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Il1MA HISTORIA DO DESPORTO EM PORTUGAL Yolume III - Clas~es Associativismo e Estado Cna Santos Rahul Kumar Pedro David Gomes Raquel Carvaiheira nO Domingos Alfredo Rosas e Vftor Sergio ferreira
opyrigllt 2011 Autores e QuidNovi eservados todos os direitos para estd ediao
rJordena30 Jose Neves e Nuno Domingos 3pa Sara SoaresOuidNovi taginaao Joel RochaQuidNovi mpressao e acabamento PeresSoctip S A wwwsoctippt)
middota edi50 Outubro de 2011
SBN 978989-5548897 3europosito legal 33177111
CUIDNOVION Ediao e Conteudos SA Rua 10 de Junna 54 Aveleda 4485029 Vila do Conde Tel +351229 3881551 fax +351 229 388155 wwwquidnovLpt I quidnoviquidnovLpt
pounddiao promovida pela Comissao Nacional para as Cornemorai5es do Centerario da Repilblica nambito do Programa das Comernora~6es do Centenario da Republica
UMA HrSTORlA DO DESPORTO EM PORTUGAl
Classes AssociativisInO e Estado
[Q)
Pesos halteres e sentidos dos corpos (h)alterados urn seculo de muscula~ao
em Portugal
[VfTOR SERGIO FERREIRA]
A muscufrio corresponde a uma actividade fisica que pressup6e a
realiza00 progressiva de urn conjunto de exerdcios racionais met6dicos
instrumentais e repetitivos de forlta e resistencia que implicam a sobreshy
carsa de zonas muscu~ares concretas com recurso quer aos tradicionais
pesos livres como barras -e alteres quer a cad a vez mais sofisticados
aparelhos ergonomicamente adaptados avariedade do corpo humano
Capitalizado nas suas capacidades motora e energetica 0 investimento
corporal implicado na musculaltao e potencialmente traduzivel em forlta
e desempenho fiico
No entanto recentemente em tempos de carpolatria l a sua capishy
talizaltao em termos esteticos e pListicos tambem tern vindo a ser valoshy
rizada quando 0 movimento implicado neste sistema fisico passa a ser
convocado sobretudo com 0 objectivo de esculpir e moldar a materia
organica a carne Numa sociedade gue cad a vez mais prescinde da
forlta e do seu rendimento 0 musculo gue a potencia converte-se
simplesmente em aparencia
De facto a I6gica da promoltao da imagem tern encontrado na
musculaltao urn dos dominios de aplicaltao por excelencia De acordo
com a frequencia semanal da pdtica as cargas utilizadas 0 numero
de repeLlc6es a velocidade e a amplitude de execultao cada exerdcio
obtem diferentes resultados sobre 0 crescimento da massa muscular
231
CLASSES ASSOCIATlVISMO E ESTADO
do praticante desde a sua manutenltao tonificaltao ou definiltao ate
ao seu aumento acentuado designado hipertrofia
A musculalaquoao difere do tlsiculturismo do halterotllismo (levantashy
mento de pesos olfmpicos) ou do powerlifting (levantamento de pesos
basicos) na medida ern que se trata de uma actividade ffsica praticada
uma forma nao competitiva - ainda que normalmente 0 treino com
pesos e tfeinos de for~a fatam parte do de aClividades dos
atletas dessas modalidades Foi alias sobretudo enquanto treino comshy
plementar funcional e sem autonomia espedfiea que subsistiu ern Porshy
tugal durante grande parte do seculo xx De facto apcsar presente
no pais a pratica mnselllaltao enqultmto actividade fIsica relativashy
mente autonoma outras nao obteve sucesso senao recentemente
C haUeres no
do povo portugues
Escrevia-se na coluna sobre Vida Sportiva do jornal A Capital em
1926 em jeito de critied aeampanha publiea que estava a ser realizada
do rninistro da Instrulaquolt1o para terminar com a Parada da Ginastica
da Festa Nacional de Edueacao Ffsica I Ioje em rodas as nar6cs civilizashy
a educaltao tern urn lugar paralcIo aeducarao mental E
Porque cIa e considerada nao apenas como urn passatempo 11111 recreio
uma missao mas prineipalmente como 0 linieo meio de conservar e
melhorar um povo uma ralta Euma obrigaltao individual eum dever
sociaL Logo e preeiso mais e indispensavel que reeonheyam a
absoluta nccessidade da eduealtao corporea Nos nOSS05 mats ao que
nunea se veritlca que para Imar eom vantagem contra as tempestades
vida nao basta eapacidadc mental - e indispensavel eapacidade ffllica
Esta e uma verdade incontesciveL E nao queirarn fuzer dos rapazes plantas
de estufa ( ) Se os exerdcios exibidos sao violentos 0 que e bastante
discutivel reduzam-se substituam-sc modifiquem-se mas nao se deixe
de realizar essa festa louvavel sob rados os pontos de vista1
232
I PESOS HALTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)AITERADOS
I Certo e que a eapacidade fisica da moddade da epoca nao era das
mais roblL~tas Alias a mesma pagina desse jomal apresentava urn pequeno
anlmcio publicitario as vantagens da Farinha Lacto Licishy tina do Deposit6rio exdusivo Raul Vieira Lto para combater 0 raquishyI que dominava entre a juvcntude da epoea No mcsmo senti do
era talllbem anunciado na primeira pagina mesmo jomal 0 Iodo-I
I
wn reconstituinte poderoso cientffico e racionaI especialmente
dirigido a crianltas fracas Numa epoca em que a fome e as mas conshy
dic6es de vida grassavam em Portugal debilitando a saude 0 rendishy
mento 110 trabalho e ate mesmo a de muitas erianltas e jovens 0
lCvigoramento fisico das Illais novas geraroes rornou-se urn projecto
do regime que se instaurava
Entre os varios meios cientificos disponiveis ao desenvolvimento
eorpos franzinos e raqulticus a Educaltao FIsiea enquanto disciplina
providenciada pelas insrituioes publieas foi assumindo
mas nao sem Entre varios motivos porque 0 regime nao
pretendia que esta disciplina integrasse exerdcios violemos Estes nao
s6 poderian1 lesionar as ja fdgeis corpos dos seus cxecutantes como
ainda estimlllar a produltao desses corpos herclueos que sistemas Hsicos
estrangeirados nomeadamente provenientes dos Estados Unidos da
America tentavam iaInbem moldar no pais esta nao
simpatizava com esses corpo eolossais que 0 repllblicanismo havia proshy
nao apenas par uma questao estctica mas sobretudo pelos
res modemos e progressistas que representavam
Sfmbolo mundano do ascetisrno earaeterlstico da etica protestante
anglo-sax6nica 0 body building - forma como a muscula~ao eomerou
por se chamar4 - representava nao apenas valores como disciplina e
esforlaquoo mas tambem sucesso elllpreendedorismo e fona de vontade
pessoal fundamentais ao funcionamento ordeiro de uma sociedade que
se pretendia democratica racionalizada e industrializada Surgida na
lnglaterra vitoriana de meados do seculo XIX foi de facto nos Estados
Unidos da America que a muscularao mals se expandiu enquanto sisshy
tema Hsico criado com 0 obiectivo de moditlcar os corpos sobretudo
233
1 CLASSES ASSOCIATIVISMO E ESTADO
masculinos atraves do aumento hiperb61ico da massa muscular Foi at
que desde finais do seculo XIX esse sistema fisico passou a ser produzido
em larga escala sendo comercializado nacional e intemacionalmente5
Comeltou por ser urn sistema fisico desenvolvido por entre gentes
de feiras circos e freak-shows itinerantes por entre a Europa e os EUA
onde corpos apolineos de lutadores e artistas-Ievantadores de pesos e
alteres em tangas de pee de leopardo participavam de uma cultura
visual que hiperbolizava a virilidade masculina atraves de demonstrashy
ltoes espectaculares de volume e forlta muscular Depois autonomiza-se
e amplia-se com a emergencia de campeonatos desportivos bern
como de todo urn mercado de equipamentos e sistemas de produltao
muscular que veio a estend~r-se dos clubes ou sociedades de ginasshy
tica a proprilt1 vida domestica e profissional com a comercializa=ao
de maquinas e sis[emas de movimento para utilizarao na sala eou roo
local de trabalho
Ainda que xiLanJ indicios da tentatiYa de integrarao deste tipo
de sistema em Portugal a visibilidade social que colossos musculados
poderiam obter era susceptive de ferir a paisagem moral que Salazar
idealizava Corpos como 0 de Manue da Silveira6 ou 0 de Francisco
Padinha7 - famosos recordistas mundiais de pesos e halteres durante a
I Republica ~ nao eram especialmente apreciados peas novas instancias
de poder
Em ruptura com concepltoes libertarias e viciosas do republicashy
nismo 0 corpo masculino ideal do Estado Novo nao correspondia a
uma cultura fisica atletica em que as priticas fisicas de modificaltao
corporal serviriam propositos frivolos hedonistas e individualistas assoshy
ciados abeeza ao prazer e asatisfarao pessoal do homem Aquee corpo
vinha antes ao encontro de uma cultura fisica higienista e moralizadora nao so com 0 objectivo colectivo de tomar os corpos dos jovens portushy
gueses mais fortes resistentes e imunes mas tambem socialmente mais
respeidveis e disciplinados A promoltao da saude do corpo nao s6 se
revearia no rendimento fisico do trabalho como Faria transparecer as
qualidades morais do individuo que se pretendiam de acordo com a
PESOS HALTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)ALTERADOS
nova ordem moral e social pretendida para a narao portuguesa Cada
corpo individualmente deveria entregar-se aautoridade do ideal colecshy
tivo e deixar transparecer os principios cristaos e politicos do regime
urn ideal fisico de virtude e pudor obediencia e disciplina sobriedade
e austeridade higiene e robustez8bull Urn corpo dedicado a Deus aPatria
aFamilia e ao T rabalh09bull
Instituiltoes como a Mocidade Portuguesa ou a Fundarao Nacional
para a Alegria no Trabalho em articularao com instituiltoes medicas
desportivas pedagogicas eclesiasticas e politicas adquiriam urn pape
central nesse projecto colectivo Atraves deas 0 Estado Novo tentava
toniflcar fisica e moralmente a sua juventude reformando-Ihe 0 esqueshy
leto ea musculatura tornando-lhe 0 espinhalto rijo e 0 pulso vigoroso
camo descreve Ines Brasao lO bull 0 incitamento ao exercicio fisico que os
jovens encontravam nessas organizaroes visava [[ansformar potenciais
corpos definhados enfezados e raquiticos em corpofrobustDs corados
e verticais capazes de enfrentar quaisquer adversidades a bern da naltao
Scm alinhar porem nos principios tecnicos e morais do body building norte-americano evitando que 0 corpo dos seus praticantes Fosse abanshy
donado a excessos apoHneos e narcisistas
A preocuparao poHtica com a fisicalidade dos portugueses favoreshy
ceu sim a adopltao do sistema fisico de Pehr Henrik Ling (1776-1839)
urn sueco cuja doutrina de educaltao fisica havia sido posta ern pratica
em outras naroes europeiasll 0 objectivo deste sistema nao era 0 adenshy
samento do sistema muscular mas 0 desenvolvimento racional de roda
a fisiologia e morfologia corporal de forma a socializar 0 praticante no
autocontrolo social das suas manifestaltoes fisicas e emocionais Vulgarshy
mente conhecido por ginastica sueca tratava-se de urn sistema racioshy
nal de exercicios localizados e sequencialmente cadenciados promotores
da respiraltao da verticalizaltao do aprumo e da correcltao dos movimenshy
to Executados em colectivos sincronizados e uniformizados de branco
sugeriam uma imagem de disciplina e ordem de pureza fisica e moral
de cooperaltao e de exortaltao nacional que esbatia e determinava as
singularidades de cada corpo fisico em nome do corpo social
234 235
CLASSES ASSOCIATIVISMO E ESTADO
Do sistema de Ling pretendia-se 0 adestramento de
des instintivas dos jovens rapazes atraves da incorpora~ao do gosto
disciplina e obediencia ligado a uma instru~ao militar preparat6shy
ria vocacionada para demonstralt6es de engralldecimento e exaltaltao
da patria bem como a seu tempo para a defesa do Imperio A forlta e
) tonicidade dos carpos masculinos bern como a ordem e a disciplina
colectiva quc demonstravam aquando das marchas plihlicas dos
filiados nos quadros da Legiao ou da Mocidade Portuguesa
simbolicamente a projecltao social da for~a do Estado sobre 0 territorio
nacional e imperial Mais do que replicar criterillS bcleza associ ados
a toniftcalt~o muscular a gi1astica suecaambicionava promover aptishy
does morais =1UaVeS do descnvolvimento racional e equilibrado d~ fisioshy
logia e morfokgia do corpo Cumprir-sc-ia assim 0 adestramento corshy
poral prescrito por Juvenal- mens sana in corpore sana - maxima eF
que em saLujsmo escorrcito queria dizer t()rmaltao da consciencia na
e atraves da disciplina e submissao dO$
Sinais demudanlta medraram nas decadas de cinquentae sessenta
Algumfl ousadia e desejo de ruplura nas atitudes e cuidados com 0
corpo ganharam enfase por cntre as camadas juvenis mals escolarizadas e nem sempre d6ceis e acriticas Muitos rapnes e rapallgas as corpos nao tanto pOl referencia as insrancias socializadorao do regime mas reportando-se as corporalidades
mais mundanas que se davam quotidianamente a ver nos jornais revisshy
tas cartazes espectaculos cinema e televisao Movidos pelas novas
referencias simb6licas que estes meios trouxeram assim como pelo
proprio comacto social quotidiano com os sectores femininos da popushy
laltao quer no trabalho quer na vida mundana os homens veem-se
socialmente pressionados para melhor cuidar a sua
corporal
A clegancia corporal de cones cinematogrMicos como John Wayne
Clark Gable ou Gregory Peck concorria socialmcnte com a virilidade
ostensiva de corpos como 0 de Tarzan Taborda13 pOI exemplo que
atraam a ateIlltao dos home11s e 0 desejo das mulheres para os ringues
236
PESOS HAITERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)ALTERADOS
portugueses de lura livre Escrevia Garcia Alvarez no jornal Record
ainda em 197214 Embora possua pouca yoga no 110SS0 Pais 0
rismo consegue chamar a 5i a atenltao eo interesse de rnilhares de adepshy
tos e goza de justificavel prestigio em muitos paises do mundo
palmentc no outro ado do Atlantico Na America do Norte entao
multiplicam-se os torneios para apuramento dos corpos mais modelares
diremos mais modelados - subsistindo 0 maior interesse e
entusiasmo pelas sucessivas deilt6es do laquoMr qualquer coisaraquo que culshy
minam com os certames correspondentes adesignaltao do laquoMr USAraquo e
do laquoMr Universoraquo A Falange feminina nao perde pitada destas compeshy
tilt6es seguindo com entusiasmo indescridvel as actua~6es mais salientes
respectivos idolos do momento
A tradicional alfaiataria entra em crise nos anos setenta nomeadashy
mente com a emergencia industria do proflto-a-vestir uma realishy
que tambem c011quist3 0 consumidot masculino 15 As Iinhas rna is
iDrmais e rfgidas no modo de vdtir sao ahandonadas e suhstitufdas
por uma moda jovem promotora lima silhueta mais leve e conshy
forrive que marcava e enfatizava as formas corporais Por outro
a progressiva expansao do direito a tempos de lazer e a ferias remuneshy
radas simuldlneo a propagaltao de parques de campismo e dos ideais
contacto com a Natureza tambern contribula para a exposi~ao de
urn corpo que se deveria mostrar atractivo por emre trajes de a
banhos cada vez mais cunos
Libertando-se das vesLimentas que os encobriam e dissimulavam
as corpos vao-se entao progressivamente desnudando e exibindo ao
lange da segullda metade do seculo XX portugues Vma liberdade
contudo condicionada por novas forltas e institui-oes sociais geradoras
de novas exigencjas e expectativas sociais que em condilt6es de exposishy
publica os tendem a encarnar e a moldar
nao vdculo de um projecto de identidade naclOnal au apenas
instrumento que carece manter robusto encrgico e bern nutrido para
trabalhar e garantir a sobrevivencla 0 corpo p6s-democratico ganha
visibilidade e valor social entre as mais novas de portugueses
237
U ~1~
i11
CLASSES ASSOCIATIVISMO E ESTADO
enquanto acessorio de identidade pessoal que urge cui dar investir e
plan ear Particularidades 1uperHuas que passavam discretamente por
entre roupas que 0 vclavam ganham 0 estatuto de imperfeiltao que urge
combater em nome novos canones corporais 0 corpo deseja-se agora
perfeito reHectindo uma imagem jovem e saudavel
o projecto colectivo de revigoramento f1sico politicamente conshy
duzido entao lU2ar a projectos individuals de manutencao e modishy
ficacao aconteceu nao apenas devido amudan)a de regime
politico mas tambem no contexto de urn conjunto alterayoes estrushy
turais na sociedade portuguesa ondc novos agentes e dinamicas mershy
cantilistas passaram a investir em forra Os pesos e halteres ltllCaUaIll
urn novo protagonismo social no mercado poftugues ganhando novos
contextos sociais e novas contlguraocs em varias actividadesffsicas
meios competitivos do balterofilismo do boc ou da
luta liv- ondc cram convocados como treino complementar para
autonomia relativa nas inumeras salas de ginasio e health
dubs onde passaram a ser mercantilizados no ambito de modalidades
pr6prias
Pesos e alteres na recente industria de design corporal
N urn contexto onde homens e mulheres passaram a exibir e
mais atentamente as suas aparcncias as foryas privadas do capitalismo
acabaram por contribuir mais do que as instituiyoes publicas higienistas
na difusao de novos habitos e cuidados corporais A incipiente
da moda e do design corporal que ja havia despontado antes do de
Abril cresce numa escala mais alargada e diversificada fragmentando
produtos e clientelas e alimentando expectativas e aspiraltDcs diferenciashy
das do passado Mais do que 0 ambicionado relligoramento fisico as
exigencias e desejos sociais gerados por essa industria VaG agora no senshy
tido do rejullenescimento C do aperfeiroamento da imagem e forma corshy
porais produzindo a ilusao massitlcada de cada um planear e
238
PESOS HALTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)ALTERADOS
esculpir 0 pr6prio COIPO dentro urn padrao de beleza estabelecido
globalmenteo
Novas lojas fabricantes e empresas nacionais e internacionais vem
afirmar-se no mercado portugues disponibilizando modernos e
ticados produtos tecnicas e serviyos de modificacao e manutenyao
corporal em esferas diversas Da cosmetica a da cirurgia
ao nutricionismo dos centros de estetica aos spa toda uma pletora
de bens tecnologias e servios de bem-estar e bem-parecer do corpo
que prometem 0 ajustamento aos canones corporais do momento l6
por sua vez no que a masculinidade dizem rcspeito veem
substituir a clegancia eo glamour das estrelas de cinema dos anos cinshy
quenta pda fora e vigor de herois de torso em forma de V represenshy
tados por Arnold Schwarzcnegger Sylvester Stallone ou Jean-Claude
Van Damme
POI entre esra florescente industria de aesigncorporal o cresshy
cimento de iniciativas comerciais de actividade fisica geridas por pane
do sector privado qlier ao nlvd do invcstimento em produtos para
em espao domestico desde sistemas de exerdcios peri6dishy
cos espccializados roupa e calltado ate equipamemo caseiro diverso17
quer ao nivel do investimento em espayOS colectivos proporcionadores
de um conjullto de produtos e servios bem-estar e bem-parecer
Esses espayos colectivos comc~aram por assumir a forma de ginasio
de bairro contexto popularizado nos anos oitenta Nestes a musshy
culaao surgia com lugar destacado ao lado de novas modalidades
como a ginastica aerobica a primeira mais orientada para urn publico
masculino a segunda para urn pliblico fcminino A pratica da muscushy
lacao poren1 ja adicionava aos tradicionais pesos e halteres rnodernos
cquipamentos ergonomicos dotados de um design mais apelativo onde
cada detalhe passaria a ser concebido com 0 intuito de proporcionar aos
novos LlllLaUUU~ urn trcino menos arriscado e sofrido mais comodo e
con fomlveL
Postcriormente ja proximo anos noventa a musculayao toi
dlUIlllUa no con texto dos clubs que vieram a instalar-se
239
CLASSES ASSOCIATIVrSMO E ESTADO
em espaos multifunciol1ais deposidrios de valencias diversas
nas areas da da saude da alirnentacao e do lazer corporal muishy
tos representantes de cadeias internacionais que se instalaram em
algumas das principais cidades pormguesas com elevados invcstimentos
em sofisticadas tecnicas de gestao mflrketing e publicidade para cap tar
e ftdelizar potenciais publicos-alvo Entre 0 ann 2000 e 0 ana de 2008
o numero de health clubs em Portugal passou de 600 a 1400
bando mais de 600 mil mernbrosl 8bull Com uma
57 em Portugal estas estruturas facturam
euros
ras os
mais 1
mIS riscos e caracteristicas
um programa de Heino adequado a detershy
rrunaao corpo e acompanhar individualmente a sua exccuao
- C0 do egolmilriintO que perpassa no desporto
amador contemporaneo um dos produtoslservi~os em que
os health clubs mais apostam hoje ern dia devido aos ganhos financciros
proporcionados exclusividade desse servico urn dos mais caros para
o cotlSumidor
Concomitamemcntc novas actividades ffsicas e desportivas emershy
gem no ambito destcs novos espaos anunciadas como esteategias para
enfrentar e Edar corn os duros dcsafios da sociedade contemporanea ao
mcsmo tempo que velhas modalidades se rcnovam e sofisticam transshy
formando-se em mercadoria vendavel e derelativamente faeil
lidade Sistemas fisicos ancestrais como 0 por
exemplo ou ate mesmo varias artes enquanto
no
A sempre presente nos ginasios
a pesos e halterc~
240
PESOS HALTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)ALTFRADOS
acurnulado de
oHlzaoo de
dlllCllU e coreografado ao
fIrmo de musleas do momento que apresenta como relatishy
vamente ao esquema anterior 0 facto de eoncentrar uma quamidade e
de exerdeios musculares num curto periodo de tempo
45 a 60) reeuperando as da pratica desporriva
em grupo e desta fonna proporcionando um ambieme estimulante e
divertido
o objccrivo inicial do body pump nos anos novema ted ido em
medida lucrativo atrair 0 publico-alvo maseulino para a pdtica
de ccrclcio fisico eolectivo nomeadarnenLe ao da ginistiea aeroshy
scm contudo deixar de Ihes proporcionar 0 e atletieo
que indiidualmente a pcatica da musculacao lhes concediarn O~fdy
pump a par de outras modalidades que foram sob 0 mesrno COI1shy
ceito (designados de body training ou group como 0 body balance body combat body body
jump ou 0 spinning - RPlvf) tern a
registadas
monitores
COlllerClaUampauas eoroduzem-se exactamente nos
exerdcios e re1pectJlVO
uallzaao a cada tees meses de a a desmlotlV3ltao
por via da repctiao continuada
muitas dessas modalidades nos anos noventa vieram
U~LdUlUllC no sentido de diminuir 0 sofrimento do treino solidrio ClStishy
dioso silencioso e ascetico gue ate af implicava 0 treino tradicional de
muscular substituil1do-o pelo divertimento proporcionado
soeiabilidade e a mitsica que passaram a parte desses sistemas
241
- CLASSES ASSOClATrvISMO E ESTADO
treino 0 que vern corroborar empiricamente a hipotese avanshy
ltada por Lipovetsky de que hoje em dia 0 desporto de massas eessenshy
cialmente uma actividade dominada pda procura do prazer
mismo energetico da experiencia de si proprio depois do desporto
disciplinar e moralista cis 0 desporto-lazer a desporto-saude 0 desporshy
to-desafio Da pratica desportiva esperamos apenas sensalt6es e equilibr
valorizasao individual e evasao norma e descontraclt3o ja nao e a vinude que legitima 0 despono mas sim a emmao corporal 0 prazer
a forma e psicologica 0 des porto tornou-se urn dosemblemas mais
da cultura nardsica centrada no extase do
Oprocesso crescimento e de diversiflcaltao comercial das activishy
rades ffsicas indoor beneficiou durante os anos oitentac noventa
uma conjuntura economica favorivd caracterizada pdo aumento do
poder de compra da populaltao portuguesa tpela melhoria das de vida alguns dos seus sectores e sociais nomeadamente
classes rr Mias A proliferalt3o de gimisios health clubs foi ltlinda
favorecida pdo prolongamento quer da esperanlta media de vida quer
das processos de escolarizaltao e de transiltao para a vida adulta Estas
din1Unicas que efectivamente fizeram dos reformadas e dos jovens
estudantes publicos-alvo fundamentals na promQ(ao de actividades
fisicas no espalto do ginasio considerando 0 tempo que tern POLCllUltUshy
mente disponivel ao longo do dia nome~damente fora das hons
maior wifego nos ginasios (perfodos almolto e p6s-laborais)
Urn outros pltblicos-alvo a que este segmento da indUstria de
design corporal mais se tem dirigido tern ido os homens mais disponishy
ao consumo dos sellS produtos e servi~os A imagem de
pader e competencia produzida e difundida pela publicidade e pclas
revistas hoje dedicadas ao segmento masculino ji nao e reflectida apenas
atravcs de sfmbolos tradicionais consumo masculino como 0 carro 0
relogio ou a can eta mas tam bern atraves investimentos na proawao
e manutenltao da aparencia fisica que tende a perder 0 formalismo do
fato-e-gravata A imagem de urn hamem atletico e cuidado passa a ser
inclusivamente apresentada como chave do sucesso entre as
242
PESOS HAITERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)AITERADOS
mais exigentes quanto aDS cuidados masculinos com a imagem Esta nova
mostra um novo homem preocupado com a flexibilidade da
sua pele com a domesticaltao dos seus odores com a qualidade do seu
[[sico com a tonicidade da sua silhueta com a definiltao do
seu abdomen com 0 volume do seu biceps A pdtica de musculaltao
assume entao tun valor estratcgico na produltao do actual corpo mascushy
referencia e de reverencia
Trata-se de facto do regime corporal socialmente mals difundido
estrategia de promoltao de urn modelo corporeidade ma~cu-
modelo adetico com acento na potencia vitalidade
IHUgtCUlaL 0 que de resto nao sera de surpreender dada
a diiilsao incorporada de estereotipos da sociedade ocidental sabre a masshy
que tradicionalmemc ligam os padr6es de perfectibilidade e
atractivlhde masculina ao modelo de corporeidade mesomorfico e hipershy
troEado em medida cOlldensado na massa muscular tCUlllUldUd
nos peltoral~ braltos e costas esnuturando um torso de
adclgalta ate a
Um homem deve ter os ombros mais largos do que a anea ter uma
anca fina e deve ser algo robusto mats cheinho Mais cheinho
mas nao e em gordura e em musculo ( ) Estou contente com 0 ter
aos 80 Guilos Acho que eu ainda tenho muito parauabalhar
ainda me falta muito trabalho frente Ainda vai ser uma coisa
que YCJo-me nos pr()X1mOS 6 an os a ter de trabalhar 0 corpo ate cheshy
gar 11 tal forma ideal ao corpo ideal ( ) Eo tal corpo masculino com
os ombros mais a cintura mais em V - Ii esra 0 torso em
V - e musculado
ESTUDANTE UNlVERSITiillIO 21 ANOS PRATICANTE DE MUSCUIAtAo
porem scm a rudeza do passado impressa pelas condilt6es de
nabalho que sem intenltio moldavam 0 corpo 0 corpo do hom em ja nao
e urn mero instrurnento que se abandona ao trabalho mas de proprio
243
CLASSES ASSOCIATfVTSMO E ESTADO
MlllUCla como COOl
extracltao total dos pel os que possam encobrir 0
ao
da simetria muscular conseguida
Mas os corpos femininos tambem nao ficaram de fora dos sistemas
fisicos associados a muscutaltao Com objectivos mais moderados em
termos de volume corporal e sobretudo direccionados para a perda de
adiposidade e tonificaltao determinadas zonas do corpo as mulheres
encontraram res posta aos seus anseios corporais sobretudo nos body Mesmo
aos pesos e e aoontrario
publico masCilliri~ as roulheres tendem a
do corpo como (lllS de intervenltao prioritaria no sentido da manuten
ltao ou mociitJG50 Face a tais aspiraltoes a chegoll
a conceber um sistema fisieo particular para dar ao pllbico
especificameme feminino comercializando-o sob a designaltio de GAP
uma modalidade que promove 0 trabalho de resistencia e forshy
talecimento atraves de varios exerdcios localizados nas zonas
dos gl(lteos abdommalS e pernas
Eu era ter aqude corpo musculado corpo bonito
que tada a gente rilio e () Nao llma mulher eXclgeJradamell1le
muscuCida porque perde os trayos femininosEuma mulher ddinida
Nao precisa de ser magra Nao acho que eaquele estereotipo de magre-La
que cada vez ha mais que leva as miudas hoje em dia a rornarem-se
anonxicas ( ) Hoje no ginasio a imagem que se quer passar e que
essa nao ea nao eo ideal de urn corpo 0 ideal de urn corpo e umamulher a mulher nao precisa de estar MOr
desde que bem ueWllUa e0 ideal
23 ANOS 120 ANO INSTRJroRA DE CARDlo-FrfNESS
244
PESOS HALTERES E SENTiDOS DOS CORPOS (H)AIrERADOS
tern
cas no seio da industria de design corporal Como assinala Fortuna
os de edllcalt3o ffsica tinham como vocaltao disciplinar 0 corpo
para for mar rnelhores cidactios mais saudaveis e competemes prepashy
rando-os para os desafios das novas sociedades surgidas com a industriashy
os actuais health clubs por seu lado associ am a juventude a
beleza e a satide do corpo aamo-confianya aauto-estima e ao bem-estar
ol(rcendo prodmos e serviltos a moldar 0 corpo amedida
e preocupalt6es de
outros mats imageticos
some body Estar em mostrar (determinadas)
A manifestalt3o mais valorizada do corpo saudavel deixa de
ser a seu rendimeDto fo1lta e para passar a ser a sua aparenshy
cia A sallde cosmetiza-se e torna-se num fen6meno estetico nao basta
mante-la mas fazer transparece-la nomeadamente atraves da aquisiltao
urn corpo perfeito Este par sua vez passa a ser condiltao sine
non para 0
Higt LdllI-la para a ser
Eu via que tinlIa urn corpo com varios problemas Precisava de
rirar a barriga algum poeu e Tinha urn peito quase fundo dentro
quase que nao se via a barriga mais saida que 0 peito Via que tinha
problemas e estava a caminhar para 0 problema da obesidade ( )
Agora quando olho para 0 espdho vejo urn corpo perfeito 0 que todo
o hornem gostaria de tef E simo-me orgulhoso por isso
AUXILlAR DE ACOO MEDICA 120 ANO 24 ANOS
PHKnCANTE DE
245
CLASSES ASSOCIATIVLSMO E ESTADO
despono ou pelo menos efectuar com regushy
[sica passou aser nao apenas urn direito25 mas
tambem urn dever sociedades contempodneas um
cuja falta acarreta frequentemente sentimentos de culpa pessoal
e aclt6es de sanyao social sobre aqueles que se encontram pouco
a descobrir as suas supostas vantagens ou cujos corpos se afastarn
da normatividade da silhueta canonica quese deseia bem deflllida e
tonificada
Pesos e halteres entre 0 estUode vida saudltivel doeura ddec a a sau
Se a pFl1rllpaltao com os cuidados corporlis era anteriOrrneHr proshy
pria das classt~s onis lhastad3s nas condilt6es
oitenta f) portugues comum passa a tcr acesso em qualqucr sureil1ler~
cadoa uma pan6plia de prodUloh tecnicas e servicos que prometem criar
e conservar um corpo jovem perfeira e saudive qualidades de refeshy
rencia e reverencia no culto conremporaneo do corpo Socialmente apreshy
sentados e mercantilizados em associacao acriacao de urn
produtor de salIde e preventor doenca tais produtos tecshy
nicas e servi~os sao frequentemente assumidos na vida quotidiana Como
sendodo oll mais importante que os propdes servicos de saude e de
prestacao de cuidados medicos na concretizayao do bem-estar fisico e
psicologico das pessoas A ideia hoje partilhada no imaginario
de que a saude ealgo que se conquista ccoroHrio simb61ico da delegashy
ltao social no individuo das formas manutenlt3o controlo e vigilancia
do corpo que outrora haviam sido exercidas pelas autoridades
A difusao e enraizamento social da assuncao de que e possivd obter
e manrera saude do corpo atraves do envolvimento do individuo num
de pratiCa5 ditas saudaveis acabaram efectivamente por impushy
tar a cada urn uma responsabilidade crescente pelo seu estado de
Concomitantemente em alguns contextos forneceram argumentos a
246
PESOS HAJTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)AIfERADOS
desresponsabiliza~o parcial do Estado em materia de ULUltlUU medicos
e sallde publica Doravante nao esuposto que os cidadaos necessitem
de instrw5es das autoridades e instituiltoes publicas sobre como cui dar
sua existencia ffsica 0 corpo passa a ser urn espaco regulado
opc5es e escolhas de cada urn entre a pleiade de produtos tecnicas
e serviltos actualmente ao seu dispor
Sob a egide da crenca na autoridade pessoal sobre 0 corpo cada pessoa
apartida detem plenos direitos sobre esse bern patrimonial sen do igualshy
mente responsive pelo cumprimento determinados deveres sociais
Estes passam entre outros pdo governo da sua respectiva aparencia e
de vida Ao indivfduo eatribufdo urn papd preponderante na
identificaltao e controlo atempado dos sintomas de patologias diversas
problemas cardiovasculares na preVcncao perante condutas
risco (nomeadameHte atTaves da redwao doakool e do tabaco
obrigatoriedade de sexo protegido ou do exerdcia Hsico) au na
cia e evitamento do que sao socialmente considerados excessos (alimen-
tares exposicao ao sol de medicaliiacentio etc)
da adop~ao cada vez matS generalizada desta nova atitude de
pntdencialismo individualist a perante 0 bem-estar corporal e a evolultao
da oroDorcao de populaltao que em Portugal na viragem do
desenvolver algum tipo de aCyao no sentido de melhorar ou
manter 0 seu estado de salide Segundo 0 estudo 0 Estado de Saude em
entre 2001 e 2008 a percentagem de portuguese que afirshy
mavam estar a tomar no momenta realizaltao do inquerito alguma
iniciativ3 no sentido de mclhorar ou manter 0 seu estado de saude
viu-se aumentar de 368 em 2001 para cerca de metade da populaltao
(498) em 2008
Segundo 0 mesmo estudo essa evolultao e acompanhada da alterashy
de comportamento declarado rclativamente a determinados hibishy
tos de vida considerados saudaveis designadamente no que respeita
ao exerdcio fisico A percentagem de portugueses que afirmam
exerdcio [SICO regular (ginistica COffer etc) ve-se significativamente
de 33 em 2001 para 475 em 2008 Mesmo que 11ao
247
11
CLASSES ASSOCIATIVISMO E ESTADO
se traduza numa pratica efectiva27 csta evolu~ao corresponded
a uma assinalivel incorporaltao social do dezJer-ser contemporaneo da
actividade fisica A representaiyao desta enquanto habito de vida saudishy
torna-se clara quando noutra investiga~a028 se constatou ser entre
os individuos que mais regularmente praticam exerdcio Hsico que mais
presente esta a percep~ao do risco cia sua ausencia quotidiana29
e born esaudiveJ eurn habito saudaveL E como se
fosse lel livros sel inteligente Esras a arranjar 0 teu corpo Sabes
que vais chegar aos quarenta e tal arros e ainda vais estar born Agora
muitos chegam aos qualcrrra e tal anos e ja esrao com barriga e
com sei a ter tanras ~u~tas coisas Ficas mas saudivel se estas a
treinar bem e sew mdar contra a tua
29 ANOS LH ENClfO ENFERMEI(O PRATICANTE DE MusCutAltAo
A tendcncia para a crenlta incontestlvel no exerdcio fisico como
habito de vida saudivel nao se apresenta contudo disrribulda
igual maneira no espa~o social e cultural portugues Sao varios os estushy
que tern localizado urn maior enraizamento social da disposi~ao
para a pratica de exerdcio fisico entre as mais jovens geralt6es e entre
os individuos provenientes dos estratos socioeconomicos mais clevashy
dos Resultadonao apenas das novas con(li~6es de sociais economicas
e simbolicas em que as gera~6es pos-25 de Abril sao socializadas relatishy
vamente ao corpo e aos cuidados corporais30 mas tambem de urn efeito
de trnsltao no curso
Investiga~6es realizadas sobre a pnitica de actividades ffsicas entre os
jovens portugueses denotam-na mais regular e intensiva nos grupos etashy
rios mais novos nomeadamente ate ainserlt5o no mercado de trabalho
e aassunlt5o de novas responsabilidades familiares31bull 0 que indica que
amedida que as etapas do processo de transi~ao para a vida adulta se vao
cum prindo a pritica desportiva vai efectivamente sendo abandonada no
quotidiano dos jovens portugueses
248
PESOS HALTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)ALTERADOS
No caso especifico da 11l~LU1ltll-alJ uma actividade particularmente
exigente em termos do tempo dispoIl lVei para a sua pratica esta tenshy
dencia revela-se particularrnente marcante Trata-se no eatanto de
uma das modalidades com maior adesao efectiva ou potencial entre os
jovens em Portugal A sua pdtica efectiva (prcsente ou passada)
declarada por cerca de 12 da populalt5o jovem porttlguesa no ano
200032 sendo 34 a percentagem de jovens que nunca tendo pratishy
cado admitiram vir a faze-Io no futuro Quer a sua pdtica efectiva
quer a sua pr~hica potencial viram-se substancialmeme acrescidas entre
os jovens do sexo lTlasculin033 com idades compreendidas entre 18 e
anos ainda a residir com a familia de origem ou sozinhos solteiros
ou ja separados ou divorciados sem filhos Perfil dpieo para stlstentar
a hip6tese de 0 aumento de massa muscular ser urn investimento corshy
poral que corresponde ellliarga medida a uma fOlm~de capitalizar
o potencial expressivo do corpo masculino em estrategiasde atracltao e
sedult5o
Embora a disponibilidade potencial para a pratica da musculaltao
- nunca fiz mas admito vir a fazec surja praticamente transversal aos
jovens qualquer que seja 0 seu estatuto social ou habitat de residencia
o facto cque as condilt6es materiais de existencia continuam a constranshy
ger a sua ptatica efectiva Mais devada entre os jovens que melhores
condilt6es sociais detem para fa_zet face as mensalidades exigidas pelos
cspaltos destinados ao seu exerdci0 34 a pratica de musculaltao decrescc
amedida que se desce na estrutura social de 26 entre os jovens de
estatuto social alto diminui para 9 entre os jovens de estatuto social
mais baixo Do mesmo modo sao os jovcns que tern urn acesso mais
facilitado as instalalt6es que disponibilizam tal servi~o quem mais adere
efectivamente a sua pritica ou seja os jovens residentes em habitat
e suburbano 0 sanho em obter urn corpo musculado revela-se
portanto substancialmente mats democratizado na sua distribui~ao social
(mediaticamente amplificada) do que as condi~6es que perrnitem a sua
concrecizaltao
149
CLASSES ASSOCIATIVISMO b ESTADO
Para fazer [musculayao] como se fosse urn culto tern que se rer
tempo e disponibilidade E depois tern que se ter vontade uma
vontade E dinheiro Estas sao as coisas vontade dinheiro e disposhy
nibilidade
29 ANOS LICENCLADO ENFER1v1EIRO PRATCANTE DE MUSCULAyo
Tern que se ter muita forlfa de vontade tem que eter
tambem () torna-se a tal de qlle eu poundalo eV1Clame
( ) A pessoa para rcr urn corpo assimrem quI s~ trabalhar muito
nao e Nao e brincaJeira 1150 e E preciso urn esforyo de
tempo alillleatar A nutri(ao entao se para
rnentos tem que $( fr n30 IE pode
28 ANOS 10deg ANO DESEM[REGADO JTICANTE DE MUSCULAtAo
Mesmo entre aqueles que reunem as condic5es socioeconomicas
que permitem 0 acesso a constru~ao urn corpo de atraves da
de muscidacento nem todos dispoem das disposilt6es subjectivas
C(IgtIIld para enfrentar 0 longo processo da suaconcretizasao Euma
dctividade que quando 0 objectivo ea obtensao eoumanuten~ao
urn dado modelo de compleiltao fisica volumoso e definido exige dos
seuspraticantes trabalho arduo e dedicaltao quase monastica forsa de
e determinacao perseveranlta e espfrito de sacriflcio pain no abnegalt3o e autocomrolo e disciplina Nao e por
acaso que entre os jovens que praticam algum tipo despono Oll actishy
vidade fisica sao os adeptos musculalt3o os que uma
tica mais intensiva e regular sendo mais de metade os que se exercitam
diaria ou quase diariamentel5
A maximizasao da estetica corporal proposta pela rnusculasao
ponamo a realizacao de uma etica que transcende a pritica
250
PESOS HALTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)ALTERADOS
desta modalidade e se estende a outros domfnios vida do seu
came A etica de disciplina cultivada durante os a dado momento
da efectivameute a ir dos tempos e espashy
lt05 que sao dedicados A alirnentacento passa a ser bastante cuidada
hiper-re5tritiva nas gorduras e e sobredimensionada nas proteinas
c hidratos de nutrientcs que permitem acumular energia para 0
t[eino eo concomitante crcscimento do volume muscular 0 sono Dassa a
ser tambem hiper-regrado sacrificando-se momentos de lazer e
noctumas por exemplo 0 tempo disponfvd para sociabilidadcs amicais
e por vezes atc familiares e Iaborais passa a ser gerido em funsao das
necessidades treino diario
aquela vontade de ter urna vida de mudar 0
corro ]a nao queres comer gotJuras porque estas aver 0 reu carpo
Vais a um piquenique ou qualquer coisa assilll e wrnes alguma coisa
assim mais na semana que vem ji se nota nosabdominais En Jesus
Cristo engordei Eja vais xiiiiiiiiiii Corras com fritos e com gorduras
puxas mais hidratos de carbono e protdn~i ( ) Cada dia
contralo 0 peso e controlo muito bem aquilo que como percebes De
manha e uma dose multo torte de hidratos de carbono papas
Ncstum Uma coisa muito com leltemagro scm Nada
de gorduras nada de manteig~~ nada De manha e 15S0 on2C horas
tambem comes alguma coisa uma sandufche com cafe com ramshy
bern magro Alrno~o tambem comes cada dia qualQuer coisa
corni guisado com com com urn bom azeite
Ao jantar ji epouca coisa porque nao estou naquela fase de tomar
aminokidos e nao preciso N 50 estoll agora naquela fase de puxar para
crescer agora estou assim Niio lhe dd as vezes vontade de comer sei Ed
um bolo com chantilly Nao mete porque sabes que re vai
fazer maL Olhas para mas nao com aquela vontade de comer Sabes
que e born mas nao tens 0 corpo esta em primeiro
Niio e que narcisismo ou uma coisa assim E urna preocupayao
saudiveL Nao eque estejas a olhar para 0 espelho ai que sou bonito
251
CLASSES ASSOCIATIVISMO E ESTADO
nao 1sto ja enarcisismo Mas todas as pessoas estao prcocupadas com
aqllelc reslIltado que conseguiu e nao vais estragar agora de urn dia
para 0 outro ( ) Trabalho como um relagio todos os dias tteino as
tres ( ) Tem que ser nao podes brincar com a corpo Tem que set
tudo controlado ( ) Precisas descansar Par isso tem que ser llma vida
bern organizada Levantar-se as mesmas horas comer as mesmas horas
descansar as mesmas horas treinar as mesmas horas Tern que ser tuclo
arranjadinho nao podes andar disparatadQ a fazer coisas II um culto
Por isso cque tern resultados
29 ANOS UCENCLADO ENFERMEIlZO PRATICANTE DE MUSCULA(AO
1Boa parte do oe do praticante empenhado em
erescer a massa muscular fassa entao a ser geridoem fun~5o da maxishy
mizaltaodos ganhos de vDlume e ddiniltao corporal Este e um
tivo que 0 faz Ianyar mao de um impladvd processo racional instrushy
de autogoverno e hiperdiseiplina do seu tempo e das actividades
do corpo e sobre 0 corpo A ohten~ao de urn corpo hiperbolico impliea
paradoxalmente um rigoroso comedimento dos seus habitos e
eomportarnentos mais habituais Quando a hiperdisciplina earacterisshy
tica das pratieas introduzidas na vida quotidiana ja nao e capaz de dar
resposta as voIumosas ambi~6es do indivfduo quando ji nao eonsegue
maximizar 0 potencial corporal idealizado como meta por parte do prashy
ticantc cste nao se da obrigatoriamente por veneido 0 desatlo dos seus
pessoais e propriamente fisicos pode ser superado atraves do
consumo de outros reeursos tambem produzidos e comercializados
industria de design corporal nao caras vezes nos mesmos espaos onde
o exerdeio fisieo os poreneia
Eentao que chega a nora de experimentar as vantagens dos supleshy
mentos alimentares exibidos nas prateleiras das gcandes e pequenas
superficies de lojas de despofto bern como das entradas de muitos
ginasios indo de encontro as (rapidas) amhilt6es dos seus frequentashy
dores Para aIem destes produros enconttam-se ainda disponfveis em
252
PESOS HALTERES E SENTfDOS DOS CORPOS
circuitos de comercio rna is alternativo e underground uma diversidade
de ester6ides anabolizantes e de outros produtos euja venda livre eilegal
pelos efeitos perversos que acarretam na homeostasia interna do orgashy
nlsmo mas cujos ganhos de e massa muscular sao surpreendentes
na quantidade e eeleridade bem como na redwao significativa da adishy
posidade 0 uso dessas drogas apolineas36 tem-Se tornado uma op~ao
disseminada entre outros praticantes de muscuIaltao que
nao apenas as fisioeulturistas que desde sempre riveram uma rela~o
axiomitica37 bull
Entretanto vim para ca e aqui come-eei a tomar suplemenro
uma proteinazinha uma creatinazinha Entretanto fahram-mc sobre
a tal siruaifao [esteraides anabolizantesJ e eu tentei experimentar
para saber uma situa~o de curiosidade () Espectacular rnesmo
Uma pessoa atinge urn nive mesmo muito bom E Ilma qualidad
brutal Por isso e que dizem que a malta que eomeltlt a faxer essas
coisas depois torna-se viciada
28 ANOS 100 ANO DESEMPREGADO PRAT1CANTE DE
Assim que comepmos a ganhar 0 mfnimo musculo queremos
semprc mais sempre mais sempre mais Depois atillgimos quase a
performance dai nao safmos mais Depois onde vamos recorrcr ea
substincias batidos e aminoicidos que epara ver se conseguimos
desenvolver mais 0 110SS0 conseguir desenvolver mais os
mUsculos E acaba nisso ( quase urn CicIo ( ) E dcpois da eonseguishy
mos mais vamos desenvolvendo desenvolvendo
24 ANOS 120 AlOAUXIUAR DE ACOtO MEDICA
PRATlCANTE DE MUSCULAltAo
253
I
CLASSES ASSOC1ATIVISMO E ESTADO
que os cultorcs da muscula~ao a actividade adamando
a sua preocupatao com a saude e 0 bem-estar presente e fururo represhy
sentando-a como uma mobilizada no scntido de manter ou
a forma e obter a imagem um corpo sauc1avel e atrashy
ente 0 facto c que a compreensao sempre positiva da entre cxershy
dcio e saude como afirmam Bagrichevsky e Estevao nao passa de uma
hipotese optimista38 Apesar de prevalecente enquanto ideal e a priori ramada por certa e incontroversa a rnixima despo[m c saude esconde
luitas vezes vivencias e representatoes
Com efeitoexistem cada vez mais situatoes em que as pretensoes
perfeccionistas e aobsess5n pela saude e peIo collt-mio do corp( podem
confIgurar cstados
mtermizados e
cinicamentc susceptivcis de sercm
J iuttoloeia do corpu
- ou
e saudiyei de lut ~e iessente a socdde e middotem grande
em exerdcio
dependentes dapropria imagem corpotal bull 1
-r que cnarm ltIe a qual sc esfof~m ao miximo por manter e
~oar -- compulsivos dotados grande perseveran~a t toleshy
rfll1cia ao sofriPlento traduzido em sintomas como a dor a exausshy
tao e a lesao entre outros n1enos comuns
Eu viciei-me nlquilo Viciei-me mesmo em ginasio Se nao fosse
para era como uma docnlta Tinha que if Era mesmo
6bcecado com aquilo C)Queria hear grande E fiquei V) 0
nvo era corpo como deg dessamiddotmalta que a gente ve af
( ) Depois toma-se urn vieio qucrer atingit (ilo
28 ANOS 100 amp10 DESEMPREGADO lRATICANTE DE MUSCULAltAo
HUSCUlaltao nunca pode vir a ser um problema Pode vir a scr
urn quando hi eXCt5SOS ( ) Mas os excessos nao controshy
[ados Porque eu neste momento estou a entrar numa de cxccssos
251
PESOS HALTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)ALTERADOS
mas controlados Os excesses tem que scr controlados Cbull ) A nIve
de problemas 0 unico problema que traz no fundo eisso quando os
excessos nao sao controlados De resto nao enada assim de
28 ANOS 110 ANO pOLfClA PRATICANTE DE MIJSCULAltAo
Apesar de serem mobilizadas no sentido da conformidade aos rnodeshy
los corporais referencia e reverencia as praticas muscula~ao e seus
sistemas f1sicos derivados podem a qualquer momento ver-se desvirtushy
no seu sentido original quando os projectos corporais que alimenshy
tam se rll1icalizam pdo excesso de di~ciplina na eonformdade aos
1l10delos de referencia institufdos Este de comportamentos hipershy
diciplinad)s pode traduzir-se por exemplo em comportamentos
sifcdos Gomodisturbio dismorfC( muscular mais vulgarmente conheshy
ruygttYl a vigorexia Tambem descrita como complexo de Adonis
ou anorexia reversiva39 trata-se uma sindrome caracrcrizada
bLW dos seus portadores geralmente homens e independentemente da
sua museulatura (embora sejam normal mente bern desenvolvidos)
deterem uma auto-imagem corporal diswrcida e persistente no
de se sentirem muito pequenos fraeos e frageis
simultanealllente pdo deseio de serem musculados e 0
medo de screm magros desenvolvem uma exceSSlva
exerdcio (ouertrtlining) por um tipo de hiperproteico
e pelo consumo regUlar de produtos sintcticos anab61icos e outros no
sentido de hipertroflar 0 seu sistema muscular A vigilancia dos resultashy
dos obtidos atravcs d3 flta mctrica da balan~ e do espeIho bem como
a reClef1iii~aoae e Slmeshy
tria de cada museulo e tambcm constante
riscos que potencialmente correm continuam a acreditar no seu poder
autocontrolo e em mante-Io em nome da sua saude Efcmeras ilus6cs
prometeicas que a seu tempo sc poderao transformar em f1tais
soes
255
CLASSES ASSOCIATIVISMO E ESTADO
edos (200~) Cultura da e vol 3 nY 13-25
in A Festa EdlJCaao Fisica Acampanh anti-patriotic que n 5279 17 ana 6 de JUlho de 1926
Jorge Crespo (1977) Hist6ria Ludens 2 n 1 45-52 Rui Gomes (1991) Poder e saber 0 corpo (1936-19401 de Educoao n 2middot3 Building a motor habitus physical in the Portuguese Estado Novo Intrmiddotmrrtionn
ofSpGrt vol 45 0 1 pp 23-37 -1 Prlt3tj r a corresponde ao que em
em muio as tor mas mai~ retentes e
5
in Ant6nio forg)
(19901 volw co POllugal Contemporonco (1926- (958) vol IV Usboa Alfa 333-338
10 In Ines (1999) Dons eDisciplinas do Corpo Feminino 0 OiscursoS5obre 0 COPO nu Historin do Esturio Novo bsboa Qrqanizcoes Nao Govt~rnamcntais do Consultivo Comissao 19ualdade e
3940 CGvalho (2005) lxplorando transferenci8lt nal prrmeiras deeadris
S~(ulo An61iseSocfaf vol XL nO 499-518j
12 In Hui Gomes (1991 I op 130 musculado dr Taborda chamava
do ~e(u0 nao Coriu dos Reereio$ do Desportos tambem aDs pal(os alem de ter sido (incovezes campeao rnundial e vezes
europeu de luta livre foi ainda ballarino Udo ern Paris e como duplo em algumas ploduoes de
Garcia Alvarez Onde para a rua ern corpinho bern Record Ana XXiii n 21B915 de Junho 1972 p 9
15 Ver Valter Cutum e IdentidadeA costuro social do moda em lIumanas (tese doutor
idrntitariamp na ocie Ide da Silva (orgs) tineroriw
pp671-689 17 Olivia Newton~ John liderava lugares clmeiros tops de vend as com a
can lao Lets get Physicol Jane ronda tornava-se na de marea da aerobica urn novo sistema fisieo mente teve exito atravegt do livra video best-seliersJane fondas Workout Nestes a dernonstrava eio a ern Beverly Hills por forma ao pratieante poder reproduzi-o no recolhimento do mats convlesse
1B Pam se ter uma no~ao compsritiva 0 futebol tem 1D0Y madamentc 150 mil praticantes federados ern Portugal 19 anuais elaborados Deia International Health
Association em (onjunto com J DeJaiHe e furor neilmente cedidos pea Associaao de Empres3s de Gi nasi os eAcademias
256
PESOS HAlTERES E SENTIDOS DOS CORlOS (H)AlTERADOS
19921) 0 Crepuscuo do A Etica Indolor des p129
a frente sao provenientes de urn con~ rnUSCLH3cao 110 ambito do de investiga~ao
por Vi tor a deeorrer no
maSCUlniOaCie in Miriam Golddenberg
[uitu[ois reoctonadas com 0 estetica eo jcrrl-eMo Otlsfrvat6r[o Que 0 Estado ja navia atraves da de distiplina de
Crespo Pedro Alcltlntara do (2009) 0 Estadoda Saude em Portugal USDaa Impreno
d~ (~iend3s Socials Segundo dados pelo Eurobarometro em 73 da populao nao praticava
reguiarmente exercicioshyVitor Seraio corpo in Machado Pais
peronte 0 Corpo Geiras Celta
qualquer reiaao d~fecta de causa-delta medida qlle ficarnos estimular a pratica de exerricio fisico
rontrario previa refexivamente PBra 35sodados asua
i~aizado noambJto do Observat0rio Perma-Ver Vftor Fcrrrira
33 Onde de metade (49) admitiu muscula~ao acrescendo 18 que afirmaram ter praticado
o
reverse
Adalescincio Latinoomericono volume 2 n 2 pp 97-101
257
Pesos halteres e sentidos dos corpos (h)alterados urn seculo de muscula~ao
em Portugal
[VfTOR SERGIO FERREIRA]
A muscufrio corresponde a uma actividade fisica que pressup6e a
realiza00 progressiva de urn conjunto de exerdcios racionais met6dicos
instrumentais e repetitivos de forlta e resistencia que implicam a sobreshy
carsa de zonas muscu~ares concretas com recurso quer aos tradicionais
pesos livres como barras -e alteres quer a cad a vez mais sofisticados
aparelhos ergonomicamente adaptados avariedade do corpo humano
Capitalizado nas suas capacidades motora e energetica 0 investimento
corporal implicado na musculaltao e potencialmente traduzivel em forlta
e desempenho fiico
No entanto recentemente em tempos de carpolatria l a sua capishy
talizaltao em termos esteticos e pListicos tambem tern vindo a ser valoshy
rizada quando 0 movimento implicado neste sistema fisico passa a ser
convocado sobretudo com 0 objectivo de esculpir e moldar a materia
organica a carne Numa sociedade gue cad a vez mais prescinde da
forlta e do seu rendimento 0 musculo gue a potencia converte-se
simplesmente em aparencia
De facto a I6gica da promoltao da imagem tern encontrado na
musculaltao urn dos dominios de aplicaltao por excelencia De acordo
com a frequencia semanal da pdtica as cargas utilizadas 0 numero
de repeLlc6es a velocidade e a amplitude de execultao cada exerdcio
obtem diferentes resultados sobre 0 crescimento da massa muscular
231
CLASSES ASSOCIATlVISMO E ESTADO
do praticante desde a sua manutenltao tonificaltao ou definiltao ate
ao seu aumento acentuado designado hipertrofia
A musculalaquoao difere do tlsiculturismo do halterotllismo (levantashy
mento de pesos olfmpicos) ou do powerlifting (levantamento de pesos
basicos) na medida ern que se trata de uma actividade ffsica praticada
uma forma nao competitiva - ainda que normalmente 0 treino com
pesos e tfeinos de for~a fatam parte do de aClividades dos
atletas dessas modalidades Foi alias sobretudo enquanto treino comshy
plementar funcional e sem autonomia espedfiea que subsistiu ern Porshy
tugal durante grande parte do seculo xx De facto apcsar presente
no pais a pratica mnselllaltao enqultmto actividade fIsica relativashy
mente autonoma outras nao obteve sucesso senao recentemente
C haUeres no
do povo portugues
Escrevia-se na coluna sobre Vida Sportiva do jornal A Capital em
1926 em jeito de critied aeampanha publiea que estava a ser realizada
do rninistro da Instrulaquolt1o para terminar com a Parada da Ginastica
da Festa Nacional de Edueacao Ffsica I Ioje em rodas as nar6cs civilizashy
a educaltao tern urn lugar paralcIo aeducarao mental E
Porque cIa e considerada nao apenas como urn passatempo 11111 recreio
uma missao mas prineipalmente como 0 linieo meio de conservar e
melhorar um povo uma ralta Euma obrigaltao individual eum dever
sociaL Logo e preeiso mais e indispensavel que reeonheyam a
absoluta nccessidade da eduealtao corporea Nos nOSS05 mats ao que
nunea se veritlca que para Imar eom vantagem contra as tempestades
vida nao basta eapacidadc mental - e indispensavel eapacidade ffllica
Esta e uma verdade incontesciveL E nao queirarn fuzer dos rapazes plantas
de estufa ( ) Se os exerdcios exibidos sao violentos 0 que e bastante
discutivel reduzam-se substituam-sc modifiquem-se mas nao se deixe
de realizar essa festa louvavel sob rados os pontos de vista1
232
I PESOS HALTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)AITERADOS
I Certo e que a eapacidade fisica da moddade da epoca nao era das
mais roblL~tas Alias a mesma pagina desse jomal apresentava urn pequeno
anlmcio publicitario as vantagens da Farinha Lacto Licishy tina do Deposit6rio exdusivo Raul Vieira Lto para combater 0 raquishyI que dominava entre a juvcntude da epoea No mcsmo senti do
era talllbem anunciado na primeira pagina mesmo jomal 0 Iodo-I
I
wn reconstituinte poderoso cientffico e racionaI especialmente
dirigido a crianltas fracas Numa epoca em que a fome e as mas conshy
dic6es de vida grassavam em Portugal debilitando a saude 0 rendishy
mento 110 trabalho e ate mesmo a de muitas erianltas e jovens 0
lCvigoramento fisico das Illais novas geraroes rornou-se urn projecto
do regime que se instaurava
Entre os varios meios cientificos disponiveis ao desenvolvimento
eorpos franzinos e raqulticus a Educaltao FIsiea enquanto disciplina
providenciada pelas insrituioes publieas foi assumindo
mas nao sem Entre varios motivos porque 0 regime nao
pretendia que esta disciplina integrasse exerdcios violemos Estes nao
s6 poderian1 lesionar as ja fdgeis corpos dos seus cxecutantes como
ainda estimlllar a produltao desses corpos herclueos que sistemas Hsicos
estrangeirados nomeadamente provenientes dos Estados Unidos da
America tentavam iaInbem moldar no pais esta nao
simpatizava com esses corpo eolossais que 0 repllblicanismo havia proshy
nao apenas par uma questao estctica mas sobretudo pelos
res modemos e progressistas que representavam
Sfmbolo mundano do ascetisrno earaeterlstico da etica protestante
anglo-sax6nica 0 body building - forma como a muscula~ao eomerou
por se chamar4 - representava nao apenas valores como disciplina e
esforlaquoo mas tambem sucesso elllpreendedorismo e fona de vontade
pessoal fundamentais ao funcionamento ordeiro de uma sociedade que
se pretendia democratica racionalizada e industrializada Surgida na
lnglaterra vitoriana de meados do seculo XIX foi de facto nos Estados
Unidos da America que a muscularao mals se expandiu enquanto sisshy
tema Hsico criado com 0 obiectivo de moditlcar os corpos sobretudo
233
1 CLASSES ASSOCIATIVISMO E ESTADO
masculinos atraves do aumento hiperb61ico da massa muscular Foi at
que desde finais do seculo XIX esse sistema fisico passou a ser produzido
em larga escala sendo comercializado nacional e intemacionalmente5
Comeltou por ser urn sistema fisico desenvolvido por entre gentes
de feiras circos e freak-shows itinerantes por entre a Europa e os EUA
onde corpos apolineos de lutadores e artistas-Ievantadores de pesos e
alteres em tangas de pee de leopardo participavam de uma cultura
visual que hiperbolizava a virilidade masculina atraves de demonstrashy
ltoes espectaculares de volume e forlta muscular Depois autonomiza-se
e amplia-se com a emergencia de campeonatos desportivos bern
como de todo urn mercado de equipamentos e sistemas de produltao
muscular que veio a estend~r-se dos clubes ou sociedades de ginasshy
tica a proprilt1 vida domestica e profissional com a comercializa=ao
de maquinas e sis[emas de movimento para utilizarao na sala eou roo
local de trabalho
Ainda que xiLanJ indicios da tentatiYa de integrarao deste tipo
de sistema em Portugal a visibilidade social que colossos musculados
poderiam obter era susceptive de ferir a paisagem moral que Salazar
idealizava Corpos como 0 de Manue da Silveira6 ou 0 de Francisco
Padinha7 - famosos recordistas mundiais de pesos e halteres durante a
I Republica ~ nao eram especialmente apreciados peas novas instancias
de poder
Em ruptura com concepltoes libertarias e viciosas do republicashy
nismo 0 corpo masculino ideal do Estado Novo nao correspondia a
uma cultura fisica atletica em que as priticas fisicas de modificaltao
corporal serviriam propositos frivolos hedonistas e individualistas assoshy
ciados abeeza ao prazer e asatisfarao pessoal do homem Aquee corpo
vinha antes ao encontro de uma cultura fisica higienista e moralizadora nao so com 0 objectivo colectivo de tomar os corpos dos jovens portushy
gueses mais fortes resistentes e imunes mas tambem socialmente mais
respeidveis e disciplinados A promoltao da saude do corpo nao s6 se
revearia no rendimento fisico do trabalho como Faria transparecer as
qualidades morais do individuo que se pretendiam de acordo com a
PESOS HALTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)ALTERADOS
nova ordem moral e social pretendida para a narao portuguesa Cada
corpo individualmente deveria entregar-se aautoridade do ideal colecshy
tivo e deixar transparecer os principios cristaos e politicos do regime
urn ideal fisico de virtude e pudor obediencia e disciplina sobriedade
e austeridade higiene e robustez8bull Urn corpo dedicado a Deus aPatria
aFamilia e ao T rabalh09bull
Instituiltoes como a Mocidade Portuguesa ou a Fundarao Nacional
para a Alegria no Trabalho em articularao com instituiltoes medicas
desportivas pedagogicas eclesiasticas e politicas adquiriam urn pape
central nesse projecto colectivo Atraves deas 0 Estado Novo tentava
toniflcar fisica e moralmente a sua juventude reformando-Ihe 0 esqueshy
leto ea musculatura tornando-lhe 0 espinhalto rijo e 0 pulso vigoroso
camo descreve Ines Brasao lO bull 0 incitamento ao exercicio fisico que os
jovens encontravam nessas organizaroes visava [[ansformar potenciais
corpos definhados enfezados e raquiticos em corpofrobustDs corados
e verticais capazes de enfrentar quaisquer adversidades a bern da naltao
Scm alinhar porem nos principios tecnicos e morais do body building norte-americano evitando que 0 corpo dos seus praticantes Fosse abanshy
donado a excessos apoHneos e narcisistas
A preocuparao poHtica com a fisicalidade dos portugueses favoreshy
ceu sim a adopltao do sistema fisico de Pehr Henrik Ling (1776-1839)
urn sueco cuja doutrina de educaltao fisica havia sido posta ern pratica
em outras naroes europeiasll 0 objectivo deste sistema nao era 0 adenshy
samento do sistema muscular mas 0 desenvolvimento racional de roda
a fisiologia e morfologia corporal de forma a socializar 0 praticante no
autocontrolo social das suas manifestaltoes fisicas e emocionais Vulgarshy
mente conhecido por ginastica sueca tratava-se de urn sistema racioshy
nal de exercicios localizados e sequencialmente cadenciados promotores
da respiraltao da verticalizaltao do aprumo e da correcltao dos movimenshy
to Executados em colectivos sincronizados e uniformizados de branco
sugeriam uma imagem de disciplina e ordem de pureza fisica e moral
de cooperaltao e de exortaltao nacional que esbatia e determinava as
singularidades de cada corpo fisico em nome do corpo social
234 235
CLASSES ASSOCIATIVISMO E ESTADO
Do sistema de Ling pretendia-se 0 adestramento de
des instintivas dos jovens rapazes atraves da incorpora~ao do gosto
disciplina e obediencia ligado a uma instru~ao militar preparat6shy
ria vocacionada para demonstralt6es de engralldecimento e exaltaltao
da patria bem como a seu tempo para a defesa do Imperio A forlta e
) tonicidade dos carpos masculinos bern como a ordem e a disciplina
colectiva quc demonstravam aquando das marchas plihlicas dos
filiados nos quadros da Legiao ou da Mocidade Portuguesa
simbolicamente a projecltao social da for~a do Estado sobre 0 territorio
nacional e imperial Mais do que replicar criterillS bcleza associ ados
a toniftcalt~o muscular a gi1astica suecaambicionava promover aptishy
does morais =1UaVeS do descnvolvimento racional e equilibrado d~ fisioshy
logia e morfokgia do corpo Cumprir-sc-ia assim 0 adestramento corshy
poral prescrito por Juvenal- mens sana in corpore sana - maxima eF
que em saLujsmo escorrcito queria dizer t()rmaltao da consciencia na
e atraves da disciplina e submissao dO$
Sinais demudanlta medraram nas decadas de cinquentae sessenta
Algumfl ousadia e desejo de ruplura nas atitudes e cuidados com 0
corpo ganharam enfase por cntre as camadas juvenis mals escolarizadas e nem sempre d6ceis e acriticas Muitos rapnes e rapallgas as corpos nao tanto pOl referencia as insrancias socializadorao do regime mas reportando-se as corporalidades
mais mundanas que se davam quotidianamente a ver nos jornais revisshy
tas cartazes espectaculos cinema e televisao Movidos pelas novas
referencias simb6licas que estes meios trouxeram assim como pelo
proprio comacto social quotidiano com os sectores femininos da popushy
laltao quer no trabalho quer na vida mundana os homens veem-se
socialmente pressionados para melhor cuidar a sua
corporal
A clegancia corporal de cones cinematogrMicos como John Wayne
Clark Gable ou Gregory Peck concorria socialmcnte com a virilidade
ostensiva de corpos como 0 de Tarzan Taborda13 pOI exemplo que
atraam a ateIlltao dos home11s e 0 desejo das mulheres para os ringues
236
PESOS HAITERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)ALTERADOS
portugueses de lura livre Escrevia Garcia Alvarez no jornal Record
ainda em 197214 Embora possua pouca yoga no 110SS0 Pais 0
rismo consegue chamar a 5i a atenltao eo interesse de rnilhares de adepshy
tos e goza de justificavel prestigio em muitos paises do mundo
palmentc no outro ado do Atlantico Na America do Norte entao
multiplicam-se os torneios para apuramento dos corpos mais modelares
diremos mais modelados - subsistindo 0 maior interesse e
entusiasmo pelas sucessivas deilt6es do laquoMr qualquer coisaraquo que culshy
minam com os certames correspondentes adesignaltao do laquoMr USAraquo e
do laquoMr Universoraquo A Falange feminina nao perde pitada destas compeshy
tilt6es seguindo com entusiasmo indescridvel as actua~6es mais salientes
respectivos idolos do momento
A tradicional alfaiataria entra em crise nos anos setenta nomeadashy
mente com a emergencia industria do proflto-a-vestir uma realishy
que tambem c011quist3 0 consumidot masculino 15 As Iinhas rna is
iDrmais e rfgidas no modo de vdtir sao ahandonadas e suhstitufdas
por uma moda jovem promotora lima silhueta mais leve e conshy
forrive que marcava e enfatizava as formas corporais Por outro
a progressiva expansao do direito a tempos de lazer e a ferias remuneshy
radas simuldlneo a propagaltao de parques de campismo e dos ideais
contacto com a Natureza tambern contribula para a exposi~ao de
urn corpo que se deveria mostrar atractivo por emre trajes de a
banhos cada vez mais cunos
Libertando-se das vesLimentas que os encobriam e dissimulavam
as corpos vao-se entao progressivamente desnudando e exibindo ao
lange da segullda metade do seculo XX portugues Vma liberdade
contudo condicionada por novas forltas e institui-oes sociais geradoras
de novas exigencjas e expectativas sociais que em condilt6es de exposishy
publica os tendem a encarnar e a moldar
nao vdculo de um projecto de identidade naclOnal au apenas
instrumento que carece manter robusto encrgico e bern nutrido para
trabalhar e garantir a sobrevivencla 0 corpo p6s-democratico ganha
visibilidade e valor social entre as mais novas de portugueses
237
U ~1~
i11
CLASSES ASSOCIATIVISMO E ESTADO
enquanto acessorio de identidade pessoal que urge cui dar investir e
plan ear Particularidades 1uperHuas que passavam discretamente por
entre roupas que 0 vclavam ganham 0 estatuto de imperfeiltao que urge
combater em nome novos canones corporais 0 corpo deseja-se agora
perfeito reHectindo uma imagem jovem e saudavel
o projecto colectivo de revigoramento f1sico politicamente conshy
duzido entao lU2ar a projectos individuals de manutencao e modishy
ficacao aconteceu nao apenas devido amudan)a de regime
politico mas tambem no contexto de urn conjunto alterayoes estrushy
turais na sociedade portuguesa ondc novos agentes e dinamicas mershy
cantilistas passaram a investir em forra Os pesos e halteres ltllCaUaIll
urn novo protagonismo social no mercado poftugues ganhando novos
contextos sociais e novas contlguraocs em varias actividadesffsicas
meios competitivos do balterofilismo do boc ou da
luta liv- ondc cram convocados como treino complementar para
autonomia relativa nas inumeras salas de ginasio e health
dubs onde passaram a ser mercantilizados no ambito de modalidades
pr6prias
Pesos e alteres na recente industria de design corporal
N urn contexto onde homens e mulheres passaram a exibir e
mais atentamente as suas aparcncias as foryas privadas do capitalismo
acabaram por contribuir mais do que as instituiyoes publicas higienistas
na difusao de novos habitos e cuidados corporais A incipiente
da moda e do design corporal que ja havia despontado antes do de
Abril cresce numa escala mais alargada e diversificada fragmentando
produtos e clientelas e alimentando expectativas e aspiraltDcs diferenciashy
das do passado Mais do que 0 ambicionado relligoramento fisico as
exigencias e desejos sociais gerados por essa industria VaG agora no senshy
tido do rejullenescimento C do aperfeiroamento da imagem e forma corshy
porais produzindo a ilusao massitlcada de cada um planear e
238
PESOS HALTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)ALTERADOS
esculpir 0 pr6prio COIPO dentro urn padrao de beleza estabelecido
globalmenteo
Novas lojas fabricantes e empresas nacionais e internacionais vem
afirmar-se no mercado portugues disponibilizando modernos e
ticados produtos tecnicas e serviyos de modificacao e manutenyao
corporal em esferas diversas Da cosmetica a da cirurgia
ao nutricionismo dos centros de estetica aos spa toda uma pletora
de bens tecnologias e servios de bem-estar e bem-parecer do corpo
que prometem 0 ajustamento aos canones corporais do momento l6
por sua vez no que a masculinidade dizem rcspeito veem
substituir a clegancia eo glamour das estrelas de cinema dos anos cinshy
quenta pda fora e vigor de herois de torso em forma de V represenshy
tados por Arnold Schwarzcnegger Sylvester Stallone ou Jean-Claude
Van Damme
POI entre esra florescente industria de aesigncorporal o cresshy
cimento de iniciativas comerciais de actividade fisica geridas por pane
do sector privado qlier ao nlvd do invcstimento em produtos para
em espao domestico desde sistemas de exerdcios peri6dishy
cos espccializados roupa e calltado ate equipamemo caseiro diverso17
quer ao nivel do investimento em espayOS colectivos proporcionadores
de um conjullto de produtos e servios bem-estar e bem-parecer
Esses espayos colectivos comc~aram por assumir a forma de ginasio
de bairro contexto popularizado nos anos oitenta Nestes a musshy
culaao surgia com lugar destacado ao lado de novas modalidades
como a ginastica aerobica a primeira mais orientada para urn publico
masculino a segunda para urn pliblico fcminino A pratica da muscushy
lacao poren1 ja adicionava aos tradicionais pesos e halteres rnodernos
cquipamentos ergonomicos dotados de um design mais apelativo onde
cada detalhe passaria a ser concebido com 0 intuito de proporcionar aos
novos LlllLaUUU~ urn trcino menos arriscado e sofrido mais comodo e
con fomlveL
Postcriormente ja proximo anos noventa a musculayao toi
dlUIlllUa no con texto dos clubs que vieram a instalar-se
239
CLASSES ASSOCIATIVrSMO E ESTADO
em espaos multifunciol1ais deposidrios de valencias diversas
nas areas da da saude da alirnentacao e do lazer corporal muishy
tos representantes de cadeias internacionais que se instalaram em
algumas das principais cidades pormguesas com elevados invcstimentos
em sofisticadas tecnicas de gestao mflrketing e publicidade para cap tar
e ftdelizar potenciais publicos-alvo Entre 0 ann 2000 e 0 ana de 2008
o numero de health clubs em Portugal passou de 600 a 1400
bando mais de 600 mil mernbrosl 8bull Com uma
57 em Portugal estas estruturas facturam
euros
ras os
mais 1
mIS riscos e caracteristicas
um programa de Heino adequado a detershy
rrunaao corpo e acompanhar individualmente a sua exccuao
- C0 do egolmilriintO que perpassa no desporto
amador contemporaneo um dos produtoslservi~os em que
os health clubs mais apostam hoje ern dia devido aos ganhos financciros
proporcionados exclusividade desse servico urn dos mais caros para
o cotlSumidor
Concomitamemcntc novas actividades ffsicas e desportivas emershy
gem no ambito destcs novos espaos anunciadas como esteategias para
enfrentar e Edar corn os duros dcsafios da sociedade contemporanea ao
mcsmo tempo que velhas modalidades se rcnovam e sofisticam transshy
formando-se em mercadoria vendavel e derelativamente faeil
lidade Sistemas fisicos ancestrais como 0 por
exemplo ou ate mesmo varias artes enquanto
no
A sempre presente nos ginasios
a pesos e halterc~
240
PESOS HALTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)ALTFRADOS
acurnulado de
oHlzaoo de
dlllCllU e coreografado ao
fIrmo de musleas do momento que apresenta como relatishy
vamente ao esquema anterior 0 facto de eoncentrar uma quamidade e
de exerdeios musculares num curto periodo de tempo
45 a 60) reeuperando as da pratica desporriva
em grupo e desta fonna proporcionando um ambieme estimulante e
divertido
o objccrivo inicial do body pump nos anos novema ted ido em
medida lucrativo atrair 0 publico-alvo maseulino para a pdtica
de ccrclcio fisico eolectivo nomeadarnenLe ao da ginistiea aeroshy
scm contudo deixar de Ihes proporcionar 0 e atletieo
que indiidualmente a pcatica da musculacao lhes concediarn O~fdy
pump a par de outras modalidades que foram sob 0 mesrno COI1shy
ceito (designados de body training ou group como 0 body balance body combat body body
jump ou 0 spinning - RPlvf) tern a
registadas
monitores
COlllerClaUampauas eoroduzem-se exactamente nos
exerdcios e re1pectJlVO
uallzaao a cada tees meses de a a desmlotlV3ltao
por via da repctiao continuada
muitas dessas modalidades nos anos noventa vieram
U~LdUlUllC no sentido de diminuir 0 sofrimento do treino solidrio ClStishy
dioso silencioso e ascetico gue ate af implicava 0 treino tradicional de
muscular substituil1do-o pelo divertimento proporcionado
soeiabilidade e a mitsica que passaram a parte desses sistemas
241
- CLASSES ASSOClATrvISMO E ESTADO
treino 0 que vern corroborar empiricamente a hipotese avanshy
ltada por Lipovetsky de que hoje em dia 0 desporto de massas eessenshy
cialmente uma actividade dominada pda procura do prazer
mismo energetico da experiencia de si proprio depois do desporto
disciplinar e moralista cis 0 desporto-lazer a desporto-saude 0 desporshy
to-desafio Da pratica desportiva esperamos apenas sensalt6es e equilibr
valorizasao individual e evasao norma e descontraclt3o ja nao e a vinude que legitima 0 despono mas sim a emmao corporal 0 prazer
a forma e psicologica 0 des porto tornou-se urn dosemblemas mais
da cultura nardsica centrada no extase do
Oprocesso crescimento e de diversiflcaltao comercial das activishy
rades ffsicas indoor beneficiou durante os anos oitentac noventa
uma conjuntura economica favorivd caracterizada pdo aumento do
poder de compra da populaltao portuguesa tpela melhoria das de vida alguns dos seus sectores e sociais nomeadamente
classes rr Mias A proliferalt3o de gimisios health clubs foi ltlinda
favorecida pdo prolongamento quer da esperanlta media de vida quer
das processos de escolarizaltao e de transiltao para a vida adulta Estas
din1Unicas que efectivamente fizeram dos reformadas e dos jovens
estudantes publicos-alvo fundamentals na promQ(ao de actividades
fisicas no espalto do ginasio considerando 0 tempo que tern POLCllUltUshy
mente disponivel ao longo do dia nome~damente fora das hons
maior wifego nos ginasios (perfodos almolto e p6s-laborais)
Urn outros pltblicos-alvo a que este segmento da indUstria de
design corporal mais se tem dirigido tern ido os homens mais disponishy
ao consumo dos sellS produtos e servi~os A imagem de
pader e competencia produzida e difundida pela publicidade e pclas
revistas hoje dedicadas ao segmento masculino ji nao e reflectida apenas
atravcs de sfmbolos tradicionais consumo masculino como 0 carro 0
relogio ou a can eta mas tam bern atraves investimentos na proawao
e manutenltao da aparencia fisica que tende a perder 0 formalismo do
fato-e-gravata A imagem de urn hamem atletico e cuidado passa a ser
inclusivamente apresentada como chave do sucesso entre as
242
PESOS HAITERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)AITERADOS
mais exigentes quanto aDS cuidados masculinos com a imagem Esta nova
mostra um novo homem preocupado com a flexibilidade da
sua pele com a domesticaltao dos seus odores com a qualidade do seu
[[sico com a tonicidade da sua silhueta com a definiltao do
seu abdomen com 0 volume do seu biceps A pdtica de musculaltao
assume entao tun valor estratcgico na produltao do actual corpo mascushy
referencia e de reverencia
Trata-se de facto do regime corporal socialmente mals difundido
estrategia de promoltao de urn modelo corporeidade ma~cu-
modelo adetico com acento na potencia vitalidade
IHUgtCUlaL 0 que de resto nao sera de surpreender dada
a diiilsao incorporada de estereotipos da sociedade ocidental sabre a masshy
que tradicionalmemc ligam os padr6es de perfectibilidade e
atractivlhde masculina ao modelo de corporeidade mesomorfico e hipershy
troEado em medida cOlldensado na massa muscular tCUlllUldUd
nos peltoral~ braltos e costas esnuturando um torso de
adclgalta ate a
Um homem deve ter os ombros mais largos do que a anea ter uma
anca fina e deve ser algo robusto mats cheinho Mais cheinho
mas nao e em gordura e em musculo ( ) Estou contente com 0 ter
aos 80 Guilos Acho que eu ainda tenho muito parauabalhar
ainda me falta muito trabalho frente Ainda vai ser uma coisa
que YCJo-me nos pr()X1mOS 6 an os a ter de trabalhar 0 corpo ate cheshy
gar 11 tal forma ideal ao corpo ideal ( ) Eo tal corpo masculino com
os ombros mais a cintura mais em V - Ii esra 0 torso em
V - e musculado
ESTUDANTE UNlVERSITiillIO 21 ANOS PRATICANTE DE MUSCUIAtAo
porem scm a rudeza do passado impressa pelas condilt6es de
nabalho que sem intenltio moldavam 0 corpo 0 corpo do hom em ja nao
e urn mero instrurnento que se abandona ao trabalho mas de proprio
243
CLASSES ASSOCIATfVTSMO E ESTADO
MlllUCla como COOl
extracltao total dos pel os que possam encobrir 0
ao
da simetria muscular conseguida
Mas os corpos femininos tambem nao ficaram de fora dos sistemas
fisicos associados a muscutaltao Com objectivos mais moderados em
termos de volume corporal e sobretudo direccionados para a perda de
adiposidade e tonificaltao determinadas zonas do corpo as mulheres
encontraram res posta aos seus anseios corporais sobretudo nos body Mesmo
aos pesos e e aoontrario
publico masCilliri~ as roulheres tendem a
do corpo como (lllS de intervenltao prioritaria no sentido da manuten
ltao ou mociitJG50 Face a tais aspiraltoes a chegoll
a conceber um sistema fisieo particular para dar ao pllbico
especificameme feminino comercializando-o sob a designaltio de GAP
uma modalidade que promove 0 trabalho de resistencia e forshy
talecimento atraves de varios exerdcios localizados nas zonas
dos gl(lteos abdommalS e pernas
Eu era ter aqude corpo musculado corpo bonito
que tada a gente rilio e () Nao llma mulher eXclgeJradamell1le
muscuCida porque perde os trayos femininosEuma mulher ddinida
Nao precisa de ser magra Nao acho que eaquele estereotipo de magre-La
que cada vez ha mais que leva as miudas hoje em dia a rornarem-se
anonxicas ( ) Hoje no ginasio a imagem que se quer passar e que
essa nao ea nao eo ideal de urn corpo 0 ideal de urn corpo e umamulher a mulher nao precisa de estar MOr
desde que bem ueWllUa e0 ideal
23 ANOS 120 ANO INSTRJroRA DE CARDlo-FrfNESS
244
PESOS HALTERES E SENTiDOS DOS CORPOS (H)AIrERADOS
tern
cas no seio da industria de design corporal Como assinala Fortuna
os de edllcalt3o ffsica tinham como vocaltao disciplinar 0 corpo
para for mar rnelhores cidactios mais saudaveis e competemes prepashy
rando-os para os desafios das novas sociedades surgidas com a industriashy
os actuais health clubs por seu lado associ am a juventude a
beleza e a satide do corpo aamo-confianya aauto-estima e ao bem-estar
ol(rcendo prodmos e serviltos a moldar 0 corpo amedida
e preocupalt6es de
outros mats imageticos
some body Estar em mostrar (determinadas)
A manifestalt3o mais valorizada do corpo saudavel deixa de
ser a seu rendimeDto fo1lta e para passar a ser a sua aparenshy
cia A sallde cosmetiza-se e torna-se num fen6meno estetico nao basta
mante-la mas fazer transparece-la nomeadamente atraves da aquisiltao
urn corpo perfeito Este par sua vez passa a ser condiltao sine
non para 0
Higt LdllI-la para a ser
Eu via que tinlIa urn corpo com varios problemas Precisava de
rirar a barriga algum poeu e Tinha urn peito quase fundo dentro
quase que nao se via a barriga mais saida que 0 peito Via que tinha
problemas e estava a caminhar para 0 problema da obesidade ( )
Agora quando olho para 0 espdho vejo urn corpo perfeito 0 que todo
o hornem gostaria de tef E simo-me orgulhoso por isso
AUXILlAR DE ACOO MEDICA 120 ANO 24 ANOS
PHKnCANTE DE
245
CLASSES ASSOCIATIVLSMO E ESTADO
despono ou pelo menos efectuar com regushy
[sica passou aser nao apenas urn direito25 mas
tambem urn dever sociedades contempodneas um
cuja falta acarreta frequentemente sentimentos de culpa pessoal
e aclt6es de sanyao social sobre aqueles que se encontram pouco
a descobrir as suas supostas vantagens ou cujos corpos se afastarn
da normatividade da silhueta canonica quese deseia bem deflllida e
tonificada
Pesos e halteres entre 0 estUode vida saudltivel doeura ddec a a sau
Se a pFl1rllpaltao com os cuidados corporlis era anteriOrrneHr proshy
pria das classt~s onis lhastad3s nas condilt6es
oitenta f) portugues comum passa a tcr acesso em qualqucr sureil1ler~
cadoa uma pan6plia de prodUloh tecnicas e servicos que prometem criar
e conservar um corpo jovem perfeira e saudive qualidades de refeshy
rencia e reverencia no culto conremporaneo do corpo Socialmente apreshy
sentados e mercantilizados em associacao acriacao de urn
produtor de salIde e preventor doenca tais produtos tecshy
nicas e servi~os sao frequentemente assumidos na vida quotidiana Como
sendodo oll mais importante que os propdes servicos de saude e de
prestacao de cuidados medicos na concretizayao do bem-estar fisico e
psicologico das pessoas A ideia hoje partilhada no imaginario
de que a saude ealgo que se conquista ccoroHrio simb61ico da delegashy
ltao social no individuo das formas manutenlt3o controlo e vigilancia
do corpo que outrora haviam sido exercidas pelas autoridades
A difusao e enraizamento social da assuncao de que e possivd obter
e manrera saude do corpo atraves do envolvimento do individuo num
de pratiCa5 ditas saudaveis acabaram efectivamente por impushy
tar a cada urn uma responsabilidade crescente pelo seu estado de
Concomitantemente em alguns contextos forneceram argumentos a
246
PESOS HAJTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)AIfERADOS
desresponsabiliza~o parcial do Estado em materia de ULUltlUU medicos
e sallde publica Doravante nao esuposto que os cidadaos necessitem
de instrw5es das autoridades e instituiltoes publicas sobre como cui dar
sua existencia ffsica 0 corpo passa a ser urn espaco regulado
opc5es e escolhas de cada urn entre a pleiade de produtos tecnicas
e serviltos actualmente ao seu dispor
Sob a egide da crenca na autoridade pessoal sobre 0 corpo cada pessoa
apartida detem plenos direitos sobre esse bern patrimonial sen do igualshy
mente responsive pelo cumprimento determinados deveres sociais
Estes passam entre outros pdo governo da sua respectiva aparencia e
de vida Ao indivfduo eatribufdo urn papd preponderante na
identificaltao e controlo atempado dos sintomas de patologias diversas
problemas cardiovasculares na preVcncao perante condutas
risco (nomeadameHte atTaves da redwao doakool e do tabaco
obrigatoriedade de sexo protegido ou do exerdcia Hsico) au na
cia e evitamento do que sao socialmente considerados excessos (alimen-
tares exposicao ao sol de medicaliiacentio etc)
da adop~ao cada vez matS generalizada desta nova atitude de
pntdencialismo individualist a perante 0 bem-estar corporal e a evolultao
da oroDorcao de populaltao que em Portugal na viragem do
desenvolver algum tipo de aCyao no sentido de melhorar ou
manter 0 seu estado de salide Segundo 0 estudo 0 Estado de Saude em
entre 2001 e 2008 a percentagem de portuguese que afirshy
mavam estar a tomar no momenta realizaltao do inquerito alguma
iniciativ3 no sentido de mclhorar ou manter 0 seu estado de saude
viu-se aumentar de 368 em 2001 para cerca de metade da populaltao
(498) em 2008
Segundo 0 mesmo estudo essa evolultao e acompanhada da alterashy
de comportamento declarado rclativamente a determinados hibishy
tos de vida considerados saudaveis designadamente no que respeita
ao exerdcio fisico A percentagem de portugueses que afirmam
exerdcio [SICO regular (ginistica COffer etc) ve-se significativamente
de 33 em 2001 para 475 em 2008 Mesmo que 11ao
247
11
CLASSES ASSOCIATIVISMO E ESTADO
se traduza numa pratica efectiva27 csta evolu~ao corresponded
a uma assinalivel incorporaltao social do dezJer-ser contemporaneo da
actividade fisica A representaiyao desta enquanto habito de vida saudishy
torna-se clara quando noutra investiga~a028 se constatou ser entre
os individuos que mais regularmente praticam exerdcio Hsico que mais
presente esta a percep~ao do risco cia sua ausencia quotidiana29
e born esaudiveJ eurn habito saudaveL E como se
fosse lel livros sel inteligente Esras a arranjar 0 teu corpo Sabes
que vais chegar aos quarenta e tal arros e ainda vais estar born Agora
muitos chegam aos qualcrrra e tal anos e ja esrao com barriga e
com sei a ter tanras ~u~tas coisas Ficas mas saudivel se estas a
treinar bem e sew mdar contra a tua
29 ANOS LH ENClfO ENFERMEI(O PRATICANTE DE MusCutAltAo
A tendcncia para a crenlta incontestlvel no exerdcio fisico como
habito de vida saudivel nao se apresenta contudo disrribulda
igual maneira no espa~o social e cultural portugues Sao varios os estushy
que tern localizado urn maior enraizamento social da disposi~ao
para a pratica de exerdcio fisico entre as mais jovens geralt6es e entre
os individuos provenientes dos estratos socioeconomicos mais clevashy
dos Resultadonao apenas das novas con(li~6es de sociais economicas
e simbolicas em que as gera~6es pos-25 de Abril sao socializadas relatishy
vamente ao corpo e aos cuidados corporais30 mas tambem de urn efeito
de trnsltao no curso
Investiga~6es realizadas sobre a pnitica de actividades ffsicas entre os
jovens portugueses denotam-na mais regular e intensiva nos grupos etashy
rios mais novos nomeadamente ate ainserlt5o no mercado de trabalho
e aassunlt5o de novas responsabilidades familiares31bull 0 que indica que
amedida que as etapas do processo de transi~ao para a vida adulta se vao
cum prindo a pritica desportiva vai efectivamente sendo abandonada no
quotidiano dos jovens portugueses
248
PESOS HALTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)ALTERADOS
No caso especifico da 11l~LU1ltll-alJ uma actividade particularmente
exigente em termos do tempo dispoIl lVei para a sua pratica esta tenshy
dencia revela-se particularrnente marcante Trata-se no eatanto de
uma das modalidades com maior adesao efectiva ou potencial entre os
jovens em Portugal A sua pdtica efectiva (prcsente ou passada)
declarada por cerca de 12 da populalt5o jovem porttlguesa no ano
200032 sendo 34 a percentagem de jovens que nunca tendo pratishy
cado admitiram vir a faze-Io no futuro Quer a sua pdtica efectiva
quer a sua pr~hica potencial viram-se substancialmeme acrescidas entre
os jovens do sexo lTlasculin033 com idades compreendidas entre 18 e
anos ainda a residir com a familia de origem ou sozinhos solteiros
ou ja separados ou divorciados sem filhos Perfil dpieo para stlstentar
a hip6tese de 0 aumento de massa muscular ser urn investimento corshy
poral que corresponde ellliarga medida a uma fOlm~de capitalizar
o potencial expressivo do corpo masculino em estrategiasde atracltao e
sedult5o
Embora a disponibilidade potencial para a pratica da musculaltao
- nunca fiz mas admito vir a fazec surja praticamente transversal aos
jovens qualquer que seja 0 seu estatuto social ou habitat de residencia
o facto cque as condilt6es materiais de existencia continuam a constranshy
ger a sua ptatica efectiva Mais devada entre os jovens que melhores
condilt6es sociais detem para fa_zet face as mensalidades exigidas pelos
cspaltos destinados ao seu exerdci0 34 a pratica de musculaltao decrescc
amedida que se desce na estrutura social de 26 entre os jovens de
estatuto social alto diminui para 9 entre os jovens de estatuto social
mais baixo Do mesmo modo sao os jovcns que tern urn acesso mais
facilitado as instalalt6es que disponibilizam tal servi~o quem mais adere
efectivamente a sua pritica ou seja os jovens residentes em habitat
e suburbano 0 sanho em obter urn corpo musculado revela-se
portanto substancialmente mats democratizado na sua distribui~ao social
(mediaticamente amplificada) do que as condi~6es que perrnitem a sua
concrecizaltao
149
CLASSES ASSOCIATIVISMO b ESTADO
Para fazer [musculayao] como se fosse urn culto tern que se rer
tempo e disponibilidade E depois tern que se ter vontade uma
vontade E dinheiro Estas sao as coisas vontade dinheiro e disposhy
nibilidade
29 ANOS LICENCLADO ENFER1v1EIRO PRATCANTE DE MUSCULAyo
Tern que se ter muita forlfa de vontade tem que eter
tambem () torna-se a tal de qlle eu poundalo eV1Clame
( ) A pessoa para rcr urn corpo assimrem quI s~ trabalhar muito
nao e Nao e brincaJeira 1150 e E preciso urn esforyo de
tempo alillleatar A nutri(ao entao se para
rnentos tem que $( fr n30 IE pode
28 ANOS 10deg ANO DESEM[REGADO JTICANTE DE MUSCULAtAo
Mesmo entre aqueles que reunem as condic5es socioeconomicas
que permitem 0 acesso a constru~ao urn corpo de atraves da
de muscidacento nem todos dispoem das disposilt6es subjectivas
C(IgtIIld para enfrentar 0 longo processo da suaconcretizasao Euma
dctividade que quando 0 objectivo ea obtensao eoumanuten~ao
urn dado modelo de compleiltao fisica volumoso e definido exige dos
seuspraticantes trabalho arduo e dedicaltao quase monastica forsa de
e determinacao perseveranlta e espfrito de sacriflcio pain no abnegalt3o e autocomrolo e disciplina Nao e por
acaso que entre os jovens que praticam algum tipo despono Oll actishy
vidade fisica sao os adeptos musculalt3o os que uma
tica mais intensiva e regular sendo mais de metade os que se exercitam
diaria ou quase diariamentel5
A maximizasao da estetica corporal proposta pela rnusculasao
ponamo a realizacao de uma etica que transcende a pritica
250
PESOS HALTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)ALTERADOS
desta modalidade e se estende a outros domfnios vida do seu
came A etica de disciplina cultivada durante os a dado momento
da efectivameute a ir dos tempos e espashy
lt05 que sao dedicados A alirnentacento passa a ser bastante cuidada
hiper-re5tritiva nas gorduras e e sobredimensionada nas proteinas
c hidratos de nutrientcs que permitem acumular energia para 0
t[eino eo concomitante crcscimento do volume muscular 0 sono Dassa a
ser tambem hiper-regrado sacrificando-se momentos de lazer e
noctumas por exemplo 0 tempo disponfvd para sociabilidadcs amicais
e por vezes atc familiares e Iaborais passa a ser gerido em funsao das
necessidades treino diario
aquela vontade de ter urna vida de mudar 0
corro ]a nao queres comer gotJuras porque estas aver 0 reu carpo
Vais a um piquenique ou qualquer coisa assilll e wrnes alguma coisa
assim mais na semana que vem ji se nota nosabdominais En Jesus
Cristo engordei Eja vais xiiiiiiiiiii Corras com fritos e com gorduras
puxas mais hidratos de carbono e protdn~i ( ) Cada dia
contralo 0 peso e controlo muito bem aquilo que como percebes De
manha e uma dose multo torte de hidratos de carbono papas
Ncstum Uma coisa muito com leltemagro scm Nada
de gorduras nada de manteig~~ nada De manha e 15S0 on2C horas
tambem comes alguma coisa uma sandufche com cafe com ramshy
bern magro Alrno~o tambem comes cada dia qualQuer coisa
corni guisado com com com urn bom azeite
Ao jantar ji epouca coisa porque nao estou naquela fase de tomar
aminokidos e nao preciso N 50 estoll agora naquela fase de puxar para
crescer agora estou assim Niio lhe dd as vezes vontade de comer sei Ed
um bolo com chantilly Nao mete porque sabes que re vai
fazer maL Olhas para mas nao com aquela vontade de comer Sabes
que e born mas nao tens 0 corpo esta em primeiro
Niio e que narcisismo ou uma coisa assim E urna preocupayao
saudiveL Nao eque estejas a olhar para 0 espelho ai que sou bonito
251
CLASSES ASSOCIATIVISMO E ESTADO
nao 1sto ja enarcisismo Mas todas as pessoas estao prcocupadas com
aqllelc reslIltado que conseguiu e nao vais estragar agora de urn dia
para 0 outro ( ) Trabalho como um relagio todos os dias tteino as
tres ( ) Tem que ser nao podes brincar com a corpo Tem que set
tudo controlado ( ) Precisas descansar Par isso tem que ser llma vida
bern organizada Levantar-se as mesmas horas comer as mesmas horas
descansar as mesmas horas treinar as mesmas horas Tern que ser tuclo
arranjadinho nao podes andar disparatadQ a fazer coisas II um culto
Por isso cque tern resultados
29 ANOS UCENCLADO ENFERMEIlZO PRATICANTE DE MUSCULA(AO
1Boa parte do oe do praticante empenhado em
erescer a massa muscular fassa entao a ser geridoem fun~5o da maxishy
mizaltaodos ganhos de vDlume e ddiniltao corporal Este e um
tivo que 0 faz Ianyar mao de um impladvd processo racional instrushy
de autogoverno e hiperdiseiplina do seu tempo e das actividades
do corpo e sobre 0 corpo A ohten~ao de urn corpo hiperbolico impliea
paradoxalmente um rigoroso comedimento dos seus habitos e
eomportarnentos mais habituais Quando a hiperdisciplina earacterisshy
tica das pratieas introduzidas na vida quotidiana ja nao e capaz de dar
resposta as voIumosas ambi~6es do indivfduo quando ji nao eonsegue
maximizar 0 potencial corporal idealizado como meta por parte do prashy
ticantc cste nao se da obrigatoriamente por veneido 0 desatlo dos seus
pessoais e propriamente fisicos pode ser superado atraves do
consumo de outros reeursos tambem produzidos e comercializados
industria de design corporal nao caras vezes nos mesmos espaos onde
o exerdeio fisieo os poreneia
Eentao que chega a nora de experimentar as vantagens dos supleshy
mentos alimentares exibidos nas prateleiras das gcandes e pequenas
superficies de lojas de despofto bern como das entradas de muitos
ginasios indo de encontro as (rapidas) amhilt6es dos seus frequentashy
dores Para aIem destes produros enconttam-se ainda disponfveis em
252
PESOS HALTERES E SENTfDOS DOS CORPOS
circuitos de comercio rna is alternativo e underground uma diversidade
de ester6ides anabolizantes e de outros produtos euja venda livre eilegal
pelos efeitos perversos que acarretam na homeostasia interna do orgashy
nlsmo mas cujos ganhos de e massa muscular sao surpreendentes
na quantidade e eeleridade bem como na redwao significativa da adishy
posidade 0 uso dessas drogas apolineas36 tem-Se tornado uma op~ao
disseminada entre outros praticantes de muscuIaltao que
nao apenas as fisioeulturistas que desde sempre riveram uma rela~o
axiomitica37 bull
Entretanto vim para ca e aqui come-eei a tomar suplemenro
uma proteinazinha uma creatinazinha Entretanto fahram-mc sobre
a tal siruaifao [esteraides anabolizantesJ e eu tentei experimentar
para saber uma situa~o de curiosidade () Espectacular rnesmo
Uma pessoa atinge urn nive mesmo muito bom E Ilma qualidad
brutal Por isso e que dizem que a malta que eomeltlt a faxer essas
coisas depois torna-se viciada
28 ANOS 100 ANO DESEMPREGADO PRAT1CANTE DE
Assim que comepmos a ganhar 0 mfnimo musculo queremos
semprc mais sempre mais sempre mais Depois atillgimos quase a
performance dai nao safmos mais Depois onde vamos recorrcr ea
substincias batidos e aminoicidos que epara ver se conseguimos
desenvolver mais 0 110SS0 conseguir desenvolver mais os
mUsculos E acaba nisso ( quase urn CicIo ( ) E dcpois da eonseguishy
mos mais vamos desenvolvendo desenvolvendo
24 ANOS 120 AlOAUXIUAR DE ACOtO MEDICA
PRATlCANTE DE MUSCULAltAo
253
I
CLASSES ASSOC1ATIVISMO E ESTADO
que os cultorcs da muscula~ao a actividade adamando
a sua preocupatao com a saude e 0 bem-estar presente e fururo represhy
sentando-a como uma mobilizada no scntido de manter ou
a forma e obter a imagem um corpo sauc1avel e atrashy
ente 0 facto c que a compreensao sempre positiva da entre cxershy
dcio e saude como afirmam Bagrichevsky e Estevao nao passa de uma
hipotese optimista38 Apesar de prevalecente enquanto ideal e a priori ramada por certa e incontroversa a rnixima despo[m c saude esconde
luitas vezes vivencias e representatoes
Com efeitoexistem cada vez mais situatoes em que as pretensoes
perfeccionistas e aobsess5n pela saude e peIo collt-mio do corp( podem
confIgurar cstados
mtermizados e
cinicamentc susceptivcis de sercm
J iuttoloeia do corpu
- ou
e saudiyei de lut ~e iessente a socdde e middotem grande
em exerdcio
dependentes dapropria imagem corpotal bull 1
-r que cnarm ltIe a qual sc esfof~m ao miximo por manter e
~oar -- compulsivos dotados grande perseveran~a t toleshy
rfll1cia ao sofriPlento traduzido em sintomas como a dor a exausshy
tao e a lesao entre outros n1enos comuns
Eu viciei-me nlquilo Viciei-me mesmo em ginasio Se nao fosse
para era como uma docnlta Tinha que if Era mesmo
6bcecado com aquilo C)Queria hear grande E fiquei V) 0
nvo era corpo como deg dessamiddotmalta que a gente ve af
( ) Depois toma-se urn vieio qucrer atingit (ilo
28 ANOS 100 amp10 DESEMPREGADO lRATICANTE DE MUSCULAltAo
HUSCUlaltao nunca pode vir a ser um problema Pode vir a scr
urn quando hi eXCt5SOS ( ) Mas os excessos nao controshy
[ados Porque eu neste momento estou a entrar numa de cxccssos
251
PESOS HALTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)ALTERADOS
mas controlados Os excesses tem que scr controlados Cbull ) A nIve
de problemas 0 unico problema que traz no fundo eisso quando os
excessos nao sao controlados De resto nao enada assim de
28 ANOS 110 ANO pOLfClA PRATICANTE DE MIJSCULAltAo
Apesar de serem mobilizadas no sentido da conformidade aos rnodeshy
los corporais referencia e reverencia as praticas muscula~ao e seus
sistemas f1sicos derivados podem a qualquer momento ver-se desvirtushy
no seu sentido original quando os projectos corporais que alimenshy
tam se rll1icalizam pdo excesso de di~ciplina na eonformdade aos
1l10delos de referencia institufdos Este de comportamentos hipershy
diciplinad)s pode traduzir-se por exemplo em comportamentos
sifcdos Gomodisturbio dismorfC( muscular mais vulgarmente conheshy
ruygttYl a vigorexia Tambem descrita como complexo de Adonis
ou anorexia reversiva39 trata-se uma sindrome caracrcrizada
bLW dos seus portadores geralmente homens e independentemente da
sua museulatura (embora sejam normal mente bern desenvolvidos)
deterem uma auto-imagem corporal diswrcida e persistente no
de se sentirem muito pequenos fraeos e frageis
simultanealllente pdo deseio de serem musculados e 0
medo de screm magros desenvolvem uma exceSSlva
exerdcio (ouertrtlining) por um tipo de hiperproteico
e pelo consumo regUlar de produtos sintcticos anab61icos e outros no
sentido de hipertroflar 0 seu sistema muscular A vigilancia dos resultashy
dos obtidos atravcs d3 flta mctrica da balan~ e do espeIho bem como
a reClef1iii~aoae e Slmeshy
tria de cada museulo e tambcm constante
riscos que potencialmente correm continuam a acreditar no seu poder
autocontrolo e em mante-Io em nome da sua saude Efcmeras ilus6cs
prometeicas que a seu tempo sc poderao transformar em f1tais
soes
255
CLASSES ASSOCIATIVISMO E ESTADO
edos (200~) Cultura da e vol 3 nY 13-25
in A Festa EdlJCaao Fisica Acampanh anti-patriotic que n 5279 17 ana 6 de JUlho de 1926
Jorge Crespo (1977) Hist6ria Ludens 2 n 1 45-52 Rui Gomes (1991) Poder e saber 0 corpo (1936-19401 de Educoao n 2middot3 Building a motor habitus physical in the Portuguese Estado Novo Intrmiddotmrrtionn
ofSpGrt vol 45 0 1 pp 23-37 -1 Prlt3tj r a corresponde ao que em
em muio as tor mas mai~ retentes e
5
in Ant6nio forg)
(19901 volw co POllugal Contemporonco (1926- (958) vol IV Usboa Alfa 333-338
10 In Ines (1999) Dons eDisciplinas do Corpo Feminino 0 OiscursoS5obre 0 COPO nu Historin do Esturio Novo bsboa Qrqanizcoes Nao Govt~rnamcntais do Consultivo Comissao 19ualdade e
3940 CGvalho (2005) lxplorando transferenci8lt nal prrmeiras deeadris
S~(ulo An61iseSocfaf vol XL nO 499-518j
12 In Hui Gomes (1991 I op 130 musculado dr Taborda chamava
do ~e(u0 nao Coriu dos Reereio$ do Desportos tambem aDs pal(os alem de ter sido (incovezes campeao rnundial e vezes
europeu de luta livre foi ainda ballarino Udo ern Paris e como duplo em algumas ploduoes de
Garcia Alvarez Onde para a rua ern corpinho bern Record Ana XXiii n 21B915 de Junho 1972 p 9
15 Ver Valter Cutum e IdentidadeA costuro social do moda em lIumanas (tese doutor
idrntitariamp na ocie Ide da Silva (orgs) tineroriw
pp671-689 17 Olivia Newton~ John liderava lugares clmeiros tops de vend as com a
can lao Lets get Physicol Jane ronda tornava-se na de marea da aerobica urn novo sistema fisieo mente teve exito atravegt do livra video best-seliersJane fondas Workout Nestes a dernonstrava eio a ern Beverly Hills por forma ao pratieante poder reproduzi-o no recolhimento do mats convlesse
1B Pam se ter uma no~ao compsritiva 0 futebol tem 1D0Y madamentc 150 mil praticantes federados ern Portugal 19 anuais elaborados Deia International Health
Association em (onjunto com J DeJaiHe e furor neilmente cedidos pea Associaao de Empres3s de Gi nasi os eAcademias
256
PESOS HAlTERES E SENTIDOS DOS CORlOS (H)AlTERADOS
19921) 0 Crepuscuo do A Etica Indolor des p129
a frente sao provenientes de urn con~ rnUSCLH3cao 110 ambito do de investiga~ao
por Vi tor a deeorrer no
maSCUlniOaCie in Miriam Golddenberg
[uitu[ois reoctonadas com 0 estetica eo jcrrl-eMo Otlsfrvat6r[o Que 0 Estado ja navia atraves da de distiplina de
Crespo Pedro Alcltlntara do (2009) 0 Estadoda Saude em Portugal USDaa Impreno
d~ (~iend3s Socials Segundo dados pelo Eurobarometro em 73 da populao nao praticava
reguiarmente exercicioshyVitor Seraio corpo in Machado Pais
peronte 0 Corpo Geiras Celta
qualquer reiaao d~fecta de causa-delta medida qlle ficarnos estimular a pratica de exerricio fisico
rontrario previa refexivamente PBra 35sodados asua
i~aizado noambJto do Observat0rio Perma-Ver Vftor Fcrrrira
33 Onde de metade (49) admitiu muscula~ao acrescendo 18 que afirmaram ter praticado
o
reverse
Adalescincio Latinoomericono volume 2 n 2 pp 97-101
257
CLASSES ASSOCIATlVISMO E ESTADO
do praticante desde a sua manutenltao tonificaltao ou definiltao ate
ao seu aumento acentuado designado hipertrofia
A musculalaquoao difere do tlsiculturismo do halterotllismo (levantashy
mento de pesos olfmpicos) ou do powerlifting (levantamento de pesos
basicos) na medida ern que se trata de uma actividade ffsica praticada
uma forma nao competitiva - ainda que normalmente 0 treino com
pesos e tfeinos de for~a fatam parte do de aClividades dos
atletas dessas modalidades Foi alias sobretudo enquanto treino comshy
plementar funcional e sem autonomia espedfiea que subsistiu ern Porshy
tugal durante grande parte do seculo xx De facto apcsar presente
no pais a pratica mnselllaltao enqultmto actividade fIsica relativashy
mente autonoma outras nao obteve sucesso senao recentemente
C haUeres no
do povo portugues
Escrevia-se na coluna sobre Vida Sportiva do jornal A Capital em
1926 em jeito de critied aeampanha publiea que estava a ser realizada
do rninistro da Instrulaquolt1o para terminar com a Parada da Ginastica
da Festa Nacional de Edueacao Ffsica I Ioje em rodas as nar6cs civilizashy
a educaltao tern urn lugar paralcIo aeducarao mental E
Porque cIa e considerada nao apenas como urn passatempo 11111 recreio
uma missao mas prineipalmente como 0 linieo meio de conservar e
melhorar um povo uma ralta Euma obrigaltao individual eum dever
sociaL Logo e preeiso mais e indispensavel que reeonheyam a
absoluta nccessidade da eduealtao corporea Nos nOSS05 mats ao que
nunea se veritlca que para Imar eom vantagem contra as tempestades
vida nao basta eapacidadc mental - e indispensavel eapacidade ffllica
Esta e uma verdade incontesciveL E nao queirarn fuzer dos rapazes plantas
de estufa ( ) Se os exerdcios exibidos sao violentos 0 que e bastante
discutivel reduzam-se substituam-sc modifiquem-se mas nao se deixe
de realizar essa festa louvavel sob rados os pontos de vista1
232
I PESOS HALTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)AITERADOS
I Certo e que a eapacidade fisica da moddade da epoca nao era das
mais roblL~tas Alias a mesma pagina desse jomal apresentava urn pequeno
anlmcio publicitario as vantagens da Farinha Lacto Licishy tina do Deposit6rio exdusivo Raul Vieira Lto para combater 0 raquishyI que dominava entre a juvcntude da epoea No mcsmo senti do
era talllbem anunciado na primeira pagina mesmo jomal 0 Iodo-I
I
wn reconstituinte poderoso cientffico e racionaI especialmente
dirigido a crianltas fracas Numa epoca em que a fome e as mas conshy
dic6es de vida grassavam em Portugal debilitando a saude 0 rendishy
mento 110 trabalho e ate mesmo a de muitas erianltas e jovens 0
lCvigoramento fisico das Illais novas geraroes rornou-se urn projecto
do regime que se instaurava
Entre os varios meios cientificos disponiveis ao desenvolvimento
eorpos franzinos e raqulticus a Educaltao FIsiea enquanto disciplina
providenciada pelas insrituioes publieas foi assumindo
mas nao sem Entre varios motivos porque 0 regime nao
pretendia que esta disciplina integrasse exerdcios violemos Estes nao
s6 poderian1 lesionar as ja fdgeis corpos dos seus cxecutantes como
ainda estimlllar a produltao desses corpos herclueos que sistemas Hsicos
estrangeirados nomeadamente provenientes dos Estados Unidos da
America tentavam iaInbem moldar no pais esta nao
simpatizava com esses corpo eolossais que 0 repllblicanismo havia proshy
nao apenas par uma questao estctica mas sobretudo pelos
res modemos e progressistas que representavam
Sfmbolo mundano do ascetisrno earaeterlstico da etica protestante
anglo-sax6nica 0 body building - forma como a muscula~ao eomerou
por se chamar4 - representava nao apenas valores como disciplina e
esforlaquoo mas tambem sucesso elllpreendedorismo e fona de vontade
pessoal fundamentais ao funcionamento ordeiro de uma sociedade que
se pretendia democratica racionalizada e industrializada Surgida na
lnglaterra vitoriana de meados do seculo XIX foi de facto nos Estados
Unidos da America que a muscularao mals se expandiu enquanto sisshy
tema Hsico criado com 0 obiectivo de moditlcar os corpos sobretudo
233
1 CLASSES ASSOCIATIVISMO E ESTADO
masculinos atraves do aumento hiperb61ico da massa muscular Foi at
que desde finais do seculo XIX esse sistema fisico passou a ser produzido
em larga escala sendo comercializado nacional e intemacionalmente5
Comeltou por ser urn sistema fisico desenvolvido por entre gentes
de feiras circos e freak-shows itinerantes por entre a Europa e os EUA
onde corpos apolineos de lutadores e artistas-Ievantadores de pesos e
alteres em tangas de pee de leopardo participavam de uma cultura
visual que hiperbolizava a virilidade masculina atraves de demonstrashy
ltoes espectaculares de volume e forlta muscular Depois autonomiza-se
e amplia-se com a emergencia de campeonatos desportivos bern
como de todo urn mercado de equipamentos e sistemas de produltao
muscular que veio a estend~r-se dos clubes ou sociedades de ginasshy
tica a proprilt1 vida domestica e profissional com a comercializa=ao
de maquinas e sis[emas de movimento para utilizarao na sala eou roo
local de trabalho
Ainda que xiLanJ indicios da tentatiYa de integrarao deste tipo
de sistema em Portugal a visibilidade social que colossos musculados
poderiam obter era susceptive de ferir a paisagem moral que Salazar
idealizava Corpos como 0 de Manue da Silveira6 ou 0 de Francisco
Padinha7 - famosos recordistas mundiais de pesos e halteres durante a
I Republica ~ nao eram especialmente apreciados peas novas instancias
de poder
Em ruptura com concepltoes libertarias e viciosas do republicashy
nismo 0 corpo masculino ideal do Estado Novo nao correspondia a
uma cultura fisica atletica em que as priticas fisicas de modificaltao
corporal serviriam propositos frivolos hedonistas e individualistas assoshy
ciados abeeza ao prazer e asatisfarao pessoal do homem Aquee corpo
vinha antes ao encontro de uma cultura fisica higienista e moralizadora nao so com 0 objectivo colectivo de tomar os corpos dos jovens portushy
gueses mais fortes resistentes e imunes mas tambem socialmente mais
respeidveis e disciplinados A promoltao da saude do corpo nao s6 se
revearia no rendimento fisico do trabalho como Faria transparecer as
qualidades morais do individuo que se pretendiam de acordo com a
PESOS HALTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)ALTERADOS
nova ordem moral e social pretendida para a narao portuguesa Cada
corpo individualmente deveria entregar-se aautoridade do ideal colecshy
tivo e deixar transparecer os principios cristaos e politicos do regime
urn ideal fisico de virtude e pudor obediencia e disciplina sobriedade
e austeridade higiene e robustez8bull Urn corpo dedicado a Deus aPatria
aFamilia e ao T rabalh09bull
Instituiltoes como a Mocidade Portuguesa ou a Fundarao Nacional
para a Alegria no Trabalho em articularao com instituiltoes medicas
desportivas pedagogicas eclesiasticas e politicas adquiriam urn pape
central nesse projecto colectivo Atraves deas 0 Estado Novo tentava
toniflcar fisica e moralmente a sua juventude reformando-Ihe 0 esqueshy
leto ea musculatura tornando-lhe 0 espinhalto rijo e 0 pulso vigoroso
camo descreve Ines Brasao lO bull 0 incitamento ao exercicio fisico que os
jovens encontravam nessas organizaroes visava [[ansformar potenciais
corpos definhados enfezados e raquiticos em corpofrobustDs corados
e verticais capazes de enfrentar quaisquer adversidades a bern da naltao
Scm alinhar porem nos principios tecnicos e morais do body building norte-americano evitando que 0 corpo dos seus praticantes Fosse abanshy
donado a excessos apoHneos e narcisistas
A preocuparao poHtica com a fisicalidade dos portugueses favoreshy
ceu sim a adopltao do sistema fisico de Pehr Henrik Ling (1776-1839)
urn sueco cuja doutrina de educaltao fisica havia sido posta ern pratica
em outras naroes europeiasll 0 objectivo deste sistema nao era 0 adenshy
samento do sistema muscular mas 0 desenvolvimento racional de roda
a fisiologia e morfologia corporal de forma a socializar 0 praticante no
autocontrolo social das suas manifestaltoes fisicas e emocionais Vulgarshy
mente conhecido por ginastica sueca tratava-se de urn sistema racioshy
nal de exercicios localizados e sequencialmente cadenciados promotores
da respiraltao da verticalizaltao do aprumo e da correcltao dos movimenshy
to Executados em colectivos sincronizados e uniformizados de branco
sugeriam uma imagem de disciplina e ordem de pureza fisica e moral
de cooperaltao e de exortaltao nacional que esbatia e determinava as
singularidades de cada corpo fisico em nome do corpo social
234 235
CLASSES ASSOCIATIVISMO E ESTADO
Do sistema de Ling pretendia-se 0 adestramento de
des instintivas dos jovens rapazes atraves da incorpora~ao do gosto
disciplina e obediencia ligado a uma instru~ao militar preparat6shy
ria vocacionada para demonstralt6es de engralldecimento e exaltaltao
da patria bem como a seu tempo para a defesa do Imperio A forlta e
) tonicidade dos carpos masculinos bern como a ordem e a disciplina
colectiva quc demonstravam aquando das marchas plihlicas dos
filiados nos quadros da Legiao ou da Mocidade Portuguesa
simbolicamente a projecltao social da for~a do Estado sobre 0 territorio
nacional e imperial Mais do que replicar criterillS bcleza associ ados
a toniftcalt~o muscular a gi1astica suecaambicionava promover aptishy
does morais =1UaVeS do descnvolvimento racional e equilibrado d~ fisioshy
logia e morfokgia do corpo Cumprir-sc-ia assim 0 adestramento corshy
poral prescrito por Juvenal- mens sana in corpore sana - maxima eF
que em saLujsmo escorrcito queria dizer t()rmaltao da consciencia na
e atraves da disciplina e submissao dO$
Sinais demudanlta medraram nas decadas de cinquentae sessenta
Algumfl ousadia e desejo de ruplura nas atitudes e cuidados com 0
corpo ganharam enfase por cntre as camadas juvenis mals escolarizadas e nem sempre d6ceis e acriticas Muitos rapnes e rapallgas as corpos nao tanto pOl referencia as insrancias socializadorao do regime mas reportando-se as corporalidades
mais mundanas que se davam quotidianamente a ver nos jornais revisshy
tas cartazes espectaculos cinema e televisao Movidos pelas novas
referencias simb6licas que estes meios trouxeram assim como pelo
proprio comacto social quotidiano com os sectores femininos da popushy
laltao quer no trabalho quer na vida mundana os homens veem-se
socialmente pressionados para melhor cuidar a sua
corporal
A clegancia corporal de cones cinematogrMicos como John Wayne
Clark Gable ou Gregory Peck concorria socialmcnte com a virilidade
ostensiva de corpos como 0 de Tarzan Taborda13 pOI exemplo que
atraam a ateIlltao dos home11s e 0 desejo das mulheres para os ringues
236
PESOS HAITERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)ALTERADOS
portugueses de lura livre Escrevia Garcia Alvarez no jornal Record
ainda em 197214 Embora possua pouca yoga no 110SS0 Pais 0
rismo consegue chamar a 5i a atenltao eo interesse de rnilhares de adepshy
tos e goza de justificavel prestigio em muitos paises do mundo
palmentc no outro ado do Atlantico Na America do Norte entao
multiplicam-se os torneios para apuramento dos corpos mais modelares
diremos mais modelados - subsistindo 0 maior interesse e
entusiasmo pelas sucessivas deilt6es do laquoMr qualquer coisaraquo que culshy
minam com os certames correspondentes adesignaltao do laquoMr USAraquo e
do laquoMr Universoraquo A Falange feminina nao perde pitada destas compeshy
tilt6es seguindo com entusiasmo indescridvel as actua~6es mais salientes
respectivos idolos do momento
A tradicional alfaiataria entra em crise nos anos setenta nomeadashy
mente com a emergencia industria do proflto-a-vestir uma realishy
que tambem c011quist3 0 consumidot masculino 15 As Iinhas rna is
iDrmais e rfgidas no modo de vdtir sao ahandonadas e suhstitufdas
por uma moda jovem promotora lima silhueta mais leve e conshy
forrive que marcava e enfatizava as formas corporais Por outro
a progressiva expansao do direito a tempos de lazer e a ferias remuneshy
radas simuldlneo a propagaltao de parques de campismo e dos ideais
contacto com a Natureza tambern contribula para a exposi~ao de
urn corpo que se deveria mostrar atractivo por emre trajes de a
banhos cada vez mais cunos
Libertando-se das vesLimentas que os encobriam e dissimulavam
as corpos vao-se entao progressivamente desnudando e exibindo ao
lange da segullda metade do seculo XX portugues Vma liberdade
contudo condicionada por novas forltas e institui-oes sociais geradoras
de novas exigencjas e expectativas sociais que em condilt6es de exposishy
publica os tendem a encarnar e a moldar
nao vdculo de um projecto de identidade naclOnal au apenas
instrumento que carece manter robusto encrgico e bern nutrido para
trabalhar e garantir a sobrevivencla 0 corpo p6s-democratico ganha
visibilidade e valor social entre as mais novas de portugueses
237
U ~1~
i11
CLASSES ASSOCIATIVISMO E ESTADO
enquanto acessorio de identidade pessoal que urge cui dar investir e
plan ear Particularidades 1uperHuas que passavam discretamente por
entre roupas que 0 vclavam ganham 0 estatuto de imperfeiltao que urge
combater em nome novos canones corporais 0 corpo deseja-se agora
perfeito reHectindo uma imagem jovem e saudavel
o projecto colectivo de revigoramento f1sico politicamente conshy
duzido entao lU2ar a projectos individuals de manutencao e modishy
ficacao aconteceu nao apenas devido amudan)a de regime
politico mas tambem no contexto de urn conjunto alterayoes estrushy
turais na sociedade portuguesa ondc novos agentes e dinamicas mershy
cantilistas passaram a investir em forra Os pesos e halteres ltllCaUaIll
urn novo protagonismo social no mercado poftugues ganhando novos
contextos sociais e novas contlguraocs em varias actividadesffsicas
meios competitivos do balterofilismo do boc ou da
luta liv- ondc cram convocados como treino complementar para
autonomia relativa nas inumeras salas de ginasio e health
dubs onde passaram a ser mercantilizados no ambito de modalidades
pr6prias
Pesos e alteres na recente industria de design corporal
N urn contexto onde homens e mulheres passaram a exibir e
mais atentamente as suas aparcncias as foryas privadas do capitalismo
acabaram por contribuir mais do que as instituiyoes publicas higienistas
na difusao de novos habitos e cuidados corporais A incipiente
da moda e do design corporal que ja havia despontado antes do de
Abril cresce numa escala mais alargada e diversificada fragmentando
produtos e clientelas e alimentando expectativas e aspiraltDcs diferenciashy
das do passado Mais do que 0 ambicionado relligoramento fisico as
exigencias e desejos sociais gerados por essa industria VaG agora no senshy
tido do rejullenescimento C do aperfeiroamento da imagem e forma corshy
porais produzindo a ilusao massitlcada de cada um planear e
238
PESOS HALTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)ALTERADOS
esculpir 0 pr6prio COIPO dentro urn padrao de beleza estabelecido
globalmenteo
Novas lojas fabricantes e empresas nacionais e internacionais vem
afirmar-se no mercado portugues disponibilizando modernos e
ticados produtos tecnicas e serviyos de modificacao e manutenyao
corporal em esferas diversas Da cosmetica a da cirurgia
ao nutricionismo dos centros de estetica aos spa toda uma pletora
de bens tecnologias e servios de bem-estar e bem-parecer do corpo
que prometem 0 ajustamento aos canones corporais do momento l6
por sua vez no que a masculinidade dizem rcspeito veem
substituir a clegancia eo glamour das estrelas de cinema dos anos cinshy
quenta pda fora e vigor de herois de torso em forma de V represenshy
tados por Arnold Schwarzcnegger Sylvester Stallone ou Jean-Claude
Van Damme
POI entre esra florescente industria de aesigncorporal o cresshy
cimento de iniciativas comerciais de actividade fisica geridas por pane
do sector privado qlier ao nlvd do invcstimento em produtos para
em espao domestico desde sistemas de exerdcios peri6dishy
cos espccializados roupa e calltado ate equipamemo caseiro diverso17
quer ao nivel do investimento em espayOS colectivos proporcionadores
de um conjullto de produtos e servios bem-estar e bem-parecer
Esses espayos colectivos comc~aram por assumir a forma de ginasio
de bairro contexto popularizado nos anos oitenta Nestes a musshy
culaao surgia com lugar destacado ao lado de novas modalidades
como a ginastica aerobica a primeira mais orientada para urn publico
masculino a segunda para urn pliblico fcminino A pratica da muscushy
lacao poren1 ja adicionava aos tradicionais pesos e halteres rnodernos
cquipamentos ergonomicos dotados de um design mais apelativo onde
cada detalhe passaria a ser concebido com 0 intuito de proporcionar aos
novos LlllLaUUU~ urn trcino menos arriscado e sofrido mais comodo e
con fomlveL
Postcriormente ja proximo anos noventa a musculayao toi
dlUIlllUa no con texto dos clubs que vieram a instalar-se
239
CLASSES ASSOCIATIVrSMO E ESTADO
em espaos multifunciol1ais deposidrios de valencias diversas
nas areas da da saude da alirnentacao e do lazer corporal muishy
tos representantes de cadeias internacionais que se instalaram em
algumas das principais cidades pormguesas com elevados invcstimentos
em sofisticadas tecnicas de gestao mflrketing e publicidade para cap tar
e ftdelizar potenciais publicos-alvo Entre 0 ann 2000 e 0 ana de 2008
o numero de health clubs em Portugal passou de 600 a 1400
bando mais de 600 mil mernbrosl 8bull Com uma
57 em Portugal estas estruturas facturam
euros
ras os
mais 1
mIS riscos e caracteristicas
um programa de Heino adequado a detershy
rrunaao corpo e acompanhar individualmente a sua exccuao
- C0 do egolmilriintO que perpassa no desporto
amador contemporaneo um dos produtoslservi~os em que
os health clubs mais apostam hoje ern dia devido aos ganhos financciros
proporcionados exclusividade desse servico urn dos mais caros para
o cotlSumidor
Concomitamemcntc novas actividades ffsicas e desportivas emershy
gem no ambito destcs novos espaos anunciadas como esteategias para
enfrentar e Edar corn os duros dcsafios da sociedade contemporanea ao
mcsmo tempo que velhas modalidades se rcnovam e sofisticam transshy
formando-se em mercadoria vendavel e derelativamente faeil
lidade Sistemas fisicos ancestrais como 0 por
exemplo ou ate mesmo varias artes enquanto
no
A sempre presente nos ginasios
a pesos e halterc~
240
PESOS HALTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)ALTFRADOS
acurnulado de
oHlzaoo de
dlllCllU e coreografado ao
fIrmo de musleas do momento que apresenta como relatishy
vamente ao esquema anterior 0 facto de eoncentrar uma quamidade e
de exerdeios musculares num curto periodo de tempo
45 a 60) reeuperando as da pratica desporriva
em grupo e desta fonna proporcionando um ambieme estimulante e
divertido
o objccrivo inicial do body pump nos anos novema ted ido em
medida lucrativo atrair 0 publico-alvo maseulino para a pdtica
de ccrclcio fisico eolectivo nomeadarnenLe ao da ginistiea aeroshy
scm contudo deixar de Ihes proporcionar 0 e atletieo
que indiidualmente a pcatica da musculacao lhes concediarn O~fdy
pump a par de outras modalidades que foram sob 0 mesrno COI1shy
ceito (designados de body training ou group como 0 body balance body combat body body
jump ou 0 spinning - RPlvf) tern a
registadas
monitores
COlllerClaUampauas eoroduzem-se exactamente nos
exerdcios e re1pectJlVO
uallzaao a cada tees meses de a a desmlotlV3ltao
por via da repctiao continuada
muitas dessas modalidades nos anos noventa vieram
U~LdUlUllC no sentido de diminuir 0 sofrimento do treino solidrio ClStishy
dioso silencioso e ascetico gue ate af implicava 0 treino tradicional de
muscular substituil1do-o pelo divertimento proporcionado
soeiabilidade e a mitsica que passaram a parte desses sistemas
241
- CLASSES ASSOClATrvISMO E ESTADO
treino 0 que vern corroborar empiricamente a hipotese avanshy
ltada por Lipovetsky de que hoje em dia 0 desporto de massas eessenshy
cialmente uma actividade dominada pda procura do prazer
mismo energetico da experiencia de si proprio depois do desporto
disciplinar e moralista cis 0 desporto-lazer a desporto-saude 0 desporshy
to-desafio Da pratica desportiva esperamos apenas sensalt6es e equilibr
valorizasao individual e evasao norma e descontraclt3o ja nao e a vinude que legitima 0 despono mas sim a emmao corporal 0 prazer
a forma e psicologica 0 des porto tornou-se urn dosemblemas mais
da cultura nardsica centrada no extase do
Oprocesso crescimento e de diversiflcaltao comercial das activishy
rades ffsicas indoor beneficiou durante os anos oitentac noventa
uma conjuntura economica favorivd caracterizada pdo aumento do
poder de compra da populaltao portuguesa tpela melhoria das de vida alguns dos seus sectores e sociais nomeadamente
classes rr Mias A proliferalt3o de gimisios health clubs foi ltlinda
favorecida pdo prolongamento quer da esperanlta media de vida quer
das processos de escolarizaltao e de transiltao para a vida adulta Estas
din1Unicas que efectivamente fizeram dos reformadas e dos jovens
estudantes publicos-alvo fundamentals na promQ(ao de actividades
fisicas no espalto do ginasio considerando 0 tempo que tern POLCllUltUshy
mente disponivel ao longo do dia nome~damente fora das hons
maior wifego nos ginasios (perfodos almolto e p6s-laborais)
Urn outros pltblicos-alvo a que este segmento da indUstria de
design corporal mais se tem dirigido tern ido os homens mais disponishy
ao consumo dos sellS produtos e servi~os A imagem de
pader e competencia produzida e difundida pela publicidade e pclas
revistas hoje dedicadas ao segmento masculino ji nao e reflectida apenas
atravcs de sfmbolos tradicionais consumo masculino como 0 carro 0
relogio ou a can eta mas tam bern atraves investimentos na proawao
e manutenltao da aparencia fisica que tende a perder 0 formalismo do
fato-e-gravata A imagem de urn hamem atletico e cuidado passa a ser
inclusivamente apresentada como chave do sucesso entre as
242
PESOS HAITERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)AITERADOS
mais exigentes quanto aDS cuidados masculinos com a imagem Esta nova
mostra um novo homem preocupado com a flexibilidade da
sua pele com a domesticaltao dos seus odores com a qualidade do seu
[[sico com a tonicidade da sua silhueta com a definiltao do
seu abdomen com 0 volume do seu biceps A pdtica de musculaltao
assume entao tun valor estratcgico na produltao do actual corpo mascushy
referencia e de reverencia
Trata-se de facto do regime corporal socialmente mals difundido
estrategia de promoltao de urn modelo corporeidade ma~cu-
modelo adetico com acento na potencia vitalidade
IHUgtCUlaL 0 que de resto nao sera de surpreender dada
a diiilsao incorporada de estereotipos da sociedade ocidental sabre a masshy
que tradicionalmemc ligam os padr6es de perfectibilidade e
atractivlhde masculina ao modelo de corporeidade mesomorfico e hipershy
troEado em medida cOlldensado na massa muscular tCUlllUldUd
nos peltoral~ braltos e costas esnuturando um torso de
adclgalta ate a
Um homem deve ter os ombros mais largos do que a anea ter uma
anca fina e deve ser algo robusto mats cheinho Mais cheinho
mas nao e em gordura e em musculo ( ) Estou contente com 0 ter
aos 80 Guilos Acho que eu ainda tenho muito parauabalhar
ainda me falta muito trabalho frente Ainda vai ser uma coisa
que YCJo-me nos pr()X1mOS 6 an os a ter de trabalhar 0 corpo ate cheshy
gar 11 tal forma ideal ao corpo ideal ( ) Eo tal corpo masculino com
os ombros mais a cintura mais em V - Ii esra 0 torso em
V - e musculado
ESTUDANTE UNlVERSITiillIO 21 ANOS PRATICANTE DE MUSCUIAtAo
porem scm a rudeza do passado impressa pelas condilt6es de
nabalho que sem intenltio moldavam 0 corpo 0 corpo do hom em ja nao
e urn mero instrurnento que se abandona ao trabalho mas de proprio
243
CLASSES ASSOCIATfVTSMO E ESTADO
MlllUCla como COOl
extracltao total dos pel os que possam encobrir 0
ao
da simetria muscular conseguida
Mas os corpos femininos tambem nao ficaram de fora dos sistemas
fisicos associados a muscutaltao Com objectivos mais moderados em
termos de volume corporal e sobretudo direccionados para a perda de
adiposidade e tonificaltao determinadas zonas do corpo as mulheres
encontraram res posta aos seus anseios corporais sobretudo nos body Mesmo
aos pesos e e aoontrario
publico masCilliri~ as roulheres tendem a
do corpo como (lllS de intervenltao prioritaria no sentido da manuten
ltao ou mociitJG50 Face a tais aspiraltoes a chegoll
a conceber um sistema fisieo particular para dar ao pllbico
especificameme feminino comercializando-o sob a designaltio de GAP
uma modalidade que promove 0 trabalho de resistencia e forshy
talecimento atraves de varios exerdcios localizados nas zonas
dos gl(lteos abdommalS e pernas
Eu era ter aqude corpo musculado corpo bonito
que tada a gente rilio e () Nao llma mulher eXclgeJradamell1le
muscuCida porque perde os trayos femininosEuma mulher ddinida
Nao precisa de ser magra Nao acho que eaquele estereotipo de magre-La
que cada vez ha mais que leva as miudas hoje em dia a rornarem-se
anonxicas ( ) Hoje no ginasio a imagem que se quer passar e que
essa nao ea nao eo ideal de urn corpo 0 ideal de urn corpo e umamulher a mulher nao precisa de estar MOr
desde que bem ueWllUa e0 ideal
23 ANOS 120 ANO INSTRJroRA DE CARDlo-FrfNESS
244
PESOS HALTERES E SENTiDOS DOS CORPOS (H)AIrERADOS
tern
cas no seio da industria de design corporal Como assinala Fortuna
os de edllcalt3o ffsica tinham como vocaltao disciplinar 0 corpo
para for mar rnelhores cidactios mais saudaveis e competemes prepashy
rando-os para os desafios das novas sociedades surgidas com a industriashy
os actuais health clubs por seu lado associ am a juventude a
beleza e a satide do corpo aamo-confianya aauto-estima e ao bem-estar
ol(rcendo prodmos e serviltos a moldar 0 corpo amedida
e preocupalt6es de
outros mats imageticos
some body Estar em mostrar (determinadas)
A manifestalt3o mais valorizada do corpo saudavel deixa de
ser a seu rendimeDto fo1lta e para passar a ser a sua aparenshy
cia A sallde cosmetiza-se e torna-se num fen6meno estetico nao basta
mante-la mas fazer transparece-la nomeadamente atraves da aquisiltao
urn corpo perfeito Este par sua vez passa a ser condiltao sine
non para 0
Higt LdllI-la para a ser
Eu via que tinlIa urn corpo com varios problemas Precisava de
rirar a barriga algum poeu e Tinha urn peito quase fundo dentro
quase que nao se via a barriga mais saida que 0 peito Via que tinha
problemas e estava a caminhar para 0 problema da obesidade ( )
Agora quando olho para 0 espdho vejo urn corpo perfeito 0 que todo
o hornem gostaria de tef E simo-me orgulhoso por isso
AUXILlAR DE ACOO MEDICA 120 ANO 24 ANOS
PHKnCANTE DE
245
CLASSES ASSOCIATIVLSMO E ESTADO
despono ou pelo menos efectuar com regushy
[sica passou aser nao apenas urn direito25 mas
tambem urn dever sociedades contempodneas um
cuja falta acarreta frequentemente sentimentos de culpa pessoal
e aclt6es de sanyao social sobre aqueles que se encontram pouco
a descobrir as suas supostas vantagens ou cujos corpos se afastarn
da normatividade da silhueta canonica quese deseia bem deflllida e
tonificada
Pesos e halteres entre 0 estUode vida saudltivel doeura ddec a a sau
Se a pFl1rllpaltao com os cuidados corporlis era anteriOrrneHr proshy
pria das classt~s onis lhastad3s nas condilt6es
oitenta f) portugues comum passa a tcr acesso em qualqucr sureil1ler~
cadoa uma pan6plia de prodUloh tecnicas e servicos que prometem criar
e conservar um corpo jovem perfeira e saudive qualidades de refeshy
rencia e reverencia no culto conremporaneo do corpo Socialmente apreshy
sentados e mercantilizados em associacao acriacao de urn
produtor de salIde e preventor doenca tais produtos tecshy
nicas e servi~os sao frequentemente assumidos na vida quotidiana Como
sendodo oll mais importante que os propdes servicos de saude e de
prestacao de cuidados medicos na concretizayao do bem-estar fisico e
psicologico das pessoas A ideia hoje partilhada no imaginario
de que a saude ealgo que se conquista ccoroHrio simb61ico da delegashy
ltao social no individuo das formas manutenlt3o controlo e vigilancia
do corpo que outrora haviam sido exercidas pelas autoridades
A difusao e enraizamento social da assuncao de que e possivd obter
e manrera saude do corpo atraves do envolvimento do individuo num
de pratiCa5 ditas saudaveis acabaram efectivamente por impushy
tar a cada urn uma responsabilidade crescente pelo seu estado de
Concomitantemente em alguns contextos forneceram argumentos a
246
PESOS HAJTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)AIfERADOS
desresponsabiliza~o parcial do Estado em materia de ULUltlUU medicos
e sallde publica Doravante nao esuposto que os cidadaos necessitem
de instrw5es das autoridades e instituiltoes publicas sobre como cui dar
sua existencia ffsica 0 corpo passa a ser urn espaco regulado
opc5es e escolhas de cada urn entre a pleiade de produtos tecnicas
e serviltos actualmente ao seu dispor
Sob a egide da crenca na autoridade pessoal sobre 0 corpo cada pessoa
apartida detem plenos direitos sobre esse bern patrimonial sen do igualshy
mente responsive pelo cumprimento determinados deveres sociais
Estes passam entre outros pdo governo da sua respectiva aparencia e
de vida Ao indivfduo eatribufdo urn papd preponderante na
identificaltao e controlo atempado dos sintomas de patologias diversas
problemas cardiovasculares na preVcncao perante condutas
risco (nomeadameHte atTaves da redwao doakool e do tabaco
obrigatoriedade de sexo protegido ou do exerdcia Hsico) au na
cia e evitamento do que sao socialmente considerados excessos (alimen-
tares exposicao ao sol de medicaliiacentio etc)
da adop~ao cada vez matS generalizada desta nova atitude de
pntdencialismo individualist a perante 0 bem-estar corporal e a evolultao
da oroDorcao de populaltao que em Portugal na viragem do
desenvolver algum tipo de aCyao no sentido de melhorar ou
manter 0 seu estado de salide Segundo 0 estudo 0 Estado de Saude em
entre 2001 e 2008 a percentagem de portuguese que afirshy
mavam estar a tomar no momenta realizaltao do inquerito alguma
iniciativ3 no sentido de mclhorar ou manter 0 seu estado de saude
viu-se aumentar de 368 em 2001 para cerca de metade da populaltao
(498) em 2008
Segundo 0 mesmo estudo essa evolultao e acompanhada da alterashy
de comportamento declarado rclativamente a determinados hibishy
tos de vida considerados saudaveis designadamente no que respeita
ao exerdcio fisico A percentagem de portugueses que afirmam
exerdcio [SICO regular (ginistica COffer etc) ve-se significativamente
de 33 em 2001 para 475 em 2008 Mesmo que 11ao
247
11
CLASSES ASSOCIATIVISMO E ESTADO
se traduza numa pratica efectiva27 csta evolu~ao corresponded
a uma assinalivel incorporaltao social do dezJer-ser contemporaneo da
actividade fisica A representaiyao desta enquanto habito de vida saudishy
torna-se clara quando noutra investiga~a028 se constatou ser entre
os individuos que mais regularmente praticam exerdcio Hsico que mais
presente esta a percep~ao do risco cia sua ausencia quotidiana29
e born esaudiveJ eurn habito saudaveL E como se
fosse lel livros sel inteligente Esras a arranjar 0 teu corpo Sabes
que vais chegar aos quarenta e tal arros e ainda vais estar born Agora
muitos chegam aos qualcrrra e tal anos e ja esrao com barriga e
com sei a ter tanras ~u~tas coisas Ficas mas saudivel se estas a
treinar bem e sew mdar contra a tua
29 ANOS LH ENClfO ENFERMEI(O PRATICANTE DE MusCutAltAo
A tendcncia para a crenlta incontestlvel no exerdcio fisico como
habito de vida saudivel nao se apresenta contudo disrribulda
igual maneira no espa~o social e cultural portugues Sao varios os estushy
que tern localizado urn maior enraizamento social da disposi~ao
para a pratica de exerdcio fisico entre as mais jovens geralt6es e entre
os individuos provenientes dos estratos socioeconomicos mais clevashy
dos Resultadonao apenas das novas con(li~6es de sociais economicas
e simbolicas em que as gera~6es pos-25 de Abril sao socializadas relatishy
vamente ao corpo e aos cuidados corporais30 mas tambem de urn efeito
de trnsltao no curso
Investiga~6es realizadas sobre a pnitica de actividades ffsicas entre os
jovens portugueses denotam-na mais regular e intensiva nos grupos etashy
rios mais novos nomeadamente ate ainserlt5o no mercado de trabalho
e aassunlt5o de novas responsabilidades familiares31bull 0 que indica que
amedida que as etapas do processo de transi~ao para a vida adulta se vao
cum prindo a pritica desportiva vai efectivamente sendo abandonada no
quotidiano dos jovens portugueses
248
PESOS HALTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)ALTERADOS
No caso especifico da 11l~LU1ltll-alJ uma actividade particularmente
exigente em termos do tempo dispoIl lVei para a sua pratica esta tenshy
dencia revela-se particularrnente marcante Trata-se no eatanto de
uma das modalidades com maior adesao efectiva ou potencial entre os
jovens em Portugal A sua pdtica efectiva (prcsente ou passada)
declarada por cerca de 12 da populalt5o jovem porttlguesa no ano
200032 sendo 34 a percentagem de jovens que nunca tendo pratishy
cado admitiram vir a faze-Io no futuro Quer a sua pdtica efectiva
quer a sua pr~hica potencial viram-se substancialmeme acrescidas entre
os jovens do sexo lTlasculin033 com idades compreendidas entre 18 e
anos ainda a residir com a familia de origem ou sozinhos solteiros
ou ja separados ou divorciados sem filhos Perfil dpieo para stlstentar
a hip6tese de 0 aumento de massa muscular ser urn investimento corshy
poral que corresponde ellliarga medida a uma fOlm~de capitalizar
o potencial expressivo do corpo masculino em estrategiasde atracltao e
sedult5o
Embora a disponibilidade potencial para a pratica da musculaltao
- nunca fiz mas admito vir a fazec surja praticamente transversal aos
jovens qualquer que seja 0 seu estatuto social ou habitat de residencia
o facto cque as condilt6es materiais de existencia continuam a constranshy
ger a sua ptatica efectiva Mais devada entre os jovens que melhores
condilt6es sociais detem para fa_zet face as mensalidades exigidas pelos
cspaltos destinados ao seu exerdci0 34 a pratica de musculaltao decrescc
amedida que se desce na estrutura social de 26 entre os jovens de
estatuto social alto diminui para 9 entre os jovens de estatuto social
mais baixo Do mesmo modo sao os jovcns que tern urn acesso mais
facilitado as instalalt6es que disponibilizam tal servi~o quem mais adere
efectivamente a sua pritica ou seja os jovens residentes em habitat
e suburbano 0 sanho em obter urn corpo musculado revela-se
portanto substancialmente mats democratizado na sua distribui~ao social
(mediaticamente amplificada) do que as condi~6es que perrnitem a sua
concrecizaltao
149
CLASSES ASSOCIATIVISMO b ESTADO
Para fazer [musculayao] como se fosse urn culto tern que se rer
tempo e disponibilidade E depois tern que se ter vontade uma
vontade E dinheiro Estas sao as coisas vontade dinheiro e disposhy
nibilidade
29 ANOS LICENCLADO ENFER1v1EIRO PRATCANTE DE MUSCULAyo
Tern que se ter muita forlfa de vontade tem que eter
tambem () torna-se a tal de qlle eu poundalo eV1Clame
( ) A pessoa para rcr urn corpo assimrem quI s~ trabalhar muito
nao e Nao e brincaJeira 1150 e E preciso urn esforyo de
tempo alillleatar A nutri(ao entao se para
rnentos tem que $( fr n30 IE pode
28 ANOS 10deg ANO DESEM[REGADO JTICANTE DE MUSCULAtAo
Mesmo entre aqueles que reunem as condic5es socioeconomicas
que permitem 0 acesso a constru~ao urn corpo de atraves da
de muscidacento nem todos dispoem das disposilt6es subjectivas
C(IgtIIld para enfrentar 0 longo processo da suaconcretizasao Euma
dctividade que quando 0 objectivo ea obtensao eoumanuten~ao
urn dado modelo de compleiltao fisica volumoso e definido exige dos
seuspraticantes trabalho arduo e dedicaltao quase monastica forsa de
e determinacao perseveranlta e espfrito de sacriflcio pain no abnegalt3o e autocomrolo e disciplina Nao e por
acaso que entre os jovens que praticam algum tipo despono Oll actishy
vidade fisica sao os adeptos musculalt3o os que uma
tica mais intensiva e regular sendo mais de metade os que se exercitam
diaria ou quase diariamentel5
A maximizasao da estetica corporal proposta pela rnusculasao
ponamo a realizacao de uma etica que transcende a pritica
250
PESOS HALTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)ALTERADOS
desta modalidade e se estende a outros domfnios vida do seu
came A etica de disciplina cultivada durante os a dado momento
da efectivameute a ir dos tempos e espashy
lt05 que sao dedicados A alirnentacento passa a ser bastante cuidada
hiper-re5tritiva nas gorduras e e sobredimensionada nas proteinas
c hidratos de nutrientcs que permitem acumular energia para 0
t[eino eo concomitante crcscimento do volume muscular 0 sono Dassa a
ser tambem hiper-regrado sacrificando-se momentos de lazer e
noctumas por exemplo 0 tempo disponfvd para sociabilidadcs amicais
e por vezes atc familiares e Iaborais passa a ser gerido em funsao das
necessidades treino diario
aquela vontade de ter urna vida de mudar 0
corro ]a nao queres comer gotJuras porque estas aver 0 reu carpo
Vais a um piquenique ou qualquer coisa assilll e wrnes alguma coisa
assim mais na semana que vem ji se nota nosabdominais En Jesus
Cristo engordei Eja vais xiiiiiiiiiii Corras com fritos e com gorduras
puxas mais hidratos de carbono e protdn~i ( ) Cada dia
contralo 0 peso e controlo muito bem aquilo que como percebes De
manha e uma dose multo torte de hidratos de carbono papas
Ncstum Uma coisa muito com leltemagro scm Nada
de gorduras nada de manteig~~ nada De manha e 15S0 on2C horas
tambem comes alguma coisa uma sandufche com cafe com ramshy
bern magro Alrno~o tambem comes cada dia qualQuer coisa
corni guisado com com com urn bom azeite
Ao jantar ji epouca coisa porque nao estou naquela fase de tomar
aminokidos e nao preciso N 50 estoll agora naquela fase de puxar para
crescer agora estou assim Niio lhe dd as vezes vontade de comer sei Ed
um bolo com chantilly Nao mete porque sabes que re vai
fazer maL Olhas para mas nao com aquela vontade de comer Sabes
que e born mas nao tens 0 corpo esta em primeiro
Niio e que narcisismo ou uma coisa assim E urna preocupayao
saudiveL Nao eque estejas a olhar para 0 espelho ai que sou bonito
251
CLASSES ASSOCIATIVISMO E ESTADO
nao 1sto ja enarcisismo Mas todas as pessoas estao prcocupadas com
aqllelc reslIltado que conseguiu e nao vais estragar agora de urn dia
para 0 outro ( ) Trabalho como um relagio todos os dias tteino as
tres ( ) Tem que ser nao podes brincar com a corpo Tem que set
tudo controlado ( ) Precisas descansar Par isso tem que ser llma vida
bern organizada Levantar-se as mesmas horas comer as mesmas horas
descansar as mesmas horas treinar as mesmas horas Tern que ser tuclo
arranjadinho nao podes andar disparatadQ a fazer coisas II um culto
Por isso cque tern resultados
29 ANOS UCENCLADO ENFERMEIlZO PRATICANTE DE MUSCULA(AO
1Boa parte do oe do praticante empenhado em
erescer a massa muscular fassa entao a ser geridoem fun~5o da maxishy
mizaltaodos ganhos de vDlume e ddiniltao corporal Este e um
tivo que 0 faz Ianyar mao de um impladvd processo racional instrushy
de autogoverno e hiperdiseiplina do seu tempo e das actividades
do corpo e sobre 0 corpo A ohten~ao de urn corpo hiperbolico impliea
paradoxalmente um rigoroso comedimento dos seus habitos e
eomportarnentos mais habituais Quando a hiperdisciplina earacterisshy
tica das pratieas introduzidas na vida quotidiana ja nao e capaz de dar
resposta as voIumosas ambi~6es do indivfduo quando ji nao eonsegue
maximizar 0 potencial corporal idealizado como meta por parte do prashy
ticantc cste nao se da obrigatoriamente por veneido 0 desatlo dos seus
pessoais e propriamente fisicos pode ser superado atraves do
consumo de outros reeursos tambem produzidos e comercializados
industria de design corporal nao caras vezes nos mesmos espaos onde
o exerdeio fisieo os poreneia
Eentao que chega a nora de experimentar as vantagens dos supleshy
mentos alimentares exibidos nas prateleiras das gcandes e pequenas
superficies de lojas de despofto bern como das entradas de muitos
ginasios indo de encontro as (rapidas) amhilt6es dos seus frequentashy
dores Para aIem destes produros enconttam-se ainda disponfveis em
252
PESOS HALTERES E SENTfDOS DOS CORPOS
circuitos de comercio rna is alternativo e underground uma diversidade
de ester6ides anabolizantes e de outros produtos euja venda livre eilegal
pelos efeitos perversos que acarretam na homeostasia interna do orgashy
nlsmo mas cujos ganhos de e massa muscular sao surpreendentes
na quantidade e eeleridade bem como na redwao significativa da adishy
posidade 0 uso dessas drogas apolineas36 tem-Se tornado uma op~ao
disseminada entre outros praticantes de muscuIaltao que
nao apenas as fisioeulturistas que desde sempre riveram uma rela~o
axiomitica37 bull
Entretanto vim para ca e aqui come-eei a tomar suplemenro
uma proteinazinha uma creatinazinha Entretanto fahram-mc sobre
a tal siruaifao [esteraides anabolizantesJ e eu tentei experimentar
para saber uma situa~o de curiosidade () Espectacular rnesmo
Uma pessoa atinge urn nive mesmo muito bom E Ilma qualidad
brutal Por isso e que dizem que a malta que eomeltlt a faxer essas
coisas depois torna-se viciada
28 ANOS 100 ANO DESEMPREGADO PRAT1CANTE DE
Assim que comepmos a ganhar 0 mfnimo musculo queremos
semprc mais sempre mais sempre mais Depois atillgimos quase a
performance dai nao safmos mais Depois onde vamos recorrcr ea
substincias batidos e aminoicidos que epara ver se conseguimos
desenvolver mais 0 110SS0 conseguir desenvolver mais os
mUsculos E acaba nisso ( quase urn CicIo ( ) E dcpois da eonseguishy
mos mais vamos desenvolvendo desenvolvendo
24 ANOS 120 AlOAUXIUAR DE ACOtO MEDICA
PRATlCANTE DE MUSCULAltAo
253
I
CLASSES ASSOC1ATIVISMO E ESTADO
que os cultorcs da muscula~ao a actividade adamando
a sua preocupatao com a saude e 0 bem-estar presente e fururo represhy
sentando-a como uma mobilizada no scntido de manter ou
a forma e obter a imagem um corpo sauc1avel e atrashy
ente 0 facto c que a compreensao sempre positiva da entre cxershy
dcio e saude como afirmam Bagrichevsky e Estevao nao passa de uma
hipotese optimista38 Apesar de prevalecente enquanto ideal e a priori ramada por certa e incontroversa a rnixima despo[m c saude esconde
luitas vezes vivencias e representatoes
Com efeitoexistem cada vez mais situatoes em que as pretensoes
perfeccionistas e aobsess5n pela saude e peIo collt-mio do corp( podem
confIgurar cstados
mtermizados e
cinicamentc susceptivcis de sercm
J iuttoloeia do corpu
- ou
e saudiyei de lut ~e iessente a socdde e middotem grande
em exerdcio
dependentes dapropria imagem corpotal bull 1
-r que cnarm ltIe a qual sc esfof~m ao miximo por manter e
~oar -- compulsivos dotados grande perseveran~a t toleshy
rfll1cia ao sofriPlento traduzido em sintomas como a dor a exausshy
tao e a lesao entre outros n1enos comuns
Eu viciei-me nlquilo Viciei-me mesmo em ginasio Se nao fosse
para era como uma docnlta Tinha que if Era mesmo
6bcecado com aquilo C)Queria hear grande E fiquei V) 0
nvo era corpo como deg dessamiddotmalta que a gente ve af
( ) Depois toma-se urn vieio qucrer atingit (ilo
28 ANOS 100 amp10 DESEMPREGADO lRATICANTE DE MUSCULAltAo
HUSCUlaltao nunca pode vir a ser um problema Pode vir a scr
urn quando hi eXCt5SOS ( ) Mas os excessos nao controshy
[ados Porque eu neste momento estou a entrar numa de cxccssos
251
PESOS HALTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)ALTERADOS
mas controlados Os excesses tem que scr controlados Cbull ) A nIve
de problemas 0 unico problema que traz no fundo eisso quando os
excessos nao sao controlados De resto nao enada assim de
28 ANOS 110 ANO pOLfClA PRATICANTE DE MIJSCULAltAo
Apesar de serem mobilizadas no sentido da conformidade aos rnodeshy
los corporais referencia e reverencia as praticas muscula~ao e seus
sistemas f1sicos derivados podem a qualquer momento ver-se desvirtushy
no seu sentido original quando os projectos corporais que alimenshy
tam se rll1icalizam pdo excesso de di~ciplina na eonformdade aos
1l10delos de referencia institufdos Este de comportamentos hipershy
diciplinad)s pode traduzir-se por exemplo em comportamentos
sifcdos Gomodisturbio dismorfC( muscular mais vulgarmente conheshy
ruygttYl a vigorexia Tambem descrita como complexo de Adonis
ou anorexia reversiva39 trata-se uma sindrome caracrcrizada
bLW dos seus portadores geralmente homens e independentemente da
sua museulatura (embora sejam normal mente bern desenvolvidos)
deterem uma auto-imagem corporal diswrcida e persistente no
de se sentirem muito pequenos fraeos e frageis
simultanealllente pdo deseio de serem musculados e 0
medo de screm magros desenvolvem uma exceSSlva
exerdcio (ouertrtlining) por um tipo de hiperproteico
e pelo consumo regUlar de produtos sintcticos anab61icos e outros no
sentido de hipertroflar 0 seu sistema muscular A vigilancia dos resultashy
dos obtidos atravcs d3 flta mctrica da balan~ e do espeIho bem como
a reClef1iii~aoae e Slmeshy
tria de cada museulo e tambcm constante
riscos que potencialmente correm continuam a acreditar no seu poder
autocontrolo e em mante-Io em nome da sua saude Efcmeras ilus6cs
prometeicas que a seu tempo sc poderao transformar em f1tais
soes
255
CLASSES ASSOCIATIVISMO E ESTADO
edos (200~) Cultura da e vol 3 nY 13-25
in A Festa EdlJCaao Fisica Acampanh anti-patriotic que n 5279 17 ana 6 de JUlho de 1926
Jorge Crespo (1977) Hist6ria Ludens 2 n 1 45-52 Rui Gomes (1991) Poder e saber 0 corpo (1936-19401 de Educoao n 2middot3 Building a motor habitus physical in the Portuguese Estado Novo Intrmiddotmrrtionn
ofSpGrt vol 45 0 1 pp 23-37 -1 Prlt3tj r a corresponde ao que em
em muio as tor mas mai~ retentes e
5
in Ant6nio forg)
(19901 volw co POllugal Contemporonco (1926- (958) vol IV Usboa Alfa 333-338
10 In Ines (1999) Dons eDisciplinas do Corpo Feminino 0 OiscursoS5obre 0 COPO nu Historin do Esturio Novo bsboa Qrqanizcoes Nao Govt~rnamcntais do Consultivo Comissao 19ualdade e
3940 CGvalho (2005) lxplorando transferenci8lt nal prrmeiras deeadris
S~(ulo An61iseSocfaf vol XL nO 499-518j
12 In Hui Gomes (1991 I op 130 musculado dr Taborda chamava
do ~e(u0 nao Coriu dos Reereio$ do Desportos tambem aDs pal(os alem de ter sido (incovezes campeao rnundial e vezes
europeu de luta livre foi ainda ballarino Udo ern Paris e como duplo em algumas ploduoes de
Garcia Alvarez Onde para a rua ern corpinho bern Record Ana XXiii n 21B915 de Junho 1972 p 9
15 Ver Valter Cutum e IdentidadeA costuro social do moda em lIumanas (tese doutor
idrntitariamp na ocie Ide da Silva (orgs) tineroriw
pp671-689 17 Olivia Newton~ John liderava lugares clmeiros tops de vend as com a
can lao Lets get Physicol Jane ronda tornava-se na de marea da aerobica urn novo sistema fisieo mente teve exito atravegt do livra video best-seliersJane fondas Workout Nestes a dernonstrava eio a ern Beverly Hills por forma ao pratieante poder reproduzi-o no recolhimento do mats convlesse
1B Pam se ter uma no~ao compsritiva 0 futebol tem 1D0Y madamentc 150 mil praticantes federados ern Portugal 19 anuais elaborados Deia International Health
Association em (onjunto com J DeJaiHe e furor neilmente cedidos pea Associaao de Empres3s de Gi nasi os eAcademias
256
PESOS HAlTERES E SENTIDOS DOS CORlOS (H)AlTERADOS
19921) 0 Crepuscuo do A Etica Indolor des p129
a frente sao provenientes de urn con~ rnUSCLH3cao 110 ambito do de investiga~ao
por Vi tor a deeorrer no
maSCUlniOaCie in Miriam Golddenberg
[uitu[ois reoctonadas com 0 estetica eo jcrrl-eMo Otlsfrvat6r[o Que 0 Estado ja navia atraves da de distiplina de
Crespo Pedro Alcltlntara do (2009) 0 Estadoda Saude em Portugal USDaa Impreno
d~ (~iend3s Socials Segundo dados pelo Eurobarometro em 73 da populao nao praticava
reguiarmente exercicioshyVitor Seraio corpo in Machado Pais
peronte 0 Corpo Geiras Celta
qualquer reiaao d~fecta de causa-delta medida qlle ficarnos estimular a pratica de exerricio fisico
rontrario previa refexivamente PBra 35sodados asua
i~aizado noambJto do Observat0rio Perma-Ver Vftor Fcrrrira
33 Onde de metade (49) admitiu muscula~ao acrescendo 18 que afirmaram ter praticado
o
reverse
Adalescincio Latinoomericono volume 2 n 2 pp 97-101
257
1 CLASSES ASSOCIATIVISMO E ESTADO
masculinos atraves do aumento hiperb61ico da massa muscular Foi at
que desde finais do seculo XIX esse sistema fisico passou a ser produzido
em larga escala sendo comercializado nacional e intemacionalmente5
Comeltou por ser urn sistema fisico desenvolvido por entre gentes
de feiras circos e freak-shows itinerantes por entre a Europa e os EUA
onde corpos apolineos de lutadores e artistas-Ievantadores de pesos e
alteres em tangas de pee de leopardo participavam de uma cultura
visual que hiperbolizava a virilidade masculina atraves de demonstrashy
ltoes espectaculares de volume e forlta muscular Depois autonomiza-se
e amplia-se com a emergencia de campeonatos desportivos bern
como de todo urn mercado de equipamentos e sistemas de produltao
muscular que veio a estend~r-se dos clubes ou sociedades de ginasshy
tica a proprilt1 vida domestica e profissional com a comercializa=ao
de maquinas e sis[emas de movimento para utilizarao na sala eou roo
local de trabalho
Ainda que xiLanJ indicios da tentatiYa de integrarao deste tipo
de sistema em Portugal a visibilidade social que colossos musculados
poderiam obter era susceptive de ferir a paisagem moral que Salazar
idealizava Corpos como 0 de Manue da Silveira6 ou 0 de Francisco
Padinha7 - famosos recordistas mundiais de pesos e halteres durante a
I Republica ~ nao eram especialmente apreciados peas novas instancias
de poder
Em ruptura com concepltoes libertarias e viciosas do republicashy
nismo 0 corpo masculino ideal do Estado Novo nao correspondia a
uma cultura fisica atletica em que as priticas fisicas de modificaltao
corporal serviriam propositos frivolos hedonistas e individualistas assoshy
ciados abeeza ao prazer e asatisfarao pessoal do homem Aquee corpo
vinha antes ao encontro de uma cultura fisica higienista e moralizadora nao so com 0 objectivo colectivo de tomar os corpos dos jovens portushy
gueses mais fortes resistentes e imunes mas tambem socialmente mais
respeidveis e disciplinados A promoltao da saude do corpo nao s6 se
revearia no rendimento fisico do trabalho como Faria transparecer as
qualidades morais do individuo que se pretendiam de acordo com a
PESOS HALTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)ALTERADOS
nova ordem moral e social pretendida para a narao portuguesa Cada
corpo individualmente deveria entregar-se aautoridade do ideal colecshy
tivo e deixar transparecer os principios cristaos e politicos do regime
urn ideal fisico de virtude e pudor obediencia e disciplina sobriedade
e austeridade higiene e robustez8bull Urn corpo dedicado a Deus aPatria
aFamilia e ao T rabalh09bull
Instituiltoes como a Mocidade Portuguesa ou a Fundarao Nacional
para a Alegria no Trabalho em articularao com instituiltoes medicas
desportivas pedagogicas eclesiasticas e politicas adquiriam urn pape
central nesse projecto colectivo Atraves deas 0 Estado Novo tentava
toniflcar fisica e moralmente a sua juventude reformando-Ihe 0 esqueshy
leto ea musculatura tornando-lhe 0 espinhalto rijo e 0 pulso vigoroso
camo descreve Ines Brasao lO bull 0 incitamento ao exercicio fisico que os
jovens encontravam nessas organizaroes visava [[ansformar potenciais
corpos definhados enfezados e raquiticos em corpofrobustDs corados
e verticais capazes de enfrentar quaisquer adversidades a bern da naltao
Scm alinhar porem nos principios tecnicos e morais do body building norte-americano evitando que 0 corpo dos seus praticantes Fosse abanshy
donado a excessos apoHneos e narcisistas
A preocuparao poHtica com a fisicalidade dos portugueses favoreshy
ceu sim a adopltao do sistema fisico de Pehr Henrik Ling (1776-1839)
urn sueco cuja doutrina de educaltao fisica havia sido posta ern pratica
em outras naroes europeiasll 0 objectivo deste sistema nao era 0 adenshy
samento do sistema muscular mas 0 desenvolvimento racional de roda
a fisiologia e morfologia corporal de forma a socializar 0 praticante no
autocontrolo social das suas manifestaltoes fisicas e emocionais Vulgarshy
mente conhecido por ginastica sueca tratava-se de urn sistema racioshy
nal de exercicios localizados e sequencialmente cadenciados promotores
da respiraltao da verticalizaltao do aprumo e da correcltao dos movimenshy
to Executados em colectivos sincronizados e uniformizados de branco
sugeriam uma imagem de disciplina e ordem de pureza fisica e moral
de cooperaltao e de exortaltao nacional que esbatia e determinava as
singularidades de cada corpo fisico em nome do corpo social
234 235
CLASSES ASSOCIATIVISMO E ESTADO
Do sistema de Ling pretendia-se 0 adestramento de
des instintivas dos jovens rapazes atraves da incorpora~ao do gosto
disciplina e obediencia ligado a uma instru~ao militar preparat6shy
ria vocacionada para demonstralt6es de engralldecimento e exaltaltao
da patria bem como a seu tempo para a defesa do Imperio A forlta e
) tonicidade dos carpos masculinos bern como a ordem e a disciplina
colectiva quc demonstravam aquando das marchas plihlicas dos
filiados nos quadros da Legiao ou da Mocidade Portuguesa
simbolicamente a projecltao social da for~a do Estado sobre 0 territorio
nacional e imperial Mais do que replicar criterillS bcleza associ ados
a toniftcalt~o muscular a gi1astica suecaambicionava promover aptishy
does morais =1UaVeS do descnvolvimento racional e equilibrado d~ fisioshy
logia e morfokgia do corpo Cumprir-sc-ia assim 0 adestramento corshy
poral prescrito por Juvenal- mens sana in corpore sana - maxima eF
que em saLujsmo escorrcito queria dizer t()rmaltao da consciencia na
e atraves da disciplina e submissao dO$
Sinais demudanlta medraram nas decadas de cinquentae sessenta
Algumfl ousadia e desejo de ruplura nas atitudes e cuidados com 0
corpo ganharam enfase por cntre as camadas juvenis mals escolarizadas e nem sempre d6ceis e acriticas Muitos rapnes e rapallgas as corpos nao tanto pOl referencia as insrancias socializadorao do regime mas reportando-se as corporalidades
mais mundanas que se davam quotidianamente a ver nos jornais revisshy
tas cartazes espectaculos cinema e televisao Movidos pelas novas
referencias simb6licas que estes meios trouxeram assim como pelo
proprio comacto social quotidiano com os sectores femininos da popushy
laltao quer no trabalho quer na vida mundana os homens veem-se
socialmente pressionados para melhor cuidar a sua
corporal
A clegancia corporal de cones cinematogrMicos como John Wayne
Clark Gable ou Gregory Peck concorria socialmcnte com a virilidade
ostensiva de corpos como 0 de Tarzan Taborda13 pOI exemplo que
atraam a ateIlltao dos home11s e 0 desejo das mulheres para os ringues
236
PESOS HAITERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)ALTERADOS
portugueses de lura livre Escrevia Garcia Alvarez no jornal Record
ainda em 197214 Embora possua pouca yoga no 110SS0 Pais 0
rismo consegue chamar a 5i a atenltao eo interesse de rnilhares de adepshy
tos e goza de justificavel prestigio em muitos paises do mundo
palmentc no outro ado do Atlantico Na America do Norte entao
multiplicam-se os torneios para apuramento dos corpos mais modelares
diremos mais modelados - subsistindo 0 maior interesse e
entusiasmo pelas sucessivas deilt6es do laquoMr qualquer coisaraquo que culshy
minam com os certames correspondentes adesignaltao do laquoMr USAraquo e
do laquoMr Universoraquo A Falange feminina nao perde pitada destas compeshy
tilt6es seguindo com entusiasmo indescridvel as actua~6es mais salientes
respectivos idolos do momento
A tradicional alfaiataria entra em crise nos anos setenta nomeadashy
mente com a emergencia industria do proflto-a-vestir uma realishy
que tambem c011quist3 0 consumidot masculino 15 As Iinhas rna is
iDrmais e rfgidas no modo de vdtir sao ahandonadas e suhstitufdas
por uma moda jovem promotora lima silhueta mais leve e conshy
forrive que marcava e enfatizava as formas corporais Por outro
a progressiva expansao do direito a tempos de lazer e a ferias remuneshy
radas simuldlneo a propagaltao de parques de campismo e dos ideais
contacto com a Natureza tambern contribula para a exposi~ao de
urn corpo que se deveria mostrar atractivo por emre trajes de a
banhos cada vez mais cunos
Libertando-se das vesLimentas que os encobriam e dissimulavam
as corpos vao-se entao progressivamente desnudando e exibindo ao
lange da segullda metade do seculo XX portugues Vma liberdade
contudo condicionada por novas forltas e institui-oes sociais geradoras
de novas exigencjas e expectativas sociais que em condilt6es de exposishy
publica os tendem a encarnar e a moldar
nao vdculo de um projecto de identidade naclOnal au apenas
instrumento que carece manter robusto encrgico e bern nutrido para
trabalhar e garantir a sobrevivencla 0 corpo p6s-democratico ganha
visibilidade e valor social entre as mais novas de portugueses
237
U ~1~
i11
CLASSES ASSOCIATIVISMO E ESTADO
enquanto acessorio de identidade pessoal que urge cui dar investir e
plan ear Particularidades 1uperHuas que passavam discretamente por
entre roupas que 0 vclavam ganham 0 estatuto de imperfeiltao que urge
combater em nome novos canones corporais 0 corpo deseja-se agora
perfeito reHectindo uma imagem jovem e saudavel
o projecto colectivo de revigoramento f1sico politicamente conshy
duzido entao lU2ar a projectos individuals de manutencao e modishy
ficacao aconteceu nao apenas devido amudan)a de regime
politico mas tambem no contexto de urn conjunto alterayoes estrushy
turais na sociedade portuguesa ondc novos agentes e dinamicas mershy
cantilistas passaram a investir em forra Os pesos e halteres ltllCaUaIll
urn novo protagonismo social no mercado poftugues ganhando novos
contextos sociais e novas contlguraocs em varias actividadesffsicas
meios competitivos do balterofilismo do boc ou da
luta liv- ondc cram convocados como treino complementar para
autonomia relativa nas inumeras salas de ginasio e health
dubs onde passaram a ser mercantilizados no ambito de modalidades
pr6prias
Pesos e alteres na recente industria de design corporal
N urn contexto onde homens e mulheres passaram a exibir e
mais atentamente as suas aparcncias as foryas privadas do capitalismo
acabaram por contribuir mais do que as instituiyoes publicas higienistas
na difusao de novos habitos e cuidados corporais A incipiente
da moda e do design corporal que ja havia despontado antes do de
Abril cresce numa escala mais alargada e diversificada fragmentando
produtos e clientelas e alimentando expectativas e aspiraltDcs diferenciashy
das do passado Mais do que 0 ambicionado relligoramento fisico as
exigencias e desejos sociais gerados por essa industria VaG agora no senshy
tido do rejullenescimento C do aperfeiroamento da imagem e forma corshy
porais produzindo a ilusao massitlcada de cada um planear e
238
PESOS HALTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)ALTERADOS
esculpir 0 pr6prio COIPO dentro urn padrao de beleza estabelecido
globalmenteo
Novas lojas fabricantes e empresas nacionais e internacionais vem
afirmar-se no mercado portugues disponibilizando modernos e
ticados produtos tecnicas e serviyos de modificacao e manutenyao
corporal em esferas diversas Da cosmetica a da cirurgia
ao nutricionismo dos centros de estetica aos spa toda uma pletora
de bens tecnologias e servios de bem-estar e bem-parecer do corpo
que prometem 0 ajustamento aos canones corporais do momento l6
por sua vez no que a masculinidade dizem rcspeito veem
substituir a clegancia eo glamour das estrelas de cinema dos anos cinshy
quenta pda fora e vigor de herois de torso em forma de V represenshy
tados por Arnold Schwarzcnegger Sylvester Stallone ou Jean-Claude
Van Damme
POI entre esra florescente industria de aesigncorporal o cresshy
cimento de iniciativas comerciais de actividade fisica geridas por pane
do sector privado qlier ao nlvd do invcstimento em produtos para
em espao domestico desde sistemas de exerdcios peri6dishy
cos espccializados roupa e calltado ate equipamemo caseiro diverso17
quer ao nivel do investimento em espayOS colectivos proporcionadores
de um conjullto de produtos e servios bem-estar e bem-parecer
Esses espayos colectivos comc~aram por assumir a forma de ginasio
de bairro contexto popularizado nos anos oitenta Nestes a musshy
culaao surgia com lugar destacado ao lado de novas modalidades
como a ginastica aerobica a primeira mais orientada para urn publico
masculino a segunda para urn pliblico fcminino A pratica da muscushy
lacao poren1 ja adicionava aos tradicionais pesos e halteres rnodernos
cquipamentos ergonomicos dotados de um design mais apelativo onde
cada detalhe passaria a ser concebido com 0 intuito de proporcionar aos
novos LlllLaUUU~ urn trcino menos arriscado e sofrido mais comodo e
con fomlveL
Postcriormente ja proximo anos noventa a musculayao toi
dlUIlllUa no con texto dos clubs que vieram a instalar-se
239
CLASSES ASSOCIATIVrSMO E ESTADO
em espaos multifunciol1ais deposidrios de valencias diversas
nas areas da da saude da alirnentacao e do lazer corporal muishy
tos representantes de cadeias internacionais que se instalaram em
algumas das principais cidades pormguesas com elevados invcstimentos
em sofisticadas tecnicas de gestao mflrketing e publicidade para cap tar
e ftdelizar potenciais publicos-alvo Entre 0 ann 2000 e 0 ana de 2008
o numero de health clubs em Portugal passou de 600 a 1400
bando mais de 600 mil mernbrosl 8bull Com uma
57 em Portugal estas estruturas facturam
euros
ras os
mais 1
mIS riscos e caracteristicas
um programa de Heino adequado a detershy
rrunaao corpo e acompanhar individualmente a sua exccuao
- C0 do egolmilriintO que perpassa no desporto
amador contemporaneo um dos produtoslservi~os em que
os health clubs mais apostam hoje ern dia devido aos ganhos financciros
proporcionados exclusividade desse servico urn dos mais caros para
o cotlSumidor
Concomitamemcntc novas actividades ffsicas e desportivas emershy
gem no ambito destcs novos espaos anunciadas como esteategias para
enfrentar e Edar corn os duros dcsafios da sociedade contemporanea ao
mcsmo tempo que velhas modalidades se rcnovam e sofisticam transshy
formando-se em mercadoria vendavel e derelativamente faeil
lidade Sistemas fisicos ancestrais como 0 por
exemplo ou ate mesmo varias artes enquanto
no
A sempre presente nos ginasios
a pesos e halterc~
240
PESOS HALTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)ALTFRADOS
acurnulado de
oHlzaoo de
dlllCllU e coreografado ao
fIrmo de musleas do momento que apresenta como relatishy
vamente ao esquema anterior 0 facto de eoncentrar uma quamidade e
de exerdeios musculares num curto periodo de tempo
45 a 60) reeuperando as da pratica desporriva
em grupo e desta fonna proporcionando um ambieme estimulante e
divertido
o objccrivo inicial do body pump nos anos novema ted ido em
medida lucrativo atrair 0 publico-alvo maseulino para a pdtica
de ccrclcio fisico eolectivo nomeadarnenLe ao da ginistiea aeroshy
scm contudo deixar de Ihes proporcionar 0 e atletieo
que indiidualmente a pcatica da musculacao lhes concediarn O~fdy
pump a par de outras modalidades que foram sob 0 mesrno COI1shy
ceito (designados de body training ou group como 0 body balance body combat body body
jump ou 0 spinning - RPlvf) tern a
registadas
monitores
COlllerClaUampauas eoroduzem-se exactamente nos
exerdcios e re1pectJlVO
uallzaao a cada tees meses de a a desmlotlV3ltao
por via da repctiao continuada
muitas dessas modalidades nos anos noventa vieram
U~LdUlUllC no sentido de diminuir 0 sofrimento do treino solidrio ClStishy
dioso silencioso e ascetico gue ate af implicava 0 treino tradicional de
muscular substituil1do-o pelo divertimento proporcionado
soeiabilidade e a mitsica que passaram a parte desses sistemas
241
- CLASSES ASSOClATrvISMO E ESTADO
treino 0 que vern corroborar empiricamente a hipotese avanshy
ltada por Lipovetsky de que hoje em dia 0 desporto de massas eessenshy
cialmente uma actividade dominada pda procura do prazer
mismo energetico da experiencia de si proprio depois do desporto
disciplinar e moralista cis 0 desporto-lazer a desporto-saude 0 desporshy
to-desafio Da pratica desportiva esperamos apenas sensalt6es e equilibr
valorizasao individual e evasao norma e descontraclt3o ja nao e a vinude que legitima 0 despono mas sim a emmao corporal 0 prazer
a forma e psicologica 0 des porto tornou-se urn dosemblemas mais
da cultura nardsica centrada no extase do
Oprocesso crescimento e de diversiflcaltao comercial das activishy
rades ffsicas indoor beneficiou durante os anos oitentac noventa
uma conjuntura economica favorivd caracterizada pdo aumento do
poder de compra da populaltao portuguesa tpela melhoria das de vida alguns dos seus sectores e sociais nomeadamente
classes rr Mias A proliferalt3o de gimisios health clubs foi ltlinda
favorecida pdo prolongamento quer da esperanlta media de vida quer
das processos de escolarizaltao e de transiltao para a vida adulta Estas
din1Unicas que efectivamente fizeram dos reformadas e dos jovens
estudantes publicos-alvo fundamentals na promQ(ao de actividades
fisicas no espalto do ginasio considerando 0 tempo que tern POLCllUltUshy
mente disponivel ao longo do dia nome~damente fora das hons
maior wifego nos ginasios (perfodos almolto e p6s-laborais)
Urn outros pltblicos-alvo a que este segmento da indUstria de
design corporal mais se tem dirigido tern ido os homens mais disponishy
ao consumo dos sellS produtos e servi~os A imagem de
pader e competencia produzida e difundida pela publicidade e pclas
revistas hoje dedicadas ao segmento masculino ji nao e reflectida apenas
atravcs de sfmbolos tradicionais consumo masculino como 0 carro 0
relogio ou a can eta mas tam bern atraves investimentos na proawao
e manutenltao da aparencia fisica que tende a perder 0 formalismo do
fato-e-gravata A imagem de urn hamem atletico e cuidado passa a ser
inclusivamente apresentada como chave do sucesso entre as
242
PESOS HAITERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)AITERADOS
mais exigentes quanto aDS cuidados masculinos com a imagem Esta nova
mostra um novo homem preocupado com a flexibilidade da
sua pele com a domesticaltao dos seus odores com a qualidade do seu
[[sico com a tonicidade da sua silhueta com a definiltao do
seu abdomen com 0 volume do seu biceps A pdtica de musculaltao
assume entao tun valor estratcgico na produltao do actual corpo mascushy
referencia e de reverencia
Trata-se de facto do regime corporal socialmente mals difundido
estrategia de promoltao de urn modelo corporeidade ma~cu-
modelo adetico com acento na potencia vitalidade
IHUgtCUlaL 0 que de resto nao sera de surpreender dada
a diiilsao incorporada de estereotipos da sociedade ocidental sabre a masshy
que tradicionalmemc ligam os padr6es de perfectibilidade e
atractivlhde masculina ao modelo de corporeidade mesomorfico e hipershy
troEado em medida cOlldensado na massa muscular tCUlllUldUd
nos peltoral~ braltos e costas esnuturando um torso de
adclgalta ate a
Um homem deve ter os ombros mais largos do que a anea ter uma
anca fina e deve ser algo robusto mats cheinho Mais cheinho
mas nao e em gordura e em musculo ( ) Estou contente com 0 ter
aos 80 Guilos Acho que eu ainda tenho muito parauabalhar
ainda me falta muito trabalho frente Ainda vai ser uma coisa
que YCJo-me nos pr()X1mOS 6 an os a ter de trabalhar 0 corpo ate cheshy
gar 11 tal forma ideal ao corpo ideal ( ) Eo tal corpo masculino com
os ombros mais a cintura mais em V - Ii esra 0 torso em
V - e musculado
ESTUDANTE UNlVERSITiillIO 21 ANOS PRATICANTE DE MUSCUIAtAo
porem scm a rudeza do passado impressa pelas condilt6es de
nabalho que sem intenltio moldavam 0 corpo 0 corpo do hom em ja nao
e urn mero instrurnento que se abandona ao trabalho mas de proprio
243
CLASSES ASSOCIATfVTSMO E ESTADO
MlllUCla como COOl
extracltao total dos pel os que possam encobrir 0
ao
da simetria muscular conseguida
Mas os corpos femininos tambem nao ficaram de fora dos sistemas
fisicos associados a muscutaltao Com objectivos mais moderados em
termos de volume corporal e sobretudo direccionados para a perda de
adiposidade e tonificaltao determinadas zonas do corpo as mulheres
encontraram res posta aos seus anseios corporais sobretudo nos body Mesmo
aos pesos e e aoontrario
publico masCilliri~ as roulheres tendem a
do corpo como (lllS de intervenltao prioritaria no sentido da manuten
ltao ou mociitJG50 Face a tais aspiraltoes a chegoll
a conceber um sistema fisieo particular para dar ao pllbico
especificameme feminino comercializando-o sob a designaltio de GAP
uma modalidade que promove 0 trabalho de resistencia e forshy
talecimento atraves de varios exerdcios localizados nas zonas
dos gl(lteos abdommalS e pernas
Eu era ter aqude corpo musculado corpo bonito
que tada a gente rilio e () Nao llma mulher eXclgeJradamell1le
muscuCida porque perde os trayos femininosEuma mulher ddinida
Nao precisa de ser magra Nao acho que eaquele estereotipo de magre-La
que cada vez ha mais que leva as miudas hoje em dia a rornarem-se
anonxicas ( ) Hoje no ginasio a imagem que se quer passar e que
essa nao ea nao eo ideal de urn corpo 0 ideal de urn corpo e umamulher a mulher nao precisa de estar MOr
desde que bem ueWllUa e0 ideal
23 ANOS 120 ANO INSTRJroRA DE CARDlo-FrfNESS
244
PESOS HALTERES E SENTiDOS DOS CORPOS (H)AIrERADOS
tern
cas no seio da industria de design corporal Como assinala Fortuna
os de edllcalt3o ffsica tinham como vocaltao disciplinar 0 corpo
para for mar rnelhores cidactios mais saudaveis e competemes prepashy
rando-os para os desafios das novas sociedades surgidas com a industriashy
os actuais health clubs por seu lado associ am a juventude a
beleza e a satide do corpo aamo-confianya aauto-estima e ao bem-estar
ol(rcendo prodmos e serviltos a moldar 0 corpo amedida
e preocupalt6es de
outros mats imageticos
some body Estar em mostrar (determinadas)
A manifestalt3o mais valorizada do corpo saudavel deixa de
ser a seu rendimeDto fo1lta e para passar a ser a sua aparenshy
cia A sallde cosmetiza-se e torna-se num fen6meno estetico nao basta
mante-la mas fazer transparece-la nomeadamente atraves da aquisiltao
urn corpo perfeito Este par sua vez passa a ser condiltao sine
non para 0
Higt LdllI-la para a ser
Eu via que tinlIa urn corpo com varios problemas Precisava de
rirar a barriga algum poeu e Tinha urn peito quase fundo dentro
quase que nao se via a barriga mais saida que 0 peito Via que tinha
problemas e estava a caminhar para 0 problema da obesidade ( )
Agora quando olho para 0 espdho vejo urn corpo perfeito 0 que todo
o hornem gostaria de tef E simo-me orgulhoso por isso
AUXILlAR DE ACOO MEDICA 120 ANO 24 ANOS
PHKnCANTE DE
245
CLASSES ASSOCIATIVLSMO E ESTADO
despono ou pelo menos efectuar com regushy
[sica passou aser nao apenas urn direito25 mas
tambem urn dever sociedades contempodneas um
cuja falta acarreta frequentemente sentimentos de culpa pessoal
e aclt6es de sanyao social sobre aqueles que se encontram pouco
a descobrir as suas supostas vantagens ou cujos corpos se afastarn
da normatividade da silhueta canonica quese deseia bem deflllida e
tonificada
Pesos e halteres entre 0 estUode vida saudltivel doeura ddec a a sau
Se a pFl1rllpaltao com os cuidados corporlis era anteriOrrneHr proshy
pria das classt~s onis lhastad3s nas condilt6es
oitenta f) portugues comum passa a tcr acesso em qualqucr sureil1ler~
cadoa uma pan6plia de prodUloh tecnicas e servicos que prometem criar
e conservar um corpo jovem perfeira e saudive qualidades de refeshy
rencia e reverencia no culto conremporaneo do corpo Socialmente apreshy
sentados e mercantilizados em associacao acriacao de urn
produtor de salIde e preventor doenca tais produtos tecshy
nicas e servi~os sao frequentemente assumidos na vida quotidiana Como
sendodo oll mais importante que os propdes servicos de saude e de
prestacao de cuidados medicos na concretizayao do bem-estar fisico e
psicologico das pessoas A ideia hoje partilhada no imaginario
de que a saude ealgo que se conquista ccoroHrio simb61ico da delegashy
ltao social no individuo das formas manutenlt3o controlo e vigilancia
do corpo que outrora haviam sido exercidas pelas autoridades
A difusao e enraizamento social da assuncao de que e possivd obter
e manrera saude do corpo atraves do envolvimento do individuo num
de pratiCa5 ditas saudaveis acabaram efectivamente por impushy
tar a cada urn uma responsabilidade crescente pelo seu estado de
Concomitantemente em alguns contextos forneceram argumentos a
246
PESOS HAJTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)AIfERADOS
desresponsabiliza~o parcial do Estado em materia de ULUltlUU medicos
e sallde publica Doravante nao esuposto que os cidadaos necessitem
de instrw5es das autoridades e instituiltoes publicas sobre como cui dar
sua existencia ffsica 0 corpo passa a ser urn espaco regulado
opc5es e escolhas de cada urn entre a pleiade de produtos tecnicas
e serviltos actualmente ao seu dispor
Sob a egide da crenca na autoridade pessoal sobre 0 corpo cada pessoa
apartida detem plenos direitos sobre esse bern patrimonial sen do igualshy
mente responsive pelo cumprimento determinados deveres sociais
Estes passam entre outros pdo governo da sua respectiva aparencia e
de vida Ao indivfduo eatribufdo urn papd preponderante na
identificaltao e controlo atempado dos sintomas de patologias diversas
problemas cardiovasculares na preVcncao perante condutas
risco (nomeadameHte atTaves da redwao doakool e do tabaco
obrigatoriedade de sexo protegido ou do exerdcia Hsico) au na
cia e evitamento do que sao socialmente considerados excessos (alimen-
tares exposicao ao sol de medicaliiacentio etc)
da adop~ao cada vez matS generalizada desta nova atitude de
pntdencialismo individualist a perante 0 bem-estar corporal e a evolultao
da oroDorcao de populaltao que em Portugal na viragem do
desenvolver algum tipo de aCyao no sentido de melhorar ou
manter 0 seu estado de salide Segundo 0 estudo 0 Estado de Saude em
entre 2001 e 2008 a percentagem de portuguese que afirshy
mavam estar a tomar no momenta realizaltao do inquerito alguma
iniciativ3 no sentido de mclhorar ou manter 0 seu estado de saude
viu-se aumentar de 368 em 2001 para cerca de metade da populaltao
(498) em 2008
Segundo 0 mesmo estudo essa evolultao e acompanhada da alterashy
de comportamento declarado rclativamente a determinados hibishy
tos de vida considerados saudaveis designadamente no que respeita
ao exerdcio fisico A percentagem de portugueses que afirmam
exerdcio [SICO regular (ginistica COffer etc) ve-se significativamente
de 33 em 2001 para 475 em 2008 Mesmo que 11ao
247
11
CLASSES ASSOCIATIVISMO E ESTADO
se traduza numa pratica efectiva27 csta evolu~ao corresponded
a uma assinalivel incorporaltao social do dezJer-ser contemporaneo da
actividade fisica A representaiyao desta enquanto habito de vida saudishy
torna-se clara quando noutra investiga~a028 se constatou ser entre
os individuos que mais regularmente praticam exerdcio Hsico que mais
presente esta a percep~ao do risco cia sua ausencia quotidiana29
e born esaudiveJ eurn habito saudaveL E como se
fosse lel livros sel inteligente Esras a arranjar 0 teu corpo Sabes
que vais chegar aos quarenta e tal arros e ainda vais estar born Agora
muitos chegam aos qualcrrra e tal anos e ja esrao com barriga e
com sei a ter tanras ~u~tas coisas Ficas mas saudivel se estas a
treinar bem e sew mdar contra a tua
29 ANOS LH ENClfO ENFERMEI(O PRATICANTE DE MusCutAltAo
A tendcncia para a crenlta incontestlvel no exerdcio fisico como
habito de vida saudivel nao se apresenta contudo disrribulda
igual maneira no espa~o social e cultural portugues Sao varios os estushy
que tern localizado urn maior enraizamento social da disposi~ao
para a pratica de exerdcio fisico entre as mais jovens geralt6es e entre
os individuos provenientes dos estratos socioeconomicos mais clevashy
dos Resultadonao apenas das novas con(li~6es de sociais economicas
e simbolicas em que as gera~6es pos-25 de Abril sao socializadas relatishy
vamente ao corpo e aos cuidados corporais30 mas tambem de urn efeito
de trnsltao no curso
Investiga~6es realizadas sobre a pnitica de actividades ffsicas entre os
jovens portugueses denotam-na mais regular e intensiva nos grupos etashy
rios mais novos nomeadamente ate ainserlt5o no mercado de trabalho
e aassunlt5o de novas responsabilidades familiares31bull 0 que indica que
amedida que as etapas do processo de transi~ao para a vida adulta se vao
cum prindo a pritica desportiva vai efectivamente sendo abandonada no
quotidiano dos jovens portugueses
248
PESOS HALTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)ALTERADOS
No caso especifico da 11l~LU1ltll-alJ uma actividade particularmente
exigente em termos do tempo dispoIl lVei para a sua pratica esta tenshy
dencia revela-se particularrnente marcante Trata-se no eatanto de
uma das modalidades com maior adesao efectiva ou potencial entre os
jovens em Portugal A sua pdtica efectiva (prcsente ou passada)
declarada por cerca de 12 da populalt5o jovem porttlguesa no ano
200032 sendo 34 a percentagem de jovens que nunca tendo pratishy
cado admitiram vir a faze-Io no futuro Quer a sua pdtica efectiva
quer a sua pr~hica potencial viram-se substancialmeme acrescidas entre
os jovens do sexo lTlasculin033 com idades compreendidas entre 18 e
anos ainda a residir com a familia de origem ou sozinhos solteiros
ou ja separados ou divorciados sem filhos Perfil dpieo para stlstentar
a hip6tese de 0 aumento de massa muscular ser urn investimento corshy
poral que corresponde ellliarga medida a uma fOlm~de capitalizar
o potencial expressivo do corpo masculino em estrategiasde atracltao e
sedult5o
Embora a disponibilidade potencial para a pratica da musculaltao
- nunca fiz mas admito vir a fazec surja praticamente transversal aos
jovens qualquer que seja 0 seu estatuto social ou habitat de residencia
o facto cque as condilt6es materiais de existencia continuam a constranshy
ger a sua ptatica efectiva Mais devada entre os jovens que melhores
condilt6es sociais detem para fa_zet face as mensalidades exigidas pelos
cspaltos destinados ao seu exerdci0 34 a pratica de musculaltao decrescc
amedida que se desce na estrutura social de 26 entre os jovens de
estatuto social alto diminui para 9 entre os jovens de estatuto social
mais baixo Do mesmo modo sao os jovcns que tern urn acesso mais
facilitado as instalalt6es que disponibilizam tal servi~o quem mais adere
efectivamente a sua pritica ou seja os jovens residentes em habitat
e suburbano 0 sanho em obter urn corpo musculado revela-se
portanto substancialmente mats democratizado na sua distribui~ao social
(mediaticamente amplificada) do que as condi~6es que perrnitem a sua
concrecizaltao
149
CLASSES ASSOCIATIVISMO b ESTADO
Para fazer [musculayao] como se fosse urn culto tern que se rer
tempo e disponibilidade E depois tern que se ter vontade uma
vontade E dinheiro Estas sao as coisas vontade dinheiro e disposhy
nibilidade
29 ANOS LICENCLADO ENFER1v1EIRO PRATCANTE DE MUSCULAyo
Tern que se ter muita forlfa de vontade tem que eter
tambem () torna-se a tal de qlle eu poundalo eV1Clame
( ) A pessoa para rcr urn corpo assimrem quI s~ trabalhar muito
nao e Nao e brincaJeira 1150 e E preciso urn esforyo de
tempo alillleatar A nutri(ao entao se para
rnentos tem que $( fr n30 IE pode
28 ANOS 10deg ANO DESEM[REGADO JTICANTE DE MUSCULAtAo
Mesmo entre aqueles que reunem as condic5es socioeconomicas
que permitem 0 acesso a constru~ao urn corpo de atraves da
de muscidacento nem todos dispoem das disposilt6es subjectivas
C(IgtIIld para enfrentar 0 longo processo da suaconcretizasao Euma
dctividade que quando 0 objectivo ea obtensao eoumanuten~ao
urn dado modelo de compleiltao fisica volumoso e definido exige dos
seuspraticantes trabalho arduo e dedicaltao quase monastica forsa de
e determinacao perseveranlta e espfrito de sacriflcio pain no abnegalt3o e autocomrolo e disciplina Nao e por
acaso que entre os jovens que praticam algum tipo despono Oll actishy
vidade fisica sao os adeptos musculalt3o os que uma
tica mais intensiva e regular sendo mais de metade os que se exercitam
diaria ou quase diariamentel5
A maximizasao da estetica corporal proposta pela rnusculasao
ponamo a realizacao de uma etica que transcende a pritica
250
PESOS HALTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)ALTERADOS
desta modalidade e se estende a outros domfnios vida do seu
came A etica de disciplina cultivada durante os a dado momento
da efectivameute a ir dos tempos e espashy
lt05 que sao dedicados A alirnentacento passa a ser bastante cuidada
hiper-re5tritiva nas gorduras e e sobredimensionada nas proteinas
c hidratos de nutrientcs que permitem acumular energia para 0
t[eino eo concomitante crcscimento do volume muscular 0 sono Dassa a
ser tambem hiper-regrado sacrificando-se momentos de lazer e
noctumas por exemplo 0 tempo disponfvd para sociabilidadcs amicais
e por vezes atc familiares e Iaborais passa a ser gerido em funsao das
necessidades treino diario
aquela vontade de ter urna vida de mudar 0
corro ]a nao queres comer gotJuras porque estas aver 0 reu carpo
Vais a um piquenique ou qualquer coisa assilll e wrnes alguma coisa
assim mais na semana que vem ji se nota nosabdominais En Jesus
Cristo engordei Eja vais xiiiiiiiiiii Corras com fritos e com gorduras
puxas mais hidratos de carbono e protdn~i ( ) Cada dia
contralo 0 peso e controlo muito bem aquilo que como percebes De
manha e uma dose multo torte de hidratos de carbono papas
Ncstum Uma coisa muito com leltemagro scm Nada
de gorduras nada de manteig~~ nada De manha e 15S0 on2C horas
tambem comes alguma coisa uma sandufche com cafe com ramshy
bern magro Alrno~o tambem comes cada dia qualQuer coisa
corni guisado com com com urn bom azeite
Ao jantar ji epouca coisa porque nao estou naquela fase de tomar
aminokidos e nao preciso N 50 estoll agora naquela fase de puxar para
crescer agora estou assim Niio lhe dd as vezes vontade de comer sei Ed
um bolo com chantilly Nao mete porque sabes que re vai
fazer maL Olhas para mas nao com aquela vontade de comer Sabes
que e born mas nao tens 0 corpo esta em primeiro
Niio e que narcisismo ou uma coisa assim E urna preocupayao
saudiveL Nao eque estejas a olhar para 0 espelho ai que sou bonito
251
CLASSES ASSOCIATIVISMO E ESTADO
nao 1sto ja enarcisismo Mas todas as pessoas estao prcocupadas com
aqllelc reslIltado que conseguiu e nao vais estragar agora de urn dia
para 0 outro ( ) Trabalho como um relagio todos os dias tteino as
tres ( ) Tem que ser nao podes brincar com a corpo Tem que set
tudo controlado ( ) Precisas descansar Par isso tem que ser llma vida
bern organizada Levantar-se as mesmas horas comer as mesmas horas
descansar as mesmas horas treinar as mesmas horas Tern que ser tuclo
arranjadinho nao podes andar disparatadQ a fazer coisas II um culto
Por isso cque tern resultados
29 ANOS UCENCLADO ENFERMEIlZO PRATICANTE DE MUSCULA(AO
1Boa parte do oe do praticante empenhado em
erescer a massa muscular fassa entao a ser geridoem fun~5o da maxishy
mizaltaodos ganhos de vDlume e ddiniltao corporal Este e um
tivo que 0 faz Ianyar mao de um impladvd processo racional instrushy
de autogoverno e hiperdiseiplina do seu tempo e das actividades
do corpo e sobre 0 corpo A ohten~ao de urn corpo hiperbolico impliea
paradoxalmente um rigoroso comedimento dos seus habitos e
eomportarnentos mais habituais Quando a hiperdisciplina earacterisshy
tica das pratieas introduzidas na vida quotidiana ja nao e capaz de dar
resposta as voIumosas ambi~6es do indivfduo quando ji nao eonsegue
maximizar 0 potencial corporal idealizado como meta por parte do prashy
ticantc cste nao se da obrigatoriamente por veneido 0 desatlo dos seus
pessoais e propriamente fisicos pode ser superado atraves do
consumo de outros reeursos tambem produzidos e comercializados
industria de design corporal nao caras vezes nos mesmos espaos onde
o exerdeio fisieo os poreneia
Eentao que chega a nora de experimentar as vantagens dos supleshy
mentos alimentares exibidos nas prateleiras das gcandes e pequenas
superficies de lojas de despofto bern como das entradas de muitos
ginasios indo de encontro as (rapidas) amhilt6es dos seus frequentashy
dores Para aIem destes produros enconttam-se ainda disponfveis em
252
PESOS HALTERES E SENTfDOS DOS CORPOS
circuitos de comercio rna is alternativo e underground uma diversidade
de ester6ides anabolizantes e de outros produtos euja venda livre eilegal
pelos efeitos perversos que acarretam na homeostasia interna do orgashy
nlsmo mas cujos ganhos de e massa muscular sao surpreendentes
na quantidade e eeleridade bem como na redwao significativa da adishy
posidade 0 uso dessas drogas apolineas36 tem-Se tornado uma op~ao
disseminada entre outros praticantes de muscuIaltao que
nao apenas as fisioeulturistas que desde sempre riveram uma rela~o
axiomitica37 bull
Entretanto vim para ca e aqui come-eei a tomar suplemenro
uma proteinazinha uma creatinazinha Entretanto fahram-mc sobre
a tal siruaifao [esteraides anabolizantesJ e eu tentei experimentar
para saber uma situa~o de curiosidade () Espectacular rnesmo
Uma pessoa atinge urn nive mesmo muito bom E Ilma qualidad
brutal Por isso e que dizem que a malta que eomeltlt a faxer essas
coisas depois torna-se viciada
28 ANOS 100 ANO DESEMPREGADO PRAT1CANTE DE
Assim que comepmos a ganhar 0 mfnimo musculo queremos
semprc mais sempre mais sempre mais Depois atillgimos quase a
performance dai nao safmos mais Depois onde vamos recorrcr ea
substincias batidos e aminoicidos que epara ver se conseguimos
desenvolver mais 0 110SS0 conseguir desenvolver mais os
mUsculos E acaba nisso ( quase urn CicIo ( ) E dcpois da eonseguishy
mos mais vamos desenvolvendo desenvolvendo
24 ANOS 120 AlOAUXIUAR DE ACOtO MEDICA
PRATlCANTE DE MUSCULAltAo
253
I
CLASSES ASSOC1ATIVISMO E ESTADO
que os cultorcs da muscula~ao a actividade adamando
a sua preocupatao com a saude e 0 bem-estar presente e fururo represhy
sentando-a como uma mobilizada no scntido de manter ou
a forma e obter a imagem um corpo sauc1avel e atrashy
ente 0 facto c que a compreensao sempre positiva da entre cxershy
dcio e saude como afirmam Bagrichevsky e Estevao nao passa de uma
hipotese optimista38 Apesar de prevalecente enquanto ideal e a priori ramada por certa e incontroversa a rnixima despo[m c saude esconde
luitas vezes vivencias e representatoes
Com efeitoexistem cada vez mais situatoes em que as pretensoes
perfeccionistas e aobsess5n pela saude e peIo collt-mio do corp( podem
confIgurar cstados
mtermizados e
cinicamentc susceptivcis de sercm
J iuttoloeia do corpu
- ou
e saudiyei de lut ~e iessente a socdde e middotem grande
em exerdcio
dependentes dapropria imagem corpotal bull 1
-r que cnarm ltIe a qual sc esfof~m ao miximo por manter e
~oar -- compulsivos dotados grande perseveran~a t toleshy
rfll1cia ao sofriPlento traduzido em sintomas como a dor a exausshy
tao e a lesao entre outros n1enos comuns
Eu viciei-me nlquilo Viciei-me mesmo em ginasio Se nao fosse
para era como uma docnlta Tinha que if Era mesmo
6bcecado com aquilo C)Queria hear grande E fiquei V) 0
nvo era corpo como deg dessamiddotmalta que a gente ve af
( ) Depois toma-se urn vieio qucrer atingit (ilo
28 ANOS 100 amp10 DESEMPREGADO lRATICANTE DE MUSCULAltAo
HUSCUlaltao nunca pode vir a ser um problema Pode vir a scr
urn quando hi eXCt5SOS ( ) Mas os excessos nao controshy
[ados Porque eu neste momento estou a entrar numa de cxccssos
251
PESOS HALTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)ALTERADOS
mas controlados Os excesses tem que scr controlados Cbull ) A nIve
de problemas 0 unico problema que traz no fundo eisso quando os
excessos nao sao controlados De resto nao enada assim de
28 ANOS 110 ANO pOLfClA PRATICANTE DE MIJSCULAltAo
Apesar de serem mobilizadas no sentido da conformidade aos rnodeshy
los corporais referencia e reverencia as praticas muscula~ao e seus
sistemas f1sicos derivados podem a qualquer momento ver-se desvirtushy
no seu sentido original quando os projectos corporais que alimenshy
tam se rll1icalizam pdo excesso de di~ciplina na eonformdade aos
1l10delos de referencia institufdos Este de comportamentos hipershy
diciplinad)s pode traduzir-se por exemplo em comportamentos
sifcdos Gomodisturbio dismorfC( muscular mais vulgarmente conheshy
ruygttYl a vigorexia Tambem descrita como complexo de Adonis
ou anorexia reversiva39 trata-se uma sindrome caracrcrizada
bLW dos seus portadores geralmente homens e independentemente da
sua museulatura (embora sejam normal mente bern desenvolvidos)
deterem uma auto-imagem corporal diswrcida e persistente no
de se sentirem muito pequenos fraeos e frageis
simultanealllente pdo deseio de serem musculados e 0
medo de screm magros desenvolvem uma exceSSlva
exerdcio (ouertrtlining) por um tipo de hiperproteico
e pelo consumo regUlar de produtos sintcticos anab61icos e outros no
sentido de hipertroflar 0 seu sistema muscular A vigilancia dos resultashy
dos obtidos atravcs d3 flta mctrica da balan~ e do espeIho bem como
a reClef1iii~aoae e Slmeshy
tria de cada museulo e tambcm constante
riscos que potencialmente correm continuam a acreditar no seu poder
autocontrolo e em mante-Io em nome da sua saude Efcmeras ilus6cs
prometeicas que a seu tempo sc poderao transformar em f1tais
soes
255
CLASSES ASSOCIATIVISMO E ESTADO
edos (200~) Cultura da e vol 3 nY 13-25
in A Festa EdlJCaao Fisica Acampanh anti-patriotic que n 5279 17 ana 6 de JUlho de 1926
Jorge Crespo (1977) Hist6ria Ludens 2 n 1 45-52 Rui Gomes (1991) Poder e saber 0 corpo (1936-19401 de Educoao n 2middot3 Building a motor habitus physical in the Portuguese Estado Novo Intrmiddotmrrtionn
ofSpGrt vol 45 0 1 pp 23-37 -1 Prlt3tj r a corresponde ao que em
em muio as tor mas mai~ retentes e
5
in Ant6nio forg)
(19901 volw co POllugal Contemporonco (1926- (958) vol IV Usboa Alfa 333-338
10 In Ines (1999) Dons eDisciplinas do Corpo Feminino 0 OiscursoS5obre 0 COPO nu Historin do Esturio Novo bsboa Qrqanizcoes Nao Govt~rnamcntais do Consultivo Comissao 19ualdade e
3940 CGvalho (2005) lxplorando transferenci8lt nal prrmeiras deeadris
S~(ulo An61iseSocfaf vol XL nO 499-518j
12 In Hui Gomes (1991 I op 130 musculado dr Taborda chamava
do ~e(u0 nao Coriu dos Reereio$ do Desportos tambem aDs pal(os alem de ter sido (incovezes campeao rnundial e vezes
europeu de luta livre foi ainda ballarino Udo ern Paris e como duplo em algumas ploduoes de
Garcia Alvarez Onde para a rua ern corpinho bern Record Ana XXiii n 21B915 de Junho 1972 p 9
15 Ver Valter Cutum e IdentidadeA costuro social do moda em lIumanas (tese doutor
idrntitariamp na ocie Ide da Silva (orgs) tineroriw
pp671-689 17 Olivia Newton~ John liderava lugares clmeiros tops de vend as com a
can lao Lets get Physicol Jane ronda tornava-se na de marea da aerobica urn novo sistema fisieo mente teve exito atravegt do livra video best-seliersJane fondas Workout Nestes a dernonstrava eio a ern Beverly Hills por forma ao pratieante poder reproduzi-o no recolhimento do mats convlesse
1B Pam se ter uma no~ao compsritiva 0 futebol tem 1D0Y madamentc 150 mil praticantes federados ern Portugal 19 anuais elaborados Deia International Health
Association em (onjunto com J DeJaiHe e furor neilmente cedidos pea Associaao de Empres3s de Gi nasi os eAcademias
256
PESOS HAlTERES E SENTIDOS DOS CORlOS (H)AlTERADOS
19921) 0 Crepuscuo do A Etica Indolor des p129
a frente sao provenientes de urn con~ rnUSCLH3cao 110 ambito do de investiga~ao
por Vi tor a deeorrer no
maSCUlniOaCie in Miriam Golddenberg
[uitu[ois reoctonadas com 0 estetica eo jcrrl-eMo Otlsfrvat6r[o Que 0 Estado ja navia atraves da de distiplina de
Crespo Pedro Alcltlntara do (2009) 0 Estadoda Saude em Portugal USDaa Impreno
d~ (~iend3s Socials Segundo dados pelo Eurobarometro em 73 da populao nao praticava
reguiarmente exercicioshyVitor Seraio corpo in Machado Pais
peronte 0 Corpo Geiras Celta
qualquer reiaao d~fecta de causa-delta medida qlle ficarnos estimular a pratica de exerricio fisico
rontrario previa refexivamente PBra 35sodados asua
i~aizado noambJto do Observat0rio Perma-Ver Vftor Fcrrrira
33 Onde de metade (49) admitiu muscula~ao acrescendo 18 que afirmaram ter praticado
o
reverse
Adalescincio Latinoomericono volume 2 n 2 pp 97-101
257
CLASSES ASSOCIATIVISMO E ESTADO
Do sistema de Ling pretendia-se 0 adestramento de
des instintivas dos jovens rapazes atraves da incorpora~ao do gosto
disciplina e obediencia ligado a uma instru~ao militar preparat6shy
ria vocacionada para demonstralt6es de engralldecimento e exaltaltao
da patria bem como a seu tempo para a defesa do Imperio A forlta e
) tonicidade dos carpos masculinos bern como a ordem e a disciplina
colectiva quc demonstravam aquando das marchas plihlicas dos
filiados nos quadros da Legiao ou da Mocidade Portuguesa
simbolicamente a projecltao social da for~a do Estado sobre 0 territorio
nacional e imperial Mais do que replicar criterillS bcleza associ ados
a toniftcalt~o muscular a gi1astica suecaambicionava promover aptishy
does morais =1UaVeS do descnvolvimento racional e equilibrado d~ fisioshy
logia e morfokgia do corpo Cumprir-sc-ia assim 0 adestramento corshy
poral prescrito por Juvenal- mens sana in corpore sana - maxima eF
que em saLujsmo escorrcito queria dizer t()rmaltao da consciencia na
e atraves da disciplina e submissao dO$
Sinais demudanlta medraram nas decadas de cinquentae sessenta
Algumfl ousadia e desejo de ruplura nas atitudes e cuidados com 0
corpo ganharam enfase por cntre as camadas juvenis mals escolarizadas e nem sempre d6ceis e acriticas Muitos rapnes e rapallgas as corpos nao tanto pOl referencia as insrancias socializadorao do regime mas reportando-se as corporalidades
mais mundanas que se davam quotidianamente a ver nos jornais revisshy
tas cartazes espectaculos cinema e televisao Movidos pelas novas
referencias simb6licas que estes meios trouxeram assim como pelo
proprio comacto social quotidiano com os sectores femininos da popushy
laltao quer no trabalho quer na vida mundana os homens veem-se
socialmente pressionados para melhor cuidar a sua
corporal
A clegancia corporal de cones cinematogrMicos como John Wayne
Clark Gable ou Gregory Peck concorria socialmcnte com a virilidade
ostensiva de corpos como 0 de Tarzan Taborda13 pOI exemplo que
atraam a ateIlltao dos home11s e 0 desejo das mulheres para os ringues
236
PESOS HAITERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)ALTERADOS
portugueses de lura livre Escrevia Garcia Alvarez no jornal Record
ainda em 197214 Embora possua pouca yoga no 110SS0 Pais 0
rismo consegue chamar a 5i a atenltao eo interesse de rnilhares de adepshy
tos e goza de justificavel prestigio em muitos paises do mundo
palmentc no outro ado do Atlantico Na America do Norte entao
multiplicam-se os torneios para apuramento dos corpos mais modelares
diremos mais modelados - subsistindo 0 maior interesse e
entusiasmo pelas sucessivas deilt6es do laquoMr qualquer coisaraquo que culshy
minam com os certames correspondentes adesignaltao do laquoMr USAraquo e
do laquoMr Universoraquo A Falange feminina nao perde pitada destas compeshy
tilt6es seguindo com entusiasmo indescridvel as actua~6es mais salientes
respectivos idolos do momento
A tradicional alfaiataria entra em crise nos anos setenta nomeadashy
mente com a emergencia industria do proflto-a-vestir uma realishy
que tambem c011quist3 0 consumidot masculino 15 As Iinhas rna is
iDrmais e rfgidas no modo de vdtir sao ahandonadas e suhstitufdas
por uma moda jovem promotora lima silhueta mais leve e conshy
forrive que marcava e enfatizava as formas corporais Por outro
a progressiva expansao do direito a tempos de lazer e a ferias remuneshy
radas simuldlneo a propagaltao de parques de campismo e dos ideais
contacto com a Natureza tambern contribula para a exposi~ao de
urn corpo que se deveria mostrar atractivo por emre trajes de a
banhos cada vez mais cunos
Libertando-se das vesLimentas que os encobriam e dissimulavam
as corpos vao-se entao progressivamente desnudando e exibindo ao
lange da segullda metade do seculo XX portugues Vma liberdade
contudo condicionada por novas forltas e institui-oes sociais geradoras
de novas exigencjas e expectativas sociais que em condilt6es de exposishy
publica os tendem a encarnar e a moldar
nao vdculo de um projecto de identidade naclOnal au apenas
instrumento que carece manter robusto encrgico e bern nutrido para
trabalhar e garantir a sobrevivencla 0 corpo p6s-democratico ganha
visibilidade e valor social entre as mais novas de portugueses
237
U ~1~
i11
CLASSES ASSOCIATIVISMO E ESTADO
enquanto acessorio de identidade pessoal que urge cui dar investir e
plan ear Particularidades 1uperHuas que passavam discretamente por
entre roupas que 0 vclavam ganham 0 estatuto de imperfeiltao que urge
combater em nome novos canones corporais 0 corpo deseja-se agora
perfeito reHectindo uma imagem jovem e saudavel
o projecto colectivo de revigoramento f1sico politicamente conshy
duzido entao lU2ar a projectos individuals de manutencao e modishy
ficacao aconteceu nao apenas devido amudan)a de regime
politico mas tambem no contexto de urn conjunto alterayoes estrushy
turais na sociedade portuguesa ondc novos agentes e dinamicas mershy
cantilistas passaram a investir em forra Os pesos e halteres ltllCaUaIll
urn novo protagonismo social no mercado poftugues ganhando novos
contextos sociais e novas contlguraocs em varias actividadesffsicas
meios competitivos do balterofilismo do boc ou da
luta liv- ondc cram convocados como treino complementar para
autonomia relativa nas inumeras salas de ginasio e health
dubs onde passaram a ser mercantilizados no ambito de modalidades
pr6prias
Pesos e alteres na recente industria de design corporal
N urn contexto onde homens e mulheres passaram a exibir e
mais atentamente as suas aparcncias as foryas privadas do capitalismo
acabaram por contribuir mais do que as instituiyoes publicas higienistas
na difusao de novos habitos e cuidados corporais A incipiente
da moda e do design corporal que ja havia despontado antes do de
Abril cresce numa escala mais alargada e diversificada fragmentando
produtos e clientelas e alimentando expectativas e aspiraltDcs diferenciashy
das do passado Mais do que 0 ambicionado relligoramento fisico as
exigencias e desejos sociais gerados por essa industria VaG agora no senshy
tido do rejullenescimento C do aperfeiroamento da imagem e forma corshy
porais produzindo a ilusao massitlcada de cada um planear e
238
PESOS HALTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)ALTERADOS
esculpir 0 pr6prio COIPO dentro urn padrao de beleza estabelecido
globalmenteo
Novas lojas fabricantes e empresas nacionais e internacionais vem
afirmar-se no mercado portugues disponibilizando modernos e
ticados produtos tecnicas e serviyos de modificacao e manutenyao
corporal em esferas diversas Da cosmetica a da cirurgia
ao nutricionismo dos centros de estetica aos spa toda uma pletora
de bens tecnologias e servios de bem-estar e bem-parecer do corpo
que prometem 0 ajustamento aos canones corporais do momento l6
por sua vez no que a masculinidade dizem rcspeito veem
substituir a clegancia eo glamour das estrelas de cinema dos anos cinshy
quenta pda fora e vigor de herois de torso em forma de V represenshy
tados por Arnold Schwarzcnegger Sylvester Stallone ou Jean-Claude
Van Damme
POI entre esra florescente industria de aesigncorporal o cresshy
cimento de iniciativas comerciais de actividade fisica geridas por pane
do sector privado qlier ao nlvd do invcstimento em produtos para
em espao domestico desde sistemas de exerdcios peri6dishy
cos espccializados roupa e calltado ate equipamemo caseiro diverso17
quer ao nivel do investimento em espayOS colectivos proporcionadores
de um conjullto de produtos e servios bem-estar e bem-parecer
Esses espayos colectivos comc~aram por assumir a forma de ginasio
de bairro contexto popularizado nos anos oitenta Nestes a musshy
culaao surgia com lugar destacado ao lado de novas modalidades
como a ginastica aerobica a primeira mais orientada para urn publico
masculino a segunda para urn pliblico fcminino A pratica da muscushy
lacao poren1 ja adicionava aos tradicionais pesos e halteres rnodernos
cquipamentos ergonomicos dotados de um design mais apelativo onde
cada detalhe passaria a ser concebido com 0 intuito de proporcionar aos
novos LlllLaUUU~ urn trcino menos arriscado e sofrido mais comodo e
con fomlveL
Postcriormente ja proximo anos noventa a musculayao toi
dlUIlllUa no con texto dos clubs que vieram a instalar-se
239
CLASSES ASSOCIATIVrSMO E ESTADO
em espaos multifunciol1ais deposidrios de valencias diversas
nas areas da da saude da alirnentacao e do lazer corporal muishy
tos representantes de cadeias internacionais que se instalaram em
algumas das principais cidades pormguesas com elevados invcstimentos
em sofisticadas tecnicas de gestao mflrketing e publicidade para cap tar
e ftdelizar potenciais publicos-alvo Entre 0 ann 2000 e 0 ana de 2008
o numero de health clubs em Portugal passou de 600 a 1400
bando mais de 600 mil mernbrosl 8bull Com uma
57 em Portugal estas estruturas facturam
euros
ras os
mais 1
mIS riscos e caracteristicas
um programa de Heino adequado a detershy
rrunaao corpo e acompanhar individualmente a sua exccuao
- C0 do egolmilriintO que perpassa no desporto
amador contemporaneo um dos produtoslservi~os em que
os health clubs mais apostam hoje ern dia devido aos ganhos financciros
proporcionados exclusividade desse servico urn dos mais caros para
o cotlSumidor
Concomitamemcntc novas actividades ffsicas e desportivas emershy
gem no ambito destcs novos espaos anunciadas como esteategias para
enfrentar e Edar corn os duros dcsafios da sociedade contemporanea ao
mcsmo tempo que velhas modalidades se rcnovam e sofisticam transshy
formando-se em mercadoria vendavel e derelativamente faeil
lidade Sistemas fisicos ancestrais como 0 por
exemplo ou ate mesmo varias artes enquanto
no
A sempre presente nos ginasios
a pesos e halterc~
240
PESOS HALTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)ALTFRADOS
acurnulado de
oHlzaoo de
dlllCllU e coreografado ao
fIrmo de musleas do momento que apresenta como relatishy
vamente ao esquema anterior 0 facto de eoncentrar uma quamidade e
de exerdeios musculares num curto periodo de tempo
45 a 60) reeuperando as da pratica desporriva
em grupo e desta fonna proporcionando um ambieme estimulante e
divertido
o objccrivo inicial do body pump nos anos novema ted ido em
medida lucrativo atrair 0 publico-alvo maseulino para a pdtica
de ccrclcio fisico eolectivo nomeadarnenLe ao da ginistiea aeroshy
scm contudo deixar de Ihes proporcionar 0 e atletieo
que indiidualmente a pcatica da musculacao lhes concediarn O~fdy
pump a par de outras modalidades que foram sob 0 mesrno COI1shy
ceito (designados de body training ou group como 0 body balance body combat body body
jump ou 0 spinning - RPlvf) tern a
registadas
monitores
COlllerClaUampauas eoroduzem-se exactamente nos
exerdcios e re1pectJlVO
uallzaao a cada tees meses de a a desmlotlV3ltao
por via da repctiao continuada
muitas dessas modalidades nos anos noventa vieram
U~LdUlUllC no sentido de diminuir 0 sofrimento do treino solidrio ClStishy
dioso silencioso e ascetico gue ate af implicava 0 treino tradicional de
muscular substituil1do-o pelo divertimento proporcionado
soeiabilidade e a mitsica que passaram a parte desses sistemas
241
- CLASSES ASSOClATrvISMO E ESTADO
treino 0 que vern corroborar empiricamente a hipotese avanshy
ltada por Lipovetsky de que hoje em dia 0 desporto de massas eessenshy
cialmente uma actividade dominada pda procura do prazer
mismo energetico da experiencia de si proprio depois do desporto
disciplinar e moralista cis 0 desporto-lazer a desporto-saude 0 desporshy
to-desafio Da pratica desportiva esperamos apenas sensalt6es e equilibr
valorizasao individual e evasao norma e descontraclt3o ja nao e a vinude que legitima 0 despono mas sim a emmao corporal 0 prazer
a forma e psicologica 0 des porto tornou-se urn dosemblemas mais
da cultura nardsica centrada no extase do
Oprocesso crescimento e de diversiflcaltao comercial das activishy
rades ffsicas indoor beneficiou durante os anos oitentac noventa
uma conjuntura economica favorivd caracterizada pdo aumento do
poder de compra da populaltao portuguesa tpela melhoria das de vida alguns dos seus sectores e sociais nomeadamente
classes rr Mias A proliferalt3o de gimisios health clubs foi ltlinda
favorecida pdo prolongamento quer da esperanlta media de vida quer
das processos de escolarizaltao e de transiltao para a vida adulta Estas
din1Unicas que efectivamente fizeram dos reformadas e dos jovens
estudantes publicos-alvo fundamentals na promQ(ao de actividades
fisicas no espalto do ginasio considerando 0 tempo que tern POLCllUltUshy
mente disponivel ao longo do dia nome~damente fora das hons
maior wifego nos ginasios (perfodos almolto e p6s-laborais)
Urn outros pltblicos-alvo a que este segmento da indUstria de
design corporal mais se tem dirigido tern ido os homens mais disponishy
ao consumo dos sellS produtos e servi~os A imagem de
pader e competencia produzida e difundida pela publicidade e pclas
revistas hoje dedicadas ao segmento masculino ji nao e reflectida apenas
atravcs de sfmbolos tradicionais consumo masculino como 0 carro 0
relogio ou a can eta mas tam bern atraves investimentos na proawao
e manutenltao da aparencia fisica que tende a perder 0 formalismo do
fato-e-gravata A imagem de urn hamem atletico e cuidado passa a ser
inclusivamente apresentada como chave do sucesso entre as
242
PESOS HAITERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)AITERADOS
mais exigentes quanto aDS cuidados masculinos com a imagem Esta nova
mostra um novo homem preocupado com a flexibilidade da
sua pele com a domesticaltao dos seus odores com a qualidade do seu
[[sico com a tonicidade da sua silhueta com a definiltao do
seu abdomen com 0 volume do seu biceps A pdtica de musculaltao
assume entao tun valor estratcgico na produltao do actual corpo mascushy
referencia e de reverencia
Trata-se de facto do regime corporal socialmente mals difundido
estrategia de promoltao de urn modelo corporeidade ma~cu-
modelo adetico com acento na potencia vitalidade
IHUgtCUlaL 0 que de resto nao sera de surpreender dada
a diiilsao incorporada de estereotipos da sociedade ocidental sabre a masshy
que tradicionalmemc ligam os padr6es de perfectibilidade e
atractivlhde masculina ao modelo de corporeidade mesomorfico e hipershy
troEado em medida cOlldensado na massa muscular tCUlllUldUd
nos peltoral~ braltos e costas esnuturando um torso de
adclgalta ate a
Um homem deve ter os ombros mais largos do que a anea ter uma
anca fina e deve ser algo robusto mats cheinho Mais cheinho
mas nao e em gordura e em musculo ( ) Estou contente com 0 ter
aos 80 Guilos Acho que eu ainda tenho muito parauabalhar
ainda me falta muito trabalho frente Ainda vai ser uma coisa
que YCJo-me nos pr()X1mOS 6 an os a ter de trabalhar 0 corpo ate cheshy
gar 11 tal forma ideal ao corpo ideal ( ) Eo tal corpo masculino com
os ombros mais a cintura mais em V - Ii esra 0 torso em
V - e musculado
ESTUDANTE UNlVERSITiillIO 21 ANOS PRATICANTE DE MUSCUIAtAo
porem scm a rudeza do passado impressa pelas condilt6es de
nabalho que sem intenltio moldavam 0 corpo 0 corpo do hom em ja nao
e urn mero instrurnento que se abandona ao trabalho mas de proprio
243
CLASSES ASSOCIATfVTSMO E ESTADO
MlllUCla como COOl
extracltao total dos pel os que possam encobrir 0
ao
da simetria muscular conseguida
Mas os corpos femininos tambem nao ficaram de fora dos sistemas
fisicos associados a muscutaltao Com objectivos mais moderados em
termos de volume corporal e sobretudo direccionados para a perda de
adiposidade e tonificaltao determinadas zonas do corpo as mulheres
encontraram res posta aos seus anseios corporais sobretudo nos body Mesmo
aos pesos e e aoontrario
publico masCilliri~ as roulheres tendem a
do corpo como (lllS de intervenltao prioritaria no sentido da manuten
ltao ou mociitJG50 Face a tais aspiraltoes a chegoll
a conceber um sistema fisieo particular para dar ao pllbico
especificameme feminino comercializando-o sob a designaltio de GAP
uma modalidade que promove 0 trabalho de resistencia e forshy
talecimento atraves de varios exerdcios localizados nas zonas
dos gl(lteos abdommalS e pernas
Eu era ter aqude corpo musculado corpo bonito
que tada a gente rilio e () Nao llma mulher eXclgeJradamell1le
muscuCida porque perde os trayos femininosEuma mulher ddinida
Nao precisa de ser magra Nao acho que eaquele estereotipo de magre-La
que cada vez ha mais que leva as miudas hoje em dia a rornarem-se
anonxicas ( ) Hoje no ginasio a imagem que se quer passar e que
essa nao ea nao eo ideal de urn corpo 0 ideal de urn corpo e umamulher a mulher nao precisa de estar MOr
desde que bem ueWllUa e0 ideal
23 ANOS 120 ANO INSTRJroRA DE CARDlo-FrfNESS
244
PESOS HALTERES E SENTiDOS DOS CORPOS (H)AIrERADOS
tern
cas no seio da industria de design corporal Como assinala Fortuna
os de edllcalt3o ffsica tinham como vocaltao disciplinar 0 corpo
para for mar rnelhores cidactios mais saudaveis e competemes prepashy
rando-os para os desafios das novas sociedades surgidas com a industriashy
os actuais health clubs por seu lado associ am a juventude a
beleza e a satide do corpo aamo-confianya aauto-estima e ao bem-estar
ol(rcendo prodmos e serviltos a moldar 0 corpo amedida
e preocupalt6es de
outros mats imageticos
some body Estar em mostrar (determinadas)
A manifestalt3o mais valorizada do corpo saudavel deixa de
ser a seu rendimeDto fo1lta e para passar a ser a sua aparenshy
cia A sallde cosmetiza-se e torna-se num fen6meno estetico nao basta
mante-la mas fazer transparece-la nomeadamente atraves da aquisiltao
urn corpo perfeito Este par sua vez passa a ser condiltao sine
non para 0
Higt LdllI-la para a ser
Eu via que tinlIa urn corpo com varios problemas Precisava de
rirar a barriga algum poeu e Tinha urn peito quase fundo dentro
quase que nao se via a barriga mais saida que 0 peito Via que tinha
problemas e estava a caminhar para 0 problema da obesidade ( )
Agora quando olho para 0 espdho vejo urn corpo perfeito 0 que todo
o hornem gostaria de tef E simo-me orgulhoso por isso
AUXILlAR DE ACOO MEDICA 120 ANO 24 ANOS
PHKnCANTE DE
245
CLASSES ASSOCIATIVLSMO E ESTADO
despono ou pelo menos efectuar com regushy
[sica passou aser nao apenas urn direito25 mas
tambem urn dever sociedades contempodneas um
cuja falta acarreta frequentemente sentimentos de culpa pessoal
e aclt6es de sanyao social sobre aqueles que se encontram pouco
a descobrir as suas supostas vantagens ou cujos corpos se afastarn
da normatividade da silhueta canonica quese deseia bem deflllida e
tonificada
Pesos e halteres entre 0 estUode vida saudltivel doeura ddec a a sau
Se a pFl1rllpaltao com os cuidados corporlis era anteriOrrneHr proshy
pria das classt~s onis lhastad3s nas condilt6es
oitenta f) portugues comum passa a tcr acesso em qualqucr sureil1ler~
cadoa uma pan6plia de prodUloh tecnicas e servicos que prometem criar
e conservar um corpo jovem perfeira e saudive qualidades de refeshy
rencia e reverencia no culto conremporaneo do corpo Socialmente apreshy
sentados e mercantilizados em associacao acriacao de urn
produtor de salIde e preventor doenca tais produtos tecshy
nicas e servi~os sao frequentemente assumidos na vida quotidiana Como
sendodo oll mais importante que os propdes servicos de saude e de
prestacao de cuidados medicos na concretizayao do bem-estar fisico e
psicologico das pessoas A ideia hoje partilhada no imaginario
de que a saude ealgo que se conquista ccoroHrio simb61ico da delegashy
ltao social no individuo das formas manutenlt3o controlo e vigilancia
do corpo que outrora haviam sido exercidas pelas autoridades
A difusao e enraizamento social da assuncao de que e possivd obter
e manrera saude do corpo atraves do envolvimento do individuo num
de pratiCa5 ditas saudaveis acabaram efectivamente por impushy
tar a cada urn uma responsabilidade crescente pelo seu estado de
Concomitantemente em alguns contextos forneceram argumentos a
246
PESOS HAJTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)AIfERADOS
desresponsabiliza~o parcial do Estado em materia de ULUltlUU medicos
e sallde publica Doravante nao esuposto que os cidadaos necessitem
de instrw5es das autoridades e instituiltoes publicas sobre como cui dar
sua existencia ffsica 0 corpo passa a ser urn espaco regulado
opc5es e escolhas de cada urn entre a pleiade de produtos tecnicas
e serviltos actualmente ao seu dispor
Sob a egide da crenca na autoridade pessoal sobre 0 corpo cada pessoa
apartida detem plenos direitos sobre esse bern patrimonial sen do igualshy
mente responsive pelo cumprimento determinados deveres sociais
Estes passam entre outros pdo governo da sua respectiva aparencia e
de vida Ao indivfduo eatribufdo urn papd preponderante na
identificaltao e controlo atempado dos sintomas de patologias diversas
problemas cardiovasculares na preVcncao perante condutas
risco (nomeadameHte atTaves da redwao doakool e do tabaco
obrigatoriedade de sexo protegido ou do exerdcia Hsico) au na
cia e evitamento do que sao socialmente considerados excessos (alimen-
tares exposicao ao sol de medicaliiacentio etc)
da adop~ao cada vez matS generalizada desta nova atitude de
pntdencialismo individualist a perante 0 bem-estar corporal e a evolultao
da oroDorcao de populaltao que em Portugal na viragem do
desenvolver algum tipo de aCyao no sentido de melhorar ou
manter 0 seu estado de salide Segundo 0 estudo 0 Estado de Saude em
entre 2001 e 2008 a percentagem de portuguese que afirshy
mavam estar a tomar no momenta realizaltao do inquerito alguma
iniciativ3 no sentido de mclhorar ou manter 0 seu estado de saude
viu-se aumentar de 368 em 2001 para cerca de metade da populaltao
(498) em 2008
Segundo 0 mesmo estudo essa evolultao e acompanhada da alterashy
de comportamento declarado rclativamente a determinados hibishy
tos de vida considerados saudaveis designadamente no que respeita
ao exerdcio fisico A percentagem de portugueses que afirmam
exerdcio [SICO regular (ginistica COffer etc) ve-se significativamente
de 33 em 2001 para 475 em 2008 Mesmo que 11ao
247
11
CLASSES ASSOCIATIVISMO E ESTADO
se traduza numa pratica efectiva27 csta evolu~ao corresponded
a uma assinalivel incorporaltao social do dezJer-ser contemporaneo da
actividade fisica A representaiyao desta enquanto habito de vida saudishy
torna-se clara quando noutra investiga~a028 se constatou ser entre
os individuos que mais regularmente praticam exerdcio Hsico que mais
presente esta a percep~ao do risco cia sua ausencia quotidiana29
e born esaudiveJ eurn habito saudaveL E como se
fosse lel livros sel inteligente Esras a arranjar 0 teu corpo Sabes
que vais chegar aos quarenta e tal arros e ainda vais estar born Agora
muitos chegam aos qualcrrra e tal anos e ja esrao com barriga e
com sei a ter tanras ~u~tas coisas Ficas mas saudivel se estas a
treinar bem e sew mdar contra a tua
29 ANOS LH ENClfO ENFERMEI(O PRATICANTE DE MusCutAltAo
A tendcncia para a crenlta incontestlvel no exerdcio fisico como
habito de vida saudivel nao se apresenta contudo disrribulda
igual maneira no espa~o social e cultural portugues Sao varios os estushy
que tern localizado urn maior enraizamento social da disposi~ao
para a pratica de exerdcio fisico entre as mais jovens geralt6es e entre
os individuos provenientes dos estratos socioeconomicos mais clevashy
dos Resultadonao apenas das novas con(li~6es de sociais economicas
e simbolicas em que as gera~6es pos-25 de Abril sao socializadas relatishy
vamente ao corpo e aos cuidados corporais30 mas tambem de urn efeito
de trnsltao no curso
Investiga~6es realizadas sobre a pnitica de actividades ffsicas entre os
jovens portugueses denotam-na mais regular e intensiva nos grupos etashy
rios mais novos nomeadamente ate ainserlt5o no mercado de trabalho
e aassunlt5o de novas responsabilidades familiares31bull 0 que indica que
amedida que as etapas do processo de transi~ao para a vida adulta se vao
cum prindo a pritica desportiva vai efectivamente sendo abandonada no
quotidiano dos jovens portugueses
248
PESOS HALTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)ALTERADOS
No caso especifico da 11l~LU1ltll-alJ uma actividade particularmente
exigente em termos do tempo dispoIl lVei para a sua pratica esta tenshy
dencia revela-se particularrnente marcante Trata-se no eatanto de
uma das modalidades com maior adesao efectiva ou potencial entre os
jovens em Portugal A sua pdtica efectiva (prcsente ou passada)
declarada por cerca de 12 da populalt5o jovem porttlguesa no ano
200032 sendo 34 a percentagem de jovens que nunca tendo pratishy
cado admitiram vir a faze-Io no futuro Quer a sua pdtica efectiva
quer a sua pr~hica potencial viram-se substancialmeme acrescidas entre
os jovens do sexo lTlasculin033 com idades compreendidas entre 18 e
anos ainda a residir com a familia de origem ou sozinhos solteiros
ou ja separados ou divorciados sem filhos Perfil dpieo para stlstentar
a hip6tese de 0 aumento de massa muscular ser urn investimento corshy
poral que corresponde ellliarga medida a uma fOlm~de capitalizar
o potencial expressivo do corpo masculino em estrategiasde atracltao e
sedult5o
Embora a disponibilidade potencial para a pratica da musculaltao
- nunca fiz mas admito vir a fazec surja praticamente transversal aos
jovens qualquer que seja 0 seu estatuto social ou habitat de residencia
o facto cque as condilt6es materiais de existencia continuam a constranshy
ger a sua ptatica efectiva Mais devada entre os jovens que melhores
condilt6es sociais detem para fa_zet face as mensalidades exigidas pelos
cspaltos destinados ao seu exerdci0 34 a pratica de musculaltao decrescc
amedida que se desce na estrutura social de 26 entre os jovens de
estatuto social alto diminui para 9 entre os jovens de estatuto social
mais baixo Do mesmo modo sao os jovcns que tern urn acesso mais
facilitado as instalalt6es que disponibilizam tal servi~o quem mais adere
efectivamente a sua pritica ou seja os jovens residentes em habitat
e suburbano 0 sanho em obter urn corpo musculado revela-se
portanto substancialmente mats democratizado na sua distribui~ao social
(mediaticamente amplificada) do que as condi~6es que perrnitem a sua
concrecizaltao
149
CLASSES ASSOCIATIVISMO b ESTADO
Para fazer [musculayao] como se fosse urn culto tern que se rer
tempo e disponibilidade E depois tern que se ter vontade uma
vontade E dinheiro Estas sao as coisas vontade dinheiro e disposhy
nibilidade
29 ANOS LICENCLADO ENFER1v1EIRO PRATCANTE DE MUSCULAyo
Tern que se ter muita forlfa de vontade tem que eter
tambem () torna-se a tal de qlle eu poundalo eV1Clame
( ) A pessoa para rcr urn corpo assimrem quI s~ trabalhar muito
nao e Nao e brincaJeira 1150 e E preciso urn esforyo de
tempo alillleatar A nutri(ao entao se para
rnentos tem que $( fr n30 IE pode
28 ANOS 10deg ANO DESEM[REGADO JTICANTE DE MUSCULAtAo
Mesmo entre aqueles que reunem as condic5es socioeconomicas
que permitem 0 acesso a constru~ao urn corpo de atraves da
de muscidacento nem todos dispoem das disposilt6es subjectivas
C(IgtIIld para enfrentar 0 longo processo da suaconcretizasao Euma
dctividade que quando 0 objectivo ea obtensao eoumanuten~ao
urn dado modelo de compleiltao fisica volumoso e definido exige dos
seuspraticantes trabalho arduo e dedicaltao quase monastica forsa de
e determinacao perseveranlta e espfrito de sacriflcio pain no abnegalt3o e autocomrolo e disciplina Nao e por
acaso que entre os jovens que praticam algum tipo despono Oll actishy
vidade fisica sao os adeptos musculalt3o os que uma
tica mais intensiva e regular sendo mais de metade os que se exercitam
diaria ou quase diariamentel5
A maximizasao da estetica corporal proposta pela rnusculasao
ponamo a realizacao de uma etica que transcende a pritica
250
PESOS HALTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)ALTERADOS
desta modalidade e se estende a outros domfnios vida do seu
came A etica de disciplina cultivada durante os a dado momento
da efectivameute a ir dos tempos e espashy
lt05 que sao dedicados A alirnentacento passa a ser bastante cuidada
hiper-re5tritiva nas gorduras e e sobredimensionada nas proteinas
c hidratos de nutrientcs que permitem acumular energia para 0
t[eino eo concomitante crcscimento do volume muscular 0 sono Dassa a
ser tambem hiper-regrado sacrificando-se momentos de lazer e
noctumas por exemplo 0 tempo disponfvd para sociabilidadcs amicais
e por vezes atc familiares e Iaborais passa a ser gerido em funsao das
necessidades treino diario
aquela vontade de ter urna vida de mudar 0
corro ]a nao queres comer gotJuras porque estas aver 0 reu carpo
Vais a um piquenique ou qualquer coisa assilll e wrnes alguma coisa
assim mais na semana que vem ji se nota nosabdominais En Jesus
Cristo engordei Eja vais xiiiiiiiiiii Corras com fritos e com gorduras
puxas mais hidratos de carbono e protdn~i ( ) Cada dia
contralo 0 peso e controlo muito bem aquilo que como percebes De
manha e uma dose multo torte de hidratos de carbono papas
Ncstum Uma coisa muito com leltemagro scm Nada
de gorduras nada de manteig~~ nada De manha e 15S0 on2C horas
tambem comes alguma coisa uma sandufche com cafe com ramshy
bern magro Alrno~o tambem comes cada dia qualQuer coisa
corni guisado com com com urn bom azeite
Ao jantar ji epouca coisa porque nao estou naquela fase de tomar
aminokidos e nao preciso N 50 estoll agora naquela fase de puxar para
crescer agora estou assim Niio lhe dd as vezes vontade de comer sei Ed
um bolo com chantilly Nao mete porque sabes que re vai
fazer maL Olhas para mas nao com aquela vontade de comer Sabes
que e born mas nao tens 0 corpo esta em primeiro
Niio e que narcisismo ou uma coisa assim E urna preocupayao
saudiveL Nao eque estejas a olhar para 0 espelho ai que sou bonito
251
CLASSES ASSOCIATIVISMO E ESTADO
nao 1sto ja enarcisismo Mas todas as pessoas estao prcocupadas com
aqllelc reslIltado que conseguiu e nao vais estragar agora de urn dia
para 0 outro ( ) Trabalho como um relagio todos os dias tteino as
tres ( ) Tem que ser nao podes brincar com a corpo Tem que set
tudo controlado ( ) Precisas descansar Par isso tem que ser llma vida
bern organizada Levantar-se as mesmas horas comer as mesmas horas
descansar as mesmas horas treinar as mesmas horas Tern que ser tuclo
arranjadinho nao podes andar disparatadQ a fazer coisas II um culto
Por isso cque tern resultados
29 ANOS UCENCLADO ENFERMEIlZO PRATICANTE DE MUSCULA(AO
1Boa parte do oe do praticante empenhado em
erescer a massa muscular fassa entao a ser geridoem fun~5o da maxishy
mizaltaodos ganhos de vDlume e ddiniltao corporal Este e um
tivo que 0 faz Ianyar mao de um impladvd processo racional instrushy
de autogoverno e hiperdiseiplina do seu tempo e das actividades
do corpo e sobre 0 corpo A ohten~ao de urn corpo hiperbolico impliea
paradoxalmente um rigoroso comedimento dos seus habitos e
eomportarnentos mais habituais Quando a hiperdisciplina earacterisshy
tica das pratieas introduzidas na vida quotidiana ja nao e capaz de dar
resposta as voIumosas ambi~6es do indivfduo quando ji nao eonsegue
maximizar 0 potencial corporal idealizado como meta por parte do prashy
ticantc cste nao se da obrigatoriamente por veneido 0 desatlo dos seus
pessoais e propriamente fisicos pode ser superado atraves do
consumo de outros reeursos tambem produzidos e comercializados
industria de design corporal nao caras vezes nos mesmos espaos onde
o exerdeio fisieo os poreneia
Eentao que chega a nora de experimentar as vantagens dos supleshy
mentos alimentares exibidos nas prateleiras das gcandes e pequenas
superficies de lojas de despofto bern como das entradas de muitos
ginasios indo de encontro as (rapidas) amhilt6es dos seus frequentashy
dores Para aIem destes produros enconttam-se ainda disponfveis em
252
PESOS HALTERES E SENTfDOS DOS CORPOS
circuitos de comercio rna is alternativo e underground uma diversidade
de ester6ides anabolizantes e de outros produtos euja venda livre eilegal
pelos efeitos perversos que acarretam na homeostasia interna do orgashy
nlsmo mas cujos ganhos de e massa muscular sao surpreendentes
na quantidade e eeleridade bem como na redwao significativa da adishy
posidade 0 uso dessas drogas apolineas36 tem-Se tornado uma op~ao
disseminada entre outros praticantes de muscuIaltao que
nao apenas as fisioeulturistas que desde sempre riveram uma rela~o
axiomitica37 bull
Entretanto vim para ca e aqui come-eei a tomar suplemenro
uma proteinazinha uma creatinazinha Entretanto fahram-mc sobre
a tal siruaifao [esteraides anabolizantesJ e eu tentei experimentar
para saber uma situa~o de curiosidade () Espectacular rnesmo
Uma pessoa atinge urn nive mesmo muito bom E Ilma qualidad
brutal Por isso e que dizem que a malta que eomeltlt a faxer essas
coisas depois torna-se viciada
28 ANOS 100 ANO DESEMPREGADO PRAT1CANTE DE
Assim que comepmos a ganhar 0 mfnimo musculo queremos
semprc mais sempre mais sempre mais Depois atillgimos quase a
performance dai nao safmos mais Depois onde vamos recorrcr ea
substincias batidos e aminoicidos que epara ver se conseguimos
desenvolver mais 0 110SS0 conseguir desenvolver mais os
mUsculos E acaba nisso ( quase urn CicIo ( ) E dcpois da eonseguishy
mos mais vamos desenvolvendo desenvolvendo
24 ANOS 120 AlOAUXIUAR DE ACOtO MEDICA
PRATlCANTE DE MUSCULAltAo
253
I
CLASSES ASSOC1ATIVISMO E ESTADO
que os cultorcs da muscula~ao a actividade adamando
a sua preocupatao com a saude e 0 bem-estar presente e fururo represhy
sentando-a como uma mobilizada no scntido de manter ou
a forma e obter a imagem um corpo sauc1avel e atrashy
ente 0 facto c que a compreensao sempre positiva da entre cxershy
dcio e saude como afirmam Bagrichevsky e Estevao nao passa de uma
hipotese optimista38 Apesar de prevalecente enquanto ideal e a priori ramada por certa e incontroversa a rnixima despo[m c saude esconde
luitas vezes vivencias e representatoes
Com efeitoexistem cada vez mais situatoes em que as pretensoes
perfeccionistas e aobsess5n pela saude e peIo collt-mio do corp( podem
confIgurar cstados
mtermizados e
cinicamentc susceptivcis de sercm
J iuttoloeia do corpu
- ou
e saudiyei de lut ~e iessente a socdde e middotem grande
em exerdcio
dependentes dapropria imagem corpotal bull 1
-r que cnarm ltIe a qual sc esfof~m ao miximo por manter e
~oar -- compulsivos dotados grande perseveran~a t toleshy
rfll1cia ao sofriPlento traduzido em sintomas como a dor a exausshy
tao e a lesao entre outros n1enos comuns
Eu viciei-me nlquilo Viciei-me mesmo em ginasio Se nao fosse
para era como uma docnlta Tinha que if Era mesmo
6bcecado com aquilo C)Queria hear grande E fiquei V) 0
nvo era corpo como deg dessamiddotmalta que a gente ve af
( ) Depois toma-se urn vieio qucrer atingit (ilo
28 ANOS 100 amp10 DESEMPREGADO lRATICANTE DE MUSCULAltAo
HUSCUlaltao nunca pode vir a ser um problema Pode vir a scr
urn quando hi eXCt5SOS ( ) Mas os excessos nao controshy
[ados Porque eu neste momento estou a entrar numa de cxccssos
251
PESOS HALTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)ALTERADOS
mas controlados Os excesses tem que scr controlados Cbull ) A nIve
de problemas 0 unico problema que traz no fundo eisso quando os
excessos nao sao controlados De resto nao enada assim de
28 ANOS 110 ANO pOLfClA PRATICANTE DE MIJSCULAltAo
Apesar de serem mobilizadas no sentido da conformidade aos rnodeshy
los corporais referencia e reverencia as praticas muscula~ao e seus
sistemas f1sicos derivados podem a qualquer momento ver-se desvirtushy
no seu sentido original quando os projectos corporais que alimenshy
tam se rll1icalizam pdo excesso de di~ciplina na eonformdade aos
1l10delos de referencia institufdos Este de comportamentos hipershy
diciplinad)s pode traduzir-se por exemplo em comportamentos
sifcdos Gomodisturbio dismorfC( muscular mais vulgarmente conheshy
ruygttYl a vigorexia Tambem descrita como complexo de Adonis
ou anorexia reversiva39 trata-se uma sindrome caracrcrizada
bLW dos seus portadores geralmente homens e independentemente da
sua museulatura (embora sejam normal mente bern desenvolvidos)
deterem uma auto-imagem corporal diswrcida e persistente no
de se sentirem muito pequenos fraeos e frageis
simultanealllente pdo deseio de serem musculados e 0
medo de screm magros desenvolvem uma exceSSlva
exerdcio (ouertrtlining) por um tipo de hiperproteico
e pelo consumo regUlar de produtos sintcticos anab61icos e outros no
sentido de hipertroflar 0 seu sistema muscular A vigilancia dos resultashy
dos obtidos atravcs d3 flta mctrica da balan~ e do espeIho bem como
a reClef1iii~aoae e Slmeshy
tria de cada museulo e tambcm constante
riscos que potencialmente correm continuam a acreditar no seu poder
autocontrolo e em mante-Io em nome da sua saude Efcmeras ilus6cs
prometeicas que a seu tempo sc poderao transformar em f1tais
soes
255
CLASSES ASSOCIATIVISMO E ESTADO
edos (200~) Cultura da e vol 3 nY 13-25
in A Festa EdlJCaao Fisica Acampanh anti-patriotic que n 5279 17 ana 6 de JUlho de 1926
Jorge Crespo (1977) Hist6ria Ludens 2 n 1 45-52 Rui Gomes (1991) Poder e saber 0 corpo (1936-19401 de Educoao n 2middot3 Building a motor habitus physical in the Portuguese Estado Novo Intrmiddotmrrtionn
ofSpGrt vol 45 0 1 pp 23-37 -1 Prlt3tj r a corresponde ao que em
em muio as tor mas mai~ retentes e
5
in Ant6nio forg)
(19901 volw co POllugal Contemporonco (1926- (958) vol IV Usboa Alfa 333-338
10 In Ines (1999) Dons eDisciplinas do Corpo Feminino 0 OiscursoS5obre 0 COPO nu Historin do Esturio Novo bsboa Qrqanizcoes Nao Govt~rnamcntais do Consultivo Comissao 19ualdade e
3940 CGvalho (2005) lxplorando transferenci8lt nal prrmeiras deeadris
S~(ulo An61iseSocfaf vol XL nO 499-518j
12 In Hui Gomes (1991 I op 130 musculado dr Taborda chamava
do ~e(u0 nao Coriu dos Reereio$ do Desportos tambem aDs pal(os alem de ter sido (incovezes campeao rnundial e vezes
europeu de luta livre foi ainda ballarino Udo ern Paris e como duplo em algumas ploduoes de
Garcia Alvarez Onde para a rua ern corpinho bern Record Ana XXiii n 21B915 de Junho 1972 p 9
15 Ver Valter Cutum e IdentidadeA costuro social do moda em lIumanas (tese doutor
idrntitariamp na ocie Ide da Silva (orgs) tineroriw
pp671-689 17 Olivia Newton~ John liderava lugares clmeiros tops de vend as com a
can lao Lets get Physicol Jane ronda tornava-se na de marea da aerobica urn novo sistema fisieo mente teve exito atravegt do livra video best-seliersJane fondas Workout Nestes a dernonstrava eio a ern Beverly Hills por forma ao pratieante poder reproduzi-o no recolhimento do mats convlesse
1B Pam se ter uma no~ao compsritiva 0 futebol tem 1D0Y madamentc 150 mil praticantes federados ern Portugal 19 anuais elaborados Deia International Health
Association em (onjunto com J DeJaiHe e furor neilmente cedidos pea Associaao de Empres3s de Gi nasi os eAcademias
256
PESOS HAlTERES E SENTIDOS DOS CORlOS (H)AlTERADOS
19921) 0 Crepuscuo do A Etica Indolor des p129
a frente sao provenientes de urn con~ rnUSCLH3cao 110 ambito do de investiga~ao
por Vi tor a deeorrer no
maSCUlniOaCie in Miriam Golddenberg
[uitu[ois reoctonadas com 0 estetica eo jcrrl-eMo Otlsfrvat6r[o Que 0 Estado ja navia atraves da de distiplina de
Crespo Pedro Alcltlntara do (2009) 0 Estadoda Saude em Portugal USDaa Impreno
d~ (~iend3s Socials Segundo dados pelo Eurobarometro em 73 da populao nao praticava
reguiarmente exercicioshyVitor Seraio corpo in Machado Pais
peronte 0 Corpo Geiras Celta
qualquer reiaao d~fecta de causa-delta medida qlle ficarnos estimular a pratica de exerricio fisico
rontrario previa refexivamente PBra 35sodados asua
i~aizado noambJto do Observat0rio Perma-Ver Vftor Fcrrrira
33 Onde de metade (49) admitiu muscula~ao acrescendo 18 que afirmaram ter praticado
o
reverse
Adalescincio Latinoomericono volume 2 n 2 pp 97-101
257
U ~1~
i11
CLASSES ASSOCIATIVISMO E ESTADO
enquanto acessorio de identidade pessoal que urge cui dar investir e
plan ear Particularidades 1uperHuas que passavam discretamente por
entre roupas que 0 vclavam ganham 0 estatuto de imperfeiltao que urge
combater em nome novos canones corporais 0 corpo deseja-se agora
perfeito reHectindo uma imagem jovem e saudavel
o projecto colectivo de revigoramento f1sico politicamente conshy
duzido entao lU2ar a projectos individuals de manutencao e modishy
ficacao aconteceu nao apenas devido amudan)a de regime
politico mas tambem no contexto de urn conjunto alterayoes estrushy
turais na sociedade portuguesa ondc novos agentes e dinamicas mershy
cantilistas passaram a investir em forra Os pesos e halteres ltllCaUaIll
urn novo protagonismo social no mercado poftugues ganhando novos
contextos sociais e novas contlguraocs em varias actividadesffsicas
meios competitivos do balterofilismo do boc ou da
luta liv- ondc cram convocados como treino complementar para
autonomia relativa nas inumeras salas de ginasio e health
dubs onde passaram a ser mercantilizados no ambito de modalidades
pr6prias
Pesos e alteres na recente industria de design corporal
N urn contexto onde homens e mulheres passaram a exibir e
mais atentamente as suas aparcncias as foryas privadas do capitalismo
acabaram por contribuir mais do que as instituiyoes publicas higienistas
na difusao de novos habitos e cuidados corporais A incipiente
da moda e do design corporal que ja havia despontado antes do de
Abril cresce numa escala mais alargada e diversificada fragmentando
produtos e clientelas e alimentando expectativas e aspiraltDcs diferenciashy
das do passado Mais do que 0 ambicionado relligoramento fisico as
exigencias e desejos sociais gerados por essa industria VaG agora no senshy
tido do rejullenescimento C do aperfeiroamento da imagem e forma corshy
porais produzindo a ilusao massitlcada de cada um planear e
238
PESOS HALTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)ALTERADOS
esculpir 0 pr6prio COIPO dentro urn padrao de beleza estabelecido
globalmenteo
Novas lojas fabricantes e empresas nacionais e internacionais vem
afirmar-se no mercado portugues disponibilizando modernos e
ticados produtos tecnicas e serviyos de modificacao e manutenyao
corporal em esferas diversas Da cosmetica a da cirurgia
ao nutricionismo dos centros de estetica aos spa toda uma pletora
de bens tecnologias e servios de bem-estar e bem-parecer do corpo
que prometem 0 ajustamento aos canones corporais do momento l6
por sua vez no que a masculinidade dizem rcspeito veem
substituir a clegancia eo glamour das estrelas de cinema dos anos cinshy
quenta pda fora e vigor de herois de torso em forma de V represenshy
tados por Arnold Schwarzcnegger Sylvester Stallone ou Jean-Claude
Van Damme
POI entre esra florescente industria de aesigncorporal o cresshy
cimento de iniciativas comerciais de actividade fisica geridas por pane
do sector privado qlier ao nlvd do invcstimento em produtos para
em espao domestico desde sistemas de exerdcios peri6dishy
cos espccializados roupa e calltado ate equipamemo caseiro diverso17
quer ao nivel do investimento em espayOS colectivos proporcionadores
de um conjullto de produtos e servios bem-estar e bem-parecer
Esses espayos colectivos comc~aram por assumir a forma de ginasio
de bairro contexto popularizado nos anos oitenta Nestes a musshy
culaao surgia com lugar destacado ao lado de novas modalidades
como a ginastica aerobica a primeira mais orientada para urn publico
masculino a segunda para urn pliblico fcminino A pratica da muscushy
lacao poren1 ja adicionava aos tradicionais pesos e halteres rnodernos
cquipamentos ergonomicos dotados de um design mais apelativo onde
cada detalhe passaria a ser concebido com 0 intuito de proporcionar aos
novos LlllLaUUU~ urn trcino menos arriscado e sofrido mais comodo e
con fomlveL
Postcriormente ja proximo anos noventa a musculayao toi
dlUIlllUa no con texto dos clubs que vieram a instalar-se
239
CLASSES ASSOCIATIVrSMO E ESTADO
em espaos multifunciol1ais deposidrios de valencias diversas
nas areas da da saude da alirnentacao e do lazer corporal muishy
tos representantes de cadeias internacionais que se instalaram em
algumas das principais cidades pormguesas com elevados invcstimentos
em sofisticadas tecnicas de gestao mflrketing e publicidade para cap tar
e ftdelizar potenciais publicos-alvo Entre 0 ann 2000 e 0 ana de 2008
o numero de health clubs em Portugal passou de 600 a 1400
bando mais de 600 mil mernbrosl 8bull Com uma
57 em Portugal estas estruturas facturam
euros
ras os
mais 1
mIS riscos e caracteristicas
um programa de Heino adequado a detershy
rrunaao corpo e acompanhar individualmente a sua exccuao
- C0 do egolmilriintO que perpassa no desporto
amador contemporaneo um dos produtoslservi~os em que
os health clubs mais apostam hoje ern dia devido aos ganhos financciros
proporcionados exclusividade desse servico urn dos mais caros para
o cotlSumidor
Concomitamemcntc novas actividades ffsicas e desportivas emershy
gem no ambito destcs novos espaos anunciadas como esteategias para
enfrentar e Edar corn os duros dcsafios da sociedade contemporanea ao
mcsmo tempo que velhas modalidades se rcnovam e sofisticam transshy
formando-se em mercadoria vendavel e derelativamente faeil
lidade Sistemas fisicos ancestrais como 0 por
exemplo ou ate mesmo varias artes enquanto
no
A sempre presente nos ginasios
a pesos e halterc~
240
PESOS HALTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)ALTFRADOS
acurnulado de
oHlzaoo de
dlllCllU e coreografado ao
fIrmo de musleas do momento que apresenta como relatishy
vamente ao esquema anterior 0 facto de eoncentrar uma quamidade e
de exerdeios musculares num curto periodo de tempo
45 a 60) reeuperando as da pratica desporriva
em grupo e desta fonna proporcionando um ambieme estimulante e
divertido
o objccrivo inicial do body pump nos anos novema ted ido em
medida lucrativo atrair 0 publico-alvo maseulino para a pdtica
de ccrclcio fisico eolectivo nomeadarnenLe ao da ginistiea aeroshy
scm contudo deixar de Ihes proporcionar 0 e atletieo
que indiidualmente a pcatica da musculacao lhes concediarn O~fdy
pump a par de outras modalidades que foram sob 0 mesrno COI1shy
ceito (designados de body training ou group como 0 body balance body combat body body
jump ou 0 spinning - RPlvf) tern a
registadas
monitores
COlllerClaUampauas eoroduzem-se exactamente nos
exerdcios e re1pectJlVO
uallzaao a cada tees meses de a a desmlotlV3ltao
por via da repctiao continuada
muitas dessas modalidades nos anos noventa vieram
U~LdUlUllC no sentido de diminuir 0 sofrimento do treino solidrio ClStishy
dioso silencioso e ascetico gue ate af implicava 0 treino tradicional de
muscular substituil1do-o pelo divertimento proporcionado
soeiabilidade e a mitsica que passaram a parte desses sistemas
241
- CLASSES ASSOClATrvISMO E ESTADO
treino 0 que vern corroborar empiricamente a hipotese avanshy
ltada por Lipovetsky de que hoje em dia 0 desporto de massas eessenshy
cialmente uma actividade dominada pda procura do prazer
mismo energetico da experiencia de si proprio depois do desporto
disciplinar e moralista cis 0 desporto-lazer a desporto-saude 0 desporshy
to-desafio Da pratica desportiva esperamos apenas sensalt6es e equilibr
valorizasao individual e evasao norma e descontraclt3o ja nao e a vinude que legitima 0 despono mas sim a emmao corporal 0 prazer
a forma e psicologica 0 des porto tornou-se urn dosemblemas mais
da cultura nardsica centrada no extase do
Oprocesso crescimento e de diversiflcaltao comercial das activishy
rades ffsicas indoor beneficiou durante os anos oitentac noventa
uma conjuntura economica favorivd caracterizada pdo aumento do
poder de compra da populaltao portuguesa tpela melhoria das de vida alguns dos seus sectores e sociais nomeadamente
classes rr Mias A proliferalt3o de gimisios health clubs foi ltlinda
favorecida pdo prolongamento quer da esperanlta media de vida quer
das processos de escolarizaltao e de transiltao para a vida adulta Estas
din1Unicas que efectivamente fizeram dos reformadas e dos jovens
estudantes publicos-alvo fundamentals na promQ(ao de actividades
fisicas no espalto do ginasio considerando 0 tempo que tern POLCllUltUshy
mente disponivel ao longo do dia nome~damente fora das hons
maior wifego nos ginasios (perfodos almolto e p6s-laborais)
Urn outros pltblicos-alvo a que este segmento da indUstria de
design corporal mais se tem dirigido tern ido os homens mais disponishy
ao consumo dos sellS produtos e servi~os A imagem de
pader e competencia produzida e difundida pela publicidade e pclas
revistas hoje dedicadas ao segmento masculino ji nao e reflectida apenas
atravcs de sfmbolos tradicionais consumo masculino como 0 carro 0
relogio ou a can eta mas tam bern atraves investimentos na proawao
e manutenltao da aparencia fisica que tende a perder 0 formalismo do
fato-e-gravata A imagem de urn hamem atletico e cuidado passa a ser
inclusivamente apresentada como chave do sucesso entre as
242
PESOS HAITERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)AITERADOS
mais exigentes quanto aDS cuidados masculinos com a imagem Esta nova
mostra um novo homem preocupado com a flexibilidade da
sua pele com a domesticaltao dos seus odores com a qualidade do seu
[[sico com a tonicidade da sua silhueta com a definiltao do
seu abdomen com 0 volume do seu biceps A pdtica de musculaltao
assume entao tun valor estratcgico na produltao do actual corpo mascushy
referencia e de reverencia
Trata-se de facto do regime corporal socialmente mals difundido
estrategia de promoltao de urn modelo corporeidade ma~cu-
modelo adetico com acento na potencia vitalidade
IHUgtCUlaL 0 que de resto nao sera de surpreender dada
a diiilsao incorporada de estereotipos da sociedade ocidental sabre a masshy
que tradicionalmemc ligam os padr6es de perfectibilidade e
atractivlhde masculina ao modelo de corporeidade mesomorfico e hipershy
troEado em medida cOlldensado na massa muscular tCUlllUldUd
nos peltoral~ braltos e costas esnuturando um torso de
adclgalta ate a
Um homem deve ter os ombros mais largos do que a anea ter uma
anca fina e deve ser algo robusto mats cheinho Mais cheinho
mas nao e em gordura e em musculo ( ) Estou contente com 0 ter
aos 80 Guilos Acho que eu ainda tenho muito parauabalhar
ainda me falta muito trabalho frente Ainda vai ser uma coisa
que YCJo-me nos pr()X1mOS 6 an os a ter de trabalhar 0 corpo ate cheshy
gar 11 tal forma ideal ao corpo ideal ( ) Eo tal corpo masculino com
os ombros mais a cintura mais em V - Ii esra 0 torso em
V - e musculado
ESTUDANTE UNlVERSITiillIO 21 ANOS PRATICANTE DE MUSCUIAtAo
porem scm a rudeza do passado impressa pelas condilt6es de
nabalho que sem intenltio moldavam 0 corpo 0 corpo do hom em ja nao
e urn mero instrurnento que se abandona ao trabalho mas de proprio
243
CLASSES ASSOCIATfVTSMO E ESTADO
MlllUCla como COOl
extracltao total dos pel os que possam encobrir 0
ao
da simetria muscular conseguida
Mas os corpos femininos tambem nao ficaram de fora dos sistemas
fisicos associados a muscutaltao Com objectivos mais moderados em
termos de volume corporal e sobretudo direccionados para a perda de
adiposidade e tonificaltao determinadas zonas do corpo as mulheres
encontraram res posta aos seus anseios corporais sobretudo nos body Mesmo
aos pesos e e aoontrario
publico masCilliri~ as roulheres tendem a
do corpo como (lllS de intervenltao prioritaria no sentido da manuten
ltao ou mociitJG50 Face a tais aspiraltoes a chegoll
a conceber um sistema fisieo particular para dar ao pllbico
especificameme feminino comercializando-o sob a designaltio de GAP
uma modalidade que promove 0 trabalho de resistencia e forshy
talecimento atraves de varios exerdcios localizados nas zonas
dos gl(lteos abdommalS e pernas
Eu era ter aqude corpo musculado corpo bonito
que tada a gente rilio e () Nao llma mulher eXclgeJradamell1le
muscuCida porque perde os trayos femininosEuma mulher ddinida
Nao precisa de ser magra Nao acho que eaquele estereotipo de magre-La
que cada vez ha mais que leva as miudas hoje em dia a rornarem-se
anonxicas ( ) Hoje no ginasio a imagem que se quer passar e que
essa nao ea nao eo ideal de urn corpo 0 ideal de urn corpo e umamulher a mulher nao precisa de estar MOr
desde que bem ueWllUa e0 ideal
23 ANOS 120 ANO INSTRJroRA DE CARDlo-FrfNESS
244
PESOS HALTERES E SENTiDOS DOS CORPOS (H)AIrERADOS
tern
cas no seio da industria de design corporal Como assinala Fortuna
os de edllcalt3o ffsica tinham como vocaltao disciplinar 0 corpo
para for mar rnelhores cidactios mais saudaveis e competemes prepashy
rando-os para os desafios das novas sociedades surgidas com a industriashy
os actuais health clubs por seu lado associ am a juventude a
beleza e a satide do corpo aamo-confianya aauto-estima e ao bem-estar
ol(rcendo prodmos e serviltos a moldar 0 corpo amedida
e preocupalt6es de
outros mats imageticos
some body Estar em mostrar (determinadas)
A manifestalt3o mais valorizada do corpo saudavel deixa de
ser a seu rendimeDto fo1lta e para passar a ser a sua aparenshy
cia A sallde cosmetiza-se e torna-se num fen6meno estetico nao basta
mante-la mas fazer transparece-la nomeadamente atraves da aquisiltao
urn corpo perfeito Este par sua vez passa a ser condiltao sine
non para 0
Higt LdllI-la para a ser
Eu via que tinlIa urn corpo com varios problemas Precisava de
rirar a barriga algum poeu e Tinha urn peito quase fundo dentro
quase que nao se via a barriga mais saida que 0 peito Via que tinha
problemas e estava a caminhar para 0 problema da obesidade ( )
Agora quando olho para 0 espdho vejo urn corpo perfeito 0 que todo
o hornem gostaria de tef E simo-me orgulhoso por isso
AUXILlAR DE ACOO MEDICA 120 ANO 24 ANOS
PHKnCANTE DE
245
CLASSES ASSOCIATIVLSMO E ESTADO
despono ou pelo menos efectuar com regushy
[sica passou aser nao apenas urn direito25 mas
tambem urn dever sociedades contempodneas um
cuja falta acarreta frequentemente sentimentos de culpa pessoal
e aclt6es de sanyao social sobre aqueles que se encontram pouco
a descobrir as suas supostas vantagens ou cujos corpos se afastarn
da normatividade da silhueta canonica quese deseia bem deflllida e
tonificada
Pesos e halteres entre 0 estUode vida saudltivel doeura ddec a a sau
Se a pFl1rllpaltao com os cuidados corporlis era anteriOrrneHr proshy
pria das classt~s onis lhastad3s nas condilt6es
oitenta f) portugues comum passa a tcr acesso em qualqucr sureil1ler~
cadoa uma pan6plia de prodUloh tecnicas e servicos que prometem criar
e conservar um corpo jovem perfeira e saudive qualidades de refeshy
rencia e reverencia no culto conremporaneo do corpo Socialmente apreshy
sentados e mercantilizados em associacao acriacao de urn
produtor de salIde e preventor doenca tais produtos tecshy
nicas e servi~os sao frequentemente assumidos na vida quotidiana Como
sendodo oll mais importante que os propdes servicos de saude e de
prestacao de cuidados medicos na concretizayao do bem-estar fisico e
psicologico das pessoas A ideia hoje partilhada no imaginario
de que a saude ealgo que se conquista ccoroHrio simb61ico da delegashy
ltao social no individuo das formas manutenlt3o controlo e vigilancia
do corpo que outrora haviam sido exercidas pelas autoridades
A difusao e enraizamento social da assuncao de que e possivd obter
e manrera saude do corpo atraves do envolvimento do individuo num
de pratiCa5 ditas saudaveis acabaram efectivamente por impushy
tar a cada urn uma responsabilidade crescente pelo seu estado de
Concomitantemente em alguns contextos forneceram argumentos a
246
PESOS HAJTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)AIfERADOS
desresponsabiliza~o parcial do Estado em materia de ULUltlUU medicos
e sallde publica Doravante nao esuposto que os cidadaos necessitem
de instrw5es das autoridades e instituiltoes publicas sobre como cui dar
sua existencia ffsica 0 corpo passa a ser urn espaco regulado
opc5es e escolhas de cada urn entre a pleiade de produtos tecnicas
e serviltos actualmente ao seu dispor
Sob a egide da crenca na autoridade pessoal sobre 0 corpo cada pessoa
apartida detem plenos direitos sobre esse bern patrimonial sen do igualshy
mente responsive pelo cumprimento determinados deveres sociais
Estes passam entre outros pdo governo da sua respectiva aparencia e
de vida Ao indivfduo eatribufdo urn papd preponderante na
identificaltao e controlo atempado dos sintomas de patologias diversas
problemas cardiovasculares na preVcncao perante condutas
risco (nomeadameHte atTaves da redwao doakool e do tabaco
obrigatoriedade de sexo protegido ou do exerdcia Hsico) au na
cia e evitamento do que sao socialmente considerados excessos (alimen-
tares exposicao ao sol de medicaliiacentio etc)
da adop~ao cada vez matS generalizada desta nova atitude de
pntdencialismo individualist a perante 0 bem-estar corporal e a evolultao
da oroDorcao de populaltao que em Portugal na viragem do
desenvolver algum tipo de aCyao no sentido de melhorar ou
manter 0 seu estado de salide Segundo 0 estudo 0 Estado de Saude em
entre 2001 e 2008 a percentagem de portuguese que afirshy
mavam estar a tomar no momenta realizaltao do inquerito alguma
iniciativ3 no sentido de mclhorar ou manter 0 seu estado de saude
viu-se aumentar de 368 em 2001 para cerca de metade da populaltao
(498) em 2008
Segundo 0 mesmo estudo essa evolultao e acompanhada da alterashy
de comportamento declarado rclativamente a determinados hibishy
tos de vida considerados saudaveis designadamente no que respeita
ao exerdcio fisico A percentagem de portugueses que afirmam
exerdcio [SICO regular (ginistica COffer etc) ve-se significativamente
de 33 em 2001 para 475 em 2008 Mesmo que 11ao
247
11
CLASSES ASSOCIATIVISMO E ESTADO
se traduza numa pratica efectiva27 csta evolu~ao corresponded
a uma assinalivel incorporaltao social do dezJer-ser contemporaneo da
actividade fisica A representaiyao desta enquanto habito de vida saudishy
torna-se clara quando noutra investiga~a028 se constatou ser entre
os individuos que mais regularmente praticam exerdcio Hsico que mais
presente esta a percep~ao do risco cia sua ausencia quotidiana29
e born esaudiveJ eurn habito saudaveL E como se
fosse lel livros sel inteligente Esras a arranjar 0 teu corpo Sabes
que vais chegar aos quarenta e tal arros e ainda vais estar born Agora
muitos chegam aos qualcrrra e tal anos e ja esrao com barriga e
com sei a ter tanras ~u~tas coisas Ficas mas saudivel se estas a
treinar bem e sew mdar contra a tua
29 ANOS LH ENClfO ENFERMEI(O PRATICANTE DE MusCutAltAo
A tendcncia para a crenlta incontestlvel no exerdcio fisico como
habito de vida saudivel nao se apresenta contudo disrribulda
igual maneira no espa~o social e cultural portugues Sao varios os estushy
que tern localizado urn maior enraizamento social da disposi~ao
para a pratica de exerdcio fisico entre as mais jovens geralt6es e entre
os individuos provenientes dos estratos socioeconomicos mais clevashy
dos Resultadonao apenas das novas con(li~6es de sociais economicas
e simbolicas em que as gera~6es pos-25 de Abril sao socializadas relatishy
vamente ao corpo e aos cuidados corporais30 mas tambem de urn efeito
de trnsltao no curso
Investiga~6es realizadas sobre a pnitica de actividades ffsicas entre os
jovens portugueses denotam-na mais regular e intensiva nos grupos etashy
rios mais novos nomeadamente ate ainserlt5o no mercado de trabalho
e aassunlt5o de novas responsabilidades familiares31bull 0 que indica que
amedida que as etapas do processo de transi~ao para a vida adulta se vao
cum prindo a pritica desportiva vai efectivamente sendo abandonada no
quotidiano dos jovens portugueses
248
PESOS HALTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)ALTERADOS
No caso especifico da 11l~LU1ltll-alJ uma actividade particularmente
exigente em termos do tempo dispoIl lVei para a sua pratica esta tenshy
dencia revela-se particularrnente marcante Trata-se no eatanto de
uma das modalidades com maior adesao efectiva ou potencial entre os
jovens em Portugal A sua pdtica efectiva (prcsente ou passada)
declarada por cerca de 12 da populalt5o jovem porttlguesa no ano
200032 sendo 34 a percentagem de jovens que nunca tendo pratishy
cado admitiram vir a faze-Io no futuro Quer a sua pdtica efectiva
quer a sua pr~hica potencial viram-se substancialmeme acrescidas entre
os jovens do sexo lTlasculin033 com idades compreendidas entre 18 e
anos ainda a residir com a familia de origem ou sozinhos solteiros
ou ja separados ou divorciados sem filhos Perfil dpieo para stlstentar
a hip6tese de 0 aumento de massa muscular ser urn investimento corshy
poral que corresponde ellliarga medida a uma fOlm~de capitalizar
o potencial expressivo do corpo masculino em estrategiasde atracltao e
sedult5o
Embora a disponibilidade potencial para a pratica da musculaltao
- nunca fiz mas admito vir a fazec surja praticamente transversal aos
jovens qualquer que seja 0 seu estatuto social ou habitat de residencia
o facto cque as condilt6es materiais de existencia continuam a constranshy
ger a sua ptatica efectiva Mais devada entre os jovens que melhores
condilt6es sociais detem para fa_zet face as mensalidades exigidas pelos
cspaltos destinados ao seu exerdci0 34 a pratica de musculaltao decrescc
amedida que se desce na estrutura social de 26 entre os jovens de
estatuto social alto diminui para 9 entre os jovens de estatuto social
mais baixo Do mesmo modo sao os jovcns que tern urn acesso mais
facilitado as instalalt6es que disponibilizam tal servi~o quem mais adere
efectivamente a sua pritica ou seja os jovens residentes em habitat
e suburbano 0 sanho em obter urn corpo musculado revela-se
portanto substancialmente mats democratizado na sua distribui~ao social
(mediaticamente amplificada) do que as condi~6es que perrnitem a sua
concrecizaltao
149
CLASSES ASSOCIATIVISMO b ESTADO
Para fazer [musculayao] como se fosse urn culto tern que se rer
tempo e disponibilidade E depois tern que se ter vontade uma
vontade E dinheiro Estas sao as coisas vontade dinheiro e disposhy
nibilidade
29 ANOS LICENCLADO ENFER1v1EIRO PRATCANTE DE MUSCULAyo
Tern que se ter muita forlfa de vontade tem que eter
tambem () torna-se a tal de qlle eu poundalo eV1Clame
( ) A pessoa para rcr urn corpo assimrem quI s~ trabalhar muito
nao e Nao e brincaJeira 1150 e E preciso urn esforyo de
tempo alillleatar A nutri(ao entao se para
rnentos tem que $( fr n30 IE pode
28 ANOS 10deg ANO DESEM[REGADO JTICANTE DE MUSCULAtAo
Mesmo entre aqueles que reunem as condic5es socioeconomicas
que permitem 0 acesso a constru~ao urn corpo de atraves da
de muscidacento nem todos dispoem das disposilt6es subjectivas
C(IgtIIld para enfrentar 0 longo processo da suaconcretizasao Euma
dctividade que quando 0 objectivo ea obtensao eoumanuten~ao
urn dado modelo de compleiltao fisica volumoso e definido exige dos
seuspraticantes trabalho arduo e dedicaltao quase monastica forsa de
e determinacao perseveranlta e espfrito de sacriflcio pain no abnegalt3o e autocomrolo e disciplina Nao e por
acaso que entre os jovens que praticam algum tipo despono Oll actishy
vidade fisica sao os adeptos musculalt3o os que uma
tica mais intensiva e regular sendo mais de metade os que se exercitam
diaria ou quase diariamentel5
A maximizasao da estetica corporal proposta pela rnusculasao
ponamo a realizacao de uma etica que transcende a pritica
250
PESOS HALTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)ALTERADOS
desta modalidade e se estende a outros domfnios vida do seu
came A etica de disciplina cultivada durante os a dado momento
da efectivameute a ir dos tempos e espashy
lt05 que sao dedicados A alirnentacento passa a ser bastante cuidada
hiper-re5tritiva nas gorduras e e sobredimensionada nas proteinas
c hidratos de nutrientcs que permitem acumular energia para 0
t[eino eo concomitante crcscimento do volume muscular 0 sono Dassa a
ser tambem hiper-regrado sacrificando-se momentos de lazer e
noctumas por exemplo 0 tempo disponfvd para sociabilidadcs amicais
e por vezes atc familiares e Iaborais passa a ser gerido em funsao das
necessidades treino diario
aquela vontade de ter urna vida de mudar 0
corro ]a nao queres comer gotJuras porque estas aver 0 reu carpo
Vais a um piquenique ou qualquer coisa assilll e wrnes alguma coisa
assim mais na semana que vem ji se nota nosabdominais En Jesus
Cristo engordei Eja vais xiiiiiiiiiii Corras com fritos e com gorduras
puxas mais hidratos de carbono e protdn~i ( ) Cada dia
contralo 0 peso e controlo muito bem aquilo que como percebes De
manha e uma dose multo torte de hidratos de carbono papas
Ncstum Uma coisa muito com leltemagro scm Nada
de gorduras nada de manteig~~ nada De manha e 15S0 on2C horas
tambem comes alguma coisa uma sandufche com cafe com ramshy
bern magro Alrno~o tambem comes cada dia qualQuer coisa
corni guisado com com com urn bom azeite
Ao jantar ji epouca coisa porque nao estou naquela fase de tomar
aminokidos e nao preciso N 50 estoll agora naquela fase de puxar para
crescer agora estou assim Niio lhe dd as vezes vontade de comer sei Ed
um bolo com chantilly Nao mete porque sabes que re vai
fazer maL Olhas para mas nao com aquela vontade de comer Sabes
que e born mas nao tens 0 corpo esta em primeiro
Niio e que narcisismo ou uma coisa assim E urna preocupayao
saudiveL Nao eque estejas a olhar para 0 espelho ai que sou bonito
251
CLASSES ASSOCIATIVISMO E ESTADO
nao 1sto ja enarcisismo Mas todas as pessoas estao prcocupadas com
aqllelc reslIltado que conseguiu e nao vais estragar agora de urn dia
para 0 outro ( ) Trabalho como um relagio todos os dias tteino as
tres ( ) Tem que ser nao podes brincar com a corpo Tem que set
tudo controlado ( ) Precisas descansar Par isso tem que ser llma vida
bern organizada Levantar-se as mesmas horas comer as mesmas horas
descansar as mesmas horas treinar as mesmas horas Tern que ser tuclo
arranjadinho nao podes andar disparatadQ a fazer coisas II um culto
Por isso cque tern resultados
29 ANOS UCENCLADO ENFERMEIlZO PRATICANTE DE MUSCULA(AO
1Boa parte do oe do praticante empenhado em
erescer a massa muscular fassa entao a ser geridoem fun~5o da maxishy
mizaltaodos ganhos de vDlume e ddiniltao corporal Este e um
tivo que 0 faz Ianyar mao de um impladvd processo racional instrushy
de autogoverno e hiperdiseiplina do seu tempo e das actividades
do corpo e sobre 0 corpo A ohten~ao de urn corpo hiperbolico impliea
paradoxalmente um rigoroso comedimento dos seus habitos e
eomportarnentos mais habituais Quando a hiperdisciplina earacterisshy
tica das pratieas introduzidas na vida quotidiana ja nao e capaz de dar
resposta as voIumosas ambi~6es do indivfduo quando ji nao eonsegue
maximizar 0 potencial corporal idealizado como meta por parte do prashy
ticantc cste nao se da obrigatoriamente por veneido 0 desatlo dos seus
pessoais e propriamente fisicos pode ser superado atraves do
consumo de outros reeursos tambem produzidos e comercializados
industria de design corporal nao caras vezes nos mesmos espaos onde
o exerdeio fisieo os poreneia
Eentao que chega a nora de experimentar as vantagens dos supleshy
mentos alimentares exibidos nas prateleiras das gcandes e pequenas
superficies de lojas de despofto bern como das entradas de muitos
ginasios indo de encontro as (rapidas) amhilt6es dos seus frequentashy
dores Para aIem destes produros enconttam-se ainda disponfveis em
252
PESOS HALTERES E SENTfDOS DOS CORPOS
circuitos de comercio rna is alternativo e underground uma diversidade
de ester6ides anabolizantes e de outros produtos euja venda livre eilegal
pelos efeitos perversos que acarretam na homeostasia interna do orgashy
nlsmo mas cujos ganhos de e massa muscular sao surpreendentes
na quantidade e eeleridade bem como na redwao significativa da adishy
posidade 0 uso dessas drogas apolineas36 tem-Se tornado uma op~ao
disseminada entre outros praticantes de muscuIaltao que
nao apenas as fisioeulturistas que desde sempre riveram uma rela~o
axiomitica37 bull
Entretanto vim para ca e aqui come-eei a tomar suplemenro
uma proteinazinha uma creatinazinha Entretanto fahram-mc sobre
a tal siruaifao [esteraides anabolizantesJ e eu tentei experimentar
para saber uma situa~o de curiosidade () Espectacular rnesmo
Uma pessoa atinge urn nive mesmo muito bom E Ilma qualidad
brutal Por isso e que dizem que a malta que eomeltlt a faxer essas
coisas depois torna-se viciada
28 ANOS 100 ANO DESEMPREGADO PRAT1CANTE DE
Assim que comepmos a ganhar 0 mfnimo musculo queremos
semprc mais sempre mais sempre mais Depois atillgimos quase a
performance dai nao safmos mais Depois onde vamos recorrcr ea
substincias batidos e aminoicidos que epara ver se conseguimos
desenvolver mais 0 110SS0 conseguir desenvolver mais os
mUsculos E acaba nisso ( quase urn CicIo ( ) E dcpois da eonseguishy
mos mais vamos desenvolvendo desenvolvendo
24 ANOS 120 AlOAUXIUAR DE ACOtO MEDICA
PRATlCANTE DE MUSCULAltAo
253
I
CLASSES ASSOC1ATIVISMO E ESTADO
que os cultorcs da muscula~ao a actividade adamando
a sua preocupatao com a saude e 0 bem-estar presente e fururo represhy
sentando-a como uma mobilizada no scntido de manter ou
a forma e obter a imagem um corpo sauc1avel e atrashy
ente 0 facto c que a compreensao sempre positiva da entre cxershy
dcio e saude como afirmam Bagrichevsky e Estevao nao passa de uma
hipotese optimista38 Apesar de prevalecente enquanto ideal e a priori ramada por certa e incontroversa a rnixima despo[m c saude esconde
luitas vezes vivencias e representatoes
Com efeitoexistem cada vez mais situatoes em que as pretensoes
perfeccionistas e aobsess5n pela saude e peIo collt-mio do corp( podem
confIgurar cstados
mtermizados e
cinicamentc susceptivcis de sercm
J iuttoloeia do corpu
- ou
e saudiyei de lut ~e iessente a socdde e middotem grande
em exerdcio
dependentes dapropria imagem corpotal bull 1
-r que cnarm ltIe a qual sc esfof~m ao miximo por manter e
~oar -- compulsivos dotados grande perseveran~a t toleshy
rfll1cia ao sofriPlento traduzido em sintomas como a dor a exausshy
tao e a lesao entre outros n1enos comuns
Eu viciei-me nlquilo Viciei-me mesmo em ginasio Se nao fosse
para era como uma docnlta Tinha que if Era mesmo
6bcecado com aquilo C)Queria hear grande E fiquei V) 0
nvo era corpo como deg dessamiddotmalta que a gente ve af
( ) Depois toma-se urn vieio qucrer atingit (ilo
28 ANOS 100 amp10 DESEMPREGADO lRATICANTE DE MUSCULAltAo
HUSCUlaltao nunca pode vir a ser um problema Pode vir a scr
urn quando hi eXCt5SOS ( ) Mas os excessos nao controshy
[ados Porque eu neste momento estou a entrar numa de cxccssos
251
PESOS HALTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)ALTERADOS
mas controlados Os excesses tem que scr controlados Cbull ) A nIve
de problemas 0 unico problema que traz no fundo eisso quando os
excessos nao sao controlados De resto nao enada assim de
28 ANOS 110 ANO pOLfClA PRATICANTE DE MIJSCULAltAo
Apesar de serem mobilizadas no sentido da conformidade aos rnodeshy
los corporais referencia e reverencia as praticas muscula~ao e seus
sistemas f1sicos derivados podem a qualquer momento ver-se desvirtushy
no seu sentido original quando os projectos corporais que alimenshy
tam se rll1icalizam pdo excesso de di~ciplina na eonformdade aos
1l10delos de referencia institufdos Este de comportamentos hipershy
diciplinad)s pode traduzir-se por exemplo em comportamentos
sifcdos Gomodisturbio dismorfC( muscular mais vulgarmente conheshy
ruygttYl a vigorexia Tambem descrita como complexo de Adonis
ou anorexia reversiva39 trata-se uma sindrome caracrcrizada
bLW dos seus portadores geralmente homens e independentemente da
sua museulatura (embora sejam normal mente bern desenvolvidos)
deterem uma auto-imagem corporal diswrcida e persistente no
de se sentirem muito pequenos fraeos e frageis
simultanealllente pdo deseio de serem musculados e 0
medo de screm magros desenvolvem uma exceSSlva
exerdcio (ouertrtlining) por um tipo de hiperproteico
e pelo consumo regUlar de produtos sintcticos anab61icos e outros no
sentido de hipertroflar 0 seu sistema muscular A vigilancia dos resultashy
dos obtidos atravcs d3 flta mctrica da balan~ e do espeIho bem como
a reClef1iii~aoae e Slmeshy
tria de cada museulo e tambcm constante
riscos que potencialmente correm continuam a acreditar no seu poder
autocontrolo e em mante-Io em nome da sua saude Efcmeras ilus6cs
prometeicas que a seu tempo sc poderao transformar em f1tais
soes
255
CLASSES ASSOCIATIVISMO E ESTADO
edos (200~) Cultura da e vol 3 nY 13-25
in A Festa EdlJCaao Fisica Acampanh anti-patriotic que n 5279 17 ana 6 de JUlho de 1926
Jorge Crespo (1977) Hist6ria Ludens 2 n 1 45-52 Rui Gomes (1991) Poder e saber 0 corpo (1936-19401 de Educoao n 2middot3 Building a motor habitus physical in the Portuguese Estado Novo Intrmiddotmrrtionn
ofSpGrt vol 45 0 1 pp 23-37 -1 Prlt3tj r a corresponde ao que em
em muio as tor mas mai~ retentes e
5
in Ant6nio forg)
(19901 volw co POllugal Contemporonco (1926- (958) vol IV Usboa Alfa 333-338
10 In Ines (1999) Dons eDisciplinas do Corpo Feminino 0 OiscursoS5obre 0 COPO nu Historin do Esturio Novo bsboa Qrqanizcoes Nao Govt~rnamcntais do Consultivo Comissao 19ualdade e
3940 CGvalho (2005) lxplorando transferenci8lt nal prrmeiras deeadris
S~(ulo An61iseSocfaf vol XL nO 499-518j
12 In Hui Gomes (1991 I op 130 musculado dr Taborda chamava
do ~e(u0 nao Coriu dos Reereio$ do Desportos tambem aDs pal(os alem de ter sido (incovezes campeao rnundial e vezes
europeu de luta livre foi ainda ballarino Udo ern Paris e como duplo em algumas ploduoes de
Garcia Alvarez Onde para a rua ern corpinho bern Record Ana XXiii n 21B915 de Junho 1972 p 9
15 Ver Valter Cutum e IdentidadeA costuro social do moda em lIumanas (tese doutor
idrntitariamp na ocie Ide da Silva (orgs) tineroriw
pp671-689 17 Olivia Newton~ John liderava lugares clmeiros tops de vend as com a
can lao Lets get Physicol Jane ronda tornava-se na de marea da aerobica urn novo sistema fisieo mente teve exito atravegt do livra video best-seliersJane fondas Workout Nestes a dernonstrava eio a ern Beverly Hills por forma ao pratieante poder reproduzi-o no recolhimento do mats convlesse
1B Pam se ter uma no~ao compsritiva 0 futebol tem 1D0Y madamentc 150 mil praticantes federados ern Portugal 19 anuais elaborados Deia International Health
Association em (onjunto com J DeJaiHe e furor neilmente cedidos pea Associaao de Empres3s de Gi nasi os eAcademias
256
PESOS HAlTERES E SENTIDOS DOS CORlOS (H)AlTERADOS
19921) 0 Crepuscuo do A Etica Indolor des p129
a frente sao provenientes de urn con~ rnUSCLH3cao 110 ambito do de investiga~ao
por Vi tor a deeorrer no
maSCUlniOaCie in Miriam Golddenberg
[uitu[ois reoctonadas com 0 estetica eo jcrrl-eMo Otlsfrvat6r[o Que 0 Estado ja navia atraves da de distiplina de
Crespo Pedro Alcltlntara do (2009) 0 Estadoda Saude em Portugal USDaa Impreno
d~ (~iend3s Socials Segundo dados pelo Eurobarometro em 73 da populao nao praticava
reguiarmente exercicioshyVitor Seraio corpo in Machado Pais
peronte 0 Corpo Geiras Celta
qualquer reiaao d~fecta de causa-delta medida qlle ficarnos estimular a pratica de exerricio fisico
rontrario previa refexivamente PBra 35sodados asua
i~aizado noambJto do Observat0rio Perma-Ver Vftor Fcrrrira
33 Onde de metade (49) admitiu muscula~ao acrescendo 18 que afirmaram ter praticado
o
reverse
Adalescincio Latinoomericono volume 2 n 2 pp 97-101
257
CLASSES ASSOCIATIVrSMO E ESTADO
em espaos multifunciol1ais deposidrios de valencias diversas
nas areas da da saude da alirnentacao e do lazer corporal muishy
tos representantes de cadeias internacionais que se instalaram em
algumas das principais cidades pormguesas com elevados invcstimentos
em sofisticadas tecnicas de gestao mflrketing e publicidade para cap tar
e ftdelizar potenciais publicos-alvo Entre 0 ann 2000 e 0 ana de 2008
o numero de health clubs em Portugal passou de 600 a 1400
bando mais de 600 mil mernbrosl 8bull Com uma
57 em Portugal estas estruturas facturam
euros
ras os
mais 1
mIS riscos e caracteristicas
um programa de Heino adequado a detershy
rrunaao corpo e acompanhar individualmente a sua exccuao
- C0 do egolmilriintO que perpassa no desporto
amador contemporaneo um dos produtoslservi~os em que
os health clubs mais apostam hoje ern dia devido aos ganhos financciros
proporcionados exclusividade desse servico urn dos mais caros para
o cotlSumidor
Concomitamemcntc novas actividades ffsicas e desportivas emershy
gem no ambito destcs novos espaos anunciadas como esteategias para
enfrentar e Edar corn os duros dcsafios da sociedade contemporanea ao
mcsmo tempo que velhas modalidades se rcnovam e sofisticam transshy
formando-se em mercadoria vendavel e derelativamente faeil
lidade Sistemas fisicos ancestrais como 0 por
exemplo ou ate mesmo varias artes enquanto
no
A sempre presente nos ginasios
a pesos e halterc~
240
PESOS HALTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)ALTFRADOS
acurnulado de
oHlzaoo de
dlllCllU e coreografado ao
fIrmo de musleas do momento que apresenta como relatishy
vamente ao esquema anterior 0 facto de eoncentrar uma quamidade e
de exerdeios musculares num curto periodo de tempo
45 a 60) reeuperando as da pratica desporriva
em grupo e desta fonna proporcionando um ambieme estimulante e
divertido
o objccrivo inicial do body pump nos anos novema ted ido em
medida lucrativo atrair 0 publico-alvo maseulino para a pdtica
de ccrclcio fisico eolectivo nomeadarnenLe ao da ginistiea aeroshy
scm contudo deixar de Ihes proporcionar 0 e atletieo
que indiidualmente a pcatica da musculacao lhes concediarn O~fdy
pump a par de outras modalidades que foram sob 0 mesrno COI1shy
ceito (designados de body training ou group como 0 body balance body combat body body
jump ou 0 spinning - RPlvf) tern a
registadas
monitores
COlllerClaUampauas eoroduzem-se exactamente nos
exerdcios e re1pectJlVO
uallzaao a cada tees meses de a a desmlotlV3ltao
por via da repctiao continuada
muitas dessas modalidades nos anos noventa vieram
U~LdUlUllC no sentido de diminuir 0 sofrimento do treino solidrio ClStishy
dioso silencioso e ascetico gue ate af implicava 0 treino tradicional de
muscular substituil1do-o pelo divertimento proporcionado
soeiabilidade e a mitsica que passaram a parte desses sistemas
241
- CLASSES ASSOClATrvISMO E ESTADO
treino 0 que vern corroborar empiricamente a hipotese avanshy
ltada por Lipovetsky de que hoje em dia 0 desporto de massas eessenshy
cialmente uma actividade dominada pda procura do prazer
mismo energetico da experiencia de si proprio depois do desporto
disciplinar e moralista cis 0 desporto-lazer a desporto-saude 0 desporshy
to-desafio Da pratica desportiva esperamos apenas sensalt6es e equilibr
valorizasao individual e evasao norma e descontraclt3o ja nao e a vinude que legitima 0 despono mas sim a emmao corporal 0 prazer
a forma e psicologica 0 des porto tornou-se urn dosemblemas mais
da cultura nardsica centrada no extase do
Oprocesso crescimento e de diversiflcaltao comercial das activishy
rades ffsicas indoor beneficiou durante os anos oitentac noventa
uma conjuntura economica favorivd caracterizada pdo aumento do
poder de compra da populaltao portuguesa tpela melhoria das de vida alguns dos seus sectores e sociais nomeadamente
classes rr Mias A proliferalt3o de gimisios health clubs foi ltlinda
favorecida pdo prolongamento quer da esperanlta media de vida quer
das processos de escolarizaltao e de transiltao para a vida adulta Estas
din1Unicas que efectivamente fizeram dos reformadas e dos jovens
estudantes publicos-alvo fundamentals na promQ(ao de actividades
fisicas no espalto do ginasio considerando 0 tempo que tern POLCllUltUshy
mente disponivel ao longo do dia nome~damente fora das hons
maior wifego nos ginasios (perfodos almolto e p6s-laborais)
Urn outros pltblicos-alvo a que este segmento da indUstria de
design corporal mais se tem dirigido tern ido os homens mais disponishy
ao consumo dos sellS produtos e servi~os A imagem de
pader e competencia produzida e difundida pela publicidade e pclas
revistas hoje dedicadas ao segmento masculino ji nao e reflectida apenas
atravcs de sfmbolos tradicionais consumo masculino como 0 carro 0
relogio ou a can eta mas tam bern atraves investimentos na proawao
e manutenltao da aparencia fisica que tende a perder 0 formalismo do
fato-e-gravata A imagem de urn hamem atletico e cuidado passa a ser
inclusivamente apresentada como chave do sucesso entre as
242
PESOS HAITERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)AITERADOS
mais exigentes quanto aDS cuidados masculinos com a imagem Esta nova
mostra um novo homem preocupado com a flexibilidade da
sua pele com a domesticaltao dos seus odores com a qualidade do seu
[[sico com a tonicidade da sua silhueta com a definiltao do
seu abdomen com 0 volume do seu biceps A pdtica de musculaltao
assume entao tun valor estratcgico na produltao do actual corpo mascushy
referencia e de reverencia
Trata-se de facto do regime corporal socialmente mals difundido
estrategia de promoltao de urn modelo corporeidade ma~cu-
modelo adetico com acento na potencia vitalidade
IHUgtCUlaL 0 que de resto nao sera de surpreender dada
a diiilsao incorporada de estereotipos da sociedade ocidental sabre a masshy
que tradicionalmemc ligam os padr6es de perfectibilidade e
atractivlhde masculina ao modelo de corporeidade mesomorfico e hipershy
troEado em medida cOlldensado na massa muscular tCUlllUldUd
nos peltoral~ braltos e costas esnuturando um torso de
adclgalta ate a
Um homem deve ter os ombros mais largos do que a anea ter uma
anca fina e deve ser algo robusto mats cheinho Mais cheinho
mas nao e em gordura e em musculo ( ) Estou contente com 0 ter
aos 80 Guilos Acho que eu ainda tenho muito parauabalhar
ainda me falta muito trabalho frente Ainda vai ser uma coisa
que YCJo-me nos pr()X1mOS 6 an os a ter de trabalhar 0 corpo ate cheshy
gar 11 tal forma ideal ao corpo ideal ( ) Eo tal corpo masculino com
os ombros mais a cintura mais em V - Ii esra 0 torso em
V - e musculado
ESTUDANTE UNlVERSITiillIO 21 ANOS PRATICANTE DE MUSCUIAtAo
porem scm a rudeza do passado impressa pelas condilt6es de
nabalho que sem intenltio moldavam 0 corpo 0 corpo do hom em ja nao
e urn mero instrurnento que se abandona ao trabalho mas de proprio
243
CLASSES ASSOCIATfVTSMO E ESTADO
MlllUCla como COOl
extracltao total dos pel os que possam encobrir 0
ao
da simetria muscular conseguida
Mas os corpos femininos tambem nao ficaram de fora dos sistemas
fisicos associados a muscutaltao Com objectivos mais moderados em
termos de volume corporal e sobretudo direccionados para a perda de
adiposidade e tonificaltao determinadas zonas do corpo as mulheres
encontraram res posta aos seus anseios corporais sobretudo nos body Mesmo
aos pesos e e aoontrario
publico masCilliri~ as roulheres tendem a
do corpo como (lllS de intervenltao prioritaria no sentido da manuten
ltao ou mociitJG50 Face a tais aspiraltoes a chegoll
a conceber um sistema fisieo particular para dar ao pllbico
especificameme feminino comercializando-o sob a designaltio de GAP
uma modalidade que promove 0 trabalho de resistencia e forshy
talecimento atraves de varios exerdcios localizados nas zonas
dos gl(lteos abdommalS e pernas
Eu era ter aqude corpo musculado corpo bonito
que tada a gente rilio e () Nao llma mulher eXclgeJradamell1le
muscuCida porque perde os trayos femininosEuma mulher ddinida
Nao precisa de ser magra Nao acho que eaquele estereotipo de magre-La
que cada vez ha mais que leva as miudas hoje em dia a rornarem-se
anonxicas ( ) Hoje no ginasio a imagem que se quer passar e que
essa nao ea nao eo ideal de urn corpo 0 ideal de urn corpo e umamulher a mulher nao precisa de estar MOr
desde que bem ueWllUa e0 ideal
23 ANOS 120 ANO INSTRJroRA DE CARDlo-FrfNESS
244
PESOS HALTERES E SENTiDOS DOS CORPOS (H)AIrERADOS
tern
cas no seio da industria de design corporal Como assinala Fortuna
os de edllcalt3o ffsica tinham como vocaltao disciplinar 0 corpo
para for mar rnelhores cidactios mais saudaveis e competemes prepashy
rando-os para os desafios das novas sociedades surgidas com a industriashy
os actuais health clubs por seu lado associ am a juventude a
beleza e a satide do corpo aamo-confianya aauto-estima e ao bem-estar
ol(rcendo prodmos e serviltos a moldar 0 corpo amedida
e preocupalt6es de
outros mats imageticos
some body Estar em mostrar (determinadas)
A manifestalt3o mais valorizada do corpo saudavel deixa de
ser a seu rendimeDto fo1lta e para passar a ser a sua aparenshy
cia A sallde cosmetiza-se e torna-se num fen6meno estetico nao basta
mante-la mas fazer transparece-la nomeadamente atraves da aquisiltao
urn corpo perfeito Este par sua vez passa a ser condiltao sine
non para 0
Higt LdllI-la para a ser
Eu via que tinlIa urn corpo com varios problemas Precisava de
rirar a barriga algum poeu e Tinha urn peito quase fundo dentro
quase que nao se via a barriga mais saida que 0 peito Via que tinha
problemas e estava a caminhar para 0 problema da obesidade ( )
Agora quando olho para 0 espdho vejo urn corpo perfeito 0 que todo
o hornem gostaria de tef E simo-me orgulhoso por isso
AUXILlAR DE ACOO MEDICA 120 ANO 24 ANOS
PHKnCANTE DE
245
CLASSES ASSOCIATIVLSMO E ESTADO
despono ou pelo menos efectuar com regushy
[sica passou aser nao apenas urn direito25 mas
tambem urn dever sociedades contempodneas um
cuja falta acarreta frequentemente sentimentos de culpa pessoal
e aclt6es de sanyao social sobre aqueles que se encontram pouco
a descobrir as suas supostas vantagens ou cujos corpos se afastarn
da normatividade da silhueta canonica quese deseia bem deflllida e
tonificada
Pesos e halteres entre 0 estUode vida saudltivel doeura ddec a a sau
Se a pFl1rllpaltao com os cuidados corporlis era anteriOrrneHr proshy
pria das classt~s onis lhastad3s nas condilt6es
oitenta f) portugues comum passa a tcr acesso em qualqucr sureil1ler~
cadoa uma pan6plia de prodUloh tecnicas e servicos que prometem criar
e conservar um corpo jovem perfeira e saudive qualidades de refeshy
rencia e reverencia no culto conremporaneo do corpo Socialmente apreshy
sentados e mercantilizados em associacao acriacao de urn
produtor de salIde e preventor doenca tais produtos tecshy
nicas e servi~os sao frequentemente assumidos na vida quotidiana Como
sendodo oll mais importante que os propdes servicos de saude e de
prestacao de cuidados medicos na concretizayao do bem-estar fisico e
psicologico das pessoas A ideia hoje partilhada no imaginario
de que a saude ealgo que se conquista ccoroHrio simb61ico da delegashy
ltao social no individuo das formas manutenlt3o controlo e vigilancia
do corpo que outrora haviam sido exercidas pelas autoridades
A difusao e enraizamento social da assuncao de que e possivd obter
e manrera saude do corpo atraves do envolvimento do individuo num
de pratiCa5 ditas saudaveis acabaram efectivamente por impushy
tar a cada urn uma responsabilidade crescente pelo seu estado de
Concomitantemente em alguns contextos forneceram argumentos a
246
PESOS HAJTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)AIfERADOS
desresponsabiliza~o parcial do Estado em materia de ULUltlUU medicos
e sallde publica Doravante nao esuposto que os cidadaos necessitem
de instrw5es das autoridades e instituiltoes publicas sobre como cui dar
sua existencia ffsica 0 corpo passa a ser urn espaco regulado
opc5es e escolhas de cada urn entre a pleiade de produtos tecnicas
e serviltos actualmente ao seu dispor
Sob a egide da crenca na autoridade pessoal sobre 0 corpo cada pessoa
apartida detem plenos direitos sobre esse bern patrimonial sen do igualshy
mente responsive pelo cumprimento determinados deveres sociais
Estes passam entre outros pdo governo da sua respectiva aparencia e
de vida Ao indivfduo eatribufdo urn papd preponderante na
identificaltao e controlo atempado dos sintomas de patologias diversas
problemas cardiovasculares na preVcncao perante condutas
risco (nomeadameHte atTaves da redwao doakool e do tabaco
obrigatoriedade de sexo protegido ou do exerdcia Hsico) au na
cia e evitamento do que sao socialmente considerados excessos (alimen-
tares exposicao ao sol de medicaliiacentio etc)
da adop~ao cada vez matS generalizada desta nova atitude de
pntdencialismo individualist a perante 0 bem-estar corporal e a evolultao
da oroDorcao de populaltao que em Portugal na viragem do
desenvolver algum tipo de aCyao no sentido de melhorar ou
manter 0 seu estado de salide Segundo 0 estudo 0 Estado de Saude em
entre 2001 e 2008 a percentagem de portuguese que afirshy
mavam estar a tomar no momenta realizaltao do inquerito alguma
iniciativ3 no sentido de mclhorar ou manter 0 seu estado de saude
viu-se aumentar de 368 em 2001 para cerca de metade da populaltao
(498) em 2008
Segundo 0 mesmo estudo essa evolultao e acompanhada da alterashy
de comportamento declarado rclativamente a determinados hibishy
tos de vida considerados saudaveis designadamente no que respeita
ao exerdcio fisico A percentagem de portugueses que afirmam
exerdcio [SICO regular (ginistica COffer etc) ve-se significativamente
de 33 em 2001 para 475 em 2008 Mesmo que 11ao
247
11
CLASSES ASSOCIATIVISMO E ESTADO
se traduza numa pratica efectiva27 csta evolu~ao corresponded
a uma assinalivel incorporaltao social do dezJer-ser contemporaneo da
actividade fisica A representaiyao desta enquanto habito de vida saudishy
torna-se clara quando noutra investiga~a028 se constatou ser entre
os individuos que mais regularmente praticam exerdcio Hsico que mais
presente esta a percep~ao do risco cia sua ausencia quotidiana29
e born esaudiveJ eurn habito saudaveL E como se
fosse lel livros sel inteligente Esras a arranjar 0 teu corpo Sabes
que vais chegar aos quarenta e tal arros e ainda vais estar born Agora
muitos chegam aos qualcrrra e tal anos e ja esrao com barriga e
com sei a ter tanras ~u~tas coisas Ficas mas saudivel se estas a
treinar bem e sew mdar contra a tua
29 ANOS LH ENClfO ENFERMEI(O PRATICANTE DE MusCutAltAo
A tendcncia para a crenlta incontestlvel no exerdcio fisico como
habito de vida saudivel nao se apresenta contudo disrribulda
igual maneira no espa~o social e cultural portugues Sao varios os estushy
que tern localizado urn maior enraizamento social da disposi~ao
para a pratica de exerdcio fisico entre as mais jovens geralt6es e entre
os individuos provenientes dos estratos socioeconomicos mais clevashy
dos Resultadonao apenas das novas con(li~6es de sociais economicas
e simbolicas em que as gera~6es pos-25 de Abril sao socializadas relatishy
vamente ao corpo e aos cuidados corporais30 mas tambem de urn efeito
de trnsltao no curso
Investiga~6es realizadas sobre a pnitica de actividades ffsicas entre os
jovens portugueses denotam-na mais regular e intensiva nos grupos etashy
rios mais novos nomeadamente ate ainserlt5o no mercado de trabalho
e aassunlt5o de novas responsabilidades familiares31bull 0 que indica que
amedida que as etapas do processo de transi~ao para a vida adulta se vao
cum prindo a pritica desportiva vai efectivamente sendo abandonada no
quotidiano dos jovens portugueses
248
PESOS HALTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)ALTERADOS
No caso especifico da 11l~LU1ltll-alJ uma actividade particularmente
exigente em termos do tempo dispoIl lVei para a sua pratica esta tenshy
dencia revela-se particularrnente marcante Trata-se no eatanto de
uma das modalidades com maior adesao efectiva ou potencial entre os
jovens em Portugal A sua pdtica efectiva (prcsente ou passada)
declarada por cerca de 12 da populalt5o jovem porttlguesa no ano
200032 sendo 34 a percentagem de jovens que nunca tendo pratishy
cado admitiram vir a faze-Io no futuro Quer a sua pdtica efectiva
quer a sua pr~hica potencial viram-se substancialmeme acrescidas entre
os jovens do sexo lTlasculin033 com idades compreendidas entre 18 e
anos ainda a residir com a familia de origem ou sozinhos solteiros
ou ja separados ou divorciados sem filhos Perfil dpieo para stlstentar
a hip6tese de 0 aumento de massa muscular ser urn investimento corshy
poral que corresponde ellliarga medida a uma fOlm~de capitalizar
o potencial expressivo do corpo masculino em estrategiasde atracltao e
sedult5o
Embora a disponibilidade potencial para a pratica da musculaltao
- nunca fiz mas admito vir a fazec surja praticamente transversal aos
jovens qualquer que seja 0 seu estatuto social ou habitat de residencia
o facto cque as condilt6es materiais de existencia continuam a constranshy
ger a sua ptatica efectiva Mais devada entre os jovens que melhores
condilt6es sociais detem para fa_zet face as mensalidades exigidas pelos
cspaltos destinados ao seu exerdci0 34 a pratica de musculaltao decrescc
amedida que se desce na estrutura social de 26 entre os jovens de
estatuto social alto diminui para 9 entre os jovens de estatuto social
mais baixo Do mesmo modo sao os jovcns que tern urn acesso mais
facilitado as instalalt6es que disponibilizam tal servi~o quem mais adere
efectivamente a sua pritica ou seja os jovens residentes em habitat
e suburbano 0 sanho em obter urn corpo musculado revela-se
portanto substancialmente mats democratizado na sua distribui~ao social
(mediaticamente amplificada) do que as condi~6es que perrnitem a sua
concrecizaltao
149
CLASSES ASSOCIATIVISMO b ESTADO
Para fazer [musculayao] como se fosse urn culto tern que se rer
tempo e disponibilidade E depois tern que se ter vontade uma
vontade E dinheiro Estas sao as coisas vontade dinheiro e disposhy
nibilidade
29 ANOS LICENCLADO ENFER1v1EIRO PRATCANTE DE MUSCULAyo
Tern que se ter muita forlfa de vontade tem que eter
tambem () torna-se a tal de qlle eu poundalo eV1Clame
( ) A pessoa para rcr urn corpo assimrem quI s~ trabalhar muito
nao e Nao e brincaJeira 1150 e E preciso urn esforyo de
tempo alillleatar A nutri(ao entao se para
rnentos tem que $( fr n30 IE pode
28 ANOS 10deg ANO DESEM[REGADO JTICANTE DE MUSCULAtAo
Mesmo entre aqueles que reunem as condic5es socioeconomicas
que permitem 0 acesso a constru~ao urn corpo de atraves da
de muscidacento nem todos dispoem das disposilt6es subjectivas
C(IgtIIld para enfrentar 0 longo processo da suaconcretizasao Euma
dctividade que quando 0 objectivo ea obtensao eoumanuten~ao
urn dado modelo de compleiltao fisica volumoso e definido exige dos
seuspraticantes trabalho arduo e dedicaltao quase monastica forsa de
e determinacao perseveranlta e espfrito de sacriflcio pain no abnegalt3o e autocomrolo e disciplina Nao e por
acaso que entre os jovens que praticam algum tipo despono Oll actishy
vidade fisica sao os adeptos musculalt3o os que uma
tica mais intensiva e regular sendo mais de metade os que se exercitam
diaria ou quase diariamentel5
A maximizasao da estetica corporal proposta pela rnusculasao
ponamo a realizacao de uma etica que transcende a pritica
250
PESOS HALTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)ALTERADOS
desta modalidade e se estende a outros domfnios vida do seu
came A etica de disciplina cultivada durante os a dado momento
da efectivameute a ir dos tempos e espashy
lt05 que sao dedicados A alirnentacento passa a ser bastante cuidada
hiper-re5tritiva nas gorduras e e sobredimensionada nas proteinas
c hidratos de nutrientcs que permitem acumular energia para 0
t[eino eo concomitante crcscimento do volume muscular 0 sono Dassa a
ser tambem hiper-regrado sacrificando-se momentos de lazer e
noctumas por exemplo 0 tempo disponfvd para sociabilidadcs amicais
e por vezes atc familiares e Iaborais passa a ser gerido em funsao das
necessidades treino diario
aquela vontade de ter urna vida de mudar 0
corro ]a nao queres comer gotJuras porque estas aver 0 reu carpo
Vais a um piquenique ou qualquer coisa assilll e wrnes alguma coisa
assim mais na semana que vem ji se nota nosabdominais En Jesus
Cristo engordei Eja vais xiiiiiiiiiii Corras com fritos e com gorduras
puxas mais hidratos de carbono e protdn~i ( ) Cada dia
contralo 0 peso e controlo muito bem aquilo que como percebes De
manha e uma dose multo torte de hidratos de carbono papas
Ncstum Uma coisa muito com leltemagro scm Nada
de gorduras nada de manteig~~ nada De manha e 15S0 on2C horas
tambem comes alguma coisa uma sandufche com cafe com ramshy
bern magro Alrno~o tambem comes cada dia qualQuer coisa
corni guisado com com com urn bom azeite
Ao jantar ji epouca coisa porque nao estou naquela fase de tomar
aminokidos e nao preciso N 50 estoll agora naquela fase de puxar para
crescer agora estou assim Niio lhe dd as vezes vontade de comer sei Ed
um bolo com chantilly Nao mete porque sabes que re vai
fazer maL Olhas para mas nao com aquela vontade de comer Sabes
que e born mas nao tens 0 corpo esta em primeiro
Niio e que narcisismo ou uma coisa assim E urna preocupayao
saudiveL Nao eque estejas a olhar para 0 espelho ai que sou bonito
251
CLASSES ASSOCIATIVISMO E ESTADO
nao 1sto ja enarcisismo Mas todas as pessoas estao prcocupadas com
aqllelc reslIltado que conseguiu e nao vais estragar agora de urn dia
para 0 outro ( ) Trabalho como um relagio todos os dias tteino as
tres ( ) Tem que ser nao podes brincar com a corpo Tem que set
tudo controlado ( ) Precisas descansar Par isso tem que ser llma vida
bern organizada Levantar-se as mesmas horas comer as mesmas horas
descansar as mesmas horas treinar as mesmas horas Tern que ser tuclo
arranjadinho nao podes andar disparatadQ a fazer coisas II um culto
Por isso cque tern resultados
29 ANOS UCENCLADO ENFERMEIlZO PRATICANTE DE MUSCULA(AO
1Boa parte do oe do praticante empenhado em
erescer a massa muscular fassa entao a ser geridoem fun~5o da maxishy
mizaltaodos ganhos de vDlume e ddiniltao corporal Este e um
tivo que 0 faz Ianyar mao de um impladvd processo racional instrushy
de autogoverno e hiperdiseiplina do seu tempo e das actividades
do corpo e sobre 0 corpo A ohten~ao de urn corpo hiperbolico impliea
paradoxalmente um rigoroso comedimento dos seus habitos e
eomportarnentos mais habituais Quando a hiperdisciplina earacterisshy
tica das pratieas introduzidas na vida quotidiana ja nao e capaz de dar
resposta as voIumosas ambi~6es do indivfduo quando ji nao eonsegue
maximizar 0 potencial corporal idealizado como meta por parte do prashy
ticantc cste nao se da obrigatoriamente por veneido 0 desatlo dos seus
pessoais e propriamente fisicos pode ser superado atraves do
consumo de outros reeursos tambem produzidos e comercializados
industria de design corporal nao caras vezes nos mesmos espaos onde
o exerdeio fisieo os poreneia
Eentao que chega a nora de experimentar as vantagens dos supleshy
mentos alimentares exibidos nas prateleiras das gcandes e pequenas
superficies de lojas de despofto bern como das entradas de muitos
ginasios indo de encontro as (rapidas) amhilt6es dos seus frequentashy
dores Para aIem destes produros enconttam-se ainda disponfveis em
252
PESOS HALTERES E SENTfDOS DOS CORPOS
circuitos de comercio rna is alternativo e underground uma diversidade
de ester6ides anabolizantes e de outros produtos euja venda livre eilegal
pelos efeitos perversos que acarretam na homeostasia interna do orgashy
nlsmo mas cujos ganhos de e massa muscular sao surpreendentes
na quantidade e eeleridade bem como na redwao significativa da adishy
posidade 0 uso dessas drogas apolineas36 tem-Se tornado uma op~ao
disseminada entre outros praticantes de muscuIaltao que
nao apenas as fisioeulturistas que desde sempre riveram uma rela~o
axiomitica37 bull
Entretanto vim para ca e aqui come-eei a tomar suplemenro
uma proteinazinha uma creatinazinha Entretanto fahram-mc sobre
a tal siruaifao [esteraides anabolizantesJ e eu tentei experimentar
para saber uma situa~o de curiosidade () Espectacular rnesmo
Uma pessoa atinge urn nive mesmo muito bom E Ilma qualidad
brutal Por isso e que dizem que a malta que eomeltlt a faxer essas
coisas depois torna-se viciada
28 ANOS 100 ANO DESEMPREGADO PRAT1CANTE DE
Assim que comepmos a ganhar 0 mfnimo musculo queremos
semprc mais sempre mais sempre mais Depois atillgimos quase a
performance dai nao safmos mais Depois onde vamos recorrcr ea
substincias batidos e aminoicidos que epara ver se conseguimos
desenvolver mais 0 110SS0 conseguir desenvolver mais os
mUsculos E acaba nisso ( quase urn CicIo ( ) E dcpois da eonseguishy
mos mais vamos desenvolvendo desenvolvendo
24 ANOS 120 AlOAUXIUAR DE ACOtO MEDICA
PRATlCANTE DE MUSCULAltAo
253
I
CLASSES ASSOC1ATIVISMO E ESTADO
que os cultorcs da muscula~ao a actividade adamando
a sua preocupatao com a saude e 0 bem-estar presente e fururo represhy
sentando-a como uma mobilizada no scntido de manter ou
a forma e obter a imagem um corpo sauc1avel e atrashy
ente 0 facto c que a compreensao sempre positiva da entre cxershy
dcio e saude como afirmam Bagrichevsky e Estevao nao passa de uma
hipotese optimista38 Apesar de prevalecente enquanto ideal e a priori ramada por certa e incontroversa a rnixima despo[m c saude esconde
luitas vezes vivencias e representatoes
Com efeitoexistem cada vez mais situatoes em que as pretensoes
perfeccionistas e aobsess5n pela saude e peIo collt-mio do corp( podem
confIgurar cstados
mtermizados e
cinicamentc susceptivcis de sercm
J iuttoloeia do corpu
- ou
e saudiyei de lut ~e iessente a socdde e middotem grande
em exerdcio
dependentes dapropria imagem corpotal bull 1
-r que cnarm ltIe a qual sc esfof~m ao miximo por manter e
~oar -- compulsivos dotados grande perseveran~a t toleshy
rfll1cia ao sofriPlento traduzido em sintomas como a dor a exausshy
tao e a lesao entre outros n1enos comuns
Eu viciei-me nlquilo Viciei-me mesmo em ginasio Se nao fosse
para era como uma docnlta Tinha que if Era mesmo
6bcecado com aquilo C)Queria hear grande E fiquei V) 0
nvo era corpo como deg dessamiddotmalta que a gente ve af
( ) Depois toma-se urn vieio qucrer atingit (ilo
28 ANOS 100 amp10 DESEMPREGADO lRATICANTE DE MUSCULAltAo
HUSCUlaltao nunca pode vir a ser um problema Pode vir a scr
urn quando hi eXCt5SOS ( ) Mas os excessos nao controshy
[ados Porque eu neste momento estou a entrar numa de cxccssos
251
PESOS HALTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)ALTERADOS
mas controlados Os excesses tem que scr controlados Cbull ) A nIve
de problemas 0 unico problema que traz no fundo eisso quando os
excessos nao sao controlados De resto nao enada assim de
28 ANOS 110 ANO pOLfClA PRATICANTE DE MIJSCULAltAo
Apesar de serem mobilizadas no sentido da conformidade aos rnodeshy
los corporais referencia e reverencia as praticas muscula~ao e seus
sistemas f1sicos derivados podem a qualquer momento ver-se desvirtushy
no seu sentido original quando os projectos corporais que alimenshy
tam se rll1icalizam pdo excesso de di~ciplina na eonformdade aos
1l10delos de referencia institufdos Este de comportamentos hipershy
diciplinad)s pode traduzir-se por exemplo em comportamentos
sifcdos Gomodisturbio dismorfC( muscular mais vulgarmente conheshy
ruygttYl a vigorexia Tambem descrita como complexo de Adonis
ou anorexia reversiva39 trata-se uma sindrome caracrcrizada
bLW dos seus portadores geralmente homens e independentemente da
sua museulatura (embora sejam normal mente bern desenvolvidos)
deterem uma auto-imagem corporal diswrcida e persistente no
de se sentirem muito pequenos fraeos e frageis
simultanealllente pdo deseio de serem musculados e 0
medo de screm magros desenvolvem uma exceSSlva
exerdcio (ouertrtlining) por um tipo de hiperproteico
e pelo consumo regUlar de produtos sintcticos anab61icos e outros no
sentido de hipertroflar 0 seu sistema muscular A vigilancia dos resultashy
dos obtidos atravcs d3 flta mctrica da balan~ e do espeIho bem como
a reClef1iii~aoae e Slmeshy
tria de cada museulo e tambcm constante
riscos que potencialmente correm continuam a acreditar no seu poder
autocontrolo e em mante-Io em nome da sua saude Efcmeras ilus6cs
prometeicas que a seu tempo sc poderao transformar em f1tais
soes
255
CLASSES ASSOCIATIVISMO E ESTADO
edos (200~) Cultura da e vol 3 nY 13-25
in A Festa EdlJCaao Fisica Acampanh anti-patriotic que n 5279 17 ana 6 de JUlho de 1926
Jorge Crespo (1977) Hist6ria Ludens 2 n 1 45-52 Rui Gomes (1991) Poder e saber 0 corpo (1936-19401 de Educoao n 2middot3 Building a motor habitus physical in the Portuguese Estado Novo Intrmiddotmrrtionn
ofSpGrt vol 45 0 1 pp 23-37 -1 Prlt3tj r a corresponde ao que em
em muio as tor mas mai~ retentes e
5
in Ant6nio forg)
(19901 volw co POllugal Contemporonco (1926- (958) vol IV Usboa Alfa 333-338
10 In Ines (1999) Dons eDisciplinas do Corpo Feminino 0 OiscursoS5obre 0 COPO nu Historin do Esturio Novo bsboa Qrqanizcoes Nao Govt~rnamcntais do Consultivo Comissao 19ualdade e
3940 CGvalho (2005) lxplorando transferenci8lt nal prrmeiras deeadris
S~(ulo An61iseSocfaf vol XL nO 499-518j
12 In Hui Gomes (1991 I op 130 musculado dr Taborda chamava
do ~e(u0 nao Coriu dos Reereio$ do Desportos tambem aDs pal(os alem de ter sido (incovezes campeao rnundial e vezes
europeu de luta livre foi ainda ballarino Udo ern Paris e como duplo em algumas ploduoes de
Garcia Alvarez Onde para a rua ern corpinho bern Record Ana XXiii n 21B915 de Junho 1972 p 9
15 Ver Valter Cutum e IdentidadeA costuro social do moda em lIumanas (tese doutor
idrntitariamp na ocie Ide da Silva (orgs) tineroriw
pp671-689 17 Olivia Newton~ John liderava lugares clmeiros tops de vend as com a
can lao Lets get Physicol Jane ronda tornava-se na de marea da aerobica urn novo sistema fisieo mente teve exito atravegt do livra video best-seliersJane fondas Workout Nestes a dernonstrava eio a ern Beverly Hills por forma ao pratieante poder reproduzi-o no recolhimento do mats convlesse
1B Pam se ter uma no~ao compsritiva 0 futebol tem 1D0Y madamentc 150 mil praticantes federados ern Portugal 19 anuais elaborados Deia International Health
Association em (onjunto com J DeJaiHe e furor neilmente cedidos pea Associaao de Empres3s de Gi nasi os eAcademias
256
PESOS HAlTERES E SENTIDOS DOS CORlOS (H)AlTERADOS
19921) 0 Crepuscuo do A Etica Indolor des p129
a frente sao provenientes de urn con~ rnUSCLH3cao 110 ambito do de investiga~ao
por Vi tor a deeorrer no
maSCUlniOaCie in Miriam Golddenberg
[uitu[ois reoctonadas com 0 estetica eo jcrrl-eMo Otlsfrvat6r[o Que 0 Estado ja navia atraves da de distiplina de
Crespo Pedro Alcltlntara do (2009) 0 Estadoda Saude em Portugal USDaa Impreno
d~ (~iend3s Socials Segundo dados pelo Eurobarometro em 73 da populao nao praticava
reguiarmente exercicioshyVitor Seraio corpo in Machado Pais
peronte 0 Corpo Geiras Celta
qualquer reiaao d~fecta de causa-delta medida qlle ficarnos estimular a pratica de exerricio fisico
rontrario previa refexivamente PBra 35sodados asua
i~aizado noambJto do Observat0rio Perma-Ver Vftor Fcrrrira
33 Onde de metade (49) admitiu muscula~ao acrescendo 18 que afirmaram ter praticado
o
reverse
Adalescincio Latinoomericono volume 2 n 2 pp 97-101
257
- CLASSES ASSOClATrvISMO E ESTADO
treino 0 que vern corroborar empiricamente a hipotese avanshy
ltada por Lipovetsky de que hoje em dia 0 desporto de massas eessenshy
cialmente uma actividade dominada pda procura do prazer
mismo energetico da experiencia de si proprio depois do desporto
disciplinar e moralista cis 0 desporto-lazer a desporto-saude 0 desporshy
to-desafio Da pratica desportiva esperamos apenas sensalt6es e equilibr
valorizasao individual e evasao norma e descontraclt3o ja nao e a vinude que legitima 0 despono mas sim a emmao corporal 0 prazer
a forma e psicologica 0 des porto tornou-se urn dosemblemas mais
da cultura nardsica centrada no extase do
Oprocesso crescimento e de diversiflcaltao comercial das activishy
rades ffsicas indoor beneficiou durante os anos oitentac noventa
uma conjuntura economica favorivd caracterizada pdo aumento do
poder de compra da populaltao portuguesa tpela melhoria das de vida alguns dos seus sectores e sociais nomeadamente
classes rr Mias A proliferalt3o de gimisios health clubs foi ltlinda
favorecida pdo prolongamento quer da esperanlta media de vida quer
das processos de escolarizaltao e de transiltao para a vida adulta Estas
din1Unicas que efectivamente fizeram dos reformadas e dos jovens
estudantes publicos-alvo fundamentals na promQ(ao de actividades
fisicas no espalto do ginasio considerando 0 tempo que tern POLCllUltUshy
mente disponivel ao longo do dia nome~damente fora das hons
maior wifego nos ginasios (perfodos almolto e p6s-laborais)
Urn outros pltblicos-alvo a que este segmento da indUstria de
design corporal mais se tem dirigido tern ido os homens mais disponishy
ao consumo dos sellS produtos e servi~os A imagem de
pader e competencia produzida e difundida pela publicidade e pclas
revistas hoje dedicadas ao segmento masculino ji nao e reflectida apenas
atravcs de sfmbolos tradicionais consumo masculino como 0 carro 0
relogio ou a can eta mas tam bern atraves investimentos na proawao
e manutenltao da aparencia fisica que tende a perder 0 formalismo do
fato-e-gravata A imagem de urn hamem atletico e cuidado passa a ser
inclusivamente apresentada como chave do sucesso entre as
242
PESOS HAITERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)AITERADOS
mais exigentes quanto aDS cuidados masculinos com a imagem Esta nova
mostra um novo homem preocupado com a flexibilidade da
sua pele com a domesticaltao dos seus odores com a qualidade do seu
[[sico com a tonicidade da sua silhueta com a definiltao do
seu abdomen com 0 volume do seu biceps A pdtica de musculaltao
assume entao tun valor estratcgico na produltao do actual corpo mascushy
referencia e de reverencia
Trata-se de facto do regime corporal socialmente mals difundido
estrategia de promoltao de urn modelo corporeidade ma~cu-
modelo adetico com acento na potencia vitalidade
IHUgtCUlaL 0 que de resto nao sera de surpreender dada
a diiilsao incorporada de estereotipos da sociedade ocidental sabre a masshy
que tradicionalmemc ligam os padr6es de perfectibilidade e
atractivlhde masculina ao modelo de corporeidade mesomorfico e hipershy
troEado em medida cOlldensado na massa muscular tCUlllUldUd
nos peltoral~ braltos e costas esnuturando um torso de
adclgalta ate a
Um homem deve ter os ombros mais largos do que a anea ter uma
anca fina e deve ser algo robusto mats cheinho Mais cheinho
mas nao e em gordura e em musculo ( ) Estou contente com 0 ter
aos 80 Guilos Acho que eu ainda tenho muito parauabalhar
ainda me falta muito trabalho frente Ainda vai ser uma coisa
que YCJo-me nos pr()X1mOS 6 an os a ter de trabalhar 0 corpo ate cheshy
gar 11 tal forma ideal ao corpo ideal ( ) Eo tal corpo masculino com
os ombros mais a cintura mais em V - Ii esra 0 torso em
V - e musculado
ESTUDANTE UNlVERSITiillIO 21 ANOS PRATICANTE DE MUSCUIAtAo
porem scm a rudeza do passado impressa pelas condilt6es de
nabalho que sem intenltio moldavam 0 corpo 0 corpo do hom em ja nao
e urn mero instrurnento que se abandona ao trabalho mas de proprio
243
CLASSES ASSOCIATfVTSMO E ESTADO
MlllUCla como COOl
extracltao total dos pel os que possam encobrir 0
ao
da simetria muscular conseguida
Mas os corpos femininos tambem nao ficaram de fora dos sistemas
fisicos associados a muscutaltao Com objectivos mais moderados em
termos de volume corporal e sobretudo direccionados para a perda de
adiposidade e tonificaltao determinadas zonas do corpo as mulheres
encontraram res posta aos seus anseios corporais sobretudo nos body Mesmo
aos pesos e e aoontrario
publico masCilliri~ as roulheres tendem a
do corpo como (lllS de intervenltao prioritaria no sentido da manuten
ltao ou mociitJG50 Face a tais aspiraltoes a chegoll
a conceber um sistema fisieo particular para dar ao pllbico
especificameme feminino comercializando-o sob a designaltio de GAP
uma modalidade que promove 0 trabalho de resistencia e forshy
talecimento atraves de varios exerdcios localizados nas zonas
dos gl(lteos abdommalS e pernas
Eu era ter aqude corpo musculado corpo bonito
que tada a gente rilio e () Nao llma mulher eXclgeJradamell1le
muscuCida porque perde os trayos femininosEuma mulher ddinida
Nao precisa de ser magra Nao acho que eaquele estereotipo de magre-La
que cada vez ha mais que leva as miudas hoje em dia a rornarem-se
anonxicas ( ) Hoje no ginasio a imagem que se quer passar e que
essa nao ea nao eo ideal de urn corpo 0 ideal de urn corpo e umamulher a mulher nao precisa de estar MOr
desde que bem ueWllUa e0 ideal
23 ANOS 120 ANO INSTRJroRA DE CARDlo-FrfNESS
244
PESOS HALTERES E SENTiDOS DOS CORPOS (H)AIrERADOS
tern
cas no seio da industria de design corporal Como assinala Fortuna
os de edllcalt3o ffsica tinham como vocaltao disciplinar 0 corpo
para for mar rnelhores cidactios mais saudaveis e competemes prepashy
rando-os para os desafios das novas sociedades surgidas com a industriashy
os actuais health clubs por seu lado associ am a juventude a
beleza e a satide do corpo aamo-confianya aauto-estima e ao bem-estar
ol(rcendo prodmos e serviltos a moldar 0 corpo amedida
e preocupalt6es de
outros mats imageticos
some body Estar em mostrar (determinadas)
A manifestalt3o mais valorizada do corpo saudavel deixa de
ser a seu rendimeDto fo1lta e para passar a ser a sua aparenshy
cia A sallde cosmetiza-se e torna-se num fen6meno estetico nao basta
mante-la mas fazer transparece-la nomeadamente atraves da aquisiltao
urn corpo perfeito Este par sua vez passa a ser condiltao sine
non para 0
Higt LdllI-la para a ser
Eu via que tinlIa urn corpo com varios problemas Precisava de
rirar a barriga algum poeu e Tinha urn peito quase fundo dentro
quase que nao se via a barriga mais saida que 0 peito Via que tinha
problemas e estava a caminhar para 0 problema da obesidade ( )
Agora quando olho para 0 espdho vejo urn corpo perfeito 0 que todo
o hornem gostaria de tef E simo-me orgulhoso por isso
AUXILlAR DE ACOO MEDICA 120 ANO 24 ANOS
PHKnCANTE DE
245
CLASSES ASSOCIATIVLSMO E ESTADO
despono ou pelo menos efectuar com regushy
[sica passou aser nao apenas urn direito25 mas
tambem urn dever sociedades contempodneas um
cuja falta acarreta frequentemente sentimentos de culpa pessoal
e aclt6es de sanyao social sobre aqueles que se encontram pouco
a descobrir as suas supostas vantagens ou cujos corpos se afastarn
da normatividade da silhueta canonica quese deseia bem deflllida e
tonificada
Pesos e halteres entre 0 estUode vida saudltivel doeura ddec a a sau
Se a pFl1rllpaltao com os cuidados corporlis era anteriOrrneHr proshy
pria das classt~s onis lhastad3s nas condilt6es
oitenta f) portugues comum passa a tcr acesso em qualqucr sureil1ler~
cadoa uma pan6plia de prodUloh tecnicas e servicos que prometem criar
e conservar um corpo jovem perfeira e saudive qualidades de refeshy
rencia e reverencia no culto conremporaneo do corpo Socialmente apreshy
sentados e mercantilizados em associacao acriacao de urn
produtor de salIde e preventor doenca tais produtos tecshy
nicas e servi~os sao frequentemente assumidos na vida quotidiana Como
sendodo oll mais importante que os propdes servicos de saude e de
prestacao de cuidados medicos na concretizayao do bem-estar fisico e
psicologico das pessoas A ideia hoje partilhada no imaginario
de que a saude ealgo que se conquista ccoroHrio simb61ico da delegashy
ltao social no individuo das formas manutenlt3o controlo e vigilancia
do corpo que outrora haviam sido exercidas pelas autoridades
A difusao e enraizamento social da assuncao de que e possivd obter
e manrera saude do corpo atraves do envolvimento do individuo num
de pratiCa5 ditas saudaveis acabaram efectivamente por impushy
tar a cada urn uma responsabilidade crescente pelo seu estado de
Concomitantemente em alguns contextos forneceram argumentos a
246
PESOS HAJTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)AIfERADOS
desresponsabiliza~o parcial do Estado em materia de ULUltlUU medicos
e sallde publica Doravante nao esuposto que os cidadaos necessitem
de instrw5es das autoridades e instituiltoes publicas sobre como cui dar
sua existencia ffsica 0 corpo passa a ser urn espaco regulado
opc5es e escolhas de cada urn entre a pleiade de produtos tecnicas
e serviltos actualmente ao seu dispor
Sob a egide da crenca na autoridade pessoal sobre 0 corpo cada pessoa
apartida detem plenos direitos sobre esse bern patrimonial sen do igualshy
mente responsive pelo cumprimento determinados deveres sociais
Estes passam entre outros pdo governo da sua respectiva aparencia e
de vida Ao indivfduo eatribufdo urn papd preponderante na
identificaltao e controlo atempado dos sintomas de patologias diversas
problemas cardiovasculares na preVcncao perante condutas
risco (nomeadameHte atTaves da redwao doakool e do tabaco
obrigatoriedade de sexo protegido ou do exerdcia Hsico) au na
cia e evitamento do que sao socialmente considerados excessos (alimen-
tares exposicao ao sol de medicaliiacentio etc)
da adop~ao cada vez matS generalizada desta nova atitude de
pntdencialismo individualist a perante 0 bem-estar corporal e a evolultao
da oroDorcao de populaltao que em Portugal na viragem do
desenvolver algum tipo de aCyao no sentido de melhorar ou
manter 0 seu estado de salide Segundo 0 estudo 0 Estado de Saude em
entre 2001 e 2008 a percentagem de portuguese que afirshy
mavam estar a tomar no momenta realizaltao do inquerito alguma
iniciativ3 no sentido de mclhorar ou manter 0 seu estado de saude
viu-se aumentar de 368 em 2001 para cerca de metade da populaltao
(498) em 2008
Segundo 0 mesmo estudo essa evolultao e acompanhada da alterashy
de comportamento declarado rclativamente a determinados hibishy
tos de vida considerados saudaveis designadamente no que respeita
ao exerdcio fisico A percentagem de portugueses que afirmam
exerdcio [SICO regular (ginistica COffer etc) ve-se significativamente
de 33 em 2001 para 475 em 2008 Mesmo que 11ao
247
11
CLASSES ASSOCIATIVISMO E ESTADO
se traduza numa pratica efectiva27 csta evolu~ao corresponded
a uma assinalivel incorporaltao social do dezJer-ser contemporaneo da
actividade fisica A representaiyao desta enquanto habito de vida saudishy
torna-se clara quando noutra investiga~a028 se constatou ser entre
os individuos que mais regularmente praticam exerdcio Hsico que mais
presente esta a percep~ao do risco cia sua ausencia quotidiana29
e born esaudiveJ eurn habito saudaveL E como se
fosse lel livros sel inteligente Esras a arranjar 0 teu corpo Sabes
que vais chegar aos quarenta e tal arros e ainda vais estar born Agora
muitos chegam aos qualcrrra e tal anos e ja esrao com barriga e
com sei a ter tanras ~u~tas coisas Ficas mas saudivel se estas a
treinar bem e sew mdar contra a tua
29 ANOS LH ENClfO ENFERMEI(O PRATICANTE DE MusCutAltAo
A tendcncia para a crenlta incontestlvel no exerdcio fisico como
habito de vida saudivel nao se apresenta contudo disrribulda
igual maneira no espa~o social e cultural portugues Sao varios os estushy
que tern localizado urn maior enraizamento social da disposi~ao
para a pratica de exerdcio fisico entre as mais jovens geralt6es e entre
os individuos provenientes dos estratos socioeconomicos mais clevashy
dos Resultadonao apenas das novas con(li~6es de sociais economicas
e simbolicas em que as gera~6es pos-25 de Abril sao socializadas relatishy
vamente ao corpo e aos cuidados corporais30 mas tambem de urn efeito
de trnsltao no curso
Investiga~6es realizadas sobre a pnitica de actividades ffsicas entre os
jovens portugueses denotam-na mais regular e intensiva nos grupos etashy
rios mais novos nomeadamente ate ainserlt5o no mercado de trabalho
e aassunlt5o de novas responsabilidades familiares31bull 0 que indica que
amedida que as etapas do processo de transi~ao para a vida adulta se vao
cum prindo a pritica desportiva vai efectivamente sendo abandonada no
quotidiano dos jovens portugueses
248
PESOS HALTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)ALTERADOS
No caso especifico da 11l~LU1ltll-alJ uma actividade particularmente
exigente em termos do tempo dispoIl lVei para a sua pratica esta tenshy
dencia revela-se particularrnente marcante Trata-se no eatanto de
uma das modalidades com maior adesao efectiva ou potencial entre os
jovens em Portugal A sua pdtica efectiva (prcsente ou passada)
declarada por cerca de 12 da populalt5o jovem porttlguesa no ano
200032 sendo 34 a percentagem de jovens que nunca tendo pratishy
cado admitiram vir a faze-Io no futuro Quer a sua pdtica efectiva
quer a sua pr~hica potencial viram-se substancialmeme acrescidas entre
os jovens do sexo lTlasculin033 com idades compreendidas entre 18 e
anos ainda a residir com a familia de origem ou sozinhos solteiros
ou ja separados ou divorciados sem filhos Perfil dpieo para stlstentar
a hip6tese de 0 aumento de massa muscular ser urn investimento corshy
poral que corresponde ellliarga medida a uma fOlm~de capitalizar
o potencial expressivo do corpo masculino em estrategiasde atracltao e
sedult5o
Embora a disponibilidade potencial para a pratica da musculaltao
- nunca fiz mas admito vir a fazec surja praticamente transversal aos
jovens qualquer que seja 0 seu estatuto social ou habitat de residencia
o facto cque as condilt6es materiais de existencia continuam a constranshy
ger a sua ptatica efectiva Mais devada entre os jovens que melhores
condilt6es sociais detem para fa_zet face as mensalidades exigidas pelos
cspaltos destinados ao seu exerdci0 34 a pratica de musculaltao decrescc
amedida que se desce na estrutura social de 26 entre os jovens de
estatuto social alto diminui para 9 entre os jovens de estatuto social
mais baixo Do mesmo modo sao os jovcns que tern urn acesso mais
facilitado as instalalt6es que disponibilizam tal servi~o quem mais adere
efectivamente a sua pritica ou seja os jovens residentes em habitat
e suburbano 0 sanho em obter urn corpo musculado revela-se
portanto substancialmente mats democratizado na sua distribui~ao social
(mediaticamente amplificada) do que as condi~6es que perrnitem a sua
concrecizaltao
149
CLASSES ASSOCIATIVISMO b ESTADO
Para fazer [musculayao] como se fosse urn culto tern que se rer
tempo e disponibilidade E depois tern que se ter vontade uma
vontade E dinheiro Estas sao as coisas vontade dinheiro e disposhy
nibilidade
29 ANOS LICENCLADO ENFER1v1EIRO PRATCANTE DE MUSCULAyo
Tern que se ter muita forlfa de vontade tem que eter
tambem () torna-se a tal de qlle eu poundalo eV1Clame
( ) A pessoa para rcr urn corpo assimrem quI s~ trabalhar muito
nao e Nao e brincaJeira 1150 e E preciso urn esforyo de
tempo alillleatar A nutri(ao entao se para
rnentos tem que $( fr n30 IE pode
28 ANOS 10deg ANO DESEM[REGADO JTICANTE DE MUSCULAtAo
Mesmo entre aqueles que reunem as condic5es socioeconomicas
que permitem 0 acesso a constru~ao urn corpo de atraves da
de muscidacento nem todos dispoem das disposilt6es subjectivas
C(IgtIIld para enfrentar 0 longo processo da suaconcretizasao Euma
dctividade que quando 0 objectivo ea obtensao eoumanuten~ao
urn dado modelo de compleiltao fisica volumoso e definido exige dos
seuspraticantes trabalho arduo e dedicaltao quase monastica forsa de
e determinacao perseveranlta e espfrito de sacriflcio pain no abnegalt3o e autocomrolo e disciplina Nao e por
acaso que entre os jovens que praticam algum tipo despono Oll actishy
vidade fisica sao os adeptos musculalt3o os que uma
tica mais intensiva e regular sendo mais de metade os que se exercitam
diaria ou quase diariamentel5
A maximizasao da estetica corporal proposta pela rnusculasao
ponamo a realizacao de uma etica que transcende a pritica
250
PESOS HALTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)ALTERADOS
desta modalidade e se estende a outros domfnios vida do seu
came A etica de disciplina cultivada durante os a dado momento
da efectivameute a ir dos tempos e espashy
lt05 que sao dedicados A alirnentacento passa a ser bastante cuidada
hiper-re5tritiva nas gorduras e e sobredimensionada nas proteinas
c hidratos de nutrientcs que permitem acumular energia para 0
t[eino eo concomitante crcscimento do volume muscular 0 sono Dassa a
ser tambem hiper-regrado sacrificando-se momentos de lazer e
noctumas por exemplo 0 tempo disponfvd para sociabilidadcs amicais
e por vezes atc familiares e Iaborais passa a ser gerido em funsao das
necessidades treino diario
aquela vontade de ter urna vida de mudar 0
corro ]a nao queres comer gotJuras porque estas aver 0 reu carpo
Vais a um piquenique ou qualquer coisa assilll e wrnes alguma coisa
assim mais na semana que vem ji se nota nosabdominais En Jesus
Cristo engordei Eja vais xiiiiiiiiiii Corras com fritos e com gorduras
puxas mais hidratos de carbono e protdn~i ( ) Cada dia
contralo 0 peso e controlo muito bem aquilo que como percebes De
manha e uma dose multo torte de hidratos de carbono papas
Ncstum Uma coisa muito com leltemagro scm Nada
de gorduras nada de manteig~~ nada De manha e 15S0 on2C horas
tambem comes alguma coisa uma sandufche com cafe com ramshy
bern magro Alrno~o tambem comes cada dia qualQuer coisa
corni guisado com com com urn bom azeite
Ao jantar ji epouca coisa porque nao estou naquela fase de tomar
aminokidos e nao preciso N 50 estoll agora naquela fase de puxar para
crescer agora estou assim Niio lhe dd as vezes vontade de comer sei Ed
um bolo com chantilly Nao mete porque sabes que re vai
fazer maL Olhas para mas nao com aquela vontade de comer Sabes
que e born mas nao tens 0 corpo esta em primeiro
Niio e que narcisismo ou uma coisa assim E urna preocupayao
saudiveL Nao eque estejas a olhar para 0 espelho ai que sou bonito
251
CLASSES ASSOCIATIVISMO E ESTADO
nao 1sto ja enarcisismo Mas todas as pessoas estao prcocupadas com
aqllelc reslIltado que conseguiu e nao vais estragar agora de urn dia
para 0 outro ( ) Trabalho como um relagio todos os dias tteino as
tres ( ) Tem que ser nao podes brincar com a corpo Tem que set
tudo controlado ( ) Precisas descansar Par isso tem que ser llma vida
bern organizada Levantar-se as mesmas horas comer as mesmas horas
descansar as mesmas horas treinar as mesmas horas Tern que ser tuclo
arranjadinho nao podes andar disparatadQ a fazer coisas II um culto
Por isso cque tern resultados
29 ANOS UCENCLADO ENFERMEIlZO PRATICANTE DE MUSCULA(AO
1Boa parte do oe do praticante empenhado em
erescer a massa muscular fassa entao a ser geridoem fun~5o da maxishy
mizaltaodos ganhos de vDlume e ddiniltao corporal Este e um
tivo que 0 faz Ianyar mao de um impladvd processo racional instrushy
de autogoverno e hiperdiseiplina do seu tempo e das actividades
do corpo e sobre 0 corpo A ohten~ao de urn corpo hiperbolico impliea
paradoxalmente um rigoroso comedimento dos seus habitos e
eomportarnentos mais habituais Quando a hiperdisciplina earacterisshy
tica das pratieas introduzidas na vida quotidiana ja nao e capaz de dar
resposta as voIumosas ambi~6es do indivfduo quando ji nao eonsegue
maximizar 0 potencial corporal idealizado como meta por parte do prashy
ticantc cste nao se da obrigatoriamente por veneido 0 desatlo dos seus
pessoais e propriamente fisicos pode ser superado atraves do
consumo de outros reeursos tambem produzidos e comercializados
industria de design corporal nao caras vezes nos mesmos espaos onde
o exerdeio fisieo os poreneia
Eentao que chega a nora de experimentar as vantagens dos supleshy
mentos alimentares exibidos nas prateleiras das gcandes e pequenas
superficies de lojas de despofto bern como das entradas de muitos
ginasios indo de encontro as (rapidas) amhilt6es dos seus frequentashy
dores Para aIem destes produros enconttam-se ainda disponfveis em
252
PESOS HALTERES E SENTfDOS DOS CORPOS
circuitos de comercio rna is alternativo e underground uma diversidade
de ester6ides anabolizantes e de outros produtos euja venda livre eilegal
pelos efeitos perversos que acarretam na homeostasia interna do orgashy
nlsmo mas cujos ganhos de e massa muscular sao surpreendentes
na quantidade e eeleridade bem como na redwao significativa da adishy
posidade 0 uso dessas drogas apolineas36 tem-Se tornado uma op~ao
disseminada entre outros praticantes de muscuIaltao que
nao apenas as fisioeulturistas que desde sempre riveram uma rela~o
axiomitica37 bull
Entretanto vim para ca e aqui come-eei a tomar suplemenro
uma proteinazinha uma creatinazinha Entretanto fahram-mc sobre
a tal siruaifao [esteraides anabolizantesJ e eu tentei experimentar
para saber uma situa~o de curiosidade () Espectacular rnesmo
Uma pessoa atinge urn nive mesmo muito bom E Ilma qualidad
brutal Por isso e que dizem que a malta que eomeltlt a faxer essas
coisas depois torna-se viciada
28 ANOS 100 ANO DESEMPREGADO PRAT1CANTE DE
Assim que comepmos a ganhar 0 mfnimo musculo queremos
semprc mais sempre mais sempre mais Depois atillgimos quase a
performance dai nao safmos mais Depois onde vamos recorrcr ea
substincias batidos e aminoicidos que epara ver se conseguimos
desenvolver mais 0 110SS0 conseguir desenvolver mais os
mUsculos E acaba nisso ( quase urn CicIo ( ) E dcpois da eonseguishy
mos mais vamos desenvolvendo desenvolvendo
24 ANOS 120 AlOAUXIUAR DE ACOtO MEDICA
PRATlCANTE DE MUSCULAltAo
253
I
CLASSES ASSOC1ATIVISMO E ESTADO
que os cultorcs da muscula~ao a actividade adamando
a sua preocupatao com a saude e 0 bem-estar presente e fururo represhy
sentando-a como uma mobilizada no scntido de manter ou
a forma e obter a imagem um corpo sauc1avel e atrashy
ente 0 facto c que a compreensao sempre positiva da entre cxershy
dcio e saude como afirmam Bagrichevsky e Estevao nao passa de uma
hipotese optimista38 Apesar de prevalecente enquanto ideal e a priori ramada por certa e incontroversa a rnixima despo[m c saude esconde
luitas vezes vivencias e representatoes
Com efeitoexistem cada vez mais situatoes em que as pretensoes
perfeccionistas e aobsess5n pela saude e peIo collt-mio do corp( podem
confIgurar cstados
mtermizados e
cinicamentc susceptivcis de sercm
J iuttoloeia do corpu
- ou
e saudiyei de lut ~e iessente a socdde e middotem grande
em exerdcio
dependentes dapropria imagem corpotal bull 1
-r que cnarm ltIe a qual sc esfof~m ao miximo por manter e
~oar -- compulsivos dotados grande perseveran~a t toleshy
rfll1cia ao sofriPlento traduzido em sintomas como a dor a exausshy
tao e a lesao entre outros n1enos comuns
Eu viciei-me nlquilo Viciei-me mesmo em ginasio Se nao fosse
para era como uma docnlta Tinha que if Era mesmo
6bcecado com aquilo C)Queria hear grande E fiquei V) 0
nvo era corpo como deg dessamiddotmalta que a gente ve af
( ) Depois toma-se urn vieio qucrer atingit (ilo
28 ANOS 100 amp10 DESEMPREGADO lRATICANTE DE MUSCULAltAo
HUSCUlaltao nunca pode vir a ser um problema Pode vir a scr
urn quando hi eXCt5SOS ( ) Mas os excessos nao controshy
[ados Porque eu neste momento estou a entrar numa de cxccssos
251
PESOS HALTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)ALTERADOS
mas controlados Os excesses tem que scr controlados Cbull ) A nIve
de problemas 0 unico problema que traz no fundo eisso quando os
excessos nao sao controlados De resto nao enada assim de
28 ANOS 110 ANO pOLfClA PRATICANTE DE MIJSCULAltAo
Apesar de serem mobilizadas no sentido da conformidade aos rnodeshy
los corporais referencia e reverencia as praticas muscula~ao e seus
sistemas f1sicos derivados podem a qualquer momento ver-se desvirtushy
no seu sentido original quando os projectos corporais que alimenshy
tam se rll1icalizam pdo excesso de di~ciplina na eonformdade aos
1l10delos de referencia institufdos Este de comportamentos hipershy
diciplinad)s pode traduzir-se por exemplo em comportamentos
sifcdos Gomodisturbio dismorfC( muscular mais vulgarmente conheshy
ruygttYl a vigorexia Tambem descrita como complexo de Adonis
ou anorexia reversiva39 trata-se uma sindrome caracrcrizada
bLW dos seus portadores geralmente homens e independentemente da
sua museulatura (embora sejam normal mente bern desenvolvidos)
deterem uma auto-imagem corporal diswrcida e persistente no
de se sentirem muito pequenos fraeos e frageis
simultanealllente pdo deseio de serem musculados e 0
medo de screm magros desenvolvem uma exceSSlva
exerdcio (ouertrtlining) por um tipo de hiperproteico
e pelo consumo regUlar de produtos sintcticos anab61icos e outros no
sentido de hipertroflar 0 seu sistema muscular A vigilancia dos resultashy
dos obtidos atravcs d3 flta mctrica da balan~ e do espeIho bem como
a reClef1iii~aoae e Slmeshy
tria de cada museulo e tambcm constante
riscos que potencialmente correm continuam a acreditar no seu poder
autocontrolo e em mante-Io em nome da sua saude Efcmeras ilus6cs
prometeicas que a seu tempo sc poderao transformar em f1tais
soes
255
CLASSES ASSOCIATIVISMO E ESTADO
edos (200~) Cultura da e vol 3 nY 13-25
in A Festa EdlJCaao Fisica Acampanh anti-patriotic que n 5279 17 ana 6 de JUlho de 1926
Jorge Crespo (1977) Hist6ria Ludens 2 n 1 45-52 Rui Gomes (1991) Poder e saber 0 corpo (1936-19401 de Educoao n 2middot3 Building a motor habitus physical in the Portuguese Estado Novo Intrmiddotmrrtionn
ofSpGrt vol 45 0 1 pp 23-37 -1 Prlt3tj r a corresponde ao que em
em muio as tor mas mai~ retentes e
5
in Ant6nio forg)
(19901 volw co POllugal Contemporonco (1926- (958) vol IV Usboa Alfa 333-338
10 In Ines (1999) Dons eDisciplinas do Corpo Feminino 0 OiscursoS5obre 0 COPO nu Historin do Esturio Novo bsboa Qrqanizcoes Nao Govt~rnamcntais do Consultivo Comissao 19ualdade e
3940 CGvalho (2005) lxplorando transferenci8lt nal prrmeiras deeadris
S~(ulo An61iseSocfaf vol XL nO 499-518j
12 In Hui Gomes (1991 I op 130 musculado dr Taborda chamava
do ~e(u0 nao Coriu dos Reereio$ do Desportos tambem aDs pal(os alem de ter sido (incovezes campeao rnundial e vezes
europeu de luta livre foi ainda ballarino Udo ern Paris e como duplo em algumas ploduoes de
Garcia Alvarez Onde para a rua ern corpinho bern Record Ana XXiii n 21B915 de Junho 1972 p 9
15 Ver Valter Cutum e IdentidadeA costuro social do moda em lIumanas (tese doutor
idrntitariamp na ocie Ide da Silva (orgs) tineroriw
pp671-689 17 Olivia Newton~ John liderava lugares clmeiros tops de vend as com a
can lao Lets get Physicol Jane ronda tornava-se na de marea da aerobica urn novo sistema fisieo mente teve exito atravegt do livra video best-seliersJane fondas Workout Nestes a dernonstrava eio a ern Beverly Hills por forma ao pratieante poder reproduzi-o no recolhimento do mats convlesse
1B Pam se ter uma no~ao compsritiva 0 futebol tem 1D0Y madamentc 150 mil praticantes federados ern Portugal 19 anuais elaborados Deia International Health
Association em (onjunto com J DeJaiHe e furor neilmente cedidos pea Associaao de Empres3s de Gi nasi os eAcademias
256
PESOS HAlTERES E SENTIDOS DOS CORlOS (H)AlTERADOS
19921) 0 Crepuscuo do A Etica Indolor des p129
a frente sao provenientes de urn con~ rnUSCLH3cao 110 ambito do de investiga~ao
por Vi tor a deeorrer no
maSCUlniOaCie in Miriam Golddenberg
[uitu[ois reoctonadas com 0 estetica eo jcrrl-eMo Otlsfrvat6r[o Que 0 Estado ja navia atraves da de distiplina de
Crespo Pedro Alcltlntara do (2009) 0 Estadoda Saude em Portugal USDaa Impreno
d~ (~iend3s Socials Segundo dados pelo Eurobarometro em 73 da populao nao praticava
reguiarmente exercicioshyVitor Seraio corpo in Machado Pais
peronte 0 Corpo Geiras Celta
qualquer reiaao d~fecta de causa-delta medida qlle ficarnos estimular a pratica de exerricio fisico
rontrario previa refexivamente PBra 35sodados asua
i~aizado noambJto do Observat0rio Perma-Ver Vftor Fcrrrira
33 Onde de metade (49) admitiu muscula~ao acrescendo 18 que afirmaram ter praticado
o
reverse
Adalescincio Latinoomericono volume 2 n 2 pp 97-101
257
CLASSES ASSOCIATfVTSMO E ESTADO
MlllUCla como COOl
extracltao total dos pel os que possam encobrir 0
ao
da simetria muscular conseguida
Mas os corpos femininos tambem nao ficaram de fora dos sistemas
fisicos associados a muscutaltao Com objectivos mais moderados em
termos de volume corporal e sobretudo direccionados para a perda de
adiposidade e tonificaltao determinadas zonas do corpo as mulheres
encontraram res posta aos seus anseios corporais sobretudo nos body Mesmo
aos pesos e e aoontrario
publico masCilliri~ as roulheres tendem a
do corpo como (lllS de intervenltao prioritaria no sentido da manuten
ltao ou mociitJG50 Face a tais aspiraltoes a chegoll
a conceber um sistema fisieo particular para dar ao pllbico
especificameme feminino comercializando-o sob a designaltio de GAP
uma modalidade que promove 0 trabalho de resistencia e forshy
talecimento atraves de varios exerdcios localizados nas zonas
dos gl(lteos abdommalS e pernas
Eu era ter aqude corpo musculado corpo bonito
que tada a gente rilio e () Nao llma mulher eXclgeJradamell1le
muscuCida porque perde os trayos femininosEuma mulher ddinida
Nao precisa de ser magra Nao acho que eaquele estereotipo de magre-La
que cada vez ha mais que leva as miudas hoje em dia a rornarem-se
anonxicas ( ) Hoje no ginasio a imagem que se quer passar e que
essa nao ea nao eo ideal de urn corpo 0 ideal de urn corpo e umamulher a mulher nao precisa de estar MOr
desde que bem ueWllUa e0 ideal
23 ANOS 120 ANO INSTRJroRA DE CARDlo-FrfNESS
244
PESOS HALTERES E SENTiDOS DOS CORPOS (H)AIrERADOS
tern
cas no seio da industria de design corporal Como assinala Fortuna
os de edllcalt3o ffsica tinham como vocaltao disciplinar 0 corpo
para for mar rnelhores cidactios mais saudaveis e competemes prepashy
rando-os para os desafios das novas sociedades surgidas com a industriashy
os actuais health clubs por seu lado associ am a juventude a
beleza e a satide do corpo aamo-confianya aauto-estima e ao bem-estar
ol(rcendo prodmos e serviltos a moldar 0 corpo amedida
e preocupalt6es de
outros mats imageticos
some body Estar em mostrar (determinadas)
A manifestalt3o mais valorizada do corpo saudavel deixa de
ser a seu rendimeDto fo1lta e para passar a ser a sua aparenshy
cia A sallde cosmetiza-se e torna-se num fen6meno estetico nao basta
mante-la mas fazer transparece-la nomeadamente atraves da aquisiltao
urn corpo perfeito Este par sua vez passa a ser condiltao sine
non para 0
Higt LdllI-la para a ser
Eu via que tinlIa urn corpo com varios problemas Precisava de
rirar a barriga algum poeu e Tinha urn peito quase fundo dentro
quase que nao se via a barriga mais saida que 0 peito Via que tinha
problemas e estava a caminhar para 0 problema da obesidade ( )
Agora quando olho para 0 espdho vejo urn corpo perfeito 0 que todo
o hornem gostaria de tef E simo-me orgulhoso por isso
AUXILlAR DE ACOO MEDICA 120 ANO 24 ANOS
PHKnCANTE DE
245
CLASSES ASSOCIATIVLSMO E ESTADO
despono ou pelo menos efectuar com regushy
[sica passou aser nao apenas urn direito25 mas
tambem urn dever sociedades contempodneas um
cuja falta acarreta frequentemente sentimentos de culpa pessoal
e aclt6es de sanyao social sobre aqueles que se encontram pouco
a descobrir as suas supostas vantagens ou cujos corpos se afastarn
da normatividade da silhueta canonica quese deseia bem deflllida e
tonificada
Pesos e halteres entre 0 estUode vida saudltivel doeura ddec a a sau
Se a pFl1rllpaltao com os cuidados corporlis era anteriOrrneHr proshy
pria das classt~s onis lhastad3s nas condilt6es
oitenta f) portugues comum passa a tcr acesso em qualqucr sureil1ler~
cadoa uma pan6plia de prodUloh tecnicas e servicos que prometem criar
e conservar um corpo jovem perfeira e saudive qualidades de refeshy
rencia e reverencia no culto conremporaneo do corpo Socialmente apreshy
sentados e mercantilizados em associacao acriacao de urn
produtor de salIde e preventor doenca tais produtos tecshy
nicas e servi~os sao frequentemente assumidos na vida quotidiana Como
sendodo oll mais importante que os propdes servicos de saude e de
prestacao de cuidados medicos na concretizayao do bem-estar fisico e
psicologico das pessoas A ideia hoje partilhada no imaginario
de que a saude ealgo que se conquista ccoroHrio simb61ico da delegashy
ltao social no individuo das formas manutenlt3o controlo e vigilancia
do corpo que outrora haviam sido exercidas pelas autoridades
A difusao e enraizamento social da assuncao de que e possivd obter
e manrera saude do corpo atraves do envolvimento do individuo num
de pratiCa5 ditas saudaveis acabaram efectivamente por impushy
tar a cada urn uma responsabilidade crescente pelo seu estado de
Concomitantemente em alguns contextos forneceram argumentos a
246
PESOS HAJTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)AIfERADOS
desresponsabiliza~o parcial do Estado em materia de ULUltlUU medicos
e sallde publica Doravante nao esuposto que os cidadaos necessitem
de instrw5es das autoridades e instituiltoes publicas sobre como cui dar
sua existencia ffsica 0 corpo passa a ser urn espaco regulado
opc5es e escolhas de cada urn entre a pleiade de produtos tecnicas
e serviltos actualmente ao seu dispor
Sob a egide da crenca na autoridade pessoal sobre 0 corpo cada pessoa
apartida detem plenos direitos sobre esse bern patrimonial sen do igualshy
mente responsive pelo cumprimento determinados deveres sociais
Estes passam entre outros pdo governo da sua respectiva aparencia e
de vida Ao indivfduo eatribufdo urn papd preponderante na
identificaltao e controlo atempado dos sintomas de patologias diversas
problemas cardiovasculares na preVcncao perante condutas
risco (nomeadameHte atTaves da redwao doakool e do tabaco
obrigatoriedade de sexo protegido ou do exerdcia Hsico) au na
cia e evitamento do que sao socialmente considerados excessos (alimen-
tares exposicao ao sol de medicaliiacentio etc)
da adop~ao cada vez matS generalizada desta nova atitude de
pntdencialismo individualist a perante 0 bem-estar corporal e a evolultao
da oroDorcao de populaltao que em Portugal na viragem do
desenvolver algum tipo de aCyao no sentido de melhorar ou
manter 0 seu estado de salide Segundo 0 estudo 0 Estado de Saude em
entre 2001 e 2008 a percentagem de portuguese que afirshy
mavam estar a tomar no momenta realizaltao do inquerito alguma
iniciativ3 no sentido de mclhorar ou manter 0 seu estado de saude
viu-se aumentar de 368 em 2001 para cerca de metade da populaltao
(498) em 2008
Segundo 0 mesmo estudo essa evolultao e acompanhada da alterashy
de comportamento declarado rclativamente a determinados hibishy
tos de vida considerados saudaveis designadamente no que respeita
ao exerdcio fisico A percentagem de portugueses que afirmam
exerdcio [SICO regular (ginistica COffer etc) ve-se significativamente
de 33 em 2001 para 475 em 2008 Mesmo que 11ao
247
11
CLASSES ASSOCIATIVISMO E ESTADO
se traduza numa pratica efectiva27 csta evolu~ao corresponded
a uma assinalivel incorporaltao social do dezJer-ser contemporaneo da
actividade fisica A representaiyao desta enquanto habito de vida saudishy
torna-se clara quando noutra investiga~a028 se constatou ser entre
os individuos que mais regularmente praticam exerdcio Hsico que mais
presente esta a percep~ao do risco cia sua ausencia quotidiana29
e born esaudiveJ eurn habito saudaveL E como se
fosse lel livros sel inteligente Esras a arranjar 0 teu corpo Sabes
que vais chegar aos quarenta e tal arros e ainda vais estar born Agora
muitos chegam aos qualcrrra e tal anos e ja esrao com barriga e
com sei a ter tanras ~u~tas coisas Ficas mas saudivel se estas a
treinar bem e sew mdar contra a tua
29 ANOS LH ENClfO ENFERMEI(O PRATICANTE DE MusCutAltAo
A tendcncia para a crenlta incontestlvel no exerdcio fisico como
habito de vida saudivel nao se apresenta contudo disrribulda
igual maneira no espa~o social e cultural portugues Sao varios os estushy
que tern localizado urn maior enraizamento social da disposi~ao
para a pratica de exerdcio fisico entre as mais jovens geralt6es e entre
os individuos provenientes dos estratos socioeconomicos mais clevashy
dos Resultadonao apenas das novas con(li~6es de sociais economicas
e simbolicas em que as gera~6es pos-25 de Abril sao socializadas relatishy
vamente ao corpo e aos cuidados corporais30 mas tambem de urn efeito
de trnsltao no curso
Investiga~6es realizadas sobre a pnitica de actividades ffsicas entre os
jovens portugueses denotam-na mais regular e intensiva nos grupos etashy
rios mais novos nomeadamente ate ainserlt5o no mercado de trabalho
e aassunlt5o de novas responsabilidades familiares31bull 0 que indica que
amedida que as etapas do processo de transi~ao para a vida adulta se vao
cum prindo a pritica desportiva vai efectivamente sendo abandonada no
quotidiano dos jovens portugueses
248
PESOS HALTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)ALTERADOS
No caso especifico da 11l~LU1ltll-alJ uma actividade particularmente
exigente em termos do tempo dispoIl lVei para a sua pratica esta tenshy
dencia revela-se particularrnente marcante Trata-se no eatanto de
uma das modalidades com maior adesao efectiva ou potencial entre os
jovens em Portugal A sua pdtica efectiva (prcsente ou passada)
declarada por cerca de 12 da populalt5o jovem porttlguesa no ano
200032 sendo 34 a percentagem de jovens que nunca tendo pratishy
cado admitiram vir a faze-Io no futuro Quer a sua pdtica efectiva
quer a sua pr~hica potencial viram-se substancialmeme acrescidas entre
os jovens do sexo lTlasculin033 com idades compreendidas entre 18 e
anos ainda a residir com a familia de origem ou sozinhos solteiros
ou ja separados ou divorciados sem filhos Perfil dpieo para stlstentar
a hip6tese de 0 aumento de massa muscular ser urn investimento corshy
poral que corresponde ellliarga medida a uma fOlm~de capitalizar
o potencial expressivo do corpo masculino em estrategiasde atracltao e
sedult5o
Embora a disponibilidade potencial para a pratica da musculaltao
- nunca fiz mas admito vir a fazec surja praticamente transversal aos
jovens qualquer que seja 0 seu estatuto social ou habitat de residencia
o facto cque as condilt6es materiais de existencia continuam a constranshy
ger a sua ptatica efectiva Mais devada entre os jovens que melhores
condilt6es sociais detem para fa_zet face as mensalidades exigidas pelos
cspaltos destinados ao seu exerdci0 34 a pratica de musculaltao decrescc
amedida que se desce na estrutura social de 26 entre os jovens de
estatuto social alto diminui para 9 entre os jovens de estatuto social
mais baixo Do mesmo modo sao os jovcns que tern urn acesso mais
facilitado as instalalt6es que disponibilizam tal servi~o quem mais adere
efectivamente a sua pritica ou seja os jovens residentes em habitat
e suburbano 0 sanho em obter urn corpo musculado revela-se
portanto substancialmente mats democratizado na sua distribui~ao social
(mediaticamente amplificada) do que as condi~6es que perrnitem a sua
concrecizaltao
149
CLASSES ASSOCIATIVISMO b ESTADO
Para fazer [musculayao] como se fosse urn culto tern que se rer
tempo e disponibilidade E depois tern que se ter vontade uma
vontade E dinheiro Estas sao as coisas vontade dinheiro e disposhy
nibilidade
29 ANOS LICENCLADO ENFER1v1EIRO PRATCANTE DE MUSCULAyo
Tern que se ter muita forlfa de vontade tem que eter
tambem () torna-se a tal de qlle eu poundalo eV1Clame
( ) A pessoa para rcr urn corpo assimrem quI s~ trabalhar muito
nao e Nao e brincaJeira 1150 e E preciso urn esforyo de
tempo alillleatar A nutri(ao entao se para
rnentos tem que $( fr n30 IE pode
28 ANOS 10deg ANO DESEM[REGADO JTICANTE DE MUSCULAtAo
Mesmo entre aqueles que reunem as condic5es socioeconomicas
que permitem 0 acesso a constru~ao urn corpo de atraves da
de muscidacento nem todos dispoem das disposilt6es subjectivas
C(IgtIIld para enfrentar 0 longo processo da suaconcretizasao Euma
dctividade que quando 0 objectivo ea obtensao eoumanuten~ao
urn dado modelo de compleiltao fisica volumoso e definido exige dos
seuspraticantes trabalho arduo e dedicaltao quase monastica forsa de
e determinacao perseveranlta e espfrito de sacriflcio pain no abnegalt3o e autocomrolo e disciplina Nao e por
acaso que entre os jovens que praticam algum tipo despono Oll actishy
vidade fisica sao os adeptos musculalt3o os que uma
tica mais intensiva e regular sendo mais de metade os que se exercitam
diaria ou quase diariamentel5
A maximizasao da estetica corporal proposta pela rnusculasao
ponamo a realizacao de uma etica que transcende a pritica
250
PESOS HALTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)ALTERADOS
desta modalidade e se estende a outros domfnios vida do seu
came A etica de disciplina cultivada durante os a dado momento
da efectivameute a ir dos tempos e espashy
lt05 que sao dedicados A alirnentacento passa a ser bastante cuidada
hiper-re5tritiva nas gorduras e e sobredimensionada nas proteinas
c hidratos de nutrientcs que permitem acumular energia para 0
t[eino eo concomitante crcscimento do volume muscular 0 sono Dassa a
ser tambem hiper-regrado sacrificando-se momentos de lazer e
noctumas por exemplo 0 tempo disponfvd para sociabilidadcs amicais
e por vezes atc familiares e Iaborais passa a ser gerido em funsao das
necessidades treino diario
aquela vontade de ter urna vida de mudar 0
corro ]a nao queres comer gotJuras porque estas aver 0 reu carpo
Vais a um piquenique ou qualquer coisa assilll e wrnes alguma coisa
assim mais na semana que vem ji se nota nosabdominais En Jesus
Cristo engordei Eja vais xiiiiiiiiiii Corras com fritos e com gorduras
puxas mais hidratos de carbono e protdn~i ( ) Cada dia
contralo 0 peso e controlo muito bem aquilo que como percebes De
manha e uma dose multo torte de hidratos de carbono papas
Ncstum Uma coisa muito com leltemagro scm Nada
de gorduras nada de manteig~~ nada De manha e 15S0 on2C horas
tambem comes alguma coisa uma sandufche com cafe com ramshy
bern magro Alrno~o tambem comes cada dia qualQuer coisa
corni guisado com com com urn bom azeite
Ao jantar ji epouca coisa porque nao estou naquela fase de tomar
aminokidos e nao preciso N 50 estoll agora naquela fase de puxar para
crescer agora estou assim Niio lhe dd as vezes vontade de comer sei Ed
um bolo com chantilly Nao mete porque sabes que re vai
fazer maL Olhas para mas nao com aquela vontade de comer Sabes
que e born mas nao tens 0 corpo esta em primeiro
Niio e que narcisismo ou uma coisa assim E urna preocupayao
saudiveL Nao eque estejas a olhar para 0 espelho ai que sou bonito
251
CLASSES ASSOCIATIVISMO E ESTADO
nao 1sto ja enarcisismo Mas todas as pessoas estao prcocupadas com
aqllelc reslIltado que conseguiu e nao vais estragar agora de urn dia
para 0 outro ( ) Trabalho como um relagio todos os dias tteino as
tres ( ) Tem que ser nao podes brincar com a corpo Tem que set
tudo controlado ( ) Precisas descansar Par isso tem que ser llma vida
bern organizada Levantar-se as mesmas horas comer as mesmas horas
descansar as mesmas horas treinar as mesmas horas Tern que ser tuclo
arranjadinho nao podes andar disparatadQ a fazer coisas II um culto
Por isso cque tern resultados
29 ANOS UCENCLADO ENFERMEIlZO PRATICANTE DE MUSCULA(AO
1Boa parte do oe do praticante empenhado em
erescer a massa muscular fassa entao a ser geridoem fun~5o da maxishy
mizaltaodos ganhos de vDlume e ddiniltao corporal Este e um
tivo que 0 faz Ianyar mao de um impladvd processo racional instrushy
de autogoverno e hiperdiseiplina do seu tempo e das actividades
do corpo e sobre 0 corpo A ohten~ao de urn corpo hiperbolico impliea
paradoxalmente um rigoroso comedimento dos seus habitos e
eomportarnentos mais habituais Quando a hiperdisciplina earacterisshy
tica das pratieas introduzidas na vida quotidiana ja nao e capaz de dar
resposta as voIumosas ambi~6es do indivfduo quando ji nao eonsegue
maximizar 0 potencial corporal idealizado como meta por parte do prashy
ticantc cste nao se da obrigatoriamente por veneido 0 desatlo dos seus
pessoais e propriamente fisicos pode ser superado atraves do
consumo de outros reeursos tambem produzidos e comercializados
industria de design corporal nao caras vezes nos mesmos espaos onde
o exerdeio fisieo os poreneia
Eentao que chega a nora de experimentar as vantagens dos supleshy
mentos alimentares exibidos nas prateleiras das gcandes e pequenas
superficies de lojas de despofto bern como das entradas de muitos
ginasios indo de encontro as (rapidas) amhilt6es dos seus frequentashy
dores Para aIem destes produros enconttam-se ainda disponfveis em
252
PESOS HALTERES E SENTfDOS DOS CORPOS
circuitos de comercio rna is alternativo e underground uma diversidade
de ester6ides anabolizantes e de outros produtos euja venda livre eilegal
pelos efeitos perversos que acarretam na homeostasia interna do orgashy
nlsmo mas cujos ganhos de e massa muscular sao surpreendentes
na quantidade e eeleridade bem como na redwao significativa da adishy
posidade 0 uso dessas drogas apolineas36 tem-Se tornado uma op~ao
disseminada entre outros praticantes de muscuIaltao que
nao apenas as fisioeulturistas que desde sempre riveram uma rela~o
axiomitica37 bull
Entretanto vim para ca e aqui come-eei a tomar suplemenro
uma proteinazinha uma creatinazinha Entretanto fahram-mc sobre
a tal siruaifao [esteraides anabolizantesJ e eu tentei experimentar
para saber uma situa~o de curiosidade () Espectacular rnesmo
Uma pessoa atinge urn nive mesmo muito bom E Ilma qualidad
brutal Por isso e que dizem que a malta que eomeltlt a faxer essas
coisas depois torna-se viciada
28 ANOS 100 ANO DESEMPREGADO PRAT1CANTE DE
Assim que comepmos a ganhar 0 mfnimo musculo queremos
semprc mais sempre mais sempre mais Depois atillgimos quase a
performance dai nao safmos mais Depois onde vamos recorrcr ea
substincias batidos e aminoicidos que epara ver se conseguimos
desenvolver mais 0 110SS0 conseguir desenvolver mais os
mUsculos E acaba nisso ( quase urn CicIo ( ) E dcpois da eonseguishy
mos mais vamos desenvolvendo desenvolvendo
24 ANOS 120 AlOAUXIUAR DE ACOtO MEDICA
PRATlCANTE DE MUSCULAltAo
253
I
CLASSES ASSOC1ATIVISMO E ESTADO
que os cultorcs da muscula~ao a actividade adamando
a sua preocupatao com a saude e 0 bem-estar presente e fururo represhy
sentando-a como uma mobilizada no scntido de manter ou
a forma e obter a imagem um corpo sauc1avel e atrashy
ente 0 facto c que a compreensao sempre positiva da entre cxershy
dcio e saude como afirmam Bagrichevsky e Estevao nao passa de uma
hipotese optimista38 Apesar de prevalecente enquanto ideal e a priori ramada por certa e incontroversa a rnixima despo[m c saude esconde
luitas vezes vivencias e representatoes
Com efeitoexistem cada vez mais situatoes em que as pretensoes
perfeccionistas e aobsess5n pela saude e peIo collt-mio do corp( podem
confIgurar cstados
mtermizados e
cinicamentc susceptivcis de sercm
J iuttoloeia do corpu
- ou
e saudiyei de lut ~e iessente a socdde e middotem grande
em exerdcio
dependentes dapropria imagem corpotal bull 1
-r que cnarm ltIe a qual sc esfof~m ao miximo por manter e
~oar -- compulsivos dotados grande perseveran~a t toleshy
rfll1cia ao sofriPlento traduzido em sintomas como a dor a exausshy
tao e a lesao entre outros n1enos comuns
Eu viciei-me nlquilo Viciei-me mesmo em ginasio Se nao fosse
para era como uma docnlta Tinha que if Era mesmo
6bcecado com aquilo C)Queria hear grande E fiquei V) 0
nvo era corpo como deg dessamiddotmalta que a gente ve af
( ) Depois toma-se urn vieio qucrer atingit (ilo
28 ANOS 100 amp10 DESEMPREGADO lRATICANTE DE MUSCULAltAo
HUSCUlaltao nunca pode vir a ser um problema Pode vir a scr
urn quando hi eXCt5SOS ( ) Mas os excessos nao controshy
[ados Porque eu neste momento estou a entrar numa de cxccssos
251
PESOS HALTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)ALTERADOS
mas controlados Os excesses tem que scr controlados Cbull ) A nIve
de problemas 0 unico problema que traz no fundo eisso quando os
excessos nao sao controlados De resto nao enada assim de
28 ANOS 110 ANO pOLfClA PRATICANTE DE MIJSCULAltAo
Apesar de serem mobilizadas no sentido da conformidade aos rnodeshy
los corporais referencia e reverencia as praticas muscula~ao e seus
sistemas f1sicos derivados podem a qualquer momento ver-se desvirtushy
no seu sentido original quando os projectos corporais que alimenshy
tam se rll1icalizam pdo excesso de di~ciplina na eonformdade aos
1l10delos de referencia institufdos Este de comportamentos hipershy
diciplinad)s pode traduzir-se por exemplo em comportamentos
sifcdos Gomodisturbio dismorfC( muscular mais vulgarmente conheshy
ruygttYl a vigorexia Tambem descrita como complexo de Adonis
ou anorexia reversiva39 trata-se uma sindrome caracrcrizada
bLW dos seus portadores geralmente homens e independentemente da
sua museulatura (embora sejam normal mente bern desenvolvidos)
deterem uma auto-imagem corporal diswrcida e persistente no
de se sentirem muito pequenos fraeos e frageis
simultanealllente pdo deseio de serem musculados e 0
medo de screm magros desenvolvem uma exceSSlva
exerdcio (ouertrtlining) por um tipo de hiperproteico
e pelo consumo regUlar de produtos sintcticos anab61icos e outros no
sentido de hipertroflar 0 seu sistema muscular A vigilancia dos resultashy
dos obtidos atravcs d3 flta mctrica da balan~ e do espeIho bem como
a reClef1iii~aoae e Slmeshy
tria de cada museulo e tambcm constante
riscos que potencialmente correm continuam a acreditar no seu poder
autocontrolo e em mante-Io em nome da sua saude Efcmeras ilus6cs
prometeicas que a seu tempo sc poderao transformar em f1tais
soes
255
CLASSES ASSOCIATIVISMO E ESTADO
edos (200~) Cultura da e vol 3 nY 13-25
in A Festa EdlJCaao Fisica Acampanh anti-patriotic que n 5279 17 ana 6 de JUlho de 1926
Jorge Crespo (1977) Hist6ria Ludens 2 n 1 45-52 Rui Gomes (1991) Poder e saber 0 corpo (1936-19401 de Educoao n 2middot3 Building a motor habitus physical in the Portuguese Estado Novo Intrmiddotmrrtionn
ofSpGrt vol 45 0 1 pp 23-37 -1 Prlt3tj r a corresponde ao que em
em muio as tor mas mai~ retentes e
5
in Ant6nio forg)
(19901 volw co POllugal Contemporonco (1926- (958) vol IV Usboa Alfa 333-338
10 In Ines (1999) Dons eDisciplinas do Corpo Feminino 0 OiscursoS5obre 0 COPO nu Historin do Esturio Novo bsboa Qrqanizcoes Nao Govt~rnamcntais do Consultivo Comissao 19ualdade e
3940 CGvalho (2005) lxplorando transferenci8lt nal prrmeiras deeadris
S~(ulo An61iseSocfaf vol XL nO 499-518j
12 In Hui Gomes (1991 I op 130 musculado dr Taborda chamava
do ~e(u0 nao Coriu dos Reereio$ do Desportos tambem aDs pal(os alem de ter sido (incovezes campeao rnundial e vezes
europeu de luta livre foi ainda ballarino Udo ern Paris e como duplo em algumas ploduoes de
Garcia Alvarez Onde para a rua ern corpinho bern Record Ana XXiii n 21B915 de Junho 1972 p 9
15 Ver Valter Cutum e IdentidadeA costuro social do moda em lIumanas (tese doutor
idrntitariamp na ocie Ide da Silva (orgs) tineroriw
pp671-689 17 Olivia Newton~ John liderava lugares clmeiros tops de vend as com a
can lao Lets get Physicol Jane ronda tornava-se na de marea da aerobica urn novo sistema fisieo mente teve exito atravegt do livra video best-seliersJane fondas Workout Nestes a dernonstrava eio a ern Beverly Hills por forma ao pratieante poder reproduzi-o no recolhimento do mats convlesse
1B Pam se ter uma no~ao compsritiva 0 futebol tem 1D0Y madamentc 150 mil praticantes federados ern Portugal 19 anuais elaborados Deia International Health
Association em (onjunto com J DeJaiHe e furor neilmente cedidos pea Associaao de Empres3s de Gi nasi os eAcademias
256
PESOS HAlTERES E SENTIDOS DOS CORlOS (H)AlTERADOS
19921) 0 Crepuscuo do A Etica Indolor des p129
a frente sao provenientes de urn con~ rnUSCLH3cao 110 ambito do de investiga~ao
por Vi tor a deeorrer no
maSCUlniOaCie in Miriam Golddenberg
[uitu[ois reoctonadas com 0 estetica eo jcrrl-eMo Otlsfrvat6r[o Que 0 Estado ja navia atraves da de distiplina de
Crespo Pedro Alcltlntara do (2009) 0 Estadoda Saude em Portugal USDaa Impreno
d~ (~iend3s Socials Segundo dados pelo Eurobarometro em 73 da populao nao praticava
reguiarmente exercicioshyVitor Seraio corpo in Machado Pais
peronte 0 Corpo Geiras Celta
qualquer reiaao d~fecta de causa-delta medida qlle ficarnos estimular a pratica de exerricio fisico
rontrario previa refexivamente PBra 35sodados asua
i~aizado noambJto do Observat0rio Perma-Ver Vftor Fcrrrira
33 Onde de metade (49) admitiu muscula~ao acrescendo 18 que afirmaram ter praticado
o
reverse
Adalescincio Latinoomericono volume 2 n 2 pp 97-101
257
CLASSES ASSOCIATIVLSMO E ESTADO
despono ou pelo menos efectuar com regushy
[sica passou aser nao apenas urn direito25 mas
tambem urn dever sociedades contempodneas um
cuja falta acarreta frequentemente sentimentos de culpa pessoal
e aclt6es de sanyao social sobre aqueles que se encontram pouco
a descobrir as suas supostas vantagens ou cujos corpos se afastarn
da normatividade da silhueta canonica quese deseia bem deflllida e
tonificada
Pesos e halteres entre 0 estUode vida saudltivel doeura ddec a a sau
Se a pFl1rllpaltao com os cuidados corporlis era anteriOrrneHr proshy
pria das classt~s onis lhastad3s nas condilt6es
oitenta f) portugues comum passa a tcr acesso em qualqucr sureil1ler~
cadoa uma pan6plia de prodUloh tecnicas e servicos que prometem criar
e conservar um corpo jovem perfeira e saudive qualidades de refeshy
rencia e reverencia no culto conremporaneo do corpo Socialmente apreshy
sentados e mercantilizados em associacao acriacao de urn
produtor de salIde e preventor doenca tais produtos tecshy
nicas e servi~os sao frequentemente assumidos na vida quotidiana Como
sendodo oll mais importante que os propdes servicos de saude e de
prestacao de cuidados medicos na concretizayao do bem-estar fisico e
psicologico das pessoas A ideia hoje partilhada no imaginario
de que a saude ealgo que se conquista ccoroHrio simb61ico da delegashy
ltao social no individuo das formas manutenlt3o controlo e vigilancia
do corpo que outrora haviam sido exercidas pelas autoridades
A difusao e enraizamento social da assuncao de que e possivd obter
e manrera saude do corpo atraves do envolvimento do individuo num
de pratiCa5 ditas saudaveis acabaram efectivamente por impushy
tar a cada urn uma responsabilidade crescente pelo seu estado de
Concomitantemente em alguns contextos forneceram argumentos a
246
PESOS HAJTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)AIfERADOS
desresponsabiliza~o parcial do Estado em materia de ULUltlUU medicos
e sallde publica Doravante nao esuposto que os cidadaos necessitem
de instrw5es das autoridades e instituiltoes publicas sobre como cui dar
sua existencia ffsica 0 corpo passa a ser urn espaco regulado
opc5es e escolhas de cada urn entre a pleiade de produtos tecnicas
e serviltos actualmente ao seu dispor
Sob a egide da crenca na autoridade pessoal sobre 0 corpo cada pessoa
apartida detem plenos direitos sobre esse bern patrimonial sen do igualshy
mente responsive pelo cumprimento determinados deveres sociais
Estes passam entre outros pdo governo da sua respectiva aparencia e
de vida Ao indivfduo eatribufdo urn papd preponderante na
identificaltao e controlo atempado dos sintomas de patologias diversas
problemas cardiovasculares na preVcncao perante condutas
risco (nomeadameHte atTaves da redwao doakool e do tabaco
obrigatoriedade de sexo protegido ou do exerdcia Hsico) au na
cia e evitamento do que sao socialmente considerados excessos (alimen-
tares exposicao ao sol de medicaliiacentio etc)
da adop~ao cada vez matS generalizada desta nova atitude de
pntdencialismo individualist a perante 0 bem-estar corporal e a evolultao
da oroDorcao de populaltao que em Portugal na viragem do
desenvolver algum tipo de aCyao no sentido de melhorar ou
manter 0 seu estado de salide Segundo 0 estudo 0 Estado de Saude em
entre 2001 e 2008 a percentagem de portuguese que afirshy
mavam estar a tomar no momenta realizaltao do inquerito alguma
iniciativ3 no sentido de mclhorar ou manter 0 seu estado de saude
viu-se aumentar de 368 em 2001 para cerca de metade da populaltao
(498) em 2008
Segundo 0 mesmo estudo essa evolultao e acompanhada da alterashy
de comportamento declarado rclativamente a determinados hibishy
tos de vida considerados saudaveis designadamente no que respeita
ao exerdcio fisico A percentagem de portugueses que afirmam
exerdcio [SICO regular (ginistica COffer etc) ve-se significativamente
de 33 em 2001 para 475 em 2008 Mesmo que 11ao
247
11
CLASSES ASSOCIATIVISMO E ESTADO
se traduza numa pratica efectiva27 csta evolu~ao corresponded
a uma assinalivel incorporaltao social do dezJer-ser contemporaneo da
actividade fisica A representaiyao desta enquanto habito de vida saudishy
torna-se clara quando noutra investiga~a028 se constatou ser entre
os individuos que mais regularmente praticam exerdcio Hsico que mais
presente esta a percep~ao do risco cia sua ausencia quotidiana29
e born esaudiveJ eurn habito saudaveL E como se
fosse lel livros sel inteligente Esras a arranjar 0 teu corpo Sabes
que vais chegar aos quarenta e tal arros e ainda vais estar born Agora
muitos chegam aos qualcrrra e tal anos e ja esrao com barriga e
com sei a ter tanras ~u~tas coisas Ficas mas saudivel se estas a
treinar bem e sew mdar contra a tua
29 ANOS LH ENClfO ENFERMEI(O PRATICANTE DE MusCutAltAo
A tendcncia para a crenlta incontestlvel no exerdcio fisico como
habito de vida saudivel nao se apresenta contudo disrribulda
igual maneira no espa~o social e cultural portugues Sao varios os estushy
que tern localizado urn maior enraizamento social da disposi~ao
para a pratica de exerdcio fisico entre as mais jovens geralt6es e entre
os individuos provenientes dos estratos socioeconomicos mais clevashy
dos Resultadonao apenas das novas con(li~6es de sociais economicas
e simbolicas em que as gera~6es pos-25 de Abril sao socializadas relatishy
vamente ao corpo e aos cuidados corporais30 mas tambem de urn efeito
de trnsltao no curso
Investiga~6es realizadas sobre a pnitica de actividades ffsicas entre os
jovens portugueses denotam-na mais regular e intensiva nos grupos etashy
rios mais novos nomeadamente ate ainserlt5o no mercado de trabalho
e aassunlt5o de novas responsabilidades familiares31bull 0 que indica que
amedida que as etapas do processo de transi~ao para a vida adulta se vao
cum prindo a pritica desportiva vai efectivamente sendo abandonada no
quotidiano dos jovens portugueses
248
PESOS HALTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)ALTERADOS
No caso especifico da 11l~LU1ltll-alJ uma actividade particularmente
exigente em termos do tempo dispoIl lVei para a sua pratica esta tenshy
dencia revela-se particularrnente marcante Trata-se no eatanto de
uma das modalidades com maior adesao efectiva ou potencial entre os
jovens em Portugal A sua pdtica efectiva (prcsente ou passada)
declarada por cerca de 12 da populalt5o jovem porttlguesa no ano
200032 sendo 34 a percentagem de jovens que nunca tendo pratishy
cado admitiram vir a faze-Io no futuro Quer a sua pdtica efectiva
quer a sua pr~hica potencial viram-se substancialmeme acrescidas entre
os jovens do sexo lTlasculin033 com idades compreendidas entre 18 e
anos ainda a residir com a familia de origem ou sozinhos solteiros
ou ja separados ou divorciados sem filhos Perfil dpieo para stlstentar
a hip6tese de 0 aumento de massa muscular ser urn investimento corshy
poral que corresponde ellliarga medida a uma fOlm~de capitalizar
o potencial expressivo do corpo masculino em estrategiasde atracltao e
sedult5o
Embora a disponibilidade potencial para a pratica da musculaltao
- nunca fiz mas admito vir a fazec surja praticamente transversal aos
jovens qualquer que seja 0 seu estatuto social ou habitat de residencia
o facto cque as condilt6es materiais de existencia continuam a constranshy
ger a sua ptatica efectiva Mais devada entre os jovens que melhores
condilt6es sociais detem para fa_zet face as mensalidades exigidas pelos
cspaltos destinados ao seu exerdci0 34 a pratica de musculaltao decrescc
amedida que se desce na estrutura social de 26 entre os jovens de
estatuto social alto diminui para 9 entre os jovens de estatuto social
mais baixo Do mesmo modo sao os jovcns que tern urn acesso mais
facilitado as instalalt6es que disponibilizam tal servi~o quem mais adere
efectivamente a sua pritica ou seja os jovens residentes em habitat
e suburbano 0 sanho em obter urn corpo musculado revela-se
portanto substancialmente mats democratizado na sua distribui~ao social
(mediaticamente amplificada) do que as condi~6es que perrnitem a sua
concrecizaltao
149
CLASSES ASSOCIATIVISMO b ESTADO
Para fazer [musculayao] como se fosse urn culto tern que se rer
tempo e disponibilidade E depois tern que se ter vontade uma
vontade E dinheiro Estas sao as coisas vontade dinheiro e disposhy
nibilidade
29 ANOS LICENCLADO ENFER1v1EIRO PRATCANTE DE MUSCULAyo
Tern que se ter muita forlfa de vontade tem que eter
tambem () torna-se a tal de qlle eu poundalo eV1Clame
( ) A pessoa para rcr urn corpo assimrem quI s~ trabalhar muito
nao e Nao e brincaJeira 1150 e E preciso urn esforyo de
tempo alillleatar A nutri(ao entao se para
rnentos tem que $( fr n30 IE pode
28 ANOS 10deg ANO DESEM[REGADO JTICANTE DE MUSCULAtAo
Mesmo entre aqueles que reunem as condic5es socioeconomicas
que permitem 0 acesso a constru~ao urn corpo de atraves da
de muscidacento nem todos dispoem das disposilt6es subjectivas
C(IgtIIld para enfrentar 0 longo processo da suaconcretizasao Euma
dctividade que quando 0 objectivo ea obtensao eoumanuten~ao
urn dado modelo de compleiltao fisica volumoso e definido exige dos
seuspraticantes trabalho arduo e dedicaltao quase monastica forsa de
e determinacao perseveranlta e espfrito de sacriflcio pain no abnegalt3o e autocomrolo e disciplina Nao e por
acaso que entre os jovens que praticam algum tipo despono Oll actishy
vidade fisica sao os adeptos musculalt3o os que uma
tica mais intensiva e regular sendo mais de metade os que se exercitam
diaria ou quase diariamentel5
A maximizasao da estetica corporal proposta pela rnusculasao
ponamo a realizacao de uma etica que transcende a pritica
250
PESOS HALTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)ALTERADOS
desta modalidade e se estende a outros domfnios vida do seu
came A etica de disciplina cultivada durante os a dado momento
da efectivameute a ir dos tempos e espashy
lt05 que sao dedicados A alirnentacento passa a ser bastante cuidada
hiper-re5tritiva nas gorduras e e sobredimensionada nas proteinas
c hidratos de nutrientcs que permitem acumular energia para 0
t[eino eo concomitante crcscimento do volume muscular 0 sono Dassa a
ser tambem hiper-regrado sacrificando-se momentos de lazer e
noctumas por exemplo 0 tempo disponfvd para sociabilidadcs amicais
e por vezes atc familiares e Iaborais passa a ser gerido em funsao das
necessidades treino diario
aquela vontade de ter urna vida de mudar 0
corro ]a nao queres comer gotJuras porque estas aver 0 reu carpo
Vais a um piquenique ou qualquer coisa assilll e wrnes alguma coisa
assim mais na semana que vem ji se nota nosabdominais En Jesus
Cristo engordei Eja vais xiiiiiiiiiii Corras com fritos e com gorduras
puxas mais hidratos de carbono e protdn~i ( ) Cada dia
contralo 0 peso e controlo muito bem aquilo que como percebes De
manha e uma dose multo torte de hidratos de carbono papas
Ncstum Uma coisa muito com leltemagro scm Nada
de gorduras nada de manteig~~ nada De manha e 15S0 on2C horas
tambem comes alguma coisa uma sandufche com cafe com ramshy
bern magro Alrno~o tambem comes cada dia qualQuer coisa
corni guisado com com com urn bom azeite
Ao jantar ji epouca coisa porque nao estou naquela fase de tomar
aminokidos e nao preciso N 50 estoll agora naquela fase de puxar para
crescer agora estou assim Niio lhe dd as vezes vontade de comer sei Ed
um bolo com chantilly Nao mete porque sabes que re vai
fazer maL Olhas para mas nao com aquela vontade de comer Sabes
que e born mas nao tens 0 corpo esta em primeiro
Niio e que narcisismo ou uma coisa assim E urna preocupayao
saudiveL Nao eque estejas a olhar para 0 espelho ai que sou bonito
251
CLASSES ASSOCIATIVISMO E ESTADO
nao 1sto ja enarcisismo Mas todas as pessoas estao prcocupadas com
aqllelc reslIltado que conseguiu e nao vais estragar agora de urn dia
para 0 outro ( ) Trabalho como um relagio todos os dias tteino as
tres ( ) Tem que ser nao podes brincar com a corpo Tem que set
tudo controlado ( ) Precisas descansar Par isso tem que ser llma vida
bern organizada Levantar-se as mesmas horas comer as mesmas horas
descansar as mesmas horas treinar as mesmas horas Tern que ser tuclo
arranjadinho nao podes andar disparatadQ a fazer coisas II um culto
Por isso cque tern resultados
29 ANOS UCENCLADO ENFERMEIlZO PRATICANTE DE MUSCULA(AO
1Boa parte do oe do praticante empenhado em
erescer a massa muscular fassa entao a ser geridoem fun~5o da maxishy
mizaltaodos ganhos de vDlume e ddiniltao corporal Este e um
tivo que 0 faz Ianyar mao de um impladvd processo racional instrushy
de autogoverno e hiperdiseiplina do seu tempo e das actividades
do corpo e sobre 0 corpo A ohten~ao de urn corpo hiperbolico impliea
paradoxalmente um rigoroso comedimento dos seus habitos e
eomportarnentos mais habituais Quando a hiperdisciplina earacterisshy
tica das pratieas introduzidas na vida quotidiana ja nao e capaz de dar
resposta as voIumosas ambi~6es do indivfduo quando ji nao eonsegue
maximizar 0 potencial corporal idealizado como meta por parte do prashy
ticantc cste nao se da obrigatoriamente por veneido 0 desatlo dos seus
pessoais e propriamente fisicos pode ser superado atraves do
consumo de outros reeursos tambem produzidos e comercializados
industria de design corporal nao caras vezes nos mesmos espaos onde
o exerdeio fisieo os poreneia
Eentao que chega a nora de experimentar as vantagens dos supleshy
mentos alimentares exibidos nas prateleiras das gcandes e pequenas
superficies de lojas de despofto bern como das entradas de muitos
ginasios indo de encontro as (rapidas) amhilt6es dos seus frequentashy
dores Para aIem destes produros enconttam-se ainda disponfveis em
252
PESOS HALTERES E SENTfDOS DOS CORPOS
circuitos de comercio rna is alternativo e underground uma diversidade
de ester6ides anabolizantes e de outros produtos euja venda livre eilegal
pelos efeitos perversos que acarretam na homeostasia interna do orgashy
nlsmo mas cujos ganhos de e massa muscular sao surpreendentes
na quantidade e eeleridade bem como na redwao significativa da adishy
posidade 0 uso dessas drogas apolineas36 tem-Se tornado uma op~ao
disseminada entre outros praticantes de muscuIaltao que
nao apenas as fisioeulturistas que desde sempre riveram uma rela~o
axiomitica37 bull
Entretanto vim para ca e aqui come-eei a tomar suplemenro
uma proteinazinha uma creatinazinha Entretanto fahram-mc sobre
a tal siruaifao [esteraides anabolizantesJ e eu tentei experimentar
para saber uma situa~o de curiosidade () Espectacular rnesmo
Uma pessoa atinge urn nive mesmo muito bom E Ilma qualidad
brutal Por isso e que dizem que a malta que eomeltlt a faxer essas
coisas depois torna-se viciada
28 ANOS 100 ANO DESEMPREGADO PRAT1CANTE DE
Assim que comepmos a ganhar 0 mfnimo musculo queremos
semprc mais sempre mais sempre mais Depois atillgimos quase a
performance dai nao safmos mais Depois onde vamos recorrcr ea
substincias batidos e aminoicidos que epara ver se conseguimos
desenvolver mais 0 110SS0 conseguir desenvolver mais os
mUsculos E acaba nisso ( quase urn CicIo ( ) E dcpois da eonseguishy
mos mais vamos desenvolvendo desenvolvendo
24 ANOS 120 AlOAUXIUAR DE ACOtO MEDICA
PRATlCANTE DE MUSCULAltAo
253
I
CLASSES ASSOC1ATIVISMO E ESTADO
que os cultorcs da muscula~ao a actividade adamando
a sua preocupatao com a saude e 0 bem-estar presente e fururo represhy
sentando-a como uma mobilizada no scntido de manter ou
a forma e obter a imagem um corpo sauc1avel e atrashy
ente 0 facto c que a compreensao sempre positiva da entre cxershy
dcio e saude como afirmam Bagrichevsky e Estevao nao passa de uma
hipotese optimista38 Apesar de prevalecente enquanto ideal e a priori ramada por certa e incontroversa a rnixima despo[m c saude esconde
luitas vezes vivencias e representatoes
Com efeitoexistem cada vez mais situatoes em que as pretensoes
perfeccionistas e aobsess5n pela saude e peIo collt-mio do corp( podem
confIgurar cstados
mtermizados e
cinicamentc susceptivcis de sercm
J iuttoloeia do corpu
- ou
e saudiyei de lut ~e iessente a socdde e middotem grande
em exerdcio
dependentes dapropria imagem corpotal bull 1
-r que cnarm ltIe a qual sc esfof~m ao miximo por manter e
~oar -- compulsivos dotados grande perseveran~a t toleshy
rfll1cia ao sofriPlento traduzido em sintomas como a dor a exausshy
tao e a lesao entre outros n1enos comuns
Eu viciei-me nlquilo Viciei-me mesmo em ginasio Se nao fosse
para era como uma docnlta Tinha que if Era mesmo
6bcecado com aquilo C)Queria hear grande E fiquei V) 0
nvo era corpo como deg dessamiddotmalta que a gente ve af
( ) Depois toma-se urn vieio qucrer atingit (ilo
28 ANOS 100 amp10 DESEMPREGADO lRATICANTE DE MUSCULAltAo
HUSCUlaltao nunca pode vir a ser um problema Pode vir a scr
urn quando hi eXCt5SOS ( ) Mas os excessos nao controshy
[ados Porque eu neste momento estou a entrar numa de cxccssos
251
PESOS HALTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)ALTERADOS
mas controlados Os excesses tem que scr controlados Cbull ) A nIve
de problemas 0 unico problema que traz no fundo eisso quando os
excessos nao sao controlados De resto nao enada assim de
28 ANOS 110 ANO pOLfClA PRATICANTE DE MIJSCULAltAo
Apesar de serem mobilizadas no sentido da conformidade aos rnodeshy
los corporais referencia e reverencia as praticas muscula~ao e seus
sistemas f1sicos derivados podem a qualquer momento ver-se desvirtushy
no seu sentido original quando os projectos corporais que alimenshy
tam se rll1icalizam pdo excesso de di~ciplina na eonformdade aos
1l10delos de referencia institufdos Este de comportamentos hipershy
diciplinad)s pode traduzir-se por exemplo em comportamentos
sifcdos Gomodisturbio dismorfC( muscular mais vulgarmente conheshy
ruygttYl a vigorexia Tambem descrita como complexo de Adonis
ou anorexia reversiva39 trata-se uma sindrome caracrcrizada
bLW dos seus portadores geralmente homens e independentemente da
sua museulatura (embora sejam normal mente bern desenvolvidos)
deterem uma auto-imagem corporal diswrcida e persistente no
de se sentirem muito pequenos fraeos e frageis
simultanealllente pdo deseio de serem musculados e 0
medo de screm magros desenvolvem uma exceSSlva
exerdcio (ouertrtlining) por um tipo de hiperproteico
e pelo consumo regUlar de produtos sintcticos anab61icos e outros no
sentido de hipertroflar 0 seu sistema muscular A vigilancia dos resultashy
dos obtidos atravcs d3 flta mctrica da balan~ e do espeIho bem como
a reClef1iii~aoae e Slmeshy
tria de cada museulo e tambcm constante
riscos que potencialmente correm continuam a acreditar no seu poder
autocontrolo e em mante-Io em nome da sua saude Efcmeras ilus6cs
prometeicas que a seu tempo sc poderao transformar em f1tais
soes
255
CLASSES ASSOCIATIVISMO E ESTADO
edos (200~) Cultura da e vol 3 nY 13-25
in A Festa EdlJCaao Fisica Acampanh anti-patriotic que n 5279 17 ana 6 de JUlho de 1926
Jorge Crespo (1977) Hist6ria Ludens 2 n 1 45-52 Rui Gomes (1991) Poder e saber 0 corpo (1936-19401 de Educoao n 2middot3 Building a motor habitus physical in the Portuguese Estado Novo Intrmiddotmrrtionn
ofSpGrt vol 45 0 1 pp 23-37 -1 Prlt3tj r a corresponde ao que em
em muio as tor mas mai~ retentes e
5
in Ant6nio forg)
(19901 volw co POllugal Contemporonco (1926- (958) vol IV Usboa Alfa 333-338
10 In Ines (1999) Dons eDisciplinas do Corpo Feminino 0 OiscursoS5obre 0 COPO nu Historin do Esturio Novo bsboa Qrqanizcoes Nao Govt~rnamcntais do Consultivo Comissao 19ualdade e
3940 CGvalho (2005) lxplorando transferenci8lt nal prrmeiras deeadris
S~(ulo An61iseSocfaf vol XL nO 499-518j
12 In Hui Gomes (1991 I op 130 musculado dr Taborda chamava
do ~e(u0 nao Coriu dos Reereio$ do Desportos tambem aDs pal(os alem de ter sido (incovezes campeao rnundial e vezes
europeu de luta livre foi ainda ballarino Udo ern Paris e como duplo em algumas ploduoes de
Garcia Alvarez Onde para a rua ern corpinho bern Record Ana XXiii n 21B915 de Junho 1972 p 9
15 Ver Valter Cutum e IdentidadeA costuro social do moda em lIumanas (tese doutor
idrntitariamp na ocie Ide da Silva (orgs) tineroriw
pp671-689 17 Olivia Newton~ John liderava lugares clmeiros tops de vend as com a
can lao Lets get Physicol Jane ronda tornava-se na de marea da aerobica urn novo sistema fisieo mente teve exito atravegt do livra video best-seliersJane fondas Workout Nestes a dernonstrava eio a ern Beverly Hills por forma ao pratieante poder reproduzi-o no recolhimento do mats convlesse
1B Pam se ter uma no~ao compsritiva 0 futebol tem 1D0Y madamentc 150 mil praticantes federados ern Portugal 19 anuais elaborados Deia International Health
Association em (onjunto com J DeJaiHe e furor neilmente cedidos pea Associaao de Empres3s de Gi nasi os eAcademias
256
PESOS HAlTERES E SENTIDOS DOS CORlOS (H)AlTERADOS
19921) 0 Crepuscuo do A Etica Indolor des p129
a frente sao provenientes de urn con~ rnUSCLH3cao 110 ambito do de investiga~ao
por Vi tor a deeorrer no
maSCUlniOaCie in Miriam Golddenberg
[uitu[ois reoctonadas com 0 estetica eo jcrrl-eMo Otlsfrvat6r[o Que 0 Estado ja navia atraves da de distiplina de
Crespo Pedro Alcltlntara do (2009) 0 Estadoda Saude em Portugal USDaa Impreno
d~ (~iend3s Socials Segundo dados pelo Eurobarometro em 73 da populao nao praticava
reguiarmente exercicioshyVitor Seraio corpo in Machado Pais
peronte 0 Corpo Geiras Celta
qualquer reiaao d~fecta de causa-delta medida qlle ficarnos estimular a pratica de exerricio fisico
rontrario previa refexivamente PBra 35sodados asua
i~aizado noambJto do Observat0rio Perma-Ver Vftor Fcrrrira
33 Onde de metade (49) admitiu muscula~ao acrescendo 18 que afirmaram ter praticado
o
reverse
Adalescincio Latinoomericono volume 2 n 2 pp 97-101
257
11
CLASSES ASSOCIATIVISMO E ESTADO
se traduza numa pratica efectiva27 csta evolu~ao corresponded
a uma assinalivel incorporaltao social do dezJer-ser contemporaneo da
actividade fisica A representaiyao desta enquanto habito de vida saudishy
torna-se clara quando noutra investiga~a028 se constatou ser entre
os individuos que mais regularmente praticam exerdcio Hsico que mais
presente esta a percep~ao do risco cia sua ausencia quotidiana29
e born esaudiveJ eurn habito saudaveL E como se
fosse lel livros sel inteligente Esras a arranjar 0 teu corpo Sabes
que vais chegar aos quarenta e tal arros e ainda vais estar born Agora
muitos chegam aos qualcrrra e tal anos e ja esrao com barriga e
com sei a ter tanras ~u~tas coisas Ficas mas saudivel se estas a
treinar bem e sew mdar contra a tua
29 ANOS LH ENClfO ENFERMEI(O PRATICANTE DE MusCutAltAo
A tendcncia para a crenlta incontestlvel no exerdcio fisico como
habito de vida saudivel nao se apresenta contudo disrribulda
igual maneira no espa~o social e cultural portugues Sao varios os estushy
que tern localizado urn maior enraizamento social da disposi~ao
para a pratica de exerdcio fisico entre as mais jovens geralt6es e entre
os individuos provenientes dos estratos socioeconomicos mais clevashy
dos Resultadonao apenas das novas con(li~6es de sociais economicas
e simbolicas em que as gera~6es pos-25 de Abril sao socializadas relatishy
vamente ao corpo e aos cuidados corporais30 mas tambem de urn efeito
de trnsltao no curso
Investiga~6es realizadas sobre a pnitica de actividades ffsicas entre os
jovens portugueses denotam-na mais regular e intensiva nos grupos etashy
rios mais novos nomeadamente ate ainserlt5o no mercado de trabalho
e aassunlt5o de novas responsabilidades familiares31bull 0 que indica que
amedida que as etapas do processo de transi~ao para a vida adulta se vao
cum prindo a pritica desportiva vai efectivamente sendo abandonada no
quotidiano dos jovens portugueses
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PESOS HALTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)ALTERADOS
No caso especifico da 11l~LU1ltll-alJ uma actividade particularmente
exigente em termos do tempo dispoIl lVei para a sua pratica esta tenshy
dencia revela-se particularrnente marcante Trata-se no eatanto de
uma das modalidades com maior adesao efectiva ou potencial entre os
jovens em Portugal A sua pdtica efectiva (prcsente ou passada)
declarada por cerca de 12 da populalt5o jovem porttlguesa no ano
200032 sendo 34 a percentagem de jovens que nunca tendo pratishy
cado admitiram vir a faze-Io no futuro Quer a sua pdtica efectiva
quer a sua pr~hica potencial viram-se substancialmeme acrescidas entre
os jovens do sexo lTlasculin033 com idades compreendidas entre 18 e
anos ainda a residir com a familia de origem ou sozinhos solteiros
ou ja separados ou divorciados sem filhos Perfil dpieo para stlstentar
a hip6tese de 0 aumento de massa muscular ser urn investimento corshy
poral que corresponde ellliarga medida a uma fOlm~de capitalizar
o potencial expressivo do corpo masculino em estrategiasde atracltao e
sedult5o
Embora a disponibilidade potencial para a pratica da musculaltao
- nunca fiz mas admito vir a fazec surja praticamente transversal aos
jovens qualquer que seja 0 seu estatuto social ou habitat de residencia
o facto cque as condilt6es materiais de existencia continuam a constranshy
ger a sua ptatica efectiva Mais devada entre os jovens que melhores
condilt6es sociais detem para fa_zet face as mensalidades exigidas pelos
cspaltos destinados ao seu exerdci0 34 a pratica de musculaltao decrescc
amedida que se desce na estrutura social de 26 entre os jovens de
estatuto social alto diminui para 9 entre os jovens de estatuto social
mais baixo Do mesmo modo sao os jovcns que tern urn acesso mais
facilitado as instalalt6es que disponibilizam tal servi~o quem mais adere
efectivamente a sua pritica ou seja os jovens residentes em habitat
e suburbano 0 sanho em obter urn corpo musculado revela-se
portanto substancialmente mats democratizado na sua distribui~ao social
(mediaticamente amplificada) do que as condi~6es que perrnitem a sua
concrecizaltao
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CLASSES ASSOCIATIVISMO b ESTADO
Para fazer [musculayao] como se fosse urn culto tern que se rer
tempo e disponibilidade E depois tern que se ter vontade uma
vontade E dinheiro Estas sao as coisas vontade dinheiro e disposhy
nibilidade
29 ANOS LICENCLADO ENFER1v1EIRO PRATCANTE DE MUSCULAyo
Tern que se ter muita forlfa de vontade tem que eter
tambem () torna-se a tal de qlle eu poundalo eV1Clame
( ) A pessoa para rcr urn corpo assimrem quI s~ trabalhar muito
nao e Nao e brincaJeira 1150 e E preciso urn esforyo de
tempo alillleatar A nutri(ao entao se para
rnentos tem que $( fr n30 IE pode
28 ANOS 10deg ANO DESEM[REGADO JTICANTE DE MUSCULAtAo
Mesmo entre aqueles que reunem as condic5es socioeconomicas
que permitem 0 acesso a constru~ao urn corpo de atraves da
de muscidacento nem todos dispoem das disposilt6es subjectivas
C(IgtIIld para enfrentar 0 longo processo da suaconcretizasao Euma
dctividade que quando 0 objectivo ea obtensao eoumanuten~ao
urn dado modelo de compleiltao fisica volumoso e definido exige dos
seuspraticantes trabalho arduo e dedicaltao quase monastica forsa de
e determinacao perseveranlta e espfrito de sacriflcio pain no abnegalt3o e autocomrolo e disciplina Nao e por
acaso que entre os jovens que praticam algum tipo despono Oll actishy
vidade fisica sao os adeptos musculalt3o os que uma
tica mais intensiva e regular sendo mais de metade os que se exercitam
diaria ou quase diariamentel5
A maximizasao da estetica corporal proposta pela rnusculasao
ponamo a realizacao de uma etica que transcende a pritica
250
PESOS HALTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)ALTERADOS
desta modalidade e se estende a outros domfnios vida do seu
came A etica de disciplina cultivada durante os a dado momento
da efectivameute a ir dos tempos e espashy
lt05 que sao dedicados A alirnentacento passa a ser bastante cuidada
hiper-re5tritiva nas gorduras e e sobredimensionada nas proteinas
c hidratos de nutrientcs que permitem acumular energia para 0
t[eino eo concomitante crcscimento do volume muscular 0 sono Dassa a
ser tambem hiper-regrado sacrificando-se momentos de lazer e
noctumas por exemplo 0 tempo disponfvd para sociabilidadcs amicais
e por vezes atc familiares e Iaborais passa a ser gerido em funsao das
necessidades treino diario
aquela vontade de ter urna vida de mudar 0
corro ]a nao queres comer gotJuras porque estas aver 0 reu carpo
Vais a um piquenique ou qualquer coisa assilll e wrnes alguma coisa
assim mais na semana que vem ji se nota nosabdominais En Jesus
Cristo engordei Eja vais xiiiiiiiiiii Corras com fritos e com gorduras
puxas mais hidratos de carbono e protdn~i ( ) Cada dia
contralo 0 peso e controlo muito bem aquilo que como percebes De
manha e uma dose multo torte de hidratos de carbono papas
Ncstum Uma coisa muito com leltemagro scm Nada
de gorduras nada de manteig~~ nada De manha e 15S0 on2C horas
tambem comes alguma coisa uma sandufche com cafe com ramshy
bern magro Alrno~o tambem comes cada dia qualQuer coisa
corni guisado com com com urn bom azeite
Ao jantar ji epouca coisa porque nao estou naquela fase de tomar
aminokidos e nao preciso N 50 estoll agora naquela fase de puxar para
crescer agora estou assim Niio lhe dd as vezes vontade de comer sei Ed
um bolo com chantilly Nao mete porque sabes que re vai
fazer maL Olhas para mas nao com aquela vontade de comer Sabes
que e born mas nao tens 0 corpo esta em primeiro
Niio e que narcisismo ou uma coisa assim E urna preocupayao
saudiveL Nao eque estejas a olhar para 0 espelho ai que sou bonito
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CLASSES ASSOCIATIVISMO E ESTADO
nao 1sto ja enarcisismo Mas todas as pessoas estao prcocupadas com
aqllelc reslIltado que conseguiu e nao vais estragar agora de urn dia
para 0 outro ( ) Trabalho como um relagio todos os dias tteino as
tres ( ) Tem que ser nao podes brincar com a corpo Tem que set
tudo controlado ( ) Precisas descansar Par isso tem que ser llma vida
bern organizada Levantar-se as mesmas horas comer as mesmas horas
descansar as mesmas horas treinar as mesmas horas Tern que ser tuclo
arranjadinho nao podes andar disparatadQ a fazer coisas II um culto
Por isso cque tern resultados
29 ANOS UCENCLADO ENFERMEIlZO PRATICANTE DE MUSCULA(AO
1Boa parte do oe do praticante empenhado em
erescer a massa muscular fassa entao a ser geridoem fun~5o da maxishy
mizaltaodos ganhos de vDlume e ddiniltao corporal Este e um
tivo que 0 faz Ianyar mao de um impladvd processo racional instrushy
de autogoverno e hiperdiseiplina do seu tempo e das actividades
do corpo e sobre 0 corpo A ohten~ao de urn corpo hiperbolico impliea
paradoxalmente um rigoroso comedimento dos seus habitos e
eomportarnentos mais habituais Quando a hiperdisciplina earacterisshy
tica das pratieas introduzidas na vida quotidiana ja nao e capaz de dar
resposta as voIumosas ambi~6es do indivfduo quando ji nao eonsegue
maximizar 0 potencial corporal idealizado como meta por parte do prashy
ticantc cste nao se da obrigatoriamente por veneido 0 desatlo dos seus
pessoais e propriamente fisicos pode ser superado atraves do
consumo de outros reeursos tambem produzidos e comercializados
industria de design corporal nao caras vezes nos mesmos espaos onde
o exerdeio fisieo os poreneia
Eentao que chega a nora de experimentar as vantagens dos supleshy
mentos alimentares exibidos nas prateleiras das gcandes e pequenas
superficies de lojas de despofto bern como das entradas de muitos
ginasios indo de encontro as (rapidas) amhilt6es dos seus frequentashy
dores Para aIem destes produros enconttam-se ainda disponfveis em
252
PESOS HALTERES E SENTfDOS DOS CORPOS
circuitos de comercio rna is alternativo e underground uma diversidade
de ester6ides anabolizantes e de outros produtos euja venda livre eilegal
pelos efeitos perversos que acarretam na homeostasia interna do orgashy
nlsmo mas cujos ganhos de e massa muscular sao surpreendentes
na quantidade e eeleridade bem como na redwao significativa da adishy
posidade 0 uso dessas drogas apolineas36 tem-Se tornado uma op~ao
disseminada entre outros praticantes de muscuIaltao que
nao apenas as fisioeulturistas que desde sempre riveram uma rela~o
axiomitica37 bull
Entretanto vim para ca e aqui come-eei a tomar suplemenro
uma proteinazinha uma creatinazinha Entretanto fahram-mc sobre
a tal siruaifao [esteraides anabolizantesJ e eu tentei experimentar
para saber uma situa~o de curiosidade () Espectacular rnesmo
Uma pessoa atinge urn nive mesmo muito bom E Ilma qualidad
brutal Por isso e que dizem que a malta que eomeltlt a faxer essas
coisas depois torna-se viciada
28 ANOS 100 ANO DESEMPREGADO PRAT1CANTE DE
Assim que comepmos a ganhar 0 mfnimo musculo queremos
semprc mais sempre mais sempre mais Depois atillgimos quase a
performance dai nao safmos mais Depois onde vamos recorrcr ea
substincias batidos e aminoicidos que epara ver se conseguimos
desenvolver mais 0 110SS0 conseguir desenvolver mais os
mUsculos E acaba nisso ( quase urn CicIo ( ) E dcpois da eonseguishy
mos mais vamos desenvolvendo desenvolvendo
24 ANOS 120 AlOAUXIUAR DE ACOtO MEDICA
PRATlCANTE DE MUSCULAltAo
253
I
CLASSES ASSOC1ATIVISMO E ESTADO
que os cultorcs da muscula~ao a actividade adamando
a sua preocupatao com a saude e 0 bem-estar presente e fururo represhy
sentando-a como uma mobilizada no scntido de manter ou
a forma e obter a imagem um corpo sauc1avel e atrashy
ente 0 facto c que a compreensao sempre positiva da entre cxershy
dcio e saude como afirmam Bagrichevsky e Estevao nao passa de uma
hipotese optimista38 Apesar de prevalecente enquanto ideal e a priori ramada por certa e incontroversa a rnixima despo[m c saude esconde
luitas vezes vivencias e representatoes
Com efeitoexistem cada vez mais situatoes em que as pretensoes
perfeccionistas e aobsess5n pela saude e peIo collt-mio do corp( podem
confIgurar cstados
mtermizados e
cinicamentc susceptivcis de sercm
J iuttoloeia do corpu
- ou
e saudiyei de lut ~e iessente a socdde e middotem grande
em exerdcio
dependentes dapropria imagem corpotal bull 1
-r que cnarm ltIe a qual sc esfof~m ao miximo por manter e
~oar -- compulsivos dotados grande perseveran~a t toleshy
rfll1cia ao sofriPlento traduzido em sintomas como a dor a exausshy
tao e a lesao entre outros n1enos comuns
Eu viciei-me nlquilo Viciei-me mesmo em ginasio Se nao fosse
para era como uma docnlta Tinha que if Era mesmo
6bcecado com aquilo C)Queria hear grande E fiquei V) 0
nvo era corpo como deg dessamiddotmalta que a gente ve af
( ) Depois toma-se urn vieio qucrer atingit (ilo
28 ANOS 100 amp10 DESEMPREGADO lRATICANTE DE MUSCULAltAo
HUSCUlaltao nunca pode vir a ser um problema Pode vir a scr
urn quando hi eXCt5SOS ( ) Mas os excessos nao controshy
[ados Porque eu neste momento estou a entrar numa de cxccssos
251
PESOS HALTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)ALTERADOS
mas controlados Os excesses tem que scr controlados Cbull ) A nIve
de problemas 0 unico problema que traz no fundo eisso quando os
excessos nao sao controlados De resto nao enada assim de
28 ANOS 110 ANO pOLfClA PRATICANTE DE MIJSCULAltAo
Apesar de serem mobilizadas no sentido da conformidade aos rnodeshy
los corporais referencia e reverencia as praticas muscula~ao e seus
sistemas f1sicos derivados podem a qualquer momento ver-se desvirtushy
no seu sentido original quando os projectos corporais que alimenshy
tam se rll1icalizam pdo excesso de di~ciplina na eonformdade aos
1l10delos de referencia institufdos Este de comportamentos hipershy
diciplinad)s pode traduzir-se por exemplo em comportamentos
sifcdos Gomodisturbio dismorfC( muscular mais vulgarmente conheshy
ruygttYl a vigorexia Tambem descrita como complexo de Adonis
ou anorexia reversiva39 trata-se uma sindrome caracrcrizada
bLW dos seus portadores geralmente homens e independentemente da
sua museulatura (embora sejam normal mente bern desenvolvidos)
deterem uma auto-imagem corporal diswrcida e persistente no
de se sentirem muito pequenos fraeos e frageis
simultanealllente pdo deseio de serem musculados e 0
medo de screm magros desenvolvem uma exceSSlva
exerdcio (ouertrtlining) por um tipo de hiperproteico
e pelo consumo regUlar de produtos sintcticos anab61icos e outros no
sentido de hipertroflar 0 seu sistema muscular A vigilancia dos resultashy
dos obtidos atravcs d3 flta mctrica da balan~ e do espeIho bem como
a reClef1iii~aoae e Slmeshy
tria de cada museulo e tambcm constante
riscos que potencialmente correm continuam a acreditar no seu poder
autocontrolo e em mante-Io em nome da sua saude Efcmeras ilus6cs
prometeicas que a seu tempo sc poderao transformar em f1tais
soes
255
CLASSES ASSOCIATIVISMO E ESTADO
edos (200~) Cultura da e vol 3 nY 13-25
in A Festa EdlJCaao Fisica Acampanh anti-patriotic que n 5279 17 ana 6 de JUlho de 1926
Jorge Crespo (1977) Hist6ria Ludens 2 n 1 45-52 Rui Gomes (1991) Poder e saber 0 corpo (1936-19401 de Educoao n 2middot3 Building a motor habitus physical in the Portuguese Estado Novo Intrmiddotmrrtionn
ofSpGrt vol 45 0 1 pp 23-37 -1 Prlt3tj r a corresponde ao que em
em muio as tor mas mai~ retentes e
5
in Ant6nio forg)
(19901 volw co POllugal Contemporonco (1926- (958) vol IV Usboa Alfa 333-338
10 In Ines (1999) Dons eDisciplinas do Corpo Feminino 0 OiscursoS5obre 0 COPO nu Historin do Esturio Novo bsboa Qrqanizcoes Nao Govt~rnamcntais do Consultivo Comissao 19ualdade e
3940 CGvalho (2005) lxplorando transferenci8lt nal prrmeiras deeadris
S~(ulo An61iseSocfaf vol XL nO 499-518j
12 In Hui Gomes (1991 I op 130 musculado dr Taborda chamava
do ~e(u0 nao Coriu dos Reereio$ do Desportos tambem aDs pal(os alem de ter sido (incovezes campeao rnundial e vezes
europeu de luta livre foi ainda ballarino Udo ern Paris e como duplo em algumas ploduoes de
Garcia Alvarez Onde para a rua ern corpinho bern Record Ana XXiii n 21B915 de Junho 1972 p 9
15 Ver Valter Cutum e IdentidadeA costuro social do moda em lIumanas (tese doutor
idrntitariamp na ocie Ide da Silva (orgs) tineroriw
pp671-689 17 Olivia Newton~ John liderava lugares clmeiros tops de vend as com a
can lao Lets get Physicol Jane ronda tornava-se na de marea da aerobica urn novo sistema fisieo mente teve exito atravegt do livra video best-seliersJane fondas Workout Nestes a dernonstrava eio a ern Beverly Hills por forma ao pratieante poder reproduzi-o no recolhimento do mats convlesse
1B Pam se ter uma no~ao compsritiva 0 futebol tem 1D0Y madamentc 150 mil praticantes federados ern Portugal 19 anuais elaborados Deia International Health
Association em (onjunto com J DeJaiHe e furor neilmente cedidos pea Associaao de Empres3s de Gi nasi os eAcademias
256
PESOS HAlTERES E SENTIDOS DOS CORlOS (H)AlTERADOS
19921) 0 Crepuscuo do A Etica Indolor des p129
a frente sao provenientes de urn con~ rnUSCLH3cao 110 ambito do de investiga~ao
por Vi tor a deeorrer no
maSCUlniOaCie in Miriam Golddenberg
[uitu[ois reoctonadas com 0 estetica eo jcrrl-eMo Otlsfrvat6r[o Que 0 Estado ja navia atraves da de distiplina de
Crespo Pedro Alcltlntara do (2009) 0 Estadoda Saude em Portugal USDaa Impreno
d~ (~iend3s Socials Segundo dados pelo Eurobarometro em 73 da populao nao praticava
reguiarmente exercicioshyVitor Seraio corpo in Machado Pais
peronte 0 Corpo Geiras Celta
qualquer reiaao d~fecta de causa-delta medida qlle ficarnos estimular a pratica de exerricio fisico
rontrario previa refexivamente PBra 35sodados asua
i~aizado noambJto do Observat0rio Perma-Ver Vftor Fcrrrira
33 Onde de metade (49) admitiu muscula~ao acrescendo 18 que afirmaram ter praticado
o
reverse
Adalescincio Latinoomericono volume 2 n 2 pp 97-101
257
CLASSES ASSOCIATIVISMO b ESTADO
Para fazer [musculayao] como se fosse urn culto tern que se rer
tempo e disponibilidade E depois tern que se ter vontade uma
vontade E dinheiro Estas sao as coisas vontade dinheiro e disposhy
nibilidade
29 ANOS LICENCLADO ENFER1v1EIRO PRATCANTE DE MUSCULAyo
Tern que se ter muita forlfa de vontade tem que eter
tambem () torna-se a tal de qlle eu poundalo eV1Clame
( ) A pessoa para rcr urn corpo assimrem quI s~ trabalhar muito
nao e Nao e brincaJeira 1150 e E preciso urn esforyo de
tempo alillleatar A nutri(ao entao se para
rnentos tem que $( fr n30 IE pode
28 ANOS 10deg ANO DESEM[REGADO JTICANTE DE MUSCULAtAo
Mesmo entre aqueles que reunem as condic5es socioeconomicas
que permitem 0 acesso a constru~ao urn corpo de atraves da
de muscidacento nem todos dispoem das disposilt6es subjectivas
C(IgtIIld para enfrentar 0 longo processo da suaconcretizasao Euma
dctividade que quando 0 objectivo ea obtensao eoumanuten~ao
urn dado modelo de compleiltao fisica volumoso e definido exige dos
seuspraticantes trabalho arduo e dedicaltao quase monastica forsa de
e determinacao perseveranlta e espfrito de sacriflcio pain no abnegalt3o e autocomrolo e disciplina Nao e por
acaso que entre os jovens que praticam algum tipo despono Oll actishy
vidade fisica sao os adeptos musculalt3o os que uma
tica mais intensiva e regular sendo mais de metade os que se exercitam
diaria ou quase diariamentel5
A maximizasao da estetica corporal proposta pela rnusculasao
ponamo a realizacao de uma etica que transcende a pritica
250
PESOS HALTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)ALTERADOS
desta modalidade e se estende a outros domfnios vida do seu
came A etica de disciplina cultivada durante os a dado momento
da efectivameute a ir dos tempos e espashy
lt05 que sao dedicados A alirnentacento passa a ser bastante cuidada
hiper-re5tritiva nas gorduras e e sobredimensionada nas proteinas
c hidratos de nutrientcs que permitem acumular energia para 0
t[eino eo concomitante crcscimento do volume muscular 0 sono Dassa a
ser tambem hiper-regrado sacrificando-se momentos de lazer e
noctumas por exemplo 0 tempo disponfvd para sociabilidadcs amicais
e por vezes atc familiares e Iaborais passa a ser gerido em funsao das
necessidades treino diario
aquela vontade de ter urna vida de mudar 0
corro ]a nao queres comer gotJuras porque estas aver 0 reu carpo
Vais a um piquenique ou qualquer coisa assilll e wrnes alguma coisa
assim mais na semana que vem ji se nota nosabdominais En Jesus
Cristo engordei Eja vais xiiiiiiiiiii Corras com fritos e com gorduras
puxas mais hidratos de carbono e protdn~i ( ) Cada dia
contralo 0 peso e controlo muito bem aquilo que como percebes De
manha e uma dose multo torte de hidratos de carbono papas
Ncstum Uma coisa muito com leltemagro scm Nada
de gorduras nada de manteig~~ nada De manha e 15S0 on2C horas
tambem comes alguma coisa uma sandufche com cafe com ramshy
bern magro Alrno~o tambem comes cada dia qualQuer coisa
corni guisado com com com urn bom azeite
Ao jantar ji epouca coisa porque nao estou naquela fase de tomar
aminokidos e nao preciso N 50 estoll agora naquela fase de puxar para
crescer agora estou assim Niio lhe dd as vezes vontade de comer sei Ed
um bolo com chantilly Nao mete porque sabes que re vai
fazer maL Olhas para mas nao com aquela vontade de comer Sabes
que e born mas nao tens 0 corpo esta em primeiro
Niio e que narcisismo ou uma coisa assim E urna preocupayao
saudiveL Nao eque estejas a olhar para 0 espelho ai que sou bonito
251
CLASSES ASSOCIATIVISMO E ESTADO
nao 1sto ja enarcisismo Mas todas as pessoas estao prcocupadas com
aqllelc reslIltado que conseguiu e nao vais estragar agora de urn dia
para 0 outro ( ) Trabalho como um relagio todos os dias tteino as
tres ( ) Tem que ser nao podes brincar com a corpo Tem que set
tudo controlado ( ) Precisas descansar Par isso tem que ser llma vida
bern organizada Levantar-se as mesmas horas comer as mesmas horas
descansar as mesmas horas treinar as mesmas horas Tern que ser tuclo
arranjadinho nao podes andar disparatadQ a fazer coisas II um culto
Por isso cque tern resultados
29 ANOS UCENCLADO ENFERMEIlZO PRATICANTE DE MUSCULA(AO
1Boa parte do oe do praticante empenhado em
erescer a massa muscular fassa entao a ser geridoem fun~5o da maxishy
mizaltaodos ganhos de vDlume e ddiniltao corporal Este e um
tivo que 0 faz Ianyar mao de um impladvd processo racional instrushy
de autogoverno e hiperdiseiplina do seu tempo e das actividades
do corpo e sobre 0 corpo A ohten~ao de urn corpo hiperbolico impliea
paradoxalmente um rigoroso comedimento dos seus habitos e
eomportarnentos mais habituais Quando a hiperdisciplina earacterisshy
tica das pratieas introduzidas na vida quotidiana ja nao e capaz de dar
resposta as voIumosas ambi~6es do indivfduo quando ji nao eonsegue
maximizar 0 potencial corporal idealizado como meta por parte do prashy
ticantc cste nao se da obrigatoriamente por veneido 0 desatlo dos seus
pessoais e propriamente fisicos pode ser superado atraves do
consumo de outros reeursos tambem produzidos e comercializados
industria de design corporal nao caras vezes nos mesmos espaos onde
o exerdeio fisieo os poreneia
Eentao que chega a nora de experimentar as vantagens dos supleshy
mentos alimentares exibidos nas prateleiras das gcandes e pequenas
superficies de lojas de despofto bern como das entradas de muitos
ginasios indo de encontro as (rapidas) amhilt6es dos seus frequentashy
dores Para aIem destes produros enconttam-se ainda disponfveis em
252
PESOS HALTERES E SENTfDOS DOS CORPOS
circuitos de comercio rna is alternativo e underground uma diversidade
de ester6ides anabolizantes e de outros produtos euja venda livre eilegal
pelos efeitos perversos que acarretam na homeostasia interna do orgashy
nlsmo mas cujos ganhos de e massa muscular sao surpreendentes
na quantidade e eeleridade bem como na redwao significativa da adishy
posidade 0 uso dessas drogas apolineas36 tem-Se tornado uma op~ao
disseminada entre outros praticantes de muscuIaltao que
nao apenas as fisioeulturistas que desde sempre riveram uma rela~o
axiomitica37 bull
Entretanto vim para ca e aqui come-eei a tomar suplemenro
uma proteinazinha uma creatinazinha Entretanto fahram-mc sobre
a tal siruaifao [esteraides anabolizantesJ e eu tentei experimentar
para saber uma situa~o de curiosidade () Espectacular rnesmo
Uma pessoa atinge urn nive mesmo muito bom E Ilma qualidad
brutal Por isso e que dizem que a malta que eomeltlt a faxer essas
coisas depois torna-se viciada
28 ANOS 100 ANO DESEMPREGADO PRAT1CANTE DE
Assim que comepmos a ganhar 0 mfnimo musculo queremos
semprc mais sempre mais sempre mais Depois atillgimos quase a
performance dai nao safmos mais Depois onde vamos recorrcr ea
substincias batidos e aminoicidos que epara ver se conseguimos
desenvolver mais 0 110SS0 conseguir desenvolver mais os
mUsculos E acaba nisso ( quase urn CicIo ( ) E dcpois da eonseguishy
mos mais vamos desenvolvendo desenvolvendo
24 ANOS 120 AlOAUXIUAR DE ACOtO MEDICA
PRATlCANTE DE MUSCULAltAo
253
I
CLASSES ASSOC1ATIVISMO E ESTADO
que os cultorcs da muscula~ao a actividade adamando
a sua preocupatao com a saude e 0 bem-estar presente e fururo represhy
sentando-a como uma mobilizada no scntido de manter ou
a forma e obter a imagem um corpo sauc1avel e atrashy
ente 0 facto c que a compreensao sempre positiva da entre cxershy
dcio e saude como afirmam Bagrichevsky e Estevao nao passa de uma
hipotese optimista38 Apesar de prevalecente enquanto ideal e a priori ramada por certa e incontroversa a rnixima despo[m c saude esconde
luitas vezes vivencias e representatoes
Com efeitoexistem cada vez mais situatoes em que as pretensoes
perfeccionistas e aobsess5n pela saude e peIo collt-mio do corp( podem
confIgurar cstados
mtermizados e
cinicamentc susceptivcis de sercm
J iuttoloeia do corpu
- ou
e saudiyei de lut ~e iessente a socdde e middotem grande
em exerdcio
dependentes dapropria imagem corpotal bull 1
-r que cnarm ltIe a qual sc esfof~m ao miximo por manter e
~oar -- compulsivos dotados grande perseveran~a t toleshy
rfll1cia ao sofriPlento traduzido em sintomas como a dor a exausshy
tao e a lesao entre outros n1enos comuns
Eu viciei-me nlquilo Viciei-me mesmo em ginasio Se nao fosse
para era como uma docnlta Tinha que if Era mesmo
6bcecado com aquilo C)Queria hear grande E fiquei V) 0
nvo era corpo como deg dessamiddotmalta que a gente ve af
( ) Depois toma-se urn vieio qucrer atingit (ilo
28 ANOS 100 amp10 DESEMPREGADO lRATICANTE DE MUSCULAltAo
HUSCUlaltao nunca pode vir a ser um problema Pode vir a scr
urn quando hi eXCt5SOS ( ) Mas os excessos nao controshy
[ados Porque eu neste momento estou a entrar numa de cxccssos
251
PESOS HALTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)ALTERADOS
mas controlados Os excesses tem que scr controlados Cbull ) A nIve
de problemas 0 unico problema que traz no fundo eisso quando os
excessos nao sao controlados De resto nao enada assim de
28 ANOS 110 ANO pOLfClA PRATICANTE DE MIJSCULAltAo
Apesar de serem mobilizadas no sentido da conformidade aos rnodeshy
los corporais referencia e reverencia as praticas muscula~ao e seus
sistemas f1sicos derivados podem a qualquer momento ver-se desvirtushy
no seu sentido original quando os projectos corporais que alimenshy
tam se rll1icalizam pdo excesso de di~ciplina na eonformdade aos
1l10delos de referencia institufdos Este de comportamentos hipershy
diciplinad)s pode traduzir-se por exemplo em comportamentos
sifcdos Gomodisturbio dismorfC( muscular mais vulgarmente conheshy
ruygttYl a vigorexia Tambem descrita como complexo de Adonis
ou anorexia reversiva39 trata-se uma sindrome caracrcrizada
bLW dos seus portadores geralmente homens e independentemente da
sua museulatura (embora sejam normal mente bern desenvolvidos)
deterem uma auto-imagem corporal diswrcida e persistente no
de se sentirem muito pequenos fraeos e frageis
simultanealllente pdo deseio de serem musculados e 0
medo de screm magros desenvolvem uma exceSSlva
exerdcio (ouertrtlining) por um tipo de hiperproteico
e pelo consumo regUlar de produtos sintcticos anab61icos e outros no
sentido de hipertroflar 0 seu sistema muscular A vigilancia dos resultashy
dos obtidos atravcs d3 flta mctrica da balan~ e do espeIho bem como
a reClef1iii~aoae e Slmeshy
tria de cada museulo e tambcm constante
riscos que potencialmente correm continuam a acreditar no seu poder
autocontrolo e em mante-Io em nome da sua saude Efcmeras ilus6cs
prometeicas que a seu tempo sc poderao transformar em f1tais
soes
255
CLASSES ASSOCIATIVISMO E ESTADO
edos (200~) Cultura da e vol 3 nY 13-25
in A Festa EdlJCaao Fisica Acampanh anti-patriotic que n 5279 17 ana 6 de JUlho de 1926
Jorge Crespo (1977) Hist6ria Ludens 2 n 1 45-52 Rui Gomes (1991) Poder e saber 0 corpo (1936-19401 de Educoao n 2middot3 Building a motor habitus physical in the Portuguese Estado Novo Intrmiddotmrrtionn
ofSpGrt vol 45 0 1 pp 23-37 -1 Prlt3tj r a corresponde ao que em
em muio as tor mas mai~ retentes e
5
in Ant6nio forg)
(19901 volw co POllugal Contemporonco (1926- (958) vol IV Usboa Alfa 333-338
10 In Ines (1999) Dons eDisciplinas do Corpo Feminino 0 OiscursoS5obre 0 COPO nu Historin do Esturio Novo bsboa Qrqanizcoes Nao Govt~rnamcntais do Consultivo Comissao 19ualdade e
3940 CGvalho (2005) lxplorando transferenci8lt nal prrmeiras deeadris
S~(ulo An61iseSocfaf vol XL nO 499-518j
12 In Hui Gomes (1991 I op 130 musculado dr Taborda chamava
do ~e(u0 nao Coriu dos Reereio$ do Desportos tambem aDs pal(os alem de ter sido (incovezes campeao rnundial e vezes
europeu de luta livre foi ainda ballarino Udo ern Paris e como duplo em algumas ploduoes de
Garcia Alvarez Onde para a rua ern corpinho bern Record Ana XXiii n 21B915 de Junho 1972 p 9
15 Ver Valter Cutum e IdentidadeA costuro social do moda em lIumanas (tese doutor
idrntitariamp na ocie Ide da Silva (orgs) tineroriw
pp671-689 17 Olivia Newton~ John liderava lugares clmeiros tops de vend as com a
can lao Lets get Physicol Jane ronda tornava-se na de marea da aerobica urn novo sistema fisieo mente teve exito atravegt do livra video best-seliersJane fondas Workout Nestes a dernonstrava eio a ern Beverly Hills por forma ao pratieante poder reproduzi-o no recolhimento do mats convlesse
1B Pam se ter uma no~ao compsritiva 0 futebol tem 1D0Y madamentc 150 mil praticantes federados ern Portugal 19 anuais elaborados Deia International Health
Association em (onjunto com J DeJaiHe e furor neilmente cedidos pea Associaao de Empres3s de Gi nasi os eAcademias
256
PESOS HAlTERES E SENTIDOS DOS CORlOS (H)AlTERADOS
19921) 0 Crepuscuo do A Etica Indolor des p129
a frente sao provenientes de urn con~ rnUSCLH3cao 110 ambito do de investiga~ao
por Vi tor a deeorrer no
maSCUlniOaCie in Miriam Golddenberg
[uitu[ois reoctonadas com 0 estetica eo jcrrl-eMo Otlsfrvat6r[o Que 0 Estado ja navia atraves da de distiplina de
Crespo Pedro Alcltlntara do (2009) 0 Estadoda Saude em Portugal USDaa Impreno
d~ (~iend3s Socials Segundo dados pelo Eurobarometro em 73 da populao nao praticava
reguiarmente exercicioshyVitor Seraio corpo in Machado Pais
peronte 0 Corpo Geiras Celta
qualquer reiaao d~fecta de causa-delta medida qlle ficarnos estimular a pratica de exerricio fisico
rontrario previa refexivamente PBra 35sodados asua
i~aizado noambJto do Observat0rio Perma-Ver Vftor Fcrrrira
33 Onde de metade (49) admitiu muscula~ao acrescendo 18 que afirmaram ter praticado
o
reverse
Adalescincio Latinoomericono volume 2 n 2 pp 97-101
257
CLASSES ASSOCIATIVISMO E ESTADO
nao 1sto ja enarcisismo Mas todas as pessoas estao prcocupadas com
aqllelc reslIltado que conseguiu e nao vais estragar agora de urn dia
para 0 outro ( ) Trabalho como um relagio todos os dias tteino as
tres ( ) Tem que ser nao podes brincar com a corpo Tem que set
tudo controlado ( ) Precisas descansar Par isso tem que ser llma vida
bern organizada Levantar-se as mesmas horas comer as mesmas horas
descansar as mesmas horas treinar as mesmas horas Tern que ser tuclo
arranjadinho nao podes andar disparatadQ a fazer coisas II um culto
Por isso cque tern resultados
29 ANOS UCENCLADO ENFERMEIlZO PRATICANTE DE MUSCULA(AO
1Boa parte do oe do praticante empenhado em
erescer a massa muscular fassa entao a ser geridoem fun~5o da maxishy
mizaltaodos ganhos de vDlume e ddiniltao corporal Este e um
tivo que 0 faz Ianyar mao de um impladvd processo racional instrushy
de autogoverno e hiperdiseiplina do seu tempo e das actividades
do corpo e sobre 0 corpo A ohten~ao de urn corpo hiperbolico impliea
paradoxalmente um rigoroso comedimento dos seus habitos e
eomportarnentos mais habituais Quando a hiperdisciplina earacterisshy
tica das pratieas introduzidas na vida quotidiana ja nao e capaz de dar
resposta as voIumosas ambi~6es do indivfduo quando ji nao eonsegue
maximizar 0 potencial corporal idealizado como meta por parte do prashy
ticantc cste nao se da obrigatoriamente por veneido 0 desatlo dos seus
pessoais e propriamente fisicos pode ser superado atraves do
consumo de outros reeursos tambem produzidos e comercializados
industria de design corporal nao caras vezes nos mesmos espaos onde
o exerdeio fisieo os poreneia
Eentao que chega a nora de experimentar as vantagens dos supleshy
mentos alimentares exibidos nas prateleiras das gcandes e pequenas
superficies de lojas de despofto bern como das entradas de muitos
ginasios indo de encontro as (rapidas) amhilt6es dos seus frequentashy
dores Para aIem destes produros enconttam-se ainda disponfveis em
252
PESOS HALTERES E SENTfDOS DOS CORPOS
circuitos de comercio rna is alternativo e underground uma diversidade
de ester6ides anabolizantes e de outros produtos euja venda livre eilegal
pelos efeitos perversos que acarretam na homeostasia interna do orgashy
nlsmo mas cujos ganhos de e massa muscular sao surpreendentes
na quantidade e eeleridade bem como na redwao significativa da adishy
posidade 0 uso dessas drogas apolineas36 tem-Se tornado uma op~ao
disseminada entre outros praticantes de muscuIaltao que
nao apenas as fisioeulturistas que desde sempre riveram uma rela~o
axiomitica37 bull
Entretanto vim para ca e aqui come-eei a tomar suplemenro
uma proteinazinha uma creatinazinha Entretanto fahram-mc sobre
a tal siruaifao [esteraides anabolizantesJ e eu tentei experimentar
para saber uma situa~o de curiosidade () Espectacular rnesmo
Uma pessoa atinge urn nive mesmo muito bom E Ilma qualidad
brutal Por isso e que dizem que a malta que eomeltlt a faxer essas
coisas depois torna-se viciada
28 ANOS 100 ANO DESEMPREGADO PRAT1CANTE DE
Assim que comepmos a ganhar 0 mfnimo musculo queremos
semprc mais sempre mais sempre mais Depois atillgimos quase a
performance dai nao safmos mais Depois onde vamos recorrcr ea
substincias batidos e aminoicidos que epara ver se conseguimos
desenvolver mais 0 110SS0 conseguir desenvolver mais os
mUsculos E acaba nisso ( quase urn CicIo ( ) E dcpois da eonseguishy
mos mais vamos desenvolvendo desenvolvendo
24 ANOS 120 AlOAUXIUAR DE ACOtO MEDICA
PRATlCANTE DE MUSCULAltAo
253
I
CLASSES ASSOC1ATIVISMO E ESTADO
que os cultorcs da muscula~ao a actividade adamando
a sua preocupatao com a saude e 0 bem-estar presente e fururo represhy
sentando-a como uma mobilizada no scntido de manter ou
a forma e obter a imagem um corpo sauc1avel e atrashy
ente 0 facto c que a compreensao sempre positiva da entre cxershy
dcio e saude como afirmam Bagrichevsky e Estevao nao passa de uma
hipotese optimista38 Apesar de prevalecente enquanto ideal e a priori ramada por certa e incontroversa a rnixima despo[m c saude esconde
luitas vezes vivencias e representatoes
Com efeitoexistem cada vez mais situatoes em que as pretensoes
perfeccionistas e aobsess5n pela saude e peIo collt-mio do corp( podem
confIgurar cstados
mtermizados e
cinicamentc susceptivcis de sercm
J iuttoloeia do corpu
- ou
e saudiyei de lut ~e iessente a socdde e middotem grande
em exerdcio
dependentes dapropria imagem corpotal bull 1
-r que cnarm ltIe a qual sc esfof~m ao miximo por manter e
~oar -- compulsivos dotados grande perseveran~a t toleshy
rfll1cia ao sofriPlento traduzido em sintomas como a dor a exausshy
tao e a lesao entre outros n1enos comuns
Eu viciei-me nlquilo Viciei-me mesmo em ginasio Se nao fosse
para era como uma docnlta Tinha que if Era mesmo
6bcecado com aquilo C)Queria hear grande E fiquei V) 0
nvo era corpo como deg dessamiddotmalta que a gente ve af
( ) Depois toma-se urn vieio qucrer atingit (ilo
28 ANOS 100 amp10 DESEMPREGADO lRATICANTE DE MUSCULAltAo
HUSCUlaltao nunca pode vir a ser um problema Pode vir a scr
urn quando hi eXCt5SOS ( ) Mas os excessos nao controshy
[ados Porque eu neste momento estou a entrar numa de cxccssos
251
PESOS HALTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)ALTERADOS
mas controlados Os excesses tem que scr controlados Cbull ) A nIve
de problemas 0 unico problema que traz no fundo eisso quando os
excessos nao sao controlados De resto nao enada assim de
28 ANOS 110 ANO pOLfClA PRATICANTE DE MIJSCULAltAo
Apesar de serem mobilizadas no sentido da conformidade aos rnodeshy
los corporais referencia e reverencia as praticas muscula~ao e seus
sistemas f1sicos derivados podem a qualquer momento ver-se desvirtushy
no seu sentido original quando os projectos corporais que alimenshy
tam se rll1icalizam pdo excesso de di~ciplina na eonformdade aos
1l10delos de referencia institufdos Este de comportamentos hipershy
diciplinad)s pode traduzir-se por exemplo em comportamentos
sifcdos Gomodisturbio dismorfC( muscular mais vulgarmente conheshy
ruygttYl a vigorexia Tambem descrita como complexo de Adonis
ou anorexia reversiva39 trata-se uma sindrome caracrcrizada
bLW dos seus portadores geralmente homens e independentemente da
sua museulatura (embora sejam normal mente bern desenvolvidos)
deterem uma auto-imagem corporal diswrcida e persistente no
de se sentirem muito pequenos fraeos e frageis
simultanealllente pdo deseio de serem musculados e 0
medo de screm magros desenvolvem uma exceSSlva
exerdcio (ouertrtlining) por um tipo de hiperproteico
e pelo consumo regUlar de produtos sintcticos anab61icos e outros no
sentido de hipertroflar 0 seu sistema muscular A vigilancia dos resultashy
dos obtidos atravcs d3 flta mctrica da balan~ e do espeIho bem como
a reClef1iii~aoae e Slmeshy
tria de cada museulo e tambcm constante
riscos que potencialmente correm continuam a acreditar no seu poder
autocontrolo e em mante-Io em nome da sua saude Efcmeras ilus6cs
prometeicas que a seu tempo sc poderao transformar em f1tais
soes
255
CLASSES ASSOCIATIVISMO E ESTADO
edos (200~) Cultura da e vol 3 nY 13-25
in A Festa EdlJCaao Fisica Acampanh anti-patriotic que n 5279 17 ana 6 de JUlho de 1926
Jorge Crespo (1977) Hist6ria Ludens 2 n 1 45-52 Rui Gomes (1991) Poder e saber 0 corpo (1936-19401 de Educoao n 2middot3 Building a motor habitus physical in the Portuguese Estado Novo Intrmiddotmrrtionn
ofSpGrt vol 45 0 1 pp 23-37 -1 Prlt3tj r a corresponde ao que em
em muio as tor mas mai~ retentes e
5
in Ant6nio forg)
(19901 volw co POllugal Contemporonco (1926- (958) vol IV Usboa Alfa 333-338
10 In Ines (1999) Dons eDisciplinas do Corpo Feminino 0 OiscursoS5obre 0 COPO nu Historin do Esturio Novo bsboa Qrqanizcoes Nao Govt~rnamcntais do Consultivo Comissao 19ualdade e
3940 CGvalho (2005) lxplorando transferenci8lt nal prrmeiras deeadris
S~(ulo An61iseSocfaf vol XL nO 499-518j
12 In Hui Gomes (1991 I op 130 musculado dr Taborda chamava
do ~e(u0 nao Coriu dos Reereio$ do Desportos tambem aDs pal(os alem de ter sido (incovezes campeao rnundial e vezes
europeu de luta livre foi ainda ballarino Udo ern Paris e como duplo em algumas ploduoes de
Garcia Alvarez Onde para a rua ern corpinho bern Record Ana XXiii n 21B915 de Junho 1972 p 9
15 Ver Valter Cutum e IdentidadeA costuro social do moda em lIumanas (tese doutor
idrntitariamp na ocie Ide da Silva (orgs) tineroriw
pp671-689 17 Olivia Newton~ John liderava lugares clmeiros tops de vend as com a
can lao Lets get Physicol Jane ronda tornava-se na de marea da aerobica urn novo sistema fisieo mente teve exito atravegt do livra video best-seliersJane fondas Workout Nestes a dernonstrava eio a ern Beverly Hills por forma ao pratieante poder reproduzi-o no recolhimento do mats convlesse
1B Pam se ter uma no~ao compsritiva 0 futebol tem 1D0Y madamentc 150 mil praticantes federados ern Portugal 19 anuais elaborados Deia International Health
Association em (onjunto com J DeJaiHe e furor neilmente cedidos pea Associaao de Empres3s de Gi nasi os eAcademias
256
PESOS HAlTERES E SENTIDOS DOS CORlOS (H)AlTERADOS
19921) 0 Crepuscuo do A Etica Indolor des p129
a frente sao provenientes de urn con~ rnUSCLH3cao 110 ambito do de investiga~ao
por Vi tor a deeorrer no
maSCUlniOaCie in Miriam Golddenberg
[uitu[ois reoctonadas com 0 estetica eo jcrrl-eMo Otlsfrvat6r[o Que 0 Estado ja navia atraves da de distiplina de
Crespo Pedro Alcltlntara do (2009) 0 Estadoda Saude em Portugal USDaa Impreno
d~ (~iend3s Socials Segundo dados pelo Eurobarometro em 73 da populao nao praticava
reguiarmente exercicioshyVitor Seraio corpo in Machado Pais
peronte 0 Corpo Geiras Celta
qualquer reiaao d~fecta de causa-delta medida qlle ficarnos estimular a pratica de exerricio fisico
rontrario previa refexivamente PBra 35sodados asua
i~aizado noambJto do Observat0rio Perma-Ver Vftor Fcrrrira
33 Onde de metade (49) admitiu muscula~ao acrescendo 18 que afirmaram ter praticado
o
reverse
Adalescincio Latinoomericono volume 2 n 2 pp 97-101
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CLASSES ASSOC1ATIVISMO E ESTADO
que os cultorcs da muscula~ao a actividade adamando
a sua preocupatao com a saude e 0 bem-estar presente e fururo represhy
sentando-a como uma mobilizada no scntido de manter ou
a forma e obter a imagem um corpo sauc1avel e atrashy
ente 0 facto c que a compreensao sempre positiva da entre cxershy
dcio e saude como afirmam Bagrichevsky e Estevao nao passa de uma
hipotese optimista38 Apesar de prevalecente enquanto ideal e a priori ramada por certa e incontroversa a rnixima despo[m c saude esconde
luitas vezes vivencias e representatoes
Com efeitoexistem cada vez mais situatoes em que as pretensoes
perfeccionistas e aobsess5n pela saude e peIo collt-mio do corp( podem
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mtermizados e
cinicamentc susceptivcis de sercm
J iuttoloeia do corpu
- ou
e saudiyei de lut ~e iessente a socdde e middotem grande
em exerdcio
dependentes dapropria imagem corpotal bull 1
-r que cnarm ltIe a qual sc esfof~m ao miximo por manter e
~oar -- compulsivos dotados grande perseveran~a t toleshy
rfll1cia ao sofriPlento traduzido em sintomas como a dor a exausshy
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Eu viciei-me nlquilo Viciei-me mesmo em ginasio Se nao fosse
para era como uma docnlta Tinha que if Era mesmo
6bcecado com aquilo C)Queria hear grande E fiquei V) 0
nvo era corpo como deg dessamiddotmalta que a gente ve af
( ) Depois toma-se urn vieio qucrer atingit (ilo
28 ANOS 100 amp10 DESEMPREGADO lRATICANTE DE MUSCULAltAo
HUSCUlaltao nunca pode vir a ser um problema Pode vir a scr
urn quando hi eXCt5SOS ( ) Mas os excessos nao controshy
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251
PESOS HALTERES E SENTIDOS DOS CORPOS (H)ALTERADOS
mas controlados Os excesses tem que scr controlados Cbull ) A nIve
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28 ANOS 110 ANO pOLfClA PRATICANTE DE MIJSCULAltAo
Apesar de serem mobilizadas no sentido da conformidade aos rnodeshy
los corporais referencia e reverencia as praticas muscula~ao e seus
sistemas f1sicos derivados podem a qualquer momento ver-se desvirtushy
no seu sentido original quando os projectos corporais que alimenshy
tam se rll1icalizam pdo excesso de di~ciplina na eonformdade aos
1l10delos de referencia institufdos Este de comportamentos hipershy
diciplinad)s pode traduzir-se por exemplo em comportamentos
sifcdos Gomodisturbio dismorfC( muscular mais vulgarmente conheshy
ruygttYl a vigorexia Tambem descrita como complexo de Adonis
ou anorexia reversiva39 trata-se uma sindrome caracrcrizada
bLW dos seus portadores geralmente homens e independentemente da
sua museulatura (embora sejam normal mente bern desenvolvidos)
deterem uma auto-imagem corporal diswrcida e persistente no
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simultanealllente pdo deseio de serem musculados e 0
medo de screm magros desenvolvem uma exceSSlva
exerdcio (ouertrtlining) por um tipo de hiperproteico
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sentido de hipertroflar 0 seu sistema muscular A vigilancia dos resultashy
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riscos que potencialmente correm continuam a acreditar no seu poder
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255
CLASSES ASSOCIATIVISMO E ESTADO
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Jorge Crespo (1977) Hist6ria Ludens 2 n 1 45-52 Rui Gomes (1991) Poder e saber 0 corpo (1936-19401 de Educoao n 2middot3 Building a motor habitus physical in the Portuguese Estado Novo Intrmiddotmrrtionn
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10 In Ines (1999) Dons eDisciplinas do Corpo Feminino 0 OiscursoS5obre 0 COPO nu Historin do Esturio Novo bsboa Qrqanizcoes Nao Govt~rnamcntais do Consultivo Comissao 19ualdade e
3940 CGvalho (2005) lxplorando transferenci8lt nal prrmeiras deeadris
S~(ulo An61iseSocfaf vol XL nO 499-518j
12 In Hui Gomes (1991 I op 130 musculado dr Taborda chamava
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Garcia Alvarez Onde para a rua ern corpinho bern Record Ana XXiii n 21B915 de Junho 1972 p 9
15 Ver Valter Cutum e IdentidadeA costuro social do moda em lIumanas (tese doutor
idrntitariamp na ocie Ide da Silva (orgs) tineroriw
pp671-689 17 Olivia Newton~ John liderava lugares clmeiros tops de vend as com a
can lao Lets get Physicol Jane ronda tornava-se na de marea da aerobica urn novo sistema fisieo mente teve exito atravegt do livra video best-seliersJane fondas Workout Nestes a dernonstrava eio a ern Beverly Hills por forma ao pratieante poder reproduzi-o no recolhimento do mats convlesse
1B Pam se ter uma no~ao compsritiva 0 futebol tem 1D0Y madamentc 150 mil praticantes federados ern Portugal 19 anuais elaborados Deia International Health
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12 In Hui Gomes (1991 I op 130 musculado dr Taborda chamava
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d~ (~iend3s Socials Segundo dados pelo Eurobarometro em 73 da populao nao praticava
reguiarmente exercicioshyVitor Seraio corpo in Machado Pais
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qualquer reiaao d~fecta de causa-delta medida qlle ficarnos estimular a pratica de exerricio fisico
rontrario previa refexivamente PBra 35sodados asua
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Adalescincio Latinoomericono volume 2 n 2 pp 97-101
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