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CENTRO DE ESTUDO EM TERAPIA
COGNITIVO- COMPORTAMENTAL
MARIA DO CARMO CHAGAS
A TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL COMO
PROPOSTA PARA PREVENÇÃO DO TRANSTORNO DE
ANSIEDADE PROVOCADO NO AMBIENTE DE TRABALHO
São Paulo
2014
MARIA DO CARMO CHAGAS
A TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL COMO
PROPOSTA PARA PREVENÇÃO DO TRANSTORNO DE
ANSIEDADE PROVOCADO NO AMBIENTE DE TRABALHO
Monografia apresentada ao Centro de Estudo em Terapia Cognitivo-Comportamental (CETCC) – Curso de Especialização, para a obtenção do título de Especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental Orientadora: Profª. Msc. Eliana Melcher Martins Coorientadora: Profª. Drª. Renata Trigueirinho Alarcon
São Paulo
2014
Fica autorizada a reprodução e divulgação deste trabalho, desde
que citada a fonte.
CHAGAS, Maria do Carmo.
A Terapia Cognitivo-Comportamental como proposta para prevenção do Transtorno de Ansiedade provocado no Ambiente de Trabalho / Maria do Carmo Chagas, Eliana Melcher Martins, Renata Trigueirinho Alarcon – São Paulo, 2014.
30 f + CD-ROM
Trabalho de Conclusão de Curso (especialização) – Centro de Estudos em Terapia Cognitivo-Comportamental (CETCC). Orientação: Profª. Msc. Eliana Melcher Martins Coorientação: Profª. Dr
a. Renata Trigueirinho Alarcon
1. TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL. 2. ANSIEDADE . 3. TERAPIA. I. Chagas, Maria do Carmo. II. Martins, Eliana Melcher. III. Alarcon, Renata Trigueirinho. IV. Título.
MARIA DO CARMO CHAGAS
A TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL COMO
PROPOSTA PARA PREVENÇÃO DO TRANSTORNO DE
ANSIEDADE PROVOCADO NO AMBIENTE DE
TRABALHO
Monografia apresentada ao Centro de Estudo em Terapia Cognitivo-Comportamental (CETCC) – Curso de Especialização, para a obtenção do título de Especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental
BANCA EXAMINADORA
Parecer: ____________________________________________________________ Orientadora: Profa. Msc. Eliana Melcher Martins _____________________________ Parecer: ____________________________________________________________ Coorientadora: Profa. Dra. Renata Trigueirinho Alarcon ________________________
São Paulo, ___ de __________________ de 2014
AGRADECIMENTOS
A Braulio e Bruna;
Madre Tereza de Calcutá disse que: “Por vezes sentimos que aquilo que
fazemos não é senão uma gota de água no mar. Mas o mar seria menor se lhe
faltasse uma gota”
Obrigado por me apoiarem a regar a minha vida com gotas de paciência,
persistência e muito carinho.
Sem essas gotas de carinho essa etapa da minha vida não teria sido tão
gostosa e engrandecedora.
RESUMO
A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) pode ser aliada dos líderes na área corporativa, na medida em que tem potencial para diminuir a ansiedade generalizada dos trabalhadores e, com isso, elevar os resultados da Companhia, uma vez que o trabalhador se sentirá pertencente a um ambiente emocionalmente estabilizado. Tal estabilização acontece pela condição de algumas técnicas da TCC serem aplicadas no exercício de uma liderança positiva. Técnicas utilizadas pela TCC, como o Questionário Socrático; Exames das evidências; Como os pensamentos criam sentimentos; Distinção entre pensamentos e fatos; Conceituação das experiências negativas e positivas; Distinção entre comportamentos e pessoas - ao serem aplicadas por uma liderança capacitada, podem transformar um ambiente coorporativo bélico e adoecedor em um ambiente criativo e compartilhador, ainda competitivo, porém pautado em uma maior conexão emocional entre as pessoas. No entanto, fazem-se necessários estudos práticos que possam corroborar os achados teóricos relativos à TCC correlacionando-os ao ambiente corporativo e à influência na saúde mental dos trabalhadores. Palavras-Chave: Ansiedade, Transtorno de Ansiedade Generalizada, Terapia Cognitivo-Comportamental.
ABSTRACT
The Cognitive-Behavioral Therapy (CBT) can be an important allied to the leaders of the companies, because the CBT has the potential to reduce the generalized anxiety of the workers, and with that increase the outcomes of the company. Helping a creation of an emotionally-healthy environment. That emotional-healthy environment happens when the CBT techniques are used by a positive leadership behavior. CBT techniques like Socratic Questionnaire; Examination of Evidence; thoughts create feelings; Distinction between the thoughts and facts; Conceptualization of negative and positive experience; Distinction between behaviors and people, when all those techniques are applied by a capable leadership. The CBT can transform a war environment into a creative and shared environment maintained in this environment a higher emotional connection among people. However, it is necessary more studies involving CBT into the work environment. Those studies can provide some help between the CBT and the work environment into the workers mental healthy level. Keywords: Anxiety, Generalized Anxiety Disorder, Cognitive-Behavioral Therapy
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 7
2 OBJETIVO ............................................................................................................ 8
3 METODOLOGIA ................................................................................................... 9
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ......................................................................... 10
4.1 Explicando a ansiedade ............................................................................... 10
4.1.1 Bases Biológicas do Medo e Ansiedade ................................................ 11
4.1.2 Diferenças entre Medo e Ansiedade ...................................................... 11
4.1.3 As Emoções, a Ponta do Iceberg da Mente .......................................... 13
4.1.4 As Emoções de Acordo com Le Doux ................................................... 14
4.2 Como se constitui o pensamento ................................................................. 16
4.2.1 Crenças sobre si mesmo de Acordo com Judith S. Beck ...................... 17
4.2.2 Crenças e ambiente de trabalho ............................................................ 18
4.3 Ambiente de trabalho e ansiedade ............................................................... 19
4.3.1 Terapia Cognitivo-Comportamental ....................................................... 20
4.3.2 Prevenção do Transtorno de Ansiedade no ambiente de trabalho
apoiada na TCC .................................................................................................. 20
4.3.3 Gestão de Pessoas e Psicoeducação ................................................... 23
5 CONCLUSÃO ..................................................................................................... 25
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 27
ANEXOS ................................................................................................................... 30
7
1 INTRODUÇÃO
Os desgastes aos quais as pessoas estão submetidas constantemente, tanto
em sua vida profissional como pessoal, podem levar a sensações de contínuo temor,
angústia, frustração e ansiedade, apreensão, nervosismo ou medo. Sentimentos
estes que dominam o cotidiano. Ficar ansioso e inquieto diante das mudanças que
acontecem na vida é normal. Os humanos nascem equipados biologicamente para
conseguir suportar ansiedades diante dos reveses da vida. Quem já não se sentiu
ansioso perante a resposta de uma prova ou anterior a ela, uma situação
desafiadora no trabalho, uma viagem para um lugar desconhecido etc., porém após
o evento a pessoa retorna ao seu equilíbrio emocional e físico, sua rotina, sem
alterações.
A partir do momento em que a pessoa está inserida em um ambiente em que
sofre constantemente pressão por tarefas, prazos, resultados e metas imbatíveis,
cobranças incessantes por desempenho, aliado a um cenário tenso e desrespeitoso,
ela pode desenvolver um quadro de Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG).
O TAG é um transtorno de ansiedade que não apresenta um foco definido e é
caracterizado por preocupação excessiva difusa e incontrolável. Os sintomas
psíquicos incluem irritabilidade, incapacidade para relaxar e dificuldade de
concentração. Tal doença impacta os resultados das empresas além de trazer sérios
prejuízos pessoais e sociais aos que dela padecem.
Dessa forma, faz-se importante a proposta de uma forma preventiva de TAG
para funcionários das organizações.
8
2 OBJETIVO
O objetivo do presente trabalho é discorrer acerca das emoções como
inerentes a existência humana, do Transtorno de Ansiedade Generalizada,
conceituando o termo a partir de diversos autores de referência no tema, da inserção
do homem no mundo do trabalho e da Terapia Cognitivo-Comportamental na
mediação da relação entre homem, trabalho, emoções e suas patologias, propondo
um estudo teórico que possa investigar a utilização da TCC como método na
prevenção do TAG provocada pelo ambiente de trabalho.
9
3 METODOLOGIA
A metodologia usada no presente trabalho consistiu na revisão de bibliografia
livre. A revisão compreendeu trabalhos de referências acadêmicas publicadas nos
últimos 05 (cinco) anos que versassem sobre os problemas envolvendo a ansiedade,
seus transtornos, tratamento e prevenção do TAG utilizando-se da TCC. Para fins de
pesquisa e catálogo foram utilizadas as seguintes palavras-chave: Ansiedade –
Psicoeducação – Transtorno de Ansiedade Generalizada – Terapia Cognitivo-
Comportamental – Prevenção (Anxiety – Psychoeducation – Generalised Anxiety
Disorders – Cognitive-behavioral Therapy – Prevention).
Após levantamento bibliográfico, foram avaliados quais elementos podem ser
utilizados na prevenção do TAG pela TCC no ambiente de trabalho, justificando as
escolhas.
Os critérios de inclusão dos artigos na pesquisa foram obras de referência ao
tema, que visam atrair conclusões específicas acerca da viabilidade da TCC como
forma de prevenção do TAG. Foram excluídas as obras que visam a utilização do
TCC como tratamento. Ainda, buscou-se na literatura obras que contemplassem a
psicoeducação, a fim de que seja possível capacitar líderes a aplicar técnicas da
TCC na gestão de pessoas.
10
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 Explicando a ansiedade
A ansiedade pode ser uma doença incapacitante, pois pode limitar a pessoa
em qualquer área da vida, levando à depressão e até mesmo ao suicídio (LEAHY,
2011). De acordo com o autor citado, vivemos na “Era da Ansiedade”. A ansiedade
clínica é muito mais grave que o fato de se estar sujeito às preocupações do
cotidiano. Quem sofre de um transtorno de ansiedade tem maior tendência a se
tornar clinicamente deprimido, dando a impressão de sofrer de duas condições
debilitantes ao mesmo tempo.
Em trabalho publicado na Revista Brasileira de Psiquiatria (2000), Ana Regina
Castilho et al. conceituam a ansiedade como um sentimento vago e desagradável de
medo, apreensão, caracterizado por tensão ou desconforto derivado de antecipação
de perigo, de algo desconhecido ou estranho.
Todos os nossos medos, independente do quanto possam parecer irracionais,
têm, de alguma maneira, sua base na sobrevivência. A ansiedade em nossos
antepassados era um sinal de alerta que advertia dos perigos, diante de uma
situação de perigo real ou suposta. Tais sinais de davam de forma corporal, através
da dilatação de pupilas, aceleração dos batimentos cardíacos e enrijecimento
muscular, tornando o homem capacitado biologicamente para enfrentar os perigos e
lutar pela sua vida, tornando possível a evolução (CASTILHO et al., 2010). O viés
evolucionários dos transtornos de ansiedade também é apresentado por Viana
(2010), que cita Charles Darwin e Sigmund Freud para fundamentar sobre a função
adaptativa da ansiedade frente às situações de perigo, tanto biológica quanto
psiquicamente.
A ansiedade é uma emoção cujos componentes são psicológicos e
fisiológicos, fazendo parte do espectro normal das experiências humanas. Ela
permite ao indivíduo reunir os comportamentos eficientes para lidar da melhor
maneira com uma determinada situação. Em contrapartida, se a ansiedade for
aplicada com intensidade, pode prejudicar o resultado do indivíduo.
11
4.1.1 Bases Biológicas do Medo e Ansiedade
Segundo Damásio (2011), para compreendermos o funcionamento da mente
precisa-se entender que ela é uma sucessão de representações criadas através de
sistemas visuais, auditivos, táteis, bem como por informações fornecidas pelo
próprio corpo sobre o que está acontecendo com ele.
Patricia Porto et al. (2008) apontam como as pesquisas em neurociências têm
facilitado o entendimento e a compreensão da leitura que a mente faz do ambiente
(estímulo), indicando a amígdala como estrutura importante no processo do medo.
Explica que quando estamos na presença de perigo ocorrem reações endócrinas,
autonômicas e comportamentais em nosso organismo.
Estudos demonstram, ainda, que tanto o ser humano quanto os animais
adquirem medo de objetos que são potencialmente perigosos ao longo do tempo.
Logo, podemos produzir respostas de proteção mais eficientes para nosso biotipo e
expressar as reações que foram selecionadas para as condições ambientais
ancestrais (PORTO et al., 2008).
Os sistemas anacrônicos relacionados ao aprendizado do medo permitem
respostas rápidas aos estímulos percebidos como potenciais e também respostas
mais demoradas envolvidas como processamento mais elevado da informação de
estímulos sensoriais complexos no contexto ambiental, o que pode ser muito útil em
situações de perigo, porém pode ser desastroso quando a situação não apresenta
perigo real (PORTO et al., 2008).
4.1.2 Diferenças entre Medo e Ansiedade
Baptista et al. (2005, p. 02) fazem uma distinção entre medo e ansiedade:
Apesar de muitas vezes medo e ansiedade serem considerados sinônimos, a presença ou ausência de estímulos desencadeadores externos e o comportamento de evitação costumam ser as características que se utilizam para diferenciar os dois estados. Considera-se medo quando existe um estímulo desencadeador externo óbvio que provoca comportamento de fuga ou evitação, enquanto que ansiedade é o estado emocional aversivo em desencadeadores claros que, obviamente, não podem ser evitados.
Ansiedade e medo são emoções relacionadas à presença de ameaça. A
ansiedade é uma emoção relacionada quando se avalia um risco, quando se
12
percebe perigo em situações incertas, e pode ser resgatada de algum evento no
passado. Se uma pessoa foi atacada por um cachorro, mesmo o cachorro não
estando mais no ambiente, caso a pessoa esteja em contexto igual ou similar, a
emoção pode aflorar. O medo está relacionado a estratégias de defesa, quando o
perigo é real. A vítima está realmente exposta a perigo de morte ou ameaça física. O
comportamento para este caso pode ser a fuga ou o congelamento caso não exista
saída. A ansiedade ocorre quando acontece um impulso para a aproximação entre o
estímulo de perigo e aí se gera um conflito entre aproximar ou evitar. O medo ocorre
quando não há aproximação do estímulo, existe somente a motivação para evitar ou
fugir.
O medo é considerado uma emoção básica, fundamental, discreta, presente
em todas as culturas, raças ou espécies, enquanto a ansiedade é uma mistura de
emoções na qual predomina o medo. A fenomenologia da ansiedade é mais variável
que a do medo. Pode variar ao longo do tempo ou de acordo com situações
desencadeadoras. Por isso é mais vaga, imprecisa e difícil de definir. A ansiedade
pode incorporar a tristeza, a vergonha, a culpa e também pode ser construída pela
raiva, curiosidade, interesse ou excitação. Ao longo de sua história evolutiva o medo
e a ansiedade devem ser considerados indicadores e alarmes de perigos que a
espécie humana enfrentou ao longo de sua trajetória evolutiva. No entanto devem
estar harmônicos com as adversidades que o homem há de encontrar ao longo de
sua história de vida, respeitando sua cultura, ambiente, ciclo e etapas de vida e sua
época (BAPTISTA et al., 2005).
Nesse sentido, Braga et al. (2010) dizem:
Será configurado um transtorno da ansiedade, o transtorno mental no qual a ansiedade diretamente observada ou expressa é a principal manifestação sintomatológica. Em todas as formas de ansiedade patológica, ou de transtornos da ansiedade, quatro componentes sintomáticos estão presentes: manifestações cognitivas, manifestações somáticas, manifestações comportamentais e manifestações emocionais. As manifestações cognitivas envolvem os pensamentos de apreensão por algum desfecho desfavorável, sensação de tensão, irritabilidade, nervosismo, insegurança, mal-estar indefinido, entre outros. Manifestações somáticas englobam sintomas físicos ou somáticos relacionados à hiperatividade autonômica (boca seca, taquicardia, hiperpnéia, falta de ar, sudorese, náusea, diarreia, disfagia, entre outros), hiperventilação (tontura, pressão no peito, parestesia, entre outros) e tensão muscular (tremores, dores, dispneia por contração diafragmática, entre outros).
13
As manifestações comportamentais são expressas por meio da insônia, inquietação, comportamentos fóbicos e rituais compulsivos. As manifestações emocionais envolvem vivências subjetivas de desconforto e desprazer.
Tais comportamentos ocasionados pelas alterações fisiológicas e cognitivas
podem levar a pensar em um transtorno de saúde mental. A este conceito, Saúde
Mental, apesar de não ser objeto da presente dissertação, em decorrência do tema
tratado, faz-se necessário mencionar. Segundo Almeida Filho et al. (1999) a Saúde
Mental é a capacidade de ajustamento às transformações. Podemos acrescentar à
Saúde Mental os requisitos de ter, entre outras coisas, emprego e satisfação no
trabalho, devido ao seu significado para a qualidade de vida. Quando ocorrem
alterações nesses pilares, podem-se assumir posturas contrárias ou muitas vezes
desajustadas para o ambiente psicossocial, como também desqualificações para
algum momento que se necessite um pouco mais de elaboração na compreensão.
Mudanças geralmente provocam insegurança, porque se pode entender que
algumas transformações rumam para o desconhecido, suscitando emoções como
raiva, tristeza, medo, etc.
4.1.3 As Emoções, a Ponta do Iceberg da Mente
Este é o título de um capitulo do livro “Neurociência para Educador”
(FLOR,CARVALHO; 2012) em que as autoras, didaticamente, explicam a intricada
rede de conexões neurais que faz parte da construção do cérebro humano. O
conhecimento das estruturas neurais envolvidas no processamento das emoções
possibilita a compreensão dos seus mecanismos fundamentais, podendo aproximar
o homem da compreensão de sua própria condição humana (FLOR, CARVALHO;
2012).
Citando Damásio, Damaris Flor e Teresinha Carvalho (2012) afirmam que as
emoções nos ajudam a pensar, que o corpo é um instrumento na manifestação das
emoções, que são literalmente corporizadas. Portanto, compreender a neurobiologia
das emoções alerta a nossa visão para o problema mente e corpo, sendo esta
reflexão importante para a nossa compreensão daquilo que somos. A emoção e as
várias reações que ela produz estão alinhadas com o corpo, os sentimentos estão
alinhados com a mente. O êxito e o fracasso da pessoa dependem muito da forma
14
que as instituições incorporam normas, métodos, leis. Conhecer a neurobiologia das
emoções e dos sentimentos pode ser muito importante para que se possam construir
estratégias e leis capazes de reduzir o sofrimento humano e favorecer o
desenvolvimento ou o florescimento humano. (FLOR, CARVALHO; 2012).
As emoções funcionam como marcadores somáticos, que nos ajudam a
eliminar as opções piores, ou que ao contrário, pode levar a uma escolha das
consequências benéficas. A multidão de ordens emocionais serve de marcador. O
cérebro faz muito mais que recolher, ele compara, analisa, sintetiza, e como em um
computador usa as emoções e as intuições, gerando abstrações novas e inusitadas,
e as projeta no futuro, liberta-nos do presente. É o estado emocional que qualifica
uma imagem ou uma situação particular. Assim ao contemplarmos uma cena que
nos afeta, certos elementos de nosso sistema nervoso preparam um aumento de
quantidade de suor produzido pela pele, quase que imperceptível, mas detectável se
passar por uma corrente elétrica fraca. Alegam que nem a mágoa, nem o êxtase que
podem acompanhar o amor ou a arte se encontram desvalorizados pelo fato de nós
cumprirmos quaisquer dos milhares de processos biológicos que fazem das
emoções aquilo que são. É precisamente o contrário que é verdadeiro, somos pelo
que sentimos, a razão pura não existe. Nós pensamos com nosso corpo e nossas
emoções (FLOR, CARVALHO; 2012).
4.1.4 As Emoções de Acordo com Le Doux
Le Doux (2001) aponta que embora nossas emoções tenham sido sábias e
nos guiado ao longo do percurso evolucionário, com as novas realidades com que a
civilização tem se defrontado, não conseguiram acompanhar o ritmo evolucionário.
Diz que as primeiras leis e proclamações sobre ética (ex: o código de Hamurabi ou
Os Dez Mandamentos dos Hebreus) podem ser interpretadas como tentativas de
conter, subjugar e domesticar as emoções. Cita Freud lembrando que em seu livro o
“Mal estar das civilizações e o aparelho social”, é relatado o processo de imposição
de normas sociais com o intuito de conter o excesso emocional que emerge, como
ondas, dentro de cada um de nós (LE DOUX, 2001).
Mesmo o ser humano sendo orientado e conduzido pelas normas sociais, as
paixões solapam a razão. As lentas e cautelosas forças da evolução que moldaram
15
nossas emoções tem cumprido sua tarefa ao longo de 1 milhão de anos. Os últimos
10 mil anos, apesar de terem assistido ao rápido surgimento da civilização humana e
também a explosão demográfica, quase nada mudou em termos de nossa
arquitetura cerebral ou, repetindo Le Doux (2001, p.31) “quase nada imprimiram de
novo em nossos gabaritos biológicos para vida emocional”.
Nossas respostas frente a situações complicadas e adversas não são
moldadas apenas pelos julgamentos racionais e pela historia pessoal, mas também
pelo passado ancestral. Essa herança predispõe a comportamentos violentos e
insensatos para os dias de hoje. Todas as emoções são em essência impulsos,
legados pela evolução, para uma ação imediata visando salvar ou pôr em segurança
a própria vida (LE DOUX, 2001, p.31).
Porém, em adultos civilizados, percebemos a emoções, impulsos arraigados
para agir separados de uma reação óbvia. Em nosso repertorio emocional, cada
emoção desempenha uma função específica. Diante das novas tecnologias que
permitem observar, ouvir, visualizar o cérebro como um todo, pesquisadores estão
descobrindo detalhes fisiológicos que permitem a verificação de como diferentes
tipos de emoção preparam o corpo para diferentes tipos de resposta a diferentes
tipos de estímulo, por exemplo na raiva, em que o sangue flui para as mãos,
tornando mais fácil sacar da arma ou golpear o inimigo, os batimentos cardíacos
aceleram e uma onda de hormônios, a adrenalina, entre outros, gera uma pulsação,
energia suficientemente forte para uma ação vigorosa. (LE DOUX, 2001).
Circuitos existentes nos centros emocionais do cérebro disparam a torrente
de hormônios que põe o corpo em alerta geral, tornando-o inquieto e pronto para
agir. A atenção se fixa na ameaça imediata, para melhor calcular a resposta dada.
Há cerca de 100 milhões de anos, o cérebro dos mamíferos deu um grande salto em
termos de crescimento. O córtex que tinha duas camadas de células, as regiões que
planejam e compreendem o que é sentido como também coordenam movimentos,
foi acrescido de mais duas camadas de células, o neocortex que oferece uma
extraordinária vantagem intelectual.
O neocortex do Homo sapiens, muito maior que o de qualquer outra espécie,
acrescentou tudo o que é distintamente humano. O neocortex é a sede do
pensamento, contém os centros que reúnem e compreendem o que os sentidos
16
percebem. Acrescenta a um sentimento o que pensamos dele e permite que
tenhamos sentimentos sobre ideias, arte, símbolos, imagens. Na evolução, o
neocortex possibilitou um criterioso aprimoramento que sem dúvida, trouxe enormes
vantagens na capacidade de um organismo sobreviver à adversidade, tornando mais
provável que sua progênie, por sua vez, passasse adiante os genes que contêm
esses mesmos circuitos neurais. A vantagem para a sobrevivência deve-se à
capacidade do neocórtex de criar estratégias para planejar em longo prazo entre
outros artifícios mentais. Além disso, os triunfos da arte, civilização e cultura são
todos frutos do neocórtex. Esse acréscimo ao cérebro introduziu novas nuanças à
vida emocional.
4.2 Como se constitui o pensamento
Para Vygotsky (1934), o pensamento humano é formado primeiramente pelas
habilidades ou as aptidões herdadas dos pais, da genética, etc. Porém, é
amadurecido e desenvolvido com base na estimulação do ambiente. Para o autor,
pensamento e linguagem têm origens diferentes. No inicio da vida o pensamento
não é verbal e a linguagem não é intelectual, porém o caminho se cruza por volta
dos dois anos de idade do indivíduo. A partir desta etapa dá-se início a uma nova
forma do comportamento. O pensamento começa a se tornar verbal e também torna-
se uma linguagem racional. A linguagem penetra no inconsciente para se constituir a
estrutura do pensamento da criança.
Assim que a criança descobre que a sua volta tudo tem nome, cada novo
objeto que descobre ela nomeia, quando não consegue encontrar a palavra para o
objeto novo ela recorre ao adulto. Nesse sentido, todas as atividades cognitivas da
criança ocorrem de acordo com sua história social e acaba se constituindo no
produto histórico social do ambiente em que vive (VYGOTSKY, 1934).
As habilidades cognitivas e as formas de estruturar o pensamento da criança
não são determinadas hereditariamente. É resultado das atividades praticadas de
acordo com os hábitos sociais da cultura em que está inserida, e na qual a criança
desenvolve sua história pessoal. E isso é que vai determinar a sua forma de pensar.
No processo de desenvolvimento cognitivo, a linguagem é determinante na forma
como a criança vai aprender a pensar, porque as formas avançadas de pensamento
17
são transmitidas à criança através de palavras. Esses pensamentos podem ser as
crenças que irão reger a vida desta pessoa quando adulto (BECK, 2013).
4.2.1 Crenças sobre si mesmo de Acordo com Judith S. Beck
Judith Beck (2013) esclarece que no começo da infância as crianças
desenvolvem determinadas ideias sobre si mesmas, sobre outras pessoas e o seu
mundo. Suas crenças centrais são compreensões duradouras tão fundamentais e
profundas que frequentemente não são articuladas nem para si próprias. Os seres
humanos consideram essas ideias absolutas (BECK, 2013). Essas ideias podem ser
pensamentos que levam o individuo a pensar que sua dificuldade se origina da sua
incompetência em lidar com a vida em determinados momentos, sobre como é
incompetente ou inoperante. A pessoa não consegue observar ou perceber
evidências de comportamentos ou ideias positivas ou até louváveis a seu respeito.
Essas ideias ou crenças influenciam sua visão da situação que vivencia e também
pode influenciar como ela pensa e se comporta.
Desde os primeiros estágios de desenvolvimento, o ser humano tenta
entender seu ambiente. Ele organiza suas experiências de forma a ajustá-la para
que possa adequar a sua rotina de vida. Esse ajuste ou adaptação pode levá-lo a
uma distorção do pensamento que tem de si e do meio que o rodeia (BECK, 2013).
Esses pensamentos são crenças nucleares ou globais sobre si mesmo. São
absolutos para interpretar as informações ambientais relativas à autoestima como
também pressupostos intermediários que são regras condicionais, que influenciam a
autoestima e a regulação emocional (WRIGHT et al. 2008).
As crenças nucleares influenciam o desenvolvimento de uma classe
intermediária de crenças, que são as atitudes, as regras e os pressupostos. As
crenças centrais constroem a autoidentidade porque simbolizam as ideias mais
centrais da pessoa no que se refere ao juízo que ela tem de si mesma e as outras
pessoas que convivem ou passam pela vida dela. Quando o indivíduo apresenta
atitudes ou comportamentos muito fora da cultura e do contexto em que ele vive,
pode-se entender que esse indivíduo possui interpretações distorcidas da realidade,
ou seja, as crenças centrais são compreendidas como disfuncionais e causadoras
de sofrimento. Nesse caso a pessoa procura um comportamento que se adapte a
18
essa interpretação, o que se denomina estratégia adaptativa. Como as crenças
centrais se formam na infância e por pessoas significativas, podem ser muito rígidas
e supergeneralizadas, levando a impressão de si a um caráter determinista. Esta
forma de pensar dificulta a mudança na forma de interpretar as situações
apresentadas pela vida (BECK, 2013).
4.2.2 Crenças e ambiente de trabalho
Este tópico no qual iremos tratar das crenças e ambiente de trabalho terá uma
abordagem nas relações que se mantém no ambiente do trabalho e não com o
trabalho em si. Tem a proposta da reflexão sobre a relação perversa, adoecida, que
compromete o desempenho do trabalhador e também sua saúde. Werneck (2010)
em seu artigo sobre adoecimento psíquico fala da função social do trabalho que
proporciona a grupos de indivíduos se relacionar, compartilhar objetivos comuns
para atender a um propósito maior exigido pela empresa. Aponta o trabalho e suas
implicações socioculturais, sendo um vinculador social. Lembra o paradoxo de que o
trabalho que tem a função de integrar também serve para desintegrar, adoecer o
corpo e a alma dos trabalhadores. Observa ainda que se deve refletir sobre as
relações adoecidas que são causadas com uma administração despreocupada na
formação dos líderes.
Para Werneck (2010) as relações perversas geralmente são implosivas,
corrosivas, silenciosas e discretas, poucas testemunhas acompanham e, quando
acompanham, acabam por ser envolvidas pelo ambiente. As condições de trabalho
ambíguas que não afirmam mas também não negam suas regras levam o
trabalhador, como também toda a organização, à construção de um ambiente que
origina relações perversas. Contudo, quando um indivíduo já tem formado um
sistema de crenças que influenciam ou determinam sua relação consigo, com o
mundo e com o futuro de forma desadaptativa, ele desenvolve sua forma especifica
de “ler” o ambiente. Na medida em que avaliamos o significado de acontecimentos
em nossas vidas, produzimos pensamentos que aparecem de forma rápida e
automática. Esses pensamentos podem gerar reações emocionais dolorosas e
comportamento disfuncional. Pessoas com transtorno de ansiedade normalmente
19
tem pensamentos automáticos que incluem previsões de perigo, prejuízo, falta de
controle ou incapacidade de lidar com ameaças (WRIGHT et al. 2008).
É possível que um ambiente ambíguo ou beligerante ative as crenças de uma
pessoa e ela, para conviver com os incômodos que possam aparecer, constrói
estratégias para lidar com as situações. As estratégias descrevem o que a pessoa
faz quando são ativados os modos, as crenças centrais e os pressupostos
subjacentes diante das situações da vida (KUYKEN, et al. 2010).
4.3 Ambiente de trabalho e ansiedade
Davidson (1998) dedicou o segundo capítulo do seu livro “A sabedoria no
trabalho”, para falar da consciência das lideranças perante as pessoas que fazem
parte de suas equipes no trabalho. De forma reflexiva aponta que tanto o brilho
criativo, inovação tecnológica, ousadia e inteligência geram estresse, excesso de
trabalho e insegurança no emprego. O descontentamento dos trabalhadores
acontece porque a ansiedade em relação ao futuro, a instabilidade financeira, as
contínuas demissões e as constantes reestruturas deixam as pessoas e as
organizações confusas e desmoralizadas. Lembra que o “velho contrato” se rompeu:
o acordo implícito de que lealdade e dependência seriam recompensadas com
promoção, segurança ou manutenção do emprego. Com a competitividade,
mudanças constantes na economia, o olhar privilegiando apenas os resultados,
esquece-se das pessoas. Fica a angústia da promessa do amanhã.
Será que um ambiente de trabalho que oferece muitas incertezas pode ser
um fator importante para desencadear um quadro de TAG? O casamento entre
crenças centrais de um indivíduo que o levam a acreditar que o mundo é muito
imprevisível e que ele será cotidianamente lesado pela vida, com um ambiente em
que situações e pessoas são ambivalentes podem levar a pessoa a desenvolver,
segundo o DSM-V uma expectativa e uma preocupação excessiva. A intensidade,
duração ou frequência da ansiedade é desproporcional à probabilidade real ou ao
impacto do evento. O indivíduo tem dificuldade de controlar a preocupação e de
evitar que pensamentos preocupantes interfiram na atenção as tarefas em questão.
A ansiedade, a preocupação ou os sintomas físicos causam sofrimento clinicamente
20
significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras
importantes áreas da vida das pessoas (DSM-5 2012/2013).
4.3.1 Terapia Cognitivo-Comportamental
No início dos anos 1960, Aaron Beck identificou em suas pesquisas
cognições negativas e distorcidas, pensamentos e crenças como características
primárias da depressão e desenvolveu um tratamento de curta duração, no qual um
dos objetivos principais era o teste de realidade do pensamento depressivo do
paciente. Em todas as formas de TCC derivadas do modelo de Beck, o tratamento
está baseado em formulação cognitiva das crenças e estratégias comportamentais
que caracterizam um transtorno específico (BECK, 2013). Assim, a prevenção ou
tratamento baseia-se em um entendimento, uma conceitualização de cada pessoa
que sofre com alguma dificuldade específica. A Terapia Cognitivo-Comportamental
(TCC), por meio de técnicas também especificas para cada caso visa identificar o
pensamento disfuncional da pessoa que influencia o humor e o comportamento.
Procura identificar as crenças deste individuo sobre si, seu mundo e com as outras
pessoas (BECK, 2013).
A TCC é uma abordagem do senso comum que se baseia em dois princípios
centrais: nossas cognições têm uma influência controladora sobre nossas emoções
e comportamentos e o modo como agimos ou nos comportamos pode afetar
profundamente nossos padrões de pensamento e nossas emoções. Dessa forma,
podemos afirmar que, se pudermos reorientar nossos pensamentos e emoções e
reorganizar nossos comportamentos, então poderemos aprender a lidar com o
sofrimento mais facilmente e também evitar que ele surja (WRIGHT et al., 2008).
4.3.2 Prevenção do Transtorno de Ansiedade no ambiente de trabalho apoiada
na TCC
Para que os sintomas da ansiedade desapareçam, a pessoa deve passar por
um tratamento que a possibilite mudar a forma de interpretar seu ambiente social ou
profissional. Deve ser orientada para rever a leitura que faz do mundo externo que
21
ativa seu mundo interno. A TCC tem se mostrado uma eficaz ferramenta para
prevenção e tratamento de transtorno de ansiedade.
O modelo da terapia cognitiva se baseia na visão de que estados
estressantes como raiva, depressão e ansiedade são mantidos ou exacerbados por
maneiras de pensar exageradas ou tendenciosas. A TCC é um suporte importante
porque traz os pensamentos da pessoa que sofre de ansiedade, para uma visão
lógica do motivo pelo qual ela sofre. O caminho para a prevenção do
desenvolvimento do transtorno de ansiedade é colaborativo entre o paciente e o
terapeuta e o ambiente em que a pessoa está inserida. Baseia-se nas elaborações
de técnicas que leve tanto a pessoa como o terapeuta a desenvolver a
conceitualização cognitiva do que a incomoda, enxergar as suas crenças e
compreender os pensamentos que funcionam como gatilhos para ativar as crenças.
Deve-se avaliar situação e evento, pensamentos automáticos, reação que deriva
para emocional, comportamental e fisiológica. Levar a pessoa a compreender que
não é a situação em si que determina o que ela sente, mas como ela interpreta uma
situação. Como já foi referido nesse trabalho, no inicio da vida a pessoa desenvolve
determinadas crenças sobre ela, sobre o mundo e sobre o outro. Essas crenças são
compreensões duradouras, fundamentais e profundas que, às vezes, não são
articuladas nem para si mesmo. Essas crenças são consideradas como verdades
absolutas. Eventos rotineiros da vida tornam-se angustiantes, estressores,
provocando ansiedade e comprometendo a qualidade de vida das pessoas. Entre a
crença central e os pensamentos automáticos existem as classes intermediárias de
crenças (BECK, 2013).
As crenças intermediárias são pressupostos, regras, condicionantes. É
comum a pessoa utilizar-se do pronome reflexivo “se” para justificar o porquê ela
toma ou não algumas decisões ou atitudes. O Pronome reflexivo “se” age como
condicionante para a direção que a pessoa dá para a vida dela (WRIGHT et al.,
2008).
Segundo Beck (2008), desde os primeiros estágios do desenvolvimento, as
pessoas tentam entender seu ambiente. Elas precisam organizar suas experiências
de forma coerente para elas, como uma forma adaptativa de controlar seu ambiente
e suas interações com o mundo e o outro. Como as crenças são condicionantes, se
22
estiverem levando a um transtorno e sofrimento, elas podem ser trabalhadas e
desaprendidas, dando lugar para crenças mais alinhadas com a realidade. Um dos
pilares da TCC é a pessoa reconhecer seus pensamentos, inclusive aqueles que
acontecem de forma automática. Esses pensamentos estão fundamentados nas
crenças centrais ou nucleares. Quando a pessoa é levada a reconhecer seus
pensamentos disfuncionais, fica mais fácil a compreensão de si mesma e de sua
forma de funcionamento diante dos reveses da vida.
Werneck (2010) cita que as relações ficam adoecidas nas empresas porque
não existe uma preocupação das administrações com as formações dos lideres.
Para a formação de uma liderança consciente do papel que desempenha na vida de
quem é liderado e para a sociedade, as organizações precisam modificar o olhar
para o que realmente representa administrar e como aplicar esses conceitos no ato
de liderar. Nesse sentido, Victor Henrique (1988) afirma que:
Administrar é a utilização racional de recursos para fins determinados. Assim pensada ela se configura inicialmente, como uma atividade exclusivamente humana, já que somente o homem é capaz de estabelecer livremente objetivos a serem cumpridos.
O ser humano somente se torna humano porque transcende sua situação
natural, que se dá na medida em que busca realizar, através da ação racional,
objetivos que se propõe. O ser humano relaciona-se com a natureza pelo trabalho
como atividade orientada a um fim. Ao se relacionar com a natureza o ser humano
não o faz como um indivíduo isolado, mas em contato permanente com outros seres
humanos. Relacionar-se é condição essencial para a existência, e o
desenvolvimento do indivíduo está condicionado ao desenvolvimento dos outros,
com quem se relaciona direta ou indiretamente. Os seres humanos, em algum
momento de suas vidas, passam a maior parte dos seus dias em companhia de
outros seres humanos em um ambiente de trabalho, sendo que cada participante
desse ambiente traz consigo crenças de fracasso, rejeição, leitura do ambiente
embasado nas suas crenças pessoais, podendo trazer como consequência
comportamentos que provocam no outro e talvez também a si mesmo angústia,
desesperança no amanhã (Paro, 1988). A desesperança, o temor ,angustia, podem
levar ao absenteísmo, alta rotatividade e baixa produtividade, Enxergar o contexto
desmotivador faz parte das atribuições de lideranças, da gestão de pessoas.
23
4.3.3 Gestão de Pessoas e Psicoeducação
A gestão de pessoas nos tempos atuais está experimentando mudanças em
suas políticas estratégicas de orientação, capacitação e no relacionamento saudável
entre as pessoas. Se antes as pessoas eram consideradas como somente mais um
dos recursos disponíveis para as organizações atingirem seus objetivos, atualmente
elas devem ser valorizadas nas organizações porque os avanços tecnológicos, a
globalização da economia, crescimento da concorrência, opinião publica, clientes
mais exigentes, dentre várias situações, elevam a qualidade dos produtos e
atendimento. Caso esta elevação na qualidade de produtos e pessoas não
aconteçam, comprometerá o resultado da organização e talvez até sua perenidade
no mundo dos negócios. Os investimentos em capacitação de pessoas devem ser
utilizados com toda intensidade para o próprio desenvolvimento do negócio. O
capital humano deve ser o principal patrimônio da organização porque em muitos
casos pode ser ele a determinar o valor de mercado de muitas empresas (SOUSA
2010). A psicoeducação poderá ser uma aliada do gestor para que ele possa levar
os profissionais de sua equipe a um entendimento mais lógico e real das situações
do cotidiano. Por meio da psicoeducação, o gestor pode apresentar as informações
de forma prática, que favoreça aos profissionais envolvidos melhor compreensão
das situações ou dificuldades cotidianas. Utilizando técnicas da TCC em conjunto
com a psicoeducação o ambiente de trabalho poderá ficar mais orientador e menos
confuso, mais transparente e com menos conflitos, mais saudável e menos
adoecedor.
O gestor poderá utilizar para cada ação do seu dia a dia com sua equipe
técnicas previamente preparadas e adaptadas para o momento. Técnicas que
podem elevar a compreensão e o entendimento de si e do contexto prevenindo o
TAG:
Questionário Socrático: Objetiva levar a pessoa entender sua aflição por
intermédio de perguntas questionadoras e reflexivas sobre o momento
vivido.
Exames das evidências: Questiona a pessoa sobre quais evidências ela
possui de que algo ruim irá acontecer.
24
Pensamentos gerando sentimentos: Aponta como os pensamentos geram
sensações e desconforto como tristeza, temor, pânico e ansiedade.
Distinção entre pensamentos e fatos: Busca ajudar a pessoa a
compreender a diferença entre pensamentos e fatos.
Conceitualização de experiências negativas e positivas; Técnica
importante especialmente ao se dar um feedback. Consiste em apontar
para a pessoa que o fato de ter ido mal em uma atividade não exclui
outras tantas que a pessoa foi bem.
25
5 CONCLUSÃO
Em decorrência do que foi exposto nesse trabalho, podemos pensar na TCC
como um método para prevenir o Transtorno de Ansiedade generalizada no
ambiente de trabalho. Através do entendimento da origem da ansiedade,
compreensão da TCC, entendimento sobre a psicoeducação e sua aplicação,
utilização de técnicas da TCC condizentes com o conhecimento de quem a utiliza e
o ambiente corporativo.
AS organizações que conseguirem perceber que a TCC é um método que
visa facilitar a construção de um ambiente orientador podem ter seus resultados
elevados. As lideranças desempenham um papel importante e necessário no
despertar da consciência no local de trabalho. Uma boa liderança deve ser
transformadora, pois o papel da liderança no local de trabalho é uma oportunidade
de expressar e também compreender potenciais propósitos compartilhando objetivos
e metas na caminhada corporativa.
Liderar é orientar claramente, informar de forma objetiva, apoiar a quem lidera
na visualização de um futuro. Uma boa liderança planeja, fornece identidade ao que
se constrói e dá significado para todos que estão envolvidos. A liderança deve
impedir o sentimento de angústia de promessa do amanhã. A TCC pode contribuir
para formação dos líderes para a prevenção de um ambiente de trabalho nocivo. Um
dos princípios da TCC é ajudar o individuo a compreender as suas crenças sobre si
mesmo, sobre as outras pessoas, e sobre o mundo. O que retoma o que já foi dito
sobre como se constrói uma saudável administração, acerca do líder compreender
sua relação com que lidera, com a sociedade e consigo mesmo. Conhecer os
pensamentos é um mecanismo de lidar com o mundo interno, discernindo as
emoções para lidar com o mundo externo.
Portanto concluímos que a TCC é um método que tem potencial para prevenir
o desenvolvimento do TAG no ambiente corporativo, por meio da utilização de
técnicas e da psicoeducação. Conclui-se ainda que sejam necessárias pesquisas
que busquem a aplicação prática da TCC tanto em trabalhadores expostos a
situações laborativas ansiogênicas quanto no treinamento de gestores, para que
26
dados mais robustos possam ser apurados, possibilitando a sistematização prática
da aplicação da TCC nas corporações.
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ANEXOS
Termo de Responsabilidade Autoral
Eu Maria do Carmo Chagas, afirmo que o presente trabalho e suas devidas partes
são de minha autoria e que fui devidamente informado da responsabilidade autoral sobre
seu conteúdo.
Responsabilizo-me pela monografia apresentada como Trabalho de Conclusão de
Curso de Especialização em Terapia Cognitivo Comportamental, sob o título, A TERAPIA
COGNITIVO-COMPORTAMENTAL COMO PROPOSTA PARA PREVENÇÃO DO TRANSTORNO DE
ANSIEDADE PROVOCADO NO AMBIENTE DE TRABALHO, isentando, mediante o presente
termo, o Centro de Estudos em Terapia Cognitivo-Comportamental (CETCC), meu
orientador e coorientador de quaisquer ônus consequentes de ações atentatórias à
"Propriedade Intelectual", por mim praticadas, assumindo, assim, as responsabilidades civis
e criminais decorrentes das ações realizadas para a confecção da monografia.
São Paulo, __________de ___________________de______.
_______________________
Assinatura do (a) Aluno (a)