Como Ler as Fundações

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Apresentao

Nas reunies de formadores fato comum denunciar-se acarncia de materiais adaptados, simples e diretos sobre os temas que nos ocupam; principalmente no campo da formao no carisma carmelitano. Esta obra do Fre Maximiliano um subsdio apropriado para tal finalidade. Trata-se de curso pensado para as Monjas Carmelitas. O livro, em si, est centrado, aps uma breve introduo histrica e estrutural do escrito teresiano, na teologia das Fundaes. Assim, se ressalta, realidades to importantes da mensagem teresiana como aa comunidade, a unio com Deus pela orao, a vida teologal, o servio, a vida espiritual e suas atitudes consequentes, encerrando-se com o tema do feminino, que hoje se levanta como urgente necessidade, especialmente para a mulher consagrada na clausura, quase sempre maltratada por aqueles que no vivem o feminino e nem a clausura. O autor, Frei Maximiniano Herriz, tem autoridade suficiente para falar disto tudo, pois dedicou sua vida ao estudo e ao amor por Santa Teresa; e se algum interesse ele tem, aquele de ver seus irmos e irms conhecendo-a e amando-a cada vez mais e melhor. Em concreto, seu servio formativo carmelitano abundante e fecundo. Este livro mais uma semente plantada na vinha fecunda do Carmelo que esperamos ver frutificar.Este livro contm as conferncias dadas por Frei Maximiliano Herriz s Carmelitas Descalas, em Fortaleza CE, de I 1 a 17/06/2001. Elaborado e preparado pelas Irms Carmelitas Santa Maria RS. Reviso geral: Madre Teresinha do Menino Jesus Carmelo N. Senhor dos Passos So Leopoldo RS.

Frei Rafael Santamaria, ocd.

Porto Alegre, 20.06.02

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Introduccin a las Fundacioneseresa de JesUs es una escritora de viajes. De viajes interiores y de viajes por los caminos de la Espaha del sigio XVI. Viajes al interior de la persona y viajes por los senderos que han abierto los puebios para aproximarse los unos a los otros. Y, mujer despierta, de ojos limpios y mano gil de escritora, su pluma es como la cmara fotogrfica de un reportero: capta todo lo que contemplan sus ojos y lo entrega a sus lectores para que se unan a su deleite de descubridora de belleza. Escritora de viajes. Y constructora de casas. De la casa del corazn "ei Castilio interior", espacio privilegiado para ei encuentro con el Sehor de Ia vida y de la historia , y de casas para Ia comunin fraterna en ia bsqueda de Dios y en ei servicio a la sociedad y a la iglesia. Las Fundaciones es el relato vivo, ei recuerdo agradecido, que nos acerca ei pasado, cercano o remoto, y nos abre el futuro de un deseo arraigado en su corazn: plantar en ei corazn de Ia historia Ia mejor realizacin posible del Reino de Ia comunin y la felicidad. Teresa de Jess, "mujer inquieta y andariega", como la defini despectivamente el nuncio del Papa en Esparia, es ya una mujer madura cuando, despus de cinco anos del primer monasterio fundado por ella en vila, su ciudad natal, safe para sembrar su inquietud reformadora en los surcos sazonados de Espaha. Quiere hablar con hechos donde no faltan palabras. "Predicadoras de obras, pues el apOstol [Pablo] nos quita que lo seamos en las palabras". Por el libro de las Fundaciones se abre paso un torrente de vida en el que vierte sus aguas la rica experiencia y la aguda inteligencia, la pasin de enamorada de esta mujer. Y tambin desfila un ejrcito de personas que aconnpahan o se oponen a Ia Madre Teresa. Pero fundamentalmente, a Ias pginas de Fundaciones se asoma

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ei Dios de Ia historia, ei Dios que hace historia de salvacin y liberacin, activamente presente, amorosamente empenado en levantar signos que presagian y adeiantan ei triunfo de ia vida sobre ia muerte, de la comunin sobre la dispersin, de la soiidaridad sobre la exciusin. Dios es el gran "biografiado" dei libro de Ias Fundaciones. l es el centro dei relato, la presencia que convoca y da unidad y definicin a la nueva humanidad nacida de la muerte y resurreccin de Jess, mantenidas vivas por el Espritu. "Ahora que voy escribiendo me estoy espantando y deseando que nuestro Senor d a entender a todos cmo en estas fundaciones no es cari nada lo que hemos hecho las criaturas" (13, 7). Accin de Dios que contrasta con la debilidad de los medias de que se ha servido: "Ia flaqueza... de unas mujeres tan miserabies como nosotros". Teresa no sabe sino escribir de Dios, de sus magnficas acciones de liberacin, en el interior de las personas, en la biografia personal de cada uno, como de aquelias que tienen una entidad y alcance sociaies, mayor o menor, como las de este libro de la mstica espanola. Es lo que particularmente debe buscar el lector: Dias est entravado en nuestra historia. Saberia ser motivo de iluminacin y de empeno que esa historia que Dios ha puesto en nuestras manos, per() sin dejarla de las suya: "pido yo a vuestra merced por amor de Dios, que si le pareciere romper lo dems que aqu va escrito, [ia historia de su vida [ntima], lo que toca a esta monasterio vuestra merced lo guarda; y, muerta yo, lo d a las hermanas que aqu estuvieren, que animar mucho para servir a Dios ias que vinieren y a procurar no caiga lo comenzado, sino que vaya siempre adelante, cuando vena lo mucho que puso su Majestad en haceria por media de cosa tan ruiu y baja como yo" (V 36, 29). Teresa da ms importancia educativa ai relato de la acciones de Dios en la historia como son ias fundaciones de comunidades contemplativas-, que a las recibidas por ella a lo largo de su vida. Una historia que no termina, como la de los Hechos de los apstoles, sino que contina, y de la que todos nosotros somos actores, co-agentes solidarias con nuestro Dias. Por eso Teresa nos abre al futuro que tenemos que hacer y construir entre todos: "Procuren ir comenzando siempre de bien en melor". Cada uno, personaimente, como cada generacin debemos dejar una sociedad, iglesia, comunidad cristiana locai mejores. Es la gracia recibida y, por lo tanto, el desafio siempre pendiente ai que tenemos que dar respuesta.

Introduo Geral

Fundaes. Fixamos nossa ateno nos ltimos 20 anos de nossa Santa Me. Ficamos no terceiro perodo de sua vida, isto , 1562 at 1582, 20 anos. Neste perodo, a Santa Madre escreve tudo o que temos. A Santa Madre escreve como EDUCADORA das suas irms, pela palavra, nos dilogos que tinha muito freqentemente, com as suas monjas e irms, como podemos ler no Caminho de Perfeio, e tambm na sua funo de FORMADORA QUE O faz COM OS livros. Ns vamos ver o livro das Fundaes, incluindo a fundao de So Jos, que como vocs sabem, est no livro da Vida, nos captulos 32-36. Como em todos os livros, tambm no livro das Fundaes, encontramos uma vasta fonte de experincia e uma palavra doutrinal. A nossa Santa Me no pode, no quer, no sabe escrever seno a partir da experincia. No livro das Fundaes a experincia no ntima (toda a experincia intima), no pessoal, (toda experincia pessoal), mas uma experincia na histria, na realidade da vida das fundaes, no trabalho para fazer as pequenas Igrejas, os pequenos "colgios de Cristo". A Santa Madre, como sempre, reflete sobre a sua experincia para dar-nos uma doutrina, uma orientao de vida. Para ela mais importante a ao de Deus na histria da Igreja, na histria de nossa Ordem, que a experincia ntima e pessoal. Por isso comeamos lendo um texto do livro da Vida 36,29; quando a Santa Madre termina a redao do livro da Vida, diz ao telogo que vai examinar o livro da Vida, Garcia de Toledo, dominicano: "Creio que vossa merc ficar enfadado com o longo relato que fiz deste mosteiro. E olhe que ele muito sucinto diante

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amos comear com uma introduo geral ao livro das

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dos muitos padecimentos envolvidos em sua fundao (ateno!) e das muitas maravilhas que o Senhor tem operado, havendo de tudo isso muitas testemunhas que podem afirm-lo sob juramento". Vocs sabem muito bem, devem saber, que o livro da Vida, o Castelo Interior ou Moradas, so livros como os livros da Bblia: a histria das maravilhas do Senhor. Para nossa Santa Me mais importante ler, compreender as maravilhas, do que hoje ns chamamos os sinais dos tempos, que ler a experincia pessoal e ntima de Deus. Por isso, continua no texto do livro da Vida 36,29 'Assim, rogo a vossa merc, pelo amor de Deus, que, se resolver lanar fora o que est escrito agora, ao menos guarde a parte referente ao mosteiro e, depois da minha morte, entregue-a s irms que aqui estiverem, pois isso muito animar as monjas vindouras a servir a Deus e a procurar que a perfeio inicial no s no decaia como avance". Pode jogar fora todo o livro da Vida, mas a histria da fundao no, porque as irms vindouras podero ver, ler as, maravilhas de Deus para as estimular, animar na perfeio do nosso carisma, da nossa vida. Ento, os escritos de nossa Santa Me tm uma mensagem para todos ns, como na Bblia podemos ler: "quando os vossos filhos e filhas vos perguntarem, direis..." O mesmo com a Santa Madre! Ela deixou no livro a histria do que Deus fez na fundao das comunidades das carmelitas. Por isso, na leitura do livro devemos buscar, procurar a mensagem das obras, das maravilhas de Deus na fundao da nossa Ordem. mais importante, digo, por que as maravilhas sociais na histria so visveis para todos; as maravilhas, que Deus age dentro, no corao de uma pessoa, no so visveis, por isso mais importante que o livro das Fundaes, seja como um livro de formao para as monjas, para as carmelitas descalas. Um livro de formao. Falarei disso, sobretudo, porque a histria que nossa santa Me escreve das fundaes; vocs podem l-las sem nenhuma dificuldade. Temos descries muito mais longas, com nomes, com datas, etc. nos escritos das Fundaes da Santa Me.

Origem das Fundaes

origem do livro das Fundaes, a la notcia que nos chega da nossa Me Teresa de Jesus de 1570. A primeira notcia! Nas Relaes 9 a Santa fala duma graa mstica. "Como sou devota dessa estao, consaleime muito e comecei a pensar que grande tormento deveria ser para ter feito tantas feridos, e a sentir pena. Disse-me o Senhor que no O lastimasse por aquelas feridas, mas peias muitas que agora Lhe faziam". No pelas feridas da paixo, mas das feridas que agora os homens, os pecadores, lhe faziam. "E eu Lhe perguntei o que podia fazer para remediar isso, pois estava decidida a tudo. Disse-me Ele que este no o mamento de descansar, e que eu me apressasse a fazer essas cosas". Neste momento, quando a Santa recebe a graa mstica, tinha feito quatro fundaes. Jesus lhe disse: "que eu me apressasse a fazer essas casas porque com as almas delas (para vocs, irms!), Ele tinha descanso". "Com os almas delas", as vossas comunidades, Jesus tm descanso! "Que tomasse quantas (fundaes, no monjas) me dessem, porque havia muitas almas que, por no terem onde, no O serviam (a Jesus), e que as fizessem em lugares pequenos..." No fim, do pargrafo seguinte, lemos "Que eu escrevesse a fundao dessas casas". A ordem vem do Senhor Teresa: escrever a histria das Fundaes. Estamos em 1570. a primeira notcia que a nossa Santa Me diz-nos sobre o livro das Fundaes. Mas devem passar trs anos ainda para que nossa santa Me comece a escrever. Quando era priora no mosteiro da Encarnao, quando o nosso Santo Pai Joo da Cruz estava l como confessor, em julho de 1573, a Santa Me teve que viajar a Salamanca. Encontra ao Jesuta Riparda, que lhe manda, ordena que escreva as Fundaes.

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Podeis ver isto no prlogo do livro das Fundaes, 2; e no cap. 27,22. A Santa Madre no quer muitas coisas, muitos negcios, muitas cartas. Experimenta uma grande dificuldade para cumprir a obedincia. A sade tambm no boa. Um ano muito importante na vida de nossa Santa Me e na vida da Reforma o ano 1575. O Captulo Geral dos Carmelitas Calados probe a nossa Santa Me continuar fazendo fundaes. Deve ficar num mosteiro e permanecer l sem sair para nada. Estando em Toledo, o centro de Espanha, depois da fundao de Sevilla, ao sul, a Santa Madre se encontra com Gracin, o seu amigo e seu superior, Vigrio Apostlico. Padre Gracin torna a dizer nossa Santa Me que deve continuar a redao das Fundaes. Estamos a meados de 1576, julho. A nossa Santa Me disse ao Padre Gracin, que muito difcil para ela seguir escrevendo as Fundaes. Pe. Gracin lhe disse que pouco a pouco, mas que deve terminar a escrever as Fundaes. Na Carta escrita a seu irmo, 24 de julho, 1576, a Santa escreve: "No sei que outros papis estaro na arquinha, e no quisera que algum os visse; e nem tampouco as "Fundaes", por isso lhe fao este pedido. Quanto a vossa merc no me importa que os veja". No pargrafo seguinte, lemos "porque me mandou, o Padre Visitador (Garcin) terminar as" Fundaes, (terminar de escrever), "e tenho necessidade desses apontamentos" (pequenas notas que a Santa fazia no momento das fundaes) "para ver o que j ficou dito e escrever a fundao de Alba. muito penoso para mim (escrever), porque o tempo que me sobra das cartas (vocs, no sobra tempo para as Cartas, tambm!), preferia passar na solido e descansar". Estamos no ms de Julho, devem passar ainda trs meses e a Santa Madre no comea a escrever. Na carta escrita ao Padre Gracin, de 5 de outubro de 1576, escreve a Santa: "Vau recomear agora a histria das "Fundaes". Trs meses sem fazer nada, "Vou comear agora a histria das "Fundaes", que, disse Jos (Jesus, que ela escreveu assim para ocultar um pouco porque o correio no era muito seguro para os segredos), ser de proveito para muitas almas. Se Ele me ajudar assim creia; e, mesmo sem esta promessa, j me tinha resolvido a faz-lo". Ela tambm convencida que deve terminar e que far muito bem s almas "em obedincia ordem recebida de Vossa Paternidade". Vocs sabem, que em 14 de novembro a Santa Madre termina a redao de um captulo das Fundaes (27,23). "Acabei hoje, vspera de Santo Eugnio, aos catorze dias do ms de novembro, ano de 1576,

no Mosteiro de So Jos de Toledo, onde ora me encontro..." E a ltima fundao, antes que os superiores, no Captulo Geral, dissessem que no devia fazer mais fundaes. A Santa Madre pensava que as fundaes estavam, no somente na redao terminada, mas que estavam todas terminadas. Por isso durante quatro anos, depois da oitava, a Santa Madre no fez nenhuma fundao. Est em vila, sem sair do mosteiro, cumprindo a ordem do Captulo Geral. Depois fez quatro ainda e uma quinta que no fez ela, diretamente, a de Granada. Quem a fez foi so Joo da Cruz com Madre Ana de Jesus. Desta fundao no temos histria no livro das Fundaes, mas somente 4, deste captulo 27. As "Fundaes" as recomea, na realidade, no ano 1581 com a fundao de Sria. Vocs podem ler, uma sntese da situao que viveram nossos irmos e irms depois do Captulo Geral de Piacenza, na Itlia, no ano 1575, em F 28,1-9. Nas Cartas encontramos muitas referncias, do tempo de perseguies dos nossos irmos e nossas irms, os grandes trabalhos, sofrimentos, etc. F 28,3 "Morreu um santo Nncio que favorecia muito a virtude e estimava os Descalos (e as Descalas). Veio outro, que parecia enviado por Deus para que praticssemos o padecer. Era aparentado com o Papa, e deve ser servo de Deus, se bem que comeasse a se esforar para favorecer os Calados". A situao para a Ordem, para nossa Santa Me Teresa e para os principais dos Descalos foi muito difcil. Vocs sabem, que nessa ocasio, ao fim de 1577, encarceraram So Joo da Cruz, uma semana depois que a nossa santa Me terminou de escrever o livro das Moradas, e estando So Joo da Cruz, tambm l perto do Carmelo da Encarnao, na casinha onde ento morava. A situao muito, muito difcil! No captulo 29, n 31 das Fundaes, a Santa Madre Teresa sintetiza 25 anos de aflies, dificuldades, trabalhos, quando recebe a notcia da separao dos Descalos e Calados. Quando estava na fundao de Falncia. F 29,31 "Tive um dos maiores gozos (quando recebeu a notcia) e consolaes que poderia receber nesta vida, pois havia mais de vinte e cinco anos passava por sofrimentos, perseguies e aflies que seria maante contar o que s Nosso Senhor pode entender" (a notcia da separao). Ento, agora, somos duas famlias, juridicamente distintas, independentes. Foi o ano 1581, o ano da separao. Um ano antes da morte da nossa Me Teresa de Jesus.

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a origem da redao das Fundaes, a primeira de so Jos foi o Padre Garcia de Toledo, muito amigo de Santa Teresa, o que a mandou escrever. Jernimo Ripalda, jesuta, as Fundaes; Padre Jernimo Gracin, que continue at acabar a redao. A redao acaba no captulo 27, e depois as outras quatro, as escreve a partir da realizao das fundaes. Porque escreve na medida que faz a fundao, todas, as quatro ltimas. Depois fao uma pequena apresentao da estrutura do livro, da estrutura interna do livro, das linhas da redao do livro das "Fundaes", para que vocs possam ter atitude justa, verdadeira, como leitoras. Somos leitores, leitoras, no de uma histria externa, mas duma histria interna: a histria das aes de Deus! Uma histria da Ordem, do Brasil, no faz isso? Conta os acontecimentos, oferece interpretaes, mas no faz uma histria das aes de Deus. No faz histria teolgica de Deus, presente, na histria da humanidade. Para ns, e muito concretamente na histria das "Fundaes" da nossa santa Me, ns encontraremos textos, verdadeiramente maravilhosos, como se fossem textos da Bblia, sobretudo os tempos do xodo, dos tempos do exlio. So textos verdadeiramente maravilhosos para mostrar que Deus age pelo seu Esprito na histria da Igreja. Ela tem conscincia disso; e ns devemos ter. Por isso, quando eu leio a histria das Fundaes, a minha ateno sempre na orientao doutrinal, na Palavra de Deus, que Teresa nos comunica para estimular nossa resposta de fidelidade vocao recebida na Igreja e para a Igreja, no mundo e para o mundo.

Estrutura Teolgica do livro das Fundaes

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m nosso estudo das Fundaes, muito importante notar

que a estrutura do livro uma estrutura histrica, porque escreve a histria das "Fundaes", e tambm uma estrutura espiritual, estrutura teolgica ou teologal, porque para a nossa Santa Me Teresa, a histria a histria do que Deus faz para o nosso bem. Devemos ler o livro das Fundaes como um livro de formao espiritual para ns. Prlogo, n 3 "Queira Sua Majestade dar-me a graa de descrever, para glria Sua, os favores concedidos a esta Ordem nessas fundaes". clara a inteno. O contedo do livro, sobretudo, a histria dos favores, das graas que Deus fez nossa Ordem, com a Reforma Teresiana. A histria dos favores, das graas, das obras de Deus conosco. Prlogo, 5 "Ordenaram-me, na mesma ocasio referida, que, havendo oportunidade, eu falasse de coisas de orao e de certos enganos que podem impedir o progresso das almas dedicadas orao". Encontraremos muita doutrina sobre o discernimento espiritual. A procura da verdade, na nossa relao com Deus e com os irmos na vida comunitria. E, o mesmo, fala nossa Me, contando, narrando algumas coisas das primeiras comunidades. Conta a vida das comunidades e contar tambm coisas de monjas concretas, embora tenha medo de que possam ver o escrito antes das monjas morrerem, como podemos ver em F 20,15 "Eu comeara a narrar coisas particulares de algumas irms desses mosteiros, parecendo-me que, quando isso viesse a ser lido, no estariam

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vivas algumas que ainda o so, pretendendo com isso que as vindouras se animem a levar adiante to bons princpios". Mensagem para o futuro, lendo a vida dos nossos princpios da Reforma ns seremos mais engajados na vida, para escrever hoje, as mesmas graas, outros captulos da histria da nossa Famlia, que no seja menos rico dos captulos primeiros escritos por Deus no comeo da Reforma. F 16,1 "Julgo oportuno discorrer um pouco acerca do modo como algumas monjas deste mosteiro se exercitavam no servio de Nosso Senhor, a fim de que as vindouras procurem sempre imitar essas boas primcias". Sempre a mesma mensagem: a histria do que Deus fez, deve ser para ns o melhor livro de formao, como na Bblia.Na Bblia, ns temos a histria das maravilhas que Deus fez ao seu povo. uma maneira de educao, assim como para Teresa, o livro das "Fundaes", deve ser para ns um livro de formao para continuar a histria de fidelidade que comeou antes de ns, que comeou no passado. Ateno! No passado, quando lemos a vida, sobretudo, o livro da "Vida" de nossa Me Teresa, a histria do passado, no para que ns fiquemos l, admirando, louvando a Deus pelas coisas maravilhosas que fez. No! para que possamos ler o presente ou no presente, as maravilhas que Deus quer fazer, tambm hoje, porque Deus no se esgotou no passado. O mesmo Deus que fez o que fez, e ns podemos ler, quer agora fazer conosco mesmo, porque ns somos, como veremos, princpio hoje dos que viro, atrs de ns. Ento, Deus precisa de uma acolhida da Sua graa como fizeram nossos Pais e as primeiras irms e irmos da Reforma. Uma mensagem, sempre de fidelidade, a partir do passado, a partir da histria. Uma histria que continua, isto mais claro ainda nas "Fundaes". No livro continua a histria das Fundaes, como na Igreja continuamos a histria dos Santos e dos Apstolos. Temos no captulo 19 a chave para poder ler bem o livro como um livro de formao espiritual. Comea a Santa Madre dizendo: F 19,1 "Desviei-me muito do que dizia". Vamos ver depois como os primeiros captulos do livro so completamente doutrinais, completamente! Somente no captulo terceiro encontramos a histria da segunda das "Fundaes", Medina del Campo, a primeira depois da fundao de vila. Mas todos os captulos so doutrinais. Ento, chega ao captulo 19 e comea: "Desviei-me muito do

que dizia. Quando me oferecida a oportunidade de discorrer sobre alguma coisa que o Senhor desejou que eu entendesse com a experincia, eu me sentiria mal se no o fizesse (escrever); e talvez seja bom o que eu no pense que o seja. Sempre vos informai, filhas minhas, junto a quem..." A Santa Madre tem uma preocupao extraordinria para que o livro das Fundaes seja para ns o livro de formao. Um irmo nosso espanhol contou os nmeros de todos os captulos e chegou a uma concluso. Ns temos 511 nmeros no livro das Fundaes, 300 so da histria e 211 doutrinais, quase a metade do livro diretamente doutrinal, a outra metade narrativa, histria dos trabalhos, sobretudo, das Fundaes. Teresa, nossa Me sempre educadora. Sempre, nas Cartas, nos livros, tambm no livro das Fundaes. Sempre procura uma palavra de iluminao, de doutrina, sempre! Tambm no livro das Fundaes e sempre com o mesmo estilo. Comea por dizer-nos: a experincia a fonte da doutrina. Aqui no livro das Fundaes, a experincia a experincia histrica, experincia na Igreja, com os bispos, com os telogos, com o povo que ajuda a nossa Me para fazer as fundaes.A histria fruto da experincia de Deus. Vocs que so contemplativas, que ficam na solido, fechadas, no devem esquecer nunca, que ns no podemos ter experincia de Deus seno na histria, no mundo, aqui e agora, e por isso devemos evitar dizer que temos experincia de Deus, na orao. Temos experincia de Deus na f, na esperana, no amor. Somente quando vivemos como crentes na orao, temos experincia de Deus na orao, porque somos crentes, e quando trabalhamos, as coisas ordinrias da vida com a dimenso de f, esperana e amor, temos experincia de Deus, na necessidade da vida, em tudo aquilo que fazemos, na histria. A Santa Madre teve a maior experincia de Deus no tempo das fundaes, ao fazer as Fundaes, quanto menos tempo tinha para fazer orao. Porque era uma mulher crente. Sempre estava com Deus. A conscincia pode ser maior, a conscincia de estar. Numa relao com Deus pode ser maior durante os tempos de orao. Como a conscincia da amizade entre ns maior quando estamos fisicamente juntos, falando, contando as coisas, o que sofremos, as coisas de experincia positiva. Mas ningum de vocs pode pensar que somos mais amigos quando temos conscincia da nossa relao de amizade. Quando uma pessoa sabe que tem uma enfermidade, a

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enfermidade no maior que antes de saber. A conscincia no aumenta a realidade, descobre a realidade, mas no aumenta. E, quando no temos conscincia, a realidade a mesma! Eu agora, e penso que vocs tambm, agora eu no posso ter conscincia da relao da amizade profunda que tenho com tantas pessoas, mas a realidade a mesma. Agora a minha conscincia est na palestra sobre as Fundaes de Santa Teresa, nossa Me. A realidade da amizade, da vida continua. No tempo de orao temos conscincia da nossa relao com Deus. No trabalho, na vida ordinria, no temos a conscincia. A conscincia fica no trabalho, em tudo aquilo que ns fazemos. A experincia uma questo de vida teologal. Na raiz de nossa vida, se Deus continua a ser a raiz de nossa vida. Porque agimos, fazemos o que fazemos pela fora da f, do amor de Deus, da esperana, ento a unio com Deus se realiza e com muita fora. Repito: embora no tenhamos conscincia disso. Ser a mensagem, sobretudo no captulo quinto das Fundaes. E a Ordem no tinha lido at depois do Conclio Vaticano II, mas divulga nas Constituies, nos escritos dos nossos irmos e irms, onde encontrams uma citao do captulo V das Fundaes.E um dos mais ricos das obras da Santa, porque fala da unio com Deus na vida, na histria. Vocs devem saber, que quando a Santa Me comeou a escrever as "Fundaes" j estava no matrimnio espiritual. Ela recebeu um ano antes, 1572, no ms de novembro, quando nosso Pai Joo da Cruz quis mortific-la dando-lhe um pequeno pedao da Hstia, no momento da comunho, porque ela gostava das Hstias grandes. So Joo da Cruz a mortifica e Deus, Nosso Senhor, deu a razo Teresa. Neste momento recebe a graa do matrimnio espiritual. A conscincia no aumenta a nossa relao com Deus. E, quando ns esquecemos Deus, porque estamos fazendo o que fazemos, no diminui a nossa unio com Ele. No diminui! A unio com Deus no uma questo de lembrana. A presena de Deus no significa lembrarmos de Deus. A presena de Deus questo de amor, de esperana e f. Somente!

A Teologia no Livro das Fundaesuando a Santa escreve as Fundaes como quando escreve o livro de sua Vida, o livro das Moradas. Ela fala de Deus, o que Deus fez. Seja isto a primeira palavra que ns recordamos agora. A teologia, a palavra sobre Deus, no livro das "Fundaes". Porque todos os escritos da nossa Santa Me so histria das aes salvficas de Deus, como a Bblia. Comeamos com uma palavra sobre Deus. A Santa Madre Teresa usa o mesmo verbo, aqui nas Fundaes, que no livro da Vida, no livro das Moradas, o verbo que significa contemplao. F 15,8 "Muitas vezes, quando penso (nessas fundaes) nessa fundao, fico espantada com os caminhos de Deus". Espantada, um verbo contemplativo, diante das maravilhas de Deus. Deus quem faz tudo. O mesmo que podemos ler na primeira pgina do livro da Vida. "Deus o fez tudo, para que eu, Teresa, fosse toda dele". Faz tudo! Temos no captulo 13 do livro das Fundaes a primeira grande afirmao do que podemos chamar "a teologia da Histria". Porque deveis ter claro, irms, que Deus no somente fala aos seus filhos no livro da Bblia. Deus muito mais que o livro da Bblia. Deus continua a falar nos sinais dos tempos. E um bom contemplativo deve escutar, deve ler os sinais dos tempos. Temos muitos sinais dos tempos diante de ns, que so graas de Deus, palavras de Deus, aes de Deus. Isto os sinais dos tempos. Deus hoje fala na histria, mesmo na histria dos pecados. Como nossa Santa Me sabia muito bem que no seu pecado se manifestava mais o amor de Deus. Deixemos o captulo 13, para ler, antes uma palavra do livro da Vida, sobretudo como mensagem para examinar nossa situao de fidelidade, hoje, da nossa profisso.

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V 4,3 "Bastariam, sumo Bem e descanso meu, as mercs que me tendes feito at aqui: trazendo-me, por tantos rodeios da Vossa piedade e grandeza, a uma condio to segura e a uma casa com tantas servas Suas que me podem servir de exemplo para ir crescendo em Vosso servio...". "Tenho agora a impresso de que estava certa em recusar to grande dignidade, pois a haveria de usar muito mal (a dignidade de consagrao a Deus na vida religiosa). Mas Vs, Senhor meu, quisestes ser nos quase vinte anos em que tenho empregado mal essa merc - ofendido, para que eu fosse melhorada. At parece, Deus meu, que prometi no cumprir nada do que Vos havia prometido, embora na poca esse no fosse o meu propsito; mas, depois, prossegui de tal maneira que j no sei o que pretendia. Isso manifesta ainda mais quem sois Vs, Esposo meu, e quem sou eu... Pois verdade que muitas vezes o sentimento de minhas grandes culpas temperado pelo contentamento que me d a compreenso da multiplicidade das Vossas misericrdias". Chama a ateno ao contraste entre a fidelidade de Deus que sempre e s pode amar, Deus que no pode deixar de amar e, a infidelidade de Teresa. A graa consiste nisto: mostrar melhor quem Deus. Deus amor, Deus misericrdia e mostrar quem somos ns. Uma relao de fidelidade de Deus; no pode deixar de ser Pai amoroso. Em nosso pecado brilha mais o Deus amor. Tm uma mensagem que os telogos do tempo de nossa Santa Me no souberam ler. Ela queria falar muito dos seus pecados porque neles se revela mais fortemente o amor de Deus, pelo contraste. Voltamos ao livro das Fundaes, 13,7 Brilha mais a grandeza de Deus nas fundaes. "O, valha-me Deus! Quantas coisas que pareciam impossveis", o mesmo termo do captulo primeiro das primeiras Moradas. Aos telogos, as coisas, as graas que Teresa conta so impossveis. Podem escandalizar aos fracos, dizem os telogos. Aqui tambm, "que pareciam impossveis vi nessas coisas, e com que facilidade Sua Majestade as sanou! E que confuso a minha ao ver o que vi, por no ser melhor do que sou! medida que vou escrevendo, aumenta o meu espanto (atitude contemplativa) e o desejo de que Nosso Senhor mostre que tudo quanto acontece nessas fundaes no se deve ao de ns, criaturas, mas foi determinado pelo Senhor". Tudo! Por isso, Teresa, se espanta. A contemplao das aes de Deus na vida, tem desperta, atenta, a nossa Me Teresa. No pode ler a Bblia, mas l a histria da salvao. Tudo o que acontece nessas fundaes, o

faz Deus. uma leitura teologal. uma leitura somente possvel para uma pessoa contemplativa, que vai alm da superfcie, que procura a profundidade, a corrente da graa que fecunda todos os acontecimentos. Temos a mesma afirmao no captulo 27, 11-12. A Santa Madre pensava que era o ltimo captulo do livro, ento na concluso quer dizer-nos, ateno: tudo isso, da histria das fundaes obra de Deus assim deveis ler o livro como uma histria de Deus, na Igreja e no mundo. F 27, I 1 "Queira Sua Majestade dar-nos com abundncia a Sua graa, porque com isso no haver empecilho que nos impea de ir sempre adiante em Seu servio; e a que nos ampare e favorea a todas para no perdermos por nossa fraqueza... Em Seu nome vos peo, irms filhas minhas, que sempre o supliqueis a Nosso Senhor e que cada uma que vier faa de conta que nela recomea a Regra Primitiva da Ordem da Virgem Nossa Senhora". Nela comea! Sempre estamos nos comeos. Uma palavra abundante no livro das Fundaes. "Agora comeamos, de bem a melhor" (29,32). F 27, 11-12 "De onde pensais que uma mulherzinha como eu tiraria foras para to grandes obras, estando submetida a outras pessoas sem um centavo, nem quem a favorecesse?" "Olhai, olhai, irms, a mo de Deus. Pois no era por ter sangue ilustre" (ela sabia muito bem quem era, mas no dizia), "que me faziam honras!... Porque, se sempre pedirdes a Deus que leve adiante a Sua obra, e no confiardes nem um pouco em vs". A confiana em si mesma foi sempre a maior prova de Teresa de Jesus, nossa Me. Podeis ler e fazeis o contraste entre os dois textos do livro da Vida 8,12 e 9,3 Aqui o mesmo: Deus faz tudo. Ns devemos pr a nossa confiana em Deus e no nos instrumentos, nos meios dos quais Deus se serve neste caso para as fundaes. Se lermos da primeira fundao, no livro da Vida, a fundao de So Jos, temos a mesma grande afirmao, no captulo 35, 12: "O grandeza de Deus! Muitas vezes me espanto quando me lembro dessas coisas e vejo quo particularmente desejava Sua Majestade ajudar-me para que se estabelecesse este cantinho de Deus", So Jos. "Quo particularmente desejava Sua Majestade ajudar-me" e "me espanto quando me lembro dessas coisas". Porque Deus faz as Fundaes. agente na histria da igreja, na histria da comunidade. Podeis ver tambm no captulo 32,11- 12 do livro da Vida. Mandou muito para fazer as fundaes. E as palavras que podeis e ncontrar, palavras msticas,

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palavras interiores para animar, estimular nossa Santa Me. V 36,16 "No sabes que sou poderoso?" Fundaes 29,6 "Que temes? Quando te falei eu? O mesmo que tenho sido sou agora; no deixes de fazer essas duas fundaes" e 31,4. Para ler algumas palavras msticas, como as palavras que a Santa Madre fala no captulo 25 do livro da Vida. Palavras de Deus, com a fora de fazer o que significa. Onde a Palavra de Deus dita, feita! Realiza a sua significao! F 31,4: "Sou o mesmo; no deixes de fazer essas duas fundaes"; 31,26: "Agora, Teresa, s forte"; 3 I ,49: "Porque duvidas? Isto j est terminado e bem podes partir"; 25,4, Disse Deus a Teresa: "J vos ouvi; entregai-o a Mim". As graas, as palavras, as aes de Deus comunicam nossa santa Me uma grande certeza na realizao das diversas fundaes, ainda que encontre muitos obstculos, muitos empecilhos. Uma grande certeza, porque .a Palavra de Deus faz o que significa. Embora no saibamos quando, os tempos, mas a Palavra de Deus eficaz. Sobre a certeza podemos ler no livro da Vida 32,12. 17. So ditas, palavras poderosas do Senhor. Disse explicitamente, palavras poderosas de Nosso Senhor no captulo 28, 16. A confisso de que Deus o que faz as fundaes a grande mensagem que nos comunica a nossa Santa Me. Somente Deus pode fazer e faz o que chamamos histria da salvao. Somente Ele. Por isso as Fundaes, as Igrejas, os mosteiros, as igrejas domsticas, so obras de Deus. Depois falarei sobre a realidade comunitria, como mais fcil fazer um mosteiro que fazer uma comunidade. E como viviam nossas irms para que ns nos engajemos hoje, na mesma vida. Porque a realizao comunitria mais importante, a casa, a comunidade, no abrir um sacrrio. Temos tantos sacrrios abertos na Igreja, mas no visitados, no centros de vida das comunidades. a realizao da comunidade, relao entre as irms com a condio de que Jesus est no meio de ns. A realizao comunitria, sobre a qual a nossa Santa Me fala muito nos captulos da Vida, sobre a fundao de so Jos e, no livro das Fundaes. Deus continua por meio do Esprito a realizar a casa, a comunidade, as relaes entre os membros que constitumos as comunidades, para ser a comunidade, repouso de Deus. Ele est bem contente! Porque entra, no meio do grupo de amigos, amigas. Uma leitura tambm teologal. Porque a unio dos membros das

comunidades no fazer todos as mesmas coisas. A unio uma relao na f. Devemos crer uns nos outros, devemos crer! A f no s uma relao com Deus, entre ns porque ns somos um mistrio para ns e para os outros. Devemos crer, devemos esperar, no somente em Deus, mas em nossos irmos e irms; devemos amar a comunidade, uma comunidade de f. Por isso temos necessidade de uma grande contemplao, de uma leitura teologal da vida humana porque somos mais do que aparece pelas nossas palavras, gestos, comportamentos. Somos mais, mais que devemos crer. E ajudar-nos mutuamente na sua realizao, na realizao da comunidade. Neste nvel teologal continuaremos a falar sobre as comunidades, como as apresenta nossa santa Me no livro das Fundaes para saber como devemos continuar as fundaes. Como devemos viver hoje o que nossas irms e irmos viviam no princpio da nossa Famlia, da Reforma.

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ressurreio. A comunidade para nossa Santa Me Teresa, sem dvida, mais importante, a sua formao e construo que a construo de mosteiros.

Os amigos de Teresa na obra das Fundaes

I . A COMUNIDADE TERESIANA: DIMENSO HUMANA E TEOLOGAL E ns vamos ver, nas pginas do livro das Fundaes e na fundao de So Jos (Vida), a grande preocupao de nossa Santa Me. A comunidade tem, segundo nossa santa Me, duas dimenses: uma teologal, a principal. Cristo Jesus quem rios rene na comunidade. No mundo existem muitos grupos de pessoas, muitas comunidades que defendem um objetivo. Ns somos uma comunidade crist. E Deus o centro da nossa vida. Ns podemos e devemos ter opinies diversas, contrrias, mas Deus mais forte, para fazer a comunho, mesmo entre pessoas com caracteres, psicologia, idias muito diversas e ainda contrrias. E outra dimenso a dimenso humana, a suavidade, a alegria... A primeira a mais importante: somos comunidade crist, crente. Deus est no meio de ns. Quando nossa Santa Me comea a fundao de So Jos, a palavra que escuta para anim-la a fazer a fundao esta: "Disse-me que devia ser dedicado a So Jos; esse Santo glorioso nos guardaria uma porta, e Nossa Senhora, a outra; Cristo andaria ao nosso lado" (V 32, I 1). Em espanhol: andaria conosco! Andaria um verbo muito teresiano. No disse: est. No. Andaria! Se anda, "est". Caminha conosco, no meio de ns! A comunidade o grupo de pessoas amigas do Amigo. o pensamento; sempre, antes, a experincia de nossa Santa Me, em Caminho 1, um grupo de amigos, amigas do Amigo. Ele nossa unio; no nossa identificao como grupo, no o que fazemos, mas a Pessoa que est no meio de ns. Uma Pessoa, no o que fazemos. Tudo o que fazemos, embora seja a Eucaristia, podemos faz-lo, sendo inimigos, podemos fazer! Ns podemos celebrar a Eucaristia, sem amor fraterno, mtuo. Pode ser, celebrar a Eucaristia, duas pessoas que no se falam e celebrando a Eucaristia! Pode ser! Ento uma Pessoa a razo de nossa comunidade, no as coisas que fazemos. Todas juntas na orao! Todas ficamos juntas na recreao! Fazemos com pontualidade os atos de comunidade! No! No! Uma PESSOA! Todos ns devemos passar por Cristo, por que o filtro de

ma pequena palavra ainda sobre Deus, nos amigos que ajudam nossa Me Teresa na obra das fundaes, porque Deus no somente age diretamente, por si mesmo, no interior, fortalecendo o corao das pessoas no caminho do bem. Deus tambm desperta amigos que queiram ajudar a Teresa. Numa frase escrita no livro de Fundaes 29,8: disse a Santa Madre que o "prprio Senhor, como se viu nas outras fundaes, encontra em cada lugar quem O ajude". Deus, a Sua Majestade, "encontra em cada lugar quem O ajude". A histria da salvao tambm a histria da luta entre os que ajudam e os que impedem a realizao da vontade de Deus. Entre os que impedem a realizao esto tambm os superiores, os bispos, o nncio. A Santa Madre fica com os dois grupos de pessoas, segundo a relao que tm com a obra da fundao. E assim, sempre, quase sempre, se realiza o que diz nossa santa Me em Vida 36,25: a converso dos inimigos. Diz a santa: "Quando se comeou a rezar o Ofcio", na primeira comunidade, So Jos, "o povo comeou a ter grande devoo com esta casa... e o Senhor comeou a mover os que mais nos tinham perseguido para que muito nos favorecessem e dessem esmolas". Os inimigos nas fundaes de nossa santa Me, na caminhada da Igreja, finalmente se convertem, como na morte de Jesus, muitos reconheciam que "verdadeiramente este o Filho de Deus!" (Mt 27,54). A ltima palavra na histria sempre uma palavra de amor, de salvao, de glria. A vida no termina com a morte, mas com a

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nossa relao. Cristo andaria conosco. Sem dvida, o texto mais rico sobre a comunidade temos em Vida 35, 12. Devemos escutar bem trs termos de nossa santa Me e perguntar-nos, todos os dias se se realiza na nossa vida: "O grandeza de Deus! Muitas vezes me espanto quando me lembro dessas coisas e vejo quo particularmente desejava Sua Majestade ajudarme para que se estabelecesse esse cantinho de Deus... esta casa em que Sua Majestade se compraz". No se compraz na casa material, mas na casa das relaes interpessoais. Deus se compraz ao falar "que esta casa era para Ele um paraso de delcias", de Deus! Perguntamo-nos, as carmelitas, se a nossa comunidade um paraso de delcias. Quando a Santa Me disse: "paraso de delcias", quando comea o livro do "Castelo Interior", era tambm um paraso. O paraso no um lugar. O paraso a casa das relaes pessoais entre Deus e ns, como Deus dos nossos primeiros pais: Ado e Eva. O paraso a relao fraterna. um paraso para Deus, porque Deus comunho. Os cristos esquecem que Deus uma comunidade! Quando falamos Deus, dizemos Deus amor, inclumos comunidade. O amor no existe se no mundo somente vive uma pessoa. No existe! Se eu no tenho uma pessoa com a qual ter uma relao, o amor no existe! O paraso a casa das relaes. Para a nossa Santa Me a essncia da comunidade a relao entre os membros que a formamos. Ela inclui a f, as coisas que fazemos, a orao, o jantar, o trabalho, a relao que fazemos, o paraso. DevemoS sempre recordar-nos que o tempo das relaes muito ntimas entre Deus e as pessoas e entre as pessoas, a sada do paraso, Eva e Ado, comea a luta: Tu s a responsvel! Eu no, a serpente! Recomea. J no dialoga. Ai comea a histria da acusao mtua. "Com efeito, Sua Majestade parece ter escolhido as almas que trouxe para c, almas em cuja companhia vivo com uma confuso muito grande... Essas religiosas suportam tudo com muita alegria e contentamento" (V 35, 12). a dimenso humana das comunidades teresianas. A raiz sempre a relao com Deus. A raiz, no podemos falar de uma dimenso humana, se Deus no conosco. E a dimenso teologal sempre a principal de todas, a raiz, a fonte de nossas relaes humanas. Temos tambm a definio da comunidade, no somente, cada uma das pessoas, mas da comunidade. "Ponhamos os olhos Nele" (V 35, I 4). Vocs tm a imagem de uma roda de carro. Jesus o centro, ns

somos os raios. Todos nos encontramos, no diretamente porque multiplicamos a fraqueza, nos juntamos n'Ele. E ns devemos, a comunidade, para ter uma viso teologal, "pr os olhos Nele!" Porque a nossa relao mtua deve passar por Ele, para purific-la, fortalecla. Deve passar! Vocs podem pensar, se os raios da roda do carro se unem entre si, se multiplica a fraqueza. Multiplica-se! V 36,29 "para que vivam em paz as que quiserem fruir a ss de Cristo, seu Esposo". Na lngua espanhola a frase mais forte ainda: "Solas con El slo" (viver a ss apenas com ELE). "Solas", todas vocs, eu tambm, na minha comunidade. Todo os membros da comunidade, sozinhos com Ele. Porque creio que, a "ss" significa em solido, e "solas", todos os membros da comunidade no devem ter outro amor. Somente o amor de Jesus e com Jesus amar todas as pessoas. "Solas con El slo". uma definio da vida contemplativa. 2. CLAUSURA: UMA QUESTO DE AMOR Eu temo que vocs entendam a clausura, depois o digo, como um sistema de proteo fsica, quando a clausura uma questo de amor. uma questo de uma mulher que quer ficar fiel a seu Esposo, nas ruas, no trabalho, na casa e nos lugares de diverso, fiel ao seu Esposo. Podemos ler o texto mais forte e claro (eu o amo muitssimo e falo muito disto). Irms, vocs podem encontrar aqui a definio de vossa vida contemplativa. Definio de vossa clausura, o afastamento do mundo. O mundo no um espao alm da clausura. No! Como o paraso, no um espao. uma relao entre pessoas. O inferno uma relao entre pessoas que se odeiam. A clausura um espao, no fsico, mas de relao amorosa, de todos os membros de uma comunidade, com Jesus. Escutemos: "As monjas que virem em si o desejo de estar com seculares ou de tratar com eles devem temer no ter encontrado a gua viva de que o Senhor falou Samaritana" (F 31,46). Quem encontra a "gua viva" vive em clausura, recolhido amorosamente recolhido, esteja na rua, ou esteja no trabalho. Quem no encontrou a fonte da "gua viva", pode estar numa priso, crcere, mas no com Ele nem encontrar a fonte da "gua viva".

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Ainda no acabou a Santa Me Teresa: "... e que o seu Esposo delas se ocultou, e com toda razo, porque elas no se contentam em estar s com Ele". A clausura uma deciso de viver, estar s com Ele. "Receio que isso decorra de duas coisas: ou elas no entraram nesse estado s por Ele ou, depois de terem entrado, no conhecerem a grande graa que Deus lhes concedeu". "Estar s com Ele" uma questo de relao de amor. a definio teologal da vida religiosa em geral. A nossa vida, a vossa vida religiosa carmelitana, sobretudo, de vocs, na vida contemplativa. Eu no gosto de falar de clausura. H muitas maneiras de clausura; a priso uma forma de clausura. Somente quando na minha vida h um AMOR, um TU, uma Pessoa que amo, eu fico recolhido, esteja onde estiver, faa o que fazer e depois, para vocs, temos que ter algum sinal, mas a clausura uma questo de amor. Se vocs puderem leiam o texto fortssimo de nossa Santa Me, Vida 7, 4: " uma lstima verificar que, com freqncia, afastando-se do mundo e acreditando que vo servir ao Senhor e preservar-se dos perigos, elas se encontram em dez mundos juntos". Deixam um e encontram dez! Porque o mundo um sistema de relaes com critrios do mundo. O poder um critrio do mundo, o poder! Ento, quando ns na Igreja, temos critrios, no espao fsico, mas temos critrios do mundo, vivemos no mundo e pode ser "dez mundos". Celebrando a Eucaristia, lendo a Liturgia das Horas, a orao, vivemos dentro de "dez mundos". Porque os critrios so do mundo, de poder. Por exemplo: a questo duma clausura, vida contemplativa uma questo unicamente de amor. A relao de todas com Jesus. A fonte o fim da nossa vida. Ns vivemos como vivemos porque acreditamos no amor de Jesus. E ns vivemos como vivemos porque buscamos, procuramos uma comunho mais ntima com Jesus e sabemos que quando fazemos isto, fazemos mais pela evangelizao "estando fechadas lutamos por Ele" (C 3,5). A questo de evangelizao, de presena ao mundo para o anncio da Boa Nova uma questo, no de palavras, no de atos, precisamos deles; mas uma questo de vida. 3. COMUNIDADE PROFTICA Quando uma pessoa vive o relacionamento de amor com Jesus, uma comunidade uma comunidade crist, anuncia, proclama a Boa

Nova. tanto mais forte quanto a sua vida mais recolhida no amor de Jesus. Por isso, uma comunidade recolhida no amor de Jesus , hoje dizemos nos textos de teologia da vida religiosa, uma comunidade proftica. Com a sua vida proclama, diz o que significa a Boa Nova. A Boa Nova a reconciliao entre ns, por isso formamos uma famlia e entre ns, Deus. Dois textos muito importantes, um do livro da Vida 36,25 "Quando se comeou a rezar o Ofcio, a comunidade estava constituda, o povo comeou a ter grande devoo". Outro texto mais claro ainda, "o povo comeou a ter grande devoo com esta casa. Recebemos mais novias,... foram aprovando o que tanto haviam reprovado e, aos poucos, desistiram do pleito, dizendo-se convencidos de ser a casa obra de Deus". As monjas no falavam, no diziam nada e a converso se produz. ainda mais forte o texto das Fundaes 3,18. A Santa Madre sem ler a Bblia sabia mais Bblia que vocs e que eu e as palavras da Bblia que no tinha lido so as suas palavras para dizer a sua experincia. Neste texto mais claro ainda. No esqueceis que falamos da dimenso teologal da vida das comunidades. 'Aumentava o crdito das monjas (em Medina del Campo) entre o povo, que tinha por elas muita devoo... O Senhor comeou a chamar algumas para tomar o hbito; e eram tantas as graas que lhes fazia que fiquei cheia de espanto" admirao das maravilhas de Deus. Vocs sabem que o texto dos Atos dos Apstolos, a primeira comunidade crist, tambm, na traduo literria semelhante: "aumentava o crdito das monjas entre o povo, que tinha por elas muita devoo... O Senhor comeou a chamar algumas para tomar o hbito, eram tantas as graas...". Tudo, Atos dos Apstolos! o anncio no silncio, na solido. Sendo, anunciamos! sempre a preocupao de nossa Santa Me: ser, no fazer. Sendo, fazer. Podemos fazer sem ser. Sim! Somos o nico animal, no reino dos animais, somos o nico animal que pode fazer coisas sem ser.Tu podes ficar diante do Santssimo Sacramento, recolhido, sem ser orante. Tu podes beijar uma pessoa sem amor. Podes faz-lo sem amor. Tu podes comer sem necessidade, sem fome, podes faz-lo. A nossa Santa Me preocupada pelo SER. Vocs sabem, conhecem a pergunta, quando comea a pedagogia de orao, no livro o Caminho de Perfeio 4,1, "Como havemos de ser?" No disse fazer: que temos de fazer, para... No! Ento, uma comunidade que comunho de vida entre os membros da comunidade e com Deus, anuncia o Evangelho. uma

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comunidade convertida. Tem influncia muito grande no desenvolvimento da Igreja no mundo. Muito importante essa concepo teresiana da comunidade como relao entre pessoas. O nico essencial da vida da comunidade crist a unio! No essencial que celebremos a Missa, no essencial. A Santa Madre no tinha todos os dias a Missa, no recebia a comunho todos os dias. No essencial que rezemos o Ofcio de Leituras, Laudes, Vsperas, no essencial. O nico elemento essencial a comunho entre ns. Somente! Digo sempre que podemos chegar ao matrimnio espiritual sem receber o Batismo, sem receber a Comunho, etc. Podemos chegar! Porque o matrimnio espiritual uma vocao universal de pessoas. No questo somente dos catlicos, dos crentes em Jesus. uma vocao pessoal; Deus chama a todos os seus filhos unio com Ele. Por isso a Santa Madre, para as vossas pequenas comunidades, buscava sempre o mximo de carisma, o mximo de Esprito e o mnimo de estruturas, o mnimo! Porque as estruturas podem converter-se em um empecilho muito forte no caminho ou na caminhada de comunho com Deus. Ento, o mesmo diz a nossa Santa Me quando (falando da dimenso teologal da vida das carmelitas), fala da linguagem das carmelitas. A linguagem a maneira de viver. Deus, - como diz So Joo da Cruz somente fala a lngua do amor. No entende outra lngua. No captulo de Vida 36,26 a Santa Madre disse: "As monjas s sabem falar de Deus (no falar como fao agora eu, o estilo de viver), razo porque s as entende e entendido quem fala a mesma linguagem". Quem chegue a vocs deve imediatamente entender, compreender que est diante de uma mulher, uma comunidade dum s amor: o AMOR DE DEUS. Basta, a lngua! vosso estilo de viver: a linguagem que s fala e que entende a linguagem do amor. Por isso, no Caminho de Perfeio o captulo 20,4 duma beleza extraordinria, dum humanismo extraordinrio, mas, mais com uma raiz teologal. Mais extraordinrio ainda e a raiz teologal do ltimo pargrafo. "A orao o vosso assunto". "A orao", no pense no ato de orao. A orao AMIZADE uma maneira de ser. Sim, vocs, sabem muito bem que dissemos: sou amigo, sou! Como sou mulher, sou homem, sou carmelita, um estado permanente. A orao, para nossa Santa Me Teresa, uma maneira de ser em relao. Ento, "a orao o vosso assunto, e a sua e a vossa linguagem". No significa que devemos falar

de orao, mas que a nossa identificao. SOMOS AMIGOS DE DEUS. E isto, as pessoas que venham s nossas comunidades devem v-lo. 4. IDENTIDADE TEOLOGAL Muitas vezes me dizem: pertence ao nosso carisma, ns podemos fazer nas nossas comunidades um grupo de orao que venha orar uma vez cada semana, cada ms as Vsperas, a orao pessoal? Podemos ou vai contra o nosso carisma? E eu respondo com outra pergunta: Pertence ao vosso carisma estar no locutrio, falando de tudo com uma pessoa? No. Ento, porque vos pergunteis se pertence ao vosso carisma orar com um grupo de pessoas e no pergunteis se pertence ao meu carisma estar todo um dia com uma pessoa no locutrio, escutando ela falando, perguntando de tudo o que passa na cidade? Porque a vossa identidade teologal no tanto grande. Para que podeis entender bem o que digo preciso que escuteis o texto da converso de Teresa de Jesus, no captulo 24 do livro da Vida, todo o captulo, mas leio o n 5 e 6. A Santa Me escuta uma palavra, como vocs e eu escutamos a palavra, a mesma palavra, "J no quero que fales com homens, mas com anjos". A questo , quem so os anjos? As monjas, quando eu era jovem e comecei a partilhar com elas o que sabia e amava de nossa Santa Me, ficaram espantadas, mas no pela contemplao, mas pela ignorncia quando eu lhes dizia: Os anjos no servem a Teresa de Jesus, muita mulher para ter conversao com anjos! Ento, quem so os anjos? No n 6, podemos ler: "Essas palavras se cumpriram" (porque a Palavra de Deus dita e feita), "pois nunca mais consegui permanecer em amizades nem ter consolo, nem afeio particular seno por pessoas que, pelo que percebo, amam a Deus e procuram servi-Lo". Eis os anjos! A nossa relao deve ser com pessoas que vivem a sua vocao e por isso podem ajudar-nos a viver a nossa vocao; com pessoas que "amam a Deus e procuram servi-Lo". So os anjos! Logo, desta graa, comearam as amizades teresianas, boas, que ns conhecemos. Por que? Porque o ponto de unio entre os amigos era Jesus. Ento, a linguagem de Deus significa uma mulher teologal, que tem em Deus o centro de sua vida. Por isso tudo o que acontece passao pelo filtro de Jesus. Se uma relao pessoal, sem fazer nada mal, mas se uma relao pessoal no estimula a que eu seja cada dia mais

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carmelita, no boa; porque no a minha linguagem, no ! A minha vocao Deus! Ento, a identidade teologal muito importante, e isto no significa a inteno, a realidade e nisto deveramos ler tudo o que nos diz a Santa Madre Teresa no Castelo Interior para ver a "morada", o "nvel" de nossa relao de amizade com Jesus. Se muito superficial ou muito profunda. As Moradas so nveis de relao. Quando a nossa relao mais profunda com Jesus somos mais teologais, temos um radicamento, temos em Deus a raiz mais profunda de nosso xito. Ento podemos ter relaes mais teologais com os outros e assim fazer urna comunidade na qual Deus o amor que une a todas as pessoas. Ento, a comunidade espelho para a igreja. Uma palavra que Teresa usa duas vezes: espelho. No qual a Igreja, comunidade, pode verse, contemplar-se, para ver como deve ser ela na sua universalidade: o que esta comunidade de carmelitas. Porque a sua linguagem Deus, porque somente Deus pode nos unir e s Deus pode tambm fazer despertar os outros converso para pertencer Igreja, comunidade reunida por Cristo e conduzi-la pelo Esprito, na verdade e no amor. Depois falaremos um pouco sobre, como Teresa via a realidade concreta das comunidades carmelitanas primeiras das Fundaes, para dizer: deveis continuar assim, as comunidades futuras, como de fato na realidade viviam as comunidades teresianas.

Como devem ser as Comunidades Teresianasorno nos Atos dos Apstolos, talvez, quando a nossa Santa Madre escreve sobre a realidade das comunidades, uma boa parte das suas palavras so desejo do que ela queria, sonhava, e outra parte de realidade. Vocs sabem que nos Atos dos Apstolos ns temos isto: o sonho do que os Apstolos queriam, que a comunidade crist fosse e a realidade tambm. Vamos escutar a nossa Santa Me sobre o que ela pensa que devemos ser nas nossas comunidades, isto certo, o que ela pensa. Se o pensamento era realidade nas comunidades primitivas, bendito seja o Senhor! E se o pensamento no era realidade, temos como nossa Santa Me quer que as comunidades sejam. 1. UM RETRATO DOS PRINCPIOS DA ORDEM O ttulo ser estas palavras de nossa Santa Me no captulo 2 das Fundaes, n 3 Depois da visita do Padre Geral ao mosteiro de so Jos a Santa Madre disse, "ele (o Padre Geral) se alegrou por ver como vivamos e por encontrar uma reproduo ainda que imperfeita dos princpios da nossa Ordem". Em castelhano "retrato", uma cpia muito semelhante vida dos princpios da Ordem. Para ela, como lemos, "os princpios da Ordem" significam a inspirao espiritual. Esto presentes em todos os escritos, sobretudo nas Fundaes.

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Os princpios no so a cronologia, quando comea, no. Os princpios so um estilo de viver, uma inspirao de vida que assemelha aos princpios tambm cronolgicos. No devemos repetir a vida dos princpios, mas fazer a nossa vida como principio. Com a mesma inspirao, fora do Esprito, dos primeiros. "Agora comeamos", significa isso: estar na inspirao primignia, original. Porque mais samos dos princpios e quando samos dos princpios as coisas no funcionam bem. Ento, "retrato", as nossas comunidades: "retrato", cpia, reproduo dos princpios. Vocs podem ler os captulos de Fundaes, I 2 3 (fundao de Medina), e 4,2.5.8. para ver a realidade com os olhos das comunidades teresianas. E tudo isso na perspectiva da mensagem que Teresa quer dar-nos: de ser hoje no menos fiis vocao dos primeiros irmos e irms, ser hoje to fiis vocao como eles foram. Ento, em F 1,5-6, podeis ver porque, a razo, o motivo, a Santa Madre quer falar, escrever, dizer-nos alguma coisa da vida das comunidades, a inteno. Ento eu leio com vocs para dizer o que quero dizer, o captulo 4,2 "Vendo as coisas espirituais que ocorriam durante esses anos nestes mosteiros" ( uma confisso da realidade); "vendo as coisas espirituais que ocorriam nos mosteiros, vendo, vendo". N 5 "Com o comeo da povoao desses pombaizinhos da Virgem Nossa Senhora, comeou a divina Majestade a mostrar suas grandezas nessas mulherzinhas fracas". O contraste: de fracas nada! uma crtica aos homens. A ironia teresiana fina! E vocs podem continuar lendo, "ainda que fortes nos desejos e no desapego das coisas perecveis, que deve ser a coisa que mais une a alma ao seu Criador". Caminho de Perfeio, 8, I "abraadas apenas ao Criador", desapegadas de todo o resto. Abraadas! Mulheres dum s amor! O apego: a unio com Deus. Porque desapego um termo negativo e devemos ter conscincia do termo positivo se queremos compreender bem o termo negativo. Carta de 30 de maio de 1582 a Santa escreve " muito alheio ao esprito das Descalas qualquer gnero de apego, ainda que seja (sobretudo) com a superiora e com isto jamais medraro espiritualmente. Deus quer suas esposas livres (afirmao positiva), apegadas unicamente a Ele". O nico apego que nos liberta o apego a Deus. "Livres quer Deus suas esposas, apegadas s, unicamente a Ele!"

No pargrafo seguinte, no princpio, uma norma, uma linha de educao, "Por este Senhor peo a vossa reverncia (Ana de Jesus, amiga de so Joo da Cruz, a priora das prioras): olhe que est criando almas para esposas do Crucificado; crucifique-as para que no tenham vontade prpria". "Crie almas para esposas do Crucificado, crucifique-as". Como? Muito facilmente. Muitas vezes digo, seguindo o comentrio, as palavras de nossa santa Me, nas 7 Moradas 4,8, seguindo, "sabeis o que significa ser de fato espiritual?" Pergunta a Santa Madre, que significa ser espirituais? Que significa ser carmelita? O Crucificado, seguir o crucificado. Crucificado significa um homem que morreu no amor, no um homem que morreu na Cruz. Dum lado recebia de seu Pai tudo, de outro lado dava tudo. a imagem do Crucificado. Jesus nunca teve cuidado de Si mesmo. a crucifixo! uma crucifixo de amor: recebo, e recebo tudo para dar tudo. a crucifixo! Ensine as monjas a se crucificar. Ensine! No as crucifique. o que fizeram os judeus materialmente com Jesus. Ensine a que as novias, as monjas, suas irms se crucifiquem, sejam esposas do Crucificado. Evangelho! Para unir-nos com Jesus, viver e morrer pelo que Ele viveu e morreu. A crucifixo a propriedade do amor. 'Apegadas a Ele somente". Unicamente! a crucifixo e servidoras das irms. O Crucificado no um homem que morreu cravado na Cruz. No. Morreram outros tambm, assim. UM HOMEM QUE NO SE PERTENCE, aberto a Deus Pai, aberto aos homens. a imagem do Crucificado! Voltamos s Fundaes, 4,5 "fortes nos desejos e no desapego das coisas perecveis, que deve ser a coisa que mais une a alma ao seu Criador, estando ela com a conscincia limpa". Ento, "como tudo o que essas almas praticam e tratam sempre est vinculado com Ele". Outra vez, praticar no falar, tratar no dizer coisas, a FORMA DE VIDA. As minhas irms, as minhas filhas somente vivem preocupadas com Deus. Basta! A definio, a nossa identidade a relao pessoal com Deus. Ento, comea a receber, no captulo 8, comea a receber muitas, muitas, muitas graas tambm de formas de orao. F 8,5-6 a leitura que faz a nossa Santa Me da curta histria, da fundao, da reforma. F 4,5: "Isso o que vejo agora (a realidade) e, com verdade, posso dizer. Temam as que esto por vir e lerem isto; e, se no virem o que agora h, no atribuam aos tempos". Eis que depois do Conclio Vaticano II a

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crise...! "no atribuam aos tempos, pois para Deus conceder (graas) grandes favores a quem O serve deveras qualquer tempo tempo". O Deus do incio da reforma no maior, mais ardoroso que o Deus de agora, no podemos dizer: "os tempos", a formao, a situao da Igreja, o mundo, no! Para Deus todo tempo hora. Para iniciar uma vez mais a leitura do passado deve mergulhar no presente. Ler o que Deus fez uma premissa para ler o que Deus faz no presente. Porque para Deus todo tempo vlido para se mostrar, se revelar como Deus amor, que comunica a abundncia da Sua graa aos que quiserem receber. Sim, estamos ns num tempo bom para Deus, se para Deus isso um bom momento para a Sua comunicao, para ns deve ser tambm. Se lermos o que fez, para ler o que faz. Ns devemos ficar sempre no nosso tempo. No podemos fugir nem para traz, ao passado, nem para diante, o futuro. Devemos ser fiis ao nosso tempo. Deus atende, porque nesse tempo Deus nos chamou e nos chama a ser "AMIGOS DELE". Sejamos, com realismo, irms, na prpria comunidade! Eu no posso dizer:... (alguma referncia farei Encarnao); a Santa no deixa a Encarnao porque no possa servir a Deus. Gosta muito, e esta muito contente. Mas deixa porque queria que a sua fidelidade fosse comunitria. Ento, no podemos ler isto sem um profundo realismo. A minha comunidade, a minha provncia, o Carmelo histrico, no tenho outro. Neste Carmelo histrico Deus comunica a sua graa como o fez no passado. Deixar realmente, juridicamente, deixar afetivamente a histria da minha comunidade orgulho, soberba, no humildade verdade. Porque Deus na prpria comunidade continua a fazer graas para melhorar a vida carmelitana, no nosso caso.

fidelidade), no dizer: temos uns pais maravilhosos, temos duas doutoras mulheres da nossa famlia na Igreja, e duas das trs doutoras so Carmelitas, no! Devemos louvar o passado, vivendo o presente. E a Santa Madre responde muito brevemente: "E assim ", que Deus concedeu muitas graas, no aos que iniciaram a vida religiosa, mas, mas...! "Contudo, devemos sempre nos considerar alicerces dos que vierem mais tarde". o princpio de vida que eu sempre desejo para mim: deixar um Carmelo melhor do que eu recebi. a graa que todos ns recebemos e o desafio que todos ns recebemos na graa: deixar, s geraes futuras, um Carmelo, uma Igreja, uma sociedade melhor da recebida. "Todos somos alicerces", devemos comunicar vida, devemos fazer que os que vierem possam ver em ns a imagem melhor do Carmelo do incio. "Porque, se agora os que vivemos no tivssemos perdido o fervor dos antepassados e se os que viessem depois de ns fizessem outro tanto, a edificao sempre estaria firme". Quando falo do Castelo Interior, da estrutura material, do smbolo, digo que o Castelo tem uma porta para entrar e no para sair e que o Castelo tem alicerces: o amor fraterno, como podeis ver no ltimo captulo das Moradas, ltimo quarto das 7M 4,8, o amor fraterno. Mas o Castelo no tem teto, por qu? Porque devemos seguir construindo. O Carmelo aberto construo de todas as geraes. A Santa Madre no disse: O Carmelo est terminado e o que devem fazer as geraes futuras fazer o que as primeiras fizeram, com mais amor, - que a frmula que vocs dizem tantas vezes, porque, sem dvida, a ouvistes dos pregadores de exerccios - mais amor! Que significa, mais amor? Quando as monjas me dizem que prepararam os alimentos com muito amor, eu digo: o vosso muito amor no me aproveita; eu quero os alimentos bem feitos, com as regras prprias de cozinha, pois com amor no se cozinha. E bons alimentos feitos segundo as regras... com amor... eu no como amor,... no gosto. Uma ao feita como devemos faz-la a nica maneira de faz-la segundo a vontade de Deus. fazer bem o que devemos fazer. Para fazer bem, a fidelidade do vosso carisma no uma questo jurdica. A Santa se pergunta: "Que proveito tenho com o fato de os santos antepassados terem sido desta ou daquela maneira se eu for to ruim depois, se estragar, com maus costumes, o edifcio?" (F 4,6). "Que proveito tenho?" Eu posso ter uns pais maravilhosos e ser

2. TODOS SOMOS ALICERCES

Isto ainda mais claro em F 4,6, todos ns recebemos graas de fundadores, todos ns somos alicerces dos que viro. Recebemos graa de alicerces somos raiz, fundamento das geraes futuras. "Ouo algumas vezes afirmar-se que, no incio (no princpio) das Ordens religiosas, como se tratava dos alicerces, o Senhor concedia maiores graas aos nossos Santos antepassados". E por isso ao fim das Fundaes a Santa nos disse: No faais como tantos grupos de vida religiosa em que louvam seus incios (louvar os seus incios significa viver hoje em

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um filho no to maravilhoso. A herana espiritual no existe. Existe outra, a espiritual no! Ns no temos a herana espiritual de So Joo da Cruz e Santa Teresa porque somos juridicamente Carmelitas. No! fcil compreender isto? Sim! Vocs no so brasileiras por nascimento se no conhecem, amam a cultura, a histria, a lngua do povo brasileiro, no so brasileiras. Ns no podemos falar de animais irracionais brasileiros. Para ser temos que incorporar nossa personalidade a cultura, os valores prprios da famlia de nossa pertena. Ento, quando dizemos: Eu quero viver como quis a nossa Santa Me. O que significa isto? Deves conhecer! Se no conheces, tu no podes viver como ela viveu. Deves conhecer, porque o amor em ns posterior ao conhecimento. Ns no podemos amar o que no conhecemos. E no podemos viver o que no conhecemos. O que tu podes viver como carmelita se no conheces o carisma fazer o que tuas irms fazem: inclinao, orao, agora tempo de comer,... isto no ! "Que proveito tenho com o fato de os santos antepassados..." No aproveita, se eu conhecendo-lhes no vivo como eles viveram a comunho espiritual. Por isso ns, os humanos, temos necessidade de transmitir a cultura. Os animais irracionais se ficam sozinhos, no dia seguinte na sua vida faro o que os outros fazem. Mas ns no! Ns devemos receber os contedos de uma vocao humana, carmelitana para poder viver a vocao carmelitana. Por isso a Santa diz que ns temos uma herana jurdica. Por ser carmelitas temos o esprito Teresiano. No! Por ter uns Santos to grandes e reconhecidos pela Igreja no mundo inteiro, ns somos. No! A herana espiritual no existe. uma transmisso, aceitao dos contedos da vocao. Nisto ns devemos trabalhar muito; a transmisso hoje todos podemos viver sabendo muito bem, conhecendo muito bem o que o Carisma Teresiano. E todos ns podemos fazer uma transmisso do carisma Teresiano muito boa. Ns devemos querer, dialogar, ler a formulao do Carisma que fizeram So Joo da Cruz e Santa Teresa para faz-lo nosso Carisma e depois fazemos a transmisso s outras pessoas e viver fazendo o mesmo: que o carisma identifique a prpria vida, a prpria pessoa, uma identidade espiritual e os torne capazes de fazer de transmissores do carisma. uma cadeia, como estamos unidos ao princpio pelas diversas geraes. A leitura da primeira formulao, que a formulao dos Pais ,

dos Fundadores, absolutamente necessria para cada gerao. No podemos ficar somente com a formulao do carisma da gerao anterior a ns. Devemos escut-la, pegar o que as move, devemos ir at a origem para ver a formulao tpica, original, feita, realizada por aqueles que receberam da Igreja a graa de "comear" uma nova maneira de vida consagrada, religiosa, de seguir Jesus na vida religiosa. Para ns os escritos de nossa Me Teresa e de so Joo da Cruz so, com toda a razo, a formulao do carisma. Hoje no podemos perder mais tempo. Sobretudo quando estamos em uma situao eclesial na qual os nossos Santos so procurados por tantas pessoas. O nosso grupo, que temos na Igreja a principal misso de viver o carisma como o fundaram os nossos Pais, devemos afirmar, acolher o desafio do que o Esprito Santo suscita hoje na Igreja, buscando o carisma TeresianoSanjuanista para saber viver e fazer uma produo que seja mais fcil para a compreenso da mesma pelos leigos, pessoas, sacerdotes, que buscam, procuram o carisma Teresiano para alimentar, estimular a sua vocao. Ento, vamos fazer a leitura de nossos Santos Pais, sabendo que no devemos repetir, mas criar. No podemos repetir. Devemos criar, fazer uma nova leitura, em sintonia homognea com a traduo de nosso carisma e fidelidade a Eles, em fidelidade ao Esprito que hoje na Igreja suscita carmelitas que devem ser os que vivam e transmitam, partilhem o seu carisma com os outros membros ou grupos da Igreja. Sobretudo esses dois nmeros 5 e 6 do captulo 4 das Fundaes, antes de dizer sobre a histria das Fundaes concretas, muito importante para que ns sejamos conscientes de que a nossa vocao carmelita no uma questo jurdica, como podemos l-la nas Constituies, uma questo espiritual. Aceito a vocao, dialogo com a formulao da mesma e quero transmitir com a minha vida, palavra, na Igreja de hoje, a traduo deste carisma a fim de que possa iluminar, estimular a vida crist das pessoas que quiserem ajudar-se no carisma Teresiano-Sanjuanista para fazer a caminhada da f do Cristo Filho de Deus, ao Esprito que conduz a vida de todos os crentes.

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Unio com Deus na Vida, na Histriacaptulo 5 das Fundaes. Mas como tantas vezes acontece a nossa Santa Me no captulo 4, no ttulo, escreve: "Trata de algumas graas que o Senhor concede s monjas desses mosteiros e d conselhos s prioresas acerca do modo de proceder nesses assuntos". A Santa diz alguma coisa dessas graas, mas voltar ao discurso no captulo 6,7 e 8, grandes captulos tambm, porque imediatamente introduz o grande tema do captulo 5. O meu conselho que hoje, todas as irms, possam ler, 2, 3, 4 vezes, o captulo 5 para sab-lo intelectualmente e depois pratic-lo, vivlo. muito importante! Um captulo, que como dizia ontem, os nossos irmos e irms no conheceram nos sculos antes de ns. Comeamos a descobri-lo no imediato ps Conclio Vaticano II. Nos Decretos do Captulo Especial, queiram ler, os postulantes, as novias, todas vocs. No esquecer, o documento mais importante do magistrio da Ordem depois do Conclio Vaticano II. a sntese melhor, completa, total que a Ordem fez no tempo do Vaticano li: Decreto do Captulo Especial dos Carmelitas 1967-1968. um extraordinrio documento. Como somos pais mais responsveis dos nossos filhos, abandonamos, deixamos no esquecimento o livro. Eu digo tantas vezes: "Devemos voltar". Neste documento comeamos a citar, a servir-nos muito do captulo 5 das Fundaes. Todo o captulo extraordinrio! Vocs podem falar com algum dos nossos padres, aqui no Brasil, porque podem fazer muito economicamente e se necessita, o pagamos a Casa Geral, uma edio como se fossem fotocpias, que fica muito

1. OFtAO - AMIZADE: UMA MANEIRA DE SER

O

Quando falamos, os Carmelitas, da orao ns devemos, antes de pensar no ato de orao, sobretudo vocs monjas, devemos pensar na orao como uma FORMA DE SER, uma AMIZADE. Quando falamos dos amigos no pensamos nos momentos que esto juntos. Pensamos em duas pessoas que tm uma relao de amizade. Se falam dos amigos que vocs tm, dos amigos que conhecem, no pensam nos tempos: que os amigos se juntam para estar juntos, para falar.., no! Pensam numa maneira de ser: SO AMIGOS. O mesmo deve acontecer quando falamos a Deus, os Carmelitas, quando falamos, pensamos na orao. No pensem nos tempos. mais importante, mais teresiano pensar numa maneira de ser: SOMOS AMIGAS DE DEUS, somos amigos de Deus. E depois podem pensar nos tempos, porque os amigos gostam de estar juntos, ter tempos para encontrar-se cada dia, cada semana, cada ms... Precisam estar fisicamente juntos. Eis os tempos de orao! Mas antes devemos pensar na maneira de ser. Comeo dizendo isto porque o captulo 5 o texto mais importante que fala da orao como uma maneira de ser. Quando eu digo: "Sou amigo de..." Quero dizer: procuro sempre o seu gosto, o seu prazer, prazer imenso. No penso de estar com o amigo. Eu sei que no possvel estar muito tempo. A amizade antepe o outro a mim mesmo: procurar fazer a sua vontade, buscar o seu contentamento, o seu prazer, o seu gosto. Eu mesmo esqueo de mim. Comeamos com uma introduo extraordinria no n 1. Eu comeo o livro "Orao Histria de Amizade", a introduo com este texto, para que ns saibamos dialogar. Os msticos sabem dialogar. Conhecem que o outro tem alguma coisa importante que dizer e ler. Os msticos no tm a palavra definitiva, porque sobre a experincia no temos nunca uma palavra definitiva. Vocs no diro nunca a palavra definitiva sobre a prpria experincia de dor, de alegria. Porque a experincia no cabe numa palavra, em todas as palavras do dicionrio. "No minha inteno nem pensamento afirmar que o que digo esteja to correto que possa ser tido por regra infalvel" (F 5, I ). Ento, o dilogo

bem para t-los nas comunidades, sobretudo paras as jovens que comeam a leitura do Carisma uma sntese muito boa!

est aberto. "Tratando-se de coisa to eivada de dificuldades, faz-lo seria um absurdo". Volto a dizer, irms, a experincia nossa de dor, de alegria, a nossa experincia de amizade no podemos traduzi-la nunca completamente, com

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todas as melhores palavras. Ento, se vocs, como devem faz-lo, falam de experincia na sua vida, devem ser as mestras de dilogo. Porque quando ns falamos de experincia no dizemos uma palavra definitiva. Ouvimos a experincia dos outros, a recebemos para ver a luz, o estmulo que suscita em ns. A experincia no se discute! Com a certeza de no poder diz-la completamente. "Como h muitas formas de trilhar o caminho do esprito, talvez eu consiga falar com acerto acerca de alguma delas". O caminho do Esprito muito mais do que a experincia teresiana nos fala. E a forma do caminho, a qual Teresa nos fala muito mais do que Teresa falou! "As almas que porventura no me entenderem por certo seguem outra via. E se o que digo no servir a ningum, o Senhor h de aceitar a minha boa vontade". Ento, temos uma introduo muito boa, necessria para que saibamos dialogar, dizer a nossa experincia do que ns pensamos da nossa experincia e escutar, receber a experincia das Irms com um corao aberto. Aberto! Sem preparar a cabea para discutir. Abre o corao experincia dos outros.

2. A

SUBSTNCIA DA VERDADEIRA ORAO: o

AMOR

Imediatamente, depois desta introduo a Santa Madre Teresa comea diretamente a apresentar-nos o corao, o centro do seu discurso, a substncia da verdadeira orao. Penso que a nica vez que a Santa utiliza o termo substncia. um termo filosfico, para dizer o corao, o essencial; o que ningum pode esquecer; deve t-lo sempre. bem claro na sua cabea. A substncia! "Em primeiro lugar, desejo explicar, nos termos de minha pobre compreenso, a essncia da perfeita orao" (F 5,2). Eu comecei a dizer: "Em primeiro lugar, desejo explicar, nos termos da minha pobre compreenso a ESSNCIA (da amizade) A MAIS PERFEITA CONTEMPLAO". O termo da orao: a AMIZADE. "Porque conheci algumas pessoas" (a causa alguns, porque faz referncia aos telogos, no s mulheres, no s pessoas; "alguns", masculino). Porque temos duas maneiras de ser pessoas: uma masculina, a outra feminina. E aqui no fala de vocs, mas dos masculinos; "alguns", fala; de "pessoas que supem residir tudo no pensamento". prprio dos masculinos, mais do que de vocs. Tudo est no pensamento. Vocs devem saber, se no o sabem, que pouco depois da morte da Santa Madre, nasceu

um grande filsofo francs, Descartes (1596-1650). E Descartes disse uma sentena que teve uma grande influncia na cultura ocidental tambm para vocs que so do ocidente "Penso, logo existo" ("Cogito, ergo sum"). Penso, logo, falo de Deus, do meu pensamento, estou muito bem, porque falo de Deus. Penso, falo de Deus. No podemos apresentar o pensamento como a identificao da pessoa. Amo, ento, existo. Se no amo, no existo; ou existo como um animal irracional. A vida das pessoas masculinas, femininas a vida no o pensamento. A vida o amor. Sem ti eu no posso ser, no posso existir. Isto o senso da criao, o homem, a mulher. Sem falar de homem e mulher a distino sexual; sem outro eu no posso ser, porque ns somos sociais. Ns somos comunitrios. Eu posso pensar em Deus como posso pensar em tantos sujeitos, a natureza, os animais, a geografia, os mares, os peixes. Posso pensar, refletir, raciocinar. Os homens, os telogos diziam que tudo, a substncia, a essncia da orao est no pensamento. Refletir. E "se conseguem ocup-lo muito com Deus, mesmo que com muito esforo, cedo essas criaturas concluem que so espirituais" (F 5,2). No! So pensadores em Deus. Como outras pessoas pensam nos peixes, pensam no dinheiro, pensam na cozinha. Que voc pense em Deus, no significa nada! No devemos confundir a vida com o pensamento. Para pensar, que precisamos? idias! Se no temos idias, se no temos pensamentos, se no temos cultura religiosa, se no temos uma educao de cabea, no podemos pensar. Pensamos no vazio! E tantas vezes, vocs, com a sua cultura teolgica podem ficar durante as horas de orao em vazio. Por qu? Pois porque no tem idias. E precisamos ainda outra coisa: ter tempo! Se no temos tempo para pensar, - um pai de famlia pobre, que deve pensar muito na fome de seus filhos, no tem tempo para pensar diretamente em Deus. Temos que ter tempo para pensar! A nossa Santa Me, diz que quando estas pessoas que pensam que o pensamento tudo, a perfeita orao, desde quando, apesar de tudo se distraem, se distraem no tempo de pensar, com a imaginao, se distraem nas ocupaes, na cozinha, na leitura, leitura estudo da Bblia,

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se distraem e depois... Ah! No tenho tempo agora para fazer orao! Ento, quando se diz: "Porm se, apesar de tudo, se distraem, ainda que por bons motivos", motivos de fazer a comida s tuas irms, motivos de fazer a limpeza no mosteiro, motivos... "quando se distraem, ainda que por bons motivos, deixam-se abater por uma grande desolao, tendo a impresso de estarem perdidas!" No fao orao! Eu vim ao Carmelo para fazer orao e devo fazer a cozinha, limpar mosteiro... No tenho tempo! Eu digo, aos meus irmos que eu no vim ao Carmelo para ser professor de Teologia, para ser missionrio, para ser professor, para ser... Eu vim ao Carmelo para fazer a vontade de Deus! No para fazer orao. No para escrever! Para fazer a vontade de Deus! E, a vontade de Deus, sempre! Depois a Santa Madre fala muito disto, a vontade de Deus a fao quando obedeo a meus irmos, somente obedecera meus irmos que podem dizer: Deixa a misso da frica, queremos que mores em Roma. Muito bem! Agora, pensamos que deves ficar na China! Muito bem! Venho ao Carmelo para fazer a vontade de Deus! No para ser prioresa, mestra de novias, postulante. A fazer a vontade de Deus! No a ter uma hora de orao como dizem as nossas Constituies! No! Venho fazer a vontade de Deus! Muito simples! Pode ser que esta coisa to simples, a esquecemos, pensando. Para a nossa Santa Me, continua: F 5,2 "Mas ns mulheres (todos ns, a ironia teresiana) precisamos de avisos quanto a isso ("a isso", a perfeita orao, pensar muito). No digo que poder meditar sempre nas obras do Senhor no seja uma graa especial", no digo isto! uma "graa especial" ter tempo para poder ler a Sagrada Escritura, para estar diante do Santssimo Sacramento, na orao. "Sendo bom que se procure consegui-lo". Quem pode, que faa! "Mas cumpre entender que nem todas as imaginaes podem", imaginaes, aqui, significam pessoas. Nem todas as pessoas podem meditar, no sentido estrito da palavra: fazer meditao. Mas quando ns falamos de meditar, o termo significa refletir. Um empresrio pode vir aqui solido, para refletir sobre seu negcio; para meditar como fazer para ganhar mais dinheiro, abrir novas empresas. Meditar como o Presidente Cardoso pode vir aqui a refletir, a meditar... pode vir a refletir! Nem todas as pessoas podem refletir, meditar! No tm tempo! No tem idias! No tm formao! Para meditar sobre a Eucaristia... "Contudo, todas as almas tm capacidade de amar". Eis

uma afirmao essencial. Como a relao com Deus aberta a todos os seus filhos. A orao no pode consistir numa coisa que muitas pessoas no podem fazer. Todas so capazes de amar! uma afirmao positiva, de esperana para todos. Ainda que estejamos muito feridos por experincias negativas de relao, na famlia, nas amizades, ns continuamos com a capacidade de amar. A Santa conclui dizendo que "o benefcio da alma (no caminho da relao com Deus) no est em muito pensar, e sim em muito amar". No disse: estar muito tempo diante do Santssimo Sacramento: muito tempo lendo a Sagrada Escritura... "Nem todas as pessoas podem..." Disse que "o benefcio est em muito amar". No disse em muito orar, em ter orao. Em muito amar! Deveis pensar palavra por palavra. A Santa Madre sabe muito bem que as trevas envolvem a palavra trmino, realidade, amor. Busco nas 4 Moradas e no livro da Vida outro texto, em ateno a todas vocs, minhas irms, porque deveis lavar profundamente a vossa cabea. Profundssimamente! 4M 1,7 Disse a Santa que "o importante no pensar muito, mas amar muito". Ainda aqui no disse que o importante orar muito, mas amar! E imediatamente no primeiro pargrafo, continua dizendo: "E, assim, deveis fazer o que mais vos despertar o amor". Deveis pensar: Se o amor desperta-se mais fazendo um trabalho pela comunidade, deixar ao Senhor tranqilo no Sacrrio e fazer a outra. Deixai a Bblia tranqila, na vossa cela e fazei outra coisa. "O que mais desperte o amor". O que mais bem faz comunidade. Continua: " possvel que nem saibamos o que amar; isso no me espantaria muito". Cinco sculos atrs as coisas no estavam claras, hoje menos! E, no estavam claras, com o mesmo termo utiliza a Santa Me Teresa de Jesus. "Porque o amor no est no maior gosto". No! No! Ns confundimos o amor com o gosto. O amor no tem nada que ver com o gosto! Se voc tem muito gosto, no quer dizer que tenha muito amor. Se voc no tem gosto, no quer dizer que no tem amor. Se voc me diz: Ah! Frei, eu o amo com muito gosto! E eu lhe digo, imediatamente: O gosto fica para voc, que no tenho necessidade. O gosto seu. Porque o gosto fica sempre na pessoa, no passa. O que passa o amor. "O amor passar de si ao prximo". O gosto a pessoa ficar sempre dentro de si. O gosto no passa. O que passa o amor. O gosto, sempre, sempre, sempre, sempre uma coisa da pessoa; pertence pessoa e fica com ela. No passa! O gosto como

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o vestido, a veste da pessoa, uma coisa que pode acompanhar ou no. No podemos confundir o amor com o gosto. O amor, disse a Santa Me: 4M I ,7 "Porque o amor no est no maior gosto, mas na maior determinao de desejar contentar a Deus (o gosto do Amigo, o contentamento do Amigo), em procurar, na medida do possvel, no ofend-Lo e em pedir-Lhe o aumento contnuo... da Igreja..." Termina: "So esses os sinais do amor". Para o discernimento, "SO ESSES OS SINAIS DO AMOR". Quando temos distraes na orao, quando o nosso corao fica seco, rido, no significa nada!! Somente que, como somos egostas, para o egosta bom ter gosto. Por isso, os lamentos sobre as distraes, sobre a aridez pessoal... Se tu buscas o amor, no significa nada ter aridez, distraes. Ento o que buscas o egosmo, que o contrrio da amizade. Por que a amizade ter, dar, procurar, dar contentamento ao amigo, simplesmente! E no livro da Vida I I ,I3 "Deve-se acentuar... que a alma que, nessa trilha da orao mental, comea a caminhar com determinao e consegue de si mesma no fazer muito caso, nem consolar-se ou desconsolar-se muito por faltarem ou no esses gostos e essa ternura... Sim, pois o amor de Deus (o amor aos irmos, o amor em geral) no est em ter lgrimas nem em ter esses gostos e essa ternura, (o amor no est na ternura, nos gostos), que em geral desejamos e com os quais nos consolamos, mas (o amor est) em servir com justia, fora de nimo e humildade".

(meditar, ler a Bblia), no que devemos ao Senhor, em quem Ele e em quem somos traz determinao alma, sendo um grande mrito (a meditao, a orao, grande mrito!) e, para os principiantes, muito conveniente". Comece a ler, meditar, a Palavra de Deus, etc. Um texto de Moradas, para a significao do verbo sofrer. A Santa Madre nos oferece uma chave de leitura de todo o livro. 7M 4,4 "Ser bom dizer-vos, irms, o motivo (o alvo, o objetivo) pelo qual o Senhor concede tantas graas neste mundo (porque o livro a histria das graas de Deus. Qual o fim, a Santa responde). Embora j o tenhais entendido pelos efeitos ( consciente de oferecer-nos uma concluso, uma chave de leitura), quero repeti-lo aqui, para que nenhuma de vs pense que s para deleitar (deleite, gozo, gosto o mesmo) essas almas o que seria grande erro (pensar que Deus nos faz graas para deleitar-nos na terra). Sua Majestade no nos poderia fazer maior favor (graa) do que dar-nos uma vida que imite a de Seu Filho to amado". As coisas comeam a ficar claras! "Assim (concluso), tenho por certo que essas graas visam fortalecer a nossa fraqueza... para podermos imit-Lo nos grandes sofrimentos". No espanhol verbo, no substantivo: "Para pod-Lo imitar no muito padecer". No os muitos sofrimentos. No! "Muito padecer", singular! "No muito padecer". Imediatamente nos oferece duas provas da afirmao, a tese deve prov-la. Uma histrica, a primeira, n 5 a prova histrica. A Santa Madre volta os olhos histria e l: todos os grandes amigos de Jesus sofreram. Mas o sofrimento, sobretudo, no exemplo de So Paulo, 7M 4,5 "Como pensais que poderia So Paulo passar por tormentos to grandes?" Quais so os tormentos de So Paulo? "Por ele podemos avaliar os efeitos da contemplao divina e das vises. Isto ... Porventura o Apstolo se escondeu com essas graas, a fim de s usufruir de seus deleites e esquecer tudo o mais?" No! A graa de Deus faz de So Paulo servidor. O sofrimento, o padecer est em empenha-lo na pregao da Boa Nova. 4M 4,6 uma prova teolgica. Prova teolgi ca uma afirmao do que a orao. "Porque, se ela (a pessoa, a alma) est muito com Ele". a expresso da amizade, "estar muito com Ele". Estar no significa como estamos ns todos juntos aqui, fisicamente. Estar significa comunho. Se no h comunho entre ns, estamos aqui, como poderiam estar as ovelhas. Estar! "Se ela est" em comunho com

3. COMO ADQUIRIR O AMOR Como se adquire este amor? No fala que o amor. No! Falou, escreveu, escreveu muito sobre a substncia do amor. Vimos nos textos, agora. Como? Ateno Irms! Ateno resposta! A mim fez tanto bem, quando entendi pela primeira vez! "Decidindo-se a agir e a sofrer, e a faz-lo sempre que a ocasio se apresentar" (F 5,3). Aqui tambm gostaria de oferecer os textos com os verbos agir e, sobretudo, sofrer. Sofrer significa amar, servir. Sofrer significa antepor o outro a mim mesmo. Determinar-se a agir. A Santa deixa a frase porque ela sabe muito bem que fala s suas Irms contemplativas e imediatamente lhes disse: " certo que pensar

46 - Como Ler Fundaes

Frei Maximiliano Herriz - 47

Ele que "pouco deve se lembrar de si". Eis o sofrimento, eis o padecer: NO LEMBRAR-SE DE SI MESMO. Ainda mais fcil porque muda o termo, o verbo. 7M 4, 12 "Desejo, irms minhas, que procuremos alcanar exatamente esse alvo (a unio com Deus, a orao, a amizade). Apreciemos a orao e ocupemo-nos dela, no para nos deleitar, mas para ter essas foras para servir", no para padecer. Para servir! O sofrimento servir! Por qu? Porque somos egostas. Ento, olhar sempre os nossos irmos, deixar o nosso para fazer, dar prazer, gozo, servio aos irmos padecer. Porque vo contra a nossa natureza.

Unio com Deus, na F, Esperana e Amor

oderamos fazer um curso somente sobre o captulo 5 das Fundaes, procurando textos de todos os livros para provar a profundeza da experincia contemplativa da amizade de nossa Santa Me. A revoluo, o que no gostavam, os primeiros Carmelitas Descalos, companheiros de Dria justamente o que diz nossa Santa Me. F 5,3 "Como se h de adquirir esse amor?" A Santa Madre faz uma afirmao muito grande: "Agir e sofrer", no servio aos irmos. A razo profunda nica: Deus o servidor. E no servio Jesus revela ao Pai. Mais que falando, Jesus, no seu comportamento, revela que o amor servio. a razo profunda. Depois, como vimos, a Santa Madre disse que certo que a meditao tambm boa. E deixa a meditao e a orao, a solido para estar com Deus... "desde que, claro, no estejam envolvidas coisas que interfiram na obedincia e no aproveitamento do prximo". Por que, se encontramos coisas que estejam envolvidas na caridade ao prximo, na obedincia devemos tambm deixar a meditao. Devemos rezar as horas de orao, das quais nossa Santa Me nunca fala! Nos escritos, no fala das horas de orao. Nunca! E alguns de ns absolutizam as duas horas de orao mental, porque comeam por no crer na orao litrgica. Ento, a orao, ato, prtica, deve ser sempre depois, na hierarquia, quando o amor ao prximo, quando a obedincia chama nossa porta. Devemos deixar na hierarquia das nossas preocupaes de filhos, filhas de Teresa, a prtica das santas oraes para depois. O

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