presente em cada tubo.
Protocolo e avaliao teraputica
Os ces positivos para dermatofitose foram divididos em grupos de seis
animais onde receberam tratamentos semelhantes dentro do mesmo grupo, com
posologia individualizada de acordo com seu peso. Os grupos eram fechados, de
acordo com o nmero de amostras positivas para dermatofitose por Microsporum
canis. Grupo 01 Foi tratado com Griseofulvina por via oral na dose de 50 mg kg-1 de
38
peso a cada 24 h por 30 dias consecutivos. Grupo 02 Foi tratado com a associao
de Griseofulvina na dose de 50 mg kg-1 de peso a cada 24 h por 30 dias
consecutivos e Levamisol (Griffin et al, 1994) por via oral na dose de 2,2 mg kg-1 de
peso a cada 48 h por 30 dias consecutivos. Grupo 03 Foi tratado com Cetoconazol
por via oral na dose de 10 mg kg-1 de peso a cada 24 h por 30 dias consecutivos.
Grupo 04 Foi tratado com a associao de Cetoconazol por via oral na dose de 10
mg kg-1 de peso a cada 24 h por 30 dias consecutivos e Levamisol por via oral na
dose de 2,2 mg kg-1 a cada 48 h por 30 dias consecutivos. Griseofulvina,
cetoconazol e levamisol foram preparadas em cpsulas personalizadas para cada
co.
A avaliao clnica e as culturas fngicas foram realizadas no 7, 14, 21 e
28 dia aps o incio do tratamento. A cada exame, a severidade das leses era
subjetivamente avaliada, usando um sistema de contagem de escores conforme
tabela 01 e 02 respectivamente.
Tabela 01 Sistema de escores para avaliao da severidade das leses
Escore Aumento Alopecia Eritema Caspa/Crostas Leses Pstulas da leso satlites folicutares primria 0 no no no no no no 1 at 10% leve leve leve leve leve 2 10 -25 % moderada moderada moderada moderada moderada 3 acima de 25% severa severa severa severa severa
Tabela 02 Sistema de escores para avalio micolgica _______________________________________________________
Escore 1 semana 2 semana 3 semana 4 semana
0 Negativo Negativo Negativo Negativo 1 Positivo Negativo Negativo Negativo 2 Positivo Positivo Negativo Negativo 3 Positivo Positivo Positivo Negativo
4 Positivo Positivo Positivo Positivo _______________________________________________________
39
Todos os proprietrios dos ces foram orientados quanto a no permitir o
contato com outros animais assim como a criteriosa higiene do ambiente onde os
ces estavam sendo tratados.
Anlise estatstica
O estudo do levanatmento epidemiolgico foi conduzido utilizando anlise
varivel descritiva. O teste de Fisher foi usado para a anlise das associaes entre
as variveis categorizadas. Os resultados foram considerados significantes para um
valor de p
40
RESULTADOS E DISCUSSO
Este estudo foi realizado em 127 ces com suspeita de dermatopatia fngica.
Baseado na positividade da cultura fngica, trinta e trs ces (25,98%) foram
positivos para dermatopatia fngica aps realizao de cultivo primrio. Dentre os
espcimes clnicos positivos, vinte e oito (84,84%) apresentavam dermatfitos e
cinco espcimes (15,15%) continham leveduras (tabela 03).
Tabela 03 -Relao de espcimes clnicos positivos e suas caractersticas
clnicas, epidemiolgicas e laboratoriais.
Esp. Cln
Raa Id a d e
S e x o
Pelagem Caract. Clnicas
Caract. Manejo
ContactHuman
o contaminado
Ex. Diret
o
Cultura Cepa Estoc.
01 Poodle b M Longa B,H,J 2,6,8 No Pos M.canis 01-2-064 02 Weima a F Curta H,J 2,4,7 No Pos M.canis 01-2-092 03 Poodle c F Longa C,H,J 2,4,7 No Pos M.canis 01-3-001 04 York e M Longa C,D,E,L 2,4,8 No Neg M.canis 01-2-090 05 Labrad a F Curta B,E,I 1,4,7 No Neg M.pachydermatis 01-2-059 06 Srd a M Longa C,D,H,J 1,4,8 No Pos M.canis No est. 07 Cocker f M Longa A,D,G,J 1,4,7 No Neg M.pachydermatis 01-2-061 08 Cocker f F Longa B,D,F,L 2,4,8 No Neg C.tropicalis 01-2-063 09 York d M Longa B,D,F,L 2,4,8 No Neg M.fulvum 01-2-065 10 Fox a F Curta F,I 1,4,7 No Neg M.gypseum 01-2-062 11 York d M Longa B,D,E,I 1,5,7 No Pos M.canis No est. 12 Poodle f M Longa A,D,G,J 2,4,8 No Neg M.pachydermatis 01-2-060 13 Pinsher b F Curta B,D,H,I 1,4,7 No Neg M.canis No est. 14 York b F Longa B,H,J 2,4,7 Sim Pos M.canis No est. 15 Beagle c F Curta A,H,I 2,4,9 No Pos M.canis 01-3-004 16 Labrad c M Curta B,H,I 1,4,7 No Pos M.gypseum 01-3-003 17 Dasch c M Curta C,H,J 2,6,8 Sim Neg M.canis 01-3-061 18 Srd d M Curta C,E,I 2,4,7 No Neg M.canis 01-2-134 19 York b F Longa B,D,H,I 2,4,8 No Pos M.canis 01-2-133 20 Dober b M Curta C,D,E,J 1,5,7 No Pos M.gypseum 01-2-188 21 Poodle b M Longa B,E,J 1,4,7 No Pos M.canis No est. 22 Labrad a M Curta E,J 1,4,7 No Pos M.gypseum 01-5-184 23 Poodle f F Longa A,D,F,L 2,5,7 No Neg M.pachydermatis No est. 24 York a M Longa H,J 2,4,7 No Pos M.canis 01-5-186 25 York f F Longa B,D,F,L 2,4,8 No Pos M.canis No est. 26 York h F Longa C,H,I 2,4,8 No Neg M.canis 01-5-189 27 Pinsher a F Curta B,H,I 2,5,7 No Pos T.tonsurus 01-5-187 28 Srd d M Longa B,H,J 2,4,8 No Pos M.canis 01-5-190 29 Poodle d M Longa H,I 2,4,8 No Neg M.canis 01-5-185 30 Poodle d F Longa C,H,J 1,4,7 No Neg M.canis 01-4-016 31 Poodle d F Longa B,E,J 2,5,8 Sim Pos M.canis 01-4-017
Legenda de Caractersticas Clnicas: a- 0 a 6 meses, b- 6 12 meses, c- 1 - 2 anos, d- 2 - 4 anos, e- 4 6 anos, f- 6 8 anos, g- 8 10 anos, h- Acima de 10 anos. Legenda de Caractersticas Clnicas: A-Prurido Intenso, B- Prurido Moderado, C- Prurido Leve, D- Seborria, E- Plo Seco F- Plo Alopcico G- Plo Tonsurado, H- Plo Normal, I- Leso Focal, J- Leso Multifocal, L- Leso Difusa Legenda de Caractersticas de Manejo: 1- Habitat casa, 2- Habitat Apartamento, 3- Habitat Stio/Fazenda/Casa de praia, 4- Alimentao Rao, 5- Alimentao caseira, 6- Alimentao ambas, 7- Banhos domiciliares, 8- Banhos em PetShop, 9- Banho em ambos
41
Dentre os dermatfitos isolados (n=28), foram identificadas as seguintes
espcies: Microsporum canis (n=22; 78,57%), Microsporum gypseum (n=4; 14,29%),
Trichophyton tonsurans (n=1; 3,57%) e Microsporum fulvum (n=1, 3,57%). Dentre as
leveduras, foram isoladas, Malassezia pachydermatis (n=4; 80%) e Candida
tropicalis (n=1; 20%) (Tabela 03).
Entre os espcimes clnicos positivos para dermatfitos, as raas mais
representativas foram: yorkshire terrier (32,14%, n=9), poodle (21,42%, n=6) e sem
raa definida (10,71%, n=3). Outras raas, em conjunto, perfizeram um total de
35,71% (n=10). Quanto positividade para leveduras, as raas poodle e cocker
spaniel ingls se destacaram (Tabela 03).
Observou-se que 54,54% (n=12) dos ces portadores de dermatofitose
moravam em apartamento e 45,46% (n=10) moravam em casa. M. canis foi mais
freqente em animais domiciliados em apartamento do que M. gypseum, que mais
freqente em animais residentes em casas (p=0,0140) (Tabela 04). Similarmente
aos dermatfitos, as leveduras foram mais incidentes em ces residentes em
apartamento (Tabela 04).
Tabela 04. Correlao entre tipo de habitat e fungo isolado.
Habitat neg. M. canis
M. pachydermatis
C. tropicalis
T. tonsurans
M. gypseum
M. fulvum
total
Apto 53 16 2 1 1 -- 1 74 Casa 37 6 2 -- -- 4 -- 49 Stio 4 -- -- -- -- -- -- 4 Total 94 22 4 1 1 4 1 127
M. canis mais freqente em animais de apartamento do que M. gypseum, que mais freqente em animais de casa (p=0,0140).
As faixas etrias mais insidiosas para dermatfitos foram de 2 a 4 anos (n=8;
36,36%), seguida de 0 a 6 meses (n=6; 21,42%) e 6 meses a 1 ano (n=6; 21,42%).
No tocante s leveduras, a faixa etria compreendendo 6 a 8 anos representou 80%
dos espcimes clnicos envolvidos (Tabela 03).
42
Observou-se que 45,45% e 75% dos animais positivos para M. canis e M.
gypseum, respectivamente, eram do sexo masculino. Entre os animais positivos para
M. pachydermatis observou-se 50% de machos (Tabela 03).
Quanto ao tipo de pelagem, os ces portadores de M. canis apresentavam
pelagem longa (n=16, 72,72%), ou pelagem curta (n=6, 27,28%). Todos os ces
positivos para M. gypseum apresentaram pelagem curta (n=4)(Tabela 05).
Observou-se que o M. canis mais freqente em animais de plo longo do que
aqueles com M. gypseum. Este ltimo foi mais freqente em animais de plo curto
(p=0,0140) (Tabela 05). Nos ces portadores de M. pachydermatis observou-se:
pelagem longa (n=3) e pelagem curta (n=1) (Tabela 05).
Tabela 05. Correlao entre tipo de pelagem e fungo isolado. pelagem neg. M.
canis M.
pachydermatis C.
tropicalis T.
tonsurans M.
gypseum M.
fulvum total
Curta 33 6 1 -- -- 4 1 45 Longa 61 16 3 1 1 -- -- 82 Total 94 22 4 1 1 4 1 127
M. canis mais freqente em animais de pelo longo do que M. gypseum, que mais freqente em animais de pelo curto (p=0,0140).
Foi observado que o padro de distribuio das leses induzidas por M. canis
apresenta-se da seguinte forma: leses multifocais (n=11; 50%), leses focais (n=9;
40,9%) e leses difusas (n=2; 9,1%). J o perfil das leses causadas por M.
gypseum foi: leses focais (n=2; 50%) e leses multifocais (n=2; 50%). A M.
pachydermatis induziu leses multifocais (n=2; 50%), leso difusa (n=1; 25%) e
leses focais (n=1; 25%) (Tabela 03). Observou-se que as dermatopatias por M.
pachydermatis est mais associada a leses difusas do que aquelas por M. canis
(p=0,098) (Tabela 06).
Tabela 06. Correlao entre o tipo de leso e microorganismo isolado
Leso neg. M. canis
M. pachydermatis
C. tropicalis
T. tonsurans
M. gypseum
M. fulvum
total
focal 37 9 -- -- -- 2 1 49 multifocal 36 11 2 -- -- 2 -- 51
difusa 21 2 2 1 1 -- -- 27 total 94 22 4 1 1 4 1 127
M. pachidermatis est mais associado a leso difusa do que M. canis (p=0,098)
43
Dentre as caractersticas clnicas, o prurido foi observado nos ces portadores
de M. canis nos seguintes percentuais: prurido moderado (n=10; 45,46%), prurido
leve (n=8; 36,36%), prurido intenso (n=1; 4,54%) e ausncia de prurido (n=3,
13,64%). Nos ces portadores de M. gypseum observaram-se: prurido moderado
(n=1; 25%), prurido leve (n=1, 25%) e ausncia de prurido (n=2; 50%). Entre os ces
com M. pachydermatis observaram-se prurido intenso (n=3; 75%) e prurido
moderado (n=1; 25%) (Tabela 03). Foi averiguado que as infeces por M.
pachydermatis esto mais associadas a um prurido intenso do que aqueles por M.
canis (p=0,0060) (Tabela 07).
Tabela 07. Correlao entre o grau de prurido e fungo isolado.
Prurido neg. M. canis
M. pachydermatis
C. tropicalis
T. tonsurans
M. gypseum
M. fulvum
total
No 13 3 -- -- -- 2 -- 18 Leve 17 8 -- -- -- 1 -- 26
moderado 29 10 1 1 1 1 1 44 intenso 35 1 3 -- -- -- -- 39
total 94 22 4 1 1 4 1 127 M. pachydermatis est mais associado a um prurido intenso do que M. canis (p=0,0060).
O aspecto do plo e presena de seborria tambm foram objetos de
investigao. Por conseguinte observou-se que entre os ces portadores de M.
canis, 72,72% apresentavam plo normal (n=16), 22,73% plos ressecados (n=5) e
4,55% com reas alopcicas (n=1). Dentre estes ces, 27,27% apresentavam
seborria (n=6). Os ces com M. gypseum apresentaram: plo seco (n=2; 50%),
plo normal (n=1; 25%) e com reas alopcicas (n=1; 25%). Dentre estes ces
somente um apresentava seborria (n=1). Entre os ces portadores de M.
pachydermatis foi observado: plo oleoso (n=2, 50%), plo normal (n=1; 25%) e com
reas alopcicas (n=1, 25%). Dentre estes ces 75% apresentavam seborria (n=3).
Observou-se que animais acometidos por M. pachydermatis est mais associado a
plo oleoso do que aqueles acometidos por M. canis (P=0,0015) que por sua vez,
est mais associado ao plo normal do que o M. gypseum (p=0,1039) (Tabela 08).
44
Tabela 08. Correlao entre o aspecto do plo e fungo isolado.
tipo de pelo
neg. M. canis
M. pachydermatis
C. tropicalis
T. tonsurans
M. gypseum
M. fulvum
total
seco 32 5 1 -- -- 2 -- 40 normal 43 16 -- -- -- 1 1 61
alopcico 4 1 -- -- 1 1 -- 7 oleoso 15 -- 3 1 -- -- -- 19 total 94 22 4 1 1 4 1 127
M. pachyidermatis est mais associado a pelo oleoso do que M. canis (p=0,0015) e M. canis est
mais associado ao pelo normal do que M. gypseum (p=0,1039).
No presente trabalho, o percentual de animais positivos em relao ao
nmero de animais suspeitos de dermatopatia fngica superficial foi de 25,98%. Este
achado est de acordo com a literatura, onde referido um percentual de 7 a 58%
(Aho, 1980; Faggi et al, 1987; Lewis et al, 1991, Sparkes et al, 1993; Marchisio et al,
1995; Cabaes, 1997; Nobre, 1998; Paixo et al, 2000; Guzman-Chavez, 2000;
Cabaes, 2000; Machado, 2001; Brilhante et al, 2003).
Dentre os dermatfitos isolados observou-se que o M. canis foi responsvel
por 78,57%, seguido por M. gypseum com 14,29%. Tais achados confirmam que o
M. canis o mais importante dermatfito que acomete ces (Baxter, 1973;
Kristensen & Krogh, 1981; Marchisio et al, 1995; Cabaes et al, 1997; Paixo et al,
2000; Brilhante et al, 2003). Entretanto, foi encontrada uma incidncia relativamente
alta de animais positivos para M. gypseum (15,38%) em relao a trabalhos
publicados por diversos autores (Sparkes et al., 1993; Simpanya & Baxter, 1996;
Cabaes et al., 1997; Paixo et al., 2002; Brilhante et al., 2003).
Em nosso estudo foi encontrado outros dois animais positivos para
dermatofitose por M. fulvum e T. tonsurans. Tal achado congruente com trabalhos
anteriormente publicados, onde, tais dermatfitos foram implicados em infeces
dermatolgicas ocasionais em ces e gatos (Sinski & Floural, 1984; Demange et al,
1992; Rueda, 2002).
Observou-se que o M. canis foi mais freqente em animais residentes em
apartamento do que aqueles positivos para M. gypseum, que foi mais freqente em
ces residentes em casas com jardim (Tabela 04). Tal evidncia pode ser explicada
45
pelo fato do M. gypseum ser um dermatfito geoflico (Rocha & Sidrim, 2004).
Portanto o ambiente fator relevante na incidncia deste dermatfito em ces,
conforme anteriormente relatado por Sparkes (Sparkes et al, 1993). Outros autores
relacionam a prevalncia mais alta de dermatofitose s condies gerais sob as
quais os animais so criados; incluindo o nvel de higiene do ambiente, densidade
populacional e proximidade com humanos (Marchisio et al, 1995; Sparkes et al,
1993).
As leveduras isoladas compreenderam 15,15% dos espcimes clnicos
positivos. Os agentes isolados foram Malassezia pachydermatis e um co acometido
por Candida tropicalis. O fato da M. pachydermatis ser frequentemente isolada do
conduto auditivo de ces com otite externa e da pele de animais com dermatite,
ambas as enfermidades pruriginosas (kennis et al, 1996; Bonde et al, 1997;
Charach, 1997), compactua com o dado encontrado em nosso estudo, onde se
evidenciou uma relao entre animais positivos por M. pachydermatis e quadros de
prurido intenso.
O animal acometido por C. tropicalis, apresentava quadro clnico atpico, visto
que, as espcies de Candida demonstram uma marcante predileo pelas
membranas mucosas, reas de juno mucocutnea, perneo, ouvido externo,
comissuras ungueais e na cavidade oral (Pichler et al., 1985; Greene & Chandler,
1990; Griffin et al, 1994). O referido animal apresentava leso alopcica, seca e
difusa, apresentando-se, portanto, diferente dos casos descritos na literatura.
Observamos uma maior prevalncia de dermatofitose entre as raas yorkshire
terrier e poodle, dado este, tambm encontrado por outros autores (Cabaes et al,
1997; Cabaes, 2000; Brilhante et al, 2003). Isto pode ser explicado a partir da
hiptese de que animais de plo longo possuem uma maior predisposio
dermatopatias fngicas superficiais, por manter condies microclimticas da pele
favorveis ao desenvolvimento fngico, ou seja, umidade e temperatura adequadas.
Esta hiptese se reveste de significado quando em nosso trabalho encontramos uma
maior prevalncia de M. canis em ces de pelo longo (Tabela 05).
Os fatores microclimticos superficiais que promovem a proliferao da
Malassezia spp. so a hiperproduo de seborria, aumento da umidade, perda da
46
integridade da barreira cutnea e infeces bacterianas concomitantes (Mason,
1993). Estes dados so congruentes com o nosso trabalho, onde encontramos que
os animais infectados por M. pachydermatis esto mais associados ao pelo oleoso e
presena de seborria (Tabela 08).
No foi observado grau de significncia entre a idade e os animais infectados;
entretanto, a maior percentagem de animais acometidos (36,36%) foi encontrada na
faixa etria de dois a quatro anos de idade.
Existe uma enorme variabilidade dos padres dermatolgicos das
dermatomicoses em ces (Foil, 1994). O padro de distribuio das leses cutneas
dos animais infectados com dermatfitos e M. pachydermatis so extremamente
variveis, podendo ser observado leses focais nicas, multifocais e difusas
(Svejgaard, 1986; Foil, 1994;). Em nosso estudo, encontramos apenas (p=0,098) em
animais acometidos por M. pachydermatis uma maior prevalncia de leses difusas
(p=0,098). Estes dados so compatveis com os achados clnicos de Mason & Evans
(1991), que descrevem a presena de dermatite generalizada (difusa) em
dermatomicoses por M. pachydermatis .
Todos os ces tratados responderam positivamente aos protocolos
teraputicos institudos, com diminuio excelente das contagens de clnico e
avaliao micolgical (Tabela 09 e 10).
Tabela 09. Soma dos escores das avaliaes clnicas e micolgicas tempo grupo 01 grupo 02 grupo 03 grupo 04 Co 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24
1sem 7 9 5 9 7 10 7 10 6 6 6 12 6 8 9 8 7 9 8 8 8 7 12 7 2sem 3 7 4 7 6 7 4 7 5 5 5 10 5 7 7 5 5 7 6 7 6 6 7 3
3sem 3 2 1 3 3 3 4 5 3 4 4 6 3 5 4 3 4 5 5 5 4 4 5 1
4sem 1 1 1 1 1 1 2 3 1 2 2 1 1 2 2 1 1 3 1 3 1 0 2 0
47
Tabela 10. Escores individuais de avaliao clnica e micolgica de cada
animal dentro de seu grupo.
Avaliao clnica (escores) Avaliao micolgica (cultura)
Co n
1 sem
2 sem
3 sem
4 sem
1 sem
2 sem
3 sem
4 sem
escore
01 6 3 3 1 + - - - 1 02 8 6 2 1 + + - - 2 03 5 4 1 1 - - - - 0 04 9 7 3 1 - - - - 0 05 7 6 3 1 - - - - 0
g r u p o 1 06 9 7 3 1 + - - - 1
07 7 4 4 2 - - - - 0 08 9 7 5 3 + - - - 1 09 6 5 3 1 - - - - 0 10 6 5 4 2 - - - - 0 11 5 5 4 2 + - - - 1
g r u p o 2 12 11 10 6 1 + - - - 1
13 6 5 3 1 - - - - 0 14 8 7 5 2 - - - - 0 15 8 7 4 2 + - - - 1 16 8 5 3 1 - - - - 0 17 7 5 4 1 - - - - 0
g r u p o 3 18 8 7 5 3 + - - - 1
19 8 6 5 1 - - - - 0 20 8 7 5 3 - - - - 0 21 7 6 4 1 + - - - 1 22 7 6 4 0 - - - - 0 23 11 6 5 2 + + - - 2
g r u p o 4 24 6 3 1 0 + - - - 1
Analisando-se a soma dos escores das anlises clnicas e micolgicas, pode-
se concluir que nas semanas 1, 2 e 4 a diferena entre os escores no
estatisticamente significativa. Essa diferena no-significativa pode ser causada pelo
reduzido tamanho amostral. Em relao semana 3, pode-se concluir que existe
diferena nos escores. Analisando-se a semana 3, os grupos 2, 3 e 4 no
apresentam diferenas significativas (Qui-quadrado 0,353 com significncia 0,8381).
Juntando-se esses dados para a composio de um nico grupo e comparando-se
com o grupo 1, nota-se uma diferena significativa, sendo o grupo 1 o que apresenta
valores mais baixos para a soma dos escores (valor z calculado -2,929 com
significncia exata 0,0025) (Tabela 11 e 12).
48
Tabela 11. Estatsticas bsicas das soma dos escores das avaliaes clnicas e micolgicas.
Grupo Semana Mnimo Mximo Mdia Desvio Padro
1 1 5 10 7,83 1,835 2 3 7 5,67 1,751 3 1 3 2,50 0,837 4 1 1 1,00 0,000 2 1 6 12 7,83 2,563 2 4 10 6,00 2,191 3 3 6 4,33 1,033 4 1 3 1,83 0,753 3 1 6 9 7,83 1,169 2 5 7 6,00 1,095 3 3 5 4,00 0,894 4 1 3 1,67 0,816 4 1 7 12 8,33 1,862 2 3 7 5,83 1,472 3 1 5 4,00 1,549 4 0 3 1,17 1,169
Tabela 12. Teste de kruskal-Wallis para a diferena de escores entre os grupos
Semana Rank mdio Qui-quadrado
Significncia
grupo1 grupo2 grupo3 grupo4 1 12,75 10,67 12,83 13,75 0,633 0,8889 2 12,42 11,50 13,25 12,83 0,217 0,9747 3 5,42 15,58 13,83 15,17 8,794 0,0322 4 9,00 16,08 14,50 10,42 4,866 0,1818
Por intermdio do grfico de soma de escores clnicos e micolgicos (Figura
1) pode-se notar que em todos os casos os tratamentos so eficientes na reduo
dos escores, porm, devido diferena apresentada na semana 3, pode-se concluir
que o tratamento realizado no grupo 1 o que apresenta resultados mais
significantes.
49
grupo1 grupo2 grupo3 grupo4
0
2
4
6
8
10
12
1 sem 2 sem 3 sem 4 sem
som
a d
os
esco
res.
Figura 01 Representao grfica da soma dos escores clnicos e
micolgicos
A representao grfica acima mostra que o grupo tratado s com
griseofulvina apresentou diminuio da severidade das leses de forma mais
evidente que os outros grupos de tratamento. Na a avaliao micolgica, trs ces
do grupo 01, trs ces do grupo 02, dois ces do grupo 03 e trs ces do grupo 04,
apresentaram cultura fngica positiva na primeira semana de tratamento. Um co do
grupo 01 e outro do grupo 04 ainda apresentavam cultura fngica positiva na
segunda semana de tratamento (Tabela 10).
Em nosso estudo foi demonstrado que a griseofulvina e o cetoconazol so
antifngicos eficientes. Entretanto, no grupo tratado com a griseofulvin, houve
reduo da severidade das leses mais rpida que os demais protocolos. Tal
observao compatvel com trabalhos previamente publicados, confirmando a
eficincia desta droga no tratamento da dermatofitose em ces e gatos por
Microsporum canis (Moriello & DeBoer, 1995; Balda et al., 2002)
No foi observado efeitos adversos e/ou colaterais em qualquer grupo de
tratamento com griseofulvina micronizada. Foi aconselhado aos proprietrios,
associar o medicamento a comida gordurosa, o que garantiu bons nveis de
absoro e facilitou a adeso do animal ao tratamento. conhecido que vrios
50
fatores, independente do espectro de ao in vitro da griseofulvina, podem afetar
sua efetividade no tratamento da dermatofitose canina. O tamanho da partcula da
droga, os efeitos adversos e/ou colaterais e a dieta pobre em gorduras, podem ser
mencionados (Farias & Giuffrida, 2002).
O cetoconazol mostrou ser efetivo nos dois grupos de tratamento, com
reduo progressiva da severidade das leses e cultura fngica, no apresentando
efeitos adversos que pudessem levar interrupo do tratamento. Esta droga muito
usada em dermatomicoses refratrias foi associada resistncia fngica in vitro.
Seu custo mais elevado, maior possibilidade de efeitos adversos e/ou colaterais que
a griseofulvina j foi descrito como fator limitante na sua utilizao nos protocolos
teraputicos primrios (Farias & Giuffrida, 2002). Porm uma grande preferncia por
tal droga no tratamento das dermatofitoses observada entre os clnicos de
pequenos animais. Tal opo pode ser explicada por desconhecimento de tais
aspectos teraputicos que mostram que a griseofulvina droga de primeira escolha
na terapia das dermatofitoses. Diante da possibilidade de insucesso da primo-terapia
com a griseofulvina a melhor opo seria o itraconazol ou a terbinafina, por
possurem efeitos teraputicos superiores ao cetoconazol (Moriello, 2004).
A introduo do levamisol para os protocolos teraputicos no demonstrou
melhorar a eficincia destes. No houve diferenas estatsticas na reduo na
severidade das leses dermatofticas, na cultura fngica e no tempo de tratamento.
Vrios estudos relatam que o levamisol droga capaz de reestabelecer a resposta
imune deprimida em animais e humanos, mais sem qualquer efeito de melhorara na
imunidade de animais saudveis (Symoens & Rosental, 1977). Porm em estudo
subseqente de Symoens (1979) relatou que o levamisol induziu melhora clnica em
pacientes com infeces crnicas ou doenas inflamatrias. O mesmo autor afirma a
capacidade para reestabelecer e/ou aumentar a atividade deficiente de celulas que
participam na resposta imune celular-mediada (Symoens et al., 1979). A observao
clnica em nosso estudo mostra que aparentemente o levamisol no melhora a
relao do hospedeiro (co) perante a infeco por M. canis. Tal observao
respaldada pela no otimizao dos protocolos teraputicos quando associado a
esta droga, diante de uma avalio clnica e micolgica sem diferena significante
em relao aos demais grupos de tratamento. A explicao para este fato que a
ao do levamisol no linfcito B, indiretamente, atravs da ao sobre os linfcitos T,
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extremamente variado. A produo de imunoglobulinas especficas pode ser
inalterada, aumentada ou at mesmo suprimida (Renoux, 1978).
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CONSIDERAES FINAIS
A partir deste estudo, encontramos que as dermatofitoses canina
constituem uma importante dermatopatia na rotina de atendimento clnico
veterinrio. A freqncia desta enfermidade, observada em ces da regio
metropolitana de Fortaleza, representa em torno de um quarto de todas as
dermatopatias suspeitas de dermatomicoses.
Dentre os dermatfitos, o Microsporum canis tem papel relevante seguido de
Microsporum gypseum. O M. canis mais freqente em animais de plo longo do
que aqueles acometidos por M gypseum, que por sua vez, mais freqente em ces
de plo curto. O habitat tambm se mostrou fator importante na epidemiologia das
dermatofitoses, sendo o M. canis mais freqente em ces residentes em
apartamentos do que aqueles positivos para M. gypseum, mais observado em ces
residentes em casas com jardim.
As leveduras representadas principalmente pela Malassezia
pachydermatis se mostraram menos importante nas dermatopatias fngicas em
ces. Em suma, as infeces por M. pachydermatis apresentaram-se como leses
difusas, plo oleoso e quadros de prurido intenso. Tal evidncia correlata no
envolvimento desta levedura em quadros de dermatite seborrica pruriginosa
disseminada em ces.
A terapia antifngica com a griseofulvina para infeces dermatofdicas
por M. canis, representou a melhor escolha, pois esta se mostrou eficaz, barata e
bem tolerada no tratamento comparativamente com o cetoconazol. A associao de
protocolos teraputicos clssicos com griseofulvina e cetoconazol, ao levamisol, no
se mostrou vantajoso. No foi possvel de observar diminuio do tempo de
tratamento e maior velocidade na regresso das leses clnicas.
Por fim, a conscientizao crescente, a formao tcnica continuada e a
disseminao de centros de diagnstico micolgico, revelam ser os passos a serem
dado