27
  Marx e o Marxismo 2013: Marx hoje, 1 30 anos depois Universidade Federal Fluminense  Niterói  RJ  de 30/09/2013 a 04/10/2013 Em Bonn:

Carolus Marx

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Juventude de Marx

Citation preview

  • Marx e o Marxismo 2013: Marx hoje, 130 anos depois

    Universidade Federal Fluminense Niteri RJ de 30/09/2013 a 04/10/2013

    Em Bonn:

  • 2

    2

    Universidade de Bonn.

    No outono de 1835, Bonn era uma cidade que tinha pouco mais de 13.000 habitantes1.

    Sua vida girava em torno da imensa universidade Friedrich-Wilhelms, re-inaugurada em

    1 HORLDT, Dietrich - Bonn im Vormrz und in der Revolution 1814-1849. In D. Horldt (org.)

    Geschichte der Stadt Bonn. Von einer franzsischer Bezirksstadt zur Bundeshauptstadt 1794 bis 1989.

    Vol. 4. Pg. 94 sq

  • 3

    3

    18 de outubro de 1818, localizada s margens do Reno2. A paisagem idlica do outono

    logo, logo se transformaria em um rigoroso inverno. Antigo assentamento germnico do

    sculo I a.C., a cidade de Bonn seria modificada com a chegada dos romanos no sculo

    I e pouco depois ganharia uma srie de fortificaes cujo objetivo era tanto o de

    proteo contra os grupos mais ao norte, quanto o de base para futuras incurses em

    reas no conquistadas3. Ainda que esta experincia militar tivesse marcado a histria

    do local inicialmente, a cidade no deixou de atrair, em sua parte sul, profissionais das

    mais distintas artes, criando ali um centro comercial de renome4. Entre os sculos VII e

    XII, a cidade foi dominada pela cena religiosa: vrias igrejas, cemitrios e abrigos de

    ordens religiosas foram edificados dentro da cidade e em suas cercanias5. No sculo

    XIII, a cidade granjeou atrao suficiente para que prncipe eleitor fixasse ali sua

    residncia preferencial, tornando-se esta oficial a partir de 1597 at o fim do sculo

    XVIII6, quando, em 1794, com a ocupao francesa, foi fechada a antiga residncia

    barroca do prncipe, onde j funcionava uma universidade7. Apenas com o avano das

    tropas do rei Frederico Guilherme III em 1815 que o prdio passou novamente para as

    mos prussianas, sofrendo grandes alteraes arquitetnicas8. Em 1818, a universidade

    foi reaberta e contava em seus dois primeiros decnios com cerca de 43 professores,

    divididos entre as reas de medicina, teologia, filosofia e direito9. Segundo uma lista de

    matrcula datada do dia 17 de outubro de 1835, o jovem Carl Marx teria comeado seus

    estudos em Jurisprudncia10

    . A carta de seus pais, um dos poucos documentos deste ano

    que possumos, alm dos registros universitrios, indica que Marx havia se matriculado

    2 O crescimento da cidade foi significativamente maior a partir de 1818, com a reinaugurao da

    universidade. Cf. GRUBER, BIRGITTA Stadterweiterung im Rheinland. Kommune, Brger und Staat als Akteure im Entstehungsprozess der Bonner Sdstadt 1855 bis 1890. Tese de Doutorado apresentada

    em Bonn para a obteno do grau de doutor. Bonn. 2001. Pg. 114. 3 BECKER, THOMAS P. Geschichte der Rheinischen Friedrich-Wilhelms-Universitt. Disponvel

    em:http://www3.unibonn.de/einrichtungen/universitaetsverwaltung/organisationsplan/archiv/universitaets

    geschichte/unigeschichte. Acessado em Julho de 2013. 4 Ibidem.

    5 GIERSIEPEN, HELGA -mar Inschriften im Kontext der Stadtgeschichte Bonn. In H. Giersiepen

    (org.), disponvel em: http://www.inschriften.net/bonn/einleitung/2-inschriften-im-kontext-der-

    stadtgeschichte.html; acessado em: julho de 2013. 6 Gruber, op. cit. pg. 107.

    7 Ibidem, pg.108.

    8 BECKER, op. cit. Passim.

    9 Ibidem

    10 BODSCH, INGRID Karl Marx und Bonn 1835\1836 e 1841\1842 In: I. Bodsch (org.). Dr. Karl

    Marx. Vom Studium zum Promotion Bonn, Berlin, Jena. Begleitbuch zur gleichnamigen Ausstellung des StadtMuseum Bonn in Kooperation mit dem Archiv der Friedrich-Schiller-Universitt Jena. Bonn: ed.

    StadtMuseum Bonn. 2012. Pp. 9-27; Cf. Tambm BODSCH, INGRID Karl Marx als Student in Berlin, 1836 bis 1841 In: I. Bodsch (org.). Dr. Karl Marx. Vom Studium zum Promotion Bonn, Berlin, Jena. Begleitbuch zur gleichnamigen Ausstellung des StadtMuseum Bonn in Kooperation mit dem

    Archiv der Friedrich-Schiller-Universitt Jena. Bonn: ed. StadtMuseum Bonn. 2012. Pp. 32-35.

  • 4

    4

    em 9 disciplinas (na verdade Vorlesungen), 4 privadas e 5 pblicas, todas pagas, sendo

    que trs delas, ele no comparecera, de modo que ficara sem a avaliao11

    . Assim,

    sabemos que no primeiro semestre Marx frequentou apenas seis disciplinas, dentre as

    quais estavam disciplinas do curso de direito com o catlico Eduard Pugg (1802-

    1836), outra com Eduard Bcking (1802-1870) e a terceira com Ferdinand Walter

    (1794-1879)12

    . As outras trs assistidas estavam ligadas faculdade de Filosofia: a

    primeira os mitos dos gregos ministrada por Friedrich Gottlieb Welcker (1784-

    1868), a segunda por Eduard dAlton (1772-1840) sobre Moderna Histria da Arte e a

    terceira com August Wilhelm von Schlegel, com o ttulo de algumas questes

    homricas13. No semestre de vero de 1836, ele frequentou outras 4 disciplinas, sendo

    3 em direito e uma novamente com o professor Schlegel14

    . As cartas enviadas por seus

    pais em Trier nos do a conhecer detalhes deste perodo: elas revelam a preocupao de

    ambos com a sade do filho, aconselhando-o a resguardar-se espiritual- e

    corporalmente15

    . Alm disso, seu pai descreve suas inquietaes com a vida acadmica

    do filho, suas escolhas profissionais e confessa que o poema enviado por Marx na carta

    anterior lhe ininteligvel16

    .

    Wunsch

    Knntich die Seele sterbend tauchen

    In der Vernichtung Ocean,

    Mit einem Hauch das Herz verhauchen

    Verhauchen seinen Schmerz und Wahn!

    Die Winde ziehn, der Sturm verhallet

    Im Herzen brennts nur ewig fort,

    Ein finster Dmon da erschallet,

    Wie Hohn und wie der Reue Wort....

    Desejo

    Poderia eu as almas submergir

    Em um Oceano de aniquilamento

    Com um sopro de corao espargir

    Exalando sua Dor e vo Sentimento

    Os Ventos param, a Tempestade no ecoa

    No corao algo queima a todo momento

    Um Demnio crepuscular a ressoa

    Como Sarcasmo e como palavra

    Arrependimento...

    11

    Heinrich Marx und Henriette Marx an Karl Marx in Bonn Trier, 18.-29. November 1835.. In: Institut fr Marxismus-Leninismus beim Zentralkomitee der Kommunistischen Partei der Sowjetunion & Institut

    fr Marxismus-Leninismus bem Zentralkomitee der Sozialistischen Einheitspartei Deutschlands (org.) Vol. III, 1 - Karl Marx & Friedrich Engels Briefwechsel bis April 1846. Text. Karl Marx Friedrich Engels

    Gesamtausgabe (MEGA). Berlim: Dietz, 1975. Pp. 290-292 12

    BODSCH, op. cit. Pp. 14-16. 13

    Ibidem, pg. 10; 14. 14

    Ibidem, pg. 14 15

    MEGA I, I, 290-292. 16

    Os editores de MEGA apontam como desta poca o poema Wunsch. I, I, 718. No entanto, h um outro poema de sua autoria com este nome. Cf. 552.

  • 5

    5

    Mas a sua me, Henriette, que traz o detalhe mais revelador: curiosa por saber como o

    filho organizava a casa onde se hospedara em Bonn, recomendando-lhe assepsia e

    ordem, pois delas dependiam sua sade, sua me menciona em tom jocoso o papel que a

    Cincia Econmica pode lhe prestar mesmo que aplicada a um ambiente domstico,

    pois mesmo a ela lhe uma necessidade indispensvel17

    .

    Alm das disciplinas mencionadas, Marx teria acorrido a disciplinas ligadas s reas de

    Mineralogia e Zoologia, embora o registro demonstre que, de fato, no as assistia18

    . A

    vida em Bonn parecia prosseguir sossegada como o Rio Reno que corre ao lado da

    universidade, at que em 16 de junho de 1836, um registro policial declara que por

    causa de algazarras noturnas do dia anterior, Carl ficara retido no crcere da

    Universidade19

    . A se deduzir de um documento emitido no fim de seu perodo em Bonn,

    que o declarava inclinado ao alcoolismo e mencionava uma repreenso feita em Colnia

    por posse ilegal de arma, podemos supor que o seu pernoite na priso poderia ter sido

    provocado pelo consumo excessivo de bebida ou pelos frequentes duelos em que os

    estudantes da cidade se envolviam, ou mesmo por ambos20

    . Ademais podemos perceber

    nas cartas a preocupao de seus pais referentes s dvidas contradas pelo filho, em

    especial no diz respeito ao aluguel de imveis e o conselho para transferir-se a Berlim21

    .

    17

    MEGA III, I. 292. 18

    O volume 26 da coleo MEGA dedicado aos escritos de Marx sobre Geologia, Mineralogia e

    Qumica aplicada Agricultura. Cf. Exzerpte und Notizen zur Geologie, Mineralogie und

    Agrikulturchemie, Mrz bis September 1878, 2011. 19

    Cf. Documento em anexo. 20

    THOMANN, BJRN BORIS - Die Burschenschaften in Jena, Bonn und Breslau und ihre Rolle in der

    Revolution 1848\49. Tese de Doutorado. Trier: Universitt Trier, 2004. 21

    Heinrich Marx an Karl Marx in Bonn Trier, 1. Juli 1836. MEGA I, I, 299.

  • 6

    6

    Litogravura de David Levy Elkan (1806-1865) da chamada Sociedade da Tvola de Trier. 1836.

    Marx seria o 6. da direita para a esquerda.

    Eu no apenas concedo ao meu filho Carl Marx a permisso, mas tambm meu

    desejo que ele, no prximo semestre, se transfira para a Universidade de Berlim, para

    dar continuidade aos mesmos estudos de Direito e Economia e Administrao do

    Estado, iniciados em Bonn

    Trier, primeiro de julho de 1836

    Marx

    Conselheiro Jurdico, Advocado e

    Procurador

    [Eu te peo, querido Karl, escreva-me to logo, mas escreva-me com franca liberdade e

    de modo verdadeiro. Acalme a mim e a tua querida boa me, e ns queremos esquecer

    os pequenos gastos.

    Marx

    Ao Senhor Carl Marx, Estudante de

    Direito, nascido

  • 7

    7

    Em Bonn

    franqueada

    Contudo Marx, ao fim de seu doutorado, iria voltar a Bonn, no vero de 1841, para

    tentar um lugar na faculdade de Filosofia de Bonn, e, no seguinte, em 1842 desistira

  • 8

    8

    definitivamente da carreira docente, inscrevendo-se como candidato a uma vaga na

    gazeta renana

    Marx em Berlim.

    Sua ida para Berlim representou uma enorme reviravolta em sua vida. No apenas

    porque trocara uma pequena cidade universitria para frequentar a mais modelar

    instituio de ensino superior de lngua alem de ento, mas porque travou contatos com

    grande intelectuais de seu tempo. A Berlim de 1836 era j uma grande metrpole com

    cerca de 330.000 mil habitantes. Marx matriculara-se em trs disciplinas naquele incio

    de semestre de inverno, sendo duas em direito e uma em antropologia. Para este

    perodo, alm das cartas de seus pais de sua irm, Sophie, e de sua noiva, Jenny, e dos

    registros universitrios, contamos j com cartas escritas pelo prprio Marx, a primeira

    delas com um longo e detalhado plano de assistncia de aulas que inclui basicamente

    matrias relativas cincia do Direito22

    .

    22

    Marx, no entanto, demonstra asco pelo plano de trabalho (die ich selbst verworfen) e chama esta

    diviso de Tricotmica. MEGA III, I, 12.

  • 9

    9

  • 10

    10

    Trecho da Carta ao Pai de Marx, 10\11 de novembro de 1837.

  • 11

    11

    I. II.23

    jus privatum jus publicum

    I. jus privatum

    a. Direito Privado contratualmente condicionado

    b. Direto Privado no condicionado por contrato

    A. Direito Privado contratualmente

    condicionado

    a) Direito Pessoal b) Direito das Coisas c) Direito Pessoal

    em relao s Coisas

    a) Direito Pessoal

    I. decorrente de contrato oneroso

    II. decorrente de contrato de garantia

    III. decorrente de contrato de fidcia

    I. decorrente de contrato oneroso

    2. contrato de sociedade (societas)

    3. contrato de locao (locatio conductio)

    3. locatio conductio

    1. na medida em que se relaciona com operae (servios)

    a) locatio conductio propriamente dita (sem querer dizer

    o contrato de aluguel romano nem o arrendamento romano !)

    b) mandatum (encargo)

    23

  • 12

    12

    2. na medida em que se relaciona com usus rei

    (Direito de uso sobre uma coisa)

    a) sobre o solo : usufructus (usufruto)

    (tambm no em sentido meramente romano)

    b) sobre casas : habitatio (Direito da moradia)

    (de incio sobre a prpria casa, mais tarde sobre a casa de

    outro)

    II. decorrente de contrato de garantia

    1. contrato de arbitragem e de conciliao

    2. contrato de seguro

    III. decorrente de contrato de fidcia

    2. contrato de endosso

    1. fidejussio (fiana)

    2. negotiorum gestio (gesto de negcios sem mandato)

    3. contrato de doao

    1. donatio (doao)

    2. gratiae promissum (promessa de favorecimento)

    b) Direito das Coisas

    I. decorrente de contrato oneroso

    2. permutatio stricte sic dicta (troca em sentido originrio)

    1. permutatio propriamente dita (troca)

  • 13

    13

    2. mutuum (usurae)

    3. emptio venditio (compra e venda)

    II. decorrente de contrato de garantia

    pignus (penhor)

    III. decorrente do contrato de fidcia

    2. commodatum (emprstimo, contrato de emprstimo)

    4. depositum (conservaao de um bem confiado)

    Porm uma das missivas mais interessantes acerca dos interesses intelectuais de Marx

    neste perodo de se colega Bruno Bauer, que, j formado, havia se transferido para

    Bonn em 1939, como docente privado, a ministrar aulas no curso de Teologia

    Protestante. Pelos assuntos comentados, ficamos sabendo que Marx se mantm um

    leitor de Hegel e de sua dialtica, alm de Fichte, Fischer e Feuerbach24

    .

    Doutorado em Jena

    Para este perodo contamos com um corpus epistolar bastante significativo25

    . Alm

    disso, Marx no abandona os estudos de poesia. Em Berlim, em 1839, a situao

    poltica dos hegelianos nas universidades alems se tornou quase insuportvel. Artigos

    annimos publicados em srie no Anurio de Halle deste ano faziam crticas abertas ao

    declnio espiritual pelo qual passavam as universidades alems26. Segundo estes

    artigos, a presena da esquerda hegeliana era comparada filistinizao da cultura

    alem27

    . Entre as universidades nominalmente citadas estava Jena, cujo conselho reagiu

    prontamente, rejeitando qualquer intromisso em seus quadros de hegelianos esquerda

    ou direita. Talvez tenha sido por isso que Marx resolvera, ainda em 1939, transferir o

    24

    MEGA III, I, 335-336. 25

    MEGA III, 1. Pp. 300-368 26

    BAUER, JOACHIM & PESTER, THOMAS - Die Promotion von Karl Marx an der Universitt Jena

    1841. Hintergrnde und Folgen. In: I. Bodsch (org.). Dr. Karl Marx. Vom Studium zum Promotion Bonn, Berlin, Jena. Begleitbuch zur gleichnamigen Ausstellung des StadtMuseum Bonn in Kooperation

    mit dem Archiv der Friedrich-Schiller-Universitt Jena. Bonn: ed. StadtMuseum Bonn. 2012. Pg. 52. 27

    http://www.ub.uni-koeln.de/cdm4/document.php?CISOROOT=/hallische&CISOPTR=2591&REC=1

  • 14

    14

    trmino de seu doutorado para Jena, pois Berlim j no lhe oferecia uma atmosfera

    poltica confortvel28

    . Os anos de 39 a 41 foram marcados por um intenso trabalho em

    sua dissertao em Berlim, cujo ttulo era Diferena na Filosofia da Natureza

    democriteana e epicureana. J em julho de 1840 o trabalho parece estar pronto, pois em

    carta endereada a Bruno Bauer, Marx pede auxlio para a sua publicao29

    . No entanto,

    Marx ter que esperar ainda um ano para que o trabalho seja publicado. Neste nterim, a

    polmica contra os hegelianos volta tona, o que ameaa a outorga do grau de doutor.

    Marx ento resolve pedir a conselho da universidade de Jena a avaliao de sua tese

    doutoral in absentia, isto , sem a sua presena, e em 15 de abril, aps o parecer de

    alguns membros do conselho da faculdade de Filosofia de Jena, Marx recebe o seu ttulo

    de doutor30

    .

    28

    Dicke, 44. 29

    Bauer & Pester, pg. 67 30

    O manuscrito original de sua tese jamais foi encontrado.

  • 15

    15

    Concluso

    Para Marx, o ttulo de Doutor representaria a entrada na universidade de Bonn como

    professor. No entanto, seus planos mudam abruptamente, em parte devido ao avano

    dos conservadores contra a presena de hegelianos em quadros da universidade, em

    parte porque, ao que parece Marx decidira no mais buscar a carreira acadmica,

    seguindo para o jornalismo. As censuras feitas por Bauer a certas frases de Marx em seu

  • 16

    16

    trabalho de doutorado parecem t-lo incomodado profundamente a ponto de faz-lo

    abandonar tudo.

    (Registro da priso de Marx em Bonn. O documento indica o motivo por causa de algazarra noturnas,

    quantos dias de deteno, 01 dia, o ano, o ms e a hora (1836,16 de junho, 10 horas)

  • 17

    17

    Caricatura feita por Engels em 1842 do grupo dos Livres Berlinenses.

    Da esquerda para direita

    Arnold Ruge (futuro diretor da gazeta renana)

    Ludwig Buhl

    Karl Nauwerck

    Bruno Bauer

    Otto Wiegand

    Edgar Bauer

    Max Stirner

    Eduard Meyern

    Dois Desconhecidos

    Friedrich Kppen

  • 18

    18

    Carta de Bruno Bauer a Karl Marx em Berlim. Bonn, 11 de dezembro de 1839.

    Caro Marx,

    O que eu devo escrever ento para te dizer como estou indo que eu j no tenha escrito

    detalhadamente para Edgar e para casa? Devo eu escrever duas vezes?

    Tu me perguntas se eu j encontrei uma ninfa renana. Nem em meus passeios nem na

    sociedade eu encontrei algo semelhante. As jovens damas locais que habitualmente se

    v na sociedade no podem me agradar em nada particularmente. Elas so muito pouco

    femininamente orgulhosas e parecem desejar em demasia casar-se e os estudantes que

    so requisitados cerimoniosamente pelos pais para continuamente assedi-las tm

    exercido grande influncia sobre o mundo feminino local, muito mais do que tivesse

    podido surgir algo com um esprito fino. Eu preciso primeiro tornar-me paulatinamente

    conhecido e chegar at a algumas poucas casas, onde aquela influncia tenha se mantido

    distante, julgando com isso o todo para poder, talvez, me decidir por algum em

    especial.

    Esta passagem\transio tambm vale mesmo que seja para uma senhora e logo ser

    feita. Sobre Fichte, faz algum tempo que eu no o vejo. Como ele est indo com suas

    disciplinas, no tenho a menor ideia, mas sei que, no geral, seu crdito no anda

    especialmente bem e seu renome como filsofo tampouco significativo. Por isso creio

    que neste jogo tu jogars facilmente. Faa tudo para que estejas aqui para lecionar no

    vero. Nada me causou aqui no incio uma impresso mais desagradvel do que a

    Physiognomia de Fichte, [embora] mais tarde tenha me reconciliado com ele de algum

    modo, com seu jeito de burgus atrasado, filisteu, mas tambm infiltrando-se atravs de

    sua arrogncia aguada, como acontece de ser com os velhos na primeira impresso. Mas

    acho que ele ainda no est gag.

    J que eu tenho lido apenas per accidens neste inverno (embora eu tenha ouvintes

    bastante diligentes, entre outros Mller), no tenho ainda formada uma opinio sobre os

    estudantes locais. Apenas no semestre de vero poderei decidir. O que sei at agora

    que minhas classes planejadas para o vero (A Vida de Jesus e a Crtica ao quarto

    evangelho) j provocou entre os professores locais um santo estupor, principalmente a

    Crtica , para eles, escandalosa; tambm ouvi que muitos estudantes se manifestaram

    aqui contra alguns homens, pois que no poderiam, como Hegeliano, assistir s minhas

    aulas [em razo de seu desenvolvimento] espiritual, ou seja, eles desejam (tais homens)

  • 19

    19

    isolar-me a priori, mas eu j, j farei repicar l dentro, fazendo soar assim o badalo

    da crtica, o que j causar certo espanto.

    Para que tu possas partilhar comigo tuas elucubraes lgicas, devo antes te pedir

    esclarecimentos de por que o bom Kppen te acusas de especulaes sofsticas? Ah, o

    bom, o excelente Kppen. Ser que aquela brochura para ser levada srio? Qual

    necessidade teria isto agora! Se eu percebo, aps minha experincia em Berlim, a

    universidade local, em especial a faculdade de teologia, e assim o lastimvel processo

    de promoo ao doutorado em Berlim, parece que isso determina que os prussianos s

    venham sempre, mais a frente, a enfrentar uma Batalha de Jena. Tal batalha precisa,

    apesar do solidu da paz, outra vez entrar em cena logo, mas no precisa ser uma

    campanha como aquela da campanha de Lechtfelde (ganha pelos germanos em 995

    contra os hngaros), pois existem outras campanhas.

    O que tu me disseste a respeito das foras lgicas da Contradio, parece-me que Hegel

    com certeza a desenvolveu, na seo dedicada ao Mtodo, na Essncia elas tm a Forma

    da Reflexo e so como tal desenvolvidas, e no que diz respeito ao Sendo Hegel

    mesmo diz alhures que aqui a Dialtica da Forma e o Movimento da Determinao

    apenas durchwuchert, ou seja, no pode ainda ser realada para a Reflexo, pois s

    lhe mesmo possvel na Essncia

  • 20

    20

    |Karl Marx

    1 - Die Vereinigung der Glubigen mit Christo nach Johanes 15,1-14, in ihrem Grund

    und Wesen, in ihrer unbedingten Notwendigkeit und in ihren Wirkungen dargestellt

    (Comunho dos Crentes com Cristo, segundo Joo 15, 1-14, representada em seu

    fundamento e essncia, em sua necessidade incondicional e em seus efeitos).

    Ehe wir den Grund und das Wesen und die Wirkungen der Vereinigung

    Christi mit den Glubigen betrachten, wollen wir sehn, ob diese Vereinigung

    nothwendig, ob sie durch die Natur des Menschen bedingt ist, ob er nicht durch sich

    selbst den Zweck zu erreichen vermag, fr welchen ihn Gott aus dem Nichts

    hervorgerufen.

    Antes que ns examinemos a causa e a natureza dos efeitos\resultados da

    unio de cristo (associao crist) com seus crentes, desejamos ver, se esta unio

    necessria, se ela condicionada pela Natureza do Homem, se ele no capaz de

    alcanar por si prprio o Fim para qual Deus a partir do Nada o chamou \ causou

    Wenden wir unseren Blick der Geschichte, der groen Lehrerin der

    Menschheit zu, so werden wir in ihr mit eisernem Griffel eingegraben finden, da

    jedes Volk, wenn es selbst den hchsten Grad der Kultur erreicht hatte, wenn die

    grten Mnner aus seinem Sche entsprossen waren, wenn die Knste in ihm ihre

    volle Sonne hatten aufgehn lassen, wenn die Wissenschaften die schwierigsten Fragen

    gelst hatten, da es demungeachtet die Fesseln des Aberglaubens nicht abzustreifen

    vermochte, da es weder von sich noch von der Gottheit wrdige und wahre Begriffe

    gefat hatte, da selbst die Sittlichkeit, die Moral nie rein von fremden Zustzen, von

    unedlen Einschrnkungen in demselben erscheint, da selbst seine Tugenden mehr

    von einer rohen Gre, von einem ungebndigten Egoismus, von einer Sucht nach

    Ruhm und khnen Taten erzeugt war[en] als durch das Streben nach wahrer

    Vollendung.

    Voltemos nosso olhar para a Histria, para a grande magistra da humanidade,

    ento descobriremos nela gravada com um buril de ferro macio \ um grafite muito

    duro, que cada povo, se este mesmo alcanara o mais alto grau de civilizao, se (seus)

    maiores homens nascessem de seus seios, se as artes nele fizesse surgir o sol pleno

    (plenamente brilhante), se as cincias tivessem resolvido as mais difceis questes, que

    (esse) no fosse capaz de desfazer-se das correntes da superstio, que mesmo o

    costume, a moral jamais parea livre (pura) de acrscimos estrangeiros, de ignbeis

    limites\limitaes nele (?) mesmo, que mesmo suas virtudes fossem

    geradas\criadas\produzidas mais de\por uma rude\tosca grandeza, de\por um indmito

    egoismo, por um procura pela glria e por feitos temerrios do que por meio da ambio

    visando verdadeira plenitude

    Und die alten Vlker, die Wilden, denen noch nicht die Lehre Christi

    erschallt ist, sie zeigen eine innere Unruhe, eine Furcht vor dem Zorne ihrer Gtter,

  • 21

    21

    eine innere berzeugung von ihrer Verwerflichkeit, indem sie ihren Gttern Opfer

    darbringen, indem sie durch Opfer ihre Schuld zu shnen whnen.

    E os antigos povos, os selvagens, para os quais os ensinamentos de cristo

    ainda no tivessem repercutido, eles demonstram um inquietao interna, um medo

    perante a clera de seus deuses, um ntimo convencimento de sua inadmissibilidade no

    momento em que oferecem a seus deuses o sacrifcio, quando eles imaginam por

    intermdio do sacrifcio expiar sua culpa.

    Ja, der grte Weise des Altertums, der gttliche Plato, spricht in mehr als

    einer Stelle eine tiefe Sehnsucht nach einem hheren Wesen aus, dessen Erscheinung

    das unbefriedigte Streben nach Wahrheit und Licht erfllte.

    Sim, o maior sbio da antiguidade, o divino Plato, declara em mais de uma

    passagem uma profunda nsia\procura pelo mais alto ser, cuja apario preenchia

    \preencheria a insatisfeita ambio por verdade e luz.

    So lehrt uns die Geschichte der Vlker die Notwendigkeit der Vereinigung

    mit Christo.

    Assim, ensina-nos a Histria dos Povos a necessidade da unio com Cristo.

    Auch wenn wir die Geschichte der Einzelnen, wenn wir die Natur des

    Menschen betrachten, sehn wir zwar stets einen Funken der Gottheit in seiner Brust,

    eine Begeistrung fr das || Gute, ein Streben nach Erkenntnis, eine Sehnsucht nach

    Wahrheit, allein die Funken des Ewigen erstickt die Flamme der Begier;

    Mesmo se obervssemos a histria dos indivduos, mesmo se considerssemos

    a Natureza do Homem, ainda que com freqncia vssemos uma centelha da divindade

    no peito deste Homem, um entusiasmo pela bondade\benevolncia, uma aspirao ao

    conhecimento\ compreenso, uma procura\nsia pela verdade, somente a centelha do

    Eterno sufoca a chama da cobia

    die Begeistrung fr die Tugend bertubt die lockende Stimme der Snde, sie wird

    verhhnt, sobald das Leben uns seine ganze Macht fhlen gelassen;

    O entusiasmo pela virtude ensurdece a voz leniente das faltas\pecados, e zomba dela,

    to logo a vida nos faz sentir todo seu poder.

    das Streben nach Erkenntnis verdrngt ein niederes Streben nach irdischen Gtern, die

    Sehnsucht nach Wahrheit erlscht durch die sschmeichelnde Macht der Lge, und

    so steht der Mensch da, das einzige Wesen in der Natur, das seinen Zweck nicht

    erfllt, das einzige Glied in dem Alle der Schpfung, das des Gottes nicht wert ist, der

    es erschuf.

    A aspirao pelo conhecimento reprime\suplanta uma aspirao inferior por bens

    terrenos, a nsia pela verdade extingue\apaga atravs do poder melfluo das mentiras, e

    assim o Homem o , o nico ser na natureza, cujo fim no se cumpre, o nico elo de

    toda criao de Deus, moldado por ele, que no possui valor.

    Aber jener gtige Schpfer vermochte sein Werk nicht zu hassen;

    Mas aquele bom criador no quer odiar sua obra;

    er wollte es zu sich erheben und sandte seinen Sohn und lt uns durch diesen zurufen:

    Ele quis elev-lo at si e enviou seu filho e nos fez chamar por este.

    "Ihr seid jetzt rein, um des Wortes willen, das ich zu euch geredet habe" (Joh.

    15, 3).

  • 22

    22

    Vs estis agora puro por causa da Palavra que eu vos dirigi (Jo 15, 3). "Bleibet in mir, und ich in euch" (Joh. 15, 4).

    Permanecei em mim, e eu em vs (Jo. 15, 4)

    Nachdem wir so gesehn, wie die Geschichte der Vlker und die

    Betrachtung der Einzelnen die Notwendigkeit der Vereinigung mit Christo erweist,

    wollen wir den letzten und sichersten Beweis, das Wort Christi selbst betrachten. Und

    wo drckt er deutlicher die Notwendigkeit der Vereinigung mit sich aus als in dem

    schnen Gleichnisse des Weinstocks und der Rebe, wo er sich den Weinstock, uns

    die Reben nennt. Die Rebe vermag durch eigne Kraft keine Frchte hervorzubringen,

    und so, sagt Christus, knnt ihr ohne mich nichts tun. Noch strker spricht er sich

    hierber aus, wenn er sagt:

    "Wer nicht in mir bleibet etc." (Joh. 15, 4, 5, 6).

    Aps vermos como a Histria dos povos e a contemplao do indivduo

    mostram a necessidade de unio com Cristo, queremos considerar a ltima e mais

    segura prova, observando a palavra de Cristo, ela prpria. E onde ela, a prova,

    expressaria mais claramente a necessidade de unio com Cristo do que na bela metfora

    da videira e do ramo, onde Ele se reconhece\nomeia videira, e ns os ramos. O ramo

    no capaz por sua prpria fora produzir frutos, e assim, diz Cristo, nada podeis fazer

    sem mim. Ainda mais forte Ele declara a este respeito, quando diz:

    Quem no permanece em mim etc. (Jo. 15, 4,5,6). Indessen darf man dieses blo von denjenigen verstehn, die das Wort Christi

    kennenzulernen vermochten; denn den Ratschlu Gottes ber solche Vlker und

    Menschen knnen wir nicht beurteilen, da wir ihn nicht einmal zu erfassen imstande

    sind.

    Entretanto deve-se entender esta simples palavra daquela deliberao que

    propicia conhecer a Palavra de Cristo; pois no podemos julgar a avaliao\acepo de

    Deus sobre tais povos e homens, pois que no estamos sequer em condies de

    compreend-la.

    Unser Herz, die Vernunft, die Geschichte, das Wort Christi rufen uns also laut

    und berzeugend zu, da die Vereinigung mit ihm unbedingt notwendig ist, da wir

    ohne ihn unseren Zweck nicht erreichen knnen, da wir ohne ihn von Gott verworfen

    wren, da nur er uns zu erlsen vermochte.

    Nosso corao, a Razo, a Histria, a Palavra de Cristo nos chama, pois, alto e

    convincentemente, que a unio com ele necessariamente incondicional, que ns sem

    ele no poder alcanar o nosso Fim, que ns sem ele seramos rejeitados por Deus, que

    somente ele pode nos salvar.

    So durchdrungen von der berzeugung, da diese Vereinigung unbedingt nothwendig

    ist, || sind wir begierig zu erforschen, worin den dieses hohe Geschenk besteht, dieser

    Lichtstrahl, der aus hheren Welten beseelend in unser Herz fllt und uns gelutert zum

    Himmel emportrgt, welches das innere Wesen und der Grund derselben ist?

    Assim penetrado\atravessado pelo convencimento de que esta comunho

    incondicionalmente necessria, seremos\somos vidos por perscrutar em que consiste

    este magnnimo presente\talento\dom, o raio de luz que dos mais altos mundos cai em

    nosso corao e nos eleva purificados ao cu, o qual o ser interior e a razo da

    mesma?

    Sobald wir die Notwendigkeit der Vereinigung erfat haben, steht der Grund

    derselben, unsere Erlsungsbedrftigkeit, unsere zur Snde hingeneigte Natur, unsere

    schwankende Vernunft, unser verdorbenes Herz, unsere Verwerflichkeit vor Gott klar

    vor unseren Augen und, welcher er sei, brauchen wir nicht mehr zu forschen.

  • 23

    23

    To logo ns compreendemos a necessidade da

    comunho\associao\unio, aparece a razo da mesma, [e] nossa necessidade de

    salvao, nossa inclinao natural para o pecado, nossa razo vacilante, nosso corao

    corrompido, nossa inadmissibilidade perante Deus, clara diante de nossos olhos, e o que

    ele \o que quer que ele seja, no necessitamos mais pesquisar

    Wer aber knnte schner das Wesen der Vereinigung ausdrcken, als Christus

    es in dem Gleichnisse des Weinstocks mit der Rebe getan hat? Wer knnte in groen

    Abhandlungen alle Teile, das Innerste, was diese Vereinigung begrndet, so umfassend

    vor das Auge legen, als Christus mit den Worten:

    Mas quem mais poderia expressar de modo mais belo a essncia da comunho do

    que Cristo como o fez na parbola da videira com o ramo? Quem poderia em grandes

    tratados todas as partes dispor, o mago que esta comunho fundamenta, de maneira to

    abrangente perante nossos olhos do que Cristo com estas palavras:

    "Ich bin ein rechter Weinstock, mein Vater ist ein Weingrtner" (Joh. 15, 1).

    Eu sou a verdadeira videira, meu Pai o agricultor "Ich bin der Weinstock, ihr seid die Reben" (Joh. 15, 5).

    Eu sou a videira, vs sois os ramos

    Wenn die Rebe empfinden knnte, wie wrde sie freudig auf den Grtner

    blicken, der ihrer wartet, der sie ngstlich von Unkraut reinigt und sie fest an den

    Weinstock knpft, aus dem sie Nahrung und Sfte zu schneren Blten zieht.

    Se o ramo pudesse sentir, ele lanaria um olhar jubiloso para o jardineiro, do

    qual se espera ansiosamente que o livre de ervas daninhas, e mantenha o ramo

    firmemente ligado a videira, de onde o ramo retira seu alimento e seiva para as mais

    belas flores.

    In der Vereinigung mit Christo wenden wir also vor allem zu Gott das

    liebende Auge, fhlen wir fr ihn den glhendsten Dank, sinken wir freudig vor ihm

    auf die Knie.

    Na comunho com Cristo ns voltamos, ento, para Deus o olhar

    amvel\enamorado, sentimos por ele uma fervorosa gratido, e nos curvamos

    alegremente perante ele sobre nossos joelhos.

    Dann, wenn uns eine schnere Sonne durch die Vereinigung mit

    Christo aufgegangen ist, wenn wir unsere ganze Verwerflichkeit empfinden, zugleich

    aber ber unsere Erlsung jauchzen, knnen wir erst den Gott lieben, der uns frher

    als beleidigter Herrscher, jetzt als vergebender Vater, als gtiger Erzieher erscheint.

    Ento, se para ns um sol mais belo nasceu pela comunho com Cristo, se ns

    sentimos toda nossa inadmissibilidade, mas ao mesmo tempo exultamos nossa salvao,

    podemos agora amar o Deus que antes nos parecia como se fosse um senhor injurioso,

    mas que agora surge como um Pai que absolve, como um Preceptor benvolo.

    Aber nicht nur zu dem Weingrtner wrde die Rebe emporschauen,

    wenn sie empfinden knnte, sie wrde sich innig an den Stock anschmiegen, sie wrde

    sich mit ihm und den Reben, die an ihm emporgeschossen, aufs genaueste verbunden

    fhlen; sie wrde schon die anderen Reben lieben, weil ein Grtner sie besorgt, ein

    Stamm ihnen Kraft leiht.

    So besteht die Vereinigung mit Christo aus der innigsten, lebendigsten

    Gemeinschaft mit ihm, darin, da wir ihn vor Augen und im Herzen haben, und, indem

    wir so von der || hchsten Liebe zu ihm durchdrungen sind, wenden wir unser Herz

  • 24

    24

    zugleich den Brdern zu, die er inniger mit uns verbunden, fr die er sich auch

    geopfert hat.

    Aber diese Liebe zu Christus ist nicht fruchtlos, sie erfllt unsnicht nur mit

    der reinsten Verehrung und Hochachtung gegen ihn, sondern sie bewirkt auch, da wir

    seine Gebote halten, indem wir uns freinander aufopfern, indem wir tugendhaft sind,

    aber nur tugendhaft aus Liebe zu ihm (Joh. 15, V. 9, 10, 12, 13, 14).

    Dieses ist die groe Kluft, welche christliche Tugend von jeder andern trennt

    und ber jede andre erhebt, dieses ist eine der grten Wirkungen, die die

    Vereinigung mit Christo im Menschen erzeugt.

    Die Tugend ist kein finstres Zerrbild mehr, wie es die stoische Philosophie

    aufstellt; sie ist nicht das Kind einer harten Pflichtenlehre, wie wir sie bei allen

    heidnischen Vlkern finden, sondern, was sie wirkt, wirkt sie aus Liebe zu Christus,

    aus Liebe zu einem gttlichen Wesen und, wenn sie aus dieser reinen Quelle entspringt,

    erscheint sie von allem Irdischen befreit und wahrhaft gttlich. Jede abstoende Seite

    taucht sich unter, alles Irdische sinkt, alles Rohe erlscht, und die Tugend ist verklrter,

    indem sie zugleich milder und menschlicher geworden ist.

    Nie htte die menschliche Vernunft sie so darzustellen vermocht; ihre Tugend

    wre immer eine beschrnkte, eine irdische Tugend geblieben.

    Sobald ein Mensch diese Tugend, diese Vereinigung mit Christo erlangt hat,

    wird er still und ruhig die Schlge des Schicksals erwarten, mutig dem Sturme der

    Leidenschaften sich gegenberstellen, unerschrocken die Wut des Schlechten ertragen,

    denn wer ver mag ihn zu unterdrcken, wer vermag ihm seinen Erlser zu rauben?

    Was er bittet, davon wei er, da es erfllt wird, denn er bittet blo in der

    Vereinigung mit Christo, also blo Gttliches, und wen sollte diese Versichrung nicht

    erheben und trsten, die der Heiland selbst verkndet? (Joh. 15, V. 7.).

    Wer sollte nicht gern Leiden erdulden, da er wei, da durch sein Beharren in

    Christo, durch seine Werke Gott selbst geehrt wird, da seine Vollendung den Herrn

    der Schpfung erhebt? (Joh. 15, V. 8.).

    Also leiht die Vereinigung mit Christo innere Erhebung, Trost im Leiden,

    ruhige Zuversicht und ein Herz, das der Menschenliebe, das allem Edlen, allem

    Groen, nicht aus Ehrgeiz, nicht aus Ruhm sucht, sondern nur Christi wegen geffnet

    ist; also leiht die Vereinigung mit Christo eine Freudigkeit, die der Epikureer

    vergebens in seiner leichtfertigen Philosophie, der tiefere Denker vergebens in den

    verborgensten Tiefen des Wissens zu erhaschen strebt, die nur das unbefangne,

    kindliche, mit Christo und durch ihn mit Gott verbundene Gemt kennt, die das Leben

    schner gestaltet und erhebt. (Joh. 15, 11.)|

    Marx

    Geschrieben zwischen dem 10. und 16. August 1835.

    4- Exemples, qui servent prouver, que l'homme peut motiver les influences du climat, qu'il habite" (Exemplos que servem para provar que o homem pode ter

    influncias sobre clima, [em] que ele habita) (doravante Exemples). bersetzung

    ins Franzsische.

    4- Exemplos que servem para provar que o Homem pode ter influncias sobre o

    ambiente que ele habita

    Ceux, qui sjornent Pensylvanie depuis longtemps ou les colonies voisines,

    ont observ, que leur climat sest chang considrablement depuis quarante ou cinquante ans, et que les hivers ne sont plus autant froids.

  • 25

    25

    Aqueles que residem na Pensilvnia desde h muito ou em suas colnias

    vizinhas tm observado que o clima deles mudou consideravelmente faz quarenta ou

    cinquenta anos e os invernos no so to igualmente frios.

    La temprature de lair en Pensylvanie est diffrente de celle des contres de lEurope, qui sont situes sous le mme parallle.

    A temperatura do ar na Pensilvnia diferente daquela de alguns lugares da

    Europa que esto situadas no mesmo paralelo.

    Pour juger de la chaleur dun pays, il ne suffit davoir gard au cercle de large, mais aussi sa situation et aux vent, qui sont accoutums y rgner, parce que ceux ne

    savent ps se changer, sans que le climat ne se change pas.

    Para julgar o calor de um pas no suficiente ter em conta apenas a sua latitude

    mas tambm a sua situao e os seus ventos, que esto acostumados a a reinar porque

    eles no sabem se modificar sem que o clima tambm se modifique.

    La face dun pays peut tre metamorphose entirement par culture, et ser convaincu, en recherchant la cause de vents, que leur cour pusse prendre de mme une

    nouvelle direction.

    A face de um pas pode ser inteiramente metamorfoseada pela cultura e [este]

    ser convencido, ao procurar a causa dos ventos, que seu curso possa tomar mesmo uma

    nova direo.

    Depuis ltablissement de nos colonies, dit Mr. Villiamson, nous avons y reussi, non seulement donner la terre des arrondissements habites, mais aussi changer

    partiellement la direction des vents.

    Desde o estabelecimento de nossas colnias, diz o Senhor Williamson, ns

    temos conseguido no somente dar ao terreno lugares habitveis, mas tambm mudar

    parcialmente a direo dos ventos.

    Les hommes de marine, qui sont y interresss le plus, nous on dit, quils avaient eu besoin autrefois de 4-5 semaines, pour aborder nos cotes, pendant quils y abordent aujourdhui dans un temps, de moiti moins.

    Os homens do mar, que neste caso so os mais interessados, contam-nos que

    anteriormente eles tinham necessidade de 4 a 5 semanar para aportar em nossas costas,

    ao passo que hoje ele aportam em um tempo que a metade deste.

    On en est aussi daccord que la || froideur est moins rudee, le neige moins abundant et moins Durant quil la t jamais, depuis nous nous sommes tablis dans notre province. Il y a plusieurs causes, qui peuvent augmenter ou diminuer la chaleur de

    lair, mais on me rapporterait difficillement un Seul exemple du changement du climat, quon ne pusse attribuer au dfrichement du pays, ou il avait lieu.

    Ns tambm estamos de acordo que o frio menos rude\intenso, a neve menos

    abundante e durante menos do que jamais aconteceu, desde que ns nos estabelecemos

    em nossa provncia. Existem vrias causas que podem aumentar ou diminuir o calor do

  • 26

    26

    ar, mas seria muito difcil para mim relatar um s exemplo da mudana do clima que

    no se possa atribuir ao desflorestamento do pas onde ele teve lugar

    On me objectera, quune exception de cette rgle commune, le changement, qui a eu lieu depuis milles sept cent ans en Italie et en quelques districts de lOrient. On dit, que lItalie a t mieux au temps dAuguste, quil nest aujourdhui et que pourtant le climat y est modr.

    Objetar-me-iam que h uma exceo a esta regra comum, mudana [do clima],

    que teve lugar h cerca de 1.700 na Itlia e em algumas partes do Oriente. Dir-se-ia que

    a Itlia era mais bem cultivada nos tempos de Augusto e no o hoje em dia e que, no

    entanto, o clima l moderado.

    Cest vrai, que lhiver en Italie avant mille sept cent ans tait plus rude, quil nest aujourdhui, mais on en peut attributer la cause aux vaste bois, dont lAllemagne, qui se trouve au Nord de Rome, tait couverte ce temps l.|

    verdade que o inverno na Itlia h 1.700 anos era mais rude e que no o hoje

    em dia, mas pode-se atribuir esta causa aos vastos bosques, que na Alemanha, que se

    encontra ao norte de Roma, era coberta nesta poca.

  • 27

    27