Upload
juliana-mulatinho
View
222
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
7/24/2019 Cidadania Ou Emancipacao Humana Ivo Tonet
1/10
CIDADANIA OULIBERD DE
Iv o
T O N E T
1
R E S U M O :
Este texto
pretende
mostrar que o mesmo ato que funda a
sociabilidade
capitalista o que d origem
cidadania.
E que, por ser fundada
na desigualdade s o c i a l ela, necessariamente, uma formaparcial,
limitada
e
formal
de liberdade. Homens efetivamente livres s podero existir se e
quando for superada a atual ordem
s o c i a l
por uma outra cujo ato fundante
seja o trabalho associado. Por mais difcil que seja encontrar as mediaes
necessrias,
horizonte de uma verdadeira esquerda tem de ser a emancipao
humana e no a cidadania.
P A L A V R A S - C H A V E :
Cidadania; emancipao humana.
1 De
como
se
confundeliberdade
formal
2
com
liberdade
real
A idia de cidadania sempre esteve, de algum modo, associada
idia de liberdade. Mas, hoje, cidadania se tornou, simplesmente, si
nnimo de liberdade. O raciocnio implcito , mais ou menos, o seguinte:
ser cidado ter direitos e o exerccio dos direitos supe uma comuni-
1 Departamento de
F i l o s o f i a
-
U F A L
- 48304-050 - Macei -
A L .
2
Como util izaremos com muita freqncia os termos liberdade formal e liberdade real, convm
que definamos, pelo menos preliminarmente, o seu significado. Por liberdade formal
entendemos
a
autodeterminao em seu nvel jurdico-poltico. Por liberdade real
entendemos
a auto
determinao que tem como ponto
de
partida e fundamento a organizao associada e no
mercantil dos homens na produo, o que lhes permite reger, conscientemente, o processo
s oc i a l .
7/24/2019 Cidadania Ou Emancipacao Humana Ivo Tonet
2/10
comunidade jurdico-poltica que garanta a sua vigncia, j que os indiv
duos so naturalmente egostas. Quanto mais aperfeioado o exerccio
dos direitos, tanto mais l i v r e ser o indivduo.
A f i n a l , no h liberdade sem lei e autoridade. Portanto, para que
todos os homens possam ser livres e no
apenas
os mais fortes, tornou-
se necessrio o contrato s o c i a l . O contrato
s o c i a l
instaura o campo no
interior do qual os indivduos, naturalmente egostas, podem mover-se
livremente
na busca da satisfao dos
seus
interesses. Da a importncia
dachamada l i v r e in i c ia t i v a e por que a negao da l i v r e i n i c i a t i v a
v i s t a como sinnimo de negao da liberdade.
N o
escravismo e no feudalismo, a desigualdade econmica, poltica
e jurdica restringia a liberdade aos senhores e aos nobres. No
c a p i
talismo, todos os homens so pressupostos como livres por natureza e
esta afirmao ser vista como a
base
para sempre novas conquistas.
claroque se reconhece tratar-sede um processo; que existem limitaes;
que jamais ser perfeito. Mas pensar assim simplesmente ser realista
e, portanto, melhor do que fantasiar o reino da liberdade perfeita. A
grande novidade desta nova forma de sociabilidade, e o que faria dela
uma possibi lidade sempre aberta ao aperfeioamento, que ela no
est baseada - como a escravista e a feudal - na vontade pessoal, a r b i
trria, de um, de poucos ou mesmo de muitos, mas na lei , que a ex
presso impessoal da comunidade. Quando, na modernidade, no interior
do campo da
le i ,
instaura-se a possib il idade de criar novos direitos e de
trabalhar os conflitos sociais de modo democrtico, ento se teria
atingido
a forma superior da sociabi lidade, exatamente porque, da para
diante, s poderia haver aperfeioamento, mas no mudana r a d i c a l .
A frmula kantianasapere
aude
resume apropriadamente a proposta
i l u m i m s t a : o l i v r e exerccio da razo, parametrado
apenas
pelas regras
estabelecidas por ela prpria, permitir aos homens efetivarem aquela
disposio natural para a liberdade. No Deus, nem a natureza, nem o
poder arbitrrio quem estabelece os l i m i t e s , as regras do jogo , mas os
prprios homens, fazendo uso de uma faculdade que comum a todos:
a razo. Obviamente, quem se autodetermma
l i v r e ,
ou, pelo menos,
est no caminho
i n f i n i t o
da autoconstiuo como ser l iv re .
Conquistar, ampliar, c o r r i g i r , criar novos direitos: eis o processo
i n f i n i t o
de construo da liberdade. Por isso, a construo da cidadania
inseparvel do jogo democrtico, pois a luta pela cidadania deve ser
feita
respeitando determinadas regras, estabelecidas com a participao
de todos e por todos aceitas. Essa nfase no respeito s regras do jogo
particularmente endereada ao velho
i l u m i n i s m o
e ao
s o c i a l i s m o ,
que
7/24/2019 Cidadania Ou Emancipacao Humana Ivo Tonet
3/10
tinham
um forte acento voluntarista, que se expressava na prtica sob a
forma
de querer tornar os homens livres fora. Admite-se a progresso
i n f i n i t a ,
mas por um caminho considerado mais realista: a democracia. E
democracia, afirma-se, i m p l i c a admitir o outro como um adversrio que
deve ser respeitado e no como um i n i m i g oa ser
destrudo.
Infelizmente, constatam os neo-iluministas atuais, a razo instru
mental subsumiu a razo emancipatria, ambas vi rtual idades do projeto
i l u m i m s t a ,
de modo que o processo de libertao do homem no teve a
trajetria linear pensada pelos iluministas, mas sofreu enormes percalos
e deformaes. A aliana e/ou a submisso da razo ao poder bloqueou
as virtualidades emancipatrias da razo. Diga-se, de passagem, que
esse
atrelamento da razo ao poder ter-se-ia dado por uma espcie de
descuido da
prpria
razo. Descuido que se deveria ignorncia. A
descoberta do seu poder teria tornado a razo de tal modo arrogante
que ela no teria percebido as armadilhas
postas
no seu caminho. As
armadilhas seriam constitudas pelo carter ideolgico, pelos interesses
que se ocultavam atrs do conhecimento e pelas motivaes mais
profundas do inconsciente. Nem a problemtica da ideologia, cujos
elementos decisivos teriam sido apontados por
M a r x ,
nem a do
insconsciente, descoberto por Freud, tinham sido ainda
tratadas. A s s i m ,
a razo julgava-se um poder puramente lgico e objetivo, um facho de
luz
- aufklrung - que ia dissipando as trevas da ignorncia.
R e c o
nhecida essa situao, impor-se-ia
resgatar
os aspectos emancipatrios
do projeto ilumimsta. Mas
esse
resgate,
agora, no poderia
s i g n i f i c a r ,
simplesmente, a
v o l t a
ao velho ilummi smo, ingnuo. Tornada mais
modesta e mais prudente pela experincia e armada com os novos
conhecimentos acerca da ideologia e do inconsciente, a razo seria
mais crtica. E j que ningum mais inocente - neutro e objetivo -, a
melhor maneira seria aceitar entrar num dilogo que
pressupe
a boa
vontade de
todas
as
partes.
Eis a a razo comunicativa resgatando
criticamente o projeto
i l u m i n i s t a .
Ora, a democracia justamente
esse
jogo do respeito e no da inteno de destruio do outro.
2 De
como
se distingueme se
articulamliberdade
formal
e liberdade
real
C o m o vimos, o i l u m i n i s m o :
funda a liberdade numa pretensa natureza humana A-HISTRICA
pensa a liberdade como um atributo do indivduo, no como um pro
cesso implicandoindivduo e gnero, subjetividade e objetividade;
7/24/2019 Cidadania Ou Emancipacao Humana Ivo Tonet
4/10
pensa o homem como um ser que age,
no como um
ser
que
atividade.
Nossos pressupostos so outros.
E m
primeiro lugar, o carter integralmente histrico-social do ser
socral.
Isto
quer dizer que no se admite uma natureza humana a-histrica.
A natureza humana, muito mais do que um ponto de partida, sempre
umponto (relativo) de chegada, resultado da atividade
s o c i a l
dos homens
em intercmbio com a natureza.
E m segundo lugar, o carter brpolar do ser s o c i a l . O ser s o c i a l
uma processualidade composta de dois plos: o plo da singularidade
e o da
universalidade.Indivduo
e gnero se determinam reciprocamente.
Para exemplificar: a sociedade das abelhas resultado da interao
das abelhas, mas o ser essencial de cada abelha no resulta das
ativida
des das abelhas, ele precede a sua vivncia socral. Ao contrrio, no ser
s o c i a l , ambos - i n d i v i d u o e sociedade - so resultado de mtua
deter
minao. O fato de a soc iabi lidade ter como eixo a comunidade - a t a
Idade Mdia - ou o indivduo - na poca moderno-atual - no uma
determinao natural, mas um fato s o c i a l , ou seja, o resultado dos pr
priosatos humanos.
E m
terceiro lugar, o carter de
atividade
do ir-sendo s o c i a l : entre
homem e mundo no h uma relao de extenoridade. Subjetividade e
objetividade
so resultado de um movimento de
mtua
determinao.
E x e m p l o :
no mundo capitalista, o homem c r i aum mundo competitivo e
o mundo competitivo
c r i a
um homem egosta. Pensar o homem como
ser que age diferente de apreend-lo como sendo atividade. No
primeiro
caso, sua natureza essencial precede a sua existncia; no se
gundo caso, todo o seu ser resultado da sua atividade s o c i a l . Desse
modo, objetivar-se, criar objetos, pr-se exteriormente, faz parte da
essnciado homem. Podemos, ento, dizer que o homem o que faz e
que, portanto, o homem no pode ser
realmente
l i v r e se o mundo que
ele produz no um mundo realmente l i v r e . Para provocar: enquanto
esta
mesa no for l i v r e , o homem no ser efetivamente l i v re .
D e
fato, havia no escravismo e no feudalismo uma desigualdade
reconhecida
como de origem ou natural oudivino-natural.Desse modo,
s
os senhorese nobres seriam l i v r e s , ainda que precariamente, dado o
estgio de desenvolvimento s o c i a l .
Partindo
dos pressupostos acima, vejamos o que acontece na so
ciedade moderna:
7/24/2019 Cidadania Ou Emancipacao Humana Ivo Tonet
5/10
. Partimos do pressuposto de que o ato ontolgico-primrio da
sociabilidade moderna a compra e venda de fora de trabalho. Da
nascem a propriedade privada, o capital, o trabalho assalariado, o
v a l o r
de troca, o produto como mercadoria, a m a i s - v a l i a , a c o n
corrncia, a explorao, a dominao, o estranhamento. C o m o de
corrncia, o interesse privado o
p r i n c i p i o
regente
desta forma de
sociabilidade. C o m o conseqncia, o homem que da resulta
necessariamente um ser egosta, competitivo, oposto aos outros,
autocentrado. A liberdade, para ele, consistir em fazer tudo o que
desejar para satisfazer os
seus
interesses desde que no prejudique
os outros, ou seja, dentro de determinadas regras. Acontece que a
definio do que seja prejudicar os outros uma definio jurdica e
no s o c i a l . (Ex: compra e venda de fora de trabalho, propriedade
privada etc).
Mas, para que o capital possa reproduzir-se, ele preci sa de homens
l i v r es ,
iguais e proprietrios. E por isso exige a extino da servido.
A cidadania moderna concebida (de
concipere),
pois, quando a
reproduo do capital exige homens
livres, iguais e
proprietrios.
O paradoxo que se exigem homens l i v r e se iguais para realizar um
ato que, na essncia, no nem l i v r e nem entre iguais. O ato de
libertao da servido no torna os servos efetivamente l i v r es ,
apenas
altera os obstculos liberdade que se opem reproduo do capital,
criando
nova forma de escravido que tem um carter inteiramente
s o c i a l , ou seja, que resulta exclusivamente de
atos
humanos (no de
determinaes biolgicas, como na servido), consciente e livremente
praticados.
Para que o capital possa reproduzir-se, preciso que os homens
sejam formalmente, mas norealmente l i v r e s , iguais e proprietrios.
Isso s i g n i f ic aque se comprador e vendedor de fora de trabalho fossem
realmente l i v r e s , isto , se autodeterminassem efetivamente, a
existncia
do capitalismo seria impossvel.
Esse patamar de liberdade e igualdade e outros direitos e instituies
da esfera jurdico-poltica se chama Emancipao Poltica. a esse
espao jurdico-poltico que pertence a cidadania.
A emancipao poltica , ao mesmo tempo, expresso (invertida)
e condio de reproduo da escravido e da desigualdade reais. Ela
apenas
supera a desigualdade e a falta de liberdade do mundo feudal
sob o aspecto jurdico-politico, mas no sob o aspecto s o c i a l .
7/24/2019 Cidadania Ou Emancipacao Humana Ivo Tonet
6/10
A emancipao poltica expressa e reproduz uma forma de socia-
bilidade d i v i d i d a em privado e pblico (sendo o primei ro o fundamento
do segundo), egosta, competitiva, exploradora.
A emancipao poltica expressa uma forma de sociabilidade em
que os homens s podem ser formalmente livres porque quem
realmente l i v r e o capital. Como diz
M a r x ,
a l i v r e i n i c i a t i v a no a efe
t i v a
liberdade humana, mas
antes
a forma mais plena de negao da
liberdade humana. Pensa-se, muitas vezes, que a nica alternativa
l i v r ei n i c ia t i v a o planejamento estatal centralizado e total. A primeira
p o s s i b i l i t a r i a e o segundo anularia a liberdade do indivduo. Nada mais
f a l s o . Ambos so negao da liberdade real. Falaremos adiante do que
se ope l i v r e i n i c i a t i v a em direo liberdade efetiva.
A
liberdade formal nos ilude, fazendo-nos crer que somos livres e
que esta a ltima e superior forma da liberdade humana, i n d e f i n i
damente
aperfeiovel e que, i n c l u s i v e ,por meio dela, poderemos chegar
acontrolar o capital. isto que se expressa quando se diz que a socie
dade c i v i l consciente e organizada poder controlar o Estado que, por
sua vez, controlaria o capital. Ora, o inverso que verdadeiro. Quem
controla o Estado o capital. Em vrios de
seus
textos, como A
necessidade do controle social (1987) e especialmente emBeyond Capital
(1995), Mszros j deixou claro que o capital incontrolvel. Pode ser
suprimido, mas no controlado. Da aquela idia genial de
M a r x ,
j de
1844,
nas
Glosas
crticas de que a revoluo do trabalho tem de ser
uma
revoluo poltica comalma social.
O
equvoco dos lummistas, de ontem e de hoje, est em que no
perceberam (nem percebem), que as virtualidades emancipatrias, assim
como as virtual idades manipulatrias da razo moderna, em seu vetor
predominante, so expresso do movimento de reproduo do capital
e, portanto, ambasnecessariamente limitadas. E l a sno constituem um
campo indefinidamente aberto, mas o campo elstico da emancipao
poltica. E l a ss podem levar at a liberdade f o r m a l , no mais, porque,
para alm disso, s com a supresso do capital .
Da
que iluso querer, hoje,
resgatar
as virtualidades emanci
patrias do uminismo, pois ele a expresso ideal do momento ascen-
s i o n a l da burguesia, cujo horizonte essencialmente limitado.
A
cidadania, momento essencial do projeto
i l u m i n i s t a ,
o espao
da
conquista da liberdade f o r m a l ,no da liberdade real. Oprprio acento
que hoje adquire a luta pelos direitos de toda ordem, ao mesmo tempo
em
que aumentam a desigualdade e o cerceamento da liberdade real,
umaprova do queestamosdizendo. Exatamente porque o nico aspec-
7/24/2019 Cidadania Ou Emancipacao Humana Ivo Tonet
7/10
to em que pode haver um efetivo avano, ainda que f o r m a l ,na melhoria
da
sociabilidade.
O acento no aspecto jurdico-poltico a contrapartida
da
impotncia no aspecto econmico. Liberdade efetiva, real, supe a
superao da cidadania. Seno vejamos:
Liberdade s i g n i f i c a , essencralmente, autodeterminao. Quanto
maior a autodeterminao, maior a liberdade. C o m oo homem um ser
f imto
e contingente, evidente que a autodeterminao nunca poder
ser absoluta. A questo, ento, : qual o mximo patamar de autodeter
minao (relativa) que o homem pode atingir?
Se olharmos a histria da humanidade, veremos que um prrmerro
momento na luta pela autodeterminao foi a conqui sta do domnio
sobre a natureza. A i n d a em processo, sob forma estranhada, mas funda
mentalmente real izado. Um segundo momento foi e ser a conquista
do domnio sobre o processo s o c i a l .
N o
interior
deste
segundo momento, temos dois passos
3
decisivos:
a conquista da emancipao poltica: a libertao da submisso a
uma autoridade arbitrria (poltica e/ou religiosa) e a submisso a
uma autoridade impessoal, consentida e racionalmente fundada: lei
e Estado;
a conquista da emancipao humana, o mximo e ltimo patamar
de liberdade que o homem pode atingir. ltimo porque i n f i n i t o .
Entre
esses
dois passos no h uma
l i n h a
de continuidade essencial,
mas uma ruptura
r a d i c a l :
revoluo, uma efetiva
aufhebung.
Detenhamo-nos na emancipao humana.
V i m o s que o ato ontolgico-primrio da soc iabi lidade capitalista
a compra e venda de fora de trabalho. E que
esse
ato impe limites
insuperveis liberdade por ele matrizada. Por isso mesmo, a conquista
da liberdade plena,
4
ou seja, da autodeterminao no seu grau mais
elevado,
tem como pressuposto inarredvel a superao do capital e de
todos os elementos a ele conexos, nos campos econmico, jurdico-
3 A idia de passosno tem um significadopuramente cronolgico, como se em todos os pases
tivesse que se realizar primeiro a emancipao poltica e, em seguida, a humana. Se a seqncia
cronolgica pode valer para os pases de formao capitalista clssica, o mesmo no vale paia
os outros pases, dada a diversidade do momento histrico e a relao contraditria existente
entre os primeiros e os segundos.
4 Por liberdade plena, entendemos uma forma de sociabilidade em que os homens, tendo por
baseo trabalho associado, tenham
acesso
riqueza que permita satisfazer assuas necessidades
(mateiiais e espirituais) e tenham o domnio consciente (e necessariamente coletivo) do conjunto
do processo socral.
7/24/2019 Cidadania Ou Emancipacao Humana Ivo Tonet
8/10
poltico, s o c i a l e ideolgico.
V a l e
dizer: uma revoluo. S i g n i f i c a t i v a
mente, todas as teonzaes atuais, e so muitas, que descartam a revo
luo, tm como pressuposto,
e x p l i c i t o
ou implcito, a possibilidade de
controle
do capital e que
esse
controle se fa r iamediante atividade jur-
dico-poltica.
A esto includas todas as teorizaes da chamada
esquerda democrtica, sem
e x c l u i r
as dos socialistas democrticos,
como Habermas,
Offe, P r z e w o r s k i , M i l i b a n d ,
Hobsbawn, Touraine.
Se
for verdade que o homem
atividade.
Se for verdade que o mundo que o homem c r i aexpressa e produz o
que o homem .
Ento, para autocnar-se como ser efetivamente
l i v r e
(mxima
autodeterminao possvel) e para criar um mundo que seja a expresso
de sua liberdade, o ato ontolgico-primrio tem que ser um ato efeti
vamente
l i v r e .
5
Se
o ato ontolgico-primrio de qualquer
sociabilidade
o trabalho,
ento o ato o r i g i n a l de uma forma de sociabilidade efetivamente l i v r e
tem que ser o trabalho associado. Porque ele corta, pela r a i z , a pos
s i b i l i d a d e
da explorao do homem pelo homem com todos os
seus
conexos.
A o instaurar o v a l o r de uso como princpio regente, o trabalho
associado pe o atendimento s necessidades humanas como objetivo
d e c i s i v o
da produo.
A o
eliminar o carter de mercadoria dos produtos, ele impede que
os poderes sociais se transformem em poderes estranhados que se voltem
contra o homem.
A oeliminar a propriedade privada, ele permite que todos os homens
tenham acesso riqueza produzida por toda a humanidade e assim
possam desenvolver as
suas
potencialidades.
A o i m p o s s i b i l i t a r a diviso da sociedade em classes, ele permite
que os homens construam uma verdadeira comunidade na qual funcione
o
p r i n c i p i o
de cada um segundo as
suas
possibilidades, a cada um
segundo as
suas
necessidades .
5
A q u i
se v, com toda a clareza, o sentido e o
l i m i t e
essencial da concepo kantiana da liberdade.
Concepo a que, no por acaso,
tantos
autoresatuais esto se voltando. Porm, na medida em
que ela uma concepo formal,
percebe-se
que o homem pode ser
l i v re
mesmo produzindo um
mundo que no o expressa como ser l i v re .Ora, em um mundo no l ivre(mundo da mercadorra),
o homem s pode ser formalmente
l ivre .
A volta a Kant se e x p l i c a pelo fato de que ele, como
nenhum outro, fundamentou, com genial idade, essa forma contraditria da liberdade, que
expresso da insupervel contradio da sociab ilidade do capital, dotando-a de um carter de
aparente
universalidade
7/24/2019 Cidadania Ou Emancipacao Humana Ivo Tonet
9/10
F i n a l i z a n d o : cidadania no sinnimo de liberdade. Cidadania
sinnimo de liberdade f o r m a l . Por isso mesmo, conceber a luta pela
cidadania como o eixo da luta s o c i a l subsumir a luta dos trabalhadores
aos interesses do capital porque supe o controle do capital pelos
cidados.
M a s ,
preciso repetir ad
nauseam,
criticar
a cidadania no
s ig n i f ic a
neg-la ou desvaloriz-la, mas ser efetivamente realista, ou seja, apreender
as suasreais possibi lidades eseuslimites e, por isso mesmo, valoriz-la
comomomento especfico, e contraditrio, na trajetria da autoconstruao
d a humanidade. Entre a desvalorizao taticista e a supervalorizao
desistoricizadora est a justa apreciao como uma forma concreta de
liberdade
que constituiu um grande progresso para a humanidade, mas
que precisa ser ultrapassada em direo a uma forma superior de liberdade
real. A liberdade real, efetiva, supe a superao da cidadania, o que
i m p l i c a
a superao do capital.
T O N E T ,
I.
C i ti z e n s h i p
and freedom.Perspectivas (SoPaulo), v . 2 2 , p . 8 5 - 9 4 ,
1 999 .
ABSTRACT:
This paper
intends to
show that
the same act
that
is in the
origin of the social relations in the capitalistsystemis in the foundation of
citizenship. And
that,
by having its source in the social inequality, the
citizenship in consequently a partial, limited and formal way of freedom.
Men effectively
free
couldonly
exist
if and
when
thepresentsocial order be
surpassed by another onewhosefoundations
are
the collectivework.Although
it isveryhard to find thenecessary
means,
the horizon of
a
true
left
mustbe
the emancipation and not the citizenship.
KEYWORDS:
Citizenship: emancipation; marxism.
Referncias bibliogrficas
M S Z R O S ,
I.Beyond Capital.N e w
Y o r k :
M o n t h l y R e v ie wPress, 1995.
M S Z R O S , I.A necessidade do controle social. S o P a u l o : E n s a i o , 1987.
Bibliografia consultada
C H A U , M .Convite filosofia. S o P a u l o : t i ca ,1995.
C O U T I N H O ,
C.
N .
Democracia e socialismo.
S o P a u l o :
Cortez 1992.
7/24/2019 Cidadania Ou Emancipacao Humana Ivo Tonet
10/10
H B E R M S
J . Teora dela accin comunicativa. M a d r i d : T a u r u s ,1987.
K A N T ,
I.
Resposta
questo:
o que o
esclarecimento?
In: .
Textos
seletos Petrpolis: Vozes,1985.
L F E R
C.
A
reconstruo dos direitos
humanos.
SoP a u lo : C o m p a n h i adas
Letras,
1988.
LUKCS, G.Ontologia dell essere sociale. Roma: R i u n i t i , 1976-1978.
M R S H L L
T. H .
Cidadania, classe social
e
status.
Rio
de
J a n e i r o : Z a h a r ,
1967.
M R X K.Elementos fundamentales
para la
crtica de
la
economa poltica.
Mxic o: Siglo Veintuno,
1978.
. Glosas crticas
marginais
ao
artigo
O rei da
Prssia
e a
reforma
s o c i a l . Praxis Belo Horizonte), n.5,1995.
.
A
ideologia alem. S o P a u lo : H u c it e c ,1986.
. Manuscritos
econmico-filosficos. L i s b o a : E d . 70, 1989.
.A questo judaica. S o P a u l o : M o r a e s ,
s.d.
R O U A N N E T ,
S.
P.
As
razes
do Iluminismo.
So Paulo: Companhia
das
Letras,
1989.
S A N T O S , B.deS.
Pelamo deAlice ,
osociale o
poltico
na
ps-modernidade.
So Paulo: Cortez,1996.
T O N E T
I. U t o p i a m a l a r m a d a . Praxis[BeloHorizonte), n.3, 1995.
.P re f c io ao G l o s a s c r t i ca s .
Praxis Belo Horizonte),
n.5, 1995.
. Democracia ou liberdade?
M a c e i : E d u f a l , 1 9 9 7 .
T O U R A I N E , A .A crtica da modernidade.
Petrpolis:
Vozes,1994.