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CENTRO UNIVERSITÁRIO ESTADUAL DA ZONA OESTE COLEGIADO DE CIÊNCIAS BIOLOGICAS E DA SAÚDE CURSO DE GRADUAÇÃO EM FARMÁCIA SÍNTESE E CARACTERIZAÇÃO DA HIDROXIAPATITA, UMA REVISÃO DA LITERATURA Tarcila Soares Oliveira de Souza Rio de Janeiro 2012

CENTRO UNIVERSITÁRIO ESTADUAL DA ZONA OESTE COLEGIADO DE ... · para a obtenção do grau de Farmacêutica, sob a orientação do professor Leandro Medeiros Motta. Rio de Janeiro

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CENTRO UNIVERSITÁRIO ESTADUAL DA ZONA OESTE

COLEGIADO DE CIÊNCIAS BIOLOGICAS E DA SAÚDE

CURSO DE GRADUAÇÃO EM FARMÁCIA

SÍNTESE E CARACTERIZAÇÃO DA HIDROXIAPATITA,

UMA REVISÃO DA LITERATURA

Tarcila Soares Oliveira de Souza

Rio de Janeiro

2012

TARCILA SOARES OLIVEIRA DE SOUZA

Discente do curso de Farmácia Matrícula n.° 0823800005

SÍNTESE E CARACTERIZAÇÃO DA HIDROXIAPATITA,

UMA REVISÃO DA LITERATURA

Trabalho de Conclusão de Curso, TCCII,

apresentado ao Curso de Graduação em

Farmácia da UEZO como parte dos requisitos

para a obtenção do grau de Farmacêutica, sob a

orientação do professor Leandro Medeiros Motta.

Rio de Janeiro

Julho de 2012

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SÍNTESE E CARACTERIZAÇÃO DA HIDROXIAPATITA,

UMA REVISÃO DA LITERATURA

Elaborado por Tarcila Soares Oliveira de Souza

Discente do Curso de Farmácia da UEZO

Este trabalho de graduação foi analisado e aprovado com grau:..............

Rio de Janeiro, ...........................................................

_________________________________________

Prof. Leandro Medeiros Motta, Doutor (orientador)

__________________________________________

Profa. Adriana Passos Oliveira, Doutora

__________________________________________

Prof. Daniel Escorsim Macahdo, Doutor

_____________________________________

Prof. Marco Antonio Mota da Silva Doutor (Suplente)

Julho de 2012

iv

Ao meu mestre e Senhor, Deus. Aos responsáveis por eu ter chegado até aqui, meu pai Isaias Lima e minha mãe Lucilene Soares e minha

conselheira e irmã, Talita Soares.

v

RESUMO

A Hidroxiapatite (HA) tem sido amplamente utilizada como uma cerâmica

biocompatível em muitas áreas da medicina, mas principalmente para o contato

com o tecido ósseo. A HA sintética é conhecida por ser semelhante a HA

natural,com base na cristalografia e estudos químicos. Várias metodologias têm

sido investigadas e desenvolvidas para a síntese de HA. Em função da alta

complexidade e diversificação na química dos fosfatos de cálcio, pode-se

facilmente modificar as características do material variando-se o método utilizado

na sua preparação. Por isso, a escolha e o controle da metodologia adotada no

preparo do material são fundamentais para cada aplicação do produto final. Esta

revisão apresenta alguns dos mais bem conhecidos métodos de obtenção de

nanopós de hidroxiapatita, técnica de precipitação,técnica hidrotérmica, reação

sol-gel e reação de estado sólido e as características peculiares dos pós para

cada metodologia, tais como, cristalinidade, morfologia do pó, estequiometria e

qualidade do pó.

Palavras-Chave: Hidroxiapatita, Técnica de precipitação, Técnica

Hidrotérmica, Reação Sol-Gel, Reação de Estado Sólido.

vi

ABSTRACT

The hydroxyapatite (HA) has been widely used as a biocompatible ceramic

in many areas of Medicine, but especially for contact with the bone tissue. The

synthetic HA is known for being similar to the natural HA, based on

crystallographic and chemical studies. Several methods have been investigated

and developed for the synthesis of HA. Due to the high complexity and diversity in

the chemistry of calcium phosphates, the characteristics of the material can easily

be modified varieting the method used in their preparation. Therefore, the choice

and control of the methodology used to prepare the material are essential to each

application of the final product. This review presents some of the best known

methods of obtaining nanopowders hydroxyapatite technique, precipitation

technique, hydrothermal technique, sol-gel reaction and solid state reaction and

the peculiar characteristics of powders for each methodology, such as crystallinity,

powder morphology, stoichiometry and quality of the powder.

Keywords: Hydroxyapatite, Precipitation Technique, Hydrothermal Technique,

Sol-Gel Reaction, Solid State Reaction.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Sistema de canais Harvers e Volkman.................................................16

Figura 2. Estrutura célula unitária da Hidroxiapatita ............................................17

Figura 3. Padrões de difracção de raio-X da HA tratada a diferentes

temperaturas..........................................................................................................23

Figura 4. Espectro de FTIR da HA........................................................................24

Figura 5. DRX dos pós de HA...............................................................................25

Figura 6. Micrografias de MEV de pós de HA.......................................................26

Figura 7. Padrão de EDS da HA...........................................................................27

Figura 8. MEV da hidroxiapatita............................................................................28

Figura 9. Padrão de Difração das amostras de HÁ...............................................28

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

DRX - Difração de Raios X

EDS - Espectroscopia de Energia Dispersiva

FT-IR - Espectroscopia Vibracional no Infravermelho por Transformada de Fourier

HA – Hidroxiapatita

ICDD - The International Centre for Diffraction Data

MEV – Microscopia Eletrônica De Varredura

SEM - Microscopia Eletrônica de Varredura

ix

AGRADECIMENTO

Primeiramente a Deus, por ter me dado forças e sabedoria para concluir este

trabalho e por ter posto pessoas maravilhosas no meu caminho, que

independente de me ajudarem de forma direta ou indireta, foram de grande

importância para mim ao longo desta árdua jornada.

Aos meus pai, Isaias e Lucilene, por ter suprido todas as minhas

necessidades, tanto emocionais quanto materiais. O apoio e incentivo foram de

extrema importância para que concluísse mais esta etapa. Agradeço ao

companheirismo e incentivo da minha irmã Talita.

As minhas avós, tios e primos que sempre me deram apoio ao longo de toda a

trajetória, torcendo para que eu conquistasse mais esta vitória.

Ao meu orientador, Prof. Leandro Medeiros Motta, por me orientar não apenas

na formação deste trabalho, mas também por me aconselhar em minha formação

acadêmica e nos desafios da minha futura vida profissional.

Aos meus colegas de turma, por terem proporcionado os momentos mais

divertidos e inusitados da minha graduação. E um agradecimento especial

aqueles que estiveram mais próximos, me incentivando, ensinando e

compartilhando momentos bons e ruins: Barbara Abranches, Bruno Barros,

Juliana Lopes, Marlon Akio, Kamilla Vieira, Paola Ameixoeira e Rosilane Moreth.

Aos professores que me auxiliaram nesta jornada do conhecimento, em

especial aos mais próximos, que de mestres se tornaram amigos: Profª

Alessandra Micherla, Profª Jamila Perini, Profª Joelma, Prof. Marco Antônio Motta,

Prof. Sérgio Seabra.

.

x

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 8

2. OBJETIVO ........................................................................................................................................ 11

3. METODOLOGIA ............................................................................................................................... 12

4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................................................. 13

4.1. ESTRUTURA ÓSSEA .......................................................................................................................... 13

4.2. HIDROXIAPATITA ............................................................................................................................. 17

4.3. SÍNTESE DA NANOHIDROXIAPATITA ............................................................................................... 21

4.3.1. TIPOS DE SÍNTESE DA NANOHIDROXIAPATITA ............................................................................. 23

4.3.1.1REAÇÃO DE PRECIPITAÇÃO (COPRECIPITAÇÃO) ......................................................................... 23

4.3.1.2REAÇÃO HIDROTÉRMICA ............................................................................................................ 25

4.3.1.3 REAÇÃO SOL-GEL ....................................................................................................................... 27

4.3.1.4 REAÇÃO DE ESTADO SÓLIDO ..................................................................................................... 28

5. CONCLUSÃO .................................................................................................................................... 30

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................. 31

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1. INTRODUÇÃO

O aumento da expectativa de vida do homem, como conseqüência dos

avanços da medicina, da maior preocupação com a alimentação e do conforto

gerado pela assim denominada “vida moderna”, tem resultado no aumento da

população de idosos e, conseqüentemente, das doenças relacionadas à velhice.

Dentre os diversos males que afetam a estrutura óssea, a osteoporose e a perda

de massa óssea têm sido intensamente estudados devido a seus efeitos

devastadores na qualidade de vida das pessoas. Os problemas de estrutura

óssea não são apenas “doença de velhos”, eles também atingem indivíduos

jovens em sua fase mais produtiva, em decorrência de acidentes, notadamente os

automobilísticos e os de trabalho (KAWACHI, 2000).

O termo biomaterial que é definido como sendo um composto de natureza

sintética ou natural, utilizado por um período de tempo para melhorar, aumentar e

substituir, parcial ou inteiramente, tecidos ou órgãos (CAMPOS et al., 2005).

Estes tem tido aplicações na regeneração do tecido ósseo, como uma alternativa

aos enxertos ósseos, tem sido relevante, pois eles não danificam tecidos

saudáveis, não aumentam os riscos de contaminações virais e bacterianas, além

de serem disponibilizados comercialmente (WILLIAMS, 1987).Podem, ainda, ser

de fácil dissolução e absorção, ao mesmo tempo em que permitem e estimulam a

formação óssea (WAN et al., 2006; CHEN et al., 2009). Os biomateriais utilizados

como substitutos do tecido ósseo devem possuir características peculiares. Eles

devem ser biocompatíveis, biodegradáveis e osteocondutivos, proporcionando a

condução de osteoblastos ou de células precursoras de osteoblastos para o sítio

lesado e de fatores regulatórios que promovam esse recrutamento, assim como o

crescimento celular neste sítio (LIU et al; 2004; WAN et al, 2006; CHEN et al.,

2009). Além disso, precisam proporcionar uma estrutura adequada, que servirá de

suporte para a neoformação óssea (PRECHEUR, 2007).

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As biocerâmicas têm merecido lugar de destaque entre os materiais com

aplicação biomédica, em especial para aplicações e implantes ósseos, pois existe

uma vasta gama de cerâmicas compatíveis com este tipo de aplicação. No que se

refere à utilização em implantes ósseos, as cerâmicas a base de fosfatos de

cálcio são as mais estudadas, por apresentarem uma alta biocompatibilidade,

ausência de toxicidade local ou sistêmica e uma capacidade de ligar-se ao tecido

hospedeiro (cerâmica bioativa) ou ser absorvido pelo tecido vivo (cerâmica

bioabsorvível) (HENCH et al., 1993). A boa biocompatibilidade destas cerâmicas

deve-se ao fato delas possuírem os mesmos constituintes básicos presentes da

fase mineral dos ossos, assim como o fósforo e o cálcio em sua maioria

(KAWACHI et al., 2000).

Nos últimos anos, entre as biocerâmicas, especialmente os compostos a base

de fosfato de cálcio denominada por apatita, particularmente a hidroxiapatita (HA)

sintética [Ca10(PO4)6(OH)2] tem sido amplamente empregadas nas áreas médicas

e odontológicas por apresentarem excelente biocompatibilidade proporcionada

pela sua similaridade química, biológica e cristalográfica com a fase mineral do

osso humano (YANG, 2002; HWANG,1999; VERCIK;2004). Uma propriedade

notável da HA sintética é sua bioatividade, em particular a habilidade para formar

ligação química com os tecidos duros vizinhos após a implantação (YANG, 2002).

A biocompatibilidade, bioatividade, osteocondutividade, dimensão, tamanho,

morfologia e funcionalização de superfície representam as propriedades físicas e

químicas, que devem ser adaptadas em cristais de HA sintética para otimizar

suas especificidades e aplicações biomédicas (ROVERI, 2010).

Ultimamente as pesquisa com biomateriais é focada em superar as limitações

dos fosfatos de cálcio, das cerâmica de HA, e na melhoria das suas propriedades

biológicas explorando as vantagens únicas da nanotecnologia. A tendência está

mudando em direção a nanotecnologia para melhorar as respostas biológicas da

HA, porque a nano-HA é semelhante, em relação dimensional, com os cristais

presente no osso (ROVERI, 2010).

10

Na literatura, vários métodos para preparar cristais de HAP têm sido relatados,

incluindo reações em estado sólido, crescimento de cristais sob condições

hidrotermais, sol-gel e precipitação.

Os pós de HA sintéticos podem ser amorfos ou policristalinos com vários

graus de cristalinidade de acordo com o seu preparo. Durante a sinterização, a

pressão e/ou a temperatura tende a dar um produto acabado de HA policristalina,

que varia em porosidade. Métodos de obtenção de pós de HA e de produtos

acabados de HA são descritos na literatura (PINCHUK, 2003).

De uma perspectiva de aplicação prática, adequados micromaterials ou nanos

com morfologias específicas não só precism ser capazes de serem sintetizado

em grandes quantidades como também possuirem composição desejada,

tamanho e estrutura reproduzíveis reproduzíveis ( Zhou H., 2011).

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2. OBJETIVO

Este trabalho tem como objetivo revisar, algumas das várias rotas sintéticas

mais importantes da nanohidroxiapatita e sua influência sobre as propriedades

dos pós sintetizados, tais como cristalinidade, morfologia do pó, estequiometria,

qualidade do pó, entre outros.

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3. METODOLOGIA

Esta revisão foi elaborada através do levantamento de dados encontrados na

literatura já existente. Foram realizadas buscas bibliográficas nas bases de dados:

ScienceDirect, Scielo e no Portal de Periódicos da Capes.

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4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

4.1. ESTRUTURA ÓSSEA

O osso é o componente do sistema esquelético que está envolvido na

proteção do corpo, suporte e movimento. O osso é uma proteção e um local de

produção de tecidos especializados, como o processo de formação do sangue, ou

seja, a medula óssea. O coração, pulmões e outros órgãos e estruturas no toráx

são protegidos pela caixa torácica. A função destes órgãos envolvendo

movimento, expansão e contração requerem flexibilidade e elasticidade da caixa

torácica. O osso suporta a ação mecânica de tecido estruturalmente flexíveis,

como a contração dos músculos ou expansão dos pulmões. E finalmente é um

reservatório mineral, pelo qual os sistemas endócrino regulam o níveis de íons

cálcio e fosfato nos líquidos corporais circulantes (FLORENCE et al., 2006).

O processo pelo qual o tecido ósseo se desenvolve é denominado ossificação

ou osteogênese. Os ossos podem se originar de duas maneiras: no seio de uma

região condensada de natureza conjuntiva ou quando o tecido ósseo se forma

substituindo gradualmente um modelo cartilaginoso preexistente. Por suas

características, esses dois processos foram denominados, respectivamente,

ossificação intramembranosa e ossificação endocondral (LYNCH et al.,

1999;KATCHBURIAN et al., 2004).

O osso é um tipo especializado de tecido conjuntivo formado por células e

material extracelular calcificado, a matriz óssea (JUNQUEIRA, 2004). É composto

por uma fração inorgânica e outra orgânica. No osso maduro, a matriz orgânica

contém 85% de colágeno do tipo I, que atua como uma malha na qual minúsculos

cristais de hidroxiapatita são embutidos e o restante é composto de moléculas

não colágenas e líquido intersticial. A fração inorgânica ou não proteica

representa cerca de 50% do peso da matriz óssea, sendo composta,

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principalmente, por íons de fosfato e cálcio caracterizados como um cristal de

hidroxiapatita (Ca10(P04)6(OH)2). Outros íons como bicarbonato, magnésio,

potássio, sódio e citrato também estão presentes, porém, em pequenas

quantidades (JUNQUEIRA, 1995).

As fibras de colágeno dão ao osso resistência à tensão elevada, isto é, podem

resistir ao alongamento e à torção. Os sais permitem ao osso resistir à

compressão. Esta combinação de fibras e sais confere ao osso excepcional força,

sem torná-lo quebradiço (SAITO,2003).

As células que compõe o osso são os osteoblastos, os osteócitos e

osteoclastos. Os osteoblastos são as células responsáveis pela formação do

tecido ósseo, sintetizam os componentes da matriz orgânica e controlam a

mineralização dessa matriz. Estas células são completamente diferenciadas e não

apresentam capacidade de migração e proliferação. Assim, para permitir que

ocorra a formação óssea em um sítio determinado, células progenitoras

mesenquimais indiferenciadas (células osteoprogenitoras) podem migrar para o

sítio e proliferar para se tornar então osteoblastos. A diferenciação e o

desenvolvimento dos osteoblastos pelas células osteoprogenitoras são

dependentes da liberação das BMPs e de outros fatores de crescimento.

Os osteoblastos são capazes de concentrar fosfato de cálcio, participando da

mineralização da matriz (JUNQUEIRA, 2004). Os osteoblastos, além da produção

dos componentes da matriz, funcionam como transmissores de sinais para a

remodelação (KATCHBURIAN et al., 2004). À medida que a matriz óssea é

sintetizada, os osteoblastos ficam envoltos por ela e passam a ser chamados

osteócitos (OCARINO et al., ).

Os osteócitos são as células aprisionadas no interior da matriz óssea

mineralizada, ocupando as lacunas das quais partem canalículos. Cada lacuna

contém apenas um osteócito. Dentro dos canalículos os prolongamentos dos

osteócitos estabelecem contatos através de junções comunicantes, por onde

podem passar pequenas moléculas e íons de um osteócito para o outro. Esse

arranjo permite aos osteócitos (1) participar na regulação da homeostasia do

15

cálcio sanguíneo e (2) perceber a carga mecânica e transmitir essa informação às

outras células dentro do osso (JUNQUEIRA, 2004; LINDHE et al., 2005).

A atividade de formação óssea está consistentemente associada à reabsorção

óssea que é iniciada e mantida pelos osteoclastos. Os osteoclastos são células

móveis, gigantes, multinucleadas e extensamente ramificadas, observadas nas

superfícies ósseas (LYNCH et al., 1999; KATCHBURIAN e al, 2004; LINDHE et

al., 2005). A zona clara é um local de adesão do osteoclasto com a matriz óssea e

cria um microambiente fechado, onde tem lugar a reabsorção óssea. Os

osteoclastos secretam para dentro desse microambiente fechado, ácido (H+),

colagenase e outras hidrolases que atuam localmente digerindo a matriz orgânica

e dissolvendo os cristais de sais de cálcio. A atividade dos osteoclastos é

coordenada por citocinas e por hormônios como a calcitonina, produzida pela

glândula tireóide, e o paratormônio, secretado pelas glândulas paratireóides

(JUNQUEIRA, 2004; HERNÁNDEZ-GIL et al., 2006).

A arquitetura óssea na maioria dos ossos possuem uma estrutura básica

composta por duas camadas:

Osso cortical- camada mais externa e mais dura

Osso trabecular - camada interna, mais esponjosa

Os compostos minerais formam a estrutura rígida responsáveis pela

sustentação, enquanto que a parte orgânica preenche as lacunas na estrutura

conferindo a característica de elasticidade do esqueleto. Quando o osso possui

pouca substância mineral em relação à substância orgânica, deforma-se ou

curva-se facilmente (raquitismo). Por outro lado, quando há diminuição da

substância orgânica, o osso torna-se quebradiço e fratura-se facilmente

(GUYTON, 1988).

O osso maduro existe em duas geometrias diferentes: sistema de Havers,

formado por camadas concêntricas (como pele de cebola) ao redor de um vaso

sanguíneo e o sistema lamelar formado por camadas que se prolongam até a

superfície óssea. A camada superficial do osso é formada por osso compacto com

poros de 1μm a 100μm enquanto a parte central é formada por tecido mole da

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medula óssea. As trabéculas ósseas emergem da cavidade da medula e formam

o osso trabecular ou esponjoso com poros de 200μm a 400μm, estendendo-se

até o osso compacto (LEGEROS, 2002; TIRREL et al. 2002).

O osso esponjoso é formado por lamelas, na sua maioria paralelas entre si. As

lamelas formam delgadas trabéculas que deixam, entre elas, amplos espaços

preenchidos por tecido conjuntivo frouxo, vasos sanguíneos e tecido

hematopoiético, constituindo, portanto, parte da medula óssea. O osso compacto

é formado por numerosos sistemas de lamelas concêntricas (KATCHBURIAN et

al., 2004).

Os canais de Havers comunicam-se entre si, com a cavidade medular e com a

superfície externa do osso por meio de canais transversais ou oblíquos,

denominados canais de Volkmann, que atravessam as lamelas ósseas. Todos

esses canais se formam quando a matriz óssea se forma ao redor de canais

preexistentes (DHARA ,2002).

Os ossos podem crescer, modificar sua forma (modelamento ou

17

Figura 1. Sistema de canais Harvers e Volkman (JUNQUEIRA L. C. U.,

CARNEIRO J., 2004).

remodelamento externo), auto-reparar-se quando fraturado (regeneração

óssea) e continuamente renovar-se por remodelamento interno. Todas essas

funções são ministradas por processos fisiológicos, mecânicos e hormonais. O

crescimento ósseo ocorre na maioria das vezes durante a infância, a cicatrização

de fraturas somente ocorre durante o tempo de reparo da lesão, já a reabsorção

óssea ocorre durante toda a vida, seguindo a regra ditada pela evolução

microestrutural do osso e, conseqüentemente, na adaptação de propriedades

estruturais e reparos de microdanos (MOTTA,2006).

4.2. HIDROXIAPATITA

As apatitas existem espalhadas na natureza como principais constituintes de

rochas ígneas e metamórficas, e em grandes depósitos em vários lugares do

mundo. A forma predominante entre as apatitas é a apatita de cálcio,

Ca10(PO4)6X2. Substituindo-se o ânion X- por OH- na fórmula anterior tem-se a

hidroxiapatita (HA) na sua forma estequiométrica (LORENZO,2000).

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Figura 2. Estrutura célula unitária da Hidroxiapatita (MAVROPOULUS, A.M. et al., 2002)

O osso apresenta cristais de fosfato de cálcio sob a forma de agulha, de

tamanhos nanómetricos de cerca de 5-20 nm de largura por 60 nm comprimento,

com uma fase de apatita mal cristalizada, não estequiométrica contendo CO32 -,

Na +, F- e outros íons em uma matriz de fibras colágenas (FERRAZ M.P, 2004).

Foi sugerido ao estudarem hidroxiapatitas cerâmicas com porosidade

graduada como substitutos do osso natural, que pequenas variações na

geometria e propriedades físico-químicas poderiam causar significantes

diferenças na resposta biológica. Neste estudo as hidroxiapatitas exibiram forte

adesão ao osso com os poros contribuindo para uma interligação mecânica

conduzindo a uma firme fixação do material com o tecido ósseo (TAMPIERI et al.,

2001).

A característica mais importante associada a um material cerâmico que devera

substituir um tecido ósseo são a porosidade e a capacidade do material

implantado a função osteocondutora. A arquitetura porosa controlada, a

porosidade elevada, o tamanho adequado do poro e a interconectividade destes

arcabouços são necessários para facilitar a distribuição e difusão das células e de

nutrientes por toda a estrutura (COSTA et al., 2007).

O tamanho dos poros, o volume, a distribuição, a densidade são

características que afetam as propriedades físicas e, subseqüentemente, seu

comportamento biológico. A área de superfície e a porosidade são duas

propriedades físicas importantes que determinam a qualidade e a utilidade dos

biomateriais e conseqüentemente, suas variabilidades nas partículas dentro de

um material exercem grandes feitos em suas características de desempenho.

Estas propriedades são especialmente encontradas em um tipo especial, na HA

(NAGEM,2006).

O uso da HA tem sido muito pesquisado desde seu surgimento como

biomaterial, em 1970. A HA é um fosfato de cálcio hidratado, principal

componente (cerca de 95%) da fase mineral dos ossos e dentes humanos. O

19

substantivo hidroxiapatita é formado pela junção das palavras “hidroxi” e “apatita”.

“Hidroxi” refere-se ao grupo hidroxila (OH) e “apatita” é uma nômina mineral. A

palavra “apatita” vem do grego e significa “decepciono”, por ser confundida com

turmalina, berilo e outras pedras. A HA é o material presente nos vertebrados,

compondo o esqueleto ósseo e atuando como reserva de cálcio e fósforo

(SANTOS, 2002).

Desde que surgiram no mercado, no início dos anos 80, as cerâmicas de

fosfato de cálcio foram consideradas os materiais por excelência para a

remodelação e reconstrução de defeitos ósseos em decorrência de certas

vantagens por elas apresentadas. Essa preferência deve-se principalmente às

suas inigualáveis propriedades de biocompatibilidade, bioatividade e

osteocondutividade, o que significa que, ao serem implantadas no sítio ósseo, não

induzem resposta imunológica; são capazes de ligar-se diretamente ao tecido

ósseo e permitem o crescimento do osso ao longo de sua superfície (LIU et al.,

1997; CARRODEGUAS et al., 1999).

A HA policristalina tem um alto módulo de elasticidade (40-117 GPa). A razão

Ca/P ideal da HA (estequiométrica) é 1,67. A densidade calculada para a HA é

3,219 g/cm3. A HA do osso pode se apresentar em forma de camadas, com um

tamanho muito pequeno, aproximadamente (1,5-3,5 nm) X (5,0-10,0 nm) X (40,0-

50,0 nm) (ZHANG, 1997; FULMER et al, 1992).

Existem várias formas de HA disponíveis, incluindo absorvíveis ou não,

particuladas ou em blocos, densas ou porosas. As vantagens do uso da HA são:

não haver a necessidade de abrir um segundo sítio cirúrgico, ser biocompatível e

formar uma ligação direta com o tecido ósseo. As desvantagens são: não ser

osteoindutora e não conter células osteoprogenitoras (Tong et al., 1998).

Entre as suas indicações de uso está o reparo de defeitos ósseos em

aplicações odontológicas e ortopédicas, aumento do rebordo alveolar,

regeneração guiada de tecidos ósseos, reconstrução bucomaxilofacial, reparo e

substituição de paredes orbitais e substituição do globo ocular (PARIS, 2002). A

HA pode ser classificada como um biomaterial aloplástico, isto é, de origem

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sintética utilizada para implantação no tecido vivo, ou xenógena (enxertos

heterógenos), a qual provém de doadores de outra espécie (estrutura óssea

bovina) (CARIA et al., 2007).

Apesar da HA não induzir neoformação óssea a reação de células

osteogênicas com hidroxiapatita in vivo e in vitro mostrou que a sua superfície é

osteocondutiva. O resultado dessa atividade foi a deposição de tecido ósseo

diretamente sobre a superfície da HA implantada, sem nenhuma evidencia de

encapsulação ou tecido de granulação (SEPULVEDA, 2002).

Os pós de HA sintéticos podem ser amorfos ou policristalinos com vários

graus de cristalinidade de acordo com o seu preparo. Durante a sinterização, a

pressão e/ou a temperatura tende a dar um produto acabado de HA policristalina,

que varia em porosidade. Métodos de obtenção de pós de HA e de produtos

acabados de HA são descritos na literatura.

A HA porosa tem sido amplamente utilizada como substituinte ósseo. Ela

apresenta forte ligação ao osso. Além disso, os poros fornecem um encaixe

mecânico levando a uma fixação mais firme do material (Suchanek e

Yoshimura,1998).

A porosidade surge como a propriedade mais importante deste material.

Apesar do aumento da porosidade diminuir a resistência mecânica do material

isoladamente, a existência de poros com dimensões adequadas podem favorecer

o crescimento do tecido através do material o que aumenta a resistência in vivo

(Hench 1998). Entretanto, mesmo não sendo osteoindutora, a HA estimula a

síntese de colágeno, mostrando uma neoformação óssea na interface osso-HA

que morfologicamente pode ser comparável aos locais normais de remodelação

óssea (NAGEM,2006).

O diâmetro mínimo dos poros exigidos para o crescimento interior do osso e

angiogenese em um arcabouço é aproximadamente de 100μm (NAGEM,2006).

Um tamanho ótimo do poro para melhor aderência, diferenciação e crescimento

dos osteoblastos e para maior vascularização é quando o diâmetro ideal dos

poros estejam entre 300μm a 400μm (TSURUGA et al.,1997).

21

A hidroxiapatita é produzida por uma série de reações, complexas e

demoradas, de sinterização do carbonato de cálcio com o ácido fosfórico. Ao final

dessas reações de síntese, se obtêm as apatitas na forma de um pó, isto é,

constituídas por um aglomerado de partículas em simples justaposição, mantidas

juntas por ligações muito fracas (NAGEM,2006).

Para que uma cerâmica em forma de pó tenha propriedades adequadas para

que essa possa ser utilizada como cerâmica biocompatível ela deve apresentar:

partículas com composição homogÊnea, muito fina, e com distribuição

granulométrica estreita. Isso só pode ser almejado através de controles rigorosos

de síntese. A partir de diferentes pós é possível a obtenção de diferentes

morfologias e formas (de denso até extremamente poroso) os quais incluem

técnicas de processamentos cerâmicos tradicionais e avançados

(VOLKMER,2006).

Dois tipos de hidroxiapatitas podem ser produzidos: as sintetizadas em altas

temperaturas e que apresentam boa cristalinidade e cristais grandes, e as HAs

sintetizadas em baixas temperaturas, precipitada por via úmida, que apresentam

baixa cristalinidade e cristais pequenos e possuem características similares às do

tecido ósseo e dentário, diferente da HA sintetizada a altas temperaturas. A

temperatura de sinterização apresenta um efeito bastante evidente sobre a

porosidade, sendo que, ao aumento da temperatura corresponde a uma redução

na porosidade da HA e que as temperaturas menores apresentam maior

porcentagem de porosidade (NAGEM,2006).

4.3. SÍNTESE DA HIDROXIAPATITA

Existem muitas estratégias de síntese para produzir hidroxiapatita

biomimética. Para simular a morfologia do osso esponjoso, a hidroxiapatita porosa

pode ser preparada utilizando várias tecnologias para controlar a dimensão de

poro, a forma, a distribuição e as interconexões. A HA com diferentes morfologia

nanocristaistalinas são preparadas introduzindo diferentes subtâncias durante a

22

síntese ou mudando a temperatura de reação,com a finalidade de otimizar suas

especificidades com aplicações biomédicas, especialmente referindo-se a

formação de um novo osso ou a função de entregar drogas (ROVERI, N. et al.,

2010).

Tentativas de reproduzir a estrutura porosa do tecido ósseo natural levaram

ao desenvolvimento das cerâmicas porosas. A razão para a utilização de

cerâmicas porosas é fornecer local para o tecido ósseo crescer e fixar o implante

biologicamente. Para o crescimento ocorrer, o tamanho do poro deve ser grande

o bastante para acomodar as células, juntamente com o sistema de irrigação

sanguínea, ficando por volta de 100-200 µm de diâmetro (HULBERT µm, 1971;

KARAGEORGIU, 2005).

As técnicas para a síntese de hidroxiapatitas são, geralmente, divididas em

altas e baixas temperaturas. As sínteses a altas temperaturas envolvem,

normalmente, reações no estado sólido e conduzem a HA com alto grau de

pureza e cristalinidade, porém com áreas específicas baixas. As sínteses a

temperaturas inferiores usam técnicas tradicionais de co-precipitação, em solução

aquosa e hidrólise e envelhecimento de precursores. Essa metodologia,

geralmente, produz materiais não estequiométricos, também conhecidos como

HA deficiente em cálcio. Essas HA apresentam cristalinidade baixa e áreas

específicas mais elevadas (SILVA, G. O.).

Muitas diferentes metodologias têm sido propostas para preparar estruturas

nanométricas e / ou nanocristalinas. Estas podem ser, precipitação química

úmida,síntese de sol-gel, síntese hidrotérmica, reação de estado sólido e vários

outros métodos pelos quais nanocristais de várias formas e tamanhos podem ser

obtidos.

23

4.3.1. TIPOS DE SÍNTESE DA NANOHIDROXIAPATITA

4.3.1.1. REAÇÃO DE PRECIPITAÇÃO (COPRECIPITAÇÃO)

A coprecipitação química é um dos métodos mais populares, ao qual é

sintetizado a partir de soluções aquosas contendo os íons de Ca2 +, PO43 - e OH-,

que em condições de pH> 7 formam cristalitos primários insolúveis de

hidroxiapatita (Safronova T. V et al., 2007).

No método de precipitação úmida, as reacções químicas ocorrem entre

íons de cálcio e íons de fósforo sob um temperatura e pH da solução controladas.

O pó precipitado é tipicamente calcinado a uma temperatura elevada, a fim de se

obter uma estrutura estequiométrica da HA. Titulação lenta e soluções diluídas

devem ser utilizadas para melhorar a homogeneidade química e a estequiometria

dentro do sistema. O controle cuidadoso das condições da solução também se

fazem necessários neste método. Em trabalhos anteriores, a diminuição do pH da

solução abaixo de cerca de 9 poderia levar à formação de estrutura de apatite

deficiente em cálcio.

A partir do processo de coprecipitação, que é simples e de baixo

custo,pode-se sintetizar nanocristais com formatos tipo agulhas/esféricas ou

nanobastões. Porém, o controle do processo de preparação é difícil e as

partículas sintetizadas facilmente se agregão, porém a agregação pode ser

superada pela adição de dispersantes orgânicos, tais como polímeros ou

tensoactivos. Apesar das nanopartículas terem uma baixa cristalinidade e

coexistirem com os dispersantes, estes defeitos podem ser corrigidos durante o

processamento da nanocerâmica, em que uma alta temperatura de sinterização

pode efetivamente remover os componentes orgânicos(HONG, Y. et al,2010).

A partir da análise dos gráficos do DRX é possível verificar que a amostra

tratada termicamente a 200 ° C,pela reação de precipitação, o padrão de DRX

revela a presença de uma importante fase amorfa. Porém a proporção da fase

amorfa diminuiu com o aumento da temperatura no tratamento térmico, tal como

são apresentados na figura 1b e 1c. Também é possível afirmar que com o

24

aumento da temperatura os sinais de hidroxiapatita tornaram-se mais acentuados,

pois ocorre um cresciment dos cristais (Bose S., 2003).

No processo de precipitação o surgimento de fases secundárias, de óxido

de cálcio se tornam vísiveis apenas para amostras tratadas termicamentes 1200 °

C , identificados em 37,37 e 53,86 (2θ), como motra o padrão de difração de

raios X da figura 1c (Bose S., 2003).

Figura 1. Padrões de difracção de raio-X da hidroxiapatita tratada a diferentes

temperaturas: (a) 200 ° C, (b) 600 ° C, (c) 1200 ° C (Bose S., 2003).

Para HA sintetizada por precipitação sintetizadas a 75°C e tratadas

térmicamente a 200°C e 1200°C, pode-e afirmar que ocorre a formação de HA

etequiométrica, ou seja, não há moléculas de água presentes na rede cristalina.

Isto pode ser confirmado pela análise dos espectros de FTIR (Figura 2), que

25

revela a ausência do sinal grande que deveria estar localizado a 3,550

centímetros-1, que é atribuída ao sinais da água de cristalização, isto é,

moléculas de água retidas na célula unitária da apatita (Bose S., 2003).

Figura 2. Espectro de FTIR da hidroxiapatita sintetizada a 75 ° C e tratada

termicamente a 200 ° C e 1200 ° C (Bose S., 2003).

4.3.1.2. REAÇÃO HIDROTÉRMICA

O método hidrotermal como o próprio nome diz, usa soluções aquosas em

altas temperaturas para facilitar a precipitação dos cristais de dimensões maiores

do que aquelas obtidas pelos método úmidos. A síntese hidrotérmica tem sido

usada para transformar suspensões, soluções, ou géis para a fase cristalina

desejada em condições reacionais leves, tipicamente inferiores a 350°C

(DOURADO, E.R., 2006).

Esse método gera HA com alto grau de cristalinidade e razão Ca/p =1.67

estequiométrica,Pós tipicamentes sintetizados por este método têm demonstrado

formato em agulha com partículas entre 20 e 40 nm de diâmetro e 100-160 nm de

comprimento (EARL J. S. et al, 2006).

26

Apenas hidroxiapatita é sintetizada a 200°C durante 24hs, pela reação

hidrotérmica. Porém em tempos de 48h e 72h, além da hidroxiapatita, há também

a formação de monetite (CaHPO4), como pode ser observado na Figura 3 (EARL

J. S. et al, 2006).

Figura 3. DRX dos pós preparados pelo método hidrotérmico a 200°C por (a)

24hs, (b)48h e (c)72hs. Os quadrados indicam o sinais de CaHPO4 e os que não

estão marcados são os sinais da HÁ (EARL J. S. et al, 2006).

.

A morfologia predominante da hidroxiapatita sintetizada pelo método

hidrotérmico é o de pós em forma de haste, mesmo em diferentes tempos de

exposição a temperatura de 200°C, como mostra a figura 4 (EARL J. S. et al,

2006).

27

Figura 4. Micrografias de MEV de pós sintetizados tratados por diferentes

períodos de tempo, tratados a 200 oC: (a) 24 hs,(b) 48 hs e (c) 72 hs (EARL J. S.

et al, 2006).

4.3.1.3. REAÇÃO SOL-GEL

No processo sol-gel, embora os nanocristais com pureza elevada e de

componentes homogéneos possam ser facilmente adquirido, a síntese de

nanocristais necessita de alta temperatura de sinterização para melhorar a sua

estrutura cristalina, e este procedimento também consome muito tempo. Além

disso, é adquirido produtos nanocristalinos agregados (HONG, Y. et al, 2010).

O método de processo sol-gel exige um estrito controle do pH e de

agitação vigorosa, e também leva muito tempo para sofrer hidrólise (RAJKUMAR

M,2011).

A variação da concentração molar dos reagentes na síntese da

hidroxiapatita, pelo método sol-gel, afeta a relação Ca/P. Tal variação pode ser

confirmada pelos valores de EDS (figura 5) das hidroxiapatitas sintetizadas com

diferentes concentrações de seus precursores (1,72; 1,67; 1,53). A partir do

padrão de EDS, pode-se verificar que a relação Ca / P, que oscila entre 1,26 e

1,56, indica que a HA formada é uma HA cálcio deficiente. Também pode-se

obervar que com o aumento dos valores de pH (pH=10 para pH=11) há um

aumento na relação Ca/P das amostras preparadas pelo método sol-gel.

(RAJKUMAR M, 2011).

28

Figura 5. Padrão de EDS da HA sintetizada (a)Concentração Molar (CM)= 1,72 e

pH=10, (b) CM = 1,72 e pH= 11. (c) CM =1,67 e pH=10 , (d) CM = 1,67 e pH=11,

(e) Concentração Molar = 1,53 e pH=10, (f) CM = 1,53 e pH=11.

4.3.1.4. REAÇÃO DE ESTADO SÓLIDO

As grandes vantagens da reação de estado sólido são a alta velocidade do

processo de formação e a cristalinidade do fosfato final. Entretanto, o custo

elevado de energia, devido à utilização de altas temperaturas, normalmente é um

parâmetro a ser considerado (SILVA, G. O.).

Este método preparativo utiliza-se um ortofosfato de cálcio como fonte de

material de partida, que é misturado com carbonato de cálcio e aquecido a altas

temperaturas (>900°C).

A Figura 5 apresenta a micrografia da hidroxiapatita sintetizada pela reação

de estado sólido, ao qual sofreu sinterização a 1200°C e compressão de 135 MPa

(PRAMANIK S, 2005).

.

29

Figura 6. MEV da hidroxiapatita (PRAMANIK S, 2005).

A hidroxiapatita produzida a partir do método de reação do estado sólido,

submetida a sinterização ou não possui valores próximos ao padrões (JCPDS),

como pode ser observado no EDS (figura 7) (PRAMANIK S, 2005).

.

Figura 7. Padrão de Difração das amostras de HA: (a) Pós de apatita antes da

sinterização; (b)Pós de hidroxiapatita depois da sinterização

30

5. CONCLUSÃO

As diferentes metodologias de síntese dos pós de hidroxiapatita produzem

biocerâmicas com características diferenciadas, que devem ser levadas em

consideração quando estas forem utilizadas para mimetizar as apatitas presentes

no tecido ósseo.

As técnicas aqui apresentadas são viáveis para a síntese da hidroxiapatita,

porém as condições em que a reação ocorre podem influenciar nas

características e pureza do pó. Os diferentes tipos de reações são escolhidos

dependendo de qual será sua utilização final, o custo da produção, os

subprodutos da reação, entre outros fatores essenciais para um bom rendimento.

31

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