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CONSELHO FEDERAL DE ESTATÍSTICA
______________________________________________________________________ Av. Rio Branco, n.º 277, grupo 909 - Centro - Rio de Janeiro / RJ - CEP 20.040-009
- Telefax (21) 2220-1058 – Tel. (21) 2262-1709 http://www.confe.org.br/ [email protected]
1
Rio de Janeiro, 2 de março de 2009
Orientações para Entender os Resultados da Pesquisa Eleitoral. Problemas na Divulgação.
LUIZ CARLOS DA ROCHA
Presidente do CONFE Conselho Federal de Estatística
O objetivo do documento é esclarecer questões técnicas relevantes divulgadas
nas pesquisas eleitorais, principalmente para leitores não familiarizados com a teoria
estatística, o que impõe cuidado redobrado com uma linguagem menos especializada.
Porém, existem aspectos técnicos subjacentes nos resultados das pesquisas eleitorais,
que induzem conclusões falsas que não podem deixar de ser esclarecidos a todos que
a divulgam e que se interessam em compreendê-las, em analisá-las e interpretá-las.
PARTE I - INTRODUÇÃO.
Discuti-se na PARTE II conceitos de Amostragem (A) com base no método A
Aleatória Simples, em seguida na PARTE III aproveitam-se os conceitos dados e
analisá-se a Amostragem por Cota (A por Cota) que é o procedimento mais usado
pelos Institutos de Pesquisa. A por Cota apesar de dominar a prática da pesquisa de
opinião não é considerado um método de amostragem no sentido estritamente teórico,
não é da mesma natureza que os consagrados métodos A Aleatória Simples; A.
Estratificada; e A. Conglomerado, entre outros não destacados nesta resenha.
A por Cota se refere a um procedimento que usa bom senso junto com técnicas
estatísticas, e foi concebido para contornar a limitação imposta pela impossibilidade da
seleção aleatória dos entrevistados, seja pela inexistência ou deficiência do cadastro,
seja por questão de custo ou prazo de execução. A por Cota é um método cujos
resultados não estão rigorosamente sob controle do profissional Estatístico. Todavia,
ele vem sendo usado internacionalmente desde a década de 50. Mas também, vem
sofrendo desde então críticas e sendo motivo de intermináveis discussões, enquanto
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isso é usado continuadamente por Institutos de Pesquisa. Portanto, torna-se preciso
buscar consenso, ou talvez, buscar maior compreensão dos aspectos especiais que
justificam sua reconhecida adequação prática a Pesquisa Eleitoral.
Como primeira aproximação à pesquisa eleitoral, o leitor deve levar em conta a
dificuldade crônica de se avaliar o nível de precisão das suas estimativas;
A pesquisa eleitoral reflete a Intenção de Voto num determinado momento e de
acordo com certo cenário político. É uma fotografia mal focada da subjetividade dos
entrevistados num certo instante. A grande questão que envolve a pesquisa eleitoral é:
“Opinião” não se mede; não se pesa; não se toca; não tem cheiro e não se vê. É intangível, é invisível. Pergunta-se e acredita-se! A seguir relacionaremos algumas fontes de erros comuns no levantamento da
informação em pesquisa eleitoral ou na pesquisa de opinião em geral, qualquer que
seja a metodologia amostral usada para avaliar atributos subjetivos.
I - Erros quanto à veracidade da informação do entrevistado:
a) o informante pode mentir em relação a seus dados demo-sócio-econômicos.
b) o informante pode mentir em relação a sua Intenção de Voto.
c) o informante pode mudar de opinião com ou sem novo cenário sócio-econômico- político.
II - Erros quanto à qualidade do levantamento de campo.
Com qualquer método de amostragem, consagrado ou não, o procedimento do
levantamento da informação é fundamental, isto é, a seriedade, a forma criteriosa, e a
competência da equipe que faz o levantamento da informação é ponto crítico da
pesquisa. Logo, o trabalho de campo é o calcanhar de Aquiles do projeto que pode ser
tecnicamente perfeito, mas se os executores não forem competentes, não funciona.
III - Erros inerentes à metodologia estatística.
A estatística não tem pretensão de fazer estimativas exatas, ela admite o erro
como sendo fato inerente e inevitável nos seus procedimentos de estimação. O erro é
um parceiro constante na atividade profissional do Estatístico, mesmo na estimação de
aspectos concretos da população onde se podem usar instrumentos de medida, como
por exemplo, nas avaliações da altura, do peso ou da pressão arterial. Ainda assim, a
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estimativa por amostragem nestas situações estaria sujeita a erros. Aliás, mesmo que
se fizesse um censo, não há como eliminar erros. Não há medida sem erro. A pesquisa
é a técnica de conseguir uma prévia rápida com erro previsto e com baixo custo.
Numa pesquisa de opinião onde os atributos avaliados têm natureza intangível
e invisível, todas as fontes de erros se aglutinam em volta da sua estimativa: a inépcia
do entrevistador, a mentira do entrevistado, a alteração do cenário sócio-econômico-
político, a mudança de opinião e o erro amostral. Como conseqüências de todas essas
ações, têm-se inevitavelmente avaliações esfumaçadas da realidade. Então podemos
afirmar que no caso da pesquisa de opinião em geral os cálculos dos parâmetros: erro
e confiabilidade podem ser considerados ordem de grandeza dos verdadeiros valores.
Portanto, pesquisa de opinião é uma área da estatística sujeita à resultados “não
precisos”, inclusive do ponto de vista do erro e da confiabilidade estatística.
Mas, para se ter uma avaliação da opinião eleitoral de uma população num certo
momento, com rapidez, baixo custo e com alguma confiabilidade, então a pesquisa por
amostragem é o melhor procedimento técnico que se pode lançar mão.
Outra questão crucial que envolve a pesquisa de opinião e gera intermináveis
debates e discussões acaloradas, resulta da dificuldade, ou melhor, impossibilidade de
avaliar a qualidade dos resultados no momento da publicação. Faltam referências que
sirvam para aferir os resultados. No caso da pesquisa eleitoral, a única referência
confiável é o resultado final das urnas. Mas este só deve ser confrontado com resultado
da pesquisa de “boca de urna”, que cada vez mais, perde importância dada à rapidez
da apuração. Quando as previsões das pesquisas realizadas são confirmadas no dia
da eleição com alguma antecedência ou próximo ao pleito, então tudo vai bem, as
empresas fizeram “seu dever de casa”. Quando não, é sempre possível argumentar
que o projeto estatístico estava correto, mas as previsões não se verificaram devido a
mudanças de última hora no cenário (decretação de feriado na véspera do pleito,
boatos em cima do evento, declarações de última hora de caciques políticos e etc).
Quase sempre estas discussões são inconclusas e terminam no “deixa pra lá”, por falta
absoluta de critério que consiga separar a realidade do erro de pesquisa.
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PARTE II - Amostragem Aleatória Simples (A Aleatória Simples)
Por razões didáticas usaremos A Aleatória Simples, que é o mais simples dos
métodos para passar ao leitor os conceitos fundamentais do tema. E aproveitaremos
sua leve estrutura para simular os conceitos da margem de erro, quase sempre fixada
em 3% pelas empresas. Parece obrigatório, mas não é. Também será explicada a
medida da confiabilidade da estimativa, Nível de Confiança, que nunca é mencionado
pelos Institutos de Pesquisa e revelaremos o porquê desse segredo.
Para ilustrar o que acontece numericamente na pesquisa eleitoral simularemos
uma situação usando A Aleatória Simples no qual somente o erro amostral (inevitável)
é admitido. Isto é, consideraremos condições ideais sem os erros do tipo I e do tipo II.
E, para isolar e discutir só o erro tipo III far-se-á uso de uma população de 100.000
eleitores, que no caso corresponderá a um arquivo de dados com cem mil linhas. Onde
cada linha é um eleitor com seus dados demo-sócio-econômicos e seu Voto, tudo isso
inventado por nós. Além disso, nossos eleitores possuem a grande virtude de não
mentir e tampouco mudam de opinião em quem votar dentre os quatro hipotéticos
candidatos (A, B, C e D). Se o leitor preferir, pode imaginar que D não é candidato, é
representante da agregação daqueles que disseram que: vão anular o Voto; estão
indecisos; vão deixar em branco, etc. O leitor pode fazer analogia da situação descrita
como sendo um grande globo do tipo sorteio da mega-sena contendo 100.000 bolas
(população) onde cada bolinha representa um eleitor com características demo-sócio-
econômicas próprias e registradas na superfície, juntamente com a sua Intenção de
Voto. A amostra será constituída por sorteio de 1.000 bolas sem reposição. O sistema
de simulação concebido corresponde na prática à amostra aleatória simples de 1.000
(mil) eleitores, sem reposição. Cujo aspecto marcante é: “cada eleitor tem igual chance
(1/100.000) de ser entrevistado”. Iniciaremos dando as estatísticas do globo, ou seja, o
censo das Características da população dos cem mil eleitores.
Portanto, os resultados que apresentaremos a seguir são provenientes das
estatísticas registradas nas cem mil bolas. Na prática das pesquisas eleitorais por cota,
a estatística das Características é da mesma natureza dos dados Censitários do IBGE,
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com a diferença que estes já trazem embutido os três tipos de erros mencionados.
Nossas bolinhas não mentem, vale o que está registrado, é de fato uma situação
ideal não encontrada na prática da pesquisa de opinião.
Quadro 1: Estatística das Características da População de 100.000 Eleitores QUANTO AO SEXO QUANTO A IDADE
SEXO FREQ PROPOR
ÇÃO %
IDADE FREQ
PROPOR
ÇÃO
ÇÃO
%
FEMININO 53136 ,5314 53,14 JOVEM 36288 ,3629 36,29
MASCULINO 46864 ,4686 46,86 ADULTA 56611 ,5661 56,61
TOTAL 100.000 1,0000 100,00 MADURA 7101 ,0710 7,10
TOTAL 100.000 1,0000 100,00
QUANTO A INSTRUÇÃO QUANTO A RENDA
INSTRUÇÃO FREQ
PROPOR
ÇÃO %
RENDA FREQ
PROPOR
ÇÃO %
FUNDA MENTAL 81720 ,8172 81,72 CLASSE
D/E 76545 ,7655 76,55
MÉDIO 11712 ,1171 11,71 CLASSE C 13633 ,1363 13,63
SUPERIOR 6568 ,0657 6,57 CLASSE A/B 9822 ,0982 9,82
Total 100.000 1,0000 100,00 Total 100.000 1,0000 100,00
As Características são consideradas variáveis explicativas da preferência do
Voto, ou melhor, admite-se existência de correlação não nula entre a Intenção de Voto
e as Características. Claro que as citadas aqui são as mais usadas, mas elas não são
as únicas de interesse, vai depender do perfil dos candidatos, por exemplo, se existir
candidatos de diversas correntes religiosas, então crença religiosa seria característica
relevante ou se os candidatos tivessem etnias diferentes, então raça seria importante.
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Na A Aleatória Simples as características não são usadas na estimação da
variável de interesse, Intenção de Voto, elas são importantes nos seguintes métodos:
Estratificado, Conglomerado e Cota. Mas, foram introduzidas aqui para construir uma
“ponte” com A por Cota e servirá para justificar a origem desse procedimento. Também
será útil para explicar a terminologia “amostra representativa” usada pelas empresas de
pesquisa e tão incompreendida por estudiosos da área.
Quanto à Intenção de Voto, que é nossa variável de interesse, ou seja, aquela
que será estimada com amostra de tamanho 1.000 pode-se observar a distribuição da
Intenção de Voto inventada para a população de 100.000 eleitores no quadro abaixo.
Quadro 2: Estatística da Intenção de Voto na População dos 100.000 Eleitores
CANDITADOS FREQUÊNCIA PROPORÇÃO COMPOSIÇÃO(%)
CAND_A 49.975 ,4998 50,0
CAND_B 27.016 ,2702 27,0
CAND_C 16.994 ,1699 17,0
CAND_D 6.015 ,0602 6,0
TOTAL 100.000 1,0000 100, 0
A seguir daremos em forma de gráfico de barra a composição dos Votos por tipo
de característica para a população de 100.000 eleitores. Não seria necessário destacar
que na prática, tanto a informação do Quadro 2 quanto os gráficos dados a seguir são
obviamente informações desconhecidas. Só estamos informando aqui para mostrar ao
leitor a situação que foi engendrada na simulação. Portanto estamos fazendo um jogo,
fingimos desconhecer a real situação e aplicamos a técnica de pesquisa de A Aleatória
Simples para estimar e confrontar os resultados obtidos com os da população. Desta
forma o leitor terá oportunidade de ganhar confiança com os procedimentos estatísticos
no caso de uma situação ideal.
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Gráfico 1:Gráfico de barras (%) dos 100.000 Votos por Característica do Eleitor.
SEXOMASCULINOFEMININO
%
60,0%
40,0%
20,0%
0,0%
CAND_DCAND_CCAND_BCAND_A
VOTO
VOTOS POR SEXO
VOTOS POR IDADE
VOTOS POR INSTRUÇÃO
%
100,0%
80,0%
60,0%
40,0%
20,0%
0,0%
INSTRUÇÃO
SUPERIORMÉDIO
FUNDAMENTAL
CAND_DCAND_CCAND_BCAND_A
VOTO
VOTOS POR RENDA
RENDA
CLASSE B/A
CLASSE C
CLASSE E/D
%
100,0%
80,0%
60,0%
40,0%
20,0%
0,0%
CAND_DCAND_CCAND_BCAND_A
VOTO
Na A Aleatória Simples o Estatístico joga com três parâmetros relacionados
entre si através de uma fórmula: o tamanho da amostra, a margem de erro e o nível de
confiança; fixado dois deles o terceiro é determinado pela fórmula. Então, quando o
tamanho da amostra é fixado e a margem de erro também, que corresponde ao caso
das informações prestadas pelos Institutos de Pesquisa, então o nível de confiança é
variável para cada candidato e seu valor conseqüência direta do resultado da fórmula.
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Faremos 500 estimativas das proporções de Votos para cada uma das 500
amostras simuladas de tamanho 1.000, retirada do globo e devolvida em seguida antes
de retirar a próxima amostra. Na prática a pesquisa usa só uma amostra de 1.000
eleitores de cada vez, e numa situação real as opiniões vão se modificando à medida
que a eleição se aproxima. Quando a empresa realiza sucessivas pesquisas ao longo
do tempo tem-se a curva de evolução das estimativas da proporção de cada candidato.
Na simulação, as 500 amostras são retiradas de uma população fictícia e imutável; com
convicção férrea quanto ao Voto. Adotar-se-á a notação PV_A para a proporção de
Voto do Candidato A e a notação PV_s para designar a proporção de qualquer um.
Apresentamos a seguir algumas estatísticas das estimativas das 500 amostras,
cada uma com 1.000 eleitores. A simulação do tipo mega-sena foi gerada por processo
computacional montado pelo autor do texto e pode ser reproduzida por especialistas.
Quadro 3: Estatísticas das 500 Estimativas das Proporções de Votos.
PV_A PV_B PV_C PV_D
Nº de Amostras 500 500 500 500
Média ,4977 ,2700 ,1708 ,0614
Mediana ,4980 ,2700 ,1710 ,0610
Moda ,50 ,27 ,16 ,06
Desvio Padrão ,0166 ,01372 ,0127 ,0074
Mínimo ,43 ,23 ,14 ,04
Máximo ,55 ,32 ,21 ,09
Impressionante! Vejam que para cada Candidato a média, a moda e a mediana
que são medidas de posição das 500 estimativas estão praticamente em cima dos
verdadeiros valores da população original (Quadro 2). As demais são medidas de
dispersão, óbvio que o Intervalo {Min, Max} sempre inclui 100% das estimativas. O
Desvio Padrão (DP) define uma gama de intervalos. Na hipótese da Normal (Sino): o
valor da média com “1 x D. P para mais e para menos” inclui 68%, com 2 x DP inclui
96% e com 3 x DP praticamente 100%. Mas, seria Normal o comportamento dos 500
valores das estimativas PV_s? A resposta a essa questão pode ser dada pelo gráfico
denominado histograma apresentado a seguir para os quatro candidatos.
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Gráfico 2:Histogramas das 500 Estimativas de PV_A à PV_D
PV_A0,540,520,500,480,460,440,42
Fre
qu
en
cia
60
40
20
0
PV_A
Mean =0,50�Std. Dev.
=0,017�N =500
PV_C0,220,200,180,160,140,12
Fre
qu
en
cia
80
60
40
20
0
PV_C
Mean =0,17�Std. Dev.
=0,013�N =500
PV_B0,320,300,280,260,240,22
Fre
qu
en
cia
60
50
40
30
20
10
0
PV_B
Mean =0,27�Std. Dev.
=0,014�N =500
PV_D0,100,090,080,070,060,050,04
Fre
qu
en
cia
100
80
60
40
20
0
PV_D
Mean =0,06�Std. Dev.
=0,007�N =500
Surpreendente! Os gráficos não deixam dúvidas da distribuição Normal (Sino)
das estimativas dos PV_s das 500 amostras. A Normal surge espontaneamente.
Mas, antes de passar aos próximos resultados obtidos é importante alertar que
para cada estimativa quando se fixa a margem de erro (3% só pra não contrariar) se
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obtém pela fórmula o nível de confiança, que é diferente para cada candidato, pois ela
é função do valor PV_s das estimativas. As empresas omitem os níveis de confiança e
deixam transparecer 100% de certeza de inclusão nos 3% “pra mais e pra menos” para
todas estimativas. Esse é o segredo, induzir a certeza que o real valor está incluído no
intervalo, e pior, ao mesmo tempo para todos os casos. Veremos que tudo isso é falso.
Esta é a forma mais comum de transmitir os resultados para o público, mesmo que
ocorra o absurdo de ter candidato com estimativa de 1% ou 2% de proporção de Votos
com margem de 3% “para mais ou para menos”. Tal tolice é expressa na divulgação
das pesquisas, mas a mídia e os Institutos preferem se fazer de desentendidos.
Como já dito, sendo fixados o tamanho da amostra e a margem de erro, o nível
de confiança das estimativas é conseqüência. No quadro a seguir temos estatísticas do
nível de confiança dos 500 Intervalos calculados para as amostras simuladas.
Quadro 4: Nível de Confiança dos 500 Intervalos com Margem de Erro de 3%.
ESTATÍSTICAS DA CONFIABILIDADE (NÍVEL DE CONFIANÇA)
500 500 500 500
94,24 96,74 98,82 99,99
94,23 96,74 98,83 99,99
94,22 96,46 98,81 99,99
,02 ,28 ,25 ,01
94,22 95,89 98,12 99,90
94,46 97,50 99,44 100,00
N
Média
Mediana
Moda
Desvio Padão
Minimo
Maximo
CONF_A CONF_B CONF_C CONF_D
A confiabilidade (Probabilidade) calculada pela aproximação Normal para os
intervalos com margem de erro de 3% é praticamente constante para cada candidato,
as variações são devidas às sutilezas de cálculo. Por exemplo, a estimativa PV_A tem
confiabilidade 94,23% (mediana), que significa que com a amostra de tamanho 1.000, o
verdadeiro valor PV_A=0,50 do candidato A estará contido em 94,23% dos intervalos
construídos (valor estimado mais ou menos 3%). Analogamente, PV_D = 6% estaria
contido em 99,99% dos intervalos com margem 3% e assim seriam interpretados os
demais valores 96,74% e 98,82% respectivamente para os candidatos B e C.
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Os quadros abaixo mostram a freqüência observada de inclusão dos verdadeiros
valores (real) nos 500 intervalos calculados com margem de erro de 3%, construídos
para cada estimativa da proporção de Votos, notação INTER_s.
Quadro 5: Freqüência da Inclusão do valor real PV_s nos 500 Intervalos de 3% de Erro. PV_A=50%
INTER_A de PV_A
30 6,0
470 94,0
500 100,0
FORA DO INTER_A
DENTRO DO INTER_A
Total
Frequencia %
PV_B=27%
INTER_B de PV_B
15 3,0
485 97,0
500 100,0
FORA DO INTER_B
DENTRO DO INTER_B
Total
Frequencia %
PV_C=17%
INTERVALO_C de PV_C
9 1,8
491 98,2
500 100,0
FORA DO INTER_C
DENTRO DO INTER_C
Total
Frequencia %
PV_D= 6%
INTERVALO_D de PV_D
1 ,2
499 99,8
500 100,0
FORA DO INTER_D
DENTRO DO INTER_D
Total
Frequencia %
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A comparação dos valores do Quadro 4 com os do Quadro 5 é fantástica. Os
valores do Quadro 4 foram obtidos pelo uso exclusivo da teoria estatística aplicando-se
aproximação da distribuição Normal para determinar a Confiabilidade (Probabilidade),
enquanto que os valores obtidos no Quadro 5 são as freqüências observadas pela
simulação da inclusão do valor verdadeiro (real) nos 500 intervalos construídos. Não
fossem os estorvos causados pelos erros tipos I e II, os resultados da pesquisa com A
Aleatória Simples teriam alta probabilidade de estarem muito próximo da realidade, no
momento do levantamento dos dados. Mas, é importante chamar atenção do leitor para
um fato pouco comentado que diz respeito à interpretação da confiabilidade da margem
de erro. Como vimos antes, ela assume valor diferente para cada estimativa de PV_s e
depende do valor da proporção, estão todos a cima dos 94%, sendo que no caso de D
é quase certeza. Todavia estes valores valem para cada PV_s isoladamente, em outras
palavras, se o leitor avaliar a confiabilidade de inclusão concomitantemente de duas ou
mais estimativas dentro das suas respectivas margens, então a confiabilidade conjunta
será reduzida. O fato é previsível pela teoria estatística. Mas, para que o leitor menos
familiarizado com a teoria possa compreender este aspecto tão importante e tão
esquecido; infelizmente; apresentaremos os resultados gerados pela simulação.
Seja “INTER_A/B” variável que expressa as combinações concomitantes de
inclusão de PV_A=50% no intervalo INTER_A, e PV_B=27% no intervalo INTER_B. Da
mesma forma para mais de dois, exemplo, “INTER_A/B/C” e “INTER_A/B/C/D” para
três e quatro intervalos ao mesmo tempo.
Quadro 6:Freqüência da Inclusão Concomitante dos valores reais das PV_s.
PV_A=50% e PV_B=27%
INTER_A/B
2 ,4
41 8,2
457 91,4
500 100,0
FORA DOS DOIS (A/B)
DENTRO DE PELO MENOS UM
DENTRO DOS DOIS (A/B)
Total
Frequencia %
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Segundo as estatísticas da tabela INTER_A/B a probabilidade numa mesma
amostra os verdadeiros valores PV_A e PV_B estarem ao mesmo tempo dentro das
suas respectivas margens de erro é 91,4%, notar (ver Quadro 4 e Quadro 5) que
isoladamente cada um tem aproximadamente e respectivamente 94% e 97%.
PV_A=50%, PV_B=27% e PV_C=17%.
INTER_A/B/C
3 ,6
48 9,6
449 89,8
500 100,0
DENTRO DE PELO MENOS UM
DENTRO DE PELO MENOS DOIS
DENTRO DOS TRÊS (A/B/C)
Total
Frequencia %
Da tabela INTER_A/B/C conclui-se que numa mesma amostra a probabilidade
dos valores reais de PV_A, PV_B e PV_C estarem ao mesmo tempo fora dos três
intervalos é zero e dentro das suas respectivas margens de erro corresponde a 89,8%.
PV_A=50%, PV_B=27%, PV_C=17% e PV_D= 6%
INTER_A/B/C/D
3 ,6
49 9,8
448 89,6
500 100,0
DENTRO DE PELO MENOS DOIS
DENTRO DE PELO MENOS TRÊS
DENTRO DOS QUATRO (A/B/C/D)
Total
Frequencia %
Na tabela INTER_A/B/C/D tem-se que a probabilidade numa mesma amostra os
valores reais de PV_A, PV_B, PV_C e PV_D estarem ao mesmo tempo fora dos quatro
ou dentro de somente um intervalo é zero. Dentro dos quatro intervalos ao mesmo
tempo a chance é 89,6%, quase não há redução em relação a estar dentro dos três
A/B/C da tabela anterior, isto devido à alta confiabilidade de 99,99% do PV_D.
Nada pode ser mais ilustrativo que o Gráfico2 para visualizar a configuração da
pertinência dos reais valores nos seus respectivos intervalos de confiança cruzando
PV_A e PV_B (2 dimensões) e o Gráfico3 com PV_A, PV_B e PV_C (3 dimensões).
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Gráfico 2: 500 Estimativas de PV_A e PV_B e as pertinências nas suas respectivas margens com 3% de erro
PV_A0,540,520,500,480,460,440,42
PV
_B
0,32
0,30
0,28
0,26
0,24
0,22
DENTRO DOS DOIS(A/B)DENTRO DE UM DELESFORA DOS DOIS (A/B)
INTER_A/B
__
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Gráfico 3: 500 Estimativas de PV_A, PV_B e PV_C e as pertinências nas suas respectivas margens com 3% de erro.
PV_C0,20
0,180,16
0,14
PV
_B
0,32
0,30
0,28
0,26
0,24
0,22
PV_A0,540,520,500,480,460,440,42
DENTRO DOS TRÊSDENTRO DE DOIS DELESDENTRO DE UM DELES
INTER_A/B/C
__ A impossibilidade gráfica de inclusão PV_D (4 dimensões) quase não faz falta,
pois sua participação é desprezível devido a alta confiabilidade de PV_D.
Observar que estimativas tão afastadas quanto às representadas pelos valores
mínimo e máximo do Quadro 3, exemplo PV_A=0,43 quando deveria ser 0,50 ocorreu
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em pelo menos uma das 500 amostras, e isto desanda as demais estimativas desta
amostra, pois devemos lembrar que a soma das estimativas é igual a 1 (um) em cada
uma das 500 amostra. Se uma amostra apresentar estimativa muito abaixo do valor
real para um candidato os outros valores desta amostra se expandem para compensar,
o que nos leva concluir que o erro é propagado (vale o raciocínio para valores altos).
Poder-se-ia fixar o tamanho da amostra e a confiabilidade para cada PV_s,
deixando variar a margem de erro. Isto evitaria o fato inaceitável de ter estimativa PV_s
de 1% ou 2% com margem de 3%. Mas, não daria ao público o impacto psicológico
obtido pela informação quando se fixa a margem de erro e deixa transparecer que
todas as estimativas estão, ao mesmo tempo, dentro das margens de erro.
Para que o leitor tenha idéia da importância da confiabilidade, destacamos que é
fácil planejar uma pesquisa com 1% de margem de erro, o que daria uma fortíssima
sensação de precisão. Mas, se a confiabilidade fosse igual a 10%, então significaria
que 90% das estimativas estariam fora das suas respectivas margens, e a situação
seria trágica na inclusão concomitante. A forma de divulgação usada pelos Institutos:
“três pra mais e três pra menos” é um recado simples e direto, mas enganoso que
induz a uma interpretação falsa e compromete a credibilidade da informação.
Outra questão importante na divulgação dos resultados das pesquisas diz
respeito ao esdrúxulo termo “Empate Técnico” usado pelos Institutos. É um termo não
existente em Estatística, e significa uma tentativa de transmitir desconhecimento com
disfarce técnico. Em nenhum momento os Institutos admitem a sábia e famosa frase
filosófica ”Só sei que nada sei” declarada por Sócrates (470ac-399ac). E neste caso,
não seria nenhum demérito, inclusive porque os resultados da pesquisa não oferecem
evidências. Basta lembrar outra frase muito usada pelos Estatísticos dentro da sua
seriedade na atividade de bem informar a Sociedade “O resultado da pesquisa não
oferece evidência que permita afirmar quem está na frente”. No trabalho do Estatístico
é comum ocorrer indecisões, isto se dá quando não há “diferença significativa” entre as
estimativas, essa informação é obtida pela técnica “Teste de Hipótese Estatística”.
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Infelizmente, o problema não se resume só a questão semântica, o conceito “Empate
Técnico” não traduz a realidade dos fatos. Para discutir o erro grasso cometido pelos
Institutos vamos formular uma nova hipótese para a composição (%) de Votos para a
população de 100.000 eleitores, vamos considerar A= 47% ; B=47% ; C=5% e D=1%,
na qual geramos propositadamente o empate entre os candidatos A e B. O empate não
é “técnico” é real, apesar de improvável na prática. Em seguida realizamos uma
simulação com A Aleatória Simples com 1.000 eleitores para estimar 200 resultados,
isto é, obtemos 200 estimativas da variável PV_A e PV_B na população com ambos
iguais a 47%. Então, considerando margem de erro 3% e o critério “Empate Técnico”
dos Institutos, obtivemos a seguinte estatística;
EMPATE TÉCNICO
132 66,0
68 34,0
200 100,0
NÀO EMPATADO
EMPATADO
Total
Frequencia %
Logo, pelo critério do “Empate Técnico” temos 68 empates. Por outro lado, pela
técnica estatística Teste de Hipótese não se encontrou nenhuma diferença significativa
nos resultados apurados, então as 200 estimativas de PV_A e PV_B indicariam 100%
de empates, que corresponde fielmente à realidade. Então, se de fato existir empate o
critério “Empate Técnico” só acertaria 34% e erraria 66% das vezes. Lamentável!
Vamos finalmente retomar a conversa sobre as características demo-sócio-
econômicas dos eleitores, não usadas até agora no método A Aleatória Simples.
Todavia, ela é fundamental para a aplicação do método A por Cota, pois são elas que
determinam o procedimento de seleção dos eleitores da amostra e, por isso, dão nome
ao método. Ao mesmo tempo em que fazíamos seleção aleatória dos eleitores, sem
nenhuma preocupação com seus dados, registrávamos a título de informação as
características demo-sócio-econômicas dos entrevistados para ajudar o leitor captar a
idéia do procedimento A por Cota. Insistimos que, em nenhum estágio da simulação
com A Aleatória Simples as características foram usadas na seleção do eleitor ou na
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estimação de qualquer parâmetro da amostra. Daremos a seguir estatísticas das
características demo-sócio-econômicas das 500 amostras de 1.000 eleitores.
Quadro 7: Estatísticas das Características observadas nas 500 amostras.
QUANTO AO SEXO
500 500
,5316 ,4684
,5321 ,4679
,54 ,46
,01595 ,01595
,49 ,42
,58 ,51
N
Média
Mediana
Moda
Desvio
Mínimo
Máximo
FEMENINO MASCULINO
QUANTO A IDADE
500 500 500
,3630 ,5651 ,0719
,3634 ,5646 ,0711
,36 ,56 ,07
,01473 ,01553 ,00900
,31 ,52 ,04
,40 ,61 ,10
N
Média
Mediana
Moda
Desvio
Mínimo
Máximo
JOVEM ADULTA MADURA
QUANDO A INSTRUÇÃO
500 500 500
,8157 ,1181 ,0662
,8163 ,1181 ,0661
,81 ,12 ,07
,01195 ,01036 ,00772
,78 ,09 ,05
,85 ,15 ,10
N Média Mediana Moda Desvio
Mínimo Máximo
FUNDAMENTAL MÉDIO SUPERIOR
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QUANTO A RENDA
500 500 500
,0990 ,1367 ,7643
,0991 ,1361 ,7648
,10 ,13 ,77
,00981 ,01081 ,01363
,07 ,11 ,72
,13 ,17 ,81
N
Média
Mediana
Moda
Desvio
Mínimo
Máximo
CLASSE A/B CLASSE C CLASSE D/E
Apesar da apresentação das estatísticas do Quadro 7 ter aspecto diferente das
estatísticas mostradas no Quadro1, elas guardam grande similaridade. No Quadro 1
temos as freqüência (censo) das características da população dos 100.000 eleitores, já
as tabelas do Quadro 7 apresentam medidas de posição e dispersão dos valores da
composição das características das 500 amostras de 1.000 eleitores.
É gritante a superposição dos valores, em todos os casos há aderência entre
medidas de posição das 500 amostras com os reais valores da população. Veja por
exemplo, a mediana da composição do Sexo F/M nas 500 amostras 0,53/0,47; e a
mediana no caso da Idade da composição J/A/M é 0,36/0,57/0,07. As superposições
também ocorrem nas outras características. É simplesmente fenomenal.
Foi desta simples e conhecida propriedade: “Aplicando-se A Aleatória Simples
para estimar Intenção de Voto, em média também são reproduzidas com fidelidade a
composição das características demo-sócio-econômicas dos eleitores da população”
que brotou a semente de A por Cota.
É intuitivo que as Características dos eleitores são escolhidas porque elas
apresentam níveis de correlação diferentes de zero com as intenções de Voto: o nível
de renda, por exemplo, os pobres têm preferência por uns candidatos e os ricos por
outros; também o grau de instrução do eleitor deve apresentar correlação não nula com
diferentes candidatos, os eleitores com ensino fundamental têm preferências por uns
candidatos e aqueles com curso superior por outros. E assim deve ocorrer com as
demais Características, daí a afirmação que elas explicam o Voto.
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PARTE III. AMOSTRAGEM POR COTA (A por Cota).
Então por que não partir de uma amostra que reproduza a composição definida
pelas características da população? Ou seja, poder-se-ia gerar uma amostra de 1.000
eleitores com características iguais à composição (%) das tabelas do Quadro1 da
página 4. Daí o nome Amostragem por Cota.
Para confirmar o bom senso da proposta, vamos supor que se tenha uma
amostra só de eleitores jovens, ou ainda, se tivéssemos uma amostra somente de
eleitores com instrução superior, nestes casos os resultados das intenções de Votos
perderia credibilidade. Por outro lado, se o Instituto de Pesquisa informa que a amostra
montada reproduz a composição das Características da população que explicam a
Intenção de Voto do eleitor, qualquer pessoa ficaria predisposta a admitir confiabilidade
dos resultados. Por facilidade de execução, pelo baixo custo e rapidez e por reproduzir
igual composição das Características da população, A por Cota ganhou adeptos. E foi
desta mesma semente que certamente germinou o termo “amostra representativa”
usada na terminologia da pesquisa por cota. O termo não existe na teoria estatística,
mas se “amostra representativa” fosse usada somente no sentido de reproduzir as
Características da população que explicassem a variável de interesse, julgo que seria
aceitável e poderia ser incorporado ao jargão estatístico no caso da A por Cota.
Entretanto a representatividade das Características não garante precisão dos
resultados da Intenção de Voto, o que definitivamente não foi declarado em nenhum
momento pelo autor dessa resenha. Esta conclusão ardilosa é na verdade, o grande
mal-entendido que pode acompanhar o uso do termo, e por ser muito sofismável é
provável que este raciocínio venha prevalecer. Aliás, julgo que pela forma como vem
sendo usado; essa subjacente falácia já deve estar acontecendo e infelizmente acho
difícil conseguir reverter esta situação.
Mas qual é o grave problema gerado pela aplicação com A por Cota que tanto
incomoda os Estatísticos? É o critério não aleatório de seleção dos eleitores que
farão parte das cotas, portanto, da amostra. Ou seja, dado um eleitor definido
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por suas características, não se conhece a chance dele participar da A por Cota.
Isto é pecado mortal em amostragem, como também na grande maioria dos
métodos estatísticos. Sem esta preciosa informação, não se pode conhecer a
qualidade da estimativa e perde-se o controle do erro e da confiabilidade, que já
não era dominado pelo Estatístico, dado a subjetividade da opinião e devido aos
erros do tipo I e II. Evitamos esta heresia na Parte I idealizando uma população
conhecida onde pelo método A Aleatório Simples cada eleitor tinha igual chance
de pertencer à amostra, situação fictícia que só serviu para o leitor entender as
dificuldades. Na A por Cota, se o pessoal de campo é orientado para entrevistar
tantos e quantos eleitores, com tais e quais características, sem informar onde
estão e quantos são. Como selecioná-los? Torna-se inviável o conhecimento da
lei da seleção. Este é o grande problema com A por Cota. Na prática quando se
torna impossível fazer a seleção aleatória, quase sempre por razões de custo e
de prazo, então se recorre a A por Cota como última alternativa.
Como é conduzido o trabalho de campo com A por Cota? A entrevista pode
ser feita na rua e neste caso o entrevistado não precisa se identificar e muito menos
dar endereço. Óbvio que o anonimato é uma relevante vantagem para que o eleitor se
sinta a vontade para dar opinião. Mas a abordagem de rua começa por identificar as
Características “no olho”, que não é tão simples mesmo para aquelas relativamente
aparentes (sexo, idade) e outras nem tanto (classe social, renda e instrução). Para
piorar, a abordagem acaba sendo dirigida para aquelas pessoas: simpáticas, menos
agitadas, com aspecto receptivo, transmitindo disponibilidade de tempo, os que gostam
de dar opinião, aqueles curiosos, pessoas solidárias ou solitárias e até aqueles que
sentiram simpatia pelo entrevistador(a); por outro lado são evitadas aquelas pessoas
de “cara amarrada”, de “nariz em pé”, com pressa, ou em situações particulares tais
como: acompanhadas por crianças, carregando pacotes, namorando, esperando
condução, comendo e etc. Além disso, por falha do “critério do olho” ocorre com
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22
freqüência a abordagem de pessoas com cotas já completadas e então vem o
agradecimento pela atenção e não realização da entrevista. Este é outro aspecto que
explica a extensão do uso da A por Cota, a inexistência de uma estrutura rígida de
seleção do entrevistado. Dentro da área pesquisada designada ao entrevistador, se
uma pessoa está indisponível ou é arredia a dar opinião, então ela é simplesmente
substituída pela próxima alternativa, o objetivo maior é preencher as cotas designadas.
Pode ser feita por visita a domicílios, numa combinação de metodologias de
amostragem com seleção aleatória seguida de seleção sistemática e finalmente
combinada com cota. É considerado um grande aperfeiçoamento teórico, embora não
resolva totalmente o problema, além do mais encarece muito a pesquisa e o aumento
do custo/benefício não é do agrado das empresas de pesquisa.
Por telefone; obviamente somente para aqueles que o possuem, buscando nas
residências uma pessoa disposta a responder com características pré-estabelecidas,
num horário quase sempre de descanso ou lazer. Perde-se muito na qualidade, um
entrevistador “ao vivo” sempre possui melhores condições de obter dados confiáveis
que o entrevistador por telefone. Mais uma vez, não há controle da seleção do eleitor.
O Estatístico sem domínio da lei aleatória que rege a seleção da amostra fica
impedido de conhecer as propriedades das suas estimativas. Ademais compromete o
cálculo do erro e do intervalo de confiança das estimativas. O desconhecimento da lei
de seleção (métodos não probabilísticos) determina não existência de embasamento
teórico do método de estimação. O cálculo do erro e da confiabilidade é realizado por
fórmulas gerais e aproximadas, baseadas em propriedades de grandes amostras.
Mesmo sem respaldo teórico rigoroso, a amostragem por cota é largamente
usada na prática, principalmente por razões de custo e de rapidez na execução. É o
método mais rápido e mais barato quando comparado com qualquer outro método de
amostragem probabilística. Ademais, seu uso ao longo destes 50 anos demonstra que
os resultados obtidos com A por Cota são satisfatórios, basta considerar que se não
fosse assim, não estaria sendo usado há pelo menos 50 anos em vários Países. Pela
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23
dificuldade de criar um modelo de simulação para o procedimento A por Cota, talvez
impossibilidade, sua discussão e análise têm se realizado no campo teórico de
forma muito superficial ou também tem se restringido a comparações empíricas
particulares. Ainda pode-se contar com abundantes opiniões de “especialistas”.
Faz-se necessário aprofundamento teórico de suas propriedades e estudos mais
detalhados das limitações para dominar as condições de uso de A por Cota.
A por Cota continuará sendo, provavelmente, a metodologia preferencial das
empresas de pesquisa de opinião. As pesquisas eleitorais tiveram um forte impulso
com a abertura democrática no País com a primeira eleição para o cargo de Presidente
da Republica em 1989. O uso sistemático de A por Cota durante estes 20 anos de
Pesquisa Política, já deve ter ocorrido na prática aperfeiçoamentos da metodologia.
Descrevemos aqui as idéias básicas que circulam nos meios técnicos, mas óbvio que
os avanços já obtidos provavelmente pelos grandes Institutos não fazem parte da
metodologia divulgada e registrada nos TRE`s. Estes constituem o seu acervo técnico
“não patenteado“ melhor entendido como “o pulo do gato” e obviamente mantido em
sigilo. Durante todo esse tempo nosso meio acadêmico vem batendo com insistência
na metodologia “supostamente” aplicada e divulgada, mas contribuído pouco com
idéias alternativas ou de aprimoramento da A por Cota, temos notícias de duas ou
três propostas, mas nenhuma informação de resultados de aplicação.
Uma proposta que poderia ser tentada, se já não foi, é fazer A por Cota se
aproximar da A Estratificada cruzando as Características e construindo composição
cruzada para refinar a malhas das cotas. Também é importante que o tamanho da
amostra seja ampliado para garantir propriedades assintóticas (melhora a qualidade da
estimação à medida que a amostra cresce). Tudo isso acarreta aumento de custo da
pesquisa e há de se avaliar o custo/benefício das sugestões.
Finalmente encerramos esta resenha, corroborando e aplaudindo a decisão do
Tribunal Superior Eleitoral-TSE obrigando o registro da Metodologia e do Estatístico
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24
responsável pela pesquisa eleitoral no TRE-Tribunal Regional Eleitoral. Reforçada por
imposição de Lei que determina que o Estatístico e a Empresa executora devam estar
registrados nos CONRE’s, Conselho Regional de Estatística. O controle das pesquisas
eleitorais no Brasil protege a Sociedade em geral contra resultados espúrios gerados
por incompetência técnica, manipulação dos resultados ou manobras estratégicas.
Mas, ainda há espaço para se avançar muito mais no monitoramento das pesquisas
políticas, a ação do sistema CONFE/CONRE deverá ser dirigida no sentido de estreitar
a troca de informação com a estrutura institucional TSE/TRE, divulgando e orientando
como analisar as metodologias e programando procedimentos no controle da qualidade
das pesquisas políticas no País.
Agradeço o estímulo e sugestões dos prezados Conselheiros do CONFE: André
Gustavo Guimarães Cunha; Arnaldo S. de Araújo Filho; Calmon Gold; Geraldo Magela
Morcerf; Joil Texeira Operti e do nosso Coordenador William Cardozo; e em especial a
contribuição do Conselheiro Ronald Gueraldi. Contei também com a colaboração dos
seguintes Conselheiros do CONRE 2ª Região: José Ronald Noronha de Lemos e
Regina Lanzillotti. Os acertos são nossos e os erros são meus.
Para terminar uma grande manifestação de apreço e saudades do nosso querido
Conselheiro do CONFE e ex Presidente da entidade no período 2004 a 2006 que
recentemente nos deixou para sempre, o Estatístico Nelson Reis Raso.