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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ
FACULDADE CEARENSE
CURSO DE SERVIÇO SOCIAL
ANGÉLICA BRAGA DOS SANTOS
DEMANDAS, CONDIÇÕES DE TRABALHO E EXIGÊNCIAS PROFISSIONAIS NO
TRABALHO DO (A) ASSISTENTE SOCIAL NO PRESÍDIO.
FORTALEZA
2013
ANGÉLICA BRAGA DOS SANTOS
DEMANDAS, CONDIÇÕES DE TRABALHO E EXIGÊNCIAS PROFISSIONAIS NO
TRABALHO DO (A) ASSISTENTE SOCIAL NO PRESÍDIO.
Monografia submetida à aprovação do Curso de Serviço Social do Centro de Ensino Superior do Ceará Faculdade Cearense - FaC, como requisito parcial para obtenção do grau de Graduação.
Orientador: Prof. Ms. Emanuel Bruno Lopes
FORTALEZA
2013
Bibliotecário Marksuel Mariz de Lima CRB-3/1274
S237d Santos, Angélica Braga dos
Demandas condições de trabalho e exigências profissionais
no trabalho do (a) assistente social no presídio / Angélica Braga
dos Santos. Fortaleza – 2013.
56f.
Orientador: Profº. Ms. Emanuel Bruno Lopes.
Trabalho de Conclusão de curso (graduação) – Faculdade
Cearense, Curso de Serviço Social, 2013.
1. Trabalho profissional. 2. Serviço social. 3. Sistema
penitenciário. I. Lopes, Emanuel Bruno. II. Título
CDU 36:331
ANGÉLICA BRAGA DOS SANTOS
DEMANDAS, CONDIÇÕES DE TRABALHO E EXIGÊNCIAS PROFISSIONAIS NO
TRABALHO DO (A) ASSISTENTE SOCIAL NO PRESÍDIO.
Monografia como pré-requisito para obtenção do título de Bacharelado em Serviço Social, outorgado pela Faculdade Cearense – FAC, tendo sido aprovada pela banca examinadora composta pelos professores. Data da aprovação: ____/____/_____
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________________
Prof. Ms. Emanuel Bruno Lopes (Orientador)
Faculdade Cearense – FAC
__________________________________________________
Profª. Esp. Talitta Cavalcante Albuquerque Vasconcelos
Faculdade Cearense – FAC
__________________________________________________
Prof. Ms. Daniel Rogers de Souza Ferreira
Faculdade Cearense - FAC
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar agradeço a Deus, que me fortaleceu, capacitou e iluminou durante
todo o meu caminho nesta batalha.
Agradeço aos meus pais por sempre terem acreditado em mim. Ao meu pai Alberto
(in memorian), que eu tanto gostaria que estivesse partilhando desta vitória, mas sei
que onde estiver estará vibrando com a minha conquista. E em especial à minha
mãe Maria da Paz, por ter me dado forças e contribuído para que eu concluísse o
curso, da melhor maneira possível.
A minha irmã Marília, por aturar todos os meus momentos de angústia, com carinho.
Ao meu amado Eliabe, por seu companheirismo, amizade, incentivo, cumplicidade;
obrigada por seu amor.
A minha tia Fátima, pelo carinho e pela contribuição à minha formação.
A toda minha família, que sempre esteve presente, colaborando, encorajando,
estimulando e animando, sobretudo, nos momentos mais difíceis e desafiadores
dessa trajetória.
Ao meu orientador, Emanuel Bruno Lopes, por ter me aceitado com carinho, atenção
e dedicação, pela confiança sem mesmo me conhecer e assim contribuído para que
este trabalho fosse concretizado.
Aos professores Talitta Albuquerque e Daniel Rogers que aceitaram participar da
minha banca e assim tornar possível a conclusão deste trabalho.
A todos os professores que já tive, por compartilharem seus conhecimentos e por
terem feito parte da minha formação profissional.
As profissionais entrevistadas, por terem se predisposto a me prestarem seus
depoimentos e corroborado de diferentes formas para a elaboração deste trabalho.
As minhas amigas, Adelita, Dedé e Juliana, que sempre estiveram presentes quando
precisei; e entenderam as minhas ausências.
As minhas companheiras de luta Carla Lúcia, Daiane Faustino, Evilene Pessoa,
Jamylly Maciel, Marisa Albuquerque, Mayara Rodrigues e Raquel Machado que me
apoiaram nesta batalha, sem a amizade, o apoio e carinho de vocês está caminhada
não teria este sabor tão especial.
Aos colegas e amigos que tive a felicidade de conhecer durante estes quatro anos e
que contribuíram com meu amadurecimento pessoal e profissional, em especial,
Andrea Ribeiro, Daniele Soares, Eliane Avelino, Fernanda Braga, Glauciane Santos,
Haline Almeida, Samara Cipriano, Soraia Andrade, que se tornaram amigas tão
importantes nesta caminhada.
A todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para a realização deste trabalho,
o meu,
Muito Obrigada!
“Quem tem um porquê viver, encontrará, quase sempre, um como”. Nietzche “É possível julgar o grau de civilização de uma sociedade visitando suas prisões.” Dostoievski
RESUMO
O Assistente Social está presente nos mais diferentes espaços sócio-ocupacionais,
dentre eles o Sistema Penitenciário, o que torna sua intervenção um desafio em uma
área tão complexa. O presente estudo teve como objetivo conhecer e compreender
o trabalho do Assistente Social inserido neste espaço. Este tema foi escolhido por
sua complexidade e por uma aproximação da pesquisadora, enquanto estagiária da
instituição estudada. Realizei uma pesquisa documental, bibliográfica e de campo,
com entrevistas semiestruturada realizada com duas Assistentes Sociais que atuam
nesta área para uma melhor aproximação com a realidade do objeto de pesquisa.
Conclui-se que o Serviço Social tem um papel fundamental no enfrentamento à
violação dos direitos dos apenados, uma vez que estes sujeitos estão privados
apenas do direito à liberdade. Trate-se de um profissional que necessita responder
demandas, diante de condições de trabalho limitadas e que tenta seguir uma
orientação profissional de acordo com as exigências do Projeto Ético- Político. Esta
pesquisa torna-se relevante uma vez que traz subsídio possibilitando ampliar o
conhecimento a partir da temática tratada.
Palavras-Chave: Trabalho profissional, Serviço Social, Sistema Penitenciário.
ABSTRACT
The Social Worker is present in many different socio-occupational areas, including
the prison system, which makes his speech a challenge in an area as complex. This
study aimed to know and understand the work of the social worker entered in this
space. This theme was chosen for its complexity and an approximation of the
researcher as an intern at the institution studied. Conducted a desk research,
literature and field, with semistructured interviews conducted with two social workers
working in this field for a better approach to the reality of the object of research. We
conclude that the Social Service has a key role in dealing with the violation of the
rights of convicts, since these subjects are deprived of the right to freedom only.
Treat yourself to a professional who needs to answer demands on working conditions
and limited attempts to pursue a career guidance in accordance with the
requirements of the Ethical-Political Project. This research is relevant since it brings
allowance enabling expand knowledge from the subject treated.
Keywords: Professional Work, Social Work, Prisons.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CAGECE – Companhia de Água e Esgoto do Ceará
CAPS – Centro de Atenção Psicossocial CFESS - Conselho Federal de Serviço Social
CEAS – Centro de Estudos e Ação Social de São Paulo
CTC – Comissão Técnica de Classificação
CRAS – Centro de Referência de Assistência Social
DEPEN – Departamento Penitenciário Nacional
INFOPEN - Sistema Integrado de Informações Penitenciárias
INPS – Instituto Nacional de Previdência Social
IAPs – Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários
LBA - Legião Brasileira de Assistência
LEP – Lei de Execução Penal
LOAS – Lei Orgânica da Assistência Social
PETI – Programa de Erradicação do Trabalho Infantil
SEJUS – Secretaria de Justiça e Cidadania do Estado do Ceará
SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
SESI - Serviço Social da Indústria
UECE – Universidade Estadual do Ceará
SUMÁRIO
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
SUMÁRIO
I – INTRODUÇÃO ............................................................................................ 13
1.1 Aproximação com o tema da pesquisa ...................................................... 13
1.2 Percurso Metodológico ............................................................................... 16
II – O SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE ................................ 20
2.1 O Exercício profissional como trabalho: exigências e demandas profissionais
......................................................................................................................... 20
2.2 Os espaços sócio-ocupacionais do (a) Assistente Social .......................... 27
2.3 O perfil de profissional que se exige na atualidade .................................... 31
III – O TRABALHO PROFISSIONAL NA ÁREA SÓCIO-JURÍDICA ...................
......................................................................................................................... 34
3.1 O exercício profissional do (a) Assistente Social na área sócio-jurídica .... 34
3.2 Perfil e trajetória profissional dos assistentes sociais na prisão ................. 40
3.3 O trabalho do (a) assistente social no presídio .......................................... 41
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 49
REFERÊNCIAS ................................................................................................ 51
ANEXOS
13
INTRODUÇÃO
1.1 Aproximação com o tema da pesquisa
O tema abordado neste estudo está relacionado à questão carcerária e o
trabalho do (a) Assistente Social dentro desta realidade. O presente projeto surgiu
de várias inquietações observadas durante a vivência de estágio realizado dentro de
uma Instituição Prisional. Ao estar inserido num ambiente no qual é perceptível o
nível hierárquico dos profissionais, e que a autonomia dos mesmos muitas vezes se
limitam por imposições da instituição, a pesquisadora indagava-se como seria
possível romper com estas limitações e preconceitos, como atuar na perspectiva de
ressocialização e restauração de vínculos familiares se a própria instituição
estigmatiza e corrompe e como efetivar sua ação profissional de forma clara e
precisa, sem romper com seus princípios éticos.
Assim procuramos pesquisar e estudar sobre este assunto e fomos
percebendo os diversos preconceitos existentes em relação aos indivíduos que
estão presos e desta forma o quanto é difícil para o profissional de Serviço Social
atuar nesta área.
Considerando o processo histórico e as mudanças socioeconômicas pelo
qual a sociedade brasileira vem passando, temos como reflexo a pobreza, a miséria,
a desigualdade social, a violência, o aumento dos índices de criminalidade e
consequentemente o aumento da população carcerária.
As prisões têm a função de abrigar estes sujeitos, a fim de que se
cumpram suas sentenças, de forma a vigia-los, orienta-los, reeduca-los para a sua
reinserção na sociedade.
Uma coisa, com efeito, é clara: a prisão não foi primeiro uma privação de liberdade a que se teria dado em seguida uma função técnica de correção; ela foi desde o início uma “detenção legal” encarregada de um suplemento corretivo, ou ainda uma empresa de modificação dos indivíduos que a privação de liberdade permite fazer funcionar no sistema legal. Em suma, o encarceramento penal, desde o início do século XIX, recobriu ao mesmo tempo a privação de liberdade e a transformação técnica dos indivíduos (FOUCAULT, 2009, p. 219).
No Brasil, vivemos sob os ditames do neoliberalismo que aponta novas
formas de organização econômica, onde o avanço da tecnologia tem imposto
padrões de vida cada vez mais excludentes aqueles que não estão inseridos nos
moldes do capitalismo.
14
Porém, vale salientar que mesmo excluídos do sistema econômico
capitalista, onde perdem progressivamente as condições de suprirem suas
necessidades básicas, os indivíduos não são dispensados de obedecer às normas e
regras impostas pela legislação, principalmente a penal.
Na realidade brasileira, a exclusão é um termo impreciso, que admite vários sentidos, parece haver certo consenso em sua associação à problemática da desigualdade social. Circulando num cenário onde habitam a pobreza, a miséria, a indigência, outros termos também de contraditória definição empírica, a exclusão se delinearia e se firma como fruto perverso do capitalismo brasileiro. Constitui-se de certa forma como evolução e limite máximo, de um quadro de carências que vem se acentuando historicamente, carências essas que extrapolam as fronteiras dos bens tidos como materiais e atingem o amplo e complexo campo da privação das condições básicas para o exercício da cidadania (JUNCÁ, 1996: 108).
Segundo dados da Secretaria de Justiça e Cidadania do Ceará – SEJUS,
no ano de 2012 a população carcerária era de 17.6571, destes 12.401 em situação
de regime fechado e 5.256 em regime semi-aberto e/ou aberto. Ainda segundo
dados do DEPEN – Departamento Penitenciário Nacional, de 2010, o Brasil, tem um
déficit na sua capacidade para abrigar os números de presos, o equivalente a 66 %.
Sabemos que existe uma precariedade nas condições físicas e de
qualificação profissional nas prisões e que isto reflete no tratamento penitenciário, o
que pode gerar angústia e revolta entre os presos e motivar rebeliões e outras ações
violentas dentro da Instituição. Desta forma, faz-se necessário a busca por um
tratamento penal que procure minimizar as diferenças existentes na vida prisional
visando garantir medidas necessárias a assegurar ao recluso um regresso
progressivo à vida na sociedade utilizando os instrumentos legais e normativos.
Segundo Iamamoto (2011):
Os Assistentes Sociais trabalham com a questão social nas suas mais variadas expressões quotidianas, tais como os indivíduos as experimentam no trabalho, na família, na área habitacional, na saúde, na assistência social pública etc (IAMAMOTO, 2011:28).
Diante dos dados apresentados podemos ver que é constante o
crescimento da população carcerária e que se faz cada vez mais necessário à
atuação do profissional de Serviço Social nos Presídios e Casas de Privação de
Liberdade. Em determinados locais, como no caso de um presídio, assim é
necessário o uso de medidas de proteção e regras que visam manter o controle e a
1 Dados obtidos através do portal da Secretaria de Justiça e cidadania do Estado do Ceará.
http://www.sejus.ce.gov.br/index.php/gestao-penintenciaria/39/70
15
segurança dos profissionais, dos encarcerados e das pessoas que visitam esta
instituição, portanto, inserido nesta realidade o trabalho do Assistente Social está
subordinado às regras institucionais, sendo necessário que o profissional tenha um
amplo conhecimento teórico-metodológico, com dimensão ético-política e que saiba
utilizá-lo, intervindo entre o usuário e a instituição.
A atuação do SS é visceralmente polarizada por interesses sociais de classes contraditórias, inscritos na própria organização da sociedade e que se recriam na nossa prática profissional, os quais não podemos eliminar. Só nos resta estabelecer estratégias profissionais e politicas que fortaleçam alguns dos atores presentes nesse cenário. Assim sendo, a prática profissional tem um caráter essencialmente politico: surge das próprias relações de poder presentes na sociedade (IAMAMOTO, 2004, p. 122).
O trabalho do (a) Assistente Social no sistema prisional constitui uma
estratégia fundamental na defesa dos direitos humanos, na construção da
autonomia dos sujeitos encarcerados e na elaboração de projetos, instrumentos que
possam alcançar o real objetivo da demanda do usuário.
Diante deste contexto, a busca pela garantia dos direitos sociais e o
exercício da cidadania se tornam relevantes para a sociedade brasileira, sendo de
grande importância o surgimento de estudos que aprofundem esta problemática,
para que haja uma maior compreensão sobre o assunto.
Através desta realidade, o Serviço Social deve tomar um posicionamento
crítico e ético de forma a mediatizar os conflitos existentes entre as instituições
penais e os apenados, visando dar repostas aos problemas sociais com objetivos
que garantam os direitos a assistência material, à saúde, educacional, jurídica,
social e religiosa.
Portanto, o papel a ser desempenhado pelo Serviço Social, deverá ser de
levar conhecimentos e oportunidades para aquelas pessoas envolvidas neste
processo, para que tenham meios de efetivar sua condição social, seu papel de
cidadão, de responsáveis pela sociedade onde vivem, seja através de ações diretas
com os indivíduos internados ou condenados, seja com suas famílias, entendendo
que estas têm papel fundamental, enfim proporcionar condições para a integração
social.
Desta forma, surgem diversas indagações sobre a forma de atuação do
profissional de Serviço Social que está inserido no âmbito prisional: Qual a
importância do Serviço Social no Sistema Penitenciário? Como o (a) Assistente
16
Social poderá romper com a burocratização e alienação que o rotineiro ambiente de
trabalho propicia como nos é alertado por Iamamoto em suas reflexões sobre o
trabalho profissional? Quais as possibilidades e desafios que existem na atuação do
(a) Assistente Social no Sistema Penitenciário?
Portanto, o presente estudo teve como objetivo geral compreender a o
trabalho do (a) Assistente Social no Sistema Penitenciário, conhecer as principais
possibilidades e limites de sua atuação.
Assim este trabalho estrutura-se em três capítulos. O primeiro capítulo
destaca a aproximação da pesquisadora com o tema da pesquisa, que por
consequência da experiência de estágio realizada dentro de um presídio lhe
despertou curiosidade pela temática, e também a metodologia utilizada para que a
construção deste estudo fosse realizado.
O segundo capítulo apresenta o Serviço Social na contemporaneidade,
tendo como foco o trabalho do Assistente Social, suas demandas e exigências
profissionais, os seus espaços sócio-ocupacionais e também o perfil profissional
exigido dentro desta atual conjuntura.
No terceiro capítulo, destacamos um pouco da inserção do Assistente
Social na área sócio-jurídica, retratamos o perfil das entrevistadas para a realização
deste estudo e fazemos uma análise dos dados colhidos na pesquisa de campo,
com a percepção dos autores principais que trabalham esta temática.
1.2 Percurso metodológico
A realidade social é intrínseca a relação dos homens com outros homens
e com as instituições sociais. Para tanto é com base neste pensamento que
utilizamos a pesquisa social para a elaboração deste trabalho, compreendendo que
a pesquisa social é fundamental para dar respostas às investigações propostas nas
pesquisas sociais. Assim, Gil (2011) nos define essa como o processo que,
utilizando a metodologia cientifica, permite a obtenção de novos conhecimentos no
campo da realidade social.
Na realização desta pesquisa procurou-se aproximação com o tema
abordado através de uma pesquisa bibliográfica na qual através de livros, artigos e
17
publicações obtivemos dados de estudos já realizados, que foi de suma importância
para o continuo estudo do tema.
A principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente. Esta vantagem se torna particularmente importante quando o problema de pesquisa requer dados muito dispersos pelo espaço (GIL, 2011, p.50).
Nesta perspectiva procuramos fazer uma seleção de artigos e livros a ser
estudado, incluindo autores como Karl Marx (2008), Marilda Iamamoto (2004, 2009,
2010, 2011), Raquel Raichelis (2009, 2011), Eunice Fávero (2005, 2009, 2010),
Sílvia Helena Chuairi (2001), Miriam Krenzinger A. Guindani (2001), para
compreendermos e fundamentarmos teoricamente as discussões deste trabalho
monográfico. Para uma melhor compreensão do objeto de estudo realizamos uma
pesquisa de campo que conforme Minayo (2012) permite a aproximação do
pesquisador da realidade sobre a qual formulou uma pergunta, mas também
estabelecer uma interação com os “atores” que conformam a realidade. Trata-se de
uma pesquisa de natureza qualitativa, pois entende-se que permite uma melhor
visão da realidade e uma maior aproximação com o cotidiano do objeto de pesquisa
e que conforme Minayo (2010):
A pesquisa qualitativa responde as questões muito particulares. Ela se ocupa, nas Ciências Sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes. Esse conjunto de fenômenos humanos é entendido aqui como parte da realidade social, pois o ser humano se distingue não por agir, mas por pensar sobre o que faz e por interpretar suas ações dentro e a partir da realidade vivida e partilhada com seus semelhantes (MINAYO, 2010, p.21).
Realizamos também uma pesquisa documental para nos apreendermos
das leis, decretos, resoluções, censos, como também jornais, revistas, e relatórios
de pesquisa, para nos possibilitar uma melhor compreensão do tema pesquisado. E
que segundo Gil (2011), a pesquisa documental vale-se de materiais que não
receberam ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de
acordo com os objetivos da pesquisa.
A partir desta abordagem qualitativa de pesquisa, utilizei entrevistas para
coleta de dados, tendo em vista, que é indispensável para uma melhor aproximação
com a realidade do objeto de pesquisa, sendo definida como:
(...) a técnica em que o investigador se apresenta frente ao investigado e lhe formula perguntas, com o objetivo de obtenção dos dados que interessam à investigação. A entrevista é, portanto, uma forma de interação social. Mais
18
especificamente, é uma forma de dialogo assimétrico, em que uma das partes busca coletar dados e a outra se apresenta como fonte de informação. A entrevista é uma das técnicas de coleta de dados mais utilizada no âmbito das ciências sociais (GIL, 2011, p. 109).
Para a pesquisa de campo foram utilizadas entrevistas semi-
estruturadas, que segundo Minayo (2010) combina perguntas fechadas e abertas,
em que o entrevistado tem a possibilidade de discorrer sobre o tema em questão
sem se prender à indagação formulada.
Assim, Goldenberg (2004) nos aponta as vantagens da entrevista:
a. pode coletar informações de pessoas que não sabem escrever; b. as pessoas têm maior paciência e motivação para falar do que para escrever; c. maior flexibilidade para garantir a resposta desejada; d. pode-se observar o que diz o entrevistado e como diz, verificando as possíveis contradições; e. instrumento mais adequado para a revelação de informação sobre assuntos complexos, como as emoções; f. permite uma maior profundidade; g. estabelece uma relação de confiança e amizade entre pesquisador-pesquisado, o que propicia o surgimento de outros dados (GOLDENBERG, 2004, p. 88).
A pesquisa ocorreu sem muitos transtornos no campo, por já existir
conhecimento com as profissionais que participaram da pesquisa, como também
conhecer o universo da prisão em virtude do período de um ano, tendo início em
dezembro de 2011 até dezembro de 2012, no qual foi realizado o estágio obrigatório
da pesquisadora, na disciplina de estágio II e III, que tem como objetivo conhecer as
áreas de atuação profissional e formular um projeto de intervenção, e assim melhor
compreender o universo no qual se insere o Assistente Social. As entrevistadas se
dispuseram as participar de imediato desta pesquisa, facilitando o dia e horário para
que fossem colhidos os dados da melhor forma possível.
Para tanto escolhemos como instituições o IPPOO II - Instituto Presídio
Professor Olavo Oliveira II e a CPPL 3 - Casa de Privação Provisória de Liberdade
Professor Jucá Neto, para melhor percepção da realidade nos ambientes desta
atuação. O IPPOO-II é um presídio para detentos indiciados, localizado na BR 116,
Km 17 no município de Itaitinga, foi inaugurado a 19 de setembro de 2002, na
gestão do então Presidente da República Dr. Fernando Henrique Cardoso, do
Ministro da Justiça o Dr. Paulo de Tarso Ramos Ribeiro, do Governador do Estado o
Dr. Benedito Claiton Veras Alcântara, sendo Secretária da Justiça a Dra. Sandra
Dond Ferreira. Hoje abriga em sua maioria, presos do regime semiaberto. Já a CPPL
3, é uma unidade voltada para preso provisório, possui capacidade para 952
19
detentos, foi inaugurada no dia 24 de agosto de 2010, pelo governador do Estado do
Ceará, Cid Gomes, e pelo secretário da Justiça e Cidadania, Marcos Cals.
Todo esse processo de coleta de dados foi realizado na manhã do dia
vinte e dois de maio do decorrente ano, as entrevistas foram realizadas em média
em 40 minutos, por consequência de ser um dia de atendimentos as famílias dos
presos, houve alguns momentos de interferência, tendo que parar a entrevista para
que a Assistente Social pudesse realizar atendimento. Foi esclarecido o motivo da
realização deste trabalho, como também a preservação de suas identidades para
garantir quaisquer prejuízos, para tal proposito foi pedida a leitura e assinatura do
termo de consentimento livre e esclarecido para a realização da entrevista.
Após a coleta de dados, iniciou-se a análise dos dados que segundo Gil
(2011) tem como objetivo organizar e sumariar os dados de forma tal que
possibilitem o fornecimento de respostas ao problema proposto par investigação.
Para sistematizar os dados foram lidas e relidas diversas vezes as
entrevistas e procuramos refletir e assimilar as falas das entrevistadas com as dos
autores que discutem a categoria trabalho, as competências profissionais, e os
antagonismos da vida profissional. Desta forma procuramos analisar, compreender e
desvelar o trabalho profissional do Assistente Social diante das possibilidades e
limites de sua atuação no Sistema Penitenciário.
20
II - O SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE
Este capítulo retratará um breve contexto histórico do trabalho do (a)
Assistente Social na contemporaneidade, bem como os seus espaços ocupacionais
e o perfil profissional que se exige na atualidade, considerando as determinações
legais que orientam a atuação profissional.
2.1. Exercício profissional como trabalho: exigências e demandas
profissionais
No Brasil, a questão social se desenvolve nos anos 1920/1930 como
fenômeno social originário do modo de produção capitalista, elucidada através do
pauperismo e mais eminente com a exploração do trabalho e seu movimento de luta
defensiva, sendo a pobreza vista como ameaça à ordem burguesa, que exige um
posicionamento das diversas classes sociais dentre eles Estado, burguesia e
religião.
A partir dos anos 1940/1950 com o crescimento industrial, o processo de
urbanização e as migrações, trazem uma nova roupagem a questão social e exige
do Estado uma nova forma de intervenção, que ocorre por meio do surgimento das
politicas sociais públicas, sempre buscando a manutenção da ordem burguesa.
Já no início dos anos 1960 com o processo da ditadura no Brasil, a
questão social sofre um agravamento com o retrocesso da perda de algumas
conquistas, como o direito as greves, a liberdade de organização e assim o
crescimento nos níveis de exploração do trabalho e o empobrecimento das classes
subalternas.
Então nos anos 1970 com a mudança no processo do padrão de
acumulação, ocorre uma expansão da economia capitalista e mais uma vez a
questão social passa por transformações no qual surge a figura do operário em
massa, a organização do processo de trabalho e consequentemente o aumento do
consumo das mercadorias.
Nos anos 1980 temos a flexibilidade no processo de trabalho, e esta vem
mudar o cenário da questão social com a desregulamentação dos direitos do
trabalho, a informalização contratual, a terceirização, o trabalhador polivalente e ao
21
mesmo tempo o surgimento do desemprego, a insegurança do trabalho e o
chamado exército de reserva ou população sobrante, o que novamente aponta para
o crescimento da miséria.
No início da década de 1990 com a ascensão do neoliberalismo surge o
agravamento da desigualdade social e consequentemente a expansão das diversas
expressões da questão social.
As mais importantes expressões da questão social são: o retrocesso no emprego, a distribuição regressiva de renda e a ampliação da pobreza, acentuando as desigualdades nos estratos socioeconômicos, de gênero e localização geográfica urbana e rural, além de queda nos níveis educacionais dos jovens (IAMAMOTO, 2010, p. 147).
A questão social sempre foi a base do trabalho dos Assistentes Sociais, é
nesta perspectiva que este profissional deverá atuar sempre atento as mudanças
que ocorrem na sociedade.
Um dos maiores desafios que o assistente social vive no presente é desenvolver sua capacidade de decifrar a realidade e construir propostas de trabalho criativas e capazes de preservar e efetivar direitos, a partir de demandas emergentes no cotidiano (IAMAMOTO, 2011, p.20).
Assim, participando deste contexto o (a) Assistente Social se insere na
produção e reprodução das relações sociais. E, portanto para dar repostas as
necessidades emergentes do modelo capitalista vigente se insere no exercício
profissional como trabalhador que busca formular e propor projetos e/ou programas
que minimizem os efeitos coercitivos deste sistema, indo além das atividades
burocráticas do emprego formal.
O exercício da profissão é mais que isso. É uma ação de um sujeito profissional que tem competência para propor, para negociar com a instituição os seus projetos, para defender o seu campo de trabalho, suas qualificações e funções profissionais. Requer, pois, ir além das rotinas institucionais e buscar apreender o movimento da realidade para detectar tendências e possibilidades nela presentes passiveis de serem impulsionadas pelo profissional (IAMAMOTO, 2011, p. 21).
Para discutirmos sobre a questão do trabalho profissional, iniciaremos
este debate a partir das análises de Marx (2008) que esclarece que o trabalho é a
atividade que diferencia o homem dos animais, é através do trabalho que o homem
transforma a natureza e transforma a si mesmo.
Antes de tudo, o trabalho é um processo de que participam o homem e a natureza, processo em que o ser humano, com sua própria ação, impulsiona, regula e controla seu intercâmbio material com a natureza. Defronta-se com a natureza como uma de suas forças. Põe em movimento as forças naturais de seu corpo – braços e pernas, cabeça e mãos –, a fim
22
de apropriar-se dos recursos da natureza, imprimindo-lhes forma útil à vida humana. Atuando assim sobre a natureza externa e modificando-a, ao mesmo tempo modifica sua própria natureza (MARX, 2008, p. 211).
O homem através da sua capacidade de transformar a natureza,
distinguindo-se dos outros animais e assegurando a sua existência faz com que o
trabalho surja como forma do homem torna-se ser social, entendendo o trabalho
como categoria central da vida humana.
Podemos distinguir o homem dos animais pela consciência, pela religião ou por qualquer coisa que se queira. Porém, o homem se diferencia propriamente dos animais a partir do momento em que começa a produzir seus meios de vida, passo este que se encontra condicionado por sua organização corporal. Ao produzir seus meios de vida, o homem produz indiretamente sua própria vida material (MARX e ENGELS, 1974, p. 19).
O trabalho ainda tem por finalidade a transformação do homem e
consequentemente das relações sociais. Conforme Iamamoto (2011):
Por meio do trabalho o homem se afirma como ser criador, não só como indivíduo pensante, mas como indivíduo que age consciente e racionalmente. Sendo o trabalho uma atividade prática-concreta e não só espiritual, opera mudanças tanto na matéria ou no objeto a ser transformado, quanto no sujeito, na subjetividade dos indivíduos, pois permite descobrir novas capacidades e qualidades humanas (IAMAMOTO, 2011, p. 60; grifos da autora).
De acordo com a mesma autora, todo trabalho implica um certo saber
sobre os homens em suas relações sociais e pessoais, como condição de induzir o
sujeito a efetuar os propósitos desejados (IAMAMOTO, 2011, p. 42).
Desta forma existe uma discussão que diferencia o trabalho profissional
da prática profissional, e que a segunda estaria ligada diretamente à atividade
profissional, e no trabalho existe uma complexidade, pois, todo trabalho necessita da
pesquisa, do conhecer e refletir sobre o objeto de trabalho, como também de
instrumentos que possam dar subsídios para realização da atividade.
O trabalho é, portanto, inseparável do conhecimento, de ideias e concepções de mundo, isto é, de formas de pensar a vida real. O ser que trabalha constrói para si, através de sua atividade, modos de agir e de pensar, ou seja, uma maneira especificamente humana de se relaciona com as circunstâncias objetivamente existentes, delas se apropriando, tendo em vista a consecução de fins propostos pelo sujeito na criação de objetos capazes de desempenhar funções sociais, fazendo nascer valores de uso (IAMAMOTO, 2010, p. 352; grifos da autora).
Netto e Braz (2006) apreendem que o trabalho é constitutivo do ser social,
no entanto, ressaltam que o ser social não se reduz ou se esgota no trabalho e que
23
quanto mais se desenvolve o ser social, mais as suas objetivações transcendem o
espaço ligado diretamente ao trabalho.
Segundo Netto (2006), o Serviço Social é uma profissão, e não uma
ciência, e desse modo, lhe são privados os benefícios de conceituação ampla e
definitiva, permitida às ciências.
A atuação do profissional de Serviço Social deverá estar de acordo com
as determinações legais a partir da Lei nº 8.662/93 que regulamenta a profissão, o
Código de Ética profissional (1993) e as demais resoluções do Conselho Federal de
Serviço Social – CFESS2.
Segundo o Código de Ética Profissional (1993), temos como princípios
fundamentais para orientação do trabalho do (a) assistente social:
O reconhecimento da liberdade como valor ético central, a defesa intransigente dos direitos humanos, a ampliação e consolidação da cidadania, a defesa do aprofundamento da democracia, o posicionamento em favor da equidade e justiça social, o empenho na eliminação de todas as formas de preconceito, a garantia do pluralismo, a opção por um projeto profissional vinculado ao processo de construção de uma nova ordem societária, a articulação com os movimentos de outras categorias, o compromisso com a qualidade dos serviços prestado e o exercício do Serviço Social sem ser discriminado (FÁVERO, 2010, p.32-33).
A Lei nº 8.662/93, por sua vez, destaca dentre outras competências do assistente social:
Realizar estudos socioeconômicos com os usuários para fins de benefícios e serviços sociais junto a órgãos da administração pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades, realizar vistorias, pericias técnicas, laudos periciais, informações e pareceres sobre a matéria de Serviço Social (FÁVERO, 2010, p. 32).
É impossível pensar a atuação do (a) assistente social sem remeter-se ao
projeto ético-político que rege a profissão. Devendo o profissional ter capacidade de
articular seu conhecimento teórico-metodológico, ético-político com o técnico-
operacional3 para o desenvolvimento de uma atuação que responda as
necessidades sociais. De acordo com Toniolo (2008) as dimensões de
2 O Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) é uma autarquia pública federal que tem a
atribuição de orientar, disciplinar, normatizar, fiscalizar e defender o exercício profissional do/a assistente social no Brasil, em conjunto com os Conselhos Regionais de Serviço Social (CRESS). Para além de suas atribuições, contidas na Lei 8.662/1993, a entidade vem promovendo, nos últimos 30 anos ações, políticas para a construção de um projeto de sociedade radicalmente democrático, anticapitalista e em defesa dos interesses da classe trabalhadora. 3 De acordo com as diretrizes curriculares para os Cursos de Graduação em Serviço Social no Brasil,
propostas pela Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS) essas dimensões forma o pilar da formação profissional dos Assistentes Sociais.
24
competências que embasam a formação do profissional em Serviço Social podem
ser apreendidas como:
Competência ético-política – o Assistente Social não é um profissional “neutro”. Sua prática se realiza no marco das relações de poder e de forças sociais da sociedade capitalista – relações essas que são contraditórias. Assim, é fundamental que o profissional tenha um posicionamento político frente às questões que aparecem na realidade social, para que possa ter clareza de qual é a direção social da sua prática. Isso implica em assumir valores ético-morais que sustentam a sua prática – valores esses que estão expressos no Código de Ética Profissional dos Assistentes Sociais (Resolução CFAS nº 273/93)5, e que assumem claramente uma postura profissional de articular sua intervenção aos interesses dos setores majoritários da sociedade; Competência teórico-metodológica – o profissional deve ser qualificado para conhecer a realidade social, política, econômica e cultural com a qual trabalha. Para isso, faz-se necessário um intenso rigor teórico e metodológico, que lhe permita enxergar a dinâmica da sociedade para além dos fenômenos aparentes, buscando apreender sua essência, seu movimento e as possibilidades de construção de novas possibilidades profissionais; Competência técnico-operativa – o profissional deve conhecer, se apropriar, e sobretudo, criar um conjunto de habilidades técnicas que permitam ao mesmo desenvolver as ações profissionais junto à população usuária e às instituições contratantes (Estado, empresas, Organizações Não-governamentais, fundações, autarquias etc.), garantindo assim uma inserção qualificada no mercado de trabalho, que responda às demandas colocadas tanto pelos empregadores, quanto pelos objetivos estabelecidos pelos profissionais e pela dinâmica da realidade social (TONIOLO, 2008, p.121-122).
O Projeto Ético-político está ligado a um projeto de transformação da
sociedade, tendo como valor ético central: a liberdade. Buscando consolidar através
da organização política, fundamentada no conhecimento teórico, por meio de
pensamento coletivo. Segundo Netto (1999) este projeto profissional se vincula a um
projeto societário que propõe a construção de uma nova ordem social, sem
exploração/dominação de classe, etnia e gênero.
O Projeto Ético-Político do Serviço Social, consolidado nas décadas de 1980 e 1990, tem, como uma de suas características, pensar a profissão no contexto histórico, garantindo a análise da sua particularidade e da sua relação com outros sujeitos sociais e profissionais, na busca, sob determinadas condições sócio-econômicas, de estabelecer alianças e parcerias, na defesa de valores e princípios comprometidos com a emancipação humana (RAMOS, 2009, p.42).
Para a categoria profissional o projeto ético-político surge como alicerce
na atuação do (a) assistente social por dinamizar o compromisso com a classe
trabalhadora, na defesa dos direitos humanos, em favor da equidade, no combate ao
preconceito e na consolidação da cidadania.
25
A dimensão política do projeto é claramente enunciada: ele se posiciona a favor da equidade e da justiça social, na perspectiva da universalização do acesso a bens e a serviços relativos às políticas e programas sociais; a ampliação e a consolidação da cidadania são explicitamente postas como garantia dos direitos civis, políticos e sociais das classes trabalhadoras. Correspondentemente, o projeto se declara radicalmente democrático – considerada a democratização como socialização da participação política e socialização da riqueza socialmente produzida (NETTO, 1999, p. 16).
É fundamental que o (a) assistente social no exercício profissional
consiga unir a dimensão sócio-histórica, com o conhecimento teórico e sua
articulação política para a efetivação do projeto profissional que busca o
fortalecimento das classes na perspectiva de mudança social, visando á
emancipação social e com isso o fim das desigualdades, dominação e exploração.
Pois, de acordo com Iamamoto (2010):
As dimensões sócio-históricas e ético-políticas do projeto profissional têm consequências: supõem uma visão de mundo, articulada a uma ética correspondente e se liga à ação no sentido de interferir no comportamento dos homens, no enfrentamento dos conflitos sociais (IAMAMOTO, 2010, p. 230).
Neste sentido, o projeto ético-político aponta a necessidade de articular
com as instituições, com os outros profissionais, com movimentos sociais, para que
seja possível potencializar as propostas de democratização e ampliação da
cidadania, como também viabilizar a garantia dos direitos.
Além disso, existe o desafio de consolidar este projeto profissional como
hegemônico em meio às ameaças do projeto neoliberal explicitado na reestruturação
produtiva4, procurando ampliar as dimensões organizativas, o fortalecimento da
categoria, intervenções com competência crítica e aprofundamentos dos princípios
éticos e democráticos. A despeito disso, Iamamoto (2010) afirma o seguinte:
São muitos os desafios atuais. O maior deles é tornar esse projeto um guia efetivo para o exercício profissional e consolidá-lo por meio de sua implementação efetiva, ainda que na contramão da maré neoliberal, a partir de suas próprias contradições e das forças políticas que possam somar na direção por ele apontada (IAMAMOTO, 2010, p. 233).
Vive-se um momento de instabilidade no cenário mundial, que repercute
nos diversos segmentos sociais, tais como: economia, cultura, trabalho. E isso tem
refletido na atuação do (a) assistente social, pois, exige-se que este profissional seja
qualificado a dar retornos e ao mesmo tempo que seja um agente não só executivo,
mas propositivo. 4 Acerca da Reestruturação Produtiva, consultar Behring (2008) e Mota (2010).
26
O momento presente desafia os assistentes sociais a se qualificarem para acompanhar, atualizar e explicar as particularidades da questão social nos níveis nacional, regional e municipal, diante das estratégias de descentralização das políticas públicas (IAMAMOTO, 2011, p.41).
Por estar inserido na estrutura do trabalho, o assistente social também
vive as tormentas da flexibilização, da precarização, do subemprego e dos contratos
temporários.
Na sociedade brasileira esse quadro assume conotações particulares e mais graves, visto que ao desemprego, resultante das novas tecnologias, soma-se o persistente desemprego, estrutural, as relações de trabalho presididas pela violência, a luta de terra, o trabalho noturno, as relações de trabalho clandestinas, o trabalho escravo, que passam a adquirir uma certa “máscara de modernidade” neste país (IAMAMOTO, 2011, p.33-34).
Desta forma aumentam as exigências encontradas na atuação do
Assistente Social, que passa agora a ter que se “adequar” as exigências do mercado
formal, pois, além de se qualificar especificamente para atender as demandas
institucionais tem também que ficar atento para garantir o projeto ético-político,
sendo capaz de propor projetos que atendam as exigências institucionais sem
esquecer de garantir os direitos sociais.
Refletir sobre o trabalho da assistente social na contemporaneidade nos
faz pensar em toda a situação vivenciada pela classe trabalhadora que precisa dos
empregadores para vender sua mão de obra em troca de salários, muitas vezes
tendo seus direitos violados.
Segundo Raichelis, é necessário que os empregadores forneçam meios
para que se possam desenvolver as atividades profissionais.
São os empregadores que fornecem instrumentos e meios para o desenvolvimento das tarefas profissionais, são as instituições empregadoras que têm o poder de definir as demandas e as condições em que deve ser exercida a atividade profissional: o contrato de trabalho, a jornada, o salário, a intensidade, as metas de produtividade (RAICHELIS, 2011, p.428).
Iamamoto (2011) concorda com Raichelis (2011) quando discorre que o
assistente social precisa das organizações para executar seu trabalho, pois não
dispõe de todos os recursos necessários para efetivação de seu exercício
profissional.
Embora regulamentado como uma profissão liberal na sociedade, o Serviço Social não se realiza como tal. Isso significa que o assistente social não detém todos os meios necessários para a efetivação de seu trabalho:
27
financeiros, técnicos e humanos necessários ao exercício profissional autônomo. Depende de recursos previstos nos programas e projetos da instituição que o requisita e o contrata, por meio dos quais é exercido o trabalho especializado. Em outros termos, parte dos meios e recursos materiais, financeiros e organizacionais necessários ao exercício deste trabalho são fornecidos pelas entidades empregadoras (IAMAMOTO, 2011, p. 63).
Nesta ótica, entende-se que não é apenas conhecimento teórico,
capacidade crítica que necessita o assistente social para exercer sua atividade
profissional, mas também de recursos financeiros, estruturais que se materializam
na inserção deste profissional nos espaços sócio-ocupacionais estabelecidos na
sociedade.
2.2 Os espaços sócio-ocupacionais do Assistente Social
Conforme explicitado anteriormente o assistente social necessita de
espaços e entidades empregadoras para executar seu exercício profissional. Deste
modo é preciso pensar nas dinâmicas das relações sociais, suas expressões e o
processo histórico que insere o assistente social na atualidade.
O primeiro espaço de atuação do Serviço Social surge na década de 1920
num contexto de pauperização, altas jornadas de trabalho e movimentos de
organização popular por parte da classe operária, o que leva ao Estado a se
manifestar no âmbito da manutenção e controle da ordem. É neste momento que
vemos a atuação do assistente social que se insere como um mediador entre
proletariado e burguesia, porém, com base forte na doutrina cristã, a atuação ocorre
na perspectiva de corrigir as supostas “disfuncionalidades”5, adequando-os para os
moldes da sociedade burguesa.
Os elementos que mais colaboram para o surgimento do Serviço Social têm origem na Ação Católica – intelectualidade laica, estritamente ligada à hierarquia católica -, que propugna, com visão messiânica, a recristianização da sociedade através de um projeto de reforma social. Estes núcleos de leigos, orientados por uma retórica política de cunho humanista e antiliberal, lançam-se a uma vigorosa ação dirigida para penetrar em todas as áreas e instituições sociais, criando mecanismos de intervenção em amplos segmentos da sociedade, com estratégia de progressivamente, conquistar espaços importantes no aparelho de Estado (CASTRO, 1982, p. 40).
5 Expressão utilizada por Manuel Manrique Castro em seu livro História do Serviço Social na América
Latina (1984).
28
Em 1935 tem seu espaço vinculado ao Departamento de Assistência
Social do Estado de São Paulo, com um caráter mais assistencialista a atuação dos
assistentes sociais é direcionada a atender e intervir junto aos desvalidos, ao menor
e os trabalhadores, através de obras sociais e o chamado Serviço Social de casos
individuais.
Já em 1935 fora criado – Lei n. 2.497, de 24.12.1935 – o Departamento de Assistência Social do Estado, primeira iniciativa desse gênero no Brasil. A ele competiria: a) superintender todo o serviço de assistência e proteção social; b) celebrar, para realizar seu programa, acordos com as instituições particulares de caridade, assistência e ensino profissional; c) harmonizar a ação social do Estado, articulando-a com dos particulares; d) distribuir subvenções e matricular as instituições particulares realizando seu cadastramento (IAMAMOTO, 2011, p.185).
Já em 1940 o campo de atuação se dará nos Centros Familiares
organizados pelos CEAS6, localizados nos bairros operários e com objetivo de elevar
o nível econômico e cultural.
Nesses Centros manterão serviços diversos, como plantão para atendimento de interessados, serviços diversos, bibliotecas infantis, reuniões educativas para adultos, curso primário “para proteger as crianças cujas mães são obrigadas a trabalhar fora”, cursos de formação familiar (moral e formação doméstica para o lar), restaurante para operários etc. O tratamento dos casos será basicamente feito através de encaminhamentos, colocação em empregos, abrigos provisório para necessitados, regularização da situação legal da família (casamento) etc., e fichário dos assistidos (IAMAMOTO, 2011, p. 201).
Ainda na década de 1940 surge a Legião Brasileira de Assistência – LBA,
que dará impulsionalidade na expansão das obras assistenciais. Como também a
criação do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), e do Serviço
Social da Indústria (SESI), o serviço social é chamado a atuar num caráter mais
técnico, visando ações voltadas à educação, disciplinamento e qualificação do
trabalhador na indústria.
O assistente social, integrante desse quadro de técnicos manipuladores de técnicas sociais englobadas no processo educacional, aparecerá, teoricamente, na estrutura do SENAI como coordenador e reforçados dessa prática social e como explicitamente encarregado dos casos de desviança mais aparentes verificados no âmbito da instituição (IAMAMOTO, 2011, p. 281).
Na década de 1950 o Serviço Social começa outro tipo de abordagem,
relacionado às dinâmicas de grupo e estudos psicossociais, tem ação nos
programas sociais relacionados aos serviços de indústria e comércio através do
6 CEAS – Centro de Estudos e Ação Social de São Paulo.
29
modelo desenvolvimentista e também está inserido na saúde e na previdência nos
IAPs e posteriormente chamado de INPS.
No período de 1960 em meio à ditadura militar o Serviço Social passa por
um momento de reflexão crítica, que desperta nos assistentes sociais a necessidade
de mudança com as formas de atuação e a formação profissional que busca uma
transformação social na perspectiva de romper com o conservadorismo, surge assim
o Movimento de Reconceituação do Serviço Social7.
Os anos 60, ao longo dos quais se processou um agravamento do quadro político nacional, encontraram o Serviço Social recuado do cenário histórico, produzindo e reproduzindo práticas incapazes de se somarem aos esforços de construção e preservação de espaços democráticos em uma sociedade oprimida por uma ditadura militar (MARTINELLI, 2010, p. 142).
Já na década de 1970 é marcada pela busca de inserir uma forma única
de intervir dentro da realidade social, embasada na ideologia estrutural-funcionalista
que procura a ordem social e o bem comum.
Em 1980 o Serviço Social ocupa os espaços da universidade e dos
movimentos sociais e se apropria da teoria marxista como suporte na atuação
profissional, procurando romper com a neutralidade da ação profissional e afirmar
seu compromisso com a classe trabalhadora, assim exerce papel importante na
elaboração e efetivação das políticas sociais.
Por fim na década de 1990 ocorre várias conquistas com a aprovação do
Código de Ética de 1993, com a implementação do Projeto Ético-Político, e com isso
a ampliação dos espaços ocupacionais. E com a globalização e o crescimento das
desigualdades sociais percebemos que crescem as expressões da questão social e
em torno deste crescimento surgem necessidades de elaborar políticas públicas que
venham atender as demandas e são nos espaços sócio-ocupacionais que melhor
percebemos estas demandas.
Nesse cenário, a questão social e as ameaças dela decorrentes assumem um caráter essencialmente político, cujas medidas de enfrentamento expressam projetos para a sociedade. A ampliação exponencial das desigualdades de classe, densas de disparidades de gênero, etnia, geração e desigual distribuição territorial, radicaliza a questão social em suas múltiplas expressões coletivas inscritas na vida dos sujeitos, densa de tensões entre consentimento e rebeldia, o que certamente encontra-se na base da tendência de ampliação do mercado de trabalho para a profissão de Serviço Social na última década (IAMAMOTO, 2009, p.343).
7 Para a análise deste evento José Paulo Netto faz uma ampla discussão no livro Ditadura e Serviço
Social: uma análise do Serviço Social no Brasil pós-64.
30
O Estado vem procurar através das políticas públicas intervir nesta
realidade, e dentro desta, o assistente social se insere na elaboração, avaliação e
execução de políticas sociais que tem sido as principais mediações dentro da esfera
estatal.
Assim sendo, é o próprio Estado o grande impulsionador da profissionalização do assistente social, responsável pela ampliação e constituição de um mercado de trabalho nacional, cada vez mais amplo e diversificado, acompanhando a direção e os rumos do desenvolvimento capitalista na sociedade brasileira (RAICHELIS, 2009, p.380).
Com sua capacidade de intervir na realidade, seja por meio da execução,
planejamento, gestão e avaliação, o (a) assistente social é chamado a atuar nos
mais diferentes espaços, sejam eles de caráter público ou privado, como é o caso
das ONGs, saúde, previdência, assistência, entidades sem fins lucrativos, empresas,
hospitais, presídios, dentre outros.
Podemos observar também a atuação deste profissional nos Conselhos
municipais e estaduais, na gestão e monitoramento no terceiro setor, nas
organizações privadas, na habitação e nos espaços de formação profissional.
A ampliação destes espaços ocupacionais traz como consequência o
aumento das exigências profissionais, que fazem com que o assistente social esteja
capacitado a articular com as instituições de forma atender suas demandas sem
romper com os princípios do Código de Ética, tendo uma reflexão crítica sobre o
contexto histórico que se insere, com uma formação acadêmica contínua, preparado
para elaboração e realização de estudos e pesquisas e capacidade para atuar em
equipes interdisciplinares.
Orientar o trabalho profissional nos rumos aludidos requisita um profissional culto e atento às possibilidades descortinadas pelo mundo contemporâneo, capaz de formular, avaliar e recriar propostas ao nível das politicas sociais e da organização das forças da sociedade civil. Um profissional informado, crítico e propositivo, que aposte no protagonismo dos sujeitos sociais. Mas também um profissional versado no instrumental técnico-operativo, capaz de realizar as ações profissionais, aos níveis de assessoria, planejamento, negociação, pesquisa e ação direta, estimuladoras da participação dos usuários na formulação, gestão e avaliação de programas e serviços sociais de qualidade (IAMAMOTO, 2011, p.144).
A imersão do (a) assistente social nas diferentes esferas governamentais
faz com que seja requisitado deste profissional uma capacidade de decifrar a
31
realidade e formular projetos sociais que possam ser efetivados de acordo com a
dinâmica de cada instituição. É o que afirma Raichelis (2009):
Para os assistentes sociais será reservada, prioritariamente, a relação com os segmentos sociais mais vulnerabilizados pelas sequelas da questão social e que buscam, nas políticas públicas especialmente nas políticas sociais, em seus programas e serviços, respostas às suas necessidades mais imediatas e prementes (RAICHELIS, 2009, p.380).
Conforme Iamamoto (2011), nos diferentes espaços ocupacionais do (a)
assistente social é de suma importância impulsionar pesquisas e projetos que
favoreçam o modo de vida e de trabalho dos segmentos populacionais atendidos,
para que se possa conhecer a realidade em que estes indivíduos vivem e propiciar
respostas eficazes a demanda posta.
Assim, diante de diversos antagonismos e interesses distintos, nos
diferentes espaços de atuação, o assistente social deverá sempre buscar estratégias
que garantam a efetivação dos direitos sociais, como também a buscar incessante
pela valorização da liberdade e autonomia dos sujeitos sociais.
2.3 O perfil de profissional que se exige na atualidade
Por ser um profissional que está diretamente ligado às transformações
sociais seja no âmbito da economia, da política ou da cultura, o (a) assistente social
inserido no mundo do trabalho deverá estar sintonizado as novas exigências que
surgem com as modificações da sociedade contemporânea.
Para Iamamoto (2010) a inserção deste profissional nos mais variados
espaços profissionais vem seguido de novas requisições de qualificação.
Tais inserções são acompanhadas de novas exigências de qualificação, tais como: o domínio de conhecimentos para realizar diagnósticos socioeconômicos de municípios, para a leitura e analise dos orçamentos públicos, identificando seus alvos e compromissos, assim como os recursos disponíveis para projetar ações; o domínio do processo de planejamento; a competência no gerenciamento e avaliação de programas e projetos sociais; a capacidade de negociação, o conhecimento e o know-how na área de recursos humanos e relações no trabalho, entre outros (IAMAMOTO, 2010, p.207).
Deste modo para que sua atuação seja desenvolvida de forma ética e
qualificada, o (a) assistente social dispõe de Parâmetros, Diretrizes, Leis e Projeto
profissional que lhe dão suporte e valores éticos que orientam sua intervenção
32
profissional, sem deixar que os ditames do neoliberalismo prevaleçam na sua
atuação profissional, que requer um compromisso com a classe trabalhadora e tem
a liberdade como valor ético central da sua profissão. Assim, de acordo com Couto
(2009):
Esse profissional, atento às demandas contemporâneas, compreende o arsenal técnico-operativo como expressão de sua opção teórica, materializando o seu uso com o propósito de garantir a execução de seu trabalho na direção da construção de relações democráticas e emancipadoras, pressupostos básicos do projeto ético-político do Serviço Social (COUTO, 2009, p. 656).
Para que o (a) assistente social possa executar seu trabalho profissional
deverá propor projetos /ou programas que atendam as demandas institucionais e as
necessidades dos usuários, buscando sempre apreender o movimento da realidade.
Deste modo o (a) assistente deve estar sempre atento às modificações
sociais, procurando decifrar suas manifestações, através das dimensões objetivas e
subjetivas que são determinantes das estruturas econômicas políticas da sociedade.
Assim, afirma Yazbek (2009):
Ou seja, compreender que a prática profissional do Serviço Social é necessariamente polarizada pelos interesses de classes sociais em relação, não podendo ser pensada fora dessa trama. Permite também apreender as dimensões objetivas e subjetivas do trabalho do assistente social. Objetivas: no sentido de considerar os determinantes sócio-históricos do exercício profissional em diferentes conjunturas. Subjetivas: no sentido de identificar a forma como o assistente social incorpora em sua consciência o significado de seu trabalho e a direção social que imprime ao seu fazer profissional (YAZBEK, 2009, p. 128).
Esta afirmação nos leva a refletir sobre a capacidade investigativa do (a)
assistente social, que segundo Guerra (2009:712) a investigação é inerente à
natureza de grande parte das competências profissionais, assim vale ressaltar que a
atuação profissional está diretamente ligada a percepção dos profissionais que
devem se aprimorar dos instrumentos e técnicas de forma a propor e executar
projetos que respondam a realidade.
Para Martinelli (2006) é de extrema importância que o (a) assistente social
saiba fazer a leitura da realidade, para que seja garantida a direção do fazer
profissional.
Daí a importância dos profissionais saberem fazer leituras criticas, ético-políticas, de conjuntura, para poderem construir formas cada vez mais substantivas de consolidação do projeto profissional. Na verdade, como já afirmamos, o assistente social é um profissional que trabalha
33
permanentemente na relação entre estrutura, conjuntura e cotidiano; é no cotidiano que as determinações conjunturais se expressam e aí é que se coloca o desafio de garantir o sentido e a direcionalidade da ação profissional (MARTINELLI, 2006, p.18).
Concordando com a importância da capacidade investigativa do (a)
assistente social, Fraga (2010) nos aponta o que seria esta atitude e como ela tem
colaborado para a atuação profissional.
O que seria, então, a propalada atitude investigativa? Remete a uma postura aberta do sujeito para investigar, a permanente curiosidade, expectativa para aprender e entender o inesperado, o acaso, o que extrapola suas referencias e o leva a ir além. A atitude investigativa consiste numa postura inquieta e curiosa, por isso é fundamental na bagagem cotidiana do profissional. A ausência dessa postura pode levar à cristalização das informações, à estagnação do aprendizado profissional, o que, consequentemente, comprometerá o compromisso do assistente social com a qualidade dos serviços prestados à população usuária (FRAGA, 2010, p. 52).
Desta forma são inúmeros os desafios e exigências que se apresentam
neste contexto, dentre os já citados: desemprego, precarização do trabalho,
terceirização, podemos também apontar para a dificuldade na consolidação do
projeto ético-político, a fragmentação da classe, o excesso de profissionais, que
Iamamoto (2010:440) define como o crescimento exponencial do contingente
profissional, a curto prazo, traz sérias implicações para o exercício profissional e
para as relações de trabalho e condições salariais por meio das quais ele se realiza.
Diante de tal contexto, cabe ao assistente social ampliar seus
conhecimentos através de pesquisas, estudos, palestras, seminários, procurando
utilizar de seu arsenal teórico-metodológico, refletindo sobre os fatos, utilizando suas
atribuições privativas definidas no Código de ética, como também as aptidões
adquiridas na formação e na atuação profissional, visando formular uma capacidade
de articulação com os desafios impostos pela sociedade capitalista sem esquecer-se
do compromisso com as classes subalternas e com a busca constante pela garantia
dos direitos sociais.
34
III – O TRABALHO PROFISSIONAL NA ÁREA SÓCIO-JURÍDICA
Este capítulo buscará mostrar o exercício profissional dentro da realidade
do Sistema Penitenciário. Através da pesquisa de campo exploratória foi possível
perceber alguns fatores que especificam a atuação do (a) Assistente Social neste
espaço ocupacional na busca da garantia dos direitos humanos.
3.1 O exercício profissional do (a) Assistente Social na área sócio-
jurídica
No começo da década de 1930, com a expansão das escolas de Serviço
Social no mundo, a profissão surge vinculada ao pensamento de uma profissão que
vem auxiliar a medicina e o direito. Pois como nos lembra Manrique (1982), no Chile,
a primeira escola surge impulsionada a partir da beneficência pública, por um
médico, a partir do Estado e para auxiliar o exercício da medicina, no Brasil surge no
meio do movimento católico, e a expansão da profissão conecta-se à medicina e ao
Direito.
Os primeiros registros da atuação do Assistente Social na área sócio-
jurídica ocorrem na década de 1940, no Juizado de Menores. Passando a ocupar o
que se denomina de perito da área social, num período que ampliava o agravamento
da questão social e a tentativa de controle, tendo um espaço de ação vinculado ao
aconselhamento, orientação e encaminhamento junto aos adolescentes na Justiça
da Infância e Juventude.
Constata-se tal fato mesmo considerando que a Justiça da Infância e Juventude, por exemplo, tenha sido uma das primeiras áreas de trabalho do assistente social, e que profissionais que atuam em outros espaços institucionais, que integram o denominado sistema sócio-jurídico, relacionam-se no dia a dia com esse campo, como os que trabalham junto a abrigos, internatos, conselhos de direitos, Ministério Público, sistema penitenciário (sobretudo quando envolve mães ou pais presos) (FÁVERO, 2010, p. 12).
A inserção do Assistente Social na área sócio-jurídica8 é demandada pelo
Poder Judiciário, no qual estes profissionais deveram contribuir para a garantia de
direitos.
8 Compreende-se como sócio-jurídico o conjunto de áreas em que a ação do Serviço Social articula-
se a ações de natureza jurídica, como o Sistema Judiciário, o Sistema Penitenciário, o Sistema de
35
O trabalho do assistente social nestes serviços se caracteriza por uma prática de operacionalização de direitos, de compreensão dos problemas sociais enfrentados pelos sujeitos no seu cotidiano e suas inter-relações com o sistema de justiça. Além disso, esse espaço profissional permite a reflexão e a análise da realidade social dessa população, da efetividade das leis e de direitos na sociedade, possibilitando o desenvolvimento de ações que ampliem o alcance dos direitos humanos e a eficácia da ordem jurídica em nossa sociedade (CHUAIRI, 2001, p. 139).
Assim, tomaremos como campo específico da área sócio-jurídica, o
Sistema Penitenciário, que segundo Torres (2001), se faz necessário à atuação do
assistente social para o enfrentamento da problemática da violação dos direitos
humanos da população carcerária.
Ao Serviço Social como profissão cabe a tarefa de confrontar-se com a realidade das prisões brasileira, de modo crítico e ético, por meio de uma prática competente teórica e politicamente, viabilizando respostas que superem, também pela atuação profissional, este sistema punitivo violador incessante dos direitos humanos (TORRES, 2001, p.77).
Guindani (2001) ostenta o posicionamento semelhante ao colocar que:
O assistente social, por meio de suas múltiplas intervenções, pode conquistar um espaço fundamental, ao desenvolver o fortalecimento das relações entre sujeitos estigmatizados e despertar a comunidade para a necessidade de mudar o rumo das proporções assumidas pela violência/criminalidade. Com isso, promove o processo de inclusão social dos apenados, bem como a desmitificação da identidade socialmente construída (GUINDANI, 2001, p. 43).
O Sistema Penitenciário brasileiro está regulamentado pela Lei de
Execução Penal9 (LEP nº 7.210/84), que diz em seu Artigo 1º: “A execução penal
tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e
proporcionar condição para a harmônica integração social do condenado e do
internado”. Com relação à responsabilidade do Estado em manter a assistência ao
preso encontramos de forma clara no Artigo 10º: “A assistência ao preso e ao
internado é dever do Estado, objetivando prevenir o crime e orientar o retorno à
convivência em sociedade”. Essa assistência é compreendida como assistência
material, à saúde, jurídica, educacional, social e religiosa, nos quais ficam bem
explicitados nos artigos 12º ao 24º respectivamente.
Segurança, os sistemas de proteção e acolhimento como abrigos, internatos, conselhos de direito, dentre outros. (Ver Fávero, 2010). 9 LEP – Lei de Execução Penal nº 7.210/84, Publicada no Diário Oficial da União, Seção I, de 13 de
julho de 1984, p. 10227.
36
Atualmente no Ceará o Sistema Penitenciário está sobre a administração
da Secretaria de Justiça e Cidadania – SEJUS10, criada em 16 de junho de 1891,
tem como missão institucional promover o pleno exercício da cidadania e a defesa
dos direitos humanos inalienáveis da pessoa humana. Para o cumprimento de seu
dever, compete à Sejus executar a manutenção, supervisão, coordenação, controle,
segurança e administração do Sistema Penitenciário do Ceará. Além de garantir o
cumprimento das penas e zelar pelo livre exercício dos poderes constituídos.
O Sistema Penitenciário do Ceará é composto por: 05 Casas de Privação
Provisórias de Liberdade (04 no município de Itaitinga e 01 no município de
Caucaia); 01 Penitenciária Feminina (IPF - Instituto Penal Feminino
Desembargadora Auri Moura Costa); 02 Presídios Masculinos (IPPOO I - Instituto
Presídio Professor Olavo Oliveira I - desativado no início de 2013; IPPOO II -
Instituto Presídio Professor Olavo Oliveira II); 02 Penitenciárias Masculinas (IPPS -
Instituto Penal Paulo Sarasate; Penitenciária Francisco Hélio Viana de Araújo -
Pacatuba – PFHVA); 01 Hospital (HGSPPOL - Hospital Geral e Sanatório Penal
Professor Otávio Lobo); 01 Instituto Psiquiátrico (IPGSG - Instituto Psiquiátrico
Governador Stênio Gomes); 02 Penitenciárias Industriais (PIRS - Penitenciária
Industrial Regional de Sobral; PIRC - Penitenciária Industrial Regional do Cariri); 01
Colônia Agrícola (Colônia Agrícola do Cariri); 01 Casa do Albergado e 134 Cadeias
públicas.
Segundo dados do Sistema Integrado de Informações Penitenciárias –
InfoPen do Ministério da Justiça, o total de presos no Sistema Penitenciário
Brasileiro em dezembro de 2012 era de 548,003 deste total 512,964 eram homens
e 35,039 mulheres. No Ceará, neste mesmo período, a população carcerária era de
18,619 e destes 17,846 eram presos homens e 773 mulheres. Dentre os crimes
cometidos 5.208 estão enquadrados por homicídios simples e/ou qualificados; 9.576
são qualificados entre furto, roubo, latrocínio, extorsão, estelionato, receptação;
1.007 entre estupro, atentado violento ao pudor, corrupção de menor, tráfico interno
e internacional de pessoas; 890 por tráfico de entorpecentes; 4.214 por porte ilegal
de arma e os demais se enquadram como crimes contra a paz pública, a fé pública,
a administração pública e a legislação especifica.
10
Fonte: http://www.sejus.ce.gov.br/index.php/secretaria/38/65
37
De acordo com o Ministério da Justiça o tratamento penitenciário deverá
garantir os direitos humanos:
Por ter a pessoa como objeto principal de proteção, a concepção de política penitenciária que se tenta avançar se insere na inclusão do tratamento penitenciário como política de garantia dos direitos humanos, fator de redução de danos e minimização de vulnerabilidades que o sistema punitivo produz (BRASIL, Ministério da Justiça, 2007).
Diante deste contexto o (a) Assistente Social inserido neste espaço sócio-
ocupacional deverá intervir na realidade social dos sujeitos apenados11 na busca de
garantir a efetivação dos direitos humanos.
Entre as várias requisições sobre o trabalho do (a) Assistente Social no
Jurídico, Chuairi (2001) nos aponta as seguintes atribuições:
Assessorar e prestar consultoria aos órgãos públicos judiciais, a serviços de assistência jurídica e demais profissionais deste campo, em questões específicas de sua profissão; Realizar perícias e estudos sociais, bem como informações e pareceres da área de sua competência, em consonância com os princípios éticos de sua profissão; Planejar e executar programas destinados à prevenção e integração social de pessoas e/ou grupos envolvidos em questões judiciais; Planejar, executar e avaliar pesquisas que possam contribuir para a análise social, dando subsídios para ações e programas no âmbito jurídico; Participar de programas de prevenção e informação de direitos à população usuária dos serviços jurídicos; Treinamento, supervisão e formação de profissionais e estagiários nesta área (CHUAIRI, 2001, p. 138).
Assim, a atuação do profissional de Serviço Social deverá estar de acordo
com as determinações legais a partir da Lei de Execução Penal, o Código de Ética
Profissional (1993), e a Lei nº 8.662/93.
Na lei de regulamentação da profissão (8.662/93) identificam-se os
seguintes itens que remetem as ações profissionais que são executadas nas
instituições penais:
Art. 4º - Constituem competência do Assistente Social: III- encaminhar providências, e prestar orientação social a indivíduos, grupos e à população; V - orientar indivíduos e grupos de diferentes segmentos sociais no sentido de identificar recursos e de fazer uso dos mesmos no atendimento e na defesa de seus direitos; XI - realizar estudos sócio-econômicos com os usuários para fins de benefícios e serviços sociais junto a órgãos da administração pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades. Art. 5º - Constituem atribuições privativas do Assistente Social: IV
11
Apenados são os sujeitos sentenciados a algum tipo de pena privativa de liberdade ou restritiva de
direitos que vivenciaram um processo de criminalização. (Ver Guindani, 2001).
38
- realizar vistorias, perícias técnicas, laudos periciais, informações e pareceres sobre a matéria de Serviço Social; VI - treinamento, avaliação e supervisão direta de estagiários de Serviço Social.
Assim, na Lei de Execução Penal embora não estejam explicitamente as
competências do Serviço Social, as suas funções aparecem relacionadas no quesito
de direito à assistência social que encontra-se exposta nos artigos 22 e 23 que
definem suas finalidades:
Art. 22. A assistência social tem por finalidade amparar o preso e o internado e prepará-los para o retorno à liberdade. Art. 23. Incumbe ao serviço de assistência social: I - conhecer os resultados dos diagnósticos ou exames; II - relatar, por escrito, ao Diretor do estabelecimento, os problemas e as dificuldades enfrentadas pelo assistido; III - acompanhar o resultado das permissões de saídas e das saídas temporárias; IV - promover, no estabelecimento, pelos meios disponíveis, a recreação; V - promover a orientação do assistido, na fase final do cumprimento da pena, e do liberando, de modo a facilitar o seu retorno à liberdade; VI - providenciar a obtenção de documentos, dos benefícios da Previdência Social e do seguro por acidente no trabalho; VII - orientar e amparar, quando necessário, a família do preso, do internado e da vítima.
Ainda no Art. 6º da referida lei, o (a) Assistente Social em parceria com a
Psicologia, que formam a CTC12 – Comissão Técnica de Classificação, deverão
acompanhar e realizar atendimento individualizado aos presos na busca de elaborar
pareceres e propor aos Juízes competentes a progressão de regime dos apenados.
Assim, a categoria perde sua identidade, que Guindani (2001) vem apontar que as
ações do (a) Assistente Social ocorrem por intermédio da CTC, ficando muitas vezes
relegado a um papel de “executor de laudos”.
É diante deste contexto institucional que está inserido o (a) Assistente
Social, que tendo como função determinada o amparo ao preso, a triagem,
assistência ao preso e seus familiares, vem também obedecer as exigências do
Poder Judiciário que tem em sua prioridade a elaboração de relatórios social,
pareceres e laudos para a finalidade da progressão de regime dos presos, o que
leva ao profissional do Serviço Social a ser um mero executor de relatórios sociais,
muitas vezes deixando as outras determinações e demandas como uma atividade
secundária. Dentro desta perspectiva Faleiros (1997), nos define a concepção da
12
CTC – Comissão Técnica de Classificação, composta por psiquiatra, psicólogo e assistente social.
(Ver Lei de Execução Penal)
39
intervenção profissional como confrontação de interesses, recursos de energias e
conhecimentos, inscritos no processo de hegemonia e contra-hegemonia, de
dominação/resistência, de conflito/consenso.
Observando tais finalidades, percebe-se a necessidade do (a) Assistente
Social de ter uma visão crítica destes instrumentos, pois, como nos lembra Silva
(2012), a área sócio-jurídica é um espaço de correlação de forças, onde o Estado,
através de determinadas instituições, efetiva a coerção, o controle social e o
disciplinamento dos sujeitos.
Os Estados mantêm, por sua vez, estruturas administrativas rudimentares para os seus “sistemas” carcerários. Além da precariedade das condições físicas de boa parte das prisões, essas, em geral, são dirigidas por pessoal qualificado mais para tarefas de segurança do que para a preparação da reinserção do condenado na sociedade (SALLA, 2001, p.35).
E conforme Guindani (2001), o início da atuação profissional do Serviço
Social no Sistema Penitenciário tinha um caráter assistencialista e burocrático,
afirmando o poder que o Estado exerce sobre os sujeitos apenados. Percebemos
que ainda existe uma hierarquia institucional e que as ações impostas por
determinação do Estado ainda apontam para uma política que garante os mínimos
sociais e que ainda detém um viés no assistencialismo, o que vai em desencontro
com a atuação profissional do Assistente Social, que busca a efetivação de direitos.
Inicialmente com forte cunho assistencial e assumindo atividades de outras categorias, adotou posição preponderante frente a toda problemática da ressocialização do sujeito apenado. Incorporava-se dessa maneira, o caráter repressor e adaptador da instituição total, não sendo, nesse momento histórico, questionada a contrariedade existente no trinômio segurança, disciplina e recuperação (GUINDANI, 2001, p. 40).
Guindani (2001) ainda afirma que,
O Serviço Social, juntamente com as equipes de CTC, construiu, no decorrer de sua história (após implantação da LEP – 1985) uma identidade instituída, vinculada aos mecanismos de controle social, com caráter tarefeiro, subalterno, sem base teórica e intencionalidade ético-político (GUINDANI, 2001, p. 42, grifos da autora).
Diante deste contexto é de grande importância que o (a) Assistente Social
atuando neste espaço ocupacional esteja atento às novas demandas e
competências profissionais que lhe são impostas, na perspectiva de fortalecer sua
autonomia, ampliar seus conhecimentos, para poder confrontar com os
antagonismos deste sistema.
40
3.2 Perfil e trajetória profissional dos Assistentes Sociais no presídio
Iniciaremos traçando o perfil13 de 02 Assistentes Sociais que atuam no
Sistema Penitenciário do Ceará, como citado anteriormente foram escolhidos como
instituições o IPPOO II - Instituto Presídio Professor Olavo Oliveira II e a CPPL 3 -
Casa de Privação Provisória de Liberdade Professor Jucá Neto.
A primeira assistente social entrevistada foi a Orquídea que graduou-se
pela UECE, possui 20 anos de formação, já tendo atuado em diversas áreas como:
saúde, habitação e assistência social. Iniciou sua trajetória profissional assim que de
formou indo trabalhar no Hospital Psiquiátrico Mira y Lopez, depois foi trabalhar na
área da habitação no município de Granja/Ce, participou de uma seleção pra atuar
no Projeto Prosanear no Conjunto Palmeiras e quando este terminou foi para a
Secretaria de Ação Social na prefeitura de Maracanaú no qual passou oito anos,
período no qual o prefeito da época esteve a frente da prefeitura, saindo quando
terminou este período foi para a CAGECE, onde coordenou o Projeto Alvorada a
frente dos municípios de Barreira, Paramoti e Ocara, seguindo então para executar o
Projeto KFW (água e esgoto) também da CAGECE só que agora no município de
Quixadá. Ao finalizar este projeto, foi selecionada para trabalhar na Prefeitura de
Itapiúna na Educação Especial com a Equipe Multi. Seguindo depois para cidade
vizinha Capistrano pra assessorar a Secretaria de Ação Social no qual passou dois
anos. Trabalha no Sistema Penitenciário há 06 anos e 04 meses, sua inserção nesta
área ocorreu por convite de uma amiga que já atuava no sistema e lhe apresentou a
direção do presídio que a convidou para compor a equipe técnica. Atualmente
exerce sua profissão no presídio e em uma unidade do CAPS.
A segunda assistente social entrevistada foi Tulipa, que também
graduou-se pela Universidade Estadual do Ceará. Possui 24 anos de formação,
porém só veio a exercer sua profissão após 15 anos de formada, por motivos
pessoais, atuando na assistência social por 1 ano e 3 meses no Raízes da
Cidadania no Conjunto Palmeiras, executando projetos sociais: PETI, Bolsa-família,
etc. Em seguida foi trabalhar no CRAS no distrito de Pecém no município de São
Gonçalo do Amarante, por um período de um ano e três meses. Logo em seguida
trabalhou com crianças e adolescentes no Centro Educacional Martin Francisca com
13
Ressalto que os nomes das informantes foram trocados afim de preservar suas identidades.
41
Liberdade Assistida. Atua no Sistema Penitenciário há 05 anos e despertou
interesse pela área por intermédio da Pastoral Carcerária, onde realizava trabalho
voluntário desde 2004.
Podemos perceber que as Assistentes Sociais se formaram em uma
universidade pública, o que nos leva a refletir sobre o processo de aligeiramento
profissional no qual o Serviço Social vem passando na atualidade, ao se deparar
com o crescimento das universidades particulares que se detém a questão do
ensino, deixando de lado a preocupação com a extensão e a pesquisa, como
também o surgimento dos cursos com modalidade à distância14, este que fere o
compromisso com o Código de Ética ao fornecer uma educação vai de encontro com
as diretrizes curriculares e que não dão subsídios para o estágio supervisionado e
obrigatório, pois, utilizam de tutores, muitas vezes sem formação em Serviço Social
na efetivação de supervisão. Pode-se perceber também a área de maior
predominância de atuação é a assistência social, que a prefeitura é quase sempre a
principal empregadora destas profissionais e que sua inserção na área sócio-jurídica
ocorreu por convite de pessoas que já atuavam na referida área o que veio a lhes
despertar interesse em atuar no Sistema Penitenciário.
Diante das informações obtidas pelas entrevistadas foi realizada uma
análise dos dados e dividido em eixos para melhor observar o trabalho do (a)
assistente social na realidade do Sistema Penitenciário.
3.3 O trabalho do Assistente Social no presídio
Utilizaremos três eixos de análises:
1- Condições de trabalho; demandas e exigências;
2- Qualificação e instrumentação técnica para perceber as demandas
institucionais e;
3- As competências profissionais necessárias à atuação profissional.
Observa-se o crescimento da população carcerária no Brasil e sabe-se
que as condições no qual estes sujeitos vivem são de extrema precariedade, porém,
14
Para ampliação da discussão ver Art. 80 da Lei de Diretrizes e Bases - Lei 9394/96 e Decreto n.º 2.494, de 10 de fevereiro de 1998 que regulamenta o Art. 80 da LDB.
42
vale ressaltar que o assistente social também passa por um processo precário para
realização dos atendimentos a estes usuários e que as condições de trabalho nem
sempre lhes são favoráveis.
O atendimento aos internos é realizado no parlatório e este procedimento é realizado em pé, utilizando uma prancheta para o preenchimento dos dados e das demandas que chegam ao Serviço Social, tem um ruído bem forte o que dificulta a escuta e também o sigilo profissional (Tulipa). Sobre as condições de trabalho, podemos afirmar no momento que melhorou bastante, temos uma sala ampla, com ar-condicionado, o telefone agora é na sala ao lado, o que facilita as ligações para os familiares (Orquídea).
Diante das falas das entrevistadas podemos perceber que as condições
de trabalho são diferentes de acordo com a instituição na qual se esta inserida, pois
na visita feita para a pesquisa de campo foi percebido que em um determinado
presídio a sala do Serviço Social é pequena, tendo que ser compartilhada com mais
de um profissional, no atendimento as famílias é resguardado o sigilo, porém no
atendimento ao interno nem sempre é possível esta garantia por ser feito no
parlatório, no qual todos os profissionais (psicólogos, advogados, defensor público e
assistente social) dividem o mesmo espaço sendo separado somente por uma
parede, porém por conta do barulho que os internos fazem neste espaço é
necessário que algumas perguntas e demandas sejam escritas em um papel para
que não ocorra nenhuma má interpretação das falas, como também é aflitivo por
neste mesmo espaço os internos rivais podem se confrontar.
No outro presídio a assistente social cita que as condições de trabalho
melhoraram, mas, com base no período de estágio realizado pela pesquisadora,
pode-se relatar que a sala era em frente ao parlatório, local utilizado para receber
profissionais (advogados, psicólogos, assistentes sociais, promotor) para conversar
com os apenados, separado por uma grade, era pequena, quente, não havia ar-
condicionado, o telefone ficava no setor administrativo, e que todas as vezes que
necessitava realizar uma ligação o profissional deveria sair do seu setor e subir até o
departamento que ficava o telefone. O atendimento as famílias não podia ser
realizado na sala do Serviço Social por está estar na parte inferior do presídio, e que
para ter acesso a ela deveria ter que passar pelo detector de metais, e somente os
funcionários ou alguém autorizado tem acesso. Então o assistente social deveria se
deslocar de sua sala e realizar o atendimento muitas vezes no saguão de entrada do
43
presídio, mais uma vez tendo que driblar as dificuldades para garantir a efetivação
das atribuições e competências profissionais expressas no Código de Ética.
Vale salientar que na Resolução 493/2006 do CFESS dispõe sobre as
condições éticas e técnicas do exercício profissional do assistente social e nos
Artigos 2º e 3º enfatiza sobre o local adequado e as condições necessárias para o
bom atendimento.
Art. 2º - O local de atendimento destinado ao assistente social deve ser dotado de espaço suficiente, para abordagens individuais ou coletivas, conforme as características dos serviços prestados, e deve possuir e garantir as seguintes características físicas: a) iluminação adequada ao trabalho diurno e noturno, conforme a organização institucional; b) recursos que garantam a privacidade do usuário naquilo que for revelado durante o processo de intervenção profissional; c) ventilação adequada a atendimentos breves ou demorados e com portas fechadas; d) espaço adequado para colocação de arquivos para a adequada guarda de material técnico de caráter reservado. Art. 3º - O atendimento efetuado pelo assistente social deve ser feito com portas fechadas, de forma a garantir o sigilo.
Dentre as principais demandas que chegam ao Serviço Social, estão as
ligações pra família, os encaminhamentos para outros setores, cadastro de visitas e
a elaboração do relatório social.
As maiores demandas estão relacionadas às ligações para a família, encaminhamento para outros profissionais, principalmente advogados e defensor público, relatório e parecer social, atendimento individual e familiar, como também a aquisição de documentos dos internos e certidão de nascimento dos filhos dos mesmos (Orquídea). Dentre as demandas principais temos o cadastro de familiares para a visita, a triagem realizada no ingresso do interno na unidade, o encaminhamento para psicólogos, advogados, as ligações para os familiares e a elaboração do relatório social para a progressão de regime (Tulipa).
Sabendo o quanto é importante à participação da família no processo de
ressocialização dos presos, e diante desta perspectiva o (a) Assistente Social
procurar fortalecer os vínculos familiares, muitas vezes é na ligação para a família o
primeiro contato na tentativa de despertar nos familiares a responsabilidade que eles
têm em relação ao fortalecimento emocional destes presos que estão em um
ambiente hostil, expostos a todo tipo de violação de direitos e, portanto altamente
vulneráveis.
As repostas dadas como retorno as demandas são por diversas vezes
realizadas através de encaminhamentos para atendimento de outros profissionais,
44
dentre os quais o defensor público e os advogados são os mais requisitados. A
elaboração dos relatórios sociais é tida como algo constante na rotina do (a)
Assistente Social, embora sabendo que nem sempre se pode dar um parecer
preciso com somente um encontro com o preso, pois o relatório social requer um
estudo social, uma análise, uma observação, uma interpretação do sujeito e de sua
origem, ocorre que por pressão institucional esse relatórios são feitos como algo de
extrema urgência, precisão e imediaticidade para a instituição, o que aponta para
uma relação de subalternidade e subordinação deste profissional em relação as
ordem hierárquicas do Sistema Penitenciário, levando o profissional a correr o risco
de por meio da roteirização e burocratização se torna um mero perito executor de
laudos e pareceres sociais.
No âmbito dos marcos legais e normativos, as Resoluções nº 557/2009 e
559/2009 do Conselho Federal de Serviço Social - CFESS dispõe sobre a emissão
de pareceres, laudos, opiniões técnicas conjuntos entre o (a) assistente social e
outros profissionais. Na resolução 557 no artigo 2º fica claro que o assistente social
não é obrigado a exercer funções incompatíveis com as suas atribuições e
competências profissionais.
Art 2°. O assistente social, ao emitir laudos, pareceres, perícias e qualquer manifestação técnica sobre matéria de Serviço Social, deve atuar com ampla autonomia respeitadas as normas legais, técnicas e éticas de sua profissão, não sendo obrigado a prestar serviços incompatíveis com suas competências e atribuições previstas pela Lei 8662/93.
Pode-se perceber que dentre as demandas que se apresentam ao
Assistente Social muitas estão relacionadas aos objetivos prescritos na Lei Orgânica
da Assistência Social - LOAS (1993), que prevê a garantia do atendimento das
necessidades básicas, provendo os mínimos sociais.
De acordo com o Artº 2º da LOAS a assistência social tem como
principais objetivos:
I - a proteção social, que visa à garantia da vida, à redução de danos e à prevenção da incidência de riscos, especialmente: a) a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; b) o amparo às crianças e aos adolescentes carentes; c) a promoção da integração ao mercado de trabalho; d) a habilitação e reabilitação das pessoas com deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; e) a garantia de 1 (um) salário-mínimo de benefício mensal à pessoa com deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família; II - a vigilância socioassistencial, que visa a analisar territorialmente a capacidade protetiva das famílias e nela a
45
ocorrência de vulnerabilidades, de ameaças, de vitimizações e danos; III - a defesa de direitos, que visa a garantir o pleno acesso aos direitos no conjunto das provisões socioassistenciais.
Diante deste contexto tem se o cuidado em não confundir as ações, onde
o trabalho do assistente social possa ser visto como mero executor de atitudes
assistencialistas.
As ações desenvolvidas pelos Assistentes Sociais no Sistema
Penitenciário estão fundamentadas na Lei de Execução Penal, porém para a
realização de um trabalho eficaz, surge a necessidade de maior abrangência das
legislações que efetivem os direitos humanos. É importante ressaltar que por ser um
profissional que atua diretamente com as diversas questões sociais e que trabalha
com indivíduos em estado de extrema vulnerabilidade, o assistente social deverá
estar atento as reflexões teórica e critica, como também a competência nos âmbitos
da política e da ética.
Acredito que uma das principais competências que o assistente social deve ter é o compromisso com a ética profissional, a busca pela garantia dos direitos dos indivíduos presos e de seus familiares, como também a valorização do trabalho multidisciplinar (Tulipa). Admito que dentre as competências tem que ter é coragem, segurança na sua prática e principalmente não ter preconceito. Pois tem que se trabalhar as amarras, para que não comprometa o trabalho na sua atuação dentro do presídio, outra competência importante é estar sempre se reciclando para inovar a sua prática (Orquídea).
Percebe-se nas falas das entrevistadas que a competência profissional
estar relacionada ao compromisso com os princípios do Código de Ética e que
busca a efetivação do Projeto Ético-Político, procurando romper com o preconceito,
valorizando a autonomia dos sujeitos e a garantia da justiça social.
Dentre as competências é importante observar que o profissional de
Serviço Social deverá em constante aprendizado, ampliando seus conhecimentos
através de estudos, pesquisas, palestras e seminários, que tragam novas propostas
para atuação deste profissional, em consonância com a atual conjuntura.
Nessa perspectiva Fávero (2012) se refere a este conhecimento como:
Precisamos investir em algumas frentes: fazer do campo sócio-jurídico um campo de investigação permanente, de maneira que a produção nas áreas que o compõe se configure como possibilidade de resistência à criminalização da pobreza, à judicialização dos conflitos familiares e das expressões da questão social, e de avanço efetivo em direção a um conhecimento relevante. Precisamos assumir a pesquisa como instrumento
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de trabalho e avançar na produção sistemática de conhecimento nesse campo (FÁVERO, 2012, p. 138).
Fávero (2009) ainda aponta que:
Capacitação continuada, articulação política, domínio do conhecimento acerca da realidade e das prerrogativas institucionais, conhecimento, contato e articulação com a rede de atendimento composta por organizações públicas e privadas – tudo isso se faz necessário, de forma organizada, planejada e coletiva. Essa visão panorâmica da realidade fornece elementos para a elaboração de projetos de trabalho para além daquele atendimento “caso a caso” que, via de regra, predomina nos espaços do Judiciário (FÁVERO, 2009, p.171).
Cabe também ao Assistente Social conciliar as demandas dos usuários
junto às demandas institucionais, considerando que tais instituições têm como
objetivo o controle social, através de condutas coercitivas e manipuladoras.
Conforme Fávero, talvez seja este um dos maiores desafios encontrados na atuação
do assistente social dentro do Sistema Penitenciário.
Como agir visando a garantia de direitos perante a ineficiência das políticas públicas, dos recursos de apoio que poderiam possibilitar a efetivação de um trabalho qualificado? Possivelmente, um dos maiores desafios no exercício profissional para ir além da fundamental análise da realidade social na qual se insere o sujeito com o qual trabalhamos é a criação de alternativas de intervenções exequíveis. As respostas necessitam ser buscadas e construídas a partir dos espaços político, profissional e institucional de trabalho (FÁVERO, 2009, p. 171).
Diante de tal afirmação, a assistente social Orquídea menciona alguns
fatores que poderiam mudar no Sistema Penitenciário para que seja possível dar
condições para a efetivação do trabalho do assistente social no processo de
reinserção social do apenado.
Necessita de um olhar mais humanizado para que o trabalho de ressocialização realmente aconteça. Pois, ao meu ver não adianta somente construir presídios se não der oportunidades a quem estar se “soltando”. Portanto, necessita de políticas públicas para receber o interno que cumpriu sua pena e precisa sobreviver e constituir sua família com dignidade para que não venha a reincidir (Orquídea).
Sobre a principal importância da atuação do (a) Assistente Social dentro
dos presídios, percebemos que a busca pelo fortalecimento dos vínculos familiares
visando à reinserção social e a garantia dos direitos sociais são o que mais se
destaca nas falas das entrevistadas.
Existem várias e uma delas muito importante é fortalecer os vínculos familiares dos internos para que ao saírem de Alvará de soltura, os mesmos
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não se sentirem sozinhos no mundo e poderem reconstituírem suas vidas fortalecidos juntamente com os familiares, não esquecendo seus valores (Orquídea). A luta pela garantia dos direitos aos presos, previsto na LEP, a conscientização de familiares sobre a importância da família no processo de ressocialização e a atuação como instrumento de reconstrução da autonomia do individuo na reinserção social (Tulipa).
Reforçamos a fala das entrevistadas no pensamento de Chuairi (2001):
O trabalho do assistente social nestes serviços se caracteriza por uma prática de operacionalização de direitos, de compreensão dos problemas sociais enfrentados pelos sujeitos no seu cotidiano e suas inter-relações com o sistema de justiça. Além disso, esse espaço profissional permite a reflexão e a análise da realidade social dessa população, da efetividade das leis e de direitos na sociedade, possibilitando o desenvolvimento de ações que ampliem o alcance dos direitos humanos e a eficácia da ordem jurídica em nossa sociedade (CHUAIRI, 2001, p. 139).
Existem ainda as condições de trabalho as quais estão submetidas às
assistentes sociais que atuam no Sistema Penitenciário, grande parcela estão
submetidas à terceirização.
A maioria é terceirizada, o trabalho é realizado em um ambiente de constante tensão e nem sempre é possível tirar férias, pois quando chega o período próximo, a empresa responsável sai e passamos por um novo processo de contratação, assim sendo impossível tirar as tão sonhadas férias (Tulipa).
Sabemos que esse processo de terceirização fragmenta as relações entre
os trabalhadores, pois são submetidos a diversas formas de contratação e salários
muitas vezes abaixo da média salarial. Com relação a esse processo Raichelis
(2011) vêm nos elencar alguns efeitos que a terceirização traz:
Os efeitos da terceirização para o trabalho social são profundos, pois ela: a) Desconfigura o significado e a amplitude do trabalho técnico realizado pelos assistentes sociais e demais trabalhadores sociais; b) Desloca as relações entre a população, suas formas de representação e a gestão governamental, pela intermediação de empresas e organizações contratadas; c) Subordina as ações desenvolvidas a prazos contratuais e aos recursos financeiros definidos, implicando descontinuidades, rompimento de vínculos com usuários, descrédito da população para com as ações públicas; d) Realiza uma cisão entre prestação de serviço e
direito, pois o que preside o trabalho não é a lógica pública, obscurecendo‑se a responsabilidade do Estado perante seus cidadãos, comprimindo ainda mais as possibilidades de inscrever as ações públicas no campo do direito (RAICHELIS, 2011, p. 432).
Contudo, as entrevistadas revelam a satisfação e realização em
exercerem sua profissão dentro deste universo tão cheio de dificuldades, de
48
precariedade e impermeabilidades, pois, sabem que precisam constantemente estar
sintonizados com as necessidades que surgem como demanda quer em nível
institucional ou profissional.
Estamos sempre na Unidade trabalhando para que consigamos que os libertos tenham um bom retorno familiar. Apesar de alguns percalços, fazemos o melhor possível. Sinto-me muito feliz de ser Assistente Social (Orquídea). Apesar do Assistente Social se apropriar de uma pseudoautonomia, devido a uma regulamentação interna do Sistema, sabemos que é de extrema importância o nosso trabalho dentro desta instituição, e busco sempre a efetivação dos direitos, e é muito gratificante ver o preso saindo daqui com um pouco de sua dignidade restaurada (Tulipa).
Diante da fala da entrevista Tulipa faz-se necessário ressaltar que o (a)
Assistente Social possui relativa autonomia com resguardo no Código de Ética
profissional, no Art. 2º que constituem direitos do profissional, no item h que nos diz:
possuir ampla autonomia no exercício da profissão, não sendo obrigado a prestar
serviços profissionais incompatíveis com suas atribuições, cargos ou funções. E para
confirmar tal perspectiva Barroco (2012) nos aponta que a autonomia é inerente da
natureza do trabalho do (a) Assistente Social.
A própria natureza do trabalho do assistente social, dado seu grau técnico teórico e ético, não pode estar sujeita à interferência técnica, o que não significa, evidentemente, negar as estruturas institucionais hierárquicas e de poder, que estão presentes e são constitutivas na relação do profissional. Afinal, mesmo quando a atuação se dá na condição de empregado, servidor, contratado e outros, sujeitando-se a regramentos administrativos, burocráticos, organizacionais, estruturais, jamais deve ocorrer a interferência na sua opinião técnica, na escolha dos métodos, técnicas e instrumentos que irá utilizar para consecução de sua atividade profissional (BARROCO, 2012, p. 153).
É imprescindível considerar, no entanto, que a confrontação entre as
competências e atribuições profissionais, e os desafios institucionais do Sistema
Penitenciário ainda é um tema com poucas pesquisas e estudos realizados, e que
abrange uma ampla discussão, podendo ser aperfeiçoado com pautas relacionadas
a mudanças macrossocietárias e a hegemonia do projeto profissional, discorrendo
novas possibilidades e lembrando que este é um processo que se constrói
coletivamente.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando os entraves institucionais, como a hierarquia entre os
profissionais e os preconceitos com os indivíduos apenados, neste estudo foi
proposto há compreensão de como se configura o trabalho do Assistente Social no
âmbito do Sistema Penitenciário.
A inserção de um pesquisador num campo cheio de burocracias e
preconceito como um presídio, é algo desafiador. Neste sentido, gostaria de
compartilhar das dificuldades que surgiram na elaboração deste trabalho. Em
primeiro lugar existiu o cuidado em manter a imparcialidade perante um universo no
qual já estive inserida como estagiária, era necessário que houvesse este
distanciamento para que não ocorressem dúvidas nem objeções ao relatar e retratar
o que as entrevistadas me transmitiram.
Em segundo lugar, me perguntava como retratar esse assunto sem
comprometer as minhas percepções em relação ao Sistema Penitenciário e o
trabalho que o Assistente Social exerce dentro desta instituição, a qual considero tão
coerciva e impositiva.
Desta forma ao realizar a pesquisa de campo e ler estudos mais
aprofundados sobre a temática, pude refletir e relacionar o que achava de mais
relevante para ser apresentado neste trabalho.
Os resultados da pesquisa são pertinentes, não objetivando aqui dar
respostas concretas e acabadas. Portanto, não pressupõe que se chegue a
conclusões definitivas, pois este é um universo que abrange inúmeras reflexões.
O Código de Ética profissional, a Lei de regulamentação da profissão, as
Resoluções do Conselho Federal de Serviço Social – CFESS, a Lei de Execução
Penal vem dar subsídios para o trabalho do Assistente Social que atua no Sistema
Penitenciário.
Constatou-se que os Assistentes Sociais estão exercendo seu trabalho
em condições precárias e subalternas, em decorrência da burocratização,
hierarquização e morosidade do Sistema Judiciário, no qual exige que este
50
profissional atenda as demandas institucionais deixando em segundo plano as
demandas dos usuários, contrapondo com as legislações que direcionam o exercício
profissional.
Destaca-se que este profissional, busca garantir os direitos dos
apenados, contudo este tem seus direitos violados, demonstrando assim os
processos contraditórios a qual o Serviço Social está inserido.
Neste sentido a luta pela consolidação do Projeto Ético-Político e dos
direitos humanos dentro do presídio requer condições objetivas para o
desdobramento deste desafio e permanente batalha na busca pela consolidação de
uma nova ordem societária, que quebre com as barreiras do preconceito, que dê
autonomia aos indivíduos, e que, sobretudo garanta a ampliação e a consolidação
da cidadania.
Isto significa que é preciso pensar na formação profissional, na ação
política, na capacidade de reflexões críticas, na ampliação do conhecimento teórico-
metodológico, na ética, os estudos e pesquisas, como compromissos inerentes ao
trabalho do Assistente Social.
Não podemos deixar de registrar a satisfação das Assistentes Sociais
inseridas nesta área, que mesmo sabendo das inúmeras dificuldades e precariedade
na qual se encontra o Sistema Penitenciário, buscam com muita capacidade, ética e
compromisso com sua profissão e usuários a efetivação da garantia dos direitos
civis, sociais e humanos do qual necessitam os indivíduos que estão no processo de
cumprimento de pena, sem esquecer que estes mesmos iram retornar a sociedade e
que precisam estar em plena condição física, emocional e social restaurada, sendo
elas parte fundamental neste processo.
Sabendo então da necessidade que existe do trabalho do Assistente
Social no âmbito do Sistema Penitenciário, apontamos que essa é uma discussão
que merece atenção, e que poderá ser amplamente estudada e gerar novas
contribuições para a categoria profissional que atua nesta área.
51
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TORRES, Andréa Almeida. Direitos humanos e sistema penitenciário brasileiro: desafio ético e político do serviço social. Serviço Social & Sociedade, n. 67. São Paulo, Cortez, 2001.
55
APÊNDICE A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Caro/a Senhor/a,
Chamo-me Angélica Braga dos Santos, sou graduanda (8º semestre) em Serviço
Social pela Faculdade Cearense – FAC. Estou realizando uma pesquisa para o meu
trabalho de conclusão de curso – TCC. A pesquisa tem por objetivo compreender o
trabalho do Assistente Social no Sistema Penitenciário.
Por essa razão, o/a Senhor/a está sendo convidado/a a participar, de forma a
responder algumas perguntas, permitir ser observado e ter depoimentos gravados.
O/a Senhor/a terá garantido o sigilo de todas as informações que dispuser, bem
como o anonimato de todo e qualquer depoimento. Terá também o direito de se
desligar da pesquisa a qualquer momento, sem que isto lhe traga qualquer prejuízo
e / ou despesa.
A sua participação nesta pesquisa é de caráter voluntário. Caso o/a Senhor/a aceite
participar, não receberá nenhuma compensação material ou financeira, como
também não sofrerá qualquer prejuízo se não aceitar.
Se tiver alguma dúvida a respeito dos objetivos da pesquisa e/ou métodos utilizados
na mesma, estarei à disposição na Faculdade Cearense, Av. João Pessoa, 3884 –
Damas, curso de Serviço Social, no horário da noite 18:30 ás 22:00 nas terças e
sextas-feiras. Meu telefone de contato é xxxxxxx e meu e-mail wwwwwwwwwww.
Caso o/a Senhor/a esteja de acordo em participar deverá preencher e assinar o
Termo de consentimento pós-esclarecido que se segue, recebendo uma cópia do
referido Termo.
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APÊNDICE B - TERMO DE CONSENTIMENTO PÓS-ESCLARECIDO
Pelo presente instrumento que atende às exigências legais, o/a Sr/a
_________________________________________________, portador/a da cédula
de identidade __________________________, declara que, após leitura minuciosa
do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), teve oportunidade de fazer
perguntas, esclarecer dúvidas que foram devidamente explicadas pela
pesquisadora, ciente dos serviços e procedimentos aos quais será submetido e, não
restando qualquer dúvida a respeito do lido e explicado, firma seu
CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO em participar de forma voluntária
desta pesquisa.
E, por estar de acordo, assina o presente Termo.
Fortaleza – CE,_________________de____________________de_________.
______________________________
Assinatura do participante
_______________________________
Angélica Braga dos Santos
Pesquisadora
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APÊNDICE C – ROTEIRO PARA ENTREVISTA
Nome: ---------------------------------------------------------------------------------------------
Sexo -------------------- Religião -------------------------------------
Idade: ----------------------
Estado civil: ---------------- Tem filhos: -------------
Quanto tempo de formação?
Fez alguma especialização, mestrado, doutorado?
Como se deu sua trajetória profissional?
Há quantos anos você integra a Secretaria de Justiça e cidadania do Estado do
Ceará?
Como chegou a área do Sistema Penitenciário para atuação?
Quais as competências necessárias para o assistente social atuar no presídio?
Qual a sua opinião sobre o Sistema Penitenciário no Ceará?
Qual a principal importância da atuação do Assistente Social dentro dos
presídios?
Como se dá esta atuação?
Quais são as maiores demandas que chegam ao Serviço Social?
Como são as condições de trabalho?
O que você cita como principal dificuldade e exigências para o exercício
profissional dentro das instituições prisionais?
De que forma você se apropria dos princípios e parâmetros de atuação inseridos
no Código de ética profissional e no Projeto ético-político?
Que outras legislações são importantes para a sua atuação profissional?
Conte um pouco sobre o seu quotidiano na prisão.