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AS MULHERES SEMPRE TRABALHARAM 1. O TRABALHO DAS MUUIERES COMO UM PROCESSO DE LONGA DURAÇÃO Contrariamente ao que hoje em dia se possa pensar, as mulheres desde semprJ trabalharam: "[...] Nas sociedades modernas tecnologicamente avançadas, o trabalho das mulheres em grande escala na sua especialização individual é considerado como algo surpreendentemente novo. E, no entanto, o trabalho e as aptidões das mulheres são tão velhos como a humanidade. A importância do trabalho feminino na Idade da Pedra foi geralmente reconhecida por muitos dos que estudaram o assunto. Nas suas obras, foi feita alguma justiça às contribuições femininas para o desenvolvimento técnico primitivo. Todavia, a maior parte da história que lemos foi escrita apenas nos últimos 6 mil anos, quando se desenvol- viam outras tecnologias e formas sociais. Ele reflecte, pois, o papel das mulheres nestas civilizações. É difícil compreender que este testemunho de uma parte tão breve dos cerca de meio milhão de anos de evolução humana inverta totalmente a história do trabalho feminino. Outros tipos de indícios parecem indicar que, durante a maior parte da existência humana, a responsabilidade principal do sustento das famílias cabia às mulheres." (LEWENHAK, 1980, pp. 9-13.)

Cidadania - As Mulheres Sempre Trabalharam

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Mulheres. Cidadania. Feminismo. Gênero. Trabalho.

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  • AS MULHERES SEMPRE TRABALHARAM

    1. O TRABALHO DAS MUUIERES COMO UM PROCESSO DE LONGA DURAO

    Contrariamente ao que hoje em dia se possa pensar, as mulheres desdesemprJ trabalharam:

    "[...] Nas sociedades modernas tecnologicamente avanadas, o trabalho dasmulheres em grande escala na sua especializao individual consideradocomo algo surpreendentemente novo. E, no entanto, o trabalho e as aptidesdas mulheres so to velhos como a humanidade. A importncia do trabalhofeminino na Idade da Pedra foi geralmente reconhecida por muitos dos queestudaram o assunto. Nas suas obras, foi feita alguma justia s contribuiesfemininas para o desenvolvimento tcnico primitivo. Todavia, a maior parte dahistria que lemos foi escrita apenas nos ltimos 6 mil anos, quando se desenvol-viam outras tecnologias e formas sociais. Ele reflecte, pois, o papel das mulheresnestas civilizaes. difcil compreender que este testemunho de uma parte tobreve dos cerca de meio milho de anos de evoluo humana inverta totalmentea histria do trabalho feminino. Outros tipos de indcios parecem indicar que,durante a maior parte da existncia humana, a responsabilidade principal dosustento das famlias cabia s mulheres." (LEWENHAK, 1980, pp. 9-13.)

  • Quando se considera o trabalho socialmente necessano despendido,desde sempre, na reproduo quotidiana da espcie humana, tal como oque envolve a recolha, o cultivo e confeco de alimentos, bem como a pre-parao de matrias-primas e manufactura do vesturio, h que, inevitavel-mente, o associar contribuio das mulheres.

    alimentao e proteco do corpo, duas condies fundamentaisrequeridas para a sobrevivncia humana, associa-se ainda todo o trabalhoquotidiano do cuidar dos corpos - os que nascem, vivem, adoecem e mor-rem -, cuidados estes que, sendo contemporneos do gnero humano, tam-bm no podem deixar de ser considerados tendo em conta a contribuioe o saber femininos.

    Edgar MORlN, na sua obra O Paradigma Perdido (1973), quando abordao processo de hominizao (antropossociognese), evidencia as transfor-maes na organizao social decorrente do recurso caa na savana eo seu papel na produo diferenciada das figuras masculina e feminina.Esta "aventura cinegtica" considerada pelo autor como um fenmenohumano total, na medida em que transforma a relao dos seres huma-nos com o meio ambiente, a relao entre as geraes e a relao entre oshomens e entre os homens e as mulheres:

    "Estabelece-se assim uma extraordinria diferenciao sociolgica, que passa aser diferenciao cultural, entre a classe dos homens e o grupo das mulheres.O masculino e o feminino vo, cada um deles, desenvolver a sua prpria cul-tura, a sua prpria psicologia, e a diferena psicocultural vai agravar e cornple-xificar a diferena fisioendrcrina. Ao homem caador, nmada, explorador, vaiopor-se a mulher terna, sedentria, rotineira, pacfica. Surgem duas silhuetas napaisagem homindia: a do homem erecto, com a arma erguida, afrontando oanimal, e a da mulher curvada sobre a criana ou apanhando vegetais." (MORIN,1973, pp. 64-65.)

    o autor citado contribui para responder questo por ns colocada,enfatizando um complexo de factores de ordem gentica, ecolgica, bio-lgica e sociocultural que, articulados entre si, conduziram produo deuma diviso sexual do trabalho na sociedade humana.

    Na esteira deste autor, segundo a antroploga Franoise HRITIER (1997;p. 24), observa-se no interior das sociedades pr-histricas de caadores--recolectores um padro de organizao social baseado na repartio dis-tinta de tarefas entre homens e mulheres; repartio essa que "nasce delimitaes objectivas, e no de predisposies psicolgicas de um ou outrosexo para tarefas que desse modo lhes so distribudas [... ]". A mobilidadee a disponibilidade fsica requeridas pela caa sero doravante atributosreconhecidos dos homens por oposio s mulheres, limitadas fisicamente

  • pela gestao e pelo parto e imobilizadas pela amamentao, a vigilnciae o cuidado das crianas pequenas. este maior confinamento espacialdas mulheres que as conduz recolha de alimentos, desenhando-se social-mente duas esferas de trabalho distintas: uma esfera de trabalho masculinae uma esfera de trabalho feminina.

    "Entre os Peules, que so nmadas puros, as esposas tratam do gado ao mesmotempo que preparam a comida, ao passo que os homens guardam os rebanhos eentrelaam as cordas. Para os Tu aregues, seminmadas, seria 'desonroso' parao homem tocar no cabo de uma enxada, ao passo que cabe perfeitamente nassuas atribuies tratar do gado grosso. [oo.] Ocupada em cuidar das crianas ena manuteno do fogo, enquanto o homem caava longe, a mulher foi levadaa fazer as primeiras sementeiras ou plantaes ao p do refgio que habitavam.Ainda hoje, nos povos latinos, a camponesa no s se ocupa do lume e da casa,como tambm do ptio de galinhas e da horta. No h muito ainda, era tam-bm responsvel pelo linhal r: .. ]. Trabalhando a terra, a mulher daria ao solo avirtude de fecundidade que lhe prpria, como que por uma espcie de parti-cipao. E, sem dvida, por essa razo, as divindades agrcolas na antiguidadeeram, muitas vezes, do sexo feminino. [oo.] Entre os Francos, em contrapartida,as terras arrendadas s eram transmissveis aos homens, no porque as mulhe-res estivessem privadas desse direito de herana, mas porque s eles eram con-siderados capazes de cultivar a terra." (JACCARD,1959, pp. 22-23.)

    A persistncia da afectao das mulheres quelas actividades temsido considerada como resultante da produo,' no interior da sociedadehumana, de duas culturas interdependentes: uma cultura masculina e umacultura feminina que se perpetuam e se transmitem separadamente atravsda socializao aos rapazes e s raparigas. segundo esta diviso sexualdo trabalho que as mulheres aparecem envolvidas no trabalho quotidianorequerido pela reproduo biolgica e social da sociedade humana, comoseja o que decorre do nascimento de novos seres humanos e da manuten-o de determinadas condies necessrias aos seres vivos.

    No entanto, se como ensina a Antropologia, a diviso sexual do traba-lho um facto universal, no deixam de ser variveis as funes sociaisdesempenhadas por homens e mulheres, segundo as diversas sociedadeshumanas conhecidas. A ttulo de exemplo, refira-se o estudo clssico deMargaret MEAD, intitulado Sexo e Temperamento em Trs Sociedades Primi-tivas (1935), onde a autora descreve comportamentos masculinos e femini-nos em trs povos que habitam a mesma regio, que no s se afastam dopadro que consideramos normal como se afastam entre si. Acerca de doispovos, pode ler-se: "Entre os Arapesh da Nova Guin o facto biolgico de asmulheres terem filhos socialmente minimizado, sendo o trabalho pesado

  • realizado por estas, dado que se supe serem naturalmente equipadas comtestas especialmente fortes para esse fim, ao passo que entre os Tchambuli,as mulheres realizavam todo o comrcio de que dependia a sociedade,embora os homens produzissem muitos dos objectos comerciados" (cit.COULSON e RIDELL, 1975, pp. 39-41).

    Outras perspectivas procuram salientar que a diviso sexual do trabalhono se converte s num facto de cultura, sendo-lhe tambm inerente umadesigualdade social de gnero, traduzida na ordem poltica e ideolgica,genericamente designada como patriarcal. As relaes patriarcais, tradu-zindo um sistema poltico-jurdico no qual a autoridade e os diversosdireitos sobre as pessoas os bens subentendem a dominncia masculina,condiizem a uma ordem social em que, nomeadamente, as ocupaesdesempenhadas pelas mulheres se deduzem negativamente das ocupaesmasculinas. Convertem-se assim em "actividades femininas", ou "trabalhosmenores", quer na esfera pblica quer na esfera domstica, sem que lhesesteja associado um valor de trabalho similar ao masculino, considerado o"trabalhador" por excelncia.

    Em suma, se se pode considerar que a diviso sexual do trabalho umaestrutura presente em todas as sociedades humanas conhecidas, ela apre-senta-se todavia varivel, quer nas formas que essa diviso assume entrediferentes sociedades, quer nas formas que assume no tempo para umamesma sociedade. a observncia dessa variabilidade que permite dizerque a diviso sexual do trabalho uma construo sacio-histrica.

    1.Homem a fazer meiana Idade Mdia.

    2.Traje de pastordas Landes(Frana), 1880.

  • 3. Irmos Lumire.

    Sugesto deativid~de:Retmar'o registodecorrente da activi-, . - .>:.-dade anterior. :0" R~fle~tir .;obJ'eo registo, luz doscontrbutos que foram fo~necidos .: Que actvidade, desempenham oshomens?

    ;!.'

    Pro~urar outrosexemplos que, nanossa ou 'noutrasculturas, conti-ariem....._.o mdeloda diviso sexual cio traba-lho que nos familiar.

  • AS MULHERES E A CIDADANIA: AS MULHERES E O TRABALHO NA ESFERA PBLICA E NA ESFERA DOMSTICA I CRISTINA ROCHA,MANUELA FERREIRA ; REV. SANDRA ELIAS

    AUTOR(ES):

    PUBLICAO:DESCR. FfSICA:

    COLECO:

    BIBLIOGRAFIA:

    ISBN:

    Rocha, Maria Cristina Tavares Teles da; Ferreira, Manuela, co-autor; Elias, Sandra, rev. de matriz

    Lisboa: Livros Horizante, copo 2006

    215 p. : il. ; 24 cm

    A mulher e a sociedade

    Bibliografia, p. 205-210

    972-24-1437-2