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SUMÁRIO
CLASSIFICAÇÃO TAXONÔMICA ............................................................................................................ 5
CARACTERÍSTICAS GERAIS ................................................................................................................. 5
PARASITOLOGIA ................................................................................................................................... 7
PROCEDIMENTOS PARA O CONTROLE ............................................................................................... 8
IDENTIFICAÇÃO DO CARAMUJO.........................................................................................................................................................8
CONTROLE DO CARAMUJO-GIGANTE-AFRICANO EM RESIDÊNCIAS (JARDINS, HORTAS, POMARES) OU BAIRROS..............8
ROTEIRO GERENCIAL PA RA O PROGRAMA DE CONTROLE DE (ACHATINA FULICA) EM BAIRROS E MUNICÍPIOS. ................9
BASE LEGAL PARA O CONTROLE DE ACHATINA FULICA ...................................................................11
FONTES ...............................................................................................................................................12
ANEXO I ...............................................................................................................................................13
PROGRAMA PILOTO PARA O CONTROLE DO CARAMUJO GIGANTE AFRICANO........................................................................13
ANEXO II ..............................................................................................................................................18
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO NO COMBATE AO CARAMUJO AFRICANO ...........................................................................18
ANEXO III .............................................................................................................................................20
ESTRATÉGIA DE COMUNICAÇÃO PARA O PROGRAMA DE CONTROLE DO CARAMUJO AFRICANO .......................................20
5
Achatina fulica (Bowdich, 1822)
CLASSIFICAÇÃO TAXONÔMICA
Nome Comum: caramujo gigante africano, caracol gigante da áfrica, caracol gigante, rainha da África.
Filo: Mollusca Classe: Gastropoda Subclasse: Pulmonata Ordem: Stylommatophora Família: Achatinidae Gênero: Achatina Espécie: Achatina fulica
CARACTERÍSTICAS GERAIS
O caramujo-gigante-africano é um molusco terrestre, nativo do nordeste da África, foi introduzido
ilegalmente no Brasil na década de 80, como uma alternativa para a criação de “escargot”. Fugas acidentais
e o abandono dos animais em decorrência da insatisfação de muitos criadores contribuíram para a
dispersão do molusco, que hoje ocorre em quase todos os estados brasileiros, inclusive no Distrito Federal.
Considerado uma praga em diversos países, dentre eles Índia, Madagascar, EUA, Austrália, e em
países do Sudeste Asiático, o caramujo-gigante-africano vem causando sérios prejuízos em culturas
agrícolas, à saúde humana, como potencial transmissor de doenças parasitárias e ao meio ambiente,
competindo diretamente com as espécies de caramujos nativos. Apesar dos resultados ainda não
conclusivos, alguns experimentos realizados em laboratório demonstraram efeitos negativos do caramujo
invasor sobre algumas espécies nativas.
O caramujo Achatina fulica é classificado pela União Internacional para a Conservação da Natureza
(IUCN, na sigla em inglês) como uma das 100 piores espécies exóticas invasoras no mundo.
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DADOS BIOLÓGICOS DA ESPÉCIE:
• Tamanho da concha (adulto): cônica com 10 a 15 cm de comprimento.
• Coloração da concha: mosqueada com tons de marrom claro e marrom escuro. Após a
morte do caramujo a concha passa a apresentar uma coloração esmaecida.
• Hábito alimentar: herbívoro generalista (folhas, flores e frutos de diversas espécies). Em
situações extremas pode se alimentar de outros caramujos como fonte de cálcio.
• Caracteres reprodutivos: hermafrodita com fecundação cruzada (dois indivíduos são
necessários).
• Maturidade sexual: 4 a 5 meses.
• Postura de ovos: até 4 posturas por ano, com 50 a 400 ovos por postura.
• Tamanho do ovo: 5-6 mm de comprimento por 4-5 mm de largura
• Ocorrência: bordas de mata, margens de brejos, capoeiras, hortas e pomares,
plantações abandonadas, terrenos baldios urbanos, quintais e jardins. Parcialmente arborícola,
também pode ser encontrado em árvores e muros.
• Tolerância ambiental: resistente a frio (hiberna a temperaturas abaixo de 10oC), á seca
e ao sol intenso. A população prolifera muito na estação chuvosa.
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PARASITOLOGIA
Do ponto de vista médico, Achatina fulica tem sua importância por tratar-se de uma espécie
envolvida na transmissão da angiostrongilíase meningoencefálica ao homem, doença também denominada
meningite (ou meningoencefalite) eosinofílica, causada pelo nematódeo Angiostrongylus cantonensis (Chen,
1935). Do ciclo de A. cantonensis participam como hospedeiros intermediários, além de A. fulica, outros
caramujos, como Bradybaena similaris Férussac, 1821 e Subulina octona Bruguière, 1789, além de lesmas
dos gêneros Veronicella, Limax e Deroceras. Até mesmo o caramujo prosobrânquio dulcícola Pomacea
canaliculata (Lamarck, 1822) é anotado como hospedeiro intermediário.
A angiostrongilíase meningoencefálica apresenta clínica muito variável. Embora poucas vezes fatal,
os sintomas podem se arrastar por meses, ocorrendo casos de lesões oculares permanentes. Parece ser
contraída pelo homem por meio da ingestão de larvas de terceiro estádio (L3) de A. cantonensis, ou de
moluscos infectados pelo verme. Como as larvas são encontradas no muco produzido pelo molusco, e por
estes últimos serem ávidos por verduras, legumes e frutas como fonte alimentar, é provável que o consumo
humano desses vegetais seja a maneira mais comum de contaminação.
O conhecimento do ciclo vital de Angiostrongylus , apesar de incompleto, mostra uma complexidade
de situações nas quais o homem provavelmente aparece como hospedeiro eventual. O molusco é o
hospedeiro intermediário de pequenos roedores urbanos e silvestres são os hospedeiros definitivos e
reservatórios da verminose. Um grande número de outras espécies de moluscos são experimentalmente
susceptíveis à infecção pelo nematóide. No contexto epidemiológico atual, a angiostrongilíase
meningoencefálica permanece ausente na área continental americana.
Outra doença que pode ser transmitida pelo A. fulica, a angiostrongilíase abdominal, causada pelo
nematódeo Angiostrongylus costaricensis (Morera e Céspedes, 1971), possui os mesmos hospedeiros
intermediários e o mesmo ciclo de vida do A. cantonensis, caracterizada pelo comprometimento de órgãos
abdominais. Sua distribuição nas Américas vai dos EUA ao Norte da Argentina, apresenta sintomas muitos
semelhantes a uma apendicite, o que pode mascarar a presença da doença nas estatísticas públicas de sua
presença.
No Brasil, a forma abdominal incide nos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná,
São Paulo e no Distrito Federal, e tem por hospedeiro intermediário Phyllocaulis variegatus (Semper, 1885),
lesma de grande distribuição geográfica no continente sul-americano e outros moluscos, como Limax
maximus (Linnaeus, 1758), L. flavus (Linnaeus, 1758) e Biomphallaria similaris.
Ainda não existem casos confirmados no Brasil de angiostrongilíase transmitida pelo
caramujo-gigante-africano Achatina fulica. A utilização de luvas nas ações de controle possui
caráter preventivo.
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PROCEDIMENTOS PARA O CONTROLE
IDENTIFICAÇÃO DO CARAMUJO
1) Ao ser informado da presença do caramujo-gigante-africano, certifique-se inicialmente se é
realmente o molusco em questão. Em caso de dúvida envie o material para identificação ao Ibama,
universidades ou centros de pesquisa, observando o seguinte:
a) Colete os exemplares utilizando luvas ou sacos plásticos (pelo menos uns 5 ou 6) e
coloque em solução alcoólica de 70 %. A concha vazia ou uma boa foto também servem para
identificação.
b)Coloque junto ao recipiente contendo os exemplares no álcool uma etiqueta de papel
escrita a lápis contendo: data de coleta, local e quem coletou.
2) Verifique se há outros exemplares na área da ocorrência e converse com os moradores para
saber há quanto tempo estes animais são encontrados no local. A concha vazia ou uma boa foto também
servem para identificação.
3) Uma vez confirmado (identificado) o caramujo-gigante-africano, entre em contato com as
autoridades municipais (Secretaria Municipal de Saúde, Vigilância Sanitária, Ibama, etc), para comunicar a
sua ocorrência. IMPORTANTE – não há motivo para pânico, uma vez que a presença do caramujo não
implica em riscos de epidemias ou doenças graves. Até o momento, não existe nenhum caso confirmado de
doença transmitida por esse animal.
CONTROLE DO CARAMUJO-GIGANTE-AFRICANO EM RESIDÊNCIAS (JARDINS, HORTAS,
POMARES) OU BAIRROS.
1) Colete os caramujos manualmente, utilizando uma luva de borracha ou similar, em um recipiente
adequado (balde ou saco). Os melhores horários para o procedimento são cedo pela manhã ou no final da
tarde. Cave um buraco despeje e esmague bem os animas, colocando sempre que possível uma pá de cal
virgem, para evitar a contaminação do lençol freático, principalmente se uma grande quantidade for
coletada. Os moluscos também podem ser incinerados, desde que hajam condições adequadas para tal
finalidade (incinerador, forno, latão, etc.)
2) A operação deve ser repetida sempre que novos caramujos forem localizados. Um caramujo-
gigante-africano apenas pode botar 400 ovos e em pouco tempo a infestação pode ocorrer novamente. O
controle periódico é fundamental.
3) Organize coletas periódicas com os vizinhos ou no bairro. Não adianta nada achar que o
problema está resolvido no seu quintal se o do vizinho está infestado.
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4) IMPORTANTE:
• Não use sal para controlar os caramujos: senão ocorrerá a salinização do solo,
destruindo o gramado e as plantas por muitos anos.
• A utilização de venenos e moluscicidas não deve ser feita, uma vez que outros animais e
até pessoas podem ser contaminadas.
• O caramujo-gigante-africano não é um animal assassino ou perigoso. Ele não morde, não
pica e não tem veneno. Como qualquer animal que vive em ambiente aberto, existe o risco de
transmissão de doenças, por isso a recomendação das luvas de borracha. Em caso de contato
acidental, basta apenas lavar bem as mãos com água e sabão.
• Para maiores esclarecimentos, ligue para o Ibama (61) 316-1654 ou envie um e-mail para
ROTEIRO GERENCIAL PARA O PROGRAMA DE CONTROLE DO CARAMUJO-GIGANTE
AFRICANO (ACHATINA FULICA) EM BAIRROS E MUNICÍPIOS.
1) O Ibama fornecerá a assistência necessária para a execução do programa, por intermédio de
suas Gerências Executivas – GEREX ou Unidades Gestoras – UG, de acordo com os seguintes
procedimentos:
a) Realizar o contato com o núcleo de fauna da GEREX ou UG para distribuição de material
informativo sobre o controle do caramujo Achatina fulica, assistência técnico-científica para elucidar
pontos obscuros e padronizar o método de controle.
b) Colocar o gerente executivo ou Chefe de UG como coordenador do projeto (seu peso
político e articulação social são de extrema importância).
c) Reunião com as lideranças do município escolhido, para traçar a campanha e montagem
de uma agenda comum (datas como sábado são ideais para o Dia C, ou Dia de Combate ao
Caramujo Africano).
d) Reunião com os secretários municipais envolvidos (educação, saúde, limpeza urbana e
meio ambiente) para traçar estratégias e propor o plano de ação (a secretaria de educação e a de
saúde são de extrema importância, pois as diretoras de escolas os agentes de saúde e do programa
de saúde da família (PSF) são naturalmente os maiores divulgadores e estão permanentemente em
contato com a população).
f) Assinatura de um Termo de Compromisso onde ficam identificadas as competências de
cada uma das partes envolvidas.
g) Treinamento de multiplicadores da ação, ministrado aos diretores de escola, agentes de
saúde, meio ambiente, e de limpeza urbana dos municípios ou dos estados participantes.
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h) Realização do Dia “C” dia de combate ao caramujo-gigante-africano, previamente
divulgado na mídia local. A população envolvida na campanha fará a coleta dos caramujos,
depositando os mesmos em latões com tampa, identificados com adesivos da campanha e
estrategicamente espalhados nas escolas, creches e postos de saúde. A remoção dos latões até o
aterro sanitário, para a destruição dos caramujos, será providenciada pela prefeitura. Os animais
coletados serão enterrados em uma cova com tamanho adequado, coberta com cal virgem e terra.
2) A integração com as prefeituras no repasse correto das informações e no acompanhamento das
metas estimadas é fundamental para o êxito das campanhas.
3) A eficiência no controle do caramujo-gigante-africano dependerá da realização periódica de
novas campanhas.
4) Deve-se levar em conta as particularidades locais na proposta de planos pilotos em todos os
estados. Moradores de áreas rurais devem ser treinados para eles mesmos coletarem e descartarem
corretamente os animais.
5) E imprescindível a realização de oficinas com a imprensa local para o esclarecimento do assunto
e para a incorporação dos termos corretos a serem utilizados na mídia.
9) O material necessário para as campanhas (modelos para cartazes, adesivos, apostilas e demais
material informativo) está disponível na CGFAU/DIFAP/IBAMA Sede, através do telefone (61) 316-1654.
CRIADOUROS ILEGAIS
O caramujo Achatina fulica não é considerado uma espécie doméstica e o Ibama não autoriza a sua
criação. Portanto, criadores clandestinos estão sujeitos às penas previstas no Decreto 3179 de setembro de
1999.
Art 11 Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota
migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo
com a obtida:
Multa de R$500,00 (quinhentos reais), por unidade com acréscimo por exemplar excedente...
§ 1º Incorre nas mesmas multas:
III – quem vende, expõe à venda, exporta ou adquire, guarda, tem cativeiro ou depósito, utiliza ou
transporta ovos, larvas ou espécimes da fauna silvestre, nativa ou em rota migratória, bem como produtos e
objetos dela oriundos, provenientes de criadouros não autorizados ou sem a devida permissão, licença ou
autorização da autoridade competente.
Art 45 Disseminar doença ou praga ou espécies que possam causar danos à agricultura, à
11
pecuária, à fauna, à flora ou aos ecossistemas:
Multa de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) a R$ 2.000.000,00 (dois milhões de reais).
BASE LEGAL PARA O CONTROLE DE ACHATINA FULICA
CDB Art. 8o; Constituição Federal Art. 225, parágrafo 1o, inciso VII; Lei 5197/67 Art. 4o; Lei 9605/98
Art. 31, 37 e 61; Decreto 3179/99 Art. 12 e 45; Decreto 4339/02; Portaria IBAMA 93/98 Art. 31; Instrução
Normativa Ibama 73/18/2005; Lei 11756/04 (para o Estado de São Paulo).
12
FONTES
AMARAL, W. 2002. Programa nacional de saneamento ambiental da invasão da Achatina fulica –
preocupação nacional. Instituto Brasileiro de Helicicultura/Fundação CEDIC, 95 p. Atibaia – São
Paulo.
PAIVA, C. L., 1999. Achatina fulica: praga agrícola e ameaça à saúde pública no Brasil.
http://www.geocities.com/lagopaiva/achat_tr.htm . 10 maio 1999 (criação); 25 abr. 2004
(atualização).
LOWE, S., M. BROWNE & S. BOUDJELAS 2000. 100 of the world’s most invasive species: a selection from
the global invasive species database. ISSG, Auckland.
SIMIÃO, M. S.; FISCHER, M. L. 2004. Estimativa e caracterização da população de Achatina fulica Bowdish,
1822 (Mollusca; Achatinidae), no município de Pontal do Paraná, Paraná, Brasil. Resumos do XXV
Congresso Brasileiro de Zoologia, Brasília-DF.
SIMONE, L R L. 1999. O caramujo gigante em tamanho e problemas . Artigo na Internet
http://www2.uerj.br/~sbma/caramujogiganteempropblemas.htm
TELES, H. M. S.; FARIA VAZ J.; FONTES L. R. & DOMINGOS M. F. 1997. Registro de Achatina fulica
Bowdich, 1822 (Mollusca, Gastropoda) no Brasil: caramujo hospedeiro intermediário da
angiostrongilíase. Rev. Saúde Pública vol. 31 no. 3 São Paulo.
Na Internet:
Fundação CEDIC: www.cedic.org.br
Instituto Hórus: www.institutohorus.org.br
Sociedade Brasileira de Malacologia: http://www2.uerj.br/~sbma/
United States Department of Agriculture - New Pest Response Guidelines Giant African Snails: Snail Pests
in the Family Achatinidae: http://www.aphis.usda.gov/ppq/manuals/pdf_files/NPRG-GAS.pdf
13
ANEXO I
PROGRAMA PILOTO PARA O CONTROLE DO CARAMUJO GIGANTE AFRICANO
PARNAMIRIM/RN 2004
Adaptado do relatório original elaborado por Alvamar Costa de Queiroz, Ivelise Corsino da Costa e Anete Jeane Marques Ferreira (Gerência Executiva do Ibama no RN).
1) CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA
O caramujo-gigante-africano (Achatina fulica), foi relatado pela 1ª vez, fora do seu ambiente natural,
em 1803 na Ilha Mauricio, e em seguida em 1821 nas Ilhas Reunião. Em 1847, o Malacologista W. B.
Benson transportou essa espécie da Ilha Maurício para a Índia. Daí, ela foi se espalhando pelas regiões
tropicais do Velho Mundo, nas ilhas Seicheles em 1840; nas ilhas Comoras em 1860; no Ceilão em 1900;
em Perak e na Malásia em 1928. Nesse período já se tem relatos dos estragos causados em plantações de
chá e seringueiras. Em 1938, os japoneses introduziram Achatina fulica nas ilhas Marianas, objetivando a
sua utilização na culinária. A partir das Ilhas Marianas, o caramujo se espalhou por diversas ilhas da
Oceania até a Ilha Hawai, onde foi registrado em 1936. No Brasil, a introdução do caramujo-gigante-
africano, Achatina fulica, segundo dados levantados, data de 1988/1990 em Curitiba, no Estado do Paraná,
por iniciativa de alguns empreendedores, objetivando a sua criação para utilização na culinária
brasileira/exportação como escargot, em detrimento do escargot verdadeiro (Helix aspersa). Esse interesse
tinha como pressuposto, o tamanho, a produtividade, e a adaptação ao clima do Brasil por Achatina fulica,
quando comparado a Helix sp.
No Rio Grande do Norte, segundo se tem conhecimento, Achatina fulica, entrou no Estado trazido
pela Empresa Millenium, para exposição em uma feira agropecuária. A partir dessa feira a Empresa
implantou no Estado, mais precisamente no município de Macaíba-RN, o chamado “Projeto Escargot”. A
empresa vendia um kit com número “x” de matrizes, fornecia a ração e orientação para a criação do animal.
Após um período, com os caramujos já se reprduzindo, o então criador denominado “parceiro” devolvia as
matrizes à empresa, a qual se comprometia em comprar a produção. Inicialmente, segundo informações
dos próprios criadores, à Millenium contava com 119 parceiros. Com a morte do dirigente da Empresa, os
criadores ficaram inicialmente sem ter quem lhes fornecesse a ração e em seguida sem saber à quem
vender a sua produção. Essa situação, cremos, levou à desistência da criação e conseqüente abandono
dos animais, o que provocou uma disseminação acelerada da espécie por quase todo o Estado do Rio
Grande do Norte.
Além do problema da desistência e conseqüente abandono, o manual de orientação que a Empresa
fornecia aos “Parceiros” não mencionava nenhum cuidado com relação à fuga dos animais. Os poucos
heliários que foram vistoriados, não apresentavam nenhuma condição de segurança e sequer de higiene.
Com o aumento dos problemas relacionados ao caramujo Achatina fulica, o Núcleo de Fauna da
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Gerência Executiva do Rio Grande do Norte, com base na listagem de parceiros da Millenium, traçou um
plano para verificar a situação dos criadores no Estado.
Segundo informações obtidas nas entrevistas com os criadores (parceiros) iniciais, a grande maioria
afirmava ter desistido da criação, repassando os animais para outros colegas. Esses criadores
remanescentes juntaram-se em uma “Associação de Criadores de Escargot”, que contava em meados de
2003 com aproximadamente 23 associados.
Durante a vistoria realizada pela equipe do Ibama no Município de Parnamirim-RN, foi informado
que a espécie encontrava-se amplamente dispersa em quase todo o município, sendo possível encontrá-la
à céu aberto, locomovendo em plena via pública. Numa primeira amostragem pontual, realizada nos dias 28
e 29 de maio de 2003, foram coletados 1884 animais.
Foram efetuados contatos à época dessa constatação, com a Secretária de Saúde e com a
Secretaria do Meio Ambiente do Município, bem como foi encaminhado um ofício ao Prefeito, informando a
situação encontrada. Decorridos 6 meses sem que nenhuma providência tivesse sido tomada por parte do
município e face as chuvas de janeiro que ocorreram em todo o Estado, o problema se agravou muito.
No início de 2004 foram retomadas as negociações no Município de Parnamirim-RN, com a
participação do Ibama Sede, por meio de sua Diretoria de Fauna e Recursos Pesqueiros-DIFAP, ficando
finalmente acertado um plano para o controle do caramujo-gigante-africano (Achatina fulica).
A equipe da Gerência Executiva do Ibama no Rio Grande do Norte, juntamente com representantes
da Diretoria de Fauna e Recursos Pesqueiros do Ibama Sede realizaram uma reunião com o Prefeito do
Município de Parnamirim-RN, Senhor Agnelo Alves onde foi proposta a realização do “Plano Piloto para o
Controle do Caramujo-Gigante-Africano (Achatina fulica)”.
2) ARTICULAÇÃO INSTITUCIONAL
Em março de 2004 a equipe do Ibama/RN, juntamente com os técnicos da Diretoria de Fauna e
Recursos pesqueiros e da Assessoria de Comunicação do Ibama Sede realizaram uma vistoria nas áreas
infestadas pelo caramujo no Município de Parnamirim-RN. Em seguida a equipe foi recebida pelo Prefeito
Municipal Agnelo Alves, ocasião em que foi proposto o programa piloto de controle do caramujo-gigante-
africano no município.
No dia seguinte foi realizada uma segunda reunião com a participação de representantes da
Secretaria Municipal de Educação, Secretaria Municipal de Saúde, Secretaria Municipal de Limpeza Urbana
e representantes do Ibama, para apresentar o esboço de um plano de combate do caramujo-gigante-
africano (Achatina fulica), a ser implantado inicialmente em um ou dois bairros de Parnamirim-RN. O
programa piloto consistia na catação manual dos caramujos com apoio da comunidade, e depois a sua
disposição em latões específicos com tampas. O recolhimento dos caramujos deveria ser efetuado pela
Prefeitura que também seria encarregada pela eliminação adequada dos caramujos coletados em um aterro
15
sanitário. O Ibama se comprometeu em repassar todas as informações técnicas sobre o assunto.
O dia 03 de abril foi escolhido como o “Dia C de combate ao caramujo”, posteriormente alterado
para “Dia D”, em função dos critérios já estabelecidos para o dia de combate à dengue. No dia 19 de março
de 2004 foi realizada uma oficina para a capacitação de 71 agentes multiplicadores (agentes do programa
de saúde da família, agentes de endemias e diretores das escolas municipais). Também foi definido que o
sistema de coleta seria através de latões específicos com tampa, devidamente identificados, localizados nas
escolas e nas unidades de saúde.
A área de comunicação ficou responsável pela elaboração de cartazes, folders, faixas e adesivos
para identificação dos latões. Como forma de não onerar demais a campanha, os responsáveis buscaram
recursos junto à iniciativa privada.
Ainda em março foi realizada uma visita prévia aos terrenos baldios que necessitavam de limpeza,
juntamente com o Coordenador de Promoção à Saúde do Município. A identificação das áreas foi
extremamente necessária para que fosse feita a notificação aos proprietários e para que os mesmos
providenciassem os serviços de limpeza e capina.
3) OFICINA PARA CAPACITAÇÃO DE AGENTES MULTIPLICADORES
A oficina dos multiplicadores foi realizada no dia 18 de março de 2004 na Escola Estadual Augusto
Severo, em dois turnos, sendo cada um com uma média de 35 alunos. O objetivo específico da oficina foi
trabalhar uma metodologia apropriada para o conjunto de agentes multiplicadores e possibilitar a construção
de um entendimento sobre o caramujo-gigante-africano e sobre as ações necessárias pra o seu controle, a
serem realizadas de maneira continuada.
4) WORKSHOP REALIZADO COM A IMPRENSA
No dia 24 de março, foi realizado um workshop para os editores e jornalistas dos veículos de
comunicação (tvs, rádio e jornais) de Parnamirim-RN e Natal-RN, como forma de apresentar e uniformizar
as informações a respeito do caramujo-gigante-africano e dos problemas por ele causados.
Após a realização das palestras também foi apresentado à imprensa o cartaz oficial da campanha
com um desenho do caramujo estilizado, tendo ao lado uma fotografia do verdadeiro caramujo para facilitar
sua identificação. A arte do cartaz foi elaborada pela Agência de Publicidade Brisa por determinação da
Assessoria de Imprensa de Parnamirim-RN, mas com detalhes e idéias fornecidos pela Assessoria de
Comunicação do Ibama-RN.
O workshop contribuiu de forma decisiva para aumentar o espaço do caramujo na mídia e
principalmente para conscientizar a imprensa sobre a importância do seu papel na campanha. Durante a
semana que antecedeu a campanha não houve nem a necessidade de distribuição de releases para pautar
o Dia C, uma vez que a imprensa inteira já havia se antecipando.
16
5) PREPARAÇÃO PARA O DIA C
Conforme o programado, 15 dias antes do evento foram distribuídos nas escolas e unidades de
saúde os cartazes da campanha, afixados também em igrejas, supermercados e demais locais públicos.
Foram realizadas palestras em escolas estaduais e municipais, além de reuniões com círculos de pais e
amigos das escolas.
Durante a semana que antecedeu ao “Dia C” as escolas e os postos de saúde receberam os
tambores para coleta dos caramujos, e posteriormente os adesivos para a identificação dos mesmos.
Também foram colocadas em pontos estratégicos da cidade 30 faixas convocando a população para coleta
do Dia C.
Vinte e quatro horas antes do “Dia C” a Coordenadoria de Promoção as Ações de Saúde distribuiu
seis mil luvas e 2 mil sacos plásticos para coleta. Cada escola recebeu apoio dos agentes de saúde
destacados para área.
6) DIA C CONTRA O CAMUJO AFRICANO
No dia 03 de abril de 2004, todas as escolas de Parnamirim-RN estavam mobilizadas para participar
do “Dia C”. O centro de operação foi montado na Coordenadoria de Promoção as Ações de Saúde onde
desde às 6h e 30min os técnicos se mobilizavam enviando materiais extras para escolas, além de checar se
os tambores enviados tinham tampas. Participaram das atividades 172 agentes do Programa de Agentes
Comunitários de Saúde, 101 agentes de endemias e 1610 alunos, além dos professores e diretores de
escolas envolvidas.
A abertura oficial da campanha foi feita pelo Prefeito Agnelo Alves, na Praça da Matriz, Centro de
Parnamirim-RN, na presença dos Secretários Municipais e representações das escolas.Um detalhe a ser
observado nas áreas de coleta é que só participaram do processo alunos maiores de 14 anos. Os alunos
menores e das creches realizaram passeatas divulgando a campanha em seus bairros.
7) RESULTADOS ALCANÇADOS
a) Foram mobilizados e capacitados pelo Ibama como agentes multiplicadores:
• 170 Agentes de Endemias do município.
• 104 Agentes do PCAS - Programa Comunitário de Agentes de Saúde.
• 30 Diretores de escolas municipais.
• 11 Diretores de escolas estaduais.
b) Instalados 70 pontos de coleta em escolas e postos de saúde, com latões devidamente
17
identificados, recolhidos pela prefeitura diariamente para o destino apropriado dos caramujos.
c) 1400 alunos com mais de 14 anos envolvidos na campanha.
d) 1.700 quilos de caramujos coletados na primeira semana de campanha. Média diária de 20 quilos
de caramujos coletados.
e) 2° “Dia C” de combate ao caramujo-gigante-africano realizado em 04/06/2004, com 2058 quilos
de caramujos coletados.
7) EVOLUÇÃO DA OCORRÊNCIA DE ACHATINA FULICA NO ESTADO DO RIO GRANDE DO
NORTE
A ocorrência de Achatina Fulica no Estado do Rio Grande do Norte vem crescendo de forma
preocupante, principalmente no Município de Natal. Com a incidência do período chuvoso, o caramujo tem
aparecido em locais antes não detectados.
Alguns municípios, em função da repercussão alcançada pelo Programa Piloto implantado em
Parnamirim-RN, têm procurado a Gerência Executiva do Ibama, na busca de orientação para a implantação
de um programa similar.
18
ANEXO II
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO NO COMBATE AO CARAMUJO AFRICANO
Anete Jeane ASCOM/RN
A idéia de elaborar as peças promocionais para campanha de controle do caramujo africano surgiu
inicialmente na primeira reunião com a equipe de secretários da cidade de Parnamirim onde destacamos a
importância dos elementos de comunicação para atingir a população.
Outro fator importante registrado nesse momento é que já havíamos percorrido diversos bairros do
município onde verificamos o alto índice de crianças manuseando o caramujo em brincadeiras infantis.
Muitos chegaram inclusive a ser o meio de transporte do molusco, de um bairro para outro, porque
achavam “um animal diferente e bonito”.
Esses depoimentos e outros nos levaram a pensar numa campanha publicitária simples, mas que
tivesse um caramujo estilizado em desenho, um elemento símbolo, facilmente identificável pelas crianças e
adolescentes, uma vez que as escolas seriam usadas como base multiplicadora da campanha, assim como
as unidades de saúde. Tentamos fazer alguma coisa similar aos desenhos de campanha da área de saúde
Ao mesmo tempo em que definimos o desenho a ser utilizado não descartamos a utilização da
imagem do caramujo africano, para facilitar sua identificação. Nessa fórmula conseguimos a arte-final ideal
que une o desenho à fotografia, e de certa forma dá ação ao elemento símbolo.
A mesma arte do cartaz foi aplicada aos adesivos dos tambores de coleta, peça fundamental para
orientar a população. Quando nos definimos pelo adesivo foi justamente pensando na instalação dos postos
de coleta e na necessidade que teríamos de diferenciar o tambor de coleta, do usual, instalado para
recolher lixo doméstico nos locais públicos. Como se trata de uma peça publicitária feita com adesivagem
externa e de fácil localização visual não foi difícil conseguir patrocinadores do setor privado.
Quanto à elaboração do folder, a base de pesquisas para as informações ali contidas foi feita no
Núcleo de Fauna do Ibama/RN, assim como a arte-final. Procuramos resumir as informações sobre a
nocividade do caramujo em linguagem simples e objetiva, dimensionando a importância da participação da
comunidade. Essa peça foi muito importante para o trabalho dos agentes de saúde e professores.
É importante ressaltar que o trabalho de comunicação numa campanha desse porte não se resume
apenas na elaboração das peças promocionais, mas se estende até a supervisão da distribuição delas
dentro das comunidades, bem como na simples análise do entendimento da mensagem pela população.
Nosso meta maior na campanha do caramujo africano é o controle da espécie, mas para alcançar esta
meta, devemos criar o gosto das pessoas pela informação e reprodução dessa informação. Estamos
falando em criar novos hábitos que incentivem, entre outras coisas a catação manual por um determinado
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período. Portanto é imprescindível que a comunicação possa atravessar seus limites formais e também
passe a ser realizada utilizando-se de formas alternativas, em apoio às peças promocionais.
Cartaz utilizado nas campanhas (Modelo disponibilizado mediante solicitação).
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ANEXO III
ESTRATÉGIA DE COMUNICAÇÃO PARA O PROGRAMA DE CONTROLE DO CARAMUJO AFRICANO
Jaime Gesisky – Consultor/IBAMA
O Programa de Controle do Caramujo africano baseia-se, fundamentalmente, na mobilização das
comunidades onde ele é estabelecido. A participação social é central na garantia de sucesso da ação
proposta. Foi a partir desse pressuposto que desenvolvemos o aspecto da comunicação social no âmbito da
experiência-modelo de Parnamirim/RN e que poderá orientar o trabalho em outras partes do país,
ressalvadas as características peculiares de cada região com seus traços sócio-culturais específicos.
Considerando que o trabalho de Educação Ambiental previsto no presente Plano de Ação tratou de
sensibilizar os formadores de opinião locais (líderes comunitários, religiosos, agentes de saúde, etc), com
base em treinamento para torná-los replicadores da informação correta, coube-nos, na área da
Comunicação Social, estabelecer uma estratégia para apoiar o encaminhamento da informação junto à
população por meio dos veículos de comunicação de massa. Nossa meta era criar uma percepção social do
fato que evitasse o pânico, instruísse as pessoas e ainda desse uma resposta institucional ao problema.
A estratégia usada foi a de localizar ao máximo a informação, justamente para atender aos ditames
específicos de cada grupo social envolvido no trabalho. Nesse aspecto, priorizamos os meios de
comunicação disponíveis no local, tais como o jornal da cidade, o programa de televisão com enfoque
regional e os programas de rádio que dispusessem de espaços gratuitos para a veiculação de mensagens
de interesse da campanha.
A estratégia foi, em parte, determinada pela total escassez de recursos financeiros para desenvolver
a campanha de divulgação, sendo este um fator que talvez se aplique a outras regiões onde pretendemos
estabelecer o programa. Trabalhamos o tempo todo com a idéia do “custo-zero” para o Ibama.
Se, por um lado, não dispúnhamos de recursos financeiros, por outro tínhamos informação de sobra
e esse foi o nosso mais precioso bem de troca na campanha. Tínhamos também que fazer essa informação
chegar bem do outro lado contando apenas com nossa capacidade de argumentação em benefício de um
interesse comum.
A princípio, enviamos releases para todas as redações da região e aguardamos o retorno dos
veículos de comunicação. Nossa primeira experiência no envio dos releases resultou em matérias com
informações equivocadas em um dos jornais mais lidos na região de Parnamirim/RN.
Confiantes de que o primeiro material enviado seria suficiente para estimular os editores e
repórteres a buscar mais e melhores informações, fomos surpreendidos quando a Imprensa publicou com
destaque, na capa do Caderno de Cidades, uma foto de caramujos nativos da região e não dos caramujos
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africanos que precisariam ser bem conhecidos para que evitasse a catação do animal errado, pondo em
risco a própria biodiversidade local. O fato foi o alerta: precisaríamos garantir mais fidelidade à informação
que chegaria ao público.
Decidimos, então, criar um treinamento voltado para a capacitação dos jornalistas locais. Teria quer
ser algo breve, sucinto, rico em informações – bem ao gosto dos jornalistas – e que gerasse novas notícias
para envolver ainda mais a população, só que desta vez com as informações exatas.
O treinamento, com duração de cerca de duas horas, compreendia uma apresentação em power-point que
levava os participantes a compreender o problema global da biodiversidade, a questão das espécies
exóticas invasoras e as etapas da campanha que estava prestes a ser deflagrada. Durante a exposição,
houve troca de informações e a sugestão de diversas pautas relacionadas ao tema tratado, de modo que
pudemos contribuir para ampliar o horizonte dos jornalistas que cobriram o assunto.
O treinamento foi bem aceito pela Imprensa local. Todos os veículos mandaram seus
representantes. A partir daí, o noticiário entrou na linha que tínhamos almejado. Os jornalistas, já instruídos
sobre onde buscar informações fidedignas e fontes abalizadas, puderam seguir seu trabalho com
excelentes resultados para todos.
O material de comunicação social usado como apoio na campanha (cartaz, folders e adesivos) foi
elaborado pela equipe técnica do Ibama de Natal a partir da idéia de se criar uma imagem que pudesse
atingir o público de maneira lúdica sem, contudo, criar simpatia pelo caramujo que seria esmagado e
enterrado em quantidades gigantescas. A arte final do cartaz pode ser aproveitada em qualquer região do
país, desde que se façam as devidas adaptações na data da campanha e no rodapé, local onde vão as
assinaturas dos realizadores, patrocinadores e apoiadores. O mesmo se aplica aos adesivos. O Ibama
fornece a arte final das peças publicitárias gratuitamente. A impressão deve ser feita pela prefeitura que,
normalmente, dispõe de recursos de maneira ágil para o pagamento de material de divulgação de ações
que envolvem a saúde pública os interesses difusos da comunidade.
A experiência de Parnamirim/RN nos mostrou que vale a pena investirmos nosso tempo e os
recursos de que dispomos no corpo-a-corpo com os jornalistas. Se não houver condições de os repórteres
irem até o local do treinamento, pode-se fazê-lo dentro da redação, para os funcionários do jornal que
tiverem interesse. A idéia é manter um bate-papo lastreado por informações técnicas seguras,
estabelecendo uma relação de confiança entre fonte e jornalistas.
Afinal, eles são importantes para nos ajudar a fazer a informação fluir e nós podemos colaborar
pautando a Imprensa com boas matérias de interesse público e com informações técnicas que possam
fundamentar os profissionais da área. A humanização na relação com a Imprensa, o encontro, a entrevista
coletiva, o treinamento, são formas de nos aproximarmos e nos fazermos entender de maneira objetiva,
mas sensível, lembrando sempre que meio ambiente é um problema que interessa a todos os cidadãos e
que cada um pode fazer sua parte para ajudar a cuidar da Terra.
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PALAVRAS E CONCEITOS-CHAVE PARA A CAMPANHA
Para sermos fiéis às recomendações dos especialistas, decidimos trabalhar com alguns conceitos e
palavras-chave na divulgação da campanha e que nos parecem ser os termos mais apropriados para formar
na mentalidade do público uma percepção correta da questão. Entre os termos que usamos, destacamos:
Responsabilidade social nas questões ambientais: A partir da Constituição Federal de 1988,
definiu-se que todos temos direito a um meio ambiente saudável e equilibrado, na mesma medida em que
temos também responsabilidades comuns em relação ao tema. Tratamos, então, de sensibilizar os
jornalistas considerando-os, primeiramente, cidadãos e depois, cidadãos com a prerrogativa de informar os
demais membros da comunidade sobre os problemas ambientais;
Ameaça à biodiversidade: Primeiro contextualizamos os jornalistas dentro do conceito de
biodiversidade, relacionando os biomas brasileiros, suas riquezas naturais e as ameaças que essa
biodiversidade sofre a partir das ações impensadas do ser humano.
Espécies exóticas: O que são as espécies exóticas invasoras e as conseqüências da
contaminação biológica que elas provocam foram outro aspecto discutido no âmbito da campanha;
Controle versus erradicação: Quando se trata das espécies invasoras, a palavra é sempre
controle e nunca o extermínio, pois é praticamente impossível do ponto de vista técnico erradicar uma
espécie invasora depois que ela já está estabelecida no meio ambiente.
Sem criar pânico: A idéia é gerar um clima de tranqüilidade, afinal o problema pode ser controlado
e as doenças graves que o caramujo pode transmitir ainda não foram detectadas, por enquanto.
Estes conceitos norteadores do treinamento bem como dos releases para Imprensa são muito úteis
e devem ser bem compreendidos pelos divulgadores de modo que os objetivos finalistas de informar
corretamente sobre o caramujo sejam suplantados, oferecendo o máximo de informação possível para
melhorar a visão que os jornalistas têm sobre as questões ambientais. Recomendamos tal procedimento em
qualquer iniciativa que envolva a divulgação de informações ao público no âmbito deste Plano de Ação.
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ANEXO IV
TIRANDO A LIMPO A PRAGA DOS CARAMUJOS AFRICANOS
Entrevista da Dra. Silvana Carvalho Thiengo, Pesquisadora Titular do Departamento de Malacologia
do Instituto Oswaldo Cruz em 23 de janeiro de 2004, para o Setor de Imprensa da Fiocruz
Achatina fulica Bowdich, 1822, conhecido como caramujo africano, foi introduzido no país em
substituição ao escargot na década de 1980, provavelmente no Paraná. Porém as tentativas de cultivo e
comercialização fracassaram em diversos estados, já que a dieta alimentar brasileira não costuma incluir
este tipo de iguaria. Por irresponsabilidade ou desinformação, esses criadores soltaram os caramujos no
ambiente silvestre e, como se reproduzem muito rápido e não possuem predadores naturais aqui, hoje o
caramujo africano é encontrado em praticamente todo o país. Está presente inclusive na região amazônica,
o que é preocupante porque compete com a fauna nativa e pode causar desequilíbrios ecológicos. Na Ilha
Grande, no litoral do Estado do Rio de Janeiro, a situação já é emergencial pela quantidade de animais e
demanda uma intervenção do poder público para o controle da praga e esclarecimento da população.
Experiências em outros países mostram que em sistemas insulares, como é o caso da Ilha Grande, o
desequilíbrio ambiental deflagrado pelo caramujo africano pode ser desastroso.
Os problemas causados pelo aumento das populações do caramujo gigante africano no Brasil
começaram a ser notados há cerca de quatro anos. Entre equívocos e exageros, a divulgação de que os
animais transmitiriam doenças capazes de levar à morte fez com que o pânico, associado ao pouco
conhecimento científico sobre a espécie, obscurecesse questões fundamentais, como a perda da
biodiversidade nos nossos ecossistemas.
O caramujo africano pode de fato transmitir ao homem os vermes que causam peritonite e
meningite. Potencialmente, esse molusco pode hospedar dois parasitos: 1- Angiostrongylus cantonensis
Chen,1935 responsável por um tipo de meningite principalmente na Ásia, havendo alguns casos descritos
em Cuba, Porto Rico e Estados Unidos. Embora no Brasil não haja registro dessa parasitose, sua
introdução é possível, principalmente em regiões costeiras, próximas às áreas portuárias, através de ratos
de navios que chegam de países asiáticos; 2- Angiostrongylus costaricensis Morera & Céspedes, 1971
presente desde o sul dos Estados Unidos até o norte da Argentina, capaz de levar a um quadro infeccioso
grave conhecido como abdome agudo, que pode levar à morte. Raramente a doença evolui de forma tão
severa, permanecendo na maior parte das vezes assintomática ou comportando-se como uma parasitose
comum. Conhecida como angiostrongilose abdominal, essa doença é transmitida por caramujos nativos, e
não pelo gigante africano. Não há, inclusive, registro de exemplares de A. fulica naturalmente infectados no
Brasil e, além disso, estudos em laboratório também indicam que A. fulica não é uma boa transmissora
dessa parasitose. A infecção humana acontece principalmente pela ingestão de hortaliças contaminadas
com as larvas do verme, presentes no muco deixado pelo molusco ao se movimentar. A profilaxia é simples:
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após serem lavadas em água corrente, as hortaliças devem ser deixadas de molho em solução de água
sanitária a 1,5% (mais ou menos uma colher de sobremesa de água sanitária diluída em 1L de água)
durante 15 a 30 minutos. Na região sul do país encontra-se a maioria dos casos de angiostrongilose
abdominal.
Devido à toxidade dos moluscicidas existentes atualmente, sua utilização não é recomendada. A
melhor forma de controle e erradicação é a catação manual dos indivíduos e dos ovos, seguida da
destruição dos mesmos, seja por incineração ou por água fervente. Estes cuidados são necessários porque
os caramujos podem sobreviver se simplesmente descartados no lixo ou jogados em rios. Apesar de nunca
terem sido encontrados caramujos africanos infectados no Brasil e embora até onde se sabe, a larva não
seja capaz de penetrar na pele, é aconselhável usar luvas ou proteger as mãos com sacos plásticos ao
manipulá-los. Como não existem estudos conclusivos sobre esta espécie exótica, é possível que possam
abrigar parasitos que causem doenças em animais, por exemplo.
Além da questão ambiental e da saúde humana e animal, esses caramujos são também
considerados pragas agrícolas, pois alimentam-se vo razmente de vários tipos de plantas ornamentais e de
culturas de subsistência. Quanto à criação do caramujo africano visando à comercialização, em vários
países do mundo este tipo de malacocultura é terminantemente proibido.
Preocupada com os problemas causados por essa espécie no Brasil, em outubro de 2001 a
Sociedade Brasileira de Malacologia (SBMa) enviou uma carta ao Ministério da Agricultura e Abastecimento
(MAPA) solicitando providências para o controle desses caramujos. O Parecer 003/03 publicado pelo Ibama
e pelo Ministério da Agricultura considera ilegal a criação de caramujos africanos no país, determina a
erradicação da espécie e prevê a notificação dos produtores sobre a ilegalidade da atividade. Este parecer
vem reforçar a Portaria 102/98 do Ibama, de 1998, que regulamenta os criadouros de fauna exótica para
fins comerciais, com o estabelecimento de modelos de criação e a exigência de registro dos criadouros
junto ao Ibama. Mesmo assim, a prática da cultura dessa espécie ainda é comum.
Um documento com informações sobre os caramujos africanos e medidas de controle adequadas
está sendo preparado por especialistas na área e deve ser distribuído às Secretarias Estaduais e Municipais
de Saúde. A questão dos caramujos africanos também foi tema no Congresso Nacional de Zoologia, que
aconteceu em Brasília em fevereiro.