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C1 TERÇA-FEIRA, 13 DE MARÇO DE 2012 O ESTADO DE S. PAULO Metrópole Violência Detento esfaqueia homem e rouba van com 13 crianças estadão.com.br Defesa de goleiro diz que Eliza foi morta por Macarrão Pág. C5 1992 Planejamento começa na ges- tão Erundina 1996 Saem as primeiras interven- ções, financiadas pelo Ban- co Mundial na gestão Maluf 2001 Com o fim do finan- ciamento, obras de- saceleram 2005 Programa é retoma- do, agora com recur- sos próprios 2016 É o prazo para o término total das obras Caso Bruno MUDANÇAS Se todos os contratos anuncia- dos por Gilberto Kassab (PSD) para o fim da sua gestão forem assinados, pelo menos R$ 11,9 bilhões em grandes obras serão iniciados no seu último ano de mandato. O próximo prefeito, por- tanto, terá de arcar com essa con- ta, já que a legislação impede a rescisão de contratos desse tipo durante a mudança de gestores. A superintendente de Habita- ção Popular, Elisabete França, defende os contratos do Progra- ma Mananciais, afirmando que as intervenções estão previstas no Plano Municipal de Habitação. “Vamos deixar tudo pronto. Se o próximo prefeito fosse deixar pa- ra estudar e lançar a licitação só quando assumissem, não iriam inaugurar essas obras.” / R.B. Quando o Programa Mananciais teve início, em 1996, as interven- ções foram pequenas por causa das restrições orçamentárias – toda a primeira fase do projeto foi bancada por um empréstimo do Banco Mundial e atingiu ape- nas sete favelas. Porém, se agora a fonte de recursos é maior e os planos mais ambiciosos, o maior desafio da Prefeitura de São Pau- lo se tornou a manutenção dos espaços já inaugurados. Um exemplo é a comunidade do Jardim Iporanga, na região da Represa do Guarapiranga. Ela passou por obras do Programa Mananciais, inauguradas em 2007. Cerca de 1,8 mil famílias foram retiradas da beira de um córrego, que foi totalmente recu- perado e limpo – seu entorno se transformou em uma área de la- zer, com brinquedos para crian- ças e grandes calçadas. Serviços que antes inexistiam, como a co- leta de lixo e de esgoto, foram iniciados pela Prefeitura. Cinco anos depois da inaugu- ração, porém, vários problemas foram constatados pela reporta- gem ao visitar o local. O córrego estava sujo de lixo – havia até col- chões jogados pelos moradores da comunidade. Algumas casas já fizeram novas ligações de esgo- to fora da rede coletora instala- da, que está escorrendo pelo cal- çadão construído. As ruas inau- guradas já têm alguns buracos, e brinquedos de madeira foram quebrados. A líder comunitária Sandra Re- gina Pereira, de 45 anos, afirma que as obras melhoraram a quali- dade de vida na região, mas diz não saber como fazer com que os moradores tenham mais cuida- do com a área comunitária. “An- tes de você chegar, a gente pas- sou pelo córrego e viu que estava limpo, mas, em meia hora, al- guém jogou aquele colchão ali. É difícil”, confessa. A superintendente de Habita- ção Social da Prefeitura, Elisabe- te França, afirma que a adminis- tração precisa encontrar uma no- va forma de fazer a manutenção. “Fazemos monitoramentos fre- quentes. Quando a área é muito grande, ela é transferida para a Secretaria do Verde. Quando é pequena, fazemos uma pós-ocu- pação, nomeando zeladores am- bientais da própria comunidade. Mesmo assim, precisamos pen- sar em uma outra forma de fazer essa manutenção e reforçar essa zeladoria ambiental.” /R.B. KATHIA TAMANAHA/AE Áreas que passaram por obras tentam manter melhorias CELSO JUNIOR /AE FOTOS ANDRE LESSA/AE Pág. C6 DUAS DÉCADAS DE MANANCIAIS Prefeitura aumenta de 16,4 mil m² para 25 mil m² área do futuro Parque Augusta Pág. C4 Vida na cidade 2. 3. Recuperação de represas de SP terá R$ 2,8 bilhões Kassab fecha maior contrato da gestão no último ano de governo; 3ª etapa do Programa Mananciais deve ficar pronta até 2016 Obras no fim da gestão somam quase R$ 12 bilhões 3. Com colchão jogado no córrego, Jd. Iporanga ainda tem problema de manutenção 2. Comunidade do Pabreu, com 2,1 mil famílias, será a próxima a receber melhorias 1. Região do Cantinho do Céu teve tratamento de esgoto e ganhou píer usado pelas crianças 1. DANIEL TEIXEIRA/AE Rodrigo Burgarelli O maior contrato da gestão Gilberto Kassab (PSD) não é o da nova varrição nem o do tú- nel da Avenida Jornalista Ro- berto Marinho, na zona sul da capital. Por R$ 2,8 bilhões, 13 lotes de obras de urbanização de favelas e recuperação de mananciais e das orlas das Re- presas Billings e do Guarapi- ranga deverão ser contrata- dos até o início do segundo se- mestre deste ano. O objetivo é que, até 2016, a região tenha praticamente resolvido seus principais problemas habita- cionais e de poluição. Os valores atraíram as princi- pais empreiteiras do País. Em- presas como Camargo Corrêa, Carioca e Galvão já foram pré- qualificadas na concorrência e devem apresentar suas propos- tas na sessão marcada para o dia 30 deste mês. Mais de 46 mil fa- mílias devem ser beneficiadas. Entre elas, 13 mil devem ser re- movidas de suas casas atuais e receber auxílio-aluguel até se- rem realocadas em conjuntos ha- bitacionais na mesma região, após as obras. As obras dizem respeito à ter- ceira e definitiva fase do Progra- ma Mananciais, financiado com verbas da Prefeitura, do governo estadual e do governo federal por meio do Programa de Acele- ração de Crescimento (PAC). O programa teve início em 1996, para diminuir a contamina- ção por esgoto dos mananciais da região sul da capital – respon- sáveis pelo abastecimento de 4,7 milhões de moradores da Gran- de São Paulo – e está atualmente na sua segunda etapa. A ideia é levar infraestrutura e coletar es- goto de 1,2 milhão de pessoas. Segundo o coordenador do programa, Ricardo Sampaio, só serão removidas as famílias que vivem dentro de uma faixa de aproximadamente 50 metros dos mananciais. “São domicílios onde é impossível fazer a coleta de esgoto, além de estarem em área de APP (Área de Proteção Per- manente)”, explica Sampaio. Es- se espaço deverá dar lugar a par- ques lineares ao redor das duas represas. “A ideia é alavancar o turismo ecológico nessa região, que tem enorme potencial, mas precisa dessa recuperação am- biental”, afirma o coordenador. Exemplo. Esse processo está atualmente acontecendo na co- munidade do Cantinho do Céu, localizada à beira da Represa Bil- lings, no extremo sul da cidade. Um parque linear de 7,5 quilôme- tros vai ser construído na orla, onde antes moravam 1,7 mil famí- lias. Cerca de 2,5 km de parque já estão prontos – e a diferença é notável. No local já inaugurado, tron- cos coletores de esgoto e uma es- tação elevatória que leva os deje- tos para tratamento na rede da Sabesp garantem que a água da represa seja transparente e sem cheiro. Crianças nadavam no píer de madeira recém-inaugura- do, algo impossível antes das obras, segundo as próprias crian- ças. Alguns quilômetros adian- te, onde os trabalhos ainda não terminaram e o esgoto não foi coletado, o cheiro da represa é fétido e a água, turva. Indicadores de poluição da água coletados pela Secretaria Estadual de Recursos Hídricos registraram o avanço. Em 2011, por exemplo, a carga de fósforo gerada pela poluição na Represa do Guarapiranga era de 860 qui- los por dia, cerca de 40% mais do que os 640 atuais. Histórico. Concebido na gestão petista de Luiza Erundina e colo- cado em prática na gestão Paulo Maluf (PP), o Programa Manan- ciais já teve duas fases, atenden- do 110 mil famílias com custo de R$ 1,5 bilhão – cerca de metade do que será aplicado na terceira fase, com término previsto em 2016. Em curso, as obras da se- gunda fase devem se prolongar até 2014.

CasoBruno Violência Prefeituraaumentade16,4milm²para ... · passou por obras do Programa Mananciais, inauguradas em 2007. Cerca de 1,8 mil famílias foram retiradas da beira de

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estadão.com.br

Defesa de goleiro diz que Elizafoi morta por Macarrão

Pág. C5

1992Planejamentocomeça na ges-tão Erundina

1996Saem as primeiras interven-ções, financiadas pelo Ban-co Mundial na gestão Maluf

2001Com o fim do finan-ciamento, obras de-saceleram

2005Programa é retoma-do, agora com recur-sos próprios

2016É o prazo para otérmino totaldas obras

Caso Bruno

MUDANÇAS

● Se todos os contratos anuncia-dos por Gilberto Kassab (PSD)para o fim da sua gestão foremassinados, pelo menos R$ 11,9bilhões em grandes obras serãoiniciados no seu último ano demandato. O próximo prefeito, por-tanto, terá de arcar com essa con-

ta, já que a legislação impede arescisão de contratos desse tipodurante a mudança de gestores.

A superintendente de Habita-ção Popular, Elisabete França,defende os contratos do Progra-ma Mananciais, afirmando queas intervenções estão previstasno Plano Municipal de Habitação.“Vamos deixar tudo pronto. Se opróximo prefeito fosse deixar pa-ra estudar e lançar a licitação sóquando assumissem, não iriaminaugurar essas obras.” / R.B.

Quando o Programa Mananciaisteve início, em 1996, as interven-ções foram pequenas por causadas restrições orçamentárias –toda a primeira fase do projetofoi bancada por um empréstimodo Banco Mundial e atingiu ape-nas sete favelas. Porém, se agoraa fonte de recursos é maior e osplanos mais ambiciosos, o maiordesafio da Prefeitura de São Pau-

lo se tornou a manutenção dosespaços já inaugurados.

Um exemplo é a comunidadedo Jardim Iporanga, na região daRepresa do Guarapiranga. Elapassou por obras do ProgramaMananciais, inauguradas em2007. Cerca de 1,8 mil famíliasforam retiradas da beira de umcórrego, que foi totalmente recu-perado e limpo – seu entorno se

transformou em uma área de la-zer, com brinquedos para crian-ças e grandes calçadas. Serviçosque antes inexistiam, como a co-leta de lixo e de esgoto, foraminiciados pela Prefeitura.

Cinco anos depois da inaugu-ração, porém, vários problemasforam constatados pela reporta-gem ao visitar o local. O córregoestava sujo de lixo – havia até col-

chões jogados pelos moradoresda comunidade. Algumas casasjá fizeram novas ligações de esgo-to fora da rede coletora instala-da, que está escorrendo pelo cal-çadão construído. As ruas inau-guradas já têm alguns buracos, ebrinquedos de madeira foramquebrados.

A líder comunitária Sandra Re-gina Pereira, de 45 anos, afirma

que as obras melhoraram a quali-dade de vida na região, mas diznão saber como fazer com que osmoradores tenham mais cuida-do com a área comunitária. “An-tes de você chegar, a gente pas-sou pelo córrego e viu que estavalimpo, mas, em meia hora, al-guém jogou aquele colchão ali. Édifícil”, confessa.

A superintendente de Habita-

ção Social da Prefeitura, Elisabe-te França, afirma que a adminis-tração precisa encontrar uma no-va forma de fazer a manutenção.“Fazemos monitoramentos fre-quentes. Quando a área é muitogrande, ela é transferida para aSecretaria do Verde. Quando épequena, fazemos uma pós-ocu-pação, nomeando zeladores am-bientais da própria comunidade.Mesmo assim, precisamos pen-sar em uma outra forma de fazeressa manutenção e reforçar essazeladoria ambiental.” /R.B.

KATHIA TAMANAHA/AE

Áreas que passaram por obras tentam manter melhorias

CELSO JUNIOR /AE

FOTOS ANDRE LESSA/AE

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DUAS DÉCADAS DEMANANCIAIS

Prefeitura aumenta de 16,4 mil m² para25 mil m² área do futuro Parque Augusta

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Vida na cidade

2.

3.

Recuperação derepresas de SPterá R$ 2,8 bilhõesKassab fecha maior contrato da gestão no último ano de governo;3ª etapa do Programa Mananciais deve ficar pronta até 2016

Obras no fim dagestão somamquase R$ 12 bilhões

3. Com colchão jogado nocórrego, Jd. Iporanga aindatem problema de manutenção

2. Comunidade do Pabreu,com 2,1 mil famílias, será apróxima a receber melhorias1. Região do Cantinho do Céu teve tratamento de esgoto e ganhou píer usado pelas crianças

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Os valores atraíram as princi-pais empreiteiras do País. Em-presas como Camargo Corrêa,Carioca e Galvão já foram pré-qualificadas na concorrência edevem apresentar suas propos-tas na sessão marcada para o dia30 deste mês. Mais de 46 mil fa-mílias devem ser beneficiadas.Entre elas, 13 mil devem ser re-

movidas de suas casas atuais ereceber auxílio-aluguel até se-rem realocadas em conjuntos ha-bitacionais na mesma região,após as obras.

As obras dizem respeito à ter-ceira e definitiva fase do Progra-ma Mananciais, financiado comverbas da Prefeitura, do governoestadual e do governo federalpor meio do Programa de Acele-

ração de Crescimento (PAC).O programa teve início em

1996, para diminuir a contamina-ção por esgoto dos mananciaisda região sul da capital – respon-sáveis pelo abastecimento de 4,7milhões de moradores da Gran-de São Paulo – e está atualmentena sua segunda etapa. A ideia élevar infraestrutura e coletar es-goto de 1,2 milhão de pessoas.

Segundo o coordenador doprograma, Ricardo Sampaio, sóserão removidas as famílias quevivem dentro de uma faixa deaproximadamente 50 metrosdos mananciais. “São domicíliosonde é impossível fazer a coletade esgoto, além de estarem emárea de APP (Área de Proteção Per-manente)”, explica Sampaio. Es-se espaço deverá dar lugar a par-

ques lineares ao redor das duasrepresas. “A ideia é alavancar oturismo ecológico nessa região,que tem enorme potencial, masprecisa dessa recuperação am-biental”, afirma o coordenador.

Exemplo. Esse processo estáatualmente acontecendo na co-munidade do Cantinho do Céu,localizada à beira da Represa Bil-

lings, no extremo sul da cidade.Um parque linear de 7,5 quilôme-tros vai ser construído na orla,onde antes moravam 1,7 mil famí-lias. Cerca de 2,5 km de parque jáestão prontos – e a diferença énotável.

No local já inaugurado, tron-cos coletores de esgoto e uma es-tação elevatória que leva os deje-tos para tratamento na rede daSabesp garantem que a água darepresa seja transparente e semcheiro. Crianças nadavam nopíer de madeira recém-inaugura-do, algo impossível antes dasobras, segundo as próprias crian-ças. Alguns quilômetros adian-te, onde os trabalhos ainda nãoterminaram e o esgoto não foicoletado, o cheiro da represa éfétido e a água, turva.

Indicadores de poluição daágua coletados pela SecretariaEstadual de Recursos Hídricosregistraram o avanço. Em 2011,por exemplo, a carga de fósforogerada pela poluição na Represado Guarapiranga era de 860 qui-los por dia, cerca de 40% mais doque os 640 atuais.

Histórico. Concebido na gestãopetista de Luiza Erundina e colo-cado em prática na gestão PauloMaluf (PP), o Programa Manan-ciais já teve duas fases, atenden-do 110 mil famílias com custo deR$ 1,5 bilhão – cerca de metadedo que será aplicado na terceirafase, com término previsto em2016. Em curso, as obras da se-gunda fase devem se prolongaraté 2014.