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CLIA CRISTINA GOMES MACIEL
EDUCAR PARA A SOBREDOTAO
Orientador: Rafael Silva Pereira
Escola Superior de Educao Almeida Garrett
Lisboa
2012
7/23/2019 Clia Cristina Gomes Maciel - Educar para a Sobredotao.pdf
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CLIA CRISTINA GOMES MACIEL
EDUCAR PARA A SOBREDOTAO
Escola Superior de Educao Almeida Garrett
Lisboa
2012
Tese apresentada para a obteno de grau deMestre em Cincias da Educao na especialidadede Educao Especial e Domnio Cognitivo e Motorconferido pela Escola Superior de Educao AlmeidaGarrett.
Orientador: Rafael Silva Pereira
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Escola Superior de Educao Almeida Garrett
Agradecimentos
Nenhum projeto de vida se concretiza por si s. Ao longo deste percurso foi-me gratopoder contar com o apoio e incentivo de muitas pessoas. Entre todos, quero exprimir o meu
reconhecimento queles que mais diretamente se envolveram, na certeza de que s assim
este projeto tem significado.
Ao Professor Doutor Rafael da Silva Pereira, agradeo o encorajamento permanente,
a leitura e reviso sempre pronta e atenta, as sugestes oportunas e, acima de tudo, a
incansvel disponibilidade e o inigualvel profissionalismo com que pauta o seu trabalho e
com que orientou esta tese.
A ti Marco, agradeo a presena constante na minha vida e o apoio incondicional nos
momentos bons e menos bons desta caminhada. E tudo o que as palav ras no dizem
Ao meu pequeno Duarte, apesar da sua tenra idade, agradeo a sua ingenuidade ao
compreender que a me tinha que estudar e por isso no podia brincar.
minha famlia agradeo o suporte afetivo para a realizao desta tarefa.
Aos professores e professoras que colaboraram ao disponibilizarem-se para
responder ao questionrio (Apndice n. 1), que me permitiu obter dados para esta
pesquisa.
Dr. Cristina Palhares, presidente da ANEIS Associao Nacional para o Estudo
e a Interveno na Sobredotao de Braga, de quem recebi informaes sobre os
programas em curso, no apoio e interveno s crianas sobredotadas, e peladisponibilizao de bibliografia atualizada e artigos sobre a sobredotao.
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Educar para a sobredotao
Resumo
No decurso dos ltimos anos, tem-se vindo a reconhecer o aluno como o centro da
ao educativa. neste contexto de abertura diferena que se comea a registar uma
maior sensibilidade social, poltica e educativa para com as necessidades educativas
especiaisdos sobredotados.
A pertinncia deste trabalho est relacionada com a maximizaodo potencial de
um aluno sobredotado em contexto de sala de aula, adequando as prticas educativas s
necessidades do aluno sobredotado de forma a promover o seu talento e de potencializartodas as suas capacidades de aprendizagem, sem esquecer as demais facetas do seu ser.
O trabalho organiza-se numa componente terica e numa componente emprica. Na
primeira e na segunda parte, feita uma sistematizao da informao mais relevante na
rea dos sobredotados, apoiada na literatura da especialidade e tambm na prtica
profissional. Na terceira parte, ser apresentada a questo de partida, o seu objetivo geral,
as subquestes de investigao e respetivos objetivos especficos e ser feito um
aprofundamento compreensivo da situao problema onde se delinear o mtodo e a
metodologia a adotar no trabalho de investigao. No final do trabalho, sero apresentados,analisados e discutidos os resultados dos questionrios.
Palavras chave: sobredotao, interveno, aprendizagem, necessidades educativas,
incluso
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Abstract
In recent years, student has being recognized as the center of educational activity. It
is in this openness context to difference that a bigger social, politics and educational
sensibility in relation to special education needs is starting to appear.
The relevance of this work is connected to the potential maximization of a gifted
student in a classroom context, adapting educational practices to the needs of gifted student
in order to promote its talent and leverage all his learning capabilities, without forgetting all
the dimensions of his "being".
The work is organized in a theoretical and empirical component. The first and
second parts, is made a systematization of the most relevant information in gifted area,supported by specialized literature and also professional practice. In the third part, the
starting question will be presented, its overall goal, the research sub questions and
respective specific goals and will be made a deeper understanding of the problem situation
where will be outlined the method and methodology to adopt in the research work. At the end
of the work the quest results will be presented, analyzed and discussed.
Keywords: giftedness, speech, learning, educational needs, inclusion
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NDICE GERAL
NDICE DE FIGURAS______________________________________________________ vii
NDICE DE QUADROS_____________________________________________________ viiINTRODUO ___________________________________________________________ 1
PARTEI - SOBREDOTAO: CONCEITO, MODELOS TERICOS, CARACTERSTICAS
EIDENTIFICAO________________________________________________________ 6
CaptuloI -ASobredotao ______________________________________________ 7
1.1 - Evoluo do Conceito de Sobredotao ________________________________ 8
1.2 - Mitos e Falsos Conceitos___________________________________________ 10
CaptuloII - ModelosTericosAtuais _____________________________________ 12
2.1 - A Teoria Trirquica da Inteligncia de Sternberg ________________________ 132.2 - O Modelo Diferenciado de Sobredotao e Talento de Gagn ______________ 13
2.3 - A Teoria das Inteligncias Mltiplas de Gardner _________________________ 15
2.4 - A Conceo de Sobredotao dos Trs Anis de Renzulli _________________ 17
2.5 - O Modelo Multifatorial da Sobredotao de Mnks _______________________ 19
CaptuloIII -CaractersticasdosSobredotados_____________________________ 20
3.1 - Caractersticas Intelectuais _________________________________________ 21
3.2 - Caractersticas Fsicas ____________________________________________ 23
3.3 - Caractersticas Educativas e Profissionais _____________________________ 233.4 - Caractersticas Sociais e Emocionais _________________________________ 24
3.5 - Caractersticas Gerais _____________________________________________ 24
CaptuloIV - IdentificaodeAlunosSobredotados _________________________ 26
4.1 - O Papel do Professor na Identificao de Alunos Sobredotados ____________ 27
4.2 - Instrumentos na Identificao de Alunos Sobredotados ___________________ 29
PARTEII - EDUCARPARAASOBREDOTAO ______________________________ 35
Captulo I - Interveno Educativa Junto de Alunos Sobredotados _____________ 36
1.1 - A Incluso de Alunos Sobredotados __________________________________ 37
1.2 - Problemas e Necessidades Escolares dos Alunos Sobredotados ___________ 38
1.3 - Enquadramento Legal _____________________________________________ 42
1.4 - O Papel dos Professores no Desenvolvimento dos Alunos Sobredotados _____ 43
1.5 - Consequncias da Falta de Atendimento ______________________________ 46
CaptuloII -MedidasEducativasEspecficas_______________________________ 49
2.1- Adaptao e Diferenciao Curricular _________________________________ 50
2.2 - Acelerao ______________________________________________________ 51
2.3 - Agrupamento ____________________________________________________ 53
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2.4 - Enriquecimento __________________________________________________ 54
2.5 - Outras Estratgias ________________________________________________ 56
2.6 - Avaliao dos Programas Educativos _________________________________ 58
2.7 - Articulao e Complementaridade das Prticas Educativas ________________ 59
PARTE III - METODOLOGIA DA INVESTIGAO ______________________________ 61
CaptuloI- Situaoproblema___________________________________________ 62
1.1 - Questo de Partida _______________________________________________ 63
1.2 - Subquestes de Investigao _______________________________________ 63
1.3 - Objetivo Geral ___________________________________________________ 63
1.4 - Objetivos Especficos _____________________________________________ 64
1.5 - Aprofundamento Compreensivo da Situao Problema ___________________ 64
CaptuloII -TratamentodeDados, AnliseeDiscussodeResultados_________ 662.1 - Definio da Amostra _____________________________________________ 67
2.2 - Tratamento de Dados _____________________________________________ 69
2.3 - Anlise e Discusso de Resultados __________________________________ 69
CONCLUSES__________________________________________________________ 86
REFERNCIASBIBLIOGRFICAS __________________________________________ 91
LEGISLAOCONSULTADA______________________________________________ 93
WEBGRAFIA____________________________________________________________ 94
APNDICEI ______________________________________________________________ i
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NDICE DE FIGURAS
Fig. 1 - Modelo diferenciado de Sobredotao e Talento 14
Fig 2 - Modelo dos Trs Anis de Renzulli 17
Fig. 3 - Modelo Multifatorial da Sobredotao de Mnks 19
Fig. 4 - Composio, funes e responsabilidades de uma equipa multidisciplinar 31
NDICE DE QUADROS
Quadro I - Estruturas Cerebrais presentes nas IM 15
Quadro IICaractersticas distintivas das crianas sobredotadas 25
Quadro III - Processos de identificao e suas limitaes 33Quadro IVCaractersticas e potenciais problemas escolares associados
sobredotao 40
Quadro V - Atitudes dos professores face a um aluno sobredotado 45
Quadro VI Questo 1 - Sexo 67
Quadro VII Questo 2 - Idade 67
Quadro VIII Questo 3Formao Acadmica 68
Quadro IX Questo 4Tempo de servio 68
Quadro X Questo 5Possui alguma formao no mbito da educao especial? 70
Quadro XI Questo 6Sente necessidade de ter mais formao nessa rea? 70
Quadro XII Questo 7J lecionou crianas sobredotadas? 71
Quadro XIII Questo 8Na escola onde leciona existem crianas sobredotadas? 71
Quadro XIV Questo 9A escola possui materiais e tcnicos especializados para apoiar
alunos sobredotados? 72
Quadro XV Questes 10, 11, 12 e 13 73
Quadro XVI Questo 14 - Concorda com a criao de turmas diferenciadas para este tipo
de alunos? 74
Quadro XVII Questo 15 - Concorda com a concluso do 1. ciclo em 3 anos? 75
Quadro XVIII Nvel do domnio pessoal e social 76
Quadro XIX Nvel do domnio das aprendizagens 77
Quadro XX Nvel do domnio da motivao 79
Quadro XXI Nvel do domnio da criatividade 80
Quadro XXII Nvel do domnio da liderana 81
Quadro XXIII Nvel do domnio sociomoral 82
Quadro XXIVPrticas educativas perante alunos sobredotados 83
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INTRODUO
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Escola Superior de Educao Almeida Garrett
A sobredotao um assunto controverso mas ao mesmo tempo cativante em
Educao. Desta forma, surge uma vontade de aprofundar este tema no sentido de
melhorar a nossa interveno junto deste grupo de crianas. Tendo em conta que elas
existem nas nossas salas de aula, torna-se indispensvel desenvolver uma resposta
educativa desejvel.
A presente dissertao insere-se no mbito do Mestrado em Cincias da Educao
na especialidade de Educao Especial e Domnio Cognitivo e Motor da Escola Superior de
Educao Almeida Garrett para a obteno do grau de Mestre, sob a orientao do
Professor Doutor Rafael Silva Pereira. O tema da tese incide sobre a temtica da
sobredotao, com o objetivo de procurar contribuir para uma reflexo sobre as questes
inerentes rea da sobredotao no que se refere maximizaodo potencial de um aluno
sobredotado em contexto de sala de aula, adequando as prticas educativas snecessidades do aluno sobredotado de forma a promover o seu talento e de potencializar
todas as suas capacidades de aprendizagem, ou seja, educar para a sobredotao.
O interesse pessoal pela temtica da sobredotao adquiriu maior relevo quando,
no ano letivo 2008/2009, trabalhamos com uma criana, numa turma de 1. ano do ensino
bsico, com aptides excecionais em todas as reas curriculares e sobretudo na arte do
desenho. Nessa altura, no sentido de perceber de que forma que poderamos aproveitar o
potencial do aluno, depois de conversas com colegas professores, uma colega em particular
que tinha um filho sobredotado, informou-nos acerca a ANEIS (Associao Nacional para oEstudo e Interveno na Sobredotao) em Braga e do atendimento que fazem s crianas
sobredotadas.
A urgncia de perceber quais as melhores prticas e atitudes a ter perante uma
criana sobredotada, fomentou uma necessidade de procurar informao acerca dessa
problemtica. Esta pesquisa, juntamente com o trabalho dirio com o aluno em questo,
desenvolveu uma atitude de respeito e de sensibilidade perante as necessidades educativas
de uma criana sobredotada. No foi tarefa fcil. Pois se por um lado se torna desafiante
mediar aprendizagens com estas crianas, por outro, torna-se intimidante saber que
podemos desapontar e provocar a desmotivao neste tipo de alunos.
Por tudo isto, o tema sobre a sobredotao ficou sempre associado a uma possvel
investigao, de forma que esta se relacionasse com a prtica educativa, no sentido de
ajudar a tomar conscincia das questes crticas relativas aula, a criar predisposio para
a reflexo, a assumir valores e atitudes e estabelecer congruncia entre as teorias e as
prticas.
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A escolha do tema prendeu-se com a deficitria abordagem da sobredotao no
mbito das polticas educativas atuais bem como com a falta do seu conhecimento e
aplicao no sistema de ensino.
Segundo Renzulli (1977) citado por Correia (2008, p.53), os alunos sobredotados
so aqueles que possuem uma capacidade intelectual significativamente acima da mdia,
nveis superiores de criatividade e um nvel elevado de motivao que leva a um
desempenho excecional de tarefas, conduzido por uma persistncia continuada.
O entendimento de que os alunos com alto rendimento demonstraro sempre
sucesso, independentemente das suas experincias educativas revela-se inconsistente,
perante estudos j realizados e descritos na literatura de especialidade.
O acompanhamento dos alunos sobredotados tem causado uma acentuada
controvrsia entre os professores e educadores. A escola, assumindo a sua funo deescola inclusiva, onde os professores podem desempenhar um papel determinante na
orientao e realizao excelente dos alunos, torna-se num local onde todos os alunos,
incluindo os sobredotados, devem beneficiar de servios apropriados. No entanto, existem
muitas dvidas e divergncias acerca das estratgias mais indicadas para o
acompanhamento a estes alunos.
Tendo em conta que os alunos sobredotados apresentam algumas caractersticas
comuns, mas tambm apresentam muitas especificidades, em termos de caractersticas
pessoais, de influncias sociais e de oportunidades de realizao, as respostas educativastambm tero que ser diferenciadas.
Muitas vezes so alunos com rara capacidade de ateno e de memriaem determinados domnios; curiosos e persistentes em certos temas;desejosos de aprender mais e de forma mais rpida e independente;metacognitivos na sua forma de pensar e de resolver problemas; criativosnas suas produes; o que nem sempre se coaduna com aulas pautadaspor grande planificao prvia e a pensar num pretenso aluno mdio.Importa, ento, aumentar a sensibilizao e a formao dos professores narea da sobredotao.(Oliveira, 2007, p.31).
Segundo Oliveira (2007, p.71), as medidas educativas mais direcionadas ao apoio
dos alunos sobredotados so a acelerao escolar, o agrupamento de alunos e os
programas de enriquecimento.No nosso pas, embora que de forma pouco notria ao nvel
da legislao, j de denota alguma ateno educativa diferenciada aos alunos sobredotados
com a possibilidade de uma entrada antecipada na escola, tendo em conta o caso da
precocidade do desenvolvimento. A questo central pensar quais so as necessidades
especficas destes alunos.
1Oliveira, E. P. L. (2007). Alunos sobredotados: A acelerao escolar como resposta educativa. Dissertao deDoutoramento. Braga: Instituto de Educao e Psicologia. Universidade do Minho. P. 3
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Para Serra (2004), as crianas sobredotadas com desequilbrio de desenvolvimento
nas suas capacidades, podem ter de enfrentar situaes de no aceitao que podem
degenerar em frustrao, desmotivao e tambm em problemas de foro psicolgico e/ou
fisiolgico o que significaria uma perda irreversvel de talentos que poderiam ter sido uma
mais valia para a humanidade.
Desta forma, as escolas e os professores no podem continuar a demitir-se das
necessidades especficas destes alunos.
Este trabalho encontra-se organizado em trs partes, divididas por captulos.
Na primeira parte e na segunda parte, fazemos uma reviso da literatura no domnio,
enquanto na terceira parte, composta por dois captulos, conciliamos uma reviso crtica da
mesma com a descrio do estudo emprico e os resultados obtidos na investigao.Assumindo desde logo uma perspetiva multidimensional do conceito de
sobredotao, a primeira parte, Sobredotao: conceito, modelos tericos, caractersticas e
identificaoencerra em si todo o referencial terico relativo sobredotao. No primeiro
captulo, apresentamos a evoluo da gnese da definio de sobredotao e fazemos
referncia a alguns mitos associados aos sobredotados. No segundo captulo, procurou-se
traar um enquadramento terico e conceptual dos modelos de inteligncia. De seguida, no
terceiro captulo, opera-se uma caracterizao fsica, psicolgica, social e emocional das
crianas sobredotadas, procurando desmistificar esteretipos que coexistem ao longo dotempo. Dedicamos uma parte importante ao quarto captulo, referente ao processo de
identificao e sinalizao de crianas sobredotadas, destacando a importncia do papel do
professor na identificao de alunos sobredotados, bem como os instrumentos utilizados na
sua identificao.
Numa tica de organizao estrutural da dissertao, partindo do geral para o
particular, a segunda parte, com o ttulo Educar para a soberdotao enfatizamos a
interveno educativa junto de alunos sobredotados e fazemos referncia s medidas de
atendimento educativo, refletindo em torno da sua aplicao e exequibilidade no seio do
sistema educativo portugus.
A terceira parte, Metodologia da Investigao, composta por dois captulos. No
primeiro, descrevemos a metodologia do estudo emprico que orientou a nossa investigao,
apresentamos as questes e os objetivos que pautaram o estudo, a caracterizao da
amostra, bem como o procedimento metodolgico adotado. No segundo captulo,
apresentamos os resultados, procurando coment-los e integr-los tendo em conta a
satisfao dos objetivos especficos do estudo. Ser adotada a norma APA para citaes e
referenciao bibliogrfica.
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Por ltimo, esta dissertao apresenta uma concluso do trabalho realizado onde
queremos destacar os aspetos mais relevantes resultantes deste estudo.
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PARTE I
SOBREDOTAO: CONCEITO, MODELOSTERICOS, CARACTERSTICAS E IDENTIFICAO
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CAPTULO I
ASOBREDOTAO
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1.1-EVOLUO DO CONCEITO DE SOBREDOTAO
O valor dado s crianas talentosas remonta ao tempo da Grcia Antiga, onde a
Academia de Plato selecionava jovens pela sua inteligncia e desempenho fsico,
independentemente da sua classe social e a podiam estudar gratuitamente. Na China,
desde o sculo VII, consideravam que a criana talentosa no se desenvolvia sem
educao apropriada, pensamento que continua forte ainda hoje, quando as Escolas do
Tempo Vago vm colocando alunos chineses do Ensino Mdio em posio de destaque em
competies internacionais. No Japo, a partir do sculo XVII, as crianas mais ricas
recebiam educao especial. Hoje, embora todos tenham acesso escola, a educao
superior atingida por mrito e no para todos.
Oliveira refere que (2007, p.29) a sobredotao, na primeira metade do sculo
vinte, era definida atravs dos resultados dos testes de QI. No entanto, restringir o conceito
de sobredotao aos testes de QI muito redutor, uma vez, que no se prev outras
caractersticas da pessoa.
Assim, a partir da dcada de 60, segundo Oliveira,
() a criatividade passou a ser tambm considerada como atributo dainteligncia e da sobredotao (Getzels & Jackson, 1975; Torrance, 1962),bem como a motivao (Renzulli, 1986), o domnio de conhecimento(Feldhusen, 1986), o sucesso na realizao escolar e profissional (Rimm,1988; Stanley & Benbow, 1986), entre outras caractersticas maisespecficas e as determinantes ambientais inerentes aos contextos sociaisem que os indivduos interagem (Howe, 1990; Mnks, 1988). (Oliveira,2007, p. 29)2
Atualmente, embora no exista uma definio unnime entre os investigadores
consensual que a sobredotao implica o reconhecimento do talento em vrias dimenses e
que este se pode manifestar de diversas maneiras.
Oliveira (2007, p.4) acrescenta que atualmente existem diferentes teorias sobre a
sobredotao, sendo elas a Teoria Trirquica da Inteligncia de Sternberg, ao ModeloDiferenciado de Sobredotao e Talento de Gagn, a Teoria das Inteligncias Mltiplas de
Gardner, Conceo de Sobredotao dos Trs Anis de Renzulli e o Modelo Multifatorial
da Sobredotao de Mnks.
Acerca da Teoria Trirquica da Inteligncia de Sternberg (2000), Oliveira (2007,
p.16) menciona que existem mltiplas componentes da sobredotao, mas tambm
diversos tipos de sobredotao, conferindo um carcter plural a este constructo. Mais
concretamente, quando aplicada sobredotao, a Teoria Trirquica da Inteligncia,
2Oliveira, E. P. L. (2007). Alunos sobredotados: A acelerao escolar como resposta educativa. Dissertao deDoutoramento. Braga: Instituto de Educao e Psicologia. Universidade do Minho. P. 29
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distingue trs tipos de sobredotao intelectual: analtica, criativa e prtica. 3 O indivduo
sobredotado poder destacar-se apenas num, em dois, ou nos trs domnios em simultneo.
No Modelo Diferenciado de Sobredotao e Talento de Gagn, Oliveira (2007, p.16-
17) refere que este autor, reconhece a sobredotao, mas vai mais longe ao delinear a
forma como talentos especficos podem emergir das influncias e interaes ambientais
e que uma herana gentica, enquanto os talentos so o produto de uma interao de
predisposies naturais com o ambienteO desenvolvimento de talentos , em grande
parte, influenciado pela aprendizagem e pela prtica.4
Na Teoria das Inteligncias Mltiplas de Gardner, A inteligncia ser constituda
por mltiplas habilidades, distintas entre si, pelo que se parte da premissa de que existem
mltiplas inteligncias, as quais so independentes entre si. Oliveira (2007, p. 18).5 As
mlttiplas inteligncias que Gardner refere so a lingustica, a lgico-matemtica, a espacial,a musical, a corporal-cinestsica, a interpessoal e a intrapessoal.
A Conceo de Sobredotao dos Trs Anis de Renzulli (1978) engloba
capacidades gerais acima da mdia, altos nveis de implicao na tarefa e altos nveis de
criatividade. Nesta conceo a capacidade intelectual perde a sua exclusividade, ao
articular-se com a capacidade criativa; tem de estar em interaco a produo convergente
(lgica, inteligncia geral) e a produo divergente (criatividade); incorporam-se fatores
volitivos e motivacionais; centra-se mais no prprio sujeito do que na sociedade; e tem em
conta a influncia da tarefa ou da situao, dado que considera que existe um domnioespecfico de excelncia, segundo diferentes tipos de talentos.
Ainda que o conceito dos trs anis de Renzulli constitua uma importante assero
no mbito das definies existentes, o seu modelo supe que as caractersticas pessoais
tm uma natureza esttica, posta em relevo mediante a referncia constante a
caractersticas individuais. Contudo, os marcos sociais nos quais tm lugar os processos
evolutivos so de vital importncia, pois os indivduos sobredotados no existem no vazio
antes actuam de forma dinmica com o ambiente circundante. A importncia da famlia e a
relevncia dos marcos sociais, como a escola e o grupo de pares, tm sido aspetos
recentemente salientados pelos estudos realizados Mnks (1988). Monks, no Modelo
Multifatorial da Sobredotao, apresenta uma perspetiva do desenvolvimento, em que
salienta a importncia que as interaes tm na manifestao da sobredotao. Nesta teoria
a sobredotao engloba tambm variveis psicossociais.
3
4 e 5 Oliveira, E. P. L. (2007). Alunos sobredotados: A acelerao escolar como resposta educativa. Dissertaode Doutoramento. Braga: Instituto de Educao e Psicologia. Universidade do Minho. P. 16 -18.
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1.2-MITOS E FALSOS CONCEITOS
Os mitos so crenas populares sem fundamento objetivo ou cientfico. So difceis
de modificar uma vez que so assumidos por uma comunidade. Os mitos e os falsos
conceitos impendem-nos de julgar com exatido e por conseguinte, de atuar de forma
correta.
Por conseguinte, a rea de educao para os sobredotados tem levado a cabo um
conjunto de pesquisas e estudos, no sentido de estabelecer um nmero de conceitos e
ideias bsicas que desacreditam e abolem os mitos e falsos conceitos que envolvem as
crianas sobredotadas.
A sensibilizao da comunidade escolar para a problemtica da sobredotao
passa, em primeiro lugar, pela necessidade de descodificar um conjunto de mitos, que
segundo alguns autores, podem mesmo tratar-se de preconceitos, urgentes de serem
desmitificados.
Guenther (2000) apresenta uma breve descrio de alguns mitos associados s
crianas sobredotadas e realidade que se contrape a cada um.
Eles conseguem desenvolver-se sozinhos e sem ajudano totalmente verdade,
uma vez que, por vezes muitas crianas talentosas ficam sem incentivo, desmotivadas e
com menos empenho e menos disciplina, necessrios para desenvolver o seu potencial.Muitas vezes, nas escolas o que acontece que este tipo de alunos demonstra
aborrecimento e falta de interesse.
Eles so fisicamente fracos e emocionalmente instveis um mito falso. H
estudos que demonstram que as crianas sobredotadas, como grupo, ao longo prazo,
tendem a ser fisicamente mais saudveis e mais fortes. Tambm como grupo, so mais
estveis emocionalmente, comparando com outras crianas da mesma idade. O que pode
acontecer, sugerindo dificuldades emocionais, quando a criana est sujeita a fortes
presses externas por parte dos adultos e isso dificultar as suas relaes emocionais comos adultos e/ou at com outras crianas. Estas reaes devem-se mais ao facto de serem
crianas do que de serem sobredotadas.
O talento desaparece, queima-se e crianas muito bem dotadas no so produtivas
por muito tempo na vida adulta mais uma ideia errada. Na realidade, os adultos bem
dotados so produtivos at idades muito avanadas e esta produtividade superior quando
comparada com outros da mesma faixa etria. No entanto, muitas das crianas, entre os 2 e
os 5 anos, que so tidas como sobredotadas, crescem e revelam-se normais quando
adultas. Mas esta situao remete-se para erros de identificao das crianas sobredotadas,
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que tm em conta apenas a precocidade. Posto isto, a precocidade poder ser um sinal de
altas capacidades mas no o nico. Como exemplo desta situao, temos o caso do
Einstein que apenas comeou a falar aos trs anos e no conseguia ler antes dos sete.
Relevar a precocidade como sinnimo de talento pode prejudicar a criana uma vez que cria
expetativas, desejos e esperanas no seu futuro, com os quais ela se sente menos capaz de
responder.
O Bem Dotado nasce assim e nada pode modific-lo, nem para mais e nem para
menosuma ideia falsa. A capacidade que a criana apresenta influenciada por fatores,
condies e variveis ambientais. A inteligncia uma caracterstica que pode ser nutrida,
modificada, recriada ou desenvolvida por condies que a criana encontra em termos
ambientais e de estimulao durante e pela experincia de vida e no algo fixo ou pr-
existente. A hereditariedade tambm muito importante e essencial, mas no o nicodeterminante da capacidade humana, nem o mais influente, depende totalmente da
interao, da estimulao e das condies ambientais para se realizar e se desenvolver.
Ainda sobre a problemtica dos mitos, Serra (2004) acrescenta mais alguns a
considerar:
Tm sempre bons resultados nem sempre isso acontece. Muitas vezes os
resultados ficam aqum das expetativas devido forma original de analisarem as questes,
o que os leva a responderem de forma desajustada.
So excecionais em tudo e rpidos na execuo de qualquer tarefa outra nooerrada. Embora se interessem por muitos assuntos, por vezes apresentam dificuldades e at
lentido na realizao de tarefas em algumas reas.
So uma minoria privilegiada no meio onde vivem falso. Por se sentirem
diferentes da maioria das crianas, por vezes isolam-se e excluem-se socialmente.
Tm caractersticas idnticas entre si e so um grupo homogneo- falso. Tal como
as outras crianas os sobredotados so diferentes entre si, na personalidade, nos
interesses, nas competncias ou ainda nas suas caractersticas.
Trabalhar de maneira diferente com os sobredotados privilegiar uma elite, o que
no democrticoeducar todas as crianas da mesma forma que no democrtico,
no assegura o direito diferena, nem valoriza os diferentes saberes e culturas.
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CAPTULO II
MODELOS TERICOS ATUAIS
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2.1-ATEORIA TRIRQUICA DA INTELIGNCIA DE STERNBERG
Sternberg (1985) apresentou uma teoria trirquica da inteligncia, a qual incide
sobretudo numa abordagem de processamento de informao do funcionamento intelectual
da pessoa. Na sua teoria Sternberg explica de que forma os sobredotados resolvem os
problemas, como interagem com os outros e de que forma essa interao se manifesta no
seu contexto. Esta teoria centra-se nos processos, nas estratgias ou nos elementos
funcionais e operativos que tornam possvel o acto inteligente ou a resoluo em si mesma.
De acordo com Sternberg, existem ento mltiplas componentes da sobredotao,
mas tambm diversos tipos de sobredotao, conferindo um carter plural a este constructo.
A Teoria Trirquica da Inteligncia distingue trs tipos de sobredotao intelectual:analtica, criativa e prtica. O autor considera que o funcionamento cognitivo, mais
concretamente os componentes ou processos do funcionamento intelectual, so elementos
bsicos e centrais para explicar a inteligncia humana e a sobredotao. Nesta ptica, o
intelecto tem em conta trs subcategorias essenciais:
individual: que explica os mecanismos internos do sujeito conducentes a uma
atuao inteligente;
experiencial: que permite especificar a relao que existe entre a inteligncia
excecional (que se manifesta numa tarefa ou situao determinada) e aquantidade de experincia que esta tarefa ou situao exige;
contextual: salientando a importncia do meio envolvente do sujeito para uma
conduta inteligente na vida quotidiana, recorrendo a estratgias de adaptao
ambiental, de seleo e de representao ou interiorizao.
2.2-OMODELO DIFERENCIADO DE SOBREDOTAO E TALENTO DE GAGN
O Modelo Diferenciado de Sobredotao e Talento de Gagn explica que a
sobredotao uma herana gentica, enquanto os talentos so o produto de uma
interao de predisposies naturais com o ambiente, ou seja, com os contextos fsicos e
sociais que envolvem o indivduo, nomeadamente a famlia e a escola. Segundo este autor,
o desenvolvimento de talentos , em grande parte, influenciado pela aprendizagem e pela
prtica.
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Segundo Oliveira (2007, p.17),o Modelo Diferenciado de Sobredotao e Talento
(MDST) apresenta quatro domnios de aptido (ou habilidades naturais): intelectual, criativo,
socio-afetivo e sensrio-motor6. Para Oliveira, nesta teoria a aprendizagem e o exerccio
contnuo destas habilidades ou aptides promovem o desenvolvimento de competncias,
favorecendo o talento numa determinada rea. Neste modelo, encontramos o fator sorte,
aliado parte gentica, aos fatores ambientais e a factores intrapessoais, conforme
podemos verificar na figura 1.
Fig. 1 - Modelo Diferenciado de Sobredotao e Talento7
6e
7Oliveira, E. P. L. (2007). Alunos sobredotados: A acelerao escolar como resposta educativa. Dissertao
de Doutoramento. Braga: Instituto de Educao e Psicologia. Universidade do Minho. P. 17
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2.3-ATEORIA DAS INTELIGNCIAS MLTIPLAS DE GARDNER
Howard Gardner (1999), na sua Teoria das Inteligncias Mltiplas (IM), apresenta
uma abordagem multidimensional, ampla e pragmtica da inteligncia, procurando
ultrapassar o reducionismo da perspetiva psicomtrica bastante centrada nas medidas de
QI.
A inteligncia ser constituda por mltiplas habilidades, diferentes entre si, pelo
que se parte da premissa de que existem mltiplas inteligncias, as quais so
independentes entre si. Apesar de diferentes, as inteligncias interagem entre si.
Podemos, ento, falar em sobredotao para qualquer uma das sete
formas de inteligncia que Gardner postula: lingustica, lgico-matemtica,espacial, musical, corporal-quinestsica, interpessoal e intrapessoal. Maistarde, o autor inclui nesta classificao um oitavo tipo de inteligncia: anaturalista, apontando ainda a possibilidade de mais duas: espiritual eexistencial. (Oliveira, 2007, p.318)
Com o propsito de permitir uma explanao mais detalhada de cada uma das
inteligncias, exceo da existencial, Coelho (2006, p.13) expe um quadro, elaborado
com base no mapa resumido de Thomas Armstrong sobre a Teoria das IM, apresentando as
estruturas cerebrais que esto envolvidas em cada uma.
Quadro I - Estruturas Cerebrais presentes nas IM9
IntelignciaComponentes
CentraisSistemas
SimblicosSistemas
NeurolgicosFatores de
Desenvolvimento
Lingustica
Sensibilidade aossons, estrutura,
significados e funesdas palavras e da
linguagem.
Linguagensfonticas
(porexemplo,Ingls).
Lobos frontal eTemporal
esquerdo (reade
Broca/Wernicke).
Explode nainfncia inicial epermanece at
velhice.
LgicoMatemtica
Capacidade dediscernir padres
lgicos ou numricos;Capacidade de lidar
com longas cadeias deraciocnio.
Linguagensde
computador.
Lobo parietalesquerdo,hemisfrio
direito.
Atinge o seu augena adolescncia eno incio da idade
adulta, mas asintrospeesmatemticassuperiores
declinam depoisdos 40 anos.
8Oliveira, E. P. L. (2007). Alunos sobredotados: A acelerao escolar como resposta educativa. Dissertao deDoutoramento. Braga: Instituto de Educao e Psicologia. Universidade do Minho. P. 31
9 Coelho, M. J. C. (2006). Sobredotao e competncias filosficasuma perspetiva transversal. Trabalho deSeminrio de Projeto. Porto. Escola Superior de Educao Paula Franssinetti. P. 13-14
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Espacial
Capacidade deperceber com
exatido o mundovisuo-espacial e de
realizar
transformaes nasprprias percees
iniciais.
Linguagensideogrficas
(por
exemplochins).
Regiesposteriores do
Hemisfrio
direito.
O pensamentotopolgico na
infncia inicial substitudo pelo
paradigmaeuclidiano por voltados 9-10 anos de
idade. A veiaartstica continuaforte na velhice.
CorporalCinestsica
Capacidade decontrolar os
movimentos doprprio corpo e de
manipular objetos comhabilidade.
Linguagemde sinais.
Cerebelo,gnglios basais,
crtex motor.
Variam em funoda componente ou
do domnio.
Musical
Capacidade deproduzir e apreciar
ritmo, tom e timbre;apreciao dasformas de
expressividademusical.
Sistemas
notacionaismusicais,cdigoMorse.
Lobo temporaldireito.
a inteligncia
que se desenvolvemaisprecocemente.
Intrapessoal
Capacidade dediscernir e responderadequadamente aosestados de humor,
motivaes e desejosde outras pessoas.
Sinaissociais (porexemplo,gestos e
expressesfaciais).
Lobos frontais,lobo temporal,
sistema lmbico.
A vinculaodurante os trs
primeiros anos crucial.
Intrapessoal
Acesso prpria vida
de sentimento ecapacidade dediscriminar as
prprias emoes;conhecimento dasforas e fraquezas
pessoais.
Smbolos doself (porexemplo,
nos sonhose trabalhosartsticos).
Lobos frontais,lobos parietais,sistema lmbico.
A formao dafronteira entre oself e o outro nos
trs primeiros anos crucial.
Naturalista
Percia em distinguirentre membros deuma espcie, em
reconhecer aexistncia de outrasespcies prximas e
em mapear asrelaes entre vriasespcies.
Sistemas declassificaode espcies;
mapas de
habitat.
reas do loboparietal
esquerdoso importantespara distinguir
entre seresvivos e
inanimados.
Surge em crianasmuito jovens; a
escolarizao ouexperincia
aumenta a percia
formal ou informal.
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2.4-ACONCEO DE SOBREDOTAO DOS TRS ANIS DE RENZULLI
A Teoria da Sobredotao dos Trs Anis envolve aspetos cognitivos, da
personalidade e as condies do ambiente. Renzulli apresenta um conjunto de
caractersticas conducentes a um comportamento sobredotado:
em termos cognitivos regista-se uma capacidade intelectual geral acima da
mdia, aptides e interesses especficos, boa compreenso e memorizao
da informao, excepcionalidade numa dada rea;
no domnio do pensamento criativo e produtivo, apresenta capacidade de
experimentao e aplicao dos conhecimentos adquiridos, variedade de
ideias e solues face aos problemas; ao nvel da liderana revela responsabilidade e capacidade de envolvimento
dos outros nos temas que prope;
nas artes plsticas demonstra originalidade ao combinar as ideias, os
mtodos e as formas de expresso artstica;
no que se refere habilidade motora, aprende e aplica de forma mais rpida
competncias manuais e fsicas;
apresenta um nvel de motivao e persistncia na tarefa elevado,
mostrando auto-suficincia e independncia.Esquematicamente, os trs grupos de caractersticas defendidos por Renzulli so
representados sob a forma de trs anis entrelaados (figura 2), cuja confluncia origina a
sobredotao.
Fig 2 - Modelo dos Trs Anis de Renzulli.
SOBREDOTAO
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No que se refere s habilidades excecionais, estas no tm que exprimir um
desenvolvimento excepcional ou excessivamente brilhante. Esta componente descreve
indistintamente:
habilidades especficas: capacidade para adquirir conhecimentos de umarea especfica ou para realizar uma ou mais actividades do tipo
especializado;
habilidades gerais: capacidade para processar informao, integrar
experincias que geram respostas adequadas de adaptao a novas
situaes e nvel de pensamento abstrato.
A motivao engloba perseverana, resistncia, trabalho rduo, prtica dedicada,
confiana em si mesmo e crena na prpria habilidade para realizar trabalhos importantes.Por sua vez, a criatividade uma funo de uma srie de caractersticas tais como a
originalidade de pensamento; a novidade do enfoque; a capacidade para ir alm do
convencional e dos procedimentos estabelecidos e a originalidade, a inovao ou a
singularidade da contribuio de uma pessoa. Em suma, refere-se capacidade do
indivduo para responder com fluidez, flexibilidade e originalidade. Por outras palavras, a
sobredotao requer necessariamente a interao entre estes trs componentes para uma
realizao criativo-produtiva. Caso assim no seja, estamos perante um talento simples ou
complexo, mas no perante uma sobredotao.
A teoria dos trs anis permite diferenciar a sobredotao do talento e modificar a
sua concetualizao, j que nela se perspetiva que:
a capacidade intelectual perde a sua exclusividade, ao articular-se com a
capacidade criativa;
tem de estar em interao a produo convergente (lgica, inteligncia geral)
e a produo divergente (criatividade);
incorporam-se fatores volitivos e motivacionais;
centra-se mais no prprio sujeito do que na sociedade;
tem em conta a influncia da tarefa ou da situao, dado que considera que
existe um domnio especfico de excelncia, segundo diferentes tipos de
talentos.
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2.5-OMODELO MULTIFATORIAL DA SOBREDOTAO DE MNKS
Mnks (1988) considerou que o modelo de Renzulli teria de ser ampliado, dado que
se deveria enquadrar a sobredotao dentro de um contexto evolutivo e social que
perspetivasse a natureza interativa do desenvolvimento humano. Para este autor, a vida
como perodo evolutivo dinmica e sofre diversos e complexos processos de
transformao. Estas transformaes so ainda mais evidentes na infncia e na
adolescncia, dado que a inteligncia no pode ser representada como uma capacidade
global pois vai experimentando uma importante diferenciao em diversos componentes. H
ainda que ter em conta a importncia destes perodos para o desenvolvimento intelectual,
que depende, em grande medida, de fatores sociais e do facto de serem perodos crticos de
vida, nos quais o indivduo est particularmente aberto a mudanas no pensamento criativo.
Segundo Mnks, os marcos sociais em que tm lugar os processos evolutivos so de
extrema importncia. Estes marcos sociais so a famlia, a escola e os pares.
Com base nestas acees, a conceo dos Trs Anis de Renzulli foi ampliada e
modificada por Mnks, de forma que ao modelo inicial se adicionaram os principais marcos
sociais. Esta ampliao deu lugar ao Modelo Multifatorial da Sobredotaorepresentado na
figura 3.
Fig. 3 - Modelo Multifatorial da Sobredotao de Mnks.
Escola
Famlia
Pares
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CAPTULO III
CARACTERSTICAS DOS SOBREDOTADOS
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A identificao dos alunos sobredotados numa tarefa complexa. Apesar de se
poderem generalizar algumas caractersticas nestas crianas, estas podero manifestar-se
de formas diferentes ou ainda demonstrarem diferenas interindividuais importantes.
Existem vrias listas de caractersticas o que demonstra a complexidade do conceito, na sua
generalidade.
As principais caractersticas das definies de sobredotao remetem-nospara os seguintes aspetos: a diversidade de reas em que a sobredotaopode ser demonstrada (intelectual, criatividade, artstica, liderana,acadmica); a comparao com outros grupos (com os pares da mesmaidade, experincia ou origem sociocultural) e o uso de termos queimpliquem a necessidade de desenvolvimento de um talento. (Council ofCurriculum Examinations and Assessment, 2006, citado por Pocinho, 2008,p. 310).
Em relao s diferentes reas do desenvolvimento, a criana ou jovem
sobredotado pode apresentar nveis diferenciados, isto , reas com desenvolvimento
superior a par de reas fracas (Terrassier, 1985).
Apresentaremos de seguida, mais detalhadamente, as caractersticas dos
sobredotados, sendo elas, intelectuais, fsicas, educativas e profissionais, sociais e
emocionais e gerais, propostas por diversos autores.
3.1-CARACTERSTICAS INTELECTUAIS
Abordar as caractersticas intelectuais da sobredotao implica considerar que estas
no se remetem a um estado homogneo ao nvel do funcionamento intelectual. Os estudos
referentes estrutura da inteligncia na sobredotao, apontam para a ideia de que as
diferenas nos sobredotados, por comparao com a populao normal, residem na
estrutura dos seus sistemas de processamento de informao.
A propsito das caractersticas intelectuais dos sobredotados, Aranha (2002, p.16-
18) apresenta uma distino entre caractersticas de aprendizagem e caractersticas de
pensamento criativo.
10 Pocinho, M. (2009). Superdotao: conceitos e modelos de diagnstico e interveno. In Portal da ScieloPortugal. P. 3
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3.1.1 - Caractersticas de Aprendizagem
Boa capacidade de observao, sobretudo para detalhes.
Capacidades de abstrao, de conceituao e de sntese bem desenvolvidas. Rpido insight das relaes de causa e efeito.
Resolvem os problemas mediante estratgias metacognitivas mais maduras,
empregando mais tempo no processo de planificao e chegando mais
rapidamente soluo do problema.
Cticos, crticos e avaliadores. Rapidez na identificao de inconsistncias.
Maior rapidez para alcanar, associar e generalizar informao.
Boa compreenso de princpios implcitos e generalizaes vlidas sobre
eventos, sobre pessoas e sobre objetos.
Perceo de semelhanas, diferenas e anomalias.
3.1.2 - Caractersticas de Pensamento Criativo
Pensamento fluente, capaz de produzir uma grande quantidade de possibilidades, de
consequncias ou de ideias correlacionadas.
Pensamento flexvel e original
Capacidade de perceber relaes entre objetos, ideias ou factos aparentemente no
relacionados.
Pensamento elaborado, que produz novos passos, ideias, respostas perante uma
ideia, uma situao ou um problema bsico.
Desejo de se distrair com assuntos complexos, motivados para situaes que
envolvem problemas a serem solucionados.
Curiosidade por diversos temas e situaes.
Prontido para o exerccio intelectual, para fantasiar e para imaginar.
Desinibidos intelectualmente, ao expressar opinies e ideias.
Sensibilidade para a beleza e para as dimenses estticas de um fenmeno.
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Em sntese, falar das caractersticas intelectuais da sobredotao implica ter
presente os seguintes aspetos:
As diferenas entre os que so e os que no so sobredotados, so tanto
quantitativas na sua natureza como qualitativas nas estratgias de resoluode problemas;
Os sobredotados so mais precoces, chegando a realizar funes mentais de
sujeitos normais de idades mais avanadas;
O sobredotado resolve os problemas mediante estratgias metacognitivas mais
maduras, empregando mais tempo no processo de planificao e chegando mais
rapidamente soluo do problema.
3.2-CARACTERSTICAS FSICAS
luz das investigaes atuais, no existe correlao entre a sobredotao e a
superioridade fsica.
3.3-CARACTERSTICAS EDUCATIVAS E PROFISSIONAIS
As crianas sobredotadas podem estar mais adiantadas do que os seus pares,
relativamente sua atuao acadmica. Muitos aprendem a ler precocemente e sem
instruo; outros avanam autonomamente na leitura ou em reas que impliquem destreza
manual, tais como a escrita e o desenho; outros evoluem significativamente em reas
relacionadas com a matemtica. Todas estas competncias dependem em boa parte de umdesenvolvimento sequencial de conceitos e de habilidades. Contrariamente ao senso
comum, que apresenta os sobredotados como sujeitos desajustados face escola,
Gallagher (1985) defende que a maioria das crianas sobredotadas gosta da escola e de
aprender.
A nvel profissional, no de surpreender que os sujeitos sobredotados ocupem
postos que requeiram uma habilidade intelectual superior, criatividade e motivao para a
tarefa. A maioria ocupa postos profissionais de prestgio e de direo, distinguindo-se pela
sua maturidade no trabalho. Contudo, esta descrio no pode ser generalizvel, sendo que
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outros fatores individuais e contextuais podem interferir ativamente na situao educativa e
profissional do indivduo.
3.4-CARACTERSTICAS SOCIAIS E EMOCIONAIS
Estudos evidenciaram que as crianas sobredotadas tendem a ser felizes e a
agradar aos seus companheiros, podendo ser lderes sociais, estveis emocionalmente e
autossuficientes, relativamente aos demais da mesma idade. Recorrendo ao trabalho de
Pereira (1998), constatamos que a maioria dos estudos comparativos de crianas dotadas e
no dotadas, concluram que estas crianas no parecem ser mais vulnerveis que as
outras crianas ao sofrimento fsico e psicolgico. Apesar disso, a sociedade, mantm uma
ideia estereotipada da criana sobredotada, pois menciona frequentemente que ela
inadaptada socialmente e que apresenta problemas emocionais.
As crianas sobredotadas no comportam em si mesmas desequilbrios emocionais,
mas podem ocorrer fatores adversos aos quais, tal como na populao normal, no esto
imunes.
3.5-CARACTERSTICAS GERAIS
A natureza da sobredotao, engloba, para alm das caractersticas especficas
discorridas anteriormente, um leque de caractersticas gerais que surgem como
representativas do fenmeno em anlise. Apesar de existirem inmeras e distintas
concees, iremos focar-nos na caracterizao operada por Mnks (1994) dada a sua
abrangncia e sintetizao em termos de caractersticas internas e possveis consequncias
externas da sobredotao.Para Mnks, as caractersticas mais significativas da sobredotao, que so internas
por natureza, podem apresentar consequncias externas. Estas caractersticas podem
resumir-se em:
impulso em usar as suas capacidades, o que provoca impacincia na
aprendizagem;
vontade de investigar temas em profundidade, o que conduz a uma atitude de
perfecionismo;
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capacidade para trabalhar distintas possibilidades e alternativas, originando
um comportamento criativo;
intensidade emocional, envolvendo-se pessoalmente e a fundo nos
problemas circundantes; preocupao por temas sociais e morais, levando a uma atitude idealista.
Helena Serra (2004) prope um conjunto de caractersticas distintivas das crianas
sobredotadas em cinco domnios:
Quadro IICaractersticas distintivas das crianas sobredotadas11
Domnio das aprendizagens Domnio da motiva o
Vocabulrio avanado para a idadeescolar;Hbitos de leitura independente, s vezespor iniciativa prpria;Domnio rpido da informao e facilidadena evocao de factos;Fcil compreenso de princpiossubjacentes;Capacidade para generalizarconhecimentos, ideias ou solues;Conhecimentos excecionais numa ou
mais reas de atividade ou deconhecimento.
Tendncia para iniciar as suas prpriasatividades;Persistncia na realizao e nafinalizao de tarefas;Busca da perfeio;Desmotivao perante as tarefas derotina.
Domnio da cri ativid ade Domnio da lid eran aCuriosidade elevada perante um grandenmero de coisas; Originalidade na resoluo de problemase no relacionamento de ideias;Pouco interesse pelas situaes deconformismo.
Autoconfiana e sucesso com os pares; Tendncia a assumir a responsabilidadenas situaes;Fcil adaptao s situaes novas e smudanas de rotina.
Domnio soc iomoral
Preocupao com os problemas do mundo;Ideias e ambies muito elevadas;Juzo crtico relativo a si prprio e aos outros;Preferir interaes sociais direcionadas para pares mais velhos ou adultos (adaptado deRenzulli, 1984).
11Serra, Helena. (2004). O aluno sobredotado. A criana sobredotada : compreender para apoiar : um guia para
educadores e professores : compreender para apoiar : um guia para pais. Associao Portuguesa das CrianasSobredotadas. Porto. P. 21-22
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CAPTULO IV
IDENTIFICAO DE ALUNOS SOBREDOTADOS
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4.1-OPAPEL DO PROFESSOR NA IDENTIFICAO DE ALUNOS SOBREDOTADOS
A problemtica da identificao apresenta-nos dois aspetos importantes a ter em
conta previamente:
Depende da definio adotada sobre sobredotao;
Depende das tcnicas e instrumentos de avaliao utilizados.
As investigaes apontam no sentido de que os professores so bons detetores
dos alunos com altas capacidades. Isto deve-se ao facto de que os professores que lidam
com estas crianas tm a possibilidade de observ-los em diversos contextos: na aula
perante os contedos, na relao com os seus colegas e na relao que mantm com os
professores. O aluno observado, quer nas suas capacidades, quer nos seuscomportamentos. Deste modo, o trabalho do professor um espao privilegiado que lhe
permite detetar alunos que revelam altas capacidades (Azevedo s/data).
No entanto, detetar um aluno com altas capacidades no uma tarefa simples, pois
os sinais que nos podem conduzir at eles so por vezes contraditrios. Esta contradio
surge do facto de um aluno com altas capacidades poder ser extrovertido ou introvertido; ter
uma tima capacidade de relao social ou exatamente o inverso; ser um aluno excecional
nas matrias, com timo aproveitamento ou exatamente o contrrio; ser muito estvel
emocionalmente ou verdadeiramente disperso, irrequieto e perturbador. A esta variaojuntam-se ainda os preconceitos e os mitos que fazem acerca destas crianas.
Por outro lado, muitas vezes, quando um determinado aluno no corresponde a um
determinado padro identificativo faz com que o professor no diagnostique ou ponha a
hiptese de estar face a um aluno com altas capacidades. Esta situao prende-se com
alguma falta de formao nesta rea, que tem consequncias no s na anlise da
sobredotao, mas tambm noutras situaes. Sabemos, tambm, que ser professor passa
por alguma sensibilidade de anlise a tudo aquilo que diz respeito ao meio que envolve e faz
a escola. Esta sensibilidade prende-se antes de mais com a personalidade de cada um dens como pessoas, facto que nos obriga a pensar num acompanhamento mais
especializado dentro das escolas, que permita detetar este tipo de situao.
Sobre este aspeto, Benito (2009), acrescenta mais obstculos pelos quais alguns
professores no identificam um aluno sobredotado:
Pouca vontade de trabalhar;
Falta de recursos e formao;
Expetativas estereotipadas sobre o rendimento da criana;
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A no existncia de tarefas apropriadas onde o aluno possa realmente
demonstrar as suas capacidades;
Esperar que o aluno seja muito superior em todas as reas.
Almeida & Oliveira (2000), no sentido de orientarem os professores na identificao
de alunos sobredotados, apontam para alguns comportamentos escolares destes alunos:
Fcil entendimento intelectual das situaes e das instrues;
Perspiccia nas suas atividades cognitivas;
Capacidade de ateno, de observao e de memria;
Curiosidade e persistncia nas tarefas;
Desejo de aprender mais e mais rpido;
Fcil relacionamento de informao e resoluo de problemas;
Perceo e apreciao das pessoas, coisas e ideias;
Variedade e singularidade de interesses;
Criatividade e imaginao numa dada rea;
Ateno a situaes novas ou novidade.
Ainda sobre a identificao de alunos sobredotados, Vilas Boas & Peixoto (2003
p.5412), apresentam seis indicadores que o professor pode usar na observao que faz aos
seus alunos:
Capacidade de verbalizao;
Capacidade de imaginao;
Capacidade de liderana;
Rapidez de compreenso;
Respostas originais;
Habilidade para inventar situaes novas.
No entanto, como j referimos anteriormente, alguns destes alunos demonstram
dificuldades de diversa natureza nas suas aprendizagens. Estas dificuldades tambm
podem orientar o trabalho de identificao por parte dos pais e dos professores. Almeida &
Oliveira (2000) apresentam algumas dificuldades decorrentes da forma como vivenciada a
sobredotao do aluno:
Trabalhos escritos pobres e incompletos;
12
Vilas Boas, C. & Peixoto, L. M (2003). As crianas sobredotadas: conceito, caractersticas, intervenoeducativa. Braga : APPACDM
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Intranquilidade e desatenona sala de aula;
Relacionamento maior com os adultos e menos com os pares;
Impacincia e sentido crtico;
Instabilidade emocional e motivacional; Autossuficincia e indiferena;
Personalidade forte, alguma teimosia e inflexibilidade;
Perguntas interessantes, profundas e provocadoras;
Autoestrutura o seu pensamento e a informao sua maneira;
Vulnerabilidade face ao fracasso.
Por vezes, os alunos sobredotados so identificados pelos professores mais pelas
dificuldades de adaptao e de comportamento do que pelas suas capacidades e
desempenhos.
Ao nvel da cognio e da aprendizagem os professores so informadores
importantes na identificao destes alunos e no seu diagnstico mais aprofundado.
Assim sendo, os professores podem organizar os seus registos, combinar ecruzar a informao proveniente de diferentes fontes, tarefas e momentos, deforma a conseguirem uma avaliao mais cuidada. As prestaes dos alunos nasala de aula, nos trabalhos de casa e nas respostas de casa e nas respostas aos
testes so ou podem ser intencionalmente pensadas como oportunidades disposio do professor para essa sinalizao e identificao.(Almeida & Oliveira,2000, p. 5113)
4.2-INSTRUMENTOS NA IDENTIFICAO DE ALUNOS SOBREDOTADOS
A avaliao da sobredotao uma questo complexa, devido essencialmente a
fatores relativos definio e natureza do prprio conceito, tal como explanado
anteriormente, assim como escassez e inadequao de instrumentos especficos de
avaliao.
Anteriormente, a avaliao confinava-se aos testes de QI e de inteligncia. Eram
apenas tidas em conta as habilidades cognitivas na identificao dos alunos sobredotados.
Tratava-se de uma avaliao reducionista que tinha em conta apenas o raciocnio lgico-
13Almeida, L. S. & Oliveira, E. P. (2000). Os professores na identificao dos alunos sobredotados. In L. S.Almeida, E. P. Oliveira & A. S. Melo (Orgs.), Alunos Sobredotados: Contributos para a sua identificao e apoio.P. 51
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abstrato ou as habilidades com forte incidncia nas aprendizagens escolares (Almeida,
1994).
Na atualidade, este tipo de avaliao insuficiente pois no favorece a sinalizao
de alunos detentores de talentos ou de habilidades mais especficas (Almeida et al,2001).
A identificao de alunos sobredotados exige o contributo dos pais, educadores,
professores e psiclogos. A avaliao psicolgica dever incluir o mximo de informaes
possvel, salvaguardando a objetividade. Almeida & Oliveira (2000) propem que esta
avaliao dever ter em conta as diversas dimenses dos alunos, no apenas as cognitivo-
acadmicas (multidimensional), que seja feita ao longo de diferentes momentos e contextos
(variao ecolgica) e que recorra a diferentes agentes (multirreferencional). Todas estas
caractersticas salientam a identificao como um processo e no como uma deciso
delimitada a um dado momento ou espao (multietpica).
A identificao dos alunos sobredotados no tarefa fcil. Ela exige, porexemplo, o contributo dos pais, educadores, professores e psiclogos. Podemosaqui falar de uma fase inicial de despiste (avaliao de screening), e numa faseposterior de diagnstico mais aprofundado (fase de identificao, confirmao eexplicao). Claro est que, para a primeira fase de sinalizao, importasensibilizar e preparar os pais e os profissionais de educao que lidamdiariamente com a criana. (Almeida & Oliveira, 2000, p.4814)
Almeida (1993) apresenta uma possvel composio de uma equipa multidisciplinar
cujas responsabilidades se devem manifestar em todo o processo educativo da criana.
Nesta composio, o autor, d-nos uma ideia dos elementos a considerar aquando da
constituio de uma equipa multidisciplinar e da informao que cada um deles deve prestar
e informa-nos acerca das responsabilidades que essa equipa deve assumir.
14Almeida, L. S. & Oliveira, E. P. (2000). Os professores na identificao dos alunos sobredotados. In L. S.Almeida, E. P. Oliveira & A. S. Melo (Orgs.), Alunos Sobredotados: Contributos para a sua identificao e apoio.P. 48
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Fig. 4 - Composio, funes e responsabilidades de uma equipa multidisciplinar.15
Os pais, os professores e profissionais de educao devem trabalhar em conjuntodurante a identificao e a avaliao de uma criana sobredotada. A sntese dessas
informaes permite a identificao pontual das habilidades e competncias apresentadas
pelo aluno, bem como sinaliza as suas necessidades, na direo do que necessrio para a
utilizao do mximo de seu potencial, de forma construtiva e enriquecedora para seu
desenvolvimento, para sua aprendizagem e para a sua formao enquanto pessoa e ser
social.
No que concerne identificao da criana sobredotada, fundamental existir uma
clara articulao de uma trade de elementos-chave:
constructo de base;
meios/instrumentos de identificao;
propostas de interveno pedaggica (Hagen, 1980; Pereira, 1998).
Assim, numa primeira instncia, deve proceder-se a uma definio clara do que a
sobredotao, a partir e com base na qual se define e implementa, num segundo momento,
15Almeida, L. S. (1993). Capacitar a escola para o sucesso: orientaes para a prtica educativa. Vila Nova deGaia: Edipsico. P. 41
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o protocolo de avaliao (procedimentos, fontes de informao e instrumentos de medida).
Atuando numa lgica de avaliar para intervir, o processo de identificao s se afigura
concludo com o elenco de propostas de interveno/desenvolvimento ajustadas s aptides
avaliadas e sinalizadas.
Almeida & Oliveira (2000), listaram um conjunto de instrumentos que servem para a
identificao destes alunos:
Provas psicolgicas estandardizadas na rea cognitiva;
Provas acadmicas de incidncia curricular;
Escalas de observao para pais e professores;
Redao de ensaios breves (tarefas especficas);
Inventrios e testes de criatividade; Grelhas para entrevistas de anamnese;
Apreciao de produes no domnio das artes;
Escalas de autoavaliao (personalidade, autoconceito);
Grelhas de observao direta da realizao;
Relatos sobre histrias de aprendizagem;
Escalas de motivao e ocupao dos tempos livres.
Richert (1991), citado por Vilas Boas, C. & Peixoto, L. M (2003), salienta algumas
consideraes sobre as prticas de identificao, numa lgica de defensividade dos
programas para as crianas sobredotadas, nomeadamente:
adotar uma definio de sobredotao plural que inclua diversas habilidades
e que enfatize mais o potencial do que a rotulagem;
reconhecer que o propsito da identificao e o desenvolvimento de
programas para sobredotados no consiste numa medida de elite, mas sim
em encontrar e desenvolver o potencial excecional; utilizar dados provenientes de habilidades intelectivas e no intelectivas,
procedentes de diversas fontes de informao, de modo a identificar sujeitos
com habilidades diversas;
tratar adequadamente os dados resultantes da avaliao, procurando evitar-
se erros que possam afetar grupos desfavorecidos e minoritrios, facilitando
mais a incluso do que a excluso;
desenvolver programas que estabeleam um balano adequado custo-
benefcio e que sirvam para atender s necessidades de uma amplapopulao de sobredotados com caractersticas diferentes;
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promover uma adequada formao dos tcnicos envolvidos.
Antes de se planear e organizar um programa especfico para sobredotados ou at
intervir, necessrio proceder a uma avaliao diferenciada e ter em conta ascaractersticas de sobredotao que temos presentes.
Qualquer que seja o programa e mtodo utilizado h sempre limitaes a
considerar.
Quadro III - Processos de identificao e suas limitaes.16
Processos Limitaes
Observaes do professor
No conseguem detetar problemas
motivacionais, de privao cultural ouemocional de alunos com dificuldades derendimento escolar, com atitudes agressivase prticas no que diz respeito aosprogramas escolares, havendo necessidadede serem suplementados por testespadronizados e de aproveitamento escolar.
Testes individuais de inteligncia
O melhor mtodo, mas dispendioso, emfuno dos servios e do tempo dosprofissionais. No prtico como recurso deavaliao nas escolas que no dispem de
servios de psicologia.
Testes coletivos de inteligncia e baterias deaptides diferenciadas
Geralmente vlidos para selecionar essesalunos, podem no identificar os que tmdificuldades de leitura, problemasemocionais e motivacionais.
Testes de rendimento e desempenhoescolar
No identificam crianas sobredotadas comrendimento escolar inferior e apresentamlimitaes, dada a natureza do seucontedo.
Testes de criatividade
Recentes e de validade no comprovada,demonstram possibilidade de identificarem opensamento divergente, que pode no tersido diagnosticado nos testes de Q.I. So,contudo, limitados quanto aos objetivospropostos, quando no suplementados poroutras medidas de avaliao.
16
Vilas Boas, C. & Peixoto, L. M (2003). As crianas sobredotadas: conceito, caractersticas, intervenoeducativa. Braga : APPACDM. P. 59
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Testes de pensamento divergente
So limitados ao dar apenas pistas paratraos e interesses nessa rea; no levamem considerao as diferenas entre aimaginao cientfica e a artstica.
Informaes dos paisPodem ser afetadas pelo envolvimentoafetivo.
A ambiguidade e a divergncia do conceito de sobredotao acarretam dificuldades
ao nvel da identificao e da atuao junto destes alunos.
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PARTE II
EDUCAR PARA A SOBREDOTAO
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CAPTULO I
INTERVENO EDUCATIVA JUNTO DE ALUNOS SOBREDOTADOS
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1.1-AINCLUSO DE ALUNOS SOBREDOTADOS
Numa lgica de escola inclusiva, e atenta s diferenas, importa identificar estes
alunos e mobilizar colegas, escola e famlia para os apoios necessrios. Nemsempre isso ocorre e, aquilo que partida poderia estar mais de acordo com osdesejos dos professores e escolas (alunos interessantes, curiosos, capazes, ),acaba por ser mais um pesadelo que uma oportunidade educao e
valorizao de todos e cada um.(Almeida & Oliveira, 2000, p.51-5217)
A escola deve proporcionar um ensino diferenciado, quer ao nvel da organizao e
do planeamento do processo de ensino-aprendizagem dos alunos sobredotados, quer ao
nvel do desenvolvimento de competncias sociais, promotoras do exerccio da cidadania,
na perspetiva do aprender a viver juntos. Se tal no acontecer, o quotidiano escolar de um
aluno sobredotado vai torn-lo num sujeito fragilizado.
Em Portugal no se tem verificado um impacto significativo destes ideais, ficando o
atendimento destes alunos, dentro do sistema educativo, reduzido acelerao escolar.
Mais recentemente (Despacho Normativo 50/2005 do ME), foi publicada uma medida que
regulamenta a organizao de planos de desenvolvimento nas escolas para alunos
sobredotados com dificuldades de aprendizagem, sendo que todas as outras situaes
ficam ao critrio e boa vontade dos professores ou das instituies particulares que os
atendem em programas de enriquecimento especficos (Miranda & Almeida, 2002).
Por outro lado, a educao inclusiva e a ateno diversidade implicam uma maior
competncia profissional dos professores e projetos educativos mais vastos e diversificados
por parte das escolas em resposta s diversas necessidades de todos os alunos. Esta
premissa tem subjacente a necessidade de uma maior flexibilidade e diversificao da oferta
educativa de forma a assegurar que todos os alunos atinjam as competncias estabelecidas
no currculo escolar, por meio de diferentes propostas e alternativas quanto s situaes de
aprendizagem, horrios, materiais e estratgias de ensino.
Por isso, so vrias as barreiras que necessrio remover e, por outro lado, inventaralternativas tanto dentro, como fora do sistema educativo. No mbito educativo Prieto
(2000), citado por Miranda (2008, p.87-89), prope trs dimenses onde necessrio
intervir para se poder ter uma educao inclusiva nas concees e atitudes, nas polticas e
prticas.
Uma escola inclusiva tambm para os alunos sobredotados implica no s atender
sua formao e desenvolvimento a nvel cognitivo, mas tambm sua realidade social e
17Almeida, L. S. & Oliveira, E. P. (2000). Os professores na identificao dos alunos sobredotados. In L. S.Almeida, E. P. Oliveira & A. S. Melo (Orgs.), Alunos Sobredotados: Contributos para a sua identificao e apoio.P. 51-52.
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emocional. As ofertas educativas devem atender, de modo global, s necessidades do aluno
sobredotado. So necessrias polticas educativas inclusivas para que, na prtica, se
possam organizar os apoios no sentido da ateno diversidade e sem excluir os alunos
sobredotados.
A escola inclusiva no ser promovida somente com a insero de alunosportadores de necessidades educacionais especiais em salas do ensinoregular. H que se garantir a acessibilidade, que se adquirir osinstrumentos, equipamentos e materiais necessrios para o ensino, que sepreparar os professores, que se estabelecer os critrios e normas dofuncionamento inclusivo, tarefas que no so da competncia, nem dapossibilidade de ao nica do professor.(Aranha, 2002, p. 2718).
A incluso educativa para os alunos sobredotados implica mudanas radicais nos
esquemas cognitivos rgidos no s dos profissionais de educao, mas especialmente
daqueles que tm por tarefa a organizao das diretrizes educativas para o Pas. Tal implicaa reorientao das intenes educativas no sentido de juntar esforos contra a excluso.
1.2-PROBLEMAS E NECESSIDADES ESCOLARES DOS ALUNOS SOBREDOTADOS
As crianas sobredotadas tm necessidades especiais de educao. Os problemasdas crianas sobredotadas no so uma utopia (Silva ,1992, p.37). Os sobredotados com
um desenvolvimento instvel das suas capacidades podem sofrer situaes de no-
aceitao que geram, muitas vezes, desmotivao e at problemas de foro psicolgico e/ou
fisiolgico (Silva, 1992, p.37). Existem j algumas iniciativas no sentido de divulgar esta
temtica atravs de congressos, simpsios e conferncias dedicados sobredotao.
Associaes como a ANEIS (Associao Nacional para o Estudo e Interveno em
Sobredotao), em Braga, estudam e intervm na rea da sobredotao. No entanto, falta
uma legislao adequada, no sentido de se disponibilizar recursos materiais e humanospara as escolas e para a comunidade, para que a identificao, o diagnstico e a
interveno educativa sejam feitas no sentido de prestar ajuda adequada s crianas
sobredotadas.
Neste momento, o conceito de necessidades educativas, abrange, sobretudo, os
alunos com vrios tipos de deficincias e os alunos com distrbios de aprendizagem,
deixando de parte os alunos sobredotados. Estes ltimos, tal como os anteriores, exigem
18Aranha, M. S. F. (2002) Projeto Escola Viva - Garantindo o acesso e permanncia de todos os alunos naescola - Alunos com necessidades educacionais especiais [Verso Eletrnica]. Ministrio da Educao,Secretaria de Educao Especia: Braslia. P. 27
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um processo de ensino-aprendizagem individualizado e com uma forte componente de
ateno diversidade, pois sem uma educao diferenciada, as suas capacidades no se
desenvolvem plenamente.
Dependendo das experincias de vida que vo tendo, algumas crianas
sobredotadas podem, at, ocultar as suas caractersticas de sobredotao e no
sobressarem em relao ao resto da turma.
Por outro lado, algumas podem no cooperar dentro da sala de aularesistindo rotina, exibindo comportamentos pouco adequados, sendoclassificados como alunos com problemas de comportamento. Outraspodem ser classificadas como tendo dificuldades de aprendizagem, sendoque, por vezes, a verdadeira causa para tais comportamentos pode ser oaborrecimento e desinteresse por assuntos j aprendidos, mostrando-sepouco participativas nas actividades escolares.(Oliveira, 2007, p. 21)19
Certamente que grande parte dos problemas encontrados no percurso escolar no
desenvolvimento destes indivduos no se atribui sobredotao, mas sim ao facto da
escola, o meio, a famlia e a sociedade em geral no serem capazes de entender e atender
s suas caractersticas especiais. A precocidade uma das caractersticas destas crianas
que os contextos educativos pouco ou nada valorizam. A criana no estimulada porque
se pensa que no est preparada para experincias e desafios mais complexos (Harrison,
1995).
Concomitantemente, as expectativas dos pares podem levar a uma desmotivaoda criana que prefere no se distinguir em termos de desempenho para no perder o grupo
em que est inserida.
As caractersticas dos sobredotados podem-se manifestar de formaconstrutiva, favorecendo a aprendizagem e as boas relaes interpessoais,como se podem manifestar de forma problemtica, determinando relaesinterpessoais difceis e penosas. Neste caso, pode ocorrer intolerncia,ridicularizao e falta de compreenso por parte dos colegas, bem como oaluno ser considerado estranho ou anormal pelos professores.Geralmente, tal situao pode levar rejeio da criana, para o seuisolamento e consequente excluso do grupo social ao qual pertence.
(Aranha, 2002, p.1820
)
Assim, segundo Aranha (2002, p.18-20), ao nvel do pensamento crtico pode
apresentar uma atitude de autocrtica, de discordncia e de dominncia perante os adultos e
os seus colegas.
19Oliveira, E. P. L. (2007). Alunos sobredotados: A acelerao escolar como resposta educativa. Dissertaoapresentada ao Departamento de Psicologia do Instituto de Educao e Psicologia da Universidade do Minho. P.2120 Aranha, M. S. F. (2002) Projeto Escola Viva - Garantindo o acesso e permanncia de todos os alunos naescola - Alunos com necessidades educacionais especiais [Verso Eletrnica]. Ministrio da Educao,Secretaria de Educao Especia: Braslia. P. 18
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O alto grau de motivao pode determinar uma atitude de no aceitao da
autoridade, comportamentos de teimosia, obsesso por determinada tarefa e
inconformidade.
A criatividade pode levar ao afastamento dos seus colegas pelo seu temperamento,
sendo visto como, pessoa exibicionista. Pode tambm levar a ser um aluno desorganizado.
Ao nvel afetivo-emocional pode apresentar comportamentos emocionais muito
sensveis perante situaes que corram menos bem, por observaes ao seu
comportamento e at no participao em tarefas que no se destaque .
Tanto os pais, como os professores, necessitam, em primeiro lugar, de procurar
identificar as caractersticas presentes na criana, para ento encontrar formas de poder
ajud-la a utilizar suas capacidades e competncias, tendo em vista o benefcio da sua
aprendizagem e desenvolvimento geral nos aspetos fsicos, cognitivos, intuitivos, afetivos e
sociais.
Helena Serra apresenta algumas caractersticas e potenciais problemas associados
sobredotao, descritos no quadro seguinte.
Quadro IVCaractersticas e potenciais problemas escolares associados sobredotao21
Caractersticas Problemas associados
Aquisio e reteno rpida da informao.Impacincia face lentido dos outros,alheamento.
Atitude investigativa, curiosidade,motivao intrnseca.
Perguntas desconcertantes, obstinao emalguns temas.
Facilidade em abstrair e conceptualizar. Colocao em causa dos mtodos de
ensino, autonomia em demasia.Estabelecimento de relaes decasualidade
Dificuldade em aceitar o ilgico.
Organizao do grupo, definio dastarefas do grupo, sistematizao.
Construo de regras e sistemascomplicados, dominncia face aos outros.
Vocabulrio amplo, muita informao sobretemas complexos.
Aborrecimento com a escola,intelectualismo face aos problemasconcretos.
21Adaptado de WEEB (2003) e retirado de www.apcs.co.pt/pdf/Guia_sobre.pdf
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Pensamento crtico. Intolerncia face aos outros, perfecionismo.
Criatividade, imaginao, inveno deformas diversas.
Recusa de rotinas ou de repetio do quej sabem.
Concentrao intensa, permannciaprolongada em reas do seu interesse.
Desagrado com interrupes, abstraodos pares quando concentrados.
Sensibilidade, empatia. Inibio face critica, necessidade dereconhecimento.
Elevada energia, perodos de esforointenso.
Frustrao face inatividade,desorganizao do trabalho dos pares,busca de estimulao.
Independncia, preferncia pelo trabalhoindividual.
Pouco conformismo, recusa pelos pares eprofessores.
Interesses e habilidades diversas,
versatilidade.
Aparente desorganizao, frustrao por
falta de tempo, elevadas expectativas epresso dos outros.
Forte sentido de humor (humorcrtico/apurado).
Falta de compreenso dos colegas, ironia adespropsito.
Deste modo, em primeiro lugar essencial ter em conta o acompanhamento s
necessidades educacionais e de desenvolvimento. Em segundo lugar, os alunos
sobredotados exigem uma maior diversidade de contedos e de mtodos de ensino por
parte dos professores. Em terceiro lugar, um aluno sobredotado -o numa rea especfica e
importa no esquecer outros aspetos da sua personalidade e pessoa.Serra (2005) refere que estes alunos precisam de programas educacionais
diferenciados e individualizados, sendo urgente a implementao de medidas, que passam
pela acelerao do nvel escolar e sobretudo, por programas de enriquecimento. Acrescenta
que a forma como organizamos o ensino para as crianas, altera a sua estrutura biolgica e
neurolgica. Enquanto houver uma estimulao apropriada, propondo desafios adequados
ao seu desenvolvimento, o crebro da criana torna-se mais acelerado e mais integrativo
nas suas funes. Se, pelo contrrio, apresentar tarefas rotineiras, a criana poder perder
o seu potencial. Uma das formas de garantir que o crebro receba a estimulao de que
precisa atravs do currculo diferenciado (Serra, 2005, p.79).
No entanto, Miranda, L. Almeida e A. Almeida, (2010, p.73) acrescentam que
atender s necessidades de todos os alunos uma tarefa muito difcil, sobretudo combinar
ritmos diferentes, de aprendizagem, metas e contedos, estilos cognitivos e de
aprendizagem e a motivao dos prprios aprendentes, devido ao facto de haver um
elevado nmero de alunos