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Colagens Boemias 3

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MAIS PORTUGUÊS QUE A PÊRA ROCHA!

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COLABORADORES DESTA EDIÇÃOAlexandre Santos, Carlos Rooto, Fredo Xavier,

Filipe Falcão, Inês Carreira, João Colagem, José Marques, Ludgero Almeida, Luís

Nascimento, Marcelinho da Lua, Marco Abílio, Rúben Ferreira, Ricardo Martins, Ricardo

Veloso, Rui Castro, Tiago Nalha.

STAFFAna Ennes - [email protected]

Eduarda Almeida - [email protected] Mia - [email protected]

Liliana de Barros - [email protected] Pereira - [email protected]

Rita Caferra - [email protected] Carvalho - [email protected]

COLAGENS BOÉ[email protected]

www.facebook.com/colagens.boemias12https://twitter.com/ColagensBoemias

PERIOCIDADE trimestral

Será que sou só eu, ou andam mesmo todos fartinhos deste tempo de chuva? Enquanto fazemos os preparativos desta edição, o mundo lá fora parece que desaba. Vai chovendo, e vai chovendo... A Primavera já cá está, mas rais parta esta chuva e este frio que fazem prolongar o Inverno... Definitivamente somos todos bichos de calor! Parece que este tempinho é só para embirrar e tirar-nos a alegria... Que saudades do sol e de fazer a fotossíntese!

Mas então, quando já estamos todos na beira do abismo, decidimos que não. Que já chega! Se está frio e está chover, pois então olha... temos pena! Porque a chuva molha tolos, mas os tolos disto somos nós, então sabem que mais? Deixa chover! Deixem-se molhar! Porque quem corre por gosto não cansa, e correr na chuva até dá para refrescar. É por isso que somos do contra, é por isso que acreditamos quando mais ninguém acredita, e é por isso, e só por isso, que agora está a chover e eu estou-me a rir com vontade de ir lá para fora saltar nas pocinhas de água. E enquanto formos todos pestinhas com o desejo de desafiar o céu e enfrentar a chuva, está tudo bem.

Em abril, os tolos que se molham são as estrelas.

POR KAREN MIA

COLAGENS BOÉMIAS

BUÉ(mios) COLADOS

PATINHAS DE CARANGUEJO

CREME DE COGUMELOS SELVAGENS

COLA-TE NISTO!

MAMINHA DE BOI GRELHADA

CHOQUINHOS COM TINTA

COROA DE TOMATE

BRANDY

ROTEIRO BOÉMIO

OVOS MOLES

SÓ PARA OS FORTES

BROA DE MEL

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Passaram-se séculos e mais séculos, e os descobrimentos portugueses continuam a ser motivo de orgulho nacional, uma época em que fomos os pioneiros na descoberta dos mais profundos oceanos. Se em tempos éramos nós os mais ousados e os mais atrevidos, que sem medo remávamos por mares nunca antes navegados, a pergunta mantém-se: O que raio aconteceu?

De toda a Europa fomos aqueles com a coragem suficiente para enfrentar aquilo que era conhecido como um mar tenebroso, cheio de criaturas, monstros e mitos assustadores que limitavam a expansão de conhecimento do mundo. Num tempo não muito longínquo, éramos os senhores daqueles imensos oceanos, ultrapassamos várias dificuldades, e encontramos terras e povos desconhecidos. Hoje lutamos mais uma vez por levar a essência da nossa cultura além-fronteiras, conquistando e comunicando com outras culturas. Percorrendo agora também os

céus e a terra levamos connosco vontade de triunfar, grupos de pessoas que acreditam no valor do seu país, da sua língua e da sua arte.

Para além do medo criado pelas assombrações marítimas levanta-se uma outra questão, se existisse mais alguma coisa, o que seria? Como seriam os seres destas terras distantes? Existiam mil e uma desculpas para simplesmente nos conformarmos com a nossa existência e reprimir o desejo e a vontade da descoberta.

O reino era pobre sim, mas estávamos em paz e éramos independentes, no entanto, decidimos ir em frente, lutar pelas nossas crenças e marcar o tempo com a expansão portuguesa. O risco era enorme, mas foi deste desafio que se iniciou a mais audaz aventura de sempre. E as consequências agradavam a todos. Obtivemos a glória e a honra das nossas conquistas, e o poder de voltar a sonhar com novas e melhores condições de vida.

COLAGENS BOÉMIAS

COLAGENS BOÉMIAS

Assim o nosso pequeno país cresceu e fomos vistos como os gigantes dos mares. Mas entretanto, parece que este facto da nossa história se transformou em apenas uma memória distante, e agora na beira da praia, tornamo-nos nos tristes Velhos do Restelo, que não acreditam, não sonham, não lutam e apenas se conformam. Há uma falta de horizontes que acabam por nos deixar meios desalinhados daquilo que realmente é o nosso destino. Mas como assim falta de horizontes se estamos cercados pelo infinito? Se calhar, o único problema é que nos deixamos adormecer neste sentimento de orgulho que outrora triunfou.

Procuramos encontrar nos dias de hoje uma nova forma de descobrir, um novo caminho para a liderança. Um caminho que passa pela perceção do nosso património, e das coisas boas que se fazem em Portugal. Não o Portugal país, mas o Portugal das pessoas e das tradições, que se reinventam e adaptam ao novo mundo contemporâneo.

É a nossa vez de aguentar o leme, de içar as velas e lutarmos contra as tempestades, somos nós quem temos o dever de levar a identidade e as tradições da nossa cultura. Os marinheiros já descodificaram os oceanos, agora é a nossa vez de seguirmos o caminho por eles aberto, e levar os nossos conhecimentos, ideais e vivências aos quatro cantos do mundo.

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BUÉ(mios) COLADOS

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PATINHAS DE CARANGUEJO

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TEXTO LILIANA DE BARROS

“Pessoalmente, algo que me caracteriza desde sempre é uma grande curiosidade aliada a um sentido crítico vincado. Por outras palavras, não tenho medo de pensar. O pensamento crítico é um exercício fundamental e se as imagens constituem parte do nosso íntimo mental, porque não expressarmo-nos através delas de um modo entendido como artístico?”

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É com esta declaração que Marco Abílio abre portas às Colagens Boémias a uma viagem pela sua verdadeira paixão: As Artes Digitais. A sua formação artística bebeu em boa parte das artes plásticas, no entanto, como o próprio afirma “Foi precisamente durante o meu último ano no ensino secundário que se deu uma viragem-chave no meu percurso, uma vez, que tive então o meu primeiro contacto com a Multimédia através de uma disciplina chamada Oficinas de Multimédia. Costumo pensar em jeito de brincadeira que não fui eu quem escolheu a Multimédia, mas sim a Multimédia que me escolheu a mim.”

É na Arte Digital que Marco Abílio se sente como “peixe na água”, é algo que o apaixona e o seu trabalho assume uma conotação muito pessoal. “Francamente, julgo que a minha principal inspiração sou eu, isto é, o meu percurso pessoal enquanto sujeito situado num mundo em constante inércia.” Acredita em dias de inspiração e que o surrealismo é a estética com a qual se identifica e da qual provem a base das suas criações. “Não falo, no entanto, de um surrealismo moderno, mas sim de uma corrente surrealista revisitada pela fotomontagem contemporânea: entre pintar uma tela e manipular imagens num ecrã de computador, existem diferenças determinantes que se refletem na estética final da obra apresentada. Quanto a eventuais referências artísticas, também as guardo e posso até nomear algumas como são exemplo as fotomontagens surrealistas de Sarolta Bán ou a genialidade visual latente na monocromia dos vídeos musicais realizados por Woodkid.”

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Até que ponto a manipulação de imagens, fotografias pode ser considerado arte?

“Todas as imagens têm um determinado nível de ressonância emocional em nós, ainda que por vezes não nos apercebamos disso à primeira vista. O mundo visual vibra de uma forma muito preponderante no nosso quotidiano pelo que o impacto de imagens apresentadas segundo uma intenção artística é cada vez mais um desafio nos dias de hoje. Partindo desse princípio, julgo que a criação de imagens inéditas através do processo de manipulação é, de facto, um pólo de criação muito atraente se se pretender cumprir com o objetivo primário de qualquer obra de arte: ser vista, ser apreciada.”

Qual a importância e contribuição da multimédia e das novas tecnologias para a Arte?

“Quanto à contribuição, toda. Quanto à importância, foi decorrente dessa contribuição. A multimédia, derivando das novas tecnologias, permitiu o surgimento de um novo paradigma artístico. Saliento que o conceito de multimédia está intrinsecamente ligado à manipulação pura dos médiuns artísticos para uma combinação artisticamente harmoniosa entre eles. Assim sendo, novas

possibilidades artísticas se apresentaram aquando do surgimento definitivo do conceito de multimédia.”

Achas que a Digital Art será a corrente dominante num futuro próximo?

“Não me identifico com previsões relativas ao mundo artístico na medida em que gosto de guardá-las para mim; no entanto, como resposta à tua pergunta, julgo que o domínio do registo digital é futuramente uma realidade bem provável de acordo com o que está à vista de todos, sim, nomeadamente no que toca à sua propagação nos dias atuais.”

Qual o panorama da arte digital em Portugal? Existe um “lugar ao sol” para os novos talentos?

“Não creio que actualmente em Portugal exista uma grande visibilidade concedida aos artistas ligados ao mundo digital. Acho que ainda estamos demasiado apegados às artes plásticas convencionais, com toda a consideração que tenho pelas mesmas. No fundo, esse apego não é nada mais do que o reflexo direto de um conceito redutor detido por muitos públicos relativamente à arte. Travar essa tendência é ainda, a meu ver, um processo demasiado lento.”

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Que conselhos deixas a quem quer enveredar pela área da multimédia, arte digital?

“Os conselhos que deixo não são de agora: apaixonem-se pela vossa própria necessidade de se expressarem e certamente obterão resultados cada vez mais satisfatórios. Sejam exigentes com esses mesmos resultados de acordo com o vosso grau de aprendizagem. E para desenvolver um bom sentido crítico, vejam com muita frequência

o trabalho de outros artistas, julgo ser muito importante. Mas acima de tudo, encontrem a vossa própria forma de expressão artística, isto é, a forma de expressão artística com que mais se identificam, é indispensável.Desejos para o futuro? Continuar a evoluir artisticamente de acordo com uma aprendizagem constante. E espero nunca dar por mim a concluir que já aprendi tudo.” Boémios, não deixem de visitar o mundo digital de Marco Abílio através do seu portfólio on-line ou no seu perfil no site Behance.

CREME DE COGUMELOS SELVAGENS

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CREME DE COGUMELOS SELVAGENS

TEXTO EDUARDA ALMEIDA

A paixão pela experimentação e pela construção de novas formas, geraram a procura de uma nova técnica. Uma ténica regida pelo poder de observação e pela sensibilidade e textura do papel.

Decorria o ano de 1967, quando nascia mais uma criança na cidade da Trindade, no estado de Goiás, Brasil. Não era contudo uma criança qualquer, mas sim um indivíduo que viria anos mais tarde a contribuir, para o enriquecimento da cultura do seu país. Falamos de João Colagem, um artista que cria embriagantes composições recorrendo ao uso de recortes de papel. Através da sobreposição e da harmonia deste material, descobriu aqui uma nova possibilidade para “brincar” e explorar novas ideias, conceitos e imagens.

Na inocência dos seus cinco anos de idade, João teve o seu primeiro contacto com o universo das colagens. Ainda hoje se lembra do enorme fascínio sentido na altura, da descoberta de um novo mundo, de uma nova arte, mas também dos momentos em que para além do papel, colava também os dedos e o cabelo. É já com 17 anos, que se apercebe do que quer e não quer fazer no seu futuro. João confessa que, “O mundo de escritório, terno e gravata não faziam parte do meu perfil profissional”, e onde o ato de fazer arte se encontrava cada vez mais implícito no seu dia-a-dia.

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CREME DE COGUMELOS SELVAGENS

O combustível para a realização dos seus trabalhos baseia-se no poder de observação, e na utilização da intuição. Seduzido por estas características, direciona o seu olhar para as pessoas, analisando não só os seus movimentos corporais, mas também as suas palavras. Partindo deste poder psíquico de observação desenvolve o seu processo criativo, que combinado com um espaço onde as ideias fluem e ganham novas formas, cria obras complexas, simbólicas e elegantes. Talvez por causa da perceção que tem do Homem, utilize em alguns dos seus trabalhos a silhueta do corpo humano, algumas vezes na sua totalidade e em outras ocasiões desfragmentado.

João Colagem admite que a sua inspiração provém de uma pessoa, de uma voz que lhe diz o que deve e o que não deve dizer. Sobre esta voz que lhe sussurra sempre ao ouvido, o artista confessa que já existiram ocasiões em que pensou estar perante “o espírito de Max Ernest”, e que este o forçava a virar involuntariamente o pescoço para o observar. Para além deste constante murmúrio, procura cultivar os seus conhecimentos sobre a arte da colagem, visitando exposições em museus, e conhecendo através da internet as obras de outros artistas. Quando questionado sobre se prefere elaborar a composição das imagens manualmente, ou com o auxílio de programas de computador, este é rápido ao afirmar que prefere o meio mais tradicional. Existe um brilho e uma essência especial no papel, a possibilidade de o poder cortar e de conseguir explorar as diversas opções desta técnica, deixam-no enfeitiçado e extasiado. “Ainda sou um destes apaixonados por gramagem, figuras e celulose”, explicando-nos assim a necessidade que tem de estar em contacto direto com um pedaço de papel.

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CREME DE COGUMELOS SELVAGENS

Jogando com duas personalidades, em que uma delas é bastante complexa e a outra mais simples, procura encontrar um equilíbrio e conjugar as duas de modo a transportá-lo para as suas obras. João explica-nos a necessidade desta dualidade, referindo que o que não encontra no seu lado mais simples serve para que ele tente criar o complexo. Partindo desta complexidade cria imagens sonhadoras e fantasiosas, que servem de experimentação para o lado mais impessoal do trabalho com colagens.

Ainda não teve oportunidade de realizar uma exposição em Portugal, mas admite que gostaria não só de expor no nosso país, como de realizar oficinas onde as pessoas pudessem disfrutar de um contacto mais direto com a sua técnica. Contabilizando inúmeras exibições e prêmios no Brasil, decidiu alargar os seus horizontes para a Holanda, onde reside atualmente. João Colagem é assim um artista absorvido pela beleza da essência humana, em que obra após obra tenta explorar a visão que tem da sociedade, e retratá-la utilizando simplesmente recortes de papel e tubos de cola.

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COLA-TE NISTO!

TEXTO KAREN MIAFOTOGRAFIA RICARDO PEREIRA

Numa destas noites frias e chuvosas, fomos ao encontro de um dos grandes nomes que marcam presença na vida noturna nacional, e melhor não podíamos ter sido recebidos. No Swing Crash, em Braga (Póvoa do Lanhoso) estivemos à conversa com Marcelinho da Lua, cabeça de cartaz da noite. Após ter contagiado a pista de dança com a sua sonoridade eletrizante, o ambiente descontraído e a alegria mantiveram-se durante toda a conversa.

Natural do Rio de Janeiro, Marcelinho afirma que a própria musicalidade da cidade foi um fator importante na descoberta pelo seu interesse na área. Sempre gostou de assistir a várias performances ao vivo, despertando uma certa curiosidade pela atividade do palco, pela questão das bandas, do tocar instrumentos, do como gerir e conseguir esta harmonia musical. Portanto, entre os anos 80 e 90 foi roadie de uma banda, trabalhou como técnico de som num estúdio de gravação e, assim, foi dando os seus primeiros passos no mundo da música.

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COLA-TE NISTO!

Atualmente, dispensa apresentações e exibe um estilo muito próprio de fusões entre géneros, onde alia tecnologia, novidades e tradições à criatividade e descontração que lhe são inerentes enquanto artista.

A inspiração para a sua música parte de situações do quotidiano, coisas simples que se passam na vida desde “a alegria de conhecer uma menina, de uma amizade, ou de um azar de um dia que não correu como você queria, ou de um filho que nasce”. De forma geral, gosta de músicas com vida e presença que falam sobre experiências, mas tendo que mencionar um nome, sem hesitações que a sua banda preferida é The Rolling Stones.

Um dos fatores que eu achei mais importante na preparação para esta conversa, estava relacionado com a diferença de culturas entre Portugal e Brasil, no entanto, quando questionado sobre o assunto, a resposta surpreendeu-me: “Como assim não sou Português? Eu nasci no Brasil, todo o mundo no Brasil é um pouco Português”. E então, Marcelinho explicou-nos que já deu mais de cinquenta concertos em Portugal e sempre foi muito bem recebido e acarinhado independentemente

da situação “quer passe música brasileira ou jamaicana, drum&bass ou dubstep, reggae ou afro-latina, quer seja em ambiente de discoteca ou de queima das fitas”.

“Acho que Portugal é um lugar especial para mim”, afirma, confessando-nos que considera o pessoal do Norte mais simpático e caloroso com ele. Relembra a noite do Enterro da Gata em Braga em que os dois Marcelos (Marcelinho da Lua e Marcelo D2) deitaram a casa a baixo durante três horas, como uma das suas atuações preferidas cá; e o artista português com quem mais gostou de partilhar o palco foi Richie Campbell.

Sobre expectativas futuras pretende ter “uma vida repleta de amor e de verdade do coração” e, num tom mais caloroso, confessa que “podia fazer qualquer coisa na vida, mas não podia viver sem amor, porque o dinheiro é do seu suor, mas o amor é sagrado; porque não é o dinheiro que é ruim, é o ser humano”. E cá entre nós e num tom mais português, além de um excelente profissional, o Marcelinho da Lua é um gajo altamente!

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Rui Castro é um ilustrador profissional, que contabiliza inúmeros livros de contos e/ou educação infantil no seu reportório. Começou a sua formação ao seguir a vertente técnico-profissional de artes gráficas na escola Soares dos Reis, e lá descobriu que uma pequena competição amistosa entre trabalhos de colegas só viria a aguçar o olhar de quem cria mundos profissionalmente. Licenciado em escultura na Faculdade de Belas Arte no Porto, não imaginava que o seu futuro se focasse tanto na criação bidimensional. Um dos primeiros trabalhos que recorda como ilustrador foi na área científica, no qual criou cabeças de animais anatomicamente corretas, assim como representações da evolução do ser humano, segundo os mesmos parâmetros.

A ilustração infantil/juvenil chegou à sua vida através de concursos nos quais passou a participar ativamente, e que o tornou adepto da ilustração de ficção. Isto aconteceu pela captura da sua imaginação, mas também pela forma ideal de concentrar as suas técnicas e estilos que lhe são mais característicos. Não se prende a vitórias ou derrotas, para Rui, “cada trabalho é um trabalho”, e dentro dessa noção esforça-se de forma equivalente em todos eles de maneira a dar sempre o seu melhor.

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TEXTO TIAGO CARVALHOFOTOGRAFIA RICARDO PEREIRA

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“… se me perguntarem qual o livro que ilustrei de que mais gosto, eu costumo responder que é sempre o último que fiz ou o próximo a realizar…”, refere o ilustrador. Com o passar do tempo e com a evolução do seu ofício criou uma consciência crítica na terceira pessoa. Isto surge da necessidade de combater os possíveis erros da sua própria interpretação, visto estar demasiado envolvido no processo, podendo chegar a conclusões que não correspondem à totalidade da realidade.

Rui explica que “Ao acabar um trabalho sinto-me realizado e até satisfeito, mas já não há ali o impacto inicial que é tão importante…” Do seu estilo refere que uma relação de inspiração e influência constante produzem bons resultados. Enquanto aperfeiçoava o seu estilo e técnica, optou por começar pelas formas geométricas de base mais rígidas do que seria esperado, tendo em conta o mercado em que trabalha. Um risco que acabou por compensar, visto que marcou muito mais a sua obra, e contribuiu ainda para a narrativa das suas imagens.

Aprecia o desafio de interpretar textos, poemas ou ideias, e todos os

problemas criativos que acompanham este tipo de trabalho. “Tenho em conta as palavras que me entregam, porém, dou algum espaço à minha interpretação própria desses mesmos textos”, esclarece-nos. As suas formas, composições, cores e texturas são assim um dado incerto até serem invocadas pela obra que esta a ilustrar. Nos seus trabalhos encontra-se também patente uma visão aguçada e escultórica que preenche, levanta ou pressiona as formas conferindo-lhes um núcleo mais emocional e um sentido de que há algo mais para lá das margens visuais do desenho. A emoção não parte tanto da expressão das personagens, mas de uma ação conjunta de todos os recursos estilísticos empregues.

Rui salienta que “…Tem que me surpreender e ter algo diferente de tudo o que fiz para trás...”, tentando por isso partir para todos os trabalhos de mente aberta, quase que um começar do zero de modo a criar uma reação em cadeia nova para aquele desenho em específico. “… é quase como atirar pedrinhas para um lago, cada uma criará um estimulo único e por consequente, uma onda diferente”, confessa-nos.

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COLA-TE NISTO!

Quando questionado sobre a utilização crescente do Photoshop, diz que prefere manter um romantismo sobre a obra plástica que não está tão presente no digital. Reconhece porém as suas vantagens, mas assume que nada supera o real e os riscos de não se poder voltar atrás na decisão estética de um desenho físico. Sobre este processo mostra então uma abordagem principalmente intuitiva, que sem colocar de parte a sua formação técnica, consegue de forma mágica falar-nos mais diretamente, quase a um nível primário, chamando a criança que temos dentro de todos nós para vir brincar e imaginar.

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COLA-TE NISTO!

COLA-TE NISTO!

ARROTO MENTAL

POR LUÍS NASCIMENTO

[...]

acontece, porém, que também eu me levanto, todas as manhãs, do outro lado da barricada. Embalado por mortalhas de seda e ao som de autocarros vespertinos, fartos e gordos - devoradores de operários- regurgitam-nos, lá pelos portos, nas vénias que o betão faz perante o mar.

Aufiro associações provisórias de sentimentos a memórias. Endurecem-me a almofada.

[Sento-me e sou coroado com espinhos.]

Tinha nome de mulher quando, para mim, não precisava de nome. A sua pele [pausa] nossa pele, era feita de doce de morango e manhãs de primavera tão cheia de novos começos- sem recapitulações icónicas de pecados velhos. Os dedos por entre os dedos, por entre os cravos.

A ausência de exuberância que agora te popula o rosto, volumosa e melancólica, quase irmã ao silêncio dos mortos, é a garantia de que ainda respiras, Liberdade.Era triste pensar-te assim, conjeturar quem te lançou andrajosos feitiços...

E é vê-los cavalgar bombas e motoristas. Vêm de longe. Vêm de ontem e de sempre. Em bandos.

[a água já corre... Já demasiado fria. Já demasiado quente. Afoga-me em juízos]

Convenientes gravatas negras são medalhas.A efetiva interação distópica que mantêm com a realidade. Um café, jornal, debaixo do relógio dourado insinuando habilidades sectárias e “Quem manda aqui sou eu”. Pastas pretas, gulosas, embriagadas com cunhas veladas e secretas, heranças de corredor e cama, revogam qualquer perceção de mérito.Prostituem mãos esquerdas e sorriem com caninos solidários. Injetam corantes no que tem sabor a fome.

Espíritos banqueiros, delimitadores de fados, alimentam vorazes autocarros vespertinos com os que não têm nada senão o que nunca pediram. Feiticeiros...

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COLA-TE NISTO!

[Seco. Desapareço num espelho baço. Tusso. A tosse lembra-me de que é porque fumo que eu tusso e, vai daí...]

Todas as noites, a meia página [barra] a meia vida, prostituo assinaturas em prol de um Deus que me quer como que a um bastardo. Todas as noites recolho [barra] relembro e embrulho sinopses. Combato corpo a corpo a vida vivida/imaginada de um qualquer Pessoa. É carnificina.

Jorro pelos dedos sangue coalhado - preto velho- são ossos e músculos que condecoram paredes imaculadamente brancas. Formulo um talho de Homens vendidos a retalho! Não são o que são, antes, o que podiam ter sido. Catalogo, arrumo e desenrolo operários. Estico-os. Estico-me e adquiro proporções Olímpicas.

[O café ferve.]

Filho bastardo de um deus menor, sou, na génese, uma puta das minhas não-vontades que vive num castelo de areia. Espero que a maré encha...

[Coloco a gravata, agarro o jornal e a pasta, confirmo as horas. Saio para devorar.]

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TEXTO RICARDO PEREIRAFOTOGRAFIA ANA ENNES

Cada vez mais somos rodeados pela evolução do virtual, e por isso acompanhamos o desenvolvimento da internet e de todo o ciberespaço. São vários os utilizadores, que acessam assiduamente a páginas como o Facebook e Youtube.

Para esta comunidade, o nome «O Estrondo» não deve de ser de todo um título desconhecido. Falamos de um vídeo que navegou por todas as redes virtuais, que tem uma duração de trinta minutos, sob o formato de curta-metragem, e que acabou por alcançar um enorme reconhecimento num curto espaço de tempo.

CHOCOLATE QUENTE

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Representando uma caricatura da nossa grande cultura nortenha, combinam o humor e sarcasmo que a caracterizam, com a genuinidade, empenho e dedicação pelo que realmente gostam de fazer, cinema. A amizade e o bom ambiente entre todo o elenco, faz com que as coisas funcionem tão bem atrás das câmaras, o que é observado pelos seus inúmeros seguidores.

Procurando dar continuidade a este enorme sucesso, Rúben Ferreira, realizador, Alexandre Santos e José Marques (Zé da Branca), atores, uniram mais uma vez forças e criaram novas aventuras para os nossos “Gunões” preferidos. Surge assim o «Estrondo 2», apresentado desta vez sob o formato de longa-metragem, e focando-se numa linguagem cinematográfica mais elaborada, abrangendo ainda a linha de comunicação, passando da internet para a divulgação em festivais.

O jovem Rúben Ferreira é amante de cinema desde que se lembra de existir, começando a produzir os seus próprios vídeos com apenas onze anos de idade,

e nunca mais parou. Motivado pelo prazer de criar, o realizador da Dark Studios tem evoluído cada vez mais nos seus trabalhos, mostrando um grande desenvolvimento cinematográfico a cada passo que dá. É todo este acumular de experiência e de novos conhecimentos, que o tornam cada vez mais próximo do grande ecrã. Não existem dúvidas que a Dark Studios e o seu inventor não vão ficar por aqui, vão sim continuar a surpreender com a qualidade e inteligência dos seus trabalhos.

“Quero explorar novos argumentos, novos conceitos e estilos, pois ainda tenho muito para aprender, não quero ser reconhecido só pelo «O Estrondo» ”, explicando a necessidade de não se encontrar preso a nenhum estilo específico. Apresenta, ainda, uma grande inclinação para os filmes de terror ao estilo de Hollywood, mais na subcategoria de “Slasher”, em que quase sempre envolve assassinos e psicopatas que matam aleatoriamente. Na saga de “O Lenhador”, mais uma obra sua, é possível observar-se estas influências.

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Alexandre Santos e José Marques destacam-se bastante pelos seus impulsos de “Gunão”, mas também pela forma de improvisar no momento. Alexandre chega mesmo a dizer “como qualquer avó diria: Aquele rapaz não tem papas na língua”. Este jovem é um verdadeiro romancista pela cultura Nortenha, e escolheu o formato do cinema/vídeo para retratar a sua visão sobre esta. O reconhecimento adquirido ao fazer vídeos intitulados de “A Gunada”, motivou-o a continuar este projeto, que nasceu inicialmente de uma brincadeira entre amigos. O ator afirma que “ (…) não quero dizer que a minha ideia tenha sido muito original, mas ao menos tive os tomates para o fazer”. É de admirar este tipo de atitude, especialmente nos dias de hoje, em que a motivação para fazer seja o que for é cada vez mais escassa, mas quando fazemos o que nos vais na alma, não existem barreiras.

O sucesso da personagem Alex no filme «O Estrondo» parte simplesmente de uma representação exagerada dele próprio, aliás procura manter sempre essa postura em todos os seus vídeos, “Não gosto de me seguir por guiões, sei o que tenho a dizer e deixo as coisas fluírem”. Alexandre pretende chegar a novos patamares, e um dos seus principais objetivos é ser apresentador de televisão e envergar pelo caminho da representação.

A união entre Alexandre Santos e Rúben Ferreira foi um total acaso. Apesar de estes já terem comunicado via internet, e de respeitarem muito os trabalhos um do outro, ainda não se tinham encontrado em nenhuma ocasião. Rúben era um fã dos vídeos da “Gunada”, e Alexandre por sua vez, sempre apreciou bastante o trabalho do primeiro. Mais tarde, o destino juntou estes dois indivíduos e conduziu-os ao reconhecimento através do filme, que viria mesmo a mudar as suas vidas. Apresentando uma grande cumplicidade, em que a geração de ideias está em total sincronia, Alexandre explica que, “ A partir

do momento que temos o argumento feito, é só deixar a representação comigo e com o Zé, as filmagens com o Rúben, e foi assim que fizemos «O Estrondo» num dia”.

Trabalhando sempre entre amigos, a produção destas sequelas nem parece trabalho, mas sim mais uma simples reunião entre eles, em que existem conversas cruzadas, e um prazer enorme em imitar os “Gunões” do norte do país.

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MAMINHA DE BOI GRELHADA

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MAMINHA DE BOI GRELHADA

TEXTO ANA ENNES

Nascido em 1989 na cidade de Guimarães, Ludgero Almeida reside atualmente em Santo Tirso, Vilarinho. Definindo-se como inconstante, solitário, pensador e absurdo, admite que “o contrário também acontece!”, fazendo referência a uma palestra de Fernando Távora. Iniciou o seu percurso no ano de 2001, com a entrada na Fundação Jorge Antunes, onde teve oportunidade de ter aulas de pintura com o mestre Manuel António, o “Pólen”. Daqui resultou a sua primeira participação numa exposição coletiva, em Vizela. Deu continuidade à sua formação no secundário, optando pela área das Artes Visuais, e acabou por entrar em 2007 na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, onde se licenciou em pintura.

Posteriormente rumou até ao país vizinho, mas precisamente até Valência, onde permaneceu em Erasmus durante quatro meses. Desta experiência, Ludgero relembra a performance “O Sacrifício da Primavera”, baseada na obra de Stravinsky, como “o momento em que o artista é a obra de arte, e a obra de arte é o artista”. Considera-se uma pessoa de várias paixões, dividindo o seu tempo entre o teatro, performances, o trabalho a nível da escrita, a escultura e a mais recentemente descoberta, a música. No entanto, quando questionado sobre se a pintura seria a sua verdadeira paixão, este confessa que desde que tem memória, que tem vontade de desenhar e registar momentos, e que “ (…) a pintura veio através do desenho, (…) o preenchimento, as cores”. Numa tentativa de relembrar o passado, diz ter duas memórias de acontecimentos da sua infância. Numa primeira instância, relembra quando estava no chão do quarto a tentar copiar o retrato de um autor, que agora lhe é desconhecido, seguindo-se depois a reprodução de alguns trabalhos pictóricos de uma bíblia, bastante complexa, que pertencia ao seu pai.

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MAMINHA DE BOI GRELHADA

No que diz respeito aos movimentos artísticos com que mais se identifica, o artista explica “ tu és diverso e portanto é impossível e até perigoso catalogar um artista e seus atos”, admitindo que este processo o pode delimitar como indivíduo. Acaba no entanto, por escolher o surrealismo, dadaísmo e expressionismo, como aqueles que podem ser mais facilmente reconhecidos nos seus trabalhos. Atingido com informação por todos os lados, revela que o livro “Ir à India sem Abandonar Portugal”, de Agostinho da Silva (1906/94) é para si uma influência por demonstrar como “às vezes a ideia se atravessa no pensamento”. Para além deste, tem uma enorme admiração pelo artista Pepe Sanleón, com quem se cruzou nas aulas de pintura durante o período em Valência.

Sobre as técnicas e cores presentes nos seus trabalhos, Ludgero esclarece que já passou por três fases distintas no que diz respeito às tonalidades, e que estas mudanças devem-se a um conjunto de fatores externos. Numa primeira instância trabalhava com os castanhos, seguindo-se o uso de azuis e vermelhos, e mais recentemente a utilização do preto e branco. Esta última fase surge do último ano passado na Alemanha, em que a curiosidade de trabalhar com os tons monocromáticos aparece dos passeios entre Ochtrup, Colónia e Munster, onde as paisagens são cinzentas e frias. Ao longo de todos estes anos utilizou o óleo, que lhe permitia um processo meditativo, contudo nos últimos trabalhos passou a optar pelo acrílico, conferindo assim uma expressão mais violenta e rápida.

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Considerando a utopia e o futuro um “não-lugar”, pensa que seria ingénuo ter perspetivas para um futuro, pois seria necessário ter em conta diversos fatores “que estão apenas ao alcance do caos”. Embora lhe pareça que a sociedade caminha para uma distopia, pretende dedicar-se exclusivamente a uma procura do “eu” com o mundo. Se isso lhe for presenteado, diz que provavelmente irá dar à costa da ilha de Thomas Moore, que é descrita no seu livro “A Utopia” (1516), como uma ilha imaginária onde todos vivem em harmonia e trabalham em favor do bem comum.

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CHOQUINHOS COM TINTA

TEXTO TIAGO CARVALHO

Filipe Falcão, é um jovem português, conhecido por ter um espírito livre, ser um eterno pensador e um genuíno criador. A forte necessidade que tem em sentir, pensar e manifestar, é transcrita para os seus trabalhos. Pairando sobre os espectros da confeção e da ilustração de moda, procura fazer uso de uma área em função da outra, de modo a expandir não só a criatividade, mas também alcançar uma visão mais profunda das coisas. Sempre revelou uma faceta extremamente criativa e muito autodidata, investiu por isso, numa formação artística adequada ao seu percurso de vida. Contudo, afirma que só muito recentemente, e por opção sua, decidiu envergar pelos dramas do traço e começar a desenvolver o seu estilo dentro da ilustração.

Para Falcão, as ilustrações partem de uma funcionalidade bastante assumida e útil, a de expansão conceptual e científica, onde procura o melhoramento das suas soberbas técnicas de confeção. O seu traço começa já a denotar alguns dos campos e influências presentes na sua criação. Falamos não só, de uma vertente clássica do desenho de figura propriamente dito, mas também de influências profundamente marcadas pela sua infância, nomeadamente pelos grafismos do “Manga” japonês. É partindo destas bases, que começa a alongar os corpos, a puxar as formas e a esculpir os detalhes, conferindo um look limpo, sofisticado e equilibrado.

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Em termos de execução, opta por uma mistura de técnicas entre o desenho manual, e o tratamento em Photoshop. Através destas duas técnicas, consegue uma otimização de tempo da produtividade, mantendo sempre a possibilidade de efetuar alterações em qualquer ocasião. Apesar do forte interesse na ilustração de moda, o jovem refere que esta surge como complemento da confeção do vestuário, “ (…) quando estou a desenhar penso muito na construção da mesma peça (…) ”.

Apresenta cada vez mais um estilo muito próprio e original, onde a necessidade de explorar e arriscar é cada vez maior. O contorno marcado e acentuado dos volumes, e a inclusão da trama como complemento oferecem uma junção do clássico com o mais primário e emotivo. “ (…) O barroco do corpo feminino tem umas formas boas para desenhar (…)”, confidencia-nos Falcão sobre a elegância e beleza do ser humano.

Outro conceito fortemente explorado pelo designer é a noção de sublime, não tanto em termos naturais, mas mais a nível humano. Recorrendo à utilização de antíteses naturais da alma, força-as a conviverem,

a misturarem-se e a darem origem a algo novo na perceção do ser. Um belo exemplo desta racionalização é a ilustração denominada simplesmente de “Shame”, em que o nome e a sua composição transmitem vergonha, vulnerabilidade e uma distorção daquilo que para nós é sólido e verdadeiro. Porém, Falcão não nos mostra o resultado deste terrível e destrutivo processo, a que chamamos vergonha, mas revela-nos antes um olhar sobre o tipo de defesas que construímos à nossa volta, a “armadura” que todos vestimos no começo de cada novo dia, “Interesso-me pela defesa do indivíduo na sociedade, ou seja a própria modificação ou distorção de cada um conta”, acaba por confessar.

Este aprofundamento conceptual que faz em termos humanos leva-o a criar imagens carregadas de ironia, mas ao mesmo tempo revela também empatia, por aquilo que todos experienciamos, pela vida, o belo, e o feio em cada um de nós. O seu trabalho fala-nos de algo mais, algo escondido em todos nós que ao invés de se revelar, mostra-se especialista em se disfarçar das formas mais bonitas e opostas possíveis.

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COROA DE TOMATE

POR RITA CAFERRA

1. Hugo Costa Dreamer at Malandro Collection 2. Vitor São Paulo Collection 3. “100 Miles and Runnin SS13” por Elisabeth Teixeira 4.“100 Miles and Runnin SS13” por Elisabeth Teixeira 5.Pedro Jorge SS12 6.Pedro Jorge SS12 7. Mima SS13 8. Leather belt with Aztec motif French Connection 52,52€ 9. Slim chinos with embroidery ASOS 23,63€ 10. Lovebullets Bracelet with balls ASOS 72,22€ 11. Eureka shoes por Filipe Sousa 90,93€

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Uma das grandes tendências desta Primavera está diretamente ligada ao material do vestuário. Os looks combinam-se mesclando diferentes tecidos e os jogos de texturas são um must-have da estação.

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1. Gerlan Jeans SS12 2. Gerlan Jeans SS13 3. Gerlan Jeans SS10 4. The Olive Shop Black denim Bomber jacket 114,20€ e Kerhao quilted mesh track pants psc 5. Mariana MorgadoKryptonee SS13 6. Buffalo X Solestruck 187,74€ 7. Lattice skinny jeans 67,45€ Nasty Gal 8. Foil and Fringes collar Starstyling 44,45€ 9. Crop Circle tee Nasty Gal 91,98€ 10. Hair Color Rub Pink Nasty Gal 9,20€ 11. Warior Ear cuff Nasty Gal 9,20€ 12. Camisola costumizada por Cats Brothers psc 13. Floral Crop Top 34€ Topshop 14. Calções customizados por Cats Brothers psc 15. Arrow Flare Earings Nasty Gal 13,80€ 17. Gerlan Jeans Acessories psc 18. Nina2 Heel Jelly Sandals 34€ Topshop

Têxteis trabalhados, apliques sobre o tecido, missangas e franjas dão vida aos coordenados. Os tecidos transparentes misturam-se e contrastam com os outros materiais. As transparências em forma de impermeável protegem-nos das águas de abril revelando as silhuetas e até mesmo o corpo.

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Nesta estação alegre e florida os estampados refletem o espírito da Primavera cobrindo as peças com motivos geométricos, efeitos de espelhos, conotações étnicas e culturais relembrando por vezes a estética da pop-art.

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1. Bandan pattern fruit ASOS 5,25€ 2. Aztec Cap ASOS 15,76€ 3. Senhor prudêncio shoes SS13 psc 4.” We come in peace” T-shirt Gerlan Jeans 84,31€ 5. Libertine Libertine shirt ASOS 131,30€ 6. Mima Voyage SS13 7. Mr. Gugu sweater 45€ 8. Imprimé tête de mort t-shirt ASOS 17,06€ 9. Peace Tee W.I.A 56€ 10. Guava SS13 11. Plantlife Socks Huf 16€ 12. Labadass “Crazy cush” 57,48€ 13. “High” waist-ed shorts 36,79€ 14. Nike air force 99,64€15. Huey Gladiator sandals Topshop 26€ 16. Highbrow shades NG 30,66€ 17. Simpson shirt Romwe 25,29€ 18. Bart simpson shorts Romwe 21,29€ 19. Curled Bracelet Cinco 20€ 20. M.I.A Clothing line psc 21. Pow wow tote NG 153,29€ 22. Hair Color Rub Pink Nasty Gal 9,20€ 23. Chaos Theory leggings NG 76,65€ 24. Yanchi Jun Xperimental Shoes 140€ 25. Gerlan Jeans Cocktails at capsule pvc 26. Necklace Inchild 78,18€ 27. Amigluv women’s footwear psc

COROA DE TOMATE

1. HD tee 65€ and trousers 69€ W.I.A Collections 2. Gerlan Jeans SS13 3. Gerlan Jeans SS13 4. Relógio Nixon “The re-run model” 68,94€ 5. Adidas Jacket 124,74€ 6. Icon portfolio paper 19,70€ 7.Buffalo Men Texas in oil negro 153,25€ 8.Two-angle boombox t-shirt 39,39€ 9. XBomber W.I.A 295€ 10. Calças colecção Denim Salsa Jeans 79,99€

2013 é um ano marcado pelo desporto e isso reflete-se também na moda. Com uma vertente dos 90, esta tendência encontra-se em todas as estações, tornando o sports wear o novo urban style. As peças que compõem os looks distinguem-se pelo corte modernizado do típico “fato de treino”, estampados originais e materiais arrojados.

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1. Roses trousers and jacket W.I.A Collections 75€ 2. “100 Miles and Runnin SS13” por Elisabeth Teixeira 3. M.I.A outfit 4. Bomber jacket AnaOanA 120€ 5. Misuki Shin Xperimental Shoes 140€ 6. Infinity crop tank Nebula 45,99€ 7. Chunky bracelet Cinco 15€ 8. Quilted stud sweatshirt Nasty Gal 59,78€ 9. Gerlan Jeans Fuck off Tee psc 10. Pot earing Gerlan Jeans psc 11. Moto acid crop denim shirt 36€ Topshop 12. Hair color rub Green Nasty Gal 9,20€ 13. Handy suspender leggings 49,82€ 14. Buffalo platform 52,80€ 15.Obey cap 24,53€

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1. Pantera Bomber W.I.A Collections 295€ 2. AOA+WIA Ash tee 28€ 3. Tupac t-shirt costumizada por Cats Brothers psc 4. Relógio Effiency chronograph Swatch 89,18€ 5. Alargadores 20€ 6. Collar clips Layne Mikesell 3,83€ 7.Mask Tee Glint shop 72€ 8. Skull Tee 45€ W.I.A. Collections 9. Ténis Nike costumizados por Tiago Carvalho

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Coleção: Frame do TempoDesigner: Rita CaferraModelo: Inês CarreiraFotografia: Rita Caferra

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TEXTO EDUARDA ALMEIDA

Desafiada pelo vasto património cultural e histórico de Portugal, Rita Caferra lançou a coleção “Frame do Tempo”. Idealizada para as estações mais frias do ano (Outono/Inverno), esta é uma coleção que viaja até aos revolucionários anos 70. Uma época conhecida por grandes mudanças, de luta pela liberdade de expressão, leva não só a uma revolução da população, mas também a uma explosão dos movimentos culturais, sociais e artísticos. As mais variadíssimas áreas criativas saíram à rua, e deram finalmente o seu grito de liberdade. A “Frame do Tempo” inspira-se no movimento da fotografia dos anos 70, e no registo de momentos que retratam esta passagem para a liberdade. Através dos olhos e dos ideais da artista plástica Helena Almeida, esmiuçaram-se as suas obras com o objetivo de encontrar frames de momentos, sentimentos e histórias vivenciadas na ditadura portuguesa.

Apesar do vasto leque de obras da autora, a coleção é inspirada em apenas dois dos seus trabalhos: “Tela Habitada” (1976) e “Ouve-me” (1979). Em ambos é possível observar um sentimento de revolta, em que a sua voz e o seu corpo foram enclausurados. É este mesmo sentimento que se procura retratar nas peças de vestuário, através da perfuração do pano, e do desejo de poder sair e exprimir-se (Tela Habitada) e da fragmentação da boca, que se encontra cosida simbolizando a privação à liberdade de expressão (Ouve-me).

Apresentando uma coleção de cinco coordenados, em que há uma conjugação entre as cores térreas, as formas perfuradas das peças, e todos os acessórios que a complementam. Cordas, linhas cosidas à mão e os próprios pespontos dos tecidos criam uma harmonia com o seu todo, e conferem à “Frame do Tempo”, uma retrospectiva de um dos grandes marcos da cultura lusa.

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Através de uma visão atenta ao que nos rodeia, procurando a valorização de espaços alternativos que nos contam histórias, repletas de experiências que preenchem memórias, surgiu o Roteiro Boémio.

Uma colagem em que as palavras se unem ao poder da fotografia percorrendo as mais diversas cidades da nossa estimada nação.

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TEXTO EDUARDA ALMEIDAFOTOGRAFIA ANA ENNES

A arte do artesanato consiste na “manufatura de objetos com matéria-prima existente numa determinada região, produzidos por um ou mais artificies numa pequena oficina ou na própria habitação”. Foi partindo desta ideia base, que as “Colagens Boémias” foram ao encontro do artista plástico Carlos Rooto. Carlos é proprietário de um estabelecimento de artesanato, de nome “Capitólio”. Localizado na Rua da Rainha, em Guimarães, a loja apresenta um vasto leque de peças realizadas por alguns artesãos minhotos.

A escolha de um nome que representasse a identidade do projeto foi complicada, várias eram as hipóteses pensadas e discutidas, até que finalmente se chegou a um consenso, surgindo assim o “Capitólio”. Segundo o proprietário, este nome consagrou-se vitorioso “por causa da cúpula que este edifício apresenta”, abrangendo neste caso “todo o passado, história e património do país, mais especificamente de Guimarães”.

Começando inicialmente numa loja de dimensões mais humildes, em que as obras estavam mais vocacionadas para a arte sacra e para a reconstrução, Carlos Rooto encontrava-se a poucos passos de expandir o seu projeto. Mudando de localização há já quase um ano (Maio de 2012), refere que só necessitou de “fazer algumas reparações no espaço” e aproveitou para colocar algumas instalações, que caracterizam a identidade da marca.

“O que nos ajudou a lançar e dinamizar o espaço foi uma coleção de peças que eu realizei e apresentei à fundação Guimarães Capital Europeia da Cultura 2012”, confidencia-nos. Após ter patenteado e licenciado o produto, começou não só a comerciá-lo no “Capitólio”, como a revendê-lo a outros estabelecimentos. Porta-chaves, magnéticos, bolsas em cortiça, o “coração da cidade de Guimarães”, são alguns dos produtos que se podem

Rua da Rainha Dona Maria II, nº57/59, 4820-142, Guimarães, Portugal.

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encontrar relativamente ao memorável ano de Guimarães como Capital Europeia da Cultura, e agora como capital do desporto. Para além disso, também se podem ver peças de artesanato sobre a cultura portuguesa, através das mulheres e homens minhotos, da festa do pinheiro, do D. Afonso Henriques, da “cantarinha”, e de casas de madeira, que servem de mealheiro, candeeiro ou porta lápis.

As obras de artesanato existentes são todas realizadas à mão, não só por Carlos Rooto, mas também por um grupo de artesãos criativos da região do Minho. Oferecendo constantemente um vasto leque de peças novas e de inspiração na cultura portuguesa, procuram um reconhecimento negado em outros tempos, mostrando o que de melhor há no artesanato português. Trabalhando sobre matérias-primas, como o barro e a madeira, estes artistas procuram reinterpretar a nossa cultura tradicional. Este é aliás um dos fatores que caracteriza o “Capitólio”, procurando oferecer sempre aos seus clientes produtos inteiramente portugueses.

Numa altura de crise económica e política, cada vez mais se dá valor ao que é “nosso”, ao que é produzido pelo nosso país. Com isto Carlos Rooto procura não só mostrar a sua paixão pela escultura e pelo artesanato, como também incutir a ideia na população “de que devemos valorizar o que produzimos, e comprar as nossas raízes”.

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TEXTO TIAGO CARVALHOFOTO ANA ENNES, RICARDO PEREIRA As Colagens Boémias saíram à noite, o

que nos reservava a acolhedora terra das Taipas ninguém o podia dizer, mas foi aqui, no escuro da noite e sobre o refúgio das estrelas que encontramos abrigo, no bar/discoteca “Ikê”.

Um sítio colorido, brilhante e sofisticado, que convida jovens de todas as idades a passarem por lá. Depois de tiradas as primeiras impressões e concluídos os cumprimentos, sentamo-nos à mesa com o dono do espaço, Ricardo Veloso. Dotado de uma alma empreendedora, mas acima de tudo musical, coordena tudo o que ali se passa.

Desde cedo encontrou a sua paixão na área musical, contando com 22 de trabalho como Dj, com o nome de Ricky Veloso. Sempre se mostrou bastante atento às mudanças musicais, viu e trabalhou em vários ambientes, o que reforçou o seu entendimento das dinâmicas sociais e distribuição de ritmos, que devem estar inerentes numa noite com qualidade.Apesar de algumas trepidações na sua jornada, persistiu, evoluiu, e com apenas 14 anos conseguiu trabalho num dos maiores bares da cidade de Braga.

Mais tarde, conseguiu obter um espaço, também em Braga, mas que nunca se chegou a concretizar, visto ter recebido quase de imediato uma excelente oferta para o vender. Ao mesmo tempo, apresentou-se a possibilidade de trabalhar e construir algo diferente com este espaço, que viria a ser conhecido por “Ikê”.

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Avenida da República, nº 618 - Caldas das Taipas, 4805-121 Guimarães, Portugal

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Prefere manter uma relação direta com o público, contribuindo ao máximo para a diversão destes, através de um convívio amistoso e a junção de diversas sonoridades. Diverte-se ao brincar com os ânimos, não tem medo de experimentar algo novo ou simplesmente algo essencial ao momento. Seja através do nível de músicas ou de quem as seleciona, é este empenho e dedicação, que conjugados com uma gerência eficiente, criam ambientes leves e polivalentes.

Para a abertura deste estabelecimento existiram alguns contratempos, o que inevitavelmente aumentou a pressão e as expectativas sobre o acontecimento. Felizmente esta história terminou com um final feliz, e na noite de abertura do “Ikê” excederam-se todas as expectativas. Eram esperadas 200 ou até 300 pessoas, e é fácil de imaginar o espanto de todos quando estes números duplicaram rapidamente. As bebidas existentes destinavam-se aos dois dias de abertura, mas esgotaram-se após poucas horas. Este feito foi ininterrupto e observou-se na noite seguinte, o que marcou o passo para o sucesso desta casa jovem, moderna, e acima de tudo, divertida.

Ikê? É preciso dizer mais? Junta-te á festa!

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Rua Rómulo Carvalho, nº 283, 4800-019, Guimarães, Portugal

TEXTO EDUARDA ALMEIDAFOTOGRAFIA RITA CAFERRA

Aproveitando uma folga do S. Pedro, os boémios colados aproveitaram os primeiros raios de sol e subiram até ao Green Line. Inaugurado há cerca de dez meses, este café/bar é caraterizado pelo seu ambiente acolhedor e por uma grande sensação de liberdade. Fredo Xavier e Ricardo Martins são os marinheiros de serviço, e para eles o Green Line é como um filho, que lhes consome diariamente o máximo de atenção. Situado na cidade de Guimarães, mais precisamente na Rua Rómulo Carvalho, nº 283, encontra-se num ponto estratégico, rodeado de um lado pela Universidade do Minho, e de outro pela discoteca Pulse.

Inicialmente o nome cogitado para o bar foi o de “Red Line”, contudo ao idealizarem a fisionomia e os elementos decorativos chegaram à conclusão que este seria demasiado pesado, e que a junção das cores vermelho e branco não era a melhor opção. É partindo desta nova perspetiva, que realizaram novos estudos, que procuraram um elemento que caracterizasse e identificasse a essência do espaço. Chegaram assim ao nome Green Line, onde a geometria e cruzamento das linhas verdes criam uma maior harmonia com o restante ambiente.

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Quando questionado sobre a escolha do local, Fredo explicou-nos que viu ali “uma boa oportunidade de negócio”, não só por se encontrar bem localizado, mas também pelas características que o próprio apresentava. “Um espaço pequeno, mas muito acolhedor, que se encontra perto do centro da cidade e dos seus arredores”, confidencia-nos por fim.

Funcionando de dia mais como café, em que as preferências recaem sobretudo em pequenos “snacks”, o cenário muda quando o sol se põem, em que é a vez das bebidas brancas saírem do armário e darem o ar da sua graça. Dizem por isso, que não tem um público específico, onde todas as pessoas são bem-vindas e convidadas a darem duas de treta. Contudo quando o fim de semana chega, a população dos 20

aos 35 anos é quem mais se entusiasma, experimentando e degustando a suave sangria de champanhe. Numa altura de crise económica, em que o poder de compra é cada vez mais escasso, Fredo admite que é tida uma atenção especial na relação qualidade/preço, onde procuram “vender álcool de qualidade, mas barato”.

A necessidade de atingirem mais consumidores e de modernizar o espaço faz, com que Fredo e Ricardo pensem em torná-lo mais funcional, prático e algo “abandalhado”. Contudo, pretendem manter a mesma relação com os clientes, conferindo liberdade para se servirem de cerveja. Assim a essência do Green Line passa por um sítio de convívio entre amigos, onde a boa animação e a conversa fiada decorrem durante horas a fio.

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OVOS MOLES

No último número das Colagens Boémias tivemos a oportunidade de conhecer um pouco este grupo, o G.A.S. Porto, no entanto, ainda não falamos das atividades de voluntariado desenvolvidas semanalmente. Os voluntários são integrados no funcionamento das instituições parceiras, onde se criam sinergias com os atores e parceiros para alcançar os objetivos partilhados.

“Horizontes” é um projeto voltado para os jovens institucionalizados onde se faz voluntariado com algumas instituições, como por exemplo, a Casa do Vale. Estes jovens são retirados às suas famílias por estarem em condições de risco e que precisam de apoio e auxílio. Tendo em conta que estas instituições recebem cada vez mais jovens, os voluntários do G.A.S. Porto servem como forma de amparo. O incentivo para o seguimento dos estudos e, a ajuda nas matérias escolares são aspetos muito importantes, para que estes tenham a oportunidade de se inserirem na sociedade com sucesso. Para isto, é necessária uma enorme dedicação e disponibilidade para os ouvir, os seus problemas ou dúvidas...

A Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental – “A.P.P.A.C.D.M.”, é um local muito especial, onde o voluntariado se baseia em proporcionar dias diferentes, alterar as rotinas e estimular a criatividade. Através de muita atenção, carinho e amor, consegue-se o impulso necessário para uma melhor interação, e relacionamento com estas pessoas tão especiais. Chamamos a este projeto, “100 Diferenças”.

“Futuros”, é o projeto que procura ajudar crianças e jovens institucionalizados, do bairro do cerco, Porto. Um início de vida em instituições, ou para outros, uma vida em instituições. Acolher, integrar e formar são ações primordiais para estes meninos. É preciso abrir novos horizontes, partilhar experiências que os ajudem nos diferentes momentos da vida e, … ensinar a brincar!

“R.U.A. - Resolver, Unir e Apoiar”, reflete o trabalho com um público que vive nas ruas, os sem-abrigo da cidade do Porto, através da parceria com o Centro de Apoio ao Sem-Abrigo. Aqui as necessidades são muitas, desde promover a dignidade humana e social, a dinamizar oportunidades sociais e culturais, e claro, apoiar nas necessidades encontradas. Os voluntários deslocam-se em carrinhas por toda a cidade do Porto, sem nunca saber ao certo o que vão encontrar. É um voluntariado exigente, onde a probabilidade de encontrar sempre as mesmas pessoas é uma incerteza constante, contudo a possibilidade de dar “abraços de apoio”, de poder levar uma palavra amiga e de diminuir a solidão, eleva o espírito.

Apoio a Mães Adolescentes, é o projeto “A.M.A.”, que se faz junto das mães e das suas crianças. Estas mães, são adolescentes que precisaram de crescer mais rápido, para assumirem uma posição de Mulher. Apoiar, acompanhar, criar laços de proximidade e de acolhimento, amparar nas atividades de rotina e dinamizar outras são apenas algumas das formas como os voluntários podem ajudar estas “novas mães” e os seus “regalos”.

TEXTO ANA ENNES

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“P.O.N.T.E.S.” (Promover Oportunidades Novas Para Travar e Exclusão Social) é realizado com a Comunidade de Emmaus que integra indivíduos com uma situação social desfavorecida,… ex-sem-abrigos, ex-toxicodependentes, ex-alcoólicos ou pessoas que, de alguma forma, estão a viver “à parte” da sociedade e em condições que exigem atenção e apoio. Assim, o objetivo é proporcionar o acolhimento necessário aos “companheiros”, contribuir com modelos positivos para o processo de inserção social destas pessoas, interagir e trocar experiências fora de “casa” com a comunidade, e claro ouvir, apoiar e fomentar o espirito de grupo.

“Feup Social” foi um projeto que surgiu da necessidade de apoiar os estudantes provenientes dos PALOP que se deparam com diferentes dificuldades. Para ajudar estes alunos, os voluntários trabalham lado a lado, como irmãos, tentando perceber o que estes precisam realmente e como podem ser úteis. Assim, faz-se apoio académico e incentiva-se à integração na comunidade académica.

Por último, o projeto “Abraço Amigo” engloba o Apoio Domiciliário e o Lar das Fontainhas. Este último é realizado com cerca de 130 senhoras idosas, as “avós”, como tão carinhosamente são tratadas entre voluntários. Precisam de companhia, de alguém com quem falar e de quebrar a monotonia através de experiências diversificadas no decorrer dos seus dias. Trazendo os voluntários carinho, alegria e energia todas as semanas, conseguem dar um novo alento a estas senhoras. O Apoio Domiciliário, surgiu de uma necessidade em apoiar as pessoas idosas que vivem mais e/ou totalmente isoladas, ou com situações familiares problemáticas/deficientes. Aqui fazem-se sentir as elevadas carências económicas, sociais e afetivas, que são combatidas pelos voluntários através do estar, ouvir, conviver, partilhar, realizar atividades no exterior das suas casas, concretizar sonhos e assim, proporcionar dias e atividades diferentes, fazendo-os esquecer da solidão e dos problemas.

OVOS MOLES

SÓ PARA OS FORTES

Terminava outro ano letivo, o mês de Julho era reservado às despedidas, às últimas jantaradas e às últimas gargalhadas… isto tudo para uns meses mais tarde, recomeçar novamente a saga da vida académica. Contudo, chega um momento em que essa boa vida acaba, em que esses momentos se tornam cada vez mais raros. Era isto que estava prestes a acontecer com Teresa, preparava-se para fechar um ciclo da sua vida, e o que pensou ela em relação a isto?? “Bora fazer um mega jantar com muita comida e bebida”, uma espécie de “Botellón” em que cada pessoa vai abastecida de garrafas e mais garrafas.

Sempre com o espírito de festa, Cátia, Marta e Filipa vão com apenas uma expectativa, “vai ser uma noite épica”, e assim lá foram elas com um saco de bebidas na mão, sem imaginar o que aí viria. Quando lá chegaram, já a boa disposição se havia instalado pelos presentes. Era uma noite quente de verão, onde todos se reuniam em torno da varanda, sempre segurando o seu copinho de vinho. Talvez por isso as conversas se tenham tornado cada vez mais entusiastas e estridentes.

22h, 23h, meia-noite e finalmente 1h da manhã… o tempo passava sem que

ninguém se apercebesse. Por esta altura já só restavam cinco sobreviventes, Cátia, Marta, Filipa, Teresa e Maria Joana. O grupo começou a cambalear (umas mais que outras) até à “Laranjeira”, uma rua repleta de cafés e bares. Ao chegarem ao local aperceberam-se que os bares estavam todos a fechar, e que teriam de voltar para trás. Decidem então fazer uma pausa para um cigarrinho, e sentam-se numas escadas, enquanto que Teresa e Maria Joana decidem que vão passear, desaparecendo do mapa. As restantes colegas pensaram que nunca mais as iriam ver, e decidem fazer-se à vida e começar a ir lentamente para casa. Para Cátia o caminho já ia meio torto, e o esforço em andar em linha reta era cada vez maior. Após andarem alguns metros, deparam-se com um obstáculo no meio do caminho, uma fonte. Claro que este grupo de amigas poderia muito bem contorná-la pelo passeio, mas em vez disso decidem atravessá-la pelo seu muro, o que correria bem se já não estivessem bastantes “alegres”. Filipa é a primeira a atravessar, colocando um pé em frente ao outro dá a volta à fonte e chama pelas amigas. Marta segue os seus passos, e rapidamente chega ao seu encontro.

TEXTO EDUARDA ALMEIDA

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SÓ PARA OS FORTES

Tudo corria perfeitamente normal, até que chegou a vez de Cátia. Colocando-se em cima do pequeno degrau da fonte, começa a sentir uma falta de equilíbrio enorme, e decide que vai atravessar o caminho de joelhos. Filipa apercebendo-se da situação, comenta: “Devíamos estar a filmar isto! Prepara-te que ela vai cair ao vivo e a cores!”. Dito e feito, Cátia desequilibra-se e mete um dos pés dentro da fonte, depois perde mesmo a força no corpo e tomba para o outro lado. Sorte a sua que caiu na relva e não dentro da água. As gargalhadas das amigas ecoaram pela rua, enquanto Cátia, para não dar uma de fraca, mete os dois pés dentro da fonte como se fosse mesmo essa a intenção desde o princípio. “Tão bommmmmm, tão quentinho” dizia referindo-se à água, até que pára repentinamente e fixando as amigas exclama “Caga! Isto é mijo!” saindo rapidamente dali.

Já com as sapatilhas molhadas, Cátia esperava que elas secassem instantaneamente, enquanto tentava

alcançar uma miragem “É o Afonso! É o D. Afonso Henriques”. Percorrendo a fonte de uma ponta à outra, lá tentava ela alcançar o “Afonso”, sem tropeçar novamente.

Depois de restabelecidas as coisas, ou pelo menos assim se esperava, eis que o grupo de cinco amigas começa a andar novamente, quando as três-marias do costume, decidem “levar emprestadas” três cadeiras de uma esplanada. E assim vão elas a fazer barulho pelo caminho, com cadeiras às costas.

No dia seguinte, lá estavam as três sentadas no sofá a cumprir a tradição: tentar juntar os fragmentos da noite passada. Filipa e Marta riam-se ao relembrar os momentos de Cátia na fonte, enquanto que a maior preocupação desta ainda era: “Será que as minhas sapatilhas já estão secas?”.

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BROA DE MEL

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BROA DE MEL

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