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CARMEN LÚCIA GUIMARÃES DE AYMAR
MANEJO DA DOR E USO DE ANALGESIA
SISTÊMICA EM NEONATOLOGIA
Recife2008
RECIFE2008
CARMEN LÚCIA GUIMARÃES DE AYMAR
Dissertação apresentada ao Colegiado da Pós-Graduação em Saúde da Criança e do Adolescente do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Pernambuco, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Saúde da Criança e do Adolescente.
OrientadoraProfª. Drª. Sônia Bechara Coutinho
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
REITOR Prof. Dr. Amaro Henrique Pessoa Lins
VICE-REITOR
Prof. Dr. Gilson Edmar Gonçalves e Silva
PRÓ-REITOR DA PÓS-GRADUAÇÃO Prof. Dr. Anísio Brasileiro de Freitas Dourado
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
DIRETOR Prof. Dr. José Thadeu Pinheiro
COORDENADOR DA COMISSÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO DO CCS
Profª. Drª. Gisélia Alves Pontes da Silva
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
LINHA DE PESQUISA: EPIDEMIOLOGIA DA MORBIMORTALIDAD E DO FETO E DO RECÉM-NASCIDO
COLEGIADO
Profª. Drª. Gisélia Alves Pontes da Silva (Coordenadora) Profª. Drª. Luciane Soares de Lima (Vice-Coordenadora)
Profª. Drª. Marília de Carvalho Lima Prof. Dr. Pedro Israel Cabral de Lira Profª. Drª. Sônia Bechara Coutinho
Profª. Drª. Mônica Maria Osório de Cerqueira Prof. Dr. Emanuel Sávio Cavalcanti Sarinho
Profª. Drª. Sílvia Wanick Sarinho Profª. Drª. Maria Clara Albuquerque Profª. Drª. Sophie Helena Eickmann
Profª. Drª. Ana Cláudia Vasconcelos Martins de Souza Lima Profª. Drª. Maria Eugênia Farias Almeida Motta
Prof. Dr. Alcides da Silva Diniz Profª. Drª. Maria Gorete Lucena de Vasconcelos
Profª. Drª. Sílvia Regina Jamelli Paula Andréa de Melo Valença (Representante discente - Doutorado)
Luciano Meireles de Pontes (Representante discente - Mestrado)
SECRETARIA Paulo Sérgio Oliveira do Nascimento
Aymar, Carmen Lúcia Guimarães de
Manejo da dor e uso de analgesia sistêmica em neonatologia / Carmen Lúcia Guimarães de Aymar. –Recife : O Autor, 2008.
74 folhas : il., fig., tab., gráf.
Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Pernambuco. CCS. Saúde da criança e do adolescente, 2008.
Inclui bibliografia e anexos.
1. Analgesia. 2. Dor. 3. Recém-nascido. 3. Unidade de terapia intensiva neonatal. I. Título.
612.648 CDU (2.ed.) UFPE 618.9201 CDD (22.ed.) CCS-07/2008
Aymar, Carmen Lúcia Guimarães de Manejo da dor e uso de ana lges ia s i s t êmica em n eonat o log ia . Dedicatória
Dedicatória
"Quando você quer alguma coisa, todo o Universo conspira para que você realize o seu desejo". Paulo Coelho.
À minha mãe, Norma (in memorian), exemplo de força, coragem e
superação, que fez de mim quem sou e acreditou em meus sonhos.
Ao meu filho, Fred, fonte constante de estímulo, incentivo e amor; razão
de tudo; meu “companheiro de aventuras”.
Aymar, Carmen Lúcia Guimarães de Manejo da dor e uso de ana lges ia s i s t êmica em n eonat o log ia Agradecimentos
"O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso, existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis." Fernando Pessoa
Ao meu DEUS, força maior.
Aos meus amigos e familiares, pelo apoio, carinho, incentivo e
compreensão, indispensáveis para minha vida.
À Profª. Drª. Sônia Bechara Coutinho, pelo exemplo de pessoa e
profissional, pela dedicação e competência com que me orientou durante a realização
deste trabalho, e pela oportunidade de crescimento, confiança, atenção e respeito
concedidos a mim durante este tempo que trabalhamos juntas.
Agradecimentos
Aymar, Carmen Lúcia Guimarães de Manejo da dor e uso de ana lges ia s i s t êmica em n eonat o log ia Agradecimentos
Às companheiras de pesquisa: Alessandra Maia e Aracy Bibiano, pela
participação na coleta e elaboração do banco de dados.
Aos professores Dr. Pedro Israel Cabral de Lira e Drª. Marília de
Carvalho Lima, e Drª. Maria do Carmo Duarte e Drª. Taciana Duque pela importante
contribuição trazida ao estudo por ocasião do Exame de Qualificação e da pré-banca.
Aos professores da Pós-Graduação em Saúde da Criança e do
Adolescente-UFPE, por terem contribuído na minha formação.
Aos colegas do mestrado, pelos momentos inesquecíveis compartilhados
e vínculos formados.
Aos funcionários da Pós-Graduação, Paulo, Fátima e Aline, por sua
competência, paciência e atenção.
Aos colegas de trabalho, por suportarem meus períodos de ausência e,
ainda assim, apoiarem a realização deste projeto.
Aos hospitais que serviram de campo de pesquisa deste trabalho, por me
terem aberto suas portas.
À Marlise Lucena Coutinho, Carla Adriane Leal, Marina Mendes e
Antônio Carlos Barbosa Lima pela disponibilidade e valiosa contribuição em muitas
etapas deste trabalho.
Aos pequenos pacientes, que a cada dia nos ensinam que a vida é feita de
esperança.
A todos que de alguma maneira contribuíram para a realização deste
trabalho, meu sincero agradecimento.
Aymar, Carmen Lúcia Guimarães de Manejo da dor e uso de ana lges ia s i s t êmica em n eonat o log ia . Epígrafe
De tudo ficam três coisas: A certeza de estarmos sempre começando
A certeza de que é preciso continuar E a certeza de que podemos ser
Interrompidos antes de terminarmos.
Portanto:
Fazer da interrupção um caminho novo,
Da queda um passo de dança, Do medo uma escada, Do sonho uma ponte,
Da procura um encontro.
Fernando Sabino
Aymar, Carmen Lúcia Guimarães de Manejo da dor e uso de ana lges ia s i s t êmica em n eonat o log ia . Sumário
Sumário
LISTA DE FIGURA, QUADRO E TABELAS................................................. 10
LISTA DE ABREVIATURAS............................................................................ 11
RESUMO.............................................................................................................. 12
ABSTRACT.......................................................................................................... 13
1- APRESENTAÇÃO......................................................................................... 15
1.1 Referências....................................................................................................... 17
2- CAPÍTULO DE REVISÃO DA LITERATURA............... ...........................
Manejo da dor em neonatologia: Um desafio a ser vencido
19
2.1 Introdução....................................................................................................... 19
2.2 Variáveis relacionadas aos pacientes.............................................................. 23
• Ocorrência de situações dolorosas......................................................... 23
• Capacidade de sentir e expressar dor.................................................. 25
• Perfil biológico do paciente................................................................. 25
2.3 Variáveis relacionadas aos profissionais........................................................ 26
• Fatores individuais................................................................................. 27
• Conhecimento de métodos de avaliação............................................... 28
• Conhecimento sobre drogas disponíveis e efeitos adversos.................. 33
2.4 Variáveis relacionadas aos serviços............................................................... 36
2.5 Conclusão e recomendações........................................................................... 38
2.6 Referências..................................................................................................... 39
Aymar, Carmen Lúcia Guimarães de Manejo da dor e uso de ana lges ia s i s t êmica em n eonat o log ia . Sumário
3 ARTIGO ORIGINAL................................................................................... 45
Utilização de Analgésicos Sistêmicos em Unidades de Terapia Intensiva
Neonatal na cidade do Recife
Resumo.................................................................................................................. 45
Abstract.................................................................................................................. 46
3.1 Introdução....................................................................................................... 47
3.2 Método............................................................................................................ 48
Local do estudo............................................................................................... 48
Desenho do estudo e população alvo.............................................................. 50
Coleta dos dados............................................................................................. 50
Aspectos éticos................................................................................................ 51
Plano de análise dos dados.............................................................................. 51
3.3 Resultados....................................................................................................... 52
3.4 Discussão e conclusões................................................................................... 56
3.5- Referências..................................................................................................... 60
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................ 64
5 APÊNDICE....................................................................................................... 66
6 ANEXOS......................................................................................................... 72
Aymar, Carmen Lúcia Guimarães de Manejo da dor e uso de ana lges ia s i s t êmica em n eonat o log ia . Lista de Figura, Quadros e Tabelas
10
Lista de Figura, Quadros e Tabelas
Capítulo de Revisão Figura - 1 Modelo conceitual da utilização de analgésicos sistêmicos em terapia
intensiva neonatal................................................................................... 22
Quadro - 1 NFCS - Escala de Codificação de Atividade Facial Neonatal.............. 30
Quadro - 2 NIPS - Escala de Avaliação de Dor Neonatal .................................... 30 Quadro - 3 PIPP - Perfil de Dor do Prematuro........................................................ 31 Quadro - 4 CRIES - Escore para a Avaliação da Dor Pós-Operatória do Recém-
Nascido.................................................................................................. 32
Artigo Original Quadro - 1 Caracterização dos serviços selecionados para o estudo, de acordo
com variáveis relacionadas às unidades e aos recém-nascidos, Recife, 2006........................................................................................................
49
Tabela - 1 Freqüência da utilização de analgesia sistêmica nos serviços
estudados por situação dolorosa, Recife, 2006...................................... 53
Tabela - 2 Utilização de medicação sistêmica por classe de droga, Recife,
2006........................................................................................................ 53
Tabela - 3 Caracterização da população estudada nas unidades de terapia
intensiva neonatal segundo a utilização de analgésicos sistêmicos, Recife, 2006...........................................................................................
55
Aymar, Carmen Lúcia Guimarães de Manejo da dor e uso de ana lges ia s i s t êmica em n eonat o log ia . Lista de Abreviaturas
11
Lista de Abreviaturas
DT------------ Drenagem torácica.
ECN---------- Enterocolite necrosante.
IOT----------- Intubação oro-traqueal.
NFCS--------- (Neonatal Facial Coding Scale) Escala de Codificação de Atividade
Facial Neonatal.
NIPS---------- (Neonatal Infant Pain Scale) Escala de Avaliação de Dor Neonatal.
PIPP---------- (Premature Infant Pain Profile) Perfil de Dor do Prematuro.
SAM---------- Síndrome de aspiração de mecônio.
SDR---------- Síndrome do desconforto respiratório.
SINASC----- Sistema de Informações de Nascidos vivos.
TTRN-------- Taquipnéia transitória do recém-nascido.
UTI-NEO---- Unidade de Terapia Intensiva Neonatal.
VMA--------- Ventilação Mecânica Assistida.
Aymar, Carmen Lúcia Guimarães de Manejo da dor e uso de ana lges ia s i s t êmica em n eonat o log ia . Resumo
12
Resumo
Introdução: Com o aumento da complexidade da atenção neonatal, e a disponibilidade
de procedimentos médicos cada vez mais sofisticados, houve uma maior exposição à
dor e ao sofrimento para o recém-nascido. Porém, apesar da crescente disponibilidade
de recursos terapêuticos e de avaliação, observa-se ainda a pouca utilização de analgesia
nas unidades de terapia intensiva neonatal. Objetivos: Realizar uma revisão da
literatura sobre o histórico e o estágio atual de conhecimento sobre a analgesia sistêmica
em neonatologia e apresentar os resultados de uma pesquisa sobre o manejo da dor em
unidades de terapia intensiva neonatal na cidade do Recife. Métodos: Para a revisão da
literatura foi realizada busca de artigos científicos através das bases dados do
MEDLINE, SciELO e LILACS com as palavras chave: analgesia, analgésicos
sistêmicos, dor, neonatologia, recém-nascido, unidade de terapia intensiva e unidade de
terapia intensiva neonatal, além de pesquisa adicional em bancos de dados de
dissertações, teses e livros texto. Para o artigo original foi realizado um estudo
quantitativo, transversal, retrospectivo, com componente analítico, através da análise de
informações contidas nos prontuários de recém-nascidos internados em sete unidades de
terapia intensiva neonatal da cidade do Recife/PE. Resultados: A literatura consultada
revela que a analgesia não é uma prática rotineira nas unidades de terapia intensiva
neonatal, de uma forma geral, apesar dos inúmeros estudos demonstrando a importância
do tema. Essa pesquisa demonstrou a inexistência de normas e rotinas escritas sobre o
manejo da dor na maioria dos serviços estudados, a não utilização de métodos validados
para avaliação da dor no recém-nascido, além de uma escassa utilização de analgesia
sistêmica para todos os procedimentos analisados Conclusão: Apesar de ser o alívio da
dor um dos princípios básicos da medicina, de envolver questões éticas e humanitárias,
e de estarem disponíveis atualmente vários guias práticos e consensos a respeito do
manejo da dor no neonato de risco, os resultados encontrados no presente estudo estão
muito aquém das recomendações atuais, tornando-se necessária uma intervenção
urgente para reverter a situação observada.
Palavras chave: analgesia, dor, recém-nascido, unidade de terapia intensiva neonatal.
Aymar, Carmen Lúcia Guimarães de Manejo da dor e uso de ana lges ia s i s t êmica em n eonat o log ia Abstract
13
Abstract
Introduction: With the increase in the complexity of neonatal care and the availability
of increasingly sophisticated medical procedures, there has been greater exposure to
pain and suffering on the part of newborn patients. Despite the growing availability of
therapeutic and assessment resources, there remains little use of analgesia in neonatal
intensive care units. Objectives: Perform a literature review on the history and current
state of knowledge regarding systemic analgesia in neonatology and present the results
of a study on pain management in neonatal intensive care units in the city of Recife
(Brazil). Methods: For the literature review, a search for scientific articles was
performed on the MEDLINE, SciELO and LILACS databases using the key words:
analgesia, systemic analgesics, pain, neonatology, newborn, intensive care unit and
neonatal intensive care unit. Additional research was carried out on dissertation and
thesis databanks as well as text books. For the original article, a retrospective, cross-
sectional quantitative study with an analytical component was carried out, analyzing
information on the medical charts of newborns hospitalized in seven neonatal intensive
care units in the city of Recife/PE (Brazil). Results: The literature consulted revealed
that analgesia is not generally a routine practice in neonatal intensive care units despite
the numerous studies demonstrating its importance. The present study found a lack of
written norms and routines regarding pain management in most of the services studied.
The non-use of validated methods for the assessment of pain in newborns and scant use
of systemic analgesics for all the procedures analyzed were also observed. Conclusion:
Although pain relief is one of the basic principles of medicine, involving ethical and
humanitarian issues and despite the current availability of a number of practical
guidelines and consensus regarding pain management in newborns at risk, the findings
of the present study fall far short of current recommendations. Urgent intervention is
required in order to remedy this situation.
Key words: analgesia, pain, newborn, neonatal intensive care unit.
1 - Apresentação
Aymar, Carmen Lúcia Guimarães de Manejo da dor e uso de ana lges ia s i s t êmica em n eonat o log ia . Apresentação
15
1 – Apresentação
Dentre as várias inquietações que nos cercam, encontra-se o tema
escolhido para esta dissertação: A DOR. Torna-se mais relevante ainda quando tratamos
de pequenos e frágeis seres, totalmente dependentes da sensibilidade e dos cuidados de
outros para a sua sobrevivência e o seu desenvolvimento: o recém-nascido humano.
Apesar da crescente disponibilidade de recursos terapêuticos, de
avaliação e, principalmente por ser o alívio da dor um dos princípios básicos da
medicina e de envolver questões éticas e humanitárias, observa-se ainda a pouca
utilização de analgesia nas unidades de terapia intensiva neonatal1-3.
As dificuldades para o tratamento adequado da dor no recém-nascido não
residem somente na falta de opções diagnósticas e terapêuticas, mas em como os
profissionais da área de saúde se utilizam dos conhecimentos científicos a respeito da
presença, do diagnóstico e do tratamento da dor em sua prática diária1. De uma forma
geral, os profissionais de saúde não têm, em sua formação, o preparo suficiente para o
reconhecimento e o alívio da dor do seu paciente, e sim, para curá-lo4. Por isso, diversos
estudos vêm mostrando um distanciamento entre o conhecimento científico a respeito
da dor e a efetiva utilização de métodos para sua avaliação e minimização2, 5-7.
Durante a minha atuação profissional em terapia intensiva neonatal,
sempre me chamou a atenção o fato/impressão de que a dor e o desconforto do neonato
não eram motivo de atuação direta e imediata de todos aqueles que lidam com os bebês
Aymar, Carmen Lúcia Guimarães de Manejo da dor e uso de ana lges ia s i s t êmica em n eonat o log ia . Apresentação
16
de risco. Parecia haver uma contradição entre o sentimento de que os profissionais que
lidavam com recém-nascidos eram necessariamente sensíveis e delicados e a prática
diária, quando era possível a observação de que, muitas vezes, havia certo
“esquecimento” da fragilidade do pequeno paciente. Assim, ao considerar a necessidade
de identificar a real situação nas unidades e a ausência de publicações avaliando o
manejo da dor no período neonatal na cidade do Recife, foi idealizada esta pesquisa.
A presente dissertação de mestrado inclui dois capítulos. O primeiro
fundamenta-se em uma revisão da literatura intitulada: Manejo da dor em
neonatologia: Um desafio a ser vencido, cujo objetivo foi revisar a literatura médica
para descrever o histórico e o estágio atual de conhecimento sobre o uso de analgesia
sistêmica em neonatologia a partir das evidências científicas.
O segundo capítulo consiste em um artigo original, com o título:
Utilização de analgésicos sistêmicos em Unidades de Terapia Intensiva Neonatal na
cidade do Recife, cujo objetivo principal foi avaliar o manejo da dor em sete unidades
de terapia intensiva neonatal na cidade do Recife, e será submetido ao Jornal de
Pediatria. A partir dos seus resultados, espera-se conhecer o manejo da dor dos recém-
nascidos nas unidades de terapia intensiva neonatal da região e, assim, contribuir para a
melhoria da assistência ao pequeno paciente.
Por fim, são apresentadas as considerações finais da dissertação e
recomendações para o enfrentamento do problema.
Aymar, Carmen Lúcia Guimarães de Manejo da dor e uso de ana lges ia s i s t êmica em n eonat o log ia . Apresentação
17
1.1 Referências
1- Castro MC, Guinsburg R, Almeida MF, Peres CA, Yanaguibashi G, Kopelman BI. Perfil da indicação de analgésicos opióides em recém-nascidos em ventilação mecânica. J Pediatr (Rio J). 2003; 79(1):41-8.
2- Prestes AC, Guinsburg R, Balda RC, Marba STM, Rugolo LMSS, Pachi PR, et al.
Freqüência do emprego de analgésicos em unidades de terapia intensiva neonatal universitárias. J Pediatr (Rio J). 2005; 81(5):405-10.
3- Guinsburg R, Balda RCX, Berenguel RC, Almeida MF, Tonelloto J, Santos AM,
et al. Aplicação das escalas comportamentais para avaliação da dor em recém-nascidos. J Pediatr (Rio J). 1997; 73(6):411-8.
4- Gaíva MAM, Dias NS. Dor no recém-nascido: percepção de profissionais de
saúde de um hospital universitário. Rev Paul Enf. 2002; 21(3):234-9. 5- Guinsburg R, Kopelman BI, Almeida MF, Miyoshi MH. A dor no recém-nascido
prematuro submetido a ventilação mecânica através de cânula traqueal. J Pediatr (Rio J). 1994; 70(2):82-90.
6- Guinsburg R. Avaliação e tratamento da dor no recém-nascido. J Pediatr (Rio J).
1999; 75(3):149-60. 7- Lago PM, Piva JP, Garcia PC, Sfoggia A, Knight G, Ramelet AS. Analgesia e
sedação em situações de emergência e unidades de tratamento intensivo pediátrico. J Pediatr (Rio J). 2003; 79(2):S223-30.
2 – Capítulo de Revisão da Literatura
Aymar, Carmen Lúcia Guimarães de Mane jo da dor e uso de ana lges ia s i s têmica em neonato log ia .
Revisão da Literatura
19
19
2 – Manejo da dor em neonatologia: Um desafio a ser vencido
2.1 Introdução
Na Antigüidade clássica, um médico que prolongasse ou tentasse prolongar a vida de um homem que não tinha
condições de recuperar a sua saúde era visto como agindo de forma não ética, sendo o único dever do médico,
“ajudar” ou “não causar dano”. Darel W. Amundsen 1
Em todas as civilizações, países e momentos históricos, tentou-se
explicar o que é a dor, por que a sentimos e qual a forma de combatê-la. Por isso, ela foi
o motivo mais importante e decisivo para o desenvolvimento da arte de curar2.
Os extratos de papoula já eram usados pelos sumérios quase 4.000 anos
a.C. Foi o remédio que Ísis deu a Ra para sua dor de cabeça. Em “A Odisséia”, por
exemplo, relatou-se como Ulisses e seus companheiros foram tratados por Helena de
Tróia com uma droga que, misturada ao vinho, acalmava a dor e a inflamação produzida
por qualquer doença. Em “Ilíada”, Homero também cita a bebida com a qual o médico
Petrodo aliviou as dores de Eurípilos, ferido em batalha3.
Aymar, Carmen Lúcia Guimarães de Mane jo da dor e uso de ana lges ia s i s têmica em neonato log ia .
Revisão da Literatura
20
20
Assim, desde épocas remotas, os papiros egípcios provaram que havia
uma grande variedade de fármacos, em sua maioria sustâncias analgésicas e
tranqüilizantes. O uso de derivados do ópio, por exemplo, tinha várias indicações. Em
toda a história da medicina, o ópio esteve ligado a práticas mágicas e adivinhatórias. Na
América pré-colombiana, as civilizações Maia e Asteca utilizavam o arbusto da coca
como analgésico, excitante e energético. O uso da cocaína tem, pelo menos, 5.000 anos
de idade. Até o final do século XIX, a medicina empregava antiinflamatórios, morfina e
seus derivados, sem qualquer noção dos seus mecanismos de ação4.
No entanto, através da história, ocorreram diversas mudanças no
entendimento do processo de origem, percepção, condução, efeitos e tratamento da dor,
até os dias atuais, quando, apesar dos grandes avanços neste tema, ainda são necessários
estudos e constante revisão. Em 1973, a Associação Internacional para o Estudo da Dor-
IASP foi fundada em Washington e, no ano seguinte, iniciou a publicação da revista
PAIN, marco de ligação entre especialistas e as fontes de atualização. Os avanços
ocorridos nos países ricos relacionados ao manejo da dor tiveram repercussão também
no Brasil surgindo, no final da década de 60 e durante a década de 70, as primeiras
clínicas de dor no país. Em São Paulo, em 1983, foi fundada a Sociedade Brasileira para
o Estudo da Dor-SBED, que em 1999 publicou pela primeira vez a revista: Dor-
Pesquisa, Clínica e Terapêutica4.
Contudo, mesmo com esse avanço, até a década de 70, o conceito
prevalecente entre pediatras e neonatologistas era de que o recém-nascido não sentia
dor. Entretanto, inúmeras pesquisas já comprovavam existir substrato neurológico para
a nocicepção no período neonatal; além disso, sabia-se que o estímulo doloroso provoca
alterações na maioria dos órgãos e sistemas do recém-nascido5-9.
Em 1985, foi chamada a atenção, pela primeira vez, de que crianças são
diferentes de adultos em relação à dor, principalmente sobre as diferenças na
farmacocinética das drogas.
De acordo com Silva e colaboradores, a partir da década de 90, a drª
Ruth Guinsburg desenvolveu, na Universidade Federal de São Paulo-UNIFESP, um
Aymar, Carmen Lúcia Guimarães de Mane jo da dor e uso de ana lges ia s i s têmica em neonato log ia .
Revisão da Literatura
21
21
trabalho, envolvendo a dor do recém-nascido, tornando-se referência nacional na
abordagem, avaliação e tratamento da dor nessa faixa etária4.
Guinsburg relatou, em sua revisão de literatura publicada em 1999, que
cada recém-nascido internado em unidades de terapia intensiva recebia cerca de 50 a
150 procedimentos potencialmente dolorosos ao dia e que pacientes abaixo de 1.000g
sofriam cerca de 500 ou mais intervenções dolorosas ao longo de sua internação5. Uma
maior exposição à dor e ao sofrimento para o paciente acarreta seqüelas em seu
desenvolvimento não só biológico, mas também psicossocial, influindo na qualidade de
vida do bebê e de sua família5,10.
Diversos estudos vêem mostrando que o estímulo doloroso repetitivo ou
prolongado em fases precoces da vida pode levar a alterações no sistema nervoso
central em formação, com conseqüências durante a infância e, possivelmente, na vida
adulta. Por conseguinte, a dor prolongada persistente ou repetitiva induziria a mudanças
fisiológicas e hormonais que modificariam os mecanismos moleculares
neurobiológicos. Assim, sugere-se que o recém-nascido grave e, por meio dos sentidos,
lembre-se da dor, sem necessariamente registrá-la cognitivamente, ou seja, haveria uma
memória fisiológica implícita do fenômeno doloroso. Além disso, mudanças nas
conexões neurais poderiam contribuir para a “síndrome da dor crônica”, na qual os
conhecimentos a respeito dos mecanismos biológicos da dor ainda não são suficientes
para a sua compreensão e fatores psicológicos e sociais produziriam um comportamento
de doença anormal, caracterizado basicamente por uma desproporção entre sinais
objetivos escassos, queixas exacerbadas e alegação de incapacidade por parte do
paciente.9,11-14.
Partindo do modelo conceitual da utilização de analgésicos sistêmicos
em unidades de terapia intensiva neonatal, apresentado na figura 1, será realizada a
descrição das variáveis relacionadas aos recém-nascidos, ao profissional médico
envolvido e aos serviços.
Aymar, Carmen Lúcia Guimarães de Mane jo da dor e uso de ana lges ia s i s têmica em neonato log ia .
Revisão da Literatura
22
22
Figura 1: Modelo conceitual da utilização de analgésicos sistêmicos em unidade de terapia intensiva neonatal
Ocorrência de situações dolorosas Capacidade de sentir e expressar dor Perfil biológico
• Sexo • Idade gestacional • Peso ao nascer
Fatores individuais
• Sensibilidade
• Empatia
• Motivação para aliviar a dor
Fatores técnicos
• Conhecimento de métodos de avaliação
• Conhecimento das
drogas disponíveis e efeitos adversos
Existência de protocolos específicos Cumprimento dos protocolos existentes Disponibilidade de recursos materiais e humanos adequados
UTILIZAÇÃO DE ANALGÉSICOS SISTÊMICOS EM UTI-NEONATAL
Fatores relacionados ao paciente
Fatores relacionados aos profissionais Fatores relacionados aos
serviços
Aymar, Carmen Lúcia Guimarães de Mane jo da dor e uso de ana lges ia s i s têmica em neonato log ia . Revisão da Literatura
23
23
2.2 Variáveis relacionadas aos pacientes
“D O R - Experiência sensitiva e emocional desagradável associada ou relacionada à lesão real ou potencial dos tecidos. Cada indivíduo aprende a utilizar esse termo através das suas
experiências anteriores.” IASP-International Association for the Study of Pain15.
• Ocorrência de situações dolorosas
O uso de analgésicos deve ser considerado em todos aqueles neonatos
portadores de doenças potencialmente dolorosas e/ou submetidos a procedimentos
invasivos ou não, destacando-se: tocotraumatismos (como fraturas e lacerações
extensas), pacientes com enterocolite necrosante, intubados e em ventilação mecânica,
submetidos a procedimentos cirúrgicos5,16-19.
Portanto, sendo a prevenção da dor primordial, recomenda-se o seu
tratamento sempre que ela possa ser prevista, por exemplo, como profilaxia após
cirurgia ou algum procedimento doloroso. Conforme já citara Schechter: “É inaceitável,
tanto do ponto de vista humano como farmacológico, esperar até que uma pessoa sofra
para tratá-la, quando a dor em questão é previsível”20.
Em estudo transversal, realizado em Belém/Pará, Chermont e
colaboradores encontraram o relato do uso de analgésicos em procedimentos
sabidamente invasivos e dolorosos, como dissecações venosas, drenagem torácica e
ventilação mecânica, ao redor de 50%. Além disso, somente 25 a 30% dos médicos que
atuavam em terapia intensiva neonatal empregavam medidas para tratamento da dor no
pós-operatório de laparotomia exploradora realizada em crianças recém-nascidas6.
Aymar, Carmen Lúcia Guimarães de Mane jo da dor e uso de ana lges ia s i s têmica em neonato log ia . Revisão da Literatura
24
24
Vale salientar o estudo de coorte prospectivo realizado em 2001, por
Prestes e colaboradores, em quatro unidades de terapia intensiva neonatal pertencentes a
hospitais universitários no estado de São Paulo onde os autores constataram o uso de
analgésicos em apenas 44% dos pacientes em ventilação mecânica, apesar de ser essa
uma das indicações mais freqüentes. Nos casos de enterocolite necrosante, que é uma
situação reconhecidamente dolorosa, 80% dos pacientes não receberam analgésicos na
fase aguda da doença, e apenas 53% dos neonatos receberam alguma dose de analgésico
nos três primeiros dias de pós-operatório21.
O estudo qualitativo de Hennig e colaboradores10, publicado em 2006,
constatou que apenas 17% dos profissionais entrevistados relataram usar fármacos
durante a realização de procedimentos sabidamente dolorosos (punção lombar,
drenagem torácica, pós-operatórios potencialmente dolorosos, dissecação venosa, dentre
outros citados).
São múltiplas as causas de estresse para o recém-nascido numa unidade
de terapia intensiva neonatal, incluindo: ventilação prolongada, nutrição inadequada,
episódios de quedas de saturação de oxigênio, iluminação intensa, ruídos constantes,
procedimentos múltiplos, entre outros. Sabe-se que a cóclea e os órgãos sensoriais se
desenvolvem por volta da 25ª semana de gestação e que a capacidade de ouvir ruídos de
40 decibéis está presente a partir da 28ª semana. Outro fator é o desenvolvimento do
ritmo circadiano o qual ocorre por volta da 32ª semana e pode ser alterado pelas
variações de iluminação do ambiente de uma unidade de terapia intensiva neonatal22.
Assim, é fundamental tentar minimizar as agressões sofridas pelo neonato durante seu
internamento na unidade neonatal, através de estratégias simples, como medidas
posturais, adequação dos procedimentos, e a humanização da assistência10,23,24. Dessa
forma, importantes medidas não-farmacológicas podem ser empregadas com o objetivo
de minimizar a dor e o estresse durante a permanência na unidade neonatal: diminuição
de ruídos na unidade; diminuição da incidência de luzes; racionalização de
procedimentos; posicionamento adequado e confortável dos pacientes; estimulação da
sucção-não nutritiva4,25.
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25
Por esse motivo e com o aprofundamento dos conhecimentos a respeito
da dor no período neonatal, foram desenvolvidas pesquisas que procuraram identificar a
capacidade de percepção da dor na vida intra-uterina8,26.
• Capacidade de sentir e expressar dor
Desde a 16ª semana de gestação, a transmissão da dor, a partir de
receptores periféricos até o córtex, é possível e tem seu desenvolvimento completado
após a 26ª semana. Assim, o feto é capaz de sentir dor a partir desse estágio. Entretanto,
é importante registrar que os mecanismos inibitórios e moduladores da dor só se
desenvolverão após o nascimento, fazendo com que o organismo imaturo seja ainda
mais sensível aos estímulos dolorosos8,11,26,27.
Durante o período neonatal, há um rápido crescimento e
desenvolvimento cerebral, por isso a ocorrência de dor e estresse repetido, nesse
período, pode levar a um desenvolvimento alterado do sistema de dor, associado com
diminuição do seu limiar, além de alterações na estabilidade respiratória, cardiovascular
e metabólica4,5,7,9,11-14,26.
Além desses fatores, recém nascidos expostos a estímulos nocivos
apresentam imediatas alterações hormonais e fisiológicas. Contudo, bebês prematuros e
nascidos a termo comportam-se de forma diferente em resposta à dor, podendo os
prematuros apresentar uma resposta inicial diminuída à dor, não significando com isso
que não a sintam24,28.
• Perfil biológico do paciente
Um ensaio clínico, cego, randomizado, realizado em São Paulo por
Guinsburg e colaboradores, cujo objetivo foi verificar a presença de diferenças entre os
sexos na expressão da dor em neonatos a termo e prematuros, concluiu que recém-
nascidos do sexo feminino de qualquer idade gestacional e tempo de vida, apresentam
Aymar, Carmen Lúcia Guimarães de Mane jo da dor e uso de ana lges ia s i s têmica em neonato log ia . Revisão da Literatura
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mais expressão facial de dor do que os do sexo masculino, durante a punção capilar e 1
minuto após29.
Outro aspecto que chama a atenção e foi salientado por Castro e
colaboradores30, em estudo retrospectivo publicado em 2003, é que as crianças de maior
peso e idade gestacional, ao nascer, apresentavam maior chance de receber analgesia.
Um estudo prospectivo, envolvendo dois hospitais na Suécia e na Itália,
avaliou 40 recém-nascidos prematuros com idade gestacional entre 28 e 36 semanas e
tempo de vida entre 25 e 42 horas. Esse trabalho teve como objetivo observar se a dor
aguda causa alterações hemodinâmicas associadas com ativação do córtex cerebral. Os
autores constataram que a ativação cortical ocorre bilateralmente após estimulação
unilateral e que essas mudanças são mais pronunciadas em neonatos do sexo masculino
e com menor idade gestacional31.
Em um estudo de coorte retrospectivo realizado em duas unidades de
terapia intensiva neonatal no Canadá, com neonatos de diferentes níveis de risco para
comprometimento neurológico (grupo A- alto risco: hipóxia grave, hemorragia intra-
ventricular, anomalia cromossômica; grupo B- risco moderado: anormalidade
respiratória severa por hipertensão pulmonar persistente, síndrome de aspiração de
mecônio, hidrocefalia, enterocolite necrosante, meningite; grupo C- baixo risco: sepsis e
desconforto respiratório que requeria ventilação mecânica) comprovou que o grupo de
alto risco foi submetido a um maior número de procedimentos dolorosos e receberam
menos analgésicos do que os pacientes dos grupos de moderado e baixo risco32.
2.3 Variáveis relacionadas aos profissionais
Apesar da crescente disponibilidade de recursos terapêuticos e de
avaliação, observa-se ainda a pouca utilização de analgesia nas unidades de terapia
intensiva neonatal21,30,33. O manejo da dor do neonato não é adequado devido à falta de
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27
conhecimento dos mecanismos pelos quais se dá a nocicepção e a aplicação errônea das
informações disponíveis34.
Segundo Castro e colaboradores30, as dificuldades para o tratamento
adequado da dor no recém-nascido não residem somente na falta de opções diagnósticas
e terapêuticas, mas em como os profissionais da área de saúde se utilizam dos
conhecimentos científicos a respeito da presença, do diagnóstico e do tratamento da dor
em sua prática diária.
De forma geral, os profissionais de saúde não têm em sua formação o
preparo suficiente para o reconhecimento e o alívio da dor do seu paciente, e sim, para
curá-lo23.
• Fatores individuais
Dentre os fatores que interferem na percepção da dor do outro e na
motivação para o alívio da dor do paciente, está a relação médico/paciente, relação
interpessoal na qual se encontram: a identificação (processo psicológico pelo qual um
indivíduo assimila um aspecto, uma propriedade, um atributo de outro e se transforma,
total ou parcialmente, segundo o modelo dessa pessoa), a transferência (conjunto dos
fenômenos que constituem as relações entre as pessoas) e a contra-transferência
(conjunto de reações inconscientes do médico à pessoa do seu paciente). A partir do
sofrimento corporal do paciente, está em jogo a relação interpessoal ou o inconsciente
de “um outro” e o seu próprio inconsciente, ou seja, o médico reativa e presentifica
vários sentimentos além de eventos vividos num outro momento, em etapas anteriores
de sua vida. Assim, a percepção e a intervenção em um sintoma podem estar seriamente
comprometidas em seu atendimento e compreensão35.
Além disso, pode ser observado um mecanismo de defesa psicológica do
profissional que realiza procedimentos invasivos rotineiramente, através de uma
reestruturação cognitiva, tornando-os mais céticos em relação às respostas subjetivas de
dor e estresse exibidas pelo paciente em terapia intensiva. Como conseqüência, pode
ocorrer o desinteresse nas medidas que visam reduzir o estresse e a dor no neonato30.
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Apesar dos profissionais reconhecerem que o recém-nascido sente dor,
eles têm dificuldade em defini-la e lidar com ela, como concluiu um estudo qualitativo
realizado em um hospital universitário em Cuiabá/MT, sobre a percepção e a vivência
da equipe de saúde de uma unidade de terapia intensiva neonatal, diante da dor no
recém-nascido23.
Outro estudo qualitativo realizado com enfermeiras de três unidades de
terapia intensiva neonatal do Estado de São Paulo, com o objetivo de verificar como é o
processo de avaliação e identificar os fatores que podem interferir na prevenção e no
tratamento da dor, concluiu que a sensibilização dos profissionais na avaliação do
paciente favorece o tratamento da dor nas unidades e que a prevenção da dor depende
dos recursos humanos os quais atuam nos serviços36.
• Conhecimento de métodos de avaliação
Como a dor é uma ocorrência subjetiva, há certa dificuldade na sua
avaliação, principalmente nos indivíduos que não conseguem verbalizá-la, em especial
nos recém-nascidos. Esse fato leva a uma necessidade do adulto reconhecer ou
decodificar os sinais de dor emitidos pelo paciente pré-verbal, dependendo, para isso, do
seu conhecimento a respeito da dor nessa faixa etária, de sua sensibilidade e atenção
para a percepção desses sinais21,30,33. Segundo Silva e colaboradores, “a dor deve ser
valorizada como sendo o quinto sinal vital e avaliada de maneira sistematizada também
nos recém-nascidos”37.
Encontram-se à disposição, atualmente, vários parâmetros fisiológicos e
comportamentais, além de escalas multidimensionais para avaliação da presença e
intensidade da dor no neonato4,30,33,34,38-41. Dentre esses parâmetros fisiológicos, são
considerados: freqüência cardíaca, freqüência respiratória, pressão arterial, saturação de
oxigênio, tensão transcutânea de oxigênio e de dióxido de carbono e dosagens
hormonais. Assim, os principais parâmetros comportamentais utilizados incluem: o
choro, a atividade motora e a mímica facial de dor.
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O choro é uma forma de comunicação e manifestação do bebê, sendo
muito utilizado pelas mães e por cuidadores. Apesar de o choro ser considerado um
parâmetro importante na avaliação da dor, a American Academy of Pediatrics e a
Canadian Paediatric Society, em 2000, ao discutirem a prevenção e o manejo da dor
assim como o estresse em neonatos, chamam a atenção de que a ausência de respostas
comportamentais, incluindo o choro e movimentos, não é necessariamente, indicativo
de falta de dor. O choro é pouco específico, mas parece ser um instrumento útil quando
associado às outras medidas de avaliação da dor5,23,42.
Por meio do choro, o recém-nascido comunica sua dor, como concluíram
Branco e colaboradores em estudo descritivo, onde foram gravadas as emissões de 111
recém-nascidos de termo e saudáveis, com idade de 24 a 72 horas, durante
procedimento da punção venosa periférica. Foi observado que os recém-nascidos
apresentaram 100% de suas emissões com variações de freqüência. As características do
choro são importantes para chamar a atenção do adulto no pronto atendimento ao
recém-nascido e auxiliar na avaliação de dor durante um procedimento43.
A atividade motora isoladamente também parece ser um método sensível
de avaliação da dor em recém-nascidos a termo e prematuros, mas, quando analisada em
conjunto com outras variáveis fisiológicas e comportamentais, torna-se mais segura5.
Já a observação da expressão facial é um método específico para
avaliação da dor, como concluíram Boyle e colaboradores, em um estudo duplo cego,
randomizado, placebo-controlado, publicado em 2006, analisando o uso da morfina em
bebês prematuros em ventilação mecânica com o objetivo de identificar fatores os quais
pudessem ser úteis na avaliação da dor persistente. Nesse estudo, foi observado que a
expressão facial de dor, alto nível de atividade motora e pouca sincronia com o
respirador estavam associados com o uso do placebo quando comparado com o uso do
analgésico, podendo ser considerados como marcadores da dor persistente nesses
bebês44.
Constatada a subjetividade que envolve o tema estudado e a necessidade
da instituição de modelos para avaliar a presença da dor, foram desenvolvidas várias
escalas para sua avaliação. Dentre elas, as mais estudadas são: Neonatal Facial Coding
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Scale (NFCS - Escala de Codificação de Atividade Facial Neonatal), Neonatal Infant
Pain Scale (NIPS -Escala de Avaliação de Dor Neonatal), Premature Infant Pain
Profile (PIPP -Perfil de Dor do Prematuro), e o Crying, Requires O2 for saturation
above 90%, Increased vital signs, Expression, and Sleeplessness (CRIES - Escore para
a Avaliação da Dor Pós-Operatória do Recém-Nascido)45-48
Quadro 1. NFCS - Escala de Codificação de Atividade Facial Neonatal45:
MOVIMENTO FACIAL 0 Ponto 1 Ponto
Fronte saliente Ausente Presente
Fenda palpebral estreitada Ausente Presente
Sulco naso labial aprofundado Ausente Presente
Boca aberta Ausente Presente
Boca estirada Ausente Presente
Língua tensa Ausente Presente
Protusão de língua Ausente Presente
Tremor de queixo Ausente Presente
Escore máximo: 8 pontos. Considera-se a presença de dor quando três ou mais movimentos
faciais aparecem de maneira consistente, durante a avaliação da presença de dor, ou seja,
pontuação igual ou superior a 3.
Quadro 2. NIPS - Escala de Avaliação de Dor Neonatal: (composta por cinco
indicadores de dor comportamentais e um fisiológico)47:
PARÂMETRO 0 Ponto 1 Ponto 2 Pontos
Expressão facial Relaxada Contraída ----------------
Choro Ausente Resmungos Vigoroso
Respiração Relaxada Diferente do basal ----------------
Braços Relaxados Fletidos/estendidos ----------------
Pernas Relaxadas Fletidas/estendidas ----------------
Estado de consciência Dormindo/calmo Desconfortável ----------------
Nessa tabela, a pontuação varia de 0 a 7, definindo-se dor para valores maiores e iguais a 4
pontos.
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A NFCS é uma escala unidimensional, amplamente utilizada em
pesquisas, aceita e válida para avaliação da dor aguda.
A NIPS avalia os parâmetros antes e após procedimentos invasivos em
neonatos a termo e prematuros. Além disso, permite avaliar a resposta do bebê aos
procedimentos potencialmente dolorosos. Nos pacientes que estão em ventilação
mecânica, dobra-se a pontuação da mímica facial, sem avaliar o parâmetro choro
(paciente intubado)5.
Quadro 3. PIPP - Perfil de Dor do Prematuro48:
INDICADORES 0 1 2 3
IG (semanas) ≥36 32 -35,6 28-31,6 < 28
Observar RN por 15 segundos. Anotar: FC / Sat. O2 basais
Estado de alerta
Ativo Acordado
Olho aberto
Com mímica
facial
Quieto Acordado
Olho aberto
Sem mímica
facial
Ativo Dormindo
Olho fechado
Com mímica
facial
Quieto Dormindo
Olho fechado
Sem mímica
facial FC Máxima 0 - 4 bpm 5 -14bpm 15 -24bpm ≥ 25 bpm
SO2 Mínima 0 - 2,4% 2,5 -4,9% 5,0 -7,4% ≥ 7,5%
Testa franzida Ausente Mínimo Moderado Máxima
Observar RN por 30 segundos Olhos
espremidos Ausente Mínimo Moderado Máxima
Nessa tabela, a pontuação varia de zero a 21. Escores menores ou iguais a 6 indicam ausência de dor ou dor mínima; entre 6 e 12, indica dor leve; escores superiores a 12 indicam a presença de dor moderada a intensa.
A PIPP é a escala mais indicada para ser aplicada em prematuros, pois
leva em consideração as alterações próprias desse grupo de pacientes. Define-se como
“ausente” 0 a 9% do tempo de observação com a alteração comportamental pesquisada;
“mínimo” 10 a 39% do tempo; “moderado” 40 a 69% do tempo e “máximo” como mais
de 70% do tempo de observação com a alteração facial em questão5.
Aymar, Carmen Lúcia Guimarães de Mane jo da dor e uso de ana lges ia s i s têmica em neonato log ia . Revisão da Literatura
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Apesar do uso da tabela CRIES ser muito difundido nos Estados Unidos,
provavelmente devido à aplicação fácil e prática, a sua validação como instrumento de
mensuração da dor ainda não está finalizada. Além disso, deve-se lembrar de que
existem ressalvas quanto à avaliação do choro em pacientes intubados e que a análise da
mímica facial é bastante grosseira, com o emprego desse instrumento5.
Quadro 4. CRIES - Escore para a Avaliação da Dor Pós-Operatória do Recém-
Nascido46:
PARÂMETRO
0 ponto 1 ponto 2 pontos
Choro Ausente Alta tonalidade Inconsolável
FiO2 p/ Sat O2 90% 21% >21 a 30% > 30%
FC pré e pós-operatório Mantida Até 20% Superior a 20%
Expressão facial Relaxada Careta esporádica Contraída
Sono Normal Intervalos curtos Ausente
Aplicar a cada 2 horas, nas primeiras 24 após o procedimento doloroso e depois a cada 4 horas por pelo menos mais 48 horas. Quando a pontuação é > 5, sugere-se a administração de medicações para o alívio da dor.
Um estudo prospectivo realizado por Suraseranivongse e colaboradores,
com o objetivo de comparar a aplicabilidade prática e a validade de escalas para
avaliação da dor no recém-nascido no período pós-operatório, concluiu que, embora a
CRIES seja válida, a NIPS é de mais fácil aplicação e requer menos recursos sendo,
portanto, a escala recomendada pelos autores40.
Ainda não dispomos de um “padrão-ouro” para avaliação de dor no
neonato, e os instrumentos atualmente disponíveis não são capazes de medir
objetivamente a intensidade da dor. Todavia, dada à importância da correta avaliação
das situações para que se possa instituir uma adequada conduta, cada caso deve ser
analisado individualmente, e o instrumento mais adequado deve ser utilizado.
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Em um estudo retrospectivo publicado em 2003, com o objetivo de
identificar os fatores que levaram os médicos a prescreverem opióides para recém-
nascidos em ventilação mecânica, Castro e colaboradores30 observaram que nos
pacientes que receberam mais de uma dose de opiódes durante a ventilação, a analgesia
foi iniciada, em média, até 24 horas após o seu início. No entanto, as escalas de
avaliação da dor não foram utilizadas em nenhum paciente e, em 63%, não havia relato
do motivo para a analgesia.
Em estudo transversal sobre o conhecimento dos pediatras de Belém-PA,
a respeito da avaliação e tratamento da dor no recém-nascido, publicado em 2003,
Chermont e colaboradores6 relataram que, apesar do fato de, desde o final da década de
80, escalas para avaliação da dor no neonato estarem disponíveis e sendo amplamente
referidas e recomendadas, apenas um terço dos profissionais entrevistados conhecia
alguma escala para avaliação da dor. Esse conhecimento era maior entre os médicos
com atuação em terapia intensiva, quando comparado com aqueles com atuação
exclusiva em berçário. Uma situação semelhante foi relatada por Lago e colaboradores49
em 2005, em estudo prospectivo multicêntrico na Itália, através do qual os autores
observaram que escores validados para avaliação da dor eram utilizados em apenas 19%
das unidades de terapia intensiva neonatal daquele país.
• Conhecimento sobre drogas disponíveis e efeitos adversos
Ainda não existe um consenso em relação ao melhor esquema
farmacológico para tratamento da dor de pacientes criticamente enfermos. Mesmo com
as possíveis explicações já relatadas para o pouco uso de analgesia em unidades de
terapia intensiva neonatal, deve-se lembrar que, em geral, há um escasso conhecimento
por parte dos profissionais sobre os efeitos adversos dos fármacos, relatados como
“temíveis” por alguns profissionais. Dentre esses, destacam-se: depressão respiratória,
rigidez da parede torácica, tolerância (necessidade de um aumento na dose do fármaco
para obter o mesmo efeito), abstinência e dependência (necessidade do organismo
continuar recebendo a droga para evitar os sintomas de abstinência)5,6,16-18,38,50-56. Esta
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falta de “pensamento farmacológico” deve-se, principalmente, a falhas na formação dos
profissionais onde não há valorização da farmacocinética das drogas prescritas.
Observa-se, com maior freqüência, a utilização das seguintes drogas nas
unidades de terapia intensiva neonatal4,19:
Analgésicos não-opióides: os antiinflamatórios não-hormonais são os
principais fármacos desse grupo, indicados em processos dolorosos de leves a
moderados e/ou associados a um processo inflamatório. Dentre os fármacos desse
grupo, apenas o paracetamol está liberado para uso no período neonatal, porém, no
Brasil não se dispõe de apresentação para uso parenteral, o que limita sua utilização nas
unidades de terapia intensiva neonatal5,57. Assim, a dose recomendada em neonatologia
é de 10-15mg/kg/dia para recém-nascidos de termo e de 10mg/kg/dia para prematuros,
com intervalos de seis horas. No entanto, seu uso é contra-indicado nos pacientes
portadores de deficiência de G6PD25. A utilização da dipirona em neonatologia ainda
não está liberada e alguns estudos estão em andamento visando um maior conhecimento
a respeito da sua segurança e eficácia no recém-nascido.
Analgésicos opióides: são a mais importante arma para o tratamento da
dor em terapia intensiva neonatal. Podem causar depressão respiratória, sedação, íleo
paralítico, retenção urinária, náusea, vômitos e dependência física25. Os mais utilizados
no período neonatal são a morfina e o citrato de fentanila, dentre outros.
Morfina: é o padrão de referência entre os opiódes. Tem potente efeito analgésico e
sedativo. A tolerância e a síndrome de abstinência podem ser observadas dependendo
do tempo e da forma de utilização. As doses recomendadas no período neonatal são:
dose intermitente- 0,05 a 0,2mg/kg/dose até a cada quatro horas; dose contínua- 5 a
20µg/kg/hora para bebês a termo e 2 a 10µg/kg/hora para prematuros25.
Fentanil: é 100 vezes mais potente do que a morfina e apresenta início de ação mais
rápido e duração mais curta. Não se observa instabilidade cardiovascular importante
mesmo com o emprego de doses mais elevadas5. As doses recomendadas para recém-
nascidos são: dose intermitente- 1 a 4µg/kg/dose a cada duas a quatro horas; dose
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contínua- 0,5 a 3µg/kg/hora para bebês a termo e 0,5 a 2µg/kg/hora para prematuros. A
desvantagem da infusão contínua está no rápido aparecimento de tolerância25.
Remifentanil: apresenta todas as características farmacodinâmicas de sua classe, porém
a recuperação dos seus efeitos ocorre rapidamente, pois não apresenta efeito de sedação
residual após sua suspensão, podendo tornar-se uma opção na sedação e analgesia de
recém-nascidos prematuros. As doses variam de acordo com os objetivos desejados. A
dose em bolus para intubação em recém-nascidos varia de 1 a 3µg/kg e para infusão
contínua de 0,1 a 5µg/kg/min25.
Merece cuidado a utilização de sedativos em neonatos, pois são fármacos
que diminuem a atividade, a ansiedade e a agitação do paciente, podendo levar à
amnésia de eventos dolorosos ou não, mas não diminuem a dor. Sua indicação mais
freqüente é na realização de procedimentos diagnósticos, em neonatos a termo agitados
por hipoxemia persistente e que necessitam de suporte ventilatório agressivo, assim
como nos pacientes cirúrgicos que precisam ficar longos períodos imobilizados como,
por exemplo, os portadores de defeitos de fechamento da parede abdominal. Antes da
utilização de sedativos, é importante afastar todas as outras causas de agitação, como:
dor, hipóxia, hipertermia, entre outras5. Além disto, existem métodos apropriados e
específicos para avaliação do grau de sedação do paciente. Dentre os sedativos
disponíveis, os mais utilizados em neonatologia são:
Benzodiazepínicos: são os mais usados para a sedação. Não possuem
ação analgésica, seus efeitos podem ser potencializados pelos opióides e podem levar à
depressão respiratória. Dentre eles, o mais utilizado em neonatologia é o Midazolam:
pode causar depressão respiratória e hipotensão arterial, as quais podem ser
potencializadas com o uso concomitante de opióides. Seu uso contínuo por um período
superior a 48 horas pode levar à dependência física. Dose intermitente- 0,05 a 0,2mg/kg,
até a cada 2 a 4 horas, dose contínua- 1 a 6µg/kg/min, por via venosa25. Apesar de o
midazolam ser usado muitas vezes de forma indiscriminada, de modo isolado ou em
associação ao fentanil nas Unidades de Terapia Intensiva Neonatais, foi demonstrado
que o seu uso em infusão contínua em recém-nascidos prematuros está associado a
efeitos adversos graves, como morte, leucomalácia e hemorragia peri-intraventricular25.
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Hidrato de cloral: é sedativo e hipnótico, utilizado para procedimentos
diagnósticos ou terapêuticos de curta duração. Contudo, como seu mecanismo de ação
ainda não é bem conhecido, sendo sua utilização limitada no período neonatal. Sua
eliminação é lenta no recém-nascido, seu metabólito ativo (tricloetanol) é mutagênico e
pode levar à irritação gástrica, hiperbilirrubinemia direta e indireta, depressão
miocárdica e respiratória, não é recomendado para uso no período neonatal25.
Barbitúricos: são potentes depressores do sistema nervoso central e têm
efeito anticonvulsivante. Não possuem ação analgésica e podem, até mesmo,
intensificar a sensação de dor. Por isso, a segurança para uso no período neonatal ainda
não está bem estabelecida25.
2.4 Variáveis relacionadas aos serviços
Com o aumento da complexidade da atenção (uso indiscriminado de
tecnologia e procedimentos médicos cada vez mais sofisticados), houve uma expansão
de trabalhos e pesquisas de avaliação da qualidade da atenção médica.
Sob essa visão, vários estudos vêm sendo desenvolvidos em diversos
países, com o objetivo de verificar a prática profissional relacionada ao manejo da dor
no período neonatal.
Um estudo qualitativo sobre conhecimentos e práticas dos profissionais
de saúde que atuavam em unidades de terapia intensiva neonatal do Rio de Janeiro,
publicado em 2006, constatou que apenas 17% dos profissionais entrevistados relataram
usar fármacos durante a realização de procedimentos sabidamente dolorosos (punção
lombar, drenagem torácica, pós-operatórios potencialmente dolorosos, dissecação
venosa, dentre outros citados)10.
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Em outro estudo, multicêntrico, realizado na Itália em 2003, com o
objetivo de avaliar a prática médica em analgesia preventiva e sedação para
procedimentos invasivos em unidades de terapia intensiva neonatal, Lago e
colaboradores49 observaram que em apenas 25% das unidades estudadas havia rotinas
escritas para manejo da dor aguda e 50% para controle da dor prolongada. O uso
rotineiro de métodos preventivos, farmacológicos e não-farmacológicos, para
procedimentos dolorosos variou de 13% para intubação traqueal eletiva, até 68% para
inserção de tubo torácico. Em 35% dos serviços, usava-se rotineiramente sedação com
opióides para ventilação mecânica; 14% faziam prevenção da dor e do estresse durante
aspiração traqueal; 44% para punção do calcanhar; 50% para punção venosa e
instalação de cateter venoso de inserção percutânea; 58% usavam analgesia antes de
punção lombar.
Na Austrália, um estudo multicêntrico, realizado em 2006, com o
objetivo de avaliar a prática baseada em evidências das unidades de terapia intensiva
neonatal para analgesia em pequenos procedimentos invasivos, concluiu que havia uma
lacuna entre as evidências científicas e a prática clínica58.
Além desse, um outro interessante estudo realizado na Nova Zelândia
procurou avaliar qual o impacto que o conhecimento adquirido através de pesquisas
publicadas sobre dor em neonatologia tinha sobre a prática adotada nas unidades de
terapia intensiva neonatal. Para tal objetivo, comparou as respostas obtidas de
questionários aplicados a profissionais que atuavam nessas unidades em 1999, com as
recomendações para o manejo da dor, sendo repetido em 2005. A partir dessa análise,
observou que houve um aumento na concordância com as recomendações nos últimos
seis anos, destacando a necessidade de todas as unidades terem suas normas e rotinas
para analgesia neonatal e que transformar evidências em práticas é difícil, além de
requerer certo tempo59.
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2.5 Conclusão e recomendações
As informações reveladas na literatura sugerem que na prática clínica
não há o cumprimento da Resolução dos Direitos da Criança e do Adolescente
Hospitalizado, publicada no Diário Oficial da União em outubro de 1995, que assegura
em seu item 7: “...o direito a não sentir dor, quando haja meios para evitá-la”60.
Infelizmente se sabe que, ainda hoje, apesar dessa garantia legal e
principalmente, por ser o alívio da dor um dos princípios básicos da medicina, além de
envolver questões éticas e humanitárias, a analgesia não é uma prática rotineira em
unidades de terapia intensiva neonatal, apesar de estarem disponíveis atualmente vários
guias práticos e consensos a respeito do manejo da dor no neonato de risco.
Portanto, faz-se necessário unir esforços no sentido de corrigir as atuais
falhas na assistência intensiva neonatal, através de novas pesquisas sobre o tema,
incluindo drogas mais seguras, introdução no currículo formal de disciplinas relativas a
estratégias para promover o bem estar do paciente (ao invés da atual doutrina que visa
basicamente à cura de patologias), organização dos serviços no sentido da detecção das
falhas na assistência e do estabelecimento de rotinas específicas sobre o manejo da dor
no recém-nascido, além da atualização e sensibilização dos profissionais envolvidos
nos cuidados aos neonatos.
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2.6 Referências
1. Pessini L. Conceito de distanásia e os cuidados paliativos - Conceito de distanásia: das origens ao atual debate norte-americano. In: Distanásia: até quando prolongar a vida? São Paulo: Editora do Centro Universitário São Camilo; 2001.p.143-62.
2. Ojugas AC. Uma visão do conceito de dor através dos séculos. [1], 1-22. 1999.
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3 – Artigo Original
Aymar, Carmen Lúcia Guimarães de Mane jo da dor e uso de ana lges ia s i s têmica em neonato log ia . Artigo Original
45
3 – Utilização de analgésicos sistêmicos em Unidades de Terapia Intensiva Neonatal na
cidade do Recife
Resumo
Objetivo: Avaliar o manejo da dor em Unidades de Terapia Intensiva Neonatal na
cidade do Recife. Método: estudo quantitativo, transversal, retrospectivo, com
componente analítico, realizado através da análise de informações contidas nos
prontuários de recém-nascidos internados em sete unidades de terapia intensiva neonatal
que obtiveram alta no período de janeiro a junho de 2006 e foram submetidos a
situações e/ou procedimentos potencialmente dolorosos. Resultados: Apenas dois
serviços tinham normas e rotinas escritas sobre o manejo da dor do recém-nascido. Nos
300 prontuários analisados, foi encontrada a utilização de escalas para avaliação da dor
em 02 pacientes. Observou-se uma escassa utilização de analgesia sistêmica para todos
os procedimentos analisados, tendo sido administrado analgésico em apenas metade dos
pacientes submetidos à drenagem torácica, menos de 50% dos pacientes durante o
período pós-operatório e cerca de 15% dos pacientes em ventilação mecânica invasiva.
Não houve diferença entre os serviços públicos e privados, com relação ao uso de
opióides. A analgesia sistêmica foi menos administrada para crianças de menor peso ao
nascer (p=0,002). Foi observado o dobro da freqüência do uso de opióides para os
recém-nascidos a termo quando comparado com os prematuros, contudo, essa diferença
não foi estatisticamente significante. Entre as crianças que faleceram, o uso de
analgésicos foi maior naquelas que tiveram tempo de sobrevida ≥28 dias (p=0,033).
Conclusão: A dor do neonato de risco não está sendo adequadamente avaliada e tratada,
independentemente do tipo de serviço em que o paciente esteja internado, sendo
necessárias intervenções junto às equipes para reverter a situação encontrada.
Palavras chave: analgesia, dor, recém-nascido, unidade de terapia intensiva neonatal.
Aymar, Carmen Lúcia Guimarães de Mane jo da dor e uso de ana lges ia s i s têmica em neonato log ia . Artigo Original
46
Abstract
Objective: Assess pain management in neonatal intensive care units in the city of
Recife (Brazil). Method: A retrospective, cross-sectional quantitative study with an
analytical component was carried out, analyzing information on the medical charts of
newborns hospitalized in seven neonatal intensive care units who were discharged
between January and June 2006 and had been submitted to potentially painful situations
and/or procedures. Results: Only two of the services had written norms and routines
regarding pain management in newborns. On the 300 medical charts analyzed, the use
of pain assessment scales was found for just two patients. There was little use of
systemic analgesics for all the procedures analyzed. Analgesics were administered in
just half of the patients submitted to thoracic drainage, less than 50% of patients during
the post-operative period and about 15% of the babies on invasive mechanical
ventilation. No differences were observed between the public and private services
investigated with regard to the use of opioids. Systemic analgesia was administered less
to newborns with lower birth weights (p=0.002). The frequency of opioid use for full-
term newborns was twice as high as for premature newborns, but this difference was not
statistically significant. Among the children who died, the use of analgesics was higher
among those who had a survival time of ≥28 days (p=0.033). Conclusion: Pain in
newborns at risk is not being adequately assessed and treated, regardless of the type of
service in which the patient is hospitalized. Inventions directed at neonatal healthcare
teams are needed in order to remedy this situation.
Key words: analgesia, pain, newborn, neonatal intensive care unit.
Aymar, Carmen Lúcia Guimarães de Mane jo da dor e uso de ana lges ia s i s têmica em neonato log ia . Artigo Original
47
3.1 Introdução
A dor é a experiência sensitiva e emocional desagradável associada ou
relacionada à lesão real ou potencial dos tecidos, de acordo com a IASP - International
Association for the Study of Pain1.
Nos últimos anos, os avanços nas diversas áreas do conhecimento vêm
possibilitando a identificação mais precoce de doenças da gestação e do feto, levando à
necessidade de uma melhor estruturação do sistema de saúde. A exemplo disso, no
estado de Pernambuco, com a criação de unidades de referência para o atendimento à
gestante de alto risco e da central reguladora de leitos do estado em 2002, houve uma
maior demanda de leitos de unidade de terapia intensiva neonatal.
A maior possibilidade de acesso a essas unidades bem como a
viabilidade de modernos recursos diagnósticos e terapêuticos, alguns invasivos, na
maioria das vezes, acarretam uma maior exposição à dor e ao sofrimento para o neonato
de risco.
Os avanços tecnológicos, desenvolvimento de novas drogas,
estabelecimento de rotinas nos vários aspectos relacionados ao manejo do paciente
criticamente enfermo são fatores que, associados às evidências científicas assim como a
um maior acesso à informação atualizada e adequada por parte dos profissionais da área,
levam a uma considerável melhora nos serviços. Entretanto, os resultados de alguns
estudos2-6 ainda demonstram uma lacuna entre o conhecimento científico a respeito da
dor como também suas conseqüências e a utilização de métodos para sua avaliação e
minimização. Essa condição está principalmente relacionada à ausência de protocolos
de avaliação e tratamento da dor nos serviços, ao desconhecimento teórico sobre a
fisiopatologia da dor assim como aos métodos de avaliação e alternativas terapêuticas
instituídas por parte dos profissionais envolvidos com os cuidados ao neonato de risco.
Aymar, Carmen Lúcia Guimarães de Mane jo da dor e uso de ana lges ia s i s têmica em neonato log ia . Artigo Original
48
Nessa linha de idéias, apesar de existirem atualmente dez unidades de
terapia intensiva neonatal internas em funcionamento na cidade do Recife, sendo cinco
de atendimento público e cinco privadas, não existem publicações a respeito do manejo
da dor neonatal nos diversos serviços da cidade.
Com base nesse fato, este estudo pretende descrever e avaliar o manejo
da dor no recém-nascido pelos neonatologistas e a utilização de analgesia sistêmica em
sete unidades de terapia intensiva neonatal na cidade do Recife.
3.2 Método
Local do estudo
O estudo foi realizado em cinco unidades de terapia intensiva neonatal de
atendimento público e duas de atendimento privado, todas localizadas na cidade do
Recife, Pernambuco, Nordeste do Brasil. A população da cidade do Recife é de
1.533.580 habitantes, segundo dados do IBGE, para o ano de 2007.
Foram incluídas apenas unidades de atendimento interno, ou seja,
aquelas cujos pacientes admitidos nasceram no próprio serviço. A caracterização dos
sete serviços selecionados para o estudo está descrita no quadro 1.
As cinco UTI-NEO pertencentes às maternidades públicas participantes
do estudo correspondem à totalidade dos serviços de referência para atendimento à
gestante de alto risco, usuária do Sistema Único de Saúde do Estado, sendo a sua
demanda regulada pela Central de Parto da Secretaria Estadual de Saúde de
Pernambuco. Dessas, quatro unidades possuem programa de residência médica
credenciado pelo Ministério da Educação para formação de pediatras.
Aymar, Carmen Lúcia Guimarães de Mane jo da dor e uso de ana lges ia s i s têmica em neonato log ia . Artigo Original
49
A cidade do Recife dispõe atualmente de cinco maternidades que
realizam atendimento a pacientes de alto, médio e baixo risco, particulares e de seguros
de saúde suplementar, totalizando 36 leitos de terapia intensiva neonatal privados. As
duas unidades incluídas nesta pesquisa foram selecionadas por contarem com equipe de
neonatologistas exclusiva para atendimento ao setor, terem o maior número de
partos/ano dentre os serviços privados e concentrarem 55,5% dos leitos da categoria na
cidade. Não há atividade de ensino em nenhuma dessas unidades.
As sete unidades participantes da pesquisa registraram o total de 21.246
nascidos vivos, durante o ano de 2006, correspondendo a 15,0% dos 141.561
nascimentos do Estado, segundo dados da Secretaria de Saúde do Estado de
Pernambuco (Sistema de Informações de Nascidos vivos - SINASC). Destaca-se que
50,5% dos bebês com peso de nascimento abaixo de 1.500g, nasceram em uma das
unidades selecionadas para o estudo.
*Nº de leitos incluindo UTI-NEO. † Número de nascidos vivos, segundo peso de nascimento durante o ano de 2006.
Quadro 1- Caracterização dos serviços selecionados para o estudo, de acordo com variáveis relacionadas às unidades e aos recém-nascidos, Recife, 2006. SERVIÇOS ESTUDADOS
VARIÁVEIS A B C D E F G Tipo de serviço Público Público Público Público Público Privado Privado
Residência
médica sim não sim sim sim não não
Nº de leitos da
unidade neonatal*
35 80 69 71 120 32 34
Nº de leitos de
UTI-NEO 10 10 8 7 18 10 10
Peso ao nascer (em gramas)†
n n n n n n n
< 1.500 88 109 131 185 367 42 23
1.500 -<2.500 330 480 517 811 1042 133 172
≥ 2.500 1541 2056 2437 3151 3846 1887 1898
Total/serviço 1959 2645 3085 4147 5255 2062 2093
Aymar, Carmen Lúcia Guimarães de Mane jo da dor e uso de ana lges ia s i s têmica em neonato log ia . Artigo Original
50
Desenho do estudo e população-alvo
Trata-se de um estudo quantitativo, transversal, retrospectivo, com
componente analítico. Foram incluídos os recém-nascidos internados nas sete unidades
selecionadas para o estudo, os quais foram submetidos a procedimentos ou situações
potencialmente dolorosas e que obtiveram alta no período de 01 de janeiro a 30 de
junho de 2006.
As situações de possível indicação de analgesia sistêmica e sua
utilização, consideradas no estudo, foram:
Intubação traqueal eletiva (IOT) = colocação de tubo endotraqueal em situação eletiva;
Ventilação mecânica assistida (VMA) = permanência em ventilação mecânica, não
sendo considerado tempo de ventilação ou número de doses de analgésicos, quando
utilizado;
Drenagem torácica (DT) = inserção de tubo torácico, sendo considerada a utilização de
analgésico sistêmico específico para o procedimento;
Enterocolite necrosante (ECN) = em qualquer estágio;
Período pós-operatório (PÓS-OP) = sendo considerado período de até uma semana após
a realização de procedimentos invasivos.
Vale salientar que foi considerada também a realização do procedimento
na vigência de analgesia já indicada por outra situação.
Coleta dos dados
A coleta de dados foi realizada por três neonatologistas, que trabalhavam
em uma ou mais das unidades estudadas, no período de janeiro a maio de 2007, e, após
contato com os responsáveis pelas unidades selecionadas para caracterização dos
serviços, foi realizada uma seleção dos prontuários, cujos pacientes obtiveram alta das
unidades de terapia intensiva neonatal no período determinado do estudo. Após a leitura
detalhada dos prontuários, foram selecionados aqueles que haviam sido submetidos a
procedimentos ou situações dolorosas com indicação de analgesia sistêmica definidos
acima.
Aymar, Carmen Lúcia Guimarães de Mane jo da dor e uso de ana lges ia s i s têmica em neonato log ia . Artigo Original
51
Para registro das informações colhidas nesses prontuários, foi elaborado
um formulário específico, contendo questões de acordo com as variáveis do estudo:
relacionadas ao recém-nascido (idade gestacional, peso, sexo, Apgar do 1º e 5º minutos,
diagnósticos registrados, ocorrência de óbito, tempo de sobrevida); relacionadas aos
serviços (público ou privado); utilização de escala para avaliação da dor e qual escala
utilizada; uso de analgésico em cada situação ou procedimento e tipo de droga utilizada
(opióide, diazepínico, opióide associado a diazepínico). Foi considerada administração
de analgesia sistêmica a prescrição de alguma dose de opióide, isoladamente ou
associada a sedativos, em dose intermitente ou infusão contínua.
Aspectos éticos
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital
Agamenon Magalhães, sob o nº. 269/06. A realização deste estudo não implicou danos
aos participantes, uma vez que nenhuma intervenção foi realizada além de ter sido
garantido o sigilo quanto à identificação dos pacientes, dos profissionais e dos serviços.
Todas as unidades participantes do estudo autorizaram a realização da
pesquisa, através de carta de anuência concedida pela diretoria do serviço.
Plano de análise dos dados
As informações coletadas foram codificadas e processadas em dupla
entrada, utilizando-se o pacote estatístico EPI-INFO versão 3.4.1 (Center for Disease
Control and Prevension, Atlanta, GA).
O teste qui-quadrado com correção de Yates foi empregado para verificar
associação entre variáveis categóricas, tomando-se o valor de p≤0,05 como
estatisticamente significante. O teste de Fisher foi usado quando indicado.
Aymar, Carmen Lúcia Guimarães de Mane jo da dor e uso de ana lges ia s i s têmica em neonato log ia . Artigo Original
52
3.3 Resultados
Dos sete serviços estudados, apenas dois tinham normas e rotinas escritas
sobre o manejo da dor do recém-nascido.
Preencheram os critérios de inclusão do estudo 300 prontuários, dos
quais 272 (90,7%) foram oriundos dos serviços públicos e 28 (9,3%) dos serviços
privados. Nos 300 prontuários analisados, encontrou-se a utilização de escalas para
avaliação da dor no recém-nascido em apenas 02 pacientes, em um único serviço,
representando 0,7%. A distribuição de freqüência entre os sexos foi semelhante. A
maior parte das crianças teve peso ao nascer abaixo de 2.500gramas e, com relação à
idade gestacional, 82,9% destes pacientes foram prematuros. A ocorrência de Apgar do
primeiro minuto inferior a sete foi observada em pouco mais da metade dos pacientes e,
no quinto minuto, em 20,2%. Cerca de 1/3 das crianças selecionadas para o estudo
faleceram, tendo mais da metade dos óbitos ocorrido nos primeiros sete dias de vida.
Dentre os diagnósticos registrados nos prontuários analisados, observou-
se, com maior freqüência, a sepse em 73,7% dos pacientes, seguido pela síndrome do
desconforto respiratório em 63,3%. As cardiopatias congênitas (21,5%), malformações
(13,3%) e patologias cirúrgicas (12%) foram alguns dos diagnósticos mais
freqüentemente encontrados.
A distribuição de freqüência da utilização de analgesia sistêmica nas
unidades estudadas, por situação dolorosa, é apresentada na tabela 1. Observou-se, nesta
análise, uma escassa utilização de analgesia sistêmica para todos os procedimentos
verificados, tendo sido administrada alguma dose de analgesia em apenas metade dos
pacientes submetidos à drenagem torácica, menos de 50% dos pacientes em período
pós-operatório e cerca de 15% dos bebês submetidos à ventilação mecânica invasiva.
Aymar, Carmen Lúcia Guimarães de Mane jo da dor e uso de ana lges ia s i s têmica em neonato log ia . Artigo Original
53
*considerada a utilização de opióide, isoladamente ou associado a diazepínico.
A utilização de medicações, avaliada de acordo com a classe da droga,
está descrita na tabela 2. Foi utilizado analgésico, isoladamente ou associado a
sedativos, em pouco mais de 15% dos pacientes. Além disso, constatou-se a utilização
do citrato de fentanila, quando utilizada analgesia sistêmica. Já em relação ao uso de
diazepínico, o midazolan foi a droga utilizada em todas as ocasiões.
*Ignorado = 2 pacientes.
A utilização de analgésicos opióides, segundo a categoria de serviço, e as
características da população do estudo estão descritos na tabela 3. Não foi observada
Situação dolorosa
N
Uso de analgésico* sim não n % n %
Drenagem torácica 16 8 50,0 8 50,0 Pós-operatório 33 14 42,4 19 57,6 Enterocolite necrosante
17 2 11,8 15 88,2
Ventilação mecânica 231 34 14,7 197 85,3 Intubação traqueal 249 9 3,6 240 96,4
Tabela 1. Freqüência da utilização de analgesia sistêmica nos serviços estudados por situação dolorosa, Recife, 2006.
Tabela 2. Utilização de medicação sistêmica por classe de droga, Recife, 2006.
Tipo de droga utilizada N=298*
sim não n % n %
Opióide 41 13,8 257 86,2 Diazepínico 13 4,4 285 95,6 Opióide + diazepínico 5 1,7 293 98,3
Aymar, Carmen Lúcia Guimarães de Mane jo da dor e uso de ana lges ia s i s têmica em neonato log ia . Artigo Original
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diferença entre os serviços públicos e privados, com relação ao uso de opióides. A
administração de analgesia sistêmica foi menos freqüente entre as crianças de menor
peso ao nascer (p=0,002). Foi também observado o dobro da freqüência do uso de
opióides para os recém-nascidos a termo quando comparados com os prematuros,
contudo a diferença entre os grupos não foi estatisticamente significante. Não houve
diferença no uso de analgesia entre as crianças com relação ao Apgar do primeiro e
quinto minutos. Entre as crianças que faleceram, o uso de analgésicos foi maior
naquelas as quais tiveram tempo de sobrevida ≥28 dias (p=0,033).
Aymar, Carmen Lúcia Guimarães de Mane jo da dor e uso de ana lges ia s i s têmica em neonato log ia . Artigo Original
55
*Ignorado = 2 pacientes. †Em 6 pacientes o sexo não foi registrado, e 1 tinha o sexo indeterminado. ‡4 pacientes não foram pesados. § 14 pacientes não tiveram a sua idade gestacional avaliada. ║Não foi anotado o Apgar 1’em 9 pacientes e ¶o Apgar 5’em 8 pacientes respectivamente.** Não havia registro do óbito nem o ††tempo de sobrevida em 8 pacientes.‡‡Teste de Fisher.
Variáveis
N=300
N
%
Uso de analgésico sim não n=41 % n=259 %
p
Tipo de serviço*
Público 270 90,6 36 13,3 234 86,7 0,709‡‡
Privado 28 9,4 5 17,9 23 82,1
Sexo†
Masculino 153 52,2 23 15,0 130 85,0 0,462
Feminino 140 47,8 16 11,4 124 88,6
Peso
(em gramas)‡
<1.500 149 50,3 10 6,7 139 93,3
1.500-2499 103 34,8 21 20,4 82 79,6 0,002
≥2.500 44 14,9 10 22,7 34 77,3
Idade gestacional
(em semanas)§
<37 237 82,9 27 11,4 210 88,6 0,065 ≥37 49 17,1 11 22,4 38 77,6
Apgar 1’ ║
<7 154 52,9 17 11,0 137 89,0 0,156 ≥7 137 47,1 24 17,5 113 82,5
Apgar 5’ ¶ <7 59 20,2 6 10,2 53 89,8 0,454 ≥7 233 79,8 35 15,0 198 85,0
Óbito** Sim 105 35,9 14 13,3 91 86,7 0,967 Não 187 64,1 26 13,9 161 86,1
Tempo de sobrevida (em dias)††
<7 59 56,2 6 10,2 53 89,8 7-27 27 25,7 2 7,4 25 92,6 0,033‡‡ ≥28 19 18,1 6 31,6 13 68,4
Tabela 3. Caracterização da população estudada nas unidades de terapia intensiva neonatal segundo a utilização de analgésicos sistêmicos, Recife, 2006.
Aymar, Carmen Lúcia Guimarães de Mane jo da dor e uso de ana lges ia s i s têmica em neonato log ia . Artigo Original
56
3.4 Discussão e Conclusões
O desenvolvimento desta pesquisa permitiu que fosse realizada uma
avaliação de serviços, do tipo avaliação normativa de apreciação do processo. Assim,
foi possível verificar como o sistema realmente funciona. Nesse caso, foi realizada uma
Avaliação da Prática Médica7, uma vez que foram comparados os procedimentos
empregados com os estabelecidos como normas pelos especialistas da área8.
O presente estudo exploratório avaliou a prática médica em relação à dor
do neonato em todas as unidades públicas de terapia intensiva neonatal do estado e em
duas das cinco unidades privadas, da cidade do Recife. Dessa forma, a pesquisa
envolveu 68,9% dos leitos de terapia intensiva neonatal de unidades internas do Estado.
Esse fato demonstra a abrangência do estudo. Vale ressaltar que todos os serviços da
região metropolitana têm suas equipes médicas compostas, basicamente, pelos
profissionais os quais atuam nos serviços estudados.
Durante a realização deste estudo, encontrou-se um pouco de dificuldade
na coleta das informações dos prontuários, devido ao registro insuficiente de
informações, em alguns casos, e às dificuldades nos fluxos do arquivamento dos
prontuários em alguns serviços.
Para evitar o efeito Hawthorne9, ou seja, a possibilidade de que o
conhecimento sobre a realização da pesquisa influencie a prática adotada nos serviços,
foi escolhida, como critério de inclusão, a data de alta da unidade de terapia intensiva
ter ocorrido seis meses antes do início da coleta de dados.
Ao verificar a existência e o cumprimento de normas e rotinas sobre
analgesia em neonatologia nos serviços estudados, encontraram-se normas e rotinas
escritas em apenas duas das sete unidades, a despeito do fato de quatro dessas
possuírem programa de residência médica para formação de pediatras e neonatologistas
credenciados pelo Ministério da Educação. Esse resultado não difere do encontrado em
um estudo realizado na Austrália onde foi observado que apenas 15% das unidades de
Aymar, Carmen Lúcia Guimarães de Mane jo da dor e uso de ana lges ia s i s têmica em neonato log ia . Artigo Original
57
terapia intensiva neonatal tinham uma rotina específica para o manejo da dor durante
procedimentos e somente 6% usavam uma ou mais escalas de avaliação da dor de forma
regular10. Tais achados evidenciam ser imprescindível a existência e a implementação
de normas e rotinas nos serviços, assim como o treinamento dos profissionais no uso
das técnicas preconizadas, pois, como está referido na literatura, a existência de
publicações científicas a respeito do tema demora a ocasionar mudanças nas práticas
clínicas10-13.
A condição primordial para instituição de uma conduta adequada é a
correta avaliação da situação na qual se pretende intervir. O presente estudo verificou a
rara utilização de métodos validados para avaliação da dor nos pacientes, resultado
semelhante ao relatado por outros autores2-5. Um estudo retrospectivo realizado em São
Paulo por Castro4 e colaboradores, tendo como objetivo identificar os fatores que
levaram os médicos a prescreverem opióides a recém-nascidos em ventilação mecânica,
constatou que em nenhum dos 97 prontuários de pacientes que receberam analgesia foi
utilizado escala para avaliação da dor e que, em 63% desses, não havia relato do motivo
para analgesia, concluindo que os profissionais não levavam em conta a dor
propriamente dita nem a avaliavam para decidirem sobre a prescrição do analgésico.
Foi evidenciada também, nesta pesquisa, uma escassa utilização de
analgesia sistêmica para todos os procedimentos analisados. Dentre os pacientes
submetidos à drenagem torácica e a algum procedimento cirúrgico, metade recebeu
analgesia para inserção do dreno torácico e proporção ainda menor teve a sua dor
aliviada no período pós-operatório. Observou-se ainda que menos de 15% dos bebês em
ventilação mecânica invasiva receberam analgesia sistêmica. Outros estudos
demonstram essa escassa utilização de analgesia sistêmica nessas situações como, por
exemplo, o de Henning e colaboradores6, que observaram o relato de utilização de
fármacos durante a realização de procedimentos sabidamente dolorosos (como
drenagem torácica e pós-operatório) por apenas 17% dos profissionais entrevistados, e o
de Chermont e colaboradores3, em estudo realizado em Belém-PA, no qual menos da
metade dos profissionais entrevistados referiu aplicar medidas para o alívio da dor no
pós-operatório, e 30 a 40% informou aliviar a dor nos pacientes submetidos à ventilação
mecânica.
Aymar, Carmen Lúcia Guimarães de Mane jo da dor e uso de ana lges ia s i s têmica em neonato log ia . Artigo Original
58
Os achados da presente pesquisa são, por conseguinte, preocupantes,
pois não há dúvidas em relação à presença de dor nesses procedimentos, e várias
normas e orientações sobre o manejo da dor em neonatologia estão disponíveis
atualmente14-18. Portanto, não se encontra justificativa, por exemplo, para que metade
dos pacientes submetidos à drenagem torácica não tenham recebido analgesia adequada.
Vale ressaltar o estudo realizado por Prestes e colaboradores em 2005, onde todos os
pacientes internados em unidades de terapia intensiva neonatal de hospitais
universitários em São Paulo receberam analgesia específica para a inserção do dreno
torácico, no período do estudo19.
A enterocolite necrosante é uma entidade reconhecidamente capaz de
produzir dor contínua e prolongada, porém esse estudo evidenciou que cerca de 90%
dos bebês não receberam analgésicos durante a fase aguda da doença. No entanto, essa
observação não difere da situação relatada por Prestes e colaboradores que
evidenciaram a utilização de analgesia em apenas 20% dos pacientes nessa situação19.
A intubação oro-traqueal é um procedimento comum nas unidades de
terapia intensiva neonatal e, muitas vezes, é realizada de forma eletiva, seguida de
extubação como, por exemplo, para administração de surfactante. Nesses casos,
geralmente o paciente está ativo e a intubação traumática ou sedação/analgesia
prolongada não são desejáveis. Destaca-se que a anestesia prévia ao procedimento pode
ser segura, diminuir o estresse e a dor além de prevenir os efeitos associados à intubação
oro-traqueal com o paciente acordado. Todavia, ainda não existem drogas ou
combinações de drogas ideais para a intubação do neonato, e pesquisas vêem sendo
realizadas nesse sentido20-24. O presente estudo evidenciou também uma baixa
freqüência de intubação oro-traqueal precedida por uso de medicação. Essa verificação
foi concordante com a de Prestes e colaboradores, ao constatarem que, nos serviços
estudados, apenas 8% dos pacientes haviam recebido analgesia específica para inserção
de cânula traqueal19. Vale ressaltar que, mesmo nos dois serviços que dispõem de
normas e rotinas específicas para o manejo da dor, a intubação precedida por analgesia
e/ou sedação não é preconizada, podendo assim justificar esse resultado14,15.
Com relação ao tipo de droga utilizada, constatou-se que em cerca de ¼
dos pacientes que receberam alguma medicação nas situações analisadas, foi
Aymar, Carmen Lúcia Guimarães de Mane jo da dor e uso de ana lges ia s i s têmica em neonato log ia . Artigo Original
59
administrado sedativo isoladamente. Esse resultado pode traduzir indiretamente o
desconhecimento dos profissionais sobre as indicações e a farmacologia da droga
prescrita, uma vez que os sedativos não têm ação analgésica, são fármacos os quais
diminuem a atividade e a agitação do paciente, além de poderem apresentar efeitos
adversos como depressão respiratória, hipotensão e dependência física. Essa situação é
corroborada pelos resultados descritos em 2003 por Chermont e colaboradores3, ao
relatarem que cerca de 30% dos intensivistas e 46% dos pediatras atuantes em terapia
intensiva em Belém/PA diziam preferir o diazepínico para o alívio da dor.
Não foi observado, portanto, diferença na indicação e ou utilização de
analgesia sistêmica entre os serviços estudados, seja público ou privado, provavelmente
devido à maioria dos profissionais trabalharem em duas ou mais das unidades que
fizeram parte do estudo, ou seja, as equipes dos serviços públicos e privados da cidade
do Recife são formadas pelos mesmos profissionais. Esse resultado mostra, dessa forma,
que não há diferença na prática médica adotada de acordo com o local de atuação.
Sendo assim, a chance de um recém-nascido internado em um serviço público ter ou
não a sua dor avaliada e aliviada adequadamente é a mesma daquele que estava
internado em um serviço privado.
Assim, conforme referido na literatura4, no presente estudo foi
constatada uma menor utilização de analgesia sistêmica para os recém-nascidos
prematuros e de menor peso. Contudo, embora, quanto à idade gestacional não tenha
sido encontrado significância estatística, devido ao baixo uso de analgésicos em todas as
situações e ao pequeno número de pacientes incluídos no estudo, não se pode deixar de
considerar que a freqüência da administração de opióides para neonatos a termo foi o
dobro daquela encontrada para os prematuros.
Vale ressaltar que, entre as crianças que faleceram, o uso de analgésicos
foi maior naquelas que tiveram maior tempo de sobrevida. Esse achado, possivelmente,
pode ser justificado pelo fato de que, nesses pacientes, a ocorrência de situações e a
realização de procedimentos dolorosos podem ter sido mais freqüentes.
São muito preocupantes os resultados deste estudo, pois confirmam a
“impressão” que motivou a realização da pesquisa. A prática médica no manejo da dor
Aymar, Carmen Lúcia Guimarães de Mane jo da dor e uso de ana lges ia s i s têmica em neonato log ia . Artigo Original
60
do recém-nascido na cidade do Recife ainda deixa a desejar em todos os aspectos: desde
a organização dos serviços no sentido da implantação de normas e rotinas até a atuação
individual dos profissionais de saúde. Dessa forma, mostra-se urgente a necessidade de
uma intervenção com o objetivo de sensibilizar os profissionais envolvidos nos
cuidados aos bebês de risco, implantação e cumprimento de normas e rotinas nos
diversos serviços da cidade, além da implantação da educação continuada sobre o tema,
para que ocorram as mudanças efetivas e definitivas na prática diária com a conseqüente
melhora e humanização da assistência neonatal.
3.5 Referências
1. IASP-Pain.org [site na internet] Washington, USA: International Association for the Study of Pain. http://www.iasp-pain.org/. acesso: 9/9/2006.
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3. Chermont AG, Guinsburg R, Balda RC, Kopelman BI. O que os pediatras
conhecem sobre avaliação e tratamento da dor no recém-nascido? J Pediatr (Rio J). 2003; 79(3):265-72.
4. Castro MC, Guinsburg R, Almeida MF, Peres CA, Yanaguibashi G, Kopelman
BI. Perfil da indicação de analgésicos opióides em recém-nascidos em ventilação mecânica. J Pediatr (Rio J). 2003; 79(1):41-8.
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saúde de um hospital universitário. Rev Paul Enf. 2002; 21(3):234-9. 6. Henning MAS, Gomes MASM, Gianini NOM. Conhecimentos e prática dos
profissionais de saúde sobre a "atenção humanizada ao recém-nascido de baixo peso-método canguru". Rev Bras Saúde Matern Infant. 2006; 6(4):427-35.
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8. Reis EJFB, Santos BFP, Campos FE, Acúrcio FA, Leite MTT, Leite MLC, et al
Avaliação da Qualidade dos Serviços de Saúde: Notas Bibliográficas. Cad Saúde Pública.1990; 6(1):50-60.
9. Pereira MG. Aferição dos eventos. In: Pereira MG. Epidemiologia Teoria e
prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1995.p.358-76. 10. Harrison D, Loughnan P, Johnston L. Pain assesment and procedural pain
management practices in neonatal units in Australia. J Paediatr Child Health. 2006; 42:6-9.
11. Gray PH, Trotter JA, Langbridge P, Doherty CV. Pain relief for neonates in
Australian hospitals: A need to improve evidence-based practice. J Paediatr Child Health. 2006; 42:10-3.
12. Heaton P, Herd D, Fernando A. Pain relief for simple procedures in New Zeland
neonatal units: Practice change over six years. J Paediatr Child Health. 2007; 43: 394-7.
13. Martin J, Franck M, Fischer M, Spies C. Sedation and analgesia in German
intensive care units: how is it done in reality? Results of a patient-based survey of analgesia and sedation. Intensive Care Med. 2006; 32:1137-42.
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15. Veras ACR, Regueira MJS. Dor no Recém-nascido. In: Silva AS. Manual de
Neonatologia. Rio de Janeiro: MEDSI; 2002. p.23-32. 16. AMERICAN ACADEMY OF PEDIATRICS-Committee on Fetus and
newborn/Committee on drugs/Section on Anesthesiology/Section on Surgery and CANADIAN PAEDIATRIC SOCIETY-Fetus and Newborn Committee. Prevention and management of Pain and Stress in the Neonate. Pediatrics. 2000; 105(2):454-61.
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Consensus Statement for the Prevention and Management of Pain in newborn. Arch Pediatr Adolesc Med. 2001; 155:173-80.
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Management of Procedure-related Pain in Neonates. J Paediatr Child Health. 2006; 42:S31-9.
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22. Hassid S, Nicaise C, Michel F, Vialet R, Thomachot L, Lagier P. Randomized
controlled trial of sevoflurane for intubation in neonates. Paediatr Anaesth. 2007; 17:1053-8.
23. Duncan HP, Zurick NJ, Wolf AR. Should we reconsider awake neonatal
intubation? A review of the evidence and treatment strategies. Paediatr Anaesth. 2001; 11:135-45.
24. Silva YP, Gomez RS, Oliveira JM, Máximo TA, Barbosa RF, Silva ACS.
Morphine versus remifentanil for intubating preterm neonates. Arch Dis Child Fetal Neonatal. 2007; 92(4):F293-4.
4 – Considerações Finais
Aymar, Carmen Lúcia Guimarães de Manejo da dor e uso da ana lges ia s i s t êmica em n eonat o log ia Considerações Finais
64
Os resultados encontrados no presente estudo estão muito aquém das
recomendações para o manejo da dor no período neonatal, tornando-se necessária uma
intervenção urgente para reverter a situação observada. Inicialmente, acredita-se ser
imprescindível a apresentação desses resultados aos gestores e profissionais envolvidos
na assistência ao neonato de risco dos serviços avaliados, com a finalidade de
sensibilizá-los para, a partir de então, ser traçada uma estratégia de
implantação/implementação de normas e rotinas para o manejo da dor.
Com a finalidade de ampliar o conhecimento sobre o tema, sugere-se que
sejam incluídos nos currículos da graduação, residência, especialização e pós-graduação
dos diversos cursos da área de saúde, módulos de avaliação e tratamento da dor no
período neonatal.
Acredita-se, assim, que esta intervenção deva ser imediata e com
monitorização contínua, sob a forma de educação continuada, visando a uma mudança
efetiva nas práticas atuais.
4 – Considerações Finais
5 – Apêndice
Aymar, Carmen Lúcia Guimarães de Manejo da dor e uso de ana lges ia s i s t êmica em n eonat o log ia . Apêndice
66
5 – Apêndice
Apêndice A Formulário de pesquisa
Aymar, Carmen Lúcia Guimarães de Ut i l i zação d e Ana lgés icos S i s têmicos em Un idades de Terap ia. . . Apêndice A
FORMULÁRIO DE PESQUISA PRÁTICA DO MANEJO DA DOR EM UTI-NEO
(AVRN) 1) Serviço: _______________________________ 2) Nº. do prontuário__________ 3) Data de nasc.: ___/___/___ 4) Data da admissão na UTI-NEO: ___/___/___ 5) Sexo: masc (1) fem (2) indeterminado (3) ignorado(9) 6) Idade gestacional: __________ (em semanas) ignorado (9) 7) Peso ao nascer: ___________ (em gramas) ignorado (9) 8) Apgar 1º min: _____ ignorado (9) 9) Apgar 5º min: _____ ignorado (9) 10) Data da alta da UTI-NEO: ___/___/____ ignorado (9) 11) Tempo de permanência na UTI-NEO:_____(em dias) ignorado (9) 12) Óbito: sim (1) não (2) ignorado (9) 13) Data do óbito: ____/____/_____ não se aplica(8) ignorado(9) 14) Tempo de sobrevida: ________(em dias) não se aplica(8) ignorado (9)
SERV
PRONT
NASC:
ADMIS
SEXO
IDGEST
PESONAS
APG1
APG5
ALTA:
TEMPO
OBITO
DTOB:
SOBREV:
Aymar, Carmen Lúcia Guimarães de Ut i l i zação d e Ana lgés icos S i s têmicos em Un idades de Terap ia. . . Apêndice A
• Diagnósticos registrados: 15) Prematuridade: sim (1) não (2) 16) SDR: sim (1) não (2) 17) TTRN: sim (1) não (2) 18) SAM: sim (1) não (2) 19) SAR: sim (1) não (2) 20) Pneumonia: sim (1) não (2) 21) Pneumotórax: sim (1) não (2) 22) Sepsis: sim (1) não (2) 23) Cardiopatia: sim (1) não (2) 24) Hipóxia: sim (1) não (2) 25) ECN: sim (1) não (2) 26) Malf. Cong.: sim (1) não (2) 27) Patol. Cirurg: sim (1) não (2) 28) Outras: sim (1) não (2) Qual?_____________________
PREMAT
SDR
TTRN
SAM
SAR
PNEUM
PNEUT
SEPSE
CARD
HIPOX
ECN
MALF
PATCIR
OUTROHD
Aymar, Carmen Lúcia Guimarães de Ut i l i zação d e Ana lgés icos S i s têmicos em Un idades de Terap ia. . . Apêndice A
• Situações: 29) IOT: sim (1) não (2) ignorado (9) Nº. de vezes:_______________ Analgesia sistêmica: sim (1) não (2) não se aplica(8) ignorado (9) 30) VMA: sim (1) não (2) ignorado (9) Tempo:______________ Analgesia sistêmica: sim (1) não (2) não se aplica(8) ignorado (9) 31)VNI: sim (1) não (2) ignorado (9) Tempo:______________ Analgesia sistêmica: sim (1) não (2) não se aplica(8) ignorado (9) 32) Dren. Tórax: sim (1) não (2) ignorado (9) Analgesia sistêmica: sim (1) não (2) não se aplica(8) ignorado (9) 33) ECN: sim (1) não (2) ignorado (9) Analgesia sistêmica: sim (1) não (2) não se aplica(8) ignorado (9) 34) Pós-operatório: sim (1) não (2) ignorado (9) Analgesia sistêmica: sim (1) não (2) não se aplica(8) ignorado (9) 35) Outras: sim (1) não (2) ignorado (9) Qual ? ____________________________ Analgesia sistêmica: sim (1) não (2) não se aplica(8) ignorado (9)
IOT
ANIOT
VMA
ANVMA
VNI
ANVNI
DRENT
ANDRET
ECNS
ANECN
POSOP
ANPOP
OUTRASIT
ANAOUT
Aymar, Carmen Lúcia Guimarães de Ut i l i zação d e Ana lgés icos S i s têmicos em Un idades de Terap ia. . . Apêndice A
36) Utilização de alguma escala para avaliação da dor? sim (1) não (2) ignorado (9) • Escala utilizada: 37) NFCS: sim (1) não (2) não se aplica(8) 38) NIPS: sim (1) não (2) não se aplica(8) 39) PIPP: sim (1) não (2) não se aplica(8) 40) Outras: sim (1) não (2) não se aplica(8) • Droga utilizada: 41) OPIÓIDE: sim (1) não (2) não se aplica(8) ignorado (9) 42) DIAZEPÍNICO: sim (1) não (2) não se aplica(8) ignorado (9) 43) OPIÓIDE + DIAZEPÍNICO: sim (1) não (2) não se aplica(8) ignorado (9)
ESCALA
NFCS
NIPS
PIPP
OUTRAESC
OPIO
DIAZ
OPDIAZ
6 – Anexos
Aymar, Carmen Lúcia Guimarães de Manejo da dor e uso de ana lges ia s i s t êmica em n eonat o log ia . Anexos
72 72
6 – Anexos
ANEXO A Parecer de aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo
Seres Humanos do Hospital Agamenon Magalhães.
ANEXO B Folha de rosto do projeto de pesquisa.