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A revista evangélica do Brasil ENTREVISTA Pastor brasileiro fala sobre missão A IGREJA A IGREJA CONTRA CONTRA O TERROR O TERROR O bem vence o mal: polícia realiza a maior operação O bem vence o mal: polícia realiza a maior operação contra o tráfico de drogas da história do Rio de Janeiro contra o tráfico de drogas da história do Rio de Janeiro Vítimas ou protagonistas: o que esperar dos Vítimas ou protagonistas: o que esperar dos evangélicos na luta pela pacificação em 2011? evangélicos na luta pela pacificação em 2011? POLÍTICA Aumentam os EVANGELISMO Estratégias de missionários Complexo do Alemão, o maior conjunto de favelas cariocas, no final de novembro Ano 15 • Edição 146 • R$ 9,90 Portugal 4,90 € Eclesia146_Capa_2_3_4_1.indd 5 27/12/2010, 11:46:00

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A revista evangélica do Brasil

ENTREVISTA Pastor brasileiro fala sobre missão

A IGREJAA IGREJA CONTRACONTRA O TERRORO TERROR•• O bem vence o mal: polícia realiza a maior operação O bem vence o mal: polícia realiza a maior operação contra o tráfi co de drogas da história do Rio de Janeirocontra o tráfi co de drogas da história do Rio de Janeiro

•• Vítimas ou protagonistas: o que esperar dos Vítimas ou protagonistas: o que esperar dos evangélicos na luta pela pacifi cação em 2011?evangélicos na luta pela pacifi cação em 2011?

POLÍTICA Aumentam os

EVANGELISMO Estratégias de missionários

Complexo do Alemão, o maior conjunto de favelas cariocas, no

fi nal de novembro

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Ediç

ão 1

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R$ 9

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E P Í S T O L A D A R E D A Ç Ã O

“Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem.”

Aplicando o que disse o apóstolo Paulo em sua Epístola aos

Romanos (Rm 12.21) aos dias atuais, mais precisamente ao que aconteceu

no Rio de Janeiro no fim de novembro, podemos traçar a seguinte

analogia: de um lado o mal, representado por traficantes dos morros que,

há décadas, protagonizam uma guerra urbana que faz mais vítimas – a

maioria, inocentes – do que qualquer outro conflito armado pelo mundo;

e de outro o bem, simbolizado por valentes e destemidos policiais,

heróis da maior operação de combate ao tráfico e à violência da história

da cidade. Como juízes desse embate, os evangélicos, sempre prontos

a colaborar com ações práticas de cunho social, além de mensagens e

princípios com embasamentos bíblicos que buscam uma transformação

espiritual no coração dos pecadores. Será, no entanto, que há mesmo

salvação para todos, inclusive ao mais alto escalão dos traficantes? Difícil

mensurar o pecado pelo tamanho, mas a resposta pode ser encontrada em

Atos 16.32: “Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa”.

Há controvérsias, mas cada um que julgue por si mesmo. Enquanto

isso, a Igreja continua desempenhando seu papel junto ao poder público

– essencial, aliás –, para restabelecer de vez a pacificação nos morros da

“cidade maravilhosa”.

Longe daqui, depois de praticamente devastado por um terremoto

– em janeiro, a catástrofe completa um ano –, o Haiti volta a ser sacudido

por um novo tremor, só que de avivamento – o tremor do bem! É o que

nos conta o pastor Walter Pereira de Mello, tenente coronel e capelão

do Exército brasileiro, diretamente de Porto Príncipe. Com ajuda de

organismos internacionais e, sobretudo, divina, o país também tem

conseguido expulsar seus demônios e vencer o mal.

Não pense, caro leitor, que essa edição de ECLÉSIA traz temas

relacionados somente a guerras e à violência urbana; pelo contrário,

a revista está recheada de matérias e reportagens dos mais diversos

interesses, abordados sempre por uma ótica cristã: evangelismo, política,

esporte, comunicação, música, enfim...

Então, boa leitura!

JD Morbidelli

A REVISTA EVANGÉLICA DO BRASIL Filiada à Associação de Editores Cristãos (Asec)

Ano 15 – Número 146(11) 3346-2000

www.eclesia.com.br

DIREÇÃO

Diretor ExecutivoElias de Carvalho

Conselho Editorial

Elias de Carvalho Junior, Maria da Graça Rêgo Barros, Percival de Souza, Roseli de Carvalho, Samuel Medeiros

Jornalista ResponsávelMarcos Stefano

[email protected]

REDAÇÃO

(11) 3346-2033

Editor José Donizetti Morbidelli

[email protected]

Repórteres Artur Mendes, Cláudia Teixeira, Fernando Dias de Jesus,

José Donizetti Morbidelli, Karen Rodrigues, Marcos Stefano

Colunistas Emerson Menegasse, Lourenço Stelio Rega, Luiz Leite, Maria de Fátima M. de Carvalho,

Patrícia Guimarães, Percival de Souza, Romney Cruz

Apoio Editorial Sandra Frazão

[email protected]

Editor de ArteEmerson de Lima

[email protected]

Assistente de ArteFernando Jorge Baptista

[email protected]

Site Diego Bittencourt

[email protected]

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Paulo Siqueira(11) 3346-2008

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Regina Klemp(11) 3346-2017

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ASSINATURAS

(11) 3346-2017 / [email protected]

Serviço de Atendimento ao Assinante Horário de atendimento: segunda a sexta, das 8h às 19h

Informações sobre assinaturas novas, alterações de cadastro, entrega, condições de pagamentos e aquisição

de números atrasados

CORRESPONDÊNCIAS

Rua Pedro Vicente, 90 São Paulo (SP) – CEP 01109-010

[email protected]

DISTRIBUIÇÃO

Distribuidora Nacional de Publicações (DINAP)

ECLÉSIA é uma publicação da Editora Eclésia Ltda

Os artigos assinados, assim como o conteúdo comercial, são de responsabilidade exclusiva de seus autores, e

não representam necessariamente a opinião da revista.É proibida a reprodução total ou parcial de reportagens, entrevistas, artigos, seções, fotos e ilustrações sem a prévia autorização dos titulares de direitos autorais.

O bem vence o mal

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18 ENTREVISTA

Walter Pereira de Mello, pastor e tenente-coronel do Exército brasileiro, fala sobre seu trabalho de capelania e da missão de paz no Haiti

26 EVANGELISMO

Apesar das dificuldades, muitos pastores e missionários preferem evangelizar em cidades tradicionalmente católicas

32 ESPORTE

Evangélicos se rendem às academias de musculação, provando que crente também pode ter corpo sarado

40 SOCIEDADE

Igrejas e comunidades evangélicas assumem papel importante para a pacificação dos morros cariocas

50 POLÍTICA

Número de evangélicos eleitos praticamente dobra em relação à legislatura anterior, e bancada na Câmara e Senado pode chegar a 71 parlamentares

54 IGREJA

Pela unidade entre as igrejas, é fundada em São Paulo a Aliança Cristã Evangélica Brasileira (ACEB)

60 COMUNICAÇÃO

Rádios webs são cada vez mais comuns para o trabalho de igrejas e demais comunidades evangélicas

62 INTERNACIONAL

Igrejas e organismos internacionais em defesa dos direitos humanos se mobilizam contra condenação de cristã paquistanesa

64 RELIGIÃO

Invasão, musical da IB do Morumbi, celebra um Natal diferente, com muita reflexão e sem presépios

70 MEMÓRIA

Morre Werner Kaschel, pastor batista e um dos mais destacados tradutores das Escrituras Sagradas

72 LANÇAMENTO

Prestes a completar seu 86º aniversário, Luiz de Carvalho lança seu mais novo CD: Adoração

S UMÁR I O

“O Senhor me respondeu, e disse: Escreve a visão, grava-a sobre tábuas, para que a possa ver quem passa correndo”

(Habacuque 2.2)

ECLÉSIA • A revista evangélica do Brasil • Ano 15 – Número 146

SEÇÕES

4 Epístola da Redação

8 Epístola dos Leitores

12 Em Foco

80 Agenda

COLUNAS

36 Opinião

38 Lugar de Mulher

56 Observatório

58 Pastoral

68 Missões

76 Louvor e Adoração

82 Percival de Souza

MULTIMÍDIA

72 Música

78 Literatura

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E P Í S T O L A S D O S L E I T O R E S

Por questão de espaço disponível ou clareza de texto, ECLÉSIA se reserva o direito de publicar os textos das cartas que seleciona na íntegra ou resumidos, eventualmente editados

MEGATEMPLOS

Não posso deixar

de comentar sobre

a reportagem A Era das Catedrais [edição 145]. Enquanto uns

gastam fortunas com

obras dessas grandezas,

milhares de pessoas

estão morrendo sem

ao menos saber quem

é Jesus Cristo. Esse

dinheiro todo poderia muito

bem ser investido em missões.

Só quero saber se Deus está

ou estará presente nesses

megatemplos. Certamente que

não, pois não foram construídos

para a glória do Senhor, mas

para a deles próprios.

Karol Mariane

ANDRELÂNDIA (MG)

Prefiro continuar frequentando

a minha igreja, que fica nos

fundos de uma garagem, a ir

num desses templos gigantes

citados na matéria, onde o

pastor nem sabe quem é cada

um e muito menos participa de

sua comunidade.

Maria Aparecida do Amaral

JUIZ DE FORA (MG)

POLÍTICA

Muito boa a reportagem Hora de Fazer História [edição 144], pois veio num momento

bastante oportuno para que

os evangélicos pudessem se

conscientizar de cada um dos

candidatos à presidência do país.

Não digo isso em relação a mim,

que já tinha a minha candidata

definida, mas em relação a

tantos que deixaram para se

decidir nas

últimas

horas. É uma

pena que

ainda não

foi dessa

vez que uma

evangélica

fez história,

mas quem

sabe não será

na próxima.

Tereza

Cristina dos

Santos

SALVADOR

(BA)

RENÊ TERRA NOVA

Depois de ler a entrevista do

apóstolo Renê Terra Nova –

matéria intitulada

Sob as Bênçãos do Patriarca Manauara

[edição 145]

–, fiquei

imaginando o

quanto o Senhor

é grandioso.

Tenho visto

algumas coisas

envolvendo o

nome dele por

aí, mas eu tenho

certeza de que

o apóstolo é

um homem de

Deus e que pode mesmo fazer a

diferença na vida daqueles que

acompanham o seu ministério.

Marta Luiza de Toledo

RECIFE (PE)

EXORCISMO

Em relação à matéria

Exorcizando Demônios do Sul [seção Multimídia Cinema,

edição 145], não tenho o que

falar sobre exorcismo. Posso

bancar o intelectual e dizer

que as possessões são fruto de

angústias internas, mas não vou

cuspir para cima, gritar que não

creio e dar boas vindas a algo

estranho no meu corpo.

Tiago do Valle

VIA INTERNET

HISTÓRIA

Apesar do crescimento dessa

seita – pois, para mim o

mormonismo é uma seita

–, os mórmons adotaram uma

doutrina meio maluca e cheia

de contradições. É só ler seus

livros; aliás, eu tenho vários

que comprovam essas doutrinas

totalmente antibíblicas. Um

de seus ensinamentos diz que,

após a morte, cada um deles

vai estar no céu com várias

mulheres lindas. E, em relação

ao massacre de

Mountain Meadows

– focado na matéria

De Quem é a Culpa: Mórmons ou Paiutes? [edição 141], acredito que

eles sejam culpados,

sim!

Fausto Santos

Rebelo

VIA INTERNET

A revista me

entrevistou para

compor essa

matéria por conta

de um artigo publicado em

meu blog sobre o assunto.

Recomendo a leitura – http:

//marcelotodaro.info/?p=203 –

para quem desejar se aprofundar

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nessa pesquisa sem se deixar

influenciar por opiniões parciais

e desinformadas.

Marcelo Todaro

MACEIÓ (AL)

TITANIC

Quanto ao texto Zombar de Deus Não é Bom Negócio [seção Em

Foco, edição 142], só quero

dizer que com Deus não se

brinca. Muitos se dizem ateus,

mas na verdade são pessoas à

toa, pois no fundo elas acreditam

que o Senhor é o Pai Todo

Poderoso.

Sarah

VIA INTERNET

LANNA HOLDER

Em relação à entrevista A Volta Depois da Queda [edição 130],

é evidente que a pregadora,

no auge de sua carreira, não

frequentava

igrejas. A queda

é difícil, assim

como também é

difícil o levantar,

pois a igreja

humana não está

preparada para

perdoar e sim

para condenar.

Isso é lamentável,

porque eu sei

que na vida

dela ficou uma

ferida exposta,

mas sei também

que o arrependimento vem do

coração. E maior é o que habita

no perdão do que na injustiça.

Não estou fazendo defesa

do pecado de quem quer que

seja, simplesmente penso que,

dentro das famigeradas igrejas

evangélicas, há um mundaréu de

pessoas que erram todos os dias,

mas não tem coragem de assumir

por estarem presos a cargos

operacionais e eclesiásticos.

Não conheço pessoalmente a

missionária,

mas ninguém

pode condená-la

pelos erros do

passado; isso só

cabe ao dono da

vida. E no mais,

o único pecado

para o qual não

há salvação é a

blasfêmia contra

o Espírito do

Senhor.

Itaguaci

GUARULHOS

(SP)

Eu sabia que um dia a missionária

iria ser totalmente restaurada para

a glória do Senhor. Afinal, ela é

muito especial para Deus.

Aparecida

DOURADOS (MS)

BRÁULIA

RIBEIRO

Não poderia

expressar de forma

melhor o que

senti diante das

palavras contidas

no artigo Amor ou Farisaísmo?

[coluna Contexto,

edição 130]. Lindo

e verdadeiro. Às

vezes, até mesmo

sem querer, temos

negligenciado a fé em Cristo por

um farisaísmo mais moderno. Dou

graças ao Senhor pela cruz e pelo

espírito que tem me incomodado e

incomodado a essa geração, para

que assim possamos mudar esse

quadro, viver em amor e levar

mais almas para o Reino de Deus.

Daniela dos Santos Casais

RIO DE JANEIRO (RJ)

RELIGIÃO

Em relação ao assunto focado

na matéria Torre de Vigia Sob Suspeita [edição 139], a 1ª Câmara

Criminal decidiu,

por unanimidade,

conceder a ordem

para trancar

a ação penal.

“Não vislumbro,

na escusa ao

trato cotidiano,

qualquer forma

de discriminação,

impedimento ou

obstacularização.

Há, sim, uma

escolha por

adeptos de credo religioso que,

errado ou certo, apregoam a

indiferença diante daqueles que,

antes irmanados, abandonaram a

crença, o que lhes parece lógico,

pois resultante de interpretação

da Bíblia Sagrada. Gostemos ou

não, isso faz parte da liberdade

de culto, sacramentada

constitucionalmente. Levar

a conduta ao patamar de

ilicitude penal me parece

demasiado. Ressalte-se que a

vítima, em nenhum momento

do inquisitório, acusou os

pacientes, preferindo generalizar,

afirmando que a discriminação

era incentivada pelos dirigentes

da aludida religião em todo

o país”, afirmou o relator do

processo, o desembargador

Francisco Pedrosa Teixeira.

Portanto, caso encerrado.

Anônimo

VIA INTERNET

Achei a matéria excelente.

As palavras saltam de uma

maneira incrível, fazendo com

que aqueles que o leem fiquem

muito mais informados sobre

o assunto do que se poderia

imaginar. Tal técnica é para

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poucos, e é esse tipo de texto

que faz o jornalismo no país

mais eficaz.

Carlos Alex

MORADA NOVA (CE)

SAÚDE

Li a matéria

Feridas no Corpo, Marcas na Alma [edição 126] e me

encontro muito

sensibilizada

pelos

acontecimentos a

respeito da lepra,

tanto pelo que

acontecia nos

primórdios da era

cristã como na atualidade.

Tatiane Cristina

VIA INTERNET

SOCIEDADE

Quero traçar meu comentário

sobre a matéria Alienados, Não! [edição 130]. Concordo

que costume não é doutrina

e não leva ninguém para o

céu, mas defendo também

que uma mulher que serve a

Deus não deva ficar andando

de minissaia ou usar roupas

muito curtas nas igrejas.

Não devemos nos considerar

fanáticos por aderirmos aos

costumes, nem desviados por

usarmos bermudas e calças

jeans, pois um servo de Deus

exterioriza seus frutos do

coração. Os crentes podem ser

tão elegantes, cultos e finos,

mas que cada um o faça com

temor a Deus para que não

caia em nenhuma armadilha do

inimigo. Eu sou assembleiana

e me considero culta, mas não

causo uma revolução por isso

ou aquilo, e nem descrimino o

tradicionalismo. Afinal, com ou

sem costume, acima de tudo está

a doutrina da Palavra de Deus.

Daniela Lucas

RIO DE JANEIRO (RJ)

MOTIVAÇÃO

ESPIRITUAL

Muito interessante

a matéria Fé Com Algo Mais [edição 123]. Num mundo

globalizado e

competitivo,

às vezes nos

deparamos com

nossa própria

desmotivação.

Armanda Cardoso

VIA INTERNET

LENDAS

URBANAS

Procurando na

internet por

alguma coisa

a respeito

do bebê-

diabo, acabei

encontrando

esse texto

– matéria Estão Dizendo por Aí [edição 132]. Estou me

formando em

jornalismo e esse caso foi tratado

em sala de aula por um professor

que nos contou toda a história do

extinto jornal Notícias Populares.

Andressa

SÃO PAULO (SP)

AÇÃO SOCIAL

Quero agradecer de todo o

coração pelo carinho, força e

atenção que recebi da direção da

creche do Centro de Educação

Infantil (CEI) Erik Gunnar

Eriksson, citada na matéria Uma

Esperança que Brilha [edição 127]. No momento mais difícil

pelo qual estava passando,

a atenção da direção e dos

professores atribuída ao meu filho

me deixa eternamente grata.

Miriam Barrozo

SÃO PAULO (SP)

QUALIDADE EDITORIAL

É com muita satisfação que

escrevo mais uma vez para

parabenizá-los por essa revista

abençoada, que tem sido um

bálsamo na minha vida. Há alguns

dias eu estava falando com meu

pastor, e ele ficou maravilhado

com o conteúdo da publicação.

Novamente, agradeço a todos.

Di Pereira

GUARULHOS (SP)

Eu não conhecia a

revista ECLÉSIA,

até que há algumas

semanas passei numa

banca e a vi exposta.

Dei uma folheada

rápida e, de súbito,

interesse-me pelo

conteúdo. Assuntos

interessantes, artigos

muito bem escritos

e, acima de tudo,

imparcialidade

no conteúdo das

reportagens. Parabéns a todos da

equipe.

André Guilherme

ASSIS (SP)

PARA COMENTAR AS

MATÉRIAS DE ECLÉSIA:

1 – Pelo site: www.eclesia.com.br

2 – Por carta: Revista Eclésia

(Rua Pedro Vicente, 90 –

01109-010 – São Paulo SP

3 – Por e-mail:

[email protected] /

[email protected]

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E M F O C O

Procura-se

uma igreja Craque Kaká, do Real Madrid, não é mais membro da Igreja Renascer

Separação amigável: Kaká e esposa se despedem da igreja sem revelar motivos

DIVULGAÇÃO

Em 2005 eles trocaram

alianças na sede da

Igreja Renascer em

Cristo, em São Paulo, sob as

bênçãos do apóstolo e amigo

Estevam Hernandes. Agora,

cinco anos depois, o jogador

Kaká, craque do Real Madrid,

e sua esposa Caroline Celico

não são mais membros da

denominação – há pouco mais

de um ano, durante um culto

realizado nos Estados Unidos,

Caroline chegou a anunciar a

intenção de abrir uma célula da

igreja em Madri, na Espanha.

A confirmação foi divulgada

no começo de dezembro,

sem detalhar os motivos do

desligamento. De acordo com

a coluna Zapping, do jornal

Agora, as razões podem estar

ligadas a “descontentamentos

administrativos”. Nos últimos

anos a imagem da Renascer

esteve atrelada mais a páginas

policiais do que, propriamente, a

questões religiosas; primeiro, o

imbróglio dos fundadores, o casal

Estevam e Sônia Hernandes, com

a Justiça Federal, pela tentativa

de entrada nos Estados Unidos

com dólares não declarados; dois

anos depois, o desabamento do

teto da sede da denominação, em

São Paulo, resultando na morte de

nove pessoas e deixando dezenas

de feridos.

Mais do que fiéis comuns,

Kaká e Caroline Celico eram

participantes ativos dos principais

eventos promovidos pela

denominação, como a tradicional

Marcha para Jesus. De acordo

com a assessoria de imprensa da

igreja, a amizade entre o jogador e

os líderes continua

a mesma. Diante

disso, entende-se

que tenha sido uma

separação amigável

e não litigiosa.

Agora, a empresária

e sogra do jogador,

Rosangela Lyra,

tem feito lobby

para levar o genro

à Igreja Católica.

Faz sentido;

afinal, assim como

qualquer time do

mundo gostaria

de contar com seu

futebol, qualquer

igreja também

o receberia de

braços abertos.

(José Donizetti

Morbidelli)

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TV para todos os credos Além da católica e evangélica, outras religiões

também poderão ter espaço na grade de programação da rede pública do governo

Criada no fi nal de 2007 e gerida pela

Empresa Brasil de Comunicação

(EBC), a TV Brasil tem como propósito

primordial oferecer uma programação

independente e democrática ao povo

brasileiro. Contudo, não era bem isso

o que vinha acontecendo em relação

ao conteúdo de natureza religiosa,

tanto que o Conselho Curador da EBC

acenou com a proposta de tirar do ar

os programas católicos e evangélicos

veiculados pelo canal de televisão e

pelas emissoras de rádio que compõem

a rede pública do governo. Apenas

acenou, pois o tema religião não deverá

ser totalmente banido, mas ampliado de

maneira a atender a todas as confi ssões.

Em audiência pública realizada em

dezembro na cidade de Belo Horizonte

(MG), Tereza Cruvinel, presidente da

EBC, afi rmou que, caso os curadores da

campanha decidam pela permanência

dos programas católicos e evangélicos,

irá apresentar uma proposta que garanta

a outras religiões o mesmo direito.

“Hoje, de fato, só temos programas

católicos e evangélicos, mas em minha

opinião todas as religiões devem ter

expressão na TV pública. Na próxima

reunião quando o conselho retomar

o debate, a TV Brasil vai apresentar

uma proposta de ampliar o papel das

religiões”, disse. Se não houver um

novo adiamento, a decisão deverá sair

no próximo encontro, marcado para 15

de fevereiro. (JDM)

TEREZA CRUVINEL, PRESIDENTE DA EBC:

“Todas as religiões devem ter expressão

na TV pública”

DIVULGAÇÃO

Pela salvação do “baú” Com a crise do Banco Panamericano, igrejas evangélicas

fi nalmente veem possibilidades de entrar no SBT

PARA REFORÇAR SEU “BAÚ”, Sílvio Santos pode vender espaços em sua emissora para igrejas evangélicas

A crise fi nanceira por que passa

atualmente o Grupo Sílvio

Santos, desencadeada depois da

descoberta de um rombo contábil

de mais de R$ 2,5 bilhões no Banco

Panamericano, está fazendo com que

o empresário-apresentador reveja

seus conceitos administrativos e

abra negociações com líderes de

igrejas evangélicas, que há tempos

aguardam por uma oportunidade

para entrar na programação do

SBT. A própria assessoria da

emissora admitiu o interesse de

algumas denominações, embora

não tenha divulgado os nomes; o

que se cogita, no entanto, é que

a Igreja Internacional da Graça,

do missionário RR Soares, e a

Universal, de Edir Macedo, estejam

entre elas. Outro que também

estaria interessado é o pastor Silas

Malafaia, que até já se reuniu com

a direção do grupo. Ninguém, no

entanto, confi rma a informação. As

expectativas são grandes, sobretudo

pelo fato da emissora paulista ser,

hoje, a única que não traz em sua

grade nenhum programa de caráter

religioso – a Rede Globo não negocia

seus horários, mas apresenta a missa

católica nas manhãs de domingo.

Longe da salvação do “baú” estar

depositada nas mãos dos evangélicos,

mas, caso as especulações se

confi rmem, bem que os crentes

poderão dar uma mãozinha para

abafar a crise. (JDM)

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Um pastor em

La Bombonera

FÉ CRISTÃ E PAIXÃO POPULAR: ingredientes não faltam para tirar

Boca Juniors da crise

Tradicional clube do futebol

mundial, o Boca Juniors já

conquistou praticamente

tudo o que um time pode almejar:

Campeonato Mundial, Taça

Libertadores da América, Copa e

Recopa Sul-Americana, Campeonato

Argentino, enfi m, sem falar que

sua torcida está entre as mais

fanáticas e participativas de todo

o mundo. Só que, de uns tempos

para cá, as coisas não têm andado

muito bem para o clube portenho

e, diante dos constantes resultados

ruins que o time tem amargado,

a direção resolveu recorrer até

mesmo a um pastor evangélico

na tentativa de espantar de vez a

crise que ronda a La Bombonera

– nome pelo qual é conhecido seu

estádio. A incumbência de zelar

pelo lado espiritual dos atletas é do

pastor Juan Bosso, amigo de um

dos auxiliares do treinador Claudio

Borghi. E sempre que requisitado, as

orações do religioso parecem surtir

resultado; pelo menos foi assim

quando ele visitou o clube pela

primeira vez – na ocasião, o Boca

Juniors bateu o Vélez Sarsfi eld por

2x1, numa das melhores partidas do

time no campeonato. (JDM)Pastor evangélico é convocado para

tentar espantar crise do mais

tradicional time de futebol argentino

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Pela saúde do corpo e da alma Igreja Universal, do bispo Edir Macedo

(foto), pode ser a salvação para

tradicional hospital privado de São Caetano

Uma baita crise administrativa e

fi nanceira custou, em meados do

ano passado, a rescisão do contrato de

gestão que o Hospital Brasil, de Santo

André, mantinha com o Hospital São

Caetano, uma das mais tradicionais

casas de saúde privadas da Grande

São Paulo. Agora, mergulhado em

problemas e com um passivo que

gira em torno de R$ 150 milhões

– conforme matéria publicada na

época pelo jornal Diário do Grande

ABC –, quem parece como eventual

salvador da instituição é a Igreja

Universal do Reino de Deus (Iurd),

do bispo Edir Macedo. Fechado

desde agosto, ainda não há qualquer

data defi nida para a reativação do

estabelecimento, mesmo porque nada

pode ser decidido antes que eventuais

negociações sejam sacramentadas.

Detentor do maior número de leitos

para atendimento de pacientes pelo

Sinstema Único de Sáude (SUS) e

bem avaliado pelos paranaenses por

sua gestão administrativa, o Hospital

Universitário Evangélico, mantido

por uma entidade cristã – a Sociedade

Evangélica Benefi cente de Curitiba

– pode ser um bom exemplo a ser

seguido pela Universal, caso as

negociações realmente se confi rmem.

Enquanto isso, os pacientes aguardam

“pacientemente”; muitos na

expectativa de uma transformação,

tanto física quanto espiritual. (JDM)

HOSPITAL EVANGÉLICO DE CURITIBA: bom exemplo de instituição gerida por entidade cristã

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Proteção

à vida Deputados evangélicos

se reúnem com presidente da Câmara para exibir reabertura da CPI sobre aborto clandestino, assinada

em 2008

Liderados pelo delegado de polícia

e deputado federal João Campos

(PSDB-GO), parlamentares da bancada

evangélica estiveram reunidos, no mês

de novembro, com o presidente da

Câmara dos Deputados, Michel Temer,

para cobrar a abertura da Comissão

Parlamentar de Inquérito para

investigação do aborto clandestino.

Assinada em 2008, pelo então

presidente Arlindo Chinaglia depois

de denúncias feitas pelo ministro

da Saúde, José Gomes Temporão, a

um programa de entrevistas sobre a

existência do comércio clandestino

de substâncias abortivas e da prática

do aborto no país, o trabalho foi

interrompido devido a uma série de

divergências. De acordo com João

Campos, que também é pastor da

Assembleia de Deus em Goiânia, a

abertura do debate deve ser imediata

para consolidar medidas de proteção

à vida. Contudo, como a Câmara

dos Deputados entrou em período de

recesso no fi m do ano, as discussões

sobre a CPI devem ser retomadas

somente em 2011. Até lá milhares de

abordos clandestinos ainda devem ser

realizados pelo país, e muitas mulheres

levadas à morte. (JDM)

PASTOR E DEPUTADO FEDERAL, João Campos pede abertura imediata da CPI do aborto clandestino

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Convertido desde 2004, líder da banda de rock Megadeth rejeita rótulo

de cristão e critica falso moralismo

Em entrevista à revista californiana

San Francisco Bay Guardian, o

roqueiro Dave Mustaine – vocalista e

guitarrista da banda Megadeth – não

poupou críticas a alguns cristãos que,

segundo ele, estão mais preocupados

em controlar a vida alheia com

falsos moralismos do que cuidar

de suas atividades religiosas. “Eu

realmente tenho muitas difi culdades

em dizer que sou cristão, porque

muitos são absurdamente hipócritas

e acabam com a imagem e o nome

do cristianismo”, cravou o músico,

quase que com a mesma força dos

acordes de sua guitarra. É por isso que

o metaleiro, que diz ter se convertido

há cerca de sete anos, rejeita rótulos

e prefere proclamar a fé à sua própria

maneira; um tanto peculiar para quem

Hipocrisia

na igreja?

sempre cultivou uma imagem mais

para o lado “demoníaco” do que para

o “divino”. “Eu acredito em Deus

e em Jesus cristo, e isso é tudo”,

sacramenta, ao mesmo tempo em

que defende que um pouco de magia

negra de vez em quando não vai matar

ninguém. (JDM)

DAVE MUSTAINE: “MUITOS cristãos são absurdamente hipócritas”

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MARCOS STEFANO

Tremor no Haiti:

de avivamento Tenente-coronel

e capelão do Exército

brasileiro, o pastor Walter Pereira de Mello fala

sobre os trabalhos evangelísticos e

da experiência em compor a missão de paz liderada

pelo Brasil, no Haiti

FO

TO

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/13

E N T R E V I S TA

Como seria bom se

certas datas fossem,

subitamente, apagadas da

memória coletiva; mas esquecer,

especialmente para os haitianos,

do terremoto sem precedentes

que praticamente devastou o

país mais pobre do continente

americano e fez milhares de

milhares de vítimas – estima-se

que o número de mortos tenha

chegado a 300 mil –, é algo que

foge completamente do controle

humano; principalmente porque,

agora em janeiro, a tragédia

completa seu primeiro ano.

Não bastassem as ocorrências

naturais – pela localização

geográfica da Ilha de Santo

Domingo, da qual o Haiti faz

parte, a ameaça de furações

é constante –, atualmente

o país sofre também com o

surto generalizado do cólera,

epidemia que já chegou à

capital Porto Príncipe, onde

vivem cerca de 2, 4 milhões de

haitianos – a grande maioria em

condições precárias de saúde e

saneamento. Diante de tantos

infortúnios, melhor então tentar

focar as atenções nas “coisas”

boas e nas lições que ficam

em decorrência das tragédias,

como a ajuda humanitária

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“Apesar de curto, o tempo que permaneci

distante da genuína comunhão

com Deus foi sufi ciente para

entristecer em muito o coração dos meus pais”

internacional; a mobilização

generalizada engajada na

reconstrução do país; a

missão de paz promovida pela

Organização das Nações Unidas

(ONU), liderada pelo Brasil e

que perdura há mais de seis anos;

enfim, em atos que demonstram

o quanto o ser humano pode, e

deve, solidarizar-se para com o

próximo, independentemente de

raça, etnia ou religião.

“Amarás ao Senhor teu Deus

de todo o teu coração, e de

toda a tua alma, e de todas as

tuas forças, e de todo o teu

entendimento, e ao teu próximo

como a ti mesmo”. Natural

de Duque de Caxias (RJ), o

pastor serve o Comando Militar

do Planalto (CMP) desde

2007 e, atualmente, integra

o 13º Contingente Militar da

Missão das Nações Unidas

para a Estabilização do Haiti

(MINUSTAH) – ele é o segundo

pastor evangélico a participar

da missão, já que nos últimos

anos os aconselhamentos e

acompanhamentos às tropas

eram realizados, quase que

exclusivamente, por padres

católicos. “Apesar das

significativas carências e

desafios, considero muito

positivo o trabalho da

MINUSTAH e, em particular,

das tropas brasileiras. Basta

lembrarmos que o país vivia

dominado pela violência e

pelo terror das gangues e, a

partir de 2006, foi pacificado

graças à ação mais efetiva do

governo haitiano, da ONU, das

ONGs e da ajuda humanitária

internacional”, antecipa.

Teólogo e mestre em Ciências

da Religião pela Pontifícia

Universidade Católica de Goiás

(PUC-GO), o militar é também

membro da Igreja Presbiteriana

do Brasil (IPB) e até maio do

Tenente-coronel e capelão

do Exército brasileiro, Walter

Pereira de Mello é um desses

homens que, além da motivação

solidificada pela fé cristã,

também traz dentro de si a

aptidão do comprometimento

assistencial; afinal, a própria

Bíblia diz em Lc 10.27:

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ano passado, pouco antes de

embarcar para o Haiti, compôs

o quadro de pastores da Igreja

Presbiteriana Nacional (IPN),

em Brasília, onde reside sua

família – a esposa Marta, as

filhas Évelin e Érika, e o genro

Bruno Tavez, por ele tido como

um filho. “São mais de 28

anos de casado, e sinto muitas

saudades da minha família, que

me incentiva, apoia e ora para

que a missão a mim confiada

seja cumprida com êxito”,

agradece.

Em entrevista exclusiva à

ECLÉSIA, diretamente de Porto

Príncipe, onde está fixada a Base

General Bacellar, sede do 1º

Batalhão de Infantaria de Força

de Paz (BRABATT 1/13), o

pastor apresenta um quadro geral

do país que, aos poucos, vem

sendo reconstruído, tanto social

como politicamente. Fala ainda

sobre a importância do trabalho

dos capelães evangélicos,

da satisfação de fazer parte

da missão de paz e de poder

testemunhar, mesmo diante de

tantos problemas, o tremor de

um intenso avivamento espiritual

numa região praticamente

renascida das cinzas – no caso

do Haiti, talvez seja mais

apropriado: salvo das águas.

Qual é o resumo que você

faz da sua vida – em todos os

aspectos – antes e depois de

se tornar pastor e capelão

militar?

Eu nasci num lar evangélico em

maio de 1960. Fui matriculado

no berçário da Igreja Metodista

de Mantiquira, em Duque de

Caxias (RJ), com um mês de

idade e batizado lá mesmo.

Sou filho de uma família

simples e tive bons amigos

na adolescência, mas que à

época não tinham qualquer

compromisso com Deus.

Isso me levou a afastar das

atividades da igreja e a buscar

as experiências mundanas no

namoro, nos usos e costumes,

até ser visitado pelo jovem

evangelista Silas da Silva

Corrêa, que me regou

novamente com a Palavra.

Apesar de curto, o tempo

que permaneci distante

da genuína comunhão

com Deus foi suficiente

para entristecer em muito

o coração dos meus pais

que, em momento algum,

deixaram de orar e esperar

pelo meu retorno. Uma coisa

ficou muito clara ao longo

do tempo: que o Senhor

nunca se esqueceu de mim.

Ele me livrou dos pecados

mais graves – se é que podemos

mensurar pecados pelo tamanho

– e guardou a minha vida para

uma verdadeira conversão

a seu serviço. Acredito que

tudo foi fruto de sua eterna

misericórdia e das orações

de meus pais que sempre me

amaram intensamente. Hoje,

com maior experiência de

vida, eu olho para trás e vejo

que a partir do dia da minha

conversão pessoal tudo mudou

para muito melhor: Deus me

encaminhou profissionalmente,

deu-me a mulher da minha vida,

duas filhas e, mais tarde, um

genro, que eu tenho como um

filho do coração. Mas, acima de

tudo, deu-me a capacidade de

entender e pregar o Evangelho

da salvação a toda criatura.

Qual é a sua ligação com a

Associação Pró-Capelania

Militar Evangélica do Brasil

(ACMEB), de Brasília?

Tenho o privilégio de fazer

parte do nascimento da ACMEB

e hoje, com muita alegria,

sou um dos associados. A

associação era um sonho antigo

de se ter um meio de integração

das igrejas evangélicas que

possuem capelães pastores nas

Forças Armadas, na Polícia

e Bombeiros Militares de

todo o Brasil. Atualmente, a

ACMEB cumpre esse papel e é

“A assistência aos militares do segmento evangélico

era um anseio mútuo, do

rebanho em missão de paz e dos pastores

capelães”

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reconhecida pelo Ministério da

Defesa. Com orgulho, eu posso

dizer que sou parte integrante

dessa história.

Liderada pelo Brasil, a

missão de paz promovida

pela Organização das Nações

Unidas (ONU) no Haiti

completou seis anos em junho

de 2010. Como você analisa

esse trabalho e como foi que

se integrou à missão como

capelão?

Apesar das significativas

carências e desafios, considero

muito positivo o trabalho da

Missão das Nações Unidas

para a Estabilização do Haiti

(MINUSTAH) e, em particular,

das tropas brasileiras. Basta

lembrarmos que o país vivia

dominado pela violência e

pelo terror das gangues e, a

partir de 2006, foi pacificado

graças à ação mais efetiva do

governo haitiano, da ONU, das

ONGs e da ajuda humanitária

internacional. É evidente que

os avanços não caminham na

velocidade que gostaríamos,

uma vez que as demandas

são enormes. Esses anos

representam 12 contingentes

de 6 meses cada; e, somente o

primeiro, em 2004, contou com

a participação de um pastor

capelão – o major Ivan Xavier.

A assistência aos militares do

segmento evangélico era um

anseio mútuo, do rebanho em

missão de paz e dos pastores

capelães. Assim, após a

insistente apresentação desses

anseios aos órgãos militares

competentes, verificou-se a

real necessidade da presença de

um pastor evangélico no Haiti.

Então, eu me voluntariei e fui

selecionado para a missão, razão

pela qual estou aqui e muito

feliz por sinal.

Quando você chegou ao

Haiti, e quando terminam os

trabalhos do 13º Contingente?

Cheguei em Porto Príncipe em

31 de julho de 2010, e tenho,

como previsão de retorno, o dia

29 de janeiro de 2011. Isso, se

Deus permitir.

Qual é o retrato sociopolítico e

religioso do país atualmente?

Do ponto de vista social, o Haiti

possui grandes desafios a serem

enfrentados, como por exemplo:

levar água tratada à população,

coleta sistemática de lixo,

moradia, sistema de esgoto e

educação. A situação, que já era

delicada antes, agravou-se ainda

mais após o terremoto de janeiro

de 2010, que fez mais de 250

mil vítimas fatais. No entanto, o

governo, com o apoio da ONU

e da comunidade internacional,

tem envidado esforços para

reverter esse quadro. Quanto à

política, a partir da escolha do

novo presidente o país deverá

lançar as bases para o processo

de reconstrução. Em relação à

religião, sobretudo no campo

evangélico, cada vez mais o

povo tem experimentado um

avivamento espiritual muito

forte e bonito, com igrejas

constantemente lotadas e

pessoas em genuína adoração

ao Senhor.

“O povo tem experimentado um avivamento espiritual muito forte e bonito,

com igrejas constante-

mente lotadas e pessoas

em genuína adoração ao

Senhor”

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Há muitos missionários e

pastores evangélicos atuando

no país ou participando da

missão de paz?

Tenho mantido contato

permanente com missionários

brasileiros, americanos,

chilenos, colombianos e de

outras nações. Muitos países,

em especial o Brasil, têm

enviado missionários para

evangelizar, reconstruir templos,

ajudar nas escolas, orfanatos e

a todos que se encontram em

dificuldades. Dentro da base

militar, temos muitos diáconos,

presbíteros, evangelistas e

colegas pastores, que, sem

perder o foco das funções a que

foram designados, colocam-se

como verdadeiros missionários

em terras estrangeiras. Além de

lutarem nas áreas administrativas

e participarem das operações

militares, eles lideram os

núcleos de soldados evangélicos

organizados nas diversas

unidades do nosso contingente

e, quando autorizados, visitam

igrejas e instituições de apoio às

famílias carentes.

Como é o relacionamento dos

evangélicos com membros de

outras confissões religiosas?

De harmonia, numa visão única

de reconstrução da paz e da vida

social do povo haitiano.

Quais as maiores dificuldades

enfrentadas por um estrangeiro

num país que está praticamente

sendo reconstruído, não

somente nas questões religiosas,

mas num sentido geral?

Apesar de simples, nossa base

militar é muito segura, estável

e dispõe de todos os meios para

uma vida saudável, tanto na

área física quanto emocional

e espiritual. Contudo, os que

dependem do meio civil se

deparam com a precariedade

do transporte urbano, das

acomodações em hotéis e de

alimentação, haja vista que, em

grande parte da cidade ou do

país, falta energia elétrica, água

encanada, rede de saneamento

público etc.

Após o terremoto de janeiro

de 2010, as estratégias da

força-tarefa brasileira

parecem ter mudado um

pouco de foco: enquanto

muitos soldados estão

retornando, engenheiros

engajados na reconstrução

das cidades e religiosos com a

incumbência de cuidar do lado

espiritual das tropas, estão

embarcando para o Haiti. O

que você pode dizer sobre

isso?

Na verdade, há um número

exato de militares estipulado

pelas Nações Unidas para

compor as tropas da missão de

paz. Entre elas, as brasileiras

que, em virtude do terremoto,

contam com a participação

de mais um Batalhão de

Infantaria de Força de Paz – o

“Somente uma verdadeira

aproximação com Deus

pode manter ou trazer novos

princípios éticos, morais e espirituais

a toda e qualquer pessoa,

independente do credo ou da

nação a que ela faça parte”

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BRABATT 2 –, para reforçar

as atividades de segurança,

que é o objetivo precípuo da

nossa tropa. Contudo, dada às

necessidades pós-terremoto,

foram desenvolvidas atividades

emergenciais de ajuda

humanitária, isso sem perder

de vista a missão principal que

permanece até hoje, ou seja,

gerar e manter um ambiente

seguro e estável em nossa área

de responsabilidade dentro

do país. Desde o início da

missão contamos com o apoio

da Companhia de Engenharia

de Força de Paz, que tem a

incumbência de cumprir as

demandas da MINUSTAH,

como manutenção de vias e

pontes, reparação de edificações,

perfuração de poços artesianos,

abastecimento de água e outras

áreas específicas de engenharia.

E, quanto aos religiosos, cada

batalhão traz um capelão – um

padre para um e um pastor para

outro – para que, assim, haja

uma coordenação no atendimento

e todos sejam assistidos em

suas respectivas necessidades

espirituais. Especificamente, o

BRABATT 1/13, que é o meu

batalhão, foi privilegiado com a

presença de dois capelães.

Como foi a passagem do

furacão Tomas, e como o país

está se preparando diante da

constante ameaça de novas

tempestades tropicais?

Embora a temporada de

furações já tenha passado, posso

dizer que foi uma experiência

marcante. Dias antes da possível

chegada dele a Porto Príncipe,

fui chamado por uma de nossas

autoridades militares que me

disse: “Capelão, mande seu

povo orar, porque o Tomas está

vindo aí e a coisa está feia”.

Muitos oraram na base, nas

igrejas e também no Brasil;

e ele realmente chegou bem

perto, mas mudou de rumo e

foi embora sem trazer nenhuma

consequência mais grave. Certo

mesmo é que Deus atendeu à

oração do seu povo.

E quanto ao surto do cólera?

Conforme mencionado antes,

o Haiti tem uma infraestrutura

social e econômica bastante

debilitada, o que acarreta em

condições não desejáveis de

higiene e saneamento básico.

A falta de acesso pleno à água

tratada, aos serviços de coleta

de lixo e a um adequado sistema

de esgoto tem contribuído

para deixar a população,

especialmente as crianças e

idosos, mais vulneráveis ao

surto de doenças como o cólera.

O que não falta, no entanto, é

empenho da MINUSTAH e do

governo para controlar esse

quadro.

Em sua opinião, no que a

religião pode, efetivamente,

contribuir nesse processo de

reconstrução e restauração da

ordem social por que passa o

Haiti?

Entendo que somente uma

verdadeira aproximação com

Deus pode manter ou trazer

novos princípios éticos, morais

e espirituais a toda e qualquer

pessoa, independente do credo

ou da nação a que ela faça

“O soldado brasileiro tem uma

característica própria que facilita em muito sua

interação com a população, e consegue transmitir

confi ança e sinceridade

nas suas ações”

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parte. Eu tenho visto isso com

meus próprios olhos, pois embora

não estivesse aqui antes desse

grande movimento de conversão

e avivamento pós-terremoto, ouço

constantemente que o povo está

mudando para melhor a partir

dessa comunhão.

Como os brasileiros são vistos

pelos haitianos?

Amados até o fundo do coração,

bem vistos e bem quistos em

todos os locais. O soldado

brasileiro tem uma característica

própria que facilita em muito

sua interação com a população,

e consegue transmitir confiança

e sinceridade nas suas ações.

Entre as várias virtudes, destaco a

cordialidade, a solidariedade e o

profissionalismo.

Por ser pastor, provavelmente

sua atividade é motivada

também por uma causa

evangelística. Como é realizado

esse trabalho?

Por princípios básicos da

capelania militar, toda atividade

evangelística deve ser realizada

com muita prudência e

espiritual daqueles que

já possuem uma vida de

compromisso com Deus.

Além dos soldados

brasileiros, suas ações

evangelísticas também se

aplicam ao povo haitiano?

Como eles as recebem?

Nossa atividade junto aos

haitianos se dá nas igrejas

evangélicas, nos orfanatos

ou, quando solicitado, em

eventos chamados de Ações

Cívico-Sociais (ACISO),

promovidos pelo batalhão

junto à comunidade local.

A receptividade é plena e

cheia de gratidão, como

também não é raro o pedido

de retorno.

Você pode relatar

alguma situação de grande, ou

extrema, dificuldade vivida até o

momento?

A distância da família é o que fala

mais alto; afinal são cerca de seis

meses longe de casa, incluindo

Natal, Ano Novo, aniversário

da esposa e outros momentos

especiais. Contudo, a visão

familiar é que todo esse sacrifício

vale a pena.

Há, atualmente, igrejas

evangélicas no país? Onde estão

concentradas, principalmente?

Há muitas, em todas as cidades.

Na área urbana da capital,

praticamente em cada rua há

uma igreja – às vezes, uma

ao lado da outra. E embora

várias delas tenham perdido

tudo com o terremoto, mesmo

assim as reuniões acontecem

sob tendas improvisadas com

os irmãos sentados em tábuas,

sem aparelhagem de som e sem

banheiros, mas cheios do poder de

Deus.

Por trabalhar o lado espiritual

e emocional dos soldados, você

chega às vezes a se envolver

“O fruto desse trabalho

tem sido de transformação e manutenção

espiritual daqueles que já possuem uma vida de

compromisso com Deus”

respeito à visão religiosa do

próximo. Porém, faço isso

permanentemente por meio do

testemunho pessoal, pregando

o mais puro e genuíno ensino

da Palavra de Deus, tanto

dentro como fora da base

militar. Claro, sempre que

possível e autorizado. O fruto

desse trabalho tem sido de

transformação e manutenção

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ou de uma missão dessa

natureza?

A de que podemos e devemos

fazer muito mais, ou seja, fazer

tudo que vier às nossas mãos

com amor e dedicação a Deus, às

pátrias envolvidas e ao próximo,

seja ele quem for.

Por fim, quais as perspectivas

futuras para o país e o povo

haitiano?

Há indicativos de que aos poucos

o Haiti está reagindo. O comércio

informal está funcionando, as

pessoas estão circulando livremente

nas ruas, o calendário escolar

está em execução e, embora com

limitações, o aeroporto e o porto

estão em atividade. Houve avanços

significativos com a realização,

em novembro, do primeiro turno

das eleições presidenciais (o segundo turno deve acontecer na segunda quinzena de janeiro). Tudo

transcorreu dentro de um clima

de relativa tranquilidade, graças

ao suporte da MINUSTAH, cujo

trabalho tem sido muito positivo,

embora ainda haja um longo

caminho a ser percorrido para a

reconstrução plena do país.

emocionalmente? Como

conciliar, nessas horas, razão

com emoção?

Isso vai além da técnica, é preciso

contar com a bênção para amar,

chorar e sorrir com quem é

assistido sem se deixar envolver

ao ponto de se desgastar. Em

contrapartida, Deus também nos

assiste, diretamente, ou então

enviando irmãos que nos servem

de amparo nas horas em que

precisamos aliviar nossas tensões

emocionais. É maravilhoso fazer

parte dessa família da fé.

Você pode compartilhar o

testemunho de algum soldado

brasileiro que tenha necessitado

de auxílio espiritual?

São muitos. Teve um relacionado

a um militar que perdeu o pai,

morador de uma cidade do Sul

do Brasil. Pela perda e também

pela impossibilidade de participar

do funeral, seu estado emocional

estava bastante abalado. Após

ouvi-lo atentamente e orar com

ele, nós o colocamos em contato

direto com alguns membros

de sua família, com os quais

também tivemos a oportunidade

de conversar. No dia seguinte,

o jovem soldado me procurou

para uma nova conversa: “Pastor,

ontem meu coração estava

completamente em pedaços de

tanta tristeza, mas depois que

o senhor orou comigo e com a

minha família pelo telefone, algo

diferente o encheu e eu senti

uma paz muito grande. Tenho

certeza de que Deus estava me

abençoando”, disse-me. Com

isso, mais uma vez eu pude

constatar e mostrar a ele que a

paz de Cristo excede todo o nosso

entendimento.

Qual é a maior motivação e qual

a avaliação que você faz do seu

trabalho como capelão?

Minha maior motivação é servir a

Deus e ao próximo como soldado

de Cristo e, durante esse tempo

que estou no Haiti, como soldado

da paz. Para mim, a presença

de um capelão no meio militar,

especialmente no cumprimento de

uma missão de paz como essa, é

de fundamental importância para

o bem-estar moral, emocional e

espiritual da tropa.

Qual é a lição ou o aprendizado

que fica diante de um trabalho,

“É preciso contar com a bênção

para amar, chorar e sorrir

com quem é assistido

sem se deixar envolver ao ponto de se desgastar”

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E VA N G E L I S M O

Apesar das difi culdades,

pastores e missionários

não abrem mão de evangelizar

em cidades historicamente enraizadas na

cultura e tradição católicas

Evangelismo

fulminante

JOSÉ DONIZETTI MORBIDELLI

Entre o fi m de outubro e início de

novembro, a cidade de Juazeiro

do Norte (CE) é praticamente

invadida por dezenas de milhares de

romeiros, que viajam léguas e mais

léguas, muitas vezes em condições

precárias, para prestar homenagens ou

pagar promessas ao padim Ciço, como é

chamado o maior ícone da fé católica na

região sertaneja. Para os devotos, pouco

importa se o Vaticano tenha ou não assi-nado sua beatifi cação; desde um supos-

to milagre – a transformação da hóstia

em sangue durante uma missa celebrada

há mais de cem anos –, a fama do pa-

dre Cícero Romão Batista se espalhou,

ultrapassando fronteiras e até mesmos

os limites da crença, transformando-

APARECIDA, JUAZEIRO DO NORTE E NOVA JERUSALÉM: forte infl uência católica não inibe o trabalho de evangélicos

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o num verdadeiro fenômeno de

popularidade entre os nordestinos.

Religiosamente falando, Juazeiro do

Norte pode até ser o município mais

famoso da região, mas não é o único

fortemente ligado ao catolicismo.

Por ocasião das comemorações da

Semana Santa, a cidade-teatro de

Nova Jerusalém – região distrital de

Brejo da Madre de Deus – se torna

o maior atrativo histórico-religioso

do agreste pernambucano, a ponto

de, anualmente, atrair milhares de

turistas. Considerado o maior teatro

ao ar livre do mundo – uma réplica

da antiga Jerusalém dos tempos

bíblicos –, a encenação dos últimos

dias de Jesus é pomposa, tanto que

atores globais são convidados para

fazer parte do elenco. Bem mais

ao Sul, em 12 de outubro as ruas

de Aparecida, no Vale do Paraíba,

também fi cam apinhadas de católicos

para as comemorações do dia da padro-

eira – como eles proclamam. De acordo

com a Secretaria Municipal de Turismo,

o município de pouco mais de 40 mil

habitantes, chega a receber cerca de 10

milhões de visitantes por ano. O que,

no entanto, cidades como Juazeiro do

Norte, Nova Jerusalém e Aparecida têm

em comum, especialmente se analisa-

das por uma ótica evangélica? Todas se

classifi cam naquilo que alguns crentes

costumam chamar de praças ou regiões

estratégicas de evangelização em virtu-

de das difi culdades por eles enfrentadas

para transmitir a Palavra de Deus, como

se um escudo as protegesse da ameaça

de outras manifestações religiosas que

não a enraizada na doutrina

católica.

Como cautela e canja de

galinha não fazem mal a nin-

guém, na opinião de Rubens

Macedo Coutinho, líder da

Primeira Igreja Batista da

Convenção em Juazeiro do

Norte, evangelizar nesses

lugares requer um pouco

mais de cuidado e perspicácia. “Expor

a Bíblia de uma maneira meiga e clara

tem sido a abordagem mais efi caz, e a

conquista da amizade e da confi ança é

de fundamental importância, além do

respeito aos ‘vulgos’ religiosos sem ja-

mais criticá-los”, aconselha o pastor.

Sem fugir das responsabilidades

como evangelista numa cidade singu-

lar e com inúmeros desafi os a serem

enfrentados, como ele mesmo defi ne,

o religioso priva sempre por manter um

relacionamento de harmonia e respeito

com os líderes católicos locais, tanto

que, juntos, costumam discutir questões

práticas inerentes ao desenvolvimento

do município, sem levar em considera-

ção as crenças individuais. “Claro que

existe uma luta para manter o controle

religioso, uma pressão feita por familia-

res e também por certos líderes como se

a cidade fosse ‘propriedade’ de um seg-

mento específi co, mas eu não chamaria

isso de preconceito”, ameniza.

Já que, ofi cialmente, o Brasil é um

país laico – assunto que causa bastante

controvérsia, uma vez que a maioria dos

feriados nacionais tem respaldo na reli-

gião católica – e a liberdade de culto é

garantida pela Constituição Federal, nas

últimas décadas inúmeras igrejas evan-

gélicas têm se instalado em Aparecida,

como a Assembleia de Deus Ministério

Bom Retiro, de responsabilidade do

comerciante Alcir de Souza Siqueira,

que concorda em número, gênero e

grau com a opinião do pastor cearense

quanto aos métodos de evangelização,

mas afi rma não ter enfrentado nenhuma

difi culdade. “Quando eu fui transferido

para cá há mais de dezesseis anos, ainda

havia certa resistência em relação aos

evangélicos, mas hoje não há problema

algum”, afi rma com convicção, apon-

tando em números a efi cácia de seu

ministério. “Atualmente, contamos com

mais de 250 membros, dos quais 90%

são formados por ex-católicos. É um

lugar abençoado para pregar o Evange-

lho, e eu me dou muito bem com isso”,

comemora.

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IMPACTOS EVANGELÍSTICOS DA JOCUM têm alcançado milhares de pessoas em Juazeiro

ANDERSON ARAÚJO (AO LADO DA ESPOSA):

“Nosso foco é transmitir o amor de Deus”

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Sediada em Guaratinguetá, também

no Vale do Paraíba, em meados do ano

passado a Igreja Evangélica Assem-

bleia de Deus do Pedregulho inaugu-

rou uma célula praticamente colada

ao Santuário de Aparecida, mas, antes

que a iniciativa seja julgada como pro-

vocativa e possa fomentar as discus-

sões entre evangélicos e católicos na

região, o pastor Patrício Roberto Araú-

jo adianta que a ideia partiu da própria

cúpula da igreja e contou até mesmo

com a aprovação do bispo local. “É um

sinal de tolerância entre religiões dis-

tintas que possuem em comum a fé em

Deus e em Jesus Cristo”, sacramenta.

Representantes católicos afi rmam que,

independente da crença, a instalação

do templo coloca as duas religiões

em contato mais íntimo. Além disso,

enquanto os fi éis católicos se dirigem

à Basílica, seus cônjuges evangélicos

podem participar das celebrações no

templo protestante. “Uma obra dessas

não tem a ver somente com a fé. Ao

fi m, eles se reencontram e seguem seus

caminhos”, defendem, em condição de

anonimato.

Impactos evangelísticos – Com um

forte trabalho no interior nordestino,

a Jocum-Cariri, de Crato (CE), tem

realizado constantes campanhas mis-

sionárias – batizadas de “impactos

evangelísticos” – em áreas carentes

de orientação cristã, como defi nem os

missionários. “Nosso foco é transmitir

o amor de Deus ao povo por meio de

diversas manifestações artísticas e so-

ciais”, explica o diretor de evangelismo

Anderson Araújo da Silva. A mais re-

cente empreitada dos jocumeiros locais

aconteceu entre os dias 28 de outubro e

2 de novembro, justamente na vizinha

Juazeiro do Norte, quando um exército

de missionários se misturou aos milha-

res de romeiros durante a tradicional

peregrinação.

Distribuição de água e comida,

apresentação de peças teatrais, concen-

trações noturnas em praças públicas,

músicas de louvor no melhor estilo do

sertão, além, é claro, de pregações; ali

vale tudo para atrair a atenção dos ro-

meiros. “Contamos com mais de 350

voluntários, entre brasileiros e estran-

geiros”, alegra-se o missionário.

Como a grande maioria dos devotos

não dispõe de condições sufi cientes se-

quer para suprir os gastos com alimen-

tação e hospedagem, não há católico

que recuse uma ajudinha humanitária,

mesmo que camufl ada por motivos

evangelísticos. Com isso, ano após ano

os resultados têm sido mais expressivos

e animadores. “De tão intenso, o nosso

trabalho já alcançou mais de 20 mil

Aparecida – O Milagre Com direção da cineasta

nipo-brasileira Tizuka Yamasaki, no mês de dezembro estreou nos cinemas brasileiros o fi lme Aparecida – O Milagre, protagonizado por Murilo Rosa e Maria Fernanda Cândido. No roteiro, a história de um empresário bem-sucedido, mas que entra em crise existencial depois que o fi lho, com o qual mantém uma relação não muito amistosa, sofre um grave acidente. As circunstâncias o levam a rever certos conceitos e retomar às suas origens humildes, cujas lembranças o remetem à mãe, uma fervorosa devota de Aparecida.

Para Gláucia Camargos, a intenção não é retratar a história de uma santa, mas um episódio importante da cultura e da religiosidade brasileira. Aliás, o projeto não saiu da noite para o dia; pelo contrário, segundo os

idealizadores, passou por um estudo de vários anos. “Trata-se do maior símbolo católico e cultural do país, e eu estou muito feliz por levar ao público uma história que mistura fé e entretenimento”, afi rma a produtora.

Nesse sentido, adeptos de diferentes religiões têm uma boa razão para prestigiar o longametragem; os católicos, pela devoção à “rainha do Brasil”, como eles próprios a chamam; e os crentes, pela questão cultural ou mera curiosidade. É o caso do assembleiano Alcir de Souza Siqueira, envolvido diretamente com a comunidade aparecidense. “Apesar de ser pastor evangélico, eu pretendo assistir ao fi lme; afi nal, é importante fi car bem informado sobre as questões culturais relacionadas à comunidade”, conclui o religioso.

APARECIDA – O MILAGRE: produção focada na cultura e, não propriamente, na história de um personagem

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exemplo do que acontece na romaria de

Juazeiro do Norte, também é coordena-

do por uma base missionária da Jocum.

“Temos uma identifi cação muito grande

com o povo de Ouro Preto, tanto que ca-

ímos na graça de evangélicos, católicos

e espíritas, que nos aceitam e se sentem

amados e abençoados com a nossa pro-

posta. A própria sociedade e as autorida-

des locais reconhecem a importância do

trabalho evangelístico realizado junto

aos jovens que participam do carnaval”,

orgulha-se o Pedro Bezerra de Souza

– mais conhecido como Tio Pedro –, di-

retor da Jocum de Contagem, cidade da

zona metropolitana de Belo Horizonte.

Paraibano de nascença e mineiro

de coração, o missionário admite, sim,

realizar um trabalho bastante forte de

evangelização, mas sem forçar a barra

ou tentar impor nada a ninguém. “Sim-

plesmente estamos ali com nossos valo-

res e princípios bíblicos bem defi nidos.

Com isso, conseguimos evangelizar em

massa durante todos os dias de carna-

val”, continua.

Ainda, de acordo com o evangelista,

pregar numa cidade “aparentemente”

tão católica não acarreta em nenhu-

ma difi culdade além do habitual em

comparação a outras praças. “Temos

consciência que somos muito peque-

nos diante de tantas igrejas históricas

e pomposas, mas jamais deixamos de

confi ar em Deus e sabemos que ele está

conosco”, fi naliza.

pessoas”, comemora Anderson Araújo,

que sabe como ninguém driblar as di-

fi culdades enfrentadas por falar de uma

religião protestante numa cidade esma-

gadoramente católica, mas que lamenta

pelo preconceito e intolerância que

ainda fazem parte de algumas comuni-

dades brasileiras. “Sofremos com per-

seguições, calúnias e ameaças por parte

daqueles que querem mandar na cidade,

que até usam a força política de outras

igrejas para proibir os trabalhos evan-

gelísticos e sociais. Às vezes somos até

chamados de bodes, fi lhos da mentira,

ladrões etc”, reclama, indignado.

Entre o sagrado e o profano – Re-

ligiosidade e profanação, ou então,

celebração divina e festa popular;

essas são algumas das características

díspares que fazem da histórica cidade

de Ouro Preto um dos lugares mais

singulares do país, pivô de constan-

tes controvérsias e questionamentos

no que tange às práticas religiosas

politicamente corretas, ao menos na

concepção de grande parte das co-

munidades evangélicas. Atualmente,

o mesmo sentimento de orgulho dos

ouropretanos pelo riquíssimo legado

histórico e à arquitetura colonial de

suas igrejas e casarões – na década

de 1980, a cidade foi reconhecida pela

Unesco como Patrimônio Universal da

Humanidade –, tem sido também atri-

buído ao que eles consideram como

um dos melhores carnavais de rua da

região, ocasião em que o número de

devotos da fé praticamente míngua,

enquanto que os foliões se amontoam

ladeiras de paralelepípedo abaixo.

Entram, então, em ação, grupos de

crentes que se misturam aos carnava-

lescos convencionais nas alegorias e

serpentinas, mas com uma diferença

fundamental no propósito: brincar o

carnaval de uma maneira saudável, sem

extravagâncias e, de quebra, abocanhar

almas para Cristo. Ou seja, unir o útil ao

agradável. Esse é o “impacto evangelís-

tico” do bloco Jesus Bom a Beça que, a

ENTRE O SAGRADO E O PROFANO: igrejas históricas e carnaval fazem de Ouro Preto uma cidade de peculiaridades díspares

TIO PEDRO, DA JOCUM DE CONTAGEM: “Somos muito pequenos diante de tantas igrejas históricas e pomposas”

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E S P O R T E

Malhação

ao ritmo

da fé

KAREN RODRIGUES

Bons de braço e fi rmes na fé: a exemplo do que acontece

nos Estados Unidos, academias de musculação se adaptam para agradar

público evangélico

Música gospel em diferentes

ritmos e, de quebra, equi-

pamentos e mais equi-

pamentos de musculação. Apesar

de parecer meio controverso esses

ingredientes têm combinado muito

bem, principalmente nos Estados

Unidos, onde a prática deixou de

ser apenas um modismo passageiro

e já se transformou na nova onda de

muitas academias. Tudo por causa

da professora evangélica Donna

Richardson Joyner, praticamente

uma celebridade em se tratando de

aeróbica e condicionamento físi-

co, tanto que seu DVD Sweating in the Spirit é sucesso de público

e figura na lista dos principais ví-

deos sobre fitness na avaliação do

badalado programa de entrevistas

The Oprah Winfrey Show. Nele, os

alunos exercitam e louvam simulta-

neamente, ao som de um coro dos

mais animados. Acredita-se, dessa

maneira – entre elas a apresentadora

–, que os praticantes possam cata-

lisar melhor as forças necessárias

na busca de seus objetivos; forças

essas provenientes de Deus. Como

prova de que os exercícios fí-

sicos praticados pelos cristãos

norte-americanos são levados

tão a sério, existe até uma em-

presa – a Church Fitness – que

se especializou na construção

de academias dentro de igre-

jas. “As igrejas estão cada vez

mais envolvidas no fitness. Ele

é um instrumento para manter

as pessoas da comunidade co-

nectadas”, afirmou o executivo

Rob Killen, em entrevista à

revista Isto É.

No Brasil, provavelmente o fit-ness cristão ainda está longe de se

comparar, em dimensão, ao norte-

americano; porém, como tudo que

acontece na terra do Tio Sam, de

uma forma ou de outra, acaba eclo-

DONNA JOYNER E SUAS AULAS DE FITNESS: malhação ao ritmo

de música gospel

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dindo por aqui, é cada vez maior

também o número de evangélicos

que se utilizam da fé cristã como

incentivo para ter o corpo sarado.

Localizada em São Bernardo do

Campo (SP), a Gospel Gym Carlos

& Cia passou por uma profunda

transformação de ordem estrutural

após a conversão de seu proprietá-

rio, Carlos Izídio da Silva, há mais

de quinze anos. “Quando me con-

verti, decidi passar tudo que tenho

para o Senhor. Deus é meu sócio

majoritário, e a prioridade aqui são

as vidas e almas”, propaga, fazendo

menção às mensagens que decoram

as paredes da academia. Além de

musculação, diversas outras ativi-

dades esportivas são realizadas num

espaço relativamente grande e divi-

dido em dois ambientes, como aulas

de defesa pessoal e aeróbica, ginás-

tica localizada, pilates com bola

e alongamento, além de eventuais

cultos e até vigílias. “Percebi que ao

convidar as pessoas para um culto

na academia, elas vêm; agora, se as

convidar para ir à igreja, há certa re-

sistência”, lamenta o professor.

Membro da Comunidade Evangé-

lica Pentecostal Estrela da Manhã,

Carlos Izídio conta que se tornou

evangélico após passar por frustra-

ções que quase o levaram ao sui-

cídio. Hoje, dizendo-se totalmente

restaurado, ele relata que decidiu re-

estruturar a academia

devido às humilha-

ções antes sofridas

pelos frequentadores

crentes, sempre

alvos fáceis de cha-

cotas e gozações.

Apesar da maioria

dos alunos não serem

evangélicos – cerca

de 60 de um total

de aproximadamente

150 frequentam igre-

jas –, agora a relação

ali é a mais respeito-

sa possível, sem qualquer tipo de

problema de ordem comportamental

e sem ninguém que se sinta inibido

com o estilo gospel; pelo contrário,

a opinião é unânime de que o clima é bastante benéfico para as ativida-

des físicas. “Alguns, que não são

evangélicos, até comentam que não

sentem vontade de ir embora porque

sentem paz no ambiente”, gaba-se o

proprietário.

Frequentador da Igreja Interna-

cional da Graça, de Santo André,

Paulo Antônio Batista exercita na

Gospel Gym há mais de um ano e,

segundo ele, a diferença no ambien-

te é facilmente perceptível, princi-

palmente porque, em vez de pala-

vrões e xingamentos, o que mais

se houve são palavras de incentivo.

“Eles nos ensinam que precisamos

cuidar da nossa parte física e espi-

ritual. Pois, não adianta estarmos

bem espiritualmente, que é o mais

importante, e com a parte física aca-

bada”, compara.

Formado em direito e

aluno de pós-graduação,

o angolano Estevão Go-

mes é outro evangélico

que dedica algumas ho-

ras do seu dia à malha-

ção. Para ele, que sem-

pre frequentou a Igreja

Metodista, inclusive em

seu país de origem, tão importante

quanto a prática esportiva é o papel

incentivador a ser desempenhado

pela igreja. “O esporte está ligado

à saúde, e as igrejas têm um papel

fundamental de pregá-lo como um

estilo de vida”, enfatiza com seu

português lisboeta.

Pronto socorro espiritual – Em-

bora pareça quase óbvio, tornear

músculos, ganhar massa corpórea,

perder peso ou definir medidas não

são os únicos motivos que levam

os não adeptos ao evangelismo à

Gospel Gym, de São Bernardo. Há

também quem encontre na malhação

e no contato com outros frequen-

tadores, uma espécie de refúgio

contra problemas como depressão,

síndrome do pânico ou até mesmo

nas relações conjugais. Nas esta-

tísticas de Carlos Izídio, 90% dos

matriculados sentem necessidade

de expor os problemas do dia-a-dia.

“Nós vimos aqui casos de cura de

Aids, diabetes e de lares desfeitos

sendo restaurados”, enumera, orgu-

lhoso por mencionar as dezenas de

pessoas que experimentam o mesmo

caminho de transformação espiritu-

al. Para qualquer tipo de dificulda-

de, ele tem a solução na ponta da

língua: “Eles pedem oração, e são

libertos”, receita.

Ao se matricular na academia,

Cristiano de Campos estava inte-

ressado em apenas cuidar da saúde

física; entretanto, depois de um

certo tempo se dedicando exclusi-

vamente à malhação, confessa que

CARLOS IZÍDIO DA SILVA, professor e proprietário de academia: “Deus é meu sócio majoritário”

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PARA O EVANGÉLICO PAULO ANTÔNIO BATISTA,

não adianta estar bem apenas espiritualmente

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que levanta os pesos do equipamen-

to: “Algumas doutrinas influenciam

as pessoas de forma negativa, e a

prática esportiva só tem aspectos

positivos”, denuncia.

Pastor da Casa de Oração Árvore

da Vida, de São Caetano do Sul, Ro-

berto Marcos Leopoldino considera

uma hipocrisia não querer se sentir

bem e saudável, e que o esporte, ao

contrário de outras práticas ilícitas

e condenáveis, agrada a Deus. “Há

quem corra para o outro lado, que

faz cirurgias e use anabolizantes.

Isso é corrupção e, certamente, não

agrada ao Senhor. A academia não

é para exibirmos o corpo, mas para

nos sentirmos bem”, atesta, com ex-

periência tanto no púlpito como no

aparelho de leg press – aquele para

exercitar as pernas. E o pastor sa-radão aponta uma passagem bíblica

(1Co 11.28) como conselho para os

evangélicos que se sintam discri-

minados ou até mesmo intimidados

antes de iniciar uma atividade físi-

ca: “Examine-se, pois, o homem a

si mesmo”, conclui.

percebeu haver ali algo diferente,

e que estava disposto a viver essa

diferença. “Se fosse uma academia

só de evangélicos, as pessoas de

fora não estariam aceitando Jesus

aqui dentro. O Senhor traz os doen-

tes aqui e nós cuidamos do corpo e

da alma”, enfatiza o ex-católico,

com conhecimento de causa de

quem deixou de ser um apren-

diz para se tornar um autêntico

evangelista. Hoje, ele frequenta

a Comunidade da Graça.

Preconceito – Todo mundo já ou-

viu falar em noticiários, revistas

segmentadas ou outros meios de

informação sobre a importância

e os benefícios que a prática

de exercícios físicos traz para a

saúde. Contudo, apesar de todo

o modernismo do século 21, esse

ainda é um tabu que persiste em

fazer parte do conservadorismo

exacerbado de alguns evangéli-

cos. De acordo com o treinador

Carlos Izídio, infelizmente há

cristãos que relutam e até mesmo

criticam os “irmãos” que aderem

a esse tipo de comportamento,

julgado que o cuidado exces-

sivo com o corpo não passa de

pura vaidade pessoal. E vão

além: para eles, o ambiente

chega a ser um atentado ao

pudor, e o único intuito dos

frequentadores é se vanglo-

riarem diante do espelho e

de exibirem músculos bem

torneados em trajes que não

condizem com a prática cristã.

“Na opinião deles, estamos

idolatrando nosso corpo. Infe-

lizmente, eles não conseguem

entender o que Deus faz aqui”,

lamenta-se.

Por sua vez, Paulo Antônio

Batista afirma não ter sofrido

nenhum tipo de discriminação

por parte dos fiéis que, com

ele, frequentam os cultos na

igreja. Em contrapartida, o mesmo

não acontece no ambiente de traba-

lho, onde é constantemente questio-

nado pelos colegas. “Eles perguntam

que tipo de crente é esse que pratica

atividade física; e eu respondo que

sou diferente dos outros, um crente

do século 21”, resume. O angolano

Estevão Gomes pega mais pesado

na questão, com a mesma energia

O ANGOLANO ESTEVÃO GOMES cobra mais participação das igrejas no incentivo ao esporte

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EX-CATÓLICO, CRISTIANO DE CAMPOS se converteu na academia por ali

encontrar algo diferente

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“A ACADEMIA NÃO É PARA EXIBIRMOS O CORPO”, diz o pastor

Roberto Marcos Leopoldino

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36

Romney Cruz

é pastor na Comunidade Cristã para as Nações em Belo Horizonte (MG)

O P I N I Ã O

Por debaixo

da armadura

“Homens que empolgam

multidões nos púlpitos ou

palcos da fé, desagradam

a Deus nos cantos obscuros e

privados onde sua plateia não os vê”

A história de Naamã

(2 Reis 5.1-19)

é um exemplo

categórico de que nem

sempre o que está debaixo

da armadura corresponde

ao que pensamos ser o seu

conteúdo. Armadura é algo

imponente, impressionante e

exterior. Analisando de forma

conceitual, é possível apontar

muitos aspectos interessantes.

Por exemplo: a armadura

protege o rosto do guerreiro,

porém não impede a visão

do mesmo; permite que o

guerreiro entre no campo

de batalha com vitória total

sobre os despidos de proteção;

impetra medo aos oponentes;

enfim...

Encontramos, na Palavra

de Deus, vários exemplos

interessantes referentes à

armadura, exemplos que nos

deixam muitas microlições

e apenas uma macrolição: o

guerreiro é mais importante

que a couraça, jamais o

contrário. E há situações

bíblicas que elucidam esse

conceito.

Leia em 1 Samuel 17.24-

58 que o jovem Davi, ao

chegar no campo de batalha

israelense e ver um gigante

e um caminhão. Entretanto,

ofereceu ao fusquinha (Davi)

sua armadura, a qual não lhe

serviu por ser muito grande.

Por fim, Davi foi mesmo sem

proteção e todos nós sabemos o

fim maravilhoso da história; sem

armadura e com somente cinco

pedras do ribeiro na sacola, o

garoto enfrentou o gigante com

sua enorme armadura. Girou a

funda, e com apenas uma pedra,

abateu o filisteu.

Leia em 1 Reis 22.29-35 que,

sabendo que poderia morrer em

batalha, o rei Acabe, um homem

dissimulado e cruel, arquitetou

uma situação para enganar Josafá

fazendo-o entrar na batalha

trajado de rei (diferenciado dos

demais, ele seria um alvo fácil),

enquanto ele próprio iria a campo

vestido de soldado. Em meio a

tantos combatentes trajados com

armaduras, dificilmente seria

descoberto; porém, um sírio

atirou uma flecha ao ocaso, que

o atingiu exatamente nas juntas

de sua armadura – o rei Acabe

morreu em virtude do ferimento.

Tanto o primeiro como o

segundo exemplo elucidam

claramente que a armadura pode

impressionar, impor e confundir

os homens, mas não o Senhor.

Ninguém engana a Deus, e tudo

filisteu (Golias) afrontar um

exército inteiro que se mantinha

calado, bradou: “Quem é, pois,

este incircunciso filisteu, para

afrontar os exércitos do Deus

vivo?”. E pediu permissão a

Saul para enfrentar o gigante; o

rei, sem outra opção, permitiu

que o garoto assim o fizesse.

Contextualizando: ele autorizou

a colisão entre um fusquinha

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não foram explicitadas aqui

para destruição e sim para

trazer à tona sentimentos e

ações, para que possamos nos

autoconfrontar, com espelhos

nos olhos. Se o resultado desse

confronto nos disser que “por

fora somos heróis, mas por

dentro ladrões”, que possamos

sair dessa revolta, quebrar

nossos grilhões e retornar. Pois,

Deus tem vida plena e vale a

pena retornar para ver o amor

antigo, o abraço amigo, a festa

começar... Arrependidos, nós,

filhos de Deus, sempre teremos

um lar para nos receber, sempre

teremos um rio Jordão para

mergulhar; o que importa é que

não escondamos nossa lepra,

pois escondê-la só nos levará

ao fim, ou seja, a carne podre

invadindo os limites do corpo e

o levando à morte.

Não morra, clame por cura.

Afinal, Deus o ama.

sua plateia não os vê; mulheres

que profetizam em nome de Deus,

fazem jogos sedutores quando

sua plateia não as vê; casais

tidos como exemplos entre seus

grupos de jovens, perdem-se nos

prazeres da carne, envolvidos

por penumbras diabólicas onde

sua plateia também não os vê. E

mais: moralistas e exemplos de

boa administração, eclesiástica ou

empresarial, maquiam relatórios

e balancetes usando números

falsos, furtando a honestidade e a

confi ança de seus fi éis depositários

em benefícios próprios; líderes

que arrebatam multidões com suas

psicologias persuasivas controlam

a mente de súditos em nome

de bênçãos que advêm de seus

impérios pessoais e não das mãos

de Deus, isolando-se nas ilhas do

poder pelo prazer pedante de se ter

almas humanas sob seus controles.

Sei que as verdades ditas

acima são pesadas, mas

que o homem semear será por ele

colhido. A vitória é daqueles que,

por debaixo da armadura, têm um

coração íntegro guardado em Deus.

O que há debaixo de sua

armadura? Onde você tem

depositado sua confiança? De

que importam os resultados que

os outros veem? São perguntas

que você deve responder com

toda sinceridade, pois das

respostas dependem sua vida

futura. Sem armadura Davi

venceu o gigante, enquanto que

o rei Acabe, protegido e diante

de uma situação arquitetada

maquiavelicamente, foi atingido

por uma flecha lançada ao ocaso.

Sua armadura é de um homem

ou de uma mulher espiritual?

Lembre-se de que nosso

verdadeiro caráter é revelado no

escuro. Homens que empolgam

multidões nos púlpitos ou palcos

da fé, desagradam a Deus nos

cantos obscuros e privados onde

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38

Maria de Fátima M. de Carvalho é escritora, advogada, mestre em Ciências das Religiões pela Universidade Federal da Paraíba e membro da Igreja Evangélica Assembleia de Deus de João Pessoa

L U G A R D E M U L H E R

Jesus e a quebra

do androcentrismo

“Do aprendizado com Jesus, as mulheres começaram a construir

novas regras de comporta-

mento na busca do

reconheci-mento de seu papel igualitário

no contexto social”

Assistimos em nossos dias

a uma ascensão crescente

de mulheres em todas

as áreas do mercado de trabalho,

e até mesmo no comando de

nações. Atualmente, encontramos

17 líderes globais femininos,

governando 16 países. A partir

de janeiro de 2011, o nome da

presidente do Brasil, Dilma

Rousseff, fi gurará nas estatísticas

que demonstram o quanto a mulher

avançou na conquista de seus

direitos e ideais.

Tal liberdade inexistia no

tempo de Jesus. As mulheres

viviam sob total repressão, e

todas as civilizações adotavam

o androcentrismo disseminado

pelas escolas fi losófi cas platônica,

aristotélica, estoica e pitagórica,

cujos pensamentos privilegiavam os

homens. Aristóteles imaginava que

o corpo feminino era dotado de um

cérebro menor e, portanto, impedido

de desenvolver sua capacidade

racional e intelectual. Pitágoras

ensinava que um princípio bom

gerou a ordem, a luz e o homem,

enquanto que um princípio mau

gerou o caos, as trevas e a mulher.

As leis atenienses ordenavam que

as mulheres deveriam permanecer

em silêncio nos ajuntamentos

solenes e não podiam participar

das assembleias dos cidadãos.

As mulheres judias igualmente

do androcentrismo e da proibição

feminina de anunciar a Torá, quando

acolheu mulheres no seu próprio

grupo de discípulos, para o seguirem,

servirem e proclamarem as mensagens

anunciadas, o que, subentende-

se, incluía também as referências

messiânicas dos Escritos Sagrados dos

judeus.

A presença de Maria Madalena

e de outras mulheres no movimento

de Jesus é incontestável sob o ponto

de vista dos evangelhos canônicos,

tanto que elas são mencionadas

desde o começo de seu ministério na

Galiléia como sendo discípulas em

toda a extensão que esse termo requer

– seguiam, serviam e anunciavam aos

outros o que viam e ouviam da parte

de Jesus. E isso não só ocorria com

Maria Madalena, mas com as muitas

mulheres que são mencionadas tanto

nos evangelhos como nas epístolas

paulinas. Com Jesus elas viveram a

experiência de serem curadas, de se

tornarem seres humanos saudáveis

e participantes, vivenciando uma

experiência de plenitude de vida até

então reprimida pelo patriarcalismo

fi losófi co e judaico. Elas

permaneceram fi éis a Jesus, mesmo

na hora em que ele estava entregue à

morte por exigência das autoridades

judaicas e sob seus olhares atentos.

Apesar disso, elas não temeram, não

fugiram; pelo contrário, puseram-se

como testemunhas oculares de sua

viviam em silêncio e em situação de

grande privação e isolamento social.

De acordo com Champlin, não era

permitido à mulher alguma frequentar

escolas de ensinamentos da lei, porque

os rabinos afi rmavam: “É preferível

queimar a lei do que ensiná-la a uma

mulher”. Entretanto, as narrativas

do Novo Testamento revelam

que Jesus quebrou o paradigma

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sua esperança (1Co 15.19-20). É até

imaginável que tenha sido o silêncio

paulino sobre o testemunho de Maria

Madalena que levou João a registrar

no quarto Evangelho, décadas depois

de Paulo, todo o detalhamento de

como se deu o encontro entre ela

e Jesus após a ressurreição (Jo

20.11-18). Entretanto, em 323 d.C.

Constantino concedeu liberdade de

culto à Igreja, e, à medida que essa foi

se estatizando, o discurso ofi cial com

relação às mulheres foi fi cando cada

vez mais excludente e misógino. O

androcentrismo paulino foi adotado

pelo clero ortodoxo e sedimentado

pelo papa Gregório Magno (590–604)

que estigmatizou Maria Madalena

como prostituta, confundindo-a com

a mulher pecadora mencionada no

Evangelho de Lucas. Essa concepção

discriminatória da mulher, assegurada

pelo clero, foi prevalecente por

cerca de 1500 anos, permitindo a

manutenção dos homens no poder,

legitimando a submissão feminina

e sufocando qualquer tentativa de

subversão da ordem masculina

estabelecida. Mas, a partir de 1945,

as descobertas arqueológicas em

Nag Hamaddi, no Egito, de papiros

contendo cópias de textos gnósticos,

incluindo o Evangelho de Maria e o

Evangelho de Filipe, inauguraram

um novo período de pesquisas sobre

Maria Madalena e abriram as portas

para o surgimento de movimentos

feministas e de emancipação da

mulher. Leis foram criadas em

benefício do chamado “sexo frágil”,

como por exemplo, o direito ao

voto. As escolas e universidades

abriram as portas também para elas,

e suas vozes passaram a ser ouvidas

e seus conselhos seguidos. Igrejas

evangélicas começaram a ungi-las

pastoras e auxiliares de trabalho. E,

fi nalmente no ocidente, em nossos

dias, já existe o reconhecimento

consagrado – embora ainda

embrionário em alguns aspectos

– da igualdade de gêneros; e, em

alguns casos, da vitória da mulher

sobre o domínio dos homens, como

estamos vendo pela primeira vez em

nosso país: a eleição de uma mulher

presidente do Brasil.

ressurreição de Jesus (1Co 15.5-8).

Sem demérito do precioso e basilar

trabalho que ele realizou em prol

do cristianismo, tal omissão sugere

uma atitude androcêntrica por parte

do apóstolo, uma vez que o fato foi

citado nos quatro evangelhos, tendo

João retratado com exclusividade o

encontro e o diálogo ocorrido entre

Maria Madalena e Jesus ressurreto.

Uma leitura cuidadosa das

epístolas paulinas põe em evidência

que o apóstolo preservou o

androcentrismo fi losófi co e judaico,

que supostamente adquirira com os

fariseus e com as literaturas pagãs

dos cultos mitológicos praticados em

Tarso, sua cidade natal, prováveis

frutos de sua dupla cidadania farisaica

e romana. Tais evidências estão

presentes nos seus escritos sobre

modelos éticos e morais impostos aos

cristãos, onde há literal esclarecimento

se os mesmos procedem de revelação

de Deus; de imposição da lei; ou do

seu entendimento pessoal. O exemplo

disso está nos seus ensinamentos

sobre o casamento, onde o apóstolo

emprega expressões como: “digo,

“digo eu, não o Senhor”, “ordeno”,

“dou o meu parecer”, “segundo o

meu parecer” (1Co 7.6-40). E ainda

em 1Co 14.34, onde há clara menção

de que a doutrina que impunha

silêncio às mulheres procedia de

um preceito da lei: “As mulheres

estejam caladas nas igrejas; porque

lhes não é permitido falar; mas

estejam sujeitas, como também

ordena a lei”. Entende Champlin,

com essas declarações, que Paulo

estava simplesmente transferindo

para a Igreja cristã, algumas ideias

que trouxe do judaísmo, no que diz

respeito à mulher. Nesse pressuposto,

é possível compreender que

difi cilmente o apóstolo iria mencionar

Maria Madalena como testemunha

da ressurreição de Jesus, mesmo

sabendo que foi ela quem anunciou

aos discípulos o fenômeno da

ressurreição. A cultura androcêntrica

que trazia dentro de si, resultante dos

muitos anos a serviço do judaísmo

o impediam de declarar uma mulher

como testemunha do fenômeno que

constituiu a razão maior de toda a

morte e sepultamento. Foram as

primeiras a irem ao túmulo, mesmo

sabendo que corriam o risco de serem

mortas.

Onde encontraram tanta coragem

se viviam sob um regime de total

repressão? Encontramos explicação

para essa questão no entendimento

de que Maria Madalena e as demais

mulheres que seguiram Jesus

absorveram e se apropriaram da ética

por ele ensinada, que não faz acepção

de pessoas, não estabelece diferença

de gênero, nem de origem, nem de

condição social, como disse Paulo:

“Nisto não há judeu nem grego; não

há servo nem livre; não há macho

nem fêmea; porque todos sois um em

Cristo Jesus” (Gl 3.28). Entenderam

assim que eram livres para decidir

por si mesmas, e agir segundo suas

decisões, com a coragem de assumir

as implicações de seus atos, quer

fossem de recompensa ou punição.

Do aprendizado com Jesus, as

mulheres começaram a construir

novas regras de comportamento na

busca do reconhecimento de seu

papel igualitário no contexto social.

Jesus abriu caminho para que elas

também assumissem posições de

liderança. Na fase difícil de formação

da Igreja primitiva, as mulheres

se faziam presentes e atuantes nas

comunidades como diaconisas,

líderes, profetisas, num período em

que o cristianismo era perseguido,

uma religião proibida pelo Estado.

As reuniões aconteciam em lugares

reservados, nos interiores das casas

ou em catacumbas. As mulheres

cediam seus lares, eram as patronas,

fundadoras de comunidades. Paulo

as apresenta como lutadoras pela

divulgação do Evangelho: Evódia

e Sintique (Fl 4.2-3); Febe, Trifena,

Trifosa e Perside (Rm 16.1-2, 12);

todas trabalharam arduamente na

formação do cristianismo, cedendo

suas casas para servirem de

templo, hospedando os discípulos,

proclamando a palavra. Mas, apesar

de mencioná-las e reconhecer que

Cristo instituiu a igualdade de

gênero, Paulo omite o nome de Maria

Madalena e das outras mulheres, no

seu relato sobre as testemunhas da

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S O C I E D A D E

Participação das comunidades Participação das comunidades evangélicas na divulgação evangélicas na divulgação

da Palavra de Deus continua da Palavra de Deus continua essencial depois da maior essencial depois da maior

operação policial da história operação policial da história do Rio de Janeiro no combate do Rio de Janeiro no combate

ao tráfi co ao tráfi co

A Igreja contra o terrorA Igreja cont

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MARCOS STEFANO

DIV

ULG

ÃO

A Igreja contra o terrorntra o terror

Pareciam mais cenas de

um terceiro filme da

franquia Tropa de Elite,

ou então o prenúncio de um

Armagedon – a famosa guerra

bíblica –, só que numa grande

cidade brasileira. O contra-

ataque do poder público em

ofensiva ao crime organizado

no Rio de Janeiro, no fim do

mês de novembro, teve cenas

realmente inusitadas. Pela

primeira vez na história, ve-

ículos militares blindados da

Marinha foram usados para

tomar o controle de um morro.

Com o auxílio de seis tanques

de guerra, do mesmo modelo

usado no Iraque, os policiais

do Batalhão de Operações

Especiais (Bope) superaram

blocos de concreto, restos de

trilhos de trem, carros e cami-

nhões incendiados em pontos

estratégicos, para, numa ação

digna do capitão Nascimento,

entrarem na Vila Cruzeiro e

no Complexo do Alemão, os

principais bunkers do Coman-

do Vermelho, maior facção

SOLDADOS DO EXÉRCITO DURANTE OPERAÇÃO para tomar uma das principais trincheiras do

tráfi co na cidade e restabelecer a paz no morro

41

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criminosa do Estado. Enquanto

isso, 800 soldados do Exército,

dentre eles vários veteranos do

Haiti, apoiados por helicópteros

da Aeronáutica, vigiavam todas

as saídas. O desespero bateu na

porta dos bandidos, e alguns ten-

taram resistir com fuzis, bazucas

e outros artefatos bélicos. Quem

via que a tentativa era inútil e não

conseguia fugir pelas galerias de

esgoto ou pela mata, vestia um ter-

no com gravata, colocava a Bíblia

debaixo do braço e tentava se fazer

passar por membro de alguma igre-

ja evangélica. “Esse é um caminho

sem volta. Prender é importante,

mas você prende um e amanhã

aparece outro. Sem o território,

eles perdem seu poder”, declarou

o Secretário de Segurança José

Mariano Beltrame, ao comentar a

nova estratégia de combate à vio-

lência. Enfrentar o tráfico e ocupar

seu território, tarefas que durante

anos foram negligenciadas por su-

cessivos governos, são essenciais

para a vitória nessa batalha. Mas,

para vencer a guerra, é preciso

muito mais do que apenas ações

policiais.

Mostrar ao mundo que o Rio

tem capacidade de sediar a Copa

do Mundo de 2014 e as Olimpíadas

de 2016 é algo a se levar em conta

numa ofensiva desse porte. Contu-

do, há fatores mais importantes, e

a segurança de toda a população

está entre essas prioridades. Na

mesma semana em que as forças

públicas subiram os morros, a ci-

dade havia sido barbarizada pelos

criminosos, que lançaram granadas

às ruas, atearam fogo em carros e

ônibus, promoveram arrastões

e espalharam ainda mais medo

com boatos sobre seu “novembro

negro”. Tudo não passava de um

enorme protesto promovido por

duas facções rivais – agora aliadas

– contra a diminuição de seus lu-

cros e a política de ocupação de fa-

velas, em vigor desde 2008, e que

já conseguiu pacificar 13 morros.

Na Vila Cruzeiro e no Complexo

do Alemão, moradores acenavam

com panos, toalhas e lençóis bran-

cos aos policiais, pedindo paz,

ajuda e agradecendo pelo

fim do domínio do terror

imposto pelo tráfico. A

luta, em suma, é contra a

violência que, hoje, talvez

seja o mais grave e assus-

tador problema enfrentado

pelos brasileiros.

Como uma primeira

ação para combatê-la, a

ocupação dos morros foi

aplaudida também por

lideranças cristãs. “O

governo teve a atitude

correta ao tomar aqueles

lugares dominados por

forças satânicas”, diz o

pastor Marcos Pereira, lí-

der da Assembleia de Deus

dos Últimos Dias (Adud).

Ele e sua equipe estiveram

numa das madrugadas no Com-

plexo do Alemão na tentativa de

ajudar nas negociações, como já

fizeram em outras oportunidades

de conflitos entre a polícia e os

bandidos. “A cocaína é uma dro-

ga, mas há algo espiritual em ação

nesse lugar. Já o material bélico

que os traficantes usam não é, e

não é possível permitir que isso

chegue às mãos deles”, completa

o pastor, comemorando por não

haver derramamento de sangue

durante a ocupação.

Poucas instituições sofrem tanto

com a violência e também poucas

têm tão efetivo poder de combatê-

la quanto as igrejas evangélicas,

mas na guerra ao terror a postura

da Adud é uma exceção. O silêncio

mais uma vez foi a resposta prefe-

rida da maioria das lideranças. Um

silêncio incompreensível e que faz

eco à voz da sociedade não cris-

tã. “A grande maioria das igrejas

não tem teologia para questões de

natureza política e social. A ética

pregada é apenas privada, não

tem dimensão pública”, avalia o

DIV

ULG

ÃO POLICIAIS SE MISTURAM

A CIVIS no Complexo do Alemão, até então dominado por facções criminosas

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reverendo Antonio Carlos Costa,

da Igreja Presbiteriana na Barra

da Tijuca e presidente da ONG Rio

de Paz.

Varais de rosas – Quando se fala

em guerra contra a violência não

se está exagerando. Calcula-se, so-

mente na última década, que mais

de 500 mil brasileiros tenham sido

vítimas de homicídio. Por aqui,

morre todos os anos pelo menos

50 vezes mais gente dessa maneira

do que em conflitos armados pelo

mundo, como os que acontecem

entre israelenses e palestinos. A

própria ONG Rio de Paz, criada no

começo de 2007, foi por reação a

mais um momento de barbárie. No

fim do ano anterior, uma onda de

atentados realizada contra a cida-

de contabilizou 19 mortes brutais,

sendo que 8 pessoas foram quei-

madas em um ônibus incendiado

por traficantes.

Desde então a entidade vem

organizando debates, eventos e,

principalmente, manifestações

públicas para conscientizar a so-

ciedade sobre a questão. Logo em

março de 2007, por exemplo, a Rio

de Paz espalhou milhares de cruzes

pela praia de Copacabana, fazendo

o lugar parecer um cemitério, para

alertar sobre o elevado número

de pessoas mortas por crimes. Na

mesma linha e sempre com criati-

vidade, montou varais de rosas e de

uniformes manchados de sangue,

espalhou sacos de “corpos” nas

areias, fez caminhadas e inaugurou

até um memorial com o placar do

número de mortos na cidade.

O manifesto não se restringe

somente à capital carioca; tra-

balhos semelhantes já foram

realizados em Brasília, Belo

Horizonte, Recife e São Paulo.

Em 2008, o presidente da

ONG teve um encontro com

Beltrame, justamente num

momento em que a política de

segurança do Rio enfrentava

severas críticas, vindas de to-

dos os lados. No ano anterior,

o Bope havia invadido a mes-

ma Vila Cruzeiro, matando 9

pessoas e ferindo outras 6. Em

seguida, invadiu também o Ale-

mão com mais de mil homens e

PARA O SECRETÁRIO DE SEGURANÇA, José Mariano Beltrame, os trafi cantes perdem poder sem seu território

DIV

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ÃO

DIV

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ÃO

PROTESTOS CONTRA A VIOLÊNCIA organizados pela ONG Rio de Paz na praia de Copacabana

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44

matou 19. Não havia limites para a

carnificina e, como se pode perce-

ber, até agora não trouxe qualquer

fruto permanente. “Não dava mais

para tolerar aquele banho de san-

gue, nem ver os moradores como

reféns. Os mais pobres estavam pri-

vados de todos os seus direitos, até

mesmo o de ir e vir. Em 10 anos,

houve 100 mil mortes violentas,

a maioria, 80%, nas comunidades

mais pobres. Era preciso liberta-

ção”, lembra o reverendo.

Após essa e outras pressões o

governo mudou de tática, e a ideia,

então, passou a ser a de manter

uma força policial permanente no

território; policiais que não par-

ticipassem da rede de corrupção

que une os oficiais da lei com os

traficantes. Assim, inspiradas num

modelo que já havia dado certo nas

cidades colombianas de Bogotá,

Medellín e Cali, nasciam as Uni-

dades de Polícia Pacificadora – as

UPPs. Com os bandidos expulsos

de um morro, como aconteceu em

novembro, abre-se um posto de

policiamento permanente no in-

terior da favela ocupada, seguida

por uma série de ações sociais:

construção de creches, ginásios,

postos de saúde, bancos, além da

criação de cursos profissionalizan-

tes e até uma central de empregos.

Os policiais designados para esses

locais são recém-formados, ou

seja, não fazem parte da

banda podre do poder

público.

A proposta é ótima e

tem dado bons resulta-

dos, mas ainda sofre com

limitações, sobretudo do

ponto de vista estrutural.

A UPP exige a presença

constante da polícia e

um contingente que ne-

nhuma força policial do

mundo é capaz de man-

ter permanentemente.

No Morro Dona Marta,

onde foi estabelecida a

primeira unidade, a re-

lação é de um policial

para cada grupo de 81

habitantes. Já, no restan-

te da cidade, a proporção

é de um para 340, maior,

por exemplo, do que em

Nova York, cuja média é

de um para 230 cidadãos.

Nessa linha, para montar

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MAIOR APREENSÃO DE DROGAS E ARMAS da história do Estado: tropas policiais realizam verdadeira limpeza no território dos bandidos

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uma UPP no Complexo do Alemão

será necessário um efetivo de 2200

agentes treinados, boa parte dos

3500 novos policiais cariocas que

deverão se formar em 2011.

Outro problema, pelo menos ob-

servado até agora, é que a presen-

ça da UPP acaba com a violência

e inibe o tráfico de entorpecentes,

mas não o suprime de vez. Car-

regamentos de drogas, que antes

chegavam aos morros em enormes

lotes e à luz do dia, passam a en-

trar nas favelas ocupadas aos pou-

cos, levados por pessoas e em pe-

quenas quantidades – um trabalho

de formiguinha. E sabendo que os

traficantes ainda dominam 450 das

1020 favelas cariocas, comerciali-

zando 20 toneladas de cocaína por

ano, dá para se ter uma noção do

tamanho do desafio do poder pú-

blico para exterminar essa praga.

TV a gato – Por mais alvissareira

que seja a novidade, será difícil

conter a violência se o Brasil não

fizer a lição de casa. Ações de or-

dem práticas são essenciais, como

a reforma e a valorização das

polícias; profundas mudanças no

sistema de leis do país; o trabalho

integrado entre as esferas munici-

pal, estadual e federal; e a constru-

ção de novos e modernos presídios

de segurança máxima, com regras

que dificultem aos chefões do

tráfico passar ordens e comandar

seus bandos de dentro das cadeias.

Isso sem falar no problema das

milícias que, também no Rio de

Janeiro, rivalizam com os trafican-

tes e, agora sozinhas, exercem um

poder paralelo e cobram até pelas

ligações clandestinas de TV a cabo

– os populares “gatos”.

Mesmo com tantas dificulda-

des, a Igreja pode fazer a dife-

rença nessa batalha entre o bem

e o mal. Em muitas favelas, o

poder público está ainda omisso,

mas as comunidades evangélicas

funcionam a todo vapor. “Claro

que sua primeira tarefa é pregar o

Evangelho, mas lembrando que a

Palavra de Deus transforma vidas

inteiramente. Não é apenas um

consolo ou um caminho fácil para

a prosperidade financeira”, alerta

o reverendo Costa. “E quem não

se converte? Aí é preciso cobrar

políticas públicas e que as igrejas

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JOVINO RENALDO NETO (À ESQUERDA), missionário da Jocum Borel: “Procuramos servir o homem em sua integralidade”

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façam trabalhos sociais,

pois você acaba com a

violência oferecendo

expectativas e educação

para o não convertido.

Oração e pregação devem

ser acompanhadas dessas

ações. Por que andar em

Paris é mais seguro do

que no Rio? Poucos lu-

gares no mundo são tão

secularizados quanto a

capital francesa, mas não

há tantas desigualdades

e injustiças sociais, que

servem de combustível

para o crime.”

Levando também em

conta a inconveniente

verdade de que uma boa

parte dos jovens que

trabalham para o tráfico

nos morros cariocas é

composta por desviados

ou filhos de crentes, será que é

possível realizar um trabalho des-

se porte, uma teologia com essas

prioridades? Esse dado é real e

baseado em conhecimento de cam-

po, confirmado por muitos grupos

missionários que trabalham nos

morros, visitam presídios e evan-

gelizam drogados. Contrariando

muitas expectativas e até o interes-

se de gente que torce o nariz quan-

do se fala nesse tipo de trabalho, a

organização Jovens com uma Mis-

são (Jocum) vem mostrando que

é possível sim fazer a diferença,

mesmo diante da falta de recursos

e a mercê do poder do tráfico.

Presente há mais de duas déca-

das no Morro do Borel, a Jocum

leva a sério a máxima Justiça, Transformação, Educação, Saúde e Cidadania com a Palavra de Deus. De fato, essa é receita para

uma série de trabalhos que vem

mudando a vida de mais de 20

mil habitantes da Tijuca, bairro

da Zona Norte da cidade. “Além

de evangelizar, promovemos ações

de desenvolvimento comunitário

baseadas em uma cosmovisão bí-

blica, e projetos auto-sustentáveis

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POLICIAIS REINAUGURAM O MORRO: bandeira brasileira simboliza vitória contra os trafi cantes

para ajudar a comunidade caren-

te”, explica o missionário Jovino

Renaldo Neto, líder da base do

Borel, onde trabalham 11 missio-

nários em tempo integral e outros

15 voluntários, entre professores,

pedagogos, assistentes sociais,

médicos e dentistas.

Há alguns meses, a polícia avi-

sou que entraria no Borel. Houve

tensão, mas a ocupação foi pací-

fica. O governo montou ali a sua

UPP, mas, para surpresa geral,

quando chegou já havia um forte

trabalho social. Justamente aquele

promovido pela Jocum, que man-

tém no local uma creche apta para

atender 30 crianças com idades

entre 2 e 4 anos; uma escola de

música com mais de uma centena

de alunos; ambulatório médico e

dentário e farmácia comunitária.

A base oferece, ainda, atendimento

psicológico, aulas de medicina pre-

ventiva e, periodicamente, realiza

mutirões comunitários. Sem falar

nas clínicas de esportes, cursos de

artesanato e de informática.

Com uma forte relação com a

sociedade local, mesmo antes dos

traficantes deixarem o morro, os

missionários já haviam montado

uma clínica de recuperação para

dependentes químicos. “Não faze-

mos nada além de levar o Evange-

lho às pessoas, sempre em parceria

com as igrejas locais. A diferença

é que procuramos servir o homem

em sua integralidade”, comple-

menta Neto. Agora, com a chegada

do poder público, a expectativa é

ampliar tudo mediante parcerias

com a prefeitura e o governo do

Estado. Se o trabalho feito pela

UPP no Borel é um modelo, di-

vulgado com pompa pelas próprias

autoridades, a verdade é que boa

parte dos méritos é do povo de

Deus. Como dizem os jocumeiros,

deixando que o Reino de Cristo

alcance pés e mãos e não somente

bocas, é perfeitamente natural su-

perar a omissão da Igreja, obedecer

plenamente as ordens do Mestre e

começar a vencer não só a batalha,

mas também a guerra.

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“Fui um “Fui um

criminoso criminoso

do PCC”do PCC”Hoje pastor, Renato Cesar de Sousa, o Renatinho, comandou gangues, roubou bancos e conheceu como poucos o mundo do banditismo

Não é apenas o Rio de Janeiro que

tem sofrido com a violência. O

Brasil todo se tornou alvo de

balas perdidas ou mesmo bem dirigidas.

Quem não se lembra, por exemplo, dos

levantes e atentados que São Paulo sofreu

em 2006? Aqueles ataques, comandados

pelo Primeiro Comando da Capital, o

famigerado PCC, foram até mais graves

do que a atual crise experimentada pelos

cariocas. Considerada uma das facções

criminosas mais temidas do país, até

hoje o PCC assusta, especialmente

por conta da aura de mistério que

cerca a organização. Algo que Renato

Cesar de Sousa conhece como poucos;

afi nal, durante a adolescência, e longos

anos que se seguiram, ele fez parte do

partido do crime. Renatinho, como

era chamado, ingressou com o aval

de Marcos Willians Herbas Camacho,

o Marcola, e lá liderou gangues de

roubo a bancos e, por diversas vezes,

viu a morte de perto. Hoje, aos 31 anos,

está convertido e é pastor itinerante das

Assembleias de Deus. Em entrevista

a ECLÉSIA, ele fala sobre suas

experiências no mundo do crime, como

Jesus o alcançou e de que forma o Brasil

pode vencer a violência.

ECLÉSIA - Como você conheceu e

entrou para o PCC?

Renato Cesar de Sousa – Aos

nove anos, rejeitado por meus pais,

fui morar na rua. Na boca do lixo

de Campinas (SP), conheci outros

meninos e meninas como eu, passei

a usar maconha, cocaína e crack.

Acabei sendo adotado por um casal de

trafi cantes. Meu pai adotivo, o Naldo,

era membro do partido 1533, forma

como chamávamos o PCC. Ele me

levou para lá e me apresentou todo o

comando. Quem deu o veredicto para

que eu entrasse na organização foi o

Marcos Willians Herbas Camacho, o

Marcola, chefão do partido.

O que o atraiu para entrar para a

organização? Como era sua vida

sendo membro dessa facção?

Eu estava com 16 anos quando me

batizei no PCC. Aquela adrenalina

me atraiu, assim como as promessas

de ser importante, ser alguém

temido nessa vida. Que ilusão!

Mas frequentei muitos terreiros de

umbanda, quimbanda e candomblé.

Tudo estava ligado. Aos poucos,

ganhei o respeito no mundo do crime.

Em seu testemunho, você conta que

a cadeia e o PCC o transformaram

num ladrão de bancos e

sequestrador. E que pelo menos

escapou da morte por duas vezes,

quando toda a gangue que liderava

foi morta pela polícia. Pode dizer

como foram esses episódios?

Comecei liderando uma quadrilha de

assaltantes juvenis. Estávamos em

11 bandidos e resolvemos assaltar

um banco no interior de São Paulo.

Quando saímos com aqueles malotes

de dinheiro, já tinha várias viaturas

da polícia. Houve uma troca de tiros

terrível na porta do banco. Meus

companheiros foram mortos um

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ST

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MARCOS STEFANO

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a um. Eu fui o último a sair e,

com um fuzil, troquei tiros com

os policiais. Mesmo drogado,

pesando apenas 46 quilos,

consegui atravessar a avenida.

Consegui chegar a um muro, subi

numa casa e fui pulando de um

telhado para outro. Quando olhei,

policiais do helicóptero Águia

começaram a atirar em mim. Um

tiro acertou o peito do meu pé e

eu caí na cozinha da casa de uma

serva de Deus. Naquele momento,

estava começando o círculo de

oração e ninguém se importou

com o telhado quebrado. Mas a

dona da casa, líder do trabalho,

convenceu-me a entregar. Então,

ela saiu abraçada comigo para

que eu não fosse morto. No outro

roubo que fi zemos, estávamos

fugindo de carro pela rodovia, quando

fomos cercados e meus comparsas

foram mortos. Mais uma vez, apenas

eu sobrevivi.

Nesse primeiro assalto, você

recebeu uma profecia de Deus.

Como foi?

A mulher que liderava o círculo de

oração veio em minha direção e,

usada pelo Senhor, disse em profecia:

“Tu és Zaqueu e nessa tarde convém

pousar em sua casa. O Brasil hoje o

conhece como um ladrão, uma causa

impossível, mas eu vou fazer de você

um pregador da minha Palavra”. Na

Bíblia, Zaqueu era um ladrão, mas

Deus mudou a vida dele. Por meio

dela, Deus também revelou que eu só

não havia morrido porque o anjo de

sua igreja estava orando por mim. Era

meu irmão, o pastor Reginaldo, e sua

esposa Akesia. Mesmo assim, preso

pelo pecado, endureci o coração e não

aceitei entregar a vida a Deus.

E de que forma foi sua conversão?

Primeiro, é preciso dizer que aprontei

muito antes de me converter. Fugi do

Carandiru, realizei outros assaltos,

como aquele segundo que contei há

pouco. E terminei preso novamente,

condenado a 33 anos. Na época,

estava com apenas 21. Dividia uma

cela com outros 9 detentos e estava

deitado na jega, a cama, quando

chegaram 3 homens, um deles cego –

o pastor Jarbas de Almeida. Apesar de

não enxergar, ele apontou o dedo para

mim e começou a dizer que eu havia

nascido para dar errado, mas que o

sangue de Jesus Cristo poderia mudar

minha vida e fazer as coisas darem

certo. Mesmo sem nunca ter me

visto ou ouvido falar de mim, ele me

chamou por meu apelido, Renatinho,

e disse que Deus me conhecia e queria

me fazer um pregador, para que o

Brasil conhecesse uma partícula da

sua glória. Não resisti. Comecei a

chorar e, ali mesmo, entreguei a vida

ao Senhor.

De que maneira foi solto?

Também por uma profecia. Ele me

disse que, no dia seguinte, antes do

ponteiro do relógio marcar meia noite,

eu estaria solto. Achei uma loucura,

mas ele afi rmou que quem falava

comigo era o Juiz dos juízes, que

não tinha me condenado. O pastor

Jarbas precisou morrer para viver,

precisou fi car cego para enxergar. Foi

alvejado pela Rota e morreu com 11

tiros, mas na hora da autópsia, Jesus

o ressuscitou. Ele foi meu pai na fé.

No dia seguinte, uma sexta-feira, logo

pela manhã, chegou uma escolta para

me levar ao reconhecimento. Eu estava

condenado, mas houve um recurso.

Minha quadrilha era composta por 16

bandidos e todos morreram. Como

não havia ninguém que pudesse me

reconhecer, eu acabei solto. Hoje eu sei

que foi obra de Deus.

Muita gente afi rma que entrar

para uma facção criminosa como

o PCC é como fazer um pacto de

sangue: não há volta, não há saída.

Quando deixou a organização, não

chegou a sofrer ameaças ou teve

medo de ser morto?

Quando retornei do fórum, dentro

do bonde, aquele carro todo fechado

que conduz os presos, o diretor do

presídio mandou me colocarem na

triagem e não no pavilhão. A notícia de

minha conversão havia se espalhado

e o pessoal do PCC queria me matar.

Eles queriam me enforcar, mas

mesmo assim pedi ao carcereiro que

me levasse de volta para o convívio.

Afi nal, eu tinha a promessa de Deus.

Logo, fui levado para o local do acerto

de contas. Começaram os debates. Um

deles falou: “Irmão, não podemos dar

o xequemate antes de falarmos com o

padrinho que o batizou”. Meu padrinho

chegou e, para minha surpresa,

perguntou se eu tinha certeza da

minha decisão. Disse que sim. Então,

ele completou: “Pode sair de cabeça

erguida. Ninguém vai tocar em você. É

ordem do comando geral”.

Ainda hoje há coisas que você evita

falar por causa de represálias dos

criminosos?

Sim.

Muitos dos jovens que atuam no

crime organizado nos morros do Rio

e nas periferias de São Paulo são

fi lhos de crentes ou desviados. Como

você vê essa situação? Não está na

hora da Igreja se preocupar mais?

Reconheço que é importante uma

mudança na estrutura eclesiástica

e na teologia pregada por muitas

denominações. Mas também

vejo igrejas desenvolvendo um

importante papel social e anunciando

o Evangelho. O sistema prisional

brasileiro, por exemplo, não consegue

recuperar ninguém. É uma escola do

crime, a começar pela Fundação Casa

– antiga Febem. Quem recupera? A

Palavra de Deus pregada dentro das

cadeias. Eu sou um exemplo disso,

mas também partilho do pensamento

do reverendo Martin Luther King

Junior. Também tenho um sonho,

que é viver num país de igualdade,

onde o Estado cumpra a Constituição,

oferecendo segurança, habitação,

saúde e dignidade. Para tanto, a Igreja

deve se fazer presente e cobrar.

DE MEMBRO DO PCC A PASTOR EVANGÉLICO: “O sistema prisional não consegue recuperar ninguém; quem recupera é a Palavra de Deus pregada dentro das cadeias

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P O L Í T I C A

Política Política

com mais fécom mais fé

MARCOS STEFANO

Bancada evangélica, que pode chegar a 71 parlamentares, comemora vitória

contra escândalos de 2006 e a força das questões religiosas nas últimas eleições

Parafraseando a Bíblia, o que

parecia impossível tornou-se

possível pela fé. Ao levantar

as bandeiras do combate à descrimi-

nalização do aborto e ao casamento

homossexual, a religião foi a grande

protagonista na reta fi nal das eleições

em 2010. Mas não somente na corrida

presidencial, com os quase 20 milhões

de votos da evangélica Marina Silva

(PV) ou por se tornar o centro dos

debates na disputa de segundo turno

entre o tucano José Serra e a petista

Dilma Rousseff. Também no Senado

e na Câmara dos Deputados, crer em

Deus mostrou ser um ótimo negócio.

No dia 1º de fevereiro de 2011, quan-

do os novos congressistas forem em-

possados, a bancada evangélica terá

aumentado sua participação em quase

50% se comparado à legislatura ante-

rior. Segundo um levantamento divul-

gado pelo Departamento Intersindical

de Assessoria Parlamentar (Diap), 32

dos 45 parlamentares da bancada se

reelegeram e terão a companhia de

mais 34 integrantes de igrejas evan-

gélicas que também venceram nas

urnas, totalizando 63 deputados e 3

senadores. Já um levantamento pré-

vio da Frente Parlamentar Evangélica

mostra ainda mais deputados, 68,

num total de 71 representantes.

Não parece muito se comparado

ao tamanho total do Congresso, com

seus 513 deputados e 81 senadores.

Mas com os novos números passa

a ser uma das maiores bancadas su-

prapartidárias, ao lado da ruralista. O

número de parlamentares é o mesmo

daqueles eleitos pelo PSDB, terceira

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maior representação das casas,

só perdendo para PT e PMDB.

Também representa uma tremenda

reviravolta em relação às eleições

de 2006. Naquele ano, por causa

do envolvimento de parte de seus

integrantes nos escândalos do

mensalão e da máfi a dos sangues-

sugas, os evangélicos perderam

representatividade e viram a ban-

cada minguar, interrompendo um

crescimento iniciado desde fi ns

dos anos 1980.

Exemplo marcante nesse

sentido vem da centenária As-

sembleia de Deus, a maior igreja

protestante do país. Na legislatura

de 2003-2006, o número de de-

putados federais pertencentes à

denominação bateu recorde – 22

cadeiras. Na seguinte, o número

de representantes despencou para

apenas 5, e agora a igreja regis-

trou novamente um signifi cativo

aumento, com 20 assembleianos

na casa. Em sequência, na lista

das maiores bancadas denomina-

cionais estão a Igreja Batista, com

12 deputados; a Universal do Rei-

no de Deus, com 8; a Presbiteriana,

com 5; Evangelho Quadrangular, com

4; Internacional da Graça de Deus,

com 3; Maranata e Metodista, com 2

cada uma, entre tantas outras.

No Senado Federal, Marcelo

Crivella (PR-RJ) e Magno Malta

(PR-ES) tiveram seus mandatos re-

novados. O batista Walter Pinheiro

(PT-BA) é a novidade entre os re-

ligiosos por lá. Na Câmara, muitos

dos que conseguiram se eleger, como

fi guras conhecidas no meio político

ou celebridades dos púlpitos e da

música gospel. No primeiro grupo

estão nomes como o do ex-governa-

dor fl uminense Anthony Garotinho

(PR), que só disputou o pleito graças

a uma liminar obtida na Justiça; de

José Carlos Vaz de Lima (PSDB), ex-

presidente da Assembleia Legislativa

de São Paulo; do empresário carioca

Arolde de Oliveira (DEM); e do mi-

neiro Gilmar Machado (PT), um dos

mais votados em seu Estado.

Fama e votos – Mais uma vez foram

as celebridades que mostraram que

entender de política, ter propostas

relevantes ou um histórico de luta

pelo povo não são os fatores mais

importantes em uma eleição. Diante

do poder da mídia, a fama tem sido

um caminho mais seguro para ganhar

votos. E se o palhaço Tiririca foi o

deputado mais votado da nação, a Câ-

mara dos Deputados não fi cará pior

com a presença dos cantores Lauriete

Rodrigues (PSC), eleita no Espírito

Santo, e Marcelo Aguiar (também do

PSC), eleito por São Paulo.

Os púlpitos também estarão repre-

sentados em Brasília. A Assembleia

de Deus, por exemplo, elegeu os pas-

tores Marco Feliciano (PSC) e Paulo

Freire da Costa (PR), esse último,

fi lho de José Wellington Bezerra da

Costa, presidente da CGADB, ambos

de São Paulo; e Hidekazu Takayama

(PSC), do Paraná. Já a Brasil para

Cristo será representada pelo pastor

Roberto de Lucena (PV), de São

Paulo, e a Quadrangular por Mário de

Oliveira (PSC), de Minas Gerais.

Também haverá caras novas na po-

lítica brasileira a partir de 2011. Uma

das maiores surpresas é Bruna Furlan

(PSDB), de apenas 27 anos, eleita

deputada com mais de 200 mil votos,

a terceira maior votação do Estado

de São Paulo. Vinda de uma família

tradicional na política em Barueri,

na Grande São Paulo, a moça, que é

evangélica da Igreja Cristã do Brasil

– não confundir com Congregação

Cristã no Brasil, como fi zeram impor-

tantes veículos da imprensa brasileira

–, já declarou que não pretende ser

apenas mais um rosto bonito ou uma

candidata à musa do Congresso. “Sei

que tenho muita coisa a aprender, mas

tenho muito boa vontade, muito boa

intenção e tenho esperança de poder

contribuir, com a minha juventude,

na discussão de assuntos de interesse

nacional”, disse ela, após o pleito.

Em compensação, fi guras conheci-

das fi caram de fora. Mas isso não é

necessariamente motivo de pesar para

os cristãos protestantes. Pelo menos,

no caso da senadora Fátima Cleide

(PT-RO), que não conseguiu se reele-

ger. Cleide era relatora do famigerado

DOS 513 DEPUTADOS ELEITOS, cerca de 14% se declaram evangélicos: uma das maiores bancadas ao lado da ruralista

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BANDEIRA POR TESTEMUNHA: reeleitos, o carioca Marcelo Crivella e o capixaba Magno Malta terão a companhia de mais um evangélico no Senado, o batista Walter Pinheiro

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PLC 122/06, projeto que cria a fi gura

do “delito de opinião” e criminaliza

aqueles que expressarem pontos de

vista contrários ao homossexualismo.

Defensora intransigente da propos-

ta, ela teve um aguerrido apoio da

comunidade gay em Rondônia, mas

não passou da metade dos votos do

primeiro colocado.

Mesmo com o projeto enfraqueci-

do, é difícil prever o que acontecerá

no futuro, mas o blog da Frente Par-

lamentar Evangélica antecipa alguns

assuntos que aguardam os congres-

sistas e propõe uma agenda de atu-

ação. “O crescimento expressivo se

deu pelo combate a propostas nocivas

à sociedade. Mas deve haver união

para evitar a aprovação de projetos

como a legalização do aborto, casa-

mento entre pessoas do mesmo sexo,

mudança do conceito de família,

Plano Nacional de Direitos Humanos

e projetos homofóbicos que crimina-

lizem pastores e demais pessoas

que ousarem protestar contra o

pecado da homossexualidade”,

destaca o site. O que todos os elei-

tores esperam é que não fi que ape-

nas nisso. Afi nal, tão importante

quanto as questões morais são as

sociais, oportunas para uma na-

ção, em sua maioria, constituída

por gente simples e humilde.

Enquanto os candidatos lutavam para conseguir votos e garantir

vitória nas eleições de outubro passado, uma verdadeira guerra santa era travada por duas das mais importantes lideranças da Igreja evangélica no Brasil. De um lado, o bispo Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus; do outro, o pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória Em Cristo. Entre eles, a internet e provocações capazes de fazer o mais experimentado crente corar de constrangimento.

Tudo começou quando Macedo usou seu blog na rede mundial de computadores para questionar os motivos que teriam levado Malafaia a deixar de apoiar a senadora Marina Silva para se colocar ao lado de José Serra, ainda no primeiro turno da disputa presidencial. “Ele mudou de lado usando o frágil argumento de que o PV apoia o aborto. Depois, para justifi car sua posição contrária à candidata Dilma, acusou o PT de ser favorável não apenas ao aborto, mas ao casamento homossexual. O que fará agora, já que apareceram declarações do próprio Serra favoráveis à união entre pessoas do mesmo sexo e denúncias de ex-alunas de sua esposa, Mônica, que afi rmam ter ela dito em uma aula que já fez aborto apoiada pelo próprio marido?”, escreveu o bispo. Para completar, ele ainda insinuou que o pastor assembleiano teria o “espírito do profeta velho de 1Reis 13” que “continua atuando e tentando levar as pessoas ao engano”.

A resposta de Malafaia não tardou. Veio em dois vídeos com

duração total de uns 20 minutos, postados no site Youtube. “O PT lutou quatro anos para aprovar o PLC 122/06. Pergunte ao seu sobrinho, o senador Marcelo Crivella”, alfi netou o pastor. Nem a TV Record escapou. Segundo o líder assembleiano, Deus deve livrar o Brasil de ter a emissora em primeiro lugar na audiência. “Você perdeu o foco. O dízimo e as ofertas não podem ser usadas para promover o lixo, a imoralidade e o jornalismo barato e chapa branca, feito em troca de publicidade.” Para encerrar, Malafaia pagou na mesma moeda: “O que vejo é um falso profeta (...) Talvez, o único pastor do mundo que apoia o aborto.”

A situação só não piorou ainda mais porque a eleição estava em cima da hora. Mesmo assim, logo após a vitória da candidata petista, Macedo aproveitou as comemorações para replicar Malafaia, novamente usando seu blog. Ainda que não tenha citado nomes, para bom entendedor, pingo é letra: “A guerra das eleições acabou. Entre salvos e perdidos, o maior prejudicado foi o Reino de Deus. Isso por causa de alguns líderes, supostamente convertidos, unindo-se de corpo, alma e espírito à liderança romana em favor do candidato das elites”, provocou o representante da Iurd, no texto Cuidado com o Ecumenismo Disfarçado, postado dia 4 de novembro. Fim? Por enquanto, talvez. Pelo menos, como mostra a história, até o próximo embate eleitoral.

“Profeta velho” X “Falso profeta”

X

SURPRESA NAS URNAS, A EVANGÉLICA Bruna Furlan (PSDB-SP) declarou que não pretende ser apenas

mais um rosto bonito no Congresso

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PINGA FOGO NA IGREJA:

divergências políticas e

rivalidades no púlpito fazem

líderes evangélicos trocar alfi netadas

via internet

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I G R E J A

Aliança dos púlpitos

JOSÉ DONIZETTI MORBIDELLI

Fundada em São Paulo a Aliança

Cristã Evangélica Brasileira que, dentre outros

propósitos, busca a unidade entre as igrejas evangélicas

Líderes e representantes de

igrejas, além de jornalistas

e outras entidades ministe-

riais estiveram presentes, no dia 30

de novembro, na Catedral Metodis-

ta, em São Paulo, para a fundação

da Aliança Cristã Evangélica Bra-

sileira (ACEB), movimento

iniciado há quase dois anos

por um grupo de evangelistas

munidos do propósito de criar

uma organização para congre-

gar as diferentes denomina-

ções atuantes no país. Desde

então, os idealizadores têm

trabalhando um documento

– a Carta de Princípios e Dire-

trizes –, uma espécie de esta-

tuto embasado por princípios

como crenças, valores e obje-

tivos, e levando-se em conta

as declarações de fé históricas

de organizações reconhecida-

mente cristãs. “Sei que é im-

possível representar de forma

MAIS DE 200 PESSOAS COMPARECERAM à Catedral Metodista, no bairro da Liberdade, para o culto de inauguração

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Tivemos a presença de várias

lideranças estratégicas em

nossa reunião, e o futuro nos

aponta algo muito positivo”,

comemora o religioso, enfa-

tizando que inúmeras foram

as solicitações de entrevistas,

fotos e releases por parte da

imprensa cristã.

Depois da semente ter sido

lançada, o próximo passo é

colocar todas as ideias em

prática para que os frutos pos-

sam ser rapidamente colhidos.

“Precisamos estruturar nosso

núcleo central, e já elegemos um

grupo gestor de trabalho. Vamos

usar a internet para dar mais vi-

sibilidade à associação, em vista

de congregarmos mais institui-

ções e aumentarmos nossa base. E

também já estamos estabelecendo

grupos – de ação social, oração,

missões e juventude – com o ob-

jetivo de arregimentar cada vez

mais instituições e pessoas para

compô-los”, planeja o pastor com

grande entusiasmo, mas ciente de

que o trabalho a ser feito é extre-

mamente árduo.

macro a Igreja brasileira, mas o

propósito primordial da ACEB

é tornar uma expressão da uni-

dade do corpo de Cristo, numa

identidade mais comunitária

do que individual”, explica Fa-

brício Cunha, pastor da Igreja

Batista da Água Branca, em

São Paulo, e membro do Con-

selho Geral. Como parâmetro

de trabalho, o religioso cita o

Pacto de Lausanne – congres-

so evangelístico realizado na

Suíça, na década de 1970, com

o objetivo de criar um comitê

mundial de igrejas evangélicas

– para levar adiante os propó-

sitos da associação. E ele não

que as outras não conseguiram.

Nossa intenção é responder a uma

demanda reprimida, que clama por

unidade e por algum nível de re-

presentatividade”, esclarece.

Trabalho árduo – Pelo menos, a

basear-se pelo culto inaugural e

pelo enfoque que a mídia evangé-

lica tem atribuído à empreitada, o

Conselho Geral da AECB já pode

começar a agradecer – ou, numa

linguagem mais apropriada aos

evangélicos, dar “glória” a Deus.

“A repercussão tem sido excelente.

demonstra nenhuma preocupação

com o “insucesso” de entidades do

passado, de visões similares, como

a Confederação Evangélica Bra-

sileira (CEB), que perdurou por

cerca de três décadas até 1964, e

a Associação Evangélica Brasileira

(AEBV), que atuou nos anos 1990.

“Não somos órfãos nem ufanistas,

mas parte de um processo histórico

e respeitamos o legado das insti-

tuições passadas. Não temos um

sentimento ‘messiânico’ que nos

permita achar que, dessa vez, va-

mos conseguir resolver problemas

FABRÍCIO CUNHA: “NÃO SOMOS ÓRFÃOS nem ufanistas, mas parte de um processo histórico e respeitamos o legado das instituições passadas”

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O B S E RVAT Ó R I O

Santa ignorância

“Deus e o Evangelho merecem

mais, merecem ser mais

conhecidos. Os valores

éticos bíblicos e cristãos

necessitam ser

compreendi-dos para serem

praticados”

Tenho participado de

diversos congressos e

já se tornou comum a

exaltação da ignorância no estudo

da Bíblia e da Teologia, como se

o aprofundamento nesses estudos

fosse obra de desocupados, e até

demonizados os que se ocupam

com a tarefa de entender melhor a

Bíblia, a Doutrina, a Exegese etc.

Confesso que é muito

divertido ouvir uma pessoa

tentando legitimar a

argumentação, valendo-se de um

conjunto de raciocínios do campo

fi losófi co da Lógica. Assim, para

afi rmar a “desintelectualização”

do Evangelho torna-se necessário

usar o intelecto, o raciocínio,

a lógica. Não há como fugir,

porque até para tentar mostrar

que a refl exão é inútil a pessoa

necessita refl etir. Algumas causas

podem ser citadas sobre isso:

Em primeiro lugar, a época

em que vivemos tem como

um dos principais impulsores

a valorização do indivíduo

com suas opiniões pessoais.

A compreensão da realidade

e da verdade se inicia com

ela e depende dela. É a era do

velocímetro zerado da verdade.

Isto é, nada antes pode ser

legitimado se o indivíduo

entender que não pode ser

aceito. Foucault já dizia

que o “homem é descoberta

recente”, não como pessoa, mas

como indivíduo. O que vale

é a sua própria e individual

opinião sobre as coisas, sobre

a leitura da Bíblia, enfi m. Por

si mesma, a leitura que faço

como indivíduo, é sufi ciente;

nada mais basta. Nesse caso, a

compreensão bíblica que temos

hoje não se iniciou no passado

com a construção da história da

doutrina, mas no momento em que

o indivíduo começou a pensar no

assunto. Então, para que estudar

História da Teologia, Exegese,

Hermenêutica? A Bíblia já era

como fonte da verdade, nós é que

devemos dizer o que Deus é.

Em segundo lugar, e como

consequência da causa anterior,

o que vale é a minha experiência

como indivíduo para determinar a

verdade. Tenho uma experiência

e vou buscar na Bíblia algum

versículo que possa ser

compatível com essa experiência,

para dar um toque de sagrado no

que estou sentindo. Novamente, o

ponto de partida é a pessoa e não

Deus e sua verdade.

Em terceiro lugar, para muita

gente, o que vale é a atividade

da igreja, a pregação, missões.

Para que estudar se as pessoas

estão morrendo sem Cristo? É o

“vício” pragmático e utilitarista

que herdamos dos que trouxeram

o Evangelho para cá. Que tipo

de evangelho e salvação estamos

pregando? Será que levar a

pessoa à salvação é tudo? E

a vida dela no Evangelho, o

crescimento cristão?

Nossa geração é uma geração

“Power Point”. Basta tudo ser

sumarizado, sem profundidade;

vale a experiência, a opinião

pessoal ou mesmo o ativismo.

Deus e o Evangelho merecem

mais, merecem ser mais

conhecidos. Os valores éticos

bíblicos e cristãos necessitam

ser compreendidos para serem

praticados. Vamos dar um basta

a essa ignorância de Bíblia e

Teologia.

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Luiz Leite é escritor,

conferencista, administrador de empresas e psicanalista. Preside a International Fellowship Network e pastoreia a Igreja Vida com Cristo, em Belo Horizonte (MG)

P A S T O R A L

Ó tempos, Ó modos!

“Duvide do pastor que não tem cheiro de ovelha! Se não tem cheiro de ovelha não é

pastor”

Gosto da designação que

se dava aos sacerdotes de

antanho. Ainda que tenha

caído em desuso, muito me atrai

e fascina. É bastante apropriado

chamar padres e pastores de

curas d’alma. O sacerdote cristão,

consciente do seu chamado e

vocação, trabalha basicamente

para esse fi m, e vê nesse

expediente a razão fundamental

do exercício do seu ministério.

Num tempo em que a

medicina, destituída de sua usual

onipotência, admite que grande

parte dos males que afl igem o

homem tem origem em uma

psique adoentada, e que por essa

razão não há recurso alopático,

homeopático ou de qualquer

ordem medicamentosa que

resolva, médicos da alma surgem

no cardápio de alternativas como

os únicos que podem dar resposta

adequada a um número cada vez

maior de males.

Como médico de almas, o

sacerdote religioso – não importa

sua confi ssão – deve estar

disposto a lidar com as pessoas

num nível de proximidade que

inevitavelmente vai colocá-lo

em contato direto com quadros

carregados de dor e angústia

concentradas. É necessária

muita disposição para, como o

Samaritano, descer de sua posição

e tomar medidas concretas para

providenciar socorro àqueles que

encontramos à beira do caminho.

No caso mais específi co do

Temos a mania de achar que os

nossos tempos são escandalosos, e

que pelo jeito que as coisas vão o

mundo está mesmo chegando ao fi m.

O grande orador, fi lósofo e escritor

romano Cícero (106-43 a.C) nos

seus dias, abismado com os fatos

do seu tempo, dizia: “O tempora, O

mores!”, ou “Ó tempos, ó modos!”.

Depois da queda da raça humana

no Éden, nunca mais houve uma

única geração que não produzisse

escândalos que causassem pasmos.

Em Gênesis 4, temos o registro do

primeiro homicídio – e também

fratricídio – da história; logo a

seguir, em Gênesis 6, encontramos

a narrativa bíblica expressando

o desgosto do Criador em face à

corrupção de suas criaturas.

A corrupção do gênero humano

se reedita em todas as áreas, mais

requintada a cada geração. “O que

foi é o que há de ser, e o que se fez

isso se tornará a fazer...”. O velho

Salomão tem razão; nada, pois,

há novo debaixo do sol. Jesus,

sabedor de tudo, já alertava seus

discípulos acerca da inevitabilidade

do escândalo. É inevitável, frisou,

e fazendo uso da fi gura magistral

do joio semeado no meio do trigal,

ilustrou de forma abundantemente

clara essa triste realidade.

O poeta baiano Gregório de

Matos (1633-1696), conhecido pela

alcunha de “Boca do Inferno”, em

razão de sua irreverência desbocada,

o que lhe custou perseguição e

exílio nos seus dias, no longínquo e

inocente século XVII, denunciava as

ambiente cristão, é comum ouvir

aqui e ali, de pastores que não

gostam de se envolver com o povo e

se misturar com o rebanho... Duvide

do pastor que não tem cheiro de

ovelha! Se não tem cheiro de ovelha

não é pastor. É simples assim!

Muitos gostam de ostentar títulos

e granjear a honra e benefícios que

isso confere, mas na hora de tratar

da ovelha, desconversam e mandam

para outro – isso quando o fazem.

Esse tipo de “pastor” é responsável

pela mercantilização da fé cristã e

promoção da simonia, ou seja, do

comércio de artigos sagrados, como

a venda de bênçãos, favores divinos

e demais práticas que transformam a

crendice e boa fé dos desesperados

em ouro, numa espécie de alquimia

bem calculada e produzida.

Observando esses “sacerdotes”

que não têm vocação para cuidar de

vidas, e vendo-os tão abundantes,

exclamamos perplexos: “Que

absurdo!”.

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nela que têm o ofício de sal, qual será, ou qual não pode ser a causa dessa corrupção? Ou é porque o sal não salga, ou porque a terra se não deixa salgar. Ou é porque os pregadores não pregam a verdadeira doutrina (...) ou porque os pregadores dizem uma coisa e fazem outra (...) ou é porque o sal não salga, e os pregadores pregam a si e não a Cristo...”

Nesse sermão, pregado em São

Luiz do Maranhão nos idos de

1654, que evoca as mais românticas

imagens de uma época pueril,

Vieira envia uma crítica severa aos

pregadores do seu tempo, que, por

incrível que pareça, já andavam

praticando os vícios que hoje são

comuns. O padre se mostra tão

atual que parece estar se referindo à

realidade por nós experimentada

nesses dias.

Pelo que se observa, nada mudou: Ó tempos! Ó modos!

não teria feito o barulho que fez se

o clero não o tivesse munido com

um rosário imenso de razões, além

de pincel e tinta abundante para

pintar suas famosas caricaturas

literárias. Como Gregório, vemos no

mesmo século outro feroz escritor

se levantar contra os desmandos

do sacerdócio desviado que já

naqueles dias se caracterizava por

tudo que hoje nos causa espanto. O

Padre Antonio Viera (1608-1697),

o padre protestante, não poupou

os pastores que não tinham cheiro

de ovelha e nem disposição para

andar com o rebanho. Diz o velho e

saudoso Vieira:

“Vós, diz Cristo, senhor nosso, falando com os pregadores, sois o sal da terra; e chama-lhe sal da terra, porque quer que façam na terra o que faz o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção,mas quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa, havendo tantos

práticas corrompidas de nobres, de

políticos, e também da sacerdotada

cujo Deus era o próprio estômago.

(...) Em um tempo é tão velhaco,tão dissimulado, e tanto,que só por parecer santocanoniza em santo um caco:se conforme o adágio fraconinguém pode dar, senãoaquilo, que tem na mão,claro está que no seu tantonão faria um ladrão santo,senão um Santo Ladrão.

Estou em crer, que hoje em diajá os cânones sagradosnão reputam por pecadospecados de simonia:os que veem tanta ousadia,com que comprados estãoos curados mão por mão,devem crer, como já creram,que ou os cânones morreram,ou então a Santa unção.

É óbvio que Gregório de Matos

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C O M U N I C A Ç Ã O

Nas ondas das rádio s

Em 1895, Guglielmo Marconi,

rapaz ainda, conseguiu transmitir

um sinal de áudio sem a

utilização de fi os a uma distância de

aproximadamente 20 quadras. Tal feito,

revolucionário para a época, aconteceu

na cidade de Bologna, na Itália, e rendeu

ao seu idealizador o reconhecimento

como um dos “pais do rádio”. Hoje,

passado mais de um século, um sinal

sonoro pode sair da mesma Bologna e,

pelas ondas da internet, chegar a qual-

quer lugar do planeta num piscar de

olhos. E apesar da célebre frase “uma

imagem vale mais do que mil palavras”,

o veterano rádio continua se renovando

e se energizando a cada dia, um cama-

leão da comunicação que exige o uso de

apenas um dos sentidos humanos e mes-

mo assim consegue se sobreviver aos

modismos do mundo contemporâneo;

e vai além, companheiro inseparável de

milhões de usuários, está presente em

praticamente todos os lares brasileiros.

Se até a década de 1950 o rádio

era considerado um artigo de luxo e

ocupava lugar de destaque na sala de

estar, onde famílias inteiras se reuniam

em torno das notícias e das novelas

faladas, hoje em dia o rádio se tornou

tão pessoal quanto um relógio de pulso

ou um celular, e pode ser encontrado no

bolso, no carro, no computador, enfi m...

O segredo de tamanho sucesso, talvez,

seja o fato de ser o único veículo de

comunicação cujo uso não compromete

as atribuições do dia-a-dia, ou seja, nin-

guém precisa parar o que está fazendo

para ouvi-lo.

Utilidade mais do que comprovada, é

fato também que, em tempos de i-Pods

e smartphones, rádios e computadores

não conseguem mais viver desgrudados.

De olho nesse nicho de mercado, mi-

lhares de emissoras, inclusive mantidas

por igrejas evangélicas, têm investido

pesado para levar suas programações a

todos os locais onde haja um compu-

tador conectado a internet. Estima-se

que, das 3700 emissoras outorgadas

no Brasil, cerca de 7% são vinculadas

a igrejas, especialmente às católicas

e neopentecostais. Além de espargir

suas poderosas ondas sonoras pelo ar, a

Rádio Vida, uma das mais importantes

do gênero no interior paulista, não des-

preza o poder de força da rede mundial

de computadores. “A internet amplia a

audiência e nos dá a interatividade que

ARTUR MENDES

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CONSIDERADO UM DOS “PAIS DO RÁDIO”, Guglielmo Marconi foi o primeiro a transmitir um sinal de áudio sem a utilização de fi os

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DE ACORDO COM JUANRIBE PAGLIARIN (à direita), a internet permite

a interatividade com os ouvintes

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Maior alcance, audiência e

interatividade: igrejas evangélicas

usam rádios webs para levar mensagens aos

quatro cantos do mundo

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o s webs

precisamos para falar e ouvir nossos 80

mil ouvintes do Brasil e do mundo, que

nos acompanham todo o mês”, afi rma o

diretor Juanribe Pagliarin, que também

é pastor e presidente da Comunidade

Cristã Paz e Vida.

Entretanto, não são somente as deno-

minações tidas como mais liberais que

se renderam ao novo aparato tecnoló-

gico das transmissões online. Igrejas

clássicas reformadas, como a Metodista,

Luterana e a Presbiteriana, apesar da

longa e histórica participação evange-

lística em solo brasileiro, agora também

contam com seus canais de radiodifusão.

Essa descoberta pode até ter demorado

um pouco para a Igreja Presbiteriana do

Brasil (IBP), que soma mais de 800 mil

membros e um século e meio de história,

mas, a iniciativa foi pra lá de pioneira,

levando-se em consideração sua doutri-

na puramente tradicional. No ar há mais

de quatro anos, a Rádio IPB tem colhido

os frutos plantados à custa de seu van-

guardismo. “São mais de 45 mil ouvin-

tes por mês, de diversas denominações

evangélicas, que ouvem e participam

ativamente do chat da emissora, inte-

ragindo com outros ouvintes e com os

apresentadores”, comemora o reverendo

Ricardo Mota, secretário executivo da

Agência Presbiteriana de Comunicação.

De seus estúdios em Higienópolis, bair-

ro nobre da capital paulista, a IPB Web

pode ser ouvida, pela internet, em todo

o mundo, e apresenta uma programação

basicamente musical, entremeada de

programetes curtos com mensagens

pastorais a cada meia hora.

Sem censura e outorga – Mais ousada

do que as igrejas reformadas, a centená-

ria Assembleia de Deus pode se orgulhar

de ter fundado a primeira emissora virtu-

al que se tem notícia entre as denomina-

ções evangélicas. Transmitida exclusi-

vamente pela internet, a Assembleia de

Deus Online disponibiliza até um pastor

virtual para seus ouvintes. De sobra, a

audiência – a emissora registra mais de

80 mil ouvintes por mês – parece fazer

justiça ao tamanho da denominação, que

conta com milhões de membros.

Igrejas novas, baseadas em targets

específi cos como a Bola de Neve tam-

bém encontraram seu braço forte de co-

municação. Fundada em 1993, a igreja

do pastor-surfi sta Rina tem tudo a ver

com a geração virtual, e não demorou

em aportar nas ondas da web sua famosa

prancha. Além do site, todinho voltado

para o público jovem, a Bola de Neve

criou sua própria estação de rádio onli-ne. Aliás, duas, com a mesma linguagem

jovem, mas com estilos diferenciados

– a Bola Rádio Worship, recheada de

louvores, adoração e ministração; e a

Bola Rádio Extreme, repleta de sonzeira

gospel da pesada.

Seja qual for seu estilo, atualmente

a internet soma mais de 45 mil esta-

ções de rádios catalogadas, das quais

milhares são evangélicas, números su-

fi cientes para atender aos 75 milhões de

internautas brasileiros e aos mais de 1

bilhão espalhados pelo mundo. E, com

a tecnologia avançado cada vez mais e

a consequente convergência dos meios

de comunicação, muito em breve qual-

quer indivíduo poderá ouvir sua rádio

predileta em qualquer lugar do planeta

num radinho doméstico – já há no mer-

cado aparelhos do tipo rádio relógio

de cabeceira –, ou mesmo receivers e

rádios automotivos que captam as esta-

ções sem o uso de computadores, como

se fossem emissoras locais. Assim, será

possível caminhar descontraidamente

pelas ruas de Bologna com o radinho

sintonizado nas rádios citadas nessa

matéria. Afi nal, a internet é um territó-

rio livre, democrático, de baixo custo, e

que permite a qualquer pessoa abrir seu

site e instalar sua rádio, sem recorrer

em problemas com a censura ou outor-

ga. Basta querer e fazer.

RICARDO MOTA, DA RÁDIO IPB: quatro anos no ar e muitos frutos colhidos

AR

TU

R M

EN

DE

S

A IGREJA BOLA DE NEVE, do pastor Rina, também aportou sua prancha na

nas ondas da web

Para ouvir as rádios webs

citadas nessa matéria, acesse:

Rádio Vida www.vidafm.fm

Rádio IPB www.ipb.org.br/radio

Rádio Assembleia http://assembleia.org.br

Bola Rádio Worshipwww.bolaradio.com.br/worship

Bola Rádio Extremewww.bolaradio.com.br/extreme

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I N T E R N A C I O N A L

Pela vida de Asia

JOSÉ DONIZETTI MORBIDELLI

Condenação à

morte de cristã

paquistanesa

mobiliza igrejas

e organismos

internacionais

em defesa dos

direitos humanos

Promulgada pelo general Zia-ul-

Haq na década de 1980 e ex-

tremamente infl exível, a ponto

de até incentivar muitos muçulmanos

paquistaneses a fazer justiça com as

próprias mãos, a Lei da Blasfêmia tem

dado o que falar nos últimos meses,

principalmente após a condenação à

morte da cristã Asia Bibi, uma tra-

balhadora rural e mãe de três fi lhos

acusada de ofender o profeta Maomé

– ou Muhammad, o fundador da reli-

gião islâmica.

Já que no contexto paquistanês, a

palavra de um muçulmano tem peso

maior do que a de dois cristãos, e que

não é necessário haver provas con-

cretas para a acusação de blasfêmia,

a prisão de Asia aconteceu assim que

a queixa foi levada a um clérigo da

região do Punjab, na fronteira com a

Índia, em junho de 2009. Desde que

a sentença de condenação por enfor-

camento foi anunciada, em meados

de novembro, inúmeros têm sido os

apelos e manifestações provenientes

de todas as partes do mundo, princi-

palmente de entidades relacionadas

aos direitos humanos, em favor da

vida da cristã.

Governador do Punjab, Salmaan

Taseer chegou a declarar a um jornal

local que considera a sentença de morte

um “episódio vergonhoso para o país”,

demonstrando assim que nem todos

os paquistaneses compactuam com as

leis impostas pelos ditadores e radicais

islâmicos. Presidente do Conselho Pon-

tifício para o Diálogo Inter-Religioso

– departamento da Igreja Católica que

tem como fi nalidade o diálogo entre

religiões –, o cardeal Jean-Louis Tau-

ran esteve, pessoalmente, no Paquistão

– país de maioria esmagadora muçul-

mana, incluindo a região da Caxemira,

pivô de uma disputa territorial histórica

com a Índia – para tentar sensibilizar o

governo local sobre o caso e solicitar

a revogação da lei. “A comunidade

DIVISA ENTRE O PAQUISTÃO E A ÍNDIA: liberdade religiosa é uma expressão

“praticamente” proibida no país asiático

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de Sandha Chistana. Nas ruas ou na

prisão, o fato é que crente algum pode

se sentir seguro no Paquistão; afi nal,

indícios dão conta de que há até uma

recompensa para quem assassine a

mulher cristã antes que os apelos inter-

nacionais façam algum efeito.

internacional está acompanhando com

grande preocupação a difícil situação

dos cristãos no Paquistão, muitas vezes

vítimas de violência e discriminação”,

afi rmou o papa Bento XVI, semanas

antes do embarque do padre francês à

Ásia. “Peço que lhe seja restituída a li-

berdade o mais rapidamente possível, e

os que se encontram em situações aná-

logas que tenham sua dignidade huma-

na e direitos fundamentais respeitados”,

complementou o pontífi ce.

Entre os crentes, a corrente também

tem sido grande contra a intolerân-

cia religiosa no país asiático; vale

lembrar que, em setembro, um

pastor evangélico – Patras Sani,

da Church of God Ministries – foi

agredido e morto por paquistane-

ses, num mal explicado episódio

de assalto ocorrido na comunidade

LEI DA BASFÊMIA: legado do governo do ditador Zia-ul-Haq, morto durante um acidente de avião em 1988

PASTOR DA CHURCH OF GOD

MINISTRIES, Patras Sani foi morto por paquistaneses durante um assalto: crime

convencional ou intolerância religiosa?

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R E L I G I Ã O

CLÁUDIA TEIXEIRA

Com produção requintada e muitos efeitos especiais, musical da IB do Morumbi traz mensagem de refl exão sobre o amor, a

tolerância e o verdadeiro sentido do Natal

Natal multimídia

Invasão, mas não no sentido

literal. Esse foi o tema do já

tradicional musical de Natal

da Igreja Batista do Morumbi,

apresentado entre os dias 15 e 21

de dezembro, em São Paulo. No en-

tanto, a invasão mesmo aconteceu

por parte do público, e em todas as

apresentações, ocupando pratica-

mente todos os 2 mil lugares dispo-

níveis no auditório da igreja. Mais

importante ainda do que a causa, ou

seja, a maciça presença de fiéis, foi

o efeito causado: a reflexão coletiva

acerca dos problemas que o mundo

vem enfrentando ao longo dos anos,

e que têm provocado milhões de

mortes e muita dor.

Diferentes culturas, classes so-

ciais e confissões religiosas compu-

seram a equipe de cerca de 400 vo-

luntários, entre membros da própria

igreja, moradores da comunidade

da Vila Andrade, além de artistas e

músicos profissionais. Como resul-

tado, um espetáculo para ninguém

botar defeito: música orquestrada,

coral, ações de multimídia, teatro

e dança, tudo na mais perfeita har-

monia.

Sem presépios, adereços e as

principais referências às comemo-

rações natalinas, o propósito do

musical, idealizado pelo diretor ar-

tístico Rhode Mark e pelo pastor de

adoração da igreja, Sérgio Lula, foi

demonstrar, de maneira diferente,

como o amor de Cristo vem derro-

tando todas as tentativas do homem

de dominar o planeta. “As escolhas

do homem têm consequências, e ge-

ralmente colocam Deus no meio. No

entanto, não é Deus quem faz guer-

ras”, explica um anjo do Senhor ao

ser questionado sobre tantas mortes,

diante dos olhos atentos do público.

Isso, logo depois que, ao som de

helicópteros, quatro soldados, nos

moldes do Batalhão de Operações

Policiais Especiais (Bope) do Rio

de Janeiro, descem ao palco presos

por cordas – rapel –, representado

a morte, a doença, a guerra e a mi-

séria. Ao contrário, no entanto, da

polícia carioca, que tem trabalhado

para livrar a população das garras

do tráfico, os soldados do musical

tinham como objetivo assolar a hu-

manidade em nome do mal. Claro

que, um a um, eles são derrotados,

FO

TO

S: C

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O

SEM PRESÉPIOS, MAS COM MUITA REFLEXÃO: celebração contou com participação maciça de fi éis e membros da comunidade

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feito algo assim. Ensaiamos muito

e tivemos esse resultado maravi-

lhoso. Foi muito bom contar com

o apoio e participação de todos da

igreja”, orgulha-se o regente.

Emocionada também ficou a en-

fermeira Mônica de Fátima Alves

Bastos, que pela primeira vez parti-

cipou de uma apresentação musical.

“É um prazer transmitir o que sinto

para as pessoas. É como se eu fosse

um instrumento de Deus”, declara,

com olhos marejados.

E assim, todos que assistiram

ao musical – para quem não viu, o

negócio agora é esperar pela versão

a ser lançada em DVD – puderam

acompanhar a derrocada da morte,

da fome, da guerra e da miséria. A

Invasão mostrou o quanto é possí-

vel vencer ou, pelo menos, nutrir

uma esperança para superar o caos,

os problemas, as dificuldades e até

a tristeza, que comumente se abate

sobre muitos na época do Natal.

sucumbindo cada vez que um coral,

todo vestido de branco e iluminado,

entra em ação. É como a vitória da

luz frente às trevas.

E teve mais: farrapos humanos

vagueando sem esperança – ou seja,

sem Jesus –, diálogo entre anjo e

menino, enfim, não faltou criativi-

dade e extremo cuidado

com a produção. “Pro-

curamos levar as pesso-

as a refletir sobre o que

Jesus Cristo tem a ver

com o sentido da vida e

com os mais diferentes

aspectos de nossa exis-

tência”, ressalta Marcos

Amado, membro da

equipe pastoral da IB do

Morumbi, enfatizando

também a escolha do

tema – no ano passado,

o foco foi bem mais

light: o nascimento de

Jesus.

Para Rhode Mark,

ganhar almas traduz o

verdadeiro sentido do

Natal. “A montagem

de um espetáculo assim

é como se nascesse

um filho. A gente

sente dores na bar-

riga e quer ver logo

o resultado final”,

compara, extrema-

mente satisfeito

por ter conseguido

transmitir a mensa-

gem. “Mesmo que

apenas uma pessoa

se aproxime de

Deus, então todo o

trabalho já terá vali-

do a pena”, comple-

menta.

Brilho nos bastidores – Graças aos

recursos técnicos e da multimídia,

o público pôde ver o coral se multi-

plicar, causando a impressão de ser

formado por milhares de pessoas.

No fundo do palco um telão de

fazer inveja aos cinemas, enquanto

que o pastor-maestro Sérgio Lula

regia a orquestra, numa simbiose

musical completa com os cantores,

atores e bailarinos. “Nunca havia

DOS BASTIDORES PARA O TELÃO: o pastor Sérgio Lula rege a orquestra

PENSAR EM JESUS SOBRE TODOS os

aspectos, aconselha o pastor Marcos Amado

DEBUTANTE NO CORAL DA IGREJA, a enfermeira Mônica de Fátima afi rmou ter fi cado emocionada

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Emerson Menegasse

é teólogo, fi lósofo, psicoanalista e missionário no Nepal, onde coordena o Projeto Nepali

M I S S Õ E S

A pequenez da

MEGALOMANIA

“Enquanto eles lutam

para ver quem constrói o

templo maior, fazemos

pequenos apelos aqui

na nossa realidade

missionária transcultural para levantar

algumas paredes”

Comecei a escrever

para a Eclésia no

ano passado. Ao

receber uma nota da redação

estipulando o prazo para

envio do próximo artigo e

ter acesso à edição anterior,

de imediato um dos temas

abordados cativou a minha

atenção: os megatemplos

que estão sendo construídos

no Brasil. Fiquei chocado

e, ao mesmo tempo,

incomodado, uma vez que a

sumptuosidade dos nossos

templos e essa necessidade

de “aparentar ser” sem

“sentido de existir” é uma

marca pungente dos tempos

pós-modernos. Uma estranha

necessidade de “querer

ser’’ mais do que meu

“próximo”, na tentativa de

mostrar a GRANDEZA de

um DEUS que se manifestou

na simplicidade de um

carpinteiro, diminuído e

encarnado à nossa realidade

fosca e tosca, que não

consegue ver DEUS como

Ele verdadeiramente é!!!

A competitividade entre

os GRANDES EGOS

cristianizados cada vez

mais aflora, tentando

demarcar seu território,

verdareiros impérios humanos

que nada têm a ver com a

simplicidade constitutiva do

Reino de Deus. Enquanto eles

lutam para ver quem constrói

o templo maior, fazemos

pequenos apelos aqui da

nossa realidade missionária

transcultural para levantar

algumas paredes – tentando

não ferir a arquitetura

tradicional – para servir de

templo, centro comunitário,

ambulatório, salas de

alfabetização de adultos, e

outras tantas cabíveis nesse

pequeno espaço de construção

de possibilidades.

E ainda temos que aguentar

e-mails de mal-educados,

daqueles que não perdem a

oportunidade de nos alfinetar,

que vivem em suas casas

repletas de comodidades e

dão aquela “ofertinha” básica

só para não dizer que deixam

de contribuir com o trabalho

missionário da igreja. E dão

OFERTAS GORDAS para

melhorar as condições dos

bancos da igreja, pois têm que

se assentar confortavelmente

e se refrescar com um sistema

de ar condicionado mais

moderno; afinal, são filhos de

Deus e se julgam no direito de

como numa exposição de

poder e autoridade, daqueles

que podem mais e vendem

suas indulgências a la catolique, numa roupagem

protestantizada, construindo

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(João 14.6) –, doando-se sem

nada pedir em troca.

Gente, que evangelhozinho

vazio de sentido é esse, que

“é aquilo que tem”, enquanto

o Mestre dos Mestres

manda que nos esvaziemos

de nós mesmos. Não para

repreenchermos o espaço

com nossos egos feridos e

baixoestimados – que de tão

inferiorizados querem se

sentir GRANDES apenas nas

estruturas visíveis ao invés

de se deixarem encher pelo

Espírito Santo e jorrar para

libar àqueles que estão na

suas Jerusaléns até alcançar

as nações, com o verdadeiro

bálsamo curador das almas

– mas pelo real propósito de

sermos igreja para além das

estruturas dos templos.

Pelo amor de Deus, eu

quero o EVANGELHO DA

CRUZ de volta...

de uma psiquê cansada da

diminuição da GRANDEZA

DE DEUS a uma pequenez

de alma, bem do tamanho

dessas que esses venderores

de indulgências cristãs, que

negociam salas de mármore

branco com seu nome em

ouro, com intercessores 24

horas, pagos apenas para

orar por você como garantia

da sua prosperidade nessa

terra, made in teologia da

prosperidade “Tio San”.

É réplica do Templo

de Salomão, réplica do

Tabernáculo, réplica disso,

réplica daquilo... Só que

ninguém quer ser uma réplica

daquele que abriu mão de

tudo o que tinha – e olha que

Ele tinha muito (João 1.1-5),

mas se esvaziou de si mesmo

(Filipenses 2.5-8) para se

humanizar e abrir caminhos

de vida, verdade e eternidade

ter o melhor. Enquanto isso,

outros congelam pela falta

de aquecedores adequados

na Mongólia. Que ironia!!!

Como ter aquecedores nas

montanhas geladas dos

himalaias ?!?! Se mal dá

para subir sozinho, imagine

então com um aquecedor nas

costas!!! Fala sério!!!

Nesses e-mails

mencionados ainda tentam

espiritualizar, como donos

de uma verdade que deve ser

apenas deles (relativismo),

porque chamar o que

fazemos de um “modo sem

vergonha de professar uma

religião” é bem típico de

quem não faz nada a não

ser criticar sem perspectiva

construtivista. Se você está

achando que esse artigo é

um desabafo, está repleto de

razão, pois é uma descarga

das acumuladas sinapses

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M E M Ó R I A

A Bíblia paraA Bíblia para

as multidõesas multidões

MARCOS STEFANO

Esse foi o grande lema da vida do pastor batista

Werner Kaschel, um dos mais destacados

tradutores das Escrituras Sagradas

na atualidade, que faleceu em

novembro

SBB

PASTOR BATISTA, TEÓLOGO E TRADUTOR, Werner Kaschel – em ação ainda nos tempos da SBB – foi um dos

responsáveis pela Nova Tradução na Linguagem de Hoje

“Ao revisar a tradução bíbli-

ca, é preciso levar em con-

ta que a Palavra de Deus

deve ser simples e compreendida por

todos. E isso inclui ricos, pobres, cultos

e incultos”, costumava dizer o pastor

batista Werner Kaschel. Mais do que

falar, ele procurou transformá-la no mo-

tivo de sua vida. Assim, termos como

“verbo” e “caridade” se transformaram

em “palavra” e “amor”. E trechos difí-

ceis de compreender como “a terra era

sem forma e vazia” foram trocados por

“a terra era um vazio, sem nenhum ser

vivente, e estava coberta por um mar

profundo”. Kaschel faleceu no último

dia 8 de novembro, aos 88 anos, vítima

de complicações de uma pneumonia.

Mas com obras como a Nova Tradução

na Linguagem de Hoje (NTLH) e uma

vida dedicada à divulgação do Evange-

lho e à educação, seu legado não será

esquecido.

Descendente de alemães, Werner

Kaschel nasceu em Campinas, no in-

terior de São Paulo, e se batizou cedo,

em dezembro de 1934, na Primeira

Igreja Batista. Mesmo no começo da

adolescência, sentiu o chamado para

o ministério e decidiu que precisava

se qualifi car. Graduou-se em teologia

no Seminário do Sul, ligado à Igreja

Presbiteriana do Brasil, em Campinas

mesmo, no ano de 1944. Cinco anos

depois, fez o mestrado no Seminário

Batista Southwestern, em Fort Worth,

Texas. Voltou aos Estados Unidos para

concluir o doutorado em Filosofi a, em

1971, no Seminário Batista Southern,

em Louisville, Kentucky.

Desde o começo de sua carreira,

ele decidiu colocar o que aprendeu na

prática. Assim, nos anos de 40, 50 e 60,

pastoreou igrejas batistas em Americana

(SP), Rio de Janeiro e na capital paulis-

ta. Também foi diretor do Departamen-

to de Treinamento da Junta de Escolas

Dominicais e Mocidade, a atual Juerp;

Primeiro Secretário da Convenção

Batista Brasileira; professor e deão do

Seminário Teológico do Sul, no Rio; e

diretor do Colégio Batista Brasileiro,

novamente em São Paulo. Em 1972, as-

sumiu a reitoria da Faculdade Teológica

Batista de São Paulo, cargo que exerceu

até 1989. Ainda como educador, foi

presidente da Associação de Seminários

Teológicos Evangélicos (ASTE) e da

Associação Brasileira de Instituições

Batistas de Ensino Teológico (Abibet).

Fluente em cinco idiomas e especia-

lista em hebraico e grego, Kaschel era

mestre nas letras. Tanto que compôs,

traduziu e escreveu diversos hinos e

livros. E, por mais de duas décadas,

trabalhou na Sociedade Bíblica do

Brasil (SBB), integrando e liderando

a Comissão de Tradução da Bíblia na

Linguagem de Hoje. Ainda assim, no

melhor espírito da Reforma Protestante,

era capaz de reconhecer as limitações

de sua atividade ao admitir que a nova

versão estava longe de ser uma una-

nimidade: “A impressão é que muitos

gostam dessa Bíblia, mas ainda existem

reações contrárias a ela”. Mesmo em

idade avançada, trabalhou até 2008 na

SBB; porém, desde então, começou a

perder a visão. Deixa a esposa Dirce,

sua companheira de longa data, fi lha,

neta e uma legião de admiradores e,

principalmente, seguidores, talvez sua

mais importante herança.

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M Ú S I C AM U LT I M Í D I A

Em rápida passagem pelo Brasil, revelação da música gospel esbanja talento, simpatia

e comprometimento cristão

Elvis Presley, Areta Franklin,

Beyonce, Chris Brown, enfi m,

inúmeros são os cantores e

bandas, evangélicos ou não, que

deram os primeiros passos musicais

em coros de igrejas protestantes

norte-americanas. E esse também tem

sido o caminho trilhado pela novata

Kerrie Roberts, recém-lançada no

mercado fonográfi co e já considerada

uma das maiores revelações da

música gospel dos últimos anos; só

que com um diferencial em relação

aos outros: até agora, pelo menos,

Impossível de parar

ela ainda não se debandou para o

universo secular.

Numa curta e quase

despercebida passagem pelo

Brasil no mês de novembro,

Kerrie deu mostras de seu

comprometimento cristão e

talento musical, entoando canções

com uma voz impactante e ao

mesmo tempo suave, num estilo que

mescla o soul com a música pop. De seu repertório, ainda não muito

vasto se comparado aos que estão na

estrada há mais tempo, destacam-se

Unstoppable – traduzindo, algo como

“impossível de parar” – que, inclusive,

é tema dos comerciais da 10ª edição

do American Idol, programa de grande

sucesso da TV americana; e No Matter What, ou “não importa o quê”, sucesso

das paradas evangélicas – não confundir

com a música de mesmo titulo da boy band irlandesa Boyzone, que de crente

não tem nada.

Nessa miniturnê, a norte-americana

dividiu o palco com o cantor

Fernandinho, em Goiânia; em seguida,

partiu para Brasília, onde participou

de uma reunião na Igreja Sara Nossa

Terra, ministrada pelo pastor Robson

Rodovalho, e encontrou com os

músicos da banda Supernovavida. Em

São Paulo, mesmo com o cancelamento

do SOS da Vida 2010, ela não deixou

os fãs de mãos abanando e esbanjou

simpatia durante um culto de louvor

e adoração realizado pela Igreja

Renascer. Pode ter sido um aperitivo

para que, numa próxima vez, a festa

seja compatível ao seu talento.

(Fernando Dias de Jesus)

RECEITA PARA O SUCESSO: talento e comprometimento cristão na medida certa

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ENCONTRO DE MÚSICOS NA IGREJA Sara Nossa Terra: KERRIE

ROBERTS E RIBAMAR RIBEIRO, da banda brasiliense Supernovavida

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L A N Ç A M E N T O

Mais um para a c o

JOSÉ DONIZETTI MORBIDELLI

DIVULGAÇÃONovo, mas

longe de ser o último: prestes a completar o 86º aniversário, Luiz

de Carvalho lança mais um álbum

para seu já vasto repertório

“Fui um privilegiado por

ter gravado o primei-

ro LP evangélico do

Brasil”, diz com orgulho o cantor

Luiz de Carvalho. O bolachão de

vinil ao qual ele se refere é Boas Novas, guardado como um tro-

féu entre seus objetos pessoais e,

principalmente, nas lembranças

que marcaram o início da carreira

– ou, ministério, como o próprio

evangelista define. Isso tudo acon-

teceu no histórico ano de 1958, que

ficou marcado não somente para

os crentes como também para todo

o povo brasileiro; pois, do outro

lado do Atlântico, na Suécia, a

Seleção Brasileira conquistava o

primeiro título mundial e entrava

definitivamente para o mapa do

futebol. Fã do esporte e torcedor

do São Paulo Futebol Clube, Luiz

de Carvalho também vibrou com a

conquista; vibração que se mistura-

va com a alegria de impactar vidas

com versos e melodias, de quebrar

paradigmas e romper fronteiras, e

de reinventar a história da música,

já que usar qualquer ritmo como

instrumento de fé na época chegava

a ser quase uma afronta à indústria

fonográfica.

Com o passar dos anos, a música

evangélica começou a conquistar

espaço nas lojas e nos corações dos

fiéis, graças, principalmente, ao

pioneirismo do cantor, que se tor-

nou o maior ícone do gênero. Aliás,

ainda o é; afinal, nenhum outro ar-

tista cristão entrou tantas vezes em

estúdio quanto ele, e nem conhece

tão bem as veredas do ritmo cristão

pelo país afora.

Dezenas e dezenas de álbuns

lançados, inúmeros países visi-

tados e milhares de seguidores

convertidos com suas mensagens

cantadas e participações in loco nas

campanhas evangelísticas – entre

elas, uma apresentação para mais

de 100 mil pessoas no Maracanã,

durante a primeira cruzada de Billy

Graham pelo país. E hoje, prestes a

completar seu 86º aniversário, Luiz

de Carvalho continua na ativa, com

o mesmo timbre de voz e jeito de paizão acolhedor. Seu mais recente

álbum, Adoração, acaba de sair do

forno pela gravadora Bompastor,

companheira de décadas.

Nessa minientrevista concedida

à ECLÉSIA, o cantor fala um pou-

co sobre seu ministério, a fé que o

mantém firme e forte na estrada e,

claro, do repertório do novo CD

– pasmem, o 45º de sua trajetória,

além de algumas dezenas de long plays –, mas longe de ser o último.

Quem garante é o próprio Luiz de

Carvalho. Alguém duvida?

Impossível apontar em números,

mas durante todos esses anos de

ministério milhares de pessoas se

converteram graças à sua música.

Essa é a maior recompensa para

um cantor cristão?

O Senhor me deu o dom de can-

tar para que os pecadores sejam

chamados ao arrependimento, pois

MEMÓRIA VIVA DA MÚSICA EVANGÉLICA NACIONAL: seis décadas

de ministério e dezenas de álbuns

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c oleção

a própria Bíblia diz que os anjos

cantam no céu quando um peca-

dor se arrepende. É uma recom-

pensa maravilhosa saber que a

minha música tem abençoado

muitas pessoas.

O que seus admiradores po-

dem esperar de Adoração? Há

algum diferencial em relação

aos álbuns anteriores?

É um disco muito especial, com

músicas mais jovens e muita un-

ção. Canções como Não Há Outro,

Doce Voz e Vencendo em Cristo

são de uma inspiração incrível,

cujas letras falam muito ao cora-

ção. Louvado seja Deus que me

permite interpretar cada uma delas

de uma maneira especial, como

merece uma verdadeira adoração.

Onde o senhor encontra inspi-

ração, motivação, e até mesmo

forças para prosseguir nessa

caminhada evangelística?

Sinto que o Senhor usa e continu-

ará usando a minha vida e a minha

voz para o seu louvor, glória e

honra. É essa certeza e fé que me

enchem de disposição para conti-

nuar trabalhando, firme e forte na

minha caminhada.

O senhor continua fazendo

longas viagens pelo país afora,

inclusive dirigindo seu próprio

carro?

Continuo, sim, viajando também

de carro quando me é convenien-

te. Procuro atender a todos os

convites das igrejas, sempre com

amor e dedicação. Afinal, todo o

meu trabalho e esforço são para a

glória do Senhor Jesus.

CRUZADA EVANGELÍSTICA: MAIS DE 100 MIL FIÉIS acompanharam o cantor no Maracanã, durante primeira vinda de Billy Graham ao Brasil na década de 1970

LUIZ DE CARVALHO: “É uma recompensa maravilhosa saber que a minha música tem abençoado muitas pessoas”

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Patrícia Guimarães

é mestre em Musicologia, bacharel em Canto Lírico, e regente e professora de Canto em Juiz de Fora (MG)

L O U V O R E A D O R A Ç Ã O

Palco, delírio

e recomeço

“Por que continuamos fazendo essa arte invisível

se, no dia seguinte,

só restarão lembranças sonoras do

que foi feito?”

Recentemente, participei

de uma apresentação no

principal teatro da cidade

em que moro, um concerto que

envolvia orquestra, regente, coral

e solistas. Entre a correria nos

camarins e arrumação do palco,

percebi que havia perdido minha

partitura, ou seja, na última hora

teria que executar as músicas

de cor – um problema menor

para um músico. O problema

maior é que havia ensaiado

pouco com a orquestra. A

música começou e a memória

auditiva foi me auxiliando nas

sequências e passagens musicais

que se seguiram. O concerto

aconteceu como o planejado,

e os sorrisos alegres e olhos

brilhantes do público nos diziam

que havíamos alcançado seus

corações. A grandiosidade da

música e os aplausos fi caram em

minha mente. E foi sonhando

com a beleza sonora produzida

pela orquestra, solistas e coro

que voltei para casa. Na manhã

seguinte, embora a adrenalina

não me tivesse deixado dormir

direito, levantei e fui caminhar

pelo centro da cidade. Ao passar

pelo teatro onde realizamos o

evento, lembrei da partitura

perdida e pensei: “Pode ser

que ainda a encontre!” E, nessa

tanto trabalho, tanto esmero e

busca de arte perfeita? Arte, que

arte? Ela não estava mais ali para

ser admirada, nada de visível

permaneceu. Permaneci parada

no palco com uma indescritível

sensação de perda. Foi tudo um

sonho? Névoas da memória? Um

delírio musical? Mas as marcas do

cansaço do concerto insistiam em

me trazer de volta à realidade e me

lembrar que nossa arte aconteceu,

sim. Por instantes foi admirada...

E se foi. Como neblina, minha

arte e a de todo o grupo se esvaiu

e, com ela, toda a “música” do

dia anterior. Eu me senti parte de

um jogo de dominó, quando as

peças previamente enfi leiradas são

derrubadas pelo impulso inicial

de uma criança. Mas, se a criança

reconhece que o trabalho de colocar

as peças em pé vai se perder no fi m,

por que persiste em sua brincadeira?

Igualmente nós, músicos, por que

continuamos fazendo essa arte

invisível se, no dia seguinte, só

restarão lembranças sonoras do que

foi feito? Rapidamente, minhas

memórias correram para a narração

de Eclesiastes 1.2, quando o autor

descreve a efemeridade da vida:

“Vaidade das vaidades, tudo é

vaidade”.

Em hebraico, “vaidade”

signifi ca sopro, neblina. Essa

esperança, entrei. Logo percebi

barulhos de grandes objetos sendo

arrastados: madeiras, tablados,

caixas, fl ores. Uma desorganização

ocupava o palco para que,

organizadamente e algumas

horas depois, um novo evento

acontecesse ali. E, nesse vaivém

de um novo cenário, um calafrio

tomou meus sentimentos e percebi

minha angústia; aliás, uma ausência

de som, um vazio inexplicável!

Onde estava a música que fi zemos

na noite anterior? Para onde foi

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aloés, preparando o corpo do Mestre

para a ressurreição, recomeço da

história do cristianismo. O velho

fariseu percebeu o que o sábio de

Eclesiastes já havia descrito: “...

não há limites para fazer livros, e o

muito estudar é enfado da carne. De

tudo o que se tem ouvido, a suma

é: Teme a Deus e guarda os seus

mandamentos, porque é o dever de

todo homem” (Ec 12.12-13).

A neblina do saber de

Nicodemos envolveu-se na minha

naquela manhã pós-concerto. E em

meio aos meus desajeitados passos

no palco desconfi gurado por metais

e novas montagens, a verdade de

Eclesiastes pareceu-me muito mais

clara. Deus estava me confrontando

com a glória passageira do dia

anterior, mostrando-me o “teatro

vazio” da vida que segue sem

Cristo. Não há razão para cantar

sem Ele. Não há sabedoria, nem

sopro, nem audição alguma. É

correr atrás do vento.

fala do Mestre: “... aquele que não

nascer de novo, não pode ver o

reino de Deus” (Jo 3:3). E o sábio

Nicodemos não se envergonha em

expor sua dúvida: “Como pode um

homem nascer, sendo velho? Pode,

porventura, tornar a entrar no ventre

de sua mãe, e nascer segunda vez?”

(Jo 3.4) Seus anos e dias devem

ter passado por sua mente naquele

instante. Um velho homem precisa

de coragem para recomeçar. Jesus

estava confrontando Nicodemos

com sua “vaidade”, sua “neblina de

conhecimento”, e lhe devolve uma

pergunta: “Tu és mestre em Israel

e não compreendes estas coisas?”

(Jo 3:10). Em outras palavras, Jesus

lhe estava dizendo: “Nicodemos,

encaixe as peças das promessas

na lei sobre o Messias. Sou eu,

que falo com você!” Por ocasião

da morte de Jesus, Nicodemos

reaparece na narrativa bíblica numa

mudança de atitude: ele ajuda no

sepultamento de Jesus com mirra e

expressão descreve bem a música

daquela noite: ela se foi, ecoou

e se perdeu no vento e como o

vento. E, como na brincadeira da

criança, meu coração estava preso

àquela arte. Num confronto de

mente e sentidos, em instantes,

olhando para o teatro vazio e para

o vazio em minha alma, indaguei:

“Devo recomeçar a ‘brincadeira’?

Enfi leirar os sons novamente? Sim,

preciso continuar a impulsionar os

ouvintes com melodias que lhes

assaltam os sentidos”. E, tomada

por esses pensamentos, continuei

caminhando pelo palco, traçando

um paralelo entre “espetáculo” e

“vida”. Somos sempre desafi ados

a “enfi leirar peças”, a tentar uma

segunda, terceira, quarta chance;

quantas forem necessárias para

fazer o melhor em cada “jogada”.

Lembrei, então, do velho fariseu

sabedor da lei, Nicodemos. Ao

encontrar-se com Jesus, ele é

desafi ado a repensar sua vida na

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Marcos Stefano

L I T E R AT U R AM U LT I M Í D I A

Guerra efi caz também

para os desconfi ados

mas tenta se restringir à análise

dos textos das Escrituras.

Dessa maneira, analisa o

fundamento do tema batalha

espiritual, a já tão esquecida

relação entre autoridade e

caráter, os planos de Deus para

as pessoas, a origem e a atuação

de Satanás, intrigas dentro das

igrejas e o poder da oração,

como principal arma nessa

guerra. Claro, também não deixa

de dar sua visão a respeito de

pontos mais delicados, como

Batalha espiritual é um

dos temas na moda

entre os evangélicos

brasileiros. Daí o lançamento

de tantos títulos e testemunhos

– muitos polêmicos e quase

inacreditáveis – sobre o

assunto. Batalha Espiritual, a mais nova obra da editora

LifeWay Brasil, no entanto,

foge completamente a esse

estereótipo. Na mesma linha

de estudos e discipulado que já

consagrou a editora, reafirma

que se trata de questão

bíblica, sim, mas a analisa de

modo bem mais tradicional,

apresentando uma versão mais

conservadora de passagens

bíblicas como o capítulo 6 de

Efésios e o capítulo 5 de 1

Pedro.

Na verdade, a análise

desses textos não é tão

diferente daquela que costumam

fazer protestantes históricos

e pentecostais clássicos.

Entretanto, não recai nas mesmas

interpretações dadas por autores

que as usam para defender ideias

como mapeamento espiritual,

domínios de espíritos territoriais

e quebras de maldições

hereditárias. Dividido em

oito capítulos e mais um guia

do líder no final, o livro traz

alguns episódios para ilustrar a

aplicação de cada trecho bíblico,

Lançamento da LifeWay Brasil reinterpreta conceitos bíblicos sobre

batalha espiritual

a possessão maligna, o que

significa resistir ao diabo,

de que maneira é possível

“amarrar” o adversário e qual

seria o real papel dos demônios

no mundo. Um prato cheio para

quem já desconfiava

de muito do que se

tem dito ultimamente

sobre o tema, mas tinha

medo de usar o termo

“heresia”. Aliás, até os

autores o evitam. São

contundentes em seus

pontos de vista, mas

evitam radicalismos.

Polêmicas à parte,

há dois capítulos que

merecem uma atenção

toda especial. Ao

estudar a “armadura

espiritual” descrita por

Paulo em Efésios, os

escritores John Franklin

e Chuck Lawless

mergulham no contexto

histórico dos tempos

bíblicos para analisar

cada peça da vestimenta

usada pelos soldados

romanos, em quem o

apóstolo estava se baseando

para falar figurativamente das

armas espirituais. Igualmente

interessantes são os conselhos

e instruções apresentadas para

se discernir a voz de Deus

do pensamento humano e das

inspirações satânicas. Um

contraponto importante e que

permite perceber como assuntos

e concepções têm mudado

após a enorme influência do

avivamento espiritual do começo

do século passado.

DIVULGAÇÃO

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A G E N D A

I Escola de Líderes Profetas da Dançameio de ofi cinas práticas de dança,

adoração e ministrações de preletores

que atuam no Brasil e no exterior.

O evento acontece no Sítio Bom

Tempo, localizado na Avenida do

Cabral, Lote 01 – Quadra 39, no

bairro de Sambaetiba. Quem quiser

obter informações e conhecer

De 15 a 22 de janeiro, a Escola

Profetas da Dança, veiculada

ao Ministério Dança Pelas Nações,

de Contagem (MG), estará

promovendo, em Itaboraí (RJ), o I

Congresso de Líderes Profetas da

Dança, com o propósito de trabalhar

e treinar líderes ministeriais, por

Encontro Sepalboliviano Russell P. Shedd, PhD em

Novo Testamento pela Universidade

de Edimburgo, Escócia; o escritor

e teólogo Augustus Nicodemus;

o pastor Márcio Valadão, titular

da Igreja Batista da Lagoinha,

entre outros. O encontro será no

Hotel Monte Real, que fi ca na Rua

São Paulo, 622 – Centro. Mais

A 38ª edição do Encontro Sepal,

atividade que já perdura mais

de quarenta anos com expressivos

resultados alcançados, acontecerá

entre os dias 2 e 6 de maio em Águas

de Lindóia, interior de São Paulo.

Entre os palestrantes já confi rmados,

estarão o pastor Abe Huber, fundador

da Igreja da Paz de Fortaleza; o

um pouco mais sobre o

trabalho desenvolvido pela

escola, deve acessar o site

www.escolaprofetasdadanca.com.br

ou enviar um e-mail para

[email protected].

O telefone para contato é

(31) 3390-1449.

informações podem ser obtidas

pelo site www.sepal.org.br ou pelo

telefone (11) 5523-2544.

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P E R C I VA L D E S O U Z A

Sob nova direção

“É preciso pensar alto e, na refl exão, pedir a luz divina para esclarecer

mentes sinceramente preocupadas com os rumos de um mundo cada vez mais

distante do Altíssimo”

Começa o ano novo, e com

ele uma nova presidente.

Algumas mudanças no

Congresso e os dados revelados

pelo último censo do IBGE

indicam que teremos uma taxa de

crescimento anual que deve girar

em torno de 1,1% e revelações

curiosas, como cada vez mais

as crianças vendo os pais no

mercado do trabalho e os fi lhos

sendo criados com participação

maior de avós, creches e internet.

Não se trata exatamente de

um admirável Brasil novo, mas,

agora que a poeira da sucessão

presidencial baixou, pode ser

proveitoso conciliar a expectativa

do que poderá acontecer a partir

de 2011, no mais amplo dos

sentidos, com o nosso exercício

de religiosidade. Como visto,

as campanhas eleitorais foram

mornas, superfi ciais; pouco se

falou do que realmente interessa e

o engajamento político-partidário

de religiosos foi, na maioria das

vezes, beligerante e deplorável.

Houve até quem se apresentasse

como “líder” para se dar ao

direito de fazer interpretações

bíblicas desconexas, tais como

a de transformar relatos sobre

montanhas em “serras” em tom

de nome pessoal, e – o que é pior

– ligar a semântica da fi ctícia

montanha particular para designar

um município capixaba, vendo

nele um forçado nexo causal com

a Terceira Pessoa da Trindade

Excelsa e o nome do Estado

a que ele pertence. Em Direito,

chamaríamos esse comportamento

de doloso, e com todas as

circunstâncias agravantes. E por aí

desfi lou essa indigência teológica,

bíblica e política – ignorando-

se até o detalhe que antes do ser

humano chegar à montanha, ela

chegou até ele, como sabem os reais

conhecedores das Escrituras.

Por força da profi ssão, sou

obrigado a tecer as mais variadas

considerações, pela TV, sobre

o que acontece, procurando

interpretar fatos e situações,

tantas vezes catastrófi cas em

termos éticos e morais. Por

consequência, às vezes acontece

de se pedir um paralelo desse

tipo em comunidades de fé, e

uma experiência assim ocorreu

num agradável encontro com

lideranças nacionais de irmãos

presbiterianos, em novembro

passado no Recife (PE).

Nessas horas, é preciso pensar

alto e, na refl exão, pedir a luz

divina para esclarecer mentes

sinceramente preocupadas com os

rumos de um mundo cada vez mais

distante do Altíssimo, e que tanto

exige de nós em termos de sal para

uma terra que precisa se deixar

salgar e luz para os que insistem

em habitar nas trevas. Sim, é

importante saber o que Jesus disse

e nos ensinou, e ao mesmo tempo

reparar no que Ele não disse. É

possível partir de uma constatação

simples e efi caz: os ensinamentos

do Mestre continuam tão efi cientes

e verdadeiros como atuais. A

sabedoria proporcionada pela

boa notícia – o Evangelho – é

fundamental. Saber transmiti-la,

nesse perfi l de novas gerações que

se desenha no país, é um desafi o.

O egoísmo acaba se tornando

primitivamente bárbaro. Nesse

cenário, somos convocados – a

missão que o Senhor nos confi ou

– para transmitir a Palavra perene,

divinamente eterna, humanamente

perpétua, caminho seguro

– quando intacta – para um ano

novo melhor.

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A IGREJA CONTRA O TERROR

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